Versus magazine #37 outubro/dezembro 15

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LEMMY MORREU MESMO?!!! Quando, hoje de manhã, assim que liguei o computador para consultar os mails do dia, me deparei com a notícia da morte de Lemmy Kilmister e fui para o facebook ver se lá encontrava algo sobre as causas do falecimento, encontrei o comentário que serve de título a este texto. De facto, figuras como o líder do Motörhead parecem imortais… mas não são! Pelo menos, a doença poupou-o ao “fadário” de quem tem de se tratar de um cancro. Não sou exactamente uma fã da banda de Mr. Kilmister, mas, tal como todos os que foram adolescentes – ou quase – nos anos 70, não pude passar ao lado, nem da banda, nem do homem. Lemmy e os Motörhead simbolizam uma época em que as pessoas talvez não fossem muito diferentes do que são agora, mas tinham uma atitude diferente perante a vida. Viviam depressa e de forma intensa, provavelmente por não terem a esperança de vida actual, que faz com que a Europa seja um “continente de velhos”! E mostravam o que faziam, se calhar porque o “politicamente correto” – que faz a sociedade do séc. XXI viver numa hipocrisia frequentemente perigosa – não existia. Ainda há dois anos, Lemmy pensava, incrédulo, que, em 2015, teria 70 anos e exprimia a sua surpresa por tal lhe poder acontecer. Do seu ponto de vista, já “devia uns anos à cova”, como costuma dizer o povo. Atingiu esse marco, apenas por quatro dias. Mas uma coisa é certa: velhos, “intermédios” e novos, todos sabem quem são Lemmy e os Motörhead – embora possam ignorar o facto de que são britânicos (como os Iron Maiden ou os Judas Priest). Basta ver a quantidade de pessoas que envergam t-shirts da consagrada banda nos eventos ligados à música extrema. E, mesmo em vida, já estava no “panteão do rock”, se tal coisa existe! CSA 2 / VERSUS MAGAZINE


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D IR E C Ç Ã O

A SÉRIO?! O editorial estava escrito mas face ao triste acontecimento de dia 28 foi refor mulado, assim como a capa. O final deste ano não podia ser mais triste: Lemmy Kilmister faleceu vítima de um cancro fulminante. Desde a detecção da doença até ao falecimento mediaram apenas dois dias e Lemmy encontrase agora a brindar, onde quer que estejam, com Ronnie James Dio. Sobre este assunto uma pequena referência porque a edição estava praticamente fechada (Obrigado à Cristina Sá) mas na próxima edição uma repor tagem mais elaborada sobre Lemmy. A VERSUS como sabem é uma publicação gratuita. Dedicamo-nos de corpo e alma a escrever sobre música e umas das funções que também nos enche de orgulho é poder promover novos ar tistas – Lembra-me aqui há uns anos a descober ta dos Ne Obliviscaris. Este orgulho é tanto maior, quantas mais bandas forem nacionais. Muitas vezes somos nós que procuramos e oferecemos o nosso espaço para essa promoção e divulgação. No entanto, o mais caricato é quando oferecemos a CAPA a troco de um passatempo ou de um CD autografado. Sim, a CAPA e os ar tistas não respondem a uma simples entrevista. Outros há que, simplesmente, recusam uma entrevista, que pode promover a banda e/ou o negócio. A sério?! Enfim, só neste país, onde é difícil viver da música, se recusa promoção e divulgação à borla. Mas como nem tudo é assim tão mau, Tales and Melodies é um projecto saído do talento de José Santos e que integra o Garage Power esta edição. De destacar, ainda as repor tagens aos concer tos de GHOST e AMORPHIS/ARCH ENEMY/NIGHTWISH em Leipzig e as entrevistas a METAL ALLEGIANCE, JOEL HOEKSTRA e THY CATAFALQUE. Queremos dar as boas vindas a dois novos colaboradores: Eduardo Rocha e Frederico Figueiredo – sejam bem-vindos! Por último um ag radecimento muito especial à PRIME ARTISTS por nos ceder a opor tunidade de repor tar os concer tos de GHOST, FEAR FACTORY, RIVERSIDE, LEPROUS E SOEN. \m / Eduardo Ramalhadeiro

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Adriano Godinho, Eduardo Ramalhadeiro & Ernesto Martins

G R A F IS M O

Eduardo Ramalhadeiro

COLABORADORES

Adriano Godinho, Carlos Filipe, Cristina Sá, Dico, Eduardo Ramalhadeiro, Eduardo Rocha, Ernesto Martins, Frederico Figueiredo, Hugo Melo, Ivo Broncas, Jorge Ribeiro de Castro, Paulo Guedes, Pedro Remiz, Victor Hugo, Miguel Ribeiro (Hintf) e Nuno Kanina (Hintf)

F O T O G R A F IA

Créditos nas Páginas

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I´ N D I C E

vErSUS

Nº37 OUTUBRO / DEZEMBRO 2015

32 CON T EÚ D O 06 07 08 11 15 18 19 23 25 26

N O T Í C I A S V E RS U S T R I A L B Y F I RE DEAD SOUL M E TA L A LL E G I AN CE B EN J A M I N B O R U C K I G R E LO S D E H O RT E L Ã HU MANIS TA S ERROR EST

F LA S H R E VI E W S R ASTI L H OS RE C O R D S : 1 9 9 6 - 2 0 1 5 “ADÃO E E VA - A N T Ó N IO PA R A D A

MAGAZINE

THY CATAFALQUE UM HOMEM TRANQUILO 27 28 36 40

MOSH B A R O C K P R O J EC T JOEL HOEKSTRA A LB Ú M D O MÊS #

41 48 50 53 55 59 64

THY CATAFALQUE - «Sgùrr»

CR I TI C A V ER S U S PLAY LIS T V ER S U S BA K TH ER I A E LU V EI TI E KI NG D EMO G O R G O N PHI L “PHILTHY ANIMAL” TAYLOR

L I VE V ER S U S # Ghost # Fear Factory # Apocalyptica

# # # # # # # # # #

Tó Pica Riverside Nightwish Orphaned Land Barock Project Leprous Salamandra em Chamas Nadja Aidan Baker Soen

8 4 C O NS EQ U ENC E 8 6 G A R A G E P O WER # Tales and Melodies 8 9 MI A # Pantera

9 4 C O NS EQ U ENC E 8 6 MO R D ’A’ S TIG MATA 8 9 S ER R A B U LH O 5 / VERSUS MAGAZINE


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NOTICIAS

MAGAZINE

RIP “PHILTHY ANIMAL” TAYLOR O ex-baterista do MOTÖRHEAD Phil “Philthy Animal” Taylor morreu na quarta-feira, 11 de novembro. A notícia foi dada através na página pessoal no Facebook de “Fast” Eddie Clarke. Ambos tocaram juntos no Motörhead entre 1976 e 1982. Segundo Eddie, Phil estava doente há bastante, não se sabendo ainda a causa da morte. O baterista fez parte do Motörhead de 1975 a 1984 e entre 1987 e 1992. Ele gravou, ao todo, 10 álbuns, incluindo clássicos como “Ace of Spades” (1980), no qual aparece na capa, no meio do deserto, ao lado de Lemmy Kilmister e de “Fast” Eddie Clarke, “Overkill” (1979) e “Bomber” (1979). Phil “Philthy Animal” Taylor tinha apenas 61 anos.

OMEGA SINS “THE HAUNTED” “The Haunted” é o título do novo single dos Omega Sins que foi lançado no dia 7 de outubro. Este é um tema poderoso caracterizado pela composição densa e enfática que nos chega através de uma voz saturada e vigorosa. “The Haunted” abre as portas ao novo EP da banda “Mirror’s Edge”, que será lançado em breve com o selo da Music in my Soul. (Vejam como ganhar o single nas últimas páginas da revista)

GUNS N ‘ROSES VER PARA CRER Os lendários Guns N ‘Roses estão a poucos dias de anunciar a tão esperada (ou não?) reunião em forma de uma digressão mundial que ocorrerá em 2016. O guitarrista Slash confirmou que ele e vocalista Axl Rose se reconciliaram depois de quase uma década de argumentos. Amigos chegados afirmam que estão a evidenciar esforços para tocarem juntos em 2016. Espera-se que sejam cabeças de cartaz vários festivais por toda a Europa e Estados Unidos antes de saírem na digressão mundial que coincidirá com a comemoração do seu 30º aniversário Relatos recentes vieram a lume dizer que tem concertos previstos para Austrália, Suécia e Portugal. Vamos lá a ver se é mesmo a sério ou se vamos assistir a mais uma birra de Axl Rose.

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TRIAL BY FIRE

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C H R IS T IAN DEAT H

AEVANGELI S T

The Root Of All Evilution

A B I G A I L W I L LI A MS

The Accuser (Candlelight) MÉDIA: 3,5

Enthrall To The Void Of Bliss

(Season of Mist) MÉDIA: 1,5

(20 Buck Spin) MÉDIA: 3,0

C A R L O S F.

C A R L O S F.

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EDUARDO R.

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HUGO M.

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ADRIANO G.

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ERNESTO M.

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MONOLITHE

MALEVOLENT CREATION

Dead Man s Path (Century Media) MÉDIA: 3

META L ALLEG I A N C E

Epsilon Aurigae

Metal A l l egi a nce (Nuclear Blast) MÉDIA: 3,4

(Debemur Morti Productions)

MÉDIA: 3,5

C A R L O S F.

C A R L O S F.

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EDUARDO R.

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HUGO M.

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ADRIANO G.

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ERNESTO M.

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N IL E

MOLLLU S T

C H IL D R E N O F B O D O M

I Worship Chaos (Nuclear Blast) MÉDIA: 2,0

What Should not Be Unearthed

(Nuclear Blast) MÉDIA: 3,5

In Deep Waters ( Independente ) MÉDIA: 3,8

C A R L O S F.

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EDUARDO R.

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ERNESTO M.

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AMOR P H I S

M AG N US KA R LS S O N’S FR EE FA LL

Kingdom of Rock (Frontiers) MÉDIA: 4,5

Under The Red Cloud (Nuclear Blast) MÉDIA: 3,5

Obra - Prima Excelente

C A R L O S F.

C A R L O S F.

EDUARDO R.

EDUARDO R.

HUGO M.

HUGO M.

Esperado

ADRIANO G.

ADRIANO G.

Básico

ERNESTO M.

ERNESTO M.

Esforçado

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ENTREVISTA

MAGAZINE

“GOSTO PENSAR QUE É A “ALMA“. “…ESTADE CANÇÃO [“NOCTURNAL HA- DESDE QUE HAJA HONESTIDADE E ALMA NA MÚSICA, VEN”] PEDIA EXACTAMENTE ALGUÉM NÃO O QUE FAZES.“ COM INTERESSA O ESTILO DOMUITO TOMMY ROGERS”

DEAD SOUL ALMAS GÉMEAS A MAIOR PARTE DOS PROJECTOS MUSICAIS RESULTAM DE ALGUM TIPO DE COLABORAÇÃO CUJOS GÉNEROS E GOSTOS MÚSI CAIS CONVERGEM. NO ENTANTO, OS SUECOS DEAD SOUL, COMPOSTOS PELO VOCALISTA/GUITARISTA ANDERS LANDELIUS RESPEITADO MÚSICO DE BLUES E O MULTI-INSTRUMENTALISTA/PRODUCTOR NIELS NIELSEN, LIGADO À MÚSICA ELECTRÓNICA JUNTAM-SE PARA FAZER ALGO DIFERENTE. A SIMBIOSE ENTRE ESTAS INFLUÊNCIAS MUSICIAS TÃO DISPARES É FEI TA DE UMA FORMA BRILHANTE. O MELHOR DISTO AINDA ESTÁ PARA VIR, POIS OS DEAD SOUL TÊM ACTUAÇÃO MARCADA PARA O NOSSO PAÍS EM NOVEMBRO, COMO BANDA SUPORTE DOS GHOST. Por: Eduardo Ramalhadeiro Tradução: Adriano Godinho ANTES DE MAIS, PARABÉNS PELO VOSSO SEGUNDO ÁLBUM, FIQUEI DEVERAS IMPRESSIONADO! ANDER S: Muito obrigado Eduardo! Ficamos contentes em saber que gostaste, estamos muito entusiasmados por já estar disponível.

NÃO VOS CONHECIA ANTES DESTE 8 / VERSUS MAGAZINE

«THE SHELTERING SKY» E SENDO TU UMA PESSOA MAIS LIGADA AO ROCK/ BLUES E O NIELS UMA PESSOA DA MÚSICA ELECTRÓNICA FICO MUITO CURIOSO EM SABER COMO É QUE A VOSSA COLABORAÇÃO NASCEU. COMO ACONTECEU? A N D ER S : Tenho andado presente na cena internacional do blues desde os anos 90 e após alguns àlbuns

mais tradicionais fiquei tentado em tentar algo de diferente. Ouvi falar do Niels pelas suas qualidades como produtor mas também do seu gosto pela música electrónica e da sua forma não convencional de gravar música, fiquei curioso com o que poderia acontecer se o Niels fosse o meu produtor. Dito e feito, trabalhamos no meu primeiro álbum a solo «One man riot» e não só o resultado


“É DIFÍCIL DAR UMA DEFINIÇÃO, ATÉ NÓS TIVEMOS DIFICULDADE EM DESCREVER O QUE FAZEMOS. OUVIMOS O TERMO “INDUSTRIAL DOOM BLUES“ ASSIM COMO “ELECTRONIC BLUES“ foi muito bom como gostamos imenso de trabalhar juntos e até ficamos imediatamente amigos. Quando decidmos trabalhar numa continuação ao «One man riot», Niels teve uma maior participação e então percebemos que estava a acontecer algo de diferente e entusiasmante; talvez seja algo demasiado fora para tocar regularmente em bares de blues. Então decidimos parar para pensar sobre para onde queríamos levar este projecto e termos prazer em compor a nossa música. Esse foi o primeiro passo em direcção ao que mais tarde se tornou Dead Soul.

PARA SER TOTALMENTE HONESTO, TENHO ANDADO A OUVIR O VOSSO ÁLBUM VEZES SEM CONTA E AINDA ESTOU A TENTAR ENCONTRAR PALAVRAS QUE CONSIGAM DEFINIR A VOSSA MÚSICA. PODES NOS AJUDAR A TENTAR ENQUADRAR A VOSSA MÚSI CA? ANDER S: Não és o único! É difícil dar uma definição, até nós tivemos dificuldade em descrever o que fazemos. Ouvimos o termo “industrial doom blues“ assim como “electronic blues“ e até alguém disse que soava à banda sonora do fim do mundo; a verdade é que talvez seja algo entre isso tudo. Penso que tanto eu como o Niels nos vemos como pessoas apaixonadas pela música, especialmente compôr e gravar. São essas as duas coisas que mais gostamos e não gostamos de sentir limites quando estamos a compôr. Se soar bem e tiver conteúdo e alma, então estamos felizes. Trabalhamos sempre no intuito de enriquecer as músicas e penso que por isso nunca sentimos a necessidade de impressionar com solos de guitarra só para ter um solo assim como se uma caixa de ritmos soar melhor do que uma baterista acústica, a escolha é rapidamente feita.

A ÚNICA COISA QUE CONSIGO DEFINIR FACILMENTE É A TUA VOZ. NÃO SEI PORQUÊ MAS SOA-ME A UMA MISTURA DE JOHNNY CASH COM NICK CAVE; CONCOR DAS? ANDER S: Bem, primeiro, muito obrigado! Ser comparado a duas lendas como essas é uma honra. Claro não posso negar que sou

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um grande fã dos dois mas nunca tentei copiar nenhum. Penso que o facto de ter uma voz tão grave torna a comparação mais fácil.

é algo que não se pode fingir e é o que procuro sempre na música, não importa se é metal, rock, blues ou electónica.

OUVI O VOSSO TRABALHO «IN THE DARKNESS» ASSIM COMO «THE SHELTERING SKY» E PERCEBE-SE QUE O VOSSO PRIMEIRO TRABALHO É MAIS ELECTRÓNICO E OBSCURO. NESTE NOVO SINTO ALGUMA “LUZ AO FUNDO DO TÚNEL“, MESMO ASSIM, A MEU VER, SINTO ALGUMA DIFERENÇA ENTRE AMBOS NO QUE TOCA AO AMBIENTE QUE SE PODE SENTIR.

TU PASSATE POR MOMENTOS MUITO COMPLICADOS NA TUA VIDA, AS LETRAS DESTE TRABAL HO SÃO INFLUENCIADAS POR ESSE PASSADO?

A N D ER S : É uma boa análise, Eduardo. Gostaríamos de ver este novo trabalho como um segundo capítulo da “histórica“ começada em «In Darkness». Vejo «In the Darkness» como um álbum que retrata a guerra que uma pessoa leva consigo próprio e os outros que o rodeiam. São sentimentos muito fortes, muito ódio e frustração. «The Sheltering Sky» é a evolução natural do estado de espírito, onde a guerra acabou e agora trata-se de juntar as peças e tentar encontrar uma forma de seguir em frente, apesar das cicatrizes e dores interiores. Essa evolução também pode ser ouvida na música.

O QUE ACHO TORNA O PROJECTO DEAD SOUL TÃO ESPECIAL É A DICOTOMIA ENTRE VÓS DOIS E AS VOSSAS INFLUÊNCIAS. QUÃO DIFÍCIL É PARA VÓS TRABALHAR JUNTOS E CHEGAR A UM RESULTADO FINAL? A N D ER S : Não é nada difícil. Temos um enorme respeito pelas qualidades um do outro e conseguimos dar-nos o espaço nos momentos certos, durante o processo criativo. Trabalhamos já há algum tempo juntos e sabemos como obter o melhor resultado; mas também sabemos que a nossa diferença é o que mantém as coisas interessantes quando compomos música.

QUAL É A LINHA (TÉNUE) QUE SEPARA A MÚSICA ELECTRÓNICA DO ROCK/ BLUES? A N D ER S : Gosto de pensar que é a “alma“. Desde que haja honestidade e alma na música, não interessa muito o que fazes. Alma

A ND E R S : Muitos, sim. O privilégio do artista é poder usar a sua arte como forma de comunicar os seus sentimentos assim como compreendê-los. A música, para mim, sempre foi algo que tive de fazer para manter a sanidade. Durante a composição e gravação do «In the Darkness» a minha vida estava do avesso mas compôr, gravar e mais tarde tocar ao vivo deve-me imensa força e reconforto. O novo álbum também é muito pessoal mas numa perspectiva mais pós-eventos, em direcção a algo melhor e mais positivo na vida (ou apenas com mais perdão).

COMO COMEÇOU A VOSSA COLABORAÇÃO COM A RAZZIA RECORDS DO ANDERS FRIDEN? A ND E R S : Niels foi manager da digressão dos Ghost durante o primeiro álbum deles e uma das maiores digressões na Europa foi com os In Flames como banda de suporte. Niels ficou amigo do Anders e quando tivemos algumas músicas prontas enviou-as ao Anders para ver o que ele achava e se estaria interessado em publicarnos na sua editora. Respondeu-nos alguns minutos depois, com uma proposta pronta para nós.

O SUCESSO FOI TAL QUE O SEGUNDO ÁLBUM LEVOU-VOS À CENTURY MEDIA PARA EDITAREM «THE SHELTERING SKY» FORA DA ESCANDINÁVIA. COMO ESTÁ A CORRER? A ND E R S : Está a ser o máximo! Foram incríveis conosco, promovendonos e ao nosso trabalho. Estamos muito satisfeitos!

ESTÃO EM DIGRESSÃO COM OS GHOST (E A VOSSA COLABORAÇÃO NÃO FICA POR AQUI) E NÃO É A PRIMEIRA VEZ. COMO ESTÁ A DIGRESSÃO A CORRER? A ND E R S : Fizemos a nossa primeira

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“TENHO ANDADO PRESENTE NA CENA INTERNACIONAL DO BLUES DESDE OS ANOS 90 (...) FIQUEI TENTADO EM TENTAR ALGO DE DIFERENTE. OUVI FALAR DO NIELS PELAS SUAS QUALIDADES COMO PRODUTOR MAS (...) E DA SUA FORMA NÃO CONVENCIONAL DE GRAVAR MÚSICA“ digressão como banda de suporte para os Ghost em 2012 quando Papa Emiritus II foi apresentado ao mundo. Desde então temos feito várias digreessões na escandinâvia com eles. Eles são da mesma zona da Suécia que nós e conhecemoslos bem (antes de Ghost). Por isso é muito como estar em família quando estamos na estrada. Continuamos em casa mas vamos começar uma volta de seis meses pela Europa em mesnos de uma semana. Estamos em pulgas para começar.

EM NOVEMBRO VÃO TOCAR PORTUGAL COM OS GHOST; PARA QUE NÃO CONHECEM DEAD SOUL VIVO O QUE PODEMOS ESPERAR VÓS?

EM OS AO DE

ANDER S: Sofremos grandes alterações na formação desde o ano passado e estamos a tocar com uma equipa mais electrónica do que antes, o que nos deixa muito entusiasmados. Podemos ser apenas três pessoas no palco mas continamos a ser muito presentes e é ainda uma experiência intensa. Quem nos conhece e tem acompanhado o nosso percurso sabe que começamos como uma banda mais electrónica ao vivo sem bateria e agora voltamos a essa formação, o que achamos muito bom.

SE NÃO ESTOU EM ERRO, «LIVE IN STUD IO UNDERJORD» SAIU EM 2014 COM UMA ATMOSFERA MAIS ÍNTIMA. EXISTE ALGUMA VERSÃO FÍSICA DESSA GRAVAÇÃO? APENAS CONHEÇO A VERSÃO DIGITAL... ANDER S: Não existe, estava planeado lançar uma versão em vinil mas nunca aconteceu. Nesta altura não está planeado lançar a gravação em CD ou vinyl.

PORQUE USARAM DUAS BATERIAS? ANDER S: É uma história engraçada. Quando começamos a utilizar uma bateria nos concertos encontramos um grande baterista para tocar conosco mas devido a um enorme quantidade de pedidos para ele tocar noutros projectos encontramos outro baterista, igualmente muito bom. Ambos gostavam muito de tocar conosco, 1 0 / VERSUS MAGAZINE

então decidimos que iriam tocar ao mesmo tempo conosco, quando possível. Foi uma grande experiência; muito engraçado e soava mesmo muito bem mas do ponto de vista da logística e dos custos associados – para um projecto a começar e sem grandes fundos – não foi possível continuar.

NÃO POSSO TERMINAR ESTA ENTREVISTA SEM FALAR NA MINHA MÚSICA PREFERIDA: “DIRT ROAD”. QUEM ESTÁ “DESTROÇADO E PERDIDO“ (“BROKEN AND LOST“)? E DE QUEM É O “RESPIRAR QUE TE ALIMENTA“ (“BREATH IS YOUR FUEL“)? A N D ER S : Por uma vez decidi escrever uma música que focava nos sentimentos em vez de se preocupar com o sentido das palavras. Quis capturar o sentimento de se sentir completamente só e perdido. Algo com que muita gente consegue identificar-se. Eu sei que conseguem. A esse nível apenas

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nos podemos agarrar às coisas que nos dão vontade de viver. No meu caso o meu filho é, e será sempre, a minha principal razão de acordar todas as manhãs e lutar para ser a melhor pessoa que possa.

OBRIGADO PELA ENTREVISTA!

A ND E R S : Muito obrigado pelo teu interesse na nossa música. Estamos realmente ansiosos para tocar em Portugal (eu nunca estive aí, mas a minha esposa esteve no final dos anos 80 e apaixonou-se pelo vosso seu país, então, mal posso esperar para ir). H T T P S : / / W W W. FA C EB OOK.COM/ D E A D S O ULOFFI CI AL/ H T T P S : / / Y O U T U . B E / A X JBVMKHSZ4


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ENTREVISTA

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“A ÚNICA COISA QUE PRETENDÍAMOS ERA JUNTARMO-NOS, “…ESTA CANÇÃO [“NOCTURNAL HAFAZER MÚSICA, E VER O QUE DAÍ RESULTAVA. NA PRIMEIVEN”] PEDIA EXACTAMENTE ALGUÉM RA SESSÃO ESCREVEMOS CINCO CANÇÕES. NA SEGUNDA, COM QUATRO. O ESTILO DO TOMMY ROGERS” MAIS A QUÍMICA ERA ESPANTOSA!”

METAL ALLEGIANCE A ALIANÇA QUE UNIFICOU O METAL EMBORA ELES PRÓPRIOS NÃO APRECIEM O TERMO, É INEVITÁVEL REFERIMO-NOS A UMA BANDA QUE TENHA ALEX SKOLNICK (TESTAMENT), MIKE PORTNOY (THE WINERY DOGS, EX DREAM THEATER) E DAVE ELLEFSON (MEGADETH) NA SUA FORMAÇÃO, COMO UM “SUPERGRUPO”. SEGUNDO OS MESMOS, SÃO APENAS UM GRUPO DE AMIGOS QUE TÊM VONTADE DE FAZER MÚSICA JUNTOS. TIVEMOS A OPORTUNIDADE DE ESTAR À CONVERSA COM MARK MENGHI. ESTE ILUSTRE DESCONHECIDO NÃO SÓ FAZ PARTE DA FORMAÇÃO, COMO É “SÓ” O MENTOR DO PROJETO E RESPONSÁVEL POR REUNIR ESTES MONSTROS DA MÚSICA. COMO SE ISTO NÃO FOSSE NÃO SUFICIENTE PARA VOS CHAMAR A ATENÇÃO, RESTA DIZER QUE O SEU ÁLBUM TEVE A PARTICIPAÇÃO DE, ENTRE OUTROS, PHIL ANSELMO, RANDALL BLYTHE, GARY HOLT, ANDREAS KISSER, E TIM “RIPPER” OWENS. Por: Ivo Broncas ANTES DE MAIS, QU ERIA AGRADECER O TEMPO QUE DESPENDESTE, E DARTE OS PARABÉNS PELO ÁLBUM! MARK M E N GHI : Obrigado! Este tem sido um ano de loucos!

METAL ALLEGIANCE É DE FACTO UM EXCELENTE PROJETO. CONTUDO, ALGUMAS PESSOAS DESCONHECEM

A HISTÓRIA DA VOSSA FORMAÇÃO. SERÁ QUE PODES EXPLICAR RESUMIDAMENTE COMO TUDO COMEÇOU? M A R K : A ideia surgiu-me em 2011 e consistia inicialmente, no que podemos chamar de uma “banda all-star”, que se iria juntar apenas para um, evento e tocar “covers” de músicas bem conhecidas. Isto

porque eu era apenas um fã que queria ver e ouvir algo diferente. Durante esse mesmo concerto as reações do público foi tão intensas, e as suas expressões denotavam uma tal satisfação, que percebi de imediato que tínhamos ali algo especial. Sabendo isso, e tentando dar continuidade ao que fizemos, comecei a recrutar mais elementos. Apenas em Setembro de 2014, já com a formação atual, é que 11 / VERSUS MAGAZINE


“NADA DISTO FOI FEITO COM O INTUITO DE OBTER RECONHECIMENTO OU TER DESTAQUE NA IMPRENSA. O OBJETIVO ERA UNIFICAR AS DIFERENTES CULTURAS QUE EXISTEM DENTRO DO METAL.” começámos a considerar escrever um álbum de originais. Estávamos no Motorhead Motorboat Cruise (um cruzeiro organizado pelos Motorhead) a dar concertos, já sob o nosso novo nome de Metal Allegiance, e discutimos de uma forma muito descontraída a possibilidade de levar o projeto mais além. De lembrar que isto aconteceu apenas há cerca de um ano atrás! Resultado: 45 dias depois, Alex (Skolnick, guitarrista dosTestament), Mike (Portnoy, baterista dos The Winery Dogs e ex Dream Theater), Dave (Ellefson, baixista dos Megadeth), e eu, juntámo-nos da casa do Mike Portnoy para começar a gravar o álbum. Em menos de um ano foi escrito, gravado, misturado, masterizado, e lançado pelos nossos bons amigos da Nuclear Blast. E não nos podemos esquecer que tivemos vinte e um (21) convidados a participar neste trabalho. Aconteceu tudo de uma forma muito natural, nada foi forçado ou apressado, e daí a razão para o disco ser coeso e soar tão bem.

A IMPRENSA RETRATA-VOS CONSTANTEMENTE COMO UM “SUP ERGRUPO”. JÁ DISSERAM QUE NÃO APRECIAM O TERMO E NÃO SE REVÊM NO CONCEITO. SEGUNDO AS VOSSAS PALAVRAS, CONSIDERAMSE APENAS UM GRUPO DE AMIGOS QUE QUEREM FAZER MÚSICA JUNTOS. ACREDITAM (COMO EU) QUE ESTA FOI ESTA A PRINCIPAL CHAVE DO VOSSO

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SUCESSO? M A R K : Absolutamente. Quando nos juntámos pela primeira vez éramos apenas quatro amigos numa sala. Não estávamos ligados a nenhuma editora, não tínhamos fundos externos que nos possibilitassem financiar um disco, nada! A única coisa que pretendíamos era juntarmo-nos, fazer música, e ver o que daí resultava. Na primeira sessão escrevemos cinco canções. Na segunda, mais quatro. A química era espantosa! Não fazíamos ideia no que este álbum se podia tornar. Todos os custos foram suportados por nós, e, só quando todas as canções estavam gravadas, é que a editora Nuclear Blast entrou na equação. Não só perceberam que se tratava de uma banda de irmãos, como perceberam exatamente o que pretendíamos e o que tínhamos em mente para este trabalho. Foi esta a razão que nos levou a assinar contrato com eles, porque, caso contrário, tínhamos toda a intenção de lançar o álbum por nossa conta! Este disco pauta sonoramente pela sua coesão, e é isso o que acontece quando tens quatro pessoas que partilham a mesma visão.

PRESUMO QUE TODAS AS BANDAS TÊM MÉTODOS DE TRABALHO E ROTINAS MUITO PARTICULARES. TENDO ISSO EM CONSIDERAÇÃO, DURANTE O PROCESSO DE COMPOSIÇÃO, TIVERAM, DE UMA FORMA OU DE OUTRA, DE SE ADAPTAR ÀS

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DIFERENTES ROTINAS DE TRABALHO DE CADA UM, OU FOI ALGO QUE ACONTECEU NATURALMENTE? M A R K : Ah, claro que tivemos de nos adaptar. Mas essa adaptação ocorreu facilmente, sem nos sentirmos pressionados ou stressados. O Mike (Portnoy) gosta de trabalhar de uma forma muito intensa. Ele costumava gritar comigo e com o Alex (Skolnick) quando nos abstraíamos e ficávamos descontraídos, apenas a improvisar um com o outro. (Risos) Mas nós os quatro combinámos muito bem. Não tivemos uma única disputa, zanga ou discussão. Bem, talvez numa única música, numa fase muito inicial do processo de composição, nós discordámos. E foi essa pequena discussão que me levou a escrever nas costas da minha guitarra “Music Not For Pussies”! (risos) Mas fora isso estivemos sempre em sintonia. Por coincidência, nessa mesma guitarra, logo a seguir a esse episódio, compus o riff para a música “Gift of Pain”. (mais risos) (Música que conta com a colaboração de Randy Blythe, vocalista dos Lamb of God e Gary Holt, guitarrista dos Exodus).

ESTE É UM ÁLBUM BASTANTE CRIATIVO. E APESAR DE TER UM FIO CONDUTOR, AS MÚSICAS VARIAM BASTANTE ENTRE SI, DANDO ORIGEM A UM TRABALHO BASTANTE DIVERSIFICADO EM TERMOS DE ESTILO. COMO MÚSICO


PARA O MIKE (PORTNOY), O OBJETIVO ERA PROVAR A TERCEIROS QUE NÃO SÓ É CAPAZ DE TOCAR METAL, MAS QUE CONSEGUE TAMBÉM DOMINAR O ESTILO E TER UMA PERFORMANCE EXTRAORDINÁRIA NUM DISCO TÃO INTENSO COMO ESTE. ISSO É LIBERTADOR? NÃO TER DE EXCLUIR ALGUMAS CANÇÕES PORQUE NÃO SE ENCAIXAM NO ESTILO CARACTERÍSTICO DA BANDA? MARK: Tanto em termos de letras, como em termos de músicas, nós escrevemos aquilo que sentimos. Como já expliquei anteriormente, não havia ninguém a ditar-nos regras. Contudo, todos tínhamos algo a provar. Para o Mike (Portnoy), o objetivo era provar a terceiros que não só é capaz de tocar metal, mas que consegue também dominar o estilo e ter uma performance extraordinária num disco tão intenso como este. Tanto o Alex (Skolnick) como o Dave (Ellefson) pretendiam com esta liberdade mostrar a sua criatividade e versatilidade musical. Nas suas bandas principais não têm a oportunidade de compôr muitas canções, por isso, isto foi para eles um importante escape criativo. Para mim, o desconhecido, era importante demonstrar que um “zé ninguém” consegue tocar com alguns dos melhores músicos da industria, e poder particpar no processo de composição. No meu caso, tive uma voz muito activa no que à escrita das letras diz respeito. Como o Randy Blythe (Lamb of God) disse uma vez: “Música é a melhor forma de liberdade de expressão que alguém pode ter”, e escrevê-la para este disco foi muito terapêutico para mim.

óbvio, não conseguimos que todos estivessem fisicamente presentes. Mas os que não estiveram gravaram as suas faixas nos seus estúdios, particulares ou locais, e estavam tão motivados e focados como nós. Falávamos constantemente por Skype ou por FaceTime enquanto estavam a editar as suas faixas. Mas mais uma vez decorreu tudo de forma muito natural e intuitiva. O objetivo para este projeto era fazer uma gravação “ao vivo” num velho equipamento analógico Algo que conseguimos para a maioria das canções.

HOUVE ALGUMA COLABORAÇÃO QUE VOS TENHA SURPREENDIDO? NÃO PELA QUALIDADE, PORQUE ISSO TODOS T ÊM EM ABUNDÂNCIA. ESTOU A FALAR DE UM CONVIDADO QUE, MUSICALMENTE FALANDO, TENHA APRESENTADO UMA CONTRIBUIÇÃO NUM ESTILO COMPLETAMENTE DIFERENTE DAQUELE QUE LHE COSTUMA SER CARACTERÍSTICO. EU SEI QUE O CHARLIE BENANTE TOCOU GUITARRA NUMA MÚSICA, E EMBORA ISSO POSSA SER UMA SURPRESA PARA CERTAS PESSOAS, O FACTO É QUE ELE É TAMBÉM UM EXCELENTE GUITARRISTA E JÁ GRAVOU INCLUSIVE PARTE DAS GUITARRAS NUM ÁLBUM DOS ANTHRAX.

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M A R K : Bem, para mim houve duas grandes surpresas. Uma foi a contribuição do Phil Anselmo. Honestamente não fazíamos ideia do que iriamos obter. Sabíamos que iria ser algo incrível, porém desconhecíamos se ele iria optar por um desempenho vocal mais melódico, mais intenso, ou um que englobasse ambas as formas de cantar. Foi o único vocalista ao qual forneci a música na qual ele ia trabalhar sem uma letra já definida. Dissemos-lhe: “Esta é toda tua!”. E ele entregou uma obra-prima! Tanto em termos vocais, como em termos líricos. A outra surpresa foi o Troy (Sanders. Baixista e vocalista dos Mastodon). Quando escrevi a letra para a canção em que participou, sempre supus que a fosse cantar num estilo completamente diferente daquele que escolheu. A sua performance vocal foi muito emotiva e sombria, e eu fiquei completamente chocado! Foi exatamente o oposto daquilo que eu imaginei que ele ia fazer.

CONSEGUIRAM A PROEZA DE REUNIR NO MESMO DISCO ALGUNS DOS GRANDES NOMES DA INDÚSTRIA. NÃO SÓ ISSO, COMO, CONSEGUIRAM ABRANGER NO MESMO PROJETO VÁRIAS GERAÇÕES DE MÚSICOS, PROVENIEN TES DOS MAIS DIFERENTES ESTILOS DENTRO

A QUANTIDADE DE MÚSICOS QUE PARTICIPAM NO ÁLBUM É ENORME! NÃO SÓ EM TERMOS DE QUANTIDADE MAS TAMBÉM EM TERMOS DE QUALIDADE. ACREDITO QUE TODA A LOGÍSTICA NECESSÁRIA OS CONSEGUIR LEVAR ATÉ AO ESTÚDIO TENHA SIDO UM VERDADEIRO DESAFIO. FOI ESTA A PRINCIPAL DIFIC ULDADE QUE TIVERAM AQUANDO DA GRAVAÇÃO DO ÁLBUM? SABEMOS QUE ALGUNS DOS CONVIDADOS INFELIZMENTE NÃO PUDERAM ESTAR FISICAMENTE PRESENTES. NESSES CASOS, COMO ULTRAPASSARAM ESSE OBSTÁCULO? MARK: Uma grande parte dos nossos convidados conseguiram deslocar-se até estúdio de Nova Iorque (Long Island) onde fizemos as gravações do álbum. Como é 13 / VERSUS MAGAZINE


“(PHIL ANSELMO) FOI O ÚNICO VOCALISTA AO QUAL FORNECI A MÚSICA NA QUAL ELE IA TRABALHAR SEM UMA LETRA JÁ DEFINIDA. DISSEMOS-LHE: “ESTA É TODA TUA!”. E ELE ENTREGOU UMA OBRA-PRIMA!” DO METAL. OLHANDO PARA TRÁS AGORA… CONSEGU EM TER NOÇÃO QUÃO IMPRESSIONANTE FOI ESSE FEITO? E ACHAS QUE ESSE FACTO É, IMPLICITAMENTE, UMA MENSAGEM CLARA QUE O METAL ESTÁ UNIDO E QUE É UMA FORÇA MUITO MAIOR DO QUE MUITAS PESSOAS POSSAM PENSAR? MARK: Honestamente não tinha, e continuo sem ter, a mínima ideia do que fiz ou do que estou a fazer… (risos) Foi como te disse: eu era, e continuo a ser, apenas um fã que queria ver e ouvir algo diferente. Já me disseram que me é atribuído o mérito de ter conseguido com que Phil Anselmo voltasse a cantar músicas dos Pantera em público. Eu não fazia ideia que alguém pudesse pensar assim! Desde a separação dos Pantera banda em 2001 que ele não fazia tal coisa, e foi apenas num concerto nosso em 2011, numa fase em que ainda nem tínhamos adotado o nome “Metal Allegiance”, que o voltou a fazer. É de doidos quando penso nisso… Nada disto foi feito com o intuito de obter reconhecimento ou ter destaque na imprensa. O objetivo era unificar as diferentes culturas que existem dentro do metal.

HOUVE ALGUM MOMENTO, DURANTE A COMPOSIÇÃO OU GRAVAÇÃO DO DISCO, EM QUE OLHASTE AO TEU REDOR, VISTE A SALA CHEIA DE LENDAS DA MÚSICA E PENSASTE: “ISTO NÃO PODE SER REAL. ESTOU A SONHAR DE CERTEZA!”? MARK: A única vez em que me lembro de pensar assim foi quando nos juntámos pela primeira vez na casa do Mike (Portnoy) para começarmos a compor. Estávamos todos no estúdio, bem instalados em sofás, descontraídos, o Alex (Skolnick) e o Dave (Ellefson) estavam a tocar guitarra, eu estava no baixo, o Mike foi-se colocar na bateria… e do nada surgiu a música “Dying Song.” A dada altura lembro-me de dizer para mim próprio: “Isto é de doidos. Mas o que raio estou eu aqui a fazer com estas lendas?!”

EU PRESUMO QUE ISTO TENHA SIDO UMA EXPERIÊNCIA MUITO GRATIFICANTE. TIVESTE A HIPÓTESE 1 4 / VERSUS MAGAZINE

DE TRABALHAR COM MUITOS MÚSICOS TALENTOSOS, E COM CERTEZA, FOI-TE DADO A CONHECER OUTRAS FORMAS DE COMPOR E GRAVAR MÚSICA. DURANTE TODO ESTE PROCESSO, APRENDESTE ALGO DE NOVO QUE PENSAS ADOTAR NO FUTURO? MA R K : Ah sim. Claro. Eu sou, e serei sempre um estudante de música. Quando tens Mike Portnoy, Alex Skolnick e David Ellefson na tua banda e a escreverem música contigo, como podes não aprender nada de novo? Sinto-me honrado por ter sido aceite no seu círculo restrito e me terem deixado contribuir no seu processo criativo. Estar-lhes-ei sempre grato por isso.

LI NUMA ENTREVISTA VOSSA QUE JÁ ESTÃO A ESCREVER CANÇÕES PARA O PRÓXIMO ÁLBUM. VAI TER UM FORMATO SEMELHANTE A ESTE, COM MUITOS CONVIDADOS, OU ESTÃO A PENSAR EM ALGO DIFERENTE? MA R K : Não sabemos exatamente como será o próximo álbum. Contudo, já temos algumas canções feitas, e já pensámos inclusivamente nalguns convidados especiais para participar nelas. Uma coisa é certa: da minha parte, nunca irá haver escassez de letras! (risos)

MUITAS VEZES SE FALA DA “PRESSÃO DO SEGUNDO ÁLBUM”. JÁ SENTEM ISSO? OU, PORQUE O CONCEITO SE BASEIA EM JUNTAR AMIGOS PARA FAZER AQUILO QUE GOSTAM, A PALAVRA “PRESSÃO” NEM EXISTE NO VOSSO DICIONÁRIO? MA R K : Honestamente eu não sinto qualquer tipo de pressão externa, e provavelmente nunca a sentirei. Contudo, sou muito exigente e crítico em relação ao meu trabalho. Por isso, a pressão que sinto é colocada por mim próprio. Mas tenho a certeza que quando nós os quatro nos voltarmos a reunir na casa do Mike (Portnoy) a música vai fluir.

E EM RELAÇÃO AO FUTURO? TENS A VONTADE DE ABRAÇAR NOVOS PROJETOS, TOCAR OUTROS ESTILOS DE MÚSICA, OU VAIS-TE FOCAR NESTE EM PARTICULAR?

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M A R K : Bem…Metal Allegiance é a minha paixão, e vou continuar a trabalhar neste projeto até morrer! (risos) Só espero que o Mike, Dave e o Alex não se cansem e deixem a banda!!! Eles são como irmãos para mim, e temos uma dinâmica muito boa. Em relação a tocar outros estilos, quem sabe? De momento estou a escrever letras e músicas para o próximo álbum dos Metal Allegiance. Estou exclusivamente focado nessa tarefa.

