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Sociedade na

Fomos conhecer quem trabalha na máquina que já vacinou mais de metade da população

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Sílvia Agostinho

Nas últimas semanas foi notícia o ato de vandalismo perpetrado no Centro de Vacinação de Azambuja (CVA) que levou à indignação de muitos e à expressão de uma onda de solidariedade junto dos que ali trabalham. O Valor Local esteve no CVA local para conhecer o trabalho dos profissionais e para perceber da afluência dos jovens nesta altura em que começam a ser vacinados. Hugo Santos tem 13 anos e é um dos muitos adolescentes que por estes dias se deslocam ao Centro de Vacinação de Azambuja. Fomos encontrá-lo na companhia da mãe a aguardar vez para a primeira inoculação com a vacina da Pfizer. A maioria dos colegas já levou a vacina e é de forma descontraída e até banal que encara esta vinda ao Centro de Vacinação de Azambuja, onde milhares de pessoas do concelho e não só já foram vacinadas. Consulta o telemóvel enquanto aguarda sem razões de queixa. A mãe também já foi vacinada e encara este passo do filho com naturalidade. A escassas semanas do regresso às aulas, refere que nada lhe foi dito na escola, mas acredita que “mais cedo ou mais tarde a vacina vai ser obrigatória para todos os jovens”. “Os meus amigos já cá vieram e foi tranquilo, não dói nada”, responde Hugo Santos que desvaloriza o momento, e nem mesmo quando lhe perguntamos se é complicado andar sempre de máscara atribui grande importância – “Só mesmo quando faz mais calor”. Para os que todos os dias asseguram a vacinação no pavilhão municipal desde fevereiro, o cansaço já se começa a notar. A máquina não para e a logística é controlada ao mínimo pormenor desde a chegada das vacinas que são acondicionadas à temperatura correta, à preparação das doses. Antes convocou-se os indivíduos para aquele dia. O desafio passa também por fazer com que todo o percurso de cada utente decorra de forma pacífica, célere e sem complicações. O stress começa a instalar-se depois de muitos meses mas os que estão neste trabalho continuam com o espírito de missão de serviço público. Paula Cruz é assistente técnica no local e não esconde que tem sido “bastante cansativo”. O Valor Local ficou a saber que nos dias mais intensos quando ainda estavam a ser vacinadas as camadas mais velhas da população entre 300 a 400 pessoas eram atendidas por dia, e houve um dia que esse número ultrapassou as 500. Confessa que nem todos os jovens estão a ser responsáveis, porque “há muitos que agendam, mas não aparecem” sobretudo os que têm mais de 18 anos. “Já dos 12 aos 15 anos tem corrido muito bem”, talvez porque tenham de vir obrigatoriamente acompanhados dos pais. No dia 20 de agosto foram vacinados cerca de 300 jovens dessa idade. Nestes meses que já leva de centro de vacinação confessa que “há pessoas que se mostram muito agradecidas, mas também há as que ficam chateadas de esperar uma hora ou duas e começam a dizer mal de tudo e de todos”. O local foi alvo de vandalismo recentemente, com o rasgar da lona que serve de cobertura a quem aguarda no exterior do pavilhão para seguir o circuito da vacinação. Paula Cruz lamenta o sucedido porque “retira comodidade às pessoas”. A seguir ao incidente, a Câmara de Azambuja voltou a colocar a lona e apresentou queixa. Carla Cunha, enfermeira e coordenadora do Centro de Vacinação de Azambuja, refere que uma das grandes dificuldades passou pelo contacto com os habitantes do concelho a convocar. Socorreram-se muitas vezes das juntas de freguesia. “Temos uma articulação com a Câmara, e com as juntas e esse trabalho foi muito complicado. Chegámos a ter oito administrativos para essa articulação”. Mesmo assim houve quem chegasse ao pavilhão e se queixasse de que não tinha sido ainda contactado. No pavilhão estão enfermeiros, médicos, e administrativos do centro de saúde de Azambuja e contratados de uma empresa, bem como assistentes operacionais, alguns cedidos pelo município. No centro de vacinação está sempre presente um médico e no dia da nossa reportagem estava de