teste conexões 2017

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editorial

Depois de muito esforço coletivo estamos oferecendo o segundo número da revista Conexões. Ele refere-se ao ano de 2017. Porém, só pudemos editá-lo agora, em 2019. Em função disso estamos aproveitando a ocasião para incorporar os efeitos desses tempos sombrios pelos quais o Brasil está passando. As ameaças à democracia, as ameaças à educação pública, a naturalização da violência com o extermínio da população negra. Estamos vivendo tempos de uma ignorância orgulhosa, obscurantista e atrasada. Surfando nesta onda estão os empresários oportunistas, o mercado e as convicções perversas dessa gente sobre sociedade e sobre os pobres. Apostam numa sociedade ignorante, fundamentalista que se opõe ao conhecimento acadêmico e criminaliza os direitos sociais adquiridos. Temos assistido a omissão das instituições que poderiam garantir a legalidade e visto assomar-se as sementes do fascismo em ações que tem demonizado aqueles que pensam de forma distinta e insuflado linchamentos simbólicos e físicos. Um momento em que parte da população fala em Deus com tanto júbilo quanto fala da morte ou das tragédias de outros seres humanos tidos como inimigos. A nossa revista pretende ser uma resistência a tudo isso na medida em que se oferece como um espaço para pensarmos a Educação, a formação de professores. Nos colocamos contra o racismo, a intolerância e a favor da democracia e da pluralidade das ideias e dos conhecimentos tanto quantos forem possíveis sobre o mundo e sobre as formas de fazer justiça às desigualdades privilegiando o debate e o respeito e não a eliminação do outro. Falando mais especificamente desse número. Ele está dedicado ao projeto de pesquisa Relações raciais nas escolas e formação de professores, realizado entre 2013 e 2017 e aos estudos de alguns membros do LEAM como desdobramentos dele. Assim, estarão circulando por aqui escritos de Eloisa Lopes, Tarciso Manfrenati, Cintia Mariane da Silva, Taís de Almeida Costa e Adilson Alves Santos. 2

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Todos/as, de alguma forma, trabalharam em suas pesquisas de mestrado com narrativas de formação articulando as suas histórias com as repercussões do racismo nos processos de escolarização, na família ou na história de artistas negros esquecidos como é o caso do Poeta Cruz e Souza. Temos ainda nesta edição: • uma entrevista com o Prof. Dr. Renato

Nogueira, da UFRRJ que nos falou dos seus envolvimentos na luta por uma educação das relações étnico-raciais e seu trabalho como pesquisador e militante • um apresentação de Graziele Alves de Lira

dando conta da sua formação; • apresentaremos a Síncopa TV - um canal

do LEAM que pretende ser um espaço de experimentação, pesquisa e produção de material educativo. • Gostaríamos também de apresentar o Museu

Vivo do São Bento, localizado em Duque de Caxias. O museu, suas atividades, etc. • Ofereceremos ainda algumas informações

sobre o LEAM e suas criações: estudos e aprontos e algumas dicas de estudos e outras informações. Iniciaremos nesse número um canal de comunicação com vocês. Um lugar para você nos enviar seus comentários, sugestões e cadastrarem-se para receberem outros números da revista e a comunicação de outras ações do LEAM. Boa leitura! Valter Filé CONEXÕES

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artigos Adilson Alves Santos

João da Cruz e Sousa e outras narrativas sobre o racismo brasileiro Adilson Alves Santos

Cruz e Sousa aos vinte e dois anos

Este artigo é um recorte da pesquisa João da Cruz e Sousa e outras narrativas sobre o racismo brasileiro, concluída em 2016, faz parte do PPGEDUC, da UFRRJ, inserindo-se na linha de pesquisa Educação e Diversidades Étnico-Raciais. Esta investigação está vinculada ao Grupo de Pesquisa: Educação, Sociedade do Conhecimento e Conexões Culturais e dialoga diretamente com o Projeto de Pesquisa Relações Raciais nas Escolas e Formação de Professores.

entre outros estudiosos do campo das relações étnico-raciais, articulando-os com os estudos do Grupo Modernidade/Colonialidade(2007;2008), Hanna Arendt (2007) também nos ajudou a desenvolver algumas questões com os conceitos de aparência e espaço público. Para entramar as narrativas em questão nos apoiamos em José Valter Pereira (2000;2006 e 2010), Jorge Larrosa (1994; 2014), Walter Benjamin (1985), Leonor Arfuch (2010) e também Luciano Bedin da Costa (2010).

