Jornal Valor Local - Edição Agosto 2021

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Agosto 2021

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Valor Local

Sociedade

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Depois do ato de vandalismo no Centro de Vacinação de Azambuja

Fomos conhecer quem trabalha na máquina que já vacinou mais de metade da população Sílvia Agostinho as últimas semanas foi notícia o ato de vandalismo perpetrado no Centro de Vacinação de Azambuja (CVA) que levou à indignação de muitos e à expressão de uma onda de solidariedade junto dos que ali trabalham. O Valor Local esteve no CVA local para conhecer o trabalho dos profissionais e para perceber da afluência dos jovens nesta altura em que começam a ser vacinados. Hugo Santos tem 13 anos e é um dos muitos adolescentes que por estes dias se deslocam ao Centro de Vacinação de Azambuja. Fomos encontrá-lo na companhia da mãe a aguardar vez para a primeira inoculação com a vacina da Pfizer. A maioria dos colegas já levou a vacina e é de forma descontraída e até banal que encara esta vinda ao Centro de Vacinação de Azambuja, onde milhares de pessoas do concelho e não só já foram vacinadas. Consulta o telemóvel enquanto aguarda sem razões de queixa. A mãe também já foi vacinada e encara este passo do filho com naturalidade. A escassas semanas do regresso às aulas, refere que nada lhe foi dito na escola, mas acredita que “mais cedo ou mais tarde a vacina vai ser obrigatória para todos os jovens”. “Os meus amigos já cá vieram e foi tranquilo, não dói nada”, responde Hugo Santos que desvaloriza o momento, e nem mesmo quando lhe perguntamos se é complicado andar sempre de máscara atribui grande importância – “Só mesmo quando faz mais calor”. Para os que todos os dias asseguram a vacinação no pavilhão municipal desde fevereiro, o cansaço já se começa a notar. A máquina não para e a logística é controlada ao mínimo pormenor

N

desde a chegada das vacinas que são acondicionadas à temperatura correta, à preparação das doses. Antes convocou-se os indivíduos para aquele dia. O desafio passa também por fazer com que todo o percurso de cada utente decorra de forma pacífica, célere e sem complicações. O stress começa a instalar-se depois de muitos meses mas os que estão neste trabalho continuam com o espírito de missão de serviço público. Paula Cruz é assistente técnica no local e não esconde que tem sido “bastante cansativo”. O Valor Local ficou a saber que nos dias mais intensos quando ainda estavam a ser vacinadas as camadas mais velhas da população entre 300 a 400 pessoas eram atendidas por dia, e houve um dia que esse número ultrapassou as 500. Confessa que nem todos os jovens estão a ser responsáveis, porque “há muitos que agendam, mas não aparecem” sobretudo os que têm mais de 18 anos. “Já dos 12 aos 15 anos tem corrido muito bem”, talvez porque tenham de vir obrigatoriamente acompanhados dos pais. No dia 20 de agosto foram vacinados cerca de 300 jovens dessa idade. Nestes meses que já leva de centro de vacinação confessa que “há pessoas que se mostram muito agradecidas, mas também há as que ficam chateadas de esperar uma hora ou duas e começam a dizer mal de tudo e de todos”. O local foi alvo de vandalismo recentemente, com o rasgar da lona que serve de cobertura a quem aguarda no exterior do pavilhão para seguir o circuito da vacinação. Paula Cruz lamenta o sucedido porque “retira comodidade às pessoas”. A seguir ao incidente, a Câmara de Azambuja voltou a colocar a lona e apresentou

Carmina Marques e Carla Cunha testemunham o esforço de todos os profissionais

queixa. Carla Cunha, enfermeira e coordenadora do Centro de Vacinação de Azambuja, refere que uma das grandes dificuldades passou pelo contacto com os habitantes do concelho a convocar. Socorreram-se muitas vezes das juntas de freguesia. “Temos uma articulação com a Câmara, e com as juntas e esse trabalho foi muito complicado. Chegámos a ter oito administrativos para essa articulação”. Mesmo assim houve quem chegasse ao pavilhão e se queixasse de que não tinha sido ainda contactado. No pavilhão estão enfermeiros, médicos, e administrativos do centro de saúde de Azambuja e contratados de uma empresa, bem como assistentes operacionais, alguns cedidos pelo município. No centro de vacinação está sempre presente um médico e no dia da nossa reportagem estava de serviço o clínico Adriano Monteiro que presta assistência às pessoas vacinadas face a possíveis efeitos secundários.