SE PUDESSES FORMAR UMA BANDA COM MÚSICOS QUE JÁ NÃO SE ENCONTRAM ENTRE NÓS, QUEM ESCOLHERIAS PARA TOCAR CONTIGO? (CRÉDITOS DA PERGUNTA AO MEU AMIGO CARLOS CAMPOS) M A R K : Ronnie James Dio que partilharia as vozes com Bon Scott, Dimebag e Jimi Hendrix nas guitarras, John Bonham na bateria, e eu entregava o meu baixo ao Cliff Burton. Não só porque é o meu ídolo no que ao instrumento em questão diz respeito, mas também porque ele faria um trabalho cem vezes melhor que o meu!

E AGORA POR CURIOSIDADE: NÃO ACHAS QUE DEPOIS DO MIKE PORTNOY TER CONSEGUIDO TOCAR “RAINING BLOOD” DOS SLAYER NUMA BATERIA DA HELLO KITTY…TUDO O RESTO QUE LHE PEÇAM PARA TOCAR DE AGORA EM DIANTE É “CANJA” PARA ELE? ( PA R A V E R E M , O U R EVEREM, E S TA P E R F O R M A N C E S I G A M O L I NK: H TTP:// W W W. Y O U T U B E . C O M / WAT C H ? V = - AL2I --TC HM)

M A R K : (Risos) Esse dia foi muito divertido… Com ele nunca se sabe!

BEM, “THAT´S ALL FOLKS!” OBRIGADO PELO TEU TEMPO. ESTAMOS ANSIOSOS POR VER OS METAL ALLEGIANCE EM PORTUGAL, POR ISSO, POR FAVOR PENSEM NISSO. BOA SORTE PARA VOCÊS. M A R K : Obrigado pelo vosso apoio, Foi um Prazer.

H T T P : / / W W W. M E TA L A L L E G I ANCE.COM/ H T T P S : / / W W W. FA C E B OOK.COM/ M E TA L A L L E G I ANCETO UR H T T P S : / / Y O U T U . B E / J M G KSI XHCB0


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ENTREVISTA

MAGAZINE

“(...) GERALMENTE, MEUS DESENHOSHASÃO FEITOS A “…ESTA CANÇÃOOS[“NOCTURNAL PARTIR DE FOTOS. ALGUMAS PARTES SÃO “PINTADAS” VEN”] PEDIA EXACTAMENTE ALGUÉM COM O ILLUSTRATOR E, DEPOIS, USO O PHOTOSHOP PARA COM OPORMENORES.” ESTILO DO TOMMY ROGERS” TRATAR

BENJAMIN BORUCKI UMA CURIOSA MESCLA DE BOM HUMOR E IDEIAS NEGRAS FAZ ARTWORK TENEBROSO PARA BANDAS DE METAL, MAS, AO MESMO TEMPO, PRODUZ T-SHIRTS CÓMICAS QUE FACILMENTE SUSCITAM O RISO: EIS A CONTRADITÓRIA ESSÊNCIA DA ARTE DE BENJAMIN BORUCKI! Por: CSA OLÁ, BENJAMIN. TENHO ESTADO A ANALISAR O TEU PORTEFÓLIO E A CONCLUIR QUE JÁ CONHEÇO ALGUNS DOS TEUS TRABALHOS HÁ MUITO TEMPO: POR EXEMPLO, AS CAPAS QUE FIZESTE PARA AMON AMARTH E ENSIFERUM. MAS ESTE É APENAS UM DOS AVATARES DA TUA ARTE: CORES ESCURAS COM PINCELADAS DE VERMELHO, GERALMENTE A LEMBRAR CHAMAS. QUE TÉCNICAS USAS NESTE TIPO DE TRAB ALHOS? BENJA M I N : Olá, Cristina. Geralmente,

os meus desenhos são feitos a partir de fotos. Algumas partes são “pintadas” com o Illustrator e, depois, uso o Photoshop para tratar pormenores. No que diz respeito aos filmes, normalmente uso fotos de fogos, mas também crio efeitos no Photoshop e, para produzir algumas texturas, recorro a um programa chamado Filterforge, que recomendo vivamente a todos os que se dedicam ao design.

E ONDE ENCONTRAS OS MOTIVOS PARA ESSES TRABALHOS? FAZES ALGUMA PESQUISA? ESCOLHES MOTIVOS

QUE AS PESSOAS NORMALMENTE ASSOCIAM AOS VIKINGS? B E NJ A M IN: Frequentemente, começo por ler as letras do álbum/da banda para o/a qual vou trabalhar. Normalmente, esse material permite-me idealizar algo visual adequado ao trabalho em questão, que irá inspirar o meu design. Também faço pesquisa na internet para encontrar elementos que possa incluir num motivo. É claro que os temas Vikings estão sempre adequados às duas bandas que referiste. 15 / VERSUS MAGAZINE


“(...) TAMBÉM ME PARECE INTERESSANTE EXPERIMENTAR VÁRIOS ESTILOS, O QUE ME AJUDA A TORNAR-ME NUM ARTISTA MAIS COMPLETO.”

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TAMBÉM GOSTEI MUITO DOS TRAB ALHOS QUE FIZESTE PARA BANDAS COMO CHILDREN OF BODOM OU CHILD OF CAESAR: IMAGENS MUITO NEGRAS COM MANCHAS BRANCAS E VÁRIOS TONS DE CINZENTO. SÃO PINTURAS, FOTOS, UMA COMBINAÇÃO DAS DUAS, PROVÊM DE OUTRAS TÉCNICAS? BENJA M I N : Fico feliz por esses trabalhos te terem agradado. Tal como já referi, também a maior parte desses trabalhos tem por base fotos que vou tirando. Mas, muitas vezes, tento dar ao meu design um ar de pintura, recorrendo a texturas e ou pintando alguns pormenores, entre outras possibilidades. Também me parece interessante experimentar vários estilos, o que me ajuda a tornar-me num artista mais completo.

ESSES TRABALHOS FAZEM-ME PENSAR NA ESTÉTICA DOS FILMES MUDOS ALEMÃES BASEADOS EM HISTÓRIAS DE TERROR, QUE EU ADORO. HÁ ALGUMA RELAÇÃO ENTRE AS DUAS COISAS? BENJA M I N : Eu também adoro a estética desses filmes antigos, mas, de facto, não há nenhuma relação entre eles e a minha arte. Pelo menos, nunca pensei nisso, quando faço esses trabalhos. Mas acho que me deste uma excelente ideia: inspirar-me nessa estética para esse tipo de trabalhos. Obrigado pela dica! Hehe!

GOST EI IMENSO DA T-SHIRT QUE FIZESTE PARA ICHOR. FAZ-ME LEMBRAR UMA ESPÉCIE DE GRAVURA. USASTE MESMO ESSA TÉCNICA? SE NÃO, COMO CRIASTE ESSE EFEITO? BENJA M I N : Não, não tem nada a ver com uma gravura. Fui inspirado pelo simbolismo oculto. Há muita imagética desse género no universo do Metal, como deves saber. Também não atribuo nenhum significado especial a essa minha criação. Muito simplesmente, pareceu-me que esse efeito dava uma boa base para o design. Usei a função Bevel and Emboss” do Photoshop.

A CAPA QUE FIZESTE PARA NORGE 1 6 / VERSUS MAGAZINE

LEMBRA-ME A DE «LED ZEPPELIN IV». PODES COMENTAR ESTA IDEIA?

B EN J A MIN: Trata-se de uma coincidência. Francamente, não conheço a capa do álbum que referes (estou envergonhado). O meu trabalho inspirou-se nos de Theodor Kittelsen intitulados “Svartedauen”. Esta série de ilustrações representa a peste negra a chegar ao campo sob a forma de uma mulher velha. Fiz esse trabalho para o split de Lunar Aurora e Nordlys. Eles pediram-me para fazer algo old school e, como muitas bandas dos primórdios da segunda vaga do Black Metal usaram obras de Kittelsen no artwork dos seus álbuns, eu queria criar um efeito semelhante nesta capa. Mais uma vez, usei o Filterforge para dar à imagem um estilo “tracejado”.

UM DOS TEUS TRABALHOS QUE MAIS ME AGRADAM É A CAPA E O ARTWORK DE «FUTILE» DOS EUDAIMONY, QUE ENTREVISTEI PARA A VERSUS MAGAZINE NO ANO PASSADO. PARECEM MESMO PINTURAS. B EN J A MIN: Obrigada mesmo. Também é um dos meus trabalhos favoritos – de todos os que fiz até agora. Portanto, parece que temos gostos parecidos. Hehe! Todas as imagens que aparecem no artwork desse álbum foram criadas a partir de fotos. Na realidade, fiz uma sessão fotográfica com a minha sobrinha como modelo. Portanto, ela é a menina que aparece aí e deu-me uma grande ajuda. Depois tentei fazer com que tudo parecesse pintado, usando várias texturas e colorações criadas com o Photoshop. Este artwork deume imenso trabalho, mas também muito prazer. A propósito, há uma pintura no fundo da imagem em que a menina – já a envelhecer – está a olhar para o observador, que é um trabalho antigo de um dos meus irmãos. A princípio, pensei em eliminar esse elemento, mas depois desisti, porque combinava bem demais com a atmosfera bizarra da arte desse álbum.

FIQUEI POSITIVAMENTE EMOCIONADA PELA CAPA, ONDE SE PODE VER UMA JOVEM ADORMECIDA (OU TALVEZ MORTA). COMO RELACIONAS UMA TAL IMAGEM COM A FUTILIDADE?

B E NJ A M IN: Nem sei como te agradecer. Essa ideia e outras subjacentes às imagens que criei vieram da cabeça do vocalista dos Eudaimony: Matthias Jell. Discutimos a sua visão do álbum, que sentimentos se pretendia exprimir e ele apresentou-me uma enorme quantidade de ideias excelentes – como, por exemplo, essa da rapariga adormecida/ morta – a que eu tentei dar corpo no meu artwork para o álbum. Para mim, essa imagem não podia estar mais ajustada ao título do álbum: representa uma tenra vida, que não teve a possibilidade de se desenvolver, de concretizar o seu potencial. É triste e perturbadora, como a música e as letras desse álbum.

TAMBÉM FIQUEI MUITO IMPRESSIONADA PELOS TEUS DESENHOS CÓMICOS: POR EXEMPLO, «OH CRAB» OU «PAYBACK TIME» OU AINDA OS PEQUENOS ANIMAIS ASSASSINOS. “SABEM” A CARTOONS OU STRIPS DE BANDA DESENHADA. TÊM ALGUMA COISA A VER COM A “NONA ARTE”? B E NJ A M IN: É verdade, faço muitos desses desenhos no estilo cartoon ou banda desenhada. Uso sempre o Adobe Illustrator. Correspondem à segunda vertente das atividades a que me dedico para ganhar a vida: fazer t-shirts engraçadas. Contrastam muito com os trabalhos tenebrosos que faço para as bandas de Metal. Mas divertemme muito e introduzem alguma variação na minha rotina diária.

É MICHAEL JACKSON QUE PODEMOS VER NO DESENHO IN TITULADO «WHO’S DEAD», COMO ELE ERA NOS ANOS 80? B E NJ A M IN: Sim, mais precisamente como ele aparece no vídeo de “Thriller”. Essa fi-la só para me divertir. Foi uma das minhas primeiras produções como ilustrador e não está muito bem feita. Mas tens de começar por algum lado, não é assim? Hehe.

QUE ARTISTAS TE INFLUENCIARAM MAIS? B E NJ A M IN: No que toca ao estilo,


“[OS DESENHOS CÓMICOS] CONTRASTAM MUITO COM OS TRABALHOS TENEBROSOS QUE FAÇO PARA AS BANDAS DE METAL. MAS DIVERTEM-ME MUITO [...]” penso que Travis Smith teve obviamente um grande impacto no que faço. Sou um grande fã dos seus trabalhos e da forma como usa as texturas e a cor. Nos últimos anos, tenho tentado incluir vários elementos novos no meu estilo. Acho que Joachim Luebke e H.R. Giger fizeram coisas extraordinárias. A fotografia e os arranjos de Joel-Peter Witkins são demais! E tenho investigado imenso sobre a pintura de Caspar David Friedrich, Theodor Kittelsen e Edvard Munch, entre outros. Mas esses pintores não têm nada a ver com a minha arte, exceto no que toca à minha pequena tentativa de dar um estilo à moda de Kittelsen no trabalho que já referi. São todos diferentes uns dos outros. E o meu trabalho é outra história. Hehe! Mas estou satisfeito com o que tenho conseguido criar com as minhas técnicas até ao momento e vou continuar a tentar ser cada vez melhor, a cada trabalho que fizer.

ONDE APRENDESTE A TUA ARTE? BENJA M I N : Não tenho nenhuma formação específica neste domínio. Tenho-me arranjado com o que aprendi na escolaridade obrigatória. Como sempre gostei muito de trabalhar com o Photoshop, fui explorando tutoriais e fazendo outros e, por tentativa e erro, desenvolvi as competências que ponho em ação nos meus trabalhos.

COMO A ARTE GRÁFICA, OU É UMA ESPÉCIE DE HOBBY?

B EN J A MIN: Bem, há anos que Sonic Reign não ensaia, o que é lamentável. Espero que possamos mudar isso em breve, porque nos divertíamos muito juntos. Atualmente, ando a escrever canções em diversos estilos para mim próprio e a compor pequenas bandas sonoras para a TV, o cinema, jogos de vídeo, etc. No que diz respeito à importância da música na minha vida, penso que é equiparável à da arte gráfica. É outra forma maravilhosa de me exprimir e seria muito aborrecido para mim ser privado de uma delas.

JÁ FIZESTE ALGUMA EXPOSIÇÃO OU TOMASTE PARTE NALGUMA? B EN J A MIN: Não. Seria fantástico, mas até agora ainda não me deram essa oportunidade. Também não sei se as pessoas gostariam de ver os meus trabalhos assim. É claro que eu gosto do que faço, mas nunca tenho a certeza de ter agradado aos outros.

SE PUDESSES ESCOLHER UM ARTISTA GRÁFICO OU UM MÚSICO

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PARA TRABALHAR CONTIGO, QUEM ESCOLHERIAS? B E NJ A M IN: Bem, não trabalharia com outro artista gráfico, porque isto é o meu trabalho e gosto de o fazer sozinho. Hehe! Mas gostava muito de poder observar Travis Smith a fazer uma dos seus artworks e fazer perguntas sobre as técnicas que usa. No que diz respeito aos músicos, já tive a possibilidade de trabalhar com bandas muito especiais, que exprimem emoções intensas na sua música. Tem sido muito inspirador e gratificante trabalhar com artistas dessa craveira. Mas é claro que ficaria muito feliz, se pudesse fazer artworks para as minhas bandas favoritas: por exemplo, Emperor, Deep Purple, Enslaved, Windir, Opeth or Lonely Kamel. Mas, como podes compreender, isso não vai acontecer por várias razões. B E N @ I R R L EU CHTEN.D E W W W. I R R L EUCHTEN.D E H T T P : / / I R R L E U C H T E N . D E V I A NTART.COM/ W W W. FA C E B O O K . C O M / I R RLEUCHTEN

QUAL FOI O TEU PRIMEIRO TRABALHO? BENJA M I N : O artwork para “The Decline P, um EP da minha banda chamada Sonic Reign.

QUAIS SÃO TRAB ALHOS?

OS

TEUS

ÚLTIMOS

BENJA M I N : Desenhos para t-shirts de bandas como Ensiferum e DHG/ Dodheimsgard, para festivais como Wacken Open Air e o Loud Park Festival, etc. Neste momento, estou a dar os últimos retoques ao split de Lunar Aurora/Nordlys. É um trabalho fantástico, porque, com os LPs, tens muito mais hipóteses de afinar os pequenos detalhes. Prefiro-os de longe aos CDs.

JÁ SEI QUE TAMBÉM ÉS UM MÚSICO. ESSA VERTENTE É TÃO IMPORTANTE 17 / VERSUS MAGAZINE


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GRELOS DE HORTELA

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ELES PREFEREM OS SINOS Por: Victror Alves Exibem os seus tecidos negros numa caminhada por um trilho direito ao buraco do esquecimento. Arrastam hipócritas e novos amigos E que o seu caixão seja levado pelos impostores. Aos mortos pregam partidas, Disfarçando tudo o que eles eram antes Pela imagem da rica santificação. Jamais nego ou me privo da minha vida, por enquanto!

De resto, tudo o que é dado de forma gratuita, tolerante e motivadora, abraço com um humilde sorriso de gratidão. Sou adepto de um começo da nova Era, sem Deuses e lideres por nós formalizados... “Haverá maior humilhação para um homem ter que eleger seus chefes?”... Passa por mim na hora da incerteza! Ou não merecemos ser todos elementos honrosos na Passa por mim na hora da incerteza para que a dúvida. Cada vez mais leio o meu próprio mais identifico-me contigo. ... Há muito que reparo que o que aniquila elas criam à sua volta. O medo de tentar começar tudo de novo. Elas reduzem explodir. Que lágrima será aquela um instante antes de partir? Não é um mistério constante onde os acontecem quando dobras a As minhas fraldas foram trapos passou por mim de uma forma águas vertidas, fiz a neve de uma sujando as calças que a minha Nas pontas dos dedos, acompanhavam o meu A fruta, estava para árvore… Tudo isto Agora sou prisioneiro de um julgamento uma prisão que vamos vida que auto limita-nos. Perante a terra que te suporta, a que te embala e o fogo que te aquece. nossa guerra e do vento e do fogo a nossa mudança como teimoso para com o insucesso. Kane disse: “Rosebud”

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parte superior da vida? sejamos dois ou mais perante comportamento e cada vez as pessoas, é a solidão que com o medo de cair e ter que a nada a sua vontade de que nos escorre no rosto serei eu a contar-vos! A vida mais belos acontecimentos esquina. velhos de um lençol que muito ligeira. Das minhas rabina e por lá escorreguei, mãe dobrava com todo o brio. tinha pedaços lanche.

de

terra

que

lá de um muro e no cimo de uma debaixo de sol ou chuva acontecia! de um conjunto de regras e colectivo, para fazer parte de construindo ao longo da nossa água que te sustenta, o vento Fazemos da terra e da água a arma. Sou tão cobarde perante a


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ENTREVISTA

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““MAS EU ESTAVA A PENSAR E QUANDO HAOLHAS PARA O “…ESTA CANÇÃO [“NOCTURNAL MUNDO ... EU PENSEI QUE DEVERÍAMOS USAR ESTA EXVEN”] PEDIA EXACTAMENTE ALGUÉM PRESSÃO DE OUTRA MANEIRA. O ERRO É O SER HUMANO, COM O ESTILO DO TOMMY ROGERS” OU A HUMANIDADE.””

HUMANITAS ERROR EST O ÓDIO PELA HUMANIDADE LEIPZIG, NA ALEMANHA DE LESTE, É UMA CIDADE NA QUAL DECORRE ANUALMENTE O MAIOR FESTIVAL GÓTICO DA EUROPA, O WAVE GOTIK TREFFEN. NESTE FESTIVAL, DE TOADAS MAIS GÓTICAS, TOCAM TAMBÉM BANDAS DE OUTROS ESTILOS ENTRE OS QUAIS O DEATH, FOLK, BLACK METAL E HÁ MESMO ATÉ CONCERTOS MEDIEVAIS. PARA ALÉM DE TODA A CENA GÓTICA, LEIPZIG É TAMBÉM CONHECIDA POR SER A CIDADE ESCOLHIDA PELOS MAYHEM PARA LANÇAREM O SEU ETERNO ÁLBUM “LIVE IN LEIPZIG”. ADIVINHA-SE PORTANTO, UMA CIDADE PROFÍCUA NA CENA BLACK METAL E DE FACTO, NESTA MESMA INFAME CIDADE RESIDEM BANDAS COMO OS NARGAROTH. RECENTEMENTE, AHEPHAÏM (EX-ENTHRONED) JUNTOUSE À BELA S CAEDES PARA CRIAREM UMA BLASFEMA E PECULIAR BANDA DE BLACK METAL APÓS SE MUDAREM PARA LEIPZIG. COM DOIS VOCALISTAS E UMA MISTURA SAUDÁVEL DE OUTROS ESTILOS DE METAL, OS HUMANITAS ERROR EST TÊM ESPALHADO A SUA MENSAGEM DE ÓDIO PELA HUMANIDADE E ESTÃO A CONSTRUIR UMA SÓLIDA REPUTAÇÃO. APROVEITANDO O FACTO DE UM DOS NOSSOS COLABORADORES RESIDIR NA REFERIDA CIDADE E CONHECER PESSOALMENTE ESTE BLASFEMO CONJUNTO DE MÚSICOS, A VERSUS MAGAZINE ENCONTROU-SE COM AHEPHAÏM (BATERISTA) E S CAEDES E GHOUL, AMBOS VOCALISTAS. Por: Eduardo Rocha OBRIGADO PELO VOSSO TEMPO. PODIAS-ME CONTAR UM BOCADO A HISTÓRIA DOS HUMANITAS ERROR EST? AHEPH AÏ M : A S Caedes eu estávamos à procura de músicos desde que estávamos a viver na

Bélgica que quisessem tocar black metal mas não havia muita gente na cena de BM. Acabámos por desistir porque eu também estava a tocar com outras bandas. Depois mudámo-nos para a Alemanha, por motivos pessoais e profissionais, e procuramos músicos aqui também.

No início, encontramos o GHOUL como vocalista e acabamos por nos encontrar para ensaiar. Já éramos três elementos, pois a S CAEDES também é vocalista e eu sou baterista e depois foi procurar guitarristas o que não foi fácil. Passado alguns meses

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“UM CABRÃO É UM CABRÃO EM QUALQUER RELIGIÃO, PAÍS…NÃO FAZ DIFERENÇA…”

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encontramos o TSAR, guitarrista, e o nosso baixista ROGAN. Após várias tentativas para um segundo guitarrista, encontrarmos o nosso segundo guitarrista VOID114 que demorou bastantes meses.

QUAIS SÃO AS VOSSAS INFLUENCIAS QUANDO COMPÕEM E COMO FUNCIONA O VOSSO PROCESSO DE COMPOSIÇÃO? GHOUL: É muito variado. S CAEDE S : Eu ouço mais Depressive Black Metal GHOUL: Eu gosto mais do estilo oldschool Norueguês BM e temos influências desde o Death Metal mas também bandas como Dark Funeral, Taake, Satyricon… AHEPH A Ï M : A maior parte das vezes o nosso guitarrista traz um riff e trabalhamos juntos e depois construímos uma estrutura. Ele trabalha muito em casa, sozinho e muitas vezes traz temas prontos de casa. Muitas vezes também experimentamos coisas novas na sala de ensaio.

NO VOSSO LINE-UP TÊM DOIS VOCALISTAS, O QUE NÃO É MUITO COMUM NA CENA BLACK METAL. TENDO ISTO EM CONTA, E OLHANDO PARA VOCÊS, COMO SE DIFERENCIARIAM DAS RESTANTES BANDAS? O QUE TÊM PARA DAR A ALGUÉM QUE VOS OUÇA QUE AS OUTRAS BANDAS NÃO TÊM? AHEPH A Ï M : O conceito base da banda é explorar o ódio pela Humanidade porque odiámos a sociedade. Queríamos de facto fazer uma banda nesta direção e musicalmente, queríamos fazer algo mais original em termos de vocalizações, com dois vocalistas (um masculino e outro feminino). Queríamos fazer algo variado e acho que este é um grande aspecto diferenciador da nossa banda. GHOUL: É mais dinâmico no palco com mais poder e temos mais mensagens a transmitir.

COMO EXPLORAM ESTES DOIS TIPOS DE VOZES? PORQUE ISTO NÃO É MUITO COMUM. É VOS DIFÍCIL ENCONTRAR OS LUGARES APROPRIADOS PARA CADA VOZ? S CAE DE S : Não, uma vez que temos vozes bastantes diferentes. Para 2 0 / VERSUS MAGAZINE

mim, eu expresso-me com a minha raiva, o meu ódio. Tal como disse, eu sou mais influenciada pelo Depressive Black Metal, por isso a minha voz é também mais neste estilo. O GHOUL tem uma voz mais funda do que eu e seguimos o nosso instinto. Cantamos tal como nos sentimos e como nos sentimos no momento em que estamos a compor. G H O U L: O meu estilo é mais Rock n Roll e punk.

...ASSIM CONSEGUEM MISTURAR MAIS ESTILOS DENTRO DA VOSSA MÚSICA, CERTO? S C A ED ES: Também depende das músicas que compomos. Temos temas que são mais directos, mais agressivos, mais in-the-face. A H EP H A ÏM: Acho que uma coisa bastante positiva na nossa banda é que cada músico tem o seu ponto de vista e cada um ouve o seu próprio estilo de música. Temos de facto um toque brutal mas também conseguimos misturar com bastantes influências e passagens mais próprias de outros estilos o que nos torna um pouco mais interessantes.

ESTÃO A GRAVAR O VOSSO PRIMEIRO ÁLBUM. PODEM-ME DIZER ALGO ACERCA DISTO? A H EP H A ÏM: As gravações já terminaram há vários meses e estamos nos últimos passos do processo. S C A ED ES: Estamos a terminar o artwork e os últimos pormenores de modo a podermos dizer que o álbum está cá fora. A H EP H A ÏM: Gravámos nos Nautilus Studios em Gera, na Alemanha, e recebemos depois contactos para a masterização na Bulgária. O Déhà da HH Productions que escolhemos também trabalhou com bastantes bandas internacionais e queríamos trabalhar com ele uma vez que ele tem a mesma visão que nós. E decidimos avançar com o processo e estamos bastantes satisfeitos com o resultado. Estávamos em tour na Bélgica e no último concerto estava um músico dos Zardens que ficou bastante impressionado com a nossa música e ele deu-nos os contactos da editora deles. Eu depois

contactei a editora e eles disseram diretamente que entusiasmados em trabalhar connosco e depois de esclarecermos todos os detalhes decidimos assinar com eles. A editora chama-se Satanath Records e são da Rússia e trabalham em colaboração com a Black Plague Records, dos Estados Unidos, e com a Godeater Records da Alemanha. Desta maneira, temos uma cobertura em diferentes territórios. S C A E D E S : Para nós é bastante importante ter uma editora que nos apoia e acredita na nossa música.

E O CONCEITO? A H E P H A ÏM : O conceito principal do álbum é o ser Humano tornar-se uma doença e todas as músicas falam disto de uma maneira diferente. São dois vocalistas, duas maneiras de escrever e de pensar e também torna a banda interessante. S CAEDES: As nossas letras estão abertas a interpretações diferentes. Há algumas letras em que escrevemos de uma maneira direta mas outras podem ser interpretadas de maneira diferente. Ambos os vocalistas partilham a mesma opinião nas letras mas eu e o Ghoul temos maneiras diferentes de escrever. Eu sou sádica e gosto mais de escrever sobre tortura, morte e sangue. G H O U L : Eu escrevo mais através de mensagens escondidas…mais subtil

JÁ AGORA, QUANDO PODEMOS VER O RESULTADO FINAL? A H E P H A ÏM : Está planeado para sair em Dezembro.

PORTANTO, TÊM O ÁLBUM NAS MÃOS E SABEM QUE VAI SAIR EM BREVE. O QUE ANDAM A FAZER ENTRETANTO? A H E P H A ÏM : Estamos só a ultimar os pormenores do lançamento. E claro, estamos a tocar ao vivo e temos mais quatro concertos para este ano. S C A E D E S : E já temos um concerto marcado para 2016 e estamos em contactos para marcar mais. A H E P H A ÏM : E claro, estamos a planear a promoção do álbum.


“O CONCEITO PRINCIPAL DO ÁLBUM É O SER HUMANO TORNAR-SE UMA DOENÇA E TODAS AS MÚSICAS FALAM DISTO DE UMA MANEIRA DIFERENTE”

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PARA UMA BANDA COMO OS HUMANITAS ERROR EST, SENTEM UMA GRANDE DIFERENÇA ENTRE TOCA R EM CLUBES OU EM FESTIVAIS? E PODEM CONTAR-NOS UM POUCO MAIS ACERCA DA CENA AQUI NA ALEMANHA? AHEPHAÏ M : Eu tenho que dizer que para nós, não foi muito complicado arranjar concertos o que nos surpreendeu porque só tínhamos um tema pronto. Recebemos muitos contactos e muito feedback positivo e toda a promoção que temos feito até agora tem sido graças a este tema, o que não é muito normal. Mas como temos 6 elementos muito motivados e entusiasmados, é normal que as coisas aconteçam naturalmente. E de facto queremos fazer tours e tocar ao vivo e todos na nossa banda partilham esta vontade. É muito trabalho, claro, e recebemos muitas ofertas de clubes. S CAE D E S : Também exige muito esforço por parte da banda em termos de contactar os clubes porque se não te mexeres, ninguém se mexerá por ti

ESTA PERGUNTA PODE PARECER ESTRANHA, MAS ESTAMOS EM LEIPZIG, A CIDADE DO WAVE GOTIK TREFFEN E TAMBÉM A CIDADE ONDE OS MAYHEM GRAVARAM O ETERNO “LIVE IN LEIPZIG”. COMO SE SENTEM NEST E CONTEXTO? IMAGINO QUE EM PAÍSES DA EUROPA CENTRAL HAJA MAIS OPORTUNIDADES DO QUE EM PAÍSES COMO PORTUGAL. AHEPHAÏ M : Para mim, sinto uma diferença grande entre a cena na Bélgica e aqui porque aqui há mais suporte para bandas e as pessoas levam-te a sério, quando mostras trabalho a sério. Na Bélgica, não havia muitas estruturas que te ajudassem e tens sempre que lutar muito, mais do que em qualquer lugar. Aqui é mais do género, “Ok, queres tocar mas tens que provar que és bom o suficiente”. Relativamente à cena gótica, é um pouco irrelevante porque eu quero tocar a minha música aonde quer que esteja. Até podia ser no meio da floresta que eu tocaria a mesma música.

QUEREM

CONTAR-ME

UM

POUCO

DO VOSSO PASSADO? UMA VEZ QUE O AHEPHAÏM JÁ TOCOU NOS ENTHRONED, ATÉ QUE PONTO É VANTAJOSO TER UM MÚSICO COM MAIS EXPERIÊNCIA? S C A ED ES : Gostaria de salientar o facto de que tudo o que atingimos até agora não advém do facto de o AHEPHAÏM já ser um músico conhecido. Eu estou 100% na banda e sei o nosso valor. Claro que exploramos alguns contactos dele mas o mais importante é ter pessoas na banda que gostem daquilo que fazem e que se mexam, ou seja, disponíveis para tocar e para sair do seu canto. Porque há muitas bandas que apenas tocam na sua zona. A H EP H A ÏM : Acho que ajuda quando a banda é desconhecida dizer que o baterista já tocou com os Enthroned. Uma vez que os Enthroned já são uma referência na cena pode ser que as pessoas tenham curiosidade em explorar o que o antigo baterista anda a fazer. Mas no início, a maior parte dos contactos até vieram do GHOUL que tem amigos aqui na zona.

E COMO VÊM A CENA NOS DIAS DE HOJE? G H O U L: Eu acho que há demasiada gente e toda a gente a tentar fazer algo o que faz com o que mercado esteja demasiado cheio.

E É VOS DIFÍCIL CHAMAR A ATENÇÃO DAS PESSOAS? SE EU ESTIVER NUMA LOJA COM MAIS 20 CDS DE BM OU NUM FESTIVAL AONDE TOQUEM MAIS 10 BANDAS DE BM, COMO ACHAM QUE ME CONSEGUEM CHAMAR A ATENÇÃO? S C A ED ES : Tens que nos ver (risos). G H O U L: Somos uma criação nova… A H EP H A ÏM : Para mim, que estou na cena desde muito novo, antigamente acho que era tudo mais tipo uma família. Agora é mais quando outras bandas vêm uma banda a safar-se, as restantes começam a falar mal da banda que se safa. Também é um pouco como o GHOUL disse, um pouco mais de marketing. Tens que lutar para vender a tua merda… Antigamente, se uma banda fosse boa, serias reconhecido. Eu acho que nós

conseguimos chamar a atenção porque a música é boa e também temos uma composição especial na banda com dois vocalistas. S C A E D E S : E temos uma atitude a sério. G H O U L : E temos uma mensagem forte…

E COMO SE VÊM NESSE ASPECTO? SERÃO OS HUMANITAS MAIS ACERCA DA MENSAGEM? O AHEPHAÏM FALA MUITO ACERCA DA MÚSICA E DOS VÁRIOS ASPECTOS QUE A RODEIAM. ACHAM QUE CONSEGUEM COMBINAR ESTES ASPECTOS E CRIAR UMA BANDA COM UMA MENSAGEM FORTE E MUSICALMENTE COESA? A H E P H A ÏM : Quando criamos a banda, todos tínhamos a mesma visão acerca da vida. Que odiamos os Humanos. O nome da banda vem mesmo daí. É uma expressão em latim “Errare Humanum Est” o que significa que errar é humano. Mas eu estava a pensar e quando olhas para o mundo, para o que se está a passar e como as pessoas agem nas ruas, eu pensei que deveríamos usar esta expressão de outra maneira. O erro é o ser humano, ou a Humanidade. Todas as pessoas na banda têm a mesma opinião. G H O U L : O ser Humano é o parasita. Pessoas de cor negra, branca, isso não interessa. Somos todos um e um parasita para o nosso Planeta. S C A E D E S : Para mim, que tomo parte na proteção de animais e da Natureza, a Humanidade está a destruir o seu próprio ambiente. Este é o ponto para o qual, na minha opinião, nós cometemos o maior error. A Humanidade destróise a si própria.

A HUMANIDADE É A ESPÉCIE COM MAIS INTELECTO MAS É A QUE MAIS DESTRÓI. A H E P H A ÏM- É poderio intelectual e não está em todos os seres humanos.

E ACERCA DA RELIGIÃO? COMO VÊM TODOS ESTES CONFLITOS ACTUAIS? OUTRA VEZ, PARECE-VOS MAIS UM FALHANÇO DA HUMANIDADE? A H E P H A ÏM - É como o GHOUL referiu,

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“EU GOSTARIA MUITO DE VOLTAR A TOCAR EM PORTUGAL PORQUE QUANDO ESTIVE AÍ COM OS ENTHRONED ACHEI O PÚBLICO FANTÁSTICO (...)”

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estamo-nos a cagar para a cor das pessoas ou para a religião. Um cabrão é um cabrão em qualquer religião, País…não faz diferença… Não dizemos que odiamos mais Árabes ou Europeus ou outra raça…odiamos todos… GHOUL- O mal é sempre relativo para cada pessoa… Para ti algo pode estar bem enquanto que para outros pode ser algo de mau. AHEPHAÏ M- Há pessoas que não são más mas a massa de pessoas é que torna a Humanidade em algo de mau.

PORTANTO, ACHAM QUE HÁ UMA NATUREZA MALÉVOLA NO SER HUMANO? S C AE D E S Absolutamente. Eu acredito em Satanás mas não como uma pessoa ou como um deus, é o mal dentro de cada pessoa. E depende de cada um fazer o que acha melhor. Normalmente, eu sou bastante simpática (risos) mas também tenho o meu outro lado que exploro em diferentes maneiras na minha vida. Eu não vejo a necessidade de ser simpática com todos. No fim, é uma decisão que cada um tem que tomar. É uma

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decisão minha… E cada humano é uma expressão do mal…

E O QUE CONHECEM DE PORTUGAL? ALGUM VENUE, BANDA?

A H EP H A ÏM - Eu gostaria muito de voltar a tocar em Portugal porque quando estive aí com os Enthroned achei o público fantástico e a organização era muito amigável. Não posso dizer que tenha visto isto muitas vezes porque ofereciam-nos todas as refeições nos restaurantes, bons hotéis e também nos deixaram visitar a cidade de Lisboa. Acho que a hospitalidade em Portugal é muito boa e adorava tocar no festival de Barroselas (N.R.- Stell Warriors Rebellion) que está cada vez mais a ficar conhecido na cena internacional. Mas também gostaríamos de tocar noutras cidades. Nós queremos tocar em todas as cidades.

QUESTÃO FINAL, O QUE ACHAM DO SPOTIFY? ACHAM QUE UMA BANDA COMO A VOSSA, PODE USAR ISTO EM SEU BENEFÍCIO? G H O U L - A cena está tão envolvente que tens que usar estas

plataformas. É uma oportunidade para atingir outras pessoas e qualquer maneira que nos permita chegar a mais pessoas é algo de bom. É grátis por isso porque não usar? Aquele que não se desenvolver, a sua existência está em perigo. AHEPHAÏM: Nós temos que evoluir com a cena e se temos uma banda e queremos tocar em todos os sítios, tens que seguir estes passos. Tens que trabalhar todos os detalhes… apesar de ás vezes ser um pouco frustrante porque às vezes parece que é tudo acerca de dinheiro mas faz parte do jogo… nós tentamos fazer isto sem mudar a nossa mensagem . H T T P S : / / W W W. FA C E B OOK.COM/ H U M A N I TASERROREST/ H T T P S : / / Y O U T U . B E / Y Y D QX3O26BW


FLASH REVIEWS

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BUT CHER BABIES

«Take it Like a Man» (Century Media) No universo restrito das bandas de metal com vozes femininas (bem, não é assim tão restrito) os Butcher Babies trazem um toque de originalidade (musical, não visual) com as suas duas vocalistas. As primeiras audições deste novo trabalho não nos mete a uma grande distância do anterior. A verdade é que há bons momentos - a parte instrumental tem o mérito de ser dinâmico e conseguir conjungar bem com as duas vozes. Não sei porquê este projecto pode não ser levado muito a sério numa fase inicial - tem um certo toque de comédia, diria eu - mas na verdade não há qualquer razão para isso; as músicas cativam e ouvem-se facilmente. [ 6,0 / 10 ] AG

LIFEST REAM

«Post Ecstatic Experience» (Les Acteurs de l’Ombre (LADLO) Productions) Oriundos de frança, encontramos nestes «Lifestream» uma atmosfera negra e melódica. Com uma boa produção, apresentam-nos um som cru, com algumas influências do black metal nórdico. As músicas cheias de tecnicismo, blast beats, e mudanças de tempo, complementadas com letras de base metafísica, debitadas em alternâncias de vozes sussurradas, guturais e algumas simplesmente faladas tornam este «Post Ecstatic Experience», uma boa proposta, e, especialmente para os seguidores de um som mais purista, um álbum a não perder. [ 7,0 / 10 ] HUGO MELO

M ORD’A’ST IGM ATA

«Our Hearts Slow Down» (Pagan Records) Este novo trabalho do colectivo polaco não foge muito ao estilo de Black/Doom psicadélico que tanto impressionou no álbum «Ansia», em 2013. Nos três temas que integram este MCD (dois dos quais rondam os doze minutos de duração) são de destacar os longos fraseados de guitarras etéreas e os rendilhados jazzísticos de bateria que emergem da toada obscura de composições expansivas e multifacetadas. Fãs de Black Metal de abordagem mais experimentalista e progressiva não devem deixar passar este ao lado. [ 8,5 / 10 ] ERNESTO MARTINS

SO HIDEOUS

«Laurestine» (Prosthetic Records)

O rótulo de post-black metal que tem surgido apenso a este disco não lhe faz justiça. O registo vocal é sem dúvida o característico do género, mas a música é altamente cinemática, orquestral e muito pouco guitar-driven. Gravado com uma orquestra e coro de trinta elementos, este segundo registo do colectivo que outrora se chamou So Hideous, My Love, é uma peça ambiciosa que se afirma pela beleza galvanizante dos seus longos segmentos instrumentais de grandes dinâmicas e de grande intensidade emocional. Merece ser ouvido pela originalidade da abordagem.

[ 9,5 / 10 ] ERNESTO MARTINS

SORCERER

«Sorcerer» (Hammerheart Records)

A génese destes suecos remonta a 1989 aquando da edição da demo tape homónima. Em 1992, lançam nova demo denominada «The Inquisition», sendo que em 95 sai o CD com o nome «Sorcerer» que engloba ambas as demos. Inativa durante cerca de 10 anos, este «Sorcerer» é essencialmente a reedição do primeiro álbum, que sai após a edição, já este ano, do «In The Shadows Of The Inverted Cross». Com uma sonoridade a lembrar uns «Candlemass» ou uns «Cathedral», estes suecos são uma escolha bastante interessante para os fans do género.

[ 8,0 / 10 ] HUGO MELO 23 / VERSUS MAGAZINE


FLASH REVIEWS

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SUNSET IN T HE 12 TH HO U S E

«Mozaic» (Prophecy Productions) Este é mais um produto das mentes criativas de Hupogrammos e Sol Faur, a dupla dissidente dos Negura Bunget actualmente activa nos Dordeduh: um trabalho quase só instrumental, de tendências post-rock, com metal pesado pelo meio, e algumas influências orientais. A sonoridade luminosa, a variedade das texturas e a beleza enigmática de muitas passagens são um deleite para o ouvido e para a alma. O único ponto negativo é “Rejuvenation”, tema esteticamente deslocado do restante material, que não só fere a consistência do álbum como termina o disco numa nota menos positiva. [ 9,0 / 10 ] ERNESTO MARTINS

VI

«De Praestigiis Angelorum» (Agonia Records) O som produzido pelos VI é tão profundo quanto obscuro; o trabalho alterna entre raiva e reflexão, passa por momentos mais perplexos que definem uma atmosfera quase hipnotizante. É uma das qualidades do metal extremo, o de conseguir construir uma solução química muito turva e nada simples de definir. Cada banda tem a sua forma de o fazer. Os VI têm claro uma forte componente de culto pela putrefacção, pelo negro, pela morte; mas não há monotonia, nem repetição nem copianço: conseguem encontrarem-se e mostrarem-se como banda e como som próprio. O espectáculo criado neste «De Praestigiis Angelorum» deixa um sabor de novo e velho ao mesmo tempo na boca [ 8,5 / 10 ] AG

WEH

«Ingenmannsland» (Soulseller Records) O novo álbum dos WEH “Ingenmannsland” será lançado no dia 4 de dezembro de 2015 via Soulseller Records. O que mais dizer até agora destes perfeitos desconhecidos? Que foram uma surpresa pela positiva e que neste novo trabalho nos levam para ambientes que nos fazem querer voar até uma outra galáxia? Ao escutar este álbum é-nos transmitida uma paz, harmonia e sensação de autêntica liberdade. Tudo isto junto surpreende, cativa, excita e faz-nos partir em busca de mais e mais sobre este projecto vindo de um país frio mas que nos transmite nas músicas sensações bem quentes e penetrantes. Na minha mais humilde opinião não se vão mesmo arrenper em os conhecer melhor tal como aconteceu comigo. [ 8,0 / 10 ] MIGUEL RIBEIRO (HINTF)

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RASTILHO RECORDS: 1996-2015

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O título pode enganar os mais incautos: não é o fim, quanto muito é o fim de um ciclo! São quase 20 anos de actividade enquanto Rastilho: duas décadas de vida a serem comemoradas em 2016. 2015 foi especial para nós: atingimos a histórica marca de 100.000 discos (vendas consolidadas, fisico + digital). E não há palavras para agradecer a todas as bandas que confiaram em nós as suas obras ao longo destes - quase 20 anos. E a todos vocês que compram os nossos discos. Numa altura em que é declarado diariamente o óbito aos principais suportes físicos de música, é curioso verificar que a nossa aposta vai precisamente em sentido contrário. Como foi 2015 em termos editoriais? A imagem mais abaixo ilustra-o. 2016 está ao virar da página e estamos a preparar novas edições, um novo/renovado site, uma nova editora para a edição de livros, novos concertos, novos contractos de distribuição. 100.000 obrigados! Como agradecer não chega, estamos a oferecer 10% de desconto para todos os produtos do nosso site http://www.rastilhorecords.com/ pt/ até ao dia 10 de Janeiro. Basta usarem o voucher RRXMAS2015.

