Versus Magazine #31 Junho / Agosto '14

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…Venha a trilogia! Menace é, como Mitch Harris lhe chama, o trabalho de uma vida. O que é mais importante neste trabalho bastante ecléctico é que Harris não se ficará por um só álbum. Na entrevista confessa-nos que quer mais. Mais dez anos e uma trilogia. «Impact Velocity» é… diferente! Se Mitch cumprir o que nos disse, mais mudanças virão e nós, infelizmente, só podemos aguardar. Antes de mais começo esta entrevista dizendo-te que é um prazer entrevistar-te, visto que os Napalm Death são uma das minha bandas favoritas e “Unchallenged hate” foi a primeira cover que fiz para um concurso da EARACHE. Bons velhos tempos. Mas, estamos aqui para falar dos MENACE. Já passou algum tempo desde o lançamento de «Impact Velocity» e não vou perguntar se foi bem recebido, porque acredito que sim. Então, PARABÉNS pelo álbum! Mitch Harris: Muito obrigado. É sempre bom saber que gostaste do álbum. Eu acho que foi bem recebido mas sinto que só chegará à sua plenitude quando começarmos a tocar ao vivo e dar vida aos conceitos. Tu afirmas que os Menace são o resultado de uma vida de trabalho. Esse trabalho, também, está reflectido nos Napalm? Claro que está reflectido nos Napalm Death. Foi aqui que, principalmente, ganhamos a nossa experiência. Ao longo dos anos as minhas influências têm-se estendido a bandas melódicas, principalmente, com vocalistas femininas. Eu cresci a apreciar diversos instrumentos e estilos musicais. Sobre os ND tenho uma forte visão de como 6


devem soar e não crio nenhuma resistência a isso. Às vezes escrevo material que é bastante inadequado para qualquer coisa quando visualizo a abordagem vocal e, também, a adição de instrumentos como violoncelo, viola, violino, elementos eletrónicos, bateria e sons sci-fi. Em todo o material que tinha para os Menace senti essa sensação épica e isso era algo que eu queria explorar totalmente ou, pelo menos, dar um arranque para o que aí vem. Tem em atenção que também houve muitos temas que nem de perto nem de longe se enquadravam nos Menace e, por isso, foram removidas. Para mim, «Impact Velocity» foi evolução lógica de tudo em que tenho vindo a trabalhar nos últimos 28 anos, incluindo todas as influências, na realidade foi como uma experiência científica. O aspecto lírico permitiu-me desabafar de uma forma poética, assim como um diário público, exprimindo todos os sentimentos criados pelas dificuldades e tentando criar novas formas positivas de libertar essa energia que era necessária para o próximo passo. É apenas uma transição e um ponto de partida para o que está por vir. O tema “The Wolf I Feed” do «Utilitarian» criou-me o desejo de experimentar diferente tipos de vozes emocionais, tentando recrear o sentimento que envolvia a minha vida. Naturalmente assumi que tinha de gritar mais mas às vezes era inapropriado e isto, para mim, foi o

ponto de viragem. Eu sabia que haveria criticas mas isto era muito pessoal para eu me preocupar com o que os outros pensavam. Como este trabalho está agora completo tens intenções de estender este projecto (com uma abordagem idêntica) por mais anos ou isto é, somente, um álbum entre os de Napalm? Menace é algo que planeio segui pelo menos nos próximos 10 anos. Derek roddy também está concentrado neste projecto, em construir e desenvolver algo sobre o que já está feito, com a ajuda do produtor e amigo Russ Russell. Nicola Manzan foi como um apóstolo para mim e os arranjos que fez para a orquestra foi tudo o que imaginei. Eu quero mais, pelo menos uma trilogia. Até lá, o projecto já poderá estar tão afastado que fará mais sentido um novo nome. Não sou muito apologista de viver de expectativas ou de limitar o potencial de um tema que até poderá ser muito bom. A tournée será o próximo ponto da agenda. O manager e o agente certo serão uma parte integrante desta aventura. VERSUS Magazine classificou «Impact Velocity» com 9/10. E concordo contigo… “esperar o inesperado”. Para mim, eu não esperava isto. O que mais gosto no álbum são as melodias negras e dissonantes, por vezes a melancolia e o som quase primitivo, entre outros. Tudo isto combinado confere aos Menace um estilo bastante ecléctico e difícil de definir – entre outros, Metal Experimental, Heavy Rock… Sendo assim, como é que defines os Menace? Hmmmm, tens a certeza que queres saber? Fico contente por teres falado no ambiente e por vezes na melodia mais “negra”. Também gosto de musica mais “luminosa” e alegre e, por isso, tentei incorporar esse tipo de sentimento no álbum. A maior parte das vezes, as letras dão o mote para o ambiente dos temas, contam uma história, dão-lhe um final paradoxalmente desconhecido e desconsiderado. A variedade de estilos dificulta a classificação da nossa música e eu tenho muito orgulho nisso. Foi um verdadeiro achado. Para mim a parte melancólica é sempre um ponto alto. O uso das harmonias pode estender esse sentimento e projectá-lo de uma forma mais positiva, com a mais natural e simples razão de partilhar os sentimentos por que todos nós passámos. No estúdio, misturámos “Multiple Clarity” e o Russ silenciou tudo à excepção das cordas e voz. Isto tocou-me, de repente era uma coisa orquestrada tipo “Fantasma da Ópera”. Com a voz incluída apercebime que nem eu estava à espera disto. Gosto muito de bandas sonoras de filmes, animações… essas coisas, todas elas se complementam. Ouvir os temas de 7


uma forma clássica fez-me ver que estas são, na realidade, composições. Claro que os temas do álbum foram feitos, em primeira mão, em torno da guitarra e da bateria e tudo o resto teve que ser trabalhado à volta das melodias já existentes. O nosso tempo era limitado e tivemos que dar prioridades aos aspectos fundamentais. Agora que sei que é possível e com o que já está feito, o próximo material será trabalhado em torno das vocalizações e os outros instrumentos estruturados de forma a complementar as vozes e aí será muito mais difícil de classificar. Acho que a fórmula assenta no Rock, baseada nas minhas raízes de infância dos Beatles, Pink Floyd, The doors. Estas bandas quebraram barreiras com as mais imprevisíveis e inovadoras abordagens musicais, tinham letras com significado e uma ampla visão do mundo. Inovaram em termos tecnológicos e ajudaram a criar um clima musical que coexiste com as tendências actuais. Criaram a estrutura de base do Rock e da música ocidental em geral. Sou inspirado por tudo o que depois disso continuou a derrubar barreiras ou a criar canções cheias de significado e emoções. Com estas influências e a tecnologia actual, tudo é possível. Gostaria de explorar para além dos limites da música convencional. A coisa mais importante na arte é a história que conta ou a mensagem que transmite e a forma de as comunicar à audiência de forma eficiente. A simplicidade e a disciplina são duas realidades muito difíceis de gerir. Uma vez que não possuo qualquer conhecimento teórico sobre música, trabalho de forma espontânea e construo as minhas obras em torno das ideias que me parecem mais fortes e adequadas. Deixo-me levar por diversos instrumentos, meios visuais, pela poesia, pela filosofia. Penso que é tudo psicológico. Assim, obtenho trabalhos que preciso de partilhar, para os apreciar melhor.

aberta e inteligentes. Assim, tomei consciência de que a surpresa suscitaria críticas. Pessoalmente, não tenho medo das críticas negativas. Há muito tempo que deixei de me preocupar com o que as pessoas pensam, porque isso castra a tua criatividade. De qualquer modo, também não valia a pena sofrer por antecipação: quem pode prever o que as pessoas vão pensar sobre um álbum? Pensei nisso, durante muito tempo, e cheguei sempre à mesma conclusão, a única possível. Que devemos seguir o nosso coração, a nossa alma e optar por uma direcção que valha a pena seguir, porque entra em novos campos em que andávamos a pensar há anos. Afinal, estava envolvido num puzzle complexo, gerado por um impulso criativo, de que ninguém conhecia a saída, inclusive eu. Foi certamente a coisa mais ousada e criativa em que me vi envolvido até ao momento presente. Tratava-se de ver para além da nossa audiência habitual e, de alguma forma, entrar em contacto com aqueles que esperam um nível de comunicação musical diferente. Ninguém pode agradar a todos, antes de mais temos de agradar a nós mesmos.

Menace é algo que planeio segui pelo menos nos próximos 10 anos.(…) Eu quero mais, pelo menos uma trilogia.

Menace é muito diferente das outras bandas com quem tens trabalhado. Durante o processo, houve algum momento em que tivesses sentido alguma “resistência” a «Impact Velocity»? Sim, muita mesmo, sobretudo no que dizia respeito às vozes. Enquanto estava a compor e a fazer experiências, a tentar desenvolver estilos e aplicar os meus conhecimentos de harmonia, o meu principal objectivo era escrever linhas para a voz que complementassem a música e fossem simultaneamente significativas e memoráveis. Houve alturas em que vi perfeitamente que o efeito obtido não iria agradar à maioria dos nossos fãs habituais. Mas também sei que a maioria deles são pessoas de mente 8

Uma coisa que me chamou a tenção foram os pseudónimos que escolheste: Cygnus, Synergus… Tèm alguma coisa a ver com a história ou conceito subjacentes ao álbum? Ainda bem que reparaste nesse pormenor. Tudo isso começou quando, em 1999, escrevi um guião para um filme baseado num sonho/revelação. Estudei para fazer o meu próprio filme. Queria fazer música para bandas sonoras de filmes e pareceu-me que ninguém viria bater à minha porta, portanto comecei eu próprio a fazer a música. Para isso, aprendi a compor e criar sequências, usando ferramentas primitivas. A história do filme era complexa e tinha 12 personagens-chave. Seleccionei as personagens mais importantes da história e atribuílhes nomes concetuais, que me abriram portas e me deram um ponto de partida. Eu irei assumir essas personalidades no palco e cada membro será uma pseudo-versão de si próprio e das personagens da história. Cygnus e Synergus fazem parte de uma dupla personalidade: representam o passado-presente e o futuro da minha identidade. Estas personagens vão expandir-se, para encontrar alguém em quem encarnar através do uso de máscaras e de imagens. Li algures que tinhas a intenção de trabalhar com o Max Cavalera. Ele é um guitarrista e vocalista exímio. Por que razão ele não se juntou à banda?


Com ele a assegurar a voz, o álbum teria sido muito diferente. Afinal, não é conhecido por ter uma voz limpa. É verdade que queria trabalhar com ele. Antes de mais, somos grandes amigos e pessoas muito ocupadas. É claro que o conceito inicial do álbum era tanto diferente do actual. O facto de eu ter decidido assumir todo o trabalho relacionado com a voz levou-me a escolher canções diferentes, que procurei combinar para construir uma visão coerente do futuro. Isto é algo prioritário para mim, portanto é essencial que os elementos-chave estejam disponíveis, caso surjam boas oportunidades para fazer espetáculos. Geralmente, nas entrevistas que faço, peço para me falarem de uma faixa em particular – geralmente aquela de que gostei mais –, mas como, desta vez, o meu entrevistado é o gramde Mitch Harris vou pedir-te que me fales de duas: “I Live With Your Ghost” e “Painted Rust”. São duas canções que me parecem muito pessoais e obscuras. Podes dizer-nos alguma coisa sobre elas? Ahahahaha, boa! Ora bem, o riff de guitarra que usei na primeira andou a assombrar-me durante quase 2 anos. Por alguma razão, andava sempre a soar na minha cabeça. Por isso, usei a palavra “ghost” no título da canção. Acabei por gravar a canção com o Russ e fiquei muito entusiasmado. Era tal e qual assim que eu a via. Tinha uma letra com cerca de 12 páginas para essa canção e a minha filha Sequoia ajudou-me a escolher a parte que tinha mais a ver com a minha situação corrente. Queria gravar um vídeo para essa canção, portanto escrevi a letra como se fosse uma espécie de guião, para orientar e inspirar a animação. Era algo sobre “sentir-me invisível”, interrogar-me sobre se alguém daria pela minha falta, se eu desaparecesse. Pensamentos dolorosos, que era preciso exprimir. No fundo, trata-se de uma reflexão sobre a coexistência com alguém que, em tempos,

foi muito importante para ti, de fechar um capítulo e passar à página seguinte. “Painted Rust” tem uma introdução atmosférica e progressiva. Também andou na minha cabeça durante muito tempo. Tinha um cariz épico, era muito sentida e descrevia o modo como eu me sentia naquele momento da minha vida, com as paredes a desmoronarem-se à minha volta. Tudo o que podia correr mal estava a acontecer. Eu era o último a abandonar o barco que estava a afundar-se. Estava a perder a minha casa e vivia lá sem aquecimento, acordava às 5 da manhã, enregelado, com o nariz a pingar, embrulhado num cobertor. Estava no pórtico na parte da frente da casa, a pensar nas ideias vocais que me vinham à cabeça. Apercebi-me de que eram 4 da manhã e de que me ia embora no dia seguinte, para nunca mais voltar. Fui para a sala de estar e pus-me a cantar às 4 da manhã. Experimentei muitas coisas, porque tinha páginas e páginas de letras. Isso ajudou-me a criar uma representação mais clara da forma como me sentia perdido. Sabia que era algo que tinha mesmo de fazer e foi a última coisa que gravei. Penso que foi o culminar de tudo o que eu tinha aprendido a cantar as outras canções. É um arranjo singular, mas produz o efeito desejado e ajuda a contar a história. No fundo, podem sair coisas muito positivas dos momentos em que te sentes a soçobrar. Sem esse escape, eu ter-me-ia afundado. São instantâneos de um momento temporal. A minha vida modificou-se desde essa altura e sinto-me grato por poder seguir o meu caminho com alguns dos melhores músicos à superfície da Terra. Abençoados sejam! Vi que N. Manzan toca violino, violocelo, viola, que podemos ouvir em “Painted Rust” ou “To the Marrow”. A orquestração é muito subtil e dá ainda mais relevo ao álbum. Mostra como fizeram este trabalho de forma séria. Foi ideia tua ou do Manzan? Bem, nem sempre é muito subtil. Já tínhamos muitas coisas feitas e, por vezes, mesmo as melodias mais grandiosas complicam tudo e afastam-nos dos aspetos-chave das canções. “Painted Rust” dava mais espaço para esse tipo de manobras, porque eu fiz um trabalho minimalista nessa altura. No caso de “To the Marrow”, eu tinha pensado nas linhas para os instrumentos de cordas e o Nick expandiu as minhas ideias. “Painted Rust” foi totalmente arranjada por ele e os arranjos que fez converteram uma estrutura essencialmente acústica e progressiva numa canção épica. Adorei tudo o que o Nick acrescentou e o apoio que ele me deu durante todo o processo. É um amigo fiel e sempre capaz de me compreender. É maravilhoso trabalhar com alguém que tem tanto 9


Menace é algo que planeio segui pelo menos nos próximos 10 anos.(…) Eu quero mais, pelo menos uma trilogia. conhecimento teórico para ajudar a realçar a minha forma primitiva de abordar a composição. Não consegui encontrar nenhuma informação sobre concertos vossos. Vai haver alguns? Contam vir a Portugal? Portugal não pode faltar na minha lista de países onde quero ir tocar. Contamos entrar em contacto com alguma banda interessante e aparecer por aí no próximo ano. E, para terminar em grande, fiquei sem palavras perante os vídeos que fizeram para “Painted Rust” e “To the Marrow”! Ksenyia Simonova é uma artista excecional! Boa sorte para a angariação de fundos e ajuda a Marina Loskutova. (Mais informação em: http://www.season-of-mist.com/ bands/menace) Obrigado pela entrevista. Eu é que agradeço as tuas perguntas tão inspiradoras. Kseniya é um anjo, foi capaz de ver a emoção que eu procurava exprimir e por que queria pô-la cá para fora e juntos conseguimos fazer tudo o que era necessário para ajudar alguém que precisa. Esforceime mesmo para chamar a atenção para o caso da Marina e os vídeos revelam o que se pretendia. Já se comprometeu a tocar connosco no próximo ano. Vai ser algo de extraordinário! Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro


Os advogados da Natureza Talento e simpatia são certamente características de Andreas Hedlund (aka Vintersorg ou Mr V.), a “alma” da banda sueca do mesmo nome. Pegando num tema-chave da nossa cultura – os quatro elementos – a banda tem em curso a criação de uma tetralogia de que este «Naturbal» - consagrado ao fogo – é a terceira peça. Ficamos a aguardar a chegada do quarto elemento! O que tem a Natureza a dizer aos humanos? Mr V: Na minha opinião, muito, porque nós humanos já quase esquecemos que ela é a nossa origem e que temos de cuidar dela. A impressão que eu tenho é que a Humanidade foi amaldiçoada com uma forma de megalomania que nos leva a pensar que a Natureza está aqui para nós a explorarmos. É uma desmoralização, já que devíamos antes tomar consciência de que fazemos parte dela e que somos apenas mais um animal integrado no sistema ecológico. O egoísmo e a ganância são os dois pilares deste edifício. Temos de regressar à base e de procurar mesmo encontrar um equilíbrio na nossa relação com a Natureza. Devíamos aprender com ela e não explorá-la. Como combinam preocupações com o ambiente e Metal? Não faço parte do Green Peace, mas mantenho uma relação estreita com a Natureza e passo muito tempo ao ar livre. Adoro contemplá-la e acho-a muito in-

spiradora e criativa. Recorro a ela como fonte de inspiração para compor a minha música e escrever as letras. Todas as letras de Vintersorg fazem referência à relação do Homem com a Natureza e foi sempre assim desde o início. Não apostamos em mensagens políticas ou religiosas, éticas, relativas aos cuidados a ter com a Natureza. Tudo o que escrevo destina-se a fazer refletir sobre aspetos relacionados com esse tema. Não pretendo ensinar a ninguém o que deve fazer, corrigir a maneira de viver e agir dos outros, mas espero que as letras das minhas canções façam pensar no tesouro que a Natureza representa para nós e na rapidez com que a Humanidade o está a destruir. Ao que parece «Naturbal» é bastante diferente dos vossos outros álbuns. Onde reside a diferença? E o que pretende transmitir? Confesso que não pensei muito nisso. Quando componho, faço-o de uma forma emocional e apaixonada. E o que saiu desta vez foi o que podes ouvir neste ál11



“[…] devíamos antes tomar consciência de que fazemos parte dela [Natureza] somos apenas mais um animal integrado no sistema ecológico. […]” bum. O que eu tinha em mente era apostar um pouco mais do que no passado numa abordagem musical próxima do folclore escandinavo e também numa abordagem mais direta. Cada álbum representa um capítulo da nossa existência e permite-nos expressar a nossa identidade. Habitualmente, não comparo os álbuns de forma tão sistemática, porque cada um deles tem uma entidade distinta, associada ao que nós somos/éramos naquela altura. Quem convidaram para os vocais femininos? Desta vez, convidámos duas cantoras suecas e elas fizeram em excelente trabalho. Já estava a pensar em vozes femininas, quando compus as duas faixas em questão e a sua presença era importante para criar a atmosfera adequada nas suas diferentes partes. Não se tratou apenas de criar espaço para a inserção das vozes femininas, elas faziam parte do “esqueleto” dessas canções desde o início. Normalmente, procuro determinar que efeito pretendo criar com cada canção que escrevo e parto daí para lhe dar vida. Mas, até à versão final, estou sempre a tirar e a acrescentar elementos. As duas cantoras chamam-se Frida e Helena. A primeira é da nossa cidade, mas a outra vem de uma parte diferente da Suécia e, no passado, fez parte de várias bandas de Metal.

descortinar o que o nosso povo viu na Natureza. Não me preocupo propriamente em escrever sobre todas as criaturas que estão representadas no nosso folclore. Que planos fizeram para promover este vosso álbum? Estoou a faze-lo neste momento. Dar muitas entrevistas faz parte da nossa estratégia. Queremos falar sobre o álbum, a sua história, em suma tudo o que chamar a atenção das pessoas. O último álbum de Borknagar também tratava da Natureza. Não tens medo de que vos acusem de repetir ideias? (Estou a tentar ser um pouco provocadora.) Todos os álbuns de Vinstersorg e Borknagar falam da Natureza. Mas nós [Vinstersorg] vemo-la de ângulos diferentes, em cada um dos nossos álbuns, e adotamos uma abordagem filosófica. Não nos limitamos a falar do que nos rodeia. Alguns dos nossos álbuns até tinham uma ponta de abordagem científica, enquanto outros são mais “românticos”.

Como é fazer parte de duas bandas tão produtivas em simultâneo? É o máximo!!! Estou a viver o melhor tempo da minha vida e a explorar as várias facetas musicais da minha De que forma a capa do álbum se relaciona com o identidade. seu conceito de base? Este álbum é a terceira peça da nossa tetralogia sobre os quatro elementos. Trata exclusivamente da forma Entrevista: CSA como o FOGO atua na natureza e do modo como este afetou a vida humana desde o início dos tempos. Daí a enérgica imagem da capa. Gostamos que os nossos trabalhos sejam coerentes e a capa do álbum é sempre FACEBOOK uma peça importante do conjunto. Tem de estar bem www.facebook.com/vintersorganic articulada com a música e as letras. Todas as partes do puzzle têm de estar ao mesmo nível. Penso que, mais VIDEO uma vez, conseguimos fazê-lo. www.youtu.be/J5ZkmxiWUok Que relação existe entre este álbum de Vintersorg e o folclore sueco (tendo em conta as vossas tradições culturais)? Bem, eu sempre explorei as nossas tradições folclóricas, ao longo de todos estes anos, até porque as conheço bem. Vintersorg é uma banda consagrada à adoração da natureza, muito mais do que ao folclore. Mas, de vez em quando, gosto de “dar sabor” à nossa música… de uma forma retrospetiva. Significa isto que olho para o passado da nossa cultura e procuro 13


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A eterna diade Já o entrevistámos com Workshop e Reptilian Death. Finalmente, chegou o momento de falar com Sahil Makhija (aka The Demonstealer), sobre a sua terceira banda – Demonic Resurrection – e o lançamento de «The Demon King», em que se faz a ponte entre a parte da cultura oriental representada pela Índia e aspetos da cultura ocidental. Os fãs estavam à espera de um novo álbum de Demonic Resurrectoin já há alguns anos. O que andou a banda a fazer durante este tempo? Como te sigo no facebook, tenho boas razões para pensar que têm andado muito ocupados. Por que vos pareceu que esta era a altura ideal para lançar um novo álbum? Sahil Makhija – O nosso último álbum saiu em 2010 14

e até 2012 andámos em digressão para o promover, ao mesmo tempo que trabalhávamos no novo material. Este álbum já estava pronto me 2012, mas precisámos de um ano para o gravar e de outro para tratarmos dos pormenores do lançamento, pelo que só agora [em julho de 2014] o temos pronto para sair. Durante estes quatro anos, tivemos muitos momentos bons, mas também um período de azar, que


criou grandes dificuldades à banda. Mas esse período difícil pertence ao passado e sentimo-nos mais fortes do que nunca agora que temos «The Demon King» pronto para ser lançado. É um álbum de Death Metal, intitula-se «The Demon King», tem vocais ferozes, mas está cheio de melodia. O que queriam exprimir com este álbum? Trata-se de uma nova história que queríamos contar. Os nossos três últimos lançamentos constituem uma espécie de “trilogia das trevas”. Agora precisávamos de algo novo para contar e o Mephisto [o teclista da banda] sugeriu que contássemos a de Ravana, que é o rei dos demónios na mitologia hindu. A nossa história acabou por ficar muito diferente daquela de que partimos. Basicamente limitámo-nos a usar a personagem mítica. A aposta na melodia deriva do nosso gosto pelo Power Metal de bandas como Blind Guardian e Kamelot. O Mephisto adora o estilo do Vortex, influenciado por Dimmu Borgir. Portanto, a melodia é um elemento de base do nosso som.

Quem fez o quê neste álbum? Eu ocupei-me da maior parte da composição e o Mephisto trabalhou arduamente nas partes orquestrais de todas as canções. Na guitarra principal, tivemos o Daniel Rego, que já não faz parte da banda. O Ashwin Shriyan juntou-se a nós no início de 2012 e gravou as partes do baixo neste álbum. Mais uma vez, chamaste o Xaay para fazer a arte para o álbum. Nem preciso de te perguntar por que o fizeste, já que entretanto o entrevistei para a Versus como artista gráfico e sei do que ele é capaz. Como combinaram os vossos esforços para produzir arte capaz de exprimir a mensagem contida em «The Demon King»? A arte também demorou cerca de um ano a fazer. Entrámos em contacto com ele online e explicámoslhe o que pretendíamos e as nossas ideias e também lhe enviámos algumas imagens de referência e ele partiu daí. Envolvemo-nos sempre muito no processo e o Xaay vai enviando informação relativa aos vários estádios do artwork em curso. Portanto, foi um processo longo, cujo resultado é algo de belo e 15


magnífico, que traduz exatamente a visão da banda. Quem mais esteve envolvido na arte para este álbum? Ninguém. Foi tudo feito pelo Xaay, à exceção de uma t-shirt, feita pelo Rivan, da Indonésia, que venceu o concurso que lançámos. O seu estilo gráfico é o ideal para t-shirts, especialmente na Índia. Imprimir aqui algo dessa natureza feito pelo Xaay seria muito difícil. Podemos dizer que «The Demon King» é uma espécie de epopeia? Sim. Os fãs poderão seguir a narrativa através das letras das canções. Sem querer fazer um resumo da história, gostaria de chamar a atenção para o facto de que esta se relaciona com o tema da eterna luta entre o Bem e o Mal e de como seria bom que o segundo não existisse. É um tema bastante filosófico. Que relação existe entre este álbum e a vossa cultura nativa? Não muita, como já expliquei, apesar de termos recorrido ao imaginário da cultura hindu. Atualmente estou mais interessado na mitologia, pelo que o nosso próximo álbum deverá situar-se nesse contexto. Segundo percebi, encarregaste-te da maior parte do trabalho de gravação. Foi assim mesmo? Sim. Quando criei esta banda, gravava as minhas canções no meu quarto, usando o meu computador e, mais tarde, trabalhava-as num estúdio com um engenheiro de som. Ao longo da minha carreira, sempre gravei os trabalhos das bandas de que faço parte. Fica mais barato e permite-nos investir os nossos recursos financeiros nas digressões, que são sempre muito dispendiosas.

Também fazes esse trabalho para outras bandas? Sim, também sou produtor e desempenho essas funções para muitas bandas locais. Faço esse trabalho desde que fundei Demonic Resurrection. O que vai esta tua banda fazer nos próximos tempos? Neste mesmo momento em que estou a responder à tua entrevista, estamos digressão no Reino Unido. Vamos fazer alguns concertos com De Profundis e depois vamos associar-nos à digressão de Onslaught. Já tocámos no Les-Fest, na Escócia, e no Sonisphere, em Knebworth. Vamos terminar a nossa digressão com um concerto no Wacken Open Air, na Alemanha. Esperamos fazer mais digressões, quando regressarmos à Índia. Contamos lançar um vídeo em breve. Com vês a tua ação e a da tua banda na cena metal indiana? Não sei dizer ao certo. Sempre trabalhei para Demonic Resurrection e fiz o que era necessário para que a banda tivesse sucesso. Se isso implicar criar uma cena de raiz, sou capaz de o fazer. Penso que é importante para as bandas nossas conterrâneas vernos ter sucesso, porque isso poder dar-lhes a esperança de que um dia também isso se tornará realidade para elas. Entrevista: CSA FACEBOOK www.facebook.com/Demonstealer VIDEO www. youtu.be/uttIf5zDBl8


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Poder, melodia e‌ um 18


m futuro tenebroso! 19


Stefan Weinerhall, o “falcão” de Falconer, procura explicar-nos como se consegue fazer um álbum tenebroso usando música supostamente alegre como o Power Metal com laivos de Folk Metal. Vocês são veteranos nestas lides e uma banda muito curiosa. Gostei muito do vosso álbum, porque, numa primeira abordagem, parecia muito direto e, mais tarde, constatei que estava cheio de subtilezas musicais. Stefan Weinerhall – É verdade. É frequente tentarmos – e conseguirmos – fazer soar a nossa música tal e qual como a pensámos. Desta vez, compus Metal mais simples e direto e queria que tudo ficasse assim, para obter essa vibração terra a terra. Poucas harmonias, nada de teclados, nenhum convidado, nada de som polido e suave. Li que fizeste parte de outra banda antes de Falconer. Por que decidiste fundar uma nova banda para fazer este tipo de música com vozes limpas? É mesmo uma característica que vos distingue de outras bandas. No fim dos anos 90, eu já quase não ouvia música brutal. Tinha regressado ao Heavy Metal e cada vez gostava mais do Rock e da música progressiva dos anos 70. Portanto, acabei por chegar à conclusão de que queria compor e tocar esse tipo de música. Houve outros fatores que ajudaram: a editora de Mithotyn tinha acabado e estávamos todos mais ou menos fartos dessa banda, pelo que decidimos desistir dela. Eu já estava a pensar em sair, mas ainda não tinha ideia do que iria fazer a seguir. Gostava das melodias de Mithotyn, mas queria adaptar essa música a uma voz limpa e a um estilo de composição mais Heavy Metal. Portanto, escrevi quatro músicas e, quando estavam prontas, pus-me a procurar um vocalista que, pelo menos, pudesse cantá-las em estúdio, principalmente para eu ver 20

como soariam. Parecia-me que as músicas estavam um tanto estranhas. Então, encontrei o Mathias, ele aceitou cantar aquelas músicas e elas ainda me pareceram mais bizarras do que eu as tinha visto. Não era bem aquilo que eu tinha planeado. Depois de termos conseguido um contrato para gravar, concluí que o Mathias tinha a voz ideal para a nova banda. O que significa o nome da banda? Nada de especial. É um nome interessante e fácil de reter, que dá ao ouvinte a noção de que a nossa música tem algo de medieval. Para mim, o falcão representa a liberdade, mas não é esse o sentido que dou ao nome da banda. Vocês parecem ser uma banda muito heterogénea. Nas fotos que constam da Metallum, estão vestidos de acordo com vários códigos, incluindo o séc. XVIII e o séc. XIX, mas também as modas atuais. Essas opções em matéria de vestuário têm algum significado especial, ou são apenas um reflexo dos gostos de cada membro da banda? Muitas das nossas letras tratam de temas históricos e a História é, sem dúvida, uma das minhas paixões. Penso que aparecemos assim para adaptar as fotos da banda ao espírito do álbum. Como combinam Power/Folk Metal, geralmente visto como um tipo de Metal bastante alegre, com um tema tão tenebroso como este «Black Rising Moon»? Embora seja habitual pensar-se que o Power Metal ou o Folk Metal são géneros “felizes”, na realidade, muitas das nossas letras são bastante tenebrosas e deprimentes.

De qualquer modo, para mim, a música que escrevo não é, nem alegre, nem triste: é apenas bonita. Nunca tentámos ter uma determinada imagem, ou parecer “Metal” e fixes. As primeiras fotos que tirámos, em 2001, dificilmente poderiam ser menos Metal: vestíamos camisolas de malha, roupas que serviriam perfeitamente para fazer daquelas fotos de família, bem bonitinhas. O que aconteceu na altura foi que a editora acrescentou umas chamas às fotos e ficámos com um ar muito estranho. De onde vem esta “lua”? O título do álbum é também o de uma das canções, em que a lua, de algum modo, simboliza o futuro. O falcão representa a humanidade a voar em direção a um horizonte morto. As letras deste álbum têm muito de ambientalista. Por que escolheram uma ave negra – e não uma lua – para ilustrar a capa do álbum? Foi uma escolha vossa ou do artista que a fez? Foi sobretudo uma ideia minha. Sempre que pensava na capa, via nela um falcão com asas de fogo e uma lua negra sobre um fundo vermelho. Esta imagem veio-me à cabeça, quando estava a escrever a letra da canção que deu o título ao álbum e aproveitei-a, porque me pareceu que esta capa tinha de ser mais Metal do que é costume nos nossos álbuns, porque este também é mais áspero e intenso. Ao ouvir o álbum, senti um pequeno sabor a Sentenced nas vossas guitarras. Que bandas vos influenciam, se é que há algumas? Não me lembro bem do som dos


“[…] O falcão representa a humanidade a voar em direção a um horizonte morto. As letras deste álbum têm muito de ambientalista.” Sentenced, mas, de facto, inicialmente, tinha decidido que o álbum se intitularia «Dead Moon Rising». Mas depois descobri que essa banda finlandesa tinha uma canção com esse título e mudei-o. Apesar de não os ver exatamente como influências, penso que a música que faço é, de algum modo, condicionada pela minha paixão por bandas como Iron Maiden, Jethro Tull e Running Wild. É quase inevitável que algo de que gostas muito venha a afetar-te, mais tarde ou mais cedo. O que dirias, se tivesses de apresentar este álbum, mostrando que é diferente dos outros que a banda já lançou? Diria que está mais centrado nas guitarras. Há mais riffs e maior velocidade. De um modo geral, parece-me mais veemente e menos polido do que o que fizemos antes,

embora mantenha as características típicas do nosso som. Só o tornámos um pouco mais agressivo. A vossa banda parece andar à procura de um ponto de equilíbrio entre a vontade de partir em digressão e a dificuldade em o fazer. Que planos traçaram para promover este álbum? Não planeámos nada. Apenas sabemos que vamos fazer um vídeo lá para o fim do verão. Inicialmente, tínhamos pensado em tocar em alguns festivais de verão, mas comecei a tratar disso demasiado tarde, logo não arranjei nada que me agradasse, Já não tocamos ao vivo desde 2009, portanto é altura de nos dedicarmos a isso. Vou voltar a tentar no início do próximo ano. Contudo, não tocámos para promover os nossos álbuns. Fazemo-lo sobretudo

porque queremos que os nossos fãs tenham uma oportunidade de nos ver, para podermos estar juntos, para nos aproximarmos mais do público. Não queremos ser uma banda de estúdio. Tens alguma mensagem especial para os fãs portugueses? Espero que gostem muito do álbum e que, em breve, passemos pelo vosso país, para nos conhecermos. Saudações!!! Entrevista: CSA FACEBOOK www.facebook.com/falconermetal VÍDEO www.youtu.be/Lv05oHDjus4

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ASTRA «Broken Balance» (Scarlet Records) Se forem como eu e ouvirem primeiro os, também, Italianos Noveria vão achar os Astra um pouco… “leves”, se é que me entendem. É o que acho enquanto os ouço. Tentem não cair neste “erro”. Apesar de serem uma banda boa tecnicamente, não o são da mesma forma que os “irmãos” Noveria. São menos pungentes mas igualmente melódicos. Emanuele Casali é um elemento comum às duas bandas mas nos Astra, talvez um pouco menos virtuoso. «Broken Balance» é o terceiro lançamento dos Astra, muito mais virado para a coesão em vez de se centrar na virtuosidade individual. Um bom álbum de Metal Progressivo a que devem dar uma oportunidade. [7.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

CALIFORNIA BREED «California Breed» (Frontiers Records) É Rock’n’Roll, baby!! Álbum de estreia dos California Breed, composto nada mais, nada menos por Glenn Hughes (Black Sabbath, Deep Purple), Jason Bonham (Sim, filho de John Bonham) e um miúdo de 23 anos, chamado Andrew Watt. Esta estreia é realmente muito boa, os temas foram compostos a três, rock clássico, com uma pinta moderna, muito Groove e enérgico – YEAH! - Bonham tem muito de… Bonham, Hughes é um veterano com as reconhecidas capacidades vocais muito expressivas, ainda intactas e… o míudo! Andrew Watt vai dar que falar e o sucesso desta estreia deve-se, em grande parte, ao seu (MUITO) talento! [8/10] Eduardo Ramalhadeiro

DUST BOLT «Awake the Riot» (Napalm Records) O Thrash é daqueles estilos que já começa a ser difícil fazer algo de… diferente. O ano passado os Lost Society surpreenderam muita gente com o magnífico álbum de estreia. Os Dust Bolt lançam agora o seu segundo registo, novinhos, portanto. O Thrash é furioso, directo, explosivo, riffs bem rasgados e solos furiosos. No entanto, ainda lhes falta algo para os elevar a outro patamar. São competentes mas… um pouco mais do mesmo. [7/10] Eduardo Ramalhadeiro

EISREGEN «Flötenfreunde» (Massacre Records) Os Eisregen estão de volta com um mini-álbum, de cinco temas, que serve de aperitivo para “Marschmusik“ a ser lançado em 2015 e que marca o vigésimo aniversário. Os temas Industriais, com um laivos de Death/ Black Metal que os torna… interessantes! A temática lírica dedica-se ao “macabro”, algo que o meu alemão não me permitiu verificar. De qualquer das formas, estes alemães são muito controversos, tendo já três álbuns debaixo da alçada das autoridades… Fico a aguardar pelo novo álbum… cinco temas são poucos! Pelo menos despertou a minha curiosidade! [7.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

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HARK «Crystalline» (Season of Mist) A primeira faixa deste álbum estragou a minha relação com a vizinhança. Impossível de não subir o volume nem parar o headbanging. Hark vem de vestígios de Taint, e fazem tours com Red Fang e Clutch. Com isto ficam já orientados com o tipo de estalada que podem levar ao ouvir este álbum de estreia do power-trio. Além da energia há também estrutura, elevação e profundidade. Não obstem a porrada, ainda nos põem a divagar. Word up! [7.5/10] Adriano Godinho

NIGHT RANGER «High Road» (Frontiers Records) Decimo primeiro álbum dos Night Ranger e tão “fresquinho” e alegre que é! Hard Rock de muito boa qualidade no seu estado mais puro - Também é preciso variar e ouvir algo alegre e cheio de energia positiva. Coros melódicos, como não poderia deixar de ser, solos bem “rasgados”, com o meu especial destaque para o tema de abertura, “High Road” e nem a preciosa balada poderia faltar. Se tiverem um descapotável é a banda sonora ideal para uma viajem com os cabelos ao vento até à praia mais próxima! [8/10] Eduardo Ramalhadeiro

STIGMHATE «Zodacare Od Zodameranu» (Bakerteam Records) Quarto álbum destes italianos e parece que a chama deste Black Metal não se estingue. Nesta nova proposta os Stigmhate mantêm-se fiéis ao que já apresentaram nos trabalhos anteriores, sendo que a produção deste novo trabalho está muito limpinha – para grande mal dos mais puristas. Contudo, é sabido que estas sonoridades menos gélidas do Black Metal são mais explosivas. E este «Zodacare Od Zodameranu» consegue ser quase explosivo, com alguns momentos de Black Metal bem jeitosos e orelhudos, capazes de agarrar a atenção dos ouvintes mais distraídos. [6.5/10] Victor Hugo

UNLIGHT «The Katalyst of the Katharsis» (War-Anthem Records) Álbum que me passou despercebido durante este primeiro trimestre de 2014, mas que no segundo contacto me atraiu muito mais e causa algum interesse pelo sem som frio e agressivo. Para black metal não são adjectivos muito originais, eu sei, mas a verdade é que as composições chamaram-me a atenção. Trata-se do sexto álbum deste grupo da Baviera, que nos largam doze faixas de black metal não transcendente mas intenso e coeso. [6.5/10] Adriano Godinho

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URIAH HEEP «Outsider» (Frontiers Records) Os Uriah Heep estão de volta com o vigésimo quarto álbum – Já lá vão 44!!! Anos desde o álbum de estreia! Rock clássico muito no estilo Purple meets Rainbow, com o som tão característico do Hammond como pano de fundo e os solos “à lá Blackmore”. Nem os temas mid-tempo faltam, bem rasgadinhos e melodias cativantes que ficam rapidamente no ouvido. Podem juntar este aos Night Ranger para uma audição bem alegre, “fresca” e muito descontraída. São veteranos na idade mas a música que fazem é bem jovem e recomenda-se! [8/10] Eduardo Ramalhadeiro

WHITECHAPEL «Our Endless War» (Metal Blade) Quinto álbum dos norte-americanos Whitechapel, banda que se torna cada vez mais importante, tanto para editora como pelas marcas que os elementos apoiam, e também pelos fãs que não ficarão decepcionados com este «Our Endless War» que tem tudo o que o estilo da banda mais precisa: energia, riffs, velocidade e …já disse energia? Bom, de qualquer forma aqui fica uma boa quinta prestação que cresce quanto mais se a ouvir, por isso convido-os a entrar em vias de facto. [7.5/10] Adriano Godinho


