LivroProf_MIOLO

Page 1


Concepção de projeto Ferrous Resources do Brasil Coordenação editorial e revisão: Erick Ramalho Pesquisa e Textos Gustavo Barbosa Ingrid Silva Letícia Menezes Marina Lanza Mônica Maldonado (Compreender Consultoria em Responsabilidade Social) Projeto Gráfico Vanessa Siqueira (Fábrika Comunicação Integrada) Ilustrações Marcelo Silva Impressão TCS Soluções Gráficas e Editora

Edição em conformidade com as novas regras ortográficas (2009) É autorizada a reprodução deste material, desde que citada a fonte.


Nome:

Escola:

E-mail:

Tel.:

2011 Janeiro

Fevereiro

1 - Confrat. Universal

Maio

1 - Dia do Trabalhador

Junho

Março

Abril

8 - Carnaval 9 - CInzas

21 - Tirandentes 22 - Paixão de Cristo 24 - Páscoa

Julho

Agosto

23 - Corpus Christis

Setembro

Outubro

Novembro

Dezembro

7 - Independência do Brasil

12 - Nossa Sra. Aparecida

2 - Finados 15 - Proc. República

25 - Natal



sumário Apresentação........................................................................9

A FERROUS........................................................................11 Terminal Portuário da Ferrous ..............................................11 O Programa de Relacionamento com as Escolas......................13 Proposta do Programa..........................................................13 Justificativa para a proposição do trabalho, pela Ferrous..........14 Cidadão, sujeito e autor: uma questão de lugar!......................15 Problematizar a localidade: um desafio interdisciplinar............17 UMA REGIÃO EM TRANSFORMAÇÃO: O PORTO DA FERROUS EM PRESIDENTE KENNEDY E OS EFEITOS SOCIOCULTURAIS NA LOCALIDADE.................................................................18 Lugar, cultura e identidade: três categorias de análise da localidade...........................................................................19 Uma questão de identidade!.................................................25 Cultura e identidade, onde? O conceito de “lugar”..................27 A história local: qual é a minha identidade cultural?...............29 Sociedade, economia e cultura: a mineração e o porto da Ferrous..... 33 Por uma cultura da sustentabilidade ....................................37 Pensando os efeitos sociais, culturais e ambientais do porto da Ferrous........................................................................................ 44 Por uma síntese .................................................................46


O PAPEL DA ESCOLA POR UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: A “HORA E A VEZ” DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL........................48 Conceito, significado e prática! Sujeito, cidadão e ator! Escola e cidade! Cidade e economia! Economia e porto! Vamos a eles!..50 Conceito, significado e prática! ...........................................51 Conceito, significado e prática! Sujeito, cidadão e ator! .........53 Conceito, significado e prática! Sujeito, cidadão e ator! Escola e cidade!................................................................................55 Conceito, significado e prática! Sujeito, cidadão e ator! Escola e cidade! Cidade e economia!..................................................57 Conceito, significado e prática! Sujeito, cidadão e ator! Escola e cidade! Cidade e economia! Economia e porto!.......................59 Mas, e a educação ambiental? .............................................61 Um modo de construir conhecimento: a pesquisa na escola.....63 O projeto de pesquisa..........................................................65 O processo avaliativo............................................................68 Síntese das etapas de um projeto de pesquisa........................70

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................74

Anexo 1: Desenvolvimento Sustentável e Indicadores Sociais...76 Anexo 2: Licenciamento Ambiental.......................................79



apresentação Caros professores, este livro compõe o material de referência para a pesquisa proposta às escolas, pelo Programa de Relacionamento da Ferrous, nas cidades de Presidente Kennedy, Marataízes e São Francisco de Itabapoana. Todo o conteúdo foi elaborado especialmente para o Programa, de forma a proporcionar um material direcionado aos professores participantes, a fim de subsidiá-los nos trabalhos de pesquisa que realizarão junto a seus alunos. Os textos apresentam o porto da Ferrous sob a perspectiva das relações estabelecidas entre todos os integrantes da localidade, a partir de sua inserção na região. Trata-se de uma revisão histórica e ambiental do contexto que justifica a existência do porto, ou seja, a mineração e a logística, e ainda as características sociais, econômicas e culturais do país, do estado e das três cidades que, de alguma forma, interagem com o empreendimento. A análise do contexto considera, então, o processo de transformação provocado pela modificação do lugar e elege a cultura e a identidade como categorias de estudo para a compreensão de uma sociedade desafiada a se desenvolver de maneira sustentável. Neste sentido, o material subsidia a construção de conhecimento também sobre as demandas legais e sociais para a instalação do porto, considerado um dos fatores de desenvolvimento da região, entre tantos outros elementos culturais produzidos pela ação do homem no mundo. O material se completa com a proposição metodológica de implementação do estudo, na escola, e se inicia pela apresentação institucional da empresa, suas características estruturais, os valores e os princípios que a classificam como uma organização socialmente responsável. Boa leitura! 10

conviver . programa de pesquisa com as escolas


A FERROUS A Ferrous Resources do Brasil é uma empresa de pesquisa, prospecção, exploração, beneficiamento e comercialização de mineração de ferro com sistema de logística integrado – mineroduto e porto – sediada em Belo Horizonte, Minas Gerais, e fundada em 2007 com capital nacional e estrangeiro. A empresa projeta uma produção anual de 25 milhões de toneladas por ano a partir de 2013 e 50 milhões de toneladas por ano a partir de 2016, através da utilização das mais avançadas tecnologias aliadas a uma atuação responsável. Para alcançar esta projeção a Ferrous possui direitos minerários em Minas Gerais e na Bahia, e projetos portuários em Presidente Kennedy (ES) e em Salvador (BA) para escoamento da produção.

Terminal Portuário da Ferrous Para atender a demanda de exportação do minério de ferro produzido no Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais, a Ferrous pretende construir, em Presidente Kennedy, um Terminal Portuário entre as praias de Marobá e das Neves. O Terminal também terá como áreas de influência direta as cidades de Marataízes (ES) e São Francisco de Itabapoana (RJ).

conviver . programa de pesquisa com as escolas

11


Missão: “Atuar de forma sustentável e inovadora na cadeia do ferro, agregando valor aos nossos colaboradores e parceiros, proporcionando avanço socioambiental efetivo para as comunidades envolvidas e retorno para os acionistas.”

12

conviver . programa de pesquisa com as escolas

O empreendimento será composto por uma infraestrutura marítima e retroárea, formada por planta de filtragem e pátios de armazenagem do minério, e estruturas administrativas de apoio à operação. No mar, serão construídas uma ponte de acesso, um quebra-mar e um píer de embarque, o que resultará na capacidade de embarcar 50 milhões de toneladas de minério de ferro por ano. Os investimentos da Ferrous Resources do Brasil oportunizam mudanças diversas nos territórios onde a empresa atua, tais como elevação da arrecadação de impostos, geração de empregos, aumento da massa salarial e, consequentemente, da renda familiar, entre outros. O desafio da empresa, nesse contexto, é atuar como agente catalisador do desenvolvimento sustentável das comunidades onde está inserida, a partir da promoção de mudanças econômicas e socioambientais de ganho mútuo em todas as fases de seus empreendimentos. Por meio do diálogo social e do engajamento das partes interessadas, a Ferrous busca compartilhar responsabilidades e integrar esforços, numa convergência de interesses a favor do desenvolvimento sustentável. Para isso, desenvolve programas educacionais, ambientais, culturais e de promoção social em toda a área de influência de seus empreendimentos, que compreende 26 municípios, divididos entre os estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Bahia. Vivenciando os princípios da responsabilidade social nas diversas fases de seus projetos e operações, a Ferrous pretende conquistar, diariamente, a licença social para operar seus empreendimentos. E é nesse contexto que se propõe o Programa de Relacionamento com as Escolas de Presidente Kennedy, Marataízes e São Francisco de Itabapoana.


“Promover parceria com as escolas situadas na área de abrangência do porto da Ferrous, para a elaboração de projetos de pesquisa com temas relacionados à localidade.”

O Programa de Relacionamento com as Escolas A instalação das estruturas do porto da Ferrous na região de Presidente Kennedy, Marataízes e São Francisco de Itabapoana, pela dimensão econômica, social e cultural que ocupa, está relacionada a um processo de transformação no modo de vida dos moradores dessas cidades. A proposta da empresa, portanto, é que tais transformações resultem de uma construção coletiva, feita com a participação de todos os moradores que dela devem se apropriar. A participação coletiva de um processo de transformação, conforme propõe a Ferrous, demanda conhecimento aprofundado sobre todos os integrantes e condicionantes deste processo. Neste sentido, está proposta a realização do Programa de Relacionamento em parceria com as escolas, lugar, por excelência, de construção de conhecimento. A intenção é que, por meio do estudo metodologicamente organizado, escola e empresa se conheçam e se reconheçam como agentes da transformação que se anuncia.

Proposta do Programa Promover parceria com as escolas situadas na área de abrangência do porto da Ferrous, para a elaboração de projetos de pesquisa com temas relacionados à localidade.

conviver . programa de pesquisa com as escolas

13


Justificativa para a proposição do trabalho, pela Ferrous Pesquisar a localidade significa provocar um olhar crítico, diferente e questionador sobre aquilo que se vê, todos os dias. Significa desnaturalizar o cotidiano para transformá-lo em um lugar, mais do que de origem, pertencente a cada uma das pessoas que ali vivem. Pesquisar sobre a localidade significa valorizar as relações que ali se estabelecem no sentido de torná-las meio e fim de um desenvolvimento responsável, que se paute na história para compreender o presente e, melhorando o presente, garantir, como consequência, um futuro saudável para todos. É assim que a Ferrous se propõe a ser parte de um ambiente, ou seja, atuando para seu desenvolvimento de forma responsável e sustentável. Construir conhecimento científico por meio do estudo de temas relativos à localidade é uma forma de promover uma aprendizagem que faça sentido para o aluno. E fazer sentido para o aluno significa possibilitar sua construção enquanto cidadão, consciente de seus direitos e deveres em relação a todo e qualquer componente do meio em que vive; possibilitar que aja como sujeito, capaz de se colocar ativamente em todas as situações que a vida o demandar; e possibilitá-lo a ser autor, responsabilizando-se por suas ações e intenções ao longo do caminho que percorre e do lugar que está desafiado a ocupar na sociedade em que vive.

14

conviver . programa de pesquisa com as escolas


Cidadão, sujeito e autor: uma questão de lugar ... porque, na verdade, foi a minha recificidade que me fez pernambucano, a minha nordestinidade que me fez brasileiro, a minha brasilidade que me fez latino americano, e a minha latino-americanidade que me faz um homem do mundo, porque ninguém é do mundo sem ser primeiro de um lugar qualquer. Paulo Freire1

Cotidianidade e cidadania! Paulo Freire, nesse trecho, propõe uma dependência entre essas duas categorias fundamentadas numa terceira, que se relaciona ao lugar. O parágrafo acima sugere que ser cidadão do mundo implica, necessariamente, em conhecer aquilo que está próximo e, portanto, acontece habitualmente, diariamente, ou seja, cotidianamente! Cidadania não é uma condição inata, é adquirida pelo homem em relação ao mundo e com o mundo. A qualidade desta relação determina a possibilidade de se adquirir a condição de ser cidadão, homem, portanto, dotado do sentimento de pertencimento, acessível apenas àqueles que conhecem cada parte que compõe a cidade onde vivem.

Freire, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

1

Definição do Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa.

2

conviver . programa de pesquisa com as escolas

15


“O conhecimento construído na escola contribui para que o homem transite entre o senso comum e a ciência, e possa assim modificar seu entorno, fazendo cultura e utilizando o produto cultural de seu conhecimento a seu favor.”