Normalmente quem chega para a vacina costuma perguntar-lhe acerca disso mesmo. “As nossas enfermeiras dão um folheto às pessoas com a informação tida como necessária”, elucida. Os efeitos adversos também não são significativos – “Quem chega para a segunda toma não regista nada de especial após a primeira, na vasta maioria dos casos”. Depois há quem já venha com uma ideia na cabeça quanto à vacina que quer tomar, Carla Cunha, adianta que “muita gente quis fazer a Astrazeneca na primeira inoculação e na segunda”, isto tendo em conta que a dada altura a preparação biológica da Universidade de Oxford foi desaconselhada às camadas mais jovens da população. Já quanto à vacina da Jansen de dose única, Carla Cunha refere que, de acordo com as normas de vacinação contra a covid 19 atuais, esta está indicada para os homens com idade igual ou superior a 18 anos e para mulheres com idade igual ou superior

a 50 anos. No caso dos utentes com mais de 60 anos do sexo masculino e feminino está recomendada a vacina do laboratório AstraZeneca. Contudo, ressalva, que as utentes do sexo feminino entre os 18 e 49 anos “podem optar por efetuar a Janssen, assumindo por escrito a responsabilidade da administração da mesma.” O Centro de Vacinação de Azambuja tem também administrado vacinas da Moderna e do laboratório Pfizer, de acordo com as normas da Direção Geral de Saúde e orientações da Task Force. Segundo os últimos dados disponíveis e até à data de 18 de agosto de 2021 administraram-se 15 mil 520 primeiras doses de vacinas, o que corresponde a 73,72 por cento da população do concelho de Azambuja. Com a segunda dose da vacina, estão vacinados 11 mil 616 utentes, que corresponde a 55,18 por cento da população do concelho. No local já ocorreram reações

Desde fevereiro que a máquina está montada e várias pessoas envolvidas

Hugo Santos veio à vacina sem grandes complicações

adversas, “alguns desmaios” muitas vezes “por causa do calor ou do nervosismo” e “não devido à vacina que não provoca esse tipo de ocorrências”, refere Carla Cunha. Até ao momento apenas uma ou duas pessoas dos milhares que passaram pelo pavilhão registaram uma reação anafilática prontamente resolvida pelos profissionais de saúde. “Normalmente perguntamos se existe essa predisposição e se for o caso o utente é encaminhado para consulta de alergologia que vai definir se pode ou não ser vacinado, de preferência em meio hospitalar. Nestes dois casos reportados não existia histórico clínico ou qualquer indicador e como tal foram inesperadas essas reações”, descreve salvaguardando que aconteceram com esta vacina como podiam ter acontecido com outras vacinas como a da gripe. Nesta altura há menos pessoas a serem vacinadas por dia, dado que a grande maioria da população já passou pelo pavilhão. No dia da nossa reportagem estavam a ser administradas Jansen e Pfizer conservadas a uma temperatura de 4,2 graus, provenientes da sede do Agrupamento de Centros de Saúde do Estuário do Tejo, em Alverca. Preparar as vacinas para seguirem para a enfermeira que as irá administrar não é difícil, “mas apenas cansativo porque acabamos por estar aqui muitas horas”, conta Carla Cunha, que enfatiza – “Penso que a população não se dá conta do cansaço e do desgaste que nós sofremos porque chegámos a trabalhar dias e dias seguidos, e esta é uma máquina muito complexa”. Vacinar uma população inteira tem sido um trabalho árduo e muitas vezes “têm vindo pessoas de Lisboa, Cascais, Oeiras e Vila Franca”, porque “percebem que há vagas em Azambuja e agendam para aqui”. Uma das peças desta máquina são também as assistentes operacionais. Carmina Marques, trabalhadora do centro de saúde, está no pavilhão e encaminha os utentes para a meia hora de observação após a toma da vacina. Existe uma ordem nas filas para ser mais fácil perceber quem já pode abandonar o pavilhão porque a meia hora já passou ou quem tem de aguardar um pouco mais. Cabe-lhe a si higienizar as cadeiras. Refere que regra geral as pessoas cumprem as indicações. O trabalho acaba por ser um pouco cansativo “porque estamos sete horas em cima das pernas”, mas gosta do que faz.


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