David Fonseca “Futuro Eu” É uma das primeiras edição do ano. Depois da primeira edição ter esgotado em pouco mais de 2 semanas, “Futuro Eu” será agora lançado num bonito vinil verde e uma nova capa. Relembramos que “Futuro Eu” é o primeiro álbum de David Fonseca inteiramente cantado em português. Nas lojas a 22 de Janeiro´2016, pre-reservas aqui http://www.rastilhorecords. com/pt/loja/musica/-/futuro-eu-152/

Legendary Tigerman “Masquerade - 10th Edition

Foi um dos discos mais importantes da nossa história. Editado originalmente em 2006 e alvo de uma reedição em 2010, “Masquerade” é agora reeditado novamente pela Rastilho. Remasterizado por Rui Dias e em Vinil vermelho, esta é a edição comemorativa do 10º aniversário de “Masquerade”. Nas lojas a 22 de Janeiro´2016, pre-reservas aqui http://www.rastilhorecords. com/pt/loja/musica/-/masquerade-10th-anniversary-edition-20/

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A Versus Magazine recebeu com bastante agrado, por parte da editora Mosaico de Palavras, o mais recente romance de António Parada, um escritor que se revelou com o seu primeiro romance «A Guardiã», lançado pela Chiado Editora em 2014. Não li o seu primeiro romance, e por isso vou deixar de lado qualquer tipo de comparação e apenas focar-me na sua mais recente proposta. Em «Adão e Eva» somos levados até ao Gerês dos anos 80. Um Gerês com lendas e histórias paranormais, as quais alguns dos personagens deste livro experienciaram com a sua vida. Num estilo literário onde se lê não só terror, mas também suspense com boas pitadas de policial, o autor conta a sua história e encadeia os factos bastante bem. As personagens estão razoavelmente bem caracterizadas e personalizadas, mas parece haver espaço para algo mais e até melhorar. O ambiente também está bem descrito. As bandas e os álbuns de Metal que o autor faz questão de referenciar, fazem com que um ou outro personagem seja mais próximo por leitores que apreciem esse estilo musical, e por verem nesses personagens aspectos familiares. Este ponto é relevante, porque apesar do autor referenciar elementos do Metal, não significa que o livro seja exclusivo para público que ouve Heavy Metal. Há mais neste livro que o autor quis mostrar. Ele espelha na sua narrativa uma ou outra crítica social que cabe a todos pensa-la, e não só apenas os metaleiros. Contudo, e a título meramente pessoal, há neste livro tópicos e situações altamente passadas e datadas. Consequentemente, por vezes a narrativa torna-se aborrecida por mastigar sempre o mesmo. A história não está má, e também não está mal contada. António Parada tem um estilo muito próprio de escrever, com bastante descrição psicológica dos personagens e das situações, que favorece a envolvência do leitor na narrativa. Apesar de a mim o livro não me ter agradado por várias razões, acredito que outros leitores o possam ter como um must read – leitores que apreciem terror, suspense e policial, leiam este «Adão e Eva» e tirem as vossas próprias conclusões. Victor Hugo

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ARTIGO

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MOSH ESTRANHA FORMA DE VIDA... Não é nada fácil, em alguns momentos, determinar um tema ou um assunto para escrever. Creio mesmo que este é um dos textos com um título mais inapropriado que alguma vez escrevi, como tal, aceitarei, de bom grado, sugestões. Porém, nestas ultimas semanas tem sido um corropio e um sem número de situações que, de alguma forma, me tem tirado sono, no bom sentido. É obvio que estou a falar dos concertos com que os portugueses ou, neste caso, os lisbotetas tem recebido, de Enforcer a Tó Pica, do Salamandra em Chamas a Apocalyptica, muitos tem sido os, muitos, momentos passsados nas salas, com os musicos, com a vilanagem que se digna a comparecer e a manter o espirito vivo... belos tempos! É claro, e óbvio, que sabemos que a popularidade do Metal já não é a mesma, nem vale a pena voltar a «bater no ceguinho», mas existe algo que se mantém, existe ainda a sensação de tribo, existe ainda uma estranha aliança que nos une e uma camaradagem que não se quebra, quantos de nós não encontramos aquele amigo, apenas nos concertos? Uma outra situação que, dei comigo a observar, sim, porque também observo, é o sorriso, seja de publico ou dos musicos. É impossivel ficar indiferente quando se olha para um palco e se consegue ver os sorrisos nos musicos, quando se percebe a diversão, a alegria e a felicidade de partilhar uma arte ou um sentimento que vem de dentro de nós. Há quem diga que somos o melhor publico do mundo, não sei se será verdade ou mentira, mas sei que sabemos receber, sabemos sorrir e, acima de tudo, sabemos sentir a musica que nos une. É como estar num concerto e entoar aquela musica nossa com centenas, milhares ou, apenas com a pessoa que estiver ao nosso lado. Por vezes basta um sorriso, basta um olhar. É isso que nos difere. Mesmo que, para outros seja dificil de entender. O metal sempre foi incompreendido, até parece aquele adolescente com acne, incompreendido. É uma estranha forma de vida a quem vê de fora, para nós é apenas uma vida e, enquanto sentir-mos, enquanto os musicos sentirem essa nossa alegria, essa energia, existirá sempre o sorriso, existirá sempre a sensação de dever cumprido ou, mais, de um sonho tornado realidade. Não podemos deixar isso morrer, essa é a nossa génese. É uma estranha forma de vida para quem partilha a vida connosco e exige muita compreensão e muito amor para entender a forma de vida e, para eles, fica um agradecimento. Sempre que existe um sorriso, existe algo que o esconde, nestes ultimos dias tem siido o cansaço, que se vai acumulando. São muitos os concertos, os discos, as entrevistas, mas existe um poder, um bem maior, que são vocês, que é a musica que veneramos, são esses pormaiores que nos fazem seguir, continuar, batalhar e, claro está, sorrir. É uma estranha forma de vida a nossa... mas, somos tão felizes não somos? Nuno Lopes

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DESTAQUE

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CONSIDERO-O (SKYLINE) UMA VIAGEM INTERIOR, ONDE SUPEREI MUITOS PEQUENOS SOFRIMENTOS PESSOAIS, RAIVAS E FRUSTRAÇÕES. MAS TAMBÉM HÁ SINAIS DE MOMENTOS FELIZES E SERENOS.

BAROCK PROJECT O CÉU É O LIMITE FALÁM OS COM LUCA Z ABI N N I , O FUN DA D O R E M E N T O R D O S B A R O C K P R O J E C T, U M A BANDA ITALIANA DE R OCK PROGRE SSI VO QUE , C O M O L A N Ç A M E N T O D O S E U R E C E N T E Á L B U M S K YL INE , T EM FEITO FUROR N O SEM PRE E XI GE N T E M E I O P R O G . O Á L B U M « S K Y L I N E » T E V E H O N RAS DE T ER A SUA CAPA PI N TADA POR PAUL W I T E H E A D ( C R I A D O R D A S C A PA S S U R R E A L I S TAS DOS GÉNE SIS E VA N DE R GRAAF GEN E RATOR ) , E A PA RT I C I PA Ç Ã O D E U M D O S M A I O R E S N O ME S DO PRO GRES SIVO ITAL I AN O, VITTORIO DE S C A L Z I . C O M U M S O M M O D E R N O , O V I RT U O S I S MO DE UMA BAND A CHE I A DE TAL E N TO, E O RE C O N H E C I D O G É N I O D O C O M P O S I T O R Z A B B I N I , « S KYL INE » SERÁ POR CE RTO UM DO S P O N T O S A LT O S D O A N O D E 2 0 1 5 ... Por: Ivo Quintas PODES-NOS EXPLICA R O SIGNIFICADO DO NOME DA BANDA? LUCA Z A BI N N I : A decisão sobre o nome Barock Project foi feita em 2003, quando queríamos principalmente misturar rock com música clássica barroca. Eu 2 8 / VERSUS MAGAZINE

sempre fui um apaixonado por Johann Sebastian Bach e, em geral, com aquele período musical tão cheio de significado. Esta paixão foi gerada, quando comecei a ouvir Keith Emerson. Fiquei totalmente fascinado, como ele conseguia lidar com aquela música e traduzi-

la em “rock”. Nos anos seguintes, fizemos um percurso um pouco diferente, embora o nosso “farol” permanecesse com o caráter sinfónico que muito nos agrada.

DESDE O INÍCIO, PODEMOS CONSIDERAR-TE COMO O “LÍDER DA


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“O PAUL FICOU IMPRESSIONADO COM A MÚSICA E, CLARO, DA NOSSA PARTE, HOUVE MUITO ENTUSIASMO E HONRA EM TÊ-LO COMO ARTISTA VISUAL NO NOSSO ÁLBUM.” BANDA”? LUCA: Eu adoro compor música, em vários estilos. Tenho um desafio comigo mesmo, do tipo : “quais os novos territórios que poderei explorar agora?” Talvez hoje, eu me sinta bem a escrever música de estilo oriental, amanhã sinfónica com inspiração em Beethoven, e no dia seguinte uma faixa “rock” com guitarras muito distorcidas e sem teclados. Eu particularmente, não gosto de monotonia num registo de música, eu prefiro surpreender e ser surpreendido. Estamos a construir a nossa própria marca “Barock Project”, e acredito que nos últimos tempos chegámos a um estilo que é bastante reconhecido como “o nosso próprio”. Ao mesmo tempo, não quero um álbum que soe tudo ao mesmo tipo de música. Se pensares no “A night at the opera” dos Queen, como é que tantos estilos de música diferentes estão numa única obra-prima? Há uma faixa de “estilo anos 30”, há Rock, também há ópera. Fazer música também significa desafiar-se a si mesmo com estilos diferentes. Se souberes como fazê-lo bem, melhor ainda! Até agora compus quase todas as nossas músicas, porque tenho uma quantidade incrível de coisas para dizer, mas nunca impus uma música a qualquer um dos outros membros. Quando eu lhes apresento material novo, se algum deles não concordar com alguma ideia, partimos para a próxima. Antes deste último álbum, foi um pouco frustrante que alguns dos membros, que já não estão connosco, não aceitaram introduzir, após uma faixa de “rock” um tema á base de Tango. Eu achava muito difícil e limitava-me ao escrever. Não era a maneira que eu queria trabalhar com esta banda. Agora, chegámos a um ponto muito democrático de partilha de idéias e sinto-me muito mais confortável ao propor novas ideias de música, que recebem a avaliação e a contribuição de cada membro da banda. O Eric (bateria) e o Marco (guitarra) têm um monte de idéias dinâmicas que eles trazem para organizar novas canções, e mesmo o Luca Pancaldi atingiu um elevado ponto de maturidade em performances vocais durante as sessões de gravação.

QUANDO DECIDISTE TOCAR BAIXO NO «SKYLINE»? LU C A : Quando o Giambattista Giorgi, o nosso anterior baixista, tomou a decisão de deixar a banda, o «Skyline»» já tinha sido gravado e concluído. Então rapidamente tive de regravar todas as linhas de baixo. Eu acredito que a formação atual é perfeita, no sentido de trabalho em equipa, e acho que vamos ficar assim. Quanto ao baixista, trabalharemos com um músico de sessão para os nossos concertos ao vivo. Mas os membros oficiais da banda continuarão a ser quatro, simplesmente porque desta forma trabalhamos de forma serena e relaxada. Nós temos o nosso equilíbrio e isso melhora o trabalho de equipa.

COMO É QUE AOS BAROCK ITÁLIA, COMO E AMÉRICA DO

A IMPRENSA REAGIU PROJECT? QUER EM NO RESTO DA EUROPA NORTE?

LU C A : Há um abismo entre a recepção que temos no exterior e aqui em Itália. Estou a falar em geral, como músico. Aqui os músicos já não são considerados como o foram no passado. No estrangeiro, pedem-nos autógrafos e conhecemos muitos fãs, mas aqui em Itália (e se correr bem), começas a tocar “covers” pop ou a tocar em bandas de tributo. Pessoalmente acho que é frustrante não ser capaz de reproduzir e propor a música mais original, mas eu acho que é um problema de cultura geracional e preguiça do cérebro em lidar com algo que nunca foi ouvido antes. A reação à nossa música no estrangeiro é emocionante e devo dizer que, cada vez mais, somos positivamente surpreendidos por essa reação. Claro que ficamos felizes por tocar para um público que aprecia a nossa música.

TODOS VOCÊS MORAM PERTO DE BOLONHA. EXISTE AÍ ALGUMA “CENA” DE ROCK PROGRESSIVO? SE SIM, ESTÁ A FLORESCER? LU C A : Vivemos entre Bolonha e Modena, na zona rural de Emilia Romagna. Os nossos pontos de encontro podem ser numa das duas cidades, que são ambas

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próximas. Há escassez na cena progressiva, excetuando algumas pequenas bandas de tributo, aqui e ali, mas sempre a nível amador. Há cada vez menos clubes com música ao vivo e nos poucos remanescentes, tens que tocar o que te pedem para tocar. No entanto, respeitamos aqueles que fazem parte da “resistência”, aqueles que vão contra a maré, e até conseguiram organizar um festival para nostálgicos do prog ou aqueles que ocasionalmente, dão espaço para tocar no seu clube. O problema é a falta de fãs para o género. Se falarmos da nossa zona, que foi em determinada altura uma terra muito próspera de música e músicos, agora é uma zona morta.

ATÉ HOJE LANÇARAM QUATRO ÁLBUNS, INCLUINDO O MAIS RECENTE, UM EP E 2 DVD’S. CORRETO? L U C A : Com o «Skyline»», lançámos oficialmente três álbuns. O mini EP de seis faixas de que estás a falar é na verdade um grande erro. Não é nada mais do que uma breve demonstração do “MisterioseVoci” (o nosso primeiro registro) enviada a uma revista de prog há muitos anos. Então eles tomaram a iniciativa de considerálo como um dos nossos primeiros álbuns oficiais. Mas isso não é rigoroso! Quanto aos dois DVDs, o primeiro foi filmado pouco antes do “MisterioseVoci”, em 2005. Naquele tempo, tínhamos poucas canções originais e enchemos a programação com longos solos e temas dos ELP, Genesis, etc... O segundo DVD, “Rock Theater” em 2007, foi filmado num teatro e para a ocasião configurei um quarteto de cordas, e escrevi todos os arranjos. Até ao momento, ainda não decidimos publicá-los oficialmente, apesar de ao longo dos anos termos recebido vários pedidos. Embora fossem ambos auto-produzidos, eles têm uma boa qualidade de áudio e de vídeo.

VOCÊS TRABALHARAM ANTERIORMENTE COM DUAS EDITORAS: MUSEA EM FRANÇA E MELLOW NA ITÁLIA. POR QUE MUDARAM DE EDITORA? COMO AVALIAM A EXPERIÊNCIA? LUCA:

Musea

é

uma

das

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“OUVI-LO (VITTORIO DE SCALZI) DIZER QUE REPRESENTAMOS UM IDEAL, A CONTINUAÇÃO DA SUA TEORIA DA MÚSICA DO “CONCERTO GROSSO” ATÉ NOS DEU ARREPIOS!” principais distribuidoras de rock progressivo, com sede em França. “MisterioseVoci”, o primeiro álbum, foi lançado através da Musea porque tinha sido preparado há mais de um ano e outras editoras não estavam interessadas. Mas o fato é, que este tipo de companhias não estão muito interessadas em fazer promoção. Quando editámos o segundo álbum, “Rebus”, precisávamos de ter um contato mais próximo com uma empresa, talvez italiana. Então virámos agulhas para a Mellow porque tinhamos pensado que, além de manter as vendas monitoradas e estarmos constantemente em contacto, eles poderiam trabalhar um pouco mais sobre a promoção. De boa fé, cometemos um grande erro. Com o terceiro álbum, “Cofee in Neukölln”, decidimos então voltar à Musea, pelo simples fato de que então, eram os únicos a considerar o nosso trabalho, enquanto muitas outras editoras novamente nos fecharam as portas. Quando tens de gerir, compor, gravar, produzir e tudo mais ao mesmo tempo, tudo se torna difícil. Para ser honesto, as diferenças entre o primeiro e o segundo álbum, são principalmente devido ao fato de que estávamos a crescer. Nós estávamos a filtrar novas experiências. Nada a ver com o fato de terem sido editados por duas empresas diferentes.

COMO É QUE VOCÊS DECIDEM O DESIGN DA CAPA DOS VOSSOS ÁLBUNS? LUCA: Quando lançámos o “Coffe in Neukölln”, estávamos cansados de ser pressionados a mudar para a categoria “capas prog” com a habitual fantasia estilística, dragões, elfos... Eu sempre considerei isso algo antiquado. Pensámos: “ Vamos fazer uma capa que não tem nada a ver com a nossa música! “. Na verdade, a foto de nós os três a caminhar dá a idéia de um disco pop. Mas estávamos em Berlim e, uma vez que a Alemanha dividida foi o tema principal do álbum, fez algum sentido. Eu sou um devoto do “Coffe in Neukölln”, tanto musical como visualmente. Pessoalmente, gosto da capa porque, eu acho que tem bom humor. Nós somos muito cuidadosos com os detalhes da imagem dos álbuns. Particularmente no «Skyline»»,

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porque tivemos um grande artista como o Paul Whitehead a pintá-la. A embalagem de um disco é muito importante, é o que as pessoas vêm primeiro. Então quando ouves a música, adicionas valor ao seu conteúdo. Neste caso, acho que conseguimos na íntegra. Paul conseguiu captar o humor e as intenções da nossa música, de forma perfeita.

PODES CONTAR-NOS COMO A MÚSICA ENTROU NA TUA VIDA? É TAMBÉM CONHECIDO QUE DESDE CEDO TE ERA RECONHECIDO UM “GÉNIO” MUSICAL… LU C A : Fui cercado de música desde muito cedo. E quando tens 3 ou 4 anos tu encaras como um jogo, especialmente quando ninguém te obriga a fazê-lo. Para mim foi natural, já que tinha um pai que estava constantemente a tocar em casa com o primeiro sequenciador nos inícios dos anos oitenta, uma avó pianista e um tio baterista. Tocar para mim significava estar com a família. Quando eu tinha quatro anos, durante um episódio em particular, eles perceberam que eu tinha ouvido absoluto. Desde essa altura comecei a estudar piano (aulas particulares), mas sendo uma criança, Bach e Mozart não eram para mim. Enquanto os E.L.P. isso sim! Então eu comecei a escrever em papel, por ouvido, temas como Tarkus e Pictures At An Exhibition. Entretanto, apenas com treze anos comecei a estudar a sério na academia e pude aí começar a apreciar os grandes compositores.

O INTÉRPRETE E O COMPOSITOR QUE MAIS RESPEITAS? LU C A : O compositor que mais respeito é Johann Sebastian Bach. Ele foi o maior cientista da música. Mas ao mesmo tempo, ele também tinha um enorme coração, sentimento, para criar obrasprimas no papel, com aquele som perfeito para o ouvido humano. Obviamente que eu tenho uma grande estima pelo meu primeiro amor, Keith Emerson. Tenho grande respeito e admiração por outros artistas como Glenn Gould, pela sua abordagem maníaca e execução divina. Basicamente, eu tenho um grande respeito por todos

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aqueles que respeitam a música. A minha regra orientadora, é o dos três Bs: Bach, Beethoven e, perdoem-me caros puristas, os Beatles.

PODES FALAR-NOS SOBRE O CONCEITO OU HISTÓRIA DO ÁLBUM «SKYLINE»? L U C A : O «Skyline»» não tem uma história, no sentido de álbum conceptual, ao contrário do disco anterior. É um álbum gravado com experiências de vida, é o diário de todo o tempo enquanto eu o ía escrevendo. Dias com humores muito irregulares e mesmo com pouco tempo para dedicarme inteiramente à composição. Considero-o uma viagem interior, onde superei muitos pequenos sofrimentos pessoais, raivas e frustrações. Mas também há sinais de momentos felizes e serenos. Mas é por isso que eu o amo muito, considero-o uma verdadeira parte da minha vida mais do que qualque outro álbum anterior.

NO NOVO ÁLBUM, VITTORIO DE SCALZI DOS NEW TROLLS É O CONVIDADO ESPECIAL. COMO FOI A SESSÃO DE GRAVAÇÃO NO ESTÚDIO? QUE TIPO DE HOMEM ERA ELE? L U C A : Vittorio é uma grande pessoa, todos se deram muito bem com ele e foi muito prestativo. Com ele, fiz entrevistas durante a promoção e ele sempre foi maravilhoso. Foi um precioso contributo para o nosso registro e estamos todos orgulhosos. Ouvilo dizer que representamos um ideal, a continuação da sua teoria da música do “Concerto Grosso” até nos deu arrepios! Como podes imaginar, quando o nosso “manager” Claudio e o Vittorio me enviaram a faixa vocal, para o tema «Skyline»», ouvi um dos meus heróis de infância a cantar música escrita por mim. Os Jovens que tocam música adoram-no pelo seu entusiasmo.

E SOBRE OS OUTROS CONVIDADOS NO ÁLBUM (FLAUTA E VIOLONCELO)? L U C A : Quando eu escrevi as secções das cordas, pensei imediatamente num grande amigo meu que conheço desde os tempos do Conservatório, Giuseppe


“A REAÇÃO À NOSSA MÚSICA NO ESTRANGEIRO É EMOCIONANTE E DEVO DIZER QUE, CADA VEZ MAIS, SOMOS POSITIVAMENTE SURPREENDIDOS POR ESSA REAÇÃO.” Franchellucci. No DVD “Rock Theater”, ele toca o violoncelo. No «Skyline»», escrevi as peças para violoncelo e viola, e em dois dias gravou-as todas. Depois saímos para beber uma cerveja e conversar. Considero-o uma pessoa muito especial. Eu também consegui envolver a minha primeira fonte de inspiração de infância: o meu pai. Onelio Zabbini, que também é o nosso fã número um! Enquanto jovem, o seu ídolo era o Ian Anderson e sempre tocou flauta com a mesma paixão e entusiasmo. Tanto no «Skyline»», como nos dois álbuns anteriores, ele tem um espaço no final do “Roadkill”, onde ele toca uma flauta muito “rock”, e também toca em “The sounds of dreams”. Fico sempre feliz por ele participar. É bom ter o meu pai como parte do meu registro e ele também tem uma grande estima pela banda.

O PA UL WHITEHEAD, É UM ARTISTA VISUAL LENDÁRIO DO ROCK PROGRESSIVO. COMO É QUE VOCÊS SE CONHECERAM E QUAL A SUA EXPERIÊNCIA GLOBAL COM ELE? LUCA: Com o Paul, encontrámo-nos várias vezes para discutir o que se viria a tornar a capa do álbum. A primeira reunião foi em Milão, numa exposição das suas obras de arte, incluindo as pinturas originais das capas dos Genesis. A reunião com o Paul foi organizada pelo nosso “manager” Claudio, que também agencia o Vittorio e o Paul. Discutimos longamente sobre os assuntos do «Skyline»» e claro, ouvimos a música, particularmente a faixa-título, que fala sobre um naufrágio. O Paul ficou impressionado com a música e, claro, da nossa parte, houve muito entusiasmo e honra em tê-lo como artista visual no nosso álbum.

… UM NOVO ESCRITOR ANTONIO DE SARNO.

enviou-me de volta o texto. Cada vez que o fazia, era uma surpresa para mim descobrir que palavras a minha música lhe havia inspirado. Dei-lhe completa liberdade para ir em frente, sem lhe dar uma pista ou guia sobre um tema que eu queria para a música. Eu disse-lhe apenas que se inspirasse na música. O único tema, em que eu queria falar especificamente da minha história, foi no “Sound of dreams”, que é a única faixa do disco cantada por mim e é uma história pessoal.

DEPOIS DE ASSINAREM COM A ARTALIA PARA A PRODUÇÃO E GRAVAÇÃO, E COM A STARS OF ITALY COMO A VOSSA NOVA EMPRESA DE “MANAGEMENT”, AS COISAS MUDARAM REALMENTE, PARA UMA BANDA QUE ANTERIORMENTE NÃO ERA GERENCIADA? LU C A : Até ao ano passado, sempre trabalhámos de forma independente. É muito difícil autogerir uma banda que só deveria pensar em compor e tocar. Na altura, o que chamou a atenção do nosso empresário Claudio Cutrone foi um vídeo na internet onde tocámos um cover do “Concerto Grosso n º 2” dos New Trolls. O Claudio, já estava a trabalhar para os New Trolls e os The Gnu Quartet para o mundo inteiro, e ficou muito intrigado com a nossa execução e contactou-nos. Foi então, numa sessão de gravação muito precoce do «Skyline»», que um encontro com o Claudio, rendeu muitas idéias positivas e encarámo-lo como o nosso “líder espiritual”, bem como nosso agente. Ficámos muito contentes! O Cláudio tem experiência e uma

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capacidade de comunicação muito grande. Permitiu-nos expandir e melhorar a forma como podemos alcançar uma audiência mais global.Ele e a sua Stars of Italy estão a trabalhar connosco em todas as frentes. Precisávamos de uma força assim na nossa banda. Tería sido um prazer conhecêlo há cinco anos, mas nunca é demasiado tarde. Ele levou a nossa música muito a sério, não apenas como um agente que pensa só no seu trabalho, mas também como um grande amante da música. A Artalia foi uma ajuda importante na busca de fundos para a gravação e o Claudio desempenhou um papel fundamental em trazer-nos para o mundo, a embarcar numa campanha de “crowdfunding” bem sucedida no Kickstarter, que também nos revelou imensos apoios do Japão! Por isso, estamos felizes em tê-los na nossa equipa. Como o Claudio nos costuma lembrar o tempo todo: “... O céu é o limite!”

OBRIGADO PELA ENTREVISTA, E EM NOME DA VERSUS, MUITO BOA SORTE PARA OS BAROCK PROJECT E PARA O «SKYLINE» L U C A : Obrigado nós à Versus, e um abraço para todos os fãs Portugueses. Esperamos poder encontrar-vos por aí em breve! Abraço! mais claro. HTTPS://WWW.FACE BOOK.COM /BAR OCKPROJECT HTTPS://YOUTU.BE / Y8VI 9J5BN - A

LÍRICO,

LUCA: O Antonio tem um enorme talento como compositor e ele também é um fã dos BP. É o mentor da banda progressiva Moongarden. Trabalhar com ele foi muito divertido. Enviei-lhe as canções já cantadas com palavras inventadas em inglês, para lhe dar a idéia da linha melódica e da métrica. Em seguida, o Antonio trabalhou e 31 / VERSUS MAGAZINE


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ENTREVISTA

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THY CATAFALQUE UM HOMEM TRANQUILO PARECE QUE ESTA EXPRESSÃO CARACTERIZA BEM TAMÁS KÁTAI – A ALMA DE THY CATAFALQUE – QUE, NA CALMA DO SEU QUARTO, COMPÕE MÚSICA QUE EVOCA AS BELAS PAISAGENS MONTANHOSAS DA SUA PÁTRIA E DO SEU PAÍS DE ADOÇÃO. Por: CSA 32 / T C

Photo: Dylan Kitchener


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“SGÙRR SIGNIFICA CUME DA MONTANHA EM GAÉLICO ESCOCÊS E O ÁLBUM TRATA […] DA LIGAÇÃO ENTRE A ÁGUA E AS MONTANHAS”

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OLÁ, TAMÁS! JÁ É A SEGUNDA VEZ QUE TE ENTREVISTO PARA A VERSUS MAGAZINE. A OUTRA ENTREVISTA TEVE LUGAR EM 2011, QUANDO LANÇASTE «RENGETEG» COM A SEASON OF MIST E VAI SERVIR DE REFERÊNCIA PARA ESTA. TAMÁS KÁTA I : Olá, Cristina. Folgo em “ver-te” novamente.

O TÍTULO DO OUTRO ÁLBUM SIGNIFICAVA FLORESTA. DE QUE TRATA «SGÙRR»? TAMÁS : A elegante e enigmática capa do álbum faz-me pensar em água. Sgùrr significa cume da montanha em Gaélico escocês e o álbum trata mais ou menos da ligação entre a água e as montanhas: a água molda as montanhas e estas dividem as águas. Na capa, podes ver uma representação da água e três triângulos, que simbolizam as montanhas.

CALCULO QUE «RENGETEG» TENHA SIDO UM SUCESSO, UMA VEZ QUE A TUA EDITORA É A SOM. O QUE PODES DIZER-NOS SOBRE A CARREIRA DO TEU ÁLBUM ANTERIOR? TAMÁS : Não sei dizer-te como se traduziu o sucesso do álbum em proventos para a editora. Mas a crítica recebeu-o muito bem e, nesse aspeto, penso que foi um grande sucesso. TC não é uma máquina de fabricar dinheiro e estou certo de que a SoM quer a minha banda no seu catálogo muito simplesmente porque gosta do que eu faço. Estou muito honrado por merecer essa confiança. Sinto-me um felizardo!

É CLARO QUE «SGÙRR» É DIFERENTE DE «RENGETEG», EMBORA DÊ PARA VER QUE SÃO ÁLBUNS DA MESMA BANDA. PODES DIZER-NOS ALGUMAS PALAVRAS SOBRE ESTE TÓPICO? TAMÁS : É claro que são diferentes e uma das principais diferenças tem a ver com o facto de «Sgùrr» não apresentar vocais limpos. Attila decidiu focar-se nos seus próprios projetos e, portanto, já não canta para Thy Catafalque. Portanto, tive que pensar bem no que ia fazer a partir do momento em que

a nossa “sociedade” acabou. De qualquer modo, sabia que queria afastar-me daquelas canções cativantes características do Folk Metal, porque já tinha atingido os meus objetivos no que toca a esse aspeto. Não queria ser ainda mais Folk, portanto tornei-me mais experimental. A falta de vocais limpos e, de um modo geral, a escassez de vocais implicam que «Sgùrr» é menos acessível que «Rengeteg». Este álbum é muito mais ousado, mas dá para ver que se trata de uma produção de Thy Catafalque. Parece-me fantástico ter um som característico, foi algo que eu sempre quis alcançar.

não podia ser: trabalho no meu quarto com o meu velho PC. Tenho a certeza de que muitos leitores MAGAZINE têm computadores bem mais sofisticados que o meu. Mas assim tenho a oportunidade de fazer todas as experiências que me vierem à cabeça e de criar canções que são verdadeiramente minhas. Preciso de tempo para criar e não tenho os recursos económicos necessários para o fazer em estúdio. Mas sintome confortável com esta situação, porque posso dar largas à minha criatividade e produzir um som verdadeiramente único, mesmo que possa parecer de qualidade inferior e menos profissional que os de bandas de Metal mais abastadas, que podem apostar E, A PROPÓSITO DA COMPOSIÇÃO numa produção mais complexa DO NOVO ÁLBUM, USASTE A MESMA (por vezes até excessiva).

GUITARRA VELHA E O SINTETIZADOR KORG A QUE RECORRESTE PARA «RENGETEG»? TA MÁ S : Sim, foi a mesma guitarra Ibañez de sete cordas e também um baixo Yamaha, o que é uma novidade. No que diz respeito ao sintetizador, recorri sobretudo a VSTis, mas, em alguns momentos, ainda usei o meu velho Korg N5. Neste momento, alguns dos botões estão a funcionar muito mal.

SEGUNDO A EDITORA, A MÚSICA DE TC ESTÁ CADA VEZ MENOS ASSOCIADA AO BLACK METAL. FARTASTE-TE DESSE GÉNERO OU ACHAS QUE ESTÁ DESATUALIZADO? TA MÁ S : De modo nenhum. De facto, até acho que há muito mais elementos de Black Metal neste álbum do que em qualquer outro desde «Tuno Ido Tárlat». Por exemplo, “Jura” é uma típica canção de Black Metal: nem mais, nem menos. Adoro esse género. TC começou por ser uma banda de Black Metal e ele está-me no sangue. No entanto, a minha mente tem muitas facetas e nem todas elas podem ser expressas através do Black Metal ou até do Metal. Vejo o mundo a cores, não apenas em negro, se percebes o que quero dizer.

COMO PRODUZISTE O OUVIMOS EM «SGÙRR»?

SOM

QUE

TA MÁ S : Da forma mais barata que consegui encontrar. Mais barato

ALGUÉM TE AJUDOU A COMPOR O ÁLBUM? POR EXEMPLO, ALGUM DOS MÚSICOS CONVIDADOS? TA M Á S : Não. TC depende apenas da minha visão e eu sou totalmente responsável pelas suas decisões criativas. No entanto, não acho que seja uma atitude egoísta da minha parte.

QUEM CONVIDASTE DESTA VEZ E O QUE É QUE ESSES ARTISTAS TROUXERAM À MÚSICA DE TC? TA M Á S : Zoltán Kónya e Balázs Hermann da minha outra banda [Gire, que terminou em 2007]. Zoltán agora é vocalista, mas tocou guitarra em uma ou duas canções de «Róka Hasa Rádió». Balázs toca contrabaixo, mas, em «Róka…», tocou baixo. Viktória Varga também participou nesse álbum de TC, fazendo narração, tal como em «Sgùrr». Dimitris Papageorgiou toca violino e Ágnes Sipos trouxe a sua voz de soprano. É a primeira vez que colaboram com TC. Muitos deles conhecem-me há muito tempo – entre 10 a 20 anos – e são muito meus amigos. Digamos que são os meus melhores amigos.

FOSTE TU QUE ESCOLHESTE O ARTISTA GRÁFICO QUE FEZ A CAPA PARA O TEU SEXTO ÁLBUM? É O MESMO QUE TRABALHOU PARA «RENGETEG»? FIQUEI COM A IMPRESSÃO DE QUE ASSIM FOI, JÁ QUE AMBOS OS ÁLBUNS APRESENTAM CAPAS DE

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ENTREVISTA

MAGAZINE

Photo: Denes Poszmik

INSPIRAÇÃO GEOMÉTRICA, MAS MUITO BELAS, QUE DEIXAM MUITO ESPAÇO PARA A IMAGINAÇÃO DO FÃ TRAB ALHAR. TAMÁS : A capa para «Rengteg» foi inspirada por um artista português muito talentoso chamado Rui Luz. A deste álbum foi feita por mim. De facto, a imagem original – que apenas tinha as ondas azuis – foi pintada em aguarela por uma senhora. Quando a contactei, ela deu-me logo autorização para a usar como eu quisesse. Nem sequer quis dar-me o seu nome, para figurar nos créditos do álbum. A partir desse motivo, eu criei toda a arte, acrescentando os triângulos e os logos. Todas as fotos e o design do livro que acompanha o álbum são da minha autoria. Adoro criar o grafismo para a minha música.

ONDE APRENDESTE ARTE GRÁFICA? TAMÁS : Sou um autodidata, tanto para a arte gráfica como para a música. Infelizmente, nunca tive oportunidade de fazer estudos artísticos.

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SÓ FAZES TRABALHO GRÁFICO PARA THY CATAFALQUE? TA MÁ S : Nestes últimos tempos, tenho sido o único responsável pela parte gráfica dos álbuns de Thy Catafalque e também de Gire, a minha outra banda, e do meu projeto a solo. Algumas das minhas fotos foram usadas por outras bandas (Ygfan, Pagan Megalith, Nagaarum, Salvus) ou ainda em capas de livros ou panfletos.

ENTÃO FAZES OUTROS TRABALHOS GRÁFICOS PARA ALÉM DE ARTWORK PARA ÁLBUNS DE METAL? TA MÁ S : Como já referi, faço tudo para os meus álbuns: música, letras, produção, artwork, promoção. Não costumo trabalhar para outras bandas: os exemplos acima referidos são exceções. Mas penso que poderia trabalhar bastante para outras bandas, pelo menos no que toca à parte gráfica.

AS TUAS INCLUEM EXEMPLO,

TÉCNICAS GRÁFICAS FOTOGRAFIA (POR NA CAPA PARA

«SUBLUNARY TRAGEDIES»), ALGO QUE SE PARECE COM FOT OGRAFIAS DIGITALMENTE SOBREPOSTAS E MODIFICADAS (POR EXEMPLO, NA CAPA DE «MICROCOSMOS») E DESENHOS (POR EXEMPLO, MAS CAPAS DOS DOIS ÚLTIMOS ÁLBUNS DE THY CATAFALQUE SOBRE OS QUAIS TE ENTREVISTEI). PODES COMENTAR ESTA MINHA ANÁLISE DO TEU TRABALHO GRÁFICO? TA M Á S : A foto da capa da versão original de «Sublunary Tragedies» não foi feita por mi, mas sim e, nessa altura, eu não percebia quase nada de fotografia ou arte. Foi há 16 anos. A capa de «Microcosmos» parece-me muito fraca. Assim, para a futura reedição desses álbuns, como um CD triplo e uma box com um vinil, vou substituir o respetivo artwork por novas versões, com um conceito completamente diferente.

A FOTO DA CAPA DE «TUNO IDO TÁRLAT» É MUITO ENIGMÁTICA. FAZ-ME PENSAR NUMA ESPÉCIE DE CRISTO FEMININO. PODES EXPLICAR O SEU SIGNIFICADO E A REL AÇÃO QUE MANTÉM COM O CONCEITO DE BASE


ENTREVISTA

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afetivo para mim e penso que não poderia encontrar uma melhor para ilustrar a capa de um álbum que fala das maravilhas da infância.

É SEMPRE ASSIM QUE ENCONTRAS OS MOTIVOS PARA AS TUAS CAPAS? OU FAZES PESQUISA ÀS VEZES? TA M Á S : Nestes casos, encontrei-os de forma acidental. Não andava à procura de imagens para capas, mas senti uma espécie de clique mal as vi. No entanto, às vezes também faço pesquisa. Mas tenho de reconhecer que as melhores escolhas pareceram sempre ter vindo do nada.

TEM ALGUMAS INFLUÊNCIAS PRINCIPAIS A MENCIONAR? HÁ ARTISTAS QUE GOSTARIAS DE EMULAR?

Photo: Denes Poszmik

“ESTE ÁLBUM É MUITO MAIS OUSADO, MAS DÁ PARA VER QUE SE TRATA DE UMA PRODUÇÃO DE THY CATAFALQUE. PARECE-ME FANTÁSTICO TER UM SOM CARACTERÍSTICO.”

DO Á LBUM? E, POR FAVOR, TRADUZ O TÍTULO. TAMÁS : Obrigada. «Tuno Ido Tárlat» significa «An Exhibition of the Vanishing Time». A foto foi feita pelo famoso artista húngaro Tamás Féner, no início dos anos 70, e representa uma cena de uma peça de teatro, numa interpretação do Budapest Ballet. Encontrei-a num livro, na biblioteca da minha cidade natal (Makó) e foi amor à primeira vista. Requisitei o livro e digitalizei essa imagem e outras. Mais tarde, contactei Féner para lhe pedir autorização para usar essa imagem e ele ficou muito contente com a ideia. Até me disse que gostava da música por ser tenebrosa. Esse elogio encheu-me de orgulho, por se tratar de uma artista já idoso. Para mim, essa imagem simboliza o humano, isto é, a face da Humanidade. Vejo nela a beleza, a tristeza, a inocência, a paixão. Corresponde, de forma muito precisa, à música que podes encontrar em «Tuno Ido Tárlat». De qualquer modo, na segunda edição do álbum (2010), usámos um artwork totalmente diferente desse, mas, na reedição em vinil

(2013), voltei a essa foto, com alguns pequenos retoques na cor e uma tipografia diferente.

A FOTO DA «RÓKA HASA RÁDIÓ» (UM OUTRO TÍTULO QUE PRECISO QUE TRADUZAS) LEMBRA-ME IMAGENS DE UM ANTIGO FILME PORTUGUÊS, DA AUTORIA DE UM REALIZADOR QUE MORREU ESTE ANO COM 106 ANOS DE IDADE!!! O FILME CHAMASE “ANIKI BOBO” E TRATA DA VIDA DE CRIANÇAS POBRES NO PORTO, A SEGUNDA CIDADE DO PAÍS. PODE DIZER-NOS ONDE FOSTE ENCONTRAR ESTA FOTO E POR QUE A ESCOLHESTE PARA ESTE ÁLBUM? TA MÁ S : «Róka Hasa Rádió» é um título muito estranho. Significa algo como «Fox Belly Radio». Na foto, podes ver o meu avô, a minha irmã e eu, com uma galinha nas mãos. Provavelmente, foi tirada pelo meu pai, no início dos anos 80, na casa dos meus avós, a alguns metros apenas da sala onde fazia os ensaios com Gire 25 anos depois. Essa imagem representa a minha infância: a minha família e o cenário em que se passou a minha meninice. Tem um grande valor

TA M Á S : Sou influenciado por demasiados artistas para querer limitar-me a mencionar só alguns. Prefiro não dizer nomes. Pode-se dizer que sou influenciado pela arte.

JÁ PARTICIPASTE EXPOSIÇÃO?