Partindo da vida e obra de João da Cruz e Sousa, tentamos problematizar como algumas questões suscitadas por ele, no final século XIX, ainda podem nos ajudar a refletir sobre as relações étnico-raciais na sociedade brasileira. Esta investigação tencionou entramar a minha história, as narrativas dos meus alunos, considerados aqui como sujeito coletivo, e a história do poeta João da Cruz e Sousa.

Sobre a vida e a obra do poeta, consultamos estudos bibliográficos, documentos, como jornais, revistas de crítica literária do final do século XIX etc. que, de alguma forma, se relacionam com o problema pesquisado. Como narrativa dos alunos consideramos o conjunto de textos e conversas que aconteceram dentro do espaço escolar a partir de atividades ou situações que envolveram relações étnico-raciais.

No enredamento das narrativas mencionadas, apesar da diferença espaço-temporal que as separa, busquei os possíveis diálogos que possam nos ajudar a pensar como o racismo ainda se mantém e se atualiza no cotidiano da escola? De que forma o preconceito, o racismo e a discriminação se materializam na produção de desigualdades dentro do ambiente escolar? Fac-símile de manuscrito do poema Dupla Via-lactea. Acervo: Museu Histórico de Santa Catarina (ASSIS; INÁCIO; SANTANA, 2015, p. 26)

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Desta forma, este estudo dialoga com autores como Muniz Sodré (2000;2010), Kabengele Munanga (2006), Nilma Lino Gomes(2003;2012), Frantz Fanon (2008),

Além disso, assumimos aqui o desafio político de exercitar uma escrita ensaística a fim de problematizar a estética hegemônica como caminho único na produção do conhecimento.

Possui Mestrado em Educação pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (2016), especialização em Língua Portuguesa pela UERJ-FFP (2004), especialização em Relações Étnico-Raciais e Educação pelo CEFET-RJ (2012) e graduação em Letras pelas Faculdades Integradas Simonsen (2001). adisantos37@gmail.com

Artigo completo: https://mega.nz/#!fCJ1xQpC!Mk9A8M1xLT6hNlp8pIJrZ2 hNDA1m3UNJbnpzsqSCXeY

Palavras-chave: (auto)biografia; narrativas; Cruz e Sousa; relaçõesétnico-raciais.

““E talvez, ao entramar a minha narrativa, a do poeta João da Cruz e Sousa e as narrativas de meus alunos, esta pesquisa possa trazer alguma contribuição para pensarmos as relações étnico-raciais, principalmente, dentro do espaço escolar...” CONEXÕES

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artigos

Relações raciais, família e educação

Cíntia Mariane da Silva

Cíntia Mariane da Silva

O presente artigo traz algumas reflexões tecidas em minha dissertação de mestrado, provocadas, em grande parte, pelas narrativas de professores e estudantes de Pedagogia envolvidos do Projeto Relações Raciais nas Escolas e Formação de Professores.

“Entender os possíveis sentidos por trás do silêncio/negação de minha mãe e parte de minha família sobre o meu avô negro, também representa um esforço de compreender como tantos outros sujeitos sistematicamente são negados e adulterados nas famílias, nas escolas e na sociedade.”

As histórias de vida e formação desses sujeitos me ajudaram a pensar sobre como vamos nos formando – para as relações raciais – em meio a práticas e discursos familiares (que também alimentam e são alimentados por outras agências educativas) que parecem transcender os contextos particulares e de um suposto senso comum. Em que medida as histórias de família oferecem elementos para pensarmos a sociedade em que vivemos? No cotidiano das famílias, o que nos ensinam e o que aprendemos sobre nós mesmos e sobre os outros? Se encaramos a educação enquanto

um processo social mais amplo, qual seria a relação entre a aprendizagem de preconceitos, atitudes discriminatórias e a educação que vem de casa? Essas foram algumas questões que serviram de fio condutor para a pesquisa e que ajudam a entramar neste trabalho as histórias de silenciamento e negação do racismo vivenciadas pelos colegas do Laboratório de Estudos e Aprontos Multimídias LEAM e pelos estudantes que participaram do projeto no ano de 2015. Narrativas que mostram como o esforço empreendido pela sociedade brasileira em dissimular o racismo (SOUZA, 1983) vem produzindo hiatos em nossas histórias, dando a pensar como essas experiências (LARROSA, 2015), vividas em família (CARVALHO, 2015; SCHEINVAR, 2006) impactam na forma como encaramos as relações raciais na sociedade de forma mais ampla, inclusive na nossa atuação como professores(as).

Graduada em Pedagogia, possui especialização em Gestão em Administração Pública (UFF) e Mestrado em Educação pela UFRRJ. Atualmente é Analista de Educação na Escola Superior do Ministério Público da União, atuando especialmente nas áreas de Educação a Distância e Formação Docente. mariane_1906@hotmail.com

Artigo completo: https://mega.nz/#!fCJ1xQpC!Mk9A8M1xLT6hNlp8pIJrZ2 hNDA1m3UNJbnpzsqSCXeY

Palavras-chave: Relações raciais, família, educação, narrativas, experiência. 8

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artigos

Eloisa Lopes

Quatro mulheres e o encontro na educação para as relações raciais Eloisa Lopes

Este artigo surge como intuito de trazer algumas reflexões que foram possíveis a partir do trabalho 4 Mulheres e o encontro na educação das relações raciais que foi produzido entre os anos de 2013 e 2015, na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, através do Mestrado no Programa de Pósgraduação em Educação, Contextos Contemporâneos e Demandas Populares. A partir da pergunta: Como produzir sua existência frente a uma produção sistemática de desigualdades? Busquei elementos que ajudassem a pensar algumas questões que fossem interessantes à Educação para as relações raciais em nosso país. Para tal, em primeira instância, trouxe as minhas próprias implicações com o tema, no intuito de encarar os problemas que eu trazia e incorporar à pesquisa; o que só foi possível, também, pela adoção do ensaio como meio de escrever uma escrita-pesquisa, sem querer resguardar os limites definidos historicamente pela Ciência hegemônica (LARROSA, 2003). Assim, com as histórias de vida de duas mães-desanto da cidade de Nova Iguaçu, Arlene de Katendê e Mãe Margarida, contadas em entrevistas gravadas em vídeo, tentei enfrentar a nossa dificuldade em lidar com as diferenças forjadas dos encontros históricos e cotidianos. Busquei olhar para a produção de existência destas mulheres como forma de repensar uma epistemologia que tem limitado nossas formas de vida ao impor o padrão branco, machista, hetero-cis-sexual, cristão e, para tanto, estou considerando o acolhimento das narrativas de vida 10

