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3 A administração municipal

de Imaruí tinham, por sua vez, seu interesse nos votos e no apoio dos colonos de São Martinho, pois o crescimento demográfi co fornecia muitos eleitores, cujos votos não eram desprezíveis. Naquela época, os dois principais e, praticamente, únicos partidos conhecidos na região eram o PSD e UDN. Houve uma gradativa polarização da população entre estes dois partidos e o surgimento de líderes e cabos eleitorais de ambos os partidos. Essa polarização partidária deitou raízes profundas na cultura política da população a ponto de se manter viva até os dias atuais.

Com o passar do tempo e principalmente por causa da construção da estrada estadual ligando Florianópolis a Tubarão, com uma bifurcação para Imaruí na localidade de Praia Redonda, esta vila – Praia Redonda – cresceu mais que as outras e se tornou um lugar central. Por isso, a sede do Distrito e também o cartório foram transferidos de São Martinho, atual Alto São Martinho, para Praia Redonda no ano de 1939.

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Lentamente as lideranças políticas locais começaram a participar das decisões municipais, primeiro como cabos eleitorais e depois também como vereadores. Por outro lado, se até 1937 Laguna representava para a região de São Martinho importante polo econômico para onde os colonos exportavam seus produtos e onde se abasteciam com toda sorte de manufaturados, daquele ano em diante, com a abertura da estrada estadual para Tubarão, os interesses se voltaram mais para esta cidade, inclusive com a criação de uma linha de ônibus. Imaruí, como sede do município, e Laguna, como mercado e porto, fi cavam cada vez mais fora de mão. Além disso, as lideranças políticas locais começaram a perceber que a região de São Martinho era uma realidade socioeconômica e cultural distinta, que não podia fi car atrelada aos interesses dos políticos de Imaruí.

Com muita habilidade e jogo de alianças partidárias, nem sempre entendidas e bem aceitas pelo povo, obteve-se a emancipação em 1962. Em entrevistas com pessoas que então participaram do processo de emancipação, foi possível perceber quais os interesses subjacentes das partes e quais os argumentos que prevaleceram para que o desmembramento acontecesse.

Até a Revolução de 1964 os dois partidos de maior expressão no município de Imaruí eram a UDN, partido preferido pelos “alemães” da região de São Martinho, e o PSD, sustentado pelos líderes políticos de Imaruí com o apoio da população daquela parte do município mas que também tinha forte ramifi cação em São Martinho. Esta bipolarização partidária

teria sido fundamental na articulação para a criação do município. Segundo uns – de acordo com as entrevistas – os políticos de Imaruí pretendiam se livrar dos votos dos eleitores da UDN, principalmente nas eleições municipais. Por outro lado, os políticos de São Martinho pretendiam livrar-se da administração e das manobras políticas de Imaruí, alegando que São Martinho sofria toda sorte de descriminações na aplicação dos recursos fi nanceiros e na assistência em geral. A autonomia municipal da região representaria, como de fato representou, maior desenvolvimento local.

Nas entrevistas feitas, outros alegaram facilidades administrativas e burocráticas. Empresários de São Martinho viam na criação do município maior facilidade na gestão dos negócios em trâmites legais, como licenças, impostos e taxas.

Quando começou a articulação em torno da criação do município, levantou-se na Câmara Municipal de Imaruí uma discussão sobre o local da sede do novo município. Na opinião de uns, deveria ser São Martinho (Alto São Martinho) por ser o primeiro distrito da área que compreende o novo município. Havia outros que pleiteavam a sede municipal para Vargem do Cedro por ser sede paroquial. Como, porém, Praia Redonda era um ponto mais central, depois de muita polêmica, foi escolhida esta localidade para sediar o município. No entanto, em homenagem ao primeiro distrito, o novo município foi denominado São Martinho. Como existe uma lei que determina que a cidade-sede deve ter o mesmo nome que o município, a denominação Praia Redonda foi substituída por São Martinho e o antigo distrito recebeu a denominação Alto São Martinho. São Martinho foi elevado à categoria de município pela Lei Nº 854, de 14 de novembro de 1962 e a instalação se deu em 30 de dezembro do mesmo ano.9

9 Cremos que a denominação São Martinho ao município que leva esse nome é uma homenagem justa ao primeiro núcleo colonial do Baixo Capivari. Porém, a denominação gerou muita confusão que teria sido evitada se tivesse sido dado ao município o nome de Praia Redonda. A confusão permanece: São Martinho (cidade e município), Alto

São Martinho, São Martinho (uma localidade perto de Tubarão) e São Martinho (um município do Rio Grande do Sul).

Prefeitura Municipal de São Martinho

3 A administração municipal

Ao ser criado o município de São Martinho, era governador do Estado, Celso Ramos, e prefeito de Imaruí, Carlos Faust, ambos pertencentes ao PSD, um dos principais partidos políticos então no poder em Santa Catarina. Em São Martinho, o principal líder político, ligado ao PSD, era João Lemonje, que foi nomeado prefeito. João Lemonje governou o município de dezembro de 1962 a maio de 1964, quando se desincompatibilizou do cargo para concorrer a prefeito nas eleições em 3 de outubro daquele ano. Neste período o governo municipal foi exercido por Gregório Rech.

O sistema brasileiro então vigente era o pluripartidarismo. Em São Martinho, apenas duas agremiações políticas tinham diretório organizado: O Partido Social Democrático (PSD) e a União Democrática Nacional (UDN), tendo como respectivos candidatos João Lemonje e Leopoldo Rocha. Não está escrito, mas os velhos e sábios políticos contam que os

votos foram conquistados um a um dentro da mais autêntica tradição democrática.

1963-1968

Prefeito: João Lemonje.