EM

ALGUMA

TA M Á S : Sim, em várias exposições de fotografia, quando vivia na Hungria: aí umas três ou quatro. E, neste verão, houve uma exposição no Louvre, em Paris, que incluía uma foto da minha autoria, no seguimento da The 2015 Exposure Award.

TENHO UMA ÚLTIMA PERGU NTA PARA TI. COMO NÃO FAZES CONCERTOS, COMO PLANEIAS PROMOVER O TEU ÁLBUM? TA M Á S : Respondendo a entrevistas como esta. Obrigado por esta oportunidade, Cristina. Tudo de bom para ti. HTTPS://WWW.FACE BOOK.COM/TH YCATAFALQUE HTTPS://YOUTU.BE / W- 2Z7RPVLJI

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DESTAQUE

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JOEL HOEKSTRA 13 - O NÚMERO DA SORTE O Q U E T E M A VER O NÚM ERO DO AZAR C O M JO EL H O EK S TR A ? B EM, S EG U NDO O P R Ó P R I O É O S E U N Ú M E R O DA SORT E. JOEL HOEK S TR A’ S 13 É O NO ME D O PR O J EC TO DO DI S T I N T O ( A G O R A ) G U I TA R RISTA DOS LENDÁRIOS W HI TES NAK E. E NÃ O S Ó ! C I NCO D I G R ES S Õ ES C O M O S T R A N S -S IB ERIAN ORCHEST RA CONSTAM NO S EU C U R R I C U LU M. NO ENTA NTO, «D Y I N G TO LIV E » É F R UT O DE UM T REM ENDO BO M GO S TO E NAS C E D A S MAI S P U R A S E P R O FU N D A S R A Í ZE S R O C K E IRAS. SIM PLES, DIRECT O E MELÓD I C O , CO MO O B O M HA R D R O C K D EV E S ER . Por: Eduardo Ramalhadeiro ANTES DE COMEÇAR A ENTREVISTA, PARABÉNS POR ESTE ÁLBUM! ESTÁ EXCELENTE! DEI UMA OLHADA PELA TUA IMPRESSIONANTE DISCOGRAFIA E TENS DOIS ÁLBUNS COM O NÚMERO “13” – ESTE E «13 ACOUSTIC SONGS». O NÚMERO “13” DO AZAR É O TEU NÚMERO DA SORTE?

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J O EL: (Risos) Yeah, é seguramente o meu número da sorte. No caso do «13 Acoustic Songs» o número está no nome do álbum. Neste caso – eu considero o álbum a solo tanto como um projecto paralelo – o “13” está no nome do projecto. Então, Joel Hoekstra’s 13 é o nome do projecto e «Dying to Live» o nome do álbum. Mas sim, tem sido o meu

número da sorte. (risos)

ESTE É O TEU PRIMEIRO ÁLBUM A SOLO COM VOCALISTAS E LOGO JEFF SCOTT SOTO E RUSSEL ALLEN – TODOS OS OUTROS FORAM INSTRUMENTAIS. PORQUE FIZESTE ESTA NOVA ABORDAGEM EM «DYING TO LIVE»?


“AS PESSOAS OUVIAM OS ANTERIORES E DIZIAM: “EU GOSTAVA QUE FIZESSES UM SÓ COM MÚSICAS ROCK”. ENTÃO, AQUI ESTÁ! FINALMENTE CONSEGUI-O FAZER NO POUCO TEMPO QUE TIVE DURANTES OS ÚLTIMOS DOIS ANOS.” JOEL: Após o lançamento dos álbuns anteriores eu tornei-me reconhecido neste género de música em que se insere «Dying to Live.» - Hard Rock; as pessoas reconhecem-me por ter tocado com Night Ranger, Trans-Siberian Orchestra e agora, claro, com Whitesnake. Então, eu tinha muitos pedidos para fazer um álbum como este. As pessoas ouviam os anteriores e diziam: “Eu gostava que fizesses um só com músicas Rock”. Então, aqui está! Finalmente consegui-o fazer no pouco tempo que tive durantes os últimos dois anos.

TU REUNISTE UM GRUPO DE EXCELENTES MÚSICOS (JEFF SCOTT SOTO , RUSSELL ALLEN OU DEREK SHERINIAN), TU COMEÇASTE POR FAZER O ÁLBUM JÁ A PENSAR NELES OU SÓ OS CONVIDASTE DEPOIS DE TUDO TER FICADO PRONTO? JOEL: Bem, a primeira metade do álbum foi escrita sabendo que Vinny Appice ia estar na bateria e o Tony (Franklin) no baixo. Esta primeira metade foi escrita sem pensar no vocalista… bem… talvez um pouco mas encontrei o Russel quando já estava a tratar da música, igualmente para a segunda metade, sabendo que o Jeff iria cantar alguns temas e que estes se adaptavam muito bem ao seu estilo. Derek Sherinian juntou-

se mais tarde e não escrevi algo em particular para ele mas fez um excelente trabalho, tocando com bom gosto sobre o material que já estava escrito permitindo, assim, terminar todos os temas.

COMO FOI O PROCESSO DE GRAVAÇÃO? VOCÊS JUNTARAM-SE TODOS OU ESTAVAM EM DIFERENTES LUGARES? J O EL: Todos fizeram a partir suas casas com excepção do Russel e eu que trabalhámos em casa dele, já que vivemos perto um do outro. Na realidade, até prefiro assim porque penso que toda a gente tem mais consciência do que está a fazer. A inibição desaparece quando estão a gravar por eles e não têm medo de fazer um milhão de tentativas até ficar certo. Se todos estiverem no mesmo espaço a tendência será para demonstrar que conseguem fazer tudo mais rápido: “Oh… fiz num só take!!” (risos). Isto não importa desde que saia tudo bem. Mas… para dizer a verdade, eu prefiro ter toda a gente “por conta própria”, já que assim resultou muito bem.

TU LIDASTE COM O PROCESSO CRIATIVO QUASE TODO. ALGUNS DOS CONVIDADOS CONTRIBUIU PARA O ÁLBUM? J O EL: Como já tinha dito, o Russel e eu trabalhámos juntos no início mas ainda cheguei a pensar: “… vou convidar alguém para escrever…” mas demorei muito tempo a arranjar e entretanto acabei por fazer sozinho toda a composição. Nesses tempos iniciais Russell fez algumas mudanças na “Changes” – a ideia da melodia para os versos foi dele e alterou o coro um pouco, de forma a incorporar os “wooos”. Então, este foi o único tema em que eu tive um parceiro. Tudo o resto foi feito e concluído por mim: melodias vocais, letras, etc. Acabou por ser uma bênção porque me sinto muito ligado ao álbum e sinto que foi muito importante para mim.

AGORA QUE EXPERIMENTASTE AMBOS OS LADOS DA TUA CARREIRA – ÁLBUNS INSTRUMENTAIS E COM VOCALISTA – QUAL É PARA TI O MAIS DESAFIANTE?

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J O E L : Eu não sei! A musica é sempre um desafio… de certo modo. Quer dizer, o conceito foi compor seguindo linhas orientadoras. Eu não queria tornar a música muito progressiva ou basear a composição demasiadamente na guitarra. Queria mantê-lo num simples Hard Rock Melódico, que como fã eu gostaria de ouvir. Eu tenho-o descrito como Dio no seu estilo mais pesado e Foreigner na mais leve. Queria-o manter dentro destas fronteiras. Obviamente, posso escrever música progressiva ou outros estilos diferentes mas queria manter assim para que os fãs realmente pudessem desfrutar.

COMO JÁ DISSESTE PODEMOS OUVIR INFLUÊNCIAS DE DIO E FOREIGNER; QUE OUTRAS BANDAS OU ARTISTAS TE FAZEM ESCREVER MUSICA? J O E L : Eu comecei por ouvir AC/ DC, Black Sabbath, Iron Maiden, Scorpions… bandas desse género e depois passei para o género mais melódico e ligeiramente mais soft… Journey, Foreigner Boston e ainda mais progressivas, como Rush ou Yes. Todas tiveram uma grande influência. Como é óbvio gosto das bandas mais clássicas como Zeppelin, Pink Floyd ou The Doors. Apesar de não se notarem influências neste álbum, também são influências na minha música Malmsteen, Vai e Satriani. Eu cresci a ouvir estes artistas…

HAVERÁ UMA DIGRESSÃO DE APOIO A «DYING TO LIVE»? J O E L : Bem, eu irei fazer o que estiver ao meu alcance no que diz respeito à promoção e suporte a este álbum. O primeiro passo foi dado – coloca-lo cá fora – as críticas têm sido espectaculares, muito para além daquilo que estava à espera. Muito do que se fizer sairá da reacção dos fãs e do “passapalavra”. Penso que se houver um cenário que faça sentido, levando a banda para a estrada, porreiro. Eu de certeza que vou tentar fazêlo. Vou explorar todas as hipóteses.

TU TAMBÉM TRATASTE DAS LETRAS COM FOCO EM QUESTÕES 37 / VERSUS MAGAZINE


“QUERIA MANTÊ-LO NUM SIMPLES HARD ROCK MELÓDICO, QUE COMO FÃ EU GOSTARIA DE OUVIR. EU TENHO-O DESCRITO COMO DIO NO SEU ESTILO MAIS PESADO E FOREIGNER NA MAIS LEVE.” E OBSTÁCULOS E A FORMA DE OS SUPERAR ATÉ CHEGAR ONDE ESTAMOS DESTINADOS. VIVESTE DE PERTO OU PASSASTE POR ESTAS DIFICULDADES? AS LETRAS REFLECTEM ALGUNS PROBLEMAS PESSOAIS? JOEL: Algumas são pessoais outras baseadas em fantasia. Eu gosto de deixar este assunto no meio-termo, pois prefiro que toda a gente se relacione com elas à sua maneira. Mas no geral, sim, o álbum é basicamente sobre a luta para te tornares quem tu queres.

TU ESTÁS ONDE DEV ERIAS ESTAR? JOEL: (risos) É sempre um trabalho em progresso. Felizmente, sinto que estou melhor do que há uns anos atrás. Está tudo a seguir o caminho certo

NO ÁLBUM PODEMOS OUVIR A VOZ DE CHLOE LOWERY QUE TAMBÉM FAZ PARTE DOS TRANS-SIBERIAN ORCHESTRA E INTERPRETA A CANÇÃO MAIS MELANCÓLICA “WHAT WE BELIEVE”. PORQUE É QUE NÃO TEMOS MAIS PARTICIPAÇÕES FEMININAS OU PORQUE NÃO CANTA ELA MAIS TEMAS? JOEL: Bem, eu não queria a participação de muitos músicos porque aí o álbum começaria a soar muito disperso. Penso que dois vocalistas principais é o ideal mas eu escrevi esse tema com a ideia de fazer um dueto e não poderia pensar em alguém melhor do que a Chloe. Ela é uma das melhores vocalistas da actualidade e fiquei muito honrado de a ter no álbum.

POR FALAR EM TSO – UMA DAS MINHAS BANDAS FAVORITAS, EU ADORO A MÚSICA QUE FAZEM E NÃO VEJO A HORA DE OS VER AO VIVO MAS OS CONCERTOS NA EUROPA SÃO MUITO RAROS… FICO TRISTE! TU TOCA STE EM «DREAMS OF FIREFLIES» EM 2012 E BREVEMENTE VÃO LANÇAR “LETTER FROM THE LABYRINTH”. PARTICIPAS NESTE ÁLBUM? JOEL: Eu fiz algumas partes pontuais mas o Al Pitrelli é o responsável pela maior parte das guitarras nos álbuns, é ele o principal guitarritas 3 8 / VERSUS MAGAZINE

dos TSO. Ele é excelente, gosto muito dele, fantástico guitarrista.

COMO ESTÁ A SER ESSA EXPERIÊNCIA? J O EL: Espectacular! Eu adoro fazer parte dos TSO! Infelizmente, este ano não vou poder fazer parte da digressão de inverno porque vou estar na estrada com os Whitesnake na Europa e Japão. Obviamente, estou animadíssimo com a digressão e às vezes as datas podem ser tramadas. Irei sentir falta da digressão mas espero um dia voltar. Seguramente que esta oportunidade de tocar com os Whitesnake e partilhar “cabeça de cartaz” com os Def Leppard na Irlanda e UK é extremamente apelativo

OS CONCERTOS DELES FENOMENAIS, PARTICIPASTE QUANTAS DIGRESSÕES?

SÃO EM

J O EL: Até este ano participei nas cinco últimas digressões de inverno, estou com a banda já faz cinco anos.

(ESPERO NÃO ESTAR ENGANADO NEM TER FEITO CONFUSÃO…) EU LI ALGURES MAS NÃO ENCONTRO O WEBSITE QUE QUANDO ESTAVAS A PREPARAR O «DYING TO LIVE» RECEBESTE O CONVITE PARA INTEGRARES OS WHITESNAKE, NO ENTANTO, DAVID COVERDALE APOIOUTE NISSO A 100%. COMO É QUE TE SENTES A RECEBER TAMANHOS ELOGIOS? J O EL: É óptimo! O David é uma pessoa espectacular, é muito bom trabalhar para ele, é muito talentoso e uma lenda. Não são muitas pessoas que te conseguem alegrar com o seu humor e que tenham trabalhado com Jimmy Page e Richie Blackmore. Neste momento sinto-me um sortudo por tê-lo como patrão, eu sinto que realmente me apoia e eu aprecio muito essas atitudes.

COMO É FAZER PARTE DE UMA DAS BANDAS MAIS ICÓNICAS E IMPORTANTES DA HISTÓRIA DO ROCK? COMO É QUE ESTA OPORTUNIDADE SURGIU?

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J O E L : Para mim cada minuto que estou nos Whitesnake é uma honra. Quer dizer, obviamente que falamos de David Coverdale ser uma autêntica estrela mas temos também Tommy Aldridge na bateria. Este gajo é lenda viva e ainda partilhar as guitarras com Reb Reach é fantástico porque o Reb é um excelente guitarrista solo e rítmico. Gosto muito dele e de fazer equipa com ele. Está tudo a correr muito bem com os Whitesnake.

ACHAS QUE ESTÁS NO TOPO DA TUA CARREIRA? J O E L : Para ser honesto contigo, já fico feliz por fazer vida da música. Por isso, sempre que tenho oportunidade de continuar, melhorar a nível musical, ser capaz de tocar ao vivo, para mim é excelente. Sinto-me um afortunado por ter participado em todas as digressões e concertos, foram grandes experiências. Penso que existem grandes músicos que não têm oportunidades como esta e fazer uma grande carreira. Portanto, sou um sortudo e abençoado mas não tenho isto como garantido.

UMA ÚLTIMA QUESTÃO QUE DIZ RESPEITO À TUA CARREIRA A SOLO: O QUE PODEREMOS ESPERAR DE TI NO FUTURO? J O E L : Para já estou virado para a promoção, as pessoas vão procurar-me para tocar nos seus projectos e espero fazer mais trabalho com os Whitesnake. Não penso que seja este o último álbum. Esperamos ser capazes de falar mais a fundo sobre isso mas o David poderá falar um pouco mais sobre isso com vocês. Ele está muito entusiasmado com Whitesnake e podem esperar um par de anos muito activos da banda.

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ALBUM DO MES

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THY CATAFALQUE «SGÙRR»

(Season of Mist)

Parafraseando Nietzsche “É preciso muito caos interior para parir uma estrela que dança.” É precisamente neste território que nos encontramos, espaço onde coabitam influências tão díspares como Astra, Drudkh, Master’s Hammer, Moonspell (por altura do “Wolfheart”), Russian Circles e incontáveis outras. “Sgùrr” é uma experiência xamânica, um cosmos em explosão, uma viagem introversiva. Tamás Kátai faz incursões pela música folk, black metal, rock psicadélico, música eletrónica, música ambiente, postrock... Todas estas influências são metamorfoseadas numa única voz, como reverberações que emanam do mesmo caleidoscópio e a ele retornam. Um espírito primevo predomina neste album. Não é apenas música, mas um chamamento tribal como atestam os gritos que esporadicamente se desprendem de música sobretudo instrumental. Seguimos uma narrativa sonora que vai alternando entre o pathos e a libertação, numa pletora de movimentos musicais, perfeitamente encadeados, que nos hipnotizam... e fixam. O albúm é aquoso tal como as visões que inspira, todos os elementos e espíritos que evoca confluem num turbilhão que nos faz reféns e quando nos liberta, queremos repetir a viagem. O albúm conta com a participação de uma série de músicos convidados, dos quais se destaca Viktória Varga com esparsos momentos de narrativa que nos fazem arrepiar a pele. Épico, sublime, único. Frederico Figueiredo [ 10 / 10 ] 40 / VERSUS MAGAZINE

Photo: Dylan Kitchener


CRITICA VERSUS

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A LL W I LL K NOW

AMBER I A N D AW N

Abbath

Deeper Into Time

Innuendo

(Season of Mist)

(Noizgate Records)

(Napalm Records)

Eis o album de Abbath, membro fundador da emblemática banda de black metal norueguês, Immortal. Tratase, no fundo, de uma nova, velha face de Immortal, que reune o baixista King dos seminais Gorgoroth, bem como o enigmático Creature, de serviço na bateria. Apesar de nos encontrarmos perante um competentíssimo lineup, que se faz notar claramente ao longo do álbum, na verdade, a nível das composições não existe grande valor acrescentado ao que os Immortal nos têm vindo a habituar. Trata-se de um black ‘n’ roll ritmado, orelhudo e limpo, bastante afastado das fundações sujas e minimalistas do black metal, um pouco à semelhança do caminho que tem vindo a ser trilhado por bandas como Darkthrone, Satyricon ou Carpathian Forest. Subsiste a referência aos Bathory nos ritmos mais triunfantes de faixas como “Root of the Mountain”, com riffs que não ficariam desenquadrados num “Under the Sign of the Black Mark” ou “Blood, Fire, Death”. Em “Eternal” revisitamos os Slayer pela altura do “Divine Intervention”, com blastbeats e fúria suficientes para satisfazer os fãs de “Pure Holocaust” e “Battles in the North”. Trata-se de um álbum com mais variações de tempos, riffs e solos interessantes à mistura. Não é um album excecional, mas poderiam ser excetuados pequenos apontamentos como a participação do Popeye (em versão de ressaca) no final de “Winter Bane” ou a tímida participação de um sintetizador em “Ashes of the Damned”, que tempera a faixa como ketchup num cozido à portuguesa. Tirando estas pequenas “gralhas” (sem trocadilhos ao estilo vocal de Abbath), trata-se de um álbum sólido que não surpreende nem desaponta.

Este projecto germânico lança agora o seu segundo longo-curso através da Noizgate; trata-se de um death metal melódico com uma componente electrónica levemente presente, mas com muitos mais momentos melódicos no formato tradicional do death melódico do que arranjos complexos com sons modernos e/ou ecléticos. Este tom “tradicional” (ou talvez a palavra “convencional” se aplique melhor) é algo mantido ao longo do trabalho mas com lutas (internas) para dar uma lufada de ar novo em momentos mais maneáveis das composições, através de sons de sintetizadores. Os refrões, riffs e vozes são no entanto bastante hypo-metal, com breakdowns e contratempos, tão em voga nos segmentos mais hype deste nosso playground metalúrgico. A verdade é que este trabalho não surpreende mas mostra ter momentos de criatividade que merecem algum destaque; ouçam-se os versos em “Exceed and Refine” ou até a variação em “Toward Deliverance”; mas a verdade é que as músicas são rapidamente alcançadas por refrões que batem sempre no mesmo ponto; as melodias chorosas/embelezadas/ melosas deste sub-género não trazem mais-valias, originalidade ou simplesmente interesse: já não ouvimos estes refrões algures? No fim de contas sente-se algum esforço na construção do trabalho, mas ainda está muito associado ao que já foi feito; se conseguirem, para um próximo trabalho, trazer diferença, originalidade mantendo a energia, estarão muito mais preparados para o real world.

Os Amberian Dawn são uma banda de power metal finlandesa com quase uma década, sempre à espreita de popularidade mais mainstream, mas nunca atingindo o estatuto de bandas como Nightwish ou Epica. Para bandas de power metal lideradas por mulheres, transições entre vocalistas podem ser um enorme risco. Raramente são bem recebidos pelos fãs de uma banda. Capri possui uma voz muito agradável, um tom de cantar morno. Com influências em Magic Forest - uma mistura pesada de influências neoclássicas e típicas do power metal finlandês, em Innuendo os Amberian Dawn têm uma abordagem mais orientada para a voz. Assim, a sua música, muitas vezes, parece como que um pop metalizado e que fica entre metal sinfónico e o power. Neste caso, não é mau de todo. Canções como “Fame & Gloria” e especialmente “The Court of Mirror Hall” fazem com que se pense se estamos realmente a ouvir uma banda de power metal de uma dimensão paralela onde o neon azul e dourado são as cores do metalhead. Na verdade, as duas músicas acima mencionadas são facilmente destaques, com coros cativantes, riffs poderosos. “Ladyhawk”,“Chamber of Dreadful Dreams” e “Symphony Nr 1, Part 1” são como que bordados com orquestrais luxuosos,com certas influências de Ayreon em (“Knock Knock Who’s There”) e de Blackmore’s Night em (“Angelique,” uma bela balada e poderosa) Por outro lado, certas faixas estão mais sintonizadas para uma ideia mais tradicional do power metal, por exemplo “Innuendo”, “Rise of Evil”, ou o fecho com,”Your Time - My Time”. Em suma é curto, é doce, aconselhamos aos fãs do género e também a fãs de outros géneros dispostos a conhecerem melhor os Amberian Dawn.

A B B AT H

[ 6,5 / 10 ] FREDERICO FIGUEIREDO

[ 6,0 / 10 ] ADRIANO GODINHO

[ 6 / 10 ] MIGUEL RIBEIRO (HINTF)

4 1 / VERSUS MAGAZINE


CRITICA VERSUS

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C I R I TH GO R G O R

CR A D LE OF FI LTH

Under the Red Cloud

Visions of Exalted Lucifer

Hammer of the Witches

(Nuclear Blast)

(Hammerheart Records)

(Nuclear Blast)

Com Under the Red Cloud os amorphis apresentam-nos o seu 12º álbum de estúdio do destes monstros Finlandeses, sexto LP da banda com Joutsen como vocalista e seu 10ª ano na banda. Este álbum é um retorno à melhor forma dos Amorphis, e o álbum mais coeso que a banda lançou desde 2009 comm Skyforger.O álbum não é uma história. Em vez disso, as letras (escritas, como sempre, por Pekka Kainulainen) têm um conceito;o qual gira em redor de viver sob uma nuvem vermelha em tempos conturbados. A música corresponde a essa sensação, diria mesmo que será mais pesado do que os registros anteriores, que pode ter sido influenciado pelo 20º aniversário de Tales from the Thousand Lakes,o material pesado da banda nos ultimos anos. Under the Red Cloud é um álbum muito bom e um retorno à forma antiga. O registo simplesmente soa como Amorphis; a banda desenvolveu um som que preenche a lacuna entre o seu material antigo e os novos, com muitos momentos aqui que me fazem lembrar os tempos de Elegy e Tuonela.“The Skull” and “Enemy at the Gate” têm riffs que só se ouvem em Amorphis e Estéril; e após 12 registos eles ainda os conseguem sacar.A consistência é uma virtude para grandes bandas,eu vou estar sentado aqui a curtir e muito as músicas the under the red cloud sob as nuvens vermelhas. Para finalizar aconselho vivamente a todos os fãs de Amorphis ou de outros géneros de música um grande álbum repleto de excelentes músicas.

O nome da banda denuncia que não se trata de metal recém-fundido, visto que poucas bandas de black metal teriam a audácia de resgatar o seu nome ao universo de Tolkien depois do que o senhor Peter Jackson fez ao “Senhor dos Anéis”. Houve uma altura em que os mitos de Tolkien se entranhavam na cena de black metal, tendo gerado bandas que verteram a sua influência numa discografia em torno desse imaginário, como é o caso dos Summoning, outros em que a referência ao escritor marcava presença assídua em entrevistas (Burzum), bem como aqueles que apenas foram caçar nomes intrigantes à obra literária: Gorgoroth, Isengard... e Cirith Gorgor. “Visions of Exalted Lucifer” é black metal ao melhor estilo sueco dos anos 90 (por uma banda holandesa), sem espinhas. O album é bastante mais que um piscar de olho aos trabalhos iniciais de Dark Funeral, Marduk ou Dissection, é mesmo um piropo bem ordinário. Black metal melódico, brutal, triunfante, fortemente conduzido pelo tremolo das guitarras. Porém, apesar de toda a sua consistência, este album acaba por redundar num momento de nostalgia ao estilo e época referidos, muito à semelhança do trabalho desenvolvido pelos Watain (consideravelmente superiores). A banda não apresenta nada de novo, o que não é necessariamente mau. Quase se poderia dizer que se trata de revivalismo, não remontassem estes cavalheiros a 1996. Uma ovação ao Senhor dos Anéis... quero dizer, das Trevas.

[ 10 / 10 ] MIGUEL RIBEIRO (HINTF)

[ 6,0 / 10 ] FREDERICO FIGUEIREDO

Confesso que desde o já longínquo «Thormology» de 2006 que os Cradle Of Filth -, ou no seu anacronismo CoF para mim estão num completo estado de indiferença. E a culpa é deles! Da direção artística mais mainstream, da falta de frescura apresentada álbum após álbum, da falta de inovação e ousadia que os caracterizou no início, e provavelmente também das inúmeras mudanças de lineup. A áurea dos CoF há muito (praticamente 20 anos) que se esvaiu, ficando uma veia artística no limiar dessa glória, a sugar e a viver desses tempos. E aqui chegamos a 2015 e a «Hammer of the Witches», o qual sai hoje mas bem podia ter saído há 10 anos atrás. A música e a abordagem são sempre a mesma, não trazendo nada de novo, e nem mesmo os bons momentos de black metal à lá CoF presentes aqui, como a parte central de “Deflowering The maidenHead...” ou “Blackest Magick in Practice”, salvam a coisa. É tudo muito déjá-vu. O problema deste novo trabalho (como o dos anteriores) é a falta de grande músicas que se destaquem, é tudo muito flat, muito plástico e nada genuíno, e nos tempos de hoje onde tudo é disfrutado a correr na euforia do consumismo (ou download), este tipo de álbum passa à história em 3 tempos. Resumindo, «Hammer of the Witches» é mais um álbum que aposta na continuidade, não trazendo nada de novo a não ser um grande punhado de novas músicas que rapidamente cairão no esquecimento e farão chorar o lado mais nostálgico dos verdadeiros fãs de outrora. Os que têm gostado dos CoF dos últimos 10 anos para cá, ignorem a minha classificação e dizeres, corram adquirir este trabalho, já que está à altura do que têm feito ultimamente, talvez até dos melhores, e eu classificá-lo-ia com pelo menos mais três pontos e meio.

A MO R PHIS

[ 5,0 / 10 ] CARLOS FILIPE

42 / VERSUS MAGAZINE


CRITICA VERSUS

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D E A D SOUL

D I MESLA ND

FEAR FA C TO RY

The Sheltering Sky

Psychogenic Atrophy

Genexus

(Century Media)

(Crucial Blast)

(Nuclear Blast)

Quem são os Dead Soul? Eis uma pergunta que fiz a mim mesmo e que rapidamente obtive resposta através de «The Sheltering Sky». Isto torna-se ainda mais interessante quando incorporam na música muito do que procuramos quando esperamos ouvir algo de novo e diferente. Nesta catadupa de artistas que nos chegam aos ouvidos sabe mesmo bem ouvir algo tão “fresco”, diferente e acima de tudo, sentimental. Por isso senti uma urgente necessidade de conversar com a dupla responsável por este projecto. Nessa entrevista estão as respostas à pergunta inicial… e não só. «The Sheltering Sky» é o resultado da simbiose entre o mundo electrónico de Niels Nielsen e o blues de Anders Landelius. As influências dos dois artistas fazem-se sentir mas de uma forma dissimulada, não há mais “electrónica” ou mais blues. Há ali qualquer coisa a que alguns chamam… música! O ambiente intimista é também povoado pelas letras pessoais derivadas de um período difícil na vida de Anders. Tudo isto e toda a arte sonora que emana dos temas é intrínseco e imprevisível, tal como as diferentes interpretações que podemos aferir da música. De facto, este aspecto não é consensual; o que para uns poderá parecer The Doors, para outros será Nine Inch Nails. E isto é o que me dá prazer ouvir; algo que tenho dificuldades em catalogar ou definir; algo que me faça pensar no que estou a ouvir e procurar nas profundezas da memória se já terei ouvido algo assim. Para mim é consensual que é música! A descobrir estão também o álbum anterior «In the Darkness» e o magnífico “Live In Studio Underjord” que só encontram a versão digital - YouTube por exemplo - mas vale a pena.

Se estão cansados (como eu) de música previsível e andam sempre à cata do próximo disco capaz de vos dar a volta ao miolo, então não vão mais longe porque este poderá ser o álbum que procuram: um disco de thrash bastante elaborado e técnico, mas que tem, ao contrário de muitos, a virtude de nunca ultrapassar aquele limiar de complexidade para além do qual a música se torna ininteligível. Sem surpresa, a composição adoptada pelo colectivo norte-americano (que inclui membros dos Wild Hunt) é muito pouco ortodoxa, vertiginosa, bizarra por vezes, e completamente arredada de todas as convenções. Como influências principais posso apontar Atheist e Gorguts, mas mais haverá. Os duelos de guitarra entre os irmãos Nolan e Drew Cook são uma constante e um dos principais elementos que nos mantêm de ouvido aguçado. A música é quase sempre focada na componente instrumental e mesmo em alguns temas não instrumentais os vocais thrashy old-school de Greg Brace só entram a 3 ou 4 mins do início, depois duma desbunda desenfreada de riffs rombudos e mudanças de tempo alucinadas. Todas as oito faixas presentes têm as suas qualidades mas “Xenolith” é talvez a mais singular: um instrumental de 9 mins feito de atmosferas psicadélicas, sons industriais, leads etéreos e descargas proverbiais de death/thrash. No geral, a audição de «Psychogenic Atrophy» não é fácil, mas o reverso da medalha são muitas horas de prazer a tentar desenvencilhar esta autêntica teia abstracta de riffs. Com a morte inesperada do guitarrista Drew Cook, no início do ano, o futuro dos Dimesland ficou incerto, mas a banda já fez saber que vai continuar activa. Esperemos que sim.

[ 9,5 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

[ 8,5 / 10 ] ERNESTO MARTINS

Confesso que tinha muita curiosidade em ouvir este álbum. Fui grande fã de Fear Factory e ainda hoje algumas das suas músicas me fazem vibrar. Porém, o panorama musical vai mudando, e nós com ele. Resta às bandas acompanhá-lo ou habilitarem-se ao esquecimento. Pois bem; com os Fear Factory não aconteceu nem uma coisa nem outra. A banda tem um som muito característico, facilmente identificado, que se tem mantido quase inalterado ao longo dos anos. Assim sendo, a primeira sensação que tive é a de que estava a ouvir um antigo trabalho do conjunto de Dino Cazares. O seu som industrializado com um ritmo incansável e guitarras graves continua lá, bem como a capacidade que têm em alternar as secções pesadas com outras mais melódicas, sem nunca baixarem a intensidade canções. É bom ver que Burton C. Bell ainda tem a potência vocal necessária para cantar nos Fear Factory, e mérito para o novo baterista, Mike Heller, que faz um trabalho estupendo neste “Genexus”. Porém, o facto de soar a um álbum antigo pode ter tanto de positivo como de prejudicial. Se por um lado a essência dos Fear Factory se mantém imutável, também não deixa de ser verdade que não se nota, no geral, muita evolução em termos sonoros. Exceção feita à última faixa, que será talvez uma das mais bem conseguidas, e que por ironia é a menos intensa. Não deixa de ser por isso um bom trabalho com alguns apontamentos muito interessantes. Para aqueles que são ainda hoje fervorosos admiradores este álbum não vos vai defraudar. É Fear Factory em todo o seu esplendor, sem sinais de querem abrandar. Aqueles que como eu gostavam de os ver arriscar, libertarem-se um pouco mais do seu (excelente) passado, podem não ficar tão convencidos. Ficou demonstrado em vários momentos ao longo deste disco que têm toda a criatividade para levar o seu som a um próximo nível. Aguardo impacientemente.

[ 7,0 / 10 ] IVO BRONCAS

4 3 / VERSUS MAGAZINE

4 3 / VERSUS MAGAZINE


CRITICA VERSUS

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G R AVEYAR D

HELLO W EEN

Exhumation – The Early Years

Innocence & Decandence

My God-Given Right

(Napalm Records)

(Nuclear Blast)

(Nuclear Blast)

Quinteto alemão que já dispensa qualquer tipo de apresentação, os Grave Digger que se encontram no ativo há já fantásticos 35 anos, (desde 1980), são um dos ícones do género heavy / power / speed metal. Com uma extensa e variada discografia a reforçar a sua criatividade e árduo trabalho, e após o lançamento do último álbum de originais ‘Return of the Reaper’ chega agora a vez dolançamento de uma coletânea dos seus maiores e melhores êxitos dos primeiros 25 anos da sua carreira, ‘Exhumation – the Early Years’, a ser editado pela Napalm Records a 23 de Outubro do corrente. Conta-se inicialmente muma primeira e comum edição, com um alinhamento de apenas 13 temas, 47 minutos de bom heavy-metal, em que não faltam hits como ‘Heavy Metal Breakdown’ ou ‘We Wanna Rock You’. Sendo a maior parte dos temas regravados a partir dos originais, temos então um registo mais limpo tecnicamente, equilibrado nas escolhas para esta celebração de 35 anos de carreira, mas deixando no entanto alguns temas de fora, apesar das edições limitadas virem a conter faixas bónus. Para quem não conhece num todo a carreira destes alemães é a oportunidade de se familiarizar com a sua sonoridade num ápice e certamente seguir a partir daqui o continuado percurso no metal dos Grave Digger.

Graveyard não são uma surpresa: são uma garantia de um bluesy rock com a qualidade de músicos capazes de trazer originalidade - ou apenas qualidade a um estilo que à partida não seria de esperar grande revolução; e mais uma vez: esta não seja talvez o intuito deste projecto que dura há já alguns anos - com um primeiro trabalho em 2007. A banda atingiu um sucesso considerável em 2011 com o álbum “Hisingen Blues” onde faixas como “Ain’t fit to live here” passou nas rádios. Este «Innocence & Decandence» vem perpetuar a atitude conseguida nos trabalhos anteriores; Neste trabalho podemos descobrir que o antigo guitarrista Truls Mörck regressa ao colectivo mas agora para tocar baixo, onde substitui Rikard Edlund que abandonou o projecto em 2014. Mörck também participa nas back vocals e voz principal em “From A Hole In The Wall”. Como destaques podemos falar da faixa introdutória “Magnetic Shunk” que possui a energia, a faixa “Too Much Is Not Enough” que possui a melodia no formato slow ou “Never Theirs To Sell” que nos dá o som “Graveyard”. O que se ouve neste trabalho é um som limpo e sujo, moderno e clássico; usando as palavras da Nuclear Blast: “It’s classic rock with a modern roll!”. Não teria dito melhor.

Sempre que a banda germânica se prepara para lançar um álbum, grande parte do mundo (metálico) entra em alvoroço. Desde o abandono de Kiske que as opiniões não têm sido consensuais, para com a banda e, principalmente, Andi Deris. Se dividirmos a Era pós-Kiske encontramos duas partes distintas: entre o «Master of the Rings» e «The Dark Ride» e daí para a frente. Este primeiro período coincidiu com a permanência Roland Grapow e Uli Kusch. Depois… bem… mais um período conturbado com a formação incerta e um dos álbuns mais consensuais mas pela negativa: «Rabbit Don’t Come Easy». A formação estabilizou e a música também, no entanto, Deris ainda vive sob a sombra de Kiske, ou melhor, os fãs mais inflexíveis é que o colocam nessa posição. São duas vozes diferentes (ponto). Por isso é sempre com grande ansiedade que espero pela “abóbora” e por esse “D. Sebastião” que teima em não aparecer… ou não. Sairá «My God-Given Right» do nevoeiro, qual unificador de todos os fãs? A minha resposta é NIM. Como tem sido habitual nestes últimos lançamentos a produção, digamos que é suficiente mas a bateria continua a mesma mediocridade: demasiado comprimida, sem dinâmica e pouco orgânica. Penso que já estaria n’altura de introduzir “sangue” novo e ideias novas na produção. Este é o pior aspecto, o melhor, Andi Deris! Excelente trabalho, sem dúvida e a provar que as críticas são muitas vezes injustas e infundadas. «My GodGiven Right» custou a “entrar” no ouvido mas após o estranho passar, entranhou-se por completo. É viciante, divertido e acabou por despertar a abóbora adormecida há uns anos. É o “salvador”?! Quase, quase… não fosse o raio da produção.

G R AV E D I GGER

[ 7,0 / 10 ] PAULA ANTUNES (HINTF)

[ 7,5 / 10 ] AG

“Once a band that sang ‘bout bullshit Everyone could see them fall They were sure it was their last hit So they quit with their faggotry and kicked ass again.” Rise and Fall

[ 8,5 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

44 / VERSUS MAGAZINE


CRITICA VERSUS

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KI LLI NG JO K E

METAL ALLEG I A NCE

Joel Hoekstra’s 13

Pylon

Metal Allegiance

(Frontiers)

(Spinefarm Records)

(Nuclear Blast)

Yeah! Rock on! É o que dirão quando ouvirem «Dying to Live», um álbum muito puro e genuíno. Hard Rock melódico feito por uma grande personalidade da música rockeira actual. Joel é tao só o actual guitarrista dos Whitesnake, participou ainda em 5 digressões de inverno com os Trans-Siberian Orchestra e também Night Ranger. O curriculum não faz a música mas… Joel lança o seu quaro álbum a solo mas o primeiro com uma dupla de vocalistas, Russel Allen e Jeff Scott Soto – os outros três foram instrumentais. Hoje em dia fazer um excelente álbum de Hard Rock Melódico pode parecer fácil. A identidade deste género está muito ligada aos anos 80-90, com o seu visual muito particular e estilo musical muito particular. Transportar essas identidades para uma época mais moderna tem que se lhe diga. Neste tipo de álbuns onde o compositor e mentor do projecto é o guitarrista, a tendência é quase sempre para demonstrar técnicas, habilidades, solos, etc, (orientado para a guitarra, portanto...) mas Joel foi inteligente e no meio de tanto bom gosto ninguém se destaca. Daqui resulta que «Dying to Live» é bastante coerente e ouvi-lo parece “faca quente em manteiga”: não se estranha, agrada logo na primeira audição. Puro Hard Rock melódico... BEM FEITO! Os temas foram escolhidos tendo em conta as características particulares de Russel e Jeff mas o último tema conta com a participação de Chloe Lowre, sendo este o mais melancólico, ou se preferirem a balada do álbum. Joel “Regressa ao Futuro” e «Dying to Live» é tudo o que podem esperar do Hard Rock Melódico contemporâneo.

Os fãs dos Killing Joke têm vindo a esperar um certo nível e grau de qualidade quando se tratam de lançamentos da banda e da sua música rock eletrónica e experimental, e Pylon é um exemplo brilhante de muita qualidade mesmo. “Autonomous zone” começa o disco com o electro-punk da banda, chega a fazer lembrar os Fear Factory. A abordagem limpa neste álbum é verdadeiramente notável, com o vocalista Jaz Coleman a mostrar estar na sua melhor forma, quase robótico em algumas músicas. Também soa como um violino que está flutuando ao fundo. “Dawn Of The Hive” eco efeitos a ajudar a abordagem vocal de Coleman para a transportar uma grande distância, enquanto melodias limpas e um apoio de metal pesado óbvio, fazem deste um definitivo electro-headbang. Não é algo que estejam à espera, mas os Killing Joke mostram a sua grandeza. Em “New Cold War” mudam um pouco com influências New Wave. Coleman traz o frio e, por vezes, o fogo com uma abordagem mais dura. É definitivamente um roqueiro. “Euphoria” também é um pouco diferente, como que uma balada melódica, mas tem uma harmonia coral incrível. Definitivamente carrega aquela vibe New Wave, provando que os Killing Joke não foram longe demais em relação às suas raízes e soam melhor do que nunca neste registo. É a música mais curta. É apaixonante e a melhor faixa no álbum. “New Jerusalém” soa como uma peça do funk eletrónico. Liricamente, Pylon parece ser uma observação de muitas das coisas que não correram bem na sociedade. É um álbum extremamente bem trabalhado e definitivamente um melhores dos Killing Joke. Recomendo a compra de pylon, basta lembrar que Killing Joke sempre fizeram suas próprias coisas. O registo definitivamente soa como uma mistura entre o seu material antigo e seu trabalho mais recente, fundindo estas propriedades mágicas juntas e muito bem. Pylon é definitivamente uma banda sonora para esta era confusa e delicada em que vivemos, onde o homem oscila à beira do desastre.

É impossível não criar uma grande expetativa quando temos nas nossas mãos um trabalho de originais de um projeto que tem na sua formação Alex Skolnick, Mike Portnoy e Dave Ellefson. Contudo, o objetivo deste trabalho de estreia dos Metal Allegiance não foi apresentar um som inovador. Foi sim, juntamente com inúmeros convidados de renome, oriundos dos mais diversos estilos dentro do Metal, presentear os fãs com um disco variado que unificasse o género. Nesse sentido é um álbum muito bem conseguido, principalmente se tivermos em conta a dificuldade que deve ter sido manter um fio condutor quando se tem uma enorme quantidade de músicos a participar no mesmo. Este que podia ser um obstáculo foi bem ultrapassado através de várias estratégias: Logo à partida, o facto de a maioria das músicas terem sido compostas pela “formação fixa” da banda, contribuiu em muito para a coerência sonora da qual os próprios falam. Para além disso, algumas canções foram claramente adaptadas aos convidados que nelas participaram, muito devido ao estilo muito característico que alguns músicos possuem. A outros, mais versáteis por natureza, foi-lhes pedido que saíssem ligeiramente da sua zona de conforto, e com isso obteve-se resultados muito interessantes. Original foram também alguns arranjos musicais, nomeadamente encaixarem 2 baixos numa canção, e incluírem sons de flamenco noutra mais soturna. Destacaria a afirmação de Mike Portnoy como um excelente baterista de Metal, e as participações de Randall Blyth, Troy Sanders, Chuck Billy, Matthew Heafy, e de Phil Anselmo (“Dying song”). Se quisermos ser minuciosos, podemos questionar, nesta última a utilização de um riff básico numa secção intermédia que quase belisca a sua qualidade final. É um álbum intenso e sem dúvida merecedor de ser ouvido por todos os fãs de um Metal mais mainstream.

