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Marcio Rachkorsky
from Vero 257
RUÍDOS amorosos
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A NOBRE arte de viver em condomínio é um exercício incrível de paciência e tolerância e, não raramente, a solução é contar até dez, respirar fundo e evitar uma discussão. É tênue a linha que divide a sensação de viver livremente em seu espaço e a necessidade de respeitar o sossego alheio. A máxima de que “o meu direito termina quando começa o do outro” deve ser a linha mestra para delinear e delimitar as relações de vizinhança.
O tema barulho sempre foi o recordista de desavenças entre vizinhos e, com a chegada da pandemia, os condomínios residenciais viveram um fenômeno peculiar. Eis que as famílias ficaram confinadas em seus apartamentos, trabalhando, estudando e se exercitando em casa. Obviamente, o barulho passou a ser o maior vilão, ante a necessidade de maior silêncio para reuniões, aulas e provas, momento em que os pequenos barulhos do cotidiano, que talvez antes passavam desapercebidos, se transformaram em grandes incômodos. Em casa o dia todo, vizinhos passaram a reclamar até mesmo do choro do neném. Nunca vou me esquecer do caso do vizinho indignado com uma suposta obra no apartamento ao lado, por volta das vinte horas e, ao mobilizar todos no grupo do whatsapp, descobriu que se tratava apenas da sua vizinha batendo o bife para o jantar, coisa de cinco minutinhos.
Em tal contexto, um assunto bastante delicado, que vez ou outra surgia nos condomínios, voltou à tona com força total, qual seja: o ruído amoroso! O que fazer quando casais mais empolgados, emitem ruídos e gemidos que constrangem os vizinhos, especialmente durante o dia? Quase sempre e, naturalmente, a discussão acaba em boas risadas e soluções bem simples. Há quem diga que tudo não passa de pura inveja do vizinho reclamão. Fato é que o assunto, apesar de curioso ou engraçado, requer seriedade na abordagem e podemos aqui separar
três distintas situações:
– Casos mais leves e corriquei-
ros: representam a grande maioria das situações e tratam-se de casais sem a menor intenção de constranger os vizinhos. Produzem ruídos por mera empolgação e uma simples conversa, com abordagem gentil e leve é o suficiente para solucionar o conflito. O segredo é sempre o jeitinho para fazer a abordagem, com respeito e cordialidade. – Casos mais severos: são situações isoladas, em que os moradores deliberadamente escolhem constranger os vizinhos com ruídos verdadeiramente incompatíveis e, apesar de notificados, seguem com o comportamento lesivo e irresponsável, tratando a situação com escárnio. Devem ser advertidos, multados e alvos de medidas judiciais. – Casos criminosos: são raros e ocorrem quando o morador, além dos ruídos, passa a expor sua imagem física, propositalmente aos demais vizinhos, por vezes até envolvendo crianças que estão nos apartamentos vizinhos. Nestes casos, a polícia deve ser acionada e fica caracterizado, além do comportamento criminoso, a conduta antissocial.
Em tempos tão difíceis, namorar é um santo remédio e, aos casais que moram em condomínio, o segredo é a moderação. Afinal de contas, em alguns apartamentos, o isolamento acústico é péssimo!
Marcio Rachkorsky é advogado, especialista em condomínio, comentarista da TV Globo e Rádio CBN. Escreva para reportagem@vero.com.br e conte o que achou desta coluna!