Victor Del Franco
Louco
ARCANOS
Copyright p 2016 - Victor Del Franco Este livro, integral ou em partes, pode ser usado para fins não comerciais desde que sejam citados o nome do autor, o nome do livro e o link correspondente.
Capa, projeto gráfico e revisão: Victor Del Franco Ilustrações: Adaptação gráfica de Victor Del Franco usando como referência as ilustrações de Ferdinando Gumppenberg (primeira metade séc. XIX)
victordelfranco@gmail.com http://issuu.com/vdfranco
Franco, Victor Del, 1969 Arcanos / Victor Del Franco. a 1 edição - São Paulo: Edição do autor, 2016. 1. Poesia brasileira I. Título.
Fevereiro, 2016 Publicado na Internet
Victor Del Franco
ARCANOS
BREVE APRESENTAÇÃO
Arcanos é um poema que foi composto em 22 cantos, ou melhor, 22 arcanos. Cada um dos cantos/arcanos corresponde a uma carta do tarô. Este poema foi escrito em janeiro de 2016, por conta de uma proposta de criação literária do Coletivo Palavraria que se reúne na Casa das Rosas em São Paulo. Expresso aqui minha gratidão a todos os integrantes do Palavraria. E também agradeço aos poetas Carlos Felipe Moisés e Tarso de Melo pela leitura em primeira mão e seus respectivos comentários e observações sobre o poema. O louco alucinado é um cigano que ouve soprar o vento e assobia e depois lê a sorte nos arcanos. A roda do destino continua a girar e a sorte está lançada. Boa leitura.
VDF
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Louco
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O louco alucinado segue em frente pelo caminho incerto e sem atalho, leva consigo as cartas do baralho e embaralha os destinos de repente. E nessa trajetória tão presente o mundo gira e gira mais precário, e essa esfera tão frágil é o cenário onde a vida acontece intensamente. Poder e amor cantados em poesia compõem a travessia e o teatro humano que esmorece e renasce a cada dia. O louco alucinado é um cigano que ouve soprar o vento e assobia e depois lê a sorte nos arcanos.
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Imperador
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E depois lê a sorte nos arcanos na presença sem paz do imperador que já foi operário em seu labor e hoje encara o poder e seus enganos. No meio do palácio entre os insanos a crise segue aberta em seu furor, os dois lados se enfrentam com ardor num combate acirrado pelos anos. No entanto, a alma é o campo de batalha onde o conflito é sempre mais constante pois o bem e o mal ardem na fornalha. E o louco diz: – Quer paz perseverante? Então siga no fio dessa navalha firme e pronto pra guerra tão errante.
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Imperatriz
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Firme e pronta pra guerra tão errante, ouviu essa sentença a imperatriz em grande dissabor que não condiz com sua força interna e confiante. Mas uma trégua agora nesse instante talvez cure a ferida e a cicatriz se houver a mediação de um bom juiz num acordo de paz muito importante. Mas um acordo é sempre complicado quando os tais interesses envolvidos encobrem um governo conturbado. Pois entre os condenados e bandidos o louco segue o rumo destinado mesmo contrário a todos os ruídos.
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Julgamento
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Mesmo contrário a todos os ruídos pelos caminhos tortos do momento o louco observa e faz o julgamento da sina de um poder tão corrompido. E ele diz: – Pelos erros cometidos esse atual governo é um lamento se não houver decência e entendimento o avanço de louvor será perdido, toda a nação está em retrocesso pois há conflito atroz na liderança e o povo se perdeu nesse processo, a esperteza roubou a confiança e a ganância é total com muito excesso mas ainda resiste uma esperança.
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Justiรงa
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Mas ainda resiste uma esperança que vigora e reside na justiça para que essa nação de alma mestiça nas ruas vá cantar com segurança. Porém, grande incerteza ainda avança e a vida continua imprecisa, a economia cai, desvaloriza e esse vento desfaz a tal bonança. Novas denúncias surgem todo dia e abalam a rotina do país que permanece em clima de agonia. Tudo parece agora por um triz sem estabilidade ou harmonia e o louco já não sabe a diretriz.
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Pendurado
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O louco já não sabe a diretriz pois tudo em volta está bem complicado e então vive perdido e pendurado numa crise tamanha e infeliz. Ninguém mais tem certeza do que diz e o povo segue agora inconformado tal como se estivesse abandonado sem emprego, sem rumo e sem raiz. E inconformado aceita o sacrifício de enfrentar essa crise com bravura mesmo que seja longa e bem difícil porque na fé o povo se assegura e aguenta qualquer dor, qualquer suplício diante da insensatez da conjuntura.