J O E L H O EKST RA

[ 9 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

[ 8,0 / 10 ] IVO BRONCAS

[ 8,5 / 10 ] MIGUEL RIBEIRO (HINTF)

4 5 / VERSUS MAGAZINE


CRITICA VERSUS

vErSUS MAGAZINE

M O M E N T UM

SA D I S T

SLAYER

Fixation, At Rest

Hyena

Repentless

(Dark Essence Records)

(Scarlet Records)

(Nuclear Blast)

Apresentaram-se ao mundo em 2004 com um black/death metal de contornos tradicionais, mas rapidamente mudaram para outras sonoridades. E ainda bem que o fizeram, pois caso contrário não estaríamos agora, muito provavelmente, perante um trabalho tão criativo. «Fixation, At Rest» é um disco de intensidades muito variadas, com uma faceta negra proeminente, e em que a música funciona muito como ilustração de uma narrativa conceptual que revolve em torno da necessidade de mudanças. O trabalho da formação de Reykjavik, Islândia, inclui traços alternativos e até laivos de progressivo, embora seja genericamente menos rebuscado do que este rótulo costuma sugerir. A música é quase sempre fluente e acessível, o que não deve ser confundido com convencional ou genérica, até porque o grupo recorre a padrões rítmicos (a performance do baterista sobressai) e a estruturas bastante criativas, embora subtis, que são suficientes para prender a nossa atenção a cada passo. “As the skies break” inclui algumas mudanças repentinas de ritmo muito catchy, bem como riffs groovy reminiscentes dos Prong (semelhança também notória em “Red silence”). “Holding back” destaca-se pelo segmento final atmosférico centrado num refrão especialmente pegajoso, e “Prosthetic sea” tem também uma parte vocal harmoniosa muito interessante. Os restantes temas incluem também algo diferente do que é habitual nestas sonoridades, e no computo geral esta é sem dúvida uma reedição muito bem-vinda (com novo artwork) do álbum de estreia lançado em 2010, que vale a pena (re) descobrir.

Surgidos há exactamente um quarto de século, na esteira do death metal técnico de bandas como Atheist e Pestilence, os italianos Sadist, do guitarrista Tommy Talamanca, cedo adquiriram uma identidade muito própria com a introdução na sua música de uma dose generosa de teclados e de motivos tribais. Com maior ou menor intensidade estes elementos sempre marcaram presença nos sete álbuns que a banda gravou até hoje, mas o novo «Hyena» contém, desta vez, composições ainda mais orientadas para os teclados do que o registo anterior «Season in Silence» (2010), mantendo-se os característicos traços experimentais e texturas jazzy, bem como uma profusão de influências étnicas que também não são novidade na música do quarteto de Génova. A competência dos músicos sobressai a cada instante, quer nas linhas do baixo fretless de Andi Marchini (especialmente galvanizantes no instrumental “Gadawan Kura” e em “African devourers”), nos riffs técnicos e nas linhas virtuosas de guitarra de Talamanca e no fantástico trabalho percussivo de Alessio Spallarossa que alicerça cada um dos temas. O estilo vocal de Trevor Nadir – talvez demasiado monocórdico e pouco expressivo – é o aspecto menos positivo a apontar em «Hyena», razão única porque não se atribui mais um ponto na apreciação deste trabalho conceptual curiosamente baseado, na integra, no odioso necrófago africano – a hiena – à qual muitos folclores associam atributos malévolos.

Os últimos anos dos Slayer têm sido fáceis, seja por mais uma celeuma com Dave Lombardo, que fez com que Paul Bostaph regressasse e ao desaparecimento de Hanneman que, para muitos seria o fim dos Californianos, porém, a verdade é outra e, ao décimo segundo disco, os Slayer continuam a ser os Slayer e «Repentless» é uma especie de «comeback» vitorioso. Não vamos estar a perder tempo a escrever sobre a qualidade dos musicos, pois já tudo foi dito e escrito ao longo dos trinta anos de carreira, porém, deve-se salientar o trabalho de Gary Holt, pois era sobre ele que recaim todas as expectactivas e, principalmente, o legado de Hanneman, e dos próprios Slayer, estavam nos seus dedos e, o experiente músico não deixou os seus créditos em casa e podemos dizer que agarrou o lugar com estacas de ferro e unhas de leão. Sobre tudo o resto que compoe «Repentless» é Slayer mordaz e, como sempre, critico com a sociedade em que nos encontramos, por aqui passam malhas como a faixa-título (soberba) e a, também ela, genial «Vices». «Repentless» não é um disco imediato, mais não seja devido a todas as condicionantes mas, o que no início se estranha, rapidamente se entranha. Numa banda que sempre, ou quase sempre, esteve envolta em polémica a banda virou o disco e, de forma directa e através do artwork, envia um recado a uma sociedade desmembrada e, totalmente, alienada. Quem pode esquecer a polémica da imagem, aqui «retocada» via Slayer. Se duvidas existissem, ficam totalmente dissipadas, pois enquanto o mundo estiver neste estado, existirão sempre os Slayer e, se mudanças existiram, passam despercebidas... só talvez se note a farta cabeleira e barda de Araya... tudo o resto é Slayer... e do bom.

[ 8,5 / 10 ] ERNESTO MARTINS

[ 8 / 10 ] ERNESTO MARTINS

[ 9,0 / 10 ] NUNO LOPES

46 / VERSUS MAGAZINE


CRITICA VERSUS

vErSUS MAGAZINE

T. A.O .S .

(TH E A RR IVA L O F S ATA N )

T H E AR C A NE O R D ER

V I LLA I NY

Passion Sodomy Terror

Cult of None

II: Dim

(Osmose Productions)

(Massacre Records)

(Listenable Records)

Satã chegou e com ele, uma lufada de ar gélido. Estamos perante o testemunho de almas em colapso. “Passion Sodomy Terror” é o tipo de album que nos remete para a franja cultural onde o black metal tem a sua génese, o produto de uma cultura apocalítica, a expressão da agonia distópica onde o ethos se encontra em fase terminal. Necropiss profere o evangelho do fim, do topo do púlpito da condenação. Geme, sufoca e vocifera, de garrote na garganta, à beira da asfixia, entre o êxtase e o estertor. A dor neste albúm é presente, crua e inexorável. O negativismo é mais do que uma insinuação, é palpável e patológico. A dissonância vertiginosa das guitarras de Saint Vincent (membro fundador dos Blacklodge e compositor do projeto em crítica) (des)harmoniza-se com a frieza sincopada da bateria de Rafal, compondo a desolação sonora que inspira esta cruel criação. O ambiente nihilista conjurado torna a audição deste material tão exasperante que divide o ouvinte entre a aversão e o enlevo, não sendo de estranhar que a receção crítica se enquadre nos extremos opostos do espectro, consoante a particular apetência do respetivo ajuizador. O albúm conta igualmente com a valiosa produção dos estúdios Necromorbus. Black metal para verdadeiros apreciadores, na veia de Anaal Nathrakh e de bandas como Mutiilation, Vlad Tepes e restantes Légions Noires.

Este é o regresso dos TAO após algum tempo de pausa - o anterior “In The Wake Of Collisions” foi lançado em 2008 - que agora nos apresentam este «Cult of None» através da Massacre Records; e tudo soa a um novo começo para estes dinamarqueses que já nos deram provas de ter uma qualidade como banda e não apenas como projecto do guitarrista Flemming C. Lund (Invocator, ex-Autumn Leaves). A história do projecto é até simples - após o desmembramento dos Autumn Leaves, Flemming procurou não músicos profissionais já atarefados com outras bandas mas sim músicos acessíveis e locais (o baterista foi um puto de 20 anos escolhido em audições) que partilhavam a mesma visão musical. Este novo trabalho soa a confiança e maturidade; um som apurado com os trabalhos passados. As músicas estão repletas de momentos e passagens interessantes, ouçam o refrão em “Reviver”, a energia em “Exo Reign” ou o envolvimento em “Hesperian”. Este última tem até uma aura especial, onde já passou a energia do começo do álbum e as músicas conseguem mais margem de manobra para mostrar algo a mais. Este «Cult of None» não respeita o seu título, pois não tem nada que nos mostre prestar um culto ao “vazio”, pelo contrário, a qualidade do trabalho dános vontade de ouvir e voltar a ouvir.

Quer gostemos quer ou não, este é um daqueles discos que não deixa ninguém indiferente. Pela positiva ou pela negativa. Uma primeira audição dá logo conta de uma abordagem muito própria, centrada num thrash negro old-school com elementos de doom e de muitos outros sub-géneros de Metal. Até aqui tudo bem. O problema reside nos momentos em que a música soa demasiado genérica, ou em partes estranhas que parecem deslocadas do contexto. Um dos momentos mais apelativos do disco surge no épico de doze minutos “The view from my ivory tower”, que passa claramente como um tributo aos Celtic Frost. Até os tiques vocais de Tom Warrior estão lá imitados. “Jewel” segue na mesma toada arrastada, mas é ainda mais diabólica... até ao segmento final em que, de repente, muda de forma inusitada para um estilo prog inteiramente desarticulado com o resto do tema. Outra transição igualmente estranha ocorre em “And the gold of rebirth”, o último de um trio de faixas em thrash mais corrido, que lá mais para o fim descamba em algo parecido com uma improvisação primária. Impressão idêntica decorre de muitas partes lentas que parecem feitas de acordes avulso. Três dos quatro instrumentais presentes soam também estranhos, no mínimo. O esquizofrénico “Dwaalspoor” chega a ser irritante, e “Only I have the light of lights” é uma sequência de acordes etéreos sem grande sentido. O press-release diz que «II: Dim» é eclético. Sem dúvida que é, mas de uma forma demasiado idiossincrática. A fusão pretendida pela banda holandesa tem os seus momentos, mas precisa, talvez, de mais algum apuro.

[ 8 / 10 ] FREDERICO FIGUEIREDO

[ 7,0 / 10 ] AG

[ 6,0 / 10 ] ERNESTO MARTINS

4 7 / VERSUS MAGAZINE


PLAYLIST VERSUS

C A R L O S F I L IP E

AD R I A NO GO D I NHO

M O L L U S T «I n D e e p W a t e r s »

ELDER - «Lore»

DRACONIAN -Svoran

AMORPHIS -Under The Red Cloud NILE -What Should not Be Un-

BASK - «American Hollow» G R AV E - « O u t o f R e s p e c t f o r t h e D e a d » VI – «De Prestigiis Angelorum»

earthed S L AY E R - R e p e n t l e s s

JUDAS PRIEST -Defenders of Faith 30th Anniversary

CR I S TI NA SÁ A U T O K R AT O R – A u t o k r a t o r HEGEMON – The Hierarch

E D U A R D O R A MA L H ADEIRO P I N K F L O Y D « W i s h Yo u W e r e H e r e » J O E L H O E K S T R A ’ 1 3 «D y i n g t o L i v e »

M O R D ’ A ’ S T I G M A TA – O u r H e a r t s S l o w D o w n T H Y C A TA F A L Q U E – S g ù r r VI – De Prestigiis Angelorum

Q U E E N S R Y C H E «O p e r a t i o n : M i n d c r i m e

HU G O MELO

HELLOWEEN «My God-Give Right»

R O T T I N G C H R I S T - «L u c i f e r O v e r A t h e n s »

GHOST «Meliora

S L AY E R - «R e p e n t l e s s »

DEAD SOUL «The Sheltering Sky»

R A G E - «T h e S o u n d c h a s e r A r q u i v e s »

AMORPHIS «Under The Red Cloud»

P E C C AT U M - «S t r a n g l i n g f r o m W i t h i n » A N T I M A T T E R - « T h e J u d a s Ta b l e »

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.PT

A VERSUS PROCURA NOVOS COLABORADORES! SE ESTÁS INTERESSADO EM FAZER PARTE DA NOSSA EQUIPA ENTRA EM CONTACTO PELO ENDEREÇO:

VERSUSMAGAZINEPT@GMAIL.COM 4 8 / VERSUS MAGAZINE



vErSUS

ENTREVISTA

MAGAZINE

“BAKTHERIA É ISSO - O HOMEM NO CENTRO DA DESTRUIÇÃO DO UNIVERSO, SEJA ATRAVÉS DE CONFLITOS BÉLICOS, RACISMO, CORRUPÇÃO OU DA ANIQUILAÇÃO DA NATUREZA. ”

BAKTHERIA DISSEMINANDO A DOENÇA N Ã O S Ã O P U G I L IS TAS M AS DÃO SOCOS NO ES TÔ MAG O C O MO NI NG U ÉM. O S O M QU E P R ATI CA M – D I R ET O , P U N G E N T E , D E MOLIDOR - REFLET E O M OM EN TO Q U E O PAÍ S E O MUNDI O ATRAV ES S A M. R ES P O NDEM P ELO N O ME D E B A K T H E RIA, SÃO UM T RIO E DIGNIFICA M O LEGA D O DE BA NDA S CO MO EXTR EME NOI S E TERR O R O U R ATO S D E P O R Ã O , SEM NUNCA PERDER A SUA I NDI V I D U A LI D A D E. O V O C A LI S TA E G U I TAR R I S TA R U I V I EI R A FA L O U - N O S D O Á LBUM “ SYST EM SICKNESS”, D E CO NCERTO S E D O SEU PER C U R S O NO UNDER G R O U N D . Por: dico OS BAKTHERIA CAÍRAM QUE NEM UMA BOMBA NO UNDERGROUND NACIONAL E MOSTRARAM LOGO AO QUE VINHAM, SEM FALINHAS MANSAS. “LIXEM-SE TODO S” É A MENSAGEM QUE EMANA DE “SYSTEM SICKNESS”, O VOSSO ÁLBUM DE ESTREIA. PODEMOS ENTÃO DIZER QUE A CONSTITUIÇÃO DA BANDA FOI UMA MANEIRA DE REAGIR AO CONTEXTO POLÍTICO, SOCIAL E ECONÓMICO QUE NOS RODEIA? RUI VIE I RA: Tem a ver, sobretudo, com a condição humana, com o homem e o mal que este inflige de forma sistemática ao seu semelhante. E fá-lo com prazer! Baktheria é isso 5 0 / VERSUS MAGAZINE

o homem no centro da destruição do universo, seja através de conflitos bélicos, racismo, corrupção ou da aniquilação da natureza. Falamos de um semi fim de atrocidades que só o ser humano é capaz de executar cirurgicamente. Somos um vírus sem cura, uma bactéria peçonhenta que apodrece os valores morais em troca de 30 dinheiros.

COMPUSERAM O ÁLBUM AO LONGO DE UM ANO, EMBORA OS PETARDOS NELE INCLUÍDOS SOEM TOTALMENTE CRUS E ESPONTÂNEOS. QUISERAM DEIXAR OS TEMAS AMADURECER OU

FOI SIMPLESMENTE ESSE O TIMING QUE SE VOS IMPÔS? R U I V IE IR A : Quando iniciei baktheria, disse logo ao alex (baterista) que o objetivo era gravar um disco dali a um ano. Partimos logo dessa premissa e, em dois meses, compusemos qualquer coisa como 10 temas, quase todos presentes no álbum. Depois rodámos as músicas ao vivo, mexemos aqui e acolá e ficaram prontas a gravar. Acho que foi o timing certo. Tudo decorreu sem sobressaltos, desenvolvemos parcerias para editar o álbum e estamos a ivulga-lo o melhor que podemos.


“AO NOSSO SOM NÃO ESTÁ COM “RODRIGUINHOS”, É DIRETO, DIZ O QUE TEM A DIZER, SEM SUBTERFÚGIOS, É RÁPIDO, CORTANTE.”

A MATERIALIZAÇÃO DE “SYSTEM SICKNESS” RESULTA PRECISAMENTE DE UMA PARCERIA ENTRE VOCÊS E A NBQR, POR UM LADO; E ENTRE A NBQR, A NON NOBIS E A YOUR POISON RECORDS, POR OUTRO. DE QUE FORMA SE CONJUGARAM OS ESFORÇOS NO SENTIDO DE PÔR O ÁLBUM A CIRCULAR? RUI V I E I R A: O fernando Roberto, fundador da metal soldiers records, criou esta sublabel, a nbqrecords. O nosso álbum é o lançamento #001. Nos últimos anos, o fernando tem sido uma peça fundamental em diversos projetos nos quais estou envolvido. Seja nos machinergy ou agora com os baktheria, o nosso envolvimento tem sido produtivo, as coisas têm saído certinhas, sem problemas. Após acordarmos o lançamento do disco, ele estabeleceu as restantes parcerias, neste caso com a non nobis distribution e a your poison records. Ele é, sem dúvida, uma máquina!

AS REAÇÕES AO DISCO, AOS CONCERTOS E AO MERCHANDISE TÊM SIDO BASTANTE ENTUSIÁSTICAS. INCLUSIVE, TANTO QUANTO SEI, AS VENDAS DE T-SHIRTS TÊM SUPERADO AS VOSSAS MELHORES ESPECTATIVAS. QUE EXPLICAÇÃO ENCONTRAS PARA ESTA AMPLA ACEITAÇÃO DA BANDA NUM TÃO CURTO ESPAÇO DE TEMPO? RUI VI E I RA: A nossa música. O nosso som não está com “rodriguinhos”, é direto, diz o que tem a dizer, sem subterfúgios, é rápido, cortante. Levas uma pancada na cabeça e nem sabes bem o que te aconteceu. Por isso, tens de ouvir o disco outra vez para tentar percebê-lo, mas levas novamente uma traulitada! [risos] e assim sucessivamente. Decompondo a música em várias vertentes, direi que o álbum ficou muito bom. O artwork do andré coelho ajudou muito, pois consegue traduzir em imagens a nossa mensagem, complementando aquilo que baktheria é. Por outro lado, as nossas atuações também exercem um papel fundamental na aceitação que a banda tem. É no

palco que mostramos realmente quem somos: uns bastardos que berram e fazem uma enorme barulheira.

O ÁLBUM FOI GRAVADO, PRODUZIDO E MISTURADO NOS MÍTICOS CROSSOVER STUDIOS, COM O NÃO MENOS LENDÁRIO JOSÉ PEDRO “SARRUFO”. QUER O ESTÚDIO QUER O PRODUTOR SÃO CONHECIDOS POR “FABRICAR” ALGUNS DOS ÁLBUNS MAIS EXTREMOS DO NOSSO UNDERGROUND. SENTIRAM QUE ESTA ERA A ESCOLHA IDEAL PARA OBTER O SOM QUE IMAGINAVAM? R U I V IEIRA : Eu sempre quis gravar no crossover, há anos que andava para o fazer. De lá saíram alguns dos álbuns de que mais gosto e que oiço continuamente. “bounded in adversity”, dos simbiose (o meu álbum de favorito de crossover/ thrash português), “fellatrix discordia pantokrator”, dos filii nigrantium infernalium, entre muitos outros. Portanto, foi com um enorme respeito que ali entrei. Foi uma experiência fantástica. O “sarrufo” é um verdadeiro produtor, puxa pelos músicos, fá-los pensar e dá sempre opiniões válidas. O ricardo bravo igualmente. O estúdio é confortável, inspira, e todos aqueles quadros que estão no hall de entrada, com alguns discos míticos já lá gravados, deixanos em sentido e com um certo dever de dar o máximo. Espero que os baktheria se juntem a esse rol de álbuns míticos do estúdio crossover e que inspire próximos músicos que lá se desloquem.

PORTUGAL RAPIDAMENTE SE SUBMETEU AO TERROR SÓNICO DOS BAKTHERIA. E QUANTO AO ESTRANGEIRO? EXISTEM PLANOS A NÍVEL DE CONCERTOS E DISTRIBUIÇÃO/ LICENCIAMENTOS EM OUTROS TERRITÓRIOS? R U I V IEIR A : Quanto ao estrangeiro, a distribuição está assegurada através das parcerias que firmámos para este lançamento. O fernando (nbqrecords) e o carlos faria (nnp) distribuem o cd por todo o mundo e o joão pedro (your poison records), que está atualmente no

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brasil, também deve enviar para todo o lado, julgo. Todos possuem imensos contactos, resultantes de toda uma vida passada nestas lides. Quanto a espetáculos lá fora, poderá surgir uma oportunidade no futuro, uma parceria com alguma banda ou até um convite, mas logisticamente é muito complicado. Como tal, para já, queremos tocar bastante em portugal, queremos levar o nosso som tóxico a todos!

EMBORA O ÁLBUM TENHA SIDO EDITADO APENAS EM MAIO JÁ EXISTEM IDEIAS PARA NOVOS TEMAS. O QUE É QUE ESPERA OS NOSSOS HUMILDES OUVIDOS? R U I V IE IR A : Aposta na continuidade. Baktheria vai ser isto daqui para a frente. Rápido, violento, penetrador, um valente “fuck off and die” para todos! Se quiser incorporar novos elementos, fundo outro projeto e aí despejo essas ideias. Com baktheria vai ser isto, as pessoas poderão contar, daqui para a frente, com esta dose brutal de barulho, berraria, temas curtos e grossos, sem merdas, sem truques, puros e prematuros orgasmos sónicos.

SENDO TU E O RUI MARUJO VERDADEIROS WORKAHOLICS, E DESDOBRANDO-SE POR INÚMEROS PROJETOS NAS MAIS DIVERSAS VERTENTES DO UNDERGROUND, COMO ENCONTRAM TEMPO PARA FAZER TANTA COISA? R U I V IE IR A : É tudo uma questão de tempo e organização mas não só. Eu tenho tempo e sou um gajo organizado, mas também com muita vontade e capacidade de sacrifício. Acima de tudo, sacrifício. Podes ter tempo mas, sem suor, sem sofrimento, também não consegues nada. Tens de batalhar, tens de abdicar de muita coisa e fazer opções, por vezes complicadas, e nunca, nunca podes estar satisfeito. Só assim poderás alcançar a excelência enquanto artista e ser um digno membro desta coisa incrível que se chama música, a arte primeira!

JÁ GRAVASTE ÁLBUNS COM MISS 5 1 / VERSUS MAGAZINE


“COM BAKTHERIA VAI SER ISTO, AS PESSOAS PODERÃO CONTAR, DAQUI PARA A FRENTE, COM ESTA DOSE BRUTAL DE BARULHO, BERRARIA, TEMAS CURTOS E GROSSOS, SEM MERDAS, SEM TRUQUES, PUROS E PREMATUROS ORGASMOS SÓNICOS.# CADAVER, MACHINERGY, BAKTHERIA E ESTARÁS A PREPARAR-TE PARA FAZER O MESMO COM CISNE NEGRO, SEM ESQUECER AS DEMOS REGISTADAS COM BICÉFALO OU IMUNITY. ÉS UM PILAR ESSENCIAL DO FÓRUM IRMANDADE METÁLICA, BEM COMO DA ZINE E DO FESTIVAL A ELE ASSOCIADOS. ESTIV ESTE NA GÉNESE DA CENA METÁLICA EM ARRUDA DOS VINHOS, TUA TERRA NATAL. ALÉM DISSO, ASSUMES-TE COMO UM DIVULGADOR NATO DO UNDERGROUND E COLABORAS FREQUENTEMENTE EM ÓRGÃOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL INDEPENDENTES. ANALISANDO EM RETROSPETIVA ESTE RIQUÍSSIMO E DIVERSIFICADO PERCURSO QUE DELINEASTE AO LONGO DOS ÚLTIMOS 25 ANOS, O QUE É QUE TE APRAZ DIZER? RUI VI E I R A: Tenho tentado dar o meu contributo mas sem ser pensado globalmente. Tudo é um trabalho de equipa, com várias pessoas, nomeadamente no fórum da irmandade metálica. Mas tudo é feito com um prazer imenso, por respeito ao metal, à música, à arte. Na verdade, nunca estive parado, tentei sempre fazer algo, principalmente a nível musical. Costumo dizer “temos de matar o tempo antes que ele nos mate a nós” e esse mote regula-me todos os dias. A minha cabeça está 24/7 a pensar em nova música, em novos projetos, estou em constante estado de ebulição criativa. É bom para prevenir o alzheimer [risos].

5 2 / VERSUS MAGAZINE

O QUE É QUE AINDA GOSTARIAS DE ALCANÇAR ARTISTICAMENTE E ENQUANTO DIVULGADOR? R U I V IEIR A : Como qualquer artista que se preze, gostava, no meu caso, de criar, ou de estar envolvido num álbum que se tornasse um milestone, um landmark na cena mundial. Qualquer um deseja isso, pelo menos quem batalha continuamente, quem está em constante guerra artística. Mas não há uma fórmula para isso, tens de fazer as coisas acontecer, de outra forma não consegues. Mais do que a fama (apesar de as coisas estarem, de certo modo, interligadas), esse seria o melhor reconhecimento, o prémio supremo. Deixar um legado musical no mundo, marcar a vida das pessoas, é algo lindo. Enquanto divulgador (unção que, de certa forma, é secundária para mim), pretendo sem dúvida deixar uma marca com a irmandade metálica (que, no entanto, julgo já existir) e, eventualmente, com outros projetos futuros que irão surgir, com certeza.

QUE FUTURO PRÓXIMO VATICINAS PARA O UNDERGROUND NACIONAL? RUI V IE IR A : Não vaticino, sinceramente. Acho que será o normal. É como o país. Continuaremos, de certo modo, a marcar passo, apesar de existir sempre uma inevitável evolução,

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a nível criativo e tecnológico. Este país tem uma falha gravíssima: o desprezo pela cultura, que é a maior riqueza de um povo. O underground acaba, obviamente, por ser afetado. É inevitável. Consumimos notícias, vivemos a realidade dos números e tudo isso influencia as vontades. Economicamente, os custos também podem ser inibidores, por exemplo que respeita a comprar um instrumento, pagar estúdios, etc. Mas, por outro lado, underground também é luta, existe contra tudo isso, portanto é uma questão dúbia. Enfim, é continuar a lutar, a fazer acontecer!

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ENTREVISTA

MAGAZINE

«ORIGINS» É UM POUCO MAIS ELABORADO DO QUE O ÁLBUM ANTERIOR. HÁ MAIS ORQUESTRAÇÃO, MAIS COROS E AS ESTRUTURAS DAS MÚSICAS SÃO MAIS COMPLEXAS COM MAIS COISAS A ACONTECEREM.”

ELUVEITIE INCURSÕES GÓTICAS O S E L U V E I T IE S ÃO UM A BANDA QUE GO S TA PO U C O DE PAR A R E Q U E, S EMPR E QU E P O D E, E X P E R I ME N TA N O VAS AVENT URAS POR FESTI VAI S PO R VEZES UM P O U C O FOR A DO SEU ALVO . D ES TA V E Z , A I N C U R S Ã O OCORREU NO M AIOR FES TI VAL G Ó TI C O D O MUNDO , O WAVE G O TTI K TR EFFEN , E A V E R S U S M A G A ZINE T EVE O PRAZER DE FALA R CO M A BELA ANNA MU R P H Y AC ER C A DO ES TA D O A C TU A L D A B A N DA E DOS SEUS DESAFI OS E P R O J EC TO S PAR A LELO S EM QU E SE EN V O LV E. Por: E D U A R D O R O C H A VIVA ANNA. ACAB ARAM DE DAR UM CONCERTO FANTÁSTICO AQUI NO WGT. COMO VÊS ESTE TIPO DE FESTIVAIS EM COMPARAÇÃO COM OS OUTROS EM QUE A BANDA JÁ TOCOU EM TODO O MUNDO? ANNA: Viva! Foi muito bom. O público foi brutal e o palco era enorme. O público é diferente daquele que normalmente temos porque não temos muita gente que

se veste como os fãs no WGT mas tudo isto fez com este concerto fosse mais especial e uma nova experiência para nós.

Há mais orquestração, mais coros e as estruturas das músicas são mais complexas com mais coisas a acontecerem.

COMO COMPARAS O ESTE ÁLBUM COM OS ANTERIORES? QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS DIFERENÇAS E ELEMENTOS COMUNS?

VOCÊS SOFRERAM RECENTEMENTE BASTANTES MUDANÇAS DE LINEUP COM A ENTRADA DA LINDÍSSIMA NICOLE ANSPERGER (N.R. – ENTRETANTO A NICOLE JÁ SAIU DA BANDA TENDO SIDO SUBSTITUÍDA PELA NÃO MENOS BELA SHIR-RAN

A N N A : O «Origins» é um pouco mais elaborado do que o álbum anterior.

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“EU DIRIA QUE O NOSSO MAIOR FEITO FOI DESISTIR DOS NOSSOS TRABALHOS E FAZER DE ELUVEITIE O NOSSO TRABALHO A TEMPO INTEIRO.” YINON RESIDENTE EM LEIPZIG) E COM A ENTRADA DO TALENTOSO E LINDÍSSIMO RAFAEL SALZMANN (N.R. – ESTES ELOGIOS FORAM ADICIONADOS PELA PRÓPRIA ANNA RISOS). COMO INFLUENCIARAM A ESCRITA DO NOVO MATERIAL? ANNA: Não influenciaram muito uma vez que o Chrigel e o Ivo são os principais compositores. Eles influenciaram bastante com a sua maneira de tocar.

ESTE ÁLBUM PARECE O MAIS COMPLEXO E DESAFIANTE DE TODA A VO SSA DISCOGRAFIA. FOI DIFÍCIL CONSEGUIREM FAZER UM ÁLBUM TÃO BOM? ANNA: Eu não acho que seja complicado. Requer bastante tempo e trabalho. Mas há uma razão para sermos músicos…é isto que fazemos, é este o nosso talento (risos).

OS ELUVEITIE ESTÃO NA CENA HÁ JÁ ALGUNS ANOS. COMO VÊS A CENA ACTUAL COM TANTAS BANDAS NOVAS A SURGIR COM FREQUÊNCIA? ANNA: Não presto muita atenção à cena e não estou actualizada com novos lançamentos. Se ouço alguma coisa de que gosto é mais por coincidência. E não acho que há falta de originalidade, só acho que é mais difícil aparecer com algo novo uma vez que tantas facetas já foram combinadas e usadas. Mas também acho que não é necessário fazer algo completamente diferente de tudo o resto. Se uma banda é boa, eles podem ser bons a fazer algo que já tenha sido feito algumas vezes antes. Nós mantemo-nos relevantes porque fizemos de Eluveitie a nossa vida e não apenas a nossa banda. Estamos em tour o máximo de tempo possível, mantemo-nos em contacto com a nossa base de fãs e tentamos sempre aparecer com novas ideias.

AO LONGO DOS ANOS, QUAL DIRIAS QUE FOI O MAIOR FEITO DOS ELUVEITIE COMO BANDA? HÁ ALGUM EPISÓDIO QUE QUEIRAS PARTILHAR

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DE MODO QUE OS FÃS SE TORNEM MAIS CONSCIENTES DOS DESAFIOS DE UMA BANDA? A N N A : Eu diria que o nosso maior feito foi desistir dos nossos trabalhos e fazer de Eluveitie o nosso trabalho a tempo inteiro. Alguns de nós ainda têm algumas actividades paralelas, como é óbvio, mas também houve o tempo em que realmente tínhamos que lutar para colocar as nossas tours em concordância com os nossos empregos. Eu só posso falar por mim no que toca às lutas que uma banda que toca tanto como nós tem que enfrentar. Acho que somos extremamente afortunados por termos o trabalho que temos. O que acho difícil é tocar em concertos em condições bastante adversas, tais como estar doente... Quando estás em tour durante meses e tocas quase todos os dias, é normal que fiques doente com um vírus ou que o teu corpo se foda de uma maneira ou de outra (risos).

NESTES TEMPOS EM QUE AS PESSOAS CONSEGUEM ACEDER A QUALQUER MÚSICA ATRAVÉS DA INTERNET, O QUE LEVANTA BASTANTES PROBLEMAS ÀS BANDAS POIS TORNA PRATICAMENTE IMPOSSÍVEL SOBREVIVER AS VENDAS DE CDS E NUMA ALTURA EM QUE O SPOTIFY TORNA QUALQUER ÁLBUM DISPONÍVEL E NUMA ALTURA EM QUE AS BANDAS SE QUEIXAM DESTE MODELO DE NEGÓCIOS, QUE DESAFIOS VÊS PARA UMA BANDA NA VOSSA CENA? COMO PODEM SOBREVIVER NESTE CENÁRIO? ESTA QUESTÃO VAI SER RESPONDIDA PELO MERLIN QUE É O EXPERT NESTES ASSUNTOS. M ER LIN : Colocaste a questão de uma maneira bastante precisa e adequada. A questão não é se os serviços de streaming são bons ou não; ou se pagam o suficiente ou não. Estes serviços representam o futuro (ou o presente, por enquanto) e os modelos de compensação já pagam a maior parte dos lucros deles. Eu, por mim, não irei comprar mais nenhum CD pois, como disseste, o dinheiro perde-se em “middlemen” muitos dos quais já nem são necessários e que assinam

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bandas em acordos que não são justos para elas. Recentemente li um comentário de um rapper suíço bastante famoso que denunciou a Apple Music enquanto também admitia que não recebia nenhuma compensação dos streams do Spotify pois estes são promocionais. Outros recebem compensações de 15% a 20% que representa o mesmo que receberiam pelas vendas físicas. Estas comissões deveriam ser de cerca 50% e isso apenas se a editora investisse em produção e/ou promoção (eu gostaria de mencionar que o acordo que os Eluveitie assinaram com a Nuclear Blast é bastante justo no que toca a compensação digital). Contractos unilaterais também não são nada de novo na indústria musical e ainda não há uma solução para isto. Artistas desconhecidos não fazem ideia do que são negociações para um contracto mas terão a oportunidade de se educarem rapidamente e resolverem problemas quando chegar a altura de renegociarem o acordo. Eles devem tentar e limitar os contractos a um mínimo e as editoras irão oferecer um mínimo de justiça se quiserem manter os artistas durante a sua carreira. Há uma coisa que todos podemos fazer entretanto, tanto músicos como fãs: abraçar a nova tecnologia, começar a pagar pela música outra vez, ao valor que considerarem justo, e, finalmente, trazer para casa uma nova maneira de pensar e de consumir música que tem estado anos a ser preparada.

OBRIGADO ANNA! A NNA : Cheers & rock on!

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ENTREVISTA

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“…A EXPERIÊNCIA QUE TRAZIA DOS INFERNAL KINGDOM PERMITIU-ME NÃO REPETIR OS ERROS DO PASSADO”

KING DEMOGORGON REI DO SUBMUNDO INFERNAL K I NG D E M O G O R G ON É UM A FIGURA BEM CONHEC I D A ENTRE A S H O S TES D O B LA C K META L. HI S T Ó R I C O F U N D A D O R D O S I N FERNAL KINGDOM , APÓS O FI M DA B A NDA R U MOU A O TEX A S , NO S ES TAD O S U N I D O S , ONDE TEM DADO O SEU CONTRIBUTO AO UNDERGROUND EM NUMEROSOS GRUPOS, DOS QUAIS SE DESTACAM O S S A R D O N I C W I THCERY, E TAM BÉM NA ORGANI ZAÇ Ã O D E C O NCERTO S . FA LÁ MOS C O M O MULTI FA C ETA D O MÚ SIC O S O B R E A SUA INT EGRAÇÃO NA CENA TEX A NA E P ER S P ETI V Á MOS O Q U E O FU TU R O LH E R ES ERVA , MU SIC A L ME N T E FALANDO. ERGAM OS DEDOS I NDI C A D O R E MI ND I NHO E S A Ú D EM O S ENHO R D A S T R EVA S ! Por: dico EMIGRASTE PARA OS ESTADOS UNIDOS EM 2011, TENDO DEIXADO PARA TRÁS, EM PORTUGAL, UMA CARREIRA COM OS INFERNAL KINGDOM (QUE CHEGARAM AO FIM NESSE ANO), UMA DEMO EM NOME PRÓPRIO E UMA OUTRA COM OS PSYCOTHRONE. JÁ NO TEXAS, TOCASTE BAIXO E BATERIA NOS NOCTURNAL WOLF ENTRE 2012 E 2013 E FOSTE BATERISTA DOS JUDAS GOAT (2013/2014). PORTANTO, NÃO

PERDESTE TEMPO. FALA-ME DESSAS TUAS PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS MUSICAIS NUM PAÍS DIFERENTE, SEM GRANDE TRADIÇÃO EM TERMOS DE BLACK METAL. DE QUE FORMA FOI A TUA INTEGRAÇÃO MUSICAL NO TEXAS E EM PARTICULAR NA CENA DE DALLAS, ONDE RESIDES? K IN G D EMO G O R G O N: Na verdade, quando decidi vir para os Estados Unidos, em fevereiro de 2011, tinha

dito a mim próprio que ia deixar esta vida negra. [risos], mas não aguentei muito tempo. Conheci um salvadorenho que estava a fundar aqui em Dallas uma banda de Heavy Metal, os Era de Guerra, com quem toquei baixo. Depois mudámos o nome para Age of Fire e fui conhecendo mais pessoal da cena, todos hispânicos. No entanto, a banda não trabalhava como eu gosto, portanto saí antes mesmo de darmos concertos. 5 5 / VERSUS MAGAZINE


“QUANDO CHEGUEI A DALLAS HAVIA TRÊS OU QUATRO BANDAS PRATICANTES DE BLACK METAL”

Então, conheci o pessoal dos Lobo Nocturno. Tinham uma demo ranhosa e faziam um barulho infernal, portanto gostei da onda e decidi ajudá-los [risos]. Três meses depois já tínhamos um novo nome – Nocturnal Wolf – e dávamos concertos, mas após gravar a demo saí para me dedicar totalmente aos Sardonic Witchery. Estávamos em janeiro de 2012. Nessa altura já gravara a primeira demo dos Sardonic Witchery, em que eu próprio fiz as vozes. Recrutei músicos de sessão para os concertos e estreámo-nos ao vivo em outubro de 2013. Eu próprio organizei o concerto, já que em Dallas a cena Black Metal era quase inexistente.

E A FORMAÇÃO DOS JUDAS GOAT? CONSTA QUE FOI ALGO INESPERADA. KING DE M OGORGON : A história da formação dos Judas Goat é engraçada. Tudo aconteceu durante o planeamento do primeiro festival que organizei aqui, e onde os Sardonic Witchery se estrearam ao vivo. Uma das bandas

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convidadas cancelou o espetáculo duas semanas antes do evento. Então, dado que não havia grupos interessados em abrir o festival (ninguém quer tocar às 20h00) eu e o Manic Blades [guitarrista de sessão nos Sardonic Witchery] decidimos formar os Judas Goat para ocupar a vaga em aberto. Em duas semanas compusemos quatro originais e completámos o set com duas covers. Eu toquei bateria e fiz as segundas vozes, ele cantou e tocou guitarra. Depois de mais alguns concertos parámos para incorporar novos elementos e um ano mais tarde gravámos a demo de estreia, “Speed n’ Raw”. No entanto, apesar de fazer praticamente tudo na banda, decidi sair. Não vou entrar em pormenores, mas sou demasiado severo com aquilo que faço e já não tenho a paciência que tinha há 10 anos.

VOLTANDO UM POUCO ATRÁS, EM 2012 FORMASTE OS SARDONIC WITCHERY, A TUA PRIORIDADE A NÍVEL M USICAL. DESDE ENTÃO, JÁ GRAVASTE COM A BANDA UMA DEMO, TRÊS SPLITS E UM LONGA-DURAÇÃO.

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COMO VÊS A RECETIVIDADE A ESTES REGISTOS? K ING D E M O G O R G O N: Foi tudo bastante rápido, não esperava uma recetividade tão boa, mas a experiência que trazia dos Infernal Kingdom permitiu-me não repetir os erros do passado. Após o primeiro concerto tive diversas ofertas para tocar ao vivo como headliner e outras para abrir espetáculos de grandes bandas como Absu, Imprecation, etc. Começou a chegar-me bastante apoio dos fãs que, um pouco por todo o mundo, seguiam o meu trabalho nos Infernal Kingdom. Senti uma enorme força para com os Sardonic Witchery. Graças a esses guerreiros infernais, a banda já se encontra a um nível alto no Underground mundial, e isto em apenas três anos.

APESAR DE, SEGUNDO DIZES, PRATICAMENTE NÃO EXISTIR UMA CENA BLACK METAL QUANDO CHEGASTE A DALLAS, FOI SIMPLES ENCONTRAR QUEM QUISESSE TOCAR ESTE GÉNERO DE MÚSICA?


“…O TEXAS ESTÁ A MIL ANOS-LUZ DE PORTUGAL NO QUE RESPEITA AO UNDERGROUND. A CENA PORTUGUESA É UMA DAS MELHORES DO MUNDO.” KING DE M OGORGON : É fácil encontrar por aqui guitarristas e baixistas de grande qualidade. Não digo que sejam verdadeiros fãs de Black Metal, mas não era isso que me interessava. Basta acreditarem naquilo que faço. No que respeita aos bateristas aqui o Hardcore domina, e na verdade a maior parte deles são maus. Fiz audições a muitos bateristas – inclusive, alguns deles tocam em bandas bem reputadas aqui no Texas -, mas foi muito difícil encontrar alguém decente. Acabei por fazer vários concertos a acumular a bateria e a voz, até que finalmente encontrei alguém para tocar Metal old school.

ESTES MÚSICOS INTERVÊM ESTRITAMENTE NOS ENSAIOS E NOS CONCERTOS OU DÁS-LHES A OPORTUNIDADE DE CONTRIBUIR A NÍVEL DE COMPOSIÇÃO, ESCRITA DE LETRAS E GRAVAÇÃO DOS DISCOS? KING D E M OGORGON : Estes músicos estão apenas designados para tocar ao vivo. Componho todas as músicas e escrevo todas as letras da banda, além de fazer as captações, mas tenho sempre convidados para gravar os solos de guitarra. Esse não é o meu forte.

JÁ NOS ESTADOS UNIDOS CRIASTE A UNDERGROUND LONGHORNS RECORDS, COM O OBJETIVO PRIMORDIAL DE LANÇAR OS TEUS REGISTOS DISCOGRÁFICOS. DE QUE FORMA TEM SIDO A IMPLANTAÇÃO DA EDITORA NO CENÁRIO LOCAL, TENDO EM CONTA TAMBÉM O FACTO DE, NOS PRIMEIROS TEMPOS, TERES CHEGADO A EDITAR REGISTOS DE OUTRAS BANDAS? KING DE M OGORGON : A Underground Longhorns Records foi especificamente criada para editar os meus próprios trabalhos. Com efeito já lancei registos de outras bandas, mas a ideia principal é pôr a circular o meu material. Além de poder distribuir as minhas gravações, posso fazer o mesmo por outras bandas.

