Versus #40 Jun Ago 2016

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E S P EC IA L W A VE - G OTIK TR E F F E N L IV E

ST R A TO V A R IU S

ANNEKE V. GI ERSB ERGEN LIV E

A NDERSON/STOL T

G OJIRA L I VE

WITHERS C APE


I´ N D I C E

EDITORIAL

vErSUS

Nº40 MAIO / JULHO 2016

vErSUS MAGAZINE

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V E R S U S M A G A Z IN E

36

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EDITORIAL

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D IR E C Ç Ã O

... DA VERSUS, PARA O MUNDO A Ve r s u s n a sc e u d e um d ese j o de escrever sobre m ú s i c a , n e s t e c a so meta l , p a ra dar a conhecer os la n ça m e n t o s i mp o r ta n te s, o s e ventos que não se de v e p e rd e r e tu d o o q ue rod eia a m úsica que é u m a a l t e r na ti va à su p er mediatizada. O que c o m p l e m e n t a este p roj ec to é o facto de per tencer à h i s t ó r i a d o meta l , d e a j ud ar o metal a não ser um a s o m b r a s e m for ma . O tra b al ho que isto im plica é imp o s s í v e l d e aq ui d esc reve r - n ós dam os o nosso t e m p o e v i d a p a ra esta r a q ui a o com putador às t a n t a s d a n o i t e p a ra fec h a r a ed i ç ão. M uito do nosso t ra b a l h o t e m u m d eta l he q ue d eve passar ao lado de m u i t o s , a i n ve sti g a ç ã o q u e requer, as análises pré v i a s q u e são p rec i sas p a ra poder colocar as qu e s t õ e s p e r ti n e n te s a o s músi co s ou com entar de f o r m a i n t e l i g en te as crí ti ca s q u e escrevem os. Tudo ist o é p o r a m or à ca mi so l a e p a i x ão por um género m u s i c a l q u e há d é c a d as no s tr ansfor m ou por c o m p l e t o : p o r d en tro e p or fora. Por justiça divina ist o t u d o s e g ue o me smo p e rcu rs o que os m úsicos qu e c o m p õ e m o b ra s q ue sã o verdadeir as obr as de a r t e e p a ssa m d esp erce b i d as por um a gr ande pa r t e d o s s e res q ue c a mi n h a m este planeta. Tudo pe lo m e t a l . Adriano Godinho

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Adriano Godinho, Eduardo Ramalhadeiro & Ernesto Martins

G R A F IS M O

Eduardo Ramalhadeiro

COLABORADORES

TARJA

Adriano Godinho, Carlos Filipe, Cristina Sá, Dico, Eduardo Ramalhadeiro, Eduardo Rocha, Ernesto Martins, Frederico Figueiredo, Hugo Melo, Ivo Broncas, Miguel Ribeiro (Hintf) e Nuno Kanina (Hintf)

F O T O G R A F IA

Créditos nas Páginas

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C ON TE ÚDO 04 10 14 20 28 34 42 46 50 54 58 62 64

ANDE RSON/STOLT F ROST* ABYSSIC C O LI N MA R K S ( R A IN S O N G D E S IG N )

MISS L AVA BURDE N OF L IF E ANTRO DE F OL IA WIL DE RNE SSKING GODVL AD GARAGE POWE R #

Soulue

KRATE R GRÊ L OS DE HORTE L Ã STRATOVARIUS

78 WITHE RSCAPE 84 M OSH 88 ÁL BUM VE RSUS # Devin Townsend Project

«Transcendence»

90 CRÍTICAS VE RSUS 98 F L ASH RE VIE WS 100 L IVE VE RSUS # Anneke Van Giersberge # # #

146 154 158 162 166 170 174

VAN CAN T O H EADBAN GER’ S KI T CHEN SECRET S OF T HE M OON PALET ES DE M ETAL S ALI GI A AUT OKRAT OR M OURN I N G BELOVET H

Tim Hecker

Especial Wave-Gotik Treffen

# Carach Angren # Autumnal # Crematory # My Dying Bride # Leave’s Eyes Gojira

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REIS E MESTRES Nã o inventa ra m a rod a m as , de alg u m a f o r m a, podera m re def i n i - l a u m p ouc o . « Inve nt io n O f K nowle d ge» é u ma “ j o i nt ve nt u re ” e nt re a le nd a dos Yes e o maestro do s The F lowe r K i ng s . Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro Tradução: Adriano Godinho

OLÁ ROINE, FAZ JÁ ALGUM TEMPO (DESDE OS THE FLOWER KINGS) QUE TENTAMOS ENTREVISTARTE E AGORA FINALMENTE SURGIU A NOSSA OPORTUNIDADE – SE BEM QUE VIRTUALMENTE. PARABÉNS COM ESTE INCRÍVEL ÁLBUM.

Roine: Obrigado

LI NO TEXTO QUE ACOMPANHA O VOSSO TRABALHO QUE USAS UMA GUITARRA PORTUGUESA, COMO SOMOS DE PORTUGAL TENHO DE PERGUNTAR, É MESMO UMA GUITARRA PORTUGUESA ORIGINAL, DE 12 CORDAS?

Roine: Sim, comprei-a quando passei férias em Lisboa, há uns anos. Tem uma sonoridade muito interessante.

É UM INSTRUMENTO MUITO PARTICULAR E SEI QUE DIFICIL DE APRENDER. COMO ACONTECEU DECIDIREM METER 6 / VERSUS MAGAZINE

GUITARRA PORTUGUESA NO VOSSO TRABALHO?

Roine: Tentei tocar a guitarra como é natural para mim. Talvez seja de forma incorrecta, mas para mim é música e pode ser tocada como se quer. DE VOLTA AO PROJECTO ANDERSON/STOLT. COMO ACONTECEU JUNTAR-SE COM JON ANDERSON PARA ESTE TRABALHO?

Roine: O director da nossa editora sugereiume trabalhar com o Jon Anderson dos YES, há uns anos atrás – disse-me que eu seria a pessoa ideal para realizar os sonhos do Jon. Depois conhecemos-nos num prog-cruise – Jon aceitou participar na minha banda Transatlantic, para tocar músicas dos YES. Correu muito bem, ficamos todos muito contentes. Claro é uma honra trabalhar com um dos maiores vocalistas e letrstas

do rock progressivo. Conheci YES quando tinha 13 ou 14 anos e acompanheios desde então, apenas tendo perdido um pouco do interesse só recentemente. De qualquer das formas penso que os álbuns entre 70 e 76 são absolutamente impressionantes! Também acompanhei o que o Jon tem feito a solo – o meu preferido ainda é o “Olias of Sunhillow”. “Change We Must” também é dos meus preferidos assim como o álbum de pop City od Angels” . EXISTEM MAIS OU MENOS 12 ANOS QUE VOS SEPARAM. QUANDO LANÇASTE O TEU ÁLBUM DE ESTREIA – COM OS KAIPA, PENSO – JON JÁ TINHA LANÇADO 5 ÁLBUNS COM YES. A DIFERENÇA DE IDADES REFLECTA-SE NA MÚSICA QUE CRIARAM?

Roine: Não propriamente quando se trata de música.

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Uma vez estabelecida uma relação de trabalho tu tendes a esquecer a idade ou o status. É ESTE PROJECTO A MISTURA PERFEITA ENTRE YES E OS THE FLOWER KINGS?

Roine: De uma certa forma, acredito que seja – porque somos quem somos e acredito muitas ideas de há anos acabam por surgir agora. Yes, Vangelis, Flower Kings, Kaipa, etc...

TU E O JON SÃO, EVIDENTEMENTE, OS PRINCIPAIS COMPOSITORES NESTE «INVENTION OF KNOWLEDGE». COMO FOI O PROCESSO CREATIVO?

Roine: Ambos desejamos fazer músicas mais longas, num formato épico – mais como os Yes fizeram nos 70s, com estruturas simfónicas. Mas também tentar coisas mais electrónicas, música do mundo, música coral, pop, jazz. A coisa foi sendo criada ao longo que ia sendo feito. Por vezes ficávamos surpreendidos também. Jon começou a enviar-me demos em 2014, eu desenvolvi as ideias e alterei-as até bastante, acrescentava novas secções e ele continuava a enviar-me mais ideias. Acho que tentei ser verdadeiro quanto às ideias dele, mas claro, acrescentando a minha parte, para tornarlas algo de especial. Ambos pensamos “progressivo” – o que significa que estamos abertos a diferentes formas de fusão, vários estilos e muitas influências, desde música clássicoa, jazz, folk, ethno, música do mundo, todo o tipo de electrónica. Ele geralmente apenas diz “diverte-te”, eu simplesmente avanço com as minhas ideias, no final ele aprova quase 8 / VERSUS MAGAZINE

tudo o que lhe mostro, havendo apenas algumas ideias que pede para deizar de parte. É o processo natural; ambos procuramos uma forma de atingir a música perfeita. Somos ambos perfeccionistas.

enviei o resultado para aprovação do Jon.

OUVI DIZER QUE AS GRAVAÇÕES FORAM FEITAS EM SÍTIOS DIFERENTES. COMO É QUE FUNCIONA TRABALHAR À DISTÂNCIA, O ENVIO DE IDEIAS, TIPO “FIZ ISTO, VÊ SE GOSTAS“?

Roine: Jon chama-lhe a invenção do conhecimento, na verdade trata do nascimento da civilização, o processo de tudo o que é humano desde que começamos a ser seres racionais: filosofia, arte, música, arquitectura, ciência, religião, etc. O Jon é que criou o conceito; ele enviava-me ideias e eu começava a compôr as músicas, parte por parte, o que lhe fazia remexer nas letras, foi muito natural, como se estivessemos a trbalhar perto um do outro. Vejo-o como a história de como criamos tudo o que nos rodeia; tecnologia, religião, medicina, cultura, etc.

Roine: Ele simplesmente enviava-me as ideias dele pela net e eu construia as músicas, parte por parte; e a meio de cada música ele começava a trabalhar nas letras. Foi um processo muito orgânico, mesmo não estando na mesma divisão da casa. Muito telefone, e-mails, troca de ficheiros, etc. NO QUE TOCA A BONS MÚSICOS, VÊEM-SE MUITOS NOMES NESTE TRABALHO. TU E O JON COPRODUZIRAM ESTE ÁLBUM, COMO FOI TRABALHAR COM TODA ESTA GENTE?

Roine: Na verdade Jon confiou no meu instinto e ideias em como fazer soar cada instrumento; mas claro também havia o Tom Brislin, com quem trabalhou na Yes Symphonic Tour, há uns 15 anos.

A PRODUÇÃO TAMBÉM FOI FEITA POR AMBOS EM LOCAIS SEPARADOS? COMO CONSEGUIRAM?

Roine: Ele cantava as partes dele na Califórnia e o resto foi gravado aqui, até o Tom Brislin e o Felix Lehrmann virem para a Suécia e gravarmos todos juntos no estúdio, usando material old school: órgãos Hammond, pianos Rhodes e syntetizadores Moog. Depois fiz a mistura na Suécia e

O ÁLBUM ESTÁ DIVIDIO EM 4 PARTES E PRESUMO QUE A ESTRUTURA ESTÁ RELACIONADA COM O CONCEITO QUE SEGUE. DO QUE TRATAM AS LETRAS ESCRITAS PELO JON?

“NA VERDADE JON CONFIOU NO MEU INSTINTO E NAS IDEIAS DE COMO FAZER SOAR CADA INSTRUMENTO”

JON AFIRMOU NÃO QUERER FAZER UM ALBUM PROGRESSIVO TRADICIONAL, MAS SIM DE MÚSICA PROGRESSIVA. O QUE ACHAS QUE ELE QUER DIZER COM ISSO?

Roine: Penso que não queria fazer algo “retrospectivo“ e seguir em frente.

DISSESTE ANTERIORMENT QUE «INVENTION OF KNOWLEDGE» É DIFICIL DE DESCREVER: CONCORDO! GOSTO QUANDO ALGO QUE FAZ PENSAR E ESTE ÁLBUM CONSEGUIU-O COMIGO! A MÚSICA É COMPOSTA POR VÁRIAS CAMADAS DE SONS E VOZES DE UMA FORMA TÃO PERFEITA. É ESTE O TEU TRABALHO MAIS DESAFIANTE?

Sim, foi o trabalho mais exigente para mim em

termos de tempo, trabalho e inspiração. EXISTE ALGO QUE GOSTARIAS DE FAZER PARA TE SENTIR AINDA MAIS REALIZADO MUSICALMENTE?

Roine: No geral gostaria de fazer coisas novas, projectos diferente. Mas claro também gostaria de trabalhar futuramente em mais projectos com o Jon. Agora que nos conhecemos bem, penso que poderíamos fazer um álbum ainda melhor.

Photo: Deborah Anderson

Photo: Lilian Forsberg

h ttp s : //www. fa cebook. com/ A ndersonS t ol t / ht t ps: / / yout u. be/ Tuzdnl qW M qI 9 / VERSUS MAGAZINE


Jem Godfrey pode passar despercebido aos mais incautos mas pertence a uma elite de excelentes músicos e compositores. Após 8 anos de silêncio eis que se reúne com a sua armada - John Mitchell (Lonely Robot/It Bites), Nathan King (Level 42) e Craig Blundell (Steven Wilson) para acabar com o degelo e hibernação musical. (Como extra o Mestre Satriani é, também, um convidado muito especial) Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro Tradução: CSA

DESCONGELADOS 1 0 / VERSUS MAGAZINE

Olá, Jem! Parabéns pelo teu novo álbum. Parece-me excelente. Jem – Muito obrigado. Antes de mais, por que razão Frost* esteve em silêncio durante oito anos? A minha família ocupava-me muito tempo e ainda tinha de trabalhar arduamente para manter no ativo três negócios de índole musical. Durante ainda altura, Frost* ainda foi fazendo algumas coisas: gravámos a canção “The Dividing Line”, fizemos uma “cover” da “Fanfare For The Common Man” dos ELP, que acabou por nunca ser publicada, lançámos um álbum intitulado “The Philadelphia Experiment”, fizemos alguns concertos aqui e acolá, Também lançámos um álbum ao vivo e ainda lançámos um DVD intitulado “The Rockfield Files”, gravado nos lendários Rockfield Studios em Gales.

Ao ler a biografia de Frost*, apercebemo-nos de que a banda teve dois hiatos: um Por quê tanta insegurança num projeto tão extraordinário? Fazer esses álbuns esgotou-me mental e fisicamente. Além de me ocupar dos vocais e dos teclados, também escrevi tudo. Ainda gravei, misturei e produzi tudo sozinho. Só para satisfazer a minha curiosidade, por que incluem um asterisco (*) no nome da banda? Em princípio, representa um cristal de gelo. Francamente, já não me lembro como é que isso aconteceu. No seu género (Rock Progressivo). Frost* é diferente, porque não é uma banda “normal”. De facto, incluem elementos eletrónicos na vossa música. 11 / VERSUS MAGAZINE


Estou a pensar em “Towerblock”, por exemplo. Este é o vosso lançamento mais eletrónico e pesado até agora? Esse álbum inclui de facto muita “eletrónica”, se é que podemos usar essa palavra. Não sei, limitei-me a usar o que me pareceu adequado na altura. O álbum anterior tinha sido muito baseado na guitarra, portanto pareceu-me que fazia sentido tentar fazer o oposto, porque

composição/escrita apresentando ideias ou apenas tocam? É fácil. Não tínhamos canções novas para gravar antes do ano passado. Eu tinha escrito “Heartstrings”, “Signs” e uma faixa bonus intitulada “Lantern” com o John há alguns anos, portanto estavam em condições de serem usadas, mas tivemos de esperar que as restantes aparecessem. Não consigo escrever depressa, quando se trata de

Foi muito difícil para ti aprender a tocar este instrumento? Ainda estou a aprender. Ainda não tenho suficiente confiança nas minhas capacidades, para me atrever a tocá-lo num concerto ao vivo. E em que consistem os tweaks que fizeste? (E por que os fizeste)? Tinha o meu afinado em quintas e oitavas, tendo em

Um dos teus convidados é um dos meus guitarristas favoritos: Joe Satriani. Como conseguiste trabalhar com ele? Toquei teclados para ele no fim da parte da sua digressão “Black Swans And Wormhole Wizards“, que teve lugar no Reino Unido, e também em toda a G3 European tour, em 2012. Mantivemos o contacto e tudo aconteceu a partir daí. Em que canções participa? “Closer To The Sun”. É fácil de detetar! As últimas seis canções do álbum aparecem como “Sunlight”, uma sequência que dura 32 minutos. Estes temas são diferentes dos restantes? E as

me pareceu que não avançaríamos nada se fizéssemos «Experiments In Mass Appeal 2» ou «Milliontown 2». JohN, Nathan e Craig já estão contigo há uns tempos – desde 2010, para ser preciso – mas é a primeira vez que gravam um álbum juntos. Por que aconteceu isto agora? Eles tomaram parte no processo de 1 2 / VERSUS MAGAZINE

Frost* Ad canções são tão intrincadas que demoro sempre bastante tempo a juntar as peças do puzzle. Felizmente, os outros são gajos muito pacientes. Experimentaste sons novos The Chapman Railboard. Embora seja uma variante do icónico Chapman Stick , conseguiste ajustá-lo aos teus propósitos.

letras? São concetuais? O álbum é todo uma mensagem, que incita a aproveitar a vida enquanto podemos fazê-lo. O meu pai morreu 4 semanas antes de eu ter terminado “Falling Satellites” e isso fez-me perceber como a vida é transitória. Há anos que andava a adiar a escrita de um livro que sempre tinha querido publicar e entretanto morreu. Agora, nunca vai sair. Isso fez-me compreender que cada segundo da nossa vida é precioso. O álbum trata deste tema: faz AGORA o que queres fazer há anos. A passagem pela vida é a única jornada que temos assegurada, portanto temos de a aproveitar ao máximo: vai mesmo acabar um dia, que vai chegar mais depressa do que pensas. Ainda ontem tinha 18 anos e agora, quando me vejo ao espelho,

deparo-me com um homem de 44 anos! Passaram-se 26 anos como se fossem só horas. É assustador ver como o tempo passa cada vez mais depressa, à medida que vais envelhecendo. Logo, concretiza as tuas ambições, enquanto ainda estás vivo. Obrigado por me teres dado a oportunidade de te entrevistar. Adorei o teu álbum e desejo-te as maiores felicidades. Até breve. Obrigado, Eduardo. Gostei muito das perguntas. http://frost.life/ https://youtu.be/exnCIi-MLkc

conta as 10 cordas do baixo, e um tom abaixo, no que toca à melodia. Isso significa que posso tocar mais facilmente partes em uníssono. Emmett Chapman ficou muito surpreendido com os meus requisitos de afinação e enviou-me vários mails sobre o assunto, mas aceitou bem a ideia, depois de eu lhes explicar o que tinha em mente. Toco-o na horizontal, como se fosse um teclado e também toco com um arco e tapping. 13 / VERSUS MAGAZINE


Abyssic Um inverno metafórico Memnock e André Aaslie, em mais um momento de colaboração, responderam às perguntas da Versus sobre o renascimento de Abyssic e a natureza do novo álbum: «A Winter’s Tale». Entrevista: CSA

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Olá, André. Que importância atribuis ao teu contributo para o renascimento da antiga Abyssic Dreams, agora simplesmente Abyssic? André – Olá e obrigado pelo teu interesse pela banda e pelo pedido de entrevista! Bem, com está explicado na nossa biografia, o Memnock queria dar uma nova vida a este projeto, devido à inércia que tinha atingido a sua banda principal – Susperia – em 2012. No verão desse

ano, o Athera, que, na altura, era o vocalista de Susperia (e tocou a bateria na primeira demo de Abyssic Dreams, em 1997) deu uma festa de aniversárino no clube de motas onde Susperia ensaia. Por coincidência, eu encontrei o Memnock, que levava uma caixa contendo alguns discos com samples orquestrais. 1 6 / VERSUS MAGAZINE

Tinha-os pedido emprestados ao Tjodalv, o baterista de Susperia, para aprender a escrever passagens orquestrais para Abyssic Dreams. Eu e o Tjodalv tocamos em Gromth, que tinha lançado um álbum muito orquestrado – para ser o mais simples possível – no ano anterior. Eu estava um bocado “tocado” e trocei das samples que o Memnock me mostrou. Nesse mesmo ano, tinha investido na última geração da tec-

nologia para fazer samples e é claro que tinha de lhe dizer isso a rir. Lembro-me de o Memnock ter ficado um bocado ofendido e que, quando ele me disse que tinha uma banda de Doom Metal que queria renovar, eu lhe ter contado que também tinha uma banda que fazia esse tipo de música e que estava inativa.

Ficámos logo reconciliados e concordámos em trocar algumas ideias sobre o assunto, quando o Memnock

“ o Memnock queria dar uma nova vida a este projeto, devido à inércia que tinha atingido a sua banda principal […] em 2012.” achasse que tinha algumas pré-produções em condições para me mostrar. No outono seguinte, mandou-me uma pré-produção de

vários temas com guitarra, baixo e bateria programada e eu disse-lhe que ia tentar fazer os arranjos e acrescentar alguma orquestração, só para ver se nos entendíamos suficientemente bem para podermos pensar numa possível colaboração. A reação dele aos primeiros minutos que lhe enviei foi, no mínimo,

entusiástica! Disse-me que era exatamente daquilo que andava à procura. Eu tinha dado a volta ao material que ele me enviara e não tinha economizado na orquestração pomposa, pelo que não estava à espera de uma reação tão positiva. Deu-me logo carta branca para fazer os arranjos numa faixa completa. Eu percebi que o Memnock estava à espera de uma canção com 7 ou 8 minutos. Mas, como sou um grande fã de rock progressivo dos anos 70, é-me muito difícil fazer algo com menos de 10 minutos, portanto a canção que lhe enviei algumas semanas depois tinha 12 minutos e meio e ficou a chamar-se “A Funeral

Elegy”. Combinei o material recebido com um tema do meu próprio projeto de Doom Metal e fiz os arranjos para o que resultou dessa combinação. O entusiasmo do Memnock ultrapassou as minhas maiores expetativas e o renascimento de Abyssic Dreams converteu-se numa realidade. Mais tarde, nesse mesmo outono, recebi mais riffs do Memnock. O tempo desses temas era um pouco mais lento, o que me fez perceber rapidamente que este material poderia dar origem a uma canção muito mais longa. Voltei a fazer o mesmo: peguei em material do meu projeto Doom, combinei-o com os riffs do Memnock, arranjei tudo, acrescentei

Quem compõe a música e escreve as letras em Abyssic? André – Como já referi, a música para «A Winter’s Tale» foi escrita por mim e pelo Memnock. Ele responsabilizou-se sozinho pelas letras.

Como relacionam as características deste álbum fantástico (música, letras e capa) com o seu conceito? Memnock – O álbum fala de um glutão que viola e mata muitas crianças em nome de Deus… a história acaba quando ele é enviado para o inferno por um demónio e fica a sofrer eternamente num mundo em que desliza entre o sonho e a realidade…

Pode-se dizer que os músicos de Metal se sentem especialmente fascinados pelo inverno? Ou há outra razão que justifique a escolha de uma estação do ano de que as pessoas geralmente não gostam para o nome deste álbum? (Por acaso, eu até gosto.) Memnock – O álbum não se refere literalmente ao inverno, trata-se de uma metáfora para uma história sobre o amor e a perda de vidas

E o que distingue o inverno visto por Abyssic da mesma estação do ano perspetivada por outras bandas? Memnock – As letras transmitem uma visão metafórica do inverno. E eu gosto muito do inverno.

partes de orquestração e isso deu a canção intitulada “The Silent Shrine”. Penso que foi o melhor presente

“ O som de Abyssic é muito claro e desprovido de artifícios […] tenho de trabalhar duramente em cada pequeno detalhe das partes de orquestração ” de Natal que lhe podia ter dado, hehe. E, assim, metade do álbum estava feita. Durante 2013, usámos o mesmo sistema de colaboração para compor a parte que faltava, com o Elvorn e o Asgeir Mickelson a fazerem a gravação das guitarras e da bateria durante o processo.

“O álbum não se refere literalmente ao inverno, trata-se de uma metáfora para uma história sobre o amor e a perda de vidas…”

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Quem fez a capa do álbum? André – Mitchell Nolte fez o artwork e o design e o logo são da autoria de Asgeir Mickelson. Visto que o inverno é um tema comum a várias bandas (estou a pensar, por exemplo, nos noruegueses Galar, que entrevistei no ano passado pelo álbum «De Gjenlevende»), como veem a possibilidade de fazer uma digressão centrada nesse tema? Com que bandas gostariam de partilhar o palco? André – Temos vários planos em curso. Provavelmente vamos fazer uma digressão maior com Susperia. Gostaríamos muito de tocar com My Dying Bride, por exemplo. E com os grandes Moonspell!

Então quais são os vossos verdadeiros planos para a promoção de «A Winter’s Tale»? Passarão por Portugal? André – A Osmose tem um grande portefólio, portanto a promoção do álbum na imprensa especializada está em boas mãos. Abyssic é uma banda 100% de palco. Fizemos o nosso concerto de estreia num local lendário de Oslo – o Betong – a 27 de novembro. Estamos à espera da edição deste ano do Festival de Metal Karmøygeddon, em abril, em que iremos tocar ao lado de grandes bandas como Samael, Sodom, Candlemass, Kamelot, Katatonia e Rotting Christ, entre outras. Estamos sempre à procura de concertos e festivais e de digressões

com bons cabeças de cartaz. É claro que gostaríamos também de ir tocar em Portugal. Se algum promotor ler esta entrevista, não hesite em contactar-nos! Gostaria muito de partilhar o palco com os Moonspell, que sempre foram uma das minhas bandas de Metal favoritas! O que vai a Osmose fazer para converter esses planos em realidade? André – A Osmose está ciente de que queremos aproveitar todas as oportunidades para tocar ao vivo. Portanto, tenho a certeza de que nos vão apoiar, sempre que aparecer algo interessante. Mas, para já, a primeira prioridade da Osmose é promover o nosso álbum na imprensa tanto quanto possível. https://www.facebook.com/AbyssicDreams/ https://www.youtube.com/watch?v=Dy6tgzDT2s8


Colin Marks Rainsong Design

Um artista “sombrio”

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Colin Marks afirma que os tons sombrios e os ambientes assustadores sempre o atraíram, ao ponto de ter querido criar um livro para crianças seguindo essas tendências. Entrevista: CSA

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Olá, Colin. Estive a analisar o teu portefólio e concluí que trabalhas muito com símbolos: religiosos, tirados do cristianismo (por exemplo, nas capas de «Cell 13», de Mechanical God Creation, «Humanity», de Bleed from Within, ou «The Hate Effect», de Bloodwrath) e de outras religiões/mitologias (por exemplo, «Enduring the Massacre», de Dyscarnate, ou «Glorification of a Myth», de Ouroboros); culturais e históricos (por exemplo, a pirâmide na capa de «Elementary», de The End, ou as duas torres em «Zero Hour Phase», de Jeff Loomis, ou ainda as árvores antigas em «Conclusion of an Age», de Sylosis, e do álbum auto-intitulado «Tyranny of Hours»); políticos (por exemplo, o símbolo comunista, na capa de «Why the City Is Quiet», de Ebony Ark); científicos (por exemplo, em «Embers of Existence», de Engraved Desillusion). Estás de acordo com esta leitura da tua arte? Estes símbolos são mesmo importantes para ti ou escolheste-os porque pareciam adequados ao álbum em questão? Colin Marks: Sim, frequentemente gosto de fazer experiências com símbolos. Por vezes, o seu uso decorre de conceitos 2 2 / VERSUS MAGAZINE

muito específicos abordados pelo cliente, como aconteceu com a capa do álbum de Dyscarnate ou de «Elementary», dos The End. Outras vezes, faço-o para dar ao trabalho um ar misterioso, deixando a quem o vê a liberdade de o interpretar à sua maneira (por exemplo, nas capas de «Unseen Empire», dos Scar Symmetry, ou de «The Abundance of a Sickened Mind», dos Prayed and Betrayed). Alguns trabalhos meus têm conotações religiosas, necessárias para tratar os temas abordados pelas bandas, nas letras e na música. Houve uma ou duas situações, no passado, em que tive problemas, porque as pessoas acharam as minhas propostas de mau gosto, mas a mim, pessoalmente, nunca me pareceu que algo que eu tivesse feito pudesse ser visto como inapropriado. Não podemos agradar a todos. Uma outra grande quantidade de trabalhos teus fizeram-me evocar as capas de

coleções modernas de banda desenhada ou até cartazes de cinema (por exemplo, as capas para «The Betrayal», de Grey Skies Falling, «Last Day Tomorrow», de Dieversity, «Killing the Eternal», de Cataract, ou «Evolution», de Sworn Amongst). Manténs algumas relações artísticas com estas duas formas de expressão? Colin: Gostava muito de banda desenhada, quando era mais novo, e lia várias séries. Continuo a gostar de “histórias aos quadradinhos”, mas não tenho quaisquer contactos com essa cena artística. Há muitos anos atrás, tentei criar a minha própria banda desenhada, mas perdia sempre a motivação ao fim de algumas páginas. Nunca consegui ser suficientemente perseverante para levar a coisa até ao fim. Os cartazes de cinema foram sempre uma grande fonte de inspiração para mim, porque é uma área em que também trabalho e em que me

esforcei por entrar. Portanto, é perfeitamente natural que alguns dos meus trabalhos para bandas tenham uma estética semelhante à dessa produção artística. Também pareces nutrir uma paixão pela arquitetura, quer de tempos antigos (por exemplo, nas capas de «Gates of Punishment», de Rose Funeral, e «Through the Gates of Evangelia», de Haddha), ou da época contemporânea (como se pode ver na capa de «Impending Chaos», de Army Rising). Queres comentar esta ideia? Colin: Onde quer que vou, levo sempre comigo uma máquina fotográfica, porque ando sempre à procura de edifícios e estruturas interessantes/estranhos/antigos (em suma, fora do comum), para os incorporar na minha arte. Quando retiras algo do seu ambiente natural, tudo muda nesse objeto. As capas para Army Rising ou Saille parecem especialmente frias e intimidantes, mas, se tu vires esses edifícios no seu enquadramento, repararás que são esplendorosos e que inspiram uma sensação de serenidade. As tuas capas são, geralmente, muito sombrias (mesmo quando usas motivos infantis, como em «The Gift of Life», de Dreamside, ou «Beneath the Circus», de Inside I). Esta tendência deriva do tipo de 23 / VERSUS MAGAZINE


música que os teus clientes fazem ou representa um eixo crucial da tua estética? Colin: É um estilo que é natural em mim. Tenho o hábito de usar tons ligeiramente obscurecidos, cores menos saturadas, porque é o que me agrada mais pessoalmente, aquilo com que gosto de trabalhar. Por outro lado, os conceitos líricos e musicais dos meus clientes exigem esse tipo de estética, sobretudo quando se trata de bandas de Metal. De vez em quando, pedem-me para fazer algo mais brilhante, com uma abordagem mais otimista, mas penso que, de um modo geral, as pessoas me contactam, porque gostam do ar sombrio das minhas criações e querem que eu faça algo bem sombrio para o seu álbum. Usas fotos como elementos de base para as tuas capas? Colin: Sim, o meu artwork baseia-se muito em fotos. Normalmente, uso muitas fotos e crio efeitos, manipulando-as, deformando-as, ajeitando-as à minha maneira, para alcançar o efeito desejado. Recorro frequentemente a efeitos e texturas criados manualmente, para acrescentar um detalhe a uma imagem, mas, a maior parte das vezes, a base é mesmo uma fotografia. Por vezes, mas raramente, quando um projeto o exige, faço o trabalho quase inteiramente à mão. Por exemplo, a arte para Death of All Gods foi toda feita à mão, recorrendo a desenhos a tinta. A maior parte da capa para Bullet For a Pretty Boy foi pintada à mão e também recorri a “colagens”, usando tela como base. 2 4 / VERSUS MAGAZINE

Que tipo de técnicas usas com mais frequência na tua arte? Colin: É claro que o Photoshop desempenha um papel essencial, quando se trata de converter a fotografia inicial em algo totalmente diferente, do ponto de vista concetual. Tudo começa sempre pela elaboração de um esboço manual, muito básico e cru, a partir de uma ideia de base. Às vezes, reflito sobre essa ideia original, para a aprofundar. Mas, se tenho confiança no meu conceito, atiro-me logo ao trabalho. Normalmente, a primeira ideia que me vem à cabeça é mesmo a melhor. Quando algo requer o recurso a um modelo, programo uma sessão fotográfica e crio a minha arte em torno dessa personagem central, construindo gradualmente uma imagem até atingir o ponto em que tenho confiança total no meu trabalho e me sinto completamente satisfeito com o que fiz. Onde aprendeste a tua arte? Colin: Na universidade, estudei Belas Artes, aprendendo a trabalhar com técnicas de pintura e composição, etc. Também estudei ilustração e, no início, foi muito difícil para mim entrar nesse mundo. Tinha ideias, mas o meu estilo era sempre demasiado tenebroso para essa finalidade. Mas, a certa altura, tudo começou a fazer sentido. Comecei a compreender a minha estética pessoal e a aceitá-la. Nessa altura, fazia quase tudo à mão, combinando pintura e “colagens”. Trabalhava com tintas acrílicas e materiais reciclados. Tinha a ambição secreta de criar um livro infantil

dotado de uma estética tenebrosa (do estilo que eu gostaria de ter tido, quando era criança), mas os resultados foram sempre demasiado negativos para eu me atrever a levar avante esse projeto. Quando finalmente comecei a trabalhar com um computador, só dispunha de uma versão primitiva do Photoshop e, gradualmente, aprendi a usá-lo por minha conta e risco. Não percebia nada de fotografia, mas, depois de uma rápida formação sobre essa arte (ministrada por um amigo meu), comecei a dedicar-me a isso e consegui desenvolver lentamente as minhas aptidões. É quase sempre assim que trabalho. Reparei que fazes outras coisas, para além de capas para álbuns. Podes falar-nos um pouco desses outros

aspetos da tua arte? Colin: Também trabalho com estúdios do Reino Unido e dos EUA especializados em vários aspetos de arte relacionados com o cinema. Crio cartazes e frequentemente colaboro no seu design. É uma forma de trabalhar muito diferente. Geralmente, as bandas dão-me liberdade artística total, enquanto nesta área começámos por uma reunião, onde o cliente nos dá instruções muito específicas, com muitas limitações no que toca a improvisar. Procuro sempre fazer as fotos para os meus projetos. Mas, nos trabalhos para o cinema, temos de fazer algo pré-determinado, para melhor promover o filme. Assim, muitas vezes, sinto que estou a trabalhar em condições que não são as ideais, mas compete-nos fazer com que tudo saia bem. Também se tem de trabalhar a um ritmo muito mais acelerado. Dão-nos prazos e querem resultados ao fim de poucos dias. Gosto de trabalhar depressa, mas há alturas em que ficas com a sensação de que isso não te vai levar a lado nenhum. Mas, quando me envolvo em algo, só paro quando tiver acabado. Já deves trabalhar há bastante tempo, se tivermos em conta a extensão do teu portefólio. Que planos traçaste para o seguimento da tua carreira? Colin: Há muitos anos que trabalho com bandas e os tempos mudaram, como é natural. Mas os músicos continuam a precisar de artwork. Nem sempre se trata de um layout completo para um álbum que vai ter um 25 / VERSUS MAGAZINE


suporte físico. Às vezes, querem apenas algo com um forte impacto visual para representar a música, sobretudo na cena Metal. De momento, estou contente com o que faço e aparecem sempre projetos inesperados. Há algum tempo atrás, trabalhei muito em conceitos para o cinema, o que era diferente do meu habitual e também me agradava muito. Talvez volte a essa área, num futuro próximo. Também gostava de me dedicar à pintura, quando tiver algum tempo para isso.

Recentemente, fui viver para o estrangeiro, o que modificou muito a minha vida e, certamente, também irá afetar a minha carreira de forma imprevisível. Tens alguma mensagem especial a deixar a jovens (futuros) artistas que possam ler esta entrevista? Colin: Têm de se compreender e de explorar ao máximo as suas capacidades, tentar ser únicos, originais. Hoje em dia, é muito mais difícil, porque há muita gente a trabalhar nesta área,

mas é preciso ser persistente, não desanimar. Têm de encontrar um estilo próprio, que seja reconhecido como seu. Não é errado deixar-se influenciar por outros, mas não se trata de copiar o trabalho de outrem. É preciso usar essa inspiração para criar algo que seja imediatamente reconhecido como nosso. Para ser honesto, não posso dizer que é fácil seguir esta carreira. É preciso muito disciplina e perseverança e o sucesso não vai chegar do dia para a noite. Mas, se querem chegar lá, têm de ter autoconfiança e trabalhar duramente. www.facebook.com/RainSongArt http://rain-song.co.uk/

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“ALWAYS ON FIRE”


Parece já longínqua a atribuição do título de "promessas" aos Missa Lava. Com criatividade, talento e trabalho árduo, têm consolidado a sua carreira e são agora uma das bandas de referência do panorama Rock Nacional. Assinala-se em 2016 o seu regresso aos originais com o lançamento do novo álbum "Sonic Debris". Este mostra aos fãs uma faceta um pouco diferente daquela que lhes é apanágio, sem nunca descurarem toda a energia que lhes está embutida no seu ADN musical. Já foram chamados os pais do Stoner Rock Português, intitularam-se os "Machete" da música nacional, e actualmente, segundo os mesmos, serão os Chewbacca do Rock Lusitano. A Versus esteve à conversa com a banda, e podemos dizer que "A força poderosa, com eles é!"

“ACHO QUE COMEÇÁMOS MARCADAMENTE COMO UMA BANDA STONER ROCK (...) DEPOIS FOMOS EVOLUINDO PARA UMA BANDA HEAVY ROCK (...)”

Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro e Ivo Broncas Foto: André Cardoso

ANTES DE MAIS PARABÉNS PELO VOSSO NOVO ÁLBUM. É SEMPRE UM PRAZER OUVIR MATERIAL NOVO DOS MISS LAVA. Obrigado!

COM ESTE NOVO ÁLBUM, “SONIC DEBRIS” APRESENTARAM UMA FACETA MAIS EXPERIMENTAL. FOI ALGO

QUE JÁ QUERIAM FAZER E DECIDIRAM QUE SERIA ESTE O MOMENTO E O ÁLBUM CERTO PARA O MOSTRAR, OU FOI RESULTADO ESPONTÂNEO DE UM PROCESSO NATURAL DE AMADURECIMENTO VOSSO, NÃO SÓ ENQUANTO MÚSICOS, MAS TAMBÉM ENQUANTO PESSOAS?

Foi um processo natural. Com a saída do nosso anterior baixista, houve uma sensação de libertação criativa gigante. De repente, todos nós compúnhamos juntos, tínhamos ideias para dar, alterávamos as músicas e etc... Houve músicas que nasceram em jams, outras nasceram a partir de linhas de voz, outras a partir de linhas de baixo, tudo era válido. Até o Cuca saía da bateria e tocava riffs na guitarra para eu fazer. Isso faz com que haja abertura e muita vontade de Era uma frase para enquadrar a temática da letra.

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descobrir melhores paisagens sonoras até aí pouco exploradas pela banda. Essa “explosão” criativa foi amplificada pelo nosso produtor, o Fernando Matias. O vibe em estúdio foi tão bom que ainda fizemos 2 músicas novas lá! Ao todo, entrámos em estúdio com 12 músicas e saímos de lá com 14 gravadas. Escolhemos 10 para o álbum.

FIQUEI CURIOSO SOBRE O QUE DISSERAM NUMA ENTREVISTA ACERCA

DO VOSSO MAIS RECENTE SINGLE, “IN THE ARMS FO THE FREAKS”: «ESTA MÚSICA É SOBRE LIDARES COM O TEU PRÓPRIO FREAK SHOW. DARES PALCO E LUTARES CONTRA OS TEUS PRÓPRIOS DEMÓNIOS PODE SER UMA VIAGEM BEM DESTRUTIVA NA MAIOR PARTE DAS VEZES» PODEM-NOS EXPLICAR O QUE TENTARAM TRANSMITIR COM ESSA AFIRMAÇÃO? O PALCO CONSEGUE POR SER VEZES O VOSSO MAIOR DESEJO E PIOR INIMIGO AO MESMO TEMPO?

A letra explora um imaginário de freak show, transpondo-o depois para um plano mais introspetivo, pessoal. Quantas vezes não sentes que tens aberrações dentro de ti? Um lado negro que não conheces ou com o qual não te identificas? Para explorares esse teu próprio freak show, tens que colocar as aberrações em “palco”, dar-lhes protagonismo para as tentares compreender. Esse processo pode ser intenso e destrutivo.

DEPOIS DE ALGUNS ANOS SEM PRODUZIREM UM ÁLBUM VOSSO, FIZERAM-NO AGORA EM CONJUNTO COM FERNANDO MATIAS (CONHECIDO, ENTRE OUTROS, PELO SEU TRABALHO COM OS MOONSPELL). COMO FOI VOLTAR A ASSUMIR AS RÉDEAS DA PRODUÇÃO?

Na verdade, a produção sempre ficou a cargo da banda, através do nosso primeiro baixista, o Samuel. Ele acumulava funções – baixista e produtor. Apenas misturávamos e masterizávamos fora, mas sempre com a produção dele. Esta foi a primeira vez que tivemos um produtor externo, que ouviu as demos, veio aos ensaios, bebeu copos connosco, mergulhou no universo da banda e conseguiu potenciar bastante o que a banda estava a fazer musicalmente. O

Matias foi verdadeiramente um 5º elemento da banda para este disco. Sem ele, o resultado não seria tão bom.

ESTE ÁLBUM FOI GRAVADO ENTRE 2014 E 2015 E SÓ NOS CHEGOU ÀS MÃOS EM 2016. PORQUÊ TANTO TEMPO NA GRAVAÇÃO E NA SAÍDA DO ÁLBUM?

Por causa da promoção ao anterior álbum, da mudança na formação e timings da editora. Em 2014, o baixista saiu uma semana antes de começarmos a gravar a 1ª demo com cerca de 8 músicas. Um mês depois, fizemos uma tour em Espanha. Entrou o Ricardo e continuámos a compor ainda mais. No verão, tocámos na Alemanha. Depois do Verão, gravamos nova demo com mais músicas. Por esta altura, ligámos ao Matias e ele começou a produzir o disco. Em Maio de 2016 entrámos em estúdio. Ficou tudo gravado em Junho. A partir daqui, entrámos no processo da editora – mistura e masterização. Só lá para Janeiro que estava finalizado...