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“E me peguei a estas histórias por acreditar em sua força, mas não em uma força já dada, mas numa força habitada por pessoas. Subjetividades, afetos, sentimentos. Histórias que vão junto com um desejo de abertura para possibilidades de criação de outros mundos, outras realidades…” contra o desperdício da experiência (LARROSA, 2014; BENJAMIN, 1996), e a valorização dos acontecimentos que atravessam os cotidianos dos sujeitos envolvidos na pesquisa (CERTEAU, 1998; FERRAÇO, 2003). Olhar para estas histórias também no intuito de se posicionar no campo das relações raciais de modo a confrontar um acordo de silenciamento que parece pairar sobre seus conflitos, como forma de produzir sua não existência e falta de aparência no espaço público (ARENDT, 1995; FILÉ, 2013; SANTOS, 2000). Sobretudo quando da urgência da discussão e aplicação da Lei 10.639/06, que instituiu a obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana e afro-brasileira nos ensinos fundamental e médio, nas instituições públicas e privadas. O que também surge como uma ferramenta para repensar estas epistemologias é a noção de colonialidade, desvelando como este poder de dominação e exploração coloniais ainda permanece em nossa sociedade como fortes estruturas (SANTOS e MENESES, 2009). Uma delas é o racismo epistêmico, que vem instituindo a hierarquização dos saberes e definindo os conhecimentos advindos dos negros como inferiores; assim como as religiosidades herdadas dos africanos escravizados como menores ou, até mesmo, malignas. Ao ser atravessada pelas vidas e vozes de tantos sujeitos, esta escrita-pesquisa que ensaia incorpora questões sobre um olhar biográfico (COSTA, 2010) como forma de dar a ver a potência criadora da vida a partir dos encontros.

Mestre em Educação pelo Programa de Pós-graduação em Educação, Contextos contemporâneos e Demandas Populares, da UFRRJ, especialização em “Diversidade Étnica e Educação Superior Brasileira” pelo LEAFRO-IM-UFRRJ e graduação em Pedagogia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (2011). Atua como pesquisadora no Projeto de Extensão “Formação Cultural dos Jovens Rurais em Cultura e Comunicação Comunitária”, pelo Cnpq. helo52melo@yahoo.com.br

Artigo completo: https://mega.nz/#!fCJ1xQpC!Mk9A8M1xLT6hNlp8pIJrZ2 hNDA1m3UNJbnpzsqSCXeY

Palavras-chave: Educação; relações-raciais; formação de professores. CONEXÕES

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artigos

A professora ensinou e o burro não sabe ler E as dificuldades da consideração de uma educação para as relações étnico-raciais nas escolas brasileiras. Taís de Almeida Costa

O presente artigo constitui-se como um recorte da dissertação intitulada: Que corpo é o meu? A construção das representações corporais de alunos do 5º ano do ensino fundamental do município de Nova Iguaçu desenvolvida por mim e defendida no ano de 2016 .

“...perceber o quanto minha história de mulher negra, capoeirista, jongueira, e tantas outras histórias como as dos alunos, professores, funcionários com os quais eu interajo cotidianamente, poderiam ser valorizadas e nunca deveriam ser deixadas de fora do espaço escolar.”

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Inserida no campo da Educação, especificamente na linha de estudos das Relações Étnico-Raciais, minha dissertação foi um desdobramento do projeto de pesquisa “Relações Raciais nas escolas e formação de professores” vinculada ao Laboratório de Estudos e Aprontos Multimídias (LEAM) da UFRRJ. As relações raciais, particularmente as produções humanas que envolvem o movimento com/contra o corpo negro nas escolas é que motivaram esta pesquisa. Envolvida por um sentimento que beirava a indignação cada vez que presenciava alguns alunos inferiorizando outros por causa da cor da pele, tipo de cabelo e traços fenotípico. Encaminhei a pesquisa do mestrado com a proposta de investigar como esses alunos, negros ou não, se representavam/identificavam e que noções de corpo traziam para se representarem. Porém, o objetivo deste artigo é tentar entender os desdobramentos do acesso e da permanência de alunos negros e pobres nas instituições escolares brasileiras a partir do início

