Cultura Pará - 30 poetas | 30 poemas

Page 1

plaquete

Cultura Pará 30 poetas | 30 poemas

Ademir Braz Age de Carvalho Ailson Braga Aiton Souza Alfredo Garcia Bragança Andreev Veiga Antônio J. Siqueira Antônio Moura Aristóteles Miranda Dând M Daniel da Rocha Leite João J. Paes Loureiro Joãozinho Gomes Jorge Andrade Jorge Henrique Bastos

José Maria Vilar Josette Lassance Karina Jucá Laura Nogueira Lilia Chaves Marcílio Costa Max Martins Ney Ferraz Paiva Nicodemos Sena Paulo Nunes Paulo Vieira Pedro Vianna Rosângela Darwich Ruy Barata Vicente Franz Cecim

Plaquete poética comemorativa pela passagem dos 18 anos do site Cultura Pará. Belém | Pará 2015



plaquete

Cultura Pará 30 poetas | 30 poemass

Plaquete poética comemorativa pela passagem dos 18 anos do site Cultura Pará.

Belém | Pará 2015



30 Poetas

Ademir Braz Age de Carvalho Ailson Braga Airton Souza Alfredo Garcia Bragança Andreev Veiga Antônio J. Siqueira Antônio Moura Aristóteles Miranda Dând M. Daniel da Rocha Leite João de Jesus Paes Loureiro Joãozinho Gomes Jorge Andrade Jorge Henrique Bastos José Maria Vilar Josette Lassance Karina Jucá Laura Nogueira Lilia Chaves Marcílio Costa Max Martins Ney Paiva Nicodemos Sena Paulo Nunes Paulo Vieira Pedro Vianna Rosângela Darwich Ruy Barata Vicente Franz Cecim

09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38



Criado em 1997 pelo web designer e poeta Vasco Cavalcante, como uma página cultural para lançamentos de exposições e vitrine para os artistas da terra, o site Cultura Pará cresceu, e tornou-se não apenas fonte de pesquisa sobre a produção artística, mas verdadeiramente um guia para os que, ao longo desses anos, quiseram conhecer um pouco da produção de Belém e outros municípios paraenses, no que se refere à pintura, literatura, fotografia, música e teatro. Além das informações sobre as várias expressões artísticas da cidade, o site possui dados biográficos de artistas plásticos e escritores, e de vários museus e galerias da região. Há 17 anos mantém uma agenda semanal, contendo informações sobre eventos culturais como shows, exposições, espetáculos e lançamentos de livros. Maria Christina



Ademir Braz

culturapara.art.br

Quando saem os tigres Mal freqüento esta casa em que os frutos apodrecem sobre a mesa. No entanto, trouxe flores – duas, que fizeram bem aos olhos na rua e deram essa ilusão de ter quem recebê-las. (Quando puder consumir-me, talvez a casa não será imensa nem a solitude tanta nem no espelho brotarão gerúndios). Trouxe também n’alma a vaga sede dos pântanos e no coração um sobressalto. Enquanto ponho n’água as flores soturnas penso que os astros aconselham um largo passeio (sozinho) pelos lugares que você gosta e penso nos lugares que gostaria e não os acho em meio a esta enorme sedução. Quem estará hoje nas ruas? Os loucos e os distraídos... E eu, sairei? Sim, sairei... Talvez eu siga existindo por uma rua que me faça lembrar dos acenos que chamam a aurora sem degredos a tessitura da pedra sob o orvalho a enegrecida substância do poema. facebook.com/ademir.braz.56 | ademirbraz@gmail.com

9


Age de Carvalho

culturapara.art.br

Andar juntos Dois pontos na distância, vistos do alto desses anos: éramos nós descendo, manoelbarata, a cidade a caminho do centro gasparviana santantonio frutuoso de nós mesmos, mercedários pelos pés alados da poesia, campossales, sempre na direção de quem vem, vai e foi num abril de 80, castilhosfrança até o mercado quando começamos a andar subindo a recém-praçadoaçaí para sair no alto do forte, juntos.

