Por que a pressa?

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Nos bares e nas ruas de Col么nia do Sacramento, o clima 茅 de sossego total

Por que a pressa?

Em vez de fazer o tradicional bate-volta entre Buenos Aires e Col么nia do Sacramento, vale a pena reservar alguns dias para flanar pelas ruas, desfrutar o tempo e descobrir os segredos da pequena cidade colonial uruguaia e de sua vizinha Carmelo POR ricardo calil fotos anna fischer

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Colônia do Sacramento ficou conhecida entre turistas brasileiros como “a Paraty do Uruguai”. Já sua vizinha Carmelo, a 80 quilômetros daqui, começa a ganhar fama como “uma Toscana em miniatura”, definição dada pelo jornal norte-americano The New York Times. Epítetos como esses podem ser traiçoeiros. Por um lado, servem para orientar os viajantes. Sim, Colônia do Sacramento é, como sua “prima” brasileira, uma encantadora vila colonial à beira d’água, fundada por portugueses e declarada Patrimônio Histórico da Humanidade pela Unesco. E, assim como a famosa região italiana, Carmelo tem vinícolas de grande qualidade, além de locais charmosos para consumir os produtos locais. Por outro lado, na rapidez do paralelo, epítetos podem passar por cima de características fundamentais de um lugar. E, no caso do Uruguai, o essencial não é o espaço, e sim o tempo. Eleito “país do ano” pela revista The Economist em 2013, no embalo da filosofia da simplicidade defendida pelo então presidente José Mujica, este é um lugar ideal para desacelerar. “Visitantes do mundo inteiro – brasileiros, americanos, europeus – já me falaram: ‘Colônia me lembra o lugar onde passei a minha infância’”, conta o fotógrafo gaúcho Eduardo Alvares Boszko, 40 anos, radicado na cidade há sete, proprietário da Pousadita de la Plaza e da loja de fotos e memorabilia de mesmo nome. “Quando um japonês me falou a mesma coisa, eu pensei: ‘Não é possível!’. Foi aí que eu entendi que Colônia não lembra o lugar da infância, e sim o tempo da infância. O Uruguai é o Santo Graal da tranquilidade.” Para a maioria dos brasileiros, Colônia é um apêndice de uma viagem a Buenos Aires. De Puerto Madero, pega-se o Buquebus e, 1 hora de rio da Prata depois, chega-se ao destino. Em uma tarde, pode-se percorrer o pequeno centro, subir no farol, observar os carros antigos nas ruas de paralelepípedo, visitar alguns dos muitos e austeros museus (o Português, o Espanhol, o dos Azulejos), almoçar e conhecer os resquícios da colonização portuguesa – presentes em algumas casas remanescentes do século 17 e no calçamento pé de moleque com canaleta central de poucas ruas, como a famosa Calle de los Suspiros. Com um dos guias locais,

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Brasília (BSB)

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Fortaleza (FOR)

23h45

05h20

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pode-se ainda aprender a história da cidade, que, a partir de 1680 e ao longo dos cem anos seguintes, trocou sete vezes de mãos entre portugueses e espanhóis – obcecados em dominar o escoadouro do ouro e da prata latino-americanos. Dá para aprender também que, entre as casas mais antigas, as brancas eram espanholas, e as vermelhas, portuguesas, porque tingidas com sangue animal para segurar a cal; e que a primeira coisa que os escravos faziam ao chegar, após atravessar o Atlântico, era suspirar de alívio, batizando assim a rua mais antiga da cidade (que depois viria a ser o local dos prostíbulos, inspirando outros tipos de suspiros). Ou seja, em um dia dá para fazer tudo. O que significa dizer que falta tempo para o programa mais importante de Colônia: não fazer nada. A cidade oferece muitos motivos para ficar um par de dias. Porque, em um par de horas, não dá para se perder a sério pelas ruas; não dá para ver o sol morrer lindamente no rio da Prata, nem para ver a cidade se iluminar pelos lampiões à noite; não dá para saber que os bem-cuidados vira-latas locais são comunitários e alimentados por moradores; não dá para roer os ossos do carré de cordeiro no hotel Charco, ou lagartear na piscina de fundo infinito e vista para o rio do Radisson Hotel & Cassino; não dá para matar o calor com um refresco no café e loja de acessórios Boca de Santo, do casal argentino Ana Cufré, 31, e Mauricio Baffa, 32, que foi para Colônia para ter “una vida en slow motion”.

em um dia dá para fazer tudo, mas falta tempo para o mais importante em Colônia: não fazer nada

Em sentido horário, a partir da foto acima: pôr do sol no rio da Prata; o farol de Colônia; Eduardo Boszko, brasileiro que se mudou para a cidade uruguaia há sete anos; carré de cordeio servido no hotel Charco; e a rua Real e suas charmosas mesinhas na calçada

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Com pouco tempo, também não será possível descobrir, jogando conversa fora com os locais, que Colônia é o atual lar do “corsário do rio da Prata”, o argentino Ruben Collado, responsável pelo resgate dos tesouros de mais de uma dezena de barcos afundados nas suas águas turbulentas. As relíquias costumavam ficar expostas em um museu, fechado recentemente. Ele conta que em breve fará seu maior resgate: o navio inglês Lord Clive, que naufragou em 1763, a apenas 300 metros da costa e a 6 metros de profundidade, com 100 mil moedas de ouro. Seu ambicioso plano é trazer a embarcação à tona e transformá-la em uma das principais atrações da cidade. Ainda falta o patrocínio, mas a permissão do governo uruguaio ele já tem. Para quem não tem acesso a moedas de ouro, os tesouros de Colônia são outros – e igualmente incalculáveis. No filme argentino Dois irmãos (2009), um personagem solteiro de 64 anos se vê perdido depois da morte da mãe e do rompimento com a irmã. Ele só recupera a vontade de viver ao se mudar para Colônia e entrar em um grupo de teatro. Na vida real, mais incrível que a ficção, o casal de franceses aposentados Régine, 64, e Hubert Aguilar, 66, percorre as Américas há quatro anos em um motor home que atravessou o Atlântico de

Ruta 21

Para quem preferir alugar um carro para ir de Colônia a Carmelo, há uma parada interessante no meio do caminho de 50 minutos pela bonita Ruta 21: Los Cerros de San Juan, a vinícola mais antiga do Uruguai, criada em 1854. É uma pequena viagem no tempo de armazéns, adegas, barris e garrafas centenárias – e uma bela introdução ao espírito enogastronômico de Carmelo. 86 REVISTA GOL

Em sentido horário, a partir da foto acima: passeio de caiaque em Carmelo; o casal de franceses Régine e Hubert Aguilar pela terceira vez em Colônia; Ruben Collado, que resgata barcos afundados na região; e a enóloga Valeria Chiola em ação na vinícola Narbona

agradecimentos Radisson Colonia Del Sacramento Hotel& Casino Carmelo Resort&Spa, A Hyatt Hotel Vinícola Narbona Ministério do Turismo do Uruguai

navio, da Bélgica ao Canadá (o relato da viagem, em francês, está no blog de-la-canebiere-a-ushuaia.over-blog.com). Adivinhe o lugar que eles mais visitaram? Colônia, três vezes. Os motivos? Sossego, segurança e, claro, o encanto da cidade. Sentados em cadeiras de praia, lendo embaixo de uma árvore, a poucos metros do rio da Prata, eles encarnaram perfeitamente o espírito dolce far niente de Colônia. Nadando contra a corrente da maioria dos brasileiros, o casal Wania Teles, 28, e Christian Farkas, 27, de Santos, decidiu passar a noite em Colônia e aprovou. “Depois de bater perna, deu para jantar com calma e ver shows pela cidade, que fica linda à noite”, conta Wania. No dia seguinte, eles estavam descansados para a parte mais romântica da viagem: pegar um ônibus até Carmelo e percorrer suas vinícolas de bicicleta. “Nossa experiência será mais profunda do que a das pessoas que fazem apenas o bate-volta”, diz Farkas.

EM CARMELO, A DICA é pegar a estrada com rumo certo para comer, beber e relaxar

Como Colônia, Carmelo fica à beira do rio da Prata, é pequena e pacata. Mas a viagem muda um bocado. Aqui a ideia não é flanar sem rumo pelas ruas do centro (nesse caso, acanhado), e sim pegar a estrada com rumo certo para comer, beber, relaxar. Com menos tempo de turismo nas costas que a vizinha mais conhecida, Carmelo tem opções variadas de hospedagem. Há o famoso Hyatt (ex-Four Seasons), resort com praia particular, bosque para cavalgar ou pedalar e 44 quartos amplos. E há alternativas menores e charmosas, caso do Narbona Wine Lodge, com sete suítes em meio a vinhedos e construções que estão de pé desde 1909. Como em outras vinícolas da região, na Narbona é possível fazer programas variados em torno de vinho e da comida, mesmo para quem não se hospeda aqui: degustação, almoço ou jantar, piquenique ou bicicletada pelos vinhedos. Por mais que eles plantem uma dezena de variedades (e ainda produzam doce de leite, queijos, geleias, pães e azeite artesanais), a estrela será sempre a Tannat, uma uva para os fortes. “É um orgulho nacional, como o Malbec para os argentinos e o Carménère para os chilenos”, conta Valeria Chiola, 28, enóloga local. Ela explica que o vinho Tannat harmoniza com queijos e carnes robustos. REVISTA GOL 87


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Além da Narbona, há uma dezena de vinícolas artesanais na região que merecem a visita. Vale destacar a renomada Irurtia, El Legado (em que você será recebido pelo dono, Bernardo Mazurca), CampoTinto (a mais nova em Carmelo) e, a poucos metros dali, Cordano (a mais antiga), tocada pela mesma família de origem italiana há cinco gerações. Nesta última, está o centenário Almacén de la Capilla. Ana Paula Cordano, 37, explica que decidiu investir no turismo há poucos anos, com o crescimento do interesse pela região. Agora oferece um único quarto em meio aos vinhedos. Para quem quer variar dos vinhos, um bom refúgio é Puerto Camacho, um píer dentro de um condomínio privado, que pode ser visitado após identificação na guarita. Aqui, caiaques de aluguel estão disponíveis para um passeio pelo rio da Prata. Da varanda do rústico e elegante restaurante Basta Pedro, pode-se comer pratos típicos como milanesas, chivitos (clássico sanduíche local) e empanadas e ver mais um espetacular pôr do sol. A essa altura, yo garantizo, você já terá esquecido completamente de Paraty ou da Toscana.

De cima para baixo: Puerto Camacho ao anoitecer; Ana Paula Cordano no centenário Almacén de la Capilla; e a piscina do hotel Hyatt, em Carmelo AH LO Boutique Hostel Treinta y Tres, 270, Carmelo. Tel.: (598) 4542-0757. ahlo.com.uy. Diárias para casal, com café da manhã, a partir de US$ 50.

Onde comer

Charco San Pedro, 116, Colônia do Sacramento. Tel.: (598) 45345000. charcohotel.com. Churana Misiones de los Tapes, 41, Colônia do Sacramento. Tel.: (598) 4523-5403. churana.com. boca de santo Paseo San Miguel Puerta, 81, Colônia do Sacramento. Tel.: (598) 9929-6022.

Onde ficar

Radisson Hotel & Casino Washington Barbot, 283, Colônia do Sacramento. Tel.: (598) 45230460. radisson.com/coloniauy. Diárias para casal, com café da manhã, a partir de US$ 125. La Posadita de la Plaza Misiones de los Tapes, 177, Colônia do Sacramento. Tel.: (598) 4523-0502. posaditadelaplaza.

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com. Diárias para casal, com café da manhã, a partir de US$ 120. Hyatt Resort & Spa Ruta 21, km 262, Carmelo. Tel.: (598) 4542-9000. carmelo.hyatt.com. Diárias para casal, com café da manhã, a partir de US$ 190. Narbona Wine Lodge Ruta 21, km 268, Carmelo. Tel.: (598) 4540-4778. narbona.com.uy. Diárias para casal, com café da manhã, a partir de US$ 168.

Posada CampoTinto Camino de los Peregrinos, s/n, Carmelo. Tel.: (598) 4542-7744. posadacampotinto.com. Basta Pedro Ruta 21, km 265, Carmelo. Tel.: (598) 4542-9041. bit.ly/bastapedro.

O que fazer

Farol Henriquez de la Peña, Colônia do Sacramento. Inaugurado em 1857, tem a melhor vista de Colônia. 25 pesos uruguaios.

De La Plaza Misiones de los Tapes, 177, Colônia do Sacramento. Tel.: (598) 4523-0502. Loja de fotografias, bricabraques e memorabilia. Los Cerros de San Juan Ruta 21, km 213, a 30 km de Colônia do Sacramento. Tel.: (598) 4570-7003. Vinícola mais antiga da região. loscerrosdesanjuan.com.uy. Almacén de La Capilla Camino vecinal de Colonia Estrella, entrada na Ruta 21, km 257, Carmelo. Tel.: (598) 099-544-255. Armazém inaugurado em 1900, vende produtos locais, incluindo vinhos produzidos e oferecidos apenas aqui. Puerto Camacho Ruta 21, km 265, Carmelo. Tel.: (598) 45429041. Passeios de bicicleta ou caiaque. puertocarmelo.com.

Alugue um carro

Localiza Autopista TTE GRAL Ricchieri, s/n, Ezeiza. TEL.: (54 11) 4897-4240. localiza.com.br. Thrifty Car Rental Puerto Franco, Colônia do Sacramento. Tel.: (598) 522-1936. thrifty.com.uy


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