do século XX, assim como o desenvolvimento de suas trajetórias mediante todo o processo histórico que os envolve. Que tipo de educação passou a ser oferecida à população na ocasião em que esta se tornou um direito para “todos” os cidadãos brasileiros? Por que ainda é tão difícil verificar nas escolas brasileiras o desenvolvimento de um trabalho voltado para a educação das relações raciais e para a promoção da igualdade racial? Pretende-se que estas e outras questões nos ajudem a compreender como pessoas negras e pobres, que passaram ou ainda estão nas instituições escolares, fizeram/vem fazendo para se manterem nesses espaços (públicos) e tentarem ultrapassar as barreiras do conformismo e naturalização que o racismo impõe. A fim de “contribuir” com os debates necessários sobre a descolonização do espaço escolar e daquilo que pode ser pensado nessas instituições, busca-se incentivar um mundo onde se respeite e se reconheça a dignidade das pessoas, considerando pensamentos e práticas de diversos modelos de existência, além de diferentes formas de organização política, social, cultural e econômica. Trazendo referências de autores que sugerem a criação de alternativas aos paradigmas estabelecidos, buscando a nossa existência e possibilitando a existência de todos.

Taís de Almeida Costa

Cursou Pós-Graduação (Lato Sensu) Pedagogia Crítica da Educação Física na Universidade Federal do Rio de Janeiro/ EEFD (2017). Possui Mestrado em Educação, Demandas Populares e Contextos Contemporâneos pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (2016). Possui graduação pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (2006). Atualmente é professor Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro e professor da Prefeitura da cidade de Nova Iguaçu. Tem experiência em Capoeira (Contra Mestre) e na área de Educação Física, com ênfase em Educação. taisagbara@oi.com.br Palavras-chave: educação escolar, relações étnico-raciais, formação de professores, racismo.

Link para o texto: http://www. museuvivodosaobento.

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artigos Tarciso Manfrenatti de Souza Teixeira

Escritaformação:

a autonarração como dispositivo pedagógico para uma formação de professores “outra” Tarciso Manfrenatti de Souza Teixeira

Somos palavra e as palavras determinam o modo com o qual nos colocamos diante de nós mesmos e diante dos outros. Porém, não nos damos conta disso porque a palavra foi convertida em ferramenta, em mecanismo de controle.

“Ao decorrer daquela escrita, tive a oportunidade de vasculhar, assim como o narrador sucateiro benjaminiano, os meus escritos (diários), as minhas memórias, as lembranças que vivi com minha avó, com meus pais, familiares e professores que me ensinaram a disfarçar a minha cor; a camuflar os “desvios” de minha masculinidade”

Com isso, aprendemos a ter; não apenas, uma linguagem homogênea e higienizada; mas também, uma formação de professores prescritiva, tecnocrática e asséptica. Que retroalimentam um círculo vicioso, no qual (re)produz desigualdades. Então, como romper com esse ciclo vicioso? Como pensar em uma formação de professores “outra”? Uma possibilidade, é relembrar que somos organismos contadores de histórias. E, assim, podemos aprender-ensinar com as histórias que contamos e ouvimos. E, ao en-tramar nossas vidas em narrativas seremos capazes de fazer com que as diferentes histórias e acontecimentos vividos – ouvidos (vistos, lidos) – possam ser in-corporados para a re-elaboração das nossas tramas, dos sentidos que podemos criar para a compreensão de nós mesmos e do mundo. Sem falar que, teríamos a oportunidade de tirar as diversas histórias “outras” de sujeitos “outros” da invisibilidade e do isolamento.

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Um dos muitos bilhetinhos que minha avó escrevia para mim

Palavras-chave: Narrativas; experiência; escrita de si; formação de professores; produção de subjetividade.

Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação, Contextos Contemporâneos e Demandas Populares (PPGEDUC) pelo Instituto de Educação e Instituto Multidisciplinar da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Participante do Grupo de Pesquisa Laboratório de Estudos e Aprontos Multimídia (LEAM), coordenado pelo prof. Dr. Valter Filé (DES/UFRRJ) e do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas, Movimentos Sociais e Culturais (GPMC), coordenado pelo prof. Dr. Luíz Fernandes de Oliveira (DES/UFRRJ). Especialista em Educação e Relações Raciais do Programa de Educação Sobre o Negro na Sociedade Brasileira (PENESB) pela Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor de Língua Portuguesa e de Literatura Brasileira da Secretaria Estatual de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC/RJ). Professor de Língua Inglesa da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro (SME/RJ). Especialista em Língua Portuguesa pelo Liceu Literário Português (2009). Graduado em Letras/Inglês pela Universidade Castelo Branco (2014) e em Letras/ Literatura brasileira pela Federação de Escolas Faculdades Integradas Simonsen (2006). Desde 2006 é professor com atuação no Ensino Fundamental e Ensino Médio em escolas da rede pública e privada de ensino, além de atuar em ONGs e projetos sociais. Artigo completo: https://mega.nz/#!fCJ1xQpC!Mk9A8M1xLT6hNlp8pIJrZ2 hNDA1m3UNJbnpzsqSCXeY CONEXÕES

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A Síncopa TV o canal do LEAM

Link para o canal - via site: http://sincopa-tv.estudos eaprontosmultimidia. info/

As pesquisas desenvolvidas pelo nosso laboratório - que tem suas atividades articuladas a partir de um site na internet - têm buscado o estudo das imagens, das linguagens e das mídias e as diferentes formas de narrar o mundo. Consideramos as imagens, as linguagens e as mídias - suas produções, usos e consumos - como oportunidades para compreendermos melhor aspectos da sociedade brasileira e principalmente a produção, manutenção e naturalização do racismo, da discriminação e do preconceito.

O que estamos chamado de Sincopa? Muniz Sodré, no livro Samba o dono do corpo, diz: “A síncope é uma alteração rítmica que consiste no prolongamento de um som de um tempo fraco num tempo forte” (, p.25). Sodré fala da síncopa como resistência: “Era uma tática de falsa submissão: o negro acatava o sistema tonal europeu, mas ao mesmo tempo desestabilizava, ritmicamente, através da síncopa …” (Sodré 1998, p.25). Este é o nosso ponto de entrada, o ponto de entrada dos nossos corpos no mundo acadêmico. Corpos com os quais a universidade brasileira ainda não está habituada a vê-los nas salas de aula, nos cargos diretivos, como sujeitos. A inspiração, a empatia com este nome nasceu do projeto de memória de compositores de samba: o Puxando conversa. Um projeto que, a partir da produção do samba, das

memórias dos compositores tentou compreender como nós, negros/as fizemos/fazemos para sobreviver no mundo dos brancos? Compreender o movimento proposto pelo compositor Beto Sem Braço (compositor da Império Serrano) quando dizia: “o que espanta miséria é festa”? E, mais epecificamente: como o samba - ou seja, sua gente - fez para aparecer em diferentes espaços e sobreviver ao tempo? Como o samba fez para criar alternativas à esta organização tempoespaço colonial-capitalista?

Resolvemos, então, criar um canal no youtube. Um canal onde pudéssemos disponibilizar a nossa produção audiovisual. Uma produção que resulta dos nossos estudos, das nossas parcerias e dos esforços de formação, de experimentação e produção de material educativo. Mas que nome colocar neste canal? Resolvemos chamá-lo de SÍNCOPA-TV!

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No samba, a relação do ritmo e da re-organização dos espaços pela movimentação dos corpos pode se dizer que gira em torno da SÍNCOPA. Ela é o ponto de entrada do corpo e, com ele a materialização de outros tempos, a dinamização dos espaços… acontecimentos! Uma conexão tempo-corpo-memória-experiência como registro dos nossos trânsitos por muitos espaços. As diferentes possibilidades da efetuação das palmas, dos meneios do corpo e das pulsações como resultado do atravessamento do mundo, no corpo (e vice-versa). Ao convocar o corpo, a síncopa se torna, neste tipo de música, a abertura para outros mundos. A Sincopa TV, portanto, é a oportunidade de convocarmos os corpos-memória e suas narrativas que oferecem suas experiências. Uma webTv que realimente as nossas pesquisas, as nossas práticas educativas, a nossa militância para a nossa vida em sociedade em busca de um mundo sem racismo, sem desigualdades.

AS WEBTVs

TV é a abreviatura de TeleVisão. A ideia de televisão sempre esteve associada as emissoras que transmitem os programas que entram nas casas das pessoas, seja pela ar, captados por antenas ou por cabos físicos. Porém, com a iternet, ou seja, com a possibilidade de transmissão e compartilhamento de dados - textos, fotos, audio e imagens em movimento entre computadores conectados na web, e com as plataformas em que se pode armazenar vídeos - como o YouTube e Vimeo - (só para ficar nas duas mais populares no Brasil) esse conceito de televisão, ou seja, de TV mudou. Apareceram as websTVs. E quais foram as mudanças mais significativas? Primeiro, a mudança que veio com a internet, com as redes sociais. Se nas TVs tradicionais poucos produziam e trasmitiam para

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muitos (e no Brasil menos de uma dezena de famílias são donas das maiores empresas de comunicação) na internet, muitos produzem para muitos. Ou seja, qualquer pessoa pode abrir um canal no YouTube, por exemplo, e tal canal pode ser assistido por qualquer pessoa, em qualquer lugar do planeta e a qualquer hora. Isso implica na variedade de oferta de coisas para assistir, na ampliação do leque das abordagens dos assuntos, etc.

Para saber mais: cultura do remix; quem controla a mídia no Brasil; sobre web tvs.

Outra mudança, em relação às TVs da era eletrônica está na facilidade de produção de um vídeo que hoje pode ser feito com um celular. Outra mudança significativa está no fato de que aqueles que assistem TV não ficarem mais presos aos horários das emissoras. Os programas, os vídeos podem ser assistidos em qualquer momento e em diferentes tipos de telas e podem ser compartilhados, remixados, inseridos em outras narrativas, atuando dentro de outros contextos, produzindo um novo fluxo nas possibilidades de produção/reprodução/recriação de narrativas audiovisuais que se juntam a outras expressões simbólicas.

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arte e CULTURA

Museu Vivo do São Bento Leidiane Macambira com informações extraídas do site do Museu

Há mais de 20 anos o atual percurso do Museu Vivo do São Bento é visitado por alunos, professores, moradores, pesquisadores, brasileiros e estrangeiros, que, transitando pelas diferentes marcar deixadas pelos homens, realizam um esforço de leitura dos vestígios materiais e do próprio território, decifrando, interpretando e afirmando a importância desses lugares de memória como bens históricos e culturais, como patrimônio a ser preservado.

Visita guiada Através de agendamento prévio e gratuito, o visitante fará um lindo e educativo passeio pelo Bairro São Bento. Com a ajuda de um guia conhecerá a história construída na

Já pensou em visitar um museu em que suas exposições não ficam presas somente dentro das quatro paredes de um edifício? O Museu Vivo do São Bento tem essa impressionante característica! Localizado na Baixada Fluminense, desde 2008 (Data de criação oficial), 20

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no Bairro São Bento – Duque de Caxias, o Ecomuseu de Percurso “é uma casa onde se guardam e se revelam muitas histórias, e como Museu de Percurso, é visitando o seu território e suas diferentes temporalidades que essas histórias são descobertas.”

localidade, presente através de edifícios e artefatos, chegando até 14 pontos de visita. Veja alguns desses pontos. Casa do administrador: um imóvel que como o nome sugere serviu de moradia para o administrador do Núcleo Colonial São Bento. Hoje a edificação situa-se no campus da FEUDUC e abriga a “Casa da Pesqui-

sadora Marlúcia Santos de Souza”, instância de pesquisa da Faculdade voltada para integrar as áreas de conhecimento da Instituição e coordenar esforços de pesquisa sobre a Baixada Fluminense. Telégrafo: o imóvel abrigou ao longo dos anos 40 e 50 uma unidade de Telegrafia do governo Federal que servia ao Núcleo colonial em particular e ao município do Rio de Janeiro, nessa época capital do país, como um todo. O pesquisador Rogério Torres afirma que a notícia do fim da segunda Guerra Mundial chegou ao país através dessas instalações.

