REVISTA DA
HIDROVIA N째 1 / ABR2010
DO LAGO DE FURNAS
Novos caminhos para o desenvolvimento da regi찾o do Lago de Furnas
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A imensid達o do Lago de Furnas
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Editorial
As estradas na água são utilizadas desde a Antiguidade. Afinal, as hidrovias têm a seu favor um custo operacional muito baixo para transportar grandes quantidades de produtos por grandes distâncias. É especialmente vantajosa no caso de cargas de baixo valor em relação ao peso, como minérios. O uso adequado de uma rede hidroviária exige a construção de uma infraestrutura que envolve a abertura de canais para ligação das vias fluviais naturais, a adaptação dos leitos dos rios para a profundidade necessária ao calado das embarcações, a correção do curso fluvial, vias de conexão com outras redes, como a ferroviária ou rodoviária, etc. Os custos desses investimentos e sua manutenção, no entanto, são amplamente compensados pela boa relação custo-benefício desse modo de transporte, adotado em todos os países desenvolvidos do mundo. De modo geral, seus custos são infinitamente inferiores aos de outras alternativas de transportes. O Lago de Furnas nasceu para gerar energia, tendo como impacto ini-
cial o desaparecimento de tradicionais ligações entre os municípios de nossa região, principalmente ferroviárias. Perdemos o trem, mas ganhamos uma multiplicidade de usos: o reservatório da usina pode ser o leito ideal para uma hidrovia que nos permita transportar riquezas e promover a convivência entre culturas que têm tanto em comum. Fazendo do “Mar de Minas” um eixo de integração e desenvolvimento para a nossa região. A criação da Hidrovia do Lago de Furnas é uma bandeira que tem como objetivo principal o incremento das atividades econômicas em todas as cidades de seu entorno. É um projeto que está se tornando realidade, na medida em que ganha o apoio de importantes instituições como a Antaq (Agência Nacional de Transporte Aquaviário), a Comissão de Viação e Transportes da Câmara Federal, o Governo Federal e do Estado, prefeitos e lideranças dos 34 municípios às margens do Lago. Nossa luta está se fortalecendo, mas ainda há muito o que fazer. Ter a sociedade ao nosso lado, neste momento, é condição fundamental para chegarmos à vitória.
Foto: Renato Soares
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Perdemos o trem, mas ganhamos o mar
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Expediente
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Sumário Entrevista Nelson Lara..........................
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O transporte hidroviário no Brasil............. 08 Associação dos Municípios do Lago de Furnas - ALAGO DIRETORIA Presidente Nelson Alves Lara (Prefeito de Guapé) Tesoureiro Jean Carlo Roupa Prado (Prefeito de Fama) Secretário Aluísio Veloso da Cunha (Prefeito de Formiga) Conselho Fiscal Claudio Augusto Siqueira (Prefeito de Cabo Verde) Fábio Couto Araujo (Prefeito de Pimenta) Hamilton Resede Filho (Prefeito de Perdões) Secretário Executivo Fausto Costa
Entrevista Pompilio Canavez.................
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Furnas, o mar de Minas...................... 14 Seminário de Formiga......................... 20 Hidrovia: Primeiros Passos................. 22
Editada e produzida por Vero Brasil Comunicação Diretor/Editor responsável: Angelo Roberto de Lima Coordenador Editorial: João Henrique Faria Diretor de Criação: Pablo T. Quezada Editora: Bianca Alves Reg. Profissional: MG 3466 JP Reportagem: Majô de Souza Material cedido pelo Jornal dos Lagos e Antaq Diagramação e Projeto Gráfico: Paulo Rodrigues Revisão: Tiago Azevedo Arte Final: Luciano Garbazza Atendimento: Renata Wanice Produção Gráfica: Raquel Pacheco Fotos: Renato Soares Tiragem: 200 exemplares Impressão: Gráfica FAPI
Brasil comunicação Av. Prudente de Morais, 44 3º andar, Cidade Jardim Tel.: +55 31 3344 2844 - CEP: 30 380 000 - BH/MG
Foto: Renato Soares
Revista da HIDROVIA
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Nelson Alves Lara Prefeito de Guapé e Presidente da Associação dos Municípíos do Lago de Furnas (Alago)
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“A hidrovia é uma conquista de todos nós”
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O prefeito de Guapé, Nelson Alves Lara, assumiu no ano passado a presidência da Associação dos Municípios do Lago de Furnas (Alago) e abraçou com determinação a causa da hidrovia do Lago de Furnas. Segundo ele, esta é mais uma luta para defender o Lago e para o desenvolvimento sustentável da região, como a do tratamento de esgotos, drenagem e aterros sanitários em todo o entorno, que
já tem recursos para a elaboração dos projetos. “Queremos o Lago cheio, limpo, cuidado e produtivo, pois é uma riqueza nossa, que tem que ser distribuída por toda a região”, diz o presidente.
Por que a Alago abraçou a luta pela Hidrovia de Furnas? A Alago é uma associação dos 34 municípios que estão às margens do Lago de Furnas, que atua principalmente em defesa do Lago. E a hidrovia, projeto do ex-prefeito de Alfenas e ex-presidente da associação, o meu amigo Pompilio Canavez, vai beneficiar todos os 34 municípios, alavancando a nossa economia e fortalecendo
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Que benefícios o senhor acredita que a hidrovia pode trazer para a região? No exterior, com qualquer “corguinho” o pessoal faz uma hidrovia. Aqui nós temos esse mar, que pode trazer muita riqueza e desenvolvimento, não só com o transporte de cargas, mas também atraindo novos turistas. O transporte de passageiros por hidrovia, passando por várias cidades, é uma coisa diferente,
atraente, as pessoas vão querer andar de barco como gostam de fazer percursos bonitos de trem.
concretas pela hidrovia. Nós já recebemos um recurso, de 300 mil reais, para o projeto de viabilidade, já sentamos com a Antaq, com a Comissão de Transportes da Câmara Federal e, finalmente, realizamos um seminário em Formiga, onde fizemos uma carta de intenções, assinada por todos os prefeitos do Lago, que foi encaminhada ao Ministério dos Transportes.
Vocês têm feito vários encontros. Em que estágio está o processo? O Pompilio, que é ex-presidente da Alago, está à frente do projeto e foi eleito por nós o coordenador. Ele tem se reunido com os órgãos que representam o transporte aquaviário no país e está definindo uma agenda de encontros, seminários e ações
Quais os próximos passos? Foto: Ministério dos Transportes
o turismo. Quando as águas vieram, praticamente desligaram um município do outro. A hidrovia sinaliza a união, porque se não trabalharmos juntos, em parceria, a gente não consegue conquistar o que precisamos. E a hidrovia é mais uma conquista nossa, de todos os dirigentes que passaram pela Alago nesses dez anos de existência da entidade, de todos os prefeitos e do povo da nossa região.
Agora, nós vamos buscar os recursos para a obra. Temos condição de realizar o nosso sonho, porque há interesse tanto do poder público – do governo federal e do estadual – quanto da iniciativa privada para que ela se torne realidade. A hidrovia é um grande avanço para a região, não só na questão econômica, quanto na ambiental, pois promove o desenvolvimento sustentável da região.
INEXPLORADOS
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Caminhos 8
O Brasil possui 63 mil quilômetros de extensão total de águas, 40.000km de rios, lagos e lagoas potencialmente navegáveis, 29.000km disponíveis, mas hoje só utiliza comercialmente pouco mais de 13 mil quilômetros. Ao todo, são nove grandes bacias, sendo que a principal delas, a Amazônica, conta com 18.300km de rios, formando um dos maiores patrimônios hídricos do mundo. Como se vê, grande parte desse patrimônio natural vem sendo desperdiçado como via de escoamento da produção, com reflexos na corrente brasileira de comércio, na distribuição de renda e na criação de empregos, especialmente no campo, onde o país perde competitividade por falta de uma logística de transportes eficiente. Atualmente, são transportadas pelas hidrovias brasileiras
cerca de 45 milhões de toneladas de cargas/ano. Contudo, estimase em 160 milhões de toneladas o potencial de carga que poderia ser transportada, se todas as hidrovias estivessem plenamente implantadas. As vantagens do modal hidroviário, comparativamente aos demais modais de transporte, são expressivas. O gasto com combustíveis em um sistema hidroviário, por exemplo, chega a ser vinte vezes menor do que o necessário para transportar igual quantidade de carga no transporte rodoviário. A emissão de CO2 com o maior uso da hidrovia também é consideravelmente menor; o transporte fluvial emite 90% menos CO2 na atmosfera do que o rodoviário. O transporte hidroviário é, ainda, o mais seguro; a ocorrência de acidentes é praticamente inexistente e a segurança no translado é total.
Transporte mais barato Em um país de grandes dimensões como o nosso, a utilização de transportes, que representem menores custos deve ser incentivada. O meio hidroviário, ligado a investimentos baixos e custo de manutenção mínimo, responde a esta demanda. Estudos demonstram que as hidrovias são o melhor modal de transporte para grandes quantidades de carga, com a melhor relação custo-benefício. Seu emprego maciço contribui significativamente para a redução dos preços finais das mercadorias comercializadas por um país, em especial, no que se refere às suas exportações. Um exemplo concreto está na capacidade de carga por veículo em cada modal. Enquanto um
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9 comboio hidroviário transporta em uma única viagem 6.000 toneladas de carga, seriam necessários para a mesma quantidade quase 3 comboios no modal férreo ou 172 carretas nas rodovias. Somente esta análise já explicaria o fato do frete hidroviário custar cerca de 30% do preço cobrado pelo rodoviário. Em relação à economia de combustível, as hidrovias também são a melhor maneira de transportar cargas. Nas rodovias, para transportar mil Toneladas por Quilômetro Útil - TKU, são necessários 96 (noventa e seis) litros de combustível. Nas ferrovias, esse número é de 10 (dez) litros. Já nas hidrovias, esse número cai ainda mais, para 5 (cinco) litros. O menor gasto com combustíveis representa menores custos no presente e a maior sustentabilidade no modal a longo prazo, visto que sua matéria prima básica é de recursos naturais não renováveis. Outro fator que explica a economicidade das hidrovias são o fato dessas necessitarem de menos intervenções para a sua instalação, manutenção e maior durabilidade da infra-estrutura e dos equipamentos. Enquanto o custo médio para implantar uma hidrovia é de um dólar americano por quilômetro, para rodovias e ferrovias este custo médio sobe para treze e quarenta e um dólares por quilômetro, respectivamente. Além de todas as vantagens apontadas, é bom lembrar que a vida útil das embarcações é em média de cinquenta anos, enquanto para vagões a média é de trinta e apenas dez anos para os caminhões, o que configura menores gastos com manutenção e reposição de veículos.