culturapara.art.br/Literatura/agedecarvalho

10


Ailson Braga

culturapara.art.br

Desterro Ah, aquele campo de sombras! Vultos trabalhavam pelas raízes dos jambeiros. Umedecidas as plantas dos pés, o menino dava seus olhos ao verde, sentia seu corpo avançar para baixo, com sol e lua a mediar seus espaços. As peles entre os dedos, território de líquidos. Ah, aquela dor das urtigas! Fogo veloz sob a pele branca dos pés do menino. Tudo estava quieto; arrepio da epiderme no calor das tardes de junho. Escorria de dentro dele o silêncio, como se fosse chão que nunca havia visto o mundo, um desterro maldito e inevitável daquela infância que se diluía em fugas pelo quintal. Uma espécie de esquecimento morno tombava a vontade do garoto. Ele teve um assombro de gente grande, atrás dos troncos encalhados no mar de capim rasteiro. Um pássaro negro rasgou o céu sem nuvens – azul de languescer-se – sem pio, sem canto. Um voo em silêncio assustador. E em tudo aquele cheiro de mato cortado. Folhas bailavam em redemoinho de vento perdido. A sombra do menino riscava o muro de tijolos. O limo crescia pelos cantos esquecidos. O cheiro de terra invadia a casa e os outros quintais. Capinação deixava expostas raízes que dormiam seu sono de chão e húmus. Touceiras de capim desprendiam aromas terrosos. A tarde se perdia no tempo, colocava asas vermelhas no fim do dia. Antes de tudo enegrecer, o menino corria para a goiabeira e deixava que a frieza daquele tronco liso e gelado lhe trouxesse um pensamento solto no vento geral. A goiabeira trocava de casca, serpente vegetal. Ah, aquela luz nas folhagens! Crescer era uma amargura secreta, trazia agonias feitas de cortes profundos. Raízes amputadas previam dores arbóreas. Angústias o tocaiavam nas esquinas das ruas. Ele espiava tudo aquilo do altar solitário de sua meninice. Os dias escorriam pelas paredes de hera. A vida não precisava de Deus. facebook.com/ailson.braga.75 | ailsonbraga@gmail.com

11


Alfredo Garcia Bragança

culturapara.art.br

Ser Árvore Ser árvore; amanhar entre as manhãs os musgos, os mênstruos da seiva, em si, cipós de sóis estendidos ao porto do ser. Ser árvore, entre-lugar algum onde pousam asas indecifradas de pios roufenhos e um rio sopra uma ária breve emaranhada de manhãs.

facebook.com/alfredo.garcia.1800721 | alfredogarcia61@gmail.com

12


Airton Souza

culturapara.art.br

auscultar a genética do chão auscultar a genética do chão ácido rumor que é árido em vão genocídio silencioso sarjando pétala a pétala desta ruída camélia que aprendeu afrontar os olhos sazonais conduzo na boca o gosto sibilino de investigar caminhos sem fim o homem por não sustentar-se só oblitera minha crença no que foi verdade ontem sustento no dorso a óbvia mentira de agora mas levo no bolso um ramo de céticos girassóis para o instante de obsessiva desilusão.

facebook.com/souzamaraba | souzamaraba@gmail.com

13


Andreev Veiga

culturapara.art.br

diabo e deus a obra encarna no que deus nos toma e o diabo reza para que do cativo céu possa chover o trabalho inteiro de um dia de ruminar vermelho branco azul escuridão enquanto por distração da boca do diabo é mencionado ar chuva sol e uma espuma na areia tomando emprestado o vazio de deus

facebook.com/andreevveiga | andreevaugustoveiga@gmail.com

14


Antonio Juraci Siqueira

culturapara.art.br

Nado interior No espelho do poema eu me reflito metáfora de mim: anjo & demônio Diante do poema eu me desnudo: retrato em preto & branco do que sou No ventre do poema eu me traduzo diluído em palavra: imagem & som No escuro do poema eu me procuro e encontro sempre alguém que jamais fui Nos braços do poema eu desfaleço e acordo renovado: seiva & flor.

