Agenda - Urban Sketchers Portugal - Dezembro 2020

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AGENDA

Dezembro 2020

Desenho vencedor do Tema do Mês: Rosário Félix

urbansketchers-portugal.blogspot.pt

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AGENDA

Dezembro 2020

Desenho vencedor do Tema do Mês: Rosário Félix

ENTREVISTA

Filipe Leal Faria por Leonor Lourenço

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Tema: Até Sempre Eduardo

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Caderno de Retratos - Memórias Imperfeitas por Filipe Reis

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Sobre o Eduardo por João Catarino

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Eduardo Salavisa por Pedro Cabral

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Goa e Hampi / Índia por Alexandra Belo

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Eduardo Salavisa: o traço colorido e contagiante que alegrou o Museu do Carmo por Rita Pires dos Santos

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OS NOSSOS DESENHOS LIVRO Equipa de produção: Abnose, André Baptista, Carlos Matos, Henrique Vogado, Isa Silva, Leonor Lourenço, Manuel Tavares, Rosário Félix, Vicente Sardinha Colaboraram nesta Agenda: Alexandra Baptista, Alexandra Belo, André Duarte Baptista, António Araújo, Bruno Vieira, Filipe Leal Faria, Filipe Reis, Inês Eva, Isabel Carvalho, Joaquim Espadaneira, João Botelho, João Catarino, Ketta Linhares, Luís Ançã, Luis Gabriel, Luís Frasco, Marco António Costa, Miú, Monica Cid, Paula Cabral, Pedro Alves, Pedro Cabral, Rita Pires dos Santos, Rosário Félix, Teresa Ruivo, Vanda Dias Design e paginação: Isa Silva Copyright: Urban Sketchers Portugal www.urbansketchersportugal.blogspot.pt Sugestões e contacto: uskp.actividades@gmail.com

PALAVRAS PALAVRAS

VIAGEM GRÁFICA RELEMBRANDO DICAS 1, 2, 3

por Vanda Dias

RELEMBRANDO

O encontro feliz do Eduardo Salavisa com o Museu Bordalo Pinheiro por João Botelho

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USk Évora por Luís Ançã

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Para sempre a desenhar para o futuro por Inês Eva

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Encontros, Formações, Exposições

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GRUPOS

RELEMBRANDO AGENDA

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E D I T O R I A L Olá a todos. O mês de Novembro foi muito difícil para nós. Deixou-nos uma das pessoas mais inspiradoras do universo sketcher e, acima de tudo, um Amigo. O Eduardo é uma daquelas pessoas que passa pela nossa vida deixando um rasto de simpatia, atenção e grande consciência humana. Esta edição da Agenda é uma breve homenagem de tantos de nós… de muitos de nós… de TODOS nós. Teríamos tanto mas tanto mais para falar e mostrar. Precisamos contrariar a falta de vontade, as limitações que as restrições sociais nos impõem, e desenhar, desenhar, desenhar! Desenhar dá-nos alento, liberta-nos das preocupações e aconchega-nos a alma. Meus caros sketchers e amigos, vamos arranjar ânimo e não desistir de rabiscar. Temos de manter a esperança que 2021 venha a ser um ano melhor. Já andamos a preparar actividades e novidades. Podemos adiantar que vai arrancar uma nova edição do ‘Vamos Desenhar Com’ no Museu Bordalo Pinheiro já a partir de Janeiro. Em breve informaremos de todos os pormenores. Boas Festas para todos!! Inspirem-se, relaxem e desenhem muito! Direcção dos USkP

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ENTREVISTA Filipe Leal Faria

Por

Leonor Lourenço

outros. Gostei de conhecer certos sítios no médio oriente, na América do Sul e claro na Europa. Uma cidade à qual volto sempre que tenho oportunidade é Roma.

“Não há desenhadores perfeitos” Eduardo Salavisa

Como e quando te começaste a integrar nos USKP? Quando, com a dinamização do Eduardo e do Mario, se resolveu criar os USKP, participei desde logo nas iniciativas.

Recorda alguma peripécia, momento mais interessante que te ficará para sempre na memória… Há situações que realmente nos relembram que o desenho é uma actividade particular. Certa vez numa aldeia do sul da Arábia Saudita, um senhor ao ver que desenhava, pediu -me por gestos, para fazer o seu retrato. Percebi que era alguém importante e, como sempre, tive medo de não corresponder à expectativa do retratado... no tempo que durou o desenho o senhor ficou sentado, numa pose solene, compenetrado no seu papel. Quando acabei e mostrei, ele chama um criado e, diz-lhe qualquer coisa e vejo o criado a afastar-se. Enquanto tirávamos fotografias com o caderno

O que consideras mais interessante neste “mundo”? Uma das coisas que me desperta especial interesse é, como se dizia dantes, ver com olhos de ver; desenhar é para mim um prolongamento do acto de ver. Tens feito várias viagens em que o caderno não falta para fazeres os teus registos. Qual o país que mais te ficou na memória? Porquê? Por ter trabalhado fora de Portugal pude viajar bastante, não houve um país que tivesse gostado mais do que 4


meus amigos que desenham; Eduardo Salavisa pela expressividade, João Catarino pelo lado mais poético, José Louro pelo traço solto e economia de meios, Pedro Cabral pelo rigor e leveza do traço e a Teresa Ruivo pela alegria que põe nos seus desenhos.

foto de Adriano Pimenta

O que mais gostas de desenhar? Neste momento o que mais gosto de desenhar são pessoas em situações do quotidiano.

em punho, o criado aproxima-se com uma enorme manta colorida que o senhor me oferece de presente por têlo desenhado.

Saint Exupéry diz, no seu célebre livro “O Principezinho : “Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”. Que ficou, em ti ,de Eduardo Salavisa, nome incontornável e com quem muito privaste.

Ao longo deste tempo, entre várias viagens, eventos e encontros foste conhecendo vários desenhadores/ sketchers. Partilhas connosco as tuas referências? As minhas referências no desenho em cadernos são principalmente os

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desenho de Eduardo Salavisa

ENTREVISTA

Eduardo Salavisa

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O Eduardo foi um grande amigo com quem pude conviver bastante nos últimos 15 anos. O que mais me marcou foi a sua generosidade, o facto de querer reunir as pessoas à volta do desenho sem se auto-promover por isso. Começou por criar um site (diariografico. com/) onde coligiu uma quantidade de trabalho de desenhadores mais ou menos conhecidos, depois com o advento dos blogues, continuou a descobrir e reunir cada vez mais pessoas que desenham, mobilizou esforços para a publicação de livros, organização de exposições e eventos em torno do desenho. Fez parte do blog original dos Urban Sketchers internacionais, a convite do Gabi Campanario e foi um dos responsáveis por trazer o

movimento USK para Portugal. A generosidade, o poder mobilizador e o sentido empreendedor do Eduardo farão muita falta.

foto de Adriano Pimenta

Há algo que gostarias de referir e que não foi contemplado nesta entrevista? Há uma expressão do Eduardo que me parece importante como legado que é “não há desenhadores perfeitos”, o desenho como actividade de observação e expressão individual revela-nos tal como somos, com as virtudes e os defeitos do nosso modo de ver. É uma noção muito importante para não nos deixarmos abater, mas também para não ficarmos excessivamente confiantes nas nossas capacidades de desenhadores.

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OS NOSSOS DESENHOS

tema do mês: ATÉ SEMPRE, EDUARDO

Alexandra Baptista

André Duarte Baptista

António Araújo

Monica Cid Joaquim Espadaneira

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Bruno Vieira

Isabel Carvalho Filipe Reis

JoĂŁo Catarino

Luis Gabriel

Pedro Alves

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OS NOSSOS DESENHOS

tema do mês: ATÉ SEMPRE, EDUARDO

Pedro Loureiro

Pedro Cabral

Ketta Linhares

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Miú

Marco António Costa

Luís Frasco

Teresa Ruivo

Paula Cabral

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LIVRO

Caderno de Retratos Memórias Imperfeitas

Por

Filipe Reis

É difícil escolher um livro do qual me recorde, mas foram muitos os que folheei, que me fizeram sonhar e me conquistaram para o campo da expressão artística. Em tenra idade tive contacto com bases literárias que serviram de inspiração para os desenhos do meu pai e do meu irmão mais velho que me desafiavam a copiar. No agrupamento de artes do secundário, tive professores de referência, como a Professora Filipa que lecionava a disciplina de Oficinas das Artes e desafiava-nos a desenhar para além de “copiar” imagens ou a partir do imaginário. Exigia que tivéssemos um Diário Gráfico e que nele desenhássemos todos os dias, a retratar o quotidiano, objetos pessoais, o nosso quarto, o nosso animal de estimação, os nossos pais, ou fazer autoretratos. Não me esqueço de uma

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e pessoas que escreveram o meu percurso como desenhador. O meu pai, o meu irmão, a professora Filipa, o meu amigo André Baptista, as aulas do Professor Geraldes e tantas pessoas do meu quotidiano que me inspiraram, compõem, página a página, os capítulos da minha “história ilustrada”. O que me fez associar e identificar-me com o livro do Eduardo Salavisa, “Caderno de Retratos - Memórias Imperfeitas”, acabado de ser lançado. No livro, o autor cita que as memórias são imperfeitas como os desenhos. Ao desenhar, manipulamos e selecionamos o que enfatizar, e o mesmo acontece quando nos lembramos de um facto vivido, ou de algo que nos contam. As minhas experiências e memórias relacionadas com as personagens que citei, fizeram de mim um desenhador tão imperfeito quanto os desenhos nos meus cadernos, e cada página deles desperta uma memória tal e qual imperfeita. Fiquei a conhecer o livro através da exposição: “1 Cadeirão e 96 retratos + + 28” que decorreu no Museu Bordalo Pinheiro. Na mesma altura soube do estado de saúde do autor, e apercebime do conceito da exposição e do livro. As pessoas que se sentaram no cadeirão, tiveram o prazer de um momento de comunhão e despedida, eram cerca de três minutos em que as almas se despiam e se apresentavam na sua plenitude. Tive o privilégio de ser desenhado pelos olhos do mestre e viver a experiência que as pessoas mais próximas do Eduardo tiveram ao visitarem-no na sua casa, no momento terminal da sua vida. O livro é composto de memórias e retratos dessas pessoas, e assim através da adversidade, criou-se um projeto genial.