Vantagens ambientais O transporte hidroviário é reconhecido como o mais ecologicamente correto dentre os modais por diversas razões. Para começar, tem maior eficiência energética. O transporte de uma tonelada (1,6 km) por hidrovia necessita apenas de 20% da energia dispendida no mesmo transporte por rodovia e 64% da ferrovia. O menor consumo de combustíveis e energia em geral é, além de uma questão de economia, pois aumentará a competitividade de produtos brasileiros, uma questão ambiental. A diminuição do consumo de combustíveis fósseis, principalmente de derivados de petróleo, é, cada dia, mais prioritária em termos mundiais, já que reduz a emissão de gases formadores de efeito estufa, causa principal das mudanças climáticas. Para fins ilustrativos, se 1% da safra agrícola brasileira (20062007) fosse transportada por hidrovia e não por caminhões, deixariam de ser emitidos 188.640 toneladas de CO2 na atmosfera. Atualmente, cerca de 5% da produção agropecuária nacional é transportada por hidrovias. Se 30% da produção rural fosse transportada por hidrovias, 5.659 mil toneladas de dióxido de carbono deixariam de ser lançados na atmosfera. Outra característica favorável das hidrovias é a menor área de utilização do solo. Enquanto a construção de ferrovias e rodovias envolve a destruição de fauna e flora, o uso das hidrovias não compete pelo uso do solo. Mesmo
que os impactos ambientais do transporte hidroviário mudem de acordo com as condições naturais de cada rio e do projeto a ser implementado, normalmente o meio ambiente não é perceptivelmente afetado pela utilização da hidrovia. Nos locais onde há impactos negativos, estes são mínimos, especialmente se analisados comparativamente com os demais modais. Além de todas as vantagens comerciais e ambientais, os ganhos sociais advindos da maior utilização das hidrovias na matriz de transportes são perceptíveis tanto nas metrópoles quanto nas áreas mais isoladas. Nos grandes centros urbanos, as melhorias decorrem do menor número de caminhões trafegando em vias urbanas, o que implica em menos congestionamento, em menores índices de poluição atmosférica, visual e sonora, além da diminuição no número de acidentes de trânsito. Há de se destacar que no transporte hidroviário a ocorrência de acidentes é praticamente inexistente e a segurança no translado é total. Outros grandes benefícios são obtidos para a irrigação de plantações, maior controle de enchentes, manutenção de ambientes naturais, suprimento público de água e desenvolvimento econômico. Em suma, a utilização do sistema de transporte aquaviário representa uma alternativa segura e a baixos custos, exercendo um papel importante na economia das indústrias e da vida dos cidadãos.
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Pompilio Canavez
“Temos que ver no Lago o desenvolvimento”
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Coordenador do Projeto da Hidrovia do Lago de Furnas
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Há mais de dois anos a palavra “hidrovia” passou a ser pronunciada de forma consistente e insistente pelo então prefeito de Alfenas, Pompilio Canavez (PT). Em reuniões da Associação dos Municípios do Lago de Furnas e do Comitê de Bacia do Entorno do Lago de Furnas, além de conversas com prefeitos e empresários da região, ele ampliou a discussão do assunto, convencido de que a hidrovia entre Alfenas e Formiga iria ligar não apenas dois municípios, mas duas regiões importantes do Estado.
Por que o senhor resolveu assumir a luta por uma hidrovia no Lago de Furnas? Desde a construção da barragem, o povo da região vivia uma sensação de perda. Perda da ferrovia, das estradas, da ligação fácil entre uma cidade e outra, as terras férteis, enfim, tudo aquilo que foi coberto pelas águas do Lago. Eu sempre acreditei, porém, que o Lago teria um grande potencial de desenvolvimento para a região. Lembrando que a região do lago é grande produtora de café, leite, cana-de-açúcar e calcário e que tem uma indústria promissora, era necessário olhar para o Lago e ver nele não a perda, mas os ganhos
que nossas cidades podem ter explorando-o devidamente, não só para o turismo, mas também para transportar a nossa produção a custos muito mais competitivos. Foi com isso na cabeça que fui atrás de quem pudesse nos ajudar a transformar em realidade o projeto de uma hidrovia para o Lago.
Como se deram as negociações para a implantação da Hidrovia? Em que pé estão? Antes a ideia estava só na minha cabeça, foi preciso muita perseverança para convencer os governos estadual e federal da viabilidade da hidrovia. Estive na Holanda conhecendo a experiência deles com transporte
11 aquaviário, fui também na hidrovia Tietê-Paraná e estudei muito o assunto. Inicialmente, fui conversar com o Governo de Minas, Governo do presidente Lula e com Furnas. Nessas conversas iniciais, ficou claro que teríamos que nos mobilizar, unindo os municípios da região em torno da proposta. E foi o que aconteceu: todos os prefeitos têm consciência do que uma hidrovia pode representar para o crescimento de nossas cidades e estamos lutando juntos. Procuramos a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), a Comissão de Transportes da Câmara Federal, através do deputado Federal Jayme Martins, nossas lideranças em Brasília e já estamos colhendo os primeiros resultados dessa batalha. Já temos a verba para os estudos de viabilidade e o Governo Federal já anunciou um PAC de Hidrovias para o ano que vem, que naturalmente contemplará o nosso projeto.
gação intermodal da hidrovia com ferrovias e rodovias da nossa região também trará muito mais competitividade para nossos produtos
Quais os benefícios que a região terá com a implantação da Hidrovia? A região do Lago de Furnas, no sul de Minas, é uma das mais férteis do Brasil, a produção agropecuária e industrial dos municípios de Furnas é muito grande e a hidrovia vai reduzir enormemente os custos, pois este tipo de transporte é muito mais barato e eficiente. Muitos empresários estão convencidos de que a criação da hidrovia e a consequente redução dos custos com transporte farão com que todos saiam ganhando. Uma indústria do ramo de calcário nos procurou para iniciarmos um trecho de 60 km entre Carmo do Rio Claro e Alfenas, o mesmo vai
acontecer em diversos municípios. Empresas de café, do setor sucroalcooleiro, todas elas vão poder transportar com mais segurança e menor custo - inclusive ambiental. Isto porque a hidrovia oferece maior eficiência energética, gasta menos combustível e polui muito menos. Há um estudo indicando que quase 50% dos caminhões viajam vazios pelo Brasil, porque levam uma mercadoria e voltam sem carga. Na hidrovia, por exemplo, poderemos receber calcário da região de Arcos e as barcas voltarem para lá cheias de fertilizantes. Mas, além de cargas, o Lago deve transportar também pessoas, em especial turistas, que terão mais um acesso às belezas do Mar de Minas. Ou seja, é quase como se criássemos repentinamente mais de 500 km de novas estradas na região, e todos sabem que o desenvolvimento, o progresso, vem através de bons meios de transporte.
O custo da hidrovia, em sua primeira fase, é de cerca de R$ 10 milhões, necessários para fazer a ligação entre Formiga e Alfenas. Este trecho e suas ramificações deverão ficar prontos em 2014. Serão necessários portos em diversos municípios, afim de que a carga transportada, seja ela qual for, possa ser embarcada e desembarcada mais facilmente. Mas a nossa proposta vai além. No futuro, queremos ver o Lago de Furnas interligado à hidrovia Tietê-Paraná, um modelo de sucesso neste setor, o que ligará o sul de Minas com estados do sul e centro-oeste do nosso país e até com outros países vizinhos. A li-
Foto: Renato Soares
Quanto custará a obra e quando ela ficará pronta?
Foto: arquivo ALAGO
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Principais
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Hidrovias são caminhos prédeterminados para o tráfego aquático. São bastante utilizadas em países desenvolvidos para transportes de grandes volumes a longas distâncias, pois é um meio de transporte mais barato que rodovias e ferrovias. No Brasil, apesar das grandes bacias hidrográficas existentes, as hidrovias não são muito utilizadas. Ao longo de sua história, o país optou por privilegiar a malha rodoviária, construindo grandes rodovias, boa parte delas paralelas a locais navegáveis que diminuiriam o custo dos transportes. Grande parte das bacias brasileiras são perfeitamente navegáveis, mas em alguns trechos há a necessidade de correções para a utilização, além de investimentos como a construção de eclusas e portos. As hidrovias com maior potencial do país são: Amazonas-Solimões - A Am-
azonas-Solimões é uma hidrovia natural com potencial de transporte de cargas gerais, passageiros, grãos e minérios. Pela hidrovia do Amazonas, são realizados o transporte de derivados de petróleo refinados, a importação de componentes e mercadorias destinadas à Zona Franca e as exportações do distrito industrial e Manaus. Ela é a mais importante do país, tanto em termos da quantidade de carga transportada (62% do total transportado em hidrovias) quanto da produção de transporte (70% da produção de transporte hidroviário). Paraguai-Paraná - A parte brasileira desta hidrovia, ou seja, o trecho do rio Paraguai compreendido entre Cáceres e a confluência com o rio Apa, conta com 1.270 km de extensão. Serve principalmente como uma das alternativas para o escoamento da produção de Mato Grosso e Mato Grosso
do Sul. No trecho em funcionamento, que liga Corumbá-MS até Porto de Nueva Palmira - Uruguai, a soja é o principal produto transportado Parnaíba - A hidrovia do Parnaíba, com uma extensão aproximada de 1.600 km e localizada na Bacia Hidrográfica do Nordeste, é constituída pelos rios Parnaíba e das Balsas. A área de influência da hidrovia do rio Parnaíba abrange as seguintes regiões/polos agrícolas: sudeste do Maranhão; sudoeste do Piauí; noroeste da Bahia; e nordeste do Tocantins, totalizando uma área agricultável de aproximadamente 8 milhões de hectares. A produção agrícola é constituída, principalmente, pelas culturas de soja, cana, arroz e milho. São Francisco- O Rio São Francisco conhecido como o “Velho Chico” é o maior rio presente totalmente no Brasil. Por sua importância para a economia de uma
Tocantins-Araguaia - E s t a hidrovia conta com aproximadamente 3.000 km de vias potencialmente navegáveis. Sua implantação possibilitará o escoamento da produção agrícola dos estados do Mato Grosso, Goiás, Tocantins e oeste da Bahia, transportando com agilidade e grande economia no custo de frete dos produtos agrícolas, minérios, insumos para atividades de agricultura e pecuária, produtos siderúrgicos, combustíveis e seus derivados.
Foto: Ministério dos Transportes
rior, assim como, via interior de transporte de cargas advindas da região norte do País em direção ao centro do estado do Mato Grosso. Há previsões de que será possível transportar até 5 milhões de toneladas por ano nessa hidrovia. Tietê-Paraná - É a maior hidrovia em extensão e volume - ligando Conchas-SP a São Simão-SP (2.400 km e 5,7 milhões de toneladas de cargas transportadas) ao longo dos rios Paraná e Tietê. Esta hidrovia é muito importante para o escoamento da produção agrícola do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e parte de Rondônia, Minas Gerais e Tocantins. Possui um trecho de 1.250 km navegáveis sendo 450 km no rio Tietê e 800 km no rio Paraná.
Foto: Ministério dos Transportes
ampla região do país, já foi chamado de rio da integração nacional. O principal trecho navegável do rio possui 1.300 km de extensão e passa entre as cidades de Pirapora (MG) e Juazeiro (BA). O São Francisco tem um enorme potencial subutilizado, que poderia alavancar as economias e diminuir os custos de transporte das empresas instaladas nas regiões por onde passa. A vocação natural do rio é para o escoamento de grãos, mas há potencial para o transporte de combustíveis e até de veículos. Sul - As Hidrovias do Sul são apresentadas como uma importante estratégia para os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul e para o País, pelo potencial das hidrovias interiores na redução de custos e economia de combustível no transporte de cargas, especialmente as de grande volume unitário, O trecho formado pelos rios Jacuí, Taquarí, Lagoa dos Patos e Lagoa Mirim possui extensão navegável de 1.300 km, e na bacia do Uruguai, abrangendo o rio Uruguai e Ibicuí, potencial para 1.200 km de vias navegáveis. Ali circulam produtos como insumos para fertilizantes, grãos, carvão, areia, óleo vegetal, cavaco de madeira, combustíveis e produtos químicos. Tapajós-Teles Pires - A hidrovia Tapajós-Teles Pires possui 1.043 km de extensão, sendo 851 km no rio Tapajós entre Santarém (PA) e a confluência dos rios Teles Pires e Juruena e 192 km no rio Teles Pires entre sua foz e a cachoeira Rasteira. É considerada rota principal para a exportação de grãos de todo o centro norte do estado de Mato Grosso, com importante incremento no comércio exte-
Foto: Ministério dos Transportes
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O MAR DE MINAS
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AS ORIGENS DA USINA
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Conta a história que foi o engenheiro da Cemig Francisco Noronha quem descobriu as Corredeiras das Furnas, quando saiu para pescar a convite da família Mendes Júnior. Diante de um cânion longo e profundo, o engenheiro, impressionado, tirou fotos, desenhou barragens e calculou a profundidade do reservatório e, em Belo Horizonte, apresentou seus estudos à Cemig, que já planejava fazer uma barragem no Rio Grande.
Corriam os anos 50 e o país de Juscelino Kubtscheck, querendo crescer cinquenta anos em cinco, precisava de energia para sustentar o crescimento e atender à demanda dos três principais centros socioeconômicos do país: São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, evitando um possível colapso energético. Em 28 de fevereiro de 1957, JK, no Palácio do Rio Negro, residência de verão do Governo em Petrópolis, assinou o decreto 41.066, que autorizava a construção da Usina Hidrelétrica de Furnas – primeira de grande porte no Brasil, com capacidade para
gerar 1.216 MW e obra essencial do Plano de Metas do então presidente. A construção foi iniciada em 1958 e a primeira unidade entrou em operação em 1963. Por ironia do destino, sua inauguração, em 1965, não teve a presença de Juscelino, cujos direitos políticos tinham sido cassados pelo regime militar.
O LAGO DE FURNAS O Lago de Furnas é a maior extensão de água do Estado de Minas Gerais. Com cerca de 1.500 m2
17 Minas. Os principais rios que formam o Lago de Furnas são o Rio Grande e Sapucaí. Além desses dois rios, o Lago de Furnas é também alimentado por nascentes e rios menores que ali deságuam, alguns deles formando belas cachoeiras.
CIRCUITOS TURÍSTICOS Equidistante das principais cidades da região sudeste, o Lago de Furnas tem também localização privilegiada para o turismo, envolvendo diretamente 36 municípios,
pertencentes ao chamado “Circuito do Lago”. A região é belíssima. As águas do lago refletem o azul do céu, emoldurado pelas montanhas de Minas. Destaque para os Canyons, formações rochosas com mais de 20 m de altura que revelam cenários surpreendentes e belíssimas cachoeiras, como a Lagoa Azul, perfeita para um mergulho e muita diversão. Outras atrações da região são o Balneário Furnastur e Escarpas do Lago, um condomínio de alto padrão de luxo que possui uma das maiores marinas de Minas Gerais e infraestrutura completa para seus moradores e visitantes. Além
Foto: Renato Soares
e tem outros números expressivos: cobre uma superfície de 1.457,48 km²; acumula represados cerca de 23 bilhões de metros cúbicos de água; seu perímetro mede por volta de 3.700 km de extensão (quase metade da costa marítima brasileira); banha 34 municípios, onde moram aproximadamente 1 milhão de pessoas; é cinco vezes maior do que a Baía da Guanabara; compõe a maior extensão de água no Estado de Minas Gerais; é um dos maiores lagos artificiais do mundo; pode produzir até 1.216 megawatts de energia. Assim é o Lago de Furnas, carinhosamente chamado de Mar de
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de produtos turísticos específicos, a região oferece também uma boa estrutura hoteleira que pratica a tradicional hospitalidade mineira, temperada pela mais saborosa gastronomia. São oito os circuitos turísticos que possuem pelo menos uma cidade lindeira ao Lago de Furnas: Circuito Caminhos Gerais, Circuito da Canastra, Circuito Grutas e Mar de Minas, Circuito Lago das Gerais, Circuito Lago de Furnas, Circuito Nascentes das Gerais e Circuito Vale Verde e Quedas D’água. Com maior ou menor intensidade, todos os 34 municípios banhados pelo Mar de Minas foram beneficia-
dos com a formação do lago. A nova e surpreendente paisagem – onde não faltam cânions, deliciosas praias, belas cachoeiras e pesqueiros – trouxe para a região investimentos em infraestrutura e em instalações voltadas para o turismo, como pousadas, hotéis, quiosques, restaurantes e marinas. Além da natureza privilegiada, é possível encontrar ali desde manifestações culturais expressivas da mais autêntica tradição mineira até locais para a prática de esportes náuticos, pesca e trilhas ecológicas. O Mar de Minas constituise, desta forma, num inesgotável manancial de oportunidades de exploração econômica e turística.
Algumas de suas atrações – como os muito balneários, as escarpas rochosas, cachoeiras e praias – e as de seu entorno, emoldurado por serras e montes, somadas àqueles atrativos oferecidos por inúmeras cidades banhadas pelo Lago – como o artesanato, a gastronomia, as festas e tradições populares – levaram à formação da Alago – Associação dos Municípios do Lago de Furnas, uma entidade que desenvolve ações voltadas para a sustentabilidade econômica e a preservação ambiental dos municípios ribeirinhos. A Alago divulga os atrativos
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PARAÍSO DA PESCA O Lago de Furnas é um paraíso para quem gosta de pescar. São quase 1.500 quilômetros
quadrados de águas piscosas, onde nadam espécies como dourado, tucunaré, traíra, tilápia, lambari, bagre, mandi e outros. Diante de tal imensidão, rapidamente a pesca esportiva virou atividade obrigatória no local. A Alago criou em 2006 o I Circuito de Pesca Esportiva, com várias etapas e a maior premiação em sua categoria no país. Muitas festas movimentam o Lago de Furnas o ano todo, como o Carnafurnas, Julifest e Oktobatuque, Expocapitólio e o animado Carnapitólio . Um lugar de paisagens maravilhosas para se
conhecer, com inúmeras opções de hotéis e pousadas às margens da represa de Furnas.
Etapa Fama
Etapa Varginha Foto: Renato Soares
turísticos da região, descobre trilhas, institui roteiros, orienta empreendimentos e trabalha pela preservação dos recursos naturais na área de abrangência do Mar de Minas, com o intuito de fazer daquela região um dos melhores circuitos turísticos do Estado.
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SEMINÁRIO EM FORMIGA ABRE CAMINHO PARA HIDROVIA
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A hidrovia Lago de Furnas está saindo do campo das conversas e partindo para a prática. Tanto que já existe até uma data prevista para que o trecho entre Formiga e Alfenas esteja funcionando: 2014. Um processo que começa com a liberação de recursos de R$ 300 mil para a realização de um estudo completo de viabilidade econômica, ambiental e técnica. O anúncio da liberação foi feito durante o Seminário sobre a Hidrovia do Lago de Furnas, realizado no mês de abril em Formiga, pelo deputado federal Jaime Martins. O objetivo principal foi discutir o aproveitamento econômico do lago por meio do transporte de cargas e pessoas. O deputado federal falou das primeiras reuniões em Brasília e elogiou a persistência do coordenador do projeto, o ex-prefeito de Alfenas Pompilio Canavez e outros prefeitos. Segundo ele, a ideia da hidrovia não é nova, “mas nunca antes havia avançado tanto, ao ponto de
virar um projeto”. Ele lembrou que este modal tem maior capacidade de transporte e menor custo operacional. Mas, enfatizou, é preciso unir todos os esforços para viabilizar uma hidrovia, como Furnas Centrais Elétricas, Governo Federal, Governo Estadual e Prefeituras. Martins disse que a hidrovia Lago de Furnas vai colaborar para a expansão do turismo na região e servir de ligação com pontais de ferrovia e rodovias para o transporte de cargas. “O trecho entre Formiga e Alfenas poderá ser concluído em quatro anos. A longo prazo, cerca de uma década, queremos unir esta hidrovia à hidrovia Tietê-Paraná. Este prazo tem de ser maior, porque serão necessárias eclusas – mecanismo que permite descida e subida de embarcações em locais de grande desnível”, explicou. O deputado estadual Antônio Carlos Arantes ressaltou que a região não explora o seu potencial hidroviário. Como
exemplo de produto a ser transportado, citou o calcário, que hoje viaja por rodovias.
Potencial hidroviário O gerente de desenvolvimento e regulação da Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) do Ministério dos Transportes, Adalberto Tokarski, afirmou que o Brasil ocupa hoje o 10º lugar na economia mundial, mas chegará ao 5º e será responsável pela produção de 50% de todo o alimento produzido no mundo. Por isso, precisará usar de forma mais madura seus modais de transporte. Ele ressaltou que, atualmente, o transporte hidroviário, incluindo hidrovias e transporte marítimo, responde por 13% de toda a carga transportada, mas a proposta é que chegue a 29%. “Esta região tem condições para ter sua hidrovia. Para isto, a
21 Alago é fundamental, porque é composta de prefeitos de todos os partidos. Estes prefeitos não podem perder este momento. O Pompilio é um homem teimoso. Pediu, pediu e agora conseguiu”, destacou Tokarski. Ele lembrou que a Antaq é uma agência reguladora, que não realiza obras mas pode ajudar na articulação. “O principal papel é regular, criar normas e fazer a fiscalização federal, mas a Antaq tem um papel de fomento de hidrovias”, disse, lembrando que a agência promoveu diversos seminários sobre hidrovias, inclusive internacionais. “Perguntamos na Bélgica como eles faziam para reduzir os danos ambientais causados pelas hidrovias e eles ficaram sem entender nada, porque lá fazem hidrovias justamente para reduzir estes danos.” Para o gerente da Antaq, é melhor ter dois motores ligados de uma embarcação do que 50 de caminhões. “Uma hidrovia tira caminhões de grandes percursos, pois por ela passam justamente cargas de grande volume e baixo valor agregado. Com isso, haverá mais segurança, vão morrer menos pessoas, rodovias ficarão menos estragadas. Se houver um transporte de baixo custo entre as cidades, todos ganham”, finalizou.
vam a eficiência das hidrovias. Segundo ele, o custo por quilômetro rodado é de US$ 0,025 na hidrovia, enquanto na ferrovia é de US$ 0,064 e na rodovia US$ 0,084. “A vida útil de uma rodovia é de apenas 10 anos. Já a ferrovia tem vida útil de 30 anos e a hidrovia de 50 anos”, acrescentou. Para Flávio Nunes, o seminário em Formiga é a pedra fundamental da hidrovia. Ele lembrou que o Lago de Furnas não é federal – por ficar totalmente dentro apenas do Estado de Minas Gerais - mas que o Dnit pode auxiliar com sua experiência e até mão-de-obra. Ele ressaltou que o momento é o mais oportuno para a implantação da hidrovia, pois o país começa a investir neste tipo de transporte. “Em todos os comparativos, seja na emissão de gases poluentes, de preservação de vida humanas, volume de carga, emissão de poluentes, a hidrovia, entre todos os modais, é a mais democrática e a
Pedra fundamental O coordenador de manutenção de hidrovias do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), Flávio Nunes citou números que comproPompilio Canavez,
Coordenador do Projeto Hidrovia
mais sustentável ambientalmente falando”, afirmou. Nunes ressaltou que os estudos batimétricos vão identificar as profundidades da água ao longo do traçado da hidrovia e identificar se haverá necessidade de grandes obras, mas a princípio, como as hidrovias se utilizam de embarcações de baixo calado, em torno de 2,5 a 3 metros, tudo indica que não serão necessárias grandes intervenções.