facebook.com/Juraboto | juraci_siqueira@yahoo.com.br

15


Antônio Moura

culturapara.art.br

Arte poética Nada se assemelha a esta dor. A de compor um teatro de sombras à estranha luz do nascer e se por sobre o dorso claro do deserto, entre as escuras sendas do incerto que se espalham serpes ao redor. Nada se compara a esta alegria. A de queimar, a céu aberto, a mácula, o dinheiro impresso nos estúdios do diabo – e escutar entre as ruínas do pensamento, o girar desta chave – porta que só se abre por dentro

facebook.com/antonio.moura.900 | antonio5106@hotmail.com

16


Aristóteles Miranda

culturapara.art.br

ater-se em mim, ator do tempo, o reflexo inanimado do que seria e buscar em ti, como num templo, o ardor da paixão – círio que bem ardia – atar-me em ti, corpo-corda entretecido, e regalar-te à seiva, estranho musgo rubro, às entranhas como em pele atol de nós, que do coral levanta além do bravio mar, farol plantado em rocha, ainda que tênue luz intensa tocha

facebook.com/aristoteles.guillioddemiranda | guilliod@ufpa.br

17


Dand M.

culturapara.art.br

oh sim

posso barganhar com o tempo pra te trazer de volta ao meu abrigo te conduzir até o esconderijo onde não existo sussurrar versos ou nada disto nas noites sem fim alinhavar teu corpo com a nudez do meu por capricho nele escrever cantos / pedaços de ti em mim / depois me lamber dar um tiro escarrar anunciar : não amo ninguém oh não eu te amo

facebook.com/dandm | dandbranco@gmail.com

18


Daniel da Rocha Leite

culturapara.art.br

a uma hora qualquer da madrugada quando se calam os corpos e esse céu submerso se acende música marinha de um teu silêncio o meu rio congelado liberta um cometa doente

nos teus olhos o vapor de uma palavra queima o inverno de uma memória feito carta tardia dedos que leem vazios adormecidos lemos um do outro o mundo que procurávamos em todas as noites a primavera da água o sangue vida da árvore o silêncio sagrado da pedra a vinda do amor na fé do orvalho adormeces esse quarto é a estrela caindo silêncio incandescente dentro de nós lá fora o sol ainda é um menino febril.

facebook.com/danieldarocha.leite | poema33@gmail.com

19


Jo茫o de Jesus Paes Loureiro

culturapara.art.br

Fragmento

N贸s somos o caminho que escolhemos. O caminho por onde passo guarda-me e eu sou o caminho por onde passo. E embora passe eu fico no caminho por onde passo. E vai o caminho comigo, caminho que fica por onde passo. E passa. E passo. Ficamos.

facebook.com/pages/Paes-Loureiro | jjpaesloureiro@gmail.com

20


Joãozinho Gomes

culturapara.art.br

Maldito Para que me tenhas em ti e a rosa sangre em minhas mãos espremida e morta, Maldoror mutilou-se em praça pública à luz infernal de Lautréamont. Testículos entre os dedos, o cão prostrou-se aos meus pés, exangue, - cobiça de abutres, o diabo!) e implorou que eu a violasse para que me tenhas em ti e a rosa sangre em minhas mãos espremida e morta. (maldito; verme dos porões invioláveis! Estraçalha-o com teu grito!

facebook.com/joaozinhogomesg | aflechapassa@yahoo.com.br

21


Jorge Andrade

culturapara.art.br

Gato e poema Um poema é como um gato Guardadas as proporções Do salto Salvo seu pelo macio O medo de água Gato e poema É um sobressalto

facebook.com/jorge.andrade.3994 | andradamente@yahoo.com.br

22


Jorge Henrique Bastos

culturapara.art.br

Morta O teu suicídio líquido inundando-me o corpo anoitecido entre folhas a folia do teu riso e o gume do silêncio lancina a ferida. A lágrima morta seca sobre a pedra. A luz sidérea corta os olhos ocos e a palavra apocalíptica te ensina e assina sobre o túmulo o título do sangue. É o teu poder e a tua denúncia a chuva cai soletrando a pedra.