CO MATT HYDE. ACHAM QUE A VOSSA FORMA DE ABORDAR A MÚSICA MUDOU APÓS ALGUMAS DESTAS COLABORAÇÕES?

Foram sem dúvida grandes aprendizagens, mas não sei se teve impacto na nossa música ao ponto de mudar algo, até porque esses nomes não produziram, apenas misturaram e masterizaram. Acho que o processo com o Matias, por ser muito mais intenso e partilhado, pode vir a gerar algo diferente na nossa abordagem à música – eventualmente maior espontaneidade em estúdio.

IVO: SE TIVESSEM DE DESCREVER A VOSSA EVOLUÇÃO MUSICAL, COMO O FARIAM?

Essa é uma pergunta difícil! Acho que começámos marcadamente como uma banda stoner rock nos primeiros ensaios, depois fomos evoluindo para uma banda heavy rock nos primeiros álbuns e acredito que, neste momento, somos simplesmente uma banda rock com apontamentos de stoner e algum psicadelismo.

VOLTANDO À TEMÁTICA DA PRODUÇÃO, JÁ TRABALHARAM COM ALGUNS PRODUTORES DE RENOME, SENDO TALVEZ O NOME MAIS MEDIÁTI31 / VERSUS MAGAZINE


TA-ME NÃO VOS OUVIR NAS RÁDIOS. (NÃO SÓ COM VOCÊS…) É ENERVANTE E DESESPERANTE VER POR AÍ TANTA MEDIOCRIDADE COM OPORTUNIDADES, PUBLICIDADE E OUTRAS COISAS QUE TAIS... O QUE É QUE VOS FALTA PARA VOCÊS TEREM O DEVIDO RECONHECIMENTO? (BEM... NÃO QUERO COM ISTO DIZER QUE PARA TER QUALIDADE É PRECISO PASSAR NAS RÁDIOS MAS EU IA ADORAR OUVIR-VOS NAS RÁDIOS NACIONAIS DE REFERÊNCIA!)

PARECE-ME QUE O QUE FAZEMOS NÃO ESTÁ ALINHADO COM O POSICIONAMENTO MUSICAL DAS CONSIDERADAS “RÁDIOS DE REFERÊNCIA”.

UM ASSUNTO QUE CONTINUA A SER POLÉMICO TEM A VER COM A FACILIDADE COM SE ADQUIRE MÚSICA ONLINE. HÁ QUEM DIGA QUE PREJUDICA OS AUTORES E QUE CHEGA A AMEAÇAR A SUA SUBSISTÊNCIA, HÁ QUEM ACHE QUE SEJA UM ÓTIMO MEIO DE PROMOÇÃO DE MÚSICA. QUAL É A VOSSA OPINIÃO SOBRE ESTA MATÉRIA?

Saquem o nosso disco onde e como quiserem. Se gostarem, partilhem, Se conseguirem comprar, melhor ainda. É claro que precisamos do dinheiro para tentar cobrir os investimentos

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que fazemos. Nós todos sacamos música, estamos sempre à procura de ouvir cenas novas. E nós todos compramos música. Se não fosse assim, não conhecia nem metade das bandas e discos que conheço hoje. As bandas têm que aprender a viver com isso, acho eu. Mas a verdade é que nunca fomos uma banda que vivesse da música ou das vendas dos seus discos... Não sei como é que isto afeta quem tem essa realidade.

PELA VOSSA EXPERIÊNCIA E PELO CONHECIMENTO QUE TÊM SOBRE A CENA ROCK/METAL PORTUGUESA, ACHAM QUE É POSSÍVEL UMA BANDA NACIONAL VIVER

EXCLUSIVAMENTE DA MÚSICA QUE CRIA? ESTARÃO CRIADAS AS CONDIÇÕES PARA EXISTIR UMA SUSTENTABILIDADE DA MÚSICA NACIONAL? Acho que sim, mas para isso têm que estar sempre a lançar música nova e andar sempre em tour sem parar. Não podem ficar apenas em Portugal.

PERANTE A VOSSA QUALIDADE ESPAN-

Obrigado pelas tuas palavras. Acho que não tem a ver com qualidade. Parece-me que o que fazemos não está alinhado com o posicionamento musical das consideradas “rádios de referência”. Se a distorção ocupasse mais de metade do Top 10 nacional e no resto do mundo, talvez a coisa fosse diferente. Agora o indie domina as playlists. Só há espaço para bandas como nós em programas de autor. Mas sinceramente isso não nos afeta. Preferimos sentir o carinho e apoio das rádios mais independentes!

ACHAM QUE ESTE MEIO OU AS PESSOAS EM PORTUGAL TRATAM A MAIOR PARTE DOS ARTISTAS COMO “FASTFOOD”? Acho que não, mas deve haver excepções. Todas as pessoas com quem tenho tido contacto gostam verdadeiramente de música e interessam-se muito por música, principalmente por descobrir música nova.

AINDA RELATIVAMENTE À PERGUNTA ANTERIOR, QUAIS FORAM PARA VOCÊS AS MAIORES DIFICULDADES QUE TIVERAM DE ENFRENTAR PARA CONSEGUIREM SINGRAR ENQUANTO BANDA? Dois momentos: a saída do baixista uma semana antes de irmos gravar e perdermos um outro baixista 4 dias antes de irmos em tour para Espanha. Em ambos os momentos, pões a hipótese de cancelar ou parar algum tempo. Mas a nossa reação foi sempre não parar e seguir em frente. No primeiro caso, eu gravei o baixo e no segundo tivemos a ajuda preciosa do Pete Richards, que aprendeu o set em 3 dias e fez vários ensaios à queima-roupa connosco para ir numa tour fantástica!

EM 2012 CONSIDERARAM-SE O “MACHETE” DO ROCK PORTUGUÊS. AGORA, PASSADOS QUATRO ANOS E COM NOVO ÁLBUM LANÇADO, QUE PERSONAGEM CINEMATOGRÁFICA ACHAM QUE SE ADEQUA AOS ATUAIS MISS LAVA? Ah! As personagens cinematográficas perseguem-nos! (risos) Já houve entrevista em que éramos o Charles Bronson. Hmmmm diria que talvez um mix de Flash Gordon com Barbarella! Ou talvez o Chewbacca! Sim, o Chewbacca! Muito pelo e espacial qb!!! (Risos) http://www.misslava.com/ https://www.facebook.com/ MissLavaOfficial/ https://youtu.be/FctqqSlh5dg

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DEATH MELÓDICO “FRESQUINHO” O DEATH METAL MELÓDICO PODE SER MONÓTONO E DESPROVIDO DE VIDA. OS BURDEN OF LIFE CONSEGUEM ADICIONAR ALGUNS ELEMENTOS NOVOS TORNANDO «IN CYCLES» NUMA PROPOSTA MUITO INTERESSANTE. POR ISSO, ESTIVEMOS À CONVERSA COM CHRISTIAN KÖTTERL SOBRE OS “CICLOS DA VIDA”. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro Tradução: Hugo Melo

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OLÁ, É UM PRAZER CONHECER-TE. JÁ TIVE A OPORTUNIDADE DE PARTILHAR ALGUMAS DAS MINHAS IDEIAS RELATIVAMENTE A «IN CYCLES». REALMENTE UMA SURPRESA. Kötti: Olá também para ti. Obrigado pelo interesse e pela excelente crítica. Nós agradecemos. Sim, muitas pessoas foram apanhadas de surpresa com este novo álbum, mas foi isso mesmo que procurámos e, claro, ficámos bastante felizes por o termos conseguido novamente. CREIO QUE NÃO SEJAM A TÍPICA BANDA DE DEATH METAL MELÓDICO, UMA VEZ QUE VOCÊS SÃO MAIS RICOS E COMPLEXOS (MUSICAMENTE FALANDO) QUE A MAIORIA. COMO É QUE VOCÊS DE DEFINEM COMO BANDA? Kötti: Também não nos vemos como uma banda dentro do estereótipo «MeloDeath». Claro que o nosso som tem como base esse tipo de musica, mas depois de dez anos como banda e como muitos mais como ouvintes, o som, com o tempo, foi-se diversificando cada vez mais. Na verdade, não gostamos de assinar como sendo uma banda de Death Metal Melódico, no entanto como banda é importante temos no material promocional algo que as pessoas consigam identificar. Este termo pode ser o mais próximo, no entanto a nossa musica vai para além disso. Também nos podería3 6 / VERSUS MAGAZINE

mos chamar Death Metal Melódico Progressivo com um toque de sensibilidade pop e influencias clássicas. Mas vá-lá, isso simplesmente era ridículo.

soas que gravaram oito ou nove vezes e depois colocou-se as vozes umas em cima das outras, pelo que há mais de 90 ou 100 vozes.

OS ELEMENTOS QUE GOSTEI MAIS FORAM OS COROS (ONZE PESSOAS… WOW!) E O QUARTETO DE CORDAS. DE QUEM FOI A IDEIA E COMO É QUE CONSEGUIRAM INCLUIR ESTES DOIS ELEMENTOS CLÁSSICOS NA BANDA? Kötti: Desde do nosso EP de 2010, «In The Wake Of My Demise”, que usamos coros e cordas reais. Eu, sendo o compositor, comecei a introduzir estes elementos porque sempre fui um grande fã de bandas sonoras épicas e de sons orquestrais e acredito que os álbuns «Death Cult Armageddon» de Dimmu Borgir, editado em 2003, e o «Once» de Nightwish, editado em 2004, foram os que me abriram os olhos para a enorme simbiose existente entre os mundos orquestral e metal. Seja como for, as partes de teclados e afins sempre foram algo bastante presente no nosso estilo de musica, portanto combinar o som com instrumentos e vozes mais orgânicas, é o passo lógico. E claro que gravar com uma orquestra completa, como aconteceu com as bandas que mencionei, seria um sonho tornado realidade. Talvez um dia, quem sabe. Oh, já agora, não foram apenas onze pessoas na secção dos coros, são onze pes-

TAMBÉM TÊM UMA VOZ FEMININA E ACHEI MUITO CURIOSO QUE O ÁLBUM ABRA COM UMA BALADA EM FORMATO DE DUETO. PORQUE É QUE DECIDIRAM ABRIR O ÁLBUM DESTA FORMA? Kötti: Defendemos o conceito de que os álbuns no seu todo são obras de arte, em oposição às músi-

baixista Karl sugeriu que tivéssemos tomates e a colocássemos como faixa de abertura. No fundo este tipo de comportamento está dentro daquilo que costumamos fazer. Portanto, nós pensámos “que se lixe” e colocámos a musica como abertura. Para além disso, se não tiveres paciência para estar cinco minutos a ouvir uma musica com que não contavas, então os «Burden of Life» não são para ti. Todas estas inovações mostram que os «Burden of Life» (como disse) não

“Eu, sendo o compositor, comecei a introduzir estes elementos porque sempre fui um grande fã de bandas sonoras épicas e de sons orquestrais” cas isoladas e à ideia de saltar álbuns ou mesmo discografias inteiras. Não sei, acho que nesse aspecto somos old school. Portanto quando colocamos uma musica numa determinada posição existe uma razão subjacente a isso. Em primeiro lugar a faixa de abertura «Amour Fou» foi das ultimas a ser composta e percebemos logo que a queríamos no álbum, mas não havia lugar para ela. Depois de muito debate, o nosso

são a tradicional banda de Death Metal Melódico. Que influências vos conduziram até este ponto? Kötti: Penso que em determinada altura, quando saí da puberdade, comecei a perceber que há muita boa musica por aí para além do Heavy Metal. Enquanto adolescente era incrivelmente fechado, e mesmo que ouvisse algo que gostasse para além do Heavy Metal, eu não o admitiria, especialmente para mim. Mas as paredes

começaram a cair quando descobri os álbuns de «Dire Straits», «Abba» e «Queen», pertencentes ao meu pai, e que tinha adorado enquanto miúdo. Hoje em dia, embora adore muita da musica de metal, consigo apreciar qualquer coisa entre a «Adele» e os «Immortal». Creio que isto acabe por se manifestar na composição. Algumas influencias são directas, outras são mais profundas e subliminares, mas eu sou apenas inspirado por gostar e apreciar todo o tipo de musica. ÉS O RESPONSÁVEL POR TODAS AS MUSICAS E LETRAS? O QUE VEM PRIMEIRO: O SOM OU AS PALAVRAS? Kötti: A musica vem sempre primeiro. Primeiro termino a parte musical e só depois começo a considerar sobre o que é que a musica poderia ser. Simplesmente alimento-me do vibe da musica e os tópicos vem naturalmente. A escrita em si pode ser um bocadinho entediante, porque sou muito picuinhas relativamente a como tudo soa junto bem como à forma do inglês, usando as silabas correctas e afins.

ias para eles me darem o feedback. Depois falamos de alguma alteração que possa vir a ser necessária e resolvemos o resto nos ensaios. Naturalmente eu sou bastante confiante em relação aos meus arranjos e tento sempre explicar porque é que fiz as coisas da forma que as fiz. Mas sem qualquer dúvida, os outros têm a palavra e as suas opiniões são sempre apreciadas, no entanto penso que eles aprenderam a confiar mais em mim, agora que há um método por detrás da loucura.

FALANDO DE LETRAS, ACHO MUITO INTERESSANTES ALGUNS DOS TÍTULOS: «DEVIL IN THE DETOX», «52 HZ» OR «KAFKAESQUE». DE ONDE VIERAM AS IDEIAS PARA AS LETRAS? EXISTE ALGUM CONCEITO TRANSVERSAL POR DETRÁS DELAS? Kötti: Existem alguns aspectos da cultura metal que considero bastante entediantes. Por exemplo, os títulos das musicas e dos álbuns tende a ser muito monótona. É por isso que procuramos incorporar alguma comédia em alguns títulos porque OS RESTANTES ELEMENjá existe muita morte, TOS PARTICIPAM NO PRO- sangue, ódio, desgraça e CESSO CRIATIVO? OU É dor por aí. É óbvio que exEXCLUSIVAMENTE TEU? iste uma justificação para Kötti: Eu escrevo e comesses títulos: «Devil in the ponho toda a música até Detox» tem como base a estar 85 a 95% completa. expressão inglesa Devil is Portanto a maior parte dela in the detail e fala sobre está feita quando os outros o alcoolismo e o abuso a ouvem. Eu mando-lhes de substâncias, ou mais os meus rascunhos e ideespecificamente do que é 37 / VERSUS MAGAZINE


“Penso que em determinada altura, quando saí da puberdade, comecei a perceber que há muita boa musica por aí para além do Heavy Metal.”


que estas podem, com o tempo, fazer a uma pessoa perfeitamente normal. É escrita na perspectiva de uma pessoa que acha, como vive sempre intoxicada, isso dá-lhe o direito de fazer coisas horríveis sabendo que, como nunca está sóbria o suficiente, nunca sente arrependimento. A «52 Hz» é baseada numa história verdadeira. É sobre uma baleia que canta numa frequência que as outras não conseguem ouvir, e isso leva-a a uma existência de solidão. «Kafkaesque» - deriva do nome de Frank Kafka – e de forma crua significa pesadelo e surreal. A musica é conceptualizada como uma viagem num comboio fantasma pelos próprios pesadelos.

O que eu compreendo de produção – ou pelo menos um grande aspecto dela – é estar presente em todo o processo, conhecendo todas as músicas e todos os seus detalhes de trás para a frente, fazendo sugestões aos músicos e, se necessário, alterando os arranjos, no geral, controlar todos os aspectos das musicas. Às vezes é stressante, mas é o que gosto de fazer. Eu conheço todo o material como a palma da minha mão e sinto-me bastante ligado à música pelo que sinto que tenho mesmo de estar lá presente para as ver crescer e existir. Em todo este tempo creio que, em oitenta ou noventa sessões, não devo ter estado presente em duas.

TAMBÉM PRODUZISTE «IN CYCLE». COM TODOS ESSES ELEMENTOS – O CORO, O QUARTETO DE CORDAS… - QUAL A FOI A MAIOR DIFICULDADE QUE ENCONTRASTE NA PRODUÇÃO DE TODOS ESTES ELEMENTOS DIFERENTE? Kötti: Em primeiro lugar, não fui eu que estive atrás da mesa de mistura e misturei tudo. Essa honra pertenceu ao grande Rolf Munkes da Empire Studios. Ele fez toda a parte técnica porque eu não percebo nada disso.

«THE VANITY SYNDROME» (2013) FOI UM ÁLBUM CONCEPTUAL, GRAVADO APÓS TEREM GANHO UM CONCURSO DE METAL. QUAL É O CONCEITO POR DETRÁS DESTE ÁLBUM? Kötti: «The Vanity Syndrome» é uma história de uma amor falhado que culmina num pacto com uma entidade demoníaca. A história é contada em duas partes que levam a um êxtase que não quero explicar muito, porque pode haver quem não conheça e queira apreciar por si mes-

quando começámos a gravar o «In Cycles» tivemos de começar do zero e procurar uma nova editora. Felizmente encontrámos a Noizgate Records que se mostrou uma grande parceira e estamos muito contentes com o trabalho que eles têm por nós.

mo. É muito influenciado pela minhas próprias experiencias, mas intercaladas, por forma a torná-la mais apelativa, por alguns elementos do fantástico e do sobrenatural. Ainda tenho o álbum em grande estima e penso que é um conceito muito interessante e para quem goste deste «In Cycles», vale a pena o ouvir. QUAIS SÃO AS GRANDES DIFERENÇAS ENTRE ESTES DOIS ÁLBUNS? Kötti: Acho que «In Cycles» é a consequência lógica de «The Vanity Syndrome». Agarra em todos os elementos dos álbuns anteriores, amplifica e aumenta-os. Portanto musicalmente não estão assim tão afastados.

“«In Cycles» é a consequência lógica de «The Vanity Syndrome». Agarra em todos os elementos dos álbuns anteriores, amplifica e aumenta-os.” 40 / VERSUS MAGAZINE

Talvez o «In Cycles» seja mais estranho e pouco ortodoxo enquanto o «The Vanity Syndrome» mais grandioso e épico, o que é compreensível, sendo um álbum conceptual. Também podes dizer que a maior parte do material do «The Vanity Syndrome» é mais austero e deprimente, enquanto que o novo álbum tem alguns elementos de luz a delinear as suas nuvens negras. Penso que quem goste de algum deles, vai gostar do outro. MUDARAM DE EDITORA ENTRE O «IN CYCLES» E O «THE VANITY SYNDROME». QUE ACONTECEU? Kötti: A nossa antiga editor abriu falência uns meses depois de lançarmos o «The Vanity Syndrome». Foi muito frustrante para nós porque fez com que o álbum não tivesse a atenção que nós achamos que ele merecia. Por isso

O VÍDEO “IN CYCLES” É HILARIANTE - PARTI O COCO A RIR! PORQUE QUE É QUE OPTARAM POR UM REGISTO CÓMICO NUMA MUSICA QUE, SUPONHO, É DE ALGUMA FORMA… SÉRIA? Kötti: Muito obrigado, também estamos muito felizes com o resultado final. Outra coisa que, no Heavy Metal, tende a entediar-me são as bandas que tem sempre a necessidade de provar que são uns gajos duros. Isso leva a que a maior parte das imagens promocionais e os vídeos sejam, basicamente, idênticos. Estão sempre sérios e nunca se riem, e tem sempre como cenário umas ruínas todas lixadas de uma fábrica antiga e, em cima disto tudo, um vídeo com uma performance enfadonha nas mesmas ruinas lixadas da mesma fábrica antiga. Obviamente que estou a exagerar, mas a ideia subjacente é verdadeira. Nos nossos primeiros anos fizemos o mesmo, afinal de contas somos uma banda de metal. Mas a determinada altura começamos a sentir que eramos demasiado velhos para fingir que eramos esses metálicos

mauzões. Somos apenas quatro indivíduos bem-dispostos, que gostam de passar um bom bocado e quiseram gravar um vídeo cómico e pouco convencional. A musica em si não é uma musica cómica, mas, no essencial, tem uma mensagem positiva, pelo eu considero que nos conseguimos safar com o vídeo. Para além do mais, depois deste vídeo, agora temos a liberdade de fazer uma performance estereotipada numas ruínas lixadas numa fábrica antiga. O QUE QUERES DIZER QUANDO AFIRMAS: “NOS MOVEMO-NOS EM CÍRCULOS; TUDO SE MOVE EM CÍRCULOS”? Kötti: Age correctamente com as outras pessoas que elas agirão correctamente contigo. Lixa as coisas que elas voltarão, de uma forma ou de outra, para te assombrar. É o carma, a história repete-se sempre. MUITO OBRIGADO POR ESTA OPORTUNIDADE DE TE ENTREVISTAR. EU REALMENTE GOSTEI DO VOSSO ÁLBUM E DESEJO-VOS O MELHOR. Kötti: Obrigado pelo interesse e pela entrevista. Talvez um dia tenhamos a oportunidade de ir a Portugal. Adeus. http://www.burdenoflife.de/ https://www.facebook.com/burdenoflife/ https://youtu.be/eM7-WGjNIF0

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ANTRO DE FOLIA

Por: Carlos Filipe

steampunk

"Este estilo artístico conseguiu progressivamente tornar-se num género à parte, com caracter e força própria que viu nascer uma legião de fãs, que se apaixonaram por este inabitual género que tem tanto de estranho como de fascinante, e onde o passado ilumina o futuro e o futuro é transfigurado pelo passado, num cruzamento temporal vertiginoso. Assim, não é de estranhar que o termo steampunk esteja associado ao subgénero da ficção científica, pois designa a combinação de um universo inglês vitoriano com uma tecnologia futurista para a época, mas que ainda tem por base as máquinas a vapor (daí o steam=vapor), e que por vezes é obra de cientistas dementes. A sua utilizadação tem sido vasta, quer seja na literatura, quer seja no cinema, filmes que visualmente são perfeitamente identificáveis pelo período vitoriano (1837-1901) e a revolução industrial em que se inserem. Apesar de o termo ter surgido no final dos anos 80, derivado do termo futurista cyberpunk, já era possível encontrar este universo em muita literatura escrita nos anos 60. Alias, penso que a primeira referência ao steampunk está bem presente no universo imaginado por Jules Verne ou H.G. Wells, onde toda a tecnologia sustentada por máquinas a vapor, conseguia coisas ainda hoje inimagináveis. Como já referi, o cinema absorveu o steampunk como um elixir de criatividade, tendo produzido um conjunto bastante apreciado de filmes, quer de imagens reais, quer de animação ( em particular vindos do Japão ), uns mais famosos do que outros, infelizmente a maioria sem grande sucesso, mas mais devido a outros factores do que o steampunk. Um dos mais famosos e recentes é provavelmente, a última encarnação de Sherlock Holmes de 2009, na pele de Robert Downey Jr. de Guy Ritchie, em que Sherlock e o Dr. Watson (Jude Law) num postura bastante moderna e atual, vão perfazendo as suas investigações no meio de uma Londres vitoriana, aqui fotografada de forma exemplar, enaltecendo toda uma atmosfera moderna no seio da época vitoriana. O próprio ângulo de ataque da interpretação de Robert Downey Jr. é muito steampunk, na forma como misturar passado e futuro, oferecendo uma personagem comportamentalmente contemporânea num contexto de outrora. Dos anos noventa temos um excelente filme, apesar de hoje estar completamente esquecido) que abraça o steampunk como mais ninguém, misturando tecnologia “a vapor”, um inventor louco (Arliss Loveless interpretado por Kenneth Brannagh) e o western americano do século XIX, mais precisamente, o ano de 1869. Quiseram estilizar tudo e oferecer maquinaria única com um imaginário futurista ao bom estilo de Jules Vern dentro do contexto do velho western. Genial mas arriscado para a época. A máquina mais impressionante é uma aranha mecânica (a fazer lembrar as construções de Gustave Eiffel) de vários metros de altura que funciona… a vapor, claro está! Foi um enorme flop de bilheteiras, muito pelo facto de ter a estrela do momento (Will Smith), a atriz do momento (Salma Hayek), o realizador do momento (Barry Sonnenfeld - M.IB.) e ter custado uma fortuna comparativamente ao que custava uma produção mais sofisticada na época, mas que não teve o timming do momento. Estou a falar de Wild, Wild West de 1999. Da mesma década há outro filme que merece a sua descoberta: A Cidade das crianças perdidas (1995) de Jean-Pierre Jeunet, onde a cidade imaginária e a época distopia onde se passa esta história, apesar do realizador não o admitir, é bastante steampunkiana.

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ANTRO DE FOLIA

steampunk

Mais recentemente há três filmes que podem-se enquadrar igualmente no steampunk, primeiro Tomorrowland (2015) de Brad Bird com George Clooney, segundo o Capitão América (2011) e um dos melhores filmes de Martin Scorsese e dos mais subestimados, um verdadeiro hino ao cinema, que por si só merecia um Antro dedicado Hugo Cabaret (2011), ou, como um jovem órfão encontra o génio e pioneiro do cinema George Méliès e vice-versa. Aqui temos o charme de uma Paris fantasmagórica entre a colisão da era industrial e as máquinas. A capital francesa, as suas artérias, os seus lugares, aparecem primeiro como enormes engrenagens mecânicas. O exlibris do filme é uma máquina automata (automaton). Em 2003 houve uma primeira tentativa nos anos 2000 de trazer os super-heróis para o grande ecrã. Isso foi tentado com A Liga dos Cavaleiros Extraordinários de Shephen Norrington com Sean Connery aos comandos da película, que junta um conjunto das mais célebres figuras de ficção da era vitoriana. Aqui, tudo toca no steampunk. O filme foi um fracasso. Alias, os problemas com esta produção foram tais que o realizador era constantemente posto em causa pelo próprio Sean Connery acerca da direção artística que o filme seguia, tenho o mesmo abandonado o filme, e é caso para dizer “Quem não tem unhas, não toca guitarra”. O campo da animação Japonesa tradicional, em particular dos estúdios Ghibli e do realizador Hayao Miyazaki, tem sido um azo e regalo à imaginação e utilização do steampunk, sempre com uma forte mensagem ambiental presente, onde a tecnologia e a revolução industrial são vista como um mal na terra, assim na mesma veia das obras de Tolkien e o antro dos Uruk-hais e Orcs. Destaco Um Castelo No Céu de (2003), Steamboy (2004) e um filme de animação francês chamado de Avril et Le Monde Truqué (2015). A par das imagens que acompanham este artigo, a melhor forma de se inteirarem do género steampunk é descobrirem ( ou redescobrir ) grande parte destes filmes, e abstraírem-se do facto de na altura alguns terem sido grande fracassos. E o Heavy Metal? Onde anda o steampunk na música mais pesada? Bem, a única coisa que me lembro que tem elementos de steampunk é o projeto 011 dos Therion de 2014, uma curta metragem de 15 minutos com a duração da música “Aldaruna Ridivia” que conta uma história passada no século XIX com contornos de mistério e mística ao bom estilo dos Therion, tudo envolto num contexto gótico e repleto de elementos gráficos que se enquadram perfeitamente na cena steampunk. Temos o fantasmagórico Dr. Vikström, o misterioso capitão Snowy que conduz um dirigível que é um excelente exemplo de steampunk – principalmente no seu interior, tudo numa cidade imaginária envolta numa atmosfera gótica ao nível das ruas mas uma outra muito steampunk ao nível aéreo. Tirando a curta dos Therion, com uma rápida pesquisa pela internet, revela que não há nenhuma banda com o nome de Steampunk ou a utilizar este riquíssimo género. Estranho, muito estranho ninguém ter abraçado o steampunk já que o universo e imaginário desta cena daria um excelente nome para uma banda de Metal e uma fonte de inspiração e criatividade inesgotável. Um metal industrial cruzado com um dos géneros mais clássicos (Death, Thrash, Black, NWOBHM) daria provavelmente uma original banda de metal, uma especie de metal hibrido, e assim criar eventualmente um novo subgénero: o steampunk metal. Ou, incluindo o subgénero no meio do nome daria por exemplo steamdeathpunk metal ou steamthrashpunk metal ou steamblackpunk metal...

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REIS DA SUA PRÓPRIA SELVA!


É ASSIM QUE SE SENTEM OS WILDERNESSKING, DE ACORDO COM A AFIRMAÇÃO DE KEENAN OAKES. Entrevista: CSA TÊM AQUI UM GRANDE ÁLBUM, SEM SOMBRA DE DÚVIDA. ALIÁS, NEM SERIA DE ESPERAR OUTRA COISA DE UMA EDITORA EXCELENTE COMO A LADLO. Keenan Oakes – Obrigado. Ficamos muito sensibilizados com esse elogio.

da tua própria selva, a que existe dentro de ti. E, em última instância, é a esse facto que se refere o nome da banda… Tentar vencer os desafios com que nos confrontamos, aprender com o que nos acontece, aproveitar ao máximo a nossa vida.

COMO PODE UMA BANDA TÃO JOVEM (COM UMA CARREIRA DE 5 ANOS) APRESENTAR UMA TAL MATURIDADE? O QUE ANDARAM A FAZER ANTES DE FORMAREM WILDERNESSKING? Antes de Wildernessking, todos fazíamos parte de outras bandas. O Dylan e o Keenan tinham um projeto chamado Of Whales and Men e ambos já tinham tocado em bandas de Metal. O Jesse teve uma breve passagem por Crow Black Sky. E o Jason fazia parte de uma grande banda de Black Metal chamada Infernal Sephiroth. Já todos tocávamos desde meados dos anos 2000.

O QUE NOS PODES CONTAR SOBRE A HISTÓRIA DA BANDA? A nossa banda chamava-se Heathens, antes de termos mudado para Wildernessking. Enquanto estavam a tocar em Of Whales and Men, o Keenan e o Dylan resolveram dar início a um projeto paralelo, que fosse divertido e daí resultou uma banda de Black N’ Roll. Recrutaram o Jason, que, inicialmente, tinha sido contactado para fazer parte de Of Whales and Men, mas, na altura, estava muito envolvido em Infernal Sephiroth. Conscientes do seu gosto pelo Black Metal, o Keenan tentou novamente convencê-lo a juntar-se a eles em Heathens, e, por coincidência, nessa altura, a sua banda estava a perder terreno. Os três ensaiaram juntos e deram o seu primeiro concerto uma semana mais tarde. Alguns meses depois, lançaram o primeiro EP. Os Heathens ainda gravaram mais um EP, antes de o Jesse se juntar a eles. Ele trouxe uma nova dinâmica à banda e começámos a explorar territórios desconhecidos, em termos musicais e líricos, e

COMO DESCREVERIAS A VOSSA MÚSICA? Vemo-nos como uma banda de Metal/Rock com influências de Black Metal, Post-Rock, Shoegaze e outras formas de música alternativa. POR QUE NÃO TÊM UM LEÃO NO VOSSO LOGO? QUEM É O REI DA SELVA PARA VOCÊS? Seria algo demasiado literal para o nosso gosto. Tu és o rei 48 / VERSUS MAGAZINE

lançámos a última música de Heathens, em fevereiro de 2011 – o single “Morning” – que ainda tocamos ao vivo. A mudança de nome deu-se em maio/junho de 2011 e fomos logo para o estúdio para gravar «The Writing of Gods in the Sand», em setembro desse mesmo ano. COMO É A CENA METAL NA ÁFRICA DO SUL (COM ESPECIAL REFERÊNCIA AO BLACK METAL? A cena Metal está a crescer de forma segura. Já não é muito pequena, porque há concertos praticamente todos os fins-de-semana. Quanto à cena Black Metal, praticamente não existe. Não quer dizer que não haja bandas desse género: o problema é que não funcionam como uma cena. Tendem a hibernar e só fazem concertos de vez em quando. Esse tipo de música ainda não tem apoio suficiente para poder dar origem a um nicho integrado na cena Metal sul-africana. A VOSSA BANDA PARECER SER MULTICULTURAL (CALCULO QUE, POR EXEMPLO, O JASON JARDIM É DE ORIGEM PORTUGUESA). EM QUE MEDIDA ISSO AFETA A VOSSA MÚSICA? É verdade. Penso que afeta mais a nossa dinâmica que a nossa música. Crescer num país politicamente complexo como o nosso contribuiu para que tivéssemos sempre consciência da importância dessa multiculturalidade. Há cerca de 20 anos atrás, nem sequer teríamos sido capazes de lançar um projeto como Wildernessking e, apesar de

não podermos pronunciar-nos sobre a importância que a multiculturalidade da banda tem para a música que fazemos, estamos certos de que essa característica é um dos motores que impulsionam a nossa banda. PODES COMPARAR ESTE SEGUNDO ÁLBUM COM O ANTERIOR E EXPLICAR O QUE MUDOU DE UM PARA O OUTRO? Tentamos sempre ir mais longe a cada novo lançamento, independentemente de ser um longa duração, um EP ou algo de qualquer outro format possível. Cada álbum representa um avanço relativamente a tudo o que o antecedeu, mesmo que isso só seja evidente aos nossos olhos. «Mystical Future» é um álbum focado e parece mais assente numa dada atmosfera, numa certa dinâmica, num espírito bem definido do que «The Writing of Gods in the Sand», que foi mais propriamente construído a partir de riffs provenientes de vários quadrantes de Heavy Metal. QUEM FEZ A CAPA PARA «MYSTICAL FUTURE»? A capa da edição em vinil foi feita (fotografada) por Eckardt Kasselman, o artwork da cassete é da autoria de Rouleaux van der Merwe e Angelica Luthi criou a arte do CD. DECIDIRAM ABORDAR O TEMA DO FUTURO NESTE ÁLBUM POR SEREM TODOS BASTANTE NOVOS? OU ESTAVAM ANTES A PENSAR NO FUTURO DA HUMANIDADE? Sim, mas, ao mesmo tempo, também se trata de uma

jornada pessoal, já que, na realidade, só podemos verdadeiramente falar em nome pessoal. Quando escrevemos «Mystical Future», estávamos a atravessar uma fase das nossas vidas em que não sabíamos bem o que íamos fazer e de que forma isso poderia afetar a banda. Para ser franco, neste momento, o futuro ainda nos parece oculto em brumas difíceis de perscrutar, mas mesmo assim já temos uma ideia mais clara de para onde vamos ou, pelo menos, de onde pretendemos levar Wildernessking.

COMO VÃO PROMOVER ESTE FANTÁSTICO ÁLBUM? É VIÁVEL VIREM FAZER CONCERTOS À EUROPA? Não vai ser fácil ir à Europa, mas também não é impossível, parece-me até muito plausível que o façamos. Neste momento, estamos a organizar uma digressão, portanto vai estando atenta às notícias que surgirão em breve. Obrigado pela entrevista. https://www.facebook.com/Wildernessking https://youtu.be/9tId0XN774U

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A carreira dos Godvlad tem sido em crescendo, como olham para a vossa carreira até ao momento? Sim, tem sido um longo percurso desde o inicio da banda em 2006. Tem sido um crescimento lento e trabalhoso mas cada vez mais positivo e gratificante. Demora sempre tempo para construir uma banda do zero. Há sempre obstáculos e contratempos mas com perseverança chega-se aos objectivos estipulados.

EMPALADORES São um dos valores emergentes do Metal Nacional – mais um – e fazem-no com categoria. A prova disso é a participação no renovado Vagos Metal Fest. Por isso, A Hintf e a Versus juntaram-se para uma entrevista conjunta Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro (Versus Magazine) e Nuno Lopes (Hintf)

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Sente-se alguma evolução sonora na banda, com mais peso mas, ao mesmo tempo, com mais harmonia. Sentem que o vosso caldeirão sonoro está mais coeso? Sim, sem dúvida. Ao longo do percurso de qualquer banda, é natural haver evolução e amadurecimento. Se isso não acontecer, algo está errado. Cada álbum que editamos, sentimos que foi um passo em frente em variados aspectos musicais. Também cada vez mais nos conhecemos melhor uns aos outros como músicos e isso afecta essa mesma evolução e coesão. Ao mesmo tempo o EP parece lidar com medos, silêncios e outras questões «individuais». Qual o conceito comum que envolve estas seis malhas? O elemento comum que interliga as musicas do EP prende-se com a questão da insegurança que todos nós sentimos as vezes, a um ou outro nível. Seja em matéria de relações inter-

pessoais ou dos nossos medos ou limitações, este EP aborda um pouco a forma como lidamos com isso... ou não. No que diz respeito às influências, quais são as que vos ajudaram neste caminho até este EP? E já agora, como se reflectem na música que criam? Este EP é uma evolução natural da banda. Cada trabalho que temos lançado traz evolução e amadurecimento. Como mencionei acima, todos os elementos vêm de backgrounds diferentes e, assim sendo, juntando tudo dá uma fusão de estilos. Mesmo entre as músicas, nota-se bem algumas diferenças das nossas influências. Fazemos o que sentimos com plena honestidade. Tenho ouvido com atenção «Dark Streets Of Heaven» e alguns pormenores chamaram-me a atenção. Gosto da dicotomia entre a voz e o instrumental: Realmente, o instrumental (e a voz do Sérgio) conferem uma certa “escuridão” à música, “iluminada” e muito bem pela voz da Vanessa. E temos ainda uma “pitada” de componente electrónica. Os temas são bastantes abrangentes e gosto particularmente do Thrash de “Kalis Curse”. Concordas com a minha análise? Concordo plenamente. Além das nossas vastas influências, as vozes intencionalmente contrastam uma com a outra. Mes-

mo a nível instrumental, temos muitas partes de peso além de secções bastante melódicas. De certa forma o nosso som é uma antítese e gosto particularmente dessa vertente em Godvlad em que as musicas são bem distintas entre elas. Como é o vosso processo de criação? É variável. Podemos começar com um pattern de bateria, riff de guitarra, um loop ou malha eletrónica como ponto de partida e construímos a música nesse sentido. Enquanto compomos, gravamos tudo directamente para o computador adiantando assim a pré-produção. Tem sido muito eficiente a forma como fazemos isso e tem resultado muito bem para nós. Vocês escreveram, arranjaram e produziram este EP. Como é que vocês se entendem quando há discórdia? :-)) Quem tem a última palavra? Felizmente não há muita discórdia. Embora eu e o Sérgio como fundadores da banda temos a última palavra, na maior parte dos casos estamos sempre todos em sintonia. Já trabalhamos juntos há tempo suficiente para saber o que nós queremos. Porque escolheram desta forma e não um produtor? Já somos praticamente auto-suficientes desde o primeiro álbum. É uma formula que tem funcionado bem connosco e leva-nos a perder menos tempo além de ser economicamente mais vantajoso. Porquê mudar o que funciona bem? 51 / VERSUS MAGAZINE


Vocês lançaram «Bipolar» em 2014 e agora este EP. «Dark Streets Of Heaven» irá anteceder um novo álbum? O que podemos esperar de vocês num futuro próximo? Sim, já começámos a gravar o próximo álbum que verá a luz do dia em 2017. Estamos constantemente a trabalhar em material novo. Quando sentimos que temos musicas para um novo disco, começamos a ultimá-lo. Não somos banda de estar muito tempo parados. Dark Streets of Heaven surge dois anos após Bipolar, sentiram necessidade de fazer um lançamento para mostrar que estão activos ou é um «aperitivo» para o LP que háde chegar? Já existem planos para um novo Longa-Duração? Sentimos que já era tempo de mostrar algo novo e fresco. Não somos banda para estar demasiado tempo sem trabalhar e o EP foi um exemplo disso. Juntámos 6 músicas que achámos especiais para o EP além de já ter começado a gravar o próximo Longa- Duração que será lançado em 2017. Vocês já estão confirmados no Vagos Metal Fest. Existe algo especial preparado para esse evento? O que sentiram quando vos foi feito o convite? Sentimos uma enorme responsabilidade visto que que é um festival já de grande envergadura, além de sermos a primeira banda Aveirense/lo5 2 / VERSUS MAGAZINE

cal a tocar no festival (contando com os anteriores). Além de algumas músicas do novo EP, também iremos tocar músicas dos dois álbuns anteriores. Vamos tentar equilibrar e conciliar a escolha das músicas dos três discos com o tempo que teremos para tocar visto que não é um concerto “nosso” e claro, esperamos estar à altura. Será este o ponto mais alto da vossa carreira? A nível de concertos será o nosso maior gig até á data, por isso sim, será um ponto bastante elevado na nossa carreira. Para uma banda como os Godvlad como é ver o crescente número de eventos de média/grande dimensão em Portugal e qual a maior dificuldade que sentem enquanto banda nacional? É bom haver mais eventos de média/grande dimensão em que proporcionem mais e melhores condições para a bandas tocarem. Quanto melhor as condições, melhor será o espetáculo de uma banda (supostamente). É bom também apostarem mais em bandas Portuguesas, pois há muitos talentos no nosso pequeno país para divulgar. Embora ainda acho que há alguma mentalidade de que o que vem de fora é que é bom, mas também acho que isso tem diminuído ao longo dos anos. Essa mentalidade não ajuda nada nem beneficia ninguém. Isso sim, dificulta a vida de qualquer banda nacional.

Vi na vossa página do facebook que ainda são independentes. O que é que vos falta para assinarem por uma editora? O que é que vocês estão a fazer nesse sentido? A vantagem de ser independente é que fazemos o que queremos sem submeter-mos O Bandcamp é das melhores plataformas existentes para bandas (...) Desde que fomos anunciados no Vagos Metal Fest, Godvlad ganhou mais visibilidade e está a ser uma excelente forma de promoção.

a outra entidade externa. Somos nós que temos o controlo absoluto e preferimos assim. Qualquer das formas, futuramente se surgir uma boa oportunidade que seja vantajoso para nós, as coisas podem mudar nesse sentido. O futuro dirá. Reparei que se pode ouvir o EP via bandcamp. Como é que está a correr a promoção e porque escolheram esta forma de dar a conhecer o vosso trabalho? O Bandcamp é das melhores plataformas existentes para bandas e artistas independentes. É prático e fácil de utilizar. Desde que fomos anunciados no Vagos Metal Fest, Godvlad ganhou mais visibilidade e está a ser uma excelente forma de promoção. De resto usamos as ferramentas mais comuns para nos promover, como por exemplo, as redes sociais, Youtube, etc...

Li uma crítica muito positiva num website espanhol. Como está a ser feita e como está a correr a promoção além-fronteiras? A promoção além-fronteiras está a ir bem mas de forma mais lenta. Há muita coisa lá fora e torna-se cada vez mais difícil furar. Mas acredito que com tempo e perseverança se possa conseguir algo bom e gratificante. O QUE VOCÊS ACHAM DA FORMA COMO SE ADQUIRE OU SE QUISERES “ADQUIRE” MÚSICA ONLINE? ACHAM QUE MESMO ASSIM É UMA (BOA) FORMA DOS ARTISTAS SE PROMOVEREM? HÁ QUEM DIGA QUE PREJUDICA IMENSAMENTE OS AUTORES. CONCORDAM COM ESTA VISÃO? Tem os dois lados da moeda. Por um lado, a internet ajudou a catapultar bandas e artistas que se calhar de outra forma, nunca sairiam do “canto” deles. É uma boa forma de chegar a toda gente a nível global. A contra-partida é que resultou em “1000 cães a um osso” e isso gerou uma situação de saturação enorme em que as pessoas levam com tanta coisa todos os dias e já não ligam tanto nem têm tempo para isso. Outra contra-partida é que com a internet perdeu-se uma boa percentagem na vendas de discos. Permite ser muito fácil “roubar” de forma anónima seja o que for. Claro que para quem ainda compra online, não precisa de sair de casa e isso torna-se mais cómodo. Como tudo na vida, há sempre vantagens e desvantagens.

Como olham para a vossa opinião sobre cena nacional e o que essa mesma cena? acham que falta para Aveiro sempre teve bandas e que a cena fique mais músicos de qualidade. Desde forte e coesa? bandas de covers a bandas de A cena nacional está boa de originais(Anger, Souq, etc...). saúde. Há muitos eventos, e Acho que deve haver alguma grande parte deles tem tido substancia mágica na água ou publico, mesmo que não esteja nos ovos moles! Haha... Mas a abarrotar, estão bem comfoi sempre uma zona rica em postos. A única contrapartida musica, daí haver uma cena é que as bandas recebem muito forte desde há muito tempo. pouco para tocar. Quase a tocar por amor à camisola. Há imenso trabalho e investimento que envolve numa https://godvlad.bandcamp.com/ banda, https://www.facebook.com/godvlad/ seja em instrumentos, equiO vosso nome, suscipamento de som, composição tou-me alguma curiodas musicas, gravar um álbum, sidade – VLAD – isto é etc... O talento tem que ser referência ao Príncipe valorizado e não explorado. Vlad, o Empalador? Se Se és bom em qualquer coisa, sim, como surgiu esta nunca o faças “de borla”. Nada ideia? contra bandas de covers, mas, Certíssimo! Foi inspirado no grande parte das vezes ganhaPríncipe Vlad Tepes. A ideia se mais a tocar musicas dos foi criar um nome de conoutros do que as próprias musitraste que correspondesse ao cas que uma banda constrói do nosso som. GOD que é Deus, zero com o seu sangue, suor e representa tudo que é bom e talento. É triste mas é verdade. sagrado, enquanto Vlad que Reforço também o negativismo é inspirado no Vlad Tepes, referido na questão anterior representa maldade visto que que a mentalidade em Portugal ele foi considerado uma pessoa do que vem de fora é que é demoníaca e depravada. O bom está errado. nome por si é uma antítese. Ao longo dos anos a cidade de Aveiro temse imposto como um polo de bandas e com uma cena, digamos, forte. A que acham que se deve e qual a

Obrigado pelo vosso tempo e espero ver-vos no Vagos Metal Fest! Obrigado nós pela oportunidade e pelo apoio. Até Vagos!!!

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Nem tudo o que vem de Sines gira em redor das Músicas do Mundo. Aliás, longe disso! Carlos Campos é o nome por detrás do projecto a solo Soulue. Um excelente exemplo de um trabalho de dedicação com promessas de constante auto-aperfeiçoamento, cujo resultado se traduz em músicas bastante interessantes que tentam “abanar” alguns conceitos. A Versus falou com a mente e talento por detrás de Soulue. 5 4 / VERSUS MAGAZINE

Entrevista: Ivo Broncas

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GARAGE POWER ANTES DE MAIS BEM-VINDO À VERSUS, E PARABÉNS PELO TRABALHO QUE TENS FEITO. É SEMPRE DE LOUVAR QUEM SE DEDICA TÃO AFINCADAMENTE A COMPOR E GRAVAR MÚSICA PELA PAIXÃO DE O FAZER, PRINCIPALMENTE QUANDO O FAZES ABSOLUTAMENTE SOZINHO. PARA QUEM AINDA NÃO TE CONHECE ATRAVÉS DO SOUNDCLOUD, PODES FALAR UM POUCO SOBRE ESTE TEU PROJETO A SOLO? COMO O CLASSIFICARIAS EM TERMOS MUSICAIS? Carlos: Antes de mais agradeço o convite e o interesse neste projecto que me é muito estimado. É-me dificil classificar o meu projecto. Nunca gostei muito de “etiquetar” os géneros, acaba sempre por ser limitativo e podemos ter a tendência de querer ser fiéis a essa etiqueta. A base desta minha ideia é fundamentalmente isso, criar/construir sem rótulos e sem dependências. Sem dúvida que é metal, mas deixo a cada um a tarefa de ter a própria opinião e como identificam. NOTA-SE QUE TENS UM GOSTO MUSICAL MUITO DIVERSIFICADO. SE TIVESSES DE REFERIR AS TUAS MAIORES INFLUÊNCIAS, QUAIS SERIAM? Carlos: Vamos buscar inevitavelmente influências aos nossos ídolos. Gosto realmente de muitos artistas diferentes, cada um por sua razão e por determinadas caracteristicas que apresentam, tanto a nivel de composição musical como a nivel lírico. Riverside, Opeth, Dream Theater, The Doors, Pink Floyd, Type O Negative, Tool, Megadeth, Talanas, são apenas alguns de uma lista que seria quase infindável. TIVESTE NA ORIGEM DE VÁRIAS BANDAS QUE TOCAVAM DIFERENTES GÉNEROS. O QUE TE LEVOU AGORA A OPTAR POR FAZERES ALGO A SOLO? Carlos: É verdade, passei desde um metal alternativo a punk rock ou até mesmo uma fusão de horror punk com metal (lá estão as ditas etiquetas). A decisão de fazer algo 5 6 / VERSUS MAGAZINE

No que toca ao metal penso que nos últimos tempos tem havido alguma estagnação. E não digo a nível de qualidade, estão por aí muitos bons músicos e muito boas bandas. a solo foi uma junção de factores, de igual peso. Passa por ter o total controlo a nível criativo, por poder ir por caminhos artísticos que não dependam de aprovação de outros, ter músicos que tenham o mesmo interesse ou o mesmo gosto em criar algo deste género, até ao facto de que a vida e o dia-a-dia não permite muito tempo para me reunir com mais músicos e criar algo como um grupo. Estes foram os principais factores que me fizeram levar à frente com este projecto a solo. TUDO NA VIDA TEM PRÓS E CONTRAS. PARA TI QUAIS SÃO OS PRÓS E OS CONTRAS DE UM PROJETO DESTA NATUREZA? Carlos: Eu diria que os prós são simultaneamente contras neste caso. Tal como havia dito na pergunta anterior, tenho o total controlo criativo do projecto, mas desta forma não tenho o input criativo de mais ninguém. Não vou ser egocêntrico e pensar que tudo é melhor porque só dependo de mim. O interessante na música é que podemos ter 100 instrumentistas do mesmo instrumento numa sala e terás 100 abordagens diferentes, por isso se tens alguém a trabalhar sozinho vais ver apenas uma abordagem de tantas outras possíveis. O ESTILO MUSICAL QUE APRESENTASTE NO PROJETO SOULUE ESTAVA JÁ ESTRUTURADO NA TUA MENTE ANTES DE COMEÇARES A COMPOR AS CANÇÕES, OU FOI ALGO QUE SAIU ORGANICAMENTE? Carlos: Foi algo que saiu naturalmente, foi essencialmente poder ir por caminhos que em bandas não tive a oportunidade de caminhar. Seguir simplesmente para onde as ideias me levavam, “no strings attached”

QUAIS FORAM AS PRINCIPAIS DIFICULDADES QUE TIVESTE AQUANDO DA COMPOSIÇÃO E GRAVAÇÃO DAS MÚSICAS? Carlos: A nível de composição foi mesmo as baterias. Dos instrumentos utilizados no projecto é o único instrumento que não toco. Pensar nos padrões desejados e na composição para o encaixe com o restante. Com os outros instrumentos já estava habituado a compor. Na parte da gravação é que realmente reside o busílis da questão. Venho gravando com o material que tenho e com os conhecimentos que possuo, que são limitados para o resultado final que gostaria de obter. Por isso acontece por vezes ter vontade de remasterizar músicas mais antigas pois vou aprendendo mais com o tempo. MUITO SE FALA ACERCA DA SUBSISTÊNCIA DOS MÚSICOS EM PORTUGAL. NA TUA ÓTICA, É POSSÍVEL VIVER EXCLUSIVAMENTE DA MÚSICA EM PORTUGAL? Carlos: É possível. Conheço pessoas próximas de mim nessa situação. Se é fácil? Não, não é. E mais difícil ainda o é quando pretendes tocar apenas o que gostas. Muitos para atingir o objectivo de subsistência exclusiva da música têm que abraçar vários projectos em simultâneo, alguns que não lhes agradam muito, e encarar tudo isso como um meio para atingir um fim. QUAL É OPINIÃO ACERCA DO PANORAMA MUSICAL ACTUAL? ACHAS QUE É FÁCIL PARA OS MÚSICOS CONSEGUIREM TOCAR AO VIVO E MOSTRAREM O SEU TRABALHO? Carlos: No que toca ao metal penso que nos últimos tempos tem havido alguma estag-

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nação. E não digo a nível de qualidade, estão por aí muitos bons músicos e muito boas bandas. Cada vez temos músicos mais capazes. Mas gostaria que algo viesse refrescar o panorama. Não se pode ficar apenas por o “old-school” ou o “true”. Cada coisa a seu tempo, e eu estou curioso com o que ainda aí vem. Quanto ao tocar ao vivo, penso que já houve mais oportunidades, já houve mais movimento. Mas talvez se deva aos dias de hoje que regra geral as pessoas não param para ouvir música. Felizmente ainda há quem lute para que tal aconteça e temos vários exemplos disso. Mas mais uma vez gostaria de ver novas tendências. As oportunidades são limitadas a nível de género, ou então estão trancadas dentro de quatro paredes. O QUE PODEMOS ESPERAR NUM FUTURO PRÓXIMO DE SOULUE E DE CARLOS CAMPOS ENQUANTO MÚSICO? VAIS DAR CONTINUIDADE AO TEU TRABALHO A SOLO, PERSPECTIVAM-SE NOVIDADES? Carlos: Falando de Soulue, total empenho para que o projecto seja verdadeiro. É um processo moroso, por questões de rotina diária, por não poder despender o tempo que gostaria nele, mas será sempre algo verdadeiro. Não apresentarei nada que não ache digno do selo Soulue, e essa é a principal razão por demorar algum tempo a disponibilizar novo material para se ouvir online. Ainda falando e de Soulue, estou numa constante estruturação para um álbum, que ainda não sei exactamente em que formatos estará disponível. Estou a trabalhar também num video para uma das músicas. Quanto a outros projectos ou bandas em full-time de momento não se avizinha nada, mas quem sabe. Não fecho as portas a uma eventual nova aventura. https://soundcloud.com/soulue https://www.facebook.com/Soulue/

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KRATER UMA JUSTA IRA


SEGUNDO SHARDIK, QUE DÁ A CARA PELA BANDA, ESTE É O MOTOR QUE ANIMA KRATER. ENTREVISTA: CSA

KRATER É UMA BANDA UM TANTO MISTERIOSA, DADO QUE O MATERIAL FORNECIDO PELA VOSSA EDITORA QUASE NÃO DIZ NADA SOBRE VOCÊS. POSSO PEDIR-TE QUE RESUMAS OS MOMENTOS MAIS IMPORTANTES DA VOSSA HISTÓRIA PARA OS LEITORES DA VERSUS MAGAZINE? Shardik – Krater foi fundada em 2004. Desde essa altura, já lançámos 2 demos, 2 split-EP e 3 álbuns. Inicialmente, éramos um trio. Dessa antiga formação só restam Abortio (vocais e baixo) e Shardik (bateria). Devido à mudança de guitarristas, o nosso estilo foi-se alterando de gravação para gravação. Mas a grande mudança ocorreu quando gravámos «Nocebo», em 2011. Atualmente, continuamos a seguir o trajeto musical que iniciámos nesse álbum. Ibbur (guitarrista) faz parte da banda desde 2008. Em 2016, 3E.3, um amigo de longa data, ocupou o lugar do nosso guitarrista principal. Até agora, a Alemanha, a Áustria e a Holanda são os países em que nos acolhem melhor. BLACK METAL É O MEU GÉNERO FAVORITO NO 6 0 / VERSUS MAGAZINE

UNIVERSO DO METAL, SOBRETUDO QUANDO COMBINA MELODIAS MARAVILHOSAS (COMO AS GUITARRAS NO VOSSO ÁLBUM) COM DETALHES APARENTEMENTE FEIOS/ OBSCUROS/TENEBROSOS (POR EXEMPLO, A BATERIA E A VOZ EM «URERE»). RECONHECES KRATER NESTE RETRATO? Ao longo da evolução de Krater, depressa nos apercebemos de que temas como o abismo humano eram muito mais interessantes do que a mera adoração do demónio. Com os instrumentos de que dispomos, procuramos canalizar uma espécie de agressão pura. Estes dois ingredientes constituem a essência da nossa banda, por isso insistimos neles. Na nossa opinião, a combinação e a alternância entre a agressividade e as melodias tristes são a melhor forma de exprimir essa ideia. «URERE» É UM ÁLBUM PODEROSO, AFUNDADO NAS TREVAS. QUE SIGNIFICADO DERAM AO SEU TÍTULO? FUI PROCURAR A PALAVRA NO DICIONÁRIO E DESCOBRI QUE VINHA DO LATIM E SIGNIFICAVA “CAUTERIZAR”. Neste contexto, URERE significa “arder”. Refere-se a algo como uma tocha ar-

dente que começa por uma brasa latente e acaba a produzir um fogo enraivecido, que destrói tudo à sua volta. Simboliza a justa ira que se converte numa loucura furiosa, que te queima por dentro. É para esta ideia que as letras e a música do álbum apontam. SÃO FÃS DE LITERATURA ROMÂNTICA OU ATÉ DO SINISTRO MOVIMENTO PRÉ-ROMÂNTICO DO FIM DO SÉC. XVIII, QUE DEU ORIGEM A OBRAS COMO “O MONGE” (DE MATTHEW GREGORY LEWIS)? VEJO ESTE ÁLBUM COMO UMA ESPÉCIE DE BANDA SONORA PARA UMA NARRATIVA DESSE GÉNERO. Não há qualquer relação entre a nossa música e essas obras literárias, nem elas exerceram qualquer influência sobre nós. VOCÊS TÊM UM GOSTO REQUINTADO PARA ESCOLHER AS CAPAS PARA OS VOSSOS ÁLBUNS. AS PRIMEIRAS SÃO BASTANTE TRADICIONAIS (PARA UMA BANDA DE BLACK METAL), MAS AS DESTE ÁLBUM E DE «NOCEBO» SÃO DIFERENTES. FORAM FEITAS PELO MESMO ARTISTA? São ambas da autoria de Lisa Vinstervân Schubert. A primeira vez que vimos um desenho dela foi em 2010 e

“[…] depressa nos apercebemos de que temas como o abismo humano eram muito mais interessantes do que a mera adoração do demónio. […]” percebemos logo que tínhamos de o usar no livrinho de «Nocebo». Mais tarde, dei-lhe alguma informação sobre o álbum e ela fez a fantástica capa. Para «Urere», demos-lhe uma espécie de esboço do que pretendíamos de que ela fez uma verdadeira obra de arte.

dades. Portanto, falámos com a Eternity Records e mudámos para a Eisenwald. O responsável ouviu a promo de «Urere» e ficou logo muito entusiasmado. Por outro lado, a Eternity vai lançar a versão de «Urere» em vinil. Portanto, podemos dizer que fica tudo em família.

DE QUE FORMA A IMAGEM NA CAPA DE «URERE» ILUSTRA O CONCEITO SUBJACENTE AO ÁLBUM? As três personagens simbolizam a loucura, a obsessão/apatia, o ódio e o ser humano a ser despedaçado pela sua conjugação.

DECORRERAM 5 ANOS ENTRE O LANÇAMENTO DESTE ÁLBUM E O DO SEU ANTECESSOR. A MUDANÇA DE EDITORA TEVE ALGO A VER COM ESTE LAPSO DE TEMPO? A mudança de editora ocorreu quando já tínhamos o álbum pronto. Enviámos a masterização final à Eisenwald e solicitámos um contrato de gravação. Gravámos todo o álbum por nossa conta e risco e depois o Patrick W. Engel, da Temple of Disharmony Studio, fez a mistura e a masterização. Portanto, a editora não teve nada a ver com isso. Começámos a gravar as partes de bateria em dezembro de 2012. Inicialmente, a gravação foi misturada noutro estúdio alemão. Mas tivemos problemas técnicos e de tempo com eles e decidimos procurar outro estúdio, apesar de

ANTES TRABALHAVAM COM UMA OUTRA EDITORA ALEMÃ E AGORA ESTÃO COM A EISENWALD. O QUE ACONTECEU? «Nocebo» foi editado pela Eternity Records. E., o seu proprietário, é um bom amigo da banda. Com esse lançamento, deu-nos a possibilidade de criar o álbum sem compromissos relativos ao som ou ao layout. Com esse álbum, alcançámos críticas fantásticas na imprensa nacional consagrada ao Metal. A Eisenwald é uma editora alemã bem conhecida, que nos pode dar muito mais oportuni-

o trabalho estar concluído. Isso aconteceu no início de 2015. Na Temple of Disharmony Studio, tudo correu como nós queríamos e num período de tempo curto. ESSE LAPSO DE TEMPO AJUDOU-VOS A TORNAR O SOM MAIS ELABORADO? OU, POR OUTRAS PALAVRAS, O QUE DISTINGUE «URERE» DE «NOCEBO»? Com «Nocebo» (2011), o nosso som mudou por completo. Podes dar-te conta das diferenças ouvindo os nossos lançamentos ao longo dos anos. Mudaram as nossas influências, assim como o nosso gosto musical, de um modo geral. Tentámos exprimir as nossas intenções. Quando a criatividade flui, procurámos capturá-la, o que implica conservar as ideias durante algum tempo, expandi-las ou deixá-las ir. Mas é sempre a primeira centelha que conta. Essa fagulha tem de estar lá, quando decidimos gravar o material, independentemente da ideia existir há horas ou há anos. Penso que a primeira canção deste álbum foi escrita em 2010. Para «Urere», recorremos a uma abordagem deste tipo. Quisemos fazê-lo ainda mais extremos, mais intenso. Além disso, ambos os álbuns foram inteiramente gravados por nós. Aprendemos muito, ao longo desse processo. É por isso que «Urere» brilha, se o comparares com o seu antecessor. https://youtu.be/os0GgP92lnc https://abstrusekrater.bandcamp.com/ 61 / VERSUS MAGAZINE


GRÊLOS DE HORTELÃ Por: Victor Alves

A morte do poeta Perdido às margens do prazer Ritual Mágico E exótico Onde os nossos lagos maternos e profundos nos acolhem

Quantas pessoas são precisas para abrir um buraco e quanta mágoa para ocupa-lo? É dolorosa a loucura do nosso terror Quantos cães são precisos para uma caçada E quantos dias de raiva para criar ódio? Quantas pessoas vão andar mergulhadas no mesmo pesadelo?

É o mundo a vítima dos nossos erros O pai a causa do esquecimento O amigo sem acção O pobre o rico e o mendigo Todos juntos num abrigo Todos mortos pelo mesmo tiro

É dolorosa a loucura do nosso terror

Só o sonho tira-nos desta realidade cruel Quando mergulhados no verdadeiro e belo sonho

Uma sombra Um ser Um corpo Um cérebro e tudo se transformam

Alguém matou o puro som que andava pelo reino

Os teus olhos já não mentem mais perante os meus

Lamento as minhas conclusões Ter que condenar e julgar algo vivo Fazendo de mim Ser do mesmo fardo

Eis o fruto da nova lei arcaica Espectáculo de uma nova dor Pessoas agarradas ao ruído pelo silêncio desprezado Sem a fragrância da flor abundante Agarrados à letra Do rosto sem forma

Lamento as minhas conclusões A respeito do homem que se faz cego Mouco Tolo Sendo parvo Lamento o meu espelho Lamenta comigo amigo Lamenta a presença de dois homens Uma guerra Mil soldados Mil buracos abertos O autor sobe ao palco E com ele as marias de sempre Esquecem a paz Começa o horror No ar a cabeça No chão a sombra do carrasco

Alimentamos o ciclo de um círculo de idiotas

Quero-te amar com uma arma apontada à cabeça Fazer guerra para que te possas sentir em paz Ser guerreiro homem duplo Filho do feiticeiro maldito Senhor eterno louco entre espantalhos Ser guerreiro perante seres de porcelana Que se partem num pensamento meu Despreza o silêncio e flores te prometem Quantos assassinos são precisos para uma guerra E quanto tempo para morrerem todos?

Correspondemos a um grupo de doidos Lunáticos Perdidos num mar sólido Que por vezes nos escapam dos pés Navegamos pela revolta Com os olhos virados ao passado Lutamos numa viagem longa Sobre um barco furado Tudo muito estranho mas nada violento Nascemos numa bola Andamos à deriva

É o homem do palco que dá a acção É no voar de um cérebro que a morte sorri 6 2 / VERSUS MAGAZINE

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MAIS VALE TARDE... Os Stratovarius já são “veteranos” e uma das bandas que mais influenciou o Power Metal Melódico. A carreira da banda é muito interessante e conta já com 16 álbuns de estúdio. No entanto, faltava o típico Best Of onde pudessem agrupar os melhores temas. E eis que em 2016, passados vinte anos, surge uma edição com, nada mais, nada menos que três CD’s Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro e Nuno Lopes Transcrição e Tradução: Hugo Melo Fotos: Jarmo Katila 6 4 / VERSUS MAGAZINE

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ESTE É O PRIMEIRO BEST OF DE STRATOVARIUS. TENDO 16 ÁLBUNS DE ESTÚDIO, PORQUÊ SÓ AGORA A EDIÇÃO DE UM BEST OF?

Jens Johansson: Bem, tem a ver com complicações da indústria. Os álbuns anteriores até ao Polaris foram lançados por editoras diferentes e só no ano passado conseguimos os direitos desses álbuns. Prevemos inclusive a edição de material antigo porque as editoras anteriores, por exemplo, a Universal, teve os direitos de alguns álbuns e nunca fez nada com eles, nunca os reeditou, nada. Ainda bem que os conseguimos ter de volta.

QUAL FOI O CRITÉRIO PARA AS ESCOLHAS DAS MÚSICAS A INCLUIR NESTE BEST OF?

Jens: Isso é uma boa história. Eu nem sei bem, porque quem as seleccionou foi o Rolf Pilve (baterista) mas eu confio nele no que diz respeito a isto porque ele tem uma visão da banda bastante abrangente, provavelmente porque como baterista não se foca tanto nas notas e nas coisas individuais e tem uma visão mais geral das músicas. Qualquer um de nós colocava logo problemas, aqui não gosto das guitarras, aqui dos tecladas, etc. Era o melhor para a tarefa.

ESTE BEST OF TEM UMA MUSICA NOVA, NO ENTANTO A «UNTIL THE END OF DAYS» NÃO É BEM NOVA, É UM EXCEDENTE DO ÁLBUM «ETERNAL». ESTÁ CORRECTA ESTA AFIRMAÇÃO? Jens: Não é bem assim, não. Quando apresentámos as músicas ao presidente da editora ele é que escolheu esta, porque gostou imediatamente dela e ele próprio decidiu deixá-la fora do «Eternal» para incluir no best of, por isso não a podemos considerar uma sobra.

STRATOVARIUS É CONSIDERADA UMA DAS PERCURSORAS DO GÉNERO POWERMETAL. COMO VÊS O PERCURSO ATÉ HOJE? SENTES QUE FIZERAM PARTE DO NASCIMENTO DE UM NOVO GÉNERO DENTRO DO METAL? Jens: Eu não nos dou assim tanto crédito. Como em muitas histórias aconteceu estarmos no momento certo à hora certa. Como acontece muitas vezes vimos uma banda a tocar algo e dissemos “se estes gajos conseguem então nós também conseguimos”. 6 6 / VERSUS MAGAZINE 6 6 / Last in Line

“A ÚNICA ALTURA EM QUE SENTI QUE ISSO ESTEVE PERTO - FIM DA BANDA FOI EM 2008 (SAÍDA DE TOLKKI).”

NO PASSADO, ESPECIALMENTE DEPOIS DE «DESTINY» A BANDA TEVE ALGUNS PROBLEMAS NO LINE-UP, E OUTRAS SITUAÇÕES MENOS MEMORÁVEIS. COM OS 20 ANOS DE BANDA COMO OLHAS ESSES ACONTECIMENTOS?

Jens: Bem, em 99% do tempo, com o Tolkki, como desde que ele saiu estivemos bastante felizes, mas no que diz respeito aos media, 95% do que escrevem é sobre o 1%, porque é mais interessante. Se houver um artigo sobre o facto de uma banda não discutir durante um mês, não consegue qualquer atenção, no entanto se escreverem sobre a separação de uma banda, conseguem logos imensos “clicks”. Durante o tempo com o Tolkki fomos bastante felizes, ele é um grande líder, acho mesmo que é um dos melhores líderes com quem já trabalhei, ele é inteligente e escreve grandes canções.

COMPARANDO COM OS ANOS INICIAS DE STRATOVARIUS, COMO VÊS O POWERMETAL NOS DIAS DE HOJE? Jens: Agora é mais pequeno, isso é certo. Mas creio que tem a ver com a quebra nas vendas e tem levado algumas bandas a mudarem de rumo.

É CORRECTO AFIRMAR QUE ESTE BEST OF MARCA O FINAL DE UMA ERA E O INÍCIO DE OUTRA? Jens: Nem por isso.

ACHAS QUE ESTES ACONTECIMENTOS INTERFERIRAM COM A EVOLUÇÃO E CRESCIMENTO DA BANDA?

QUANDO TE INICIASTE NA MÚSICA, ESTA ERA PARTILHADA PELA TROCA DE CASSETES E VINIS. QUAL É A TUA OPINIÃO RELATIVAMENTE À FORMA COMO A MUSICA É OUVIDA E PARTILHADA E COMO É QUE ISSO AJUDA, OU NÃO, UMA BANDA COMO STRATOVARIUS?

Jens: Bem, não. Quer dizer quando estavam a acontecer tivemos alguns problemas financeiros e legais, mas de momento a pior coisa que pode acontecer é como nesta entrevista alguém perguntar e tu teres de responder (risos).

Jens: No final acho não devemos ficar chateados pelo facto das pessoas quererem ouvir a música, mesmo através do dito “roubo” da mesma. Moralmente falando não o deveriam fazer, mas se querem ouvir é uma forma de o fazerem.

APÓS DUAS DÉCADAS E DEPOIS DA TEMPESTADE QUAIS SÃO OS OBJECTIVOS E QUE PLANOS É QUE OS STRATOVARIUS TÊM?

Jens: Bem creio que fazer mais música. Neste momento estou envolvido no projecto Blackmore's Rainbow e passamos muito tempo a ensaiar, etc, etc. Sei que o Matias tem estado a viver no Brasil, mas creio que brevemente iremos estar todos juntos.

COMO É QUE UM SUECO QUE TOCA NUMA BANDA DE POWERMETAL FINLANDÊS, ACABA A TOCAR NO RITCHIE BLACKMORE'S RAINBOW? Jens: É uma longa história. Eu toquei com ele em 1998 e o Ritchie lembrou-se. Aquele gajo era porreiro, bastante calminho, que fez um solo que o impressionou e que nem quis fazer mais nenhum take.

DEPOIS DA PARTIDA DE TIMO TOLKKI E DE JÖRG MICHAEL, EM ALGUMA ALTURA SENTISTE QUE PODERIA SER O FINAL DA BANDA? Jens: Nem por isso. A única altura em que senti que isso esteve perto foi em 2008 (saída de Tolkki).

(...) QUANDO ESTAVAM A ACONTECER TIVEMOS ALGUNS PROBLEMAS FINANCEIROS E LEGAIS, MAS DE MOMENTO A PIOR COISA QUE PODE ACONTECER É COMO NESTA ENTREVISTA ALGUÉM PERGUNTAR E TU TERES DE RESPONDER (RISOS).

NO PASSADO TIVERAM UMA EXPERIÊNCIA COM UMA VOZ FEMININA. ACHAS QUE ERA UMA BOA HIPÓTESE? E COMO VÊS A MÚSICA DA BANDA DURANTE ESSE PERÍODO? Jens: Ela nunca pertenceu à banda. Tolkki teve a ideia de fazer uma rock opera, mas ela nem chegou a gravar nada. Acho que ele viu isso mais como

uma piada. Na verdade, teve a reacção que queria que foi a “que diabo está aquele gajo a fazer????”. Mas eu cheguei a conhece-la e de facto ela era muito musical e acho que seria uma boa hipótese, caso a coisa fosse séria.

NO DIA 29 DE JUNHO VÃO TOCAR COM OS IRON MAIDEN, ACHAS QUE ESTE PODERÁ SER UM DOS PONTOS ALTOS DOS STRATOVARIUS? Jens: Sim, poderá ser. Eu também gosto muito de Maiden e acho que vão ser umas noites de Verão interessantes.

É PENA QUE EM JULHO, EM PORTUGAL, OS STRATOVARIUS NÃO FAÇAM A PRIMEIRA PARTE DE MAIDEN. PARA FECHAR GOSTARIA DE TE COLOCAR A SEGUINTE QUESTÃO: ENTRE OS ARTISTAS QUE CONHECES, VIVOS OU MORTOS, COM QUEM, E PORQUÊ, GOSTARIAS DE PARTILHAR O PALCO? Jens: Eu acho que Bach.

QUANDO INICIASTE A TUA CARREIRA ALGUMA VEZ PENSASTE QUE VIRIAS A PERTENCER A UMA DAS BANDAS MAIS INFLUENTES DENTRO DO SEU GÉNERO?

Jens: Nem por isso, não. Nunca poderemos prever as voltas que a vida dá. Só queremos tocar e divertimo-nos.

ULTIMA QUESTÃO. O QUE É QUE AINDA NÃO FIZESTE QUE GOSTARIAS DE FAZER? Jens: Bem…

MUSICALMENTE FALANDO.

Jens: Ah, musicalmente. Ok… Nunca toquei ao vivo com uma orquestra. É algo que deve ser interessante.

MUITO OBRIGADO PELO TEU TEMPO PARA RESPONDER À VERSUS MAGAZINE E ESPERO VOS VER EM BREVE EM PORTUGAL.

Jens: Sim, de vez em quando vamos aí. Uma vez mais, muito obrigado ht t p: / / w w w. st rat ovari us. com/ ht t ps: / / w w w. f acebook. com/ st rat ovari us/ ht t ps: / / yout u. be/ yI i C P opH xuU 67 / VERSUS MAGAZINE 67 / LAST IN LINE


Tarja

Viva! “I’ve found the way to feel alive” - (Trad.: “Eu encontrei uma forma de me sentir viva!”) Será esta uma das frases do poema de “Eagle Heart” que pode definir a forma de Tarja estar na música. 2006 vê nascer dois álbuns quase de uma assentada. Destaque para «The Shadow Self» que certamente vos fará sentir… vivos! Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro Tradução: CSA Fotos: Tim Tronckoe


Olá, Tarja! Estou encantado por te conhecer, apesar de virtualmente. É um grande prazer para mim entrevistar uma das mais célebres vozes femininas na história da música. Tarja Turunen– Obrigada! A primeira pergunta (como não podia deixar de ser) é para saber por que razão fizeram uma prequela do álbum e não o tradicional CD duplo ou EP, por exemplo. Tarja: Um duplo CD seria muito para o fãs suportarem e seria complicado ouvir todas as músicas sem perder o interesse. Eu sugeri à editora o lançamento de um EP, mas como tinha tanto material em mãos (até temas que escrevi enquanto fazia o álbum), decidimos lançar outro álbum, que pudesse representar o novo álbum antes deste ser lançado. Não queria lançar estes temas como bónus ou lados – B para países diferentes, nem esperar anos pelo lançamento do próximo álbum para as incluir nele. Uma vez que o lançamento de «The Shadow Self» está previsto para 5 de agosto, o que nos podes dizer sobre a forma como «The Brightest Void» está a ser recebido? Tarja: Tenho feito uma enorme promoção para ambos os álbuns durante este verão e incluído temas destes nas setlists dos meus concertos em festivais. Tem sido óptimo ver como as pessoas têm acompanhado a minha criatividade e apoiado o meu trabalho. Eu tenho fãs muito leais. É uma bênção! As capas destes álbuns revelam que não são indepen7 0 / VERSUS MAGAZINE

dentes. Podemos considerar que um deles é uma extensão do outro? Tarja: «The Brightest Void» deixa antever o que nos espera em «The Shadow Self». Os temas foram escritos para um álbum apenas durante um dado período de tempo. No entanto, acabei por escrever temas a mais para apenas um álbum e, então, eu e a editora tomámos a decisão de lançar dois álbuns completos. Eles completam-se um ao outro. Normalmente, é mais comum a lançar um álbum de bónus após o lançamento do álbum real, mas desta vez decidi que ia ser diferente. Ao ouvir ao dois álbuns, pareceu-me que «The Shadow Self» é mais pesado e tenebroso que «The Brightest Void». Concordas? Tarja: Concordo contigo. Fiz isso intencionalmente. Vou começar pelo tema de abertura: “Innocence”. Parece-me que é a melhor faixa de ambos os álbuns. Adoro a intro e o interlúdio de piano no meio. Pareceme que tem uma mensagem muito forte, Vi o video com a minha filha, que tem 10 anos, e constatei que a primeira elementos que lhe chamou a atenção foi a imagem, não a música. Ela perguntou-me qual era o tema da canção e eu disse que não sabia e pedi-lhe para ela pensar. Ela respondeu: violência doméstica. Apesar disso, gosta muito da canção! Era esta a mensagem que pretendias passar? Tarja: Eu acho que o vídeo fala por si só.

O vídeo é absolutamente fantástico e complementa perfeitamente a canção. Aquele momento imprevisto no fim é demais. Há algum significado especial no facto de, quando agarras o braço do homem, este ficar preto e branco? Tarja: A ideia é deixar que o ouvinte encontre o seu próprio significado. Nestes dois álbuns, tens alguns convidados muito especiais: Michael Monroe, Chad Smith and Alissa White-Gluz (entre outros). Como conseguiste a oportunidade de trabalhar com eles? Tarja: Conheci o Michael através do nosso "The Voice" (Finlândia). Tornámo-nos amigos e trabalhámos no programa durante os últimos anos como mentores. Porque queríamos selar a nossa amizade, escrevemos e gravámos um tema - “Your Heaven and Your Hell” - durante a segunda temporada de “The Voice”. Chad Smith é um amigo do meu baixista Kevin Chown, que já há muitos anos me falou na hipótese de trabalhar com ele, o que só agora foi possível fazer. Fiquei realmente contente por ele ter participado nos álbuns. Quando acabei de gravar as partes vocais de “Demons In You”, senti a falta da agressividade vocal da Alissa. Eu não tenho conhecimentos suficientes para fazer aquele tipo de voz, nem me atreveria a tanto. Obviamente fiquei contente por ela ter aceitado o convite: a música precisava daquele impulso de energia extra que ela tão bem lhe soube dar.

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“«The Brightest Void» deixa antever o que nos espera em «The Shadow Self».” 7 2 / VERSUS MAGAZINE

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Outro aspeto de que gostei muito tem a ver com as versões de “House Of Wax” (de Paul McCartney), “Supremacy” (de Muse) e o tema “Goldfinger” (de Shirley Bass, para o filme do mesmo nome da série James Bond)… que inclui uma surpresa. Porque escolheste estas canções? Algum destes artistas é uma influência para ti? Tarja: Há muito tempo que sou fã dos filmes de James Bond e das suas bandas sonoras. Eu cantei "Goldfinger", há muitos anos, num programa de televisão, e, nessa ocasião achei o tema muito difícil de interpretar. Agora, finalmente, senti que estava pronta e com confiança para o cantar e decidi incluir nos concertos da digressão pela América do Sul a mesma versão que pode ser ouvida no CD. Tivemos grandes momentos nessa digressão e, por isso, logo a seguir decidi gravar “Goldfinger” para incluir no álbum. Achei curioso haver duas versões de “Eagle Eye”. Por que aconteceu isso?

Tarja: Como tenho excelentes músicos a trabalhar comigo, quis mostrar como ficariam os temas com as suas contribuições e de acordo com a sua sonoridade e estilo de tocar. No site de «The Shadow Self» - http://www.tarja-theshadowself.com/ - há uma letra (talvez um poema) que inclui algumas passagens de “Eagle Eye”. Foste tu que escreveste esse texto? Tarja: Sim, eu escrevi a música e a letra, com o meu amigo Pauli Rantasalmi. É o teu irmão que canta essa canção contigo? Tarja: Sim, Toni Turunen é o meu irmão e canta comigo em “The Living End” e “Eagle Eye”. Para ser franco, parece-me que, se «The Shadow Self» é mais pesado, a versão que figura em «The Brightest Void» devia estar nele. (risos) Tarja: E eu aceito a tua opinião. Como já referi, todas as canções de «The Brightest Side» podiam estar em «The

Shadow Self», mas fui eu que decidi quais as que iam ficar em cada um.

minha banda pesada e melodiosa, mas o lado sinfónico faz-me sempre falta.

Pus-me a pensar em que artista ou banda poderia misturar música clássica e (Heavy) Rock da forma como tu o fazes. Alguns álbuns são clássicos, mas menos pesados, outros são ao contrário, mas a quantidade é sempre perfeita. Vês-te a fazer um álbum sem a parte clássica? Porquê? Tarja: Já encontrei o meu som próprio e afirmei a minha identidade como artista, portanto ser-me-ia difícil mudar radicalmente o estilo das minhas produções. O conhecimento que tenho da música clássica ajuda-me muito a fazer os arranjos orquestrais incluídos nos meus álbuns de Rock, entre muitas outras coisas. Enquanto escrevo as canções, estou sempre a deixar-me inspirar por bandas sonoras de filmes ou música clássica. E Preciso de ter um “arco” melódico nas minhas canções para suportar a minha voz lírica. Gosto de acentuar o lado Rock de algumas canções, com a ajuda da

A forma como vês a música e a fazes mudou depois do nascimento da tua filha? Tarja: É claro que a minha vida é a maior inspiração para a minha música, até porque esta está sempre presente no meu qutidiano. O nascimento da minha filha fez de mim uma mãe super orgulhosa e feliz e certamente essa alegria reflete-se na segurança que também podes ouvir nos meus álbuns.

Vocês vão tocar em Portugal a 4 de novembro e eu tenciono levar a minha filha a esse concerto, Ela tem de ouvir boa música. O que podem os fãs portugueses esperar de vocês? Tarja: Vou apresentar o novo «The Shadow Self», mas também canções de todos os meus outros álbuns. A produção vai ser maior desta vez, com ecrãs coloridos, para ilustrar os tons do meu último álbum. Vai ser muito emocional e atmosférico, como os meus concertos de Rock costumam ser.

Pensas que ela seguirá as tuas pisadas e será uma cantora como tu? Tarja: Vou adorar vê-la descobrir a grande paixão da sua vida, independentemente do que for. Eu tive a oportunidade de decidir o que ia fazer na minha vida, logo quero que o mesmo aconteça com a minha filha.

Se tivesses de optar entre o Rock e a música clássica, qual escolherias e porquê? Tarja: Esses estilos musicais completam-me. Não gostaria de ter de optar por um deles em detrimento do outro, porque já trabalho com ambos há muito tempo e consegui criar uma harmonia artística entre eles.

Os meus compositores clássico favoritos são Mozart, Verdi, Bizet e Wagner Quais são os que te influenciaram mais? Tarja: Gosto de muitos compositores clássicos, mas, quando se trata de cantar, os meus favoritos são Puccini, Schumann, Sibelius e Rachmaninof entre outros. Muito obrigado por esta oportunidade de te entrevistar. Tenho de ser honesto e admitir que precisei de ouvir ambos os álbuns várias vezes para conseguir apreciá-los verdadeiramente. Mas «The Shadow Self» já faz parte da minha lista dos melhores de 2016! Tarja: Obrigada. Fica bem e vemo-nos em Lisboa, em novembro. ht t ps: / / w w w. f acebook. com/ t arj aof f i ci al / h ttp : //ww w. t arj a- t heshadow sel f . com/ ht t ps: / / yout u. be/ 6 yY ccQ 0 S 1 yI

“[EM PORTUGAL] A PRODUÇÃO VAI SER MAIOR DESTA VEZ, COM ECRÃS COLORIDOS, PARA ILUSTRAR OS TONS DO MEU ÚLTIMO ÁLBUM. VAI SER MUITO EMOCIONAL E ATMOSFÉRICO, COMO OS MEUS CONCERTOS DE ROCK COSTUMAM SER.”

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WITHERSCAPE Fim da histรณria


Dan Swanö junta-se mais uma vez com Ragnar Widerberg para fechar a história iniciada em «The Inheritance»

“[SOBRE “THE NORTHERN SANCTUARY] - "HALLOWEEN" SIM. "SUITE SISTER MARY" NEM POR ISSO. POR ACASO ACHO ESSA FAIXA A SEGUNDA MENOS CONSEGUIDA DO "OPERATION: MINDCRIME"”

Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro Tradução: Adriano Godinho

Olá Dan! É a terceira vez que te entrevisto para a VERSUS Magazine e sempre foi um prazer. Dan Swanö: Obrigado

É aqui o fim da história ou iremos ter alguma continuação? Dan: Penso que este é o derradeiro final.

«The Northern Sanctuary» é de certa forma uma extensão do «The Inheritance». Porquê decidir extender essas músicas em particular e não criar um álbum por completo? Dan: Porque são as músicas que penso serem as indicadas. Não vale a pena tentar trabalhar músicas que não acreditas que vão resultar, certo?

Parece-me que (conhecendo o teu trabalho e pelas prévias entrevistas) que não és alguém que precise de ouvir opiniõs de outros para influenciar a tua música. Porque escreveste a faixa épica de 13 minutos? Foi para provar que eras capaz de criar música de forma não segura? (NT: Swano recebeu um comentário no FB onde é dito ele só fazer música "segura") Dan: Gosto de me aventurar. Foi o que me atraíu no death metal, no início. As regras eram diferentes... conseguias-te safar em músicas apenas colando riffs - sem ter de pensar em estruturas e coisas assim. Mas no final, comecei a escrever faixas com uma estrutura normal, comum em música pop. E sei que as pessoas pensam que não nos importamos com os comentários dos mass-media mas claro que damos valor. E isto poderia teria ter sido um comentário de um amigo mas foi através do Facebook; comentário que me fez desperatar da minha preguiça e querer fazer deste álbum algo mesmo especial e o título dessa faixa é o que faz dela algo especial, juntamente com a "Marionette".

Em termos de letras «The Northern Sanctuary» é a continuação do álbum anterior. Qual é a ideia deste trabalho? Dan: Um novo habitante vem para a casa no norte e a presença diabólica que lá reside - e possuíu pessoas no primeiro álbum - acha o "homem de branco" o perfeito hospedeiro; no fim realiza um ritual onde abre uma passagem para o inferno (de onde veio, no início dos tempos) e desta forma as forças demoníacas são trazidas para a terra. As letras são mais uma vez da autoria de Paul Kuhr. Qual é a tua contribuição? Como é cantar as letras de outras pessoas? Dan: Dei ao Paul o início e o fim; e partes das vozes já esboçadas. Por isso em vez de cantar “murder the path of dependence” canto “I am the die of the deathpraist”; o Paul teve sempre em atenção a fonética das letras que já tinha criado. Adoro cantar textos de outros quando encaixam! Mas no final... eu raramente canto letras que não encaixam porque trabalho-as até conseguir. O som vem sempre antes do significado, neste caso. Entre estes dois trabalhos temos «The New Tomorrow». Como encaixa este EP neste conceito? Dan: Aqui é quando acontece o salto de 50 anos no tempo. O "homem de branco" comprou a casa num leilão e nesta busca encontramos a história para «The Northern Sanctuary». 8 0 / VERSUS MAGAZINE

Foi esta a tua faixa mais desafiante até agora? Do que trata e como cresceu até ter 13 minutos de duração? Dan: Demorou bastante até ficar como deve ser, mas tinha várias boas ideias que queria colocar... por isso foi desafiantemente divertido! Tinha esperança da faixa durar tanto quanto as outras duas que descartei: 9 minutos, mais ou menos; mas no final ficou neste monstro e fica a sensação de ter escrito outro Crimson (risos) 1/3 de uma Crimson, na verdade. Disseste querer que esta faixa seja parida com "Halloween" ou "Suite Sister Mary", duas faix81 / VERSUS MAGAZINE


as que conheces bem. Estas duas músicas influenciaram este teu novo trabalho? "Halloween" sim. "Suite Sister Mary" nem por isso. Por acaso acho essa faixa a segunda menos conseguida do "Operation: Mindcrime"; mas o alinhamento desse álbum, com alguns hits pelo meio, uma música épica e um formato com intros/ outros inspirou-me bastante. Falando de influências, onde foste buscar a sonoridade prog anos 70/80 e AOR que se consegue ouvir neste álbum? E como conseguiste fundir com a sonoridade metal deste trabalho? A principal inspiração em «The Northern Sanctuary» é o primeiro álbum dos Witherscape e elevar a um conceito de "mais é melhor". Mais rápido, mais duro, mais calmo, mais AOR, mais Prog, etc; sem nos perder a nós próprios pelo meio. Todas as nossas principais influências sofreram grandes mudanças nas suas carreiras, bandas como Judas Priest, Voivod, Rush, Queensrÿche. Tudo começou num ponto mais negro e evoluiu para música mais comercial e depois de volta para um som mais pesado. Neste projecto vejo a história das nossas inspirações como alcançáveis. Não queira isto dizer que iremos fazer uma versão de "Parental guidance" (risos). Outra coisa que notei estar também bastante elaborado neste álbum são os gráficos de Gyula Havancsák, que já trabalhou com Nightingale. Qual o significado das ilustrações? Mostra o fim da narração. Esta é uma imagem que tinha na 8 2 / VERSUS MAGAZINE

minha cabeça que consegui passar para a cabeça do Gyulas (risos). É a representação do portal para o inferno, é a passagem na terra. Tens outros projectos paralelos, o último sobre o qual tive oportunidade de escrever foi Nightingale, bastante diferente de Witherscape. Há planos para novos álbuns para esses projectos? Não, Nightingale está a descansar por enquanto, tenho outros assuntos para os anos que vêm. Se conseguirmos 45 minutos de boas ideias, seremos capazes de lançar um novo LP! A versão limitada deste «The Northern Sanctuary» contém uma versão extendida dos grafismos e uma versão remasterizada alternativa. Em que consite isto tudo? O grafismo é apenas mais fotos, mas todo o ambiente desta versão vale bem o custo mais elevado. E claro, a versão alternativa... porque não foi a versão original? Num mundo perfeito esta teria sido a única versão, mas ainda estamos em guerra (loudness war), por isso, o que podemos nós fazer? Penso que alguns iletrados iriam devolver o álbum por o volume estar muito baixo. Não há muita gente que parece perceber que poderiam ter um trabalho que soasse muito melhor. Espero que o segundo CD faça as pessoas reagir e perceber que a dinámica e os detalhes são uma parte importante da mistura. Uma das mais interessantes entrevistas que fiz foi sobre a "loudness war", em 2014. Achas que mudou alguma coisa desde então?

Não muito, na verdade. Estou neste momento a trabalhar na mistura do novo Ancient Ascendants e a baixar o limite dos 8db e isto abre as portas a um mundo totalmente novo - faço-o para a versão em em vinil para ter toda a dinâmica. Vai chegar o dia em que as pessoas vão perceber que limitar o som é algo de estúpido. Achas que os músicas, bandas, editoras, etc estão mais "mente aberta" sobre este tema? As mentalidades mudaram? Algumas editoras preocupam-se com a dinâmica, mas a maioria, não. Compensou todo este tempo dispendido ensinando as pessoas que esta é a a melhor forma de trabalhar? Sim, vale a pena. Pelo menos sei que estou a fazer um favor aos meus clientes fornecendo uma versão alternativa. Mesmo se alguns deles não conseguem perceber a diferença. Obrigado pela entrevista, aprende-se sempre algo quando se fala contigo. Obrigado eu! http://www.witherscape.com/ https://www.facebook.com/witherscape/ https://youtu.be/yYC0MWb3aFo

“ESTOU A FAZER UM FAVOR AOS MEUS CLIENTES FORNECENDO UMA VERSÃO ALTERNATIVA. MESMO SE ALGUNS DELES NÃO CONSEGUEM PERCEBER A DIFERENÇA.” 83 / VERSUS MAGAZINE


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ARTIGO

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FALAR A MÚSICA, PENSAR A MÚSICA. (UMA CONVERSA INTERMINÁVEL) Por: Nuno Lopes «Kanina»

Tenho muitos amigos que, em comum comigo, partilham o gosto pela música. Atenção que não estamos a falar, apenas, de Metal. Nem tudo pode girar à volta de um género, não seria justo. Posso dizer, com toda a certeza, que o tema gira sempre à volta do Rock, no entanto, gostamos de nos intrometer na história e na evolução (ou não!) da música, o que faz com que estas tertúlias sejam intermináveis, existindo lugar para certezas e para os «e se...», que tanto jeito dá para tanta coisa, porque haveria a música de ser diferente? Com isto dito, chegamos à conclusão de que esta arte ancestral tem sido vitima das cirscunstâncias e tem sido, talvez, a mais afetada pela evolução da tecnologia e, porque não dizer, do ser humano. Porém, a história diz-nos que a música e a forma como a escutamos e sentimos é feita de ciclos. Pensemos desta forma, no inicio era Bing Crosby, Elvis, Dylan e todo um punhado de artistas que, de forma individual, criavam a sua música sem pudor e com muito para «atacar». Depois vieram as bandas, aquelas que se formavam em garagens, que eram uma forma de um punhado de gaiatos se escapulirem para, em conjunto, fugirem a uma realidade que, podia muito bem ser a deles. Ou talvez não. Esses foram os tempos de felizes acasos, Sex Pistols, Nirvana, Pearl Jam... e a lista podia continuar. No entanto, esse ciclo acabou, não só porque os tempos mudam mas, tembém, porque podemos fazer a nossa música sem barreiras, sem fronteiras, sem estar com ninguém. Olhemos para carreiras de cantores e olhemos para o sucesso que, sozinhos e com uma industria rendida aos encantos de uma voz, esquecendo tudo o resto. A banalização do instrumento humano. A adulação de uma estética viciada em contos-de-fadas. O ciclo tende a mudar, mas, só o tempo pode ajudar a compreender. Daí este falar a música, pensar a música, é um tema sensível e extenso e, por isso, interminavé. Muito a dizer, muito escrever. É isto a música na sua amplitude humana e social.

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Uma das novas referências do Rock Progressivo Italiano acaba de lançar VIVO - Live in Concert. Podem ouvir um pouco deste excelente concerto: https://youtu.be/OPsLzc_rG4o - ou do último álbum «Skyline»: https://youtu.be/y8VI9j5BN-A Mais informações sobre como adquirir este duplo CD pelo nosso email: versusmagazinept@gmail.com


«Transcendence» (InsideOut Music) Já por diversas vezes manifestei a minha opinião de que Devin Townsend é um dos poucos génios musicais contemporâneos. É fenomenal a forma como se faz representar através da música, como se de uma linha cronológica se tratasse, um espelho que reflecte a personalidade da sua vida e os momentos por que passou. Sempre a cargo da produção o ambiente é Townsendiano: atmosférico, épico, misterioso e intrigante, caótico por vezes. «Transcendence» é um salto para o desconhecido, já que sendo um maníaco no que toca ao controlo de todo o processo sonoro e composição, Devin abriu a composição aos restantes membros, saindo assim da zona de conforto. As orquestrações programadas mantêm-se, assim como as convidadas vocais que têm vindo a trabalhar com Devin: Anneke Van Giersbergen, Che Aimee Dorval e Katrina Natale, isto porque, nas palavras do próprio Devin, este poderá ser o último espectáculo de DTP. «Transcendence» é… transcendental e pode ser um bocado redutor mas acho que tudo o que faz tem (sempre) uma razão de ser. Não fazer por fazer, mas a sua criação é reflexo de algo. Musicalmente, não temos nada parecido com o furioso «Deconstruction», nem algo tão belo e superiormente melódico como «Ghost» - Está precisamente entre na mediana dos dois. Não há música que se destaque, não me atrevo; não se escolhe uma música porque se estão lá é por uma razão de ser. Tal como um qualquer álbum de Devin, nunca encontrarão algo parecido, nem musical, nem no ambiente criado, porque o artista é… único. Conhecer a sua música é conhecer o seu consciente e sub-consciente. «Transcendence» pode soar a despedida, esperemos que não e se realmente isso acontecer, o legado deixado será único. [9/10] Eduardo Ramalhadeiro

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C O B A LT

D A R K FUNERA L

«Tsar»

«Slow Forever»

«Where Shadows Forever Reign»

(Nuclear Blast)

(Profound Lore)

(Century Media)

A primeira observação a reter desta nova banda está bem explícita na sua capa, onde, por detrás do logotipo “Almanac” estão as letras V S. “V” de Victor e “S” de Smolski e nesta pequena observação está dito a essência desta banda: Victor Smolski. Ele foi o principal compositor dos Rage na passada década e meia. Que melhor cartão de visitas pode os Almanac ter? Alias, esta banda deve ler-se Victor Smolski’s Almanac. Os Almanac são formados logo após a sua saída dos Rage e a bem sucedida passagem pelo projeto Lingua Mortis Orchestra (LMO). E aqui chegamos ao ponto fulcral de VS’s Almanac, pois estes não são mais do que uma excelente versão/variante deste projeto, indo mesmo ao ponto de manter o estilo do metal sinfónico, recuperar a vocalista Jeanette Marchewka e a orquestra clássica das sessões com os LMO. tendo como base a temática dos Czsars, não se chamasse o álbum «Tsar», Smolski compôs um sólido e interessante álbum que mistura o sinfónico e uma abordagem algo power metal, sem nunca este se sobrepor ao primeiro. Temos assim nove excelentes músicas, todas bem niveladas por alto na onda dos Rage e dos LMO, como seria de esperar depois do supracitado. Talvez este seja a única crítica a apontar, a falta de originalidade - Ou será uma mais valia?, dado que já ouvimos este tipo de som noutro lado. «Tsar» é uma obra essencial para qualquer fã das bandas aqui referidas, mas penso que este pode ser igualmente um álbum para descobrir por todos aqueles que gostam deste tipo de som.

Finalmente! Há 7 anos que não ouvia falar dos Cobalt, na altura o enorme “Gin” tinhame batido de frente com os seus sons selvagens e estruturados. O álbum tinhame sido apresentado por uma amiga que só ouve música ou extremamente simples ou extremamente complexa; e Cobalt consegue ser isso mesmo. Os riffs são simples e poderosos, criando um ambiente complexo que causa embriaguez. A dupla americana volta a atacar e com força, através deste novo trabalho «Slow Forever» em formato duplo-CD bastante longo (84 minutos) onde a forma não mudou muito, reconhecese aqui o som de álbuns anteriores mas onde nos sentimos levados mais longe. O primeiro CD conta com 7 faixas (das quais 2 são momentos instrumentais) das quais se destacam a faixa introdutória “Hunt the Buffalo”, a energia vocal em “Ruiner” e a êxtase que “King Rust” nos concede. Ao longo do álbum não deixo de sentir uma certa sensação algo familiar e percebo que certos trechos me fazem lembrar Tool (ouvir a parte rítmia em “Elephant Graveyard” ou a guitarra em “King Rust”). A estrutura do segundo álbum agrada-me mais, no sentido em que é mais evolutivo, mais reflectido e talvez menos reactivo. A faixa “Slow Forever” é prova disso, com um refrão quebrado mas muito característico, que dá força a toda a música que vinha a decorrer até então. O álbum termina com uma faixa escondida (é escondida mas está na track list, ok) que não se assemelha ao resto.

A L M A NAC

[9/10] CARLOS FILIPE

9 0 / VERSUS MAGAZINE

[7.5/10] AG

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ER U D I T E S T O N ER

F R O S T*

«End of Days»

«Erudite Stoner»

«Falling Sattelites»

(Nuclear Blast)

(Independente)

(Inside Out)

Vinte anos após o álbum de estreia, os Dark Funeral lançam “Where Shadows Forever Reign”, apresentando em longa duração o novo vocalista Heljarmadr no lugar de Emperor Magus Caligula, que gravava com o colectivo sueco desde “Vobiscum Satanas”. Após um prolongado hiato (afinal, o anterior disco de originais já datava de 2009...), os Dark Funeral prosseguem no seu black metal tipicamente nórdico, em que as guitarras se mantêm simultaneamente melódicas e directas, sem espaços para orquestrações ou experimentalismos. É verdade que Heljarmadr, vocalmente, por vezes traz à memória Shagrath, e as semelhanças com os Dimmu Borgir não se ficam por aí, já que a produção de Daniel Bergstrand, que de resto colaborou com os noruegueses em “Abrahadabra”, tem uma certa fragrância que novamente recorda os autores de “Enthrone Darkness Triumphant”, mas em Dark Funeral o protagonismo pertence em definitivo aos instrumentos de seis cordas, em lugar da criação de atmosferas através de elementos sinfónicos. Fiel ao estilo, portanto, este novo trabalho é porém demasiado monolítico para o seu próprio bem. O disco começa de forma promissora (“Unchain My Soul”, a faixa de abertura, é das melhores do álbum), mas a dada altura não é capaz de manter a pedalada. Não é que perca propriamente ímpeto; é mais o caso de serem poucos os momentos inolvidáveis. Falta, pois, um factor de espanto capaz de elevar este “Where Shadows Forever Reign” a outro nível (“Temple of Ahriman”, outro dos destaques, é uma das excepções...), o que é uma pena. O que temos aqui, pois, é um disco competente assinado por Lord Ahriman e seus pares, mas não mais do que isso.

A primeira recordação que tenho dos Discharge é de um disco ao vivo gravado ao vivo cujo nome não recordo, apesar de recordar a má captação e uma frase que, ainda hoje recordo: «Life is like an erection, the more you think about it the harder it gets». Ao fim de duas décadas podemos dizer que essa frase continua a ser a minha melhor definição para estas lendas vivas do Punk e do D-Beat, cuja influência se estendeu muito além destes estilos, sendo influência para muitas das bandas que ouvimos hoje em dia, de Metallica a Sepultura. E o motivo é simples, os Discharge são uma máquina de guerra, uma guerrilha de armas apontadas em riste e com a provocação e revolução nas palavras. «End Of Days» é um disco como só os britânicos podiam fazer, intenso, forte e sem papas na lingua. Podia ter acontecido a banda ficar «mole», no entanto o que a banda mostra é que os alicerces estão coesos, mesmo com todas as alterações ao longo dos anos, e já lá vão quase quatro décadas. Talvez o melhor elogio que se pode fazer aos Discharge é que continuam a ser os Discharge, e só isso já é suficiente para eles e para nós. «End of Days» é um disco actual, feito de actualidade e que salienta todas as lutas, guerras e medos que assolam o nosso mundo, ouça-se Hatebomb, New World Alert ou The Terror Alert. Rápido, eficaz, dilacerador são alguns dos adjectivos que se podem fazer a este disco, entre outros que dariam para encher muito mais espaço. End Of Days não é só mais um disco destas lendas, é, isso sim, um disco de lendas que se mantém firmes nas convicções. Enquanto eles não chegam a Vagos, destilemos o ódio e a revolta através de End Of Days. Isto é o Punk e o resto é história.

O projeto a solo do brasileiro Matheus Novaes apresenta-nos a singela expressão de bandas como Alcest, num esboço de shoegaze rendido em elegante esqueleto acústico. A guitarra clássica é usada como instrumento de projeção de imagens numa narrativa de intensa densidade emocional, sem, contudo, sucumbir à indulgência. A entrega é avassaladora, com temas que se recusam, egoistamente, em deixar-nos regressar à superfície. Artístas como Nick Drake e Jeff Buckley são referenciados e reverenciados, com toada após toada a sugerir “frames” de memórias de remota inocência, empurrando-se mutuamente num esforço de respiração. Movimentos aracnídeos de dedos tecem notas para embalar e silenciar o cansaço. Um trabalho sucinto e translúcido que ilude a etiquetagem que apresenta o projeto e mascara as composições. Demasiado espontâneo e pessoal para se enquadrar na vaga de post-rock, demasiado articulado para ser um derivado acústico de doom. A sua essência musical é híbrida, traduzindo a ideia de desvanecimento através de um conjunto de composições que elongam pontos de fuga, e embaciam a profundidade de campo de visões de abandono. “Erudite Stoner” despe-se de qualquer tipo de protagonismo, assumindo a sua forma como plano de fundo para uma multiplicidade de criações oníricas do ouvinte. Música para submergir os sentidos na libertação do ocaso.

Os Frost* podem ser vistos como mais um supergrupo de Rock Progressivo, não só por ser composto por membros dos It Bites, Steven Wilson ou Level 42, mas, também, por ser criação de Jem Godfrey, conhecido teclista e produtor que já trabalhou com nomes que nada se encontram no género que ratica nestes Frost* mas que, certamente, ajuda a explicar a diversidade que se escuta nos trabalhos da banda. Falling Sattelites não teve um parto fácil e surge oito anos do aclamado disco «Milliontown» e, talvez por isso, este era um disco há muito aguardado. Este é um daqueles discos que não se fixa apenas num género, navegando entre o Progressivo, o Rock e, em alguns casos, pela electrónica, sendo «Towerblock» um belo exemplo dessa diversidade e dessa ambiguidade no som dos Frost*. Este é um disco que, acima de tudo, celebra a vida e os momentos que se vivem. Claro que para muitos, o que vão ouvir é algo já ouvido em bandas como Riverside ou Porcupine, aproximando-se, muitas vezes, do trabalho de bandas como Marillion, no entanto, Godfrey e seus comparsas conseguem, de facto, dar uma nova identidade e contornar as regras do jogo, nomedamente através do uso da Chapman Railboard que dá uma nova abertura a novos caminhos. Se tudo isto não chegasse, Falling Sattelites tem, ainda, a presença de Joe Satriani como convidado de honra. Ou seja, este é um disco simples sem o ser, é um disco que se escuta sem o escutar e essa é, sem dúvida, a maior arma do disco: simples sem ser grandioso. Qualidade acima da quantidade. Um disco para se saborear e que não mancha, em nada, a carreira dos britânicos. Um regresso em pleno.

[7/10] HELDER MENDES

[9/10] NUNO LOPES

DISCHARGE

[7/10] FREDERICO FIGUEIREDO

[7/10] NUNO LOPES

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H I G H FI GH TER

MA R I NFI NI TUM

NOTHING

RAGE

«Scars & Crosses»

N U MEN O R EA N

«Dwaling»

«Sea of Infinity»/«Alien Monolith God»

«Tired of Tomorrow»

«Home»

«The Devil Strikes Again»

(Ván Records)

(Svart Records)

(Adulruna Records)

(Relapse Records)

(Season of Mist)

(Nuclear Blast)

“Dwaling” aproxima-se do que se poderia considerar “comfort music” para quem cresceu com a vaga de doom e black metal dos anos 90. A inconfundível colagem do “Hvis Lyset Tar Oss” de Burzum em “Dwaling (Gehirn und Abgrund)” ou a aproximação a uns My Dying Bride (por altura do “As the Flower Withers”) em “Hoon” acaba por redimir o plágio com uma saciação nostálgica na familiaridade dos acordes. “Het Smerige Kleed Van De Ziel” conta com a participação de Farida Lemouchi (a garganta do abismo dos saudosos The Devil’s Blood), no seu distinto registo de tantra atonal, precipitando nossas almas nesta libertação leteana. A sonoridade é árida e o ritmo constante, arrastado e mecânico, sendo o uso da distorção na faixa “Het masker vande wereldt afgetrocken” em particular, o equivalente sonoro à intensidade e frieza de um vento Bora. O presente álbum apresenta-se como uma elegia cortante, manifesta em batidas draconianas, cordas angustiadas e vocais desalentadas. Camadas subtis de efeitos ampliam a dimensão sonora até ao domínio do insondável. O ruído varre as composições de uma forma que habilmente escapa à trama do som de black metal do estúdio Grieghallen, tornando-se mais denso, focalizado e opressivo. A banda consegue canalizar o hipnotismo do drone, a melancolia do doom e a decadência do black metal, numa entrega primeva e dogmática. Um válido esforço, uma banda a observar. Mais um triunfo para a Ván Records.

Dois anos após a estreia, com o EP «The Goat Ritual», que lhes garantiu alguma visibilidade e encanto, não só por parte de público como de músicos como John Garcia (ex-Kyuss, Vista Chino, Slo Burn) ou Jon Paul Davis (Conan), os High Fighter regressam com o longa-duração de estreia, «Scars & Crosses» e o resultado é o que se esperava. Podemos olhar para este disco como uma continuação do EP, com as devidas distâncias. Onde antes existia receio, agora há certeza. Isto porque, em termos de sonoridade, a banda liderada, como sempre, por Mona Miluski, que tem aqui uma perfomance uns furos acima do que em «The Goat Ritual», limou algumas arestas e teve o tempo suficiente para crescer e deixar a música respirar. «Scars & Crossses» é um registo mais adulto, mais coeso, sem que isso queira dizer que a banda alterou a sua génese. Estas oito malhas integram-se na perfeição no espectro Stoner, porém, a banda «bebe» também do caldeirão Blues ou Doom. Para além de terem um som atraente, a banda sabe como fazer uma malha ser um malhão (The Gatekeeper; Darkest Days). Gravado em registo «live», com todos os músicos a terem uma nota a dizer em todo o processo, e masterizado por Toshi Kasai (Melvins, etc.), «Scars & Crosses» é um disco que contém todos os ingredientes que parecem faltar a muita da música actual, emoção e honestidade. Ou seja, com este disco a banda mostra que tudo é possível e denota um crescimento razoável. Uma das surpresas do ano.

Da Rússia, vêm os Mar Infinitum e um doom death metal atmosférico, repleto de dor, remorso e solidão. Até aqui nada de especial a não ser o facto de ser uma banda Russa, estandos estes inseridos numa categoria do metal onde já começa a ser difícil de inovar e apresentar algo de novo e fresco. Bem, no que respeita a inovar, estamos falados, mas, no que respeita a algo novo e fresco, penso que os Mar Infinitum conseguiram distinguir-se, com um doom de qualidade, tenebroso, cavernoso e emocional quanto baste (My Dying Bride há só um). Obra de duas pessoas, Georgly Bykov na voz e posteriormente em tudo o resto e A.K. iEzor em tudo o resto unicamente no primeiro álbum e Ivan Gustov na voz no segundo álbum, Mar Infinitum distribui música pesarosa deste 2011, tenho editado até à data dois álbum, «Sea of Infinity» [2011] e «Alien Monolith God» [2015], álbuns criticados aqui juntamente, porque tendo eu tido a oportunidade de os ouvir de seguida, reparei que o doom destes russos é de tal forma coeso e homogéneo que bem podiam ser um só álbum. Fantástico quando entre os dois trabalhos se escoaram quatro anos. Musicalmente, os Mar Infinitum têm como base grandes secções instrumentais com um doom bem definido e composto, e a voz mais gutural e prolongada ao bom estilo Death Metal, que acaba por os cracterizar musicalmente, até por não ter comparação alguma com o que se faz por aí fora neste campo. Cada música apresenta uma textura e sabor próprio que a torna muito interessante de ouvir e rica. A exceção são as duas primeiras músicas de «Sea of Infinity», em que “The Nightmare Corpse-City of R’lyeh” apresenta em grande parte a influência Opeth e “Prothetic Consciousness” onde há uma grande colagem aos Candlemass. Mar Infinitum é definitivamente uma banda a ter em consideração e a seguir no mundo do doom metal, a qual só poderá evoluir de certeza para melhor, pois apesar da grande qualidade evidenciada, há (ainda bem) uma boa margem de progressão.

Domenic Palermo, mentor dos norteamericanos Nothing, tem tido uma vida que, para muitos, seria o suficiente para desistir dos sonhos e, no extremo, da própria vida. No entanto, o músico, que fez parte dos Horrow Show, soube resistir e, após um período de silêncio e afastamento da musica, onde se inclui uma passagem pela prisão, o músico criou os Nothing e «Tired of Tomorrow» é já o segundo registo da banda e que marca também o regresso dos Nothing à Relapse...e que regresso. «Tired of Tomorrow» é um disco pesado sem o ser em demasia, estranho ou nem tanto, pois o peso destas 10 malhas vai todo para as letras que Domenic parece ter escrito em silêncio e para a força com que as canta. Ora doce, ora amarga, assim é a musica dos Nothing. Sendo que a música é, muitas vezes simples, sem altos vôos mas que nos fazem voar, pensar, reflectir. Se em malhas como «Vertigo Flowers» ou «ACD (Abcessive Compulsive Disorder)» os Nothing são a calma e o nervo (contido), já «Cursed Of The Sun» ou o single «Eaten By Worms» são deliciosas pérolas Rock que são impossiveis de resistir e de ignorar. Em suma, o amor à musica parece ter salvo Palermo e com os Nothing o musico parece querer a redenção. Os Nothing são belos e a música é bela. Este é um daqueles discos que se deve escutar do incio ao fim e apreciar a magia, a calma e a tempestasde. Para que se quer o amanhã se temos o presente?

Como começar a falar sobre «Home» e estes senhores os Numenoream? A paisagem de metal mais negra floresceu nos últimos anos trazendo-nos excelentes resultados com os seus frutos que vão florescendo. Fica em «Home» a ideia de “perda” e um desejo de algo que nós, como seres humanos nunca vamos conseguir. Estarmos todos num vazio quebrado de alguma forma, olhamos para coisas como dinheiro, sexo, relacionamentos, drogas, religião, e uma variedade de outras coisas, mas, no final, acabámos por permanecer vazios de qualquer verdadeira felicidade. «Home», o álbum de estreia dos recém-chegados canadianos, Numenorean, é um exemplo perfeito de um excelente álbum, negro, diabólico mesmo e pesado o quanto baste a contrastar com um outro lado angelical. Numenorian parece ter alcançado muito mais com o seu álbum de estreia do que apenas seguir um caminho musical, com sua beleza assombrosa acena para vir de novo e de novo ... «Home». Temas em destaque,“Home”, “Devour”, “Laid Down”,um pouco injusto este destaque, dado no geral ser um disco onde não existem pontos menos fracos ou menos bons. NUMENOREAN seguem um caminho musical pioneiro em bandas como DEAFHEAVEN, ALCEST, WOLVES IN THE THRONE ROOM ou DER WEG EINER FREIHEIT. A banda canadiana de postblack metal criou uma obra-prima musical que abraça a beleza, dureza, brutalidade e melancolia em igual medida e consegue transforma-los em belas melodias e riffs. «Home» é um registo muito promissor de uma banda realmente emocionante, ainda com muito para crescer mas que a continuar assim vão chegar muito longe. Aconselhamos a sua escuta com toda e a devida atenção este «Home», mesmo que não sejam apreciadores de sonoridades mais extremas e pesadas, este álbum seduz-nos do primeiro ao último segundo.

Década e meia depois os Rage voltam a estar sujeitos a uma (quase) completa mudança de lineup, com a saída de Victor Smolski e André Hilgers. Aquando da saída muito se especulou sobre o futuro da banda e, em especial, se viria a haver uma reunião da formação original. Para isto muito contribuiu, em 2015, a banda Refuge com a formação original de 19861994 (Peavy, Manni e Chris) que fizeram um périplo por alguns festivais de verão onde tocaram os álbuns desse período. No entanto em junho de 2015 Peavy anuncia a nova formação, onde surgem os nomes dos quase desconhecidos Marcos Rodriguez (guitarra) e Vassilios “Lucky“ Maniatopoulos (bateria) – curiosamente discípulo do Chris -, culminando no lançamento em 2016 deste «The Devil Strikes Again». Para quem os acompanha, e conhece os primeiros trabalhos, não pode deixar de esboçar um sorriso ao ouvir as primeiras notas deste trabalho. Desde logo ecoa o som cru e agressivo da guitarra característico dos trabalhos dos anos 90, marcando desde logo uma ruptura com o som característico dos Rage da era Smolski. Podemos ouvir os álbuns até ao «Black in Mind» e saltar para este que, não obstante o interregno de 20 anos, quase nem se dá conta que existiram nos entretantos 12 álbuns, até porque pelo meio da música título ecoa parte da letra de «Send by the Devil», do «Black in Mind». O trabalho de Marcos Rodriguez nas guitarras é fenomenal transportando-nos para o som que deu aos Rage a sua popularidade e a bateria faz o seu papel de forma exemplar. Para além da faixa que dá titulo ao álbum, há que realçar a força dos riff’s da «The Final Curtain» e toda a influencia trash de «Spirits of The Night».

G G U :LL

[8/10] FREDERICO FIGUEIREDO

[8/10] NUNO LOPES

[9/10] NUNO LOPES

[8/10] HUGO MELO

[9.5/10] MIGUEL RIBEIRO

[9/10] CARLOS FILIPE

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THE VI S I O N B LEA K

T R O LLER

U R FA U S T

V IS IO N S O F ATL A N TIS

«The Brightest Void»/«The Shadow Self»

«The Unknown»

«Graphic»

«Voodoo Dust»

«Old Routes - New Waters»

(EAR Music)

(Prophecy Productions)

(Crucial Blast)

(Ván Records)

(Napalm Records)

“The Unknown”, o novo disco dos já nada desconhecidos The Vision Bleak, mantém a fasquia a que a banda (que se autodesigna como praticante de Horror Metal) já nos habituou. A dupla Konstanz e Schwadorf, três anos após “The Witching Hour”, volta a carregar com a sua bem equilibrada mistura de gótico e metal, com partes rasgadas e pesadas aqui, pedaços mais melódicos e limpos ali, todavia sem nunca se espalhar no mau gosto meloso e bonitinho, desculpe-se-nos a terminologia, em que tantas bandas de gothic metal por vezes caem. Abrindo com a intrigante “Spirits of the Dead”, este disco uma vez mais transporta-nos para os típicos ambientes visionbleakianos: um heavy metal entrançado com a imagética vitoriana e a ficção dos mestres Edgar Allan Poe e H. P. Lovecraft, não esquecendo um ou outro elemento à la Sisters of Mercy que, embora menos evidentes postos em comparação com o que sucedia por exemplo nos dois primeiros álbuns, ainda dizem “presente”. Uma, afinal, receita vencedora, que, tal como um bom cocktail, desce de forma agradável e nos leva a querer regressar para sucessivas audições: da mais imediata e catchy “The Kindred of Sunset” às mais compassadas “Into the Unknown” e “The Whine of the Cemetery Hound”, estas 9 faixas em pouco menos de 50 minutos de música mostram o duo teutónico em forma, a fazer – e bem – aquilo que sabe. Ao sexto álbum, talvez o factor surpresa já não seja muito elevado: quem tem acompanhado a carreira dos The Vision Bleak sabe mais ou menos o que esperar, e é isso que, no fundo, “The Unknown” dá ao ouvinte. Porém, quando se recebe um trabalho desta qualidade, não há grandes motivos para queixas.

Troller celebram os despojos do synthpop dos anos 80 com a sonâmbula intermitência das recentes formulações do witch house. O álbum facilmente poderia figurar na jukebox do bar Roadhouse no bizarro universo de Twin Peaks, sendo “Storm Maker” o perfeito mote para o desfecho da noite. As faixas são apresentadas numa cadência fixa, com ocasionais dilatações, num tom emotivo a roçar o limbo da apatia. A sonoridade é tão sintética quanto a indumentária trajada pela figura representada na capa do disco, com as vocais e seu contraponto lírico maquilhando o álbum com o tom infausto de um grito de ajuda. A conotação com bandas como Cocteau Twins ou Siouxsie and the Banshees é notória, porém, neste caso os adornos etéreos da primeira banda ou a electricidade contagiosa da segunda, encontram-se substituídos por uma sonoridade que roça o drone na sua simplicidade e carácter mesmerizador. A banda resume-se a uma caixa de ritmos, efeitos, guitarra baixo e uma inquebrável consternação. Crucial Blast tem constituído uma verdadeira alternativa dentro dos géneros musicais extremos, apresentando um catálogo que mais se assemelha a um Grand Guignol pela densidade opressiva dos seus lançamentos. Este trabalho não é exceção, apesar da candura com que é apresentado um registo de predominante amargura existencial. Álbum a ser administrado pós-surto psicótico.

S IX F E E T UNDER «Graveyard Classics IV: The Number of the Priest» (Metal Blade) «We all have our time machines, those who take us back are memories an those who carries us forward are dreams». Esta frase do interlúdio «Presence» reflecte de forma, quase perfeita «Trips» e, também, os germânicos Long Distance Calling (LDC) que, ao quinto disco trazem o seu disco mais equilibrado, coeso e, talvez, mais forte. «Trips» foi um disco construido entre vida e morte, sendo o saldo natalício muito inferior. No entanto, os LDC agarram nas emoções, pensam na perda e, fazem com que Trips seja um disco mental, um disco que deve ser ouvido como uma viagem temporal. Sabemos que algo irá acontecer a partir do momento que «Getaway», imaginem um cenário «Fuga de Los Angeles, sendoeste o ponto de partida de um disco coeso, poderoso e, porque não dizer, que os LDC mostram um poder criativo que, apesar de conhecido, está aqui num nível arrebatador. Falar de algo que esteja menos bom neste disco é tarefa dificil, pois tudo parece ter sido levado ao pormenor. Falar do peso de Trauma para a esperança de «Lines» (primeiro single) e não falar de «Reconnect» ou «Rewind» é tarefa injusta. «Trips» é muito mais do que um disco dos Long Distance, o que aqui temos é um disco para pessoas, um disco para pensar e usufruir. No fim, o que fica é um sentimento arrebatador, é algo que devemos apreciar e chama-se vida. Com as nossas máquinas do tempo. Arrebatador...

[7/10] NUNO LOPES

TA R J A

No espaço de dois meses, e para gaudio dos fãs, lança dois álbuns. «The Brightest Void» é considerado uma prequela e nele, basicamente, constam nove temas, entre elas algumas versões e uma nova mistura de “Paradise (What About Us”), que não podiam fazer parte do álbum «The Shadow Self». «The Brightest Void» é realmente inferior ao álbum. O primeiro single “No Bitter End” é comum às duas edições e é rock bastante comercial; “Eagle Eye” (com o convidado Chad Smith dos RHCP) é também comum mas em versões diferentes. Em «The Shadow Self» a mudança de riffs tornamna um pouco mais pesada. As versões de “House of Wax” de Sir Paul McCartney’s e “Goldfinger” de Shirley Basseys (Do filme James Bond) são muitíssimo interessantes e demonstram porque Tarja é uma Diva. Os restantes temas, comparativamente aos de «The Shadow Self» são, também, interessantes mas não se enquadrariam no álbum, propriamente dito, porque todos são superiores. Chegamos, portanto, ao verdadeiro! «The Shadow Self» é, sem dúvida, o mais pesado álbum da artista, viciante e com aquilo que gosto de adjectivar de “negro” e “sujo”. Os elementos diferenciadores são tantos mas o resultado é coerente, como que misturar num quadro o impressionismo de Monet, o cubismo de Picasso e o surrealismo de Dalí mas mesmo assim obter uma bela e harmoniosa pintura. “Demons in You” com a voz demoníaca de Alissa White-Gluz, o piano sempre presente com algumas orquestrações, a voz lírica e doce, o Rock pesado (guitarras afinadas alguns tons abaixo…), o clássico e operático criando a “tempestade perfeita. Sendo assim, a prequela é completamente banal, face ao álbum em si, o qual me deixou absolutamente surpreendido – algo que só Tarja sabe fazer. Se comprarem a prequela… perdem nada mas se deixam escapar «The Shadow Self»… perdem tudo. O mais interessante é que teremos Tarja no dia 04 de Novembro em Lisboa

[7/10] FREDERICO FIGUEIREDO

Urfaust são a banda de black ‘n’ roll embriagado que os Darkthrone nunca foram, com uma acrescida dose de psicadelismo à mistura. Na verdade, são um bocado inclassificáveis e este single é mais um prego que salta do caixão e faz soltar o insalubre cadáver. Desta feita, é prestada homenagem a uma das mais figurativas bandas do metal/rock dos últimos anos – The Devil’s Blood – através da faixa “Voodoo Dust”. O extemporâneo falecimento de Selim Lemouchi abreviou a estadia desta banda no panorama musical em causa, tendo deixado um conjunto de fiéis seguidores (entre os quais, o exemplo mais notável será o dos Year of the Goat) e inúmeros sedentos fãs. A presente versão de “Voodoo Dust” soa a uma interpretação dos Goblin com um Bruce Dickinson sob o efeito de psicotrópicos a encarregar-se das vocais. O registo dos Urfaust tem vindo a afastar-se progressivamente do black metal em direção a uma vertente mais contemplativa, como de resto já o haviam demonstrado no “Apparitions”. Esta versão é particularmente psicadélica, remetendo para o imaginário dos excêntricos gialli italianos da década de 70. Após o climax, segue-se um entorpecedor instrumental com as vocais de Farida Lemouchi a desintegrarem-se numa cama de sintetizadores. Uma curiosa apropriação e valente dica para um potencial e já necessário álbum de tributo aos The Devil’s Blood, bem como novo álbum de originais dos Urfaust (com passagem – obrigatória por terras lusas, estando esta já prometida desde a edição do Amplifest de 2014).

Confesso que tenho acompanhado a carreira dos Visions of Atlantis(VoA) com algum desdém, dado a pasmaceira e pouca qualidade que têm sido os seus últimos lançamentos. Por isso, é com um enorme agrado e prazer que oiço o seu novo EP «Old Routes - New Waters», uma espécie de antecâmera do seu novo LP que sairá ainda este ano. Parece que é desta que acertaram no tom do seu Symphonic Power Metal. Bem, o título deste EP também diz tudo: Antigos caminhos (Mesmo género), novas águas (Nova direção). Depois de uma tempestade ter varrido quase todo o lineup, deixando apenas como único sobrevivente Thomas Caser, os VoAs renasceram para algo mais consistente e dignificante - sim, porque os últimos trabalhos são de uma mediocridade atroz. Estes novos VoA querem capturar a chama dos 1º álbuns, e, a ver pela amostra acho que o vão conseguir. A música é maravilhosa, como atestam as novas roupagens dos seus maiores êxitos, no qual a nova versão de «Seven Seas» o prova. A nova diva vocal, Clementine Delauney, está perfeitamente à altura da coisa e com a sua voz na escala certa. O único reparo que faço é a colagem a outras bandas do mesmo estilo, perdendo os VoA algum caracter nesta área e não acrescentando nada de novo – O habitual dos últimos tempos. Mas, mais vale uma nova banda com uma sonoridade em que a fórmula está mais do que testada e renovada do que aquilo que faziam antes. Resta agora ver o que vai dar o novo álbum que aí vem. Este é um excelente aperitivo.