EM DALLAS, NO GERAL, COMO TÊM SIDO OS TEUS PROCESSOS DE

GRAVAÇÃO? A CAPTAÇÃO, A MISTURA, A PRODUÇÃO E A MASTERIZAÇÃO SÃO FEITAS NUM ESTÚDIO LOCAL OU TRABALHAS ESSENCIALMENTE EM CASA? K IN G D EM O G O R G O N: Já não pago a um produtor há muitos anos [risos]. Atualmente as bandas podem gravar na própria sala de ensaio, mas obviamente que se um dia alguma editora me propuser gravar num estúdio profissional não vou hesitar [risos].

COMO JÁ REFERISTE, TENS ORGANIZADO CONCERTOS NA ZONA ONDE VIVES. É FÁCIL ORGANIZAR CONCERTOS UNDERGROUND EM DALLAS E NO TEXAS EM GERAL, ESPECIALMENTE NO QUE RESPEITA A UMA SONORIDADE TÃO ESPECÍFICA COMO O BLACK METAL? K IN G D EM O G O R G O N: Bom, organizar é sempre fácil, a questão que se coloca é se haverá recetividade. E a resposta é “não”, como em todo o lado. Quando cheguei a Dallas havia três ou quatro bandas praticantes de Black Metal. A cidade tem milhares de músicos de Metal, portanto podes imaginar. Os proprietários e gerentes dos bares hispânicos eram recetivos a acolher espetáculos de Black Metal, mas quando ia aos bares americanos propor-lhes a realização de concertos do género os donos riam-se na minha cara, tipo: “meu, sabes onde estás?” Não estavam interessados em receber concertos de Black Metal porque a afluência de público é baixa. Consegui concretizar o meu objetivo em Deep Ellum, um lugar com cerca de 30 bares onde todas as noites tocam dezenas de bandas. Nessa época, quando aqui cheguei, esses espaços ainda não recebiam grupos de Black Metal, mas uma noite consegui juntar uma banda hispânica e outra americana, que trouxeram público de ambas as etnias. Nessa altura não era comum acontecer algo do género, mas agora funciona.

EXISTEM AÍ BOAS SALAS PARA ATUAR AO VIVO?

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K ING D E M O G O R G O N: Existem excelentes condições, excelentes bares... Normalmente, as gerências pedem $250.00 [NR: pouco mais de 226 euros] para teres a noite para ti, incluindo um técnico de som. Em termos de adesão, num concerto de Black Metal a média ronda as 50/60 pessoas. Com Sardonic Witchery já tive 100 pessoas num concerto algo inédito por aqui, pois só mesmo os Absu conseguem ter um pouco mais [risos].

COMO DEFINES A CENA UNDERGROUND LOCAL, SEJA A NÍVEL DE BANDAS, CONCERTOS, COMUNICAÇÃO SOCIAL, ETC.? K ING D E M O G O R G O N: Quase inexistente, o Texas está a mil anosluz de Portugal no que respeita ao Underground. A cena portuguesa é uma das melhores do mundo. Há que ter orgulho naquilo que temos. Aqui há o Destroying Texas Festival, em Houston, e existem algumas pequenas elites, mas nada preocupante [risos]. Para um estado tão grande, a cena Underground é realmente pequena. Poderia rapidamente nomear 50 bandas underground portuguesas, mas teria que pensar bastante para referenciar 30 grupos do Texas. Como disse, aqui o Hardcore domina. Existem algumas bandas interessantes de Death Metal, Grindcore e Thrash, mas ainda assim numericamente pouco relevantes se tivermos em conta a dimensão do Texas.

O TEU ÚLTIMO REGISTO DE ESTÚDIO COM OS SARDONIC WITCHERY É O SPLIT “IRRADICATION OF THE HUMAN PLAGUE”, EDITADO JÁ ESTE ANO COM OS SATERDUM, BLACK COMMAND E SONNEILLON BM. PARA QU ANDO UM NOVO LONGA-DURAÇÃO OU DEMO DOS SARDONIC WITCHERY? K ING D E M O G O R G O N: J á estou a trabalhar no segundo álbum, que deverá estar cá fora no próximo verão. Para 2016 os fãs podem ainda esperar um split com os Flagellum Dei e um outro com as bandas texanas Plutonian Shore, Misanthropical e Throne of Blood. Em dezembro deste ano vou dar

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“COM SARDONIC WITCHERY JÁ TIVE 100 PESSOAS NUM CONCERTO ALGO INÉDITO POR AQUI (…) SÓ MESMO OS ABSU CONSEGUEM TER UM POUCO MAIS” os meus últimos concertos por algum tempo e dedicar-me ao que realmente mais interessa, que é a música. Podem esperar um ano cheio de nova música por parte dos Sardonic Witchery.

A TUA ÚNICA DEMO A SOLO JÁ DATA DE 2010. PERSPETIVAS A POSSIBILIDADE DE VIR A EDITAR UM OUTR O REGISTO EM NOME PRÓPRIO OU ESSA FOI UMA AVENTURA ÚNICA? KING D E M OGORGON : Estou a preparar novo material a ser editado em 2016. Musicalmente será na mesma linha, mas com um novo registo vocal da minha parte. Julgo que agora sim, encontrei o caminho certo para este projeto único que é King Demogorgon.

EM DEZEMBRO VAIS ATUAR AO VIVO COM O PROJETO ESPANHOL CRYMEFAL, COM QUEM JÁ TINHAS TOCA DO EM 2010. É UMA PARCERIA PARA MANTER? KING D E M OGORGON : Na verdade não sei o que o futuro trará, mas adoro Crymefal e é uma honra poder ajudar o meu amigo Ebola a concretizar um dos seus objetivos, que é atuar ao vivo. Já o fiz em 2010 em Portugal e agora, cinco anos depois, voltarei a fazê-lo, desta feita nos Estados Unidos. É uma grande responsabilidade e um bom desafio. Gosto disso. Ele envia-me as tablaturas e eu organizo uma banda para tocar ao vivo. Em 2010 toquei baixo, agora vou tocar bateria.

AO LONGO DE TODOS ESTES ANOS DE CARREIRA JÁ GRAVASTE E TOCASTE AO VIVO GUITARRA, BAIXO, BATERIA E CANTASTE. ESTA OPÇÃO FOI SEMPRE FRUTO DAS CIRCUNSTÂNCIAS OU HOUVE OUTRAS RAZÕES POR TRÁS DELA? KING D E M OGORGON : Sim, na verdade foi fruto das circunstâncias. Com os Infernal Kingdom comecei a tocar guitarra ao vivo, mas acabei por fazer a tour Europeia na bateria. Tudo dependia dos músicos que encontrava para tocar ao vivo – se não tínhamos baterista tocava eu, se havia baterista mas 5 8 / VERSUS MAGAZINE

não guitarrista ocupava-me da guitarra. E assim foi acontecendo. Nesse tempo, o mais importante era não cancelar os compromissos, mas com os Sardonic Witchery não voltarão a ver-me senão como vocalista ao vivo.

DE TODOS ESTES INSTRUMENTOS QUAL É AFINAL AQUELE QUE MAIS TE REALIZA ENQUANTO EXECUTANTE?

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EM DALLAS OS FÃS DE METAL TÊM ALGUM CONHECIMENTO, AINDA QUE REMOTO, DO METAL PORTUGUÊS? K ING D E M O G O R G O N: Na realidade só conhecem os Moonspell. Eles tocam todos os anos aqui, portanto muitos nem sabem que são Portugueses. Quando digo que sou português julgam que vim do Brasil [risos].

K IN G D EMO G O R G O N: A bateria.

DE MOME NTO TENS OUTROS PROJETOS EM CARTEIRA? K IN G D EMO G O R G O N: Não, apesar de ter feito algumas músicas ambientais e acústicas de que gostei bastante, mas ainda não pensei o que vou fazer com esse material. De resto, como disse, em dezembro vou atuar com os Crymefal e dar os meus dois últimos concertos com os Sardonic Witchery (em Maryland e em Dallas) durante algum tempo, para me concentrar nos registos de estúdio.

QUERES DEIXAR ALGUMAS PALAVRAS AOS NOSSOS LEITORES? K ING D E M O G O R G O N: Hail ao nosso underground, um grande abraço a todos aqueles que me têm apoiado durante os últimos 15 anos e também àqueles que quiseram derrubar-me, pois fizeram de mim um guerreiro mais forte. Mesmo do outro lado do Atlântico, estarei sempre atento ao nosso Underground e a apoiá-lo.

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PHIL “PHILTHY ANIMAL” TAYLOR A BESTA MORREU, VIVA A BESTA Por: dico Se há banda que em meados dos anos 70 se apresentava em contracorrente face ao contexto musical da época são os Motörhead. Apesar disso, o trio influenciaria movimentos musicais (sendo o Punk Rock e a New Wave of British Heavy Metal os mais óbvios) e, posteriormente, uma miríade de subgéneros de Metal. Na verdade, seria o line-up clássico do grupo, constituído por Lemmy Kilmister (voz/baixo), “Fast” Eddie Clarke (guitarra) e Phil “Philthy Animal” Taylor (bateria), a inspirar a génese do Metal extremo nas suas múltiplas ramificações e subgéneros. As batidas rápidas e pujantes de Phil Taylor (segundo baterista dos Motörhead, substituto de Lucas Fox), a par da sua técnica de duplo bombo, pouco utilizada na época, influenciaram uma miríade de bateristas que viriam, eles próprios, a tornar-se influentes. A intensa presença em palco do músico afirmar-se-ia, também, como uma das suas imagens de marca. Phil Taylor nasceu a 21 de setembro de 1954 em Chesterfield (Inglaterra). Integrou os Motörhead em dois períodos – 1975/1984 e 1987/1992 -, tendo gravado com a banda os álbuns On Parole (que, embora captado em 1975, viria a ser editado apenas em 1979), Motörhead (1977), Overkill (1979), Bomber (1979), Ace of Spades (1980), No Sleep ‘till Hammersmith (registo ao vivo de 1981), Iron Fist (1982), Another Perfect Day (1983), Rock ‘n’Roll (1987), No Sleep At All (longa-duração ao vivo editado em 1988), 1916 (1991) e March or Die (1992). No início dos anos 80 o baterista sofreria lesões graves, das quais viria a recuperar mas com algumas mazelas. Após a gravação de Ace of Spades Taylor partiu o pescoço quando um amigo o levantou no ar e o deixou cair. Já antes, partira uma mão ao esmurrar um homem. Apesar disso, não cancelou espetáculos, encontrando antes uma original solução – colava a baqueta à mão, que envolvia com fita adesiva, para poder tocar. A má relação que Taylor desenvolvera com Lemmy motivaria a sua primeira saída da banda, em 1984. Entre esse ano e 1987 o baterista manteve-se ocupado - tocou com os Waysted, integrou a banda ao vivo do rocker Frankie

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Miller e, com Brian Robertson (ex-guitarrista dos Thin Lizzy), formou os Operator. Regressaria em 1987 ao grupo que lhe deu fama, embora efemeramente. A par da sofrível prestação em March or Die, as antigas quezílias que Taylor mantinha com Lemmy ditaria o afastamento definitivo do baterista em 1992. Desde então, o percurso do músico seria errante. Taylor manteve-se afastado por mais de uma década, regressando ao ativo de forma consistente apenas em meados da primeira década do milénio (antes, em 2002, gravara o tema “A Long Dry Season” para o álbum Dr. Crow, dos The Deviants). Com efeito, entre 2005 e 2008 o baterista integrou os The Web of Spider, banda que incluía o guitarrista Whitey Kirst (Iggy Pop). Ainda em 2007 funda os Capricon (título de um tema clássico dos Motörhead) com Todd Youth (exguitarrista dos Danzig), Phil Caivano (exguitarrista dos Monster Magnet) e o baixista C o r e y Parks (exNashville Pussy). Apesar dos nomes envolvidos, dos Capricon não reza a história. Na verdade, Taylor não mais encontraria o seu caminho. Participou em Nothing to Lose (2012), o primeiro álbum a solo do ex-guitarrista dos W.A.S.P. Chris Holmes, também ele caído em desgraça, após o que gravou meramente temas pontuais nos álbuns Sheep in Wolves’ Clothing (2008) e Portobello Shuffle (2009), dos The Deviants. O mítico baterista morre a 11 de novembro de 2015, alegadamente na sequência de problemas renais resultantes de enfermidade não identificada.

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GHOST + DEAD SOUL HARD CLUB – PORTO 27.11.2015

GHOST CONCERTO INFERNAL! A noite musical começou cedo com entrevista aos Dead Soul uma banda recentemente descoberta e que mistura de uma forma muito interessante o blues, industrial e doom (?) tendo ganho já o epíteto de “industrial doom blues” ou “electronic blues”. Como se pode pode ver (e ouvir) são géneros díspares que não querem dizer absolutamente nada. A música consegue sobreviver muito bem a esta dicotomia que reina nas influências do duo Anders Landelius (respeitado músico de blues) e o multi instrumentalista/ productor Niels Nielsen ligado mais à música electrónica. E acredito que cada um possa ter descrevê-la de formas tão diferentes como os estilos mencionados anteriormente mas também acredito que este estilo não possa ser bem assimilado.

Após uma conversa extremamente simpática e salutar com Anders e Niels a minha curiosidade adensou-se ao saber que no palco só estariam três músicos! Ficámos a saber que «The Sheltering Sky» é gravado com bateria programada, no entanto, soa incrivelmente orgânica. (A entrevista será reproduzida na integra na página do facebook da VERSUS). O Dead Soul subiram, então, ao palco para apresentarem o seu mais recente álbum e não desiludiram. O tempo foi escasso mas o duo Sueco (mais Joakim Ekstrand) aqueceram as almas e a esmagadora maioria do público ficou convencida (e porque não) rendida ao som híbrido criado por estas almas vivas. No entanto, a malta estava lá para

ver e ouvir os Ghost. A banda Sueca estreou-se em Portugal sendo que os bilhetes esgotaram para as duas datas. Às 17h já algum público aguardava à entrada, fazendo antever que a noite prometia. Quando o cheiro a incenso começou a pairar no ar, o público começou a agitar-se e o ambiente a aquecer exponencialmente. Quanto a isto, uma palavra para a organização do espectáculo e ao Hard Club: numa sala cheia, a temperatura da sala tornouse quase insuportável, levando a que as portas laterais fossem abertas – em muitos concertos naquela sala nunca vi tal acontecer. Mas aquela noite só podia ser “fantasmagórica” e depois da introdução os Ghost arrancaram logo com os dois primeiros temas de «Meliora» - “Spirit” e “From the Pinnacle to the Pit”, tocando 61 / VERSUS MAGAZINE


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ainda mais cinco do mesmo álbum – pois claro, há que promover o mais recente e excelente trabalho. O público, esse, acompanhou sempre a energia espiritual que emanava do palco, não se preocupando minimamente com o calor infernal que se fazia sentir na sala. “He is”, “Body and Blood”, e o tema que encerrou o espectáculo, por exemplo, foram acompanhados por quase todos na sala. Papa Emeritus III sempre manteve o diálogo com o público e com muita boa disposição à mistura, mesmo na presença das 3 freiras tugas que entraram e adornaram “Body and Blood”, levando o público ao rubro! O apogeu final aconteceu com “If You Have Ghosts” de Roky Erickson e “Monstrance Clock”. A banda agradeceu e o público foi notável! O som da homilia estava quase imaculado e estivemos perante um dos maiores concertos a que o Hard Club já assistiu. Só podemos esperar que tenhamos mais missas como esta! Ámen! F otos:

Eduardo Ramalhadeiro Reportagem: Eduardo Ramalhadeiro e Bruno Manarte (Agradecimento especial à PRIME ARTISTS)

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Setlist:

Miserere mei, Deus (Gregorio Allegri song) Masked Ball (Jocelyn Pook song) Spirit From the Pinnacle to the Pit Ritual Con Clavi Con Dio Per Aspera ad Inferi Majesty Body and Blood Devil Church Cirice Year Zero Spöksonat He Is Absolution Mummy Dust Ghuleh/Zombie Queen If You Have Ghosts (Roky Erickson cover) Encore: Monstrance Clock


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FEAR FACTORY + ONCE HUMAN + DEAD LABEL PARADISE GARAGE – LISBOA 15.11.2015

FEAR FACTORY 20 ANOS A digressão europeia que serve para comemorar os 20 anos de «Demanufacture» arrancou em Lisboa e que melhor inicio poderia ter sido senão com uma sala cheia e ávida de ouvir os temas clássicos de uma banda clássica. Foram uns Fear Factory em forma aqueles que se apresentaram na sala lisboeta, da mesma forma que foi bom ver que, aparentemente, os problemas entre Burton C. Bell e Dino Cazares estão lá atrás, perdidos no tempo. Sobre o concerto podemos dizer que foi um concerto dividido em duas partes, uma em que os Fear Factory destilaram todas as faixas de «Demanufacture», sim, eles tocaram todas e seguindo o alinhamento original, e onde ficou a sensação, generalizada, de que talvez o disco tivesse saído naquele dia e que, de facto, 6 4 / VERSUS MAGAZINE

aquelas malhas são intemporais. O publico entendeu isso e respondeu com a adrelina que malhas como «Dog Day Sunrise», «Replica» ou, claro, «New Breed», exceptuando algumas falhas, naturais, na voz de Burton tudo estava, quase, perfeito. Nesta fase do concerto foram uns Fear Factory mais contidos, menos comunicativos, mas eficazes no seu propósito. «A Therapy for Pain» foi o final da primeira parte do espectaculo e os Fear Factory saíram da boca de cena. Para a segunda parte do concerto, que podemos muito bem chamar de encore, se bem que mais longo que o normal, os norte-americanos voltaram com a disposição de partir a casa toda e, como se o mini break tivesse feito magia, a banda voltou com mais palavras, muitas delas calorosas e de redençao

para com o público que enchia o Garage. Foi aqui que a banda apresentou os «clássicos» «Edgecrusher» e «Shock», ambos de «Obsolete» e que, uma vez mais, fez a sala explodir e o publico moshar «à grande», houve, ainda, tempo para apresentar as novidades do novo «Genexus» sendo que a escolha recaiu sobre «Soul Hacker», «Dielectric» e «Regenerate» e foi a confirmação que os californianos estão de volta e, cada vez melhores. Para despedida a banda fez uma passagem pelo clássico «Martyr», do disco de estreia «Soul of a New Machine», foi um final apoteotico e decerto que ninguém saiu insatisfeito. O inicio da noite ficou a cargo do trio irlandês que dá pelo nome de Dead Label e que pratica um som que tanto bebe no MetalCore como


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no Death e que foi uma agradavel surpresa para quem, como eu, desconhecia a banda. Destacamos o trabalho da baterista, Claire Percival, que bate que é uma coisa doida. Uma agradavel surpresa. Quanto aos Once Human pouco há a dizer, também aqui o factor feminino existe, embora aqui na voz de Lauren Hart, porém o maior destaque vai para a presença de Logan Mader (ex-Soulfly, exMachine Head) na guitarra. Pouco existe a dizer sobre a banda, com uma prestaçao irrepreensivel mas com um som que não traz nada de novo, aliás, o nome de Angela Gossow pairou sempre no ar. Se um destaque existe na prestação dos Once Human ele vai, obrigatoriamente, para o clássico «Davidian» (Machine Head) e que levou ao rubro e ás primeiras movimentações nas filas da frente. Numa noite de peso e de celebração nem tudo pode ser positivo e, neste caso, o ponto menos bom vai para o nivel de som, nas três bandas, demasiado alto e, em alguns momentos, demasiado saturado. Não retira nada ás bandas em questão nem à qualidade dos concertos, mas uns niveis mais abaixo e o som estaria perfeito. Fotos: Joana M. Carriço Reportagem: Nuno Lopes (Agradecimento especial à PRIME ARTISTS)

Setlist:

Demanufacture Self Bias Resistor Zero Signal Replica New Breed Dog Day Sunrise (Head of David cover) Body Hammer Flashpoint H-K (Hunter-Killer) Pisschrist A Therapy for Pain Encore: Shock Edgecrusher Soul Hacker Dielectric Regenerate Martyr 65 / VERSUS MAGAZINE


LIVE VERSUS APOCALYPTICA / COLISEU – LISBOA 03.11.2015

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TRACER

O s f in l a n d e s e s A p o c a lip tyc a re g re ssa r a m , fin a lm e n te , a uma terra que sempre os abraçou e acari nhou desde o i ni ci o d e carrei ra. A es p e r a , q u e j á i a l on g a , te r m in o u e sta te r ç a - fe ir a , quando a banda mai s cl ási ca do Metal subi u ao pal co da sal a l i sb oeta para apres e n t a r S h a d o w m a ke r, o n o vissim o re g isto d a b a n d a e que serve de apresentação a Franky Perez como vocal i sta. Foi um C o l i s e u b e m c om p o sto q u e re c e b e u o s fin la n d e ses e a banda l i derada, como sempre, por Ei cca Toppi nen, não se fe z rogada e deu um c o n c e r t o p o d e ro so , o n d e o s n o vo s te m a s se in terl i gam, de for ma per fei ta, com o materi al mai s anti go da banda. Foram duas horas d e c o n c e r t o o n d e a b a n d a p a sse o u a su a m e str ia . R ei gn of Fear e Grace marcaram o i ni ci o do espectacul o dei xando, d es de l ogo, o pub l i c o à s u a m e rc ê . À te rc e ir a m a lh a su r g e F r a n ky P erez para uma I’ m not Jesus, cantada em uni ssono por todos, e que mos trou o porqu e d a e s c o l h a , P e re z re ve la - se u m vo c a lista e fic a z, entusi asta e, aci ma de tudo, com mui ta competênci a e ati tude, que es pel hou, igualm e n t e , n a n o v i d a d e Ho u se o f Ch a in s. Cla ro q u e fa lar de A pocal ypti ca é fal ar de versões e, de uma assentada a band a ati ra-nos Mas t e r o f P u p p e t s e I n q u isitio n S ym p h o n y, q u e o p u b lic o recebeu de vi va voz e a pl enos pul mões. A pós a t e m p e s t a d e f o i te m p o d e a c a lm a r e a í ve io P e re z dar a sua voz a B i ttersw eet. Vol tando a Shadow maker, a banda tocou a fai x at it ulo e R i o t L i g h t s , a n te s d e se a tir a r a su a ve r sã o d e Refuse/R esi st, que foi i ntercal ada por um dos momentos mági cos d a noi te, a v is ão d o s A p o c a l y p t i c a d e Wo n d e r la n d e r, d o c o m p o sitor Wagner, e que mostrou a vi da depoi s do Metal dos fi nl andeses e mos trou, t ambé m , u m i n c a n s á v e l P a a vo L ö tjö n e n , n ã o só n o in ci tamento ao publ i co como na for ma com que se ati ra ao vi ol oncel o. Per ttu K iv ilaa k s o é m a i s c a l m o e in tro sp e c tivo , m a s a p re c ia e s ente cada acorde como sente os apl ausos do publ i co e a musi ca que l he corre nas v e i a s , a i n d a m a i s q u a n d o S e e k a n d De stro y c o m e ç a,para mai s um momento de peso. Para o f i n a l e s t a v a g u a rd a d a u m a su p re sa ... e q u e su r p resa, H al l of the Mountai n Ki ng i ni ci a com o nosso hi no tocado por Pa av o e com um Co l i s e u a c a n t a r, n o va m e n te d e viva vo z, n u m m o m e nto que, decer to, não dei xou os musi cos i ndi ferentes. Para o encore troux eram a bele z a d e O n e e , c l a ro , q u e o c o n c e r to n ã o p o d e r ia te r mi nar com a presença de Perez para entoar I D on’t C are. A pós duas horas de es pec t a c u l o a b a n d a s a i d e c e n a , o p u b lic o sa i d a sa la e exi ste uma cer teza, os Apocal ypti ca sentem-se em casa e nós gos tamos de os rec e b e r, e l e s s a b e m e vã o re g re ssa r. O s t em p o s m u d a r a m e a b a n d a c re sc e u , m a s é a í q u e está o encanto da banda, não j oga pel o seguro e segue o seu caminho e es te conce r t o s e r v i u p a r a p ro va r q u e o s Ap o c a lyp tic a e sta o viv os, respi ram saúde e, pri nci pal mente, fezem musi ca com al ma. A acompanhar os A po c a l y p t i c a e s t ã o o s a u str a lia n o s Tr a c e r q u e , c o m o seu R ock que, pel o mei o, encontra o Stoner e o Grunge, souberam ani mar as hos t es p a r a o s f i n l a n de se s. Co m u m a re c e p ç ã o c a lo ro sa a banda l á foi desti l ando a sua músi ca e usufrui ndo da opor tuni dade dada para p ro v a re m a o m u n d o o se u ta le n to . Em Po r t u g a l p a re c e m te r e n c o n tr a d o u m p u b lic o c a p a z de os abraçar. El es sabi am que não eram as estrel as, mas foram as es trel as naque l a h o r a . S e o e s fo r ç o c o m p e n sa , b e m lá fo r a , e r a m mui tos os que se j untavam à banda e a banda l á estava de braços aber tos . Fotos e Reportagem: Nuno Lopes

TÓ PICA /

FORGOTTEN SUNS RCA CLUB – LISBOA 23.10.2015

A noite era de celebração na sala lisboeta, Tó Pica, um dos nossos herois da guitarra apresentava o seu disco de estreia (Is this the Best You Can do?») e, com ele trazia os lisboetas Forgotten Suns. Mas, já lá iremos, para já deixemos já uma nota, a única negativa, para o tempo de espera desde a abertura de portas até ao inicio do concerto. Tudo bem que sendo um dia de festa as coisas se deixem alastrar, porém, esperar duas horas para ver uma banda em cima do palco é um exagero e revela algum amadorismo e, quiçá, alguma falta de respeito para os convidados que, aos poucos, compunham a sala da capital. Foi já no dia 24 que Tó Pica apareceu no palco. A imagem, essa é de uma fragilidade estranha, pois, quando o musico ataca as cordas, parece que o mundo se abate nos acordes de uma guitarra. Com a mesma formação que gravou «Is this the best you can do?» onde, apenas Sales (baixo) não marcou presença. Deve-se salientar, além dessa falta, todo o brilhantismo e profissionalismo dos músicos, aí, destaca-se Arlindo Cardoso (bateria) que, mesmo com o dedo partido revelou, uma vez mais, ser um dos mais talentosos bateristas nacionais. Já se sabe que Tó Pica não é um musico apenas de Metal, o musico tem muitas musicas dentro de si, e é isso que sai em todas as malhas que passam pelo palco, seja acompanhado com Marco Resende (REZ, A Morfina) ou por David Pais (Low Torque, ex-No Tribe) que, a cada concerto, se revela um dos enormes novos talentos nacionais. Falando, ainda, de David Pais, o musico tinha aqui, de certo, umas das suas actuações mais dificeis de sempre, afinal, o pai tinha falecido há 48horas e que mereceu honras de «momento da noite» quando Resende subiu ao palco e dedidou «Taste My Blame» a David Pais. Num concerto onde «Espelho», «All Acess Denied» ou a versão, brilhante, de «The Tempest» dos australianos Pendullum. Para Tó Pica e companhia foi um serão de festa, uma noite de emoções, uma mão cheia de recordações que, decerto, irão perdurar na longa carreira do músico que, diga-se, se rendeu ao publico e saiu do palco com lágrimas no rosto, rendido a um publico que se rende, se soube render a um dos musicos mais talentosos de Rock/Metal nacional. Foi uma noite que o musico merecia há muito tempo e que, de certa forma, lhe traz, um sabor de justiça e conquista... ao fim de 23 anos de carreira e muitos Kms de estrada. A abrir as hostes, os Forgotten Suns não deixaram de fazer a festa e o seu Metal que tanto bebe no progressivo como no Power, foi um bom aquecimento e foi um bom inicio de festa. Com uma carreira que vale o que vale e que lhe granjeou sucesso, não só por cá mas além fronteiras. Foram acordando publico e foram o que já se esperava. O publico agradeceu e lá foi reagindo, umas vezes mais, outras menos, mas esteve sempre com a banda, e os Forgotten Suns cumpriram o seu papel sem mácula. A espera valeu a pena... mas, não deixaram de ser duas horas de espera... Fotos e Reportagem: Nuno Lopes

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RIVERSIDE

PARADISE GARAGE – LISBOA 30.10.2015

RIVERSIDE À SEGUNDA FOI DE VEZ... Após 4 anos, foi em Outubro de 2011 que se apresentaram em Portugal no Santiago Alquimista que os recebeu de sala cheia, os Riverside, banda de rock progressivo oriunda da Polónia, apresentam-se novamente em Portugal para a apresentação do seu mais recente trabalho, «Love Fear and the Time Machine», desta vez no Paradise Garage. De salientar a vinda frustrada, faz este ano 2 anos, que os mesmos cancelaram devido a avaria no autocarro que os transportava, em terras de Madrid já a caminho de Lisboa. De qualquer forma, eles não se esqueceram e entre pedidos de desculpa, lá nos brindaram com a sua espectacular música. Entre os novos temas do mais recente álbum e os velhinhos clássicos, onde se salientou “Conceiving you” com uma inédita introdução com o tão conhecido êxito “I Turn You Down”. O público foi fantástico e a banda ganhou um “segundo vocalista”, ao ponto de Mariuz Duda se afastar do microfone, sorrindo para.PT a plateia e rendido ao que via (e ouvia): “Vocês são fantásticos!!” No final, sem direito a encore, agradeceram, aplaudiram e saíram, deixando uma sensação de quem assistiu ao espectáculo que, eles, Riverside, também gostaram do outro espectáculo, do público e do ambiente criado. Não é de estranhar porque nós, portugueses, sabemos acolher quem gostamos. No entanto, uma nota negativa para a organização: Não se entende porque nós, fans, somos expulsos da sala pelos seguranças que de simpáticos não têm absolutamente 67 / VERSUS MAGAZINE


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Setlist:

Return Lost (Why Should I Be Frightened By a Hat?) Feel Like Falling Hyperactive Conceiving You (“I Turned You Down” intro) 02 Panic Room The Depth of Self-Delusion Saturate Me We Got Used to Us Discard Your Fear Escalator Shrine Encore: The Same River Found (The Unexpected Flaw of Searching) Machines

nada, quando apenas tentamos comprar algum merchandising e esperar os nossos ídolos. Relembro que há 4 anos no Santiago Alquimista, brindaram-nos com a sua presença, tirando fotos e dando autógrafos a quem pacientemente esperou. Mas, nós, verdadeiros fans, não desistimos. Na rua, ao pé do autocarro, esperámos à chuva até que, finalmente, apareceu o guitarrista que surpreendido por nos ver, pergunta: “O que estão aqui a fazer?!” A resposta foi óbvia: “Fomos expulsos da sala!” E aqui se vê o respeito e a humildade dos Riverside (todos eles) para com os fãs que são na realidade quem os suporta, vindo aos concertos e comprando o mais diverso material. O Guitarrista volta à sala e chama todos os restantes elementos e foi o delírio. Para quem esperou, pôde finalmente tirar as fotos e obter os tão desejados e merecidos autógrafos. Riverside, voltem, estão perdoados! Fotos e Reportagem: Fernando Mateus (Agradecimento especial à PRIME ARTISTS)

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NIGHTWISH +

ARCH ENEMY

ARENA LEIPZIG – LEIPZIG 14.12.2015

+

AMORPHIS

NIGHTWISH IMPRESSIONANTE 14 de Dezembro foi a data da passagem de mais uma importante tour na cidade de Leipzig. Depois da visita dos Slayer, foi agora a vez de os Nightwish nos visitarem com os seus companheiros de tour: os Amorphis e os Arch Enemy. E foram precisamente os primeiros a abrir as hostilidades dessa noite. Com um som impressionante e com um setlist irrepreensível, os Amorphis deram um concerto perfeito mas pequeno. De facto, durante 40 minutos, esta banda Finlandesa brindou-nos com clássicos da era Tomi bem como com temas do seu novo álbum, “Under a Red Cloud”. Começando com “Death of a King” e “Sacrifice”, os Amorphis mostraram que acreditam no seu novo álbum. E têm razões para isso. De notar que os temas já eram bem conhecidos de entre o público que assistia ao seu 6 9 / VERSUS MAGAZINE

concerto. De seguida, visitam o seu álbum anterior com “Hopeless Days” sendo que a viagem a temas mais antigos deu-se ao som de clássicos tais como “The Smoke” e “Silver Bride”. O regresso ao seu mais recente lançamento deuse com os temas “Bad Blood” e “The Four Wise Ones”. A fechar, a excelente “House of Sleep”. Um excelente, mas curto, concerto que deixa antever uma excelente digressão que os Amorphis farão no próximo ano. De seguida, foi a vez dos Arch Enemy. Esta banda, que sofreu profundas alterações de line-up com a entrada de Alissa WhiteGluz e de Jeff Loomis, deu um devastador concerto. De facto, a voz poderosíssima de Alissa ecoou pela Arena de Leipzig e mostrou que esta se adequa perfeitamente

ao reportório da banda. Jeff Loomis, um mestre da guitarra, também mostrou que a sua guitarra assenta que nem uma luva a esta brutalidade. Começando com um tema da era Angela Gossow, “Yesterday is Dead and Gone”, os Arch Enemy entraram a matar. De seguida, a visita ao novo álbum com “War Eternal”, “You Will Know Me By My Name”, “Stolen Life” e “As the Pages Burn” sendo que estes temas eram bem conhecidos pelo público que muitas vezes cantou o refrão dos mesmos. De resto, desfilaram clássicos tais como “Ravenous”, “Nemesis” e “Under Black Flags We MArch ”. É de notar como esta banda cresceu ao vivo com a adição dos novos membros acima mencionados e a coesão que mostraram ao longo do concerto. De facto, esta banda conta apenas com músicos de elite


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numa referência do Death Metal melódico. Um excelente concerto, com um excelente som, que levou a audiência da Arena de Leipzig muitas vezes à loucura. Tal como seria de esperar... Por fim, as estrelas da noite e por quem todas as almas presentes na Leipzig Arena aguardavam... Nighwish!!! É de notar que esta banda, tal como os Arch Enemy, sofreu alterações profundas de line-up com a entrada de Floor Jansen, Jukka Nevalainen e de Troy Donockley. E a verdade é que estas alterações fizeram a banda crescer e melhorar, tal como se pode comprovar com o seu excelente novo álbum “Endless Forms Most Beautiful”. Ao vivo, este crescimento nota-se ainda mais com a banda a revelar uma tremenda coesão em palco e a mostrar uma união que não é muito comum numa banda que sofreu tantas alterações recentemente. Mas os eles não são de virar as costas aos desafios e provaram isso mesmo num excelente concerto, digno da dimensão que esta banda tem actualmente. A começar com dois temas do seu mais recente álbum, “Shoulder Before the Beautiful” e “Yours is An Empty Hope” e com muita pirotecnia à mistura mostraram que só melhoraram e cresceram como banda. É de facto impressionante assistir a um concerto destes actualmente. Com um ecrã gigante a projectar imagens alusivas aos temas que vão sendo tocados e com muita pirotecnia, os Nightwish tornaram-se numa das maiores bandas de Heavy Metal da actualidade. De resto, a banda visitou o seu longo passado com temas como “Ever Dream”, “Wishmaster” e “While Your Lips Are Still Red”. Floor Jansen é verdadeiramente carismática e foi a melhor escolha que poderiam ter feito para vocalista. É impressionante ver o à vontade com que canta temas antigos, tais como “I Want My Tears Back” e “Nemo”, bem como temas do mais recente lançamento dos Finlandeses. De resto, foi o que se esperava... um excelente concerto cheio de clássicos com uma audiência em êxtase ao som de temas como “Elan” e “Ghost Love Score”. Em vários momentos, Troy Donockley 7 1 / VERSUS MAGAZINE

ficou sozinho em palco com a sua guitarra ou gaita-de-foles a contar histórias e a hipnotizar a audiência. Impressionante a coesão deste line-up e o seu à vontade em palco. A fechar, “Last Ride of The Day” e “The Greatest Show on Earth”...E, de facto, é com esta impressão que saímos da Leipzig Arena... De

que este é o maior espectáculo no planeta! Fotos: Reportagem: Eduardo Rocha


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ORPHANED LAND ACÚSTICO / MOLLLUST / LEAVES CINEMA SÃO JORGE – LISBOA 01.10.2015

ORPHANED LAND A MAGIA DO ACÚSTICO Este concerto dos Orphaned Land (OL) tinha vários pontos de interesse. Primeiro, faz parte de uma tournée dos OL em versão acústica, a qual, devido à natureza da sua música desperta de imediato uma curiosidade acrescida, segundo, porque com a saída do Yossi Sassi, ficava o interesse pela performance ao vivo da banda, agora sem um dos seus principais mentores. Terceiro, por ser num espaço muito restrito, tornando este concerto ainda mais especial e intimista, muito distante de um Vagos Open Air e em particular de espaços mais restritos como o Santiago Alquimista em Lisboa - Onde os vi em 2013. Por isto, a espectativa era grande e, por esta altura, confesso que os convidados de abertura eram somente uma simples palavra escrita no bilhete: “guests”, bilhetes estes não mais do que uns meros 300 que esgotaram num ápice. Para os que não sabem, o São Jorge antes de ser essencialmente uma sala de espetáculos e eventos era um cinema com 3 salas, uma enorme (mesmo enorme) e duas mais pequenas. O concerto foi numa destas salas pequenas (São Jorge 1 actual). A primeira surpresa ao entrar no espaço, foi o facto de terem retirado as cadeiras e de ficarem três patamares relativamente amplos para a dimensão da sala. Claramente, no espaço físico cabiam muito mais do que os 300 afortunados que conseguiram bilhete mas por razões de segurança ficaram-se por esse número, alias, a lotação da sala em pé é de 250 lugares. O som estava excelente para todas as bandas e o único ponto negativo foi a falta de ventilação ou de ter um ar condicionado a funcionar, pois no auge do concerto estava muito abafado. Confesso que não fazia a mínima ideia das bandas de suporte que antecediam aos OL, pelo que era uma situação de indiferença ou de algum interesse que geralmente depois do concerto desaparece. Isto deve-se ao facto de estarmos a ouvir a sua música (das bandas de suporte) pela primeira vez, ao invés da banda principal que se necessário até fazemos coro. Mas neste capítulo, a noite tinha umas agradáveis surpresas na manga... A primeira banda a entrar em palco foram os espanhóis de Barcelona Leaves. Os Leaves têm na sua vocalista Patrícia Tapia a sua principal figura, já que vocalmente faz-nos lembrar a Anneke Van Giesbergen 7 2 / VERSUS MAGAZINE


(do tempo dos The Gathering). Alias, não é por acaso que trago estes nomes à baila, já que os Leaves são isso mesmo, uma espécie de The Gathering espanhóis. Bem, é que a Patrícia soa tal sósia vocal da Anneke. Só mesmo ouvindo! Neste campo, acho que não pecam pela originalidade, mas a sua música é agradável e bem conseguida. Deram um concerto interessante e conseguiram captar a atenção do público presente, ou que para uma jovem banda por vezes é o suficiente. No geral, foi bom e interessante apesar da colagem evidente aos holandeses. Já com a sala mais composta, os próprios elementos da banda de nome Molllust, começaram a compor o palco para o seu concerto. Pela coisa, parecia algo de interessante e ainda por cima tinham escrito nos banners por baixo do logotipo da banda “Metal Opera”, o que no meu caso, só fazia aumentar a espectativa e interesse. Os Molllust são uma banda alemã, de Leipzig, e estavam a promover o seu segundo álbum de originais de produção independente. Depois de preparado o palco, um violoncelo à esquerda, guitarras acústicas à direita e um piano ao meio, entraram em palco 4 jovens senhoras e um jovem rapaz que foi ocupar o seu lugar nas guitarras acústicas. Logo ficamos a saber que os Molllust estavam ali numa versão acústica de eles mesmo, tendo deixado em casa o baixista, o baterista e as guitarras elétricas. Duas das jovens vinham com dois violinos, outra pegou no violoncelo e a que se destacava mais pelo vestido de gala foi ocupar o seu lugar em frente ao teclado que dominava o palco, e pelo microfone tipo headset, era não só a teclista como a vocalista. E assim, os Molllust começaram a brindar-nos com a sua música. Uhau! Ninguém estava á espera de apanhar uma pérola destas. A música e o espetáculo dos Molllust arrebatou todos os presentes, não deixando ninguém indiferente. O seu Metal Opera é único, muito erudito (aqui em versão acústica, ainda mais acentuado do que a versão metal), a postura da banda em palco muito profissional, muito comunicadora e ainda nos presentearam com um bocado de teatro musical, especialmente na música “König der Welt”. A cada música, o público batia mais palmas, acabando estes o concerto praticamente em apoteose. Não me lembro de uma coisa destas - Igual, talvez só quando os Pantera abriram para Judas Priest em 1990. Foi simplesmente excelente e deixou um desejo imenso de descobrir esta banda na sua vertente metal, o qual já o fiz e posso dizer que faz jus à versão acústica que presenciei no São Jorge. Os Molllust acabaram com uma cover de Johann Sebastian Bach , “Ave”. E quando já esperava os Orphaned Land, não é que me entram em palco uns 8 indivíduos que começam a cantar à capela tal Van Canto, com uma cover dos Rammstein (“Engel”). A performance ainda durou mais 4 músicas, sendo esta última um hino à cerveja ou melhor a Charlie Mopps, o seu inventor. O grupo corista tem nome, são os Stimmgewalt de Berlin, e fazem parte do backing vocals dos OL para esta tournée acústica. Ao som de “The Simple Man”, finalmente, os Orphaned Land subiram ao palco, com Chen Balbus a ocupar o lugar que em outrora era ocupado pelo Yossi - Uma espécie de promoção dentro da banda - e o novo membro Idan Amsalem no seu anterior lugar. Como já referi, a espectativa resistia unicamente no som que soaria da música dos Orphaned Land acusticamente. Ora bem, neste campo, eu diria que se encaixa perfeitamente, parece que foi talhada para tal, proporcionando aos OL a oportunidade de darem um excelente concerto. A sonoridade estava lá, a presença igualmente, a emoção não faltou e como é habitual o público correspondeu afirmativamente. De resto foi business as usual, na postura e atitude do Kobi, no line up das músicas, onde tocaram coisas bem antigas como “El Meod Na’Ala” e “The Evil Urge” do álbum El Nora Alila ou mesmo “Building the Ark”. A set list dividiu-se por todos os álbuns da banda, não faltando os clássico como “Sapari”, “All is One”, “Brother”, “In Thy Never Ending Way” ou o clássico dos clássicos “Norra El Norra (Entering The Ark) “. No início do encore tivemos uma cover de Leonard Cohen com os Stimmgewalt Choir e o Kobi. Resumindo, tirando a componente acústica foi um concerto à la Orphaned Land sem por nem tirar, tal como eles nos têm habituado há anos. O actual lineup convence e agora só me resta esperar pelo próximo trabalho, que pelas palavras do Kobi poderá ser já em 2016. Parece que só têm mesmo é de se juntar e começar a escrevê-lo. A minha perceção final foi que este concerto foi uma verdadeira pechincha, dado a qualidade e performance de todas as bandas envolvidas e o elevado eruditismo clássico do evento. Os Orphaned Land deviam ter pedido mais do que os 17 euros do bilhete... Fotos e Reportagem: Carlos Filipe