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Papa
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Diante da insensatez da conjuntura, em toda a geografia desse mapa, tem família apelando até pro papa na crença de acalmar essa amargura. Mas o melhor remédio é a cultura da pena bem mais forte que a espada com liberdade assim que não escapa: democracia maior que a ditadura. E o louco fica atento ao rebuliço das manifestações mais radicais, parecem que perderam o juízo querendo retornar aos generais. Esse caminho torto e impreciso não é bem-vindo agora e nunca mais.
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Diabo
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Não é bem-vindo agora e nunca mais o caminho infernal desse diabo que não esconde o chifre e nem o rabo em nocivos conchavos nacionais. E no abismo nefasto entre os boçais ninguém pode saber de imediato o que vai ocorrer ali de fato em meio a tantos ratos imorais. A nação fica em clima de protesto e acompanha as notícias divulgadas que apresentam sabor bem indigesto. – Quais serão as medidas adotadas? O louco se pergunta em claro gesto que revela as angústias mais veladas.
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Papisa
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E revela as angústias mais veladas que assombram a memória coletiva mas, no entanto, nem papa nem papisa podem fechar feridas torturadas. Cicatrizes não foram suturadas, ainda permanecem na baliza que demarca uma fase negativa das vivências que agora são contadas. Porém, o louco segue a trajetória e apesar de vocês e seus horrores estamos construindo uma outra história que estará na poesia dos cantores e em toda a melodia da vitória pra não dizer que não falei das flores.
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Mundo
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Pra não dizer que não falei das flores que sempre nascem belas pelo mundo durante o seu período mais fecundo sob o calor do Sol e seus fulgores. O mês do Carnaval entre mil cores faz o país cantar pleno em conjunto pra enfrentar desafio mais profundo que então virá feroz com seus rigores. Caminhando e cantando em sintonia o louco observa a festa e pode ver a força que vigora na alegria. Quem sabe faz a hora acontecer e o som que pulsa aqui com energia brilha intenso também no alvorecer.
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Roda do Destino
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Brilha intenso também no alvorecer o imprevisível ciclo matutino que movimenta a roda do destino em ampla imensidão de estremecer. A vida se transforma pra valer e um descuido pequeno e repentino pode gerar um triste desatino que faz toda a nação retroceder. As denúncias são muitas e constantes e a cada dia um novo personagem faz uma delação desconcertante pois a investigação pede passagem e o louco permanece bem pensante sobre o curso total dessa viagem.
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Carro
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Sobre o curso total dessa viagem que segue conturbada em pleno carro numa estrada central com muito barro e visão nevoenta da paisagem. Uma situação com pouca margem de manobra e que deixa um gosto amaro num governo geral que paga caro por erros que carrega na bagagem. E esse caminho é longo e tortuoso exigindo cuidado e paciência para evitar as garras do tinhoso. O louco fica atento e com prudência analisa o confronto perigoso que envolve uma vastíssima abrangência.
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Forรงa
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E envolve uma vastíssima abrangência a voz de uma nação em liberdade com toda a sua força de vontade ao se fazer ouvir com transparência. E mesmo que haja alguma divergência no conjunto de toda adversidade é sempre bem melhor pra sociedade o debate de ideias em vigência. Foi dito: – Cala boca já morreu! E um leão se combate a cada dia pois seria pior voltar ao breu. E o louco segue em tal filosofia lembrando a travessia que ocorreu na fase da abertura que alumia.
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Torre
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Na fase da abertura que alumia foi reconstituída a atual torre legislativa em todos os setores de um país que desperta em sinergia. E pra ter e manter a sintonia entre as leis, os poderes e eleitores que decidem nas urnas seus gestores é preciso uma fina simetria. E encontrar esse ponto equilibrado num complexo sistema estrutural não é fácil, porém mais adequado. E ao pensar no cenário ideal, o louco que caminha ensimesmado prossegue em sua sina pessoal.
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Eremita
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Prossegue em sua sina pessoal por uma trilha estreita onde medita e na qual ouve um sábio eremita que leva uma lanterna em bom sinal. E ele diz: – Siga sempre o ritual da sua consciência e então reflita com clareza naquilo que acredita e habita o coração em luz vital, em toda escolha existe preferência e aqui o que se faz, aqui se paga pois nessa estrada há sempre consequência. E a luz dessa lanterna se propaga enquanto o louco segue em confluência com o saber que envolve a sua saga.
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Temperanรงa
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Com o saber que envolve a sua saga ao longo da jornada ele descansa e as forças recompõe com temperança pra retornar ao rumo em via larga. E se houver dor e a lida for amarga, e se a crise aumentar sua cobrança ainda assim há brio em plena dança e a luz do coração nunca se apaga. Esse pulsar resiste em plenitude e se renova sempre afirmativo como se houvesse em si a infinitude. E o louco em seu espaço positivo retoma a caminhada com virtude e com atento olhar mais efetivo.