16

conviver . programa de pesquisa com as escolas

O conhecimento revela-se, desta forma, condição para a aquisição da cidadania, e o lugar, por excelência, de construção formal desse conhecimento é a escola. É ela que dá ao ser humano a oportunidade de fazer uma reflexão crítica sobre os elementos e as relações que constituem o ambiente onde vive, cujo resultado influencia na assunção de sua condição de sujeito, contrária, portanto, à de objeto, dominado por aquele que pensa. É justamente assumindo a condição de sujeito que o animal homem se diferencia dos outros animais, que não estabelecem relação com o mundo, mas apenas contato. Ao se relacionar, o homem conhece e, ao conhecer, humaniza-se, pois muda ou refaz o que conheceu ou aprendeu ingenuamente, conhecimento chamado senso comum. O conhecimento construído na escola contribui para que o homem transite entre o senso comum e a ciência, e possa assim modificar seu entorno, fazendo cultura e utilizando o produto cultural de seu conhecimento a seu favor. Sem o conhecimento, o homem apenas executa o projeto do outro, daquele que conhece. Como um objeto, não se integra ao mundo, submete-se a ele! O homem precisa do conhecimento para assumir sua condição de ser humano. Voltando à epígrafe deste texto, é possível relacionar os diversos lugares de integração do homem ao mundo, assim como é possível concluir que o autor condiciona a integração com o mundo ao conhecimento do lugar imediato de localização de cada sujeito. Como posso ser cidadão do mundo sem ser, primeiro, cidadão do lugar onde estou? Conhecer o lugar onde se vive significa investigar as causas da existência de cada um de seus componentes e os impactos positivos e negativos das relações estabelecidas em função dessa existência. Significa, ainda, compreender o cotidiano como uma construção coletiva e, portanto, cultural, cujo resultado deve influenciar diretamente a formação da cidadania. A localidade e seus componentes, ao serem formalmente conhecidos, imprimem sentido a sua existência e passam a constituir o universo de objetos pertencentes à comunidade, cuja desnaturalização representa uma forma de contribuição para a construção e apropriação dos direitos e dos deveres de cada cidadão.


Problematizar a localidade: um desafio interdisciplinar Os textos a seguir constituem um material elaborado para subsidiar o estudo sobre a localidade onde está sendo instalado o porto da Ferrous. O material trata de problematizar as características da região sob a perspectiva histórica e ambiental, e ainda propõe uma abordagem metodológica para a implementação do estudo, na escola, por meio da técnica da pesquisa.

conviver . programa de pesquisa com as escolas

17


“(...) a problematização do tema da sustentabilidade e de um desenvolvimento que aconteça em harmonia com a cultura, a identidade e o lugar em que ambos, comunidade e porto, integram o ambiente.”

UMA REGIÃO EM TRANSFORMAÇÃO: O PORTO DA FERROUS EM PRESIDENTE KENNEDY E OS EFEITOS SOCIOCULTURAIS NA LOCALIDADE A proposta de estudo, agora, é problematizar a localidade sob a perspectiva histórica, ou seja, provocar um olhar de estranhamento para a cultura, a sociedade e o ambiente onde tudo existe e acontece. Participar desse movimento significa assumir a condição crítica, direito e dever de cada cidadão que vive na região onde estão em instalação as estruturas do porto da Ferrous. Didaticamente, propõe-se que o estranhamento da localidade se apoie no estudo de três categorias de análise: a cultura, a identidade e o lugar. Acredita-se que a compreensão teórica de cada uma dessas categorias possa acrescentar ao olhar do professor e ao do aluno habilidades para re-significar sua relação com a cidade. Habilidades construídas, acredita-se ainda, com as quais este estudo deva contribuir, para a compreensão da influência da inserção do porto da Ferrous na localidade e da possibilidade dessa inserção acontecer sob a perspectiva da sustentabilidade. Sendo assim, o texto traz, também, subsídios teóricos para a problematização do tema da sustentabilidade e de um desenvolvimento que aconteça em harmonia com a cultura, a identidade e o lugar em que ambos, comunidade e porto, integram o ambiente.

18

conviver . programa de pesquisa com as escolas


Lugar, cultura e identidade: três categorias de análise da localidade Quais são as principais características do povo brasileiro? Como nos diferenciamos dos argentinos, por exemplo? E qual a diferença entre ser capixaba ou fluminense? Que elementos você poderia apontar como diferenciador daqueles que nascem e crescem no Espírito Santo? E no Rio de Janeiro? Qual é a relação entre economia, sociedade, estado e cultura na formação da identidade de uma comunidade? São essas algumas questões a serem pensadas no curso de formação de professores, cujo objetivo é problematizar a formação da cultura e da identidade, para então se criar um outro olhar sobre a localidade da qual você faz parte. Quando estamos em família, na escola, no trabalho e vivemos, desde sempre, em um lugar, nos acostumamos com o modo de vida e os hábitos daquela região. Não estamos habituados a questionar “o porquê” das atividades que executamos diariamente. Quando fazemos essa pergunta, encontramos uma resposta pronta, fruto do senso comum3: “Ah, porque sempre foi assim!”. Mas será que sempre foi assim mesmo? Nossos hábitos cotidianos são naturais ou foram construídos pelo homem? Você, por exemplo, já se perguntou por que os nascidos no Espírito Santo recebem o gentílico “capixaba”? Quem foi o responsável por esta escolha? Será que foi uma escolha pacífica, natural ou ela é fruto das relações de poder, conflitos e acordos? Como construímos nossa cultura e nossa identidade? O mundo onde estamos inseridos não foi sempre como aquele que encontramos ao nascer. Desde que nascemos, muita coisa mudou. Basta ver fotos antigas, por exemplo, para que identifiquemos transformações na moda, na culinária, nos padrões de beleza. No âmago desta discussão, estão os conceitos de cultura e identidade.

A expressão senso comum (também conhecido por pensamento comum ou por conhecimento vulgar) corresponde a um dos níveis de conhecimento e designa o conhecimento espontâneo que temos das coisas que nos rodeiam e das quais estamos próximos no nosso dia a dia. Este tipo de conhecimento é precisamente o resultado da familiaridade do indivíduo com uma realidade que enfrenta diretamente e que permite o pensamento comum. Apesar das vantagens do senso comum, nomeadamente porque permite ao homem orientarse no mundo, manejar as coisas e resolver os problemas mais prementes e imediatos do cotidiano, o conhecimento deste tipo apenas permite captar o “mundo da aparência” e não o “mundo real”. “O mundo real” é aquele conhecido pela ciência e seus métodos.

3

conviver . programa de pesquisa com as escolas

19


Entende-se que essas duas categorias constituintes do ambiente são socialmente construídas, ou seja, não são naturais, dadas a priori, mas fazem parte de um processo contínuo, de construção e reconstrução, permeadas pelas questões colocadas pelas facetas da vida em sociedade, como as condições geográficas, econômicas, sociais, religiosas e políticas de uma região. Essas facetas atuam em conjunto, ou seja, cada uma delas determina a formação da nossa cultura, o nosso modo de entender e interagir com o mundo. O conceito de cultura é amplo e possui vários significados. Seu primeiro sentido está ligado ao uso e cultivo da terra na antiguidade e, assim, a definição mais comum para o termo é aquela que opõe cultura à natureza. É por meio da cultura que o homem modifica o espaço natural de modo a tornar possível a sua interação com aquele ambiente. Isso difere o homem dos demais animais e imprime em sua ação uma intencionalidade e, neste sentido, a cultura relacionase com a capacidade humana de raciocinar, pensar. Mas será que pensamos todos do mesmo jeito? Todos os homens enxergam o mundo sob o mesmo prisma? Transformam a natureza do mesmo modo? Por que para a mulher árabe o uso da burca é fundamental em sua vida em sociedade e, no Brasil, o mesmo uso é considerado uma falta de

20

conviver . programa de pesquisa com as escolas


respeito à liberdade das mulheres? Uma criança nascida no Brasil, mas que desde a infância foi criada no mundo árabe, será culturalmente um árabe ou um brasileiro? Estas diferenças comportamentais são herdadas ao nascer, ou seja, fazem parte da natureza dos indivíduos, ou será que elas estabelecem uma relação com as situações de socialização em que os indivíduos são levados a atuar cotidianamente, ou seja, são assimiladas em família, na escola e na sociedade?

“(...) a cultura não é estática, imutável; ela se forma e se transforma em contato com as demais esferas do meio social, como a economia, a geografia, a religião e a política. “

Os cientistas sociais, filósofos e historiadores tendem a ter como resposta a segunda opção, ou seja, a de que é a socialização e as situações reais da vida que compõem o modo, a maneira como o homem interpreta e age na realidade. A ação do sujeito é composta, desta forma, por um conjunto de conhecimentos, crenças, símbolos, tradições e representações que recebe o nome de cultura. É por meio dela que o homem se relaciona com o mundo e interage com a natureza.

É importante entender, todavia, que a cultura não é estática, imutável; ela se forma e se transforma em contato com as demais esferas do meio social, como a economia, a geografia, a religião e a política. Como exemplo, analisemos a relação entre economia e cultura.

conviver . programa de pesquisa com as escolas

21


Economia é a ciência social que estuda a produção, a distribuição

Existe uma diferença entre bens e serviços econômicos. Os bens gozam de uma materialidade e podem ser de cunho primário ou secundário. Bens primários são, por exemplo, os produtos agrícolas não industrializados, como a soja, a laranja, o trigo. Os bens secundários passaram por um processo de transformação que pode ser industrial ou não, como a polpa da laranja processada, a farinha de trigo e os demais bens duráveis, como geladeiras, carros, computadores etc. Já o setor de serviços compõe aqueles produtos não materializados adquiridos pelo consumidor como uma prestação de serviços, como o do cabeleireiro ou da faxineira, por exemplo.

4

A vocação econômica de uma região é influenciada pelas condições propícias para que determinado sistema produtivo se instale ali. Na região de Presidente Kennedy, cujo solo é arenoso, a vocação econômica é a fruticultura. Em lugares onde há a abundância de minério, a vocação econômica é a mineração, e assim por diante.

5

22

conviver . programa de pesquisa com as escolas

e o consumo de bens e serviços4. Entretanto, é importante entender que não existe um padrão nas relações econômicas, visto que cada país, ou, em escala menor, cada comunidade, possui regras próprias para o desenvolvimento de suas atividades. Esta regulamentação surge em virtude das vocações econômicas5 de cada lugar e do modo como as relações econômicas são construídas ali. O Brasil, por exemplo, durante cerca de 380 anos, conviveu com relações de trabalho de cunho escravista que, por sua vez, eram diferentes das relações de trabalho na Europa e no norte dos Estados Unidos. Isso influenciou toda a cadeia econômica brasileira – como os preços, o tipo de produtos comercializados, os níveis de desenvolvimento social e até o modo como o brasileiro se relaciona com o trabalho. Assim, percebe-se que a economia influencia o modo como uma comunidade enxerga sua realidade, ou seja, as relações econômicas compõem, também, o cerne da cultura de um lugar. Vamos a outros exemplos explicativos: em sua opinião, uma cidade cuja economia é essencialmente rural, onde a indústria é incipiente e a maioria da população vive da produção familiar, terá traços culturais iguais aos de uma cidade cujos habitantes vivem do trabalho industrial, nos grandes centros? Seus hábitos, seu modo de entender o mundo, sua cultura serão os mesmos? Para pensarmos na resposta, devemos considerar que o homem do campo, que trabalha em sua terra, terá necessidades, desejos e anseios diferentes daquele que trabalha em uma fábrica, com salário fixo e horário pré-determinado. A relação com o tempo, por exemplo, muda de caso para caso. O trabalhador fabril não pode organizar seu tempo do modo como quer, afinal suas horas ao longo do dia foram “vendidas” como força de trabalho e, por sua vez, o homem do campo, autônomo, tem mais liberdade para organizar seu tempo em sociedade. Não se trata aqui de julgar qual deles tem melhor qualidade de vida, mas de entender que a cultura de uma comunidade ganha características peculiares de acordo com o contexto econômico em que seus sujeitos estão imersos.