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Setlist:

Stimmgewalt Choir only Engel - (Rammstein cover) The Irish Ballad - (Tom Lehrer cover) Reptil Last Night of the Kings - (Van Canto cover) Beer, Beer, Beer - (An Ode to Charlie Mopps - The Man Who Invented Beer) Main Set The Simple Man All Is One The Evil Urge Asalk Let The Truce Be Known Olat Ha’tamid Brother Bereft in the Abyss Heyr himna smiður - (Stimmgewalt Choir only) Building the Ark New Jerusalem A Neverending Way El Meod Na’Ala Sapari In Thy Never Ending Way Encore Hallelujah - (Leonard Cohen cover) (Stimmgewalt Choir with Kobi Farhi) The Beloved’s Cry Norra El Norra (Entering The Ark) Ornaments of Gold - (Ending)


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BAROCK PROJECT

“SKYLIVE”, MILANO, LA CASA DI ALEX 07.11.2015

BAROCK PROJECT ESTREIA AUSPICIOSA Assistimos no passado dia 7 de Novembro em Milão, ao primeiro concerto dos Barock Project, após o lançamento do álbum Skyline. Isto porque a digressão da banda, agendada para o início de Setembro em Inglaterra, teve de ser cancelada, já que Luca Zabbini, compositor, teclista e mentor do Barock Project, foi internado com problemas de saúde. A expectativa era grande, e em resumo, foi uma grande noite que por certo perdurá na memória dos que puderam ver e ouvir ao vivo, o magistral desempenho de uma banda com imenso talento. O concerto começou por volta das 21h45 locais, e extendeu-se até bem próximo das 0h30. Cerca de 2 horas e meia de concerto, que teve obviamente especial enfoque no álbum Skyline, mas que viajou por todo o restante trabalho da banda, e ainda (no “encore”), incluiu alguns trechos de temas dos Genesis. Os problemas de saúde de Zabbini parecem totalmente ultrapassados, já que demonstrou enorme energia em palco, e uma “performance” tremenda, mesmo para um reconhecido virtuoso dos

teclados. O poder e timbre da voz de Pancaldi, o rigor “metronómico” de Eric, a competência de Marco, e o talento do baixista Francesco Caliendo, fizeram o resto. Uma palavra especial para este último, que tendo sido convidado enquanto músico de sessão para o concerto, e tendo apenas um ensaio com a banda (já que se encontra em Amesterdão a estudar baixo eléctrico no Conservatório), teve um desempenho absolutamente extraordinário, e impressionando mesmo, por esse facto de ter tido apenas um ensaio geral … Nota final para o som maravilhoso registado na sala. Ficámos surpresos pela qualidade geral do som, para uma sala que sendo uma referência em Itália no género Progressivo, é no entanto, bastante pequena. Após o concerto, lá nos informaram que o técnico de som, era um profissional qualificadíssimo, que foi em tempos (agora encontra-se reformado), técnico de som de uma das melhores e mais importantes bandas de Itália, os Area (estava justificado o muito bom som na sala). Resta-nos aguardar pela

possibilidade dos Barock Project, nos poderem presentear brevemente em Portugal, com um concerto desta qualidade! Fotos e Reportagem: Ivo Quintas

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LEPROUS + SPHERE + RENDEZVOUS POINT RCA – LISBOA 08.10.2015

LEPROUS INTENSO Dia 8 de Outubro tive o prazer de poder ir ver 3 bandas com actuações imponentes - quase que irrepreensíveis. A noite foi exclusivamente nórdica com todos espetáculos a serem protagonizados por artistas da Noruega. Rendezvous Point a abrir as hostes, Sphere e Leprous por último, debitaram todas elas um som que ia desde o rock ao metal progressivo mais pesado que contagiou verdadeiramente em grande parte dos momentos o vasto público que se agregou no RCA e se mostrou muito bem receptivo perante todas as bandas presentes. A começar por Rendezvous Point a surpresa para mim foi sem dúvida o facto de não conhecer uma banda com tamanha qualidade que transpirava uma precisão VERSUS MAGAZINE MAGAZINE 7755 // VERSUS

ritmica muito consistente por todos os lados. Estes RP contavam com uma mescla de sons que trazia remiscências de bandas na onda de Tesseract, Tool ou mesmo os seus conterrâneos Leprous. Infelizmente, quando cheguei ao RCA já soava o concerto quase a meio mas fui imediatamente agarrado pela música carregada de grooves poderosos que iam sendo acompanhados por uma voz super afinadissima e agradável de um Geirmund Hansen inspirado - vocalista este que esteve muitissimo bem na sua prestação. Do primeiro ao último momento que tive a oportunidade de assistir, a minha cabeça tendia para não se manter no mesmo lugar à medida que tentava encontrar-me naqueles compassos poliritmicos bem trabalhados e delineados. O ambiente soturno por sua

vez, acentuou na música dos Rendezvous Point outro ponte forte de uma banda que se completa na sua essência quando as melodias bonitas que caracterizam a sua música encaixam que nem uma luva numa atmosfera deslumbrante. Para concluir nota óptima para o som da sala nesta banda que ajudou imenso a esta minha impressão mais empolgada relativa ao seu concerto. Seguiram-se uns Sphere também muito bem oleados e quase a roçar uma mestria instrumental. É verdade que Sphere comporta óptimos executantes mas com uma sonoridade menos agradável para o meu gosto pessoal. O som também não esteve tão definido como em RP e talvez isso tenha prejudicado um pouco a prestação dessa banda que ao fim ao cabo e 7 5 / VERSUS MAGAZINE


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ainda assim pareceu até bastante coesa. Desta feita tínhamos uma sonoridade mais chegada para os lados de uns Meshuggah que se converteram à ideia melodiosa e aos refrões de vozes limpas que muitas vezes se ouvem em grande parte das bandas de metal core saídas dos States. Imagine-se uns Meshuggah meet As Lay Dying com temáticas relativas ao espaço. Nota de destaque para Isak Haugan que se manteve incansável a puxar pelo público com a sua voz poderosissima ainda que as pessoas se mantivessem serenas abanando a cabeça ao ritmo de um tal de baterista Bjørn Dugstad Rønnow super competente que acabou por roubar alguns “este gajo dá-lhe bué” ao público que me acompanhava. Um apontamento 7 6 / VERSUS MAGAZINE

menos bom para a voz de Marius Strand que por motivos talvez alheios à banda acabou por não encantar sempre que projectava a sua voz e fazia em que alguns momentos as melodias soassem um pouco destoadas daquilo que estava a ser tocado. No final saldo positivo para um concerto de uma banda que resolvendo esses pequenos aspectos pode muito bem acabar por desenvolver uma distinção ao vivo bem mais interessante do que aquela apresentada nesse concerto do RCA. Por último tive a honra de presenciar a intensidade de um dos melhores concertos que já vi na minha vida. Os indiscútiveis reis da noite foram naturalmente

os Leprous. Quando fui a este concerto sentia que ia ser bom, mas não esperava que fosse mesmo assim tão bom. Uns LCD’s eram montados no palco e a lona em que figurava o seu logotipo mostrava a majestosidade de uma das bandas mais originais da actualidade senti-me entusiasmado à espera que caisse o pano. Quando a intro soou não se podia fazer antever a magia que este concerto faria girar à volta das pessoas envolvidas. Na entrada dos elementos de Leprous em palco, ouviaram-se gritos, assobios e palmas que eram provenientes de pessoas que vibram e sentem os Leprous em toda a sua magnitude e esplêndor. Pudemos antecipar então que o impacto que esta banda tem e a mistica em torno do seu espetáculo VERSUS MAGAZINE MAGAZINE 7766 // VERSUS


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que conseguiram construir ao longo destes 14 anos de existência fariam toda a diferença relativamente às restantes bandas da noite. Trouxeram “The Congregation” (o seu mais recente álbum gravado nos Fascination Street Studios com Jens Brogen) na bagagem e ao desfilarem temas como The Flood ou The Price ia ficando cada vez mais convencido e seduzido aos encantos de uma banda que trouxe com Einar Solberg o espirito da voz inconfundível de Freddy Mercury e juntou-o à magia de um rock progressivo norueguês cheio de influências eletrónicas que conferem ao som de Leprous um cariz industrial e altamente inovador. Tecnicamente irrepreensíveis, os poliritmos são uma oferta constante que obriga o ouvinte a tentar desvendar o ser-se criptico dos Noruegueses “esquisitos” que muitas vezes nos enfiam num puzzle sem aparente resposta. As partes em que se ouve um silêncio mais acentuado ao ser conjugado com aquela voz sofrida sempre dentro do tom resultam muito bem e criam momentos de tensão no ouvinte que espera para sair de um quarto frio e escuro que anseia por ver o que há lá fora no mundo. É quando a bateria, o baixo e as guitarras explodem que a sala de concertos se enche de vida - é aí que nos dão o sabor de uma conquista. Fotos e reportagem: Pedro Remiz (Arcadia Studios) (Agradecimento especial à PRIME ARTISTS)

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26.09.2015 - CASA DA ÁRVORE SALAMANDRA DOURADA

SALAMANDRA EM CHAMAS DEIXA ARDER! A Salamandra Dourada é uma daquelas salas/ associação que tem feito algumas coisas, no minimo, interessantes e que tem mostrado, a espaços, alguns dos talentos underground, sendo este Salamandra em Chamas um desses exemplos e que começa já a marcar o seu território no underground nacional, sendo que nesta quarta edição contou com alguns nomes que se começam a afirmar na nossa cena. Deve-se saudar e aplaudir o esforço da associação e, acima de tudo, aplaudir uma forma diferente de fazer acontecer, como exemplo podemos divulgar o preço da entrada (1.5 euros com oferta de bebida) o que, de alguma forma, faz com que curiosos e apreciadores marquem presença. Como qualquer evento que se preze, o Salamandra em Chamas 4 começou de forma leve e sublime com os Monolith Moon, que aproveitaram para apresentar o EP Leylines, lançado este ano. Com uma actuação que enfrentou alguns problemas de som, nomeadamente na voz de Sara, mas que, aos

poucos entrou nos eixos. Com uma sonoridade que tanto os aproxima do Rock Progressivo como do Metal mais, digamos, clássico, a banda mostrou-se eficaz nos seus propósitos e conseguiu despertar a atençao dos que já se encontravam na sala. É uma banda que merece que estejamos atentos à sua evolução e, pelo meio, já desvendaram alguns temas novos. E a bonanza terminou aqui, pois os Wall of Death, a jogar, praticamente, em casa, depressa começaram a partir a casa toda com o seu Death Metal. Se palavras podem existir para descrever a actuação da banda elas seriam: intenso, poderoso. Leonardo, o vocalista, pode muito bem seguir as pegadas de Chris Barnes ou de George Fisher, tal a forma como vocifera as letras e como ataca o microfone. Salientamos, igualmente, os solos da banda, rápidos, eficientes e que nos fazem querer sentir os timpanos a rebentar, os Wall of Death quebraram o gelo e tudo o resto que estava a volta.

um descontraido Quiz do Metal, foi a vez dos Burn Damage subirem ao palco e fazerem valer o seu Death Thrash furioso onde, uma vez mais, Inês Freitas foi figura de destaque, mostrando ser, a nivel nacional, uma das melhores growlers e com uma presença de louvar... obrigando até os mais distraidos a moshar, saindo

Depois de uma merecida, ou talvez não, para comes e bebes e para

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NADJA (CA/DE) + LANÇAMENTO DA MESINHA DE CABECEIRA #27 17.12.2015 - LOUNGE - LISBOA

NADJA MINIMALISTA O multifacetado canadiano Aidan Baker e sua esposa Leah Buckareff trazem-nos Nadja, um projeto de texturas minimalistas onde se casam os géneros musicais shoegaze com drone, no que pode ser descrito como o “World Coming Down” dos Type O Negative reinterpretado pelos My Bloody Valentine sob o efeito de copiosas doses de codeína. O evento foi gratuíto e como bónus tivémos o lançamento do novo tomo da zine de BD “Mesinha de Cabeceira”, intitulado “Nadja Ninfeta Virgem do Inferno” da autoria de Nunsky. Pois é, o Natal chegou mais cedo, como de resto pôde atestar a núbil rapariga figurada na capa da revista em destaque, onde se encarregava, com o auxílio de uma imponente adaga, de fazer o Pai Natal partilhar o destino de muitos perús nesta época festiva. O concerto tomou lugar num beco do cais-do-sodré em lisboa, num bar perdido nos meandros da década de 60. Entre azulejos vermelhos, papel de parede da era de aquário, bolas de cristal enfeitadas com flores, barbooths refundidos, um espelho de 2 metros que refletia

grande parte da pista de dança e a apropriada música psicadélica de fundo, subitamente ganhamos a sensação de ter entrado numa espécie de cápsula do tempo (sendo que o bar não seria muito maior que a mesma). Neste espaço, próximo da vitrine, uma reduzida mesa circular sobrecarregada de pedais de delay, chorus, overdrive e afins demarcava o território da banda. Não muito fora da hora prevista surge, entre os expectantes, Aidan Baker, qual Rasputin saído de um filme de Wes Anderson e sua respetiva parceira, serpenteando até ao que, à falta de termo melhor, se pode chamar palco. Após a disposição do merchandising, cds e discos de vinil num dos booths, a banda assume o seu espaço de atuação, partilhando a pista de dança com o resto do público, o qual subitamente preencheu a reduzida capacidade do recinto. A existência da enorme vitrine permitiu direta comunicação entre a banda e o exterior, servindo como um ecrã televisivo para os tardios que se foram congregando. A setlist consistiu numa versão abreviada do “Thaumogenesis” e da

faixa “Absorbed in you” do albúm “The Bungled and the Botched”. Letargia foi a palavra de ordem. O duo, completamente absorto na sua performance, frente a frente, de perfil para o público interior e exterior ao recinto, fez uso da mesinha de pedais de efeitos, de permeio, como se de um tabuleiro de xadrez se tratasse. Aidan Baker, alternando entre o uso convencional da guitarra e o hábil recurso às potencialidades de um arco de violino na mesma, foi dando asas à sua inventividade, perante uma audiência mesmerizada com cada acorde suspenso na atmosfera como uma titânica massa cinzenta em desintegração. O final do concerto sucede com Aidan a recolher a sua guitarra no canto do merchandising, manipulando o resto da reverberação emanente desta mantra sónica nas pequenas caixas eletrónicas de efeitos. A expectativa de um encore foi frustrada, no que de resto se revelou uma experiência intensa, autêntica, mas algo abreviada. Fotos e reportagem: Frederico Figueiredo

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NADJA (CA/DE) + LANÇAMENTO DA MESINHA DE CABECEIRA #27 17.12.2015 - LOUNGE - LISBOA AIDAN BAKER + SÖLL (PT) 18.12.2015 - ZARATAN - LISBOA

AIDAN NADJA BAKER SINGULAR MINIMALISTA

Com os sentidos canadiano ainda inebriados O multifacetado Aidan pela atuação dos Nadja prévia Baker e sua esposa Leah na Buckareff noite, foi altura na trazem-nos Nadja,deumressacar projeto de companhia de Aidanonde Baker sua texturas minimalistas se na casam segunda por território os génerosincursão musicais shoegaze com lisboeta noe que coincidente de drone, pode serfecho descrito digressão de Coming 2015. Desta como o “World Down” vez, dos trocámos cenário reinterpretado burlesco do Type O o Negative Lounge My pelaBloody igualmente elegante pelos Valentine sob decadência uma galeria de arte/ o efeito dedecopiosas doses de sala de espetáculos situada ena rua codeína. O evento foi gratuíto como de São Bento. rua tipicamente bónus tivémosNesta o lançamento do pontuada porzine umde conjunto de novo tomo da BD “Mesinha interessantes antiquários galerias,de Cabeceira”, intituladoe “Nadja situa-seVirgem o Zaratan, um espaço que, Ninfeta do Inferno” da autoria pelaNunsky. sua disposição organização, de Pois é, oe Natal chegou tem tanto de sugestivo Arte mais cedo, como de como resto a pôde que promove. entrada,figurada fomos atestar a núbil Àrapariga de capa imediato saudados por uma na da revista em destaque, exposição de ilustrações onde se encarregava, com osoftcore auxílio opulentas lolitas de uma imponente adaga,dede estilo fazer japonês. Percorremos seguida o Pai Natal partilhar o de destino de um estreito curto corredor que muitos perús enesta época festiva. O desembocava pátio concerto tomounum lugarpequeno num beco do onde já se encontrava o performer cais-do-sodré em lisboa, num bar desta noite como da meiadécada dúzia perdido nos bem meandros Do lado oposto de espectadores. 60. Entre azulejos vermelhos, do pátio, apresentava-se a sala papel de parede da era de aquário, de espetáculos para dizer o bolas de cristalque, enfeitadas com mínimo, barbooths era singular. A ideia que flores, refundidos, um imediatamente associa ao espaço espelho de 2 se metros que refletia

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é a de uma lúgubre caverna, com e a grande parte da pista de dança particularidade de ter um palco de a apropriada música psicadélica estrutura e tenuemente de fundo,rudimentar subitamente ganhamos iluminado. sala, a sensação Esta de terpequena entrado numa com capacidade para cerca (sendo de 30 espécie de cápsula do tempo pessoas os músicos... que o bar (incluindo não seria muito maior que com muito boa vontade), de paredes a mesma). Neste espaço, próximo irregulares, marcadas por mesa uma da vitrine, uma reduzida eloquente ruína de tijolodee pedais pedra, circular sobrecarregada muito se chorus, assemelha à referida de delay, overdrive e afins caverna pelos seus contornos demarcava o território da banda. Não uterinos. engenho, o muito foraPor da sorte hora ou prevista surge, espaço entre os adequou-se expectantes, perfeitamente Aidan Baker, ao tipo de sonoridade que um agraciou qual Rasputin saído de filme a reduzida audiência. Aidan Baker de Wes Anderson e sua respetiva entrou na serpenteando “sala” e acreditámos parceira, até ao que, tal falta comodeo resto presentes, irá à termo dos melhor, se pode assistir àpalco. abertura de aSöll, mas só chamar Após disposição por acaso... vai atuar. cds Sim, trocaramdo merchandising, e discos nos vinil as voltas o ato principal tocou de num edos booths, a banda primeiro.oTudo vamos ao assume seu bem, espaço de direto atuação, que interessa (semde desmérito para partilhando a pista dança com o o ato do de... abertura). fórmula em resto público, o qualA subitamente prática não a diverge muito do que preencheu reduzida capacidade vimos na A noite anteriorda (Nadja): do recinto. existência enorme retiramos um elemento, extraímos vitrine permitiu direta comunicação uma aquantidade considerável de entre banda e o exterior, servindo distorção temos Aidan Baker a como um eecrã televisivo para os solo. Aque capacidade comunicativa tardios se foram congregando. desta atuação, propiciada pela A setlist consistiu numa versão envolvência peculiar recinto, abreviada dodeste “Thaumogenesis” e da

revestiu-se de in contornos quase faixa “Absorbed you” do albúm ritualísticos. existia uma “The Bungled Não and the Botched”. audiência, um de conciliábulo. Letargia foi mas a palavra ordem. O Não completamente existia um músico, mas um duo, absorto na sua sacerdote. Em contraponto com performance, frente a frente, de perfil o somo que emanava a para público interiordoe palco, exterior audiência imersa em ao recinto,encontrava-se fez uso da mesinha de silênciode meditativo, pedais efeitos, deencontrando-se permeio, como inclusivamente parte dos presentes se de um tabuleiro de xadrez se de olhos Aidan fechados em atitude de tratasse. Baker, alternando absorção regozijo. Ada atuação entre o uso econvencional guitarra que foi recurso o perfeito desfecho e e o hábil às potencialidades complemento à atuação dosmesma, Nadja, de um arco de violino na revestiu-se de à um efeito quase foi dando asas sua inventividade, catárticouma na audiência sua sublimidade. Os perante mesmerizada sapatos a serem calçados por Söll com cada acorde suspenso na eram consideravelmente grandes, atmosfera como uma titânica massa porém o em músico aveirense OJorge cinzenta desintegração. final Pandeirada, à altura do concerto provou sucede estar com Aidan a do desafio. Apesar denoapresentar recolher a sua guitarra canto do uma tendência manipulando musical eletrónica, merchandising, o resto a sonoridade em emanente palco revelouda reverberação desta se surpreendentemente orgânica, mantra sónica nas pequenas caixas tendo conseguido simular a ideia eletrónicas de efeitos. A expectativa as paredes que revestiam o de que um encore foi frustada, no que evento e respiravam como de restooscilavam se revelou uma experiência um tórax deautêntica, um imenso mamífero. intensa, mas algo abreviada. Fotos e reportagem: Frederico Fotos e reportagem:Figueiredo Frederico Figueiredo

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SOEN + LIZZARD RCA – LISBOA 15.10.2015

SOEN INSPIRAÇÃO Chegámos ao RCA por volta das 21. A primeira banda já tinha acabado. Sem muitas demoras entraram os Lizzard em palco para debitar o seu rock/metal composto de grooves que me deixaram tremendamente entusiasmado por ter saído naquela noite para assistir a estes concertos. Confesso que ver Lizzard era uma viagem totalmente nova para mim - inesperada - e aos primeiros acordes deixei-me surpreender com o seu embalo cativante. Posso dizer desde logo que fiquei muito bem impressionado com a bela Katy Elwell que tinha uma naturalidade tremendamente eficaz no que toca aos seus fills bateristicos. As camadas de guitarras em loop que Mathieu Ricou ia adicionando aos temas também foram um ponto interessante do espetáculo para mim, visto o que podia resultar um som daquele género só com 1 guitarra. Mathieu ia acrescentando riffs à parede sonora da banda e isso permitia-lhe dedicarse à construção de estruturas e ambientes completamente absorventes enquanto com uma voz super versátil que variava entre um registo mais limpo e outros mais a

rasgar trazia uma mensagem forte à sua música. Tecnicamente muito bem ensaiados, é sempre agradável ver tal profissionalismo. Posso assegurar que ninguém ficou indiferente a toda aquela sonoridade energética e o público acabou por aderir muito bem aos apelos de Mathieu quando este gritava por nós nos intervalos das músicas. Os Soen eram claramente a banda da noite e a expectativa para ver músicos como Martin Lopez era muita. Soen respira inspiração por todos os lados e essa mesma ressonância reflecte-se nas pessoas que ouvem a sua música quando vibram com o espetáculo da forma que se pôde ver dia 15. O som não estava no seu auge - muito longe disso -, mas não penso que tenho prejudicado a banda que acabou por transcender essa dificuldade técnica com a sua habilidade para entreter quem os ouvia. A tocar para uma casa muito bem composta, seria excusado dizer que a entrada de Soen em palco foi muito ansiada por todas as pessoas ali presentes que acabaram presenteadas com

um belissimo concerto de uma das bandas progressivas da actualidade que está a deixar um rasto vivo que se incendia com uma forte chama por onde passa. A competência dos músicos é obviamente inegável e um marco a destacar quando se fala de Soen e é sempre curioso quando damos por nós a reparar na variedade de papeis que Lars Åhlund desempenha neste colectivo - desde guitarras a teclados ou mesmo instrumentos de percursão alternativos. Essencialmente somos obrigados a frisar que a voz de Joel Ekelöf carrega uma mais valia estrondosa para a banda e quando percebemos que ao vivo as suas vocalizações são ainda mais harmoniosas que aquelas gravadas no trabalho de álbum, ficamos muito espantados e agradados. Com uma recepção muito entusiastica por parte do público Português, os Soen deixaram antever que a sua vinda futuramente é um acontecimento bastante prevísivel que, e noutras circunstâncias sonoras, gostava de ver repetir-se. Fotos e reportagem: Pedro Remiz (Arcadia Studios)

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ENTREVISTA

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“TODOS QUERÍAMOS UMA PLATAFORMA EM QUE PUDÉSSEMOS EXPERIMENTAR COM OS GÉNEROS MUSICAIS QUE MAIS NOS ATRAEM ENQUANTO OUVINTES.”

CONSEQUENCE COM A EVOLUÇÃO NO HORIZONTE Q U A RT E T O F O R MADO HÁ T RÊS ANOS, O S CO NSEQ U ENCE AP R ES ENTA M NAS SU A S F I LEI R A S M Ú S IC O S C O M ALGUM A EXPERIÊNCIA A D Q U I R I D A EM OU TR A S BA NDA S . C O M “MANTI S ” , O Á L B U M D E E S T R EIA DEBAIXO DO BRAÇO, O GR U P O DE VI LA REA L PR ETENDE AG O R A MO S T R Á - LO A O V IV O , E X P L O RANDO AO M ÁXIM O A SO NOR I D A D E A R R O J A D A Q U E O C A R A C TER I ZA , UM MI S T O D E D E AT H ME TA L PROGRESSIVO COM ROCK A LTERNATI VO . PAR A MELHO R C O NHEC ER A B A N D A , O Á L B U M E O S P R OJET OS A CURT O PRAZO FA LÁ MOS CO M V O C A LI S TA/G U I TAR R I S TA, R A FAEL P I N T O . Por: dico A BANDA FORMOU -SE EM 2012, ESTANDO ATUALMENTE NA FORMAÇÃO TU, O RUI PINTO, (GUITARRA), O GUSTAVO GONÇALVES (BAIXO) E O TIAGO MACHADO (BATERIA). FALANOS DO PERCURSO MUSICAL DE CADA INTEGRANTE DA BANDA ATÉ AO MOMENTO PRESENTE, POR UM LADO; E, POR OUTRO, DO TRAJETO DO PRÓPRIO GRUPO.

R A FA EL P INTO : Todos temos experiência em outras bandas - eu e o gustavo já tivemos um grupo juntos há alguns anos e fizemos parte dos venial sin, de vila real. O tiago já foi baterista dos maninfeast e o rui foi membro fundador dos dyur. Em 2012 o tiago e o gustavo queriam formar uma banda de death metal progressivo e pediramme para fazer parte desse projeto, que viria a transformar-se nos consequence. Pouco depois o rui

juntou-se à banda, completando a formação atual.

ESTE É O ALINHAMENTO ORIGINAL OU JÁ PASSARAM OUTROS MÚSICOS PELOS CONSEQUENCE? R A FA E L P INTO : consideramos que esta é a formação original, somos todos membros fundadores. Houve um outro guitarrista que passou pela banda, mas muito brevemente

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“...USAMOS A BASE DO DEATH METAL PROGRESSIVO, MAS NUNCA SERÁ ESSE O RÓTULO QUE NOS DEFINE”

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apenas.

O VOSSO ÁLBUM APRESENTA UMA SÉRIE DE AMBIENTES E TEXTURAS, QUE ABRANGEM DIFERENTES ABORDAGENS MUSICAIS, DESDE O DEATH METAL PROGRESSIVO AO ROCK/METAL PROGRESSIVO, PASSANDO PELO ROCK ALTERNATIVO. ALÉM DISSO, APRESENTAM ALGUMA TENDÊNCIA EXPERIMENTALISTA. ESTA ABRANGÊNCIA DE GÉNEROS SURGIU NATURALMENTE NA VOSSA MÚSI CA OU FIZERAM UM ESFORÇO CONSCIENTE PARA QUE ESTAS CANÇÕES SOASSEM DESTA FORMA? RAFAE L P I N TO: essa heterogeneidade vem da intenção com que a banda foi formada. Todos queríamos uma plataforma em que pudéssemos experimentar com os géneros musicais que mais nos atraem enquanto ouvintes. Claro que o objetivo dessa experiência é a busca de um som próprio, que reflita as nossas identidades musicais. Por isso, pode dizer-se que essa variedade advém de um esforço consciente, ao mesmo tempo que, ao nível da composição, as ideias surgem de forma natural. Não gostamos de nos sentir limitados quando criamos algo novo. Usamos a base do death metal progressivo, mas nunca será esse o rótulo que nos define.

AINDA RELATIVAMENTE AOS TEMAS, ALÉM DAS ABORDAGENS ESTILÍSTICAS QUE JÁ DISSECÁMOS, UMA DAS CARACTERÍSTICAS QUE SALTA À VISTA É UMA AMBIVALÊNCIA ENTRE PESO E MELODIA, COM VÁRIAS PASSAGENS ACÚSTICAS, QUASE AMBI ENTAIS, ALTERNADAS COM DESCARGAS DE RAIVA. PRETENDERAM TRANSMITIR AO OUVINTE UMA CERTA DUALIDADE OU OS TEMAS ASSIM O PEDIAM? RAFAE L PI N TO: um pouco dos dois. Na realidade apreciamos esse contraste, que acaba por intensificar cada uma dessas partes. Fazer suceder uma secção quase acústica de algo bem mais pesado cria um choque que mantém os sentidos despertos, além de refletir a forma como as próprias emoções se sucedem na nossa vida quotidiana. Porém, não 8 5 / VERSUS MAGAZINE

achamos que essa dualidade seja necessária, caso não acrescente nada de positivo ao tema. Em primeiro está sempre o que a música pede, sem dúvida.

EM ALGUMAS PASSAGENS NOTASE A PRESENÇA DE BANDAS COMO OPETH OU SYSTEM OF A DOWN. QUISERAM DEIXAR PATENTES ESSAS INFLUÊNCIAS OU SENTEM QUE, SENDO UMA BANDA RECENTE, SE ENCONTRAM AINDA EM BUSCA DA VOSSA IDENTIDADE ARTÍSTICA E, NESSA MEDIDA, AS INFLUÊNCIAS SURGEM NATURALMENTE, COMO UM CERTO APOIO, ATÉ? R A FA EL P INTO : todos os artistas ou aspirantes a tal apresenta influências, que serão sempre mais ou menos evidentes. Porém, admitimos que sim, ainda estamos à procura da nossa identidade musical e a refinar o nosso processo criativo. Daí que isso se reflita no álbum, que é o nosso primeiro de originais e, portanto, o “sítio” ideal para este tipo de exploração musical. Por outro lado, o género em que nos movemos é definido, tal como todos os outros, pelas grandes bandas que nele se inserem, logo, é natural que tais semelhanças se notem.

GRAVARAM O DISCO NOS BLIND & LOST, COM A CAPTAÇÃO, PRODUÇÃO, MISTURA E MASTERIZAÇÃO A CARGO DO GUI LHERMINO MARTINS. AO OPTAR POR ESTA POSSIBILIDADE, QUE OBJETIVOS TINHAM EM MENTE? R A FA EL PINTO : o guilhermino já é nosso conhecido há alguns anos, assim como o é a qualidade dos projetos gravados por ele. O nosso objetivo de escolher os blind & lost studios era assegurarmo-nos de que a produção se encontrava em boas mãos, nas mãos de alguém em que confiássemos plenamente.

NO CÔMPUTO GERAL, ESTÃO SATISFEITOS COM O DISCO OU SENTEM QUE PODERIAM TER FEITO ALGO DIFERENTE? R A FA EL P INTO : piores críticos, sentimento de estar melhor,

somos os nossos existe sempre esse que algo poderia mais refinado. No

entanto, temos de deixar que sejam as outras pessoas a julgar a nossa música, e dito isto estamos satisfeitos com as reações que o álbum tem recebido. Estamos atentos às críticas construtivas que surgirem para podermos crescer nesta área.

ENCONTRAM-SE DE MOMENTO A DIVULGAR O ÁLBUM. JÁ TÊM PLANOS DEFINIDOS PARA O RODAR AO VIVO? R A FA E L P INTO : o nosso plano pouco muda - consiste em tocar o máximo possível, pois além de compor, é de tocar ao vivo que mais gostamos. Também estamos embrenhados em detalhes (um pouco mais aborrecidos) associados à divulgação, mas ansiamos sempre pela próxima oportunidade para subir a mais um palco!

FINDA A FASE PROMOCIONAL DO ÁLBUM QUAL É O PRÓXIMO PASSO NA CARREIRA DOS CONSEQUENCE? R A FA E L P INTO : sem dúvida, voltar a compor! Queremos lançar algo maior e melhor, continuar o caminho que temos trilhado como banda e descobrir o que nos aguarda o futuro a nível musical!

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“(…) O QUE PROCURO COM A MÚSICA QUE CRIO É POTENCI AR O PENSAMENTO E A REFLEXÃO. NELA ESTÃO SEMPRE IMPLICITAS AS QUESTÕES EXISTENCIAIS.”

TALES AND MELODIES CONTOS MUSICAIS É MA IS U M VA LOR EM ERGENT E DA M ÚS I C A L U G A R A O S O L. TALES AND M ELODIES É J O S É S A N T O S . GENUÍNO, ACIM A DE T U D O , D A S ME L O D IA S E DOS CONT OS. VAM OS LÁ

NAC I O NAL, A LG U ÉM Q U E P R O C U R A O MER EC I D O U M P R O J EC TO NA S C I D O E A R Q U I TEC TAD O P O R MOS TR A MU I TO LAB O R E TALENTO AO S ERV I Ç O DES C O B R I R A MÚ S I C A PO R DETR Á S DO H O MEM.

Por: Eduardo Ramalhadeiro OLÁ ZÉ! ANTES DE MAIS, PARABÉNS PELO TEU TRABALHO - “THERE’S ALWAYS SOMETHING RELATED TO IT” É MUITO BOM E ALGO SUI GENERIS. A MINHA PRIMEIRA PERGUNTA É: QUEM ÉS TU? :-) ZÉ: Viva, antes de mais gostaria de te agradecer esta oportunidade de falar sobre mim e sobre o meu trabalho. Em relação à tua primeira questão, bem... Quem sou eu? Perguntas tu... Acho que sou mais um daqueles moços que nasceram na decada de 80 e cresceu numa freguesia do interior do país que, ironicamente, se chama Aldeias. Desde que me lembro, sempre fui apaixonado por música, pelo

que ela me fazia sentir. A música moldou parte do que sou, com toda a certeza foi um caminho para o gosto e desejo pela arquitetura. Acompanhou todo o meu percurso até aos dias de hoje. Por esse motivo, hoje sou, entre outras coisas, um moço que se esforça para comunicar a sua mensagem através das várias coisas que cria.

COMO É QUE TE SURGIU A IDEIA DE, SOZINHO, CRIARES E MANTERES OS TALES AND MELODIES? ZÉ: Tales and Melodies surgiu cerca de um ano depois de ter deixado ManInFeast. Após esse período parado senti que tinha que fazer algo. Acabei por pegar em algumas

ideias que tinha na gaveta, outras que tinham surgido entretanto e comecei a compor os primeiros temas para Tales and Melodies. O projeto tornou-se sério quando houve a proposta de tocar no TRC CLUB, um evento organizado pela ZigurArtists. Nessa altura ainda andava a testar algumas coisas, acabei por convidar o João Pina, companheiro de longa data, para tocar bateria. Desde então a coisa foi andando, as oportunidades foram aparecendo e cada vez mais Tales and Melodies ganha forma e projeção.

COMO JÁ DISSE O QUE CRIAS É DIFERENTE, GOSTO DE TODO O AMBIENTE MUITO ALTERNATIVO 86 / VERSUS MAGAZINE


“É VERDADE, NÃO TENHO UMA BANDA. GOSTO DE, SEMPRE QUE POSSÍVEL, TOCAR COM OS MEUS AMIGOS, QUE ACOMPANHARAM O PROJETO DESDE SEMPRE, E BASICAMENTE A COISA CORRE BEM SEM ENSAIO.” E ALGO CRU QUE IMPINGES NA MÚSI CA. NA TUA PÁGINA WWW. TALESANDMELODIES.COM QUE TODOS OS LEITORES DA VERSUS DEVEM VISITAR – TENS ESCRITO QUE “(…) FORMALIZAS IDEIAS PENSAMENTOS, CRIANDO MELODIAS QUE SERVEM DE BASE A HISTÓRIAS SOBRE O SER E O NÃO SER!” É ASSIM QUE DEFINES OS TALES AND MELODIES E A MÚSICA POR TI CRIADA? ZÉ: Sim, o que procuro com a música que crio é potenciar o pensamento e a reflexão. Nela estão sempre implicitas as questões existenciais. A música representa, em última instância, uma porta para as questões do espiríto. Gosto de pensar que Ser é bastante mais do que o que de nós é tangível. Por isso digo que as histórias são sobre o Ser e o não Ser.

ALÉM DESTE EP DE ESTUDIO TENS UM EP GRAVADO AO VIVO COM TRÊS TEMAS. ONDE É QUE ISTO ACONTECEU? ZÉ: Aconteceu no primeiro concerto, naquele do TRC CLUB. O nome não podia ser mais objetivo, “Fresh New Start” – Novo Começo, porque

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era isso que o projeto representava para mim naquela altura. Foi um passo importante para o que Tales and Melodies é atualmente.

QUAIS SÃO AS TUAS PRINCIPAIS INFLUÊNCIAS MUSICAIS? ZÉ: As minhas principais influências são bastante variadas, mas há alguns nomes que posso referir por terem sido bandas/projetos que, a certo ponto, me marcaram de uma forma mais vincada. Nirvana, Marilyn Manson, Smashing Pumpkins, Deftones, Pj Harvey, Björk, The White Strips, The Kills, Yeah Yeah Yeahs, Deap Vally e mais alguns nomes que posso estar a esquecer-me entretanto.

TU ÉS O PRINCIPAL RESPONSÁVEL E MENTOR CRIATIVO DESTE PROJECTO, PENSO QUE NÃO TENS UMA BANDA, QUÃO DIFÍCIL É PARA TI MANTER ESTE PROJECTO? ZÉ: É verdade, não tenho uma banda. Gosto de, sempre que possível, tocar com os meus amigos, que acompanharam o projeto desde sempre, e basicamente a coisa corre bem sem ensaio. Tenho a agradecer-lhes todo o apoio que

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têm dado e os bons momentos de palco que vão proporcionando. Falo do Afonso Lima, do João Pina, do Manel Guimarães, Guilhermino Martins e da Erica Ferrreira, a única mulher da casa, que trouxe o brilho da Weather and Pleasure. Em relação à sustentabilidade do projeto, estar sozinho tem vantagens e desvantagens, mas penso que a dificuldade prendese mais com a falta de tempo para fazer tudo o que é necessário. Outra coisa que também não ajuda é a inexistência de pressão por parte de outros elementos e por isso, no que respeita a prazos, estes tornam-se geralmente muito incertos.

ESTA É UMA DAS PERGUNTAS QUE COSTUMO FAZER A QUASE TODAS A BANDAS PORTUGUESAS: NÃO VIVEMOS PROPRIAMENTE NUM PAÍS DE OPORTUNIDADES NO QUE DIZ RESPEITO À MÚSICA. A CULTURA É SUBVALORIZADA E É MUIT O DIFÍCIL VIVER DA MÚSICA. TU TENS 2 EPS MAS NÃO TENS EDITORA, QUÃO DIFÍCIL FOI PARA TI CHEGAR ATÉ AO TEU ÁLBUM DE ESTREIA? O QUE SENTISTE QUANDO FINALMENTE VISTE O TEU TRABALHO FINALIZAD O?


“SINCERAMENTE PENSO QUE PORTUGAL ESTÁ A PASSAR UMA FASE DE OURO NO QUE RESPEITA À MÚSICA. CADA VEZ MAIS SURGEM NOVOS PROJETOS, COM SONORIDADES BEM VINCADAS E MUITOS DELES MARCADOS PELO CARIZ EXPERIMENTAL, ABUSANDO DA EXPLORAÇÃO DAS TÉCNICAS E DAS TECNOLOGIAS.” ZÉ: Na verdade os meus trabalhos foram editados através da ZigurArtists, uma netlabel sediada em Lamego. É uma editora com um cariz ligeiramente distinto do convencional porque acredita na livre partilha da cultura, podem aceder e descarregar os EPS de Tales and Melodies e de outros trabalhos interessantes através do BandCamp. É uma ideologia que tem ganho alguma adesão e que, a meu ver, faz muito sentido no estado atual do panorama musical.

É TUA IDEIA TENTAR OBTER CONTRATO COM UMA EDITORA OU PREFERES SER INDEPENDENTE? ZÉ: Preteno continuar a trabalhar com a ZigurArtists tanto quanto me for possível. É uma família à qual pertenço desde o início e dela faz parte a malta que já referi a cima e muita outra malta que se esforça para que os trabalhos dos artistas da casa encontrem o seu público.

QUEM TE AJUDOU OU PARTICIPOU NA GRAVAÇÃO DE “THERE’S ALWAYS SOMETHING RELATED TO IT”? ZÉ: O EP contou com a participação do Guilhermino Martins na produção, mistura e voz na “Ode To The Moon”, o Manuel Guimarães ajudou na composição dos beats, a Erica Ferreira na voz da “Weather and Pleasure” e todo o conceito foi idealizado com a ajuda do Afonso Lima e do João Pedro Fonseca. Este último desenhou também todo o artwork. Para a gravação do Clip da Weather and Pleasure contei com o Ricardo Cabral e o João Rebelo na realização, com o André Marinho e o Zé Miguel como assistentes de Câmera e com a Cláudia Marques Matos e a Luísa Cabral na caracterização. Uma equipa cinco estrelas, à qual estou bastante grato.