facebook.com/jorge.henriquebastos | jorgehenriquesbastos@gmail.com

23


José Maria Vilar

culturapara.art.br

Maldito O barranco guarda um duro silêncio enquanto espia calado homens, peixes e pedras. Só passos varam-lhe a calma. Só o vento perfuralhe a alma. Em um silêncio que incomoda, o barranco murmura em sílabas (inaudíveis) o que em vão decifra: o nada e o vazio!

culturapara.art.br/Literatura/josemariavilar

24


Josette Lassance

culturapara.art.br

Chove A casa de janelas vazias Se fecha D. Vinoca em pé Chão de barro Paredes de barro O alguidar no jirau colhe as pétalas de água Um aroma de lenha Destila D. Vinoca Tão pequena Vestido de chita Me desenha um portal E caminha com seu tamanco de couro e madeira Sobre os trilhos do céu.

facebook.com/lassanpoetic | jlassance@gmail.com

25


Karina Jucá

culturapara.art.br

– summer set – com tanta gata lite rata miando hits do seu set deixa eu ser a sua mulata do gauguin do sommerset

facebook.com/karina.juca | karinajucah@gmail.com

26


Laura Nogueira

culturapara.art.br

Impressões da Tarde Entre as fibras do peito, espinhos da tarde. Sereno da tua presença na epiderme da cidade. Depois do porto, infinita linha (Ali dormem as horas entre farpas de esquecimento). Úmidas as pessoas, briófitas coloridas. As bancas de jornais guardam da chuva. A guerra encanta colorida das revistas. O dia é capa de chuva fechada sobre o rosto. Saudade, fera cansada de matar. Das janelas de um trem afiadas mãos Cortam o ar. Choro magro de meninos adornam portas. E não há trens, mãos, meninos. Tudo é fotografia descolorindo o peito. Só há chagas quadradas dos edifícios, Zinco da banca de revista. O ter partido para uma guerra toda a vida. O ter amado como se pudesse desertar.

culturapara.art.br/Literatura/lauranogueira | lauranog@yahoo.com.br

27


Lilia Chaves

culturapara.art.br

desmesura em uma lua anterior ao mundo ocultavam-se as angústias na imperfeição do tempo luamo-nos - semicírculos infinitos – na partitura das paixões ora finda-se o sol transfigurado e morrem pedras ao nosso silêncio por que senso de dor cala-se o instante desmesurado em futuro ?

facebook.com/lilia.chaves | palpebras@uol.com.br

28


Marcílio Costa

culturapara.art.br

a irmã

para marcilene

escuto tua queixa vinda em olhos frios encarar-te assim olhos errados névoa que nos aproxima barco entre marolas de dedos abismos virtuais toda essa bagagem de distâncias nessa caixa de gritos envelhece ainda mais nossa infância

culturapara.art.br/Literatura/marciliocosta | verso30@gmail.com

29


Max Martins

culturapara.art.br

Arco, da Lua negra sobre os ombros E as antenas trêmulas Bocas de violência alegre errando entre fibras e febre ácida O i do fio da lâmina o gosto cítrico de um sim enfim afim do som que o teu silêncio chama

facebook.com/pages/Max-Martins | culturapara.art.br/Literatura/maxmartins

30


Ney Ferraz Paiva

culturapara.art.br

IMAGEM DO VELHO POETA QUE SE EXERCITA COM PESO DE PEDRAS DO MUSEU DE OLYMPIA

tenho fumado uns cigarros um pouco de tabaco faz eu me sentir menos esquisito sem cigarro não consigo escrever aquele prefácio nem consigo fazer a barba ficar bonito tenho uns amigos que sem fumar conseguem ser bons poetas em Curitiba em Belém não consigo escrever uma linha tenho uma filha que só lê Dostoievski sem cigarro eu não consigo ter influências tenho rixas detratores maus antecedentes não sou terno com plantas gatos crianças nem mesmo eu me suporto gosto de mim que posso fazer sem cigarro me desgasto faço mais concessão plágio gato & sapato poeta insignificante rindo à-toa vive caindo tropeçando nas etiquetas comuns da língua aí é que são elas eu não consigo a memória despedaça até mínimos trechos da Odisseia tenho agora cinquenta anos sou de 15 de outubro Rimbaud de 20 já te aviso ele fica belo forte tranquilo sem cigarro não consigo

facebook.com/neyferrazpaiva | neyferrazpaiva@gmail.com

31


Nicodemos Sena

culturapara.art.br

Mundo Invertido (excerto do conto)