[7.5/10] CARLOS FILIPE

[8.5/10] FREDERICO FIGUEIREDO

[8/10] HELDER MENDES

THE BRIGHTEST VOID [7 / 10]; THE SHADOW SELF [9 / 10] EDUARDO RAMALHADEIRO

9 4 / VERSUS MAGAZINE

95 / VERSUS MAGAZINE


vErSUS MAGAZINE

W E E K E N D NACHOS

W I THER S C A P E

W H I TEC H A P EL

«Apology»

«The Northern Sanctuary»

«Mark of the Blade»

(Relapse Records)

(Century Media)

(Metal Blade)

Os Weekend Nachos colocaram um ponto final na carreira após 12 anos de carreira e uma mão cheia de LPs e muitos, muitos Eps e que os colocaram como uma das bandas mais influentes da cena Hardcore de Chicago. No entanto, o quarteto não poderia sair de cena sem antes se despedir, devidamente, dos seus seguidores. Daí que este «Apology», o disco que fecha a mão, seja talvez, o registo mais emotivo da banda, sem o ser. O motivo é simples, é que os Weekend Nachos saíram de cena com um disco pesado e seguindo todos os pergaminhos que fizeram deles o que foram. Olhar para este disco como uma despedida é um erro. «Apology» deve ser olhado como um gesto de agradecimento aos seguidores e escreve uma página (final) do que foram os Weekend Nachos. Poderosos, nervosos, caóticos. Este é um disco que agradece e que pede desculpa por uma partida, mas sem com isso perder o identidade que criaram. Podemos olhar como o pedido de desculpa que fica por dizer, mas eles não o dizem. Eles atiram-no isso à cara e nós desculpamos. Como os próprios dizem, não vale a pena chorar por eles, pois eles já estão mortos. Eles pedem desculpa, nós aceitamos. Mas não era caso para tanto.

[7/10] NUNO LOPES

Depois do tão aclamado «The Inheritance» eis que Dan Swanö e Ragnar Widerberg regressam em 2016. Estará este à altura do álbum de estreia? Outra pergunta: Alguma vez Mr. Swanö vos deixou ficar mal? Um dos mais versáteis multi-instrumentalistas e produtor que existe nestes tempos volta a pegar nas rédeas deste projecto e seguremse, porque a viagem é extraordinária. A história remonta ao primeiro álbum, com uma passagem pelo EP «The New Tomorrow» e termina com «The Northern Sanctuary». Musicalmente é a continuação do álbum anterior, “Dead For a Day”, “Astrid Falls” e “Math of the Myth” são as principais influências e os pontos de partida. Swanö, como ninguém, mistura de forma absolutamente magistral alguns elementos que à primeira vista poderão estar nos antípodas musicais: AOR, Hard/Prog Rock dos anos 70/80 e um subtil Death Metal. As vozes limpas e melódicas contrastam com a ferocidade dos growls conferindo uma versatilidade vocal que ajuda, ainda mais, na criação de um ambiente bastante denso, negro e misterioso. Witherscape é uma história para seguir, tanto ao nível do conceito lírico como musical. Neste projecto, pela primeira vez, Swanö atende aos comentários e faz algo “fora da sua zona de conforto”, resultando daí um épico de (quase) 14 minutos. Como nos diz na entrevista, «The Northern Sanctuary» vem enriquecido com uma edição limitada e um disco extra com os temas misturados em toda a sua gloriosa dinâmica, que vale vem o dinheiro extra despendido. Em resposta às duas perguntas formuladas em cima: Sim, «The Northern Sanctuary» está à altura do seu predecessor e não, Dan Swanö nunca vos vai deixar ficar mal. Um dos álbuns do ano! [9/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

9 6 / VERSUS MAGAZINE

Com Whitechapel não há por onde divagar: ouve-se o que se estava à espera de ouvir. O álbum está cheio de guitarras grossas, ritmos brutos cheia de fills e breaks para prencher uma música já de si bastante carregada, com o auxílio de uma voz agressiva e baixo envolvente. Assim sinto o que se passa nestes 48 minutos do novo trabalho dos norte americanos que nos deram tantas alegrias com um (inesperado) muito bom álbum em 2014: “Our Endless War”! Curiosidade bastante interessante sobre o nome deste colectivo: o nome Whitechapel é inspirado no nome da área londrina onde Jack the Ripper cometeu vários dos seus crimes - se tiverem a oportunidade recomendo a leitura da obra gráfica “From Hell”. Após este àparte, a novidade neste tranalho é a adição de vozes limpas - surpreendemente muito melódicas - pelo vocalista Phil Bozeman. As prestações/sucesso da banda é tal que os guitarristas continuam a ser patrocionados pela marca japoneza ESP, com os modelos Ben Savage e Alex Wade. Este novo «Mark Of The Blade» não traz nada de novo; as faixas não são surpreendentes (banais?) e para quem levou com o “Our Endless War” nas trombas, dificilmente consegue digerir este downgrade dois anos depois. Bom, nem tudo são coiso e o álbum está muito bem produzido; vai decerto agradar aos puristas/fãs do género; mas acredito que não irão convencer muita gente que não tenha gostado da banda até agora.

[5/10] AG


FLASH REVIEWS

vErSUS

FLASH REVIEWS

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BASALT O

«Basalto» (Fuck Off And Do It Yourself) Vindos de Viseu, os Basalto brindam-nos com um som retro que pisca o olho ao heavy doom, ao stoner e até, por vezes, ao thrash old school. Totalmente instrumental, e onde as faixas recebem apenas, por baptismo, a numeração romana, este trabalho de estreia cheira a grito de independência e honestidade por todos os lados, revelando-se interessante e dinâmico, com realce para as seis cordas de António Baptista, ex-Angriff. Pedia-se, talvez, mais “corpo”, ou consistência de basalto, à produção do disco, que ainda assim não desapontará os adeptos das sonoridades mais telúricas. [ 7 / 10 ] HELDER MENDES

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P S Y C H ED ELI C W I T C H C R A FT «The Vision» (Soulseller Records)

É curioso que a banda tenha escolhido como título para o álbum aquilo que justamente lhe falta – visão. Este trabalho é mais um esforço gregário de encaixe na nova vaga de rock pesado, influenciado pelos anos 60/70. Já temos Blues Pills, Kadavar e bandas com talento - que cheguem, sobretudo quando falamos de um estilo musical anacrónico. A produção é achatada e as vocais de Virgina Monti, já de si anémicas, empalidecem cadavericamente face à prestação das vocalistas de bandas congéneres, como Jessica Bowen ou Elin Larsson. Dispensável.

[3.5 / 10 ] FREDERICO FIGUEIREDO

CANT IQUE LÉPREU X

S I LEN T D ELU S I O N

«Cendres Célestes» (Eisenwald) No que respeita a black metal, o Canadá poderia ser a nova Noruega, como de resto prova este bloco glaciar de desolação. A baixa fidelidade na produção faz com que a arcana sonoridade se estilhe em farpas de gelo. Existe uma sensata sintonia entre a aspereza das vocais, a melancolia das guitarras e a impassibilidade da bateria, que concedem ao álbum uma atmosfera de condensação nebulosa. Cantique Lépreux não ficam a dever nada a bandas como Mgla, injetando-nos com uma doentia dose de puro black metal - da velha guarda. [ 8 / 10 ] FREDERICO FIGUEIREDO

«In State Of Delusion» (Independente) Formados em 2004, só no corrente ano os Silent Delusion se lançam em álbum com o seu metal melódico, obtendo para o efeito a colaboração de quatro vocalistas femininas da nossa cena (cada uma empresta a sua voz a um par de canções). Caso curioso: é instrumentalmente que o grupo soa melhor (ouçam-se, por exemplo, as cambiantes rítmicas em “Delusion”, ou o solo em “Hurricane”). Não que as vocalizações sejam más, porém apenas oferecem “mais do mesmo” (nomes como Nightwish e até Doro vêm inevitavelmente à presença). Um disco que chega atrasado no tempo. [ 6 / 10 ] HELDER MENDES

GREAT COWBOY

S MA S H S K U LLS

«Great Cowboy» (Independente)

Com aquelas vocalizações ríspidas que podemos encontrar em tantos outros projectos de origem brasileira influenciados pelos grandes Sepultura da fase Max Cavalera (embora uma faixa como “Lord of the Clairvoyance – Tir” deva mais aos Krisiun…), esta one man band de Paulo Maia avança com um thrash musculado, sem grandes tecnicismos – um som “porrada”, como dizem no Brasil. Nestes 30 minutos de duração, nada de novo é mostrado, devendo-se igualmente acrescentar que o disco não é equilibrado, perdendo claramente relevância nas últimas faixas, que apostam numa toada menos abrasiva.

[ 6 / 10 ] HELDER MENDES

NORT H

«Light The Way» (Prosthetic Records)

A luz que se espalha e desvenda o mistério. A luz escarlate como fonte de orientação a almas perdidas. Indicação do norte; NORTE este que é sugerido como indicador de uma visão obstante, froncil, mas prestimosa de amplitude e desmembrada de equívocos. Frases longas submergem o espectador em apneia prolongada que ao terminar não nos invade uma sensação de alívio (como na versão tradicional) mas sim de incompletude. O caminho é desvendado através da luz; explicado através do som.

[7.5 / 10 ] AG

9 8 / VERSUS MAGAZINE

vErSUS

«Fall of Humanity» (Independente) Muitas vezes se lê se diz e se pensa que o que é bom só vem de fora de países como Noruega, Finlândia, Brasil, Alemanha, Finlândia e talvez mesmo da Grécia, mas raramente vem à ideia que possam ser de Portugal. Os Smash Skulls, desde logo nos prendem ao seu som - pena ser um EP com apenas três temas. No entanto, não nos atrevemos a destacar nenhum em especial tal a sua coesão. As vozes mostram muita agressividade e o resto da banda mostra muita coesão. Os Smash Skulls fazem soar o seu som de maneira excelente e não uma confusão como muitas bandas o costumam fazer. A banda está claramente à frente de muitas outras em muitos aspectos e este EP desde logo o demonstra. Oiçam “Fall of Humanity”. [ 6,0 / 10 ] MIGUEL RIBEIRO

WA LLS O F J ER I C H O

«No One Can Save You From Yourself» (Napalm Records) O texto que acompanha este novo trabalho dos Walls of Jericho não podia ser mais descritivo do que se pode ouvir nestas 13 faixas: “não há espaço para nuances subtis”. É verdade que não há grande originalidade no género: não se sai do terreiro já bem batido mas há qualidade neste «No One Can Save You From Yourself»; uma porrada de energia, vozes bem colocadas, guitarras que sabem o que é para fazer quando tem de se verter energia pura nos ouvidos do ouvinte. [ 6,5 / 10 ] AG

99 / VERSUS MAGAZINE


ANNEKE VAN GIERSBERGEN Geyserhaus Leipzig 29/04/2016


Anneke van Giersbergen, a conhecida ex-vocalista dos The Gathering, decidiu fazer uma tour Europeia mas num formato mais intimo percorrendo pequenos bares e salas por essa Europa fora. E foi numa dessas datas que a Versus teve o prazer de assistir a um belo concerto. Mais precisamente, em Leipzig num pequeno, mas acolhedor, bar nos arredores da cidade. A acompanhar Anneke esteve Vic Anselmo, uma bela pianista/vocalista que nos apresentou o seu novo EP: “Backyard Novelties”. E foi num ambiente também bastante intimo que Vic se sentou junto ao seu piano e nos apresentou a sua música. O tema de abertura foi “Daylight”, do álbum “Who Disturbs the Water”, e de imediato fomos arrebatados pela bela voz e pelas belas melodias de Vic. “Open Wide”, do seu mais recente EP, foi o tema de seguida e era notável o encanto que a música de Vic gerava por entre os presentes. Vic também tocou algumas covers entre as quais “Mother Stands for Comfort”, de Kate Bush, e “Burn”, dos Deep Purple. Por entre um belo sentido de humor, que arrancou bastante sorrisos dos pre-

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sentes, Vic contagiou todos com o seu piano e a sua voz. “Another Train”, “Horizon” e “Cody” foram os restantes temas tocados sendo que todos os presentes ficaram bastante agradados com esta escolha para a abertura do concerto. De seguida, é chegada a vez de Anneke que com a sua guitarra e a sua bela voz enche o palco e arranca enormes aplausos dos presentes. “My Electricity”, dos The Gathering, foi a música escolhida para o arranque do concerto, escolha que muito agradou ao público. “Songbird”, dos Fletwood Mac, foi a primeira cover com que Anneke nos presenteou antes de ingressar na sua carreira a solo com “My Mother Said”. É incrível o à vontade com que Anneke salta entre temas de diferentes intérpretes e lhes imprime um cunho tão pessoal! “Saturnine”, “Broken Glass” e “Locked Away”, dos The Gathering, levaram-nos a paisagens mais conhecidas antes de regressarmos a covers com “Ih-Ah!”, de Devin Townsend, e “Broken Wings”, de Mr. Mister. Por entre histórias e anedotas, Anneke leva o seu público a um estado de relaxamento tal que sentimos que voltamos a encontrar uma velha amiga com quem temos muito que conversar. “Circles”, do seu álbum “Everything is Changing” foi o último original antes de Anneke terminar o seu concerto com mais um conjunto de covers. “Drowning Man”, dos U2, juntamente com “Wish You Were Here”, dos Pink Floyd, e “Jolene”, de Dolly Parton, foram as últimas músicas tocadas e ficamos com a sensação de que, com esta tour, Anneke nos quis mostrar os temas que mais marcaram a sua vasta carreira bem como a si própria, como demonstrou com os várias versões com nos presenteou. Uma excelente noite na companhia de uma das melhores vocalistas da actualidade. Reportagem: Eduardo Rocha/Fotos: Cornelia Rinn

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Tim Hecker Teatro Maria Matos – Lisboa 10/05/2016


O dia 10 de maio assinalou a passagem de Tim Hecker por Lisboa para a apresentação do seu último trabalho “Love Streams”, álbum que marcou a transição para a lendária 4AD (responsável por canonizar bandas como Fields of the Nephilim, Cocteau Twins, Dead Can Dance, This Mortal Coil e semelhantes). “Love Streams” destacou-se igualmente por ser o primeiro álbum em que se dão a “ouvir vozes”, neste caso, samples de coros do Século XV, manipulados até se transformarem em vertigens tunelares. Estas manifestações, apesar do seu caráter litúrgico, acabam por se aproximar mais de fenómenos EVP similares ao esforço desenvolvido pelos Schloss Tegal em “Black Static Transmissions”. À entrada do recinto, a afluência que se encontrava congregada anunciava “casa cheia” e, assim que as portas foram abertas, a sala acolheu-nos com cónicos movimentos de névoa que exauriam do palco, incitando os tripulantes a ocuparem os seus lugares e a prepararem-se para abandonar a costa. À hora prevista, a penumbra instalou-se gradualmente, evidenciando-se a silhueta do nosso comandante, por entre focos de luz que forçavam a respiração do endoesqueleto deste navio. O espetáculo foi imersivo na sua irradiação violácea – pulsante e febril como uma infeção. A plasticidade criativa demonstrada por Tim Hecker fez com que o “ruído” tivesse o efeito de uma lixa imbuída em láudano nos nossos nervos. Esboços de instrumentos de sopro e passagens maceradas de piano entre emissões de trepidação estática, marcaram a muda apócrifa que precipitava da figura enigmática que dominava o palco. Entre a fluorescência que vivissecava a escuridão e as maquinações abstratas de drone, dilatadas por inflexões eletrónicas em compasso errático, o espetáculo acabou por fazer recordar o recém-falecido Isao Tomita. Reportagem: Frederico Figueiredo Fotos: José Frade

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ESPECIAL

Wave-Gotik Treffen O Wave-Gotik Treffen é um daqueles festivais únicos no mundo. Quem já por lá passou, entende perfeitamente as minhas palavras. É um festival que decorre por toda a cidade de Leipzig, na Alemanha, com concertos em venues espalhados pelos mais diversos cantos da cidade. E os estilos musicais são eles também bastante diversos. Ou seja, quem gostar de música gótica tem a oportunidade de ver bandas lendárias no festival mas que gostar de black-metal ou folk-metal, como é o caso do vosso escriba, também tem muito com que se entreter. É portanto um festival com vários festivais incluídos. Esta edição do WGT teve também um carácter bastante especial pois é a 25a vez que este festival se realiza. E por isso, o programa foi ele também (ainda) mais enriquecido. É portanto importante escolher bem o que se quer ver. Relembramos que este festival contou com mais de 240 (!!!!) artistas distribuídos por mais de 10 palcos espalhados por toda a cidade. Reportagem: Eduardo Rocha Fotos: Tilly Domian

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Para o primeiro dia, escolhemos rumar à Heidnisches Dorf, um parque no sul de Leipzig, aonde todos os anos se realiza a feira medieval deste mesmo festival. Para além desta bastante interessante feira, aonde se pode beber a famosa Mett (algo tipo cidra...), este ano tínhamos o concerto dos Leave’s Eyes que nos trouxeram o seu special Viking Show. Mas já lá vamos, até porque antes estiveram a tocar uns senhores chamados Cultus Ferox, que nos presentearam com um folk furioso. Com bastantes referências a Corvus Corax, os Cultus Ferox tiveram uma actuação bastante irreverente e animada. O público aderiu massivamente e eram várias as pessoas a dançarem fervorosamente com garrafas de Mett na mão. Com 3 gaitas-defoles em cima do palco e com todos os membros com pinturas faciais bizarras, os Cultus Ferox demonstraram o porquê de serem banda reconhecida na cena folk Alemã. Uma excelente banda de abertura para os Leave’s Eyes que, como os nossos leitores certamente saberão, são já uma entidade bastante reconhecida na cena Symphonic Metal com bastantes referências à mitologia nórdica e Viking. Fundados por Liv Kristine e Alexander Krull, os Leave’s Eyes rapidamente ganharam uma imensa popularidade e tornaram-se numa das bandas mais populares do género. Recentemente, devido à saída inesperada de Liv Kristine da banda, esta viu-se envolvida numa polémica muito preconizada pelos fãs que especulam sobre as razões da saída de Liv Kristine. Para substituir Liv, a banda convidou Elina Siirala e os fãs estavam de facto curiosos para saber como seria esta nova reencarnação dos Leave’s Eyes. Para aguçar ainda mais a curio1 1 0 / VERSUS MAGAZINE

sidade, os Leave’s Eyes trouxeram consigo o seu Viking show e foi, de facto, com o palco cheio de Vikings e envolto em chamas que o concerto se iniciou. A abrir com o épico “Halvdan the Black” e com “Sacred Vow”, ambos do recente “King of Kings”, a adesão do público foi imediata e todas as dúvidas se dissiparam. Elina adequa-se perfeitamente aos temas épicos dos Leave’s Eyes e a sua postura e presença em palco demonstram que não tem qualquer receio da pesada herança que recebeu. Alexander Krull, sempre irrequieto e a puxar pelo público, adiciona uns poderosos guturais ao som mais épico e delicado da banda. O regresso ao passado da banda deu-se com “Take the Devil in Me”, “Farewell Proud Man” e “Melusine” sendo que Elina demonstrou, mais uma vez, estar à altura do desafio. Entre enormes espadas no palco, fogo e Vikings, os Leave’s Eyes deram um verdadeiro espectáculo. Um dos destaques da noite foi certamente o tema de apresentação de Elina, “Edge of Steel”. “To France”, a conhecida cover que os Leave’s Eyes fizeram de Mike Oldfield, foi também um dos temas mais bem recebidos pelo público. Por fim, e com o palco mais uma vez repleto de Vikings, a banda termina com “Blazing Waters” e “Mot Fjerne Land” e deixa o público satisfeito e convencido de que com esta mudança, os Leave’s Eyes ganharam um novo fôlego.

SEGUNDO DIA: KOHLRABIZIRKUS No segundo dia, a escolha foi fácil e recaiu sobre o Kohlarabizirkus (uma espécie de pavilhão aonde se realizam concertos e feiras). E o cartaz deste dia era bastante aliciante pois, como headliners, tínhamos os Enslaved, com a sua vintage tour. Os Noruegueses estavam ainda acompanhados por bandas como os Crematory ou os Swallow the Sun. Portanto, motivos mais do que suficientes para esta escolha. E as coisas começaram da melhor maneira com o excelente concerto dos Autumnal. Esta banda, oriunda de Espanha, surpreendeu tudo e todos com o seu excelente Doom e com um concerto irrepreensível. A tocar para um recinto relativamente vazio, os Autumnal não se deixaram desmotivar e, aos poucos, conseguiram

conquistar todos os presentes e terminaram a sua actuação com um recinto bastante bem composto. A abrir o concerto com a compassada e calma batida de “A Tear from a Beast”, os Autumnal depressa arrancaram para temas mais pesados com “One Step...And the Rest of Our Lives”. É sempre bom ver uma banda relativamente desconhecida surpreender público e jornalistas e os Autumnal fizeram isso mesmo. “The Storm Remains the Same” foi o tema mais pesado, com excelentes riffs e uns poderosos guturais. Em geral, os Autumnal praticam um Doom bastante melódico, por vezes arrastado, com excelentes vocalizações e apresentam uma originalidade de que o género por vezes necessita. Por fim, os Autumnal terminaram o seu concerto com “Zoe” e “As Soon as You Die, Kill Me”, do seu primeiro álbum. O público aplaudiu euforicamente os Espanhóis e no fim do concerto,

em conversa com a Versus, Julio (guitarrista) confessou-nos o quão ficou satisfeito com esta excelente recepção. De seguida, os Finlandeses Swalow the Sun tomaram conta do palco e o resultado não podia ter sido melhor. Estes mestres de death/doom, que recentemente lançaram o triplo álbum “Songs from the North I, II & II”, têm um estatuto de banda de referência dentro do género e demonstraram o porquê desse mesmo estatuto. Com “10 Silver Bullets” a abrir o concerto, um pesado mas belo tema retirado da primeira parte do mais recente álbum, a recepção por parte do público foi bastante entusiástica, notando-se que este sexteto era uma das bandas mais aguardadas da noite. “Rooms and Shadows” foi o tema seguinte e “Hate Lead the Way” demonstrou a faceta mais agressiva deste colectivo. Com uma excelente presença em palco

e temas como os anteriores mencionados, os ingredientes para um memorável concerto estavam reunidos. “Hope” e “Swallow” foram os temas escolhidos para fechar este concerto, deixando o público a pedir por mais. Mas agora era a vez dos Germânicos Crematory que traziam consigo o novo álbum “Monument” que apresenta um regresso às origens mais pesadas desta reconhecida banda. Para além disso, as recentes saídas do baixista Harald Heine e do guitarrista/vocalista Matthias Hechler, fizeram com que bastantes dos presentes quisessem verificar como seria um concerto com o novo line-up. De se notar que, sendo os Crematory alemães, o seu concerto foi um regresso a uma cidade e a um festival que muito bem conhecem. A batida de “Misunderstood”, tema retirado do seu novo álbum, demarcou o início do concerto e os Cre111 / VERSUS MAGAZINE


matory demonstraram que o seu som típico persiste, independentemente de qualquer mudança que ocorra na banda. O público esse vibrou com este tema e com os subsequentes “Tick Tack” e “Haus mit Garten”. Os Crematory apostaram num setlist baseado nos seus temas mais electrónicos e apresentaram alguns cantados em Alemão, escolha óbvia dado o carácter do festival. “Raven Calling” e “Everything” foram outras músicas retiradas do novo álbum, sendo estes mais assentes nas vocalizações limpas que são uma característica típica dos temas dos Crematory. De seguida, uma viagem ao passado e com os seus temas mais emblemáticos, tais como a sua cover de “Black Celebration” e “Tears of Time”, que nos relembra que estes senhores estiveram lá desde o início do Gothic Metal. Um excelente concerto com um 1 1 2 / VERSUS MAGAZINE

recinto complemente cheio e em que os Crematory demonstraram a sua força, apesar de todas as recentes mudanças. Por fim, era chegada a vez dos Enslaved que se encontram a celebrar 25 anos de carreira. Por isso, o concerto desta noite foi um pouco diferente daquilo que os Enslaved têm apresentado nas suas últimas tours. Foi uma autêntica lição de história por parte deste sexteto Norueguês que foi uma das primeiras bandas a cunhar o termo de Viking Metal. A abrir com “Jotunblood” e “Fenriz”, ambos retirados do seu lendário álbum “Frost”, os Enslaved quiseram que o público viajasse consigo por entre a sua discografia mais antiga. “Ansuz Astral” e “Eld” continuaram esta incursão pelo passado da banda, sendo que o público estava bastante entusiasmado com estas

visitas ao passado da banda. “As Fire Swept Clean the Earth” e “Return to Yggdrasil” demonstraram que os Enslaved também se orgulham dos seus registros mais recente e da mudança sonora que foram aprimorando ao longo dos anos. A fechar o concerto, algo de mesmo muito antigo com os temas “Allfoðr Oðinn” e “Slaget i skogen bortenfor”, retirados dos seus primeiros registros. Um excelente concerto por parte de uma banda lendária que é uma parte bastante importante da história do Metal norueguês. TERCEIRO DIA: FELSENKELLER O terceiro dia levou-nos a uma sala de espectáculos mais afastada do centro da cidade. E não era para menos pois o certame deste dia contava com os My Dying

Bride, que recentemente lançaram o excelente “Feel the Misery”, acompanhados pelos Carach Angren e pelos Dark Fortress. A tarde começou com os Dornenreich e os Psicolybe Larvae, sendo que não nos foi possível assistir às actuações de ambas as bandas. Assim sendo, os Carach Angren foram a primeira banda que vimos neste dia e não podia ter sido melhor. Foi sem dúvida um dos melhores, senão mesmo o melhor, concerto deste festival, na humilde opinião deste vosso escriba. Os Carach Angren são das mais originais bandas que apareceram recentemente. Com um conceito de horror black metal, a actuação destes Holandeses não podia ter reflectido melhor esse mesmo conceito. Para começar, o suporte do microfone do vocalista Seregor apresentava uma enorme faca, sendo que durante a actuação, o mesmo simulou várias vezes estar a esfaquear freneticamente alguém. O tema de abertura foi “There’s no place like home”, retirado do recente “This is no Fairytale”, e depressa nos apercebemos da originalidade e da qualidade técnica deste quarteto. Com um black metal de contor-

nos sinfónicos e com arranjos bastante complexos e originais, a assistência foi rapidamente arrastada para o mundo de horror criado por estes senhores. “The sighting is a portent of doom” e “Lingering in an imprint haunting” foram executados de seguida com uma perfeição que deixou todos perplexos. O teclista Ardek, com quem a Versus conversou no final do concerto, tem também uma presença assustadora em palco enquanto executa as belas orquestrações tão essenciais para o som dos Carach Angren. A ajudar ao conceito de horror, em alguns temas, uma ensanguentada dançarina subiu ao palco fazendo danças algo arrepiantes. “Two flies flew into a black sugar cobweb” e “Bloodstains on the captain’s log” deixaram a assistência de rastos e a gritar por mais. Os Dark Fortress foram os senhores que se seguiram e deram um bom concerto. Porém tocar depois dos Carach Angren não deve ser fácil para qualquer banda. A toada agora foi mais melódica mas ainda assim com bastante peso. “Venereal Dawn”

foi o primeiro tema deste concerto e sendo Alemães, os Dark Fortress tiveram uma sala bastante cheia a assistir à sua actuação. Os Dark Fortress tocam um black metal mais melódico com alguns arranjos progressivos, mas alguns dos seus temas são demasiado longos para segurar a atenção de alguns dos presentes. “Evenfall”, do álbum “Ylem”, e “I am the Jigsaw of a Mad God”, do recente “Venereal Dawn”, foram tocados com bastante precisão. Mas ainda estávamos todos a ressacar do concerto anterior e por isso, na minha humilde opinião, os Dark Fortress não me conseguiram impressionar. “Cohorror” e “The Valley”, longos temas, foram tocados de seguida sendo que o concerto terminou com “Iconoclasm Omega”. E por fim, era chegada a vez da mais ansiada banda da noite. Uma das maiores referências do Doom, os My Dying Bride, iam fechar a noite e para ajudar, o seu mais recente álbum “Feel the Misery” é algo de fenomenal. Com o regresso de Calvin à banda, notou-se um ganhar de fôlego por parte dos Britânicos e isso reflecte-se no álbum bem como em cima do palco. Mas foi com clássicos que a banda começou o concerto. “Your River”, do lendário “Turn Loose the Swans”, e “From Darkest Skies”, do não menos lendário “The Angel and the Dark River”, levaram os presentes à loucura. “My Body a Funeral” foi um momento com algum abrandamento sendo que os My Dying Bride quiserem demonstrar que o material mais recente também deve ser tocado. E nós não discordámos. “Feel the Misery”, do mais recente álbum, demonstrou que a banda consegue compor temas do calibre 113 / VERSUS MAGAZINE


do material mais clássico. “Thy Raven Wings” é também um belo tema que foi muito recebido pelo público. Fica-se com a impressão de que a banda está mais coesa e brutal em palco, com uma excelente actuação digna de bandas deste calibre. “The Prize of Beauty” foi o tema escolhido antes de um regresso às origens da banda com “Erotic Literature”, o tema mais pesado da noite. O que surpreendeu muitos dos presentes foi a capacidade dos My Dying Bride em tocar este material mais brutal. Depois foi a vez do tema mais conhecido: “The Cry of Mankind” que foi recebido euforicamente. “She is the Dark” foi outro dos clássicos tocados antes de a banda tocar as últimas músicas da noite: “Like a Perpetual Funeral” e “Symphonaire Infernus et Spera Empyrium” sendo que este último deixou a audiência boquiaberta com a brutalidade da sua execução. Um concerto excelente e surpreendente! QUARTO DIA: FELSENKELLER No último dia do Wave-Gotik Treffen regressamos ao Felsenkeller para um dia repleto de bandas de folk metal. A primeira banda da noite foram os Islandeses Skálmold que deram um excelente concerto e foram muito bem recebidos pelos presentes. Com temas como “Árás”, do último álbum “Baldur”, e “Gleipnir”, de “Börn Loka”, os Skálmold demonstraram o porquê de terem uma excelente reputação dentro da cena. Os Trollfest foram os senhores que se seguiram e também eles deram um excelente concerto com bastantes toques de humor. Entre eles, a cover de Britney Spears ou 1 1 4 / VERSUS MAGAZINE

uma dança um pouco diferente a que fomos convidados a fazer. Para além de umas pinturas faciais bastante interessantes e uma excelente performance ao vivo. Os Heidelvolk apresentaram-nos um concerto um pouco diferente. Com dois vocalistas em palco e com um set acústico no fim do concerto, foi bom ver uma banda folk apresentar um lado mais simples dos seus temas. A combinação das vocalizações e a excelente performance dos restantes elementos da banda garantiram uma excelente recepção por parte do público. Por fim, foi a vez dos Korpiklaani. Depois desta quantidade de bandas de folk, pareceu-nos que seria difícil para os Finlandeses conseguirem fazer movimentar o público presente. Mas pelo contrário, os Korpiklaani foram euforicamente recebidos pelos presentes e deram um excelente concerto. Com temas como “Journey Man”, “Vodka” e “Rauta” os Korpiklaani conseguiram fazer com que o público presente vibrasse intensamente com o seu concerto.

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É excelente ver um festival com várias facetas e a apostar em novas bandas mas também a trazer nomes reconhecidos dos vários quadrantes abrangidos pelo festival. O carácter único do Wave-Gottik Treffen torna-o um dos melhores festivais Europeus mas também o mais eclético e certamente merece uma visita por parte dos nossos leitores.

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CARACH ANGREN Um horror de banda Os Carach Angren são das mais originais bandas que tem aparecido nos últimos anos. Com um conceito de Horror-Metal que é trazido para cima do palco de uma forma intensiva, os Carach Angren têm impressionado com os seus excelentes concertos. O concerto que deram no Wave-Gottik Treffen não foi excepção e a Versus aproveitou a oportunidade para conversar com o teclista Ardek no fim do concerto sobre a banda e sobre o conceito dos álbuns que têm lançado. Entrevista: Eduardo Rocha Fotos: Tilly Domian

QUE GRANDE CONCERTO! COMO É, PARA TI, TOCAR NO WGT? Ardek: Muito obrigado! É muito bom tocar aqui porque é um público diferente mas eu adoro a cena Gótica. Tem muito espaço para estas performances mais extremas e teatrais. Estamos habituados a um público mais virado para o metal mas foi muito bom! Este teatro é um sítio excelente para tocar e adequa-se muito bem ao nosso conceito.

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VÃO BUSCAR MUITAS INFLUÊNCIAS À CENA GÓTICA. NOTEI TAMBÉM ALGUMAS INFLUÊNCIAS SINFÓNICAS. FALA-ME UM POUCO ACERCA DAS VOSSAS INFLUÊNCIAS E DE COMO CONSEGUIRAM CRIAR UM SOM TÃO ORIGINAL. Ardek: Obrigado! Desde o início que desenvolvemos este conceito de contar histórias. Desenvolvemos isto ao longo dos anos e contamos sempre uma história em cada álbum. Nunca são canções isoladas e a

música vem daí. Quando eu começo a compor, tento imaginar que parte da história pode decorrer dentro dessa música e tento encontrar sons para a descrever. O nosso vocalista é também muito teatral e tem uma presença bastante impressionante em cima do palco com os esfaqueamentos. As nossas letras citam actores dessas histórias. Nós gostamos de compor assim e de fazer com que os vários elementos se adequem uns aos outros. As nossas performances com as dançarinas e todo o artwork presente nos nossos álbuns fazem parte de um conceito. E adoramos fazer isto. DIRIAS QUE OS VOSSOS CONCERTOS SÃO COMO PEÇAS DE TEATRO? QUEREM CONTAR UMA HISTÓRIA AO VIVO? Ardek: Sim. E sentimos isso mesmo e não fazemos nenhum truque. Algumas bandas fazem cenas com vídeos mas nós quando tocamos, sentimos mesmo a história e o que está a ser contado.

mos uma versão diferente: as crianças querem fugir da casa porque há bastante violência dentro dela. E quando escapam, elas são capturadas por um palhaço maquiavélico que abusa delas e as mata. No fim, tu não sabes se foi tudo um sonho ou não. É assim que gostamos de contar as histórias. Mas esta é mesmo horrenda (risos). COMO TEM SIDO A REACÇÃO DA IMPRENSA E DOS FÃS AO VOSSO NOVO ÁLBUM? Ardek: Tem sido bastante boa! Este álbum é mais negro e complexo enquanto que os anteriores eram mais aventurosos. As pessoas ficaram bastante surpreendidas e isto motiva-nos para continuarmos a escrever. Aliás, já estamos a escrever material para o novo álbum.

PODES-NOS CONTAR UM POUCO ACERCA DO CONCEITO DO VOSSO NOVO ÁLBUM “THIS IS NO FAIRYTALE”? Ardek: É baseado na história Hansel-and-Gretel mas numa versão mais moderna e mais horrenda. Na história original, as crianças são deixadas na floresta porque os pais não podem ficar com elas. Mas nós te119 / VERSUS MAGAZINE


COMO VAI SOAR O NOVO MATERIAL? Ardek: Ontem estive a escrever um tema e é outra vez mais melódico. Este álbum é bastante negro mas tinha que sair assim. Portanto, acho que o novo material é mais melódico. E será uma história conceptual baseada em horror.

Kataklysm. No Inverno, vamos fazer uma tour com os Fleshgod Apocalypse na Europa. Portanto, temos muitos concertos em breve. E depois, queremos terminar o processo de composição do novo álbum nos próximos meses. Portanto, temos que trabalhar muito.

TENHO QUE ADMITIR QUE HOUVE ALTURAS DURANTE O VOSSO CONCERTO EM QUE ME SENTI PARTE DE UM FILME DE TERROR. Ardek: Obrigado!

E VÃO CONTINUAR COM A SEASON OF MIST? Ardek: Sim, é uma excelente editora e sentimo-nos bem com eles. Temos um bom management e booking agora e portanto, as coisas estão a ir bem.

COMO COMPÕEM O VOSSO MATERIAL? Ardek: Normalmente, eu começo a compor as partes orquestrais e depois mando para o Seregor, que é o nosso guitarrista, e ele compõe os riffs. De seguida, o Namtar que é o nosso baterista, acrescenta as suas ideia a nível de ritmo e no fim, tudo se junta. Mas entretanto, como já sabemos como vai ser a história, compomos a pensar na parte da história a que o tema se refere. Basicamente, é como gravar a banda sonora da nossa história. Ontem, estive até à 1h30 da madrugada com o Seregor a conversar sobre a história porque nós vivemos mesmo isto.

EU PERGUNTO, SEMPRE ISTO A TODAS AS BANDAS. O QUE ACHAS DO SPOTIFY? Ardek: É inevitável que isto aconteça e vai continuar a acontecer. O dinheiro que vem para as bandas é bastante reduzido, a menos que seja uma banda bastante grande. Mas também acho que é bom porque todos têm acesso a música e eu não posso discutir contra isso. Mas claro, eu gosto mais de comprar o CD ou o Vinyl. O Spotify não pode substituir o CD e as vendas nunca vão desaparecer. Mas eu gosto do streaming e é inevitável. Não sou muito negativo acerca disto e há muitas bandas que se queixam do Spotify. A mim não me interessa porque eu quero tocar ao vivo e quero mostrar o que consigo fazer. E não quero aborrecer as pessoas com como o streaming afecta os meus rendimentos. Eu vou fazer todos os esforços para tornar isto possível. As pessoas pagam bastante dinheiro pelos bilhetes dos concertos. Portanto, não ando a pedir dinheiro no Kickstarter. Eu vou continuar a fazer isto.

MAS INSPIRAS-TE EM EVENTOS DA VIDA REAL? Ardek: Sim, podem ser várias coisas e não precisa de estar relacionado com o tema da história. O Seregor adora filmes de terror também e falamos sobre todos estes temas. É um processo um pouco exaustivo porque estamos sempre a acrescentar elementos às histórias. POR FALAR NISSO, COMO VÊS O MUNDO HOJE EM DIA? Ardek: É difícil. Há muita coisa a acontecer mas para nós, é tudo muito rápido. Às vezes, precisamos de estar isolados para podermos ter alguma inspiração para compor. E é difícil porque as bandas têm que estar sempre em tours ou a lançar novos álbuns. Quando me sento e penso que algo que eu compus é tipo 90%, eu deito esse material fora. Tem que ser tudo 100%. Por exemplo, ontem escrevi algo com o qual estou bastante satisfeito e quero muito mostrar esse material. É esse tipo de energia de que precisamos. QUAIS SÃO OS VOSSOS PLANOS FUTUROS? VÃO TOCAR EM ALGUM FESTIVAL DE VERÃO? Ardek: Sim, em alguns. Temos um festival na Roménia e depois temos a tour com os Marduk nos Estados Unidos. E vamos fazer ainda outra tour, também nos Estados Unidos e no Canadá, com os 1 2 0 / VERSUS MAGAZINE

E COMO VÊS A CENA HOJE EM DIA? EU ACHO QUE ESTÁ UM POUCO SATURADA E É BOM VER BANDAS COMO OS CARACH ANGREN A REFRESCAR AS COISAS. Ardek: É muito bom ouvir isso porque gostamos de ser originais. Eu não ouço muito black metal hoje em dia, porque é algo que estamos sempre a compor. Não podes planear ser original e eu acho que as bandas têm de gostar daquilo que fazem. Quando estou a compor, eu tenho que saltar da cadeira. Se tens esse sentimento, então o que fazes é original. E EM QUE DIRECÇÃO MUSICAL VÊS OS CARACH ANGREN A IR? Ardek: Como disse, agora estamos a compor mate-

rial mais melódico. No último álbum, lembro-me que estava a compor e a música era bastante negativa e negra e eu tive que aceitar que este álbum iria ser mesmo assim. Às vezes não dá prever o que vai sair. O material agora é mais melódico o que nos vai levar a novas direcções. VOCÊS NUNCA TOCARAM EM PORTUGAL. GOSTARIAS DE DIZER ALGO AOS VOSSOS FÃS PORTUGUESES? Ardek: Sim, adorámos-vos e sabemos que os nossos fãs em Portugal estão à espera de uma visita nossa. Quando a oportunidade certa aparecer, certamente que iremos.

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AUTUMNAL Vizinhos do Doom Os Autumnal surpreenderam todos os presentes com um excelente concerto no Wave-Gotik Treffen. De facto, sendo relativamente pouco conhecidos, foi surpreendente ver a quantidade de pessoas que não saíram da frente do palco enquanto os nossos vizinhos Espanhóis tocavam. A tocar um excelente Doom arrastado mas também com excelentes riffs, os Autumnal conquistaram, certamente, muitos dos presentes. A Versus conversou com Julio, guitarrista, acerca do concerto e do conceito da banda. Entrevista: Eduardo Rocha Fotos: Tilly Domian

JULIO, COMO FOI O CONCERTO? COMO FOI TOCAR NO WGT? Julio: Quando fomos convidados para tocar aqui, ficamos bastante surpreendidos como o tamanho deste festival. É o festival Gótico mais importante aqui e demos um concerto muito bom. FOI UM EXCELENTE CONCERTO COM O PÚBLICO A REAGIR BASTANTE EFUSIVAMENTE. PODES FALAR UM POUCO ACERCA DAS VOSSAS INFLUÊNCIAS? Julio: Não temos muito tempo para compor por causa dos nossos compromissos pessoais. Normalmente, compomos em casa e partilhamos o material e juntamo-nos duas ou três vezes por semana. Compomos sem pressa e não desistimos. Podemos demorar muito tempo a lançar um novo álbum, mas não estamos preocupados com isso. 1 2 2 / VERSUS MAGAZINE

REPAREI QUE NESTE CONCERTO, TIVERAM UM BATERISTA NOVO. COMO É QUE ESTA MUDANÇA ACONTECEU? Julio: Isto aconteceu há algumas semanas atrás porque o nosso baterista teve um problema e teve que ficar em Madrid. Tivemos que procurar um baterista novo e um amigo nosso juntou-se a nós. ACHAS QUE UM NOVO BATERISTA VAI AFECTAR O VOSSO PROCESSO DE COMPOSIÇÃO? Julio: O Ricardo não saiu da banda. Este baterista

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vai só dar alguns concertos connosco. O que posso dizer é que o Ricardo vai continuar a fazer parte da banda e ele vai compor o material novo. COMO COMPÕEM? Julio: Eu sou da Galiza mas o núcleo principal da banda está em Madrid. Encontramo-nos sempre em Madrid e compomos partilhando material na Internet e cada um compõe material em sua casa. Não estamos com pressa. FALA-NOS UM POUCO ACERCA DO VOSSO ÁLBUM MAIS RECENTE. Julio: Chama-se “The End of the Third Day” e tem 8 temas de melancholic Doom-metal e temos recebidos excelentes reacções por parte da imprensa e dos fãs. A imprensa ficou bastante impressionada com o nosso álbum anterior, “Grey Universe”. Com o novo álbum e com as nossas abordagens de composição, todos ficaram impressionados. Precisámos de bastante tempo entre os 2 álbuns para as coisas funcionarem bem. E O QUE ACONTECEU DURANTE ESSES ANOS? Julio: Muitas coisa. Não temos pressa e não temos dinheiro. Também temos as nossas vidas pessoais mas não desistimos e decidimos que não temos que ter pressa. TOCARAM AQUI NO WGT E TÊM UM NOVO BATERISTA. VÃO CONTINUAR EM TOUR? Julio: Por enquanto, vamos parar e compor material para o novo álbum. Depois vamos pensar em gravar e em lançar o novo material. Mas por enquanto, temos que pensar em compor material para o novo álbum. PARA UMA BANDA COMO OS AUTUMNAL, O QUE ACHAS DOS SPOTIFY? Julio: Nós começamos em 1997 e é muito diferente agora. Na altura, tinhas que comprar o álbum e agora não precisas. O mais importante para nós é continuar a tocar. O que acontecer com a indústria da música não nos interessa. Não me interessa se compras o meu álbum ou que o ouças no Spotify desde que me venhas ver ao vivo. E O QUE ACHAS QUE ACONTECE COM AS EDITORAS? Julio: O conceito de editora dos anos 90 desapareceu. As editoras ajudam mais agora em termos de decisões e para nós, a Cyclone Empire foi a escolha perfeita. 1 2 4 / VERSUS MAGAZINE

PASSADOS TANTOS ANOS, QUAIS SÃO AS DIFERENÇAS? Julio: Quando começamos em 1997, ouvíamos Cathedral e My Dying Bride e mais ninguém fazia aquilo. E agora, estamos aqui a fazer o mesmo mas sabendo muito mais de música e das nossas influências. Isto não é acerca de ser famoso, mas sim de pegares na guitarra e fazeres aquilo de que gostas. FOI O MEU PRIMEIRO CONCERTO VOSSO E ACHEI-VOS BASTANTE ORIGINAIS. ACHAS QUE A CENA DE HOJE EM DIA ESTÁ SATURADA? Julio: Obrigado. Apenas tentamos fazer música e não nos preocupamos com nada que não seja a música. A VERSUS É DE PORTUGAL? TENS ALGUMA MENSAGEM? Julio: Nós já tocamos em Lisboa. E queremos voltar claro (risos). E Versus, muito obrigado pela entrevista. Conheço-vos muito bem. O WGT tem sido fantástico e a todos, obrigado pelo vosso apoio.

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CREMATORY Um monumento Os Crematory são um monumento da cena metal-gótica. Com uma longa carreira e álbuns como “Illusions” e “Act 7”, os Crematory ajudar a definir uma nova sonoridade dentro dos quadrantes mais pesados. Ao longo da sua carreira, estes Alemães também não tiveram receio em experimentar novas sonoridades e lançaram álbuns com bastantes influências electrónicas. Depois de uma significativa mudança de membros, com a saída do icónico guitarrista e vocalista Mathias e do baixista Harald, os Crematory não desistiram e recrutaram dois novos guitarristas. O resultado pode ser ouvido no mais recente “Monument” que é um álbum que recupera as sonoridades mais pesadas desta reconhecida banda. A Versus esteve à conversa com o baterista Markus antes do excelente concerto que deram no Wave-Gotik Treffen. Entrevista: Eduardo Rocha Fotos: Tilly Domian

ACABARAM DE LANÇAR O VOSSO NOVO ÁLBUM “MONUMENT”. COMO TEM SIDO A RECEPÇÃO POR PARTE DO PÚBLICO E DA IMPRENSA? Markus: Tem sido fantástica! Não esperávamos este tipo de recepção desta vez. Vendemos, na primeira semana, 4 vezes mais do que com o álbum anterior “Antiserum”. Recebemos boas reviews de todo o mundo, das entrevistas, da imprensa, no facebook e por parte dos nossos fãs. E estamos muito felizes com isto porque tivemos uma grande mudança dentro da banda e que foi um grande passo em frente para nós. Não sabíamos o que ia acontecer: será que os fãs irão gostar do nosso novo segundo vocalista ou será que vão gostar do novo trabalho das guitarras? O Mathias era um excelente guitarrista e vocalista e não foi fácil encontrar um substituto para ele. Tentámos procurar alguém que o pudesse substituir durante bastante tempo e o resultado foi termos encontrado dois novos guitarristas, sendo que um deles, o Tosse, é também o nosso novo segundo vocalista. A voz dele é um pouco diferente da do Mathias que tinha um estilo um pouco mais

Americano, tipo Metallica e Nickelback. A voz do Tosse é um pouco mais no estilo do Power-Metal e estamos bastante satisfeito com todo o feedback que temos recebido. ESTA MUDANÇA NO LINE-UP DA BANDA AFECTOU DE ALGUM MODO A ESCRITA DO NOVO ÁLBUM? Markus: Não muito porque todos os nossos álbuns são escritos por mim e pelo nosso produtor “Kohle”. Eu e ele escrevemos todos os nossos temas sendo que ele também gravou as lead-guitars, porque ele é um excelente guitarrista. Depois recebemos a mensagem por parte do Mathias de que ele queria sair da banda porque tem uma nova namorada e eles vão ter um filho. Ele queria organizar um pouco a vida dele e um ano depois foi a vez do nosso baixista Harald estar na mesma situação. Ambos reconheceram que tinham atingido tudo aquilo que queriam quando começaram a tocar e ambos achavam que não havia muito mais a atingir com a banda. 127 / VERSUS MAGAZINE


MAS TU ACHAS QUE AINDA HÁ MAIS COISAS A FAZER COM A BANDA CERTO? Markus: Claro! Podes ver isso com o novo álbum. Eu falei com o Felix sobre esta situação: o que haveríamos de fazer agora que perdemos dois membros da banda? Já temos 25 anos de história e estávamos a decidir entre tocar uns últimos concertos e terminar a banda ou continuar com a banda, procurar novos membros e começar do início com os novos membros? E estes novos elementos tornam as coisas mais frescas com novas ideias e novas influências. E enquanto vendermos CDs e as pessoas quiserem ver-nos ao vivo, vamos continuar com a banda! O NOVO ÁLBUM É MAIS PESADO DO QUE O ANTERIOR “ANTISERUM”. FOI UM REGRESSO ÀS ORIGENS? Markus: É normal porque quando tens dois guitarristas, faz sentido fazer um álbum mais pesado. O “Antiserum” foi uma experiência porque o Harald gosta mais do estilo EBM e tentámos fazer algo tipo EBM-Metal, o que até funcionou. Mas agora com os

novos guitarristas é normal criarmos um álbum mais pesado.

sonho para mim tocar nestes palcos enormes como o Wacken Open Air e agora fazemos isso!

COMO FOI A PRODUÇÃO DO NOVO ÁLBUM? Markus: Foi como todos os álbuns anteriores com o “Kohle”. Somos uma excelente equipa e temos mais 2 pessoas que nos ajudam a escrever os temas. Escrevemos a base e depois produzimos os temas em conjunto no estúdio e quando decidimos quem iria tocar guitarra, gravámos as guitarras de novo. Depois, o Tosse gravou as vozes limpas. Funciona muito bem assim connosco.

QUAIS SÃO OS VOSSOS PLANOS AGORA. TÊM O NOVO ÁLBUM E VÃO ENTRAR EM TOUR? Markus: É difícil irmos em tour por causa dos nossos filhos e dos nossos trabalhos. Nós só tocámos aos fins-de-semana com 3 ou 4 concertos. Este ano só vamos dar 20 concertos e já estamos a marcar concertos para o próximo ano. Depois vamos começar a escrever novos temas e lançar um novo álbum.

OS CREMATORY TÊM UMA GRANDE HISTÓRIA NA CENA GOTHIC-METAL COM ÁLBUNS COMO “ILLUSIONS” E “ACT SEVEN”. COMO TE SENTES QUANDO OLHAS PARA TRÁS E PARA A VOSSA CARREIRA DE 25 ANOS? Markus: Estou muito orgulhoso. Eu comecei a tocar bateria aos 10 anos e tive a minha primeira banda aos 15. E depois tivemos o primeiro contrato discográfico com os Crematory aos 20 anos. Era um

A VERSUS É DE PORTUGAL. TENS ALGUMA MENSAGEM PARA OS TEUS FÃS PORTUGUESES? Markus: Sabemos que temos muitos fãs em Portugal mas nunca tocámos aí. Há 2 anos atrás estávamos muito satisfeitos por ir aí tocar porque era a nossa primeira vez em Portugal. Mas foi um “fucking organizer” que roubou todas as bandas e esperámos que possamos tocar em Portugal em breve. Precisamos de um promotor profissional que organize tudo. Talvez no próximo ano porque vamos dar 4 concertos em Espanha e pode ser que dê para tocarmos aí. EU PERGUNTO SEMPRE ISTO A TODAS AS BANDAS. O QUE ACHAS DOS SERVIÇOS DE STREAMING COMO O SPOTIFY? Markus: São uma grande treta. Não encontras o “Monument” no Spotify. Foi um acordo que eu fiz com a editora porque os serviços de streaming matam a música. As pessoas já não compram CDs e bandas como os Crematory precisam de cada álbum vendido para podermos continuar a gravar. Precisámos disto não para nós, porque nós não ganhámos dinheiro com os Crematory. Nós queremos gastar todo o dinheiro que recebemos da editora na produção dos álbuns. Por exemplo, quando ouvi os novos álbuns dos Unleashed e dos Obituary, achei que tinham um som horrível. Isto mostra que estas bandas não recebem nenhum dinheiro da editora e gravam as coisas eles próprios. Quando fizermos algo assim, eu quero deixar de lançar álbuns. Quero dar aos fãs um bom produto e precisas de 20.000 euros para estares 4 semanas em estúdio a gravar tudo e teres uma boa capa e boas fotos. Com menos do que isso não consegues fazer um bom álbum.

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O QUE VÊS NO FUTURO DOS CREMATORY? Markus: Vamos ver! Neste momento, tudo funciona bem. Vamos dar alguns concertos este ano e depois vamos ver o que vai acontecer. VÃO TOCAR ALGO DE ESPECIAL ESTA NOITE, UMA VEZ QUE ESTAMOS NO WAVE-GOTIK TREFFEN? Markus: Vamos tocar 5 músicas novas e os hits dos álbuns anteriores. Acho que temos um bom setlist e acho que todos se vão divertir. COMO VÊS A CENA HOJE EM DIA? Markus: É bastante diferente porque quando nós começamos, havia banda de Gothic-Metal tais como Tiamat, Paradise Lost ou Moonspell, Evereve, Heavenwood, Darkseed e isto é o verdadeiro Gothic-Metal. E agora quando falas em Gothic-Metal, toda a gente pensa em Nightwish, Epica ou Within Temptation ou todas as “female-fronted bands”. Mas isto, para mim, não é Gothic-Metal, é Symphonic-Metal. Os Amorphis lançaram um grande álbum e o novo álbum dos Moonspell é excelente. Para mim seria um sonho ter uma tour com Tiamat, Paradise Lost, Moonspell, Amorphis e Crematory. Seria uma tour que esgotaria em todas as datas. O problema apareceu com as cópias ilegais de CDs e agora com os serviços de streaming. EU CONCORDO. E COMO É QUE ACHAS QUE A INDÚSTRIA MUSICAL VAI CONTINUAR? Markus: (Suspiro) Não sei. Quando tiver uma solução para este problema, vou receber milhões da indústria (risos)! Agora podes compras um LP com 20 ou 30 euros mas também podes ter tudo de graça com downloads ilegais ou streaming. E isso vai ser um grande problema no futuro. ACHAS QUE AS BANDAS VÃO CONSEGUIR SOBREVIVER? Markus: Acho que muitas bandas vão morrer. Por exemplo, com os Crematory às vezes sentimo-nos assim. Quando vendemos menos 4000 ou 5000 CDs, não vamos ter dinheiro suficiente para gravar um novo álbum. E depois eu não vou gravar um álbum com um som horrível. Quando não tens um produto no qual acreditas, não faz sentido continuar. ALGUMA MENSAGEM ESPECIAL PARA FINALIZAR? Markus: Para Portugal, claro! Vamos tentar visitar-vos assim que for possível.

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MY DYING BRIDE A miséria do Doom Os My Dying Bride são das principais referências do doom-metal. Com álbuns como “The Angel and the Dark River” ou “Like Gods of the Sun”, os Britânicos desde cedo se impuseram como uma das principais bandas do género. Passaram por várias mudanças de line-up e adequaram o seu som, sem nunca perderem o traço característico que os definiu como uma bandas das bandas mais importantes do género. O mais recente “Feel the Misery” é um atestado de vitalidade por parte da banda que ganhou novas forças com o regresso do guitarrista Calvin. A aproveitar a visita dos My Dying Bride ao Wave-Gotik Treffen, a Versus esteve à conversa com o Andrew Craighan. Entrevista: Eduardo Rocha Fotos: Tilly Domian

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ANDREW, VÃO TOCAR HOJE NO WAVE-GOTTIK TREFFEN QUE É UM FESTIVAL UM POUCO DIFERENTE DAQUELES EM QUE COSTUMAM TOCAR. COMO ACHAS QUE VAI SER O CONCERTO HOJE? Andrew: Sim, estava a pensar nisso quando estávamos a chegar à sessão de autógrafos. Parece um festival mais gótico do que aquilo que os My Dying Bride são e eu estava a pensar se estaríamos no sítio certo. Mas o resto do pessoal disse que os Enslaved tocaram aqui e eles também não são muito góticos. As pessoas aqui têm uma aparência muito gótica mas os seus gostos musicais são bastante abrangentes. Não estou muito preocupado. Acho que o concerto hoje vai ser bastante bom. ACABARAM DE LANÇAR “FEEL THE MISERY”. COMO TEM SIDO A RECÇÃO POR PARTE DOS FÃS E DA IMPRENSA? O CALVIN REGRESSOU À BANDA... Andrew: Tem sido um álbum marcante porque trouxe o nosso perfil de volta ao de cima. Todos têm adorado o álbum e ainda não li uma má review, o que é sempre bom. Nós fizemos uma pequena tour europeia e as reacções por parte das pessoas foram bastante interessantes. Dava para ver que ainda não conheciam os temas do novo álbum, mas o feedback que recebemos no fim de cada tema foi impressionante. Deu para ver que todos gostaram do novo material e por isso acho que este álbum trouxe um pouco de vida de volta aos My Dying Bride. Foi trabalho árduo mas acho temos sido recompensados. E nós gostámos de tocar os novos temas: são dinâmicos e poderosos... SÃO PODEROSOS E ACHAS QUE O REGRESSO DO CALVIN MUDOU... Andrew: Sim...certamente! O Calvin conhece muito bem a banda. Ele gravou todos os nossos álbuns clássicos e temos que respeitar esse historial. E é muito fácil trabalhar com o Calvin. A música será sempre a música...quem a toca não interessa...há sempre boas e más músicas. Mas ajuda ter o Calvin de volta porque o pessoal gosta sempre do material mais antigo e ainda não têm a certeza acerca do material mais recente. Com o Calvin de volta, acho que os fãs voltam a acreditar que vão ter mais material desse género mais antigo de volta. Ainda estamos a compor novas músicas e ainda não sabemos como é que as coisas vão soar. O “Feel the Misery” estava practicamente terminado quando ele regressou. Por isso, o próximo álbum é que será o teste a sério de como vamos soar. 1 3 2 / VERSUS MAGAZINE

E QUAIS SÃO OS VOSSOS PLANOS FUTUROS PARA ESTE ÁLBUM? Andrew: Temos este festival e depois temos mais três concertos. Neste momento estamos também em conversações com várias editoras porque o nosso contracto com a Peaceville terminou. Mas temos ofertas muito boas de todas as editoras principais, como podes imaginar. Estamos numa posição muito boa neste momento com um álbum que tem sido um sucesso e estamos a negociar com estes editoras para ficarem com os My Dying Bride nos próximos 25 anos (risos). Não estamos com pressa. VOCÊS SÃO UMA DAS PRINCIPAIS REFERÊNCIAS DO DOOM E FIZERAM DE TUDO DURANTE A VOSSA CARREIRA. QUANDO OLHAS PARA TRÁS, QUANDO O MARTIN (N.R. – EX-VIOLINISTA) SAIU, FOI-VOS DIFÍCIL SEGUIR EM FRENTE NESSA ALTURA? Andrew: Eu sei do que estás a falar. O que fizemos quando o Martin saiu foi tentarmos mostrar que o violino não era a única coisa no som da banda. E por isso, decidimos não o substituir intencionalmente. E foi uma afirmação de que os My Dying Bride podem existir sem o violino. Não é algo que define os My Dying Bride, mas sim algo que faz parte do nosso som. E acho que conseguimos isso, mas depois tivemos a oportunidade de trazer o violino de volta à banda. E isto foi uma grande decisão para nós porque lembro-me de dizer ao resto da banda que se trouxéssemos o violino de volta, nunca mais o poderíamos voltar a tirar. Portanto, pensámos durante bastante tempo e a resposta foi claramente que sim! E acho que foi a decisão correcta até porque, por mais que o violino não seja tudo no nosso som, certamente ajuda-nos a definir-nos como banda. ATÉ PELA MANEIRA COMO USAM O VIOLINO QUE AGORA É DIFERENTE DE COMO O USAVAM EM ÁLBUNS COMO “LIKE GODS OF THE SUN”. AGORA EXPLORAM MAIS OS TECLADOS SENDO QUE O VIOLINO JÁ NÃO TEM AQUELE PAPEL DE DESTAQUE... Andrew: Não neste momento, mas pode vir a ter outra vez esse papel de destaque. Podemos escrever material bastante negro com duas guitarras, somos muito bons nisso, mas adicionar o violino sempre em cima pode ser um pouco demais. Portanto, tentámos decidir aonde colocar o violino e os teclados. Mas quando o usámos, tentamos faze-lo de forma brilhante. Mas no próximo álbum, talvez deixemos o Shaun (N.R. - violinista) explorar um pouco mais. Não sabemos e é essa a beleza da coisa porque


não sabemos como vamos soar. E quando algo brilhante aparece é muito bom. ESTÃO NA CENA HÁ TANTO TEMPO E APARECERAM COM BANDAS COMO OS ANATHEMA, ENTRE OUTROS. ENQUANTO QUE OS ANATHEMA SEGUIRAM UMA DIRECÇÃO COMPLETAMENTE DIFERENTE, OS MY DYING BRIDE MANTIVERAM-SE FIEIS ÀS SUAS RAÍZES. EXPERIMENTARAM UM POUCO MAS MANTIVERAM-SE FIEIS A VOCÊS PRÓPRIOS. COMO VÊS A CENA NOS DIAS DE HOJE? Andrew: Não sei. Acho que cheguei à idade em que já não a entendo. Mudou tanto, e ainda bem! Mas acho que já não a percebo o que é normal porque a minha música vem dos anos 90. Não percebo a cena actual e não a sigo. Na verdade, eu sou mais fã de black-metal e por mais estranho que possa parecer, acho que o black-metal é uma grande influência no som dos My Dying Bride. SIM, HÁ PARTES MAIS BRUTAIS NA VOSSA MÚSICA QUE NÃO SÃO APENAS DOOM... Andrew: Claro, se fores ao início da nossa carreira, nós éramos um banda de death-metal. Só que tocávamos muito devagar. Só que ao longo dos anos, fomos desenvolvendo o nosso som, sem pensar muito nisso. O que é bom porque não te podes concentrar demasiado a compor. Os AC/DC soam como os AC/DC e nós fazemos o que nós fazemos. Se nós ainda somos relevantes...eu acho que sim. As pessoas ainda vêm aos nossos concertos. Ainda há vida nos My Dying Bride e nós vamos continuar! E O QUE ACHAS DO SPOTIFY? Andrew: Não ajuda as bandas porque torna muito difícil para os músicos se conseguirem sequer tornar semi-profissionais. No passado dizia-se que deves fazer música por amor, o que não discordo mas o estúdio e tudo o resto tem que ser pago. E a editora é basicamente um banco que te empresta o dinheiro e depois o quer de volta. Os downloads ilegais podem parecer um crime sem vítima, mas as bandas sofrem e nós notamos isso. Acho que a diferença é que agora, eu não quereria começar uma banda nesta altura. Nós aparecemos na altura em que os álbuns ainda vendiam e as pessoas que os compravam tinham uma ligação sentimental à banda. Nos dias de hoje, podes fazer o download de um álbum dos My Dying Bride, não ter a certeza se gostas ou não e não perdes nada. Enquanto que se o comprasses, tentarias uma segunda vez e pode ser que acabes 1 34 / VERSUS MAGAZINE

por gostar do álbum. Dás um segunda hipótese ao álbum porque gastaste dinheiro nele. E agora deitas o álbum fora porque não há nenhuma ligação à banda... O QUE TORNA AS COISAS MAIS DIFÍCEIS... Andrew: Sim, definitivamente. Como não vendemos muito...Nós todos trabalhamos, não há estrelas de rock nesta banda. Temos que fazer isto assim até porque eu não quero estar sempre na estrada. Nós bebemos demasiado (risos). Nós fazemos alguns concertos, bebemos demasiado e depois voltamos para casa. Se estivéssemos sempre na estrada, acho que estaríamos completamente destruídos. Ainda somos como crianças. Fizemos uma decisão, há muitos anos atrás, de não nos tornamos escravos da banda. A banda é o nosso brinquedo e tem que ser divertido. Se se torna demasiado sério ao ponto de dependeres disso para pagares as tuas contas...isso é demasiado sério para nós. E assim podemos ter a liberdade para fazermos o que quisermos porque os nossos álbuns não são feitos para vender. Podemos continuar miseráveis e escrever tudo do coração. ESTE FACTO DE QUE NÃO TOCAM MUITO AO VIVO ACABA POR VOS TORNAR NUMA ESPÉCIE DE BANDA DE CULTO PORQUE NÃO É FÁCIL VER-VOS AO VIVO. TORNA OS VOSSOS CONCERTOS UM POUCO ESPECIAIS, NÃO CONCORDAS? Andrew: Sim, ajuda um pouco porque se uma banda tocar sempre, acabas por deixar de a ir ver. Dá-nos um elemento de exclusividade porque há uma probabilidade de não voltarmos a algum sítio durante bastantes anos... Muita gente queixa-se de não tocarmos muito e há pessoas que fazem viagens enormes para nós, o que nós agradecemos humildemente. QUERES FALAR UM POUCO ACERCA DA VOSSA SEPARAÇÃO COM A PEACEVILLE? Andrew: Nós não nos separámos. O que está a acontecer é que o “Feel the Misery” é o último álbum desse contracto. Estamos a falar com a Peaceville e com outras editoras porque todas as editoras têm a oportunidade de nos apresentar uma oferta e nós vamos escolher a melhor. No passado, sempre estivemos na Peaceville e podemos ir para uma nova editora o que é algo de novo para nós. O que é bom porque a banda está bastante bem e a nossa música está muito forte.

QUANDO OUVI O NOVO ÁLBUM ACHEI QUE A BANDA REENCONTROU ALGUMA ENERGIA. QUANDO OLHAS PARA TRÁS PARA OS CLÁSSICOS, COMO TE SENTES EM RELAÇÃO A ESSES ÁLBUNS? Andrew: Para mim...eu adoro esses álbuns mas às vezes são como uma pedra com a qual te batem constantemente. Porque os fãs podem dizer em relação a álbuns como “The Dreadful Hours” ou “A Line of Deathless Kings” que não são tão bons como o “The Angel and the Dark River”. Bem, não me fodam... Não podemos acertar sempre mas também acho que esses álbuns mais clássicos não são musicalmente melhores do que os outros. O que acho que é diferente é que quando os nossos clássicos saíram, a cena musical era melhor. A mentalidade das pessoas estava a começar a entrar neste estilo na altura e agora é difícil de reproduzir esse sentimento de fascinação dessa altura. Porque nós existimos agora e fizemos esses álbuns. Por isso, não é necessariamente o elemento musical de que as pessoas sentem falta. As pessoas sentem falta da altura em que ouviram isto pela primeira vez e de toda a cena musical à volta dos nossos álbuns. É difícil para nós porque existimos há 26 anos e nunca iremos escrever um outro “Turn Loose the Swans”. Não iremos sequer tentar mas as pessoas ainda nos batem com esse álbum (risos). Parem de fazer isso (risos). A essência da altura em que os álbuns saíram não pode ser replicada. As pessoas sentem a falta de quando eram miúdos e estavam a descobrir coisas novas. Nós podemos tentar imitar isso, talvez com o “Feel the Misery” algumas pessoas digam que os faz lembrar disto e daquilo mas nunca será como quando as pessoas ouviram as coisas pela primeira vez. Eu também sou culpado disto porque eu não sou diferente. Os álbuns antigos do Dio não são como os álbuns mais recentes dele mas é porque eu sinto a falta daquela altura em que esses álbuns saíram. Eu percebo o que as pessoas querem e para nós é difícil levarmos porrada dos nossos álbuns antigos (risos). Mas é um problema bom de se ter.

QUERES FALAR UM POUCO ACERCA DO VOSSO PROCESSO DE COMPOSIÇÃO? PASSARAM POR MUITAS MUDANÇAS DE LINEUP E COMO É QUE AS COISAS FUNCIONAM ACTUALMENTE? Andrew: Mudou, na verdade. No início, recebíamos as letras do Aron e tentávamos imaginar como é que as músicas deveriam soar. Com o “Symphonaire Infernus...”, escrevemos a música em função das letras e dissemos que tinha que ser algo de grandioso. E nós fazíamos o melhor que podíamos na altura mas agora eu já sei como é que a banda deve soar e já não preciso das letras, mas ajudam sempre e eu consigo adivinhar aquilo com o Aron vai aparecer. Mas agora, se tens uma boa ideia, gravas isso em qualquer sítio. É tão fácil escrever música hoje em dia e mandar o material para o Calvin e perguntar-lhe “O que achas disto?” e de seguida mandar ao Aron. Depois vamos para a sala de ensaios e vemos como é que o material soa, porque é diferente quando estás sozinho a escrever do que quando estás numa sala com os outros elementos da banda. E tudo tem que ser tocado na sala de ensaios porque ouves coisas que não consegues ouvir em casa. Mas é tudo muito relaxado e para mim, em particular, quando estou sozinho consigo imaginar como é que tudo vai soar. Alguns temas do novo álbum não foram assim tão fáceis de compor, tivemos que guiar as músicas. A VERSUS É DE PORTUGAL. ALGUMA MENSAGEM EM ESPECIAL PARA OS VOSSOS FÃS PORTUGUESES? Andrew: Nós gostamos de Portugal e já estivemos aí algumas vezes. Eu gosto de beber vinho do Porto. Tentámos ir aí algumas vezes mas as condições têm que ser as correctas. Mas eu queria pedir desculpa por não termos regressado. Mas esperem porque vamos regressar e está na altura de o fazer. Os concertos que demos em Portugal foram excelentes e fomos bem recebidos e gostámos sempre de ir aí.

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LEAVES’ EYES Uma sinfonia Viking

Os Leaves’ Eyes são uma das mais reconhecidas bandas de Symphonic Metal. Fundados por Liv Kristine e por Alexander Krull, a ascensão desta banda foi meteórica. Com uma temática fortemente centrada nas lendas Nórdicas e Vikings, os Leaves’ Eyes lançaram diversos álbuns até chegarem ao ambicioso “King of Kings”. Com uma produção megalómana e com convidados de luxo, “King of Kings” foi prontamente aclamado com um dos melhores álbuns do género. Porém a recente, e polémica, saída de Liv Kristine envolveu a banda numa enorme polémica. Elina Siirala foi a escolhida para substituir Liv e a Versus aproveitou a presença da banda no festival Wave-Gotik Treffen, para uma conversa com Alex (vocalista) e Tosso (guitarrista) sobre este tema, bem como sobre o passado e o futuro da banda. Entrevista: Eduardo Rocha


OLÁ A AMBOS. MUITO OBRIGADO PELA ENTREVISTA E QUE GRANDE CONCERTO DERAM HOJE NO WGT. COMO SE SENTEM AO REGRESSAREM A ESTE FESTIVAL MAIS ORIENTADO PARA O GÓTICO E EM TRAZEREM O VOSSO VIKING SHOW? E COMO FOI A RECEPÇÃO POR PARTE DO PÚBLICO, NA VOSSA OPINIÃO? Alex: O concerto no Wave-Gottik Traffen foi realmente muito bom! Divertimo-nos bastante em conjunto com a banda, o público e os Vikings em cima do palco! O “Heidnische Dorf” (N.R. – local onde decorreu o concerto) Open Air estava completamente cheio e os promotores disseram-nos que foi um dos melhores concertos desde que começaram a realizar o festival aqui nesta localização. Os nossos concertos em clubes e noutros festivais, tais como o Masters of Symphonic Metal, na Suiça, ou o Rockfels Open Air, em Loreley na Alemanha, também foram muito bons.

COMO ACHAM QUE A ELINA VAI CONTRIBUIR PARA O VOSSO PROCESSO DE COMPOSIÇÃO? Alex: Nós já gravamos o nosso novo vídeo “Edge of Steel” (2016 version) com a Elina. Esta nova versão vai ser lançada com a nossa tour book edition do “King of Kings” e também saiu como um single online. Esta música vai sair também na edição especial nos Estados Unidos como uma faixa bónus, no dia 14 de Outubro. Uma semana antes, no dia 7 de Outubro, vamos lançar o nosso novo single com a Elina! E também já preparamos algumas ideias para novos temas com a Elina! Em breve, ela vai-se juntar a nós para começarmos a trabalhar em novo material. Estamos muito excitados com a produção do novo álbum, o ambiente na banda é muito bom e estamos todos muito motivados para gravas novas músicas com os Leaves’ Eyes!

Tosso: Não vai haver uma grande mudança no som da banda. O Alex e eu somos os principais FOI UM DOS PRIMEIROS CONCERTOS COM compositores. Portanto, todos os novos temas vão A ELINA E ELA TEVE UMA EXCELENTE PERFORter as mesmas pessoas a escreve-los, tal como foi MACE. COMO TEM SIDO A RECEPÇÃO NOS no passado dos Leaves’ Eyes. Eu escrevo as partes VOSSOS CONCERTOS MAIS RECENTES? melódicas. O Alex é fantástico a escrever as linhas Alex: Nós já tocamos com a Elina em festivais na de bateria, de vozes e os arranjos e também com Indonésia, Alemanha, Holanda, Bélgica, Dinamarca todos os aspectos do processo de gravação. O Alex e Suíça. O primeiro concerto dela foi na Indonésia também criou a maior parte das linhas melódicas de em frente a mais de 20,000 pessoas! Temos recebivoz no “King of Kings”. Sim, vamos continuar a usar do excelentes críticas por parte dos fãs e a Elina tem conceitos relacionados com os Vikings nos nossos sido sempre bem-vinda com imensos aplausos por álbuns. Algumas pessoas escreveram na Internet parte da audiência. que “sem a Liv a banda não devia utilizar conceitos vikings”. Isso não faz sentido nenhum. Nós nunca COMO SE ESTÃO A ADAPTAR A ESTA MUfizemos um grande alarido acerca disto, mas o pai DANÇA E COMO ACHAM QUE A ELINA SE do Alex e a família dele são da zona dos "JomsviESTÁ A ADAPTAR À BANDA? kings" e a minha mãe e a família dela são da área Tosso: A Elina tem ambas as coisas: uma excelente de "Haithabu (Heiðabýr)", a velha capital do comérpresença em cima do palco e uma voz poderosa que cio. Portanto, não irão haver muitas mudanças na se adequa muito bem à música sinfónica dos Leaves’ banda. Eyes. Ela tem uma licenciatura em canto clássico, na Finlândia, e tem também um “trinity diploma” (guird- TÊM ALGUMA MENSAGEM ESPECIAL PARA OS hall) em estilos contemporâneos, tirado em Londres. VOSSOS FÃS ACERCA DESTA MUDANÇA? Portanto, ela é uma vocalista clássica com bastante Tosso: Como houve um grande drama na Internet, formação. Ela tem também a música no seu sangue. talvez seja bom partilhar alguns detalhes acerca O Pai dela tocava piano em concertos, a Mãe dela desta situação. Quando a Liv e o Alex se separaram era violinista e o irmão, que vive em Munique, toca a nível pessoal em Janeiro, a Liv queria sair da também piano em concertos. Para além disso, ela banda imediatamente. O Alex convenceu-a a ficar tem também um primo bastante conhecido, o Tuoe ambos fizeram um excelente acordo para a sua mas Holopainen dos Nightwish. Hail Suomi! vida privada e para a banda. Portanto, a situação da banda pareceu estar resolvida naquela altura. MUSICALMENTE FALANDO, O QUE SE PODE Mas desde Fevereiro, o noivo/terapista dela tentou ESPERAR DOS LEAVES’ EYES NO FUTURO? interferir em muito dos assuntos da banda. Ele falou Foto: Eduardo Rocha 1 3 8 / VERSUS MAGAZINE

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muito mal acerca dos Leaves’ Eyes e disse que os concertos que demos a seguir, as tours e as entrevistas não deveriam acontecer sem a presença dele. O noivo/terapista até disse à Liv que ela devia sair da banda. Em Março, as coisas complicaram-se quando a Liv se mudou para a casa do noivo dela e tornou-se bastante claro, para todos nós na banda, que iríamos seguir caminhos diferentes. A Liv também quis estar envolvida na escolha da nova vocalista para os Leaves’ Eyes. Nós dissemos-lhe que nós queríamos decidir sozinhos quem seria a nova vocalista da banda. Tivemos todos um encontro, no início de Abril, para conversarmos sobre como as coisas iriam ser no futuro. E decidimos em conjunto que queríamos seguir caminhos diferentes imediatamente. A Liv disse-nos que ela não poderia cumprir os seus compromissos com a banda por razões pessoais. O acordo a que chegamos através de um mediador era bom na minha opinião. Depois deste encontro, abraçamo-nos! O advogado da Liv depois escreveu uma carta ao Alex a dizer que uma cooperação, incluindo os concertos, não seriam possíveis com a Liv. Como resultado desse encontro, escrevemos um comunicado em conjunto com a Liv a informar os fãs e a imprensa. Para grande surpresa de todos, este comunicado que escrevemos em conjunto foi atacado através de posts e declarações da Liv. Subitamente, outras pessoas começaram a espalhar rumores e mentiras na Internet. Estas pessoas não estavam envolvidas no assunto e nem sequer eram conhecidos nossos ou da Liv. Isto é algo que não consigo compreender. Estes posts causaram uma enorme confusão e raiva que todos viram na Internet nas semanas seguintes. Eu digo claramente que se alguém na banda tivesse tratado a Liv da maneira que muitos disseram que ela foi tratada, eu não estaria na banda neste momento. Também posso dizer que o Alex é um pai divorciado e que, desde que a Liv e o Alex se separaram, que o filho deles vive com ele. Houve muitas surpresas e tristeza no início, o que é compreensível. Mas raiva e rumores falsos apareceram rapidamente. Eu aprendi que há pessoas que se organizam em “hate groups” e isto é algo que começou depois das separações dos Nightwish e dos Arch Enemy. Para mim, como um fã, isto era completamente desconhecido! Mas também recebemos palavras bonitas e motivadoras por parte dos fãs e de outros músicos que sabem que a banda não é uma cambada de idiotas. Obviamente, os Leaves’ Eyes não são a primeira banda a separar-se de um membro e muitas outras bandas com que tocamos e que são nossos amigos, contaram-nos as 1 40 / VERSUS MAGAZINE

suas experiências. EM 2015 LANÇARAM “KING OF KINGS”. QUAL É CONCEITO POR DETRÁS DA MÚSICA? COMO COMPARARIAS O ÁLBUM COM OS ANTERIORES? Alex: Nós trouxemos as sagas do lendário rei Viking Harald, que é conhecido como o primeiro Rei da Noruega, para a nossa música. O conceito adequa-se muito bem aos Leaves’ Eyes: o Rei Harald fez um voto sagrado, testemunhado pelos Deuses, de que ele não iria pentear ou cortar o seu cabelo até que ele tivesse conquistado toda a Noruega. Cumprindo a sua promessa, ele conquistou todos os mais de 30 reinos da Noruega depois de ter vencido um grande batalha no mar durante o ano 872 – a grande batalha de Hafrsfjord, que é descrita no Snorri's Heimskringla. O nosso objectivo era fazer uma banda sonora épica para esta saga. E foi a nossa maior produção até hoje! Colaborámos com a London Voices choir (Lord of the Rings, Star Wars, The Hobbit, Harry Potter) que nunca tinha trabalhado com uma banda de metal antes. As gravações decorreram nos Angel Studios em Londres. O “King of Kings” tem elementos de folk e instrumentos nórdicos tais como a Nyckelharpa, a gaita de Ulilean e grandes percussões para criar esta atmosfera em conjunto com os instrumentos de heavy metal. Mais uma vez, trabalhamos com o Victor Smolksi, com a White Russian Symphony orchestra e tivemos, como artistas convidados, a Simone Simons (Epica), o Lindy-Fay Hella (Wardruna) ou o Oliver Palotai (Kamelot). O “King of Kings” é uma grande produção internacional e foi gravada na Alemanaha, Inglaterra, Noruega, Holanda e Suiça. Juntar estas peças todas no fim da produção e ouvir, por fim, o resultado foi mais do que um excelente sentimento. A BANDA VAI COMEÇAR AGORA UMA TOUR INTENSIVA. PODES-NOS CONTAR UM POUCO ACERCA DAQUILO QUE ESTÃO A PLANEAR PARA ESTES CONCERTOS? VÃO TAMBÉM LEVAR O VOSSO “VIKING SHOW” CONVOSCO? Tosso: Sim, a segunda parte da tour mundial do “King of Kings” começou em Israel este ano, exactamente quando foi o último concerto da Liv. Nós vamos tocar na Bielorrússia, pela primeira vez, em Agosto. Em Setembro vamos tocar no Full Metal Cruise. Em Outubro, vamos regressar ao Metal Female Voices Festival, na Bélgica, com uma grande produção de headliner, incluindo o nosso barco Viking. Em Novembro e Dezembro, vamos fazer uma

tour nos Estados Unidos durante 7 semanas com os Sonata Artica. Sempre que for possível, iremos trazer Vikings connosco para cima do palco. VOCÊS TÊM ALGUMAS LIGAÇÕES A PORTUGAL, ATRAVÉS DOS HEAVENWOOD E DE OUTRAS BANDAS. TÊM ALGUMA MENSAGEM ESPECIAL PARA OS FÃS PORTUGUESES? Alex: Sim, é verdade que estivemos em tour em 1996, com a nossa outra banda Atrocity, e as nossas bandas de suporte eram os In Flames, Totenmoond e os Heavenwood – que grande tour! Na nossa última tour Americana, tocamos com os Moonspell, Leaves’ Eyes e Atrocity! Conversámos muito acerca de futebol com os nossos amigos Portugueses (risos)! Até pode ser que nos encontremos durante o campeonato Europeu. Espero que regressemos em breve a Portugal para tocar para os nossos fãs!!! Muitos obrigado pelo vosso apoio! EU PERGUNTO SEMPRE ISTO ÀS BANDAS QUE ENTREVISTO. O QUE ACHAM DO SPOTIFY (E OUTRAS PLATAFORMAS DE STREAMING) E COMO ACHAM QUE ESTAS IMPACTAM AS BANDAS COMO OS LEAVES’ EYES? Alex: O Spotify e todas as plataformas de streaming têm dois lados da mesma moeda: consegues chegar a bastantes pessoas através destas plataformas e claro, através do Facebook. Milhões de fãs viram os nossos vídeos no YouTube. Bem, o outro lado é que

estes artistas e as suas editoras vão enfrentar mais dificuldades para financiarem as suas produções e vídeos devido às perdas relativas às vendas de CDs. É bom que os fãs apoiem as suas bandas preferidas para poderem continuar a receber produções de qualidade. Nós estamos muito felizes em termos muitos fãs leais por todo o mundo. TU TENS OS MASTERSOUND STUDIOS E PRODUZES ÁLBUNS BASTANTE REGULARMENTE. QUAIS FORAM AS TUAS PRODUÇÕES MAIS RECENTES E QUAIS FORAM AS MAIS COMPLEXAS? O QUE DIRIAS DARIAS A NOVOS MÚSICOS QUE ESTÃO A COMEÇAR AS SUAS BANDAS? Alex: A última produção que fiz foi um banda Alemã de culto chamada Totenmond. Eles gravaram o seu primeiro álbum em 8 anos. Estou bastante orgulhoso deste lançamento. Também fiz algumas gravações de piano para o novo álbum da Tarja e foi um prazer gravar para ela. Acho que o “King of Kings” foi a produção mais desafiante pois foi um trabalho enorme com todos os músicos convidados, com a orquestra e com a London Voices choir. O tema “Blazing Waters” tem mais de 350 faixas de gravação! Neste momento, estamos a terminar o novo álbum dos Atrocity, o “Okkult II” e vai ser um excelente álbum! Para as novas bandas e novos músicos, eu apenas posso dizer que acreditem na vossa arte e na vossa música.

Foto: Eduardo Rocha 14 1 / VERSUS MAGAZINE


SELVAGENS


Hard Club - Vila Nova de Gaia 07/07/2016 A noite antevia-se épica para a recepção aos Franceses Gojira e a prova disso mesmo é que os bilhetes esgotaram. Lá fora a noite estava amena mas à entrada para a sala principal antevia-se o “aquecimento global”. A primeira parte do concerto esteva a cargo dos portuenses Equaleft que, obviamente, jogavam em casa. A banda apresentou-se com seis elementos em palco – Nuno Cramês foi o convidado espece o som estava deveras potente, não deixando muito espaço para podermos discernir as guitarras. De qualquer das formas, a interacção com o público foi excelente com muito mosh e crowdsurfing à mistura, ao som de temas como “We are ...”, “... The Chameleons”, "Invigorate", "Tremble" ou "Uncover the Masks". No final ainda houve um docinho para os mais afortunados. Se o ambiente à entrada já estava quente, no final da actuação dos Equaleft o caldeirão do Hard Club estava em ebulição. Feito o aquecimento a banda da noite fez a sua aparição ao som de “Toxic Garbage Island” descarregando logo de seguida a fúria de “L'Enfant Sauvage”. O público já fervilhava, deixando a nu as más condições da sala no que diz respeito à climatização. Sem parar embarcaram no “The Heaviest Matter of The Universe” seguindo-se duas novidades do mais recente trabalho «Magma» - “Silvera” e “Stranded” deixando o público em delírio e elevando ainda mais a temperatura da sala. Nesta altura já a porta lateral estava aberta pois o calor já era insuportável. Pelo mar de suor chegaram as “Flying Whales” embaladas, também, pelo Mosh e o “Wall of Death”. O vulcão estava neste momento em erupção! E como estávamos em tempo de Campeonato Europeu houve ainda tempo para uma “discussão” sobre futebol e um solo a roçar o tribal de Mario Duplantier. No intermédio passaram temas como “Terra Inc.”, “Only Pain” ou “Oroborus”. O concerto acabou com “The Shooting Star” havendo tempo, ainda, para o mano Duplantier mais novo “surfar” nos braços do público português. Em vários textos lidos por essa internet fora é referido que o público saiu da sala como se estivesse saído de uma piscina. Isto não pode acontecer – A segurança deve estar primeiro, pois o calor era insuportável; pingava água do tecto e os Gojira não fecharam o concerto com “Explosia”, tal como estava previsto. (Já com os Ghost a situação foi idêntica.) Para o bem de todos devem ser tomadas medidas de forma a climatizar a sala e a proporcionar um bom ambiente para os músicos e o público. Reportagem: Eduardo Ramalhadeiro & Victor Alves Fotos: Eduardo Ramalhadeiro

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Set-list

Toxic Garbage Island L'Enfant Sauvage The Heaviest Matter of the Universe Silvera Stranded Flying Whales Wisdom Comes Backbone (w/ Remembrance outro) Terra Inc. Only Pain Oroborus Vacuity The Shooting Star

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“A CAPELLA” ... COM ALMA


OS VAN CANTO SÃO UMA SENSAÇÃO NA CENA ALEMÃ E INTERNACIONAL. COM UM CONCEITO INOVADOR QUE COMBINA MÚSICA A-CAPELLA COM METAL, ESTES ALEMÃES TÊM-SE BASTANTE RECONHECIDOS PELA SUA MÚSICA INOVADOR E PELOS CONCERTOS FANTÁSTICOS QUE TÊM NOS MAIORES FESTIVAIS EUROPEUS E NAS DIVERSAS DIGRESSÃO QUE TÊM FEITO. E RECENTEMENTE LANÇARAM UM ÁLBUM CONCEPTUAL, LANÇADO EM CONJUNTO COM UM LIVRO, EM QUE NOS CONTAM UMA HISTÓRIA DE BARDOS CUJOS PODERES VÊM DAS SUAS VOZES. PARA ALÉM DISSO, O ÁLBUM, O PRIMEIRO SEM COVERS, TEM TIDO UMA RECEPÇÃO FANTÁSTICA POR PARTE DA IMPRENSA E DOS SEUS FÃS. A VERSUS APROVEITOU O CONCERTO DOS VAN CANTO EM LEIPZIG, NA ALEMANHA, PARA UMA CONVERSA BASTANTE ANIMADA ANTES DO CONCERTO.

“VAI SER UM CONCEITO COMPLETAMENTE DIFERENTE DAQUILO QUE TEMOS FEITO ATÉ AGORA”

Entrevista: Eduardo Rocha / Fotos: Tilly Domian ESTÃO A INICIAR A TOUR DE PROMOÇÃO AO VOSSO NOVO ÁLBUM “VOICES OF FIRE”. O QUE NOS VÃO MOSTRAR AO LONGO DESTA TOUR? Ross: Vai ser um conceito completamente diferente daquilo que temos feito até agora. O Sly escreveu a história do álbum em conjunto com o autor do livro (N.R. – Christoph Hardebusch, autor do livro que foi apresentado no mesmo dia na feira do livro de Leipzig com a presença da banda e do autor) e a música foi feita para acompanhar o livro enquanto que o livro foi feito também para acompanhar a música. O que vamos fazer na tour é apresentar a parte da música e também um pouco da história do livro. Sly: Vamos misturar algumas das músicas novas com algumas mais antigas. Por exemplo, algumas músicas que já não tocamos há já algum tempo. COMO TEM SIDO A RECEPÇÃO AO ÁLBUM DA PARTE DA IMPRENSA E DOS FÃS? Ross: Até agora, a recepção por parte da imprensa tem sido boa. Tem sido bastante bom. Tens sempre um ou dois que te vão odiar, 1 48 / VERSUS MAGAZINE

isso é de se esperar, mas tem sido aceite como um capítulo inovador na história dos Van Canto e como sendo um álbum conceptual ligado a um livro. E também é um álbum sem nenhuma cover sendo que é a primeira vez que o fazemos. TALVEZ PUDÉSSEMOS DISCUTIR QUAIS SÃO AS DIFERENÇAS A NÍVEL MUSICAL. PODEM ELABORAR UM POUCO ACERCA DESTE TEMA? O QUE DESTACARIAM NESTE NOVO ÁLBUM? Ross: Este álbum é uma história. Sly: É uma história e temos o John Rhys-Davies como narrador que conta algumas partes da história no início das canções e também temos a London Metro Voices. Ross: Que cantaram na banda sonora do Senhor dos Anéis. Tudo que tenha um grande coro, eles estão lá. Mas toda a ideia do álbum é a de apresentar uma história que tu consegues seguir. Em vez de ser um álbum com temas diferentes dentro do mesmo estilo, este álbum é mais como um tema em contínuo. PORTANTO, É UM ÁLBUM CONCEPTUAL. QUEREM

CONTAR-NOS UM POUCO DA HISTÓRIA? Ross: Sim, Sly! Conta por favor (risos)! Sly: A história é baseada em Bardos, claro, e é sobre um Bardo que teve uma vida difícil. Há magia e dragões com muita coisa a acontecer. Ross: É como um mal que estava adormecido e que quer completar o que não tinha conseguido há centenas de anos atrás. A magia da história, sem contar demasiado, tem a ver com a voz e com cantar porque é daí que vem o poder dos Bardos. É assim que conseguiram derrotar esse mal da primeira vez, mas agora este mal regressa mais forte. Sly: Desta vez, os Bardos têm que descobrir uma nova maneira de o derrotar com as suas vozes. No passado, quando esse dragão foi banido para o mar, houve um cometa que se destruiu em 8 peças que estiveram à deriva e foram parar a diferentes ilhas. Nessas ilhas, caos emergiu quando o dragão regressa. Dessa maneira, os protagonistas da história encontram-se e começam a lutar pela Humanidade. INTERESSANTE! COMO É QUE

ESTA IDEIA SURGIU? Ross: O Sly já tinha a ideia de um livro há bastantes anos. Sly: A primeira ideia surgiu a partir da música. Começamos a compor primeiro e a música era bastante negra e achamos que seria difícil para bastantes pessoas. Depois pensamos mais no assunto e o Steff pensou em pedir a um escritor para escrever a história para um álbum conceptual. Depois eu comecei a criar este mundo e alguns dos seus protagonistas. Escrevi durante meio ano a base da história e depois pedimos ao Christoph Hardebusch se ele estaria interessado em expandir a história. Ross: A conceito e a parte principal da história já estavam criados. A ideia de criar magia com a voz e de conseguir assim derrotar o mal bem como os protagonistas já estavam criados. Depois o Sly disse ao Kristoff expande isto, transforma isto em 500 páginas

(risos). Eles trabalharam juntos durante um ano. P: Depois decidimos como partir a história em diferentes partes e começamos a criar música para cada uma dessas partes. E ESTIVERAM HOJE NA FEIRA DO LIVRO DE LEIPZIG A APRESENTAR O LIVRO. O QUE FIZERAM? Ross: Sim, o Christoph leu passagens do livro e no audio-book há 18 temas extra que gravámos. São em Alemão e são temas em formato puro a-Capella. Portanto, são as verdadeiras canções dos Bardos. Estivemos a cantar algumas dessas canções. PORTANTO ESCOLHERAM ESTA DATA PARA O INÍCIO DA TOUR PARA QUE COINCIDISSE COM A APRESENTAÇÃO DO LIVRO? Ross: Sim, era suposto sair tudo em conjunto. Quer dizer, a única

razão para estarmos aqui hoje é o meu aniversário (risos). A tour é só sobre o meu aniversário (risos)! Esqueçam tudo o resto! Agora a sério, com a tour e com o lançamento do livro e do álbum temos a plataforma perfeita para apresentar o que fizemos. MUDANDO UM POUCO DE ASSUNTO, ESTOU UM POUCO CURIOSO. VOCÊS SÃO CINCO VOCALISTAS. COMO É QUE COMPÕEM? Ross: Este álbum foi diferente mas normalmente gravámos primeiro as partes da guitarra e da bateria como uma banda normal e depois substituímos estas partes com as nossas vozes. Desta vez, fizemos tudo directamente com as vozes. O Bastian e o Stef gravaram primeiro as suas partes e depois os restantes membros deram os seus retoques.

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ESTOU TAMBÉM CURIOSO PORQUE OS VAN CANTO SÃO DIFERENTES. COMO É QUE SURGIU ESTE CONCEITO DE METAL A-CAPELLA? Sly: Álcool (risos)! Ross: Drogas e álcool (risos)! Isto não é verdade (risos)! O Stef e eu tínhamos um banda há algum tempo atrás e até éramos bons. Mas nunca aconteceu nada com a banda e decidimos começar a fazer algo mais orientado para a voz. E como o Stef também queria algo que pudesse ser celebrado em festivais, decidimos começar com um projecto privado para ver o que acontecia. Ainda antes de lançarmos a nossa primeira demo as pessoas já estavam interessadas e portanto, vimos que podíamos fazer algo com isto. E dez anos depois estamos aqui! Alguma vez pensaram que estariam a cantar em frente a milhares de pessoas em festivais? Sly: Não. É o sonho de qualquer músico e era também era um sonho nosso. Ross: Nunca pensamos que poderia acontecer. É surreal ainda agora. ESTAMOS NA CENA METAL. FOI DIFÍCIL SEREM ACEITES NA CENA COMO UMA BANDA DE METAL? CONSIDERAM-SE COMO UMA BANDA DE METAL? Ross: Consideramo-nos uma banda que faz música que chamamos de hard-singing. Outras pessoas consideram-nos como metal mas há quem não goste disso porque ficam ofendidos quando o seu metal sagrado é contaminado com outras coisas como violoncelos ou como só cantar. Mas das cerca de 100 reviews que temos, encontras 4 ou 5 que são más. Sly: Ainda polarizámos o que é bom porque se toda a gente 1 5 0 / VERSUS MAGAZINE

gostasse era aborrecido. Tens que ter esse feedback principalmente quando algumas reviews não têm nada de negativo a dizer. Eles só querem ser negativos. MAS TÊM AQUELE FEELING DE QUE ALGUNS JORNALISTAS ESTÃO COM CIÚMES PORQUE SÃO VOCÊS E NÃO ELES A SEREM RECONHECIDOS? Sly: Não há muitos mas há alguns. O que magoa porque eles não têm razão. Algumas vezes até mentem para ter razão. Porque tocámos no Wacken em frente a 30000 pessoas à 1 da manhã enquanto que a banda seguinte tocou em frente a poucos milhares e... Ross: E eles disseram que os Van Canto não mexeram ninguém e que foi aborrecido e que ninguém se divertiu. No Summer Breeze tivemos 30000 pessoas aos gritos, temos um vídeo com o inteiro festival aos saltos, eu até vi mamas (risos). Mas houve uma revista alemã bastante conhecida (N.R. – a banda pediu para não revelar o nome) que disseram que fomos uma merda e que ninguém gostou do concerto. Não sei a que concerto eles foram mas não foi ao mesmo que nós fomos. Eles escreveram duas reviews do novo álbum para nós, uma boa e uma má. Uma só dizia que somos um bando de wankers e que a música é uma merda. E é a review deles! COMO É QUE VÊM A CENA HOJE EM DIA? Ross: Bastante colorida! Acho que a música é uma coisa saudável, não interessa o que faças. Se tocas em clubes com pessoas a assistir e te divertes e o teu público também, desde que gostes então está tudo bem. Se for para dinheiro e fama, eu não estou interessado.

MAS ACHAM QUE HÁ UMA FALTA DE ORIGINALIDADE NA CENA? Ross: É assim em todo o lado. Quando fazes muitos filmes ou música, ficas sem ideias. Já foi feito tudo. Diz-se que a música não tem limites. Claro, podes começar a fazer techno-throat-singing (risos)! Sly: Ou metal-farting! Ross: Sim, há um gajo que faz isso. Ele faz covers de Slayer. Portanto isso já foi feito. Mas as coisas ainda não estagnaram ao ponto de as pessoas estarem aborrecidas. Os CDs ainda vendem. ISTO LEVA-NOS À NOSSA PRÓXIMA QUESTÃO. O QUE ACHAM DO SPOTIFY? Ross: O Spotify existe para bandas como a Lady Gaga ou todas as bandas populares. Esta é uma questão sensível. Sly: Acho que um CD é algo que tens na tua mão. Ross: Sim, é algo com imagens e história que podes colocar na tua prateleira. Não me importo com o Spotify mas destrói os artistas mais pequenos. Para as bandas mais pequenas, este tipo de plataformas são perigosas. SÃO 5 VOCALISTAS. QUE ESPÉCIE DE TREINO FAZEM PARA SE MANTEREM EM FORMA? Ross: Nenhum (risos). Há um ditado em Alemão que diz “Ganz nach Oben ohne proben” que significa estar no topo sem qualquer treino. Ensaiamos 3 ou 4 dias antes de irmos em tour mas o resto do tempo, treinamos em casa. Vivemos em todas as partes da Europa. Eu vivo em Vienna, o Sly está em Hamburgo, o Bastian e o Jan estão em Berlim e o Steff está em Mainz com a Inga.

“A MAGIA DA HISTÓRIA TEM A VER COM A VOZ E COM CANTAR PORQUE É DAÍ QUE VEM O PODER DOS BARDOS.”

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É-VOS DIFÍCIL COMPOR QUANDO ESTÃO SEPARADOS? Ross: Usamos a Internet mas aquele sentimento de banda só surge quando ensaiamos. De outra maneira, crescemos juntos ao longo dos anos e estamos habituados uns aos outros e portanto, a família está estabelecida. Mas por causa da distância, não nos encontramos muitas vezes até que a produção comece e depois é tudo intenso outra vez. E O QUE VÊM NO FUTURO? TÊM AGORA ESTA TOUR E QUAIS SÃO OS PLANOS FUTUROS? Ross: Fazer esta tour e depois ver o que vai acontecer. Não sabemos o que vai acontecer porque a indústria da música muda de dia para dia. Sly: Talvez comecemos a produção da segunda parte desta história. Ou se não tivermos nenhum sucesso com este álbum, talvez criemos algo de novo. Ross: Não sabemos mesmo. Deixamos tudo em aberto até ao último minuto e depois decidimos. Porque as coisas espontâneas são mais divertidas do que realmente planear algo. MAS TÊM A TOUR E TAMBÉM SUPONHO QUE IRÃO FAZER ALGUNS FESTIVAIS DE VERÃO. Sly: Não, tivemos muito que fazer para preparar este álbum juntamente com o livro e este processo demorou 2 anos. Depois desta tour, acho que vamos parar e descansar um pouco. Ross: Vamos fazer a tour e é isso. Se alguma coisa surgir mais tarde, não sabemos mesmo. Não há planos e tal como eu e o Sly dissemos, foram 2 anos de trabalho árduo com alguns meses pelo meio a aproveitar o descanso. 1 5 2 / VERSUS MAGAZINE

VAMOS FALAR UM POUCO ACERCA DAS COVERS QUE FAZEM. REFERIRAM QUE CADA ÁLBUM TEM UMA COVER. COMO É QUE ESCOLHEM QUE TEMAS VÃO ESTAR NOS VOSSOS ÁLBUNS? Sly: Desde o início que achamos que seria bom ter alguns temas conhecidos entre as nossas músicas para chamar mais a atenção das pessoas. Ross: E também para tornar as coisas mais interessantes! Sly: E decidimos fazer covers de temas clássicos do metal como por exemplo Metallica, Iron Maiden ou qualquer coisa parecida. A última foi dos Europe e acho que é muito fixe termos as covers mas também estou bastante orgulhoso do facto de este álbum não ter nenhuma cover. E funciona o que é bom para nós. Ross: Os outros álbuns têm os nossos temas, que são do mesmo estilo mas sem nenhuma ligação, e depois tens esta cover que não tem nada a ver com o resto do álbum o que traz variedade. No “Voices of Fire” temos a mesma música distribuída ao longo de 11 temas. É uma história em contínuo sem nenhuma cover porque usar as ideias de outras pessoas no meio desta história seria catastrófico. Destruiria a história porque pegas em elementos que já existem e não há originalidade. E FOI UM DESAFIO FAZEREM O ÁLBUM EM CONJUNTO COM O LIVRO? Ross: Da minha parte, estive 2 semanas no estúdio. A parte criativa foi toda do Sly, Bastian, Christoph e do Stef. Eles é que construíram este mundo e deram-nos o material, tal como aos outros músicos e nós fizemos as nossas partes. Para mim, foi fácil mas para eles foram 2 anos de stress (risos).

Sly: Tivemos alturas em que estávamos exaustos e tivemos que trabalhar em todos os detalhes e por vezes, vimos que era bastante difícil. E foi bastante stress porque estávamos sempre a questionar-nos como é que as coisas iriam funcionar ou se as pessoas iriam gostar. Ficas destruído depois disto. Mas agora, estamos bastante felizes de estarmos aqui e trazermos isto para cima do palco e isso é bom. A VERSUS É DE PORTUGAL. SEI QUE O ROSS JÁ ESTEVE LÁ. E TU SLY? JÁ ALGUMA VEZ FOSTE A PORTUGAL? TEMOS QUE LEVAR OS VAN CANTO LÁ! Sly (Risos) Sim! Mas nunca estive em Portugal. Ross Eu quero muito regressar a Portugal. Adorei estar aí. OK! VOU ENTÃO FAZER A ÚLTIMA PERGUNTA. TÊM ALGUMA MENSAGEM EM ESPECIAL PARA OS VOSSOS FÃS EM PORTUGAL? Sly e Ross (em coro): Sim. Portugal, Rakkatakka Motherfuckers (risos)!

“AINDA POLARIZÁMOS O QUE É BOM PORQUE SE TODA A GENTE GOSTASSE ERA ABORRECIDO.”

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UMA COZINHA DOS DIABOS!


SAHIL MAKHIJA (AKA THE DEMONSTEALER) “VISITA” NOVAMENTE A VERSUS, AGORA PARA NOS FALAR DAS SUAS AVENTURAS CULINÁRIAS. Entrevista: CSA

OLÁ, SAHIL. PENSO QUE TU ÉS A PESSOA QUE FOI MAIS VEZES ENTREVISTADA NA VERSUS MAGAZINE ATÉ AGORA. ESTÁS SEMPRE À PROCURA DE COISAS NOVAS PARA FAZER. DS – Obrigado. É sempre um prazer ser entrevistado. Sim, faço muitas coisas. Gosto de me manter ocupado e de estar sempre a fazer coisas novas, para me expressar de uma forma criativa. É para mim uma honra já ter aparecido tantas vezes na vossa revista. COMO TIVESTE A IDEIA DE FAZER UMA EMISSÃO SOBRE CULINÁRIA? Ainda antes de começar a ouvir Metal, eu tinha o hábito de comer muito e também de cozinhar muito. A minha memória mais antiga reporta-se a um feriado que passei com os meus pais e amigos deles, quando eu tinha 9 anos, e em que cozinhei sozinho o pequeno-almoço para as 13 pessoas. Ficaram todos muito impressionados. Quando andava na escola, tive a oportunidade de escolher a culinária como hobby, porque nos era dada essa possibilidade e o meu sonho era ser um chefe e abrir o meu próprio restaurante. Depois fui desviado desse caminho pelo meu interesse / VERSUS MAGAZINE 1 51 65 6/ HAKEN

pela engenharia de computadores, que eu pretendia que fosse a minha futura carreira profissional, e posteriormente descobri o Metal. Por conseguinte, a cozinha deixou de ser uma prioridade, embora eu continuasse a cozinhar e a apreciar muito a comida que fazia. Em 2007, quando aderi ao Facebook, comprei o meu primeiro telemóvel com câmara e comecei a tirar fotografias das refeições que preparava e a postá-las, juntamente com as receitas respetivas. Muitas pessoas gostavam e faziam comentários e isso reacendeu o meu gosto pela culinária. Em 2010, tive a ideia de fazer um programa, porque andava a ver muitos vídeos no youtube e, na Índia, as pessoas começavam a ter acesso a ligações à internet de melhor qualidade. Portanto, pedi ao realizador dos vídeos de Demonic Resurrection que me filmasse o programa e, depois de alguma discussão, chegamos à conceção do “Headbanger’s Kitchen”.

apareceria a cozinhar um prato e depois entrevistaria uma banda. O prato teria um nome inspirado no da banda ou no título de uma das suas canções. Falei com o teclista de Demonic Resurrection – Mephisto – e ele sugeriu este nome. Gostei muito dele e adotei-o. Portanto, trata-se mesmo de uma cozinha para headbangers. Hoje em dia, ando a dedicar-me muito à culinária e muitos headbangers gostam do que faço.

POR QUE LHE DESTE ESSE NOME? POR OUTRAS PALAVRAS, COMO DEVERÁ SER A CULINÁRIA PARA HEADBANGERS? Quando criámos o conceito de base para este programa, tínhamos previsto que eu

É VERDADE QUE CONVIDAS OUTROS ARTISTAS DA CENA METAL PARA COZINHAREM CONTIGO? COMO OS ESCOLHES? Atualmente, estou a cozinhar sozinho, mas o pessoal das bandas vem provar a

PODEMOS DIZER QUE SE TRATA DE UMA ESPÉCIE DE “VÍDEOZINE”? OU PARECE-TE QUE SE TRATA DE UMA EMISSÃO DE TV PROFISSIONAL? Não passa na TV, apenas é emitida no youtube. Podemos dizer que se trata de um programa do youtube. Tenho tentado fazer uma emissão por semana. Já temos mais de 100 vídeos, algumas receitas verdadeiramente fantásticas e também imensas entrevistas com grandes bandas e músicos.

minha comida e eu entrevisto-os. Normalmente convido bandas que são muito conhecidas ou que estão em digressão na Índia ou que têm um novo lançamento para breve. Portanto, quando Lamb of God, Gojira, Wolf, etc. vieram à Índia, eu convidei-os para o meu programa, para serem entrevistados e provarem um prato especial que eu fiz para eles.

COM QUE FREQUÊNCIA FAZES ESTA EMISSÃO? Quando comecei, era só uma vez por mês. Mas, nos últimos 6 meses, tenho tentado fazer um vídeo por semana, portanto tornou-se mais regular. PARECE SER UMA EMISSÃO MUITO POPULAR. QUE PENSAS SOBRE ISTO?

É bastante popular, mas pode sempre melhorar. Por conseguinte, espero que os vossos leitores vão ao youtube e disfrutem dos vídeos. https://www.facebook.com/ headbangerskitchen/ http://headbangerskitchen.com/ https://youtu.be/m2hHV-MZwM4

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UM SOL CEGO Entrevista: CSA


CONTRARIANDO A VISÃO POSITIVA QUE TODOS TEMOS DO SOL, O FRONTMAN DE SOTM APRESENTA-O COMO ALGO DE AMEAÇADOR. O VOSSO ÁLBUM CHAMA-SE «SUN», MAS ISSO É O QUE MAIS FALTA NELE (SE TIVERMOS EM CONTA OS TÍTULOS DAS FAIXAS). QUAL ERA A VOSSA INTENÇÃO AO ESCOLHER ESSE TÍTULO? sG – O Sol simboliza a vida, a energia, a vitalidade, por um lado. Por outro, tornou-se num símbolo da morte para mim. Logo, o título escolhido para este álbum resume na perfeição o seu conteúdo lírico. O QUE HÁ DE BLACK METAL EM «SUN»? OU, POR OUTRAS PALAVRAS, O QUE DISTINGUE «SUN» DOS SEUS PREDECESSORES? SABEMOS QUE AS BANDAS NORMALMENTE NÃO GOSTAM DE REFAZER O MESMO ÁLBUM ETERNAMENTE, LOGO AS MUDANÇAS SÃO INEVITÁVEIS. Nunca gostei de categorizar a nossa música. É uma responsabilidade que vos cabe a vocês – os especialistas em Metal. Eu limitome a tentar criar música, que vejo como adequada e apelativa. Tenho de gostar do que faço e do que revelo ao mundo. Então, que quantidade de Black Metal há neste álbum? Qualquer coisa entre zero e cem por cento. Mas quem se importa com isso? Se és fã de Black Metal ameaçador feito com uma guitarra que soa como uma motosserra e só gosta disso, não ouças os lançamentos da nossa banda. Vais odiá-los. ESPERO QUE NÃO ACHES QUE EU SOU DOIDA, MAS A TUA VOZ, NA TERCEIRA FAIXA, FEZ-ME LEMBRAR O VOCALIS1 6 0 / VERSUS MAGAZINE

TA DE R.E.M., UMA BANDA QUE SEMPRE ADMIREI. E O ESTILO GERAL DESSA CANÇÃO FEZ-ME PENSAR EM INCUBUS. O QUE PENSAS DISTO? Tenho de te agradecer o comentário, que aceito com humildade, porque gosto de alguma música de R.E.M. e considero Michael Stipe um vocalista brilhante. Penso que nunca ouvi nada de Incubus. Podes recomendar-me algum álbum? POR QUE RAZÃO AS LETRAS DAS MÚSICAS SÃO TÃO TRISTES, TÃO DESESPERADAS? Porque ODEIO música alegre e também porque quero e preciso de fazer música triste.

com ele sobre o tema do álbum e eu passei-lhe as letras. DEPOIS DE LSK, TÊM OUTRA BAIXISTA. É UMA PREFERÊNCIA DA BANDA OU TRATA-SE APENAS DE UMA QUESTÃO DE COERÊNCIA ENTRE O QUE A BANDA PRETENDIA E O QUE NAAMAH ASH TINHA PARA OFERECER? ONDE A ENCONTRARAM? É uma coincidência, não foi planeado. Podíamos ter contratado um homem ou até um transsexual. Não fomos nós que a encontrámos, foi ela que veio ter connosco e nos propôs os seus serviços. Já conhecíamos o seu trabalho e sabíamos que era de qualidade. NA INFORMAÇÃO RELATIVA A ESTE ÁLBUM, A VOSSA EDITORA AFIRMA QUE AS MUDANÇAS NA FORMAÇÃO DA BANDA TAMBÉM CON-

TRIBUÍRAM PARA AS ALTERAÇÕES QUE SE PODE IDENTIFICAR EM «SUN». O QUE PODES DIZER-NOS SOBRE ESTA QUESTÃO? É claro que cada novo membro traz novas influências. O nosso baterista atual tem um som muito direto, que dá às canções uma aura “rockish“. A nossa nova baixista tem uma forma muito característica de tocar. Além disso, toca com os dedos, em vez de usar uma palheta, o que dá um som mais quente à música. Ela também colaborou na composição de várias partes das músicas: escreveu o solo de baixo de “Mark of Cain”, por exemplo. Tudo isto torna este álbum algo de muito especial. Teria um som muito diferente, sem a sua participação. SE SÓ PUDESSES USAR TRÊS PALAVRAS/EXPRESSÕES PARA O FAZER, COMO QUALIFICAR-

IAS O SOM ATUAL DE SOTM? Só três? Isso é difícil. Talvez: Tempestade, Amor, Trabalho de uma vida. O VOSSO ÁLBUM FOI LANÇADO EM DEZEMBRO [DE 2015] E TEM UMA EXCELENTE CRÍTICA NA ENCYCLOPAEDIA METALLUM. É ESSE O TOM GERAL DAS REAÇÕES A «SUN»? COMO ESTÃO A PROMOVÊ-LO? Sim, de facto o álbum recolheu reações fantásticas a nível mundial. Tem sido uma jornada difícil, mas o facto de sermos cada vez mais respeitados e de já termos obtido alguns louros graças ao nosso árduo trabalho é uma sensação maravilhosa. Neste momento, estamos a promover o álbum com concertos ao vivo. Temos aí uns 30 concertos para fazer.

ENCONTREI NO FACEBOOK O ANÚNCIO DE UM CONCERTO VOSSO EM PORTUGAL. QUERES DIRIGIR ALGUMAS PALAVRAS AOS VOSSOS FÃS PORTUGUESES, CONVIDANDO-OS A VIREM OUVIR METAL DE QUALIDADE COM SOTM NESSA OCASIÃO? GERALMENTE, AS BANDAS FICAM-SE PELA ESPANHA. Sim, vamos tocar em Lisboa (em outubro, se não estou em erro). Fazemos parte de um cartaz maravilhoso (com Behemoth e Mgla, ambas da Polónia). Estamos ansiosos por regressar a Portugal. Já passou muito tempo desde que estivemos aí. https://www.facebook.com/sotm777/ https://youtu.be/alk4OySiPTM

E POR QUE RAZÃO UMA PARTE DAS LETRAS FOI ESCRITA EM FRANCÊS? (SOU FLUENTE TANTO EM FRANCÊS COMO EM INGLÊS E, POR VEZES, MISTURO ESSAS DUAS LÍNGUAS COM O PORTUGUÊS, A MINHA LÍNGUA MATERNA, PORQUE SINTO QUE AS COISAS NÃO TÊM O MESMO SABOR NAS VÁRIAS LÍNGUAS.) A nossa antiga baixista era francesa. Escreveu essas letras e gravou-as. A CAPA DO ÁLBUM É FANTÁSTICA: PARECE ALGO A MEIO CAMINHO ENTRE UM SOL EXTINTO E UM OLHO CEGO. QUEM A FEZ? QUE PAPEL COUBE À BANDA NA SUA CONCEÇÃO? Obrigado. Foi feita pelo artista austríaco Thomas Neulinger e foi dele que veio a ideia original. É tudo dele. Limitámo-nos a falar

“[…]que quantidade de Black Metal há neste álbum? Qualquer coisa entre zero e cem por cento. Mas quem se importa com isso? […]” 161 / VERSUS MAGAZINE


PALETES VERSUS The Unguided - « Lust And Loathing» (Suécia, melodic death metal)

O terceiro álbum “Lust And Loathing”, tem mais componente melódica e acrescenta uma arrepiante capacidade de jogo musical. Uma vez passado a dura camada exterior de melodic death metal, vozes limpas e tons de teclado bem catchy aguardam-vos! Quando Richard Sjunnesson, Roger Sjunnesson e Roland Johansson deixaram os Sonic Syndicate em 2010, muitos fãs sentiram-se desiludidos e abandonados. Mas não temam, porque estes suecos regressaram e proclamaram para eles os THE UNGUIDED (descontrolados). (Napalm Records)

Rimfrost- «Rimfrost» (Suécia, Black Death Metal) - Rimfrost é um

trio vindos da Suécia que explora uma grande variedade de estilos dentro dos géneros do black e death metal, entregando uma mistura refinada de obscuras melodias, riffs acutilantes e percussão técnica. (Non Serviam Records)

Fleshgod Apocalypse - « King» (Itália, Technical Death Metal)

Fleshgod Apocalypse são a vanguarda do movimento de metal extremo italizano. Fleshgod Apocalypse fundem géneros dispares construindo um som que é poderoso, impressivo

Secrets Of The Moon - «Sun» (Alemanha, Black Metal) - Na mesma

linha de experiências anteriores, o novo line-up criou o mais ousado e intenso álbum até hoje. Em “Sun”, o Black Metal é menos dogmático tendo sido transferido intuitivamente para um contexto mais universal, expressando a catarsis espiritual sem restrisões. (Prophecy Productions)

Interment - « Scent Of The Buried» (Suécia, Death Metal) - Seis anos volvidos e um algumas mudanças no line-up, Interment regressou mais selvagem do que nunca no pico da cena actual do Swedish Death Metal, com evidencias de maior maturidade e dinamismo mas sem nunca perder a sua integridade como besta primordial. (Pulverised Records) Temisto - « Temisto» (Suécia, Death Metal) - Em extrema putre-

fação da cabalistica terra suéca vem os supremos do Death Metal Temisto, com o seu álbum de estreia “magnum-occultus” simplemsmente intitulado «Temisto». Misturando perfeitamente a natureza blasfémica com vaios de passagens intricadas executados com a presição de uma lâmina, Temisto sem dúvida exala um zelo indizível para a obscuridade e desumanidade. (Pulverised Records)

e único. (Nuclear Blast Records)

Necronomicon - « Advent Of The Human God» (Canadá, Death Metal) Sacrilegium - « Anima Lucifera» (Polónia, Pagan Black Metal)

“Anima Lucifera” é decididamente um álbum mais brutal e agressivo que o seu antecessor, no entanto continua a ter aquele toque melancólico que caracteriza a música dos Sacrilegium. Este continua a ser o black metal tradicional com o qual estes polacos ficaram conhecidos. (Pagan Records)

Ritual Chamber - « Obscurations (To Feast On The Seraphim)» (EUA, Death Metal) - Instalados na famosa “Bay Area”, os monstros

do death metal RITUAL CHAMBER são comandados unicamente pelo veterano underground multi-instrumentalista do death metal Dario Derna (aka Numinas). RITUAL CHAMBER vê Derna regressar ás suas raízes do seu death metal e este constitiu um culminar de 25 anos de actividade underground. (Profound Lore Records)

Amber Asylum- «Sin Eater» (EUA, Post-Rock) - Amber Asylum defi-

nem-se como uma fusão fílmica de post-rock moderno-clássico com árias e canções de arte reunidas numa proterberância eletrônica. “Sin Eater” é o álbum possível dos Amber Asylum após 6 anos. As quatro senhoras de São Francisco estão de volta. (Prophecy Productions)

Nucleus Torn- «Neon Light Eternal» (Suiça, Avant-garde/Folk Metal)

“Após 18 anos de aventuras num ambiente único que oscilava entre o progressivo, metal, clássico e folk, o mentor dos Nucleus Torn decide por de lado a sua criação musical, que ele desenvolveu, e surpreende todos com uma paragem de 10 anos ao nível da composição. Dado a capacide musical de Schnyder, sem compromissos, sem limites e sempre desafiador, esta sua jogada parece ser menos surpreendente do que parece. (Prophecy Productions)”

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Os veteranos Canadianos mantêm toda a sua gloriosidade tanto épica como massiva e ásperas nas suas canções. Estes viciados de metal extremo vincam o seu som em ingredientes da brutal obscura música (Season of Mist)

Sinistro - « Semente» (Portugal, Ambient Doom Rock) - Portugal é

conhecido pelo seu fascinio pelo mórbido(?). A morte é parte recorrente das conversas diárias. A canção nacional, o fado, é a incarnação musical da melancolia e da saudade. E a capital Lisboa, só acorda verdadeiramente com o cair da noite (?). (Season of Mist)

Zhrine - « Unortheta» (Islândia, Ethereal Blackened Death) - Zhrine fazem parte de um fenómeno de música extrema que surgiu na zona de Kópavogur em reykjavik, Islândia. Apesar de o nome ser novo, a banda não o é. A escuridão vem naturalmente do alto norte e o preto está bastante presente na imagem das paisagem islandesas, onde, cinza vulcânica cobre grandes áreas de terreno. O inverno é longo e duro com um frio que penetra até aos ossos. (Season of Mist) Ashenhorde- «Ashenhorde» (EUA, Black Metal) - A força solitária

do black metal Americano, Ashen Horde, está a reinventar a roda, quebrando a típica template de black Metal e forjando uma nova com um som mais temperado e com alma, mantendo a mesma chama que os Immortal posssuíam na mudança de século. (Transcending Obscurity)

Briargh- «Briargh» (Espanha, Melancholic Black Metal) - Briargh é uma revelação do underground. É díficil de acreditar que uma banda como esta continue despercebida. A banda agrega influencias de todos os sub-estilos e facetas significantes do black metal, do folk/pagan até ao movimento desenvolvido por Burzum, formando assim um som denso e exuberante comparável ao grandes Drudkh. (Transcending Obscurity)

Circus Maximus- «Havoc» (Noruega, Progressive Metal) - «Havoc» é o tão aguardado quarto álbum de estúdio dos CIRCUS MAXIMUS e que vai certamente fazer um enorme impacto na cena Progressive Metal. (Frontiers)

Zakk Wylde- «Book Of Shadows II» (EUA, Southern Rock) - Ícone da guitarra, Zakk Wylde vai lançar «Book Of Shadows II»sobre a alçada da Spinefarm Records, o seu primeiro lançamento a solo em 20 anos. Este álbum é o altamente esperado trabalho que sucede a «Book of Shadows» de 1996, o clássico álbum que lançou Wylde durante a sua participação com Ozzy Osbourn e que desde então se tornou um dos favorito dos fãs. (Spinefarm Records) Stratovarius- «Best Of…» (Finlândia, Melodic Power Metal) - Este é

um “Best of” que incliu novas músicas. Todas as faixas foram escolhidas a dedo pela banda, adicionando até 2,5 horas de puro STRATOVARIUS. As canções dão aos fãs de metal uma grande impressionante amostra do trabalho da banda. (EAR Music)

Camel Of Doom - « Terrestrial» (Inglaterra, Experimental doom metal)

este terceiro trabalho marca posição numa demonstração de prerícia técnica. (Unique Leader Records)

Cliteater (Nl) - « From Enslavement To Clitoration» (Holanda, Grind-

core) - Esta nova monstruosidade é de longe o álbum mais brutal e rápido de sempre! Se pensavam que este tipos não conseguiam mais fazer grindcore, então dá a este álbum uma oportunidade. (War Anthem Records)

Morte Incandescente - « O Mundo Morreu!» (Portugal, Black Metal)

Banda de culto de longa data, os portugueses Morte Incandescente regressam aos bons velhos tempos de black metal, quando a densidade e pureza eram uma superfície constante da “cena”. O trabalho mais recente ... “O Mundo Morreu!” (Inglês: “... The World Died!”) é um álbum que transporta o ouvinte para o passado, um passado que ainda está bem presente para o ouvinte mais puritano: um álbum que não pretende quebrar quaisquer fronteiras nem limites, nem nada, mas que para invocar dentro do ouvinte o eterno pensamento de que para algumas pessoas o black metal ainda permanece puro na sua forma mais critalina e que simplesmente não residem no passado, mas que acreditam numa essência antiga e se mantêm fieis a ela. (War Arts Productions)

O esperado atmospheric/funeral doom de alta qualidade foi posto de lado e para variar, Camel of Doom oferece-nos uma especie de estranho doom que é refrescante para o ouvido. Tem uma qualidade espacial no seu todo, um toque de um vasto ambiente experimental progressivo e passagems sem compromisso que se estendem para lá da eternidade. (Transcending Obscurity)

October Tide- «Winged Waltz» (Suécia, Black Metal) - SPEKTR tem prazer em lançar uma infinitamente negra, por vezes uma aura psicótica, e transmutando as rédeas de Black Metal em algo completamente solto. (Agonia Records)

Demonstealer - « This Burden Is Mine» (India, Death/Black/Thrash

icil de descrever o som dos Bombus porque não existe nada assim. Sim, os Bombus são uma banda de metal na linha tradicional do metal escandinavo. (Century Media)

Metal) - Sahil Makhija aka Demonstealer, com uma vasta experiência e prolifero em vários instrumentos, criou neste seu novo trabalho música que suplanta a categorização num simples género, muiuto pelo contrário, este é uma mistura de diverentes estilos desde o death metal até ao thrash metal, lancetado com um elegante e maravilhosas partes atmosféricas, propelada pela bateria de classe mundial da lenda viva George Kollias. (Transcending Obscurity)

Virulency - « The Anthropodermic Manuscript Of Retribution» (Espanha, Brutal Death Metal) - Estes espanhois especializaram-se em intricar guttural ultra brutal death metal, o qual só um punhado de bandas é que conseguem fazer com sucesso. A música não é só uma áurea de assalto, mas sim um complexo cerebral desafiante. (Transcending Obscurity)

Ahtme (Formerly The Roman Holiday) - « The Demonization» (EUA,

technical death metal ) - Kansas City technical death metal es-

trategas, anteriormente conhecidos por The Roman Holiday, vão reeditar o seu trabalho de 2013 «The Demonization», apesar deste álbum nunca ter tido um lançamento oficial. (Unique Leader Records)

Omnihility - « Dominion Of Misery» (EUA, technical death metal ) - Um

aceno ao old-school de antigamente combinado com uma imersão de velocidade e precisão do death metal actual. Tudo isto enquanto subconscientemente canalizar a energia a partir de fontes arcanas para destruir as mentes da multidão,

Bombus- «Repeat Until Death» (Suécia, Heavy Metal/Hard Rock) - É dif-

Entombed A D - «Dead Dawn» (Suécia, Death Metal/Death ‘n’ Roll) - Tal como o seu antecessor «Back To The Front», a nova arma de ataque, «Dead Dawn», não rabraça o death metal puro do início, nem as alusões mais suaves a Entombed do final dos 90. Orgulhosamente ostenta a porcaria, a morte, a dose maldita de peso que vocês precisam, esperaram, e gostariam de ouvir. (Century Media) Miasmal- «Tides Of Omniscience» (Suécia, Death Metal) - O que coloca Tides of Omniscience num universo à parte de dos os álbuns de death metal deste ano é a sua brutalidade e diversidade. (Century Media) Oceans Of Slumber- «Winter» (EUA, Progressive Metal ) - O novo

álbum dos Oceans of Slumber, «Winter», é uma amalgada hábil de todas as coisas melódicas, complexas, pesadas, atmosféricas, e visionárias. Onde «Aetherial» era mais um teste para ver como o grupo iria-se moldar, «Winter» é o produto de focus, menos mental mas ao mesmo tempo muito mais aventureiro. É também um esforço mais obescuro e grandioso. (Century Media)

Voivod- «Post Society (Ep)» (Canadá, Progressive Sci-fi Metal) - Os

Canadianos inovadores do progressive sci-fi metal, VOIVOD, estão de volta com um Mini-CD. (Century Media)

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The Foreshadowing- «Seven Heads Ten Horns» (Itália, Melancholic

Doom/Goth Metal) - Este é o quarto álbum dos reis italianos do Melancholia’n’Doom, repleto de e elementos épicos e misteriosos que trarão o futuro da humanidade através de uma viagem abissal ao passado! (Cyclone Empire Records)

Mistur- «In Memoriam» (Noruega, Sognametal) - Segundo álbum da banda de Sognametal Mistur. “In Memoriam” vê Mistur regressar com uma longa obra e arranjos alinhados por camadas, melodias inteligentes e elementos progressivos misturados com a sua marca única de sognametal. (Dark Essence Records)

Syberia- «Resiliency» (Espanha, Rock/Metal) - Segundo álbum hip-

notizante dos catalães SYBERIA, o qual representa uma nova aurora, na sequência de um período de grande turbulência. «Resiliência» é um emocionante Rock fílmico que, pela conclusão pungente do álbum, o terá revitalizado com força. (Debemur Morti Productions)

Uada- «Devoid Of Light» (EUA, Black Metal) - UADA (que significa

groovy, sem esquecer a loucura que está à espreita no reverso. (Inverse Records)

mais catchy, o NWOAHM, peças de metal industriais e peso groovy! (Napalm Records)

Barus- «Barus» (França, Death Metal) - Massivo, esmagador, cru,

Hammer Fight- «Profound And Profane» (EUA, thrash`n`roll / hard

Barús abre caminhos emocionais através da tecnicidade da música, entregando um complexo death metal técnico e sincero. (LADLO Productions)

Wildernessking- «Mystical Future» (Africa do Sul, Post Rock / Black

Metal) - Tem começado como um projecto Black n’roll chamado Heathens em 2010, a banda rapidamente se transformou numa força progressiva, abrangendo diversos géneros e estilos pelo caminho. Ao libertar a sua música a partir da noção fossilizada do género musical, Wildernessking conseguiu mistura várias influências, com o único propósito de expressar uma ampla gama de emoções. Do som Post-Rock e de estruturas vocais agressivas do Black Metal juntamente com blast beats, Wildernessking viaja sem problemas de um mundo para o outro. (LADLO Productions)

When Our Time Comes-When Our Time Comes- «When Our Time Comes» (Inglaterra, Progressive Metal/Hardcore) - Tendo suportado

rockin‘ heavy metal) - Positivamente o rock imundo encontra o glorioso e sublime metal clássico, thrash, speed, punk e hardcore no seu álbum de estreia na Napalm Records. (Napalm Records)

através de diferentes complexas camadas e tons meticulosamente trabalhados, onde a dissonância e melodia mantêm o equilíbrio, apesar do som caótico que emana da banda. Seguindo a veia do seu álbum independente e auto-intitulado em 2013, GERYON apresenta agora seu segundo trabalho em formato LP. (Profound Lore Records)

Walls Of Jericho- «No One Can Save You From Yourself» (EUA, hard-

North- «Light The Way» (EUA, Atmospheric Sludge Metal/Post-Rock)

core / metalcore ) - Riffs enlouquecedor, downbeats e enormes

breakdowns, orgulhosamente exibem o vigor histórico da banda. Partes de hardcore elegíacas que se misturam bem com um esplendor metálico. Voz feminina brutal por Candace Kucsulain. (Napalm Records)

Darkend- «The Canticle Of Shadows» (Itália, Symphonic Black Metal)

“DARKNED significa extrema Ritual Art: uma combinação de antigos cantos cerimoniais misturados com sinfonias arcanas, ambientes noturnos e riffs sulfúricos gravadas em padrões de black metal. (Non Serviam Records)

assombrado em latim) respira o espírito de onda Black Metal dos anos 90. O quarteto de Oregon usou uma abordagem única para combinar raw black metal com melodias espectrais. (Eisenwald)

ao vivo actos como The likes of Of Mice And Men, The Color Morale, ou Hacktivist, a banda que veio do norte de Londres combina grooves polirrítmicos com pesados breakdowns e facilidade emocional. (Lifeforce Records)

Anthrax- «For All Kings» (EUA, Heavy Metal) - É raro que uma

Sig-Ar-Tyr- «Northen» (Canadá, Epic Viking Metal) - As primeiras músicas novas dos SIG: AR: TYR desde o seu último álbum «Godsaga» de 2010. «Northen» combina o epic pagan e viking metal atmosférico com um coração de heavy metal, apresentando nove poderosas canções, escritas para contar o conto das aventuras dos Viking na América do Norte, mil anos atrás. SIG: AR: TYR é perfeito para os fãs de: Primordial, Falkenbach, ùltimo/Epic Bathory! (Hammerheart Records)

Mystic Prophecy-War Brigade- «War Brigade» (Alemanha/Grécia,

Ricky Warwick- «When Patsy Cline Was Crazy (And Guy Mitchell Sang The Blues)» (Irlanda do Norte, Rock) - O cantor / compositor

Akem Manah (Usa)- «Demons Of The Sabbat» (EUA, Arcane Necro Doom/

Demigod- «Slumber Of Sullen Eyes» (Finlândia, Death Metal) - Demi-

Death Metal) - Não há nada lá fora que capte exactamente a

mesma sensação de antigos de outrora como Akem MANAH. Para os fãs de: Triptykon | Funebrarum | Coffins | Evoken (Imperative PR)

Frozen Ocean- «The Prowess Of Dormition» (Russia, Atmospheric

Blackened Metal) - Desde 2005 que o multi-instrumentista Vaarwel tem vindo a criar música de incrível poder, imaginação, diversidade e profundidade e liberá-lo sob a bandeira da Frozen ocean. Para os fãs de: Moonsorrow | Enslaved (Imperative PR)

Headspace- «All That You Fear Is Gone» (Inglaterra, Progressive Rock/

Metal) - Supergrupo? É fácil deixar-se levar e dar aos Headspace esse epíteto, em vez disto. De certa forma, é claro, essa é a melhor descrição para este quinteto de músicos. Adam Wakeman - teclados, Damian Wilson - vocal, Pete Rinaldi - guitarras, Lee Pomeroy - baixo, Adam Falkner - tambores. Este é o seu segundo álbum. (InsideOut Music)

Fubear- «III» (Finlândia, heavy/fuzzy rock n’ roll) - O terceiro lançamento da banda, que constitiu quase 20 minutos de stoner rock, riffs pesados e melodias, mesmo com um travo detwist psicodélico. Definitivamente, a banda confia nos seus pontos fortes com este lançamento via internet, mas também explora novos territórios com a faixa-título “III”, a qual é uma maciça stoner rock opera. (Inverse Records) Kuoleman Galleria- «Kaersimys Kunniaan» (Finlândia, Black ‘n’ Roll)

Kuoleman Gallery cria música incondicional e não se verga a qualquer outra direção. A música poderia ser rotulada como uma espécie de black’n’roll que toma forma em canções 1 6 4 / VERSUS MAGAZINE

Power/Heavy Metal) - Mais uma vez não fazer prisioneiros e

entregar poderosos hinos como «The Cruxifix», «The Devil Is Back» ou «Metal Brigade», que devem fazer parte de todas as playlist de todos os Neckbreakers! Estas canções não necessitam claramente de se esconder por trás de clássicos dos MYSTIC PROPHECY como “Ravenlord” ou “KillHammer”. (Massacre Records)

god foi aquela banda do passado, a qual simplesmente começaram a tocar a música que mais amava: Death Metal. 23 anos depois da sua criação, esta obra-prima está de regesso à vida para mostrar que um clásico álbum é apenas alfo atemporal! Este relançamento inclui na integra o álbum de estreia mais das demos de 1991 «Unholy Domain». (MDD Records)

Accuser- «The Forlorn Divide» (Alemanha, Heavy Metal) - «The Divide desesperado» tomou forma nas experimencias tentativa e erro nos Gernhart Studio. Contém tudo o que sempre quis conhece e aprecia sobre Accu§er: Envolvido, poderoso thrash metal com um trabalho virtuoso da guitarra e padrões cortantes de bateria. (Metal Blade)

Artillery- «Penalty By Perception» (Dinamarca, Heavy Metal)

«Penalty by Perception» é um ataque direto tal como matizada. O imediatismo desenfreado de «In Defiance Of Conformity» e «Mercy of Ignorance» contrasta com o grandioso estudo de »Sin of Innocence» e «Cosmic Brain». (Metal Blade)

carreira receba uma segunda oportunidade, muito menos um segundo acto de todo, mas, os ANTHRAX não é a uma banda mediana, bem pelo contrário. (Nuclear Blast Records)

/ guitarrista Ricky Warwick foi criado a partir de um pedaço de pano cortado de uma jaqueta de um trabalhador agricola. RICKY tem abraçado sem frescuras, emocionalmente directo, música pura. (Nuclear Blast Records)

Sabaton- «Heroes On Tour» (Alemanha, Power Metal) - Álbum ao vivo da tournée “Heroes”. Foram gravados dois shows em de um caso não ser o suficiente para você! (Nuclear Blast Records)

The Treatment- «Generation Me» (Inglaterra, Hard Rock ) - «Genera-

tion Me» é o terceiro álbum completo de roqueiros britânicos THE TREATMENT. Mostrando uma potência sonora nunca visto até agora. THE TREATMENT está realmente a utilizar agora todos os cilindros. (Frontiers)

Lords of Black- «II» (Espanha, Modern Melodic Metal) - A visão era

para formar uma banda de metal com uma abordagem moderna, no entanto, ser catchy, melódico e progressivo. Misturado e masterizado por Roland Grapow (MASTERPLAN, ex-HELLOWEEN). (Frontiers)

Phazm- «Scornful Of Icons» (França, French Black Metal) - Depois de

três álbuns e várias tournées pela Europa, PHAZM lançou com este trabalho uma mistura única de shuffled blast-beats, ocultos e acutilantes riffs, assustadoras guitarras virtuosas e assustador e possuía vocalizações. Eles voltam com um novo álbum, profundamente inspirado pela black metal old-school e Ásatrú. (Osmose Productions)

Criminal- «Fear Itself» (Chile, Death Metal) - O novo álbum de CRIMINAL é como uma lufada de ar fresco num momento em que a cena do metal está em perigo de asfixia na sua própria pretensão. (Metal Blade)

Bloodthirst- «Glorious Sinners» (Polónia, thrash/black Metal) - O

American Head Charge- «Tango Umbrella» (EUA, Nu metal / indus-

Ragehammer- «The Hammer Doctrine» (Polónia, Black Metal) - O ál-

trial metal) - Nós abordado diferentes direções. As nossas

influências vêm do início dos anos 90, com os Ministry, Tool, PJ Harvey e assim por diante. Usamos o Tango como guarda-chuva musical. O som dos American Head Charge ainda permanece firmemente enraizada no metal alternativo

Geryon- «The Wound And The Bow» (EUA, avant-garde technical progdeath metal ) - Os membros conjuntam uma visão singular

mini-álbum contém cinco novas faixas seguindo o caminho thrash/black com o qual o acto Polaco nos brindou até agora. (Pagan Records)

Distribiundo épicos burts de sludge-rock, os NORTH trazer assim uma penosa e desalmada orientação para seu seu novo álbum, «Light The Way», o qual constitiu um equilíbrio perfeito entre a escuridão e a luz. (Prosthetic Records)

Spirit Adrift- «Behind - Beyond» (EUA, Doom Metal) - Não se enganem. SPIRIT ADRIFTtocam alto e esmagam o doom metal pelo caminho. Há, no entanto, uma tapeçaria de esperança e maravilhas, tecida na melancolia e no desespero. «Behind Beyond» é mais do que apenas uma coleção de riffs sólidos, são canções em todo o sentido da palavra. (Prosthetic Records) Inverloch- «Distance Collapsed» (Australia, Death Metal) - Marcados para voltar em 2016 com um dos mais esperado LPs de estréia do metal underground. Buzzsaw riffs de Death Metal e vocais viscerais ao lado de uma percussão explosiva, tudo embrulhado num conjunto de mais uma assombração atmosferica no entanto lindamente terrível. (Relapse Records) Wolvserpent- «Aporia-Kala-Ananta» (EUA, Avant-Doom Metal) - Este EP contém uma única faixa que se estende por quarenta minutos de assombrosas cordas, ambientes cavernosos, e um doom tremendo. Este trabalho exige atenção, e só assim se conseguirá usufruir de todas as recompensas que oferece juntamente com todo o horror e majestade. «Aporia: Kala: Ananta» cimenta o estatuto de WOLVSERPENT como o futuro do avant-doom. (Relapse Records) Blessed Hellride- «Bastards Outlaws» (Alemanha, Southern/Groove Metal) - Ultra-heavy riffs de guitarra, ranhuras estridentes, vocais marciais: o mundo do Blessed Hellride não tem espaço para a fraqueza ou compromissos indiferentes. (Rodeostar - SPV)

Dead Letter Circus- «Aesthesis» (Australia, Alternative/progressive rock) - Dead Letter Circus impressiona com «Aesthesis» devido à sua maturidade na composição e no seu talento para produzir hinos. A sua música contêm elementos de géneros independente, bem como ingredientes de rock progressivo e outros clássicos. Benzie: “A Austrália tem uma forte cenas indie rock que prova que vocês não necessitam de gritar para soar.” (Rodeostar - SPV)

Dust Bowl Jokies- «Dust Bowl Jokies» (Suécia, Rock) - Com fortes

grooves e arranjos musicais incomuns para não falar das influências de sleaze e glam, mas também de rock, jazz, blues e música Africana. Praticamente, é trilhar o mesmo caminho que Aerosmith e Rolling Stones fizeram. «Dust bowl Jokies» combina uns corajosos riffs de guitarra com grooves marcantes e fortes hooks. (Rodeostar - SPV)

bum de estréia altamente esperado, «The Hammer Doctrine», os Ragehammer irão descarregar toda a sua fúria em cima de nós impiedosamente. Esta versão combina nobre, cru e satânico metal, na sua forma mais primitiva. (Pagan Records) 165 / VERSUS MAGAZINE


SALIGIA PERPÉTUO DEVIR Eis como Ahzari define Saligia: essencialmente um projeto que nunca está inteiramente satisfeito consigo próprio. Entrevista: CSA

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O QUE SIGNIFICA O TÍTULO DO VOSSO ÁLBUM? Ahzari – O título «Fønix» refere-se à fénix, uma ave mitológica que morre em chamas e se ergue novamente delas. Por isso se converteu num símbolo do renascimento cíclico. É um tema que surge na última canção do álbum, mas que o abrange na sua totalidade, já que a regeneração, a morte e a ressurreição são temas que eu trato nas letras. Também se relaciona com o processo de criação que consiste em fazer música para um novo álbum: matar o que somos para nos tornarmos naquilo que queremos ser e por aí adiante. E COMO RELACIONAM ESSE TEMA COM A BIZARRA (E IMPRESSIONANTE) CAPA DO ÁLBUM? QUEM FOI CONVIDADO PARA A FAZER? O artwork é de Oda Austnes, a nossa “artista da casa” (por assim dizer), que também fez a capa para os dois lançamentos anteriores de Saligia. Enviamos-lhe a música e as letras do álbum em questão e ela cria uma imagem visual que traduz a sua interpretação das mesmas. Damos indicações mínimas, o que, apesar de ser difícil, porque nos impede de ter mais controle sobre o trabalho produzido, é muito compensador. Penso que isso é visível no artwork que ela tem feito para os nossos lançamentos, entre os quais este álbum. Vejo na capa de «Fønix» uma grande simbologia, mas o seu verdadeiro significado só a própria Oda

poderia explicar (se não estiver oculto para ela também). Na minha opinião, esta capa traduz a essência do álbum, não podia ser melhor. «FÖNIX» TEM MAGNÍFICOS MOMENTOS DE GUITARRA E BATERIA “QUEBRADOS” POR VOCAIS AGONIZANTES. COMO É QUE ESTA ESTÉTICA SERVE OS PROPÓSITOS DA BANDA? Os vocais foram sempre muito importantes para mim, portanto trabalhamos sempre imenso para garantir que tanto a musicalidade, como o conceito lírico do álbum em questão são transmitidos por essa via da forma que me parecer mais adequada. Como sou responsável pela maior parte dos instrumentos, o equilíbrio global entre eles é uma das minhas grandes preocupações: cada um tem de complementar os restantes nos arranjos feitos para si. Em suma, respondendo à tua pergunta, cada parte do álbum contribui à sua maneira para o objetivo global a ele associado, porque é assim que cada lançamento nosso é concebido. DO QUE LI SOBRE A BANDA, CONCLUÍ QUE GOSTAM DE AVANÇAR COM CALMA: EM 10 ANOS DE CARREIRA, LANÇARAM DOIS ÁLBUNS E UM EP (PARA ALÉM DAS DEMOS). CONCORDAS COM ESTA APRECIAÇÃO? NOTESE QUE EU CONSIDERO QUE A VELOCIDADE PODE SER INIMIGA DA PERFEIÇÃO. O tempo voa e 10 anos não são muito tempo. Há muitas

razões que justificam a nossa reduzida produção. Nos primeiros anos de existência da banda, dedicámo-nos a definir claramente o seu propósito. Sentíamo-nos como se estivéssemos a construir uma casa sem uma planta feita por um arquiteto. Tens de ir trabalhando as ideias que vão surgindo durante o percurso e aprender com elas e isso é um processo demorado. Há que juntar a isso aspetos mais mundanos: um emprego a tempo inteiro e, de um modo geral, os acontecimentos normais da vida. Além disso, quando componho, faço-o porque tenho algo a dizer, que não posso exprimir apenas por palavras. E, tal como pensar antes de falar, fazer música, para mim, requer tempo. Francamente, prefiro fazer um álbum que eu considere bom em 5 anos do que 5 álbuns “mal amanhados” no mesmo período de tempo. PARECE-TE QUE O FACTO DE SALIGIA TER AGORA UMA FORMAÇÃO ESTÁVEL VAI ALTERAR ESSA SITUAÇÃO? A formação com que gravamos não mudou muito nestes últimos anos, portanto parece-me que não vai haver grandes alterações. Recrutar mais pessoas facilitaria a parte relativa aos concertos e era capaz de ter algum impacto na parte criativa da atividade da banda. Mas é difícil para mim dizer quanto tempo decorreria entre cada lançamento de Saligia. Depois de ter terminado «Fønix», fui acometido por um 167 / VERSUS MAGAZINE


“O título do álbum […] refere-se à fénix, uma ave mitológica que morre em chamas e se ergue novamente delas […] símbolo do renascimento cíclico. […]” silêncio vazio e senti a necessidade de parar, tal como a fénix, que tem de morrer primeiro, para depois poder renascer novamente. Vamos ver o que acontece a seguir. Quem faz o quê na banda? HÁ UM “CHEFE”, OU CONSIDERAS QUE TÊM OS DOIS O MESMO ESTATUTO? Eu componho a música e escrevo as letras. Até agora, quando começamos a ensaiar, eu já terminei praticamente as canções e os arranjos, mas pode-se sempre fazer alterações para melhorar o produto final, o que é uma atribuição dos dois. Não te sei dizer se vamos alterar o nosso modus operandi. Apenas posso afirmar que nada tenho contra a mudança, até porque trabalhar sozinho é um processo extremamente cansativo, que me deixa exausto. Em suma, na situação atual, penso que eu sou o “chefe”, mas acho que sou um “amável ditador”. APRESENTAM-VOS COMO MEMBROS DA CENA BLACK

METAL NORUEGUESA. COMO SE VEEM NESSE CONTEXTO? Francamente, não me vejo a pertencer a nenhuma cena e não dou a mínima importância a esse aspeto da questão. Tenho amigos em bandas de Trondheim e outros locais, mas sou amigo deles porque me agradam como pessoas e partilhamos interesses, não porque pertencem a esta ou aquela cena musical. A ideia de uma cena norueguesa construída em torno do ideal do “True Norwegian Black Metal” nunca me atraiu e não quero ter nada a ver com isso. QUE ME PODES DIZER SOBRE A QUESTÃO DAS INFLUÊNCIAS? Quando estou a compor, não sinto que algo possa ter uma influência visível no meu trabalho, mas é claro que há sempre algo que me inspira: uma música que ouvi, uma noite estrelada, algo que vivi, uma ideia filosófica em que ando a magicar. Mas nada disso é suficientemente forte para

ditar a direção em que vou seguir. Nunca me aconteceu ouvir um álbum e pensar que gostava de fazer algo assim. Se houver alguma influência, ela assume mais propriamente a formar de uma corrente subconsciente que se encaixa sub-repticiamente nas ideias que tenho na minha mente. Não sei dizer-te se Saligia alguma vez inspirou outros músicos. QUAL É A VOSSA MAIOR AMBIÇÃO COMO BANDA? Sinto que já concretizámos uma boa parte do que pretendíamos fazer. Mas estão sempre a surgir novos desafios. Sentir-se feliz com o que se tem equivale a estagnar, mata a evolução. Portanto, estamos sempre famintos por mais e a caminhar em direção ao desconhecido. Nunca “sejas”, mantém-te sempre em transformação! https://www.facebook.com/saligia.info/ https://youtu.be/CrtNtiLilnI

“[…] Também se relaciona com o processo de criação […] para um novo álbum: matar o que somos para nos tornarmos naquilo que queremos ser […]” 1 6 8 / VERSUS MAGAZINE


O segundo álbum de Autokrator foca um tema muito atual: a obediência cega. Vejamos o que nos diz Loïc F. sobre esta problemática.

Um tratado sobre a obediência Entrevista: CSA

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Olá, Loïc! Quem faz parte da atual formação de Autokrator? Loïc F. – Quando fizemos o primeiro álbum, éramos cinco. Atualmente, desse grupo só restamos eu e o David (o vocalista). Também temos um baterista de sessão, que tocou neste álbum. Eu ocupei-me das samples. O Oleg já não pode

tocar connosco, devido aos seus compromissos profissionais, e o Brandon só era músico de sessão. Em suma, agora somos só dois. É verdade que eu faço quase tudo, mas o David é responsável pelos vocais, grava essas partes e interpreta à sua maneira o material que eu lhe passo, pelo que se pode dizer que lhe dá uma nova dimensão. O baterista do estúdio gravou as suas próprias partes. O seu nome não aparece no disco por sua própria decisão. Este é o segundo álbum da banda em dois anos. Como conseguiste ir tão depressa ? Para começar, não fazemos di-

gressões, nem concertos. Também não fazemos ensaios. De momento, Autokrator é um projeto de estúdio e assim não perdemos tempo. Eu gravo tudo no meu estúdio de casa, o que me dá uma grande liberdade e reduz ao mínimo as restrições temporais. Posso trabalhar quando me dá na real gana, de dia ou de noite. De facto, só fiz uma curta pausa de alguns meses entre o fim do primeiro álbum e o início do segundo. Trabalhei para «The Obedience to Authority» praticamente todos os dias, sem parar, entre abril de 2015 e janeiro de 2016. Às vezes, só trabalhava uma hora por dia, outras vezes fazia 16 horas de seguida.

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O que distingue «Autokrator» de «The Obedience to Authority»? O que mudou entre os dois álbuns (apesar do pouco tempo que separa um do outro)? Eu queria fazer um álbum que tivesse canções mais rápidas e brutais, mais variações nas faixas, com um som mais dinâmico e uma mistura mais equilibrada ao nível dos instrumentos. Em suma, tratava-se de conservar as características do som de Autokrator no primeiro álbum, mas, ao mesmo tempo, torná-lo mais inteligível e eficaz. No que diz respeito aos temas, digamos que, nos álbuns de NKVD e no primeiro de Autokrator, explorei o lado mais sombrio do ser humano e, neste álbum («Obedience to the Authority«) estou mais focado no porquê dos fenómenos observados, tendo como ponto de partida dois livros: «The obedience to authority experiment», de Milgram, e «The brainwashing manual», de Beria/ Hubbard.

“tratava-se de conservar as características do som de Autokrator no primeiro álbum, mas, ao mesmo tempo, torná-lo mais inteligível e eficaz.” Por que encontramos tanta ferocidade em Autokrator ? Sempre gostei de música brutal, sempre fiz música brutal. Está nos meus genes. De um modo geral, gosto de toda a música que é brutal. Gosto de ouvir blast beats, urros, que as guitarras rujam e que 1 7 2 / VERSUS MAGAZINE

tudo arrase. Como fez o Nestor [Avalos] para se articular contigo para produzir a capa deste álbum ? Eu tinha uma ideia do que queria. Portanto, fomos trabalhando aos poucos, para combinar as minhas ideias com o seu estilo, e o resultado ultrapassou as minhas melhores expetativas, tal como aconteceu com a capa do primeiro álbum. O Nestor é um artista extremamente talentoso, com um estilo único, inigualável, com uma faceta muito «cruel», que me agrada muito. Como foi recebido o vosso primeiro álbum ? As críticas e as reações dos ouvintes foram muito, muito boas. Tivemos ótimas reviews, nas revistas e nos webzines, algumas menos boas, como seria de esperar. Não podes agradar a todos com este tipo de música. E quais são as tuas expetativas relativamente ao segundo álbum? Ficarei delirante, se for tão bem recebido como o primeiro. Quais são os teus planos para promover «The Obedience to Authority»? Vai ser o Greg, da Godz ov War Productions, que se vai ocupar da promoção. O álbum sai a 22 de abril no formato cd digipak 6 painéis, em colaboração com a minha editora Krucyator Productions. Eu fiquei encarregado de enviar cópias às revistas, aos webzines e aos críticos com os quais mantenho contacto. E para quando será a terceira obra-prima? Vais ter de esperar. Fiz 3 álbuns em 3 anos: « Hakmarrja», de NKVD, em 2014; o primeiro

de Autokrator, em 2015; «The Obedience to Authority», em 2016. Agora vou parar um pouco, porque já estou a ficar saturado. Durante este ano, vou ocupar-me principalmente da minha editora/ distribuidora – a Krucyator Productions – dedicada aos meus projetos. Em abril, sai «The Obedience to Authority», a minha reedição (no formato Cd digipak) de «Diktatura», de NKVD. Esgotado desde 2010, e, mais para o fim do ano, a reedição de «Vlast», também de NKVD, igualmente esgotado. E vou certamente fazer algumas misturas ou masterizações para bandas.

“nos álbuns de NKVD e no primeiro de Autokrator, explorei o lado mais sombrio do ser humano e, neste […] estou mais focado no porquê dos fenómenos observados” O terceiro álbum vai formar uma trilogia com os dois que já lançaram ? Ou são trabalhos completamente independentes? Não, são independentes. O tema do próximo álbum vai ser diferente, sem dúvida. Espero ainda gravar um ou dois splits ou EP antes do terceiro álbum, que só deverá sair daqui a uns anos.

“Sempre gostei de música brutal, sempre fiz música brutal. Está nos meus genes.”


MOURNING BELOVETH Herdeiros universais Entrevista: CSA

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“[«Rust and Bone»] foi feito por uma banda que se sente confortável, mas que continua ansiosa por explorar cada vez mais o seu potencial. […]”

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QUE PESO TEM NA VOSSA MÚSICA O FACTO DE SEREM IRLANDESES? Darren Moore – Justifica tudo. Todos nós somos, em larga medida, naturalmente condicionados pelo ambiente em que vivemos. MB não escapa à regra. Francamente, só pensamos nisso, quando nos fazem essa pergunta nas entrevistas e ela surge muitas vezes. Provavelmente, isso acontece, porque as pessoas de outros países realmente ouvem algo na nossa música que relacionam com “ser irlandês”. Para nós é normal, corresponde à forma como vemos as coisas, como as fazemos. Nós somos assim, é tudo. TIVERAM SEMPRE O HÁBITO DE USAR TEXTOS DOS GRANDES POETAS E ESCRITORES IRLANDESES? Não, nem sempre o fizemos. Ao longo dos anos, usar ideias e palavras, que pedíamos “emprestadas“ aos grandes autores, deixou de ser algo novo para MB. Os mais atentos terão identificado referências a autores como Waits, Philip K. Dick, Cohen, Orwell, Burrows, nos nossos álbuns anteriores. E é claro que neste recorremos também a Yeats e Beckett. Penso que fazemos isso devido ao legado cultural que essas pessoas nos deixaram. Assim, parece-nos que vale a pena repetir o que eles disseram, combinando citações diretas com os nossos próprios pensamentos, à nossa maneira. A meu ver, nenhuma obra intelectual, independentemente da área em que se integre – poesia, música, comentário social – existe isoladamente. Têm todos a mesma origem, já que contam a história da humanidade: os nossos 1 7 6 / VERSUS MAGAZINE

sucessos, os nossos sofrimentos coletivos e, sem dúvida nenhuma, as nossas loucuras. Limitamo-nos a criar situações que obriguem a pensar, a inferir. Procuramos contribuir com algumas ideias marcantes e pensamentos nossos para a grande equação artística. Isto leva um ponto de exclamação ou um ponto de interrogação? Discute a ideia. Descobre por ti própria. De momento, é isto que te posso dizer sobre o significado das nossas letras. Esta entrevista conterá suficientes pistas para

MENTE ASSOCIADO À LITERATURA FRANCESA DO SÉC. XX, MAS EU SEI QUE ERA IRLANDÊS). É o próprio. A principal (e mais repetida) frase em “Godether” saiu diretamente dessa peça de Beckett: “À espera de Godot”: “Nada acontece, ninguém vem, ninguém vai…”… grande frase, grande peça… taciturna, surreal aparentemente insípida. Dois homens à espera do seu deus. Este é um problema da Humanidade… vamos esperando, a juntar pregos para os nossos

“[…] Procuramos contribuir com algumas ideias marcantes e pensamentos nossos para a grande equação artística. […]”

ajudar quem esteja interessado nessa questão. Além disso, que importa estarem a ouvir o que eu tenho a dizer sobre o assunto, quando, com um pequeno esforço, podem construir a vossa própria interpretação? COM CERTEZA, O YEATS REFERIDO NA INFORMAÇÃO FORNECIDA PELA VAN RECORDS É W. B. YEATS, QUE PARTICIPOU NA FUNDAÇÃO DO ABBEY THEATRE. MAS SERÁ QUE O BECKETT REFERIDO CORRESPONDE A SAMUEL BECKETT, O GRANDE DRAMATURGO DE “À ESPERA DE GODOT”? (É FREQUENTE-

caixões. Costumamos dizer que olhamos para a vida e a nossa situação no mundo espreitando por entre as linhas óbvias e aprovadas. Olhamos para o “éter”, o espaço que permeia qualquer “verdade” das que nos impingem diariamente: através dos meios de comunicação de massas, da publicidade. Estamos de tal forma submersos em propaganda que, apesar de nos inundarem de “notícias”, na realidade cada vez sabemos menos sobre o que nos rodeia. É tudo ruído, propositadamente produzido para nos distrair, de modo a não ouvirmos nada que saia

dos limites do que nos querem fazer ouvir. Como já disse, tudo está ligado entre si, de alguma forma. Temos toda a história da aventura artística humana, do nosso questionamento filosófico para nos inspirar, para nos ensinar: desde o tempo dos grandes filósofos gregos e romanos até aos contemporâneos, aos nossos poetas, “fazedores de canções”, escritores. Não pregamos qualquer suposta verdade, não damos respostas para nenhuma pergunta. Não estamos aqui para fornecer respostas e dizer-te o que está certo ou errado. Apenas queremos que explores o GodEther por tua conta e risco. Nós vamos apenas deixando pequenas pistas, sugerindo caminhos que permitam unir os pontos. Ou não. Somos apenas parte de um todo, queremos refletir sobre a natureza desse coletivo, qual poderá ser o nosso lugar nessa entidade e como nos iremos enquadrar nele. “Somos apenas mero espaço, à deriva no tempo?” Então, tentamos apagar tudo da nossa

mente à exceção da finalidade, sonhos, etc., escrevendo uma canção, descobrindo espaço, esvaziando partes da nossa mente para propósitos mais elevados. Por exemplo, na Irlanda, durante anos, encheram-nos as cabeças de balelas católicas, vindas de uma tradição onde imperam a violação e a mentira, e o povo acreditava nisso, porque não conhecia mais nada. À medida que os anos passam, que aprendemos mais, que nos educamos, começamos a ver a religião como ela é na realidade. No entanto, as pessoas parecem dispostas a seguir a opção mais fácil, porque incomoda menos, está de acordo com o modelo de consumo de massas que querem impor-nos, segundo o qual tudo o que não pertence à nossa religião está errado. Tudo isto é-nos ministrado pela religião, mas também por coisas como a TV, os media, as celebridades, os gatos no Facebook, tretas pseudocientíficas, etc. Não temos respostas, mas podemos estar certos de que os que elegemos também não a conhecem. Devíamos preocupar-nos em conhecer o mundo real, não aquele que nos querem impingir como sendo o mundo real, em encontrar respostas para os aspetos desconhecidos do Espaço e da Terra e não em destruí-los, como estamos já fazer ao nosso planeta. Se todas as guerras parassem e toda a tecnologia que nelas usamos fosse destinada ao bem da humanidade e do planeta em que vivemos, imagina o que poderíamos criar. Vem-me à ideia um ditado indiano que diz o seguinte: “Quando a última árvore tiver sido cortada e o último peixe comido, compreenderemos que o dinheiro não se pode comer.”

A IRLANDA É REALMENTE UMA NAÇÃO DE MAGNÍFICOS ESCRITORES E POETAS. ESTAVA A PENSAR EM OSCAR WILDE, POR EXEMPLO. MAS SERÁ QUE NÃO PODEMOS RELACIONAR A VOSSA MÚSICA COM CONCEITOS VINDOS DE OUTRAS CULTURAS? Sim, claro… Os conceitos subjacentes às nossas letras evoluíram do microcosmos para o macrocosmos, em direção ao fatalismo real do universo e da História, em que fundimos o estilo sonhador da nossa anterior abordagem lírica com a realidade que nos rodeia, em que vemos a nação mais poderosa do mundo demasiado ocupada a fazer a guerra par alcançar a supremacia económica através de um imperialismo corporativista, em que o domínio tecnológica se manifesta sob a forma de bombas inteligentes e drones predadores, usados na luta pelo poder e não para o bem de todos. Devíamos fazer algo diferente, algo generoso e exaltante pelo bem da humanidade. Podíamos enviar os primeiros representantes terrestres a outro planeta (que não seja a Lua). Podíamos aterrar em Marte… começar a pôr em causa os que estão no poder e perguntar-lhes por que razão, com toda esta tecnologia à nossa disposição, estamos a destruir esta coisa em que vivemos, enquanto nos dão a comer as nossas mentes numa bandeja de prata para nos manterem ocupados. Não temos as respostas, mas devíamos ter as perguntas adequadas. Em breve, a Terra ter-se-á inteiramente devorado a si própria, destruída por noções imperialistas de Liberdade. Mas liberdade de quê? Para escolher o quê? Aquilo que eles nos dizem para escolher. No 177 / VERSUS MAGAZINE


entanto, a breve termo, seremos novamente apenas pó…o ideal de explorar o espaço e a tomada de consciência de que somos apenas um ponto conjugam-se quando vemos imagens do nascimento de estrelas e do universo como o conhecemos através do telescópio Hubble. A sede de conhecimento do Homem levou-nos as estas coisas, mas esse ideal superior está a ser corrompido pela ganância humana, focada no dinheiro e no controlo, que, no fim de contas, não têm qualquer interesse. O Espaço é um vazio tão perfeito, cheio de coisas que ainda desconhecemos e qual é o primeiro pensamento que ele nos traz à cabeça: convertê-lo numa base armada, haha. A sede de conhecimento leva-nos a belos desígnios, contudo a humanidade básica apenas se preocupa em calcular quanto dinheiro pode tirar dela. Deixem as pessoas afundadas no medo para sempre e nada evoluirá. Seremos recordados pelo que destruímos. Quando éramos mais novos, tínhamos sonhos e éramos autorizados a sonhar, mas, atualmente, crescer consiste apenas em tentar sobreviver, o futuro converteu-se numa ameaça, tal como a liberdade, a democracia, o terror…

NESTE ÁLBUM, IDENTIFICO UMA COMBINAÇÃO DE METAL, FOLK E ATÉ – EM ALGUNS MOMENTOS – MÚSICA MEDIEVAL. SERÁ ASSIM? Sim… Basicamente somos metaleiros, mas ouvimos todo o tipo de música. Nos últimos anos, “viciei-me” em 16 Horsepower e Woven Hand. Pauric é um grande fã de Tom Waits … Podia passar o dia inteiro a referir a música de que gostamos. Além disso, somos nados e criados na Irlanda e desde cedo contactámos com a música tradicional e depois fomos para o Metal e agora os nossos ouvidos juvenis estão a voltar à terra, em termos musicais e físicos. HÁ INSTRUMENTOS ACÚSTICOS EM «RUST AND BONE»? COMO OS ARTICULAM COM OS ELÉTRICOS? Nós evoluímos como pessoas ou, pelo menos, devíamos evoluir. A nossa música evoluiu connosco. A guitarra acústica sempre desempenhou um papel muito importante na nossa música. Desde o início de MB, muitos dos nossos riffs foram criados na guitarra acústica, depois transferidos para se converterem nos sons distorcidos e pesados que a banda produz quando ensaia,

antes de passar à gravação. À medida que a nossa confiança em nós próprios aumentava, começámos a ser mais ousados, a dar cores diferentes à nossa música, usando várias texturas, para produzir efeitos diferentes. Trata-se apenas de mais uma “corda” do nosso “arco musical” e, desta vez, sentimos que as nossas canções exigiam esse recurso adicional: esse som delicado, frágil, mas ao mesmo tempo quente produzido por uma guitarra acústica de boa qualidade, feita à mão. Foi assim que tudo se passou, sem mais complicações. COMO PRODUZIRAM O SOM MAGNÍFICO QUE CARACTERIZA ESTE ÁLBUM? Ensaios, ensaios, longas discussões… vida amor, ódio, morte… tudo isto e nada disto… uma grande vontade de criar… QUE “HISTÓRIA” NOS CONTA «RUST AND BONE»? Vê o que eu digo acima… foi feito por uma banda que se sente confortável, mas que continua ansiosa por explorar cada vez mais o seu potencial. Portanto, o álbum segue uma linha que que vai do choque curto e incisivo de “Old Rope” e dos tons acústicos de “Trans-

“[…] apesar de nos inundarem de “notícias”, na realidade cada vez sabemos menos sobre o que nos rodeia. […]”

missions” em «Formless» (2013) até “The Mantle Tomb” e “A Terrible Beauty is Born” em «Rust and Bone». Temos os olhos e as ambições firmemente focados no futuro, portanto acredito que cada novo álbum que fizermos será o resultado de mais um desafio ultrapassado. Continuaremos a deixar a nossa música expandir-se ou contrair-se, dependendo do que quisermos dizer e da forma como decidimos dizê-lo. E QUEM ESCREVE AS LETRAS QUE NÃO VÊM DE POETAS IRLANDESES? OU, POR OUTRAS PALAVRAS, QUEM É O POETA DE MOURNING BELOVETH? Eu escrevo todas as letras, palavras, expressões, conceitos… pedidas emprestadas, reutilizadas, requentadas. De qualquer modo, todas as palavras já foram usadas por alguém antes… o tempo e o espaço alteram o que elas significam para cada um de nós. UM ÁLBUM TÃO MARAVILHOSO NÃO PODIA EXISTIR SEM UMA CAPA TÃO FASCINANTE COMO INTRIGANTE. O QUE REPRESENTA AQUELE DESENHO MISTERIOSO? É o emblema de MB … nobre e orgulhoso. E COMO O RELACIONAM COM O ÁLBUM? REFERE-SE A ALGUM CONCEITO SUBJACENTE A ESTE? OU A ALGUM ELEMENTO DA ANTIGA CULTURA GAÉLICA? Bem, é o nosso logo. As palavras no álbum dizem tudo o que queremos mostrar. Há um antigo mapa estelar na edição em CD… para descobrir, para abrir, para sugerir. QUEM O FEZ? O nosso logo? Alan [Averill] dos

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Primordial, aí há 20 anos atrás. O Sven da Van Records embalou o nosso novo álbum de uma forma maravilhosa… e a versão em vinil é de um tom de branco que faz pensar em osso… francamente estou orgulhoso de algo tão bonito. É MUITO DIFERENTE DAS CAPAS DOS VOSSOS ÁLBUNS ANTERIORES. POR QUE MUDARAM DE ESTILO? Raramente ficamos completamente satisfeitos com as capas dos nossos álbuns. Estávamos a preparar uma para este, quando a editora sugeriu que se pusesse apenas o nosso logo em dourado… ficou perfeito. SABES FALAR A ANTIGA LÍNGUA DO TEU POVO? Sim, sei… não tão bem como devia. Consigo ler gaélico e compreender o que me dizem, mas começo a ter dificuldades em falar e escrever. E isso é muito triste, porque o mundo está a tentar tornar-se numa massa uniforme (em termos de raça, cor, credo, língua, consciência)… cada um de nós é um indivíduo, diferente… nunca esqueças isso… mas, se calhar, já é tarde demais… VI A LISTA DE CONCERTOS INCLUÍDA NA INFORMAÇÃO DADA PELA VOSSA EDITORA. POR QUE NÃO VÃO FAZER CONCERTOS NA IRLANDA? O VOSSO POVO NÃO GOSTA DA MÚSICA DE MOURNING BELOVETH? Já tocámos no Festival Fires of Samhain, em novembro [de 2015], diante de 400 pessoas. Nos últimos anos (10-15), a cena tornou-se muito maior, mas também se fragmentou bastante e, em Dublin, passam muitas bandas em digressão, pelo que há concertos quase todos os

fins-de-semana… e até durante a semana. Como sempre, a cena underground sofre… mas não vamos desistir. Os nossos concertos recentes (mais ou menos e 3 em 3 anos) foram sempre bem seguidos… mas também queremos tocar em países onde nunca estivemos antes. As pessoas na Irlanda amam-nos ou odeiam-nos… NÃO PODIAM PENSAR EM VIR A PORTUGAL? SOMOS FÃS DE MÚSICA EXTREMA IRLANDESA (AINDA RECENTEMENTE OS PRIMORDIAL PARTICIPARAM NUM PEQUENO FESTIVAL EM LISBOA) E TAMBÉM DE DOOM METAL (MY DYING BRIDE TÊM MUITOS ADMIRADORES PORTUGUESES, COMO SE PÔDE VER, QUANDO TOCARAM NO VOA, UM FESTIVAL PERTO DA CIDADE ONDE VIVO, HÁ ALGUNS ANOS ATRÁS). Adoramos Portugal. Na nossa primeira digressão, em 2003, fizemos dois concertos no vosso país e, desde essa altura, já aí fomos mais três vezes, a última das quais foi no ano passado, em que participámos no Festival Under the Doom. Foi fantástico. Gostamos do vosso país… do peixe e das pessoas simpáticas… amáveis… do vinho, que é bom e barato… Arranjem-nos alguns concertos e nós apareceremos aí. É tão simples como isso. https://www.facebook.com/ MourningBelovethBand/ https://youtu.be/hOf24w_b7jI

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