Portugal está a passar uma fase de ouro no que respeita à música. Cada vez mais surgem novos projetos, com sonoridades bem vincadas e muitos deles marcados pelo cariz experimental, abusando da exploração das técnicas e das tecnologias. Entendo que, quando falas de mediocridade, te refiras às sonoridades com maior aceitação no nosso país. Acho que as oportunidades vão aparecendo, no entanto, como em tudo, as sonoridades com maior público têm, logo à partida, melhores oportunidades e isso vai-se tornando num ciclo vicioso. A malta que se singe às rádios e afins acaba por conhecer apenas o que lhe mostram e, depois disso, o que é estranho não soa tão bem. É o tal ciclo.

O TEU SUCESSO E RECONHECIMENTO TAMBÉM PASSA PELA PROMOÇÃO E DIVULGAÇÃO. CADA VEZ MAIS AS BANDAS TÊM DE TRABALHAR NESSE ASPECTO. É DIFÍCIL PARA TI GERIRES ISTO? ZÉ: Basicamente tenho contado com a ZigurArtists para fazer a divulgação dos meus trabalhos. Após cada lançamento procuro marcar o maior número de concertos possível para que consiga chegar com esse trabalho ao maior

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número de pessoas possível. Conto também com a ajuda do Vilametal e da Cadeira Amarela - amigos que fui conhecendo por estar no mundo da música, amigos que, como eu, lutam por este movimento emergente de novas bandas.

MUITO DO CONHECIMENTO QUE EM PORTUGAL É POSSÍVEL TER VEM DOS CONCERTOS EM BARES E SALAS PEQUENAS. COMO ESTAR A SER A TUA VIDA NESTE ASPECTO? MUITOS CONCERTOS? QUE DATAS TENS AGENDADAS PARA PODERMOS DIVULGAR, PORQUE A TUA QUALIDADE MUSICAL MERECE SER CONHECIDA E RECONHECIDA. Z É : Agora para o final do ano a coisa está calminha mas durante este ano, dei cerca de 20 concertos e já pisei o palco de algumas salas emblemáticas, às quais conto voltar em breve. Entre elas estão algumas Fnac’s, o Plano B, o Maus Hábitos, o Bartô e o Estudantino. Também alinhei no ZigurFest, Um ao Molhe, Meda+, Vinho Folar e Rock ‘n’ Roll e Vila Metal.

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É INCRÍVEL QUE DAD A A QUANTIDADE DE MEDIOCRIDADE NO PANORAMA MUSI CAL NACIONAL, NÃO SEJAM DADAS MAIS OPORTUNIDADE A PROJECTOS SÉRIOS E COM QUALIDADE. COMO É QUE VÊS A QUALIDADE E O PANORAMA DA MÚSI CA EM PORTUGAL? ZÉ:

Sinceramente

penso

que

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PANTERA S E H Á N O M E S Q UE DISPENSAM APRESENTA Ç Õ ES ES TE É, SEM SO MBR A D E D Ú V I D A , UM DELES . FO R A M U MA D A S M A IO RES, E, AT REVO-M E A DIZER, U MA DA S MA I S CO NSENSU A I S BA NDA S DE META L D A D É C A D A D E 9 0 . O SEU T ÉRM INO OFICIAL DE U-S E EM 20 0 3 , MAS HO J E EM DI A AI NDA CO NTA M C O M U MA E N O R M E E F I E L LEGIÃO DE FÃS. O ASSASSÍ NI O DE “DI MEBA G ” DA R R EL CO NTI NU A MU I TO PR ES EN T E N A S N O S S A S M EM ÓRIAS, M AS, QUE M ELHO R MANEI RA D E LH E P R ES TAR A D EV I D A H O MENA G EM D O Q U E R E C O R D A R A GRANDE OBRA QUE ELE A J U D O U A C R I A R ? ES TA É U MA B R EV E H I S TÓ R I A S O B R E U N S MO N S T R O S S A G RADOS DA M ÚSICA QUE, JU NTOS , SE D AVAM A C O NHEC ER P ELO NOME DE PAN T ER A . Por: Ivo Broncas Não deixa de ser irónico que a história de uma das mais icónicas formações de Metal esteja intimamente ligada, numa fase embrionária, a um estilo de música completamente diferente. Os irmãos Darell Lance Abbott (mais tarde conhecido por “Diamond” e posteriormente por “Dimebag”) e Vinnie Paul Abbott, tocaram pela primeira juntos com o seu baixista de sempre, Rex Robert Brown, numa banda de…Jazz. Embora não tenha a informação certa de quando isto aconteceu, certo que é que em 1981 convidaram o

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vocalista Terry Blaze, e formaram em Arlington no Texas os Pantego. Não, não foi uma gralha. Este foi o nome original da banda. Uma direta alusão a uma pequena cidade que dista cerca de três quilómetros da sua cidade natal. Porém, após perceberem que este era um nome extremamente infeliz, alteram-no, e aí sim. Nasceram os Pantera. Nesta fase inicial da carreira o grupo adotou um look “Glam metal” com um som a condizer. Mas palavras para quê? Basta ver a foto e mais explicações serão absolutamente desnecessárias! Foram estes “Pantera” que lançaram os álbuns “Metal Magic” de 1983, “Projects in the Jungle” de 1984 e I Am the Night de 1985. Escusado será dizer que tiveram, felizmente, dirão todos os fãs da banda, muito pouco sucesso com estes trabalhos. Aliás, não deixa de ser interessante que, numa banda que teve graves problemas internos e um historial de abuso de bebida e drogas, a existência destes álbuns seja, embora não oficialmente, considerada quase que uma página negra na sua história. Para corroborar esta ideia temos o simples facto destes trabalhos não constarem na discografia dos Pantera no seu site oficial. Mas isso será discutido mais adiante. Corria o ano de 1986 quando se

deu o início de uma “revolução musical” no que à música pesada diz respeito. No espaço de dois anos foram lançados álbuns épicos que ainda hoje em dia são reverenciados, nomeadamente “Master of Puppets” (Metallica), “Reign in Blood” (Slayer), “Among the Living” (Anthrax) e “Peace Sells... but Who’s Buying?” (Megadeth). Este novo e impressionante som que tanto furor estava a causar, influenciou, e de que maneira, os irmãos Abbott. Esta envolvente histórico-musical, aliada ao insucesso que estavam a ter com a sua música, terão sido, provavelmente, os fatores que levaram à decisão de dar um novo rumo aos Pantera. Desde logo concordaram que o estilo e abordagem vocal de Terry Blaze já não se encaixava no som que banda pretendia alcançar, o que resultou, inevitavelmente, no seu afastamento. Ao que consta, a busca por um novo vocalista não foi fácil. Sabe-se que David Peacock ainda assumiu o cargo durante um ano, mas não participou em nenhuma gravação oficial. Finalmente, em 1987, a demanda teve um fim. O já então carismático jovem de 19 anos natural de Nova Orleães, Philip Hansen Anselmo, conhecido na altura como “the original circus freak” aceitou um convite que, mal sabia ele, iria marcar não só a sua vida, como também a história da música “Metal”: o de ser vocalista

dos Pantera. Um ano após a integração do novo vocalista é gravado “Power Metal”, aquele que pode ser encarado como um trabalho de transição. Muito mais pesado, e mais bemsucedido que os anteriores, embora apresentasse ainda vestígios de influências do “Glam Metal” que caracterizou a formação nos seus primórdios. O ano de 1989 foi, ao que tudo indica, um ano determinante não só para o sucesso dos Pantera, mas também para a sua continuidade enquanto banda. Que Dave Mustaine está constantemente a alterar, por uma razão ou por outra, a formação dos seus Megadeth, já não é novidade para ninguém. O que poderá ser novidade para os fãs menos atentos é que Dimebag fez audições, e foi convidado por Dave Mustaine a fazer parte do seu projeto. Contudo, a lealdade para com o seu irmão levou-o a declinar o convite. Dave Mustaine explica numa entrevista, com o seu jeito muito peculiar, o que aconteceu: “Desde a saída do Jeff (Young) e a entrada do Marty (Friedman) só houve duas pessoas que convidei para entrarem na banda. Uma foi Jeff Watters dos Annihilator, mas ele vivia muito longe (…) outra foi Darrel Abbott. E ele provavelmente teria feito parte da banda se não tivesse já contratado Nick Menza. Darryl e eu falámos um bocado,

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e nisto ele pergunta-me: “Posso levar o meu irmão?” E eu perguntei quem era. E ele diz-me “é o meu baterista.” E respondi: Oh me#@! Acabei de contratar o Nick Menza! E a partir desse dia foi cada um para seu lado”. E continua dizendo: “Eu adorava ter tocado com o Darrel e com o Vinnie. Sem ofensa para o Nick Menza, mas acho que tomei a decisão errada.” Se me permitem aqui uma nota pessoal, sou da opinião que recusar um

ver como corre!” Outro progresso enorme teve a ver com estilo musical que pretendiam adotar dali em diante. Segundo Rex Brown na sua biografia oficial: “A música pesada em 1989 estava a passar por um processo de mudança. Dava a sensação que algures no horizonte estava a surgir um estilo de som diferente, e que em breve seria rotulado como alternativo. Jane´s Addiction, Voivod, Faith No More, Soundgarden… todos eles

trabalho nos Megadeth e continuar, no que era na altura uma banda sem sucesso e sem perspetivas de futuro, para não “abandonar” o seu irmão, diz muito sobre a personalidade de uma pessoa. Porém, e acho que posso falar por milhões de pessoas quando digo: Dave…tomaste a decisão certa! Porque com essa decisão contribuíste, mais ou menos diretamente, para a ascensão dos Pantera. Embora o conjunto Texano estivesse ativamente à procura da mudança de estilo que tanto desejavam, na realidade, o caminho certo para o fazer ainda não tinha sido encontrado. Uma grande parte foi conseguida quando Phil Anselmo assumiu as vozes, mas pura e simplesmente não era suficiente. O rumo começou a ser delineado após o lançamento de “Power Metal”. Para começar, uma mudança nas indumentárias que usavam em palco. Vinnie Paul, cansado das mesmas, numa reunião da banda terá abordado a questão da seguinte forma: “Estas roupas não tocam músicas. Nós é que tocamos. Vamos para o palco confortáveis, com jeans, t-shirts…e

lançaram discos poderosíssimos. Então, absorvemos essas influências, juntámo-las com aquilo que os Metallica tinham feito e criámos o nosso próprio som.” E assim, com um caminho bem definido, gravaram e lançaram em 1990 “Cowboys from Hell”. Podemos literalmente dizer que existiram uns Pantera antes e outros completamente diferentes depois deste trabalho. As influências do “Glam Metal” desapareceram dando lugar a um estilo mais extremo. Claramente influenciados pelo Trash Metal que surgiu em 1986, o ritmo era mais elevado, as guitarras mais complexas e pesadas, e embora Phil Anselmo ainda fizesse uso de falsetes, a sua abordagem era mais agressiva. Com este estilo que viria mais tarde a ser apelidado de “Power Groove”, ou “Groove Metal”, renasceram. Este álbum, cujo título deu origem à “alcunha”, ou se preferirem, o nome não oficial da banda, foi um marco tão importante que negligenciaram todos os trabalhos de originais anteriormente lançados. Daí a razão de não constarem na discografia no site oficial da banda. Ter um exemplar de um desses discos tem-

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se revelado uma autêntica caça ao tesouro. Passados dois anos, no dia 25 de Fevereiro de 1992, a história da música pesada muda com o lançamento do segundo álbum dos “verdadeiros Pantera”: “Vulgar Display of Power”. Torna-se quase ingrato tentar descrever este que é tido como muitos como uma obra obrigatória dentro do género. Desde logo, a capa! Numa altura em que o acesso à música não era tão fácil como aquele que temos hoje em dia, e em que as capas ajudavam (e muito) a vender discos, esta cumpria perfeitamente a sua função. Como bem sabem consiste, apenas e tão só, numa fotografia a preto e branco, tirada no exato momento em alguém é atingido por um valente soco. Não só era diferente de tudo o que se via, como também provocava algum choque e suscitava curiosidade. (Deixo aqui o meu apreço pelo fã que se voluntariou para ser atingido com violência cerca de 80 vezes até terem conseguido tirar esta foto.) Para além do mais, dava ainda uma boa ideia sobre como soaria o disco: uma descarga de energia como há muito não se via. Um golpe que nos atingia sem aviso e nos abalava, mas no bom sentido claro está. Phil Anselmo substituiu os falsetes por uma forma de cantar semelhante à do Hardcore, muito mais pesada, verificando-se também uma maior entrega da sua parte. Dimebag, como guitarrista virtuoso e expressivo que era, conseguiu pegar na técnica característica de um dos seus ídolos, Eddie Van Halen, e transportá-la para o “universo Pantera”. A sua guitarra e a bateria do seu irmão Vinnie Paul eram tocadas ora quase em uníssono quando o objetivo era criar um ambiente pesado, ora complementando-se com harmonia nas seções mais melódicas. A acompanhar, e bem, todas as músicas, estava o baixo de Rex Brown. Sendo gravado numa abordagem semelhante àquela que se tem quando se grava um disco “ao vivo” (o que explica em muito as sensações transmitidas aquando da audição do mesmo), nalgumas canções apenas se ouvia uma guitarra. Nesses casos, o baixo teve um desempenho brilhante ao em manter a dinâmica das mesmas, quando os solos arrasadores de


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Dimebag entravam em cena. Os adjetivos “cru” e “agressivo” são habitualmente designados para descrever, a que será para mim, a obra-prima dos Pantera. Embora sejam adjetivos mais que adequados, a sua utilização poderá dar uma primeira impressão de que foi um álbum menos trabalhado. Contudo tenho uma opinião contrária. Acredito que o som que apresentaram foi pensado, trabalhado, e amadurecido ao longo dos anos. Este planeamento aliado ao facto de ter sido interpretado por excelentes executantes tornou este álbum imortal. E foi com este longo trabalho, cujo nome foi inspirado numa cena do filme “O Exorcista”, que os Pantera se tornaram numa das bandas mais populares e influentes do género. Músicas como “Walk”, “Fucking Hostile”, “Mouth for war”, entre outras, ficarão para sempre nos anais da história. Impulsionado pelo sucesso do álbum anterior, os Pantera conseguiram vendas record quando “Far Beyond Driven” chegou às lojas em 1994. Numa fase em que o Metal mainstream estava a efetuar uma longa e entediante travessia no deserto, este disco foi um autêntico oásis para os fãs do estilo. A banda presenteou o público com canções que, embora tivessem um ritmo menos frenético daquelas incluídas em “Vulgar Display of Power”, eram mais pesadas, em parte devido à escolha de Dimebag em mudar a afinação da sua guitarra. O single “5 minutes alone” tornou-se num êxito e teve “honras” de passar frequentemente na MTV. Para além desta canção, destacaria talvez, e por motivos bem diferentes, “Planet Caravan”, uma cover dos Black Sabbath, e “Good friends and a bottle of pills” pela letra polémica. Pareciam assim estar reunidas todas as condições para os Pantera continuarem a sua ascensão meteórica. Contudo, em 1995, quando voltaram a entrar em tournée, os problemas começaram a surgir. Segundo os irmãos Abbott, Phil Anselmo começou a comportar-se de forma estranha e distanciar-se do resto da banda, aquando do regresso da mesma à estrada para

a promoção do seu último trabalho. Este comportamento deveu-se, direta e indiretamente, a uma lesão contraída pelo mesmo. O seu incrível desempenho em palco teve um preço. O intenso “headbanging” que executava levou à destruição da cartilagem existente entre duas vértebras cervicais. Osso raspava com osso. Vértebra com vértebra. E quantos mais concertos davam, mais se agravava a lesão. Relativamente ao que sentia nessa fase, Phil Anselmo disse mais tarde numa entrevista: “Estar em tournée era para mim um misto de emoções. A dor era muito intensa, mas a motivação estava lá. Os momentos em que estava em palco apreciavaos bastante. Mas nesta fase bebia todas as noites uma garrafa inteira

O acumular de tensões na banda era agora inevitável. Vinnie Paul abordou anos mais tarde a questão: “O Phil começou-se a isolar. Tinha o seu próprio autocarro e chegou a um ponto em que só nos víamos vinte a trinta minutos antes dos concertos. Nunca sabíamos se iria estar de bom ou mau humor. Só esperávamos que ele estivesse sóbrio o suficiente para conseguir aguentar o concerto até ao fim.” Este distanciamento nunca foi ultrapassado, e os conflitos internos apenas se foram intensificando. Como tal, decidiram levar a cabo as sessões de gravação do álbum “The Great Southern Tendkill” em locais diferentes. Phil Anselmo refugiou-se na sua terra natal de Nova Orleães, utilizando o estúdio de Trent Raznor

de Whiskey para adormecer a dor. Estava a começar lentamente a enlouquecer, e isso deveu-se ou ao abuso de comprimidos, ou de álcool, ou do desgaste mental que é viver com dor crónica, ou de todos estes factores conjugados.” Segundo o mesmo, ainda foi considerada uma operação, mas, devido à sua complexidade e tempo de recuperação que exigia, excluiu-a quase imediatamente. Daí à decisão de usar heroína como analgésico foi um pequeno passo.

(Nine inch nails), enquanto o resto da banda trabalhou em Dallas. O que é considerado por muitos como o álbum menos marcante da nova fase dos Pantera, teve, como não podia deixar de ser, uma sonoridade mais sombria com muita referência ao abuso de substâncias ilícitas, como se pode observar nas faixas “Suicide Note Pt. I”, “Suicide Note Pt. II” e “Living Through Me (Hell’s Wrath)”. Foi lançado a 7 de Maio de 1996. A 13 de Julho desse mesmo ano, Phil Anselmo sofreu 92 / VERSUS MAGAZINE


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uma overdose de heroína. “Eu, Philip H. Anselmo, imediatamente após um concerto muito bem conseguido em Dallas, injetei no meu braço uma dose letal de heroína, e estive morto durante quatro ou cinco minutos. Não ouvi música, não vi luzes bonitas, nada. (….) Apenas me lembro de acordar na ambulância. A partir daquele momento percebi que a única coisa que pretendia era voltar ao autocarro e continuar a tournée. (…) Sabem, eu não sou um viciado em heroína, mas sou um viciado em drogas endovenosas. E a lição que aprendi foi que todas as coisas horríveis que ouviram acerca deste vício são absolutamente verdade. (…) Desde então recuperei completamente e pretendo continuar assim. O meu especial agradecimento aos meus amigos e família que me apoiaram, e aos fãs que me deram ânimo. (…) Eu não morrerei tão facilmente! Ainda vou chatear a indústria musical durante muito mais tempo. Sinceramente: Philip H. Anselmo” Foi desta a declaração feita pelo mesmo algum tempo após este incidente. Este quase trágico acontecimento parece ter atenuado alguns dos problemas que tinham vindo a corroer as relações entre Phil Anselmo e os irmãos Dimebag e Vinnie. Para corroborar esta análise está o facto de terem voltados todos ao estúdio em 1999, para juntos gravarem o que viria a ser o seu último álbum de originais “Reinventing the Steel”, cujo lançamento se deu em Março de 2000. Após os eventos de 11 de Setembro de 2001, Phil Anselmo manifestou aos restantes elementos a necessidade de tirar um ano sabático. Porém, os sucessivos lançamentos de álbuns e tournées consecutivas com os seus projetos alternativos Down e Superjoint Ritual pareciam contradizer as suas intenções. Esta aparente dualidade de critérios frustrou Dimebag Darrel e Vinnie Paul. O que seguiu foi uma série de mal entendidos, troca de acusações, declarações e desmentidos que levaram ao término dos Pantera. O carismático vocalista afirma que a separação foi de mútuo acordo. 9 3 / VERSUS MAGAZINE

Os irmãos por sua vez, nunca o interpretaram assim, e afirmaram que tentaram retomar o contacto com Phil Anselmo por diversas ocasiões. Este diz que tal facto não é verídico, e por aí em diante. No meio deste turbilhão estava Rex Brown que mais tarde confessou: “(…) foi tudo uma discussão sem sentido na qual eu não queria estar envolvido.” Finalmente, o inevitável aconteceu. Em 2003, os mesmos elementos que estiveram na origem da formação da banda, quando perceberam que o seu vocalista não teria intenções de se voltar a reunir com eles, anunciaram formalmente a sua dissolução. Todas estas emoções ainda bem à flor da pele deram origem a uma autêntica guerra de palavras via imprensa musical, tão intensa quanto a música que criaram. Naturalmente, nesta fase, as hipóteses de reconciliação eram mínimas. Assim sendo, pouco restava aos agora ex-membros do conjunto texano senão encarar uma carreira além Pantera, e assim aconteceu. Phil Anselmo dedicouse exclusivamente aos que eram até 2001 os seus projetos alternativos, contando com Rex Brown como baixista principal dos Down. Quanto aos irmãos Abbott, formaram a sua própria banda, os Damage plan, que no seu álbum puderam contar com as participações de peso como as de Corey Taylor, Jerry Cantrell e inigualável Zakk Wylde. Contudo, a quezília entre Phil Anselmo e os seus antigos companheiros de banda (à exceção Rex Brown) não esmoreceu, muito pelo contrário. O expoente máximo destas hostilidades teve lugar quando o agora exvocalista dos Pantera proferiu uma declaração que se veio a revelar histórica, mas pelos piores motivos: “Dimebag merece ser espancado violentamente.” Mais uma vez uma chuva de afirmações e contradições sobre este caso em concreto inundaram as notícias, e agarram os fãs às notícias, sites e revistas da especialidade. Mas tudo isto passou para segundo ou mesmo terceiro plano após o dia 8 de Dezembro de 2004. Nessa fatídica data, um individuo perturbado, cujo nome a meu ver não merece ser mencionado,

atingiu fatalmente em Columbus, no estado de Ohio, Dimebag Darrel quando este estava em palco. Ao expressivo e talentoso guitarrista, que durante tantos anos nos tinha encantado com as suas criações e desempenhos ao vivo, foi-lhe arrancada a vida de uma forma cruel e sem razão aparente. Faleceu no local onde sempre brilhou: no palco. Escusado será dizer que este ato vil e cobarde chocou todos os apaixonados por música. Fãs e profissionais entraram em luto, houve uma onda de consternação, tristeza e solidariedade, que se propagou desde o Rock mais comercial ao mais extremo. O eterno líder dos Kiss, Gene Simmons, tornou realidade um desejo antigo de Dimebag: ser enterrado num dos famosos caixões dos Kiss. Tratavase de um item raro, mas a mega estrela doou o único exemplar que possuía à família Abbott. Eddie Van Halen doou também um precioso objeto seu: a sua tão querida guitarra “Bumblebee”, a original de 1979. Foi com esta guitarra, símbolo da sua paixão pela música e da admiração para com um ídolo seu, que foi sepultado Darell Lance Abbott. Os fãs perderam um ídolo, a família perdeu um membro amado, muitos perderam um amigo… a história da música ganhou uma lenda. Mas quão injusto é ter-se ganho uma lenda desta forma? Numa altura em que se fala de uma vontade de elementos da banda em se reunirem, e, juntamente com Zakk Wylde, prestarem homenagem a Dimebag, surgem também declarações de Vinnie Paul que isso nunca vai acontecer. Mas no fim de contas, quem é que vai estar agora a analisar declarações e alimentar mais polémicas? Os verdadeiros seguidores dos Pantera não serão certamente. Dimebag já não está entre nós, mas a sua obra perdura, é brilhante, e irá ser perpetuada pelos fãs. Porém, o seu maior feito foi conseguir que, onde quer que se oiça um riff criado por si, os apreciadores do género irão sempre esboçar um sorriso, como que rendidos à sua genialidade.


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ENTREVISTA

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“O QUE NOS INTERESSA MAIS NA MÚSICA É PODER EXPRIMIR SENTIMENTOS. NÃO NOS PREOCUPÁMOS COM GÉNEROS, FRONTEIRAS OU AS EXPETATIVAS DO PÚBLICO.”

MORD’A’STIGMATA MORTE E ETERNIDADE E I S D U A S ID E I A S QUE, APESAR DE ANTAGÓNICA S (P ELO MENOS À PR I MEI RA VI S TA) C O S TU MAM A N D A R D E MÃOS DADAS. QUE O DIGA STATIC, O MENTOR DOS POLACOS MORD’A’STIGMATA, QUE ACEITOU – PELA SEGUNDA VEZ – SER ENTREVISTADO PARA A VERSUS MAGAZINE – AGORA A PROPÓSITO DE «OUR HEARTS SLOW DOWN». Por: CSA Photos: Rafal Kotylak É A SEGUNDA VEZ QUE VOS ENTREVISTO. A PRIMEIRA FOI FEITA AQUANDO DO LANÇAMENTO DE «ANSIA», EM 2013. E TAMBÉM É A SEGUNDA VEZ QUE FICO MUITO BEM IMPRESSIONADA COM A VOSSA MÚSICA. STATI C: Fico muito contente por podermos “falar” novamente sobre a nossa música. Obrigado pelos elogios feitos a Mord’A’Stigmata. É sempre um prazer descobrir que as pessoas se interessam pelo nosso som.

COMO FOI RECEBIDO O ÁLBUM ANTERIOR? FIZERAM MUITOS CONCERTOS PARA O PROMOVER?

S TAT IC : A reação a «Ansia» foi ótima, muito acima das nossas expetativas. Durante o processo de composição, apercebemonos de que tínhamos criado algo especial, mas a nossa experiência relacionada com os dois álbuns anteriores fez-nos compreender que provavelmente teríamos apenas um pequeno grupo de fãs. Para nossa grande surpresa, «Ansia» acabou por ser o nosso lançamento mais popular e elevou a banda a um nível bem superior ao previsto inicialmente. E, de facto, fizemos muitos concertos em 2014 para promover o nosso terceiro álbum.

E ONDE FORAM ESSES CONCERTOS? S TATIC : Fizemos duas digressões na Polónia e, da segunda vez, no outono de 2014, tocámos com Beemoth. Foi realmente um evento grandioso. Também fizemos concertos isolados e participámos em festivais no Reino Unido, na Irlanda, na Lituânia e na Eslováquia.

O VOSSO METAL É MUITO POLIDO (DE UMA FORMA SIMULTANEAMENTE BELA E EXPRESSIVA), SEM PERDER O SEU PESO. SERÁ QUE ESSAS CARACTERÍSTICAS NÃO LIMITAM UM TANTO OS LOCAIS ONDE PODEM TOCAR? PARECE-VOS QUE A VOSSA MÚSICA É ADEQUADA PARA FESTIVAIS 94 / VERSUS MAGAZINE


“[SOMOS] ANIMADOS PELA FIRMA CRENÇA NA IDEI A DE QUE AS PESSOAS DE MENTE ABERTA VÃO SER CAPAZES DE NOS ACOMPANHAR NA NOSSA JORNADA MUSICAL.”

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COM MUITA GENTE? STATI C : O que nos interessa mais na música é poder exprimir sentimentos. Não nos preocupámos com géneros, fronteiras ou as expetativas do público. Durante o processo de composição, focamonos no som e nos sentimentos que exprime animados pela firma crença na ideia de que as pessoas de mente aberta vão ser capazes de nos acompanhar na nossa jornada musical. Sem grandes planos prévios, sem previsões. Os sons “vêm ter connosco”, limitamonos a esperar pelo momento adequado para os gravarmos. É claro que começámos por ser uma banda de Black Metal e isso estará sempre presente na nossa música, mas, nos nossos álbuns, sentemse as influências que nos chegam, quando fechámos os nossos olhos e abrimos os nossos corações. É uma espécie de ritual, em que a nossa essência se dissolve. Em cada concerto que fazemos, tentamos atingir esse estado. Se isso acontecer, o lugar onde estamos e as pessoas que lá se encontram não fazem diferença para nós. Portanto, achamos que a nossa música também é adequada para grandes festivais: desde que o público queira imergir connosco nesse ritual, ambas as partes ficarão satisfeitas.

ESTE NOVO ÁLBUM PARECEME MENOS BLACK METAL, MAIS PROGRESSIVO DO QUE O ANTERIOR. PODES COMENTAR ESTA IDEIA? STATI C : Na minha opinião, é mais regressivo, isto é, contém em si mais sentimentos primitivos. Contudo, repito: os géneros não nos preocupam há muito tempo, logo uma discussão desta natureza no que toca à música de Mord’A’Stigamata não faz sentido.

APESAR DESSAS CARACTERÍSTICAS, ESTE ÁLBUM INSPIRA AINDA MAIS ANSIEDADE DO QUE «ANSIA». MAS É UM SENTIMENTO AGRADÁVEL. ASSEMELHA-SE A UMA ESPÉCIE DE TRISTEZA POÉTICA, DE MELANCOLIA. PARECE-VOS QUE ESTA DESCRIÇÃO ASSENTA BEM À VOSSA MÚSICA? STATI C :

Sim.

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De

facto,

de

um

modo geral, a nossa música é melancólica, desde «Ansia». Mas não foi planeado, aconteceu. Se tivesse de escolher três palavras para descrever a nossa música da forma mais simples possível, usaria: escuridão, melancolia e perdição.

AOS MEUS OUVIDOS, A MÚSICA DESTE ÁLBUM APRESENTA UMA ESPÉCIE DE DIÁLOGOS ENTRE A BATERIA E OS OUTROS INSTRUMENTOS (POR EXEMPLO, NA PRIMEIRA FAIXA). CONCORDAS? S TAT IC : O nosso estilo de composição baseia-se no diálogo e pressupõe a interação entre todos os músicos da banda. Não há barreiras entre a bateria e nenhum dos outros instrumentos. Dispomo-nos num círculo fechado e inspiramo-nos uns aos outros. Os momentos em que um dos instrumentos toma a dianteira expressam as nossas personalidades, a nossa forma individual de abordar a criação.

QUE EFEITO PRETENDIAM OBTER? S TAT IC : Nada que tenha sido previamente planeado. Fizemos o nosso melhor, entrámos na sala de ensaios e deixámos os nossos espíritos fluir.

AS GUITARRAS ESTÃO MUITO PRESENTES NESTE ÁLBUM, MAS SEMPRE MUITO BEM ENTRETECIDAS COM OS OUTROS INSTRUMENTOS, INCLUINDO A VOZ (POR EXEMPLO, NA SEGUNDA FAIXA). O QUE EXIGE ISTO DOS MEMBROS DA BANDA? S TAT IC : É a nossa forma natural de nos exprimirmos. Conhecemo-nos todos muito bem, portanto a nossa música flui naturalmente. Como já referi, é uma espécie de diálogo.

NÃO SERÁ QUE A BANDA SE ESTÁ A TORNAR CADA VEZ MAIS INSTRUMENTAL? S TAT IC : Acho que sim. Desde «Ansia» que começámos a exprimir-nos mais com recurso ao som do que às palavras. Isso não determina o nosso futuro, mas, de momento, a música de Mord’A’Stigmata é mais instrumental do que lírica.

PARTILHAM

AS

TAREFAS

OU

ALGUÉM NA BANDA ESPECIALMENTE RESPONSÁVEL PELA COMPOSIÇÃO DA MÚSICA E/OU PELA ESCRITA DAS LETRAS? S TATIC : Eu sou o responsável pelas letras, à exceção das de «Ansia», que foram escritas pelo nosso antigo vocalista: Voxmord. No que diz respeito à música, trabalhamos em conjunto. Frequentemente, eu trago esboços para a sala de ensaios, mas fazemos os arranjos em conjunto. Além disso, improvisamos em muitas partes, logo o efeito final resulta mesmo da nossa colaboração.

NA OUTRA ENTREVISTA, DISSESTE QUE «ANSIA» SE TINHA INSPIRADO MUITO EM EXPERIÊNCIA QUE TINHAS VIVIDO. ONDE ENCONTRARAM O CONCEITO SUBJACENTE A «OUR HEARTS SLOW DOWN»? E O QUE SIGNIFICA A IMPRESSIONANTE CAPA DO ÁLBUM? POR QUE É QUE AQUELA MULHER PARECE DEFINHAR A CADA FOTO? E QUE RELAÇÃO HÁ ENTRE ESS AS FOTOS E O TEMA DO ÁLBUM? S TATIC : Em «Our Heart Slow Down», também me inspirei na minha vida. Mas este álbum é menos pessoal que «Ansia». No álbum anterior, senti-me como se estivesse a mostrar as minhas entranhas ao mundo. Quando começámos a trabalhar em «Our Hearts Slow Down», precisei de me envolver menos, logo o álbum é menos íntimo, menos pessoal que o anterior. De qualquer modo, para o criar, foi preciso muito trabalho e dedicação. O título deste mini álbum chama a atenção para o facto de que o nosso corpo é mortal. Desde 2013, fomos afetados pela morte de algumas pessoas próximas. Essas experiências fizeram-nos reconhecer que, mais tarde ou mais cedo, seremos separados de todos os que amamos. E mesmo que essa separação não seja permanente (algo em que eu acredito piamente), é muito difícil enfrentar essa tomada de consciência. Na capa do álbum, podes ver uma mulher que sofre de anorexia. As sucessivas fotos documentam a sua lenta degradação. E, à medida que esta se ia concretizando, o seu coração também ia batendo de forma cada vez mais lenta.


“NA MINHA OPINIÃO, [ESTE ÁLBUM] É MAIS REGRESSIVO, ISTO É, CONTÉM EM SI MAIS SENTIMENTOS PRIMITIVOS.”

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CONVIDARAM NOVAMENTE MARCIN GADOMSKI PARA FAZER A CAPA DESTE ÁLBUM? STATI C : Sim. Ele fez tudo neste álbum, tal como em «Ansia». Consideramos que o seu estilo se adapta perfeitamente ao nosso projeto musical.

PODES DIZER ALGUMAS PALAVRAS QUE FAÇAM COM QUE ALGUM ORGANIZADOR DE CONCERTOS EM PORTUGAL SINTA UMA VONTADE INABALÁVEL DE VOS CONVIDAR PARA VIREM VISITAR O NOSSO BELO PAÍS?

do endereço stigmatamord@ gmail.com ou da nossa página no Facebook. Deixo-vos a minha bênção.

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STATI C : Seria uma grande honra para nós sermos convidados para tocar no vosso país. Se quiserem saber mais alguma coisa sobre a banda, estejam à vontade para nos enviar as vossas perguntas através

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ENTREVISTA

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“A CENA EXTREMA NA GALIZA É MUITO FORTE E, FELIZMENTE, JÁ TEMOS UM FOLLOWING CONSIDERÁVEL POR LÁ.”

SERRABULHO A BRINCAR SE FAZEM COISAS SÉRIAS B R I N C A L H Õ E S , S AUDAVELM ENT E LOUCOS, EX C ELENTES MÚ S I C O S E C O MPO S I TO R ES I RR EV ER EN T ES . FA L A MO S D O Q UART ET O DE VILA REAL S ER R A B U LH O , UMA ES P ÉC I E D E A LL-S TAR B A N D Q U E I NTE G R A N A S SUAS FILEIRAS EX-M ÚSICO S DE FOR MAÇ Õ ES CO MO THA NATOS C H I X O , S T U P R U M D E I O U H O L O C A UST O CANIBAL. APÓS UM AC LA MAD O Á LB U M DE ES TR EI A , “AS S TR O U B LES ” , A B AN D A N Ã O PERDEU T EM PO E, ENT RE U MA ATA R EFAD A A G ENDA D E C O NCERTO S , DEI TO U MÃ O S Á O B R A PA R A D AR FORM A AO NOVO ÁLBU M, “STAR W HO R ES ”. NUMA ANI MA D A E A LG O LO U C A E N TR E V IS TA O GUITARRISTA PAULO VENTUR A E O B A I X I S TA G U I LH ER MI NO MARTI NS ELU C I D A R A MN O S S O B R E O DISCO, OS FÃS ESPANHÓ I S , O METAL PO RTU G U ÊS E O U TR A S CO I S A S MA I S . Por: dico NO MOMENTO EM QUE FAZEMOS ESTA ENTREVISTA PASSOU UMA SEMANA SOBRE O CONCERTO DOS SERRABULHO EM VIGO, NO SACHAZO GRINDFEST II. PUSERAM NUESTROS HERMANOS A CHORAR POR MAIS OU FIZERAM-NOS IR PARA CASA A CHORAR MAS COM DORES NOS OUVIDOS? PAULO : Viva dico, eu acho que até os pusemos com dores de barriga! Também, depois de terem comido o arroz de “favas espanhol” não

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era difícil, [risos] mas sem dúvida que ficaram a chorar por mais, tanto que, nessa mesma noite, tivemos outro convite para tocar em espanha, numa zona onde nunca atuámos. Desde o início da banda que somos muito bem recebidos pelos espanhóis. G U ILH ER MINO : a cena extrema na galiza é muito forte e, felizmente, já temos um following considerável por lá. Depois de três concertos em vigo e dois em ourense é natural que serrabulho seja já um

nome consolidado. Os nossos amigos galegos sabem com o que contar. Diria que, além de nos brindarem – também eles – com fardas e disfarces nos concertos, acabam por aderir à festa com a mesma intensidade que o público português – afinal não há assim tantas diferenças entre ambos.

GUILHERMINO, APÓS ESTA ENTRADA DESCONTRAÍDA NA ENTREVISTA TENHO DE DAR-TE OS MAIS SINCEROS PARABÉNS PELA MAGNÍFICA


“ACHO QUE FALO POR TODOS, MAS O “STAR WHORES” É O DISCO QUE AMBICIONÁVAMOS CRIAR! “

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ambicionávamos criar! O álbum expressa na totalidade os objetivos e as ideias com que partimos para a sua composição. Este facto tornase ainda mais relevante se tivermos em atenção que todos trabalhámos nesse sentido. Essa química entre nós é bem audível no cd.

NA VOSSA MÚSICA, A INCORPORAÇÃO DE INSTRUMENTOS E OUTROS ELEMENTOS SONOROS ESTRANHOS AO METAL CONFERE AOS TEMAS UMA AMBIÊNCIA MUITO PRÓPRIA. ALIÁS, É ALGO QUE FAZ PARTE DO ADN DOS SERRABULHO. JÁ VOS ACONTECEU COMPOR UM TEMA A PARTIR DA IDEIA PARA UM SAMPLE? OU PROCURAM OS SONS ADEQUADOS PA RA CADA SITUAÇÃO APENAS NO ESTÚ DIO?

PRODUÇÃO DE “STAR WHORES”. É O PINÁCULO DE TANTOS ANOS DE TRAB ALHO DE ELEVADA QUALIDADE QUE TENS DESENVOLVIDO NOS BLIND & LOST. FICASTE SATISFEITO COM O RESULTADO OBTIDO? GUI LHE RM I N O: Muito obrigado, dico! Fiquei eu, enquanto produtor, e ficámos nós, enquanto banda. Foi o trabalho coletivo – várias horas de pré-produção, que se iniciou bem cedo (estava o “ass troubles” nos escaparates há poucas semanas), os numerosos ensaios e a concentração total da banda que possibilitaram este som tão

sólido. Enquanto produtor, o meu lema é que cada disco deve soar melhor do que o anterior. Ouvindo os dois cds de serrabulho constato precisamente isso e não posso estar mais satisfeito.

EM TERMOS DE COMPOSIÇÃO, E JÁ COM ALGUM DISTANCIAMENTO, NA MEDIDA EM QUE O ÁLBUM SE ENCONTRA DISPONÍVEL DESDE JULHO, É JUSTO DIZER QUE FIZERAM O DISCO QUE PRETENDIAM OU MUDARIAM ALGUMA COISA? PA U LO : Acho que falo por todos, mas o “star whores” é o disco que

PA U L O : Eu diria que já demos início à composição de temas por causa de um simples peido [gargalhada geral]. Noutro caso, foi a partir da estúpida situação de um pé pisado. Eu diria que o adn dos serrabulho é hibrido - temos o lado divertido, irónico e um pouco infantil em algumas passagens, mas ao mesmo oferecemos ao público o contraste de seriedade e profissionalismo com que encaramos a música! A ligação entre os riffs, os pormenores no baixo, a bateria, as vozes e os coros, tudo isto foi pensado ao longo dos treze temas! Isto não se resume a músicas e que tenham de soar a barulho, sujidade e rapidez. Há a preocupação de criar harmonia entre os vários aspetos em apreço, para agarrar quem ouve, independentemente de ser em casa ou num concerto. Depois, para unirmos toda esta galáxia, incorporamos elementos que não são, de todo, esperados num álbum deste género. Muitos deles não foram pensados inicialmente, mas à medida que o álbum ia sendo composto surgiam mais ideias. Tal também se deve à identidade dos serrabulho, daí a inclusão de um bandolim, tocado pelo nosso amigo sérgio pascoa (shoryuken, xxxapada na tromba), dos coros de duas crianças ou do acordeão, no “ass troubles”. De futuro, outros elementos menos óbvios serão usados, preparem-se! [risos]

A QUESTÃO ANTERIOR REMETE DIRETAMENTE PARA A FORMA COMO

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“JÁ PENSEI FAZER UM TEMA SÓ COM ESPIRROS E ARROTOS, AO MESMO TEMPO, COM O BRITAR DE NOZES E UM PEIDO MONUMENTAL EM FUNDO! MAS O CARLOS AINDA NÃO CONSEGUE COMER MAIS DO QUE 1KG DE FEIJÃO.” DECORRE O VOSSO PROCESSO DE COMPOSIÇÃO. BASEIAM-SE NUM MÉTODO ESTABELECIDO, EM QUE SURGE PRIMEIRO A LETRA E SÓ DEPOIS A MÚSICA OU VICE-VERSA; OU, PELO CONTRÁRIO, DEIXAM-SE LEVAR PELA INSPIRAÇÃO? PAULO : Quando crio os riffs de guitarra já tenho algumas ideias acerca das vozes ou dos sons a usar numa determinada passagem e transmito isso ao resto da malta. O carlos [guerra, vocalista] também apresenta as suas ideias, nomeadamente através de letras para as quais, muitas vezes, imaginamos uma melodia! Em conjunto, o gui [guilhermino martins] e o ivan [saraiva, bateria] tratam da percussão, com o groove da bateria e a ambiência folclórica do baixo. A partir daí, todos enriquecemos o conceito inicial. Mas já houve momentos em que um tema foi “desmontado”, para incluir novas partes ou até trocar a ordem dos riffs. Tudo isto para que a composição final represente a união de (praticamente) todas as ideias.

JÁ PENSARAM FAZER UM TEMA SÓ COM ARROTOS, COMO OS CHRONICAL DIARRHOEA FIZERAM EM «ATTACK OF THE BLURR DEMONS» ( H T T P S : / / W W W. Y O U T U B E . C O M / WATCH?V=LFXUMFLTEG8)? OU TALