Redes Sociais na Web e a outra sociedade

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As redes sociais: Informação com agilidade e em quantidade. Mas e a qualidade? Por Vágner Benatti

O privilégio da velocidade em detrimento da qualidade nas relações interpessoais e empresariais virtuais aproxima ou afasta as pessoas?


A evolução da internet trouxe mais benefícios ou mais problemas aos usuários de redes sociais e à sociedade como um todo? Vamos investigar, nessa reportagem, como a evolução da internet desde o e-mail, a troca de mensagens virtuais através da metáfora “correio eletrônico”, afetou as relações sociais e o exercício pleno da cidadania. A Análise de Redes Sociais surgiu como uma técnica chave na sociologia moderna. Também, vem sendo aplicada e desenvolvida no âmbito de disciplinas diversas como a antropologia, a biologia, os estudos de comunicação, a economia, a geografia, as ciências da informação ou a psicologia social. A ideia de rede social começou a ser usada há cerca de um século atrás, para designar um conjunto complexo de relações entre membros de um sistema social a diferentes dimensões, desde a interpessoal à internacional. Hoje em dia, publica-se e se compartilha de tudo um pouco. Raquel Recuero, jornalista, doutora em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e autora do livro “Redes Sociais na Internet”, comenta que a qualidade da informação fica num segundo plano frente a promoção pessoal. Segundo a pesquisadora, o que importa é compartilhar. “As tecnologias digitais ocupam um papel central nas profundas mudanças experimentadas em todos os aspectos da vida social. A natureza, motivos, prováveis e possíveis desdobramentos dessas alterações, por sua vez, são extremamente complexos, e a velocidade do processo é estonteante.” (Redes Sociais na Internet - Raquel Recuero. Editora Cubocc)

A discussão se enriquece quando questionamos estudantes quanto a não obrigatoriedade de um diploma universitário para o exercício da profissão de jornalista. A internet democratiza a informação, mas não necessariamente a qualifica. “Nem sempre temos um quadro onde informação de interesse público é priorizado. Na verdade, informação relevante se dilui num mar de trivialidades sociais”, destaca a estudante de jornalismo Flávia Monteiro. Comenta ainda que a profissão de jornalismo vem perdendo sua força. “Todo mundo se sente um comunicador, mas o jornalista é um comunicador social. Estudamos para sermos relevantes para a sociedade. O internauta se perde na internet. As pessoas se expõem demais e isso parece mais interessante que se preocupar com notícias e mobilização social. A catarse que as redes sociais proporcionam geram a demanda e as empresas de comunicação, numa perspectiva capitalista, desenvolvem cada vez mais possibilidades de fazê-lo.”, enfatiza a estudante. O site www.knowem.com, é um site que pesquisa nomes de usuário em mais de quatrocentas redes sociais. A proposta é que empresas que desejam usar sites de relacionamento para se comunicarem com clientes e parceiros em potencial possam “reservar”


