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ROBERTO FRANKLIN

Primeiramente quero agradecer a confreira Dilercy pelo convite para participar, e ao mesmo tempo parabenizar e agradecer ao comitê de organização nas pessoas de Eluciana Iris, Gabriela Lopes, Hupomone Vilanova, Leci Queiroz, Maria Inês Botelho, Paulo Bretas, Valquiria Imperiano.

Sou Roberto Franklin, tenho 66 anos, me descobri para a literatura há uns 6 anos atrás, incentivado por meu irmão mais velho Tomaz. Iniciei minha estrada literária pela poesia, passei minha vida estudando matéria sempre da área médica, assim ao me descobri, senti a necessidade de enveredar por caminhos ainda tão distante. Com o decorrer dos tempos arrisquei a prosa, escrevendo crônicas na maioria das vezes memorialistas, e contos com uma alta dose de lirismo e muito sentimento. Sou poeta, cronista e contista além de cirurgião-dentista, ou vice-versa – porque a poesia, feliz ou infelizmente, anda quase sempre montada nessa dupla jornada do pão diário –, temos o direito de usufruí-la e de criá-la, de fazê-la voar através das janelas que se vão abrindo no possível. Desta forma não poderia jamais de agradecer o incentivo de duas pessoas muito importantes e queridas, primeiramente, meus eternos agradecimentos (in memoriam) a você, meu irmão, que muito me incentivou com suas palavras, estou falando do meu amado irmão Tomaz de Aquino Falcão Braga, de quem sinto muito a falta.

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Outro ilustre maranhense, poeta a quem jamais poderia deixar de agradecer, o poeta Fernando Braga (primo do meu irmão), por todos os incentivos e falas, corrigindo-me, acrescentando-me sobre o que deveria escrever ou não escrever... Obrigado, meu primo por afinidade. Tenho a formação na área médica e, neste sentido, devo reconhecer certas dificuldades em relação às questões e valores literários, mas a vida é um eterno aprendizado e neste sentido além de muitas informações dirigidas passei a estudar e tentar conhecer os segredos da escrita, hoje arisco-me na poesia, contos e crônicas. Ao participar desta mesa redonda, escolhi um tema dedicado ao meu patrono José Ribamar Reis, o mentor da Maranhensidade que mais tarde iremos falar.

No dia 14 de dezembro de 2018 tive a honra de ser eleito para ocupar a cadeira de número 40, patroneada por José Ribamar Sousa dos Reis, maranhense, nascido em 22 de março de 1947, filho de Antonio Sebastião dos Reis e de Rosy Sousa dos Reis.

José Ribamar Sousa dos Reis começou seus estudos em Codó, fazendo seu curso primário no Colégio João Ribeiro, pois seus pais residiam naquela cidade. Em São Luís, estudou nos colégios Maristas e Liceu Maranhense e formou-se em Ciências Econômicas na Universidade Federal do Maranhão em 1973. Na época, a profissão de economista era incipiente no Maranhão, sendo o setor público o natural campo de trabalho, seu primeiro cargo foi como presidente no Ipei órgão integrante da Secretaria Estadual de Planejamento.

Mais tarde, Reis voltou seu interesse às pesquisas sobre nosso folclore, constituindo-se em seu maior incentivador e pesquisador.

Morou em Recife e, como Coordenador regional da Fundação Joaquim Nabuco do Ministério da Educação e cultura, adquiriu uma infinidade de recursos literários para produzir suas importantes obras no ramo socioeconômico, em particular a respeito da cultura maranhense.

Observando nossas peculiaridades, ensejando apontar saberes e fazeres próprios de nossa identidade, e mostrando-se preocupado com o nosso engrandecimento, José Ribamar Sousa dos Reis, idealizou a tão aclamada "MARANHENSIDADE", a qual consistia em caracterizar um modo de ser, de viver e de fazer que constitui a cultura dos maranhenses, e que, segundo ele, seria sempre a defesa das nossas coisas e nossa gente.