Protocolo de intenções Ao final do seminário, foi assinado um Protocolo de Intenções para a implantação da hidrovia Lago de Furnas. Pompilio Canavez reiterou o avanço representado pela reunião em Formiga, segundo ele, “fruto da luta e da perseverança de todos que acreditaram na ideia da hidrovia”. Ele lembrou que a região do lago é grande produtora de café, leite, cana-de-açúcar e calcário e que tem uma indústria promissora. Reforçou que o trecho FormigaAlfenas e ramificações deverá ficar pronto em 2014 e que a ligação com a hidrovia Tietê-Paraná tem previsão para funcionar em 2019. Participaram do encontro os prefeitos de Alfenas, Formiga, Aguanil, Iguatama, Estrela de Indaiá, Carmo do Rio Claro, Córrego Fundo, Pimenta, Candeias, Camacho e Moema, representantes dos prefeitos de Capitólio, Cristais, Campo Belo e Boa Esperança, vereadores, representante da Universidade Federal de Itajubá, Benedito Cláudio dos Santos e empresários.
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PRIMEIROS PASSOS
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23 A criação da hidrovia do Lago de Furnas, como eixo de integração econômica e cultural dá seus primeiros passos. Um deles é o estudo de viabilidade do empreendimento, para o qual foi liberada a verba de R$ 300 mil pelo Ministério dos Transportes. Inicialmente, a hidrovia terá um percurso de 250 quilômetros, além de rotas alternativas, e ligará Alfenas a Formiga, com diversos portos ao longo do percurso, o que beneficiará, direta ou indiretamente, cerca de 50 cidades. O custo inicial da obra é de R$ 10 milhões, que poderá contar com a participação da iniciativa privada. Para o ex-presidente do Comitê de Bacias da Região do Lago de Furnas, Pompilio Canavez, a hidrovia trará novos caminhos para o crescimento econômico da região. “Contamos com um verdadeiro mar e precisamos navegar por ele, ligando comunidades, culturas, economias e promoven-
do o turismo”, diz. Ele acredita também que o empreendimento impulsionará o potencial turístico do Circuito do Lago. “Nós queremos o uso múltiplo dessas águas. Um deles seria o transporte de mercadorias e pessoas, que influenciaria diretamente o turismo”, aponta Canavez. “A hidrovia, na verdade, já existe. Só é preciso criar os mecanismos para utilizá-la, como carta náutica e sinalização”, afirma Canavez, apontando as vantagens de sua utilização: “é uma maneira mais barata de transportar a forte produção agropecuária dos municípios às margens do lago. E também um modo de desafogar as rodovias da região, que já não comportam o tráfego intenso de veículos pesados”. Só para se ter uma ideia, o custo para transportar mercadorias no sistema hidroviário pode chegar a um terço do preço médio do transporte rodoviário. Para transportar
mil toneladas/ quilômetro úteis (TKU), são consumidos 5 litros de combustível na hidrovia, contra 10 litros na ferrovia e 96 litros na rodovia. A hidrovia é uma maneira mais barata de transportar a grande produção agropecuária da região, na qual se destaca a cana de açúcar, o café, batata inglesa, mandioca, feijão, arroz, milho, tangerina e gado bovino. Outros produtos, como o calcário, também teriam efetivos ganhos no custo final de transporte. Pompilio Canavez destaca ainda o incremento que a hidrovia traria aos atrativos já existentes na região, como a pesca esportiva, esportes náuticos o trekking e o turismo rural.
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“A hidrovia traz consigo uma grande capacidade de incrementar o turismo. A construção de uma marina, por exemplo, revitaliza a área urbana e se complementa com empreendimentos como hotéis, pousadas e parques, o que representa benefícios reais para a comunidade local com a criação de novos empregos e novos serviços, que melhoram seu padrão de vida”. O prefeito de Formiga, Aluísio Veloso, acredita no potencial de desenvolvimento de hidrovia, ao aproximar regiões que foram afastadas pelo reservatório. “Nossas cidades eram próximas. A distância entre elas cresceu com a construção da represa. A hidrovia levará a uma reaproximação, o que vai gerar desenvolvimento econômico, cultural e social para região”, ressalta. O prefeito de Alfenas, Luiz Antônio da Silva, destaca ganhos na segurança. “Com a obra, as rodovias estaduais e federais ficarão menos sobrecarregadas. As estradas terão menos movimento. Serão menos buracos e menos acidentes”, afirma.
Ideia ganha apoio O projeto da hidrovia do Lago de Furnas está ganhando corpo e apoio, e vem mobilizando, cada vez mais, não só as lideranças políticas, mas também o setor privado. O prefeito de Guapé e presidente da Alago (Associação dos Municípios do Lago de Furnas), Nelson Alves Lara (PT), afirma que a hidrovia “é um sonho da Alago, um sonho de todos os prefeitos da região e será um fruto do trabalho de todas as lideranças da região”, afirma. Para ele, a hidrovia vai possibilitar o crescimento econômico da região do lago e incrementar o turismo. “Antes, somente nós falávamos nisso, principalmente o ex-presidente da Alago, Pompilio. Agora, os Governos já estão mostrando interesse. Prova disso é que o governo do Estado também está discutindo isso”, diz Lara. Aluísio Veloso (PT), prefeito de Formiga, afirma que “a hidrovia é necessária e importante, principalmente por unir dois extremos do lago. Embora ainda
Aluísio Veloso,
prefeito de Formiga
sejam necessários estudos de viabilidade, profudidade e existência de obstáculos como pontes, por exemplo, seria excelente para o transporte de cargas e pessoas.” Segundo Veloso, um dos produtos que poderiam ser transportados pela hidrovia é a cal virgem de Formiga para Alfenas e outros municípios vizinhos, “mas seria uma via de mão dupla. Há muitos produtos a serem transportados por embarcações aquáticas”, ressalta. Veloso também acredita que o assunto hidrovia está ganhando força. “A Alago está ajudando nesta luta e sei que o Ministério dos Transportes já está discutindo o
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Nelson Lara
presidente da Alago
assunto. Isto mostra que a hidrovia pode sair do sonho e se tornar realidade”, informa. O prefeito de Formiga destaca ainda o baixo custo do transporte aquaviário e o baixo índice de poluição. “Isto é algo importante. Temos de procurar alternativas menos poluentes.”
Empresários apoiam ideia Benedito Staut, da Café Brasil, acredita que por se tratar de um transporte de custo muito menor em comparação ao rodoviário “seria muito interessante para a região. Traria crescimento e novas oportunidades. Hoje, muitos dos empreendimentos que Alfenas e toda a região poderiam ter, são inviabilizados pelo custo do frete”, ressalta. Se a hidrovia Alfenas/ Formiga for implantada, explica, a matéria-prima para diversos produtos poderia vir para cá em barcas e estas levariam de volta outros produtos. Como exemplo, citou a Mosaic e a Bunge – duas das maiores empresas produtoras de fertilizantes do mundo – que possuem unidades em Alfenas. Para Staut, com a implantação
da hidrovia Alfenas/Formiga, a região se tornará mais competitiva nos mais variados setores produtivos, como café, cimento, cal e calcário, apenas para citar alguns. “Ou seja, este tipo de transporte irá revitalizar os negócios já existentes e possibilitar a criação de outros”, observa. “ Só vejo vantagens na hidrovia: o custo do frete é menor, gasta menos combustível, polui menos, não detona as estradas. Se implantarmos o sistema de hidrovia, seremos pioneiros, pois isto ainda não existe no Lago de Furnas”, completa. Segundo o presidente da Cooxupé (Cooperativa Regional dos Cafeicultores em Guaxupé), Carlos Alberto Paulino da Costa, a viabilidade da implantação de uma hidrovia no lago depende de estudos que devem ser realizados. Mas se a hidrovia se tornar realidade, todo tipo de produto será beneficiado, inclusive o café, que em sua maioria é transportado via rodovias.
sobra do bagaço da cana”, explica o gerente geral da Usina, Ronaldo Duarte Pereira. “No entanto, temos uma grande dificuldade em encontrar áreas de expansão com topografia apropriada à cultura mecanizada da cana de açúcar, dentro de distâncias viáveis economicamente”, observa. A cultura mecanizada é hoje uma exigência ambiental, regulamentada recentemente pelo Governo de Minas Gerais, exigindo que toda expansão seja feita em áreas sem a necessidade da queima da cana. “Por essas razões, a Hidrovia de Furnas nos abre a perspectiva de uma expansão em novas áreas até então inacessíveis e inviáveis, pela volta que terí-
Perspectivas de expansão O grupo empresarial Adecoagro participa de vários projetos de usinas de açúcar e álcool no Brasil, entre elas, uma unidade em Monte Belo, sul de Minas: a usina Monte Alegre. Com produção atual de 900 mil toneladas de cana, projeta um crescimento de 40% nos próximos três anos, com expansão da produção em mais 400 mil toneladas. “O Grupo Adecoagro está preparado e disposto a investir nessa expansão, a exemplo dos investimentos já realizados em geração de energia elétrica, a partir da
Luiz Antonio da Silva, prefeito de Alfenas
amos que dar para transportar a cana”, aponta Pereira, que acena com uma perspectiva ainda melhor para a região. “Com a hidrovia, poderemos implantar uma segunda unidade da Usina Monte Alegre na região, em terras apropriadas, com capacidade de moagem de três milhões de toneladas de cana/ano, o que irá ampliar consideravelmente a geração de empregos e renda”, revela.
Foto: Ministério dos Transportes
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Providências necessárias Hidrovia, aquavia, via navegável, caminho marítimo ou caminho fluvial são diferentes designações para a mesma coisa: um caminho sobre a água, cujas vias navegáveis que foram balizadas – com boias que demarcam o canal de navegação - e sinalizadas para o tráfego seguro de determinada embarcação, suas cargas, passageiros ou tripulantes e que dispõem de cartas de navegação – os mapas delimitadores das rotas de navegação. No caso de Furnas, a inundação da área do lago se deu sem a retirada dos elementos físicos que poderiam atrapalhar uma navegação futura. Casas, pontes, igrejas e árvores foram simplesmente abandonadas no processo de alagamento, criando obstáculos a uma navegação comercial regular. Justamente por isso, a utilização da hidrovia exige uma cuidadosa análise batimétrica para a demarcação desses obstáculos, que podem atrapalhar a passagem das embarcações. “É desta
maneira que definiremos um canal de navegação, com balizamento e sinalização, para uma navegação comercial e turística’, explica o consultor de logística Ronan Gouveia. “Definidas as rotas, terminais e cargas, nós encontraríamos a “embarcação tipo” capaz de otimizar o transporte, com melhor rendimento e menor custo operacional. Além de definir itens de infraestrutura, como terminais, pontos de transbordo, tipos de acondicionamento de cargas e sazonalidade”, completa. No Lago de Furnas, as implicações geoambientais e o desenvolvimento regional relacionam-se diretamente com a implantação eficiente de uma Hidrovia. “Temos que começar imediatamente os mapeamentos básicos que permitam diagnósticos e projetos específicos para sua implantação”, diz Ronan. “Eles incluem a avaliação das cartas existentes e o levantamento de dados para novas cartas, a definição das áreas de
expansão urbana, das áreas de plantio e estimativa de produção e os dados para um diagnóstico da dinâmica microrregional e suas implicações socioeconômicas, com destaque para a atividade turística. Além de estudos geológicos e geomorfológicos, entre outros”, completa. O governo de Minas já tem, através da Secretaria de Estado de Transportes e obras Públicas, um estudo sobre o transporte hidroviário em Minas Gerais, com um capítulo dedicado ao Lago de Furnas. Entre as ações propostas estão a realização de um estudo para identificação do potencial econômico e turístico dos municípios situados na área de influência do lago; levantamento das condições da malha viária de acesso ao Lago; identificação dos elementos físicos que impedem a navegação regular, tais como pontes e obstáculos submersos e entrevistas com potenciais usuários da modalidade, verificando total da carga, origem, destino, custos atuais por rota e empecilhos à navegação.
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Hidrovia em números
Gráfico: Adriana Corrêa
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