seus nomes nas redes. A criação de um site com essa proposta é um dos termômetros para analisar a crescente participação das empresas nas redes de relacionamento. Cada vez mais, surgem especialistas em marketing online que integram equipes especializadas. É uma nova tendência de mercado que consiste na pesquisa de imagem das empresas nas redes e na reversão e manutenção visando a boa imagem das marcas. As empresas usam a informalidade para interagir e se aproximar de seus públicos-alvo. Exploram as potencialidades da internet para desenvolver conceitos inovadores para seus clientes promovendo campanhas publicitárias, promoções, prêmios e competições online. É o caso da parceria entre a juizforana escola de idiomas FISK JF e a agência de publicidade online CerejaWeb. Eles promovem constantemente campanhas de marketing e sorteios de prêmios. “Começamos esse ano mesmo (em 2010) e já temos um aumento significativo na procura e nas matrículas. Além de promovermos enquetes, promovemos sorteio de brindes e descontos pelo Orkut e pelo Twitter. Consideramos o Orkut a rede social mais apropriada para começar. Para participar, basta o usuário adicionar um dos perfis da FISK JF como amigo no Orkut, baixar a imagem da campanha, adicionar em um álbum desbloqueado e avisar pra gente que está participando. A partir daí, já está participando das promoções e difundindo a marca.”, informa a assessoria de imprensa da FISK Idiomas em Juiz de Fora. As mais famosas redes sociais no Brasil como Orkut, twitter e Facebook são fontes de informação para empresas selecionarem candidatos a vagas de trabalho. “Recorremos às redes de relacionamento para ver como os candidatos se comportam na rede, o que pode refletir no comportamento no trabalho. Mas devemos tomar cuidado. Nem sempre isso acontece. Alguns candidatos, que sabem que poderão ser pesquisados na internet, fazem um perfil 'politicamente correto' para tentar enganar o setor de recursos humanos das empresas. Ainda temos que confiar mais na versão clássica de seleção: dinâmicas de grupo e entrevistas são mais confiáveis.”, explica a gerente de RH do site www.vagas.com.br, Elisabeth Corrêa. Por outro lado, muitos prerrequisitos para vagas de emprego exigem conhecimento e prática em sites de relacionamento e blogues. “Se o candidato tiver um envolvimento em redes sociais e em blogs, seria um diferencial positivo na conquista do emprego. Se a pessoa é antenada com a internet, fica mais fácil saber se ela não tem dificuldade em trabalhar com as novas tecnologias.”, arremata Elisabeth. Em entrevista recente, o CEO – Chief executive officer – do Google, Eric Schmidt, disse que “a cada dois dias, a humanidade produz tanta informação quanto a que foi produzida em toda a história até 2003.”. Não obstante, há uma infinidade de redes sociais surgindo a cada dia. E cada vez mais específicas: redes sociais para alugar amigos (www.frently.com),


para compartilhar sonhos – daqueles que a gente tem à noite – (www.remcloud.com), para pessoas que gostam de beber trocarem ideias sobre bares, festas e eventos interessantes ao redor do mundo que envolvam o consumo de álcool (www.drinkedin.net/pt). Das mais recentes e diversas, as seguintes se destacam: A rede Frugar (www.frugar.com.br) serve para quem quer comprar melhor. Nela, é possível compartilhar opiniões, pequisa produtos, ver o que seus contatos querem comprar, fazer recomendações e encontrar os melhores preços de produtos do interesse do usuário; A rede Skoob (www.skoob.com.br) é para quem gosta de ler. Skoob (books ao contrário) serve para compartilhar tudo o que o internauta lê ou já leu e fazer uma lista de títulos que pretende ler; A Orangotag (www.orangotag.com) é destinada aos fãs de seriados. Serve para se resenhar séries, recomendá-las e marcar as que já foram assistidas pelo usuário; A rede Moove.me (www.moovee.me), serve para o mesmo propósito que a anterior, mas o foco é para filmes e cinema; A proposta da rede I just made love (www.ijustmadelove.com) é contar “para todo mundo que você se deu bem”. No caso, compartilha-se nela as aventuras amorosas (e sexuais) dos usuários. Esse parágrafo é meramente ilustrativo. Não é a proposta dessa reportagem, listar redes sociais. Mas já dá para ter uma ideia de como caminha a tendência mundial de compartilhamento de todo tipo de informação. Também podemos citar como exemplo de democratização da informação a criação da plataforma Ning (www.ning.com), onde qualquer pessoa pode criar sua própria rede social. Na página inicial da plataforma Ning, encontramos a descrição do serviço: “O Ning é a principal plataforma online na qual organizadores, ativistas e formadores de opinião de todo o mundo criam suas próprias redes sociais. Você cria uma experiência social personalizada em menos de 60 segundos, o que lhe dá o poder de mobilizar, organizar e inspirar.” (Sobre - site www.ning.com)

Enfim, é uma variedade imensa de novas redes sociais aparecendo no mundo a cada dia. Numa perspectiva sociológica, as pessoas estão fisicamente mais distantes umas das outras. Reúne-se menos para desenvolver ideias que antes da internet impor sua velocidade. Produz-se mais, vende-se mais, porém questões não mercadológicas como o desenvolvimento sustentável ficam de lado. A democratização da informação não se completa porque vem em quantidades impossíveis de serem absorvidas. As sociedades não estão prontas para digerir a informação que é gerada diariamente. Antes, havia um emissor e um destinatário para as mensagens. Hoje, todos somos emissores em potencial, mas poucos, daqueles que o tentam, conseguem consumir tanta informação.


Alguma das mais famosas redes sociais espalhadas pela web.


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