De volta à cabana, encontrei a mulher sentada na rede, os olhos bem abertos entre as negras olheiras, mas nada parecia ver. – O nosso menino te chamou lá da roça – disse ela, mas sua voz não era humana, parecia vento na boca duma cabaça. – Estás ouvindo? Ele te chama! Falava sem mover os lábios, e o corpo não se mexia. Sob a luz tênue da lamparina, o rosto encovado da mulher tinha cor de cera. – Deita-te, mulher! – disse-lhe, procurando inutilmente incliná-la, pois seu corpo não cedia, por mais que o forçasse, e a pele estava fria. Então o meu peito doeu, um nó cresceu-me na garganta, e os olhos – secos de uma vigília que já durava alguns dias – umedeceram-se. Tomado pelo desespero, por longo tempo chorei, até não ter mais lágrimas para chorar, restando um sabor amargo na lembrança. Estendi o corpo da companheira sobre uma esteira, no centro da cabana, enquanto ouvia, lá de fora, a voz de um menino que me chamava. Pegando a flecha, saí ao encontro da voz. – Papai, vem cá, estou perdido! – gritava, no meio da noite, a voz de menino. Já correndo pelo mesmo caminho que me levava todos os dias ao trabalho, pois daí parecia vir o chamado, pensei: “Se eu trouxer o menino, ela se acorda”. – Estou indo, filho! Tua mãe quer te ver, onde estás? – respondi. – Estou aqui, vem rápido! – tornou a voz de menino.

letraselvagem.com.br/pagina.asp?id=30 | nicosena@uol.com.br

32


Paulo Nunes

culturapara.art.br

O Labirinto Tua espada, farfalhante, Almeja o taurus, E seu coração funicular. Cada passo, cadafalso, o perigo. E se me assusto, te intuo. Se me assustas, insinuo. A lâmina trespassará tua frase, Serás crase, na minha aventura faltal, Fatal: a lacuna. Por que me inspiro transpiro o teu faro, Minos: reino no qual me perdi. Quero apenas ver de novo teu olho, Ariadna, E nem saberei mais o que é Labirinto das veias que correm, Escorrem, No corpo vivo da tua cidade.

facebook.com/paulo.mnunes.14 | pontedogalo@gmail.com

33


Paulo Vieira

culturapara.art.br

fera em nome de estar só atravessava até sete noites para ver germinar apenas um mísero sol sobre o muro do horizonte, solanêmico, deficiente de ferro e de fogo amarelado nunca apraz ou abrasa a solidão em nome de estar só parava na noite sem atravessá-la e era crivado de estrelas como de balas, por destoar da engrenagem rodopiante suspensa e firme, embora sem alicerces – céu que enjaula os pássaros enquanto pensam que estão voando em nome de estar só deixava que a noite o atravessasse como de praxe, orgulhoso mas honesto, e via que os vácuos se comovem na passagem dos cometas, que nos espaços entre planetas, entrelinhas do universo, cabem risos de ironia facebook.com/pauloforest | vieiranembeira.blogspot.com

34


Pedro Vianna

culturapara.art.br

dívida ó ávida diva à deriva a dúvida é dádiva da vida vívida ave vadia dividida entre o devir e a ida facebook.com/pedromartinsviannaneto | pedroviannaneto@gmail.com

35


Rosângela Darwich

culturapara.art.br

A palavra que engolia todas as outras estava me deixando muda. Ela era um peixe e eu era a margem para coisas mortas. (Quero dizer que estava longe, criando uma palavra gorda). Imagine aqui, em primeiro plano, uma flor pequena. Não tendo a ver com a história, ela é o poema.