“É um museu diferente dos outros, fica espalhado pelo bairro!” (Depoimento de um visitante)

Esporte Clube São Bento: Estas edificações serviram, em tempos coloniais, como casa de Farinha da Fazenda São Bento do Iguaçu. Em 1948, suas instalações foram ampliadas e constituiu-se o Esporte Clube São Bento para servir de área de lazer da comunidade. Em CONEXÕES

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Exposições de longa duração

Cursos livres Jovens Agentes do Patrimônio Trata-se de “uma ação de educação patrimonial-museal sonhada com o intuito de fortalecer vínculos de aprendências, com a comunidade do grande São Bento, sempre a partir de abordagens que se articulam em torno de memória – patrimônio – afetos, a fim de que os jovens possam se construir identitária e discursivamente na relação consigo mesmos, com o outro e com o ambiente.

www.museuvivodosao bento.com.br/ exposicoes/fazendade-iguacu

www.museuvivodosao bento.com.br/ exposicoes/sambaquido-sao-bento

Exposições itinerantes

www.museuvivodosao bento.com.br/ exposicoes/lentes-damemoria

www.museuvivodosao bento.com.br/ exposicoes/mulheresem-movimento

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Mais informações: www.museuvivodosao bento.com.br/projetos/ jovens-agentes-dopatrimonio

Os jovens Agentes do Patrimônio experienciam sair do seu lugar para vê-lo de fora. O convite feito é conhecido: “estranhar o que é familiar. Tornar familiar o que é estranho”. seu campo de futebol, além dos jogadores amadores da própria comunidade e atletas do próprio Esporte Clube São Bento, atuaram expoentes do futebol nacional, como o craque Garrincha e Roberto Dinamite, cuja família, que ainda vive no bairro. Sítio arqueológico Sambaqui do São Bento: O sítio arqueológico Sambaqui do São Bento é uma riqueza patrimonial da cidade, da região e do país. Trata-se de um sítio arqueológico de encosta formado por empilhamento de conchas de moluscos, carapaças de crustáceos, ossos de peixes, aves e pequenos mamíferos, que foi progressivamente coberto por solo e vegetação e que revela os aspectos da vida dos primeiros habitantes

do litoral brasileiro, os chamados “Povos do Sambaquis”. A palavra sambaqui, na língua tupi, significa literalmente “montanha de conchas”. Margens do rio Iguaçu: No âmbito do percurso, temos a oportunidade de observar as margens do Rio Iguaçu em diversos pontos. Trata-se do maior rio da Baixada Fluminense e importante via de acesso para a colonização da região. Hoje se encontra muito degradado pela poluição residencial e industrial. Além da visita guiada, há também exposições de longa duração, itinerantes e temporárias. Além disso, há também a oferta de cursos livres gratuitos que acontecem toda semana.

Mulheres artesãs Um grupo composto por mulheres artistas-artesãs. Elas veem do São Bento, da Vila Rosário, do Pantanal, da Vila Santo Antônio… Cada uma delas traz consigo saberes ancestrais e imaginários de liberdade que simbolicamente tornam-se possíveis através da arte. Através de múltiplas linguagens e sabores, numa ambiência afetiva e reflexiva, elas ensinam e aprendem, trocam e experimentam a arte no mistério, nas conversas, nos desejos, na dúvida, nas diferenças, no coletivo.

Mais informações: www.museuvivodosao bento.com.br/projetos/ mulheres-artesas

Site do museu: http://www.museuvivodosaobento.com.br/ Facebook: https://www.facebook.com/museuvivodosaobento/ Youtube: https://www.youtube.com/channel/UCTn2SRVgSrPMq-BbJzssNfQ Instagram: https://www.instagram.com/museuvivodosaobento/ Localização: Rua Benjamin da Rocha Junior, s/n, São Bento, Duque de Caxias, RJ (21) 2653-7681 CONEXÕES

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