Deste modo, o fator econômico relaciona-se com o fator social, e ambos com o fator político, e todos eles com a cultura. É uma relação dialética na qual é difícil determinar qual esfera influencia qual, já que todas determinam as demais e são determinadas por elas. Vamos a outro fator importante na formação de uma cultura: será que é possível aproximar a geografia da cultura? Pensemos esta questão. No hemisfério norte, o clima é diferente daquele nos trópicos. O inverno é rigoroso e a precipitação em neve é uma constante nessa estação.

conviver . programa de pesquisa com as escolas

23


Assim, o homem, mediado por sua cultura, adapta sua moradia às necessidades climáticas, construindo, por exemplo, casas com telhados em “dois caimentos” ou “duas águas”, cujo objetivo é não acumular neve em sua estrutura e assim evitar desmoronamentos. Os materiais usados na construção civil também são escolhidos de acordo com a região da obra, por isso, no norte do Brasil, por exemplo, é comum encontrarmos casas feitas de madeira. Será que isso tem a ver com a proximidade da região com a floresta amazônica? Provavelmente. O conceito de cultura é, pois, complexo. Ele se liga ao modo como interpretamos a sociedade e nela agimos e, portanto, não é estático, imutável. As mudanças ocorrem em função das transformações nas várias facetas que compõem o universo social: economia, religião, política, sociedade e assim por diante. Neste sentido, a transformação não é unilateral. Isto quer dizer que, quando a economia se transforma, as demais facetas também se reestruturam, cada uma em seu ritmo, mas todas se relacionando dialeticamente.

24

conviver . programa de pesquisa com as escolas


O sujeito6, todavia, imerso em sua cultura, escolhe aspectos, faz recortes culturais a partir de sua identificação com um determinado grupo que, como ele, compartilha do mesmo “olhar” e carrega consigo interesses convergentes. Isso acontece quando, por exemplo, fazemos parte de uma torcida de time de futebol, participamos de um sindicato ou frequentamos determinada igreja. Quando isto ocorre, dizemos que este grupo possui uma identidade.

Uma questão de identidade! Com o que ou com quem você se identifica? Com uma paisagem? Com um partido político? Com um grupo de amigos? Com um time de futebol? Com o discurso de uma religião? O que isso significa? Qual a relação entre cultura e identidade?

O conceito de sujeito a que se refere neste estudo aproximase do definido por historiadores para “sujeito histórico”. O sujeito histórico é aquele que age em sociedade de forma consciente, isto é, sua ação é realizada com uma intenção. Tradicionalmente eram considerados sujeitos históricos apenas personagens importantes, como reis, presidentes e outros líderes. Hoje, porém, o conceito ampliou-se, uma vez que é consenso o entendimento de que não apenas os “grandes homens” ou aqueles ligados ao poder são capazes de construir a história de uma comunidade.

6

conviver . programa de pesquisa com as escolas

25


“Assim, fica a pergunta: qual é a identidade de sua comunidade? Como ela foi construída? A construção do porto da Ferrous em Presidente Kennedy vai mudar a identidade de sua comunidade? Qual sua posição em relação a isso?”

A identidade é um “recorte” da cultura! É a identidade que define o que você tem em comum com algumas pessoas e o que o torna diferente de outras. Vamos a um exemplo sobre a diferença entre cultura e identidade: se me encontro com um cearense em minha cidade, talvez ele me pareça “estranho”. Pode ser um sotaque, uma peça de roupa, uma forma de cumprimentar diferentes. Minha identidade capixaba ou fluminense causa esse estranhamento. E se me encontro com esse mesmo cearense em uma estação de trem de Paris ou Nova York, onde não conheço ninguém? Provavelmente ele me parecerá muito próximo. Porque somos brasileiros e compartilhamos a mesma cultura. A identidade não é algo que encontramos, ou que tenhamos de uma vez e para sempre. Ela é um processo que está ligado não a ser, mas a estar, ou, mais especificamente, a representar. “Sendo a identidade uma construção social, e não um dado, herdado biologicamente, ela se dá no âmbito da representação: a identidade representa a forma como os indivíduos se enxergam e enxergam uns aos outros no mundo” (TILIO, 2009, p.112). Ter identidade implica necessariamente que os sujeitos se posicionem no mundo aderindo a determinados grupos e ideias com os quais se identificam. Esse posicionamento pode ser passivo, ou seja, os sujeitos aceitam as identidades sociais a eles impostas pelo outro, ou ativo, quando os sujeitos escolhem que posição tomar. Assim, fica a pergunta: qual é a identidade de sua comunidade? Como ela foi construída? A construção do porto da Ferrous em Presidente Kennedy vai mudar a identidade de sua comunidade? Qual sua posição em relação a isso? Tanto a cultura como a identidade de uma sociedade se formam e se transformam a partir das questões e problemas colocados pelo lugar onde as relações sociais são construídas. Para pensar essas questões é importante também entender o conceito de lugar! Assim, colocamos outra questão: qual é a relação entre a cultura, a identidade de uma comunidade e o lugar onde se vive?

26

conviver . programa de pesquisa com as escolas


Cultura e identidade, onde? O conceito de “lugar�

conviver . programa de pesquisa com as escolas

27


“(...) o lugar constituise como uma paisagem cultural construída pelas experiências vividas, que ligam o homem ao mundo e às pessoas, e que despertam no indivíduo os sentimentos de identidade e de pertencimento.”

28

conviver . programa de pesquisa com as escolas

Como vimos, a cultura e a identidade de uma comunidade mantêm relação também com o espaço, o ambiente onde as relações sociais são construídas. Assim, a cultura dá ao espaço um sentido, um significado. Quando chegamos a um ambiente e encontramos nele elementos com os quais nos identificamos, temos nele um lugar. Quando você viaja para uma região desconhecida, qual sensação você tem? Tudo é novidade: o traçado das ruas, a arquitetura das casas e até o aroma da rua, das árvores, pode causar espanto aos visitantes. Você logo percebe que aquele não é o seu lugar, uma vez que você não se reconhece ali, não se identifica com aquela paisagem. De retorno para casa tudo muda: o cheiro, as ruas, as praças, tudo ali lhe é comum, faz parte de sua constituição enquanto ser, você se identifica com aquele ambiente. Muito além de um espaço físico, de uma paisagem repleta de elementos e de referências que podem ser descritas facilmente – como a presença de serras, rios, lagos, por exemplo –, o lugar constitui-se como uma paisagem cultural construída pelas experiências vividas, que ligam o homem ao mundo e às pessoas, e que despertam no indivíduo os sentimentos de identidade e de pertencimento. É, portanto, fruto da construção de um elo afetivo entre o sujeito e o ambiente em que vive. Deste modo, o lugar é elemento constitutivo da identidade daqueles que o habitam. Como a construção do porto em Presidente Kennedy vai transformar a relação que você tem com o seu lugar? Será que as transformações que ocorrerão ali farão com que você deixe de se reconhecer naquele lugar? Que posição você vai tomar nesta transformação da localidade onde vive? Conhecer um pouco do modo como estas transformações ocorrem é importante para que você seja um sujeito ativo no processo. Os moradores das cidades impactadas pela obra do porto da Ferrous precisam conhecer o cerne destas modificações para que seja possível participar ativamente do processo e para que se possa, com isso, conhecer os efeitos de tal empreendimento para a sua localidade.


A história local: qual é a minha identidade cultural? Conforme discutido ao longo deste texto, a cultura é construída por intermédio de sua relação com os demais contextos do viver em sociedade: economia, sociedade, política, religião, dentre outros. É a cultura que permeia a relação do sujeito com o outro e com o lugar onde ele vive. Vimos também que a identidade é um “recorte” da cultura na qual estamos imersos. Os brasileiros partilham a mesma cultura, mas cada região do país constrói a própria identidade. Neste sentido, cabe interrogar: Qual é a minha identidade cultural? Quais questões foram importantes para a sua formação? O estado capixaba possui uma grande diversidade cultural, dada a imigração de italianos, negros, índios, poloneses, árabes e alemães; e uma vasta diversidade ambiental, por possuir praias, florestas, montanhas e várzeas. Essas são marcas do Espírito Santo que formam algo como um mosaico cultural, em que as partes compõem o todo. Também há pesquisas que revelam que o capixaba não tem uma imagem precisa de seu estado, de sua identidade e de sua originalidade no quadro nacional. Mas será que a originalidade não é exatamente essa? Ou seja, o Espírito Santo é um típico representante da cultural brasileira em todos os aspectos, tanto geográficos quanto étnicos. Historicamente, o Espírito Santo foi uma região isolada propositalmente para evitar o contrabando do ouro extraído de Minas. Não foi permitida a construção de estradas e não houve o desenvolvimento agrícola, apesar de as cidades de Vitória e Vila Velha serem consideradas entre as mais antigas do Brasil. O povoamento no interior do estado só foi ocorrer no final do império com o ciclo de imigrações europeias, principalmente dos alemães e italianos, que procuraram manter sua identidade cultural como uma maneira de lembrar suas origens. Por isso percebe-se a influência desses povos na culinária, na arquitetura, no vestuário e na linguagem capixabas. Criar uma síntese desses elementos em um novo lugar é, pois, criar uma nova cultura e identidade na região do Espírito Santo.

conviver . programa de pesquisa com as escolas

29


Outra presença marcante na cultura capixaba é a influência dos índios e negros. Um exemplo é a valorização das “bandas de Congo”, de origem negra, da “Panela de Barro” e ainda da “moqueca”, facilmente relacionada com o índio. Num mundo cheio de panelas industrializadas, panelas de alumínio, panelas com camadas de teflon, nada mais identitário do que uma panela de barro, com suas características rústicas. Aliás, o que diferencia as panelas de barro produzidas no Espírito Santo de outras panelas de barro produzidas em outras regiões do Brasil é mais o “modo de fazer” do que a panela em si. Buscase justamente na recuperação de uma técnica, passada de geração para geração, a justificativa de diferenciação e legitimação de uma identidade. Está aí um aspecto cultural (a técnica de fabricação das panelas de barro) que não pode ser esquecida, sob o risco de se perder aquilo que é considerado um dos símbolos da cultura capixaba. Neste momento, é importante pensar a aplicação dos conceitos de cultura, identidade e lugar em nossa realidade. Quais são os principais

30

conviver . programa de pesquisa com as escolas


traços da cultura capixaba que posso vislumbrar em minha região? Quais elementos históricos sociais, econômicos, geográficos, políticos permearam a construção da cultura capixaba? E quando pensamos regionalmente, quais elementos compõem a identidade local do norte fluminense e do sul do Espírito Santo? Pensando mais localmente: existem aspectos identitários que diferenciam os nascidos em Presidente Kennedy, Marataízes e São Francisco de Itabapoana? Os moradores de São Francisco identificam-se mais com a cultura fluminense ou capixaba? E os moradores de Presidente Kennedy e Marataízes? A fronteira política entre essas cidades constitui também uma fronteira cultural? Faremos aqui alguns apontamentos para que você construa esse conhecimento acerca da região em que vive com seus alunos.

conviver . programa de pesquisa com as escolas

31


Um primeiro aspecto a ser pensado diz respeito à formação histórica da sua localidade. Quais são as origens de sua cidade? Ela se formou em torno de um sistema produtivo? Em torno de uma igreja? Um forte militar? Uma política estatal de colonização de imigrantes? Quais as consequências desses aspectos para a organização social e cultural da cidade? Outro aspecto relevante na formação de cultura e identidade local: em qual período da história do nosso país surgiu a minha cidade? Ela é uma cidade colonial? Imperial ou republicana? É possível vislumbrar essa questão na arquitetura local? Nas relações entre seus moradores? Na distribuição da população em classes sociais? Em seguida, é possível problematizar: como é geograficamente o espaço de minha cidade? É de serra? mar? Há predomínio de campo ou de cidade? Qual é a qualidade do solo? O que é possível produzir em minha região? Como isso se relaciona com a cultura? A paisagem da minha cidade é um elemento de fortalecimento da identidade de seus habitantes? O importante é educar o olhar para desnaturalizar a realidade que nos cerca. Pensar sobre a nossa cultura, a nossa identidade e a nossa relação com o lugar onde vivemos permite que participemos conscientemente de suas transformações, entendendo o nosso papel no processo. Aqui ficam sugeridas mais algumas perguntas provocativas de um processo de pesquisa: Como é a cultura de minha cidade? Qual é ou quais são as identidades de seus habitantes? E ainda: A inserção do porto da Ferrous em Presidente Kennedy modificará a cultura local de algum modo? Minha identidade será repensada? E minha relação com a cidade, com o meu lugar, será transformada? A quem deve interessar esta discussão?