“Entendemos que MARANHENSIDADE é uma simbologia, característica intrínseca, um dever de todo o cidadão natural do Estado do Maranhão deve ter, ou seja, é acima de tudo a valorização, preservação, divulgação das coisas e da gente maranhense. É um louvor a nossa cultura de raiz! Não deixa de ser um fortíssimo desdobramento da brasilidade para o Brasil-Maranhão dentre os demais 'brasis'”, dizia ele: Diga-se, de passagem, que esse termo, MARANHENSIDADE, chegou a ser utilizado como bandeira da própria Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão, anos depois.

Em meados de 1999, ele escreveu uma coluna no Jornal de nossa amada São Luís intitulada, A TRINCHEIRA DA MARANHENSIDADE, através da qual ele promoveu nosso folclore, festas e a nossa tão rica culinária. Reis sempre foi um amante da nossa cultura, pouco escreveu ‘a respeito de nossa história. Em 2001, escreveu "São José de Ribamar: a cidade, o santo e sua gente", um livro sobre a história de São José de Ribamar, a cidade seu povo e o Santo padroeiro do Maranhão. Nesse livro ele tenta afirmar que a cidade é o santo e o Santo é a cidade, por conseguinte, a cidade não viveria sem o Santo e o Santo não viveria sem a cidade Reis falava que a Maranhensidade seria sempre a defesa das nossas coisas e nossa gente´´.

Dentre as inúmeras crônicas escritas na coluna Trincheira da Maranhensidade, podemos destacar a coluna publicada em 13 de outubro de 2009, na qual Reis destaca o Título recebido por São Luis como CAPITAL BRASILEIRA DA CULTURA.

Conforme já anunciei, José de Ribamar Sousa dos Reis ocupou diversos cargos públicos, de relevância para a gestão pública e para a cultura do estado, sendo os principais: - Coordenador Geral e Diretor-Presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais do Maranhão – IPES; - Representante no Maranhão e Coordenador Regional do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais do Recife; - Secretário Executivo Adjunto da Fundação Cultural do Maranhão;

Por outro lado, esse distinguido patrono foi historiador, pesquisador, escritor, jornalista, descendente de nomes ilustres das letras maranhenses como Sotero dos Reis, Trajano e Maria Firmina, a primeira romancista maranhense e patrona da nossa Academia.

Reis deixou uma vasta obra na literatura e economia. Escreveu várias obras em exaltação à cidade na qual passou sua infância. Escreveu a novela inédita: Terreiro do Riacho “Água Fria”, e a obra Sertão de Minha Terra – a saga das quebradeiras de coco de Codó, além de obras como Newton Pavão, mestre das artes. Sempre preocupado com o que poderia acontecer com nossa cultura, escreveu a série Memória da Cidade, na qual podemos destacaras seguintes obras:

- João Chiador, meio século de cantoria –este livro foi elaborado a pedido do João Chiador por ocasião dos seus cinquenta anos de carreira –, João Chiador, herdei- Praia Grande, Cenários: históricos, turísticos e sentimentais. Neste, Reis descreve a beleza da Praia Grande como sendo o maior museu a céu aberto das Américas. Descreve suas ruas, praças, becos, casarios, o aspecto da azulejaria, assim como seus atrativos na culináriae no artesanato maranhense.

- ZBM: O reino encantado da boêmia, no qual José de Ribamar Sousa dos Reis fala da ascensão e queda de um bairro símbolo da diversão de uma geração; fala de suas casas e boates, das meninas que vinham para São Luis e naquele bairro, encontravam a maneira de viver. Fala de seus ilustres frequentadores e das donas dos cabarés ali existentes.

- São João em São Luís, o maior atrativo turístico-cultural do Maranhão: faz um passeio pela maior manifestação popular do nosso folclore, disserta a respeito dos nossos santos no mês de junho, de nossa culinária, nossas brincadeiras, nossos principais arraiais e, principalmente, faz um passeio a respeito do nosso amado bumba-meu-boi e nossas quadrilhas.

Todos estes livros foram publicados e tiveram a tiragem esgotada. Além deles existem outros concluídos e ainda não publicados, a exemplo de outro, tais como: - Da Casa das Tulhas à Feira da Praia Grande, - A Verdadeira História de Catarina Mina, - Madre Deus; São Pantaleão, e outros.

Membro do Instituto Histórico e geográfico do Maranhão, ocupou a cadeira de número 56, patroneada por Jerônimo José Viveiros.

José Ribamar Sousa dos Reis deixou também uma vasta obra na poesia e na prosa. Na poesia, destacamos o livro Marcas, Verdade e Esperança, Lance de Rumo, Recital Poético e Flor Mulher, obra principal no seguimento da poesia. Neste livro, “Flor Mulher”, encontramos uma dedicatória que resume todo o amor que o autor sentia, quando dizia: “Às poucas e grandes mulheres da minha vida (as minhas Marias); revelar seus nomes seria trair os segredos do amor; cada uma que sinta no coração as suas próprias e verdadeiras rimas”. Destacamos também o poema FLOR MULHER que dá o título ao livro.

Em sua poesia, o poeta nos traz um mundo refinado, como digno representante do nosso modernismo, mas de feição humana, sensível aos problemas do homem.

Como jornalista, tem centenas de artigos e crônicas publicadas nos jornais do Maranhão. No Jornal Pequeno, assinava uma coluna no Caderno JP – Turismo, como já falamos, intitulada Trincheira da MARANHENSIDADE. Foi também colaborador diário no Jornal O Estado do Maranhão, falando de economia por um ano. Reis participou também de inúmeras palestras, debates, seminários e simpósios no Maranhão em outros estados e até em outros países.

José Ribamar Sousa dos Reis escrevia também a respeito de economia, mas o amor pelo seu Maranhão, o amor pelas tradições folclóricas era tanto que deixou uma vasta obra neste tema. O folclore era para ele uma necessidade, escreveu em 1984 o livro Folclore Maranhense – Informes, no qual manifestava sua preocupação com as mudanças que ocorreram no Maranhão principalmente na sua amada São Luís. Esse livro, de caráter exclusivamente informativo, descreve o nosso tão rico folclore aos que visitam São Luís, assim também para futuras gerações de maranhenses. Quer o autor que este livro a respeito da cultura popular maranhense seja ponto de partida para debates e pesquisas para outros, pois assim vem suprir uma carência de informações a respeito desse assunto. Encoraja-nos, já naquela época, que nós maranhense façamos uma corrente de união para preservar nosso folclore tão rico e tão esquecido. E como defensor da Maranhensidade, esta simbologia maior de autoestima dos Maranhenses, deixou um legado para a cultura popular do Maranhão, e defendendo implacavelmente a cultura da nossa amada São Luis.

Em 08 de Dezembro de 2010, às 16 horas, São Luis, sua literatura, sua arte e seu folclore perdiam um dos seus maiores incentivadores, perdiam um verdadeiro tutor.

José Ribamar Sousa dos Reis confidenciava aos seus filhos que, se algum dia quisessem lembrar dele, que o fizessem ouvindo a música “Meu Velho”, de Altemar Dutra, por achar que seria lembrado logo no início através do verso “É um bom tipo meu velho”.

Afirmo que, ao pesquisar a obra e a vida de José Ribamar Sousa dos Reis, surgiu uma grande afinidade entre mim e o meu patrono, ao perceber também esse amor deixado por Reis, por São Luis e sua gente, pela cidade e seu folclore, suas ruas, casarões e sobrados, sentimentos que são iguais aos que sempre senti, e pelos quais sempre lutei nesta vida.

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