facebook.com/rosangela.darwich | rosangeladarwich@yahoo.com.br

36


Ruy Barata

culturapara.art.br

Auto-retrato Entre a espuma e a navalha sou legenda. O espelho neutraliza o ângulo da morte, a barba estrangulou a metafísica e o problema do mal é bem remoto. Aqui sim ! Aqui resistirei à mímica, ao dicionário e ao laboratório ! - a herança do punhal brilha de novo - o fantasma de Abel não me intimida. Vejo a testa crescer entre espirais de fumo, o olhar que não vacila, da ruga a pré-história e o peito rasgado pela fúria do poema. Aqui sim, aqui iniciarei a espécie nova, aqui derrotarei o homem-harpa e pronto estou para a descoberta do sexo. O pincel dá-me o poder do patriarca, a navalha reduz a timidez e o medo, o palavrão rola na boca e salva o mundo.

culturapara.art.br/Literatura/ruybarata | culturapara.art.br/rbarata/ruy.htm

37


Vicente Franz Cecim

culturapara.art.br

A senha é não sonhar teu nome Pois se também és forma sólida da música: o sino, e o homem é planta em sua estação de fruta do alto das atenções simuladas, sem o artifício nulo conspirando pelo talo do teu corpo perdida está toda a colheita Te toca a voz anunciando a quebradiça que se dobra, imóvel junto a um muro está o muro

facebook.com/vfcecim | vfcecim@oi.com.br

38


culturapara.art.br

— Cultura Pará — Ademir Braz, Age de Carvalho, Ailson Braga, Airton Souza Alfredo Garcia Bragança, Andreev Veiga, Antônio Juraci Siqueira Antônio Moura, Aristóteles Miranda, Dând M., Daniel da Rocha Leite João de Jesus Paes Loureiro, Joãozinho Gomes, Jorge Andrade Jorge Henrique Bastos, José Maria Vilar, Josette Lassance, Karina Jucá Laura Nogueira, Lilia Chaves, Marcílio Costa, Max Martins Ney Ferraz Paiva, Nicodemos Sena, Paulo Nunes, Paulo Vieira Pedro Vianna, Rosângela Darwich, Ruy Barata, Vicente Franz Cecim. Acácio Sobral, Alaxandre Sequeira, Andréa Feijó, Antar Rohit Armando Queiroz, Armando Sobral, Carla Evanovitch, Danielle Fonseca Elieni Tenório, Emanuel Franco, Emmanuel Nassar, Geraldo Teixeira Haroldo Baleixe, João Cirilo, Jocatos, Jorge Eiró, Keyla Sobral Klinger Carvalho, Lise Lobato, Lúcia Gomes, Marcone Moreira Marinaldo Santos, Nina Matos, Osvaldo Gaia, Paulo Andrade PP Conduru, Ronaldo Moraes Rêgo, Ruma, Simões. Abdias Pinheiro, Alberto Bitar, Ana Catarina, Arthur Leandro, Ari Souza Bárbara Freire, Cláudia Leão, Daniel Cruz, Dirceu Maués, Eduardo Kalif Elza Lima, Érika Nunes, Flavya Mutran, Geraldo Ramos, Giancarlo Franco Guy Veloso, Janduari Simões, Luiz Braga, Maria Christina Mariano Klautau Filho, Miguel Chikaoka, Nailana Thiely, Octávio Cardoso Orlando Maneschy, Patrick Pardini, Paula Sampaio, Paulo Amorim Paulo Santos, Roberto (Bob) Menezes, Shirley Penaforte, Walda Marques. Anthares, Atores Contemporâneos, Cia de Teatro Madalenas Grupo Cuíra do Pará, Grupo de Teatro Palha, In Bust Nós Outros, Palhaços Trovadores, Usina de Animação. facebook.com/groups/culturapara | vasco@culturapara.art.br

39


Plaquete literária comemorativa pela passagem dos 18 anos do site [ Cultura Pará ]

Uma enorme satisfação eu tenho em lançar esta plaquete nesse momento tão importante para mim e para o projeto Cultura Pará, que sobrevive e se expande ao longo do tempo, dentro de sua proposta de mostrar nossos artistas e seus maravilhosos trabalhos inspirados por essa realidade genuinamente amazônica em que vivemos. Vasco Cavalcante

Apoio:

Alves


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.