Vereadores: Antônio Boeing, Fridolino Lichtenfels, Gregório Steiner, José Feuser, Leonardo Beckhäuser, Pedro Felipe Heerdt, Ricardo Antônio Weber.

As duas eleições que se seguiram traíram, de certo modo, o espírito democrático e de participação popular que haviam caracterizado a primeira eleição municipal. Com o golpe militar de 1964, todos os partidos políticos foram extintos e duas novas agremiações partidárias foram criadas. A Aliança Renovadora Nacional (ARENA), apoiada pelos militares, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido de “oposição” ao governo e, como tal, suspeito, pois julgavam ser este o partido de sustentação da esquerda. Esta nova organização partidária frustrou a tradição político-partidária do povo, pois os novos partidos eram uma criação artifi cial a serviço da ditadura recém-implantada no país. Havia, principalmente no interior, medo de se fi liar e organizar partido de oposição ao regime militar. Em São Martinho foi organizada e implantada apenas a ARENA. Por isso nas eleições de 15 de novembro de 1968 e de 15 de novembro de 1972, houve chapa única, tirando do eleitor a liberdade de escolha.

1969-1972

Prefeito: Luiz Heinzen.

Vice: Fridolino Lichtenfels.

Vereadores: Alberto Eyng, Ernesto Manger, Francisco Hellmann Júnior, Fridolino Preis, Leopoldo Rocha, Ricardo Antônio Weber e Silvestre José Scho en.

Em 1972 o absurdo político se acentuou ainda mais quando a chapa única sequer apresentou suplente, o que, levado às últimas consequências, seria ilegal. Tanto nesta como na eleição anterior repetia-se aquele teatro do qual os antigos colonos haviam participado, contra a vontade, como atores e espectadores. Se naquela época os envelopes vinham prontos, fechados e

lacrados, agora as cédulas também vinham prontas, devendo o eleitor apenas e, necessariamente, assinalar os nomes indicados, sem alternativa de escolha. Isto, no entanto, não aconteceu apenas em São Martinho, mas em todo território nacional. Foi a fórmula que os militares encontraram para impor seu poder hegemônico.

1973-1976

Prefeito: João Lemonje.

Vice: Pedro Felipe Heerdt.

Vereadores: Alberto Eyng, Arno Steiner, Bernardo Steiner Filho, Henrique Eff ting, José Lino Willemann, Luiz Eff ting e Ricardo Antônio Weber.

Em 1976, a insatisfação com o alijamento político fez voltar às ruas a luta política. Embora continuasse em vigor, no município, um partido, a Aliança Renovadora Nacional (ARENA) se dividiu em dois blocos, formando, na verdade, dois partidos. Era a ARENA 1 e ARENA 2 (Antiga UDN e PSD sob outros nomes). Numa eleição muito disputada, com apenas 26 votos de vantagem para o candidato vencedor, assumiu o poder na Prefeitura a ARENA 1, com alguns vereadores – os 3 últimos – da ARENA 2.

1977-1982

Prefeito: Silvestre Scho en.

Vice: Antônio Selhorst.

Vereadores: João Wendolino Loffi , Baldevino Feuser, Augustinos Scho en, Bernardo Steiner Filho, Amando Wiemes, Fridolino Doerner e Fridolino Boehs.

Nas eleições de 1982 o quadro político tornou-se mais amplo. Com a Reforma Partidária, voltou o sistema pluripartidário. Dois partidos organizaram diretório em São Martinho: o Partido Democrático Social (PDS) e o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Este último teve pouca expressão e não conseguiu eleger nenhum de seus candidatos. Nestas eleições concorreram três facções partidárias, duas com a mesma sigla: PDS 1, PDS 2 e PMDB.

1983-1988

Prefeito: Norvaldo Maas.

Vice: Wilson Newton Schmi .

Vereadores: Amando Wiemes, Apolônio Preuss, Augustinos Schotten, Braz Kindermann, Fridolino Doerner, Henrique Eff ting e João Wendolino Loffi .

Particularmente interessante foi o resultado desta eleição. O PDS 1 foi, por assim dizer, o vencedor, pois venceu seu candidato a prefeito. Pela lógica deveria também preencher a maioria das vagas na câmara. Elegeram-se dois vereadores do PDS 1 enquanto que do PDS 2 elegeramse 5 vereadores. A explicação poderia estar no fato de o eleitor ter escolhido o candidato para prefeito de uma sigla e o vereador de outra. Esta explicação é pouco convincente. Há os que suspeitam de fraude na apuração dos votos.

O governo municipal de Norvaldo Maas caracterizou-se pelo incentivo à educação e à saúde, fundando os jardins de infância de Rio São João, de Rio Gabiroba e de Vargem do Cedro, e abrindo os postos de saúde de Rio São João e de Vargem do Cedro. Teve também como preocupação a assistência ao colono, com máquinas e equipamentos. Neste sentido, procurou montar a “patrulha mecanizada”, adquirindo tratores, arados, ensiladeira, etc. Esta “patrulha mecanizada” presta serviços aos colonos por preços subsidiados. O colono praticamente paga apenas o combustível. Durante o governo de Norvaldo Maas foram iniciados os trabalhos de construção da rodovia asfaltada que liga São Martinho a Armazém, embora fosse esta obra um empreendimento do Estado e não do município.

1989-1992

Prefeito: Wilson Newton Schmi .

Vice: Zeno Eff ting.

Vereadores: Apolônio Preuss, Coleta Scho en Michels, Fridolino Doerner, Gervásio Back Loffi , José da Rosa Corrêa, Sebastião Eff ting, José Lino Willemann, Newton Knabben e Pedro Steiner.

Em continuidade com o plano de governo da administração anterior, Wilson Newton Schmi retomou as principais metas em seu programa de governo no que diz respeito à educação e à saúde. Iniciou a constru-

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