aula no exterior, junto ao Convento Dom Dinis em Odivelas em que desenhamos “in loco” e, desde então, despertou-me a paixão pelo desenho de observação em grupo. Por vicissitudes da minha vida, estive desligado do desenho e, em 2007, quando me inscrevi no curso de arquitetura, voltei a ter contacto com o desenho, a “paixão adormecida”, através do meu amigo e colega de curso André Batista. Em 2009 participei numa formação de desenho orientada pelo mestre Eduardo Salavisa na “Casa das Histórias de Paula Rego”, em que um grupo de pessoas desenhava o interior e o exterior do museu. Desde então, através do contacto com o blog coletivo de diários gráficos, hoje blog dos USKP, senti-me pertença do movimento de “desenhadores de rua”, dos vários cantos do mundo, por estarmos interligados pela mesma paixão e partilha. Como resposta ao desafio solicitado pela Agenda Urban Sketchers Portugal, constatei que a minha inspiração para o desenho não provém de bases teóricas ou estudos, mas sim de personagens 13


PALAVRAS Sobre o Eduardo

Por

João Catarino

Não me lembro de alguma história em particular ou de algum episódio mais sonante que tenha vivido com o Eduardo nestes 12 anos em que o conheci. Talvez porque, sendo ele de uma grande disponibilidade e

generosidade, preservava alguma reserva, a oportunidade do desenho acabava por falar mais alto e os momentos mais intensos de amizade, fizeram-­se sobretudo no silencio. No pequeno mas difícil texto (dado o contexto em que me pediu para o escrever) O plantel da palestra, em Monsaraz, 2009. Da esq. para que iria integrar a direita: José Louro, Pedro Fernandes (PEF), Monica o seu ultimo livro Cid, Eduardo Salavisa, Pedro Cabral e João Catarino. “Caderno de Retratos, Memórias Imperfeitas” referi que, para descrever o seu auto retrato de uma forma minimalista, “bastaria a imagem do pequeno caderno, que na sua anatomia, tanto revela como oculta e se liberta de uma intensão, de um propósito ou do protagonismo da exposição”. O caderno não é por natureza um objecto para se expor, também não 14


era essa a natureza do Eduardo, a sua sedução manifestava-se por um lado mais “magnético” do que expansivo. Nas muitas vezes que nos sentámos à mesa, não me lembro de gargalhadas sonoras nem do som de palmadas nas costas, lembro antes o riso franco mas contido, que lhe viamos nos olhos e na boca rasgada logo a baixo daquele nariz enorme, no alto da sua figura. Recordamos essencialmente o seu empenho em dar visibilidade ao desenho do quotidiano em geral, aquele que sempre fomos fazendo apenas porque sim e por nada, e que, pelo desprendimento da ideia de perfeição, foram tantas as vezes em que os momentos que o desenho

aconteceu, nos pareceram de facto perfeitos. Cadernos anos fechados, comprimidos nos seus arrumos, puderam ser vistos, e outros tantos que se fizeram depois, na expectativa de se mostrarem na cadência efémera das redes sociais, ganharam nos livros do Eduardo um estatuto de permanência definitiva, constituindo um valioso documento para consulta de todos, nas próximas gerações. Conheci o Eduardo em vésperas de sair para a gráfica o primeiro livro “Diários de Viagem desenhos do quotidiano, 35 autores contemporâneos”(2008), talvez tenha eu sido esse 35º autor. O Eduardo tinha descoberto recentemente o blog www.desenhosdodia.blogspot.com e ainda encontrou um espaço na paginação para me encaixar, embarquei mesmo na ultima chamada. Encontramo-­nos junto à torre de Belém num dia de chuva torrencial, colocamos os carros em direções opostas e as janelas lado a lado para não nos molharmos. Entreguei-­lhe um CD com o texto e os desenhos para o livro, foi o princípio de uma admiração enorme, de uma boa amizade e de sucessivos encontros para 15


PALAVRAS

João Catarino

Eduardo Salavisa e João Catarino 2015. Casa das Histórias Paula Rego.

desenhar, um pouco antes ainda dos urban sketchers. Foi esse o voo que nos pôs todos a comunicar, desenhadores que nunca ouvimos falar, juntos com alguns já reconhecidos a par de outros consagrados, numa edição de quase 300 páginas! Um livro pesado que foi uma forte pedrada num charco até aí silencioso e invisível sobre cadernos de viagem. Alguém em Portugal tinha juntado as pessoas que viajavam e desenhavam, ou que apenas observavam pela via do desenho, através da proximidade dos lugares de todos os dias, também esses viajantes iluminados. Igual a si mesmo, o registo da sua comunicação assemelhava-­se ao próprio registo gráfico, autêntico, direto, por vezes espartano sem “floriados” sem meias tintas, sucinto e claro, escasso em palavras caras, optava pela via fácil da comunicação, terra a terra no entendimento, sem discursos eruditos, mostrou que o desenho é acessível e que os cadernos

sem os “endeusar” são o suporte de excelência para isso acontecer. Definiu-­se como um desenhador do quotidiano, das coisas banais, deixou bem claro a inexistência de pretensões artísticas ou de outras e juntou-nos nesse propósito. Num primeiro encontro memorável de desenhadores em Reguengos de Monsaraz (maio de 2009), valeram mais os enchidos, o pão e o vinho alentejano que inspiravam os desenhos dos que 16


possivelmente numa reflexão que entre viagens e desenhos, levara anos a concluir. Seria essa a chave ou o filtro decisivo para juntar pessoas à volta dos cadernos ou de uma toalha de mesa de papel, algures numa tasca por riscar.