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Morte
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E com atento olhar mais efetivo observa assim o abismo e encara a morte e “Que país é este” canta forte conforme o rock em som claro e expansivo. E o que esmorece então renasce ativo feito um corpo repleto em pleno porte com energia interna em seu suporte que alimenta um espírito assertivo. Mas todos acreditam no futuro da nação, diz o verso do letrista e o louco expressa o seu desejo puro de viver num país com mais conquistas e mesmo que o abismo seja escuro um brilho de esperança está na vista.
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Mago
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Um brilho de esperança está na vista e alcança um horizonte muito largo como se fosse explícita num mago a sua previsão mais otimista. Mas pode ser que a crise então resista causando ainda dor e grande estrago em seu rigor severo e sem afago numa desolação bem imprevista. E é certo, não há mágica possível em toda atividade conhecida que resolva de forma indiscutível uma complicação grave e sofrida. Pois o louco ao pensar no imprevisível caminha pela estrada anoitecida.
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Lua
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Caminha pela estrada anoitecida e contempla a beleza que flutua em seus ciclos vitais a clara Lua que agora está repleta e atrevida. E a luz no firmamento refletida envolve todo olhar que assim atua e afirmativamente então influa na firme travessia dessa vida. E nessa austera estrada tão exposta, como se fosse incerto labirinto, o eterno acaso aumenta a sua aposta. E o louco segue alerta em seu instinto ao cultivar o amor como resposta que se expande num canto bem distinto.
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Namorados
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E se expande num canto bem distinto o encanto de um casal apaixonado que aproveita o luar dos namorados sorvendo a madrugada em vinho tinto. E no clima exemplar desse recinto onde o céu permanece afortunado novos sonhos de luz serão plantados nos corações felizes com afinco. E um brilho invade e passa pela fresta que pulsa intensamente ao esquecer por um instante a tal crise indigesta, pois o louco pressente com prazer o amor que se traduz em grande festa ao primeiro sinal do alvorecer.
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Estrela
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Ao primeiro sinal do alvorecer iluminando o amor, Vênus-romã, intensa e bela estrela da manhã que faz o dia exato amanhecer. E nesse espaço em pleno espairecer, como se incorporasse Aldebarã, o espírito esplandece no amanhã pois refeito em repleto renascer. O horizonte visível na fronteira já apresenta uma cor especial semelhante ao fulgor de uma fogueira. E o louco segue a trilha nacional com toda a sua fibra mais certeira em leve plenitude natural.
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Sol
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Em leve plenitude natural o Sol da liberdade em raios fúlgidos brilha no céu da frátria muito lúcido em sua claridade matinal. E nesse aberto dia inicial com todo seu calor vibrante e público o coração ainda pulsa múltiplo num pequeno planeta sem igual. E essa esfera tão frágil é o cenário onde a vida acontece intensamente num mundo a cada giro mais precário, pois nessa trajetória tão presente em seu ciclo dinâmico e diário o louco alucinado segue em frente.
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Victor Del Franco nasceu na cidade de São Paulo em 1969. • Editor da CELUZLOSE - Revista Literária digital e impressa (http://celuzlose.blogspot.com); • Durante o ano de 1994, participou das atividades do Grupo Cálamo realizadas na Casa Mário de Andrade; • Entre 1995 e 2005, produziu pequenos volumes de poesia chamados FÓTON (edição do autor); • Entre 2006 e 2008 colaborou com O Casulo - Jornal de Literatura Contemporânea; • Participou da organização da FLAP! de 2006 a 2008; • Em 2007, fez parte da organização do Tordesilhas Festival Ibero-americano de Poesia Contemporânea. • Desde 2015, participa das atividades do Coletivo Palavraria que se reúne na Casa das Rosas. • Livros publicados A urdidura da tramA (Giordano, 1998) O elemento subterrâneO (Demônio Negro, 2007) EsfingE (Dobra, 2012) A fluidez da aurorA (Patuá, 2014) • Livros traduzidos José Landa | Sons como os cascos de um galope (2010) Ricardo Quijano | A cor do céu (2011) Julio César Félix | Meus olhos em chamas (2012) Francisco Hernández | Minha vida com a cadela (2013) Jorge Esquinca | Descrição de um brilho azul cobalto (2013) Patricia Medina | Novela em verde e gris (2013) Esses livros foram editados através de uma parceria entre Mantis Editores (México) e Selo Sebastião Grifo (Brasil).
IN HOC SIGNO VINCES