32

conviver . programa de pesquisa com as escolas


Sociedade, economia e cultura: a mineração e o porto da Ferrous Como se sabe, as cidades de Presidente Kennedy, Marataízes e São Francisco de Itabapoana vivenciarão uma grande obra na região. Tratase da construção de um porto marítimo, que escoará a produção de minério da Ferrous para seus clientes ao redor do mundo.

conviver . programa de pesquisa com as escolas

33


HOUAISS, Antonio; et al. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2009. 1986p.

7

34

conviver . programa de pesquisa com as escolas

Mas, quando você pensa em mineração, o que lhe vem à mente? Provavelmente sua resposta será: tudo ao meu redor é resultado direto ou indireto das atividades minerárias. Em casa, na rua, na escola etc. Mas devemos atentar para o fato de que esta ideia mantém relação com o produto, o resultado final da mineração. Assim, a questão persiste: O que é mineração? O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa7 traz a seguinte definição: Mineração (sf) (minerar+ção) 1 Ação ou efeito de minerar; trabalho de extração de minério. 2 Depuração do minério extraído das minas. Por essas definições percebemos que a mineração é uma ação deliberada pelo homem em busca de recursos minerais. Mas onde ocorre essa ação? A definição acima traz a resposta. Ela acontece em locais chamados de “minas”. E o que é uma mina? Voltemos ao mesmo dicionário para encontrarmos a seguinte definição: Mina (sf) 1 Depósito subterrâneo de minério precioso, carvão, água etc.; jazida, filão. 2 Depósito mineral, jazida em exploração pelo homem; 3 Escavação na terra para extração de minérios, carvão, água etc. Assim, a mineração é uma atividade de natureza econômica que também é identificada, em um sentido maior, com a indústria extrativa mineral ou a indústria de produtos minerais. Historicamente o verbo “minar” surgiu da ação de cavar minas, prática comum no final do período medieval (sécs. V-XV), em consequência da necessidade de se escavarem fossos em torno das fortalezas ou castelos


para protegê-los da ação destrutiva dos inimigos, e, durante as batalhas, com a finalidade de fazê-los ruir. Assim se adotou a palavra “mina” para designar explosivos militares. A associação das duas atividades deu origem ao termo mineração, visto que a escavação das minas se faz frequentemente com o auxílio de explosivos. Pelas definições relatadas acima se percebe que a mineração envolve duas dimensões básicas: 1) a ação humana mediada por sua cultura; 2) o lugar em que ocorre essa ação, que em um sentido mais amplo é chamado também de “meio ambiente”. Deste modo, minerar implica em transformar o espaço natural. Essa transformação deve ter como base uma cultura sustentável, e essa é uma preocupação da Ferrous. Sendo uma atividade econômica complexa, a mineração envolve mais questões do que apenas a extração no subsolo de recursos minerários. A mineração tem uma extensa cadeia produtiva que engloba a extração, o beneficiamento e a comercialização de seu produto. Processo, portanto, que deixa desafios para a logística8, pois em um país grande como o Brasil é importante um bom sistema de transportes. Mas o que seria isso? É um sistema que deve contemplar eficiência, rapidez, baixo custo e o menor impacto ambiental possível.

A logística é um ramo da administração cujas atividades estão voltadas para o planejamento da armazenagem, circulação (por terra, ar e mar) e distribuição de produtos. A palavra “logística” vem do francês Jádox que tem como uma de suas definições “a parte da arte da guerra que trata do planejamento e da realização de: projeto e desenvolvimento, obtenção, armazenamento, transporte, distribuição, reparação, manutenção e evacuação de material para fins operativos ou administrativos”. Alguns historiadores defendem que a palavra “logística” vem do antigo grego logos, que significa razão, cálculo, pensar e analisar. Assim as duas concepções descritas complementam-se.

8

conviver . programa de pesquisa com as escolas

35


É consenso entre técnicos e especialistas que o sistema de transportes brasileiro vive um momento crítico. O crescimento do país nos últimos anos, acima dos 5% anuais, esbarra na falta de investimentos públicos em obras de infraestrutura logística, como rodovias, ferrovias e portos marítimos. A Ferrous, com o objetivo de superar esses entraves, vem investindo em obras que facilitem a logística de suas atividades. Entre elas está a construção de um mineroduto e de um porto particular, que envolve investimentos em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Esta é uma importante obra de logística que será fundamental para a viabilidade econômica da exploração das minas de ferro da empresa, situadas em Minas Gerais. Mas quais são as modificações que este empreendimento reportará para a sociedade, a economia, a cultura e a identidade da região de Presidente Kennedy? Qual é a importância de articular estas transformações a uma cultura sustentável?

36

conviver . programa de pesquisa com as escolas


Por uma cultura da sustentabilidade Um debate importante, sobretudo nos dias atuais, é colocado pela necessidade de compatibilizar as atividades produtivas e a preservação do meio ambiente. Mas, afinal, o que é “meio ambiente”? Desde quando a sua preservação é uma preocupação dos estados, governos e da sociedade? Qual deve ser a postura do cidadão e de empresas que buscam ter práticas sustentáveis para com o planeta?

Na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, celebrada em Estocolmo, em 1972, definiu-se a questão da seguinte forma: “O meio ambiente é o conjunto de componentes físicos, químicos, biológicos e sociais capazes de causar efeitos diretos ou indiretos, em um prazo curto ou longo, sobre os seres vivos e as atividades humanas”. Esta definição aponta para a complexidade do termo. Pensar em meio ambiente é

conviver . programa de pesquisa com as escolas

37


refletir sobre as relações entre o homem e o espaço em que ele vive de modo amplo. Se, como vimos, a cultura permeia a relação entre o homem e a natureza, há que se pensar o papel da sustentabilidade na cultura do homem e em sua relação com o meio ambiente do qual ele faz parte. Desde que “o mundo é mundo” o homem transforma o espaço em que vive. A diferença é que antes a exploração do meio ambiente ocorria em pequena escala, no local. O uso da natureza e a ação humana em sua transformação não atingiam os níveis colocados pelo sistema industrial de larga escala. Foi a partir do século XVIII que a exploração ganhou ares de degradação ambiental. A Revolução Industrial (iniciada na GrãBretanha, no século XVIII) – cujo maior marco tecnológico é o surgimento da máquina a vapor – ampliou consideravelmente o uso de combustíveis fósseis (carvão, sobretudo), aumentando, assim, os desmatamentos e a poluição do ar. As relações de trabalho mudaram, assumindo uma feição exploratória e degradante, principalmente, para mulheres e crianças. Os rejeitos originados pelas fábricas eram despejados em rios e mananciais do local sem qualquer controle.

38

conviver . programa de pesquisa com as escolas


O crescimento desordenado e sem planejamento das cidades contribuiu também para a degradação ambiental. A ausência de legislação regulatória fomentou a ideia de que os recursos naturais eram infinitos e não deviam barrar o crescimento econômico e tecnológico. Resquícios desta concepção ainda são perceptíveis em alguns países desenvolvidos. Veja-se, por exemplo, a resistência dos EUA e da China em comprometerem-se com a redução da emissão de gases poluentes na atmosfera, argumentando que isso implicaria em diminuir os ganhos econômicos de seus países. Foi no século XX, porém, que os Estados passaram a buscar uma solução conjunta para a diminuição do impacto ambiental gerado pela ação do homem. O primeiro marco neste sentido foi a “Conferência das Nações Unidas Sobre Meio Ambiente” (1972), conhecida como Conferência de Estocolmo. Com a participação de 113 países, o evento denunciou a devastação da natureza que ocorria naquele momento e defendeu que o crescimento humano precisaria ser repensado imediatamente. conviver . programa de pesquisa com as escolas

39


Em 1977, a Unesco e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente realizaram a 1ª Conferência Intergovernamental Sobre Educação Ambiental. No evento, surgiu o consenso de que a questão ambiental envolvia não somente a fauna e a flora, mas também os aspectos sociais, econômicos, científicos, tecnológicos, culturais e éticos. Deliberou-se que a educação ambiental deveria ser multidisciplinar, possibilitando uma visão integrada do ambiente. Como? Incorporando aos currículos escolares um conceito de educação ambiental amplo, que considerasse a influência da questão nas mais variadas áreas do conhecimento. No Brasil, por pressão do movimento ambientalista nacional e internacional, foi criado na Constituição de 1988 um capítulo sobre “meio ambiente”, no qual a educação ambiental passou a ser dever do Estado. No ano de 1992, a cidade do Rio de Janeiro foi sede da “Conferência de Cúpula da Terra”, conhecida como “Rio-92”. Essa reunião, que congregou representantes de 182 países, é também um marco na luta mundial pela compatibilização entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental9.

O anexo 1 apresenta alguns indicadores sociais relativos ao desenvolvimento econômico.

9

40

conviver . programa de pesquisa com as escolas


O que se discute hoje, mais do que nunca, é como deve ser a ação humana em relação à natureza. A cultura da “exploração pela exploração”, ou seja, aquela que interage com o meio ambiente entendendo que ele é inesgotável, já não encontra mais espaço em nossa sociedade, pois é de amplo entendimento que os recursos naturais são finitos. Atualmente esta é uma preocupação presente entre os membros da sociedade civil, do poder público e privado. Compatibilizar o desenvolvimento econômico do país com o desenvolvimento sustentável é um desafio que conta, entre outras fontes de informação e conhecimento, com o apoio de alguns dados estatísticos, compilados com o objetivo de mensurar a qualidade de vida de municípios e10 estados. Assim, o governo brasileiro, por meio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e tendo como principal ferramenta o censo10�, constrói alguns indicadores que orientam a ação do poder público neste sentido. Por meio destes

IDH dos Estados e Cidades Minas Gerais

0,773 Rio de Janeiro

0,807 São Francisco

O censo ou recenseamento demográfico é uma pesquisa sobre a população que possibilita a recolha de várias informações, tais como o número de habitantes, o número de homens, mulheres, crianças e idosos, onde e como vivem as pessoas e o trabalho que realizam, entre outros dados. Esse estudo é realizado normalmente a cada dez anos, na maioria dos países.

10

0,688 Espírito Santo

0,77 Marataízes

0,724 Presidente Kennedy

0,674 Estados Cidades fonte: censo 2000

conviver . programa de pesquisa com as escolas

41


“O papel da comunidade, portanto, é essencial na fiscalização e participação da construção de condicionantes que permitam compatibilizar o empreendimento e as necessidades da localidade, princípio fundamental para a busca por uma cultura da sustentabilidade.“

Encontra-se no anexo 2 a descrição das etapas do licenciamento ambiental.

11

Tal pensamento é expresso nas ideias do filósofo francês Edgar Morin, conforme retratado em seu livro A cabeça bem feita. Repensar a reforma – reformar o pensamento (MORIN, 2002).

12

42

conviver . programa de pesquisa com as escolas

indicadores é possível conhecer a qualidade de vida das localidades e, a partir do conhecimento, empreender ações para o desenvolvimento. Conhecimento acessível não somente ao poder público, mas a todos aqueles e aquelas que se propõem a criticar as decisões e ações que definem o rumo desse desenvolvimento e a se posicionar frente a elas. Há, nos anexos a este texto, material informativo sobre os dados citados. Ainda na busca pela compatibilização entre economia e sustentabilidade, foi elaborada uma rígida legislação ambiental com o objetivo de controlar e minimizar os impactos de obras e empreendimentos que transformam o espaço natural, cujo marco maior é a obtenção do “licenciamento ambiental”11. Este processo iniciou-se a partir do estabelecimento da Política Nacional de Meio Ambiente, em 1981, e das resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), em 1986, que estabeleceram as normas e procedimentos necessários para que se possam estabelecer empreendimentos. O licenciamento ambiental está vinculado a toda e qualquer atividade que possa ter impacto sobre o meio ambiente – desde uma pequena oficina mecânica, um posto de gasolina de nossa cidade ou um loteamento em nosso município, até empreendimentos de grande porte, como uma mina de extração de minério de ferro ou a instalação de um porto. Os processos variam de acordo com a dimensão dos possíveis impactos que são característicos das atividades e inerentes a elas. Mas será que pensar em sustentabilidade se resume a cobrar atitudes responsáveis de empresas e governos? Trata-se, de fato, de um posicionamento mais complexo, em que pequenas atitudes, mesmo que isoladas, repercutem no todo, da mesma forma que ações coletivas, fruto do Estado-governo, por exemplo, também repercutem na vida do cidadão comum12. O papel da comunidade, portanto, é essencial na fiscalização e participação da construção de condicionantes que permitam compatibilizar o empreendimento e as necessidades da localidade, princípio fundamental para a busca por uma cultura da sustentabilidade.


Quando pensamos em sustentabilidade, devemos ter em mente que o conceito engloba as práticas cotidianas, o modo como nos relacionamos com a natureza e com a sociedade da qual fazemos parte. Para exemplificar, em um sentido amplo pode-se dizer que ter uma atitude responsável para com o meio ambiente passa pelo respeito ao próximo, pelo diálogo, pelo repúdio à corrupção, pelo fim do consumismo e, sobretudo, pelo posicionamento crítico frente às decisões que afetam a vida de uma comunidade13. Tal concepção vai além ao entender que o meio ambiente é construído coletivamente, todos os dias e por todos. Não apenas as indústrias e grandes empresas assumem sua parcela de responsabilidade, mas cada cidadão, imerso em suas atividades diárias, deve agir de modo ambiental e socialmente responsável, para a garantia

Essa discussão pode ser vista no vídeo “Eu não tô nem aí pro planeta”, disponível no Youtube: Http://www.youtube.com/watch ?v=ZrZfj4lyLus&feature=related. Acessado em 17/12/10.

13

conviver . programa de pesquisa com as escolas

43


da qualidade de vida, atitude que demanda conhecimento e fonte de informações. O empreendimento da construção do porto gera passivos ambientais, como qualquer atividade humana que modifica a paisagem natural e as condições socioambientais de uma localidade. Neste sentido, é necessário que se pensem as características dos passivos, procurando alternativas adequadas às necessidades econômicas, sociais e ambientais locais. Apenas cobrar uma atitude responsável da empresa ou dos governos é pouco. Cada um deve assumir sua responsabilidade na construção de uma sociedade sustentável. Como? Posicionando-se como sujeito a partir do conhecimento construído sobre a sua cidade e valorizando o acesso à educação, à cultura e à participação política. Dessa forma, acredita-se ser possível pensar os efeitos da construção do porto com vistas ao desenvolvimento sustentável, com ganho mútuo para a empresa e a sociedade.

Pensando os efeitos sociais, culturais e ambientais do porto da Ferrous Discutimos no tópico anterior a importância da construção de uma cultura da sustentabilidade na relação entre o homem e a natureza. Cabe agora refletirmos sobre como os conceitos discutidos neste texto auxiliam na compreensão da transformação da realidade que está sob a influência do empreendimento da Ferrous na região de Presidente Kennedy. Talvez um primeiro caminho seja refletir sobre o aumento do número de pessoas que circularão e deverão buscar residência na região. A construção e posterior operação do porto devem atrair novos moradores e esse aumento populacional deve criar na região uma demanda por moradias. Tal fenômeno poderá levar à valorização de terrenos e de imóveis, assim como a construção civil ganhará espaço. Qual o impacto dessas transformações na cultura, identidade e relação dos moradores com o lugar em que vivem?

44

conviver . programa de pesquisa com as escolas


Outra reflexão diz respeito à dinamização da economia local. Um empreendimento do porte de um porto fará surgir na região novas vocações econômicas, até então distantes da realidade das comunidades. Novas oportunidades de emprego surgirão criando novas vertentes de desenvolvimento local. Esse novo contingente populacional vai demandar restaurantes, hotéis, farmácias, postos de gasolina e outras estruturas. Será preciso construir novos postos de saúde, escolas, áreas de lazer públicas. Novas ruas, estradas e caminhos devem mudar a paisagem local e modificar distâncias. Quais as consequências dessas transformações para o morador da região? Qual deve ser a sua posição de forma a prezar a sustentabilidade local, com o objetivo de que os atuais e futuros moradores possam usufruir dos recursos naturais da região?

conviver . programa de pesquisa com as escolas

45


E as transformações na paisagem? Como a inserção de um porto vai transformar aquilo que se vê cotidianamente quando circula-se pela cidade? Será que a área de influência do porto também terá sua paisagem modificada? E quando pensamos nos possíveis embates entre a cultura local e aquela trazida pelos migrantes que trabalharão ali? Como a cultura do migrante se articulará com os costumes e identidade locais? Será uma relação de submissão? De diálogo? De complementação?

Entendem-se por “condições objetivas de vida” as necessidades econômicas e sociais de uma sociedade. Tal ideia foi cunhada pelo teórico Karl Marx, que entendia como elemento estrutural da vida social a sua organização econômica, conhecida em seus estudos como “modo de produção”. Para Marx, a estrutura (economia e sociedade) era que determinava os elementos constituintes da superestrutura (cultura). Tal concepção hoje é relativizada pelos estudiosos que entendem não haver uma relação dicotômica entre estrutura e superestrutura, ou seja, a estrutura (economia) não determina a superestrutura (cultura), mas ambas as esferas mantêm entre si uma relação dialógica de influência mútua.

14

46

conviver . programa de pesquisa com as escolas

Temos mais questões que respostas. Fica assim posto o desafio para a pesquisa: como o porto modificará a vida dos moradores da região de Presidente Kennedy? Como a transformação das condições objetivas14 de vida dos moradores irá se articular com as transformações ambientais, culturais e de identidade da região? São inúmeras as possibilidades de pesquisa para descobrir a natureza desses impactos. Vamos ao trabalho?

Por uma síntese Vimos ao longo desta primeira parte do texto que a cultura e a identidade de uma comunidade não são imutáveis, estáticas. Elas são fruto de um processo contínuo em que as condições econômicas, sociais, políticas e ambientais de uma dada região as influenciam. A região de Presidente Kennedy passará, com a construção do porto da Ferrous na região, por um processo como este.


A hipótese central é a de que a comunidade local deixará de ser partícipe de uma cultura-identidade basicamente agropastoril para interagir com uma realidade econômica e social industrial, com o aumento significativo do setor de serviços e populacional. A rotina de trabalho mudará. O trânsito de pessoas nas cidades também. Surgirão novas oportunidades profissionais, assim como novos hábitos sociais e culturais. Essas mudanças podem ou não transformar a cultura e a identidade locais, assim como o processo pode ou não assumir um caráter sustentável. A transformação positiva da realidade da região depende, em grande parte, do posicionamento das comunidades ali inseridas e da assunção dos moradores como agentes do processo, conscientes da necessidade de se acompanharem de perto as mudanças. Caso não tomem parte, não busquem qualificação, não entendam o processo em curso, corre-se o risco de que o porto se transforme em uma “ilha” dentro da cidade, deixando à margem do processo os interesses dos habitantes locais. Estudar os efeitos social, cultural e ambiental do empreendimento é atentar-se para a necessidade de se preparar para a incorporação das oportunidades que surgirão, de modo a tornar-se um sujeito ativo do processo. É, em um sentido maior, tornar-se cidadão. Para isso, é preciso problematizar a realidade ao redor e dotá-la de um sentido. Fica, assim, o desafio de conhecer a nova realidade local e os elementos que a constituem para ser sujeito e não objeto das transformações impulsionadas pela construção do porto da Ferrous em Presidente Kennedy. Como sujeito do processo em curso, pode-se lutar para que os investimentos da Ferrous atinjam o objetivo de trazer o desenvolvimento sustentável e o fortalecimento da cultura e da identidade de Presidente Kennedy e região.

conviver . programa de pesquisa com as escolas

47


O PAPEL DA ESCOLA POR UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: A “HORA E A VEZ” DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Como a educação ambiental pode ter influência sobre o desenvolvimento sustentável da região? Presidente Kennedy, São Francisco de Itabapoana e Marataízes são cidades em desenvolvimento, cuja economia, consequentemente, está em transformação e é dependente da atuação dos diversos elementos que integram o seu ambiente. Assim, a qualidade desse ambiente depende, também, da qualidade das atuações. Qual seria, então, a relação entre uma atuação qualificada dos integrantes que compõem o ambiente de uma cidade e a educação ambiental, entendida como uma área do conhecimento a ser, portanto, trabalhada pela escola? O que a escola tem a ver com o desenvolvimento da cidade? O que a escola tem a ver com a instalação de um porto em sua região de atuação?

48

conviver . programa de pesquisa com as escolas


A discussão demanda teoria e prática. Teoria que esclarece conceitos e que imprime significado à prática. Prática que, refletida, se reverte em uma nova teoria que, ao fazer sentido, transforma a prática. Tudo isso para conhecer e compreender o movimento desenvolvimentista da região capixaba e, sobretudo, para que seja possível participar desse movimento como sujeito, cidadão e ator.

conviver . programa de pesquisa com as escolas

49


Conceito, significado e prĂĄtica! Sujeito, cidadĂŁo e ator! Escola e cidade! Cidade e economia! Economia e porto! Vamos a eles!


Conceito, significado e prática.

JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 3. Ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1996. FERREIRA, Aurélio B. de Hollanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

15

CONCEITO, SIGNIFICADO E PRÁTICA!

Comecemos pelo conceito. Os dicionários15 geralmente relacionam a palavra conceito à ideia, pensamento, opinião, noção ou àquilo que podemos pensar de algo. Conceito, portanto, designa uma ideia abstrata e geral, formada a partir da união de diversos elementos que compõem o universo de vivências e experiências daqueles que se propõem a formar ou construir o próprio conceito. Formado, construído, fica o conceito posto para ser referenciado, criticado, negado, reformulado ou apropriado, adquirindo, por meio destes movimentos, significado ou significados diversos. “Significado”, por sua vez, pode ser entendido como a essência do conceito, ou seja, o elemento que imprime sentido ao conceito. Dois termos sinônimos, por exemplo, “Brasília” e “a capital do Brasil” teriam ambos uma referência com o objeto real, ou seja, a cidade de Brasília, mas não teriam o mesmo sentido simbólico, ou significado. O significado, portanto, depende da qualidade e da quantidade de sentido que um conceito adquire, em contextos diferenciados, condicionando seu uso a situações da vida prática. Significado pode ser, então, entendido como uma internalização e apropriação do “conceito”, o que o conceito


“quer dizer”. Quando alguém diz “isso não tem significado pra mim” pode ser que o conceito não tenha sido referenciado ou apropriado adequadamente, a ponto de fazer sentido para a vida prática. O sujeito, uma vez que se apropria do conceito, passa a tê-lo como princípio, e o significado é incorporado como um valor, assumindo este valor em todas as relações que estabelece. Conceito, significado e prática! Propõe-se, agora, inserir nesta discussão teórica a “prática”, entendida no contexto socioambiental como a aplicação da teoria. Neste sentido, pode-se concluir que a qualidade da prática está diretamente condicionada pela apropriação do conceito que, então, tem efeito de teoria e que, por sua vez, depende do significado adquirido. A prática diz respeito à ação que o homem exerce sobre as coisas, ou seja, a prática é a aplicação concreta e efetiva de conhecimento, do que se conclui que prática sem conhecimento pode desencadear um ativismo sem sentido, desligado do contexto e, portanto, sem significado transformador da realidade. O conhecimento teórico aplicado à realidade a transforma, constituindo-se na práxis. Por exemplo, é possível termos conhecimento teórico “sobre o que causa a desigualdade e a pobreza (teoria), mas se implementamos ou não essas teorias em um esforço para eliminar a pobreza é uma questão de práxis” (JOHNSON, 1997, p.180)16.

JOHNSON, Allan. Dicionário de sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997.

16


Conceito, significado e prática. Sujeito, cidadão e ator.

CONCEITO, SIGNIFICADO E PRÁTICA! SUJEITO, CIDADÃO E ATOR!

A discussão feita até então sugere a proposição da relação entre a teoria construída e as pessoas que a constroem. Sem as pessoas não existe teoria. A qualidade da formação das três categorias de pessoas, “sujeito, cidadão e ator”, depende do acesso à teoria e, consequentemente, da qualidade da participação na vida social em que estão inseridas. O ator da prática cotidiana será sujeito de sua ação à medida que tiver acesso a um conceito teórico que possua significado no contexto onde vive, ou seja, na cidade, lugar por excelência de formação e atuação do cidadão. E o acesso à teoria deve ser garantido pela escola!



Trazer a “cidade para dentro da escola” significa garantir à escola seu papel de transformar a realidade! Significa garantir o acesso à construção da teoria que fundamenta o conceito e imprime significado a uma prática que modifica a vida do aluno e do professor. Quando a escola modifica a vida, ou seja, faz diferença para aqueles que a integram, que por ela passam, sua existência adquire sentido para a sociedade, entendida como uma organização de indivíduos que vivem juntos, regidos por leis e instituições em suas vidas e suas relações17. As leis e as instituições nascem das pessoas mais ou menos habilitadas para participar de sua elaboração. Sendo mais habilitadas, as pessoas pleiteiam o lugar de sujeito e, sendo menos habilitadas, resta-lhes o lugar de objeto de sua execução. Ser “mais ou menos” habilitado para participar da vida da cidade depende, em grande parte, da qualidade da formação que a escola propõe à comunidade que a frequenta. Estudar a cidade, de maneira pedagogicamente organizada, significa, então, ter influência sobre um funcionamento social que seja justo e, portanto, uma fonte de oportunidades de trabalho a qual tenha impacto positivo sobre a economia local. Desta forma, o estudo da cidade se reverte em desenvolvimento individual e regional, alimentando-se, as duas categorias, mutuamente.

Conceito de sociedade baseado no Dicionário Básico de Filosofia (JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo, 1996, p. 251).

17

CONCEITO, SIGNIFICADO E PRÁTICA! SUJEITO, CIDADÃO E ATOR! ESCOLA E CIDADE!

Conceito, significado e prática. Sujeito, cidadão e ator. Escola e cidade.



Para refletirmos sobre a relação entre a escola, a cidade e a economia, duas palavras pedem significado: “economia” e “governo”. A palavra economia deriva da palavra grega oikonomía (CUNHA, 2007). Oikos significa lugar, lar, ambiente; nomia é a capacidade de gerir, de administrar, de organizar. No Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2009), há, dentre outras, a seguinte definição para economia: “modo como se distribuem e se coordenam os diversos elementos de um todo; organização, estrutura” (HOUAISS, 2009, p. 720). Para o termo “governo”, o mesmo dicionário traz como primeira definição a “ação, processo ou efeito de governar(se)” (HOUAISS, 2009, p. 981). Para Michel Foucault, filósofo do século XX,

aquilo a que o governo se refere é não um território e sim um conjunto de homens e coisas. Estas coisas, de que um governo deve se encarregar, são os homens, mas em suas relações com coisas que são as riquezas, os recursos, os meios de subsistência, o território com suas fronteiras, com suas qualidades, clima, seca, fertilidade, etc.; os homens com suas relações com outras coisas que são os costumes, os hábitos, as formas de agir ou de pensar, etc.; finalmente, os homens em suas relações com outras coisas ainda que podem ser acidentes ou as desgraças como a fome, a epidemia, a morte, etc. (FOUCAULT, 1989, p. 282)

Qual é a relação entre esses conceitos e a discussão que pretendemos fazer sobre a economia e as nossas cidades? Destacam-se, para esta reflexão, algumas palavras dos parágrafos acima, tais como “ambiente”, “administrar”, “organizar”, “todo”, “ação” e “processo”. E, ainda,

CONCEITO, SIGNIFICADO E PRÁTICA! SUJEITO, CIDADÃO E ATOR! ESCOLA E CIDADE! CIDADE E ECONOMIA!

Conceito, significado e prática. Sujeito, cidadão e ator. Escola e cidade. Cidade e economia.


que Foucault realça que o governo deve se encarregar dos homens e de suas “relações” com as coisas. Mas quem governa? Quais são as coisas que compõem o ambiente de Presidente Kennedy, São Francisco de Itabapoana e Marataízes? Quais são as ações que nós, cidadãos, exercemos diariamente para administrar, para organizar o “todo” que compõe o lugar onde vivemos? Podemos agir ou participar ativa e conscientemente do governo de nossas cidades sem ter conhecimento sobre todas as coisas citadas pelo filósofo, ou pelo menos sobre parte delas?


Os filósofos falam de situações gerais, mas podemos aplicar seus pensamentos a realidades específicas. Vamos pensar sobre um dos elementos que comporá a realidade de nossas cidades, na região de Presidente Kennedy: o porto da Ferrous. O que sabemos sobre a relação entre o porto e a nossa cidade, o nosso estado, o nosso país, hoje? Quem ganha e quem perde com a instalação de um porto em uma cidade? Quem regula e controla esta atividade econômica? Há tributos? Há impostos? Quem paga, quem recebe, o que é feito deles? Qual é o papel do governo da cidade junto à empresa? Qual é o papel da empresa junto ao morador da cidade? Qual é o papel do morador de cada uma das cidades? E qual é a relação entre a escola e o porto?

Conceito, significado e prática! Sujeito, cidadão e ator! Escola e cidade! Cidade e economia! Economia e porto!

Conceito, significado e prática. Sujeito, cidadão e ator. Escola e cidade. Cidade e economia. Economia e porto.


Essas perguntas e muitas outras advindas do processo de estranhamento de uma realidade que não está posta, mas em construção, podem ser respondidas pela pesquisa metodologicamente organizada e pedagogicamente orientada. Esta é a proposta do Programa de Relacionamento da Ferrous para as escolas interessadas em um trabalho em parceria, pelo desenvolvimento local, fundamentado na educação.


Mas, e a educação ambiental? Conceito, significado ou prática? Talvez uma história possa contribuir para a compreensão das relações propostas neste texto. Uma escola pública, uma queixa, o lixo, um desafio posto, um projeto de educação ambiental. Professores e alunos tratam de pensar em formas de agir para modificar a relação dos alunos com a materialidade da escola, representada, em seu projeto, pelo lixo descartado de forma irresponsável. Então, resolveram fazer uma oficina de brinquedos a partir do lixo! Catam-se garrafas pet e outros restos e constroem-se brinquedos para os alunos se distraírem nos intervalos das aulas. Aulas e aulas dedicadas ao recolhimento do lixo, corte e recorte de embalagens, costura e remendo! Brinquedos prontos, a sobra do lixo virou roupa para um desfile de moda, cujo objetivo seria incentivar o reaproveitamento. Projeto feito, apresentação aplaudida! A escola é premiada pela instituição parceira. Trabalho cumprido. Consciência formada: será? Em uma análise crítica, compartimentada, é possível perceber algumas características a serem consideradas como referência para escolhas metodológicas futuras. Primeiramente, pode-se concluir que o trabalho isentou o governo da obrigação de suprir a escola com brinquedos pedagogicamente recomendados para os alunos. Os alunos brincam com o lixo, restos daquilo e daqueles que consumiram a melhor parte do material, e podem, desta forma, sentir o efeito simbólico desse fato sobre sua formação. Incentiva-se a manutenção do status quo.

conviver . programa de pesquisa com as escolas

61


Ainda como resultado da análise, percebe-se que fica relegado a segundo plano o trabalho dos catadores de lixo e dos responsáveis pela coleta e aproveitamento do material. Desvalorizou-se, talvez, a função deles. Brinquedo usado, de novo, vira lixo, ou seja, conceito equivocado de reaproveitamento. Em relação aos professores, o sentimento percebido é o de dever cumprido, já que, exaustos pelo trabalho proposto pela oficina, eximem-se da luta pela continuidade e atribuem ao projeto o valor de conscientização. Porém, infelizmente, não há relatos posteriores de eficiência, já que não houve alteração na relação dos alunos com o lixo. Descrédito para a ação da escola junto a todos aqueles que dela participaram. Em um movimento analítico mais complexo sobre a prática, acreditase na fragmentação da abordagem feita pela escola que trabalhou a ação pela ação, sem lançar mão da etapa conceitual ou de construção de significado. Nem conceito, nem significado, nem mesmo prática! Quais seriam, então, os desafios e as possibilidades postas por um projeto de educação ambiental desenvolvido pela escola, cujo tema é o lixo? Acredita-se, sobretudo, no poder do método, ou seja, na organização do pensamento de forma a imprimir ao desafio de trabalhar o lixo as etapas de uma pesquisa: estranha-se a realidade, constrói-se conhecimento e socializa-se o conhecimento construído, comprometendo o pesquisador com o objeto pesquisado. Professor e alunos poderiam, primeiro, construir o conceito de “lixo” buscando referências teóricas em uma revisão bibliográfica sobre o tema. Conceito construído, analisa-se o cotidiano e, por meio da pesquisa de campo, busca-se o significado de lixo para a comunidade pesquisada. Dados coletados e analisados, conclusões feitas, certamente, serão maiores as chances de uma prática consciente que contribua para a mudança definitiva de comportamento. Acredita-se, portanto, que aluno pesquisador e professor orientador são elementos essenciais para a implementação de um projeto de pesquisa cujo principal ganho seja contribuir para a construção do sujeito, do cidadão e do ator consciente de seus deveres e direitos como morador das cidades de Presidente Kennedy, São Francisco de Itabapoana e Marataízes.

62

conviver . programa de pesquisa com as escolas


É neste sentido que se constrói a proposta de conhecer o porto da Ferrous e sua relação com a economia da cidade, por meio da pesquisa.

Um modo de construir conhecimento: a pesquisa na escola Os desafios atuais postos para a escola, como a gestão democrática e a promoção da cidadania, demandam de seus atores uma disposição constante para a interação. Complexa, a realidade necessita ser olhada sob a perspectiva do todo e interpretada pela colaboração mútua de cada componente que nela existe e dela sobrevive. A forma de intervenção na realidade tem se mostrado um fator decisivo para o sucesso das propostas de tratamento de problemas da escola e da comunidade onde está inserida. Dessa forma, fica proposta a pesquisa como técnica pedagógica para o trabalho de construção de conhecimento sobre a localidade, a ser desenvolvido pelos atores escolares das comunidades de Presidente Kennedy, Marataízes e São Francisco de Itabapoana. Pesquisar demanda método, método demanda escola e escola demanda professor! A mediação dialógica entre o conhecimento prévio do aluno, construído pela vivência cotidiana, e o saber organizado, estruturado e acrescentado é papel do professor. Sua atuação possibilita a inserção lúcida dos alunos no mundo constituído de sujeitos críticos, atuantes e transformadores de realidades que não estão dadas, mas por construir, sempre. Inacabados são os homens, inacabadas, portanto, são também as realidades! Cabe aos professores adotar métodos de ensino cuja implementação resulte de uma decisão compartilhada com o aluno, para que a responsabilidade da execução seja de ambos, assim como o valor do resultado obtido com o trabalho feito. A metodologia sugerida, portanto, fundamenta-se teoricamente na ecopedagogia, movimento pedagógico que parte da demanda para a oferta e valoriza a relação dialógica e dependente entre o homem e o meio em que vive, seja ele natural ou cultural. A dependência recíproca que se estabelece nas relações entre os sujeitos e deles com o meio

“Pesquisar demanda método, método demanda escola e escola demanda professor! A mediação dialógica entre o conhecimento prévio do aluno, construído pela vivência cotidiana, e o saber organizado, estruturado e acrescentado é papel do professor.”

conviver . programa de pesquisa com as escolas

63


é a própria vivência da solidariedade, base para um desenvolvimento que acontece como consequência de uma ação coletiva que parte da necessidade real das pessoas, analisa essa realidade e a transforma para a melhoria do cotidiano. Ouvir, analisar e compreender a realidade sobre a qual se pretende intervir demonstra uma atitude significativa de respeito às diferenças e às diferentes necessidades.

64

conviver . programa de pesquisa com as escolas


O projeto de pesquisa Elege-se o projeto de pesquisa como objeto de estudo do professor e técnica pedagógica a ser utilizada para promoção da aprendizagem dos alunos. O projeto de pesquisa deve ser construído pelo professor, de acordo com a realidade da escola, e cabe à Ferrous comparecer da maneira adequada, ou seja, oferecendo palestras e visitas de campo, quando solicitadas pela escola. Duas são as características fundamentais de um projeto de pesquisa: a existência de um problema e a utilização da pesquisa como técnica para a busca de solução. Neste sentido, o problema toma conotação positiva, já que impulsiona a busca pelo incômodo provocado pela questão posta. A construção de um problema é tarefa desafiadora, trabalho para ser feito a muitas mãos, ou melhor, sob a perspectiva de muitos olhares, pois é a partir dele, e para ele, que todo o projeto é elaborado. Desta forma, sugere-se que sua construção conte com a técnica pedagógica da pergunta sobre o tema, etapa esta do projeto que pode ser chamada de sensibilização. Problematizar um tema significa questioná-lo, e as perguntas feitas serão norteadoras da pesquisa. Ao final do projeto, na etapa de avaliação, as perguntas da etapa de sensibilização serão retomadas e, se possível, respondidas, fundamentando, desta maneira, o processo de avaliação dos resultados. As perguntas elaboradas na etapa da sensibilização devem subsidiar um objetivo geral que, por sua vez, deve responder ao problema proposto para o projeto. O objetivo geral é uma meta de conteúdo amplo, que pode ser alcançada totalmente ou em parte, mas que representa um ideal a ser perseguido. O alcance dessa meta deve ser avaliado ao longo da realização do projeto, sempre e parcialmente, por meio dos objetivos específicos, que são metas intermediárias estabelecidas para também nortear a busca pela solução do problema proposto. Os objetivos específicos são a ‘coluna vertebral’ de um projeto, pois sustentam todas as ações de pesquisa e de avaliação e devem ser consultados durante a realização de todo o trabalho planejado.

conviver . programa de pesquisa com as escolas

65


Cada objetivo específico demanda uma estratégia de pesquisa diferenciada e cada estratégia de pesquisa pode responder a mais de um objetivo específico.

Em relação às estratégias, fica sugerida a divisão em três grupos, para facilitar a implementação das ações e montagem do cronograma: sensibilização; pesquisa e socialização.

66

conviver . programa de pesquisa com as escolas

Estratégias de sensibilização: aquelas utilizadas para a percepção do principal problema relacionado à localidade. O professor, neste momento, é o propositor do tema e pode contar com instrumentos de sensibilização diversificados, que devem motivar os alunos a fazer perguntas sobre o tema. Essas perguntas devem ser registradas e serão retomadas no momento da avaliação do projeto. O assunto que mais aparecer nas perguntas dos alunos constituirá o problema a ser tratado


pelo projeto. Estratégias de pesquisa: a pesquisa permeia todo o processo de construção de conhecimento, mas há dois momentos especificamente marcados pela implementação desta técnica e que demandam um planejamento rigoroso: o primeiro referese à pesquisa bibliográfica, quando o aluno, orientado pelo professor, deve consultar fontes diversas de registro sobre o tema; o segundo refere-se à pesquisa de campo, quando o aluno constrói instrumentos metodológicos específicos, como roteiro de observação de campo e questionário de entrevistas. Como pesquisador, ele observa as relações determinantes do fenômeno estudado, nesse caso, problemas da localidade, e realiza entrevistas com os moradores locais, com especialistas no assunto, participa de palestras e visita o campo de pesquisa. Os alunos devem sempre estar com cadernos e os registros devem ser tratados em sala de aula, ou seja, os dados colhidos no campo de pesquisa devem ser organizados em grupos por assuntos, tabulados, analisados e transformados em gráficos e outros instrumentos de análise que subsidiem a conclusão do trabalho de pesquisa. As conclusões devem ser socializadas por meio de produções elaboradas pelos alunos, sempre sob a orientação dialógica dos professores. Estratégias de socialização: são os trabalhos elaborados a partir das conclusões dos alunos sobre o problema pesquisado. As conclusões devem ser socializadas por seus autores, os alunos, por meio de cartazes, maquetes, teatro, música ou outra estratégia pertinente ao trabalho pedagógico realizado. As produções devem revelar o conhecimento adquirido por meio da pesquisa, pois, do contrário, serão apenas trabalhos escolares e não resultado de projetos pedagógicos. Esses trabalhos serão apresentados em uma mostra de produções.

Ainda em relação às estratégias de socialização, acredita-se que não deva haver concursos neste estudo, considerando que a proposta

conviver . programa de pesquisa com as escolas

67


é construir conhecimento e, em se tratando de sujeitos pesquisadores, cada qual tem uma história que justifica sua produção. Sob esta perspectiva, todas as produções devem ser valorizadas e expostas à apreciação do público, como produto do conhecimento, evitando, desta forma, a exclusão. O cumprimento das estratégias depende de um cronograma rigorosamente elaborado e ainda de recursos, que devem estar previstos para cada etapa do projeto.

O processo avaliativo Sugere-se a adoção de um portfolio como forma de avaliação do processo de aprendizagem. A adoção do portfolio é um procedimento negociado entre professor e aluno e que deve partir de uma explicação, por parte do professor, da finalidade da atividade. O aluno deve saber exatamente o que se espera dele antes de começar a selecionar os componentes do portfolio. Nesse momento, cada aluno deve manifestar, por escrito, o que espera aprender durante o período, em relação ao assunto apresentado como proposta de estudo ou matéria. Por isso, é importante que sejam amplamente discutidas, entre professor e aluno, as finalidades de aprendizagem estabelecidas para o projeto de trabalho ou curso. O acordo resultante dessa discussão deve se tornar público e ser, sempre que possível, lembrado em sala de aula. Nesse momento, também, o aluno decide a forma com que pretende organizar seu portfolio: pasta, CD, caixa. As fontes que compõem o material do portfolio devem ser variadas e selecionadas em diversos momentos da aprendizagem e não devem significar amostras dos melhores trabalhos. Selecionada a fonte, o aluno faz uma reflexão sobre o material selecionado, justificando sua escolha e relevância para ele, mediante os desafios da aprendizagem, anteriormente definidos. As fontes que compõem um portfolio podem estar entre as seguintes: • Artefatos: atividades de aula, trabalhos, exercícios ou trabalhos

68

conviver . programa de pesquisa com as escolas


de outra disciplina que sejam relevantes para o tema do portfolio. Reproduções: gravação de uma conversa com um especialista, anotações de uma visita a uma exposição, um registro audiovisual, uma página da Internet etc.; • Atestados: comentários do professor, dos pais ou do professor de outra disciplina. • Produções: documentos referentes ao próprio portfolio, como explicações sobre as metas a serem alcançadas, reflexões e títulos. O êxito do portfolio está diretamente relacionado aos propósitos da aprendizagem estabelecidos anteriormente pelo professor em reflexão conjunta com os alunos, na proposição do projeto pedagógico. Justificase, assim, a clareza necessária na explicitação dos critérios que serão utilizados para julgar o portfolio, antes do início de sua realização. Sugere-se um critério técnico para a avaliação dos portfolios, baseado nas respostas a perguntas relacionadas aos aspectos formais, como a apresentação, a organização e o enunciado dos documentos, e também aos aspectos qualitativos, analisados por meio de respostas a perguntas como as descritas a seguir, entre outras, previamente pensadas pelo professor e pelo aluno: • O aluno alcançou as metas estabelecidas no início do projeto? • O aprendizado foi suficiente ou se deve aprofundar algum ponto? • Que qualificação lhe corresponde em função do critério estabelecido pela escola? A negociação prévia deve estabelecer, inclusive, formas de socialização dos resultados da aprendizagem obtidos naquele projeto, ou seja, as formas de devolução das avaliações e os meios de comunicação com os responsáveis pelo aluno. Processual e dinâmico, o portfolio pode contribuir para a abordagem relacional proposta para o projeto de trabalho, mostrando-se como parte integrante deste. Ainda sobre o processo avaliativo, sugere-se que seja feita uma avaliação dos resultados, em conjunto entre professor e aluno, que deve ter como referência os objetivos do projeto, tanto o geral como •

conviver . programa de pesquisa com as escolas

69


os específicos. A retomada do campo pode contribuir para a análise comparativa entre resultados e objetivos! A ideia é que os mesmos alunos que foram a campo pesquisar sobre o problema proposto pelo projeto retornem a esse mesmo campo com perguntas que evidenciem se houve ou não houve mudança de comportamento em função dos trabalhos realizados sobre a localidade, durante o projeto implementado pela escola. É bom lembrar que a avaliação pode ainda contar com as estratégias de pesquisa, cujo formato aponta os motivos pelos quais algum objetivo pode não ter sido alcançado.

Síntese das etapas de um projeto de pesquisa Resumindo, as etapas de realização de um projeto de pesquisa podem ser propostas na seguinte ordem: 1. Tema sugerido: a relação entre os moradores e a localidade. 2. Problematização/ sensibilização: pesquisa diagnóstica para a elaboração do recorte do tema e proposição do problema, ou seja, “o que” pesquisar. 3. Elaboração da justificativa: descrição do motivo pelo qual os alunos pesquisadores devem se beneficiar do conhecimento a ser construído sobre o problema de pesquisa proposto pela escola, ou seja, “por que” pesquisar sobre o tema. 4. Definição do público específico participante do projeto, ou seja, “quem” deve participar especificamente da pesquisa. 5. Definição da equipe interdisciplinar de coordenação do projeto. 6. Elaboração do objetivo geral, ou seja, “para que” pesquisar sobre o problema. 7. Elaboração dos objetivos específicos, ou seja, “o que” conhecer sobre o problema. 8. Definição das estratégias de pesquisa para tratamento do problema, ou seja, “como” realizar a pesquisa. 9. Proposição de cronograma para a implementação das

70

conviver . programa de pesquisa com as escolas


estratégias, “quando” realizar as estratégias propostas. 10. Levantamento dos recursos humanos e materiais necessários para a implementação das estratégias, ou seja, “quem”, “quanto” e “o que” são necessários para a realização das estratégias. 11. Elaboração de um cronograma de ações, ou seja, “quando” cada estratégia deve ser realizada. 12. Avaliação dos resultados. 13. Conclusão: descrição da contribuição do trabalho para a escola, ressaltando os objetivos alcançados e analisando a causa dos objetivos não alcançados. 14. Introdução (última etapa do projeto): elaboração de um texto descritivo sobre a percepção do problema e a relevância do projeto para a escola. 15. Anexos: material produzido para sensibilização, como questionários, entrevistas e produções dos envolvidos no trabalho. Dentre os itens relacionados acima, a pesquisa de campo merece comentário mais detalhado, sobretudo referente ao recorte de público.

conviver . programa de pesquisa com as escolas

71


Sobre a pesquisa de campo, acredita-se que o sucesso da técnica dependa do trabalho pedagógico realizado em sala de aula pelos professores, antes e depois da ida ao campo, para que os alunos estejam esclarecidos sobre quem, onde, quando e o que pesquisar. Antes da saída dos alunos da escola, é necessário que os itens abaixo estejam planejados e este planejamento deve considerar dois recortes metodológicos, conforme explicado a seguir:

72

conviver . programa de pesquisa com as escolas

Público: existem dois públicos a serem considerados pelo projeto, o público diretamente envolvido, os alunos e professores, que pode ser chamado de público específico; e o público alvo, formado pelas pessoas entrevistadas e por aquelas que participarão da mostra de produções. O recorte de público alvo a ser entrevistado depende do tipo de problema tratado pelo projeto, ou seja, o problema determinará características como o número de pessoas a serem entrevistadas, o sexo, a idade, a profissão e outras, todas relevantes para o tema relativo à localidade. O recorte de público, realizado a partir de critérios pré-estabelecidos, garante cientificidade à pesquisa e contribui para a legitimidade dos dados colhidos. Localidade: considerando o tema relativo à localidade, é preciso recortar o público de acordo com a área de atuação do problema de pesquisa proposto pelo projeto, considerando, inclusive, o tipo de relação entre o entrevistado e a localidade. Período histórico: uma pesquisa deve se desenvolver considerando um determinado período histórico, ou seja, deve ser feito um recorte temporal para que, a partir dele, sejam identificados os atores a serem entrevistados. O recorte temporal pode ser feito no momento da pesquisa bibliográfica, quando as informações sobre o tema ainda são diversificadas e o problema começa a ser percebido.


Fica ainda posto como desafio para a escola que trabalha com projeto de pesquisa estabelecer a interdependência entre o tema estudado pelo projeto – relacionado à localidade – e os conteúdos curriculares disciplinares. A proposição da interdependência fica justificada socialmente pelo fato de o tema estudado ser parte do cotidiano dos alunos e, ainda, pedagogicamente, considerando que o objetivo da escola é também, e sobretudo, promover a construção de conhecimento que contribua para a melhoria da qualidade de vida do aluno.

conviver . programa de pesquisa com as escolas

73


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CUNHA, Antônio. Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa. 2.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. FERREIRA, Aurélio B. de Hollanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 3ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996. 296p. JOHNSON, Allan G. Dicionário de sociologia. Guia prático de linguagem sociológica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997. 300p. MENDONÇA, Izabel. Ser capixaba. In: Blog – “O caos do pensamento”. <http://izamendonca.blogspot.com/2010/12/ser-capixaba.html.> Acessado em 29/12/10. SANTOS, Milton. A natureza do espaço. Técnica e tempo. Razão e emoção. 4ed. São Paulo: Edusp, 2009. 384p. TILIO, Rogério. Reflexões acerca do conceito de identidade. In: Revista eletrônica do Instituto de Humanidades. Volume VIII Número XXIX AbrJun 2009. P.109-119. In: <http://publicacoes.unigranrio.edu.br/index.php/reihm/article/ view/529/530.> Acessado em 26/12/10.

74

conviver . programa de pesquisa com as escolas


Anexos


Anexo 1: desenvolvimento sustentável e indicadores sociais

O censo ou recenseamento demográfico é uma pesquisa sobre a população que possibilita a recolha de várias informações, tais como o número de habitantes, o número de homens, mulheres, crianças e idosos, onde e como vivem as pessoas e o trabalho que realizam, entre outros dados. Esse estudo é realizado normalmente a cada dez anos, na maioria dos países.

18

76

conviver . programa de pesquisa com as escolas

A preocupação do poder público em compatibilizar o desenvolvimento econômico do país com o desenvolvimento sustentável conta com o apoio de alguns dados estatísticos, compilados com o objetivo de mensurar a qualidade de vida de municípios e estados. Assim, o governo brasileiro, por meio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e tendo como principal ferramenta o censo18, constrói alguns indicadores que orientam a ação do poder público neste sentido. Assim, estão apresentados a seguir os principais indicadores sociais, seus significados e também alguns dados empíricos notabilizados para as cidades sob a influência da construção do porto da Ferrous na região. Quais são os principais desafios apontados pelos indicadores sociais? Olhe, compare e conheça a situação social do seu estado e de seu município. Os primeiros dados que você encontrará se referem à área do estado e sua densidade demográfica. A densidade demográfica é uma relação entre o número de habitantes e a área em questão, expressa em número de habitantes por quilômetro quadrado (hab/km2). Esses dados são relevantes para que você tenha uma indicação da forma como ocorre a distribuição e ocupação do espaço dos municípios. Posteriormente, são


apresentadas algumas informações referentes à população, são elas:

• •

Número de pessoas que moram na zona urbana e na zona rural, e a população total. Taxa de analfabetismo do município, que é a porcentagem de pessoas com 15 anos ou mais que não sabem ler ou escrever. É importante observar que este dado traz uma aproximação do nível de escolaridade da população. Renda per capita: é calculada pela soma de todas as rendas da população da cidade, dividida pelo número de habitantes. É importante para se ter uma ideia da situação econômica das pessoas. Ressalta-se que a renda real das pessoas pode variar em relação à renda per capita, pois podem interferir nela fatores como a escolaridade, local de moradia, profissão etc. Índice de Gini: mede a desigualdade de renda entre a população das cidades. Os valores variam entre 0 (situação de perfeita igualdade, ou seja, todos têm a mesma renda) a 1 (situação de completa desigualdade). Índice de Desenvolvimento Humano (IDH): mede a qualidade de vida e o desenvolvimento humano da população. É composto por três dimensões: saúde, educação e renda. Por exemplo, uma cidade que tem uma alta taxa de escolaridade da população, mas baixos níveis de saúde e renda, provavelmente terá um IDH entre médio e baixo. O IDH é hoje o principal indicador de qualidade vida.

Todos os dados são provenientes do Censo Brasileiro do ano de 2000 e são representativos da situação atual. Para que você tenha uma referência de comparação, apresentamos a seguir os dados citados acima para os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo e, em seguida, os dados das cidades sob o impacto da construção do porto da Ferrous.

conviver . programa de pesquisa com as escolas

77


Taxa analfabetismo

Renda per capita R$276,56

0,615

0,773

Rio de Janeiro

328,03

569.816

13.821.466

14.391.282

6,63 %

R$413,94

0,614

0,807

Espírito Santo

67,02

634.183

2.463.049

3.097.232

11,66 %

R$289,59

0,61

0,77

IDH

Pop. total

11,96 %

Gini

Pop. urbana

17.891.494

Índice de

Pop. rural

14.671.828

(hab/Km2)

3.219.666

Densidade demográfica 30,46

Estados Minas Gerais

Pop. urbana

Pop. total

Taxa analfabetismo

Renda per capita

Índice de Gini

IDH

6.842

23.757

30.603

12,63%

R$226,36

0,62

0,724

São Francisco

36,7

21.917

19.228

41.145

25,01%

R$156,00

0,62

0,688

Presidente Kennedy

16,2

7.025

2.530

9.555

23,35%

R$147,38

0,63

0,674

(hab/km2)

223,4

Densidade Demográfica

Marataízes

Cidades

Pop. rural

Fonte: Censo 2000.

Fonte: Censo 2000.

78

conviver . programa de pesquisa com as escolas


Anexo 2: Licenciamento Ambiental O processo de licenciamento ambiental contempla três etapas distintas. A obtenção da licença prévia (LP) do empreendimento, da licença para instalação e execução das obras (LI) e da licença de operação do empreendimento (LO). A LP é obtida mediante a organização de estudos ambientais para averiguar o potencial de impacto do empreendimento. Este estudo é conhecido como EIA – Estudo de Impacto Ambiental – e contempla uma avaliação ampla dos impactos a serem causados pelo empreendimento19. Como o EIA possui linguagem técnica de difícil compreensão para o público em geral, é previsto também a elaboração de um Relatório de Impacto Ambiental – RIMA – para que as pessoas possam ter acesso crítico aos estudos realizados. Após a elaboração do EIA/RIMA, cabe ao órgão ambiental, que no caso do porto é o Ibama20, fazer uma avaliação técnica dos estudos realizados e conceder seu parecer ao empreendedor. Caso o estudo seja aprovado, o empreendedor deve organizar a audiência pública de licenciamento, um evento obrigatório, no qual os estudos são apresentados à sociedade. É um momento em que as pessoas podem ampliar o seu conhecimento sobre o empreendimento e, sobretudo, expor suas opiniões sobre o conjunto de medidas de controle ambiental a

O estudo é dividido em três grandes áreas de abrangência: 1) estudo dos impactos no meio físico: a água, o solo, o relevo, a paisagem, o clima, a qualidade do ar; 2) estudo dos impactos no meio biótico: a fauna e a flora da área; 3) estudo dos impactos no meio antrópico: aspectos sociais, econômicos e culturais da área.

19

O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) é uma autarquia federal, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, sendo o responsável pela execução da Política Nacional do Meio Ambiente. Desenvolve atividades para a preservação e conservação do patrimônio natural, exercendo o controle e a fiscalização sobre o uso dos recursos naturais.

20

conviver . programa de pesquisa com as escolas

79


serem adotadas. As medidas visam minimizar e compensar os impactos negativos e potencializar os positivos. A participação da comunidade é essencial, uma vez que é a ocasião oportuna para contemplar no projeto as demandas da localidade. As medidas acordadas são transformadas em programas e projetos específicos, gerando um documento chamado Plano Básico Ambiental (PBA) ou Plano de Controle Ambiental (PCA), que também passa por análise técnica do órgão ambiental. Caso aprovado, o órgão concede a Licença de Instalação. Encerra-se, então, a segunda etapa do licenciamento. Com a LI concedida, a empresa pode dar início às obras e também implantar os programas e projetos estabelecidos no Plano Básico Ambiental ou Plano de Controle Ambiental. Após a finalização das obras, é feita nova avaliação pelo órgão ambiental, que verifica se o empreendimento está de acordo com o projeto estabelecido e se os PBAs ou PCAs e demais medidas estão sendo realizados. Caso tudo esteja de acordo, é concedida a Licença de Operação. A Licença de Operação tem a validade definida pelo órgão ambiental licenciador, podendo variar de 4 a 8 anos. Para a continuidade da operação do empreendimento, a LO deverá ser renovada sempre que vencer o seu prazo de validade.

80

conviver . programa de pesquisa com as escolas


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.