serviço o clínico Adriano Monteiro que presta assistência às pessoas vacinadas face a possíveis efeitos secundários. Normalmente quem chega para a vacina costuma perguntar-lhe acerca disso mesmo. “As nossas enfermeiras dão um folheto às pessoas com a informação tida como necessária”, elucida. Os efeitos adversos também não são significativos – “Quem chega para a segunda toma não regista nada de especial após a primeira, na vasta maioria dos casos”. Depois há quem já venha com uma ideia na cabeça quanto à vacina que quer tomar, Carla Cunha, adianta que “muita gente quis fazer a Astrazeneca na primeira inoculação e na segunda”, isto tendo em conta que a dada altura a preparação biológica da Universidade de Oxford foi desaconselhada às camadas mais jovens da população. Já quanto à vacina da Jansen de dose única, Carla Cunha refere que, de acordo com as normas de vacinação contra a covid 19 atuais, esta está indicada para os homens com idade igual ou superior a 18 anos e para mulheres com idade igual ou superior a 50 anos. No caso dos utentes com mais de 60 anos do sexo masculino e feminino está recomendada a vacina do laboratório AstraZeneca. Contudo, ressalva, que as utentes do sexo feminino entre os 18 e 49 anos “podem optar por efetuar a Janssen, assumindo por escrito a responsabilidade da administração da mesma.” O Centro de Vacinação de Azambuja tem também administrado vacinas da Moderna e do laboratório Pfizer, de acordo com as normas da Direção Geral de Saúde e orientações da Task Force. Segundo os últimos dados disponíveis e até à data de 18 de agosto de 2021 administraram-se 15 mil 520 primeiras doses de vacinas, o que corresponde a 73,72 por cento da população do concelho de Azambuja. Com a segunda dose da vacina, estão vacinados 11 mil 616 utentes, que corresponde a 55,18 por cento da população do concelho. No local já ocorreram reações adversas, “alguns desmaios” muitas vezes “por causa do calor ou do nervosismo” e “não devido à vacina que não provoca esse tipo de ocorrências”, refere Carla Cunha. Até ao momento apenas uma ou duas pessoas dos milhares que passaram pelo pavilhão registaram uma reação anafilática prontamente resolvida pelos profissionais de saúde. “Normalmente perguntamos se existe essa predisposição e se for o caso o utente é encaminhado para consulta de alergologia que vai definir se pode ou não ser vacinado, de preferência em meio hospitalar. Nestes dois casos reportados não existia histórico clínico ou qualquer indicador e como tal foram inesperadas essas reações”, descreve salvaguardando que aconteceram com esta vacina como podiam ter acontecido com outras vacinas como a da gripe. Nesta altura há menos pessoas a serem vacinadas por dia, dado que a grande maioria da população já passou pelo pavilhão. No dia da nossa reportagem estavam a ser administradas Jansen e Pfizer conservadas a uma temperatura de 4,2 graus, provenientes da sede do Agrupamento de Centros de Saúde do Estuário do Tejo, em Alverca. Preparar as vacinas para seguirem para a enfermeira que as irá administrar não é difícil, “mas apenas cansativo porque acabamos por estar aqui muitas horas”, conta Carla Cunha, que enfatiza – “Penso que a população não se dá conta do cansaço e do desgaste que nós sofremos porque chegámos a trabalhar dias e dias seguidos, e esta é uma máquina muito complexa”. Vacinar uma população inteira tem sido um trabalho árduo e muitas vezes “têm vindo pessoas de Lisboa, Cascais, Oeiras e Vila Franca”, porque “percebem que há vagas em Azambuja e agendam para aqui”. Uma das peças desta máquina são também as assistentes operacionais. Carmina Marques, trabalhadora do centro de saúde, está no pavilhão e encaminha os utentes para a meia hora de observação após a toma da vacina. Existe uma ordem nas filas para ser mais fácil perceber quem já pode abandonar o pavilhão porque a meia hora já passou ou quem tem de aguardar um pouco mais. Cabe-lhe a si higienizar as cadeiras. Refere que regra geral as pessoas cumprem as indicações. O trabalho acaba por ser um pouco cansativo “porque estamos sete horas em cima das pernas”, mas gosta do que faz.