Melodias outonais Mikko Lehto, o mentor de October Falls, fazendo jus a uma afirmação feita numa entrevista anterior, apresenta agora «Kaarna», uma compilação em que predomina o lado acústico e calmo da música que faz. É a segunda vez que te entrevisto para a VERSUS Magazine. Da outra vez, disseste que tanto fazias música extrema, como algo muito calmo ou quase idílico. De facto, «Kaarna» vem provar a veracidade dessa afirmação. E é mesmo um belo álbum. O que significa o título desta compilação? Mikko Lehto – Obrigado pelo elogio. Com efeito, este lançamento está bem longe da música extrema que apresentei em álbuns mais “ásperos”. Apesar de continuarem a existir afinidades entre essas diversas obras, a abordagem e o desempenho são tão diferentes que a atmosfera criada também o é. Quanto ao título da compilação, «Kaarna» refere-se à casca de uma árvore, ou seja, a uma espécie de camada exterior que junta todas as faixas deste álbum. Como apareceram estas canções? Todo o material de «Kaarna» foi composto e gravado

entre 2002 e 2010 e lançado entre 2003 e 2010. Nesta compilação, as canções não são apresentadas por ordem cronológica. A ordem que escolhi prendese com a necessidade de facilitar a introdução do material acústico neste conjunto. O primeiro disco começa por apresentar três faixas – “Usva”, “Viima” e “Polku” –, que foram originalmente lançadas entre 2008 e 2010 e apareceram em duas compilações e num split apresentado num vinil de 7 polegadas. Depois, vêm músicas do nosso primeiro álbum «Marras» -, que data de 2005. O segundo CD inclui os nossos dois EPs: «Sarastus», de 2007, e o nosso primeiro lançamento oficial - «Tuoni» -, de 2003. É provável que alguns achem esta compilação muito longa, mas deixei ficar assim, porque me pareceu que era melhor incluir todo o nosso material acústico num só lançamento do que fazer vários lançamentos. Agora, quem quiser pode ter tudo isto pelo 25


preço de um só álbum. Também decidi gravar cada sessão numa só pista, em vez de as dividir em partes, como aconteceu nas versões originais de «Marras», «Sarastus» e «Tuoni». A editora afirma que tu mesmo fizeste todo o trabalho neste lançamento. É verdade que ninguém tocou nesta compilação além de ti? Não há convidados neste lançamento. Além do mais, as canções são tão antigas que datam de uma altura em que eu era o único membro da banda. As canções de «Tuoni» foram escritas em 2002. Também me encarreguei da gravação, da mistura e da masterização do material, portanto sou o único responsável por este lançamento. Tudo o que ouves foi feito por mim. Recorri a várias camadas de teclados, percussão, guitarra acústica e cânticos da minha autoria. Por que não há vocais neste lançamento? Não me considero um bom vocalista e, quando este material foi gravado, em não conhecia ninguém que pudesse ter convidado para cantar as minhas canções. Além do mais, nessa altura, os vocais não me pareciam particularmente importantes na minha música. Limitava-me a inserir alguns cânticos de vez em quando. Ainda fiz algumas demos com vocais, mas acabei por me restringir aos instrumentos, que eu próprio tocava. De certa forma, gosto mais de compor música instrumental e penso que esta é mais desafiadora para o ouvinte, que pode assim criar a

sua própria visão da canção a partir da música, em vez de se apoiar em letras que lê. São canções de inverno ou de verão? Tanto consigo imaginá-las tocadas à beira de uma boa lareira, em dias gelados, como num lugar calmo, à sombra, num dia quente, a observar preguiçosamente os efeitos da luz na água de um belo rio. Tal como acontece com toda a música que eu compus, tanto as canções como os álbuns estão ligados a uma dada época do ano, em que eu os escrevi. Nesta compilação, há um pouco de tudo: algumas são outonais, outras invernais e outras ainda estão mais associadas à primavera e ao verão. Mas, bem vistas as coisas, este material está essencialmente ligado ao outono. Há alguma relação entre estas canções e a cultura finlandesa? Ou são exclusivamente um produto da tua inspiração? Podes dizer que são um produto da minha imaginação, mas a inspiração vem-me de diferentes fontes e uma delas é, sem dúvida, a nossa cultura. Logo, há realmente alguma relação entre o meu background cultural e estas canções, mas não se trata de uma relação linear, unívoca. No que diz respeito à música em si, não encontrarás nesta compilação melodias finlandesas tradicionais ou derivadas do nosso folclore, já que a minha inspiração cultural não vem de fontes musicais finlandesas (embora haja nestas canções uma aura melancólica que as evoca). Baseio-me essencialmente nas fontes históricas da nossa cultura, entre outras. E onde encontraste a inspiração para criar estes momentos musicais tão comoventes? Por todo o lado. Às vezes, vagueio em florestas, outras vezes leio algo que me inspira, outras vezes parece que vem do nada. Quando estava a compor «Marras», havia momentos em que eu acordava de noite, porque tinha tido uma ideia, e tinha de me levantar imediatamente e ir escrevê-la. Noutros momentos da composição desse álbum, demorava imenso tempo a encontrar a inspiração. Com «Sarastus», foi diferente, porque o escrevi rapidamente e de forma muito espontânea. Praticamente, gravei-o ao mesmo tempo que o compunha. Às vezes, sentes-te cheio de ideias e, noutras alturas, passas meses à espera de que te venha uma ideia, Não é algo que tu ou outra pessoa possam controlar. Onde e como aprendeste a tocar guitarra desta forma? Sou essencialmente um autodidata. Ainda tive algumas lições de guitarra elétrica, quando me lancei


“[…] «Kaarna» refere-se à casca de uma árvore, ou seja, a uma espécie de camada exterior que junta todas as faixas deste álbum.” nas lides musicais, mas depressa constatei que isso não era o que eu queria. Quando era novo e comecei a tocar, interessava-me por guitarristas do metal como Jason Becker, Richie Kotzen, Marty Friedman, etc. O primeiro manual que comprei foi o «Marching Out» [o segundo álbum de estúdio] de Yngwie Malmsteen. Como é óbvio, não era suficientemente bom para fazer aquilo e nunca me tornei um shredder, mas aprendi muito sobre melodias e uma certa abordagem clássica e isso foi muito mais importante para mim do que converter-me num virtuoso da guitarra. Na realidade, não me considero um bom guitarrista, vejo-me antes como uma pessoa que usa a guitarra para se expressar e compor. Gosto muito mais de ouvir o resultado das minhas sessões de composição do que de tocar o que escrevo.

e «A Collapse of Faith? fui eu próprio que fiz as fotos, o artwork e o layout respetivos.

No teu último álbum, escolheste um artista da América Latina para fazer a respetiva capa e agora decidiste fazeres tu mesmo o artwork de «Kaarna». Por que tomaste essa decisão? Foi uma decisão súbita ou algo muito bem pensado? Adorei o trabalho do Santiago Caruso para «The Plague of a Coming Age» e teria voltado a trabalhar com ele de boa vontade. Mas quis usar fotografias a preto e branco neste lançamento acústico, como fiz nos que o precederam. O livro que acompanha a compilação também inclui algumas fotos dos artworks originais, que eu tirei na altura em que lancei os álbuns. Portanto, eu queria dar a este lançamento um aspeto semelhante ao dos anteriores. O nome do álbum corresponde à imagem que vês na respetiva capa, logo não precisei de um artista externo para fazer a foto. Além do mais, raramente recorro a alguém para fazer o artwork dos meus lançamentos. Constituem exceções «The Stream of the End» e «The Plague of a Coming Age». Para «Tuoni», «Marras», «Sarastus», «The Womb of Primordial Nature»

De que modo a imagem que escolheste para a capa desta compilação contribuiu para unir as canções que nela incluíste? A música desta compilação está cheia de sons da floresta, de temas que evocam uma natureza tenebrosa, portanto parece-me que essa foto da casca de uma árvore foi a escolha ideal. Além disso, tem o mesmo espírito que as capas minimalistas a preto e branco que fiz para os álbuns de onde saíram essas músicas.

Fazes frequentemente trabalhos gráficos? Tens alguma formação para esse fim? Faço fotografia, alguns desenhos e também layouts, quando me pedem para o fazer. Talvez me dedique menos a isso agora do que em tempos, mas, sempre que me convidam para participar num projeto que me pareça interessante, eu considero a hipótese de o fazer, independentemente de quão ocupado esteja na altura. Atualmente sou mais criterioso e ponho logo de parte projetos que me pareçam pouco inspiradores ou atabalhoados. Contudo, não tenho nenhum ritual de trabalho. Tudo depende do projeto em questão.

Se tivesses de definir este álbum em três palavras, quais escolherias? Obscuro, acústico e ambiental. Entrevista: CSA FACEBOOK www.facebook.com/octoberfalls VÍDEO www.youtu.be/GVYaV7fQeLY


Parodiar no metal


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Não há muitas bandas que arrisquem num género relativamente duro e incisivo como o Death Metal, trazer um pouco de ironia e paródia aos seus pares. Até agora os Cannabis Corpse têm-no feito e sobrevivem. Não é difícil perceber a vibração positiva que esta banda transborda com humor q.b. mas sem esquecer de como fazer música de topo. Foi com especial agrado que obtive o feedback de LandPhil para esta entrevista. O vosso mais recente álbum «From Wisdom to Baked» está agora a ser editado. Este é o primeiro trabalho em que assumes o papel de vocalista. Porquê agora esta mudança? LandPhil: Esta mudança tinha de acontecer para a banda continuar em frente. Esta alteração foi até bastante simples; eu tinha vindo a fazer vocalizações para Death Metal desde a minha adolescência. Sendo o vocalista principal permite agora à banda facilmente ir em tournées, etc. O desafio de cantar e tocar em simultâneo é para mim neste momento um prazer. Podes contar aos nossos leitores qual o propósito do nome da banda? LandPhil: A banda começou como uma maneira de expressar o nosso prazer de fumar erva e de ouvir Cannibal Corpse. Eu e o meu irmão gémeo iniciamos a banda no verão de 2006 no meio de um nevoeiro de fumo de marijuana. O objetivo é que a nossa música seja capaz de transportar os nossos ouvintes para um mundo aterrorizante, cheio de monstros impregnados em erva, à caça de sangue! De facto o vosso projeto aproxima-se de um conceito de paródia, mas no entanto vocês não levam o vosso trabalho como uma brincadeira caso contrário não teriam 4 álbuns até agora. Onde vais buscar a motivação? LandPhil: O Death Metal é uma grande parte da minha vida e quero levar aos nossos fãs o melhor Death Metal que consiga escrever. Cannabis Corpse é a minha maneira de expressar esta paixão, embora o nome seja uma charada, a música que crio é não é de modo nenhum para resultar em charada. Alguma vez foste criticado por usar “Cannabis” no nome da banda? LandPhil: As pessoas criticam tudo o que toda a gente faz o dia todo. A Internet é um espaço de multiplicação do ódio. Qual a tua opinião acerca do Death Metal em geral? Achas que os trabalhos lançados mais recentemente revelam novas tendências e renovação? LandPhil: Penso que há uma certa tendência “Retro” 30

em todos os estilos de música. Toda a gente quer soar como as bandas da velha guarda. E levam o conceito até limites quase hilariantes. Eu gostaria de ver mais pessoas a bater mais na tecla da originalidade. Algumas fazem-no bem tal como os Ulcerate ou Gorguts. Focando-nos um pouco mais no conteúdo musical de «From Wisdom to Baked», é possivelmente o vosso trabalho mais pesado até hoje. Concordas com esta opinião e nesse caso porque é que o trabalho foi neste sentido? LandPhil: Sempre quis ser tão pesado quanto os Cannibal Corpse o eram. Eles são os reis. Estas músicas são a minha melhor tentativa de soar tão bem como “The Bleeding”. Este é o álbum que tem o melhor som Death Metal de sempre na minha opinião. «From Wisdom to Baked» foi o 2º álbum que gravei integralmente no meu estúdio, sendo o primeiro «Worse than Death» dos Iron Reagen. Gravar em casa dá-me o luxo de levar o tempo que quero para musicalmente deixar tudo como deve ficar. O título «From Wisdom to Baked» relaciona-se com o álbum dos Canadianos Gorguts; o resto do álbum também serviu de inspiração para «From Wisdom to Baked»? Porquê este álbum dos Gorguts em particular? LandPhil: Eu adoro GORGUTS! O Luc também é um tipo muito porreiro. Eu acabo por escolher sempre bandas que adoro devido a pequenas particularidades. Espero que ele ache que os Gorguts têm piada também ha ha! Em geral preferes temas com menos de 4 minutos de duração; na realidade muitos aproximam-se dos 3 minutos. Porque é que segues este padrão? LandPhil: Tenho um défice de atenção. Não acho que consiga escrever canções com mais de 5 minutos de duração ha ha! Se não estou enganado este é o teu primeiro álbum para a Seasons of Mist. Como foi a colaboração até agora? LandPhil: A Seasons of Mist é uma grande editora com bandas fantásticas. Têm sido muito amistosos e não tenho a dizer algo a não ser coisas boas sobre eles!


Tens mais algumas palavras para os nossos leitores? LandPhil: Muito obrigado por escutarem o «From Wisdom to Baked” dos Cannabis Corpse! E estejam atentos ao novo trabalho dos Iron Reagen (mais tarde este ano) e aos Municipal Waste (no próximo ano)!

Entrevista: Sérgio Teixeira


Cepheusyon Iniciamos com esta nova rubrica denominada “Ultra Underground” um espaço para revelar talentos escondidos. De tal modo escondidos que apenas o também novo repórter da VERSUS Magazine, Saoei, ou seja eu, é capaz de trazer à luz do dia autênticas pérolas do universo ultra underground do Metal … E, sem mais demoras, passo a trazer para esta edição uma banda nórdica, denominada Cepheusyon (o leitor escusa de pesquisar na Internet). O interessante desta banda acima de tudo é a história de vida de Nordium, o vocalista e líder desde os seus primórdios. De facto, Nordium, após ter respirado os primeiros ares ao dar entrada neste mundo, foi imediatamente abandonado pela sua mãe. Segundo o que consegui apurar, foi acolhido por uma alcateia de lobos, que habitava numa das maiores áreas florestais da Lapónia. Durante 6 anos, Nordium foi carinhosa e destemidamente criado por essa alcateia, ao longo dos invernos mais gelados e frios, passando pelos

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verões mais secos e desolados, sem nunca ter sido abandonado. É óbvio que, após 6 anos de coabitação, em que fez inúmeros amigos por entre os vários espécimes de lobos, Nordium só sabia uivar e, portanto, essa é uma das marcas que melhor define a sua capacidade aos microfones de rebentar os cones dos altifalantes com os uivos mais estridentes do submundo do Metal. Mas só foi possível a Nordium dar um novo rumo àa sua vida, fora da sua família adotiva, que obviamente o estava a limitar do ponto de vista musical, Por exemplo, a alcateia – toda ela humilde e dependente da caça para poder sustentar os seus – não dispunha de sintetizadores ou guitarras elétricas. A maior sorte foi Nordium ter sido encontrado a cheirar bagas de amoras junto a uma povoação norueguesa (perto de Balsfjord) e capturado pelo Instituto de Conservação da Natureza, Património e Ecologia da Noruega. Através da extremamente avançada rede de apoio Social da Noruega em cooperação com a Universidade de Tromsø, foi possível delinear um plano de recuperação e integração de Nordium. Logicamente, este início de vida deixou marcas que Nordium exorciza em todos os discos


que lançou até à data (mais de 20). Aos 25 anos, quando já estava na fase final do plano de recuperação e integração social, Nordium criou os Cepheusyon, numa linha de Lupus Black Metal, que ganhou destaque no submundo do Metal ao longo das eras.

uma nota em lá sustenido durante 20 minutos, ao mesmo tempo que uiva.

Este ano os Cepheusyon lançam o 24º álbum, ainda sem nome e, caso nos chegue às mãos para o ouvirmos, Numa recente entrevista, Nordium dar-lhe-emos o devido destaque na admite que a sua música não tem VERSUS Magazine. limites, revelando marcada influência das florestas da Lapónia e da re- (*) Toda e qualquer semelhança descuperação do trauma dos primeiros ta narrativa com a realidade é pura 6 anos de vida fora da sociedade hu- coincidência. mana. Esta dissociação da personalidade que deambula entre o calor que encontrou na integração na so- Texto: Saoei ciedade humana e o sentimento de perda do seu berço animal e primitivo está refletida mais nitidamente nos primeiros álbuns até ao «Exorcisium Lupus», onde Nordium assume de vez a supremacia do seu lado humano e o adeus definitivo às suas raízes primitivas. É, no entanto, inegável a fúria demolidora enraizada que marca de sobremaneira todos os seus discos, onde o racional do seu lado humano potencia a sua herança animal não esquecida. Quando interrogado sobre qual o seu trabalho preferido, Nordium referencia sempre «Cataclismus», onde pontifica o tema “The nothingness” em que toca

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Nesta edição da VERSUS Magazine levantamos um pouco do véu daquilo que a maior parte da malta ainda nem sequer ouviu falar – “Loudness War”. Este será só um artigo introdutório à grande entrevista que fizemos a uma das figuras mais proeminentes do mundo “metaleiro”: Dan Swäno. Penso que a entrevista, por si só, é muito esclarecedora. No entanto, aqui vai uma pequena introdução… Muito resumidamente, “Loudness War” é um termo que se deu aos processos e técnicas que são utilizados para criar um som tão alto e distorcido que se destrói a qualidade e dinâmica da música. Quando a música é codificada digitalmente para CD, existe um pico máximo de amplitude do sinal – resumindo, “um valor máximo para o volume da música”. Quando este pico máximo é atingido, o volume ainda pode ser tornado mais alto através técnicas de processamento digital de sinal, tais como, compressão dinâmica e equalização. Em casos extremos, mas cada vez frequentes é feito o “clipping” - isto é quando o som passa para lá dos limites e o sinal ou música passa a estar distorcido. Tudo isto é medido utilizando o DR que significa “Dynamic Range” ou “Amplitude dinâmica”. Dynamic Range é a diferença entre o som mais baixo e mais alto num tema. Há vários programas na rede que medem o quão a música é saudável ou dinâmica. Quanto mais alto for o DR melhor, maior é a amplitude dinâmica. Por exemplo, o último CD dos The Crimson 34

ProjeKCt tem um DR de 11!!!! Isto representa quase a dinâmica do vinil! O DR normal anda por volta dos 6 mas já testei CD’s que chegam à nossa revista e a maior parte situa-se nos 5! Uma boa merd@, portanto! Isto resulta de uma estupida luta em que se julga que “alto é melhor”. Tenho a dizer que só serve para destruir a qualidade, dinâmica e a música! Para quem ainda não se debruçou dois minutos sobre o que é suposto ser a música, posso dar só uma ideia… só uma e depois vocês descobrem o resto…. Música é emoções e emoções há muitas, assim como estados de espírito. E consoante estes estados em que estamos “mergulhados” escolhemos o tipo de música que nos adaptamos. Por isso, como não estamos sempre no mesmo estado emocional, poderemos dizer que existe uma dinâmica emocional que nos faz ouvir vários tipos e géneros musicais. Agora, imaginem que vocês viviam sempre no mesmo estado emocional e ouviam sempre o mesmo tipo de música. Extrapolando isto para esta “guerra”, isto é como viver só de uma emoção. A música está de tal forma estrupada que só ouvimos… ALTO! Não há dinâmica, não há silêncio, não há diferença entre alto e baixo, não há emoção, não há diferentes sentimentos, não há crescendos, tudo está simplesmente ao mesmo nível. A música precisa de dinâmica, precisa de “coração” e o que neste momento fazem é arranca-lo e substituí-lo por um de pedra. Para ilustrar aquilo que falo, se atenderem à figura podem, ver em cima, o mp3 comprimi-


do, no meio a versão normal do CD, no meio e em baixo a mistura estupendamente dinâmica do CD. Conseguem distinguir a diferença do que é ALTO e dinâmico!? Claro que sim…! Duas analogias: Isto é quase como uma daquelas corridas de “drag” onde os carros limitam-se a fazem rectas, aceleram ao máximo e param. A música quere-se como um carro de rally, curvas, contracurvas, curvas lentas e rápidas, rectas, acelerar, travar, puxar de travão de mão, por o carro andar de lado, DINÂMICA! Um exemplo paradigmático que explica bem o que se está passar e ao limite a que estamos/ estão a chegar são os Metallica (Falo com conhecimento de causa, sendo eles uma das minha bandas de referência….) e o mais recente «Death Magnetic» - VERSÃO CD. Para mim, deverá ser um dos piores álbuns jamais feitos em termos de “Loudness”. O som é absolutamente nojento, a bateria das piores que já ouvi, a tarola sem força – o que não abona nada em favor de um baterista mediano – as guitarras parece que não têm “expressão”, não há dinâmica, distorção bem audível, chegando mesmo ao absurdo caso de “clipping”. «Death Magnetic» poderia ser um excelente álbum mas é oco e provido de qualquer sentimento que nos é transmitido através da dinâmica musical! Intragável! Não o comprei e não o compro enquanto não o remisturarem como deve ser. No entanto, saiu uma versão remisturada para o “Guitar Hero” que essa assim, é aceitável será que vos aconselho a ouvir, porque nada tem a ver com a versão do CD. Façam um exercício e comparem ambas as versões e tirem as vossas conclusões. O que mais me irrita no meio disto tudo é ler as afirmações de Lars – ver entrevista. A má qualidade sonora é tão… mas tão evidente, as reclamações foram tantas e vindas de todos os lados que face a estas evidências não há como escapar. Só lhe ficava bem admitir o erro, ganhar um pouco de humildade e um nova mistura era mesmo bem-vinda.

fantochada do “Napster” e serem eles, a maior banda do mundo (ou não), a darem o primeiro passo e ajudarem a por fim a esta guerra. Como personalidades influenciáveis que são, pelo peso que têm na indústria poderiam ser eles a ter a visão do fim do “Loudness”. Dos maiores exigimos sempre mais… Mais uma vez, deixavam a sua marca pelas boas razões. Perderam uma excelente oportunidade de sair em grande disto tudo! Lars com as declarações que fez mostrou que até nisto é limitado… (Mais uma vez: Falo com conhecimento de causa, sendo eles uma das minha bandas de referência….) Este é só o exemplo mais mediático, podia, no entanto, citar “n” bandas. No outro extremo, peço-vos, só, para ouvirem o tema “The number of the beast”, especialmente o início, o crescendo até ao grito final e depois todo aquele dedilhar mágico de Steve Harris. Agora, imaginem tudo isto absurdamente amplificado, comprimido, distorcido! Seria o mesmo “Número da besta”!? A reposta penso que é óbvia. Isto daria muitas páginas, muita tinta, no entanto, isto serve só para vos chamar a atenção para esta “guerra”. Não é assim que se deve desfrutar da música. No ciberespaço podem consultar alguns sítios que explicam isto muito mais detalhadamente. Existe até uma lista com uma escala de “DR” com uma base de dados de 64395 álbuns. www.metal-fi.com www.metal-fi.com/taking-swano-challenge www.dr.loudness-war.info Leiam a entrevista e façam o “desafio-swäno”

Os Metallica podiam-se redimir de toda a 35


Loudness War Bem… devo admitir que é uma das entrevistas mais complicadas e ao mesmo tempo mais desafiantes que fiz. Espero estar à altura e que todos os nossos leitores fiquem elucidados sobre esta matéria. Dan “The Man” Swäno vainos falar um pouco sobre o que é isto de “Loudness War”. Dan, é um prazer entrevistar-te, mais que não seja pela figura proeminente que és no Metal mas acima de tudo pela tua (nossa) batalha… … para abrir as hostilidades, nada melhor que “The Man” para nos explicar este flagelo que assola a música hoje em dia. Dan, o que é isto de “Loudness War”? É difícil de explicar mas é um processo onde uma excelente mistura terá de passar por um processo que somente serve para arruinar o som, a fim de enfrentar aquele tipo de música que tem uma batida mais 36

forte, tipo rap e essas merdas. Desde a introdução dos iPods e similares, que se começou a misturar vários tipos de música no mesmo aparelho e isto levou a diferenças de volume entre os vários CD’s e estilos de música, chateando muita gente. No entanto, em vez de baixarem o que estava alto – o que se pode fazer sem f…r a sonoridade – eles aumentaram o que estava baixo usando software que estupra, impiedosamente, o aperfeiçoado original tornando-o mais difícil de ouvir. Tudo isto para “nivelar” o equilíbrio entre os vários estilos e misturas. Teoricamente isto pode funcionar, basta aplicar uma limitação de modo


a que toda a música tenha o mesmo resultado quando medida corretamente... o problema é que algumas músicas, simplesmente, não sobrevivem ao aumento de 1 dB que seja na compressão. A primeira vez que eu realmente ouvi todo este estrago foi no CD dos ASIA “Anthology”. Eu tenho todos os CD‘s originais e pensei que havia algo de errado com o CD-walkman e a aparelhagem... mais tarde entendi o que tinha sido feito. Até hoje não consigo ouvir esse CD. Peguei no CD original e a diferença é enorme numa música tão bombástica, onde cada frequência pode ser ouvida em todos os momentos. Eu acho que a música pode ter muitas definições e características. Talvez a que melhor se aplique à nossa entrevista é: “dinâmica”. Pegando num termo de comparação, a música clássica deverá ser a forma mais pura e bela de se fazer e tocar música. E quando ouvimos uma peça, ouvimos algo como, “forte”, “fortíssimo”, “pianíssimo”, mais intenso ou menos intenso. Resumindo: Dinâmica. Isto deveria estar presente em TODA a música. Na tua opinião, o que é que leva as pessoas a ouvir a música de uma forma totalmente anti-natural? A culpa é dos executivos das editoras e das “pessoas normais” que, simplesmente, não entendem que nivelar toda a música para ter a mesma sonoridade (volume), aumentando o volume do mais baixo (e não o contrário) não funciona sem graves consequências. Mas, de qualquer maneira, a maioria não se importa de ouvir música em mp3 a 128 kbps nuns auscultadores de merda. Estive a ler com atenção um artigo muito interessante no site www.metal-fi.com, - “The Dan Swäno Challange” (que encorajo os nossos leitores a ler) assim como algumas entrevistas. Algo que muito provavelmente os nossos leitores (e a malta com bandas…) ainda não perceberam é: quando entramos num estúdio quem manda na “dinâmica”? Pelo que percebi é a editora que tem a última palavra e a banda é simplesmente uma marioneta ou resulta de um diálogo entre a banda/produtor/misturador? Não estou a dizer que todas as editoras são assim mas há, definitivamente, que o novo álbum do artista X soe “fraco” comparado com outro que foi brick walled. Isto é claro. O principal problema é como ouvimos a música hoje em dia. Nos velhos tempos, tu punhas um disco, ajustavas o volume na aparelhagem e… Toca a Rockar! Quando fazias uma mixtape verificavas sempre o volume antes de gravares o próximo tema, então, essa mistura estava sempre equilibrada e nem sequer era preciso mexer no botão do volume. Mas quando tudo começou a ser transformado em ficheiros e tu tinhas 150000 MP3 ilegais no teu PC, não havia uma

maneira inteligente de os nivelar. Então, isto começou a ser um “problema” para o “consumidor normal”. Algumas das músicas eram dos primórdios dos CD’s e outras eram as cenas mais porreiras, o mais recente hit single totalmente brick walled e uma vez que o nosso ouvido é muito dinâmico, uma diferença de volume entre dois temas fará com que o mais suave pareça menos potente. Assim que igualares o nível dos mais suaves e dos mais altos, verificas que existe “vida” naquele tema que não foi “fodid0” e que o torna muito mais agradável de ouvir! NOTA: “brick walled” é uma técnica que “amplifica” a música. As partes mais suaves são amplificadas ao mesmo nível das mais altas e ao mesmo tempo, aumenta o limite do tema até a um máximo possível. O limitador “brick walled” pode verificar à frente do sinal e limitar o seu nível. Ok, tenho uma banda de garagem e uma das primeiras coisas que disse aquando da gravação foi: nada de compressões. “O que tocamos é o que ouvimos”. Como te sentes quando as bandas ou editoras te pedem para fazer algo que tu vais saber que é uma merda? Não achas completamente revoltante ver o teu nome associado a um trabalho que vês antecipadamente não resultar? Alguma vez recusaste gravar/misturar uma banda? A compressão é obrigatória mas não enquanto gravas! Para fazeres uma mistura do caraças precisas de toneladas de compressão. Na realidade cria-te uma dinâmica mais ampla (para os nossos ouvidos) se estás a “brincar” com os tempos de ataque. O problema é que, hoje em dia, precisas de “matar” toda esta dinâmica enquanto fazes a masterização. É uma merda. Houve algumas masterizações onde eu senti que não podia fazer nada, uma vez que o material já tinha sido misturado tão alto que já tudo distorcia, etc. Mas até agora, fui capaz de salvar todas as misturas que me passaram pelas mãos. NOTA: Mistura é a processo pela qual várias formas de fontes sonoras são combinada num ou mais canais. As fontes podem ter sido gravadas ao vivo ou num estúdio e podem ser de diferentes instrumentos, vozes, seções de orquestra, locutores ou ruídos de público. Durante o processo, os níveis de sinal, dinâmica, etc podem ser manipulados e efeitos como reverberação podem ser adicionados. Masterização - é uma forma de pós-produção áudio, sendo o processo de preparar e transferir o áudio gravado de uma fonte contendo a mistura final para um dispositivo de armazenamento chamado master, a fonte a partir da qual todas as cópias serão produzidas. 37


Ainda o exemplo da minha banda, que pode ser extrapolado pelas milhares de bandas que tentam fazer alguma coisa. Se nós te apresentarmos material para misturares e apresentar a uma editora e te dissermos: “Queremos o mais alto possível”, tu fazes o que te mandam ou tentas provar o contrário? Neste momento estou a misturar um álbum e está muito alto e potente. No entanto, soa bem como o raio e isto porque adaptei a mistura para se adaptar aos limites dos níveis altos. Ela “trabalha” da mesma forma antes e depois do limite. Ter uma mistura que esteja impecável onde a bateria está no limite do que é pouco potente e depois ter que “meter” mais 7dB de volume, simplesmente, não vai funcionar. Para que resulte tu precisas de material para trabalhar nos -6dB – DR5 – e deve soar o máximo possível com mistura sem limites. Usualmente isto significa adicionar bastante “força” à bateria que depois será “comida” pelo limitador, então, o resultado é tão poderoso como antes da limitação. Isto não será tão bom quanto a versão “não fodid@” mas numa audição rápida, será mais ou menos igual, uma vez que a potência está lá… mas… quando “matas” a dinâmica outra merda acontece, é como teres uma sala com 40m2 e depois teres de mudar tudo para uma de 20m2. As coisas estarão lá todas mas não será o mesmo, visto que o espaço que faria a sala resultar, simplesmente, desapareceu. NOTA DR significa Dynamic Range (amplitude dinâmica). Basicamente, quanto maior for o DR de uma música melhor a qualidade dinâmica. Há uma escala não oficial do nível dinâmico entre [1,20]. Sendo os intervalos de [1,7] - MAU; [8,13] – Aceitável; [14,20] - BOM Neste processo de nos darmos a conhecer às editoras “só” apresentamos uma versão em CD - com uma boa dinâmica, penso eu. Achas uma boa ideia a malta “mais pequena” apresentar às editoras duas versões à escolha, uma “loud” e outra “dinâmica”? Isto seria uma boa forma de lutar contra este problema ou seria, simplesmente, adiá-lo? 38

O problema é que cada produção é sempre comparada com outras. Desde que exista um CD mais alto, que soe melhor e mais poderoso (Usualmente com a bateria programada ou usando triggers) há a “prova” que isto pode ser feito, então, a maioria das pessoas não se importa pelo facto do CD de referência poder soar melhor a um DR8 do que, neste caso, a DR5. Mas isto só acontece porque ele já soa mega-alto e alguma coisa que seja feita para desfazer só vai enfraquecer o CD isto porque o ouvido humano responde, tipo: alto = mais potente. Se alguém não quer saber de dinâmica, etc., e comparar entre uma mistura dinâmica com uma limitada-até-à-morte sem alterar o volume, de maneira a que ambas fiquem igualmente altas, então, a mais alta vai soar sempre melhor porque… é mais potente! Algumas pessoas até me perguntaram porque a mistura mais dinâmica não é tão alta como um CD normal… (Para isto não há sorriso que exista para descrever a minha expressão…!!) Em conversa com amigos e confrontando opiniões, chegámos à conclusão de que esta “Loudness” seria típica de alguns géneros bem específicos. Mas, na realidade, não é isso que acontece, pois não? Discordo em absoluto e penso que se trata de uma “doença” que não vê géneros! Penso que muitos géneros têm esse problema. O clássico talvez nem tanto. Mas, aparentemente, muitos responsáveis pensam que “fazer soar alto” é uma opção que não tem consequências. Seria qualquer coisa do género “usa o vermelho, em vez do verde”. Mas, neste caso, fazer algo como o «Black Album» dos Metallica 5dB RMS - DR4 - alteraria MUITO a mistura e aquela poderosa bateria soaria como se fosse tocada com mallets! Na tua demanda para provar à indústria músical (e aos ouvintes) que esta “guerra”, simplesmente, não faz sentido e sendo uma pessoa com muita influência, experiência e um dos melhores, tu deste-te ao árduo trabalho de criar várias versões do «The Inheritancd». Podes-nos descrever, resumidamente, o


que fizeste e no que constituem essas versões? Muito simplesmente, não me apeteceu passar 6 meses a trabalhar no som básico do álbum, com bateria acústica, para depois virem esses pretensiosos e tirarem-me tudo. Portanto, fi-lo tão alto como a maioria dos CDs que circulam por aí. Não me apetecia andar por aí a defender-me dos meus amigos, dizendo “Soava muito melhor, antes de eu limitar”, ao que eles responderiam “Pois!”. Portanto, decidi mostrar como soava de forma extraordinária, quando era misturado para soar de forma extraordinária, sem ter de pensar em como a minha mistura “reagiria” ao facto de lhe retirarem muitos dB’s. Porque mesmo o melhor limitador do mundo não pode alterar o facto de que, para aumentar o volume sem distorção, tens de começar a fazê-lo no momento da mistura e, neste caso, foi o som (potência) da bateria o mais afetado. Portanto, mantive uma pista com a mistura e simultaneamente, outra com os níveis puxados com o limitador, no entanto, reduzia na mesma proporção o ganho do limitador comparado com o volume que lhe ia adicionando e comparava sempre com a “mistura do vinil”. Tinha também, uma pista para extras da bateria que adicionava à versão limitada e tentava emular o mais possível a “pancada” da mistura do vinil o máximo que conseguia.

o Vinil. Achas que o caminho é CD “Alto” e Vinil “Dinâmica”? Haverá espaço para os dois ou isto seria admitir que o problema existe e a nossa guerra ficaria perdida? Por mim, como deves depreender acabava-se com esta merda do “Alto”, pura e simples. Gostaria muito de assistir a uma nova “dinamização” do CD. Portanto, que o CD e o vinil sejam os formatos que permitem a uma mistura soar fantástica e o mp3 o formato para os consumidores que “se estão a borrifar para o som”. Seria uma looooooonga história. Mas estou a fazer o que posso para fazer com que todos tomem consciência do facto de que estamos a matar a música sem nenhuma razão válida para o fazer… Nunca houve equipamentos tão bons como os que existem atualmente ou formatos de gravação de melhor qualidade, mas nós estragamos tudo nos momentos finais do trabalho… que mundo estranho…

Uma das figuras mais proeminentes do Metal, Lars Urlich, teve esta afirmação acerca da Loudness War e do pedaço de merda que foi a produção/mix do “Death Magnetic: “Ouçam, não há nada de errado com a qualidade do som. Estamos em 2008 e é assim que se fazem discos. A tarefa de Rick Rubin [Produtor] é fazer com Algo que admiro muito é que o vinil nunca desa- que soe “vivo”, que soe alto, excitante e que faça salpareceu e vejo outra coisa com curiosidade: cada tar as colunas. Como é óbvio ouvi várias pessoas a vez mais se lançam álbuns em CD em conjunto com queixarem-se. Mas nos últimos dias estive a ouvi-lo no meu carro e soa que é um espetáculo.” Dois factos: Os Metallica são uma das minha bandas favoritas e o Lars não é, de forma alguma, um grande baterista. Com estas afirmações demonstra, ainda, que é algo ignorante e tenta esconder algo que está à vista de toda a gente: DM é um pedaço de merd@ e cada frase que diz só pode ser uma piada. Poderia estar a enumera-las mas acho que não vale a pena, por si só já se contradizem todas. Eu pedir-te-ia um comentário, mas como é óbvio, está à vontade para escreveres: “No comments”  Eu comento por ti. Não tenho a certeza de ter compreendido bem o que aconteceu nesse álbum, mas parece-me que já havia distorção durante a gravação e que isso se nota no CD. Não devem ter ouvido com a necessária atenção o que estavam a produzir. Uma história bem estranha! Há uns tempos ajudei a irmã da minha mulher e o marido dela ligar um receiver ao novo sistema de som e pedi-lhes que me passassem um CD, para eu o pôr a tocar e verificar se estava tudo em ordem, ajustar o som do sub-woofer etc. Eles disseram “Temos aqui o novo dos Metallica” e eu respondi “Porreiro…” Como era uma produção milionária, pareceu-me que seria 39


uma boa referência. Passei um bom bocado de tempo a tentar descobrir de onde raio vinha a distorção que saía do sistema de som… Andei de gatas para trás e para diante, a verificar isto e aquilo… Na minha ideia, era impossível que um CD dos Metallica estivesse tão distorcido… até que compreendi tudo… Fui testar o som usando auscultadores ligados diretamente à aparelhagem. Para grande surpresa minha, a distorção estava no CD original! Fui buscar outro CD, que eu sabia não ter distorção, e a aparelhagem deles dava um som perfeito! Mesmo sendo em mp3, é possível distinguir com facilidade um bom álbum dinâmico de um comprimido? Sim, sem dúvida nenhuma. Quanto mais forte for o som original, melhor soa um mau mp3. Já converti alguns dos meus trabalhos para 128 kbps e, por vezes, soam maravilhosamente bem, visto só terem qualquer coisa como 10% da informação do WAV original! O que é que achas das re-edições dos álbuns mais antigos? Por exemplo, os Zeppelin têm um Box Set, new remastered. I think that the originals are better, right? These editions tend to be more loud and less dynamic? Penso que a época do “alto” está a desaparecer lentamente. Não ouvi as edições de que falaste, mas duvido que o Jimmy Page tivesse passado 3 anos a pesquisar, para depois dar cabo de toda a obra de Led Zeppelin. Ele é um verdadeiro audiófilo, segundo me disseram… mas… nunca digas nunca. Mais alto parece sempre melhor quando A/B’d sem comparação de níveis... O que é que nós, enquanto leitores e promotores de “boa” música podemos fazer para combater esta “guerra”? Quem tenho de matar? Penso que a salvação virá de equipamentos inteligentes, capazes de ajustar o nível do ficheiro a partir da informação que recebem do próprio ficheiro. Será

qualquer coisa do tipo: “Olá! Eu sou a canção X, soaria melhor se me tocasses at 6 – (DR6)” e um qualquer álbum brick walled seria tocado a 3 - (DR3) para atingirem o mesmo volume e alguns CD’s antigos, como devem ser, seriam tocados a 9 – (DR9), etc. Fiz isso a 1200 das minhas gravações em mp3 usando o software Mp3 Gain e resultou em 95% delas. Portanto, agora não preciso de mexer no botão do volume do meu iPod de cada vez que passo de uma música gravada a partir de um CD de 1986 para uma de 2006. Acho que esta entrevista já vai um pouco longa, espero que os nossos leitores tenham ficado elucidados de como NÃO OUVIR MUSICA, diretamente from the mind de uma das mais proeminentes figuras do Metal. Para terminar, pedia-te três exemplos de álbuns a ouvir e 3 pedaços de bosta que devem evitar. Eu gostei muito do último álbum dos Iced Earth, a bateria está espetacular, especialmente os pratos… estão maravilhosos, e claro, detestei daquela bosta que foi o Death Magnetic e ainda não gostei muito do último de Hypocrisy. Parece-me que vale a pena ouvir todos os trabalhos do Jens Bogren. Atualmente, é, sem sombra de dúvida, um dos melhores – se não o melhor – mixer. Tenho orgulho em poder dizer que fui uma das primeiras pessoas no mundo a detetar este “génio”. Aconselhovos a evitar todo o tipo de Rap e Hip-Hop. Dan, obrigado por esta entrevista e foi um prazer poder trocar algumas palavras contigo. Eu também agradeço esta oportunidade. Juntos seremos capazes de combater esta estupidez e, quando o CD for um formato obsoleto (tal como aconteceu com o vinil, o VHS, em breve com o DVD, etc.), talvez os álbuns venham a ser lançados em CD em vez de vinil, em toda a sua glória impoluta, livres de artefactos sonoros típicos do vinil. Rock on!


ANATHEMA «Distant Satellites» (Kscope) Um novo lançamento dos Ingleses Anathema é sempre aguardado com grande ansiedade. Estes Britânicos são muito fiéis a si próprios, mantendo intocável o seu estilo e a sua personalidade musical. Poderão já estar a pensar que será mais do mesmo mas que já os conhece sabe, perfeitamente, que os Anathema “não fazem mais do mesmo”. «Distant Satellites» não será dos meus favoritos, lugar esse reservado para «A Natural Disaster» mas é um álbum que não desvirtua o que foi feito até aqui. «Distant Satellites» traz-nos algumas mudanças pontuais e entra até um pouco na experimentação, nomeadamente, a introdução de elementos electrónicos, por exemplo, no tema título “Distant Satellites” ou “Take Shelter”. Após os dois anteriores, «Weather Systems» e «We’re here(…)» mais “complexos” e mais densos, se assim os quisermos adjectivar os Anathema despojaram-se de todos estes elementos e fizeram… «Distant Satellites». Nas palavras de D. Cavanagh, isto foi consciente, tudo o que não foi necessário foi removido. No entanto, e apesar disto, a música é tocada com todo o coração e sentimento, como sempre é apanágio dos Anathema. Toda a doce e quente melancolia está presente, embora de forma ligeiramente diferente. Isto é algo intrínseco à sua filosofia, é uma impressão digital que faz da banda uma referência, senão, A referência quando concerne este estilo. As orquestrações são algo subtis mas enchem por completo o ambiente criado, como é o caso de “Anathema”. Sendo assim, «Distant Satellites» é mais uma excelente e emocional criação destes Britânicos. Interessante é o facto de já terem dois concertos agendados para Portugal…! [9/10] Eduardo Ramalhadeiro

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À deriva, num un

Regressamos ao convívio com Xaay, agora entrevistad demptor, criadora de um death metal técnico, que fi Combinando alguma ambição com uma grande noção méritos de «Jugglernaut», o segundo álbum da band


niverso hostil!

do como front man e vocalista da banda polaca Refica no ouvido de quem se cruza com a sua mĂşsica. da realidade, o mĂşsico e artista grĂĄfico falou-nos dos da, cuidadosamente preparado ao longo de sete anos.


O que é um “jugglernaut”? Xaay – Fabricámos essa palavra combinando duas outras: juggemaut que significa uma força grande e imparável, e juggler (malabarista). O termo criado pela junção das duas designa uma força caótica e destrutiva, que atravessa a Terra. Com este álbum, pretendíamos essencialmente interrogarmonos sobre se esta força está associada à nossa natureza humana, a uma inteligência extraterrestre ou a algum poder divino. Não pretendemos dar uma resposta única a esta questão, já que a perspetiva humana e o resultado das nossas experiências são sempre extremamente complexos e muito vastos. A força indomável do universo está sempre a colidir com outras forças, tal como nós – sempre embrenhados em conflitos, num círculo interminável de criação e destruição. Atualmente, a nossa civilização anda a brincar com um objeto extremamente perigoso, pondo em risco a nossa própria existência, já que a linha que separa o desenvolvimento da aniquilação é cada vez mais ténue. Avanços científicos e tecnológicos como a clonagem, as modificações do ADN, a eugenia, o uso de armas nucleares e biológicas de alta frequência, a poluição global que daqui decorre são apenas ameaças visíveis. Um movimento falso da mão do Juggler e… Também pretendemos sublinhar a ideia de que desde o início da nossa civilização que somos perseguidos por vários tipos de agendas, religiões, líderes (todos obcecados por alguma forma de poder) e, finalmente, pela organização social, que, nestes últimos séculos, tem revelado ser a força mais cínica e depravada do planeta. Por que razão essa personagem é representada, na capa do vosso álbum, por uma espécie de polvo gigante e antro44

pomórfico? Eu pretendia criar uma escultura que se parecesse, de algum modo, com a forma humana combinada com elementos que conotassem imediatamente uma natureza tenebrosa, hostil e perene. Algo futurista e, simultaneamente, primitivo. A minha ideia era criar uma figura que evocasse uma ordem antiga, um indivíduo que representasse uma espécie vagamente humana, mas superior ao Homem… ou uma espécie de concha, de invólucro, que contivesse o ADN dos antepassados agonizantes e fosse capaz de sobreviver durante os próximos séculos. O que fizeste neste álbum de Redemptor, para além seres o responsável pela arte e pelos vocais? Como sempre, escrevi as letras. Sou também o autor de todos os aspetos visuais (esculturas, imagens, embalagem, design do merchandising, etc.). Além disso, gravei alguns samples e ajudei o Daniel [Kesler, um dos guitarristas] a compor a música. Quando ele estava a criar todos os riffs e as linhas de base para a bateria, eu dei-lhe sugestões sobre a forma como tudo isso deveria ser desenvolvido até chegarmos aos arranjos finais. Gosto muito da vossa maneira sofisticada de tocar. De onde vem esse estilo? É o produto final de todas as nossas influências, combinadas com a nossa imaginação e, sobretudo, com as nossas emoções negativas, que temos de expelir de algum modo. A música é, sem dúvida, uma boa forma de o fazer. É a nossa catarse, algo que nos liberta da confusão de situações e reflexões tóxicas geradas pelas coisas negativas com que nos confrontamos. Mas, se considerarmos o estilo de Redemptor de um ponto de vista puramente técnico, ele resulta também do facto

de sempre termos gostado de música complexa, exigente e francamente excecional. Todos os membros da banda são fãs acérrimos de música extrema, mas também de jazz (essencialmente ligado a cordas), jazz fusion e música clássica. Ouvimos uma grande variedade de música e procuramos encontrar nela os verdadeiros “diamantes”. O grande responsável pelo nosso estilo é o Daniel, com a sua forma de compor riffs e tocar os solos. Os riffs de Redemptor são realmente diferentes dos da maioria das outras bandas de metal. O Daniel vê esses riffs como uma forma de exprimir o que lhe vai na alma, usa essas notas para contar histórias. É estranho dizer isto, mas, muitas vezes, as nossas conversas em torno dos riffs convertemse em fogosas discussões, para as quais convocamos situações abstratas e exemplos concretos, que nos ajudam a definir um dado momento de uma composição. Esta forma de trabalhar ajuda-nos a criar canções fluidas e a tornar a nossa música fresca e interessante, inovadora. Ainda por cima, neste último álbum, pudemos contar com o extraordinário desempenho do Kerim Krimh Lechner (exmúsico de sessão de Behemoth e Decapitated), que é agora o nosso baterista de sessão. Ocupou-se de compor e refazer as partes de bateria de uma forma tão impecável que gravar com ele foi um prazer. Têm formação musical? Eu tive lições de piano e guitarra durante algum tempo, mas sou apenas um amador que gosta de criar música e arte visual. O Daniel estudou guitarra (e um outro instrumento) durante muito mais tempo, numa escola de jazz de Cracóvia. Agora, é professor de guitarra e dono da Guitarmanic School. O nosso segundo guitarrista [Hubert Wiecek] também é professor nessa escola.


“[…] Ouvimos uma grande variedade de música e procuramos encontrar nela os verdadeiros ‘diamantes’ ”. Estão mais confiantes neste álbum do que no anterior, que lançaram há sete anos? Nessa altura, a banda tinha outra formação. Mas penso que, desta vez, fizemos o álbum que vai, finalmente, levar Redemptor ao nível almejado. Todas as pessoas envolvidas na criação de «The Jugglernaut» fizeram o seu melhor e, neste momento, não seríamos capazes de mudar uma só nota do que fizemos. Sentimo-nos muito mais confiantes, apesar de reconhecermos que a força do metal de esvai de ano para ano. Já contactaram alguma editora para lançar este longa duração? Sim, mas decidimos lançar o álbum por nossa conta e risco. É o melhor para as bandas underground, que sacrificam tudo para se manterem criativas. Preferimos confiar nos nossos bolsos e no nosso trabalho árduo. Tencionam fazer-se à estrada e participar em festivais para promover o álbum? Tencionamos voltar a tocar ao vivo já no próximo outono. Para já, vamos fazer um vídeo. Portanto, como vês, preferimos fazer tudo de forma calma, mas também segura. Vais criar alguns efeitos visuais para esses concertos de Redemptor? Tudo depende do orçamento disponível. Temos várias ideias, mas ainda não tomámos decisões definitivas, apesar de querermos dar o nosso melhor. Se tivermos de tocar para grandes audiências, faremos algo em grande. Mas não acredito em tal milagre, haha! Pelo menos, para já! Como sabes, a nossa música

destina-se aos fãs de metal que cresceram a ouvir a mesma música extrema que nós apreciamos e nunca são muitos, onde quer que estejamos. Além disso, atualmente, os adeptos de música underground esperam que os bilhetes para os concertos sejam tão baratos quanto possível, portanto tens de ser parco nas despesas, para se guardar o dinheiro para o que é mesmo essencial. As versões em Mp3, os vídeos divulgados na net, a música comprada por encomenda são produtos fantásticos para os ouvintes, mas vieram estragar a vida aos músicos. Têm planos para vir tocar a Portugal? Gostaríamos muito. Talvez possa acontecer, se organizarmos uma grande digressão. Como é Redemptor recebido na Polónia? Bastante bem, penso eu… Somos um grupo de rapazes simpáticos, sempre preocupados em manter boas relações com todos os membros da cena metal, onde quer que vamos. Não nos metemos em confusões, nem em querelas (talvez à exceção do Hubert, mas esse tem a sua outra banda, com uma política diferente da nossa, haha!) Mas, agora a sério, seguimos todos uma “regra de ouro”: “o que deres é o que recebes”. Já tiveram reações a este álbum? Sim. A festa de lançamento teve lugar a 20 de junho e estamos muito gratos, porque, até ao momento, todas as reações e críticas foram muito positivas. Quais são as vossas expetativas para a banda? Qual é o grande sonho de Redemptor? Gravar vários álbuns, tão bons

quanto possível. Ter muito êxito em concertos e digressões. Passar momentos agradáveis com os amigos e os nossos fãs. Afinal a arte e amizade verdadeira sempre foram intemporais. Sentes que há uma carreira à tua espera? Haha... talvez, mas não será uma “carreira” típica. Não vamos andar a gritar blasfémias, a lançar coisas aos outros. Além disso, a nossa música não é fácil e não serve só para divertir. Limitamo-nos a fazer honestamente aquilo de que gostamos e que é importante para nós. Este é o grande motor da nossa banda e espero que este espírito nos dê sorte num futuro próximo. Por último, gostava de saber como fazes para conseguir conciliar a música e as artes gráficas. Deve ser bastante difícil, visto que continuas a fazer importantes trabalhos para outras bandas, como, por exemplo, a capa para o último álbum de Demonic Resurrection, que está fantástica. Digamos que se consegue fazer. Mas há coisas que estão postas de parte de momento, porque não há tempo para mais nada. Por exemplo, ter filhos ou andar a divertir-me. Nem sempre é uma vida alegre, haha… De qualquer modo, foi este o caminho que escolhi para mim e tem-me feito sentir feliz e realizado. Todas as coisas têm o seu devido tempo na nossa vida e a minha, para já, está consagrada a Redemptor e à arte. Entrevista: CSA FACEBOOK

www.facebook.com/RedemptorPL

VÍDEO

www.youtu.be/ls9_0gToLFo 45


Gente tra Dromos Aniliagos, “um homem totalmente técnico” (como ele próprio se classifica), mas, simultaneamente, vocalista de uma banda ucraniana de Black Metal sinfónico (o que não é tão raro quanto se possa pensar) aceitou a responsabilidade de responder às perguntas da Versus Magazine sobre «Duality». A conversa foi variada, indo da carreira de Alafern – o mentor da banda – como músico clássico até à forma como QM vê o mundo e passando – inevitavelmente – pela reflexão sobre as atuais tensões políticas entre a Ucrânia e a Rússia. De uma orquestra para a cena Black Metal! Como se decide um destino assim? Dromos Aniliagos – O destino do Alafern decidiuse quando ele deu início à sua carreira musical, no momento em que os pais o inscreveram na escola de música especializada. Era uma escola que funcionava todos os dias e acolhia crianças sobredota46

das, não uma escola de música como aquelas que a maioria das pessoas frequenta, onde se vai algumas vezes por semana. Agora é um músico profissional: há mais de uma década que é violinista na Orquestra Filarmónica de Cracóvia. No entanto, desde a infância, devido à influência do seu irmão mais velho, que é “viciado” em música extrema, especialmente


anquila! Death Metal. Foi essa influência que deu origem à música que fazemos agora. Quintessence Mystica não é o seu único filho musical. Aconselho-te a ires ver as suas outras bandas: Thunderkraft (que combina Death Metal com música eletrónica e folk) e Svyatogor (Death-Black Metal com um toque Avantgarde). Sou uma grande fã de música clássica e Black Metal. O que pensam desses dois tipos de música? Alafern diz sempre que esses dois tipos de atividade musical não se contradizem: pelo contrário, complementam-se e enriquecem-se mutuamente. O que os diferencia? Para Alafern, a principal diferença é que lhe pagam um ordenado mensal para tocar música clássica na

orquestra, enquanto o Black Metal não lhe rende um chavo. Falando agora a sério: pessoalmente, não me sinto à vontade para responder a essa pergunta. Teríamos de lhe perguntar, mas ele está ausente em férias com a família. Como e onde se encontraram? Já nos conhecemos há muitos, muitos anos. Quando ainda éramos adolescentes, tentámos fazer música juntos, mas não deu em nada. QM foi a nossa segunda tentativa de fazemos algo juntos e, desta vez, conseguimos mesmo e estamos muito orgulhosos do resultado. E, de facto, essa pergunta vem mesmo a propósito, tendo em conta a forma curiosa como se deu o nosso encontro. Vou contar-te essa história. Eu e o Alafern vivíamos na mesma parte da cidade, tanto que, a pé, levava-se 20 minutos do 47


apartamento dos pais dele ao dos meus. Mas não nos conhecíamos. Um dia, quando eu regressava da universidade, já bêbedo, decidi ir assistir ao ensaio dos Nocturnal Mortum (que são da nossa cidade). Lá fui, fiquei ainda mais bêbedo, de tal modo que não me lembro de nada do que aconteceu depois. Passados dias, recebi um telefonema de um gajo que dizia chamar-se Alexander e ser artista gráfico e que tínhamos falado, depois desse ensaio. De facto, nessa altura, eu andava à procura de um artista gráfico, para me fazer algumas capas de lançamentos. Encontrámo-nos, falámos um pouco e ele disse que conhecia um tipo que se interessava muito por música extrema. Fomos visitá-lo: era o Alafern. Isto aconteceu lá por 1999-2000. Não faço ideia nenhuma do que é feito desse artista gráfico, mas estoulhe muito grato por me ter posto em contacto com um grande músico, pessoa e amigo, que é o Master Alafern. Também tens alguma ligação com a música clássica? Não, nada. Sou engenheiro mecânico, um tipo completamente técnico.

Thunderkraft e Svyatogor. A que corresponde a dualidade de que tratam neste álbum? Tem ao a ver com a luta entre o Bem e o Mal? Não tem nada a ver com isso, visto que essas categorias morais não fazem parte da forma como QM entende a realidade ou o irreal. O título do nosso álbum refere-se à dualidade da Natureza, à união do contraditório, à permanente interação e contradição entre esses dois polos. Em que medida a capa do álbum ilustra esse conceito? É curioso ter sido criada por um artista russo. A essa pergunta é fácil responder. Não tínhamos ideia nenhuma para a capa. Só havíamos decidido que tinha de ser uma imagem escura e minimalista e foi o que tivemos. O artista que escolhemos – Al.Ex {Mayhem Design}, de S. Petersburgo, na Federação Russa – é um verdadeiro mestre. É capaz de compreender rapidamente uma ideia apresentada pela banda e de a converter num trabalho gráfico, simultaneamente inesperado e perfeitamente adequado

“QM não se identifica com outras bandas. Fazemos o que queremos fazer, eles fazem o que querem. Assim, ficamos todos contentes.” A cena ucraniana parece ser bem pequena. Mesmo assim têm uma banda como Drudkh, que já é famosa há algum tempo. Identificam-se com outras bandas do vosso país ou estrangeiras? Não me parece que a cena metal ucraniana seja assim tão pequena. Para dizer a verdade, acho que só por si ultrapassa as cenas de todos os países da Europa de Leste e da Rússia. Temos várias bandas de destaque, conhecidas em todo o mundo (mas ainda underground) e Drudkh é apenas uma delas. QM não se identifica com outras bandas. Fazemos o que queremos fazer, eles fazem o que querem. Assim, ficamos todos contentes. O que há de música clássica e de cultura ucraniana na música e letras de Quintessence Mystica? QM pretende tratar de algo que é subconsciente, espreitar para além das fronteiras do que é comum, para lá da religião e da ciência. Por conseguinte, não há muito da cultura ucraniana na nossa música e nas nossas letras. Se isso acontecer, será por mero acaso. Por exemplo, o Alafern sente que os arranjos sinfónicos que ele faz são influenciados pela escola ucraniana de música clássica. Mas, se queres ouvir música centrada na cultura ucraniana, terás de te concentrar nas outras bandas dele que já referi: 48

ao que se pretende e verdadeiramente artístico. Terei muito gosto em continuar a trabalhar com ele nos futuros lançamentos da banda. Sentes-te afetado, de algum modo, pela situação política atual na Ucrânia? É claro que sim! Cracóvia, a nossa cidade natal e a sede do Black Metal na Ucrânia, fica apenas a cerca de 500 Km da fronteira com a Rússia. Há algumas pessoas nossas conterrâneas que estão infetadas pela propaganda política difundida pela televisão pública russa. Parece que o Senhor Putin não consegue apreciar de forma racional o que está a acontecer entre a Ucrânia e a Rússia e é uma tristeza ver semelhante loucura. As pessoas que vivem em áreas que fazem fronteira com a Rússia andam a preparar-se para a guerra, a comprar armas e munições para proteger a nossa pátria, a armazenar víveres, a comprar armamento com o seu próprio dinheiro para equipar o nosso exército (que foi praticamente destruído durante o mandato do presidente Yanukovich). A única esperança que nos resta é podermos contar com o apoio da comunidade internacional, que pretende impedir a criação de uma segunda União Soviética, o que parecer ser o grande objetivo do Senhor Putin.


“[O álbum] não tem nenhuma ideia geral ou plano de base. Cada canção vale por si e deve ser vista como uma obra de arte isolada.” Há algo de narrativo no vosso álbum? Ou sou eu que o vejo assim? Não, não tem nenhuma ideia geral ou plano de base. Cada canção vale por si e deve ser vista como uma obra de arte isolada. O álbum assemelha-se a um assalto musical, cheio de passagens melódicas e marcado por duas vozes. É assim que pretendem que seja visto? Tal e qual! Isso é a nossa música no seu melhor. Fizemos muitas experiências, à procura de um ponto que nos deixasse satisfeitos. E o que é a satisfação para um músico? Significa que a atmosfera que existe dentro de uma cérebro, de uma alma, de um coração, está representada, de forma tão clara quanto possível, no mundo físico, mais concretamente com recurso a meios musicais. Sinto que fomos bem sucedidos no nosso intento. Rápida e agressiva, tenebrosa e melódica, furiosa e poderosa – eis a essência Quintessence Mystica. Vão conseguir fazer uma digressão para promover o vosso álbum? Não, não temos nenhuma intenção de o fazer, ou sequer de apostar em concertos isolados. Como so-

mos uma banda underground, acabaríamos a tocar em pequemos espaços, com equipamento de som de má qualidade, logo com grandes probabilidades de a nossa música soar mal, muito pior do que na gravação. Com tais perspetivas, por que iríamos embarcar numa aventura dessas? Nem nos parece correto fazê-lo, pensando nos interesses das pessoas que viriam ouvir-nos tocar ao vivo. Por conseguinte, não haverá concertos para nós. Não faltam por aí bandas de metal profissionais e de qualidade, capazes de fazer grandes concertos e que gostam de pedir aos seus fãs que apoiam o Metal, que vão aos concertos, que comprem CDs e merchandising. Assim, ajudam a manter o universo underground! Entrevista: CSA FACEBOOK www.facebook.com/pages/Quintessence-Mystica/142695702456583 VÍDEO www.youtu.be/t9rc7d4QSDk


Ilustrando sentimentos! É um jovem artista ainda pouco conhecido, mas a arte que fez para «Melting Sun», o bizarro último álbum de Lantlôs, granjeou-lhe uma bem merecida atenção. De uma forma despretensiosa, mas entusiasmada, Pascal Hauer explica à Versus como se pode usar traços e cores para… recriar sentimentos, sensações quase palpáveis de tão intensas que as fizeram! Adorei a arte psicadélica que fizeste para o último álbum de Lantlôs. Como conseguiste encontrar as imagens ideais para cada canção? Pascal Hauer – Fazer a arte para 50

«Melting Sun» não consistiu meramente em converter conteúdo lírico em imagens (embora essa tenha sido uma parte importante do trabalho). Apostei sobretudo na ideia de capturar a

atmosfera de cada canção. Portanto, ouvi muitas vezes as canções e procurei compreendêlas. Tenho de confessar que as primeiras imagens que fiz para o álbum eram muito diferentes


das que agora figuram nele. Os temas eram os mesmos, mas o estilo era muito diferente – mais propriamente, errado. Tinham um ar frio e deprimente. Depois de ter trabalhado algum tempo com o Marcus e de termos discutido a minha proposta inicial, abandonei por completo essas primeiras imagens. Voltei ao álbum e acabei por apreender o lado morno e positivo das canções e criar as imagens que me permitiriam passar essa mensagem a quem comprar o álbum. Então o Marcus deu-te uma ajuda. Ele ajudou-me dando-me palavras-chave que tinha em mente para cada uma das canções, para traduzir o sentimento ou a cena descritos nas letras ou nos padrões de cor. Foi uma coisa estranha: por um lado, ele tinha uma imagem específica em mente para cada uma das canções, mas, por outro, estava sempre a dizer-me para eu fazer o que me parecesse melhor e achava sempre bem o que eu fazia. É por isso que adoro trabalhar com ele. Como é que ele te encontrou? Encontrámo-nos numa festa. Passámos bastante tempo a falar

e chegámos à conclusão de que tínhamos muito em comum: certas experiências na (e com a) vida e os nossos gostos musicais. Gostou do meu trabalho e, portanto, pediu-me para eu fazer um desenho para uma tshirt relativo a «Agape» pouco depois deste nosso primeiro encontro.

Que técnicas usaste para produzir estas ilustrações tão belas? Fico contente por teres gostado. Basicamente usei a mesma técnica que o Marcus no artwork de «Agape», porque me pareceu que seria uma boa forma de ligar este álbum ao anterior. É uma técnica que assenta na inversão de cores, o que as torna


mais brilhantes e poderosas. Além disso, deixei as cores escorrerem por cima da imagem, para dar a impressão de que estavam a derreter. Usas sempre essa técnica? Vi trabalhos que me pareceram feitos com recurso a outras técnicas na tua página no Facebook. Pareciam ter sido desenhados com uma pena, realçados a tinta-da-china e coloridos com aguarelas. Não me atenho a uma só técnica. De um modo geral, tenho dificuldade em me identificar com o meu trabalho. Por isso, uso estilos diferentes. A alguns mantenho-os durante bastante tempo, outros só os uso uma vez. Às vezes, olho para ilustrações que fiz, imagens que criei e chego à conclusão de que nunca mais trabalharei daquela forma. Que artistas te inspiram? A arte que fizeste para «Melting Sun» lembra-me a estética dos anos 60 e, em particular, a banda desenhada e a arte psicadélica. Estou a ver por que falas disso. Adoro a estética dos anos 60, mas também sou fã da Arte Nova, sobretudo das obras de Alfons Mucha ou Gustav Klimt

(este último na sua vertente de artista gráfico). Contudo, não consigo mencionar nenhum artista que me influencie diretamente. Mas isso não constitui problema para mim, porque penso que um artista deve sobretudo ser inspirado pela sua imaginação e pelo ambiente em que se insere. Só assim criar algo novo. Posso dizer que desenhas a felicidade? Eu desenho principalmente sentimentos. Na minha opinião, a felicidade é muito complexa. Gosto muito de tentar captar estados emocionais em imagens e prefiro aqueles que são mais difíceis de descrever, tais como a pura felicidade ou a ânsia de atingir o que é inatingível. És tu que escolhes os clientes? Ou eles escolhem-te a ti? Quem me dera poder escolher os clientes à minha vontade, haha! Fico sempre encantado,

quando alguém repara em mim. Por vezes, escrevo a bandas para quem gostaria de trabalhar, mas, à exceção de um cantor que dá pelo nome de Miserable (membro de Whirr ou de King Woman), com quem estou a trabalhar no momento (o que me deixou muito feliz), não tenho recebido quaisquer respostas ultimamente.


posição. Nem sequer sei se o meu trabalho tem qualidade para ser exibido em galerias, porque me parece que o que eu faço não é verdadeiramente arte. A arte é sempre independente. As imagens que crio servem sobretudo para contar histórias ou ilustrar ideias. A arte vale por si. A ilustração tem de estar associada a algo mais: música ou palavra, por exemplo. Mas não recusaria nenhuma oportunidade de expor que me surgisse. O que te faria verdadeiramente feliz atualmente? Saber que as pessoas perceberam, de uma vez por todas, que só têm uma vida, mas que esta lhes dá miríades de possibilidades de a tornar extraordinária, independentemente da forma como pretendam vivê-la. As pessoas estão sempre a comparar a sua vida com as dos outros. Imitam o comportamento dos outros, porque pensam que é assim que se deve fazer. Mas não há uma só forma certa de a viver. Entrevista: CSA FACEBOOK www.facebook.com/PascalHauerIllustration Aprendeste a desenhar (para além da formação que qualquer um tem na escola)? Não tenho qualquer formação, para além da básica a que te referiste. Mas sempre adorei desenhar. Atualmente, estou a estudar Belas Artes na universidade. Já trabalhaste para muitas bandas? Quem eram essas bandas? A maior parte das bandas com quem trabalhei no passado, tais como Lantlôs ou Vargnatt, eram de amigos e sinto-me muito feliz porque tudo o que faço para eles chega a um nível superior. São trabalhos que ultrapassam

a mera conversão da música de alguém em imagens, porque eu compreendo mesmo o que está por trás das palavras e da música. Não são assim tantas as bandas com quem trabalhei até agora (Mosaic, Impavida, Líam, Onde Sphérique, para referir algumas para além de Lantlôs e Vargnatt). Estou muito feliz, porque o interesse pelo meu trabalho está a crescer bastante desde que fiz a arte para o «Melting Sun» de Lantlôs. Fazes exposições de trabalhos teus em galerias de arte? Se sim, quando foi a tua última exposição? Ainda não fiz nenhuma ex53


Valnoir Um talento aristocrático!

Usa o nome de Valnoir, mas a sua arte é construída a partir de ricas combinações de negro e cores contrastantes, que chamam a atenção para toda a música que acompanha. Inspira-se na arte Império e na estética da Arte Nova, mas consegue combinar essas influências com o uso de ferramentas digitais. É um homem feliz, mas, simultaneamente, um apaixonado pelas trevas do Black Metal. Eis alguém que não tem medo de ser contraditório!!!

Há já um tempo que queria entrevistar-te, porque vi vários dos teus trabalhos, que me pareceram admiráveis. Mas foi a capa que fizeste para «Contradiction», o segundo álbum dos suíços Schammasch, que me decidiu. Há alguma intenção subjacente à escolha do vermelho vivo como cor principal para esta capa? 54

Valnoir – Como dizia Benoît Poelvoorde em « C’est arrivé près de chez vous »: « Le rouge c’est la couleur du sang, c’est la couleur de la violence ! C’est la couleur des indiens, Rémi !» O vermelho é uma das cores do espetro cromático com mais peso simbólico. Está ligado à vida, à revolução, ou, inversamente, à violência e à morte, O negro é outra cor de valor fundamental no universo em que me movo por razões que nem vale a pena referir. Utilizá-lo a par do vermelho em « Contradiction » foi una opção lógica., tanto mais que a proximidade do vermelho o faz sobressair. É uma capa muito subtil, a avaliar pela descrição que C. S. R. – o membro da banda que eu entrevistei. Como descreverias o conceito subjacente a este artwork ? A palavra adequada é: trabalho! Foi um processo muito mais difícil do que o habitual, juncado de obstáculos, de perdas de motivação, mas, no fim, triunfei. Segues sempre o mesmo processo de criação, ou tens estratégias alternativas? Não tenho nenhum método de trabalho rígido,


muitos menos para bandas tão fortes como estas. Cada banda é única, logo os meus métodos de trabalho são constantemente postos à prova. Admiro muito a forma como combinas o negro com cores vivas (azul, verde, vermelho), que me fazem pensar em trabalhos de esmalte típicos da joalharia do século passado. Há alguma relação deste género? Por que escolheste esta paleta de cores? Lalique ocupa um lugar de destaque na minha biblioteca, apesar de eu ser muito mais inspirado pelo seu desenho e pela sua fauna delirante do que pelos materiais que ele utiliza. As escolhas de que falas vêm-me da estética das tapeçarias do Império e das que ornavam as paredes das casas da aristocracia francesa,

em que o ouro ocupava um lugar importante, mas sempre acompanhado por uma outra cor poderosa: o verde, no tempo de Napoleão, ou o azul, no tempo da monarquia. Que tipo de técnicas usas para fazeres os teus trabalhos? Desenho realçado com tinta-dachina aplicada com uma pena? Ou desenhas diretamente com a pena e aplicas a cor depois? Que segredo te permite pôr as pessoas a sonhar diante da tua arte? O meu segredo é a maldade. De resto, uso muito pouco as técnicas tradicionais. Mas, quando recorro a elas, uso antes a caneta pincel, para colorir os meus desenhos. Desenvolvi vários instrumentos vetoriais, que me permitem simular traços muito orgânicos, com a ligeireza e o con-

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forto do universo do digital. Vi com atenção o teu portefólio na internet e reparei que fazes ilustrações para outros objetos para além de capas de álbuns. Podes falar um pouco das outras vertentes da tua arte? De facto, tento encaminhar-me paulatinamente em direção a problemáticas mais próximas da arte contemporânea. Neste momento, estou a preparar-me para ir à Noruega para dar início a uma nova etapa de uma epopeia especial em que me envolvi há um ano: estou a trabalhar numa série de projetos artísticos com a Coreia do Norte em colaboração com o artista norueguês Morten Traavik, que, provavelmente, foi o único capaz de conquistar esta “república” e de desenvolver algo dentro dos limites que ela tolera. A minha parte no projeto consiste em assegurar todas as necessidades gráficas e fotográficas. No ano passado, por exemplo, fui para Pyongyang fazer um clip de uma versão de uma canção dos A-Ha por um grupo de acordeonistas locais. Há vários anos que desenvolvo uma série de projetos para bandas que usam 56

o corpo humano no processo de criação. Assim, desenhei para os Watain cartazes com uma tinta feita à base de sangue humano, criei para King Dude uma tinta feita de ossos, cozi patchs nas costas de um homem para Glaciation, etc... Estudaste arte? Se não, onde aprendeste a desenhar? Passei cinco anos numa escola de artes gráficas em Paris, onde aprendi muito. Era uma escola grátis, onde se entrava por concurso e se era objeto de uma seleção muito exigrigorosaente. Isso permitiu-me conhecer gente de talento excecional, o que me enriqueceu muito. Passei do décimo piso abaixo do solo ao rés-do-chão da arte. O que é te inspira, quando procuras ideias para um novo trabalho? A minha primeira fonte de inspiração é o universo da banda. É o seu universo que me dá a base para o meu trabalho. Depois, tenho de o alimentar de matéria fresca, que não pode vir do mundo do metal, que é conservador, se imita a si próp-


tista ligado à cena metal. Va l n o i r é apenas um pseudónimo, que tem a vantagem de se assemelhar a um nome. Assim, escuso de me sentir ridículo, quando tenho de o usar em público.

rio e está cheio de clichés. Esta inspiração tem de vir de qualquer outro lado: do cinema, da arte contemporânea, de selos. Também vou buscar inspiração às minhas viagens. Costumo ir visitar os cantos mais estranhos da Europa, como Abkhazia e a Transnístria, ou seja, tudo o que o bloco soviético produziu de mais bizarro. Quando e como começaste a desenhar? Como todas as pessoas que seguiram um caminho semelhante ao meu, comecei muito cedo, ainda era um miúdo. Tive todos os caprichos das crianças: entre os 7 e os 9 anos, queria ser designer automóvel, dos 10 aos 14 anos, senti-me atraído pela banda desenhada. Depois o metal – principalmente o Black Metal – entrou na minha vida e tornou-se a minha principal obsessão. Desde essa altura, todos os meus pensamentos, atos, opções, testemunhavam do meu fervor pelo Black Metal. Nessa altura, pus de parte quase todo o meu trabalho gráfico, até me dedicar novamente a ele, quando iniciei os meus estudos e fui capaz de fazer uma síntese de tudo isto. Chamas-te verdadeiramente Valnoir? Ou é apenas um pseudónimo, como Lautrec ? Se é verdadeiro, calha mesmo bem, para um ar-

E, a propósito, foste tu que escolheste a música extrema? Ou foi ela que te escolheu a ti? Não, foi uma escolha minha. Tratava-se de fazer coexistir num mesmo mundo, as minhas duas obsessões: o grafismo e a música. E quase consigo viver dos meus trabalhos, embora com dificuldade. Portanto, posso considerar-me um homem feliz. Tanto mais que vivo no país que tem a melhor comida do mundo. Aliás, a comida está a tornar-se a minha terceira obsessão, mas, de momento, ainda não sei como a fazer coexistir com o grafismo E a música extrema. Quais foram os mais belos momentos da tua


carreira até ao momento? E o que te falta para seres completamente feliz? Penso que os meus melhores momentos foram: ganhar o primeiro prémio num concurso de grafismo organizado por NSK (os mentores do meu pensamento), trabalhar com Ulver para a reedição da trilogia Black Metal da banda, partir para a Coreia do Norte neste projeto de arte contemporânea, conhecer Milton Glaser e discutir arte com ele no seu ateliê de Nova Iorque. Tive outros, mas estes foram os mais marcantes. Só me falta publicar um livro sobre o meu trabalho, mas esse projeto está em andamento na editora Timeless, De resto, acho que tenho tudo 58

o que preciso, já fiz quase tudo o que queria fazer, portanto sinto que tudo o que vier será bom e entrego a minha vida ao acaso. Se soubesses que ias morrer, por qual dos teus trabalhos gostarias de ser lembrado? Uma questão muito delicada. E à qual não posso responder, já que vivo eternamente insatisfeito com o meu trabalho. Entrevista: CSA FACEBOOK www.facebook.com/valnoir


A surpresa foi tão grande que o primeiro pensamento foi: Deve ser outro Giger! Mas não! Era mesmo O Giger – H. R. – o artista celebrado por Warrior, cujos trabalhos gráficos ilustraram capas dos álbuns de Celtic Frost e, mais recentemente, de Triptycon, de tal modo adequados que – aos olhos dos fãs atentos a estes pormenores – quase parecem “fundidos” com a música da banda e as suas letras. Basta ler o que TG disse sobre a capa do último álbum da sua atual banda - «Melana Chasmata» - na entrevista à LOUD! e o texto de homenagem ao grande artista seu compatriota, publicado no Facebook no dia a seguir à sua morte. Nele misturam-se a admiração pela obra e a incredulidade face à morte súbita do seu autor. O artista foi-se – a 12 de maio de 2014 –, mas ficou a sua obra, a honrar a sua memória. Gostaríamos de ter podido entrevistá-lo. Mas agora não é possível fazê-lo, mesmo que se acredite na existência de um outro mundo! Texto: CSA

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ARKONA «Yav» (Napalm Records) Apesar de esta banda originária de Moscovo ter já 10 anos de existência e na bagagem 6 álbuns, só agora tive oportunidade de a descobrir com o seu oitavo trabalho intitulado «Yav». E que álbum! Que banda me surgiu assim do nada inesperadamente! Combinando um folk metal com uma áurea pagã e uma voz sublime, ora limpa, ora gutural da vocalista Maria “Masha Scream” Arkhipova, a “rasgar” brilhantemente todas as músicas em «Yav». Folk metal? Sim, mas não torçam já o nariz porque o destes Russos, nada tem a ver com a essência intrínseca inerente a género musical, a qual é aqui aplicada com uma minuciosidade tal que torna esta música extremadamente interessante e principalmente bem conseguida. A incorporação de vários elementos musicais folk, e não só, à volta dos elementos mais clássicos (guitarra, bateria e teclados) torna-a rica e com um rendilhado musical bem texturado que caracteriza plenamente a música dos Arkona. Cantado em Russo, e apesar de não se compreender nada das temáticas inerentes a cada música, a fonética desta língua eslava cola que nem uma luva à música, conseguindo relegar para segundo plano este facto. «Yav» é igualmente um passo em frente na acensão desta banda, estando a música mais refinada, melhor conseguida e trabalhada que os álbuns anteriores, quer ao nível da composição e principalmente da produção, que deu um salto de gigante mas que ainda tem ainda algum caminho para percorrer. Eu diria que a este ritmo e nesta direção, os Arkona atingirão o supremo musical da sua música daqui a dois ou três álbuns. O naipe musical de «Yav» vai do mais folk/báltico de ‘Ved’ma’ até ao mais death/ pagan metal de ‘Na Strazhe novyh let’ com riffs e momentos de cortar a respiração. [9.5/10] Carlos Filipe AXEGRESSOR «Last» (Listenable Records) Axegressor nasce na Finlândia em 2006 e desde então têm dado nas vistas no norte da Europa com destaques em concursos e participações em festivais de metal. Fortemente influenciada com o Trash dos anos 80, a banda evoluiu para a sua interpretação do que deveria ser o Trash nos dias de hoje. O que nos chega às mãos são nove faixas de riffs energéticos, com os clássicos breaks e voz rasgada no micro. A receita é simples, como é suposto ser, pondo em destaque refrões empenhados e secções rítmicas coesas que marcam o ritmo a riffs de guitarra agressivos. Trata-se de um álbum clássico sem realmente o ser, mas faixas como “Freedom Illusion” ou “Mind Castration” seguem a estrutura típica do Trash. Já a “Merciless Reality Check” tem mais para nos oferecer, sem cair nos clichés do género, consegue ser mais presente e conseguir uma boa relação entre os instrumentos e a voz. No que toca às faixas seguintes, a “15” é apenas energia e raiva; a “Social Pressure” segue esse mote e continua a espalhar a cadência. O riff da “A Fistful Of Ignorance” vem calmar o jogo mas meter mais peso e respeito, aumentando o ritmo após isso. Vindo depois, as duas últimas faixas aproveitar a deixa e concluir com este trabalho. O último (Last), três anos após o próximo (Next), consegue trazer mais um pouco a esta banda que irá, certamente, brindar-nos com mais música de lixo (Trash) nos próximos capítulos. [7/10] Adriano Godinho BLUT AUS NORD / P.H.O.B.O.S. «Triunity» (Debemur Morti Productions) NEste split apresenta duas forças da França que trazem com elas o que mais interessante se produz dentro do Black Metal, Doom e Ambiente. Blut Aus Nord é já conhecido dentro do espectro Black Metal europeu, sendo que P.H.O.B.O.S. é menos conhecido – mas nem por isso menos interessante. Os primeiros três andamentos são lançados por Blut Aus Nord, e o expectável não desilude. Músicas de média duração que contêm o que melhor Vindsval e companhia sabem fazer – Black Metal com ambientes absolutamente geniais. Curiosamente há momentos que fazem recordar as guitar-

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ras melodiosas da trilogia «777», provavelmente ainda influências que restam dessa grande obra. A bateria está muito boa, com um Gionata “Thorns” Potenti a comanda-la muitíssimo bem. E os ambientes dos teclados e efeitos sonoros estão brilhantes. A segunda metade de «Triunity» apresenta três momentos declarados por P.H.O.B.O.S., com texturas Industriais e Doom. Efectivamente as bandas exploram sonoridades diferentes, mas um ouvido mais atento percebe que a essência é similar, e há acordes e dissonâncias que se tocam. E em boa verdade estes ambientes já foram explorados por Blut Aus Nord. Contudo, as três propostas de P.H.O.B.O.S. são interessantes e cativam. Electrónica, maquinaria, voz gutural, frequências duras e até claustrofóbicas, quiçá a apelar ao medo, pânico e fobias. No final entende-se que este split não é descabido de todo, pois embora as bandas estejam em patamares diferentes, ambas se aproximam da essência – diria que estão sintonizadas. Interessante. [8/10] Victor Hugo BURZUM «The Ways Of Yore» (Beylobog Productions) “Autenticidade” parece ser a palavra que mais se adequa ao léxico de Burzum. E no seio de tantos lançamentos, controvérsias e histórias para contar, a autenticidade terá sido, a meu ver, a energia e a força de Varg Vikernes. Seja Black Metal, seja a sua veia ambiental, Varg transparece confiança no que faz, quer os fãs gostem ou não, já que a veia ambiental não é a mais acarinhada no seio dos metaleiros mais tradicionais. «The Ways of Yore» é mais um lançamento de música ambiental, no seguimento dos anteriores, ou seja, no caminho que Burzum abriu para a compreensão da história e da evolução da Europa. Desta feita, Varg utiliza algum folk, muito simplista, aliado a sons e ambientes electrónicos que espalham as suas texturas muito calmamente, a um ritmo muito contemplativo. Aliás, ouvir este álbum obriga o ouvinte a desacelerar o seu ritmo habitual, aquele ritmo acelerado da rotina social, para obriga-lo a ouvir e sentir estes sons que de uma maneira muito subtil comunicam com a essência dele. Com «The Ways of Yore» Varg pretende comunicar um conhecimento antigo, quiçá esquecido, quiçá ocultado por esse ritmo descontrolado da sociedade, da Europa industrial, social e capitalista. Esse conhecimento está em cada um de nós, no sangue, no ADN, como um arquivo de memórias ancestrais. E Varg fá-lo através da música e de alguns contos/poemas que introduz nalgumas composições. E recita-os como se fossem histórias. Neste trabalho Varg explora uma maneira interessante de colocar a sua arte, e o resultado poderá ser sentido autenticamente se o ouvinte se entregar à experiência, caso contrário o sentido permanecerá oculto. [7.5/10] Victor Hugo CINDERELLA «Stripped» (Collectors Dreams Records) Quem cresceu como eu nos anos 80 a ouvir o bom Hard-Rock, por exemplo, na antiga Rádio Comercial deverá lembrar-se perfeitamente dos Cinderella. A voz muito particular e cheia de personalidade de Tom Keifer fazia a diferença. Conseguiram uma ascensão quase meteórica com três magníficos álbuns, com natural destaque para «Long Cold Winter» e a consequente afirmação de «Heartbreak Station» (O meu favorito, já agora). Alguns anos depois Keifer passou por graves problemas de saúde que afetaram quase irremediavelmente a sua voz. Desde 1994, altura do lançamento de «Still Climbing» que os Cinderella não lançam qualquer álbum de originais, mantendo-se em regulares tournées e lançando alguns álbuns ao vivo. Um deles foi «Live At The Key Club», gravado em 1998 mas só lançado em 2001. Em 2014 temos este «Stripped» e em que é que difere do gravado no Key Club? Nada! É o mesmo e com mais temas! Mas quem teve a ideia de “atirar cá para fora” um álbum ao vivo que já foi lançado? A banda mudou de editora e não quero acreditar que tenham sido dos músicos a ideia de lançar algo já feito. Talvez uma forma de a editora dizer: “Atenção rapaziada, eles agora são da Collector Dreams Records – Estará um novo álbum para breve? Espero que sim! Talvez, porque isto não faz absolutamente sentido nenhum e apetecia-me classificar isto com um zero. Mas… estaria a ser injusto. E que raio, são os Cinderella, passei muitas horas a “curtir” isto! O álbum é muito bom, excelente som, autêntico “Best of”, no entanto, a voz de Keifer não tem a potência do antigamente mas o timbre e personalidade estão lá! Como é bom reviver os bons velhos tempos dos anos 80 ao som de “Gypsy Road”, “Heartbreak Station”, “Shelter Me”, “Coming Home”, etc. … está cá tudo!! [9/10] Eduardo Ramalhadeiro

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CONQUERING DYSTOPIA «Conquering Dystopia» (Century Media) Quando um gajo pensa que o universo da música está em aparente estado de letargia, eis que somos atingidos por um raio fulminante que nos deixa completamente atónitos! Aos primeiros riffs de “Prelude to Obliteration” somos completamente obliterados pelo som inconfundível da guitarra de sete cordas de Jeff Loomis!!! Keith Merrow complementa na perfeição Loomis e só um tremendo guitarrista estaria à altura para fazer algo tão grandioso com um dos mais talentosos guitarristas à face da terra. Mas, na minha mui modesta opinião, Loomis sobressai claramente! «Conquering Dystopia» é todo ele instrumental e de toda a discografia de Loomis que conheço, desde os Sanctuary, Nevermore aos anteriores álbuns a solo, este é, definitivamente, o melhor! (Para não correr o risco de ser injusto com Merrow, deixo vincado mais uma vez, que também ele é soberbo!) Não vou falar da técnica ou virtuosidade de Loomis porque essa é intocável, mas um grande guitarrista não é só técnica e estilo, se não souber compor boa música não sobressai e cai rapidamente no esquecimento. As composições e os riffs são, precisamente, uma das mais-valias de «Conquering Dystopia». Depois, os solos de Loomis, sendo este um dos álbuns que mais me fascinou ao nível do acompanhamento rítmico. A bateria de Rudinger em algumas partes soa pouco orgânica, como que “programada” (trigger) mas sobe directamente do inferno à terra, para se juntar aos demónios já de si enfurecidos. Não costumo falar da produção mas também ela está excelente e prova disso, é que muitas vezes num álbum desta magnitude e orientado às guitarras, o baixo é completamente obliterado. No entanto, ouve-se perfeitamente cheio de técnica e pujança. Para os detratores que possam vir a dizer que é shredd a mais, este texto foi escrito por alguém que não aprecia, de todo, este estilo ou técnica, como lhe queiram chamar. (Como eu gostava de ver Loomis num álbum com Friedman, assim um «Cacophony, pt2»…) [9/10] Eduardo Ramalhadeiro DARKEST ERA «Severance» (Cruz Del Sur Music) Após o excelente e muito bem recebido álbum de estreia, «The Last Caress of Light», os Darkest Era demoraram três anos a lançar o seu sucessor. Ou melhor, o seu digno sucessor! «Severance» é uma fusão deveras interessante de Old School Heavy e porque não, Death Metal melódico com ritmos Celtas e um mais negro e folclore Irlandês. No entanto, podem estar a pensar num género de sonoridade Celta com as habituais flautas ou dos violinos a rasgar. Os Darkest Era conseguem criar todo este ambiente somente com os instrumentos habituais, por assim dizer. Digo-vos já que este álbum ouve-se num ápice e nem damos pelo tempo passar. Às primeiras notas acústicas somos, imediatamente, transportados para uma era e para um mundo onde o tempo para… e num ápice, voltamos à realidade com o fim! No entanto, só o tempo necessário para voltar a carregar no play e aí vamos nós! O que me fascina ainda mais e já vou na enésima audição são as influências, os pormenores e aí podemos ouvir claramente o “galopar” dos Iron Maiden, por exemplo, no excelente final de “Trapped In The Hourglass” ou Thin Lizzy (dignos Irlandeses) em “The Serpen And The Shadow”. Mas devem estar a pensar… mas que raio? Os Thin Lizzy não são assim tão pesados! Pois, mas os Darkest Era fazem-no e é esta dicotomia que faz de «Severance» um álbum diferente e apetecível! [8.5/10] Eduardo Ramalhadeiro DESECRESY «Chasmic Transcendence» (MDD Records) E das gélidas latitudes da Finlândia chega-nos um dos registos com mais labaredas por metro quadrado dos últimos meses. Os Desecresy não são meninos para deixar o gelo em estado sólido e vai daí que lançam «Chasmic Transcendence», um dos maiores quebra-gelos sonoros dos últimos meses. O registo vocal de Jarno Nurmi é simplesmente demolidor, quase inacreditável tal é a capacidade de transbordar vocalizações guturais encorpadas, de fazer medo ao medo, invocando e fazendo jus aos requisitos do Death Metal mais radical e pesado. Se tirássemos Jarno fora deste CD e

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colocássemos um outro qualquer interveniente mais dócil, provavelmente «Chasmic Transcendence» seria apenas mais um bom trabalho de Death Metal. Na secção instrumental, caso ainda não conheçam os Desecresy, os créditos não ficam em mãos alheias e Tommi Grönqvist trata de conjugar, não digo na perfeição porque não é isso que se pretende, mas de uma maneira coerente, todos os instrumentos (guitarras e bateria) e com uma sonoridade que parece que estamos a ouvir um vinil sem qualquer vestígio de digital. Assim sendo acaba por ser difícil pedir mais ou melhor a quem está na arena do Death Metal, especialmente se o objetivo é reavivar a vertente old-school onde os Desecresy estão como peixe na água. Riffs pujantes, solos simples mas coerentes com o resto da música, bafejada com algum Doom, enfim, um som que parece que vem das profundezas dos abismos mais temíveis. Deixar passar ao lado este «Chasmic Transcendence» é com algum grau de certeza um erro crasso. [9/10] Sérgio Teixeira GAME OVER «Burst Into the Quiet» (Scarlet Records) A primeira impressão com que fiquei ao ouvir Game Over é que, isto é “Megadeth”! Esta apreciação não deve ser vista como algo pejorativo, antes pelo contrário. E de facto, no restante álbum, esta comparação é a que melhor se encaixa na definição do som dos Italianos Game Over. Mas, tal como algumas bandas revivalistas parece ser uma nova onda - e esta é mais uma, conseguem trazer para os dias de hoje o som que fez das bandas dos 80/90 aquilo que são hoje passados 25, 30 anos. Não vejo mal nenhum nisto se fizerem jus ao legado deixado por estas bandas, e, nalguns casos até acrescentar algo de fresco e novo. Os Game Over não fogem à regra e têm com «Burst Into The Quiet» - o seu segundo trabalho - uma pujante descarga de Trash Metal à lá Megadeth com espírito de thrash metal da Bay Area, sempre a abrir do início ao fim, com solos super-rápidos, riffs acutilantes e um vocalista com um timbre próprio e mais convencional, o qual não fica atrás de Dave Mustaine. Apesar da “colagem”, os Game Over conseguem dar uma textura musical própria com grandes inspirações aqui e ali nas antigas bandas de thrash metal. O álbum funciona na perfeição, com grandes malhas a puxarem para um headbanging frenético, em que conseguem manter o nível de thrash ao longo das nove músicas que compõem este segundo de originais. Obrigatório para fãs do thrash metal clássico made in Bay area, só que aqui a banda é italiana. [8/10] Carlos Filipe HOUR OF PENANCE «Regicide» (Prosthetic Records) Os Italianos Hours of Penace estão de volta e já em maio foi lançado para espaço do Death Metal Brutal o registo intitulado «Regicide». Riffs poderosos surgem numa cascata intensa; para quem anda suficientemente em forma para cerca de 40 minuto estados de alma eletrizantes e nada mais do que isso tem aqui o seu álbum de início de verão. Sem dúvida que os pontos a somar em «Regicide» são a imparável sucessão de composições que não são de todo imediatistas, impregnadas de uma extrema densidade de riffs e dinâmicas rítmicas que acabam por ir parar por vezes à esfera do Thrash, embora que mais por via da vertente técnica que os Hour of Penace imprimem nos seus trabalhos. Por comparação com os álbuns anteriores não haverá grande novidade a extrair deste último lançamento, e também não há grande novidade no que diz respeito a características como a inovação/originalidade ou eventualmente à conceção de composições marcantes. E aqui talvez seja a questão que mais penaliza «Regicide». Não há dúvida que quem está à procura de, após 40 minutos de audição, ouvir todo o tipo de riffs e as mais diversos compassos rítmicos vai ficar satisfeito. O problema é que para se fazer um disco, não é suposto despejar-se apenas um conjunto de segmentos áudio e colar tudo de modo a ficar algo parecido com uma peça de cerâmica que após cair ao chão foi colada com super-cola. «Regicide» está demasiado perto de cair numa definição destas e talvez tivesse sido boa ideia, estes italianos terem gasto um pouco mais de tempo a conseguir um trabalho mais apurado. [8.0/10] Sérgio Teixeira

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LANTLÔS «Melting Sun» (Prophecy Productions) Depois de um «Agape» com pouco brilho, Markus (outrora com o nome artístico Herbst) propõe um «Melting Sun» cheio de luz e cor. A nova proposta é mesmo isto, uma lufada de ar fresco, cor e brilho – como se fosse a passagem de um Inverno cinzento para uma Primavera cheia de sol, verde e viçosa. Para além da sonoridade diferente, pela qual Lantlôs deixa as vestes do Doom e Shoegaze e enverga uma vestimenta de Dream Rock misturado com Post-Rock, Neige, vocalista e espirito de Alcest, sai da banda para dar lugar às vozes limpas e suaves de Markus. Markus já tinha experimentado as suas vozes num dos seus projectos paralelos, LowCityRain, tendo o feedback sido bastante positivo. O registo vocal não é muito diferente neste trabalho de Lantlôs, e verdade seja dita, a música aqui presente não pede nem mais nem menos do que o Markus oferece; ou seja, está equilibrado e tem muito a ver com a essência de «Melting Sun». Instrumentalmente este álbum está muito forte. Apesar de todos os álbuns terem a sua característica própria, arrisco dizer que este «Melting Sun» é um dos mais fortes e emocionais. Uma viagem com muito Sol, podendo esse Sol ser o brilho interior de cada um de nós; aquela energia que nos faz afirmar a vida num lampejo de luz. É interessante verificar o percurso do artista, e reparar na sua caminhada pelas trevas até a uma via iluminada pela energia do Sol, energia essa que se espalha em cada acorde. Esta via pela energia solar só pode ser positiva, e por isso o resultado final é igualmente positivo e altamente recomendado. Boa viagem! [9/10] Victor Hugo MARTY FRIEDMAN «Inferno» (Prosthetic Records) «Inferno» é até á data, o trabalho mais fluido e bem conseguido de Marty Friedman. Deixando de lado algum do experimentalismo exacerbado de outros álbuns, Marty em «Inferno» concentrou-se mais na componente melódica, levando assim o seu virtuosismo a um nível magistral nunca visto no músico. É um regalo para os nossos ouvidos ouvir o último Marty Friedman, que apresenta um “cardápio” musical bastante eclético e equilibrado, guiado pelas cordas musicais da sua guitarra, proporcionando-nos uma pitada quanto baste de tudo aquilo que gostamos de ouvir, num verdadeiro “inferno” de grande qualidade e exuberância. “Wicked Panacea” é talvez um dos melhores exemplos para explanar o supra citado. Magistralmente executado e genialmente composto, «Inferno» restará como um dos melhores álbuns do género. Outra delícia presente neste álbum é a quantidade de convidados, que marcam a música do guitar hero radicado no Japão - onde é um “deus” - tais como o seu ex-colega dos Cacophony Jason becker - coautor na música “Horrors” -, David Davison, Danko Jones ou Alexi Laiho (Children of Bodom). «Inferno» é um álbum quase 100% acústico não fosse as músicas «Lycanthrope», «Sociopaths» e «I Can’t Relax». Este é um daqueles álbuns que já vem com o cunho de “clássico” agregado e servirá de base de comparação para tudo o que o Marty fizer daqui para a frente. Já com uma sólida e prolífera carreira a solo, Marty Friedman assenta aqui a verdadeira pedra basilar na sua música e consequentemente, discografia. [10/10] Carlos Filipe MEFISTO «The Megalomania Puzzle» (Vic Records) Esta compilação é para os mais novos. Percebi isto assim que soube que a editora Vic Records iria lançar mais uma compilação que reúne as duas demos, lendárias, dos lendários Mefisto. A banda nasceu ali em meados dos anos 80, sob o nome de Torment, e, já sob o nome de Mefisto, lançou essas duas pérolas de Speed/Black Metal que fez salivar todos os fanáticos do género. «Megalomania» e «The Puzzle» estão, assim, reunidos nesta recente compilação e, caramba, ainda hoje esta música tem o poder de deixar o ouvinte completamente colado às colunas. A nova remasterização traz uma sonoridade bastante retro que representa o estilo dessa era do Thrash e Speed Metal misturados com a frieza do Black Metal. Além do mais, o som

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desta remasterização soa igualmente a novo e fresco. É bom ouvir este disco! É refrescante! Isto porque as guitarras são geniais, com solos acutilantes e longos, aliados a uma bateria que sabe o que faz – ora lenta, ora rápida, mas sempre no sítio. O baixo pulsa lá atrás e dá profundidade à música. E a voz traz consigo a frieza da Suécia. Tenho a certeza que os ouvintes mais novos vão ficar de queixo caído. E os mais velhos vão ficar igualmente espantados com esta sonoridade tão fresca. Um disco que merece o seu devido destaque e celebração. [9/10] Victor Hugo

MEKONG DELTA «In a Mirror Darkly» (Steamhammer/SPV) Na minha mui modesta e humilde opinião, os Mekong Delta, a par dos Savatage, devem ser das bandas mais subvalorizadas na história do Metal. Muito activos durante a segunda metade da década 80 até à primeira de 90, os MD lançaram um punhado de excelentes álbuns: «The Music of Erich Zann», «The Principle of Doubt» ou « Dances of Death (And Other Walking Shadows)», só para citar três. Depois veio um interregno de 11 anos e como já sabemos, após estas paragens, seja por devaneios em projectos paralelos ou porque a banda, simplesmente acabou, há um regresso. Como é óbvio, esses regressos nem sempre resultam bem mas os MD foram terrivelmente competentes com «Lurking Fear». Não defraudaram os fãs mais ávidos e continuaram a fazer boa música. Estes Germânicos são uma banda com uma sonoridade muito própria que foi predominando com o passar dos anos. «In a Mirror Darkly» dá continuidade ao conceito (não musical mas temático) de «Wanderer on the Edge of Time». O seu Thrash Progressivo é único e complexo, combina na perfeição elementos e arranjos clássicos, interlúdios melódicos que contrastam com melodias e riffs Thrashianos um pouco mais obscuros. Algo que me continua a impressionar sempre que ouço os Delta é a forma como fazem a ligação entre estes diferentes elementos e tudo isto se reflecte na magnífica composição dos temas. Mas isto é algo que já vêm fazendo desde os seus primórdios, portanto, nada de novo. Martin LeMar impressionou-me com as suas harmonias na voz, assim como o pulsar e a sonoridade do baixo. Muito bom! Se vivem na obscuridade e não conhecem os Mekong Delta têm aqui uma excelente oportunidade de se aproximarem da luz e descobrirem uma banda cheia de personalidade e classe! [9/10] Eduardo Ramalhadeiro

MICHAEL SCHENKER & FRIENDS «Blood Of The Sun» (Collecorts Dream Records) Está quase tudo dito no próprio nome de capa da banda: Michael Schenker e amigos. Falta só acrescentar “ … e covers de clássicos do rock/metal”. Este é um trabalho de amigos para os fãs do metal em geral e em particular, com especial apresso, os fãs de Michael Schenker. Temos assim, um excelente álbum de covers de grandes clássicos do metal e rock, tocados exemplarmente pelo Michael Schenker e cantados por um cem número de cantores convidados. A genialidade deste álbum é que nem parece um de covers, dado o cunho musical inferido por Schenker em cada canção escolhida, conseguindo assim que cada peça musical, cada uma com o seu espírito da banda original lá bem vincado, consiga sobrepor-se e ressair a característica musical própria do músico germânico. Brilhante! Acrescento mais, bombástico! Destaco “Out In The Fields”/ Gary Barden, uma portentosa cover do original de Gary Moore, “Doctor Doctor”/Jeff Scott Soto dos UFO, “War Pigs”/Tim “Ripper” Owens, a mágica música dos Black Sabbath, aqui numa potentíssima versão com o “senhor covers itselft” ao comando, numa performance exemplar, “Money”/ Tommy Shaw dos Pink Floyd e “Hair Of The Dog”/Paul Di’Anno dos Gun N´Roses. Como extras, ainda temos duas versões instrumentais de “Doctor Doctor” e “War Pigs”. Bem delineado e equilibrado, «Blood of the Sun» é uma excelente e interessante abordagem a muitos dos clássicos que fizeram (e fazem) a música de hoje. [8/10] Carlos Filipe

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MONTE PITTMAN «The Power Of Three» (Metal Blade) Se vos disser que Monte tocou com Madonna em várias tournées, provavelmente, estarão a pensar que serei maluco e estou no gozo. Não posso estar a “falar” mais a sério! Sendo assim, «The Power Of Three» é um álbum deveras “musculado” e agressivo, por vezes “negro” com predominância para o talento natural de Pittman na guitarra e produzido por quem produziu «Ride The Lightning», «Master of Puppets» e «… And Justice For All», … Flemming Rasmussen. Não é o típico álbum shredd de guitarra e/ou correrias desenfreadas. Os riffs são excelentes, muito diretos e os solos, como é óbvio, são magníficos. Têm mesmo que ouvir isto… muito bom, sem dúvida! Como já escrevi Rasmussen é o produtor e não será difícil perceber as influências que se fazem notar na música. Por exemplo, em “A Dark Horse” que abre o álbum de uma forma espetacular: começa com um riff acústico deixando antever que é só uma questão de (pouco) tempo até começar “a partir”… e assim é. O massacre continua com “Delusions Of Grandeur”, no entanto, os temas seguintes fazem-nos “descansar” um pouco e aqui – chamem-me maluco – Monte “descamba” um pouco para o “território” dos Alice in Chains. Aquelas harmonias na voz não enganam ninguém. Chegamos a “Before The Mourning Sun”, introdução com um riff em tapping e depois, mais uma vez, a influência de Rasmussen e de velhos trabalhos faz-se notar. O Old School Thrash Metal não podia faltar com “Missing” e o fim chega de forma magnânime com “All Is Fair in Love and War” que resume em treze minutos tudo o que é «The Power of Three». [8/10] Eduardo Ramalhadeiro NOVERIA «Risen» (Scarlet Records) Ultimamente a nação Italiana tem feito nascer alguns lançamentos bastante interessantes. Neste número destaco os Noveria. Apesar de ser um álbum de estreia, os seus membros têm já uma vasta experiência. Emanuele Casali dos excelentes e também Italianos DGM e Astra, Andrea Arcangeli dos DGM e Solisia ou Francesco Mattei ex-Baton Rogue Morgue nas guitarras. Em conversa aberta com alguma malta da Versus comentámos que há muito tempo não se ouvia um álbum tão bom de Power Metal. No entanto, isto não é aquele Power típico das bandas germânicas, muito linear e de alguma forma previsível. É algo mais técnico e trabalhado – Se quisermos ser um pouco controversos, diria uma evolução (?). Se por acaso lerem a biografia da banda eles gostam de apelidar o seu género de “Catastrophic Metal”, o que quer que isso seja. Para manter a minha coerência e porque não, controvérsia, eu apelidava de Power Metal Progressivo, assim muito ao género de SymphonyX ou Pagan’s Mind. Bem, géneros e rótulos à parte os Noveria tocam que se fartam, excelentes tecnicamente e descarregam uma potente “Alta Voltagem” sonora, melódica e que cativa logo à primeira audição. O álbum abre com dois temas muito fortes. Hiper-melódicos, desenfreados e cativantes: “Risen” e “Downfall”. “Fear” é demoníaco… riffs fantásticos! Os outros temas seguem um pouco a mesma linha mas, definitivamente, devem prestar mais atenção aos mencionados. O que estou a tentar dizer é que devem ouvir estes Italianos… A.S.A.P.! [8.5/10] Eduardo Ramalhadeiro OCTOBER FALLS «Kaarna» (Debemur Morti Productions) Quem tenha ouvido ou conheça os três álbuns anteriores dos October Falls, tem de ter calma e mente aberta quando ouvir «Kaarna». Para quem decidir ouvir os October pela primeira vez, a começar por este álbum, devo dizer que eles não são assim. Não é que seja mau mas é… diferente. O estilo musical da banda é uma simbiose de Black Metal com interlúdios acústicos e atmosféricos. «Kaarna» não é mais que uma compilação de todo o material acústico gravado até à data. Portanto, já sabem de antemão o que vão ouvir e por isso, algo tão diferente pode suscitar as mais diversas

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e controversas opiniões. Não se deixem levar pelas reviews porque nunca será consensual, li duas e eram díspares, apesar das opiniões estarem fundamentadas e justificadas. Podem ler este texto e detestar a música… M. Lehto chama si todo o crédito, tocando sozinho todos os temas neste duplo CD e o melhor que fazem é ouvir. Isto é quase totalmente acústico (com excepção do piano e alguns instrumentos de sopro), ambiental, introspectivo e calmo. Não é pelo facto de “Marras” ter 36m40s ou o segundo CD ter, somente, dois temas que nos impede que nos esqueçamos do tempo, porque quem ouvir não se conseguirá libertar. Deixem-se mergulhar num ambiente zen, deixem-se levar por «Kaarna» e o vosso tempo não será perdido… Pode é custar voltar a abrir os olhos. Poderá ser diferente, controverso mas é Muito bom! (Prometi que sempre que fosse necessário falaria da dinâmica – Dynamic Range (DR) - pois bem, com um DR12, «Kaarna» é uma absoluta delicia sonora!) [9/10] Eduardo Ramalhadeiro PRETTY MAIDS «Louder Than Ever» (Frontiers Records) Sou fã destes dinamarqueses desde os anos 90 e ouço sempre com curiosidade os lançamentos novos. Como os Pretty Maids já não são jovens, pois acabaram de celebrar trinta anos de música, lançaram este «Louder Than Ever». No entanto, isto não é um novo álbum, não é um “best of” e não é uma compilação. Isto é qualquer coisa… híbrida. Para celebrar o aniversário os Pretty Maids decidiram gravar sete temas da era 1995-2006 e juntaram cinco temas novos. Com isto não sei o que hei-de pensar, não sei como hei-de classificar e não sei a que propósito fazem algo que não é “carne nem peixe”. Diz Atkins que é para dar uma nova “roupagem” aos temas antigos com o produtor actual enquanto trabalham no novo álbum e pelo meio encaixam cinco novos temas. Os sete temas re-gravados, bem… «Louder Than Ever» (Mais alto que nunca) resume quase tudo. Os temas sofreram poucas alterações, Atkins com as faculdades intactas canta os temas ainda melhor mas… porra, prefiro o dinamismo musical dos temas antigos, pois os gravados em 2014 sofrem de muito pouca dinâmica musical. Neste tipo de re-gravações, re-misturas, etc. sou bastante céptico e quase sempre prefiro os originais. Vejam a diferença entre o antigo e esta versão de “With These Eyes”. Como já escrevi, alto não é necessariamente bom e este “álbum” perde muito com este facto. Se era para lançar algo entre álbuns que o fizessem em forma de EP, com os cinco novos temas, se era para comemorar o trigésimo aniversário faziam algo mais coeso, pensado e não isto. A nota não reflecte tanto a música mas o raio da ideia… Fico a aguardar por algo 100% original. Já agora, o DR deste álbum é 5! Bah… [6.5/10] Eduardo Ramalhadeiro QUINTESSENCE MYSTICA «Duality» (Schwarzdon Productions) Ao segundo álbum que o Master Alafern achou que deveria evocar, eis que nada se acrescenta à primeira evocação. Sabendo de antemão que até nem era esse o seu propósito, «Duality» respira a mesma essência que o seu antecessor e isso não abona a seu favor. O Black Metal Sinfónico, carregado de melodias e linhas orquestrais saídas de um qualquer filme de Hollywood, como tão bem os Dimmu Borgir nos apresentaram com os seus álbuns orquestrais, ou mesmo Arcturus e Sirius, entre outras, teve o seu brilho nuns determinados anos, sendo que nos dias de hoje o estilo apresentase esbatido e sem graça. É exactamente isso o que acontece com este trabalho dos Quintessence Mystica – um trabalho sem graça, sem originalidade e sem garra que agarre o ouvinte pelos colarinhos e o faça colar ao álbum música a música. Todo este trabalho soa ao mesmo, e tem pouca variedade. Por entre blastbeats, linhas melódicas sem graça, a frieza da voz e orquestrações desinteressantes – por vezes irritantes – nada se destaca. Nem um solo de guitarra. Nem um arzinho de graça, daqueles que brilham no meio das composições. Nada! Está visto (e ouvido) que este Master da Ucrânia se concentrou demasiado na sua fórmula. E embora possa agradar a muitos, aqui pela Versus Magazine este tipo de trabalho já teve o seu tempo. Contudo, se fosse mais trabalhado, não tão colado à sua fórmula recta e mais orelhudo, talvez passasse. [1/10] Victor Hugo

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SEPTICFLESH «Titan» (Season of Mist) Mesmo antes dos deuses do olimpo andarem na terra, segundo a mitologia grega existiram os titãs, que são a primeira forma de divindade no mundo. São estes gigantes, com força colossal, da época de ouro que dão a inspiração ao novo trabalho dos gregos Septicflesh, como se a origem fosse revista para melhor perceber o presente. A obra começa com um clash nos céus, um trovão que é predição de terror e destruição no céu que nos cobre a cabeça, estarão os deuses zangados? “War in Heaven”, a primeira faixa diz-nos que sim. Todo o álbum vai nos provar que o olimpo está todo posto em causa, “Burn” mostra-nos, num refrão doentio, o sofrimento das vítimas do terror e ódio instaurados. A mistura intercalada entre a melodia, energia, vozes, instrumentos da banda e orquestra está feita de forma perfeita, como o podemos ouvir em faixas como “Prototype” ou até “Prometheus”. Faixas que nos fazem sonhar em ver um dia este álbum interpretado ao vivo com orquestra. Em nenhum momento sentimos que existem faixas para encher, o álbum segue o seu ritmo e determinação até ao fim, mantendo a consistência na qualidade até ao fim (genial?) do álbum. Menção mais que especial para os arranjos de orquestra (e a orquestra em si) que acompanha este trabalho, completamente realizado pelo guitarrista Christos Antoniou, elevando-o a um nível nunca alcançado de combinação banda/orquestra, a meu ver. Depois do “The Great Mass”, trabalho de 2011 que já tendia a avisar-nos sobre a qualidade deste quarteto, o “Titan” apanha-me mesmo assim de surpresa, tornando-se no álbum por mim mais ouvido deste ano. Os deuses do olimpo destronaram os titãs, agora é a altura dos Septicflesh destronarem os seus antepassados e tornarem-se nos próximos residentes no panteão divino. [10/10] Adriano Godinho

TESLA «Simplicity» (Frontiers Records) Mais uma banda de veteranos com as capacidades intactas. Com mais de trinta anos de existência mas somente sete álbuns de estúdio, os Tesla são uma banda de Hard Rock (and Roll) que se tem aguentado firme. Após um hiato de vários anos e tendo sido a banda dada como terminada, os Tesla voltaram… e voltaram em grande! O ano de 2004 vê o nascimento de «Into the Now» e até 2008, altura de «Forever More» dedicaram-se às covers. «Simplicity» chega-nos depois de mais um interregno, desta vez de seis anos e o título é, simplesmente, a forma perfeita de descrever o álbum. Um Rock and Roll simples e directo. Sem complicações. Estas características não o fazem um álbum “desleixado” ou fraco. Antes pelo contrário! Isto é muito bom de se ouvir e é a prova de que nem sempre o complicado ou excessivamente técnico é que é bom. Keith continua impecável nas vocalizações, com o timbre muito característico que poderá se incompreendido por quem não conhecer melhor os Tesla e claro, F. Hannon é um excelente guitarrista. É isto que os torna tão particulares e especiais. «Simplicity» é bastante variado nos temas, desde a abertura com “MP3” com um riff lento mas pesado, até ao bluesy “Honesty” passando pela sempre magnífica “Burnout to Fade”. Os Tesla nunca defraudaram as minhas espectativas, são dos meus favoritos, sempre tiveram álbuns muitos “sinceros”, emotivos e “5 Man Acoustical Jam” é o melhor unplugged alguma vez feito. A dupla Keith/Hannon continua a fazer excelente música e os Tesla, espero eu, continuarão a dar-nos muito boa música, assim, simples. É o que me basta! Rock and Roll!!! [8.5/10] Eduardo Ramalhadeiro

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THE CHANT «New Haven» (Lifeforce Records) Bem…estes Finlandeses acabam de editar o seu quarto trabalho de originais e definem a sua música como Rock Atmosférico, puro e simples. Não há que enganar. Desde 1999, ano de estreia, que têm vindo, contínua e solidamente a formar uma boa carreira. Ora bem, em 2014 este septeto não nos traz nada de original mas também, convenhamos: é muito difícil fazer algo de diferente neste género – diria mais, talvez, em qualquer género. Qualquer banda que tente fazer algo do tipo “Rock Atmosférico” será imediatamente “colado” ou comparado aos “pesos pesados” deste tipo de música: Anathema ou Katatonia, só para citar dois exemplos. Mas o cenário musical global não vive só destas duas bandas. Resta-me, pois, analisar «New Haven» por outros aspetos. As “camadas” musicais criadas pelo uso (e bom abuso) do piano e as três guitarras deixam transparecer um ambiente quase cinematográfico. Facilmente nos deixamos levar pela corrente melódica, emotiva mas melancólica desta coisa tão aparentemente simples a que chamamos música. Há muito para descobrir e sentir em «New Haven». Não são os veteranos que estamos habituados a ouvir mas também não interessa. O que interessa é que nos identificamos de alguma maneira com a música, o prazer e a satisfação que temos de a ouvir, independentemente de quem a faz. Os The Chant proporcionam este prazer de estar sentado a ouvir um bom som… calmo e introspetivo. [8/10] Eduardo Ramalhadeiro

THE CRIMSON PROJEKCT «Live In Tokyo» (InsideOut Records) (Esta será a minha primeira review após a entrevista a Dan Swäno acerca da “Loudness War”. Assim que se justifique darei o meu parecer acerca do DR de cada álbum, numa escala de 0 a 20) Ora muito bem, há álbuns que pelos seus intervenientes e pela sua qualidade, nós escritores/opinadores, temos de puxar, e muito, pelos nossos galões, só para não cair no ridículo de comentar algo em que… todas as palavras são poucas! Este The Crimson ProjeKCt é um deles. Mas… deverão estar a perguntar: que projeto é este!? The Crimson ProjeKCt é um projeto paralelo – chamem-lhe assim – que inclui 3 atuais elementos dos King Crimson que, como todos sabem, será uma das maiores bandas de Rock Progressivo… INDISCUTIVELMENTE! Este projeto que inclui Adrian Belew, Tony Levin e Pat Mastelotto centra-se no reportório dos princípios dos anos 80 até meados de 90 e deverá ser a única – não conheço outras – que é constituída por um “duplo-trio”, popularizada pelos King entre 94 e 97, Markus Reuter – Touch Guitar; Tony Levin – Chapman stick; duas baterias e precursão mais o habitual baixo e guitarra. Todo este set apresentado em Tokyo foi aprovado e apoiado pelo líder dos King, Robert Fripp. Como é óbvio, isto é muito difícil de descrever ou comentar e não me atreverei a falar da música em si… isto é King Crimson tocado pelos melhores… dos melhores. E só assim o poderia ser! Imaginem só: um “duplo-trio”, várias músicas ou como gosto de lhe chamar “camadas”… várias “camadas” musicais, todas elas distintas e que todas juntas fazem um todo, belo e maravilhoso numa perfeita simbiose musical. «Live In Tokyo» é dinamicamente Muito Bom, com um valor de DR11!! O habitual é um DR5/6, portanto, já estão a ver, isto reflete-se na música! A entrada “B’Boom” é qualquer coisa de espantosa…! Dois bateristas e o volume há muito passou os valores normais!! “Indiscipline” deixa-me (quase) sem palavras… mais solo de bateria, compassos complexos, desconcertantes, tudo como uma dinâmica que apesar do volume algo exagerado, faz com que os ouvidos se sintam confortáveis e possam “absorver” toda esta magia! [10/10] Eduardo Ramalhadeiro

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TIM BOWNESS «Abandoned Dancehall Dreams» (InsideOut Records) Quem é Tim Bowness? Penso que na edição passada fiz uma pergunta do género acerca de John Wesley. Não é um novato, antes pelo contrário. Bowness é daqueles talentos escondidos que pouca gente ouve falar mas que tem um currículo ridiculamente rico. Vamos lá ver só alguns exemplos: partilhou o projecto No-Man com Steven Wilson, com Robert Fripp dos King Crimson, Richard Barbieri, OSI ou o produtor e guitarrista dos Roxy Music, Phil Manzanera. Mais, só um artista excepcional conseguiria juntar no seu álbum músicos de topo como o próprio Steven Wilson e Colin Edwin dos Porcupine Tree, Pat Mastelotto dos King Crimson, Anna Phoebe - Trans-Siberian Orchestra/Jethro Tull/Roxy Music. Os arranjos orquestrais estão a cargo do compositor clássicos Andrew Keeling e são interpretados por músicos clássicos. Com este leque excepcional de músicos esta é daquelas compras “cegas”. A classe dos oito temas, muito bem denominada de Art-Rock, com a sofisticada mestria composicional muito bem influenciada pelos No-Man e Porcupine tree, juntamente com a voz “suave como seda” de Tim, o som familiar do mellotron e nem os sintetizadores retiram o “calor acolhedor, quase maternal” que «Abandoned…» nos transmite. É o que dá trabalhar com génios como Steven Wilson. Portanto, eu praticamente “disse nada, dizendo tudo”. Dinamicamente falando, «Abandoned…» foi masterizado por Andy Jackson – DR9 – e mesmo assim é uma delícia para os ouvidos. Ouçam, é obrigatório. Prometo que não se vão sentir abandonados! [10/10] Eduardo Ramalhadeiro VALLENFYRE «Splinters» (Century Media) Os britânicos Vallenfyre editam agora o 2º álbum de originais numa abordagem ao Death Metal old school em que as passagens bafejadas por Doom fazem a ligação e o preenchimento da sonoridade dos vários temas que nos são propostos. Por comparação com o que me lembro de ter ouvido do primeiro álbum, julgo que nesta nova etapa, a conceção das paisagens sonoras têm uma definição mais pensada, são mais propositadas, é agora quase impossível colocar em questão o surgimento deste ou daquele riff ou desta ou daquela pausa. Neste aspeto «Splinters» é um álbum mais maduro mas também um pouco mais previsível, o que não é necessariamente mau, pelo menos para quem aprecia ouvir um conjunto de temas (neste caso 11) que funcionam como um todo em que cada um deles representa um capítulo duma estória que tem o seu início, o desenvolvimento e a respetiva conclusão. O que me parece mais questionável é a utilização de cenários Doom em alguns momentos quando se pedia algo mais dinâmico. Noutras passagens também acredito que ao fundir Doom com Death, talvez descaracterize a mensagem que as composições deveriam supostamente transmitir. O que é certo, é que este formato híbrido funciona mais vezes bem do que mal ao longo do álbum e por isso também tenho que referir que melhor será muito difícil ser conseguido. Algum imediatismo nos temas leva a que sejam digeríveis com alguma facilidade sem contudo trazerem muito de novo. Vale este disco pelo todo, ouve-se bem, é pesado (não há dúvidas quanto a isso) e é propício a repetirem-se algumas audições. [8.5/10] Sérgio Teixeira VINTERBRIS «Solace» (Nordavind Records) De uma forma um pouco discreta surge-nos este som vindo dos confins da Noruega, pela mão firme dos jovens Vinterbris, grupo formado em 2008 e que lançou o primeiro EP em 2010 com o nome “The Unrested” que mostrava já sinais de qualidade sem muito marcar uma diferença. A qualidade que conseguem com este último «Solace» é notável, possuindo este todas as benfeitorias de um estilo musical introvertido e espiritual enriquecido com a capacidade ambiental e melódica que o completa com proporções generosas de uma instrumental navegante e inebriante. Não sendo este

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o primeiro longo-termo da banda, pois segue o álbum homónimo lançado em 2011,apercebemos-nos de notas de amadurecimento da formação relativamente aos seus inícios. A faixa introdutória “Dysphoria” é melódica e energética, especialmente deixada aqui para controlarem este nosso primeiro contacto com álbum e assim conquistar-nos nos primeiros acordes. Conseguido. As faixas seguintes fazem-nos viver o black metal dos seus antecessores, das regiões frias da Noruega, condicionadas à realidade vinterbris, que é a de adicionar ambientes melódicos controlados e bem executados e que sofrem uma evolução natural nestas músicas. Mas não ficam por aqui, faixas como a calorosa “Gazing at a Fallen Sky” deixa-nos transtornados em como pode uma música e ambiente tão quentes estar num trabalho destes? Bem, simplesmente porque na vida temos sempre destes momentos e o de «Solace» é grandioso de se ouvir. [8.5/10] Adriano Godinho VINTERSORG «Naturbål» (Napalm Records) Confesso que não sou muito fã de Folk Metal, tanto ao nível do próprio estilo como das bandas que o personificam. No entanto, os Vintersorg fazem-me contrariar tudo o que disse em cima. Este duo composto por Andreas Hedlund (Mr. V) e Mattias Marklund consegue prender a minha atenção Esta simbiose criada pelos diversos elementos ambientais e várias “camadas” musicais arrasta-nos, forçosamente, para um novo mundo criado através «Naturbål». De facto, as diferentes vozes, umas mais calmas outra mais “Black Metal”, outras ainda femininas, aliadas, à excelente composição de Mr. V e aos diversos elementos musicais, instrumentais e melódicos, fazem deste um álbum quase épico. Isto é uma combinação perfeita entre as antigas influências Vintersorgianas e as mais técnicas e progressivas dos tempos mais modernos. O facto de as letras não serem na habitual língua Inglesa, ao invés, são cantadas na sua língua materna, em nada nos impede de degustar e absorver toda e qualquer nota sonora. A temática lírica centra-se no “fogo” como terceiro elemento, já que é o terceiro álbum respeitante aos “quatro elementos”. Portanto, tudo isto contribui ainda mais para a magia do álbum e é mais uma prova da forte personalidade e coerência conceptual. Deixem-se “queimar” pelo fogo ardente de «Naturbål», estou completamente “estorricado” mas vale cada segundo. Os Vintersorg continuam a deixar a sua marca e o seu brilhantismo visionário. [9/10] Eduardo Ramalhadeiro VIRGIN STEELE «The Marriage Of Heaven And Hell I+II» (SPV) Já por várias vezes “dei o braço a torcer” por não conhecer certa e determinada banda. Dada a incomensurável variedade de artistas, nem sempre conseguimos ouvir tudo. Normalíssimo, portanto! Os Virgin Steele acabam de reeditar duas partes de uma trilogia, ficando a faltar, somente, «Invictus». Este é daqueles álbuns por serem tão bons, pela tamanha influência que exerceu (… e exerce!) em alguns grandes artistas, que poderia escrever à vontade, uma folha A4 e mesmo assim, ainda seria um resumo. Bem… por onde começar!? Esta nova edição junta num duplo CD «The Marriage (…)» parte I e II, num total de 31!!! temas! Se vocês já ouviram (e certamente, já) um projeto chamado AVANTASIA, poderão ser levados a pensar que Tobbias Sammet foi o percursor da Metal Opera, de todo o romantismo e consequente conceptualidade inerente à história. Não poderiam estar mais enganados. Um dos mentores dos Virgin Steele, David DeFeis (vocalista teclista e produtor) participa no projeto de Sammet, precisamente, “The Metal Opera”. Ora, como já escrevi, os mais incautos leitores (e ouvintes) poderão erradamente pensar, serem os Avantasia os percursores deste género. Só vos posso dizer para ouvirem as duas partes de «The Marriage (…)», deliciarem-se com a musicalidade, melodia e com todo o conceito que DeFeis e Persuino criaram, fazendo destes dois álbuns dos mais épicos e grandiosos que já ouvi. Aqui não há clichés, não há monotonia, o que existe é uma química perfeita tal e qual dois átomos de hidrogénio e um de oxigénio, criando uma molécula de água sem a qual a vida não existia. Para quem gosta de boa música, esta é uma das nossas moléculas da água, obrigatório e sem a qual não poderíamos viver. Sammet chamou “Metal Opera” ao primeiro álbum de Avantasia e acho mesmo que foi um agradecimento às suas origens e influências, sendo os Virgin Steele um dos seus expoentes máximos. [10/10] Eduardo Ramalhadeiro

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