assistiam ao plantel de oradores, do que o improviso das nossas palavras nunca ensaiadas. Lembro‐me desta frase do Eduardo em jeito de encerramento da palestra, na imediata sensatez de uma constatação que me pareceu tão simples e tão lógica, mas que assentava

“Em geral, o pessoal dos desenhos e das viagens é tudo malta porreira”

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PALAVRAS Eduardo Salavisa

Por

Pedro Cabral

Há anos recebi um telefonema do Eduardo Salavisa, que não conhecia. Mostrou interesse nos meus desenhos e queria falar comigo a propósito de um projecto que tinha em mãos. O meu blog BONECOS DE BOLSO era recente, estava ainda tateando contactos através da caixa de comentários e foi a primeira vez que

vislumbrei outros horizontes para aquilo que ainda não tratava por “diário gráfico”. O telefonema do Eduardo deixou-me em alvoroço. Combinámos um encontro que, para facilidade de ambos, seria na Versailles. Nunca nos tínhamos visto, mas nenhum de nós tinha feitio para ir

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com uma rosa na lapela nem com um chapéu de plumas. A identificação teria de ser por outro processo: O primeiro que chegasse ficaria sentado à mesa desenhando num caderno. E foi assim, de caderno na mão, que nos conhecemos. O tal projecto do Eduardo era o livro “DIÁRIOS DE VIAGEM- Desenhos do quotidiano”, que acabou sendo publicado só em 2008 e em que tive o maior orgulho em participar. Foi seminal nesta explosão dos diários gráficos e mesmo no nascimento dos

Urban Sketchers. Obrigado Eduardo. Acho que em todos estes anos nunca me encontrei com o Eduardo sem ambos termos os nossos diários gráficos excepto uma vez, num Encontro dos USkP no Palácio da Vila, em Sintra. Nessa tarde, o Eduardo estava maçado porque se tinha esquecido (!!!) do caderno. Foi então que fizemos um desenho a meias. Ele começou, como sempre a caneta, e eu depois colori. Raramente me desfaço dos cadernos e estes dois são mesmo especiais.

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VIAGEM GRÁFICA Goa e Hampi Índia

Por

Alexandra Belo

Muitas vezes, gostaríamos de ter tempo suficiente para viajar durante meses, talvez durante anos. A Índia (que é um subcontinente, mais que um país) é um território enorme e diverso, com uma riqueza cultural

e paisagística que merece uma interminável expedição, sem olhar a calendários e relógios. A viagem de duas semanas que fiz com o Vítor há dois anos foi, por isso, apenas um olhar rápido, 20


um cheirinho, um trailer ou teaser daquilo que poderia ser conhecer verdadeiramente a Índia. À falta de tempo, porque não começar por aquilo que habitualmente é encarado como o fim? Goa, para além da afinidade que se estabelece imediatamente com Portugal, pela via da antiga relação de colonialismo, assumiu-se como o fim dos périplos que tradicionalmente os jovens europeus, nos anos 60 do século passado, faziam. Este grand tour hippie tinha o seu início na Europa, passando pelo Médio Oriente, percorrendo a Índia no seu caos de cor, luz, barulho e odor, até terminar nas pacatas praias goesas.

Foi numa destas praias, Benaulim, que nos fixámos, para estabelecer movimentos pendulares de autocarro, entre a praia e a capital de Goa, Pangim, passando pela movimentada Margão e o seu mercado de especiarias, pelo templo Shantadurga ou por uma quinta de especiarias onde percebemos qual é o verdadeiro aspeto do caju e como se destila a aguardente deste fruto, o feni, que é a bebida goesa por excelência. A Índia encerra em si múltiplas espiritualidades e crenças, e isso está muito presente nos edifícios. Os templos e igrejas estão a cada esquina e são sempre os edifícios em melhor estado de conservação. Mesmo não 21


VIAGEM GRÁFICA

Alexandra Belo

se sendo religioso, esta presença sente-se um pouco por toda a parte. O verde denso da selva é pontuado pelos clarões das igrejas jesuítas caiadas e até o terminal de autocarros tem um templo colorido. As rivalidades entre religiões surgem também nos enfeites e pinturas dos chassis dos autocarros (uns dizem follow Jesus, outros mostram o Deus Ganesh e engrinaldam o espelho retrovisor com flores laranja).

As marcas dos portugueses estão nas construções militares (fortes), religiosas (Velha Goa e o Bom Jesus, a Igreja da Imaculada Conceição, a Igreja de Assagão), mas não só. Há ainda as casas nobres de Chandor, orgulhosas apesar do seu estado de ruína iminente, o paladar surpreendente do xacuti ou do sarapatel, ou os nomes das ruas e lojas. Esta foi uma viagem de duas semanas feita, ainda assim com calma:

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tempo para viajar devagar, saborear, desenhar. Queríamos, ainda assim, ir para além de Goa e da sua (aparente) tranquilidade. Podíamos ter visto Dehli, Jaipur ou Agra (a correr de avião em avião). Optámos, no entanto, por fazer uma viagem de autocarro, de dez horas até Hampi, no estado vizinho de Karnataka. Neste conjunto de templos infindável, património da UNESCO, parte está ao abandono, e parte é usada diariamente como templos ativos. Num destes últimos, com uma atmosfera onírica, onde os macacos e os elefantes passeiam livremente entre as pessoas, convenceram-nos a fazer um tour de bicicleta. Acabámos ficar com as bicicletas até ao fim da tarde, por nos perdermos numa plantação de bananas e, ao reencontrar o caminho de volta à zona central, por descobrir um templo subterrâneo, mais

interessante que nas rotas oficiais. Tudo pode acontecer em Hampi, até ser-se quase burlado por um motorista de tuk tuk, no desespero de se encontrar o autocarro de regresso a Goa. Os últimos dias da viagem foram de exploração das praias, de mota, pelas estradas labirínticas do Sul de Goa. Algumas delas, como Palolem, foram vendidas como paraísos e estão agora hiper exploradas, com cabanas de madeira em cima da praia, como cogumelos pré-fabricados, barracas chiques. Outras ainda, como Dharvalem, estão escondidas e são acessíveis por estradas de terra batida e calhau vermelho (“red road”, segundo as indicações). O tempo finalmente ganhou-se e conseguimos desligar de tudo. De Portugal, e mesmo da Índia. 23


RELEMBRANDO

Eduardo Salavisa: o traço colorido e contagiante que alegrou o Museu do Carmo

Por

Rita Pires dos Santos

Museu Arqueológico do Carmo

do Museu. Naquele instante ao vê-la, tão serena e concentrada, sentada num pequeno banco a desenhar pensei como era maravilhoso poder ver este espaço e esta colecção através do desenho. E como seria ainda melhor se tal pudesse acontecer com mais pessoas, mais olhares, mais desenhos... Começámos a conversar sobre a hipótese de organizar cursos à volta do desenho no Carmo e eis senão quando a Guida me diz “conheço a pessoa ideal: o Eduardo Salavisa”. Sem qualquer dúvida... Recordo-me ainda que no primeiro contacto que fiz, um e-mail mais formal, sério e profissional, o Eduardo respondeu-me com tanto entusiasmo e generosidade que tive a certeza de que o que quer que pudesse surgir desta colaboração seria certamente marcante e duradoiro. E, mais uma vez sem qualquer dúvida, foi exactamente isso que aconteceu. Assim, surgiu o primeiro curso do Eduardo no MAC O Diário Gráfico – Vamos transformar a rotina numa viagem em Abril de 2011 cujo sucesso levou à realização de uma segunda

A primeira vez que ouvi falar do Eduardo foi em finais de 2010 por intermédio da Guida Casella. Num dia aparentemente igual a tantos outros deparei-me com a Guida numa das salas do Museu Arqueológico do Carmo (MAC) a desenhar uma peça da nossa colecção que viria a ser alvo de uma publicação 24


edição em Julho do mesmo ano. Ainda em 2011, e num claro exemplo do dinamismo e profissionalismo do Eduardo, o museu seria palco de uma das sessões do II Simpósio Internacional dos Urban Sketchers que se realizou a 21, 22 e 23 de Julho. Curiosamente ou não, esta sessão seria orientada pela Guida Casella e pela Clara Marta. Só podia... Foi um início auspicioso que deu origem a tantas colaborações e projectos: - de Setembro a Novembro de 2011 realizou-se o I Ciclo de Sessões de Desenho A Viagem e o Diário Gráfico, organizado pelo Eduardo, onde participaram como formadores Pedro Cabral, Javier de Blas, o próprio Eduardo, João Catarino, Pedro Fernandes (PeF), Ricardo Cabral, Mário Linhares e Richard Câmara.

No âmbito deste ciclo realizou-se, também, uma conferencia de Laís Guaraldo “Os cadernos de Viagem de Delacroix e Gaugin”. - em Fevereiro e Março de 2012 teve lugar o I Ciclo de Conferências A Viagem e o Diário Gráfico com a participação de Tiago Cruz, João Seixas, Isabel Barahona, João Jesus, Filipe Leal de Faria e Pedro Moura. - O sucesso destas iniciativas foi tal que não havia como não continuar. E a generosidade do Eduardo parecia não ter limites... de Maio a Junho 2012 realizou-se o II Ciclo de Conferências onde participaram Guida Casella, Mário Cabeças, Pedro Mamede, Dilar Pereira, Eduardo Corte-Real e José Louro.

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RELEMBRANDO

Rita Pires dos Santos

Museu Arqueológico do Carmo

- Em Outubro e Novembro 2012 teve lugar o II Ciclo de Sessões de Desenho A Viagem e o Diário Gráfico com Mónica Cid, Rita Cortez Pinto, Margarida Boto, Rosário Félix, Catarina França e Guida Casella. Mais uma vez aliando a prática à teoria, realizaram-se no âmbito deste ciclo as conferencias de Mário Linhares, Alexandra Markl e Maria João Castro.

ocasião do ataque ao Charlie Hebdo recordo-me de termos conversado sobre como seria importante e urgente falar sobre o que tinha ocorrido. E não foi preciso dizer mais nada... Em Janeiro de 2015 o Eduardo organizou a Mesa-Redonda “Não sei bem o que dizer, mas tenho de dizer qualquer coisa.”, com a participação de Sara Figueiredo Costa, Nuno Saraiva, Osvaldo Macedo e o próprio Eduardo e com a extraordinária moderação de Pedro Moura, cujo texto dá o título à conversa.

- O campo de acção foi conhecendo novas expansões e envolvimentos e em Abril e Maio de 2014 realizou-se o Curso Diário de Viagem: A Escrita e o Desenho com a Raquel Ochoa e o Eduardo. Em Novembro desse ano novo curso desta feita com João Catarino e Pedro Adão e Silva.

- Em 2017 surge o projecto Vamos Desenhar com..., que terá 10 sessões, um sábado por mês, um desenhador cada sábado, tantas histórias, experiências e desafios... E em 2018 volta a acontecer com mais 10 desenhadores. Este projecto capta, em meu entender, na perfeição o espírito do desenho descomprometido, da generosidade, da partilha e da convivência tão característicos do Eduardo e da sua visão do que representava ser um desenhador. Um desenhador do quotidiano.

- A ligação do Eduardo ao ensino escolar, que caracterizou grande parte do seu percurso profissional e cujas influências nos alunos pude testemunhar inúmeras vezes e que quase sempre se manifestavam por uma alegria imensa de o reencontrar passado tanto tempo, levou à realização, em Janeiro de 2015, da acção de formação para professores, em colaboração com a APECV, Narrativas Visuais. Conciliar o Diário Gráfico com as Tecnologias Digitais concebida em parceria com Helena Lopes.

O que dizer ainda? Expressar um profundo agradecimento pela forma como o Eduardo colaborou com o museu, contribuindo activamente para que se tornasse um espaço mais inclusivo, mais aberto, mais relevante; pela riqueza de experiências e conhecimentos que connosco partilhou; pelo carinho e confiança.

- O Eduardo aceitava desafios de braços abertos e sorriso cheio. Por 26


DICAS 1, 2, 3

Por

Vanda Dias

Começar a desenhar, enfrentar a folha branca, escolher o modelo, a composição, ser fiel ao que vemos… Eis alguns dos muitos dramas pelos quais muitos de nós passamos, ao pegar nos nossos diários gráficos, sobretudo quando é a primeira página. Para já não falar das canetas de aparo entupidas. Então, porque não dar-lhes mais uso e colorir os vossos dias? Deixo uma dica que espero vos incentive a lançar mãos à obra. #riscarperdidamente

#1 - selecionar um pormenor da cena que estamos a observar/ /vivenciar e registar só com linha. Caderno pautado, quadriculado, bullet jornal, reciclado, Caneta aparo Faber Castel M; Recarga Burned Orange

#2 - Repetir o mesmo modelo aleatoriamente, preenchendo uma folha dupla, utilizando cores diferentes e variando ligeiramente a posição do modelo/objeto selecionado. Canetas aparo Lamy Safari M; Canetas aparo Faber Castel; F Recargas Faber Castel Cognac Brown; Recargas Lamy Azul e lilás; Sketch ink Jule; Carbon ink

#3 - Inserir mais uma cor contrastante (7 é um número mágico) e repetir as cores todas uma segunda vez, desenhando por camadas, variando o mais possível as posições/ poses. Caneta de Aparo Lamy M; Sketch ink Emma;

Experimentem e partilhem no blog com a etiqueta #dicadezembro Técnicas, truques, efeitos. Querem partilhar? Enviem para uskp.actividades@gmail.com Mandem-nos uma introdução (máximo 450 caracteres) + título da dica + 3 imagens dos desenhos e indicação dos materiais usados. 27


RELEMBRANDO

O encontro feliz do Eduardo Salavisa com o Museu Bordalo Pinheiro

Por

João Botelho

Museu Bordalo Pinheiro

Conheci o Eduardo quando vivia em Viana do Castelo, talvez em 2005, por intermédio da Fátima Coutinho, uma amiga comum. Era fácil ficar amigo dele e fui mantendo à distância o contacto, vendo as exposições, participando nos lançamentos dos livros, cada vez mais encantado com esta forma de desenhar com que se partilhava

despretensiosamente a vida, como o seu próprio manifesto dos Urban Sketchers aconselhava: “Os nossos desenhos contam a história do que nos rodeia, os lugares onde vivemos e por onde viajamos”. Quando, em 2014, assumi a direcção do Museu Bordalo Pinheiro, um museu onde o desenho tem um peso tão forte, foi inevitável o reencontro,

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como inevitável foi surgirem ideias de coisas para fazer. Não me lembro exatamente de como foi, mas deve ter começado por uma frase tipo “Olha lá, e tu não queres fazer…” e assim nasceram as tertúlias “Humor, Desenho e Gastronomia”, que o Eduardo organizou com a Rita Pires dos Santos, em Novembro de 2014, para enquadrar a exposição “Bordalo à Mesa”. As tertúlias trouxeram ao Museu os Encontros de Parati, com o Nelson Paciência, o André Duarte Baptista e o João Catarino, a Viagem à América Latina, pelo próprio Eduardo (que se apresentava como “aquele que desenha”), o Nuno Saraiva e o grande mestre Augusto Cid, com a Mónica, numa das mais notáveis conversas sobre o desenho de humor político que passaram por este Museu.

Noto que nesta altura o Museu não tinha orçamento próprio, e não havia dinheiro para pagar este trabalho, pelo que foi simplesmente pelo gozo que o Eduardo se meteu nestas andanças. Depois continuou a colaboração e organizou: - Em Outubro 2015, com a Alexandra Prado Coelho, o curso A Escrita e o Desenho no Jornalismo, a que se seguiram dois cursos de Desenho em Diário Gráfico. - para acompanhar a exposição Lisboa de Bordalo, em Julho de 2017, propôs o desafio aos Urban Sketchers de desenhar a mesma Lisboa que Bordalo desenhou, do que resultou na exposição Desenhar por aí: A Lisboa de Bordalo, na Sala da Paródia. - Durante o ano de 2019, coordenou com os Urban Sketchers as oficinas Vamos desenhar com…, em que era 29


RELEMBRANDO

João Botelho

Museu Bordalo Pinheiro

convidado um desenhador por mês para falar da sua experiência - em Maio expôs, com o João Catarino, os desenhos que fez sobre o principal acontecimento da semana para o jornal Público, suplemento P2, numa exposição que teve o mesmo título da secção do jornal: Semana Ilustrada. E, em outubro deste ano, termina a parte feliz desta história, com a exposição que se sabia ser a última: Um Cadeirão e 96 Retratos. Aqui mostrou os desenhos dos amigos que o visitaram em casa durante a sua doença. Mas os amigos continuaram a visitá-lo no Museu, e foram desenhados e os desenhos colocados na parede. Por isso o nome da exposição foi evoluindo, e hoje chama-se Um Cadeirão e 96 Retratos+28+49+14,

crescendo à medida que os novos desenhos eram expostos. Alguns dos amigos que o visitaram não deixaram, também eles, de desenhar o Eduardo, e também esses desenhos vieram enriquecer a exposição, que ficará perpetuada numa página própria do site do Museu: Eduardo Salavisa pelo traço dos amigos Com esta página, homenageamos o Eduardo e o seu enorme legado de ter contribuído para uma dignidade cada vez maior do desenho e do gosto de desenhar. É também uma forma de agradecemos o carinho com que sempre tratou este Museu, que era também a sua casa. Acho mesmo que o próprio Rafael Bordalo Pinheiro teria gostado muito de desenhar com ele!

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GRUPOS USk Évora

Por

Luís Ançã

Os Évora Sketchers surgiram naturalmente. Não temos um dia em que nascemos. Considerámos nosso primeiro Encontro o de Janeiro de 2014 por ser o primeiro do ano mas tudo começou em 2013 com alguns sketchers em Évora que começaram

a encontrar-se para conversar e desenhar informalmente ao final do dia ou ao fim-de-semana como quem vai tomar um café descontraidamente com os amigos. Naturalmente o grupo começou a aumentar e o interesse em desenhar em diferentes locais 31


GRUPO

Luís Ançã

começou a ser um desafio. Desta forma, começámos a combinar os próximos locais e, preferencialmente ao sábado. Assim nasceu o blogue evorasketchers.blogspot.com, que é o nosso sítio na internet preferencial, à boa maneira dos Urban Sketchers. Nosso facebook é apenas uma replicação de nosso blogue. Antes da pandemia, realizávamos por regra um encontro por mês com excepção do mês de Agosto. Em Março cancelámos todas as actividades e só voltámos em Setembro com o (a) Riscar o Património devido à melhoria da situação epidemiológica. Neste momento estamos novamente com as actividades canceladas mas estamos, desde Novembro a lançar desafios. Temos uma relação de amizade e proximidade com nossos companheiros de Elvas (Urban Sketchers da Raia) com quem

articulamos em diversas actividades. Juntos e também com os Urban Sketchers Beja criámos a página no Facebook Urban Sketchers Alentejo onde convergem as actividades dos três grupos. Em 2017 estes 3 grupos organizaram o 10x10 Alentejo - a comemoração internacional dos 10 anos dos Urban Sketchers: http:// evorasketchers.blogspot.com/p/10years-x-10-classes-alentejo.html. Seguindo o manifesto dos Urban Sketchers, criámos os “Princípios dos Évora Sketchers”: O mundo desenhado em cadernos Évora Sketchers é um colectivo de autores, naturais ou residentes no Alentejo, em particular na região de Évora. Desenham em diários gráficos o seu dia-a-dia no Alentejo ou nas suas viagens, respeitando o manifesto. Também desenham em conjunto em encontros organizados a fim de

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partilharem experiências e saberes. Partilha também feita através de blogues e de outras redes sociais. Representam e divulgam as particularidades da região, enriquecendo o património desenhado no tempo e no espaço, um registo do presente para o presente e para o futuro. Continuamos com o espírito com que nascemos: desenhar informalmente e trocar experiências. Embora já tenhamos articulado com diversas instituições, nosso objectivo é apenas desenhar por desenhar, no nosso Alentejo e preferencialmente no distrito de Évora.

Em geral nossas actividades são combinadas no final dos encontros com todos os presentes. Já tivemos momentos com a agenda muito cheia mas nos últimos anos temos optado por não agendar senão o essencial.

http://evorasketchers.blogspot.com/ Facebook.com/Évora Sketchers evora.sketchers@gmail.com 33


RELEMBRANDO Para sempre a desenhar para o futuro

Por

Inês Eva

Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva

Transportava um olhar atento e rápido e um caderno pronto a abrir. Conhecer Eduardo Salavisa a desenhar para o futuro era uma sorte partilhada por muitos, nos vários continentes por onde o nosso Eduardo andava. Também aqui em Lisboa, Eduardo Salavisa deixou-nos sempre um desafio claro. Sim, é preciso desenhar o que vemos, agora e aqui. Ou seja, é preciso ver e viver com atenção, mesmo que não nos atrevamos a desenhar. E foi isso que conseguiu demonstrar-nos, durante os muitos fins-de-semana das três edições de Um Ano a Desenhar Para o Futuro,

que programou para a Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva. Ao fim de poucas semanas, já estava a crescer uma comunidade - mais do que apenas uma programação. O grupo tinha sempre repetentes e estreantes, o grupo abria espaço para pessoas que vinham de vez em quando, o grupo acolhia desenhadoras e desenhadores vindos de outras cidades e de outros países. Houve dias de chuva e dias de muito sol. Houve manhãs guiadas em Português de Portugal e outras contadas em Português do Brasil. Houve sábados 34


em Espanhol de Espanha e outros em Espanhol vindo da América do Sul. Alguns dias foram desenhados pelo próprio Eduardo, outros ganharam forma e cor seguindo o exemplo de ilustradores propostos pelo nosso Eduardo. Nesses dias, o Jardim das Amoreiras encheu-se de pessoas atentas a isto de estarmos cá. Uns desenhavam sentados, outros desenhavam de pé. Mas todos tentavam ver cada vez melhor, todos desenhavam para o futuro em papel, todos praticavam a ideia de que olhar é bom mas ver é melhor. Quem passasse por ali naquele momento talvez não entendesse o que estava a acontecer. Mas seria fácil perceber que aquilo era mesmo muito importante para quem trabalhava no papel. O ponto de partida agradaria ao casal de pintores Arpad Szenes e Maria Helena Vieira da Silva, se estivessem por cá entre 2015 e 2017. Era um ponto de partida aberto a quem quisesse o risco de ilustrar o momento no papel, com os espaços da Fundação Arpad Szenes

- Vieira da Silva a serem usados por ilustradores profissionais - alguns em residência artística na Casa-Atelier Vieira da Silva - e por ilustradores principiantes, de todas as idades. À volta de Eduardo Salavisa e dos Urban Sketchers Portugal, a Casa-Atelier Vieira da Silva e o nosso Museu viveram manhãs e tardes que ficam marcadas para muitas pessoas como momentos de sol. O Eduardo despediu-se a desenhar. Ou seja, a viver. Desenhou amigos e familiares, desenhou todos os que se sentaram no cadeirão lá de casa ao longo de semanas e meses cheios de sol. Fez uma exposição relâmpago na CasaAtelier Vieira da Silva e lançou aqui um último livro onde fica exposto o coração, sem mau perder por se ir embora. Ainda bem que o Jardim das Amoreiras é grande. Às vezes calha bem ver mal, porque vamos continuar a ver o Eduardo lá ao longe. Está ali do outro lado, perto da Casa-Atelier. Parece estar a desenhar. Sim, é o Eduardo de certeza. Está a desenhar para o futuro. Até já.

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AGENDA

dezembro 2020

ENCONTROS

toda a informação actualizada em USkP ENCONTROS

AÇORES - TERCEIRA | ENCONTRO 43 5 de Dezembro (14h) - Serretinha, Feteira Org. USK Açores, Ilha Terceira AÇORES - TERCEIRA | ENCONTRO 44 19 de Dezembro (14h) - Praça Velha, Angra do Heroísmo Org. USK Açores, Ilha Terceira

FORMAÇÃO

toda a informação actualizada em USkP FORMAÇÕES

ALFABETO LISBOETA DESALINHADO - Mário Linhares, José Louro, Ketta Linhares Até 10 Julho 2021 - Sábados, 10h30 - 13h00 (Mais informações) LISBOA ANTI-POSTAL - Mário Linhares Até 30 Junho 2021 - Quartas-feiras, 14h30 - 17h00 ou 18h00 - 20h30 (Mais informações) DIÁRIO GRÁFICO EM CASA - Mário Linhares 7 de novembro a 17 de abril (curso online) - Sábados, 18h00 - 20h30 Org. Nextart (Mais informações) DIÁRIO GRÁFICO | INICIAÇÃO - Mário Linhares 17 de novembro a 15 de junho - 3.ª feiras, 15h00 - 17h30 Org. Nextart (Mais informações)

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EXPOSIÇÕES

toda a informação actualizada em USKP EXPOSIÇÕES

DESENHO EM CADERNOS E FOTOGRAFIA - Grupo do Risco Museu Nacional de História Natural e da Ciência - Até 14 de Março de 2021 Org. GdoR/LxVerde

OFICINAS SINGULARES

todas as edições em You Tube UrbanSketchers Açores

À CONVERSA COM NATHALIA CAVALCANTE - Sessão #6 Facebook USK Açores - 5 de Dezembro, 10h Açores / 11h Continente Org. USK Açores

Comuniquem-nos actividades relacionadas com sketching para o e-mail uskp.actividades@gmail.com 37


USkP ASSOCIAĂ‡ĂƒO Urban Sketchers Portugal

urbansketchers-portugal.blogspot.pt Instagram: @urbansketchersportugal

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