Carmina Marques e Carla Cunha testemunham o esforço de todos os profissionais

Desde fevereiro que a máquina está montada e várias pessoas envolvidas

Crianças com necessidades especiais de Azambuja precisam de mecenas

Uma atividade bem recebida por todos Os progressos são muitos segundo o instrutor

Sílvia Carvalho d’Almeida

As crianças com necessidades especiais no concelho de Azambuja estão em risco de perderem o apoio para as aulas de equitação, no Centro Hípico Lebreiro, na mesma localidade. A bolsa, dada pelo Instituto Português da Juventude (IPJ), termina dia 9 de setembro, e alguns pais, sem possibilidade de pagarem as mensalidades, terão que retirar os seus filhos de uma atividade que tem benefícios comprovados para a sua saúde. Luís Ilaco é instrutor de equitação há cerca de 18 anos, formado na Escola Profissional de Abrantes, nas Mouriscas. Conta-nos que já tinha trabalhado com crianças com necessidades educativas especiais anteriormente, e que na sua experiência o saldo é muito positivo, pois estas apresentam, logo após as primeiras aulas, “resultados bastante bons a nível comportamental e motor”. “Consigo entrar em contato com elas através de exercícios de equitação que visam o equilíbrio” e é pelo “equilíbrio que as crianças dão ordens ao cavalo e comunicam com ele”. “Trabalhando isso o aluno ganha à vontade, segurança, domínio do corpo e das emoções, e solta-se o que se reflete no dia a dia, tornando-se mais feliz e corajoso”, descreve. “Também a postura, a maneira de pensar, e as capacidades de reação melhoram, para além de ser uma forma de socialização não só entre eles, mas também com o cavalo”. O centro hípico está à procura de mecenas para continuar a dar curso a esta atividade, e como tal o instrutor enfatiza que “esta é uma atividade bastante importante para estes meninos e meninas, e que se alguém tiver a oportunidade de dar o seu apoio, este será bem vindo, porque vemos felicidade nestas crianças, e muitas têm a ambição de mudar o mundo, mas se mudarmos algo na nossa terra ou neste caso no nosso picadeiro, já estaremos a fazer muito.” Teresa Carvalho, com uma filha de quatro anos, Ariana, pensa que acabar com este programa “não faz sentido”. Ariana não tem necessidades especiais, no entanto Teresa está solidária com os pais que não têm possibilidades de pagar, pois esta é uma atividade bastante importante para o seu desenvolvimento. No caso da sua filha, que era bastante insegura, verificou uma melhoria significativa da sua autoestima, com apenas um mês de aulas. “A Ariana sai daqui eufórica e vai para casa contar tudo o que fez com o cavalo, está mais comunicativa, mais calma. Esta atividade tem tido resultados muito positivos para ela”. Maria João Catarino, do Centro Social e Paroquial da Azambuja, conta que tem visto melhorias significativas nos seus “meninos” e que este programa não deveria acabar, pois faz a diferença na vida destas crianças, sobretudo as que se enquadram no âmbito do autismo ou Síndrome de Asperger “que vivem fechadas no seu mundo muito próprio, e por vezes é difícil comunicar com as que se encontram neste espetro”. É o caso de Enzo uma dessas crianças que no dia da nossa reportagem mostrava a sua confiança no cavalo. No entanto, estas crianças “estão muito mais calmas, comunicativas e doces, ou seja, diminuíram os níveis de agressividade, bem como de ansiedade. Os pais em casa também notam progressos”. Há contudo, muitos pais que não podem pagar, “pois as aulas são um pouco caras para os seus orçamentos, pelo que seria uma mais valia se pudessem continuar.” Também ao nível da hiperatividade, há relatos de melhorias. Carla Gonçalves, da mesma instituição, revela-nos que o Pietro, outra das crianças, “era muito agitada” até começar a frequentar as aulas de equitação. No entanto, “os resultados estão à vista”. “Está muito mais tranquilo, e seguro. Costumava ter brincadeiras mais violentas, tais como lutas, e agora esse comportamento parece ter diminuído.” Isabel Nolasco, presidente da associação sem fins lucrativos, deu recentemente uma entrevista à Rádio Valor Local, onde nos falava precisamente deste problema da retirada dos fundos, e da necessidade de encontrar mecenas que apoiem esta atividade. “Temos que pagar ao monitor, o que é um custo de cerca de 1000 euros mensais. São três horas às terças e quintas, e ao fim de oito semanas as crianças vão para casa, pois os fundos do IPJ acabam. Lançamos o desafio de que quem tiver posses para tal ajude, para conseguirmos dar continuidade a este projeto”.

Trabalhadores da Avipronto vencem braço de ferro travado com a empresa

Há mais de um ano que os trabalhadores da Avipronto estão em luta pela reposição das condições salariais e a manutenção do contrato coletivo de trabalho, depois de a empresa do grupo Lusiaves ter anunciado a rescisão do mesmo, mas o volte-face deu-se nos últimos dias. Agora o Tribunal de Vila Franca de Xira veio dar razão aos trabalhadores e ao Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura e das Indústrias de Alimentação, Bebidas e Tabacos de Portugal (SINTAB) que interpôs uma providência cautelar “contra a tentativa ilegal da empresa com vista à implementação do regime de laboração contínua”, pode ler-se em comunicado ou seja implementação de trabalho ao fim de semana com folgas rotativas de semana e sem acréscimo de ordenado. Contudo e ainda de acordo com a mesma nota de imprensa do SINTAB, uma vez em tribunal, no passado dia 18 de agosto, “a Avipronto deu o dito por não dito, dizendo que se tratava de uma mera ação de consulta e que apenas pretendia saber da disponibilidade dos trabalhadores.” Rui Matias, dirigente sindical, considera que houve uma vitória clara “e os advogados da empresa fizeram aquilo que era mais lógico que foi retirar a ação antes dela ser julgada”. Para o SINTAB esta é “uma vitória clara dos trabalhadores por via da sua organização, com acompanhamento total do sindicato em oposição à implementação de horários desregulados e que desvalorizam a sua vida familiar.” A decisão do tribunal “foi clara, contra a pretensão da empresa, deixando antever decisão no mesmo sentido caso a Avipronto insista nesta intenção.” Os trabalhadores da Avipronto estão também em greve a todo o trabalho suplementar, desde março, por a empresa ter decidido, “de forma arbitrária e unilateral, deixar de aplicar o contrato coletivo do setor, alegando a sua caducidade”. As estruturas de representação dos trabalhadores vão agora interpor uma ação coletiva contra a Avipronto, no mesmo tribunal, “exigindo a reposição do cumprimento do Contrato Coletivo de Trabalho do setor do abate de aves.” O sindicato recorda que a Autoridade para as Condições de Trabalho nada fez em relação ao comportamento da empresa Avipronto. “Esse aspeto ainda não está resolvido, apenas nos debatemos em tribunal até agora com a implementação do trabalho ao fim de semana sem pagamento suplementar”. Trabalhadores há mais de um ano que se manifestam contra a empresa

Rotura deixou azambujenses sem água nas torneiras várias horas

No passado dia 29 de julho, uma rotura na zona do Rossio deixou a população de alguns bairros da vila de Azambuja sem água nas torneiras durante uma boa parte daquele dia. A empresa confirma que o abastecimento esteve interrompido por mais de 12 horas. Segundo a ADAZ tratou-se de uma avaria complexa, que apesar da “rápida mobilização das equipas operacionais e dos meios necessários à reparação da avaria no menor intervalo de tempo possível, obrigou à substituição integral da tubagem no local, com a utilização de acessórios especiais e a reconstrução de alguns ramais domiciliários”. “Apesar de alheia à nossa vontade, não podemos deixar de lamentar todo o transtorno e inconvenientes causados à população de Azambuja”, refere a administração da ADAZ. As condições de compensação aos utilizadores face a este caso é a prevista no regulamento de serviços. As compensações em caso de falta de água na torneira são calculadas em torno da componente na fatura denominada tarifa de disponibilidade que tem um valor unitário. No total da fatura, esse valor será divido pelo número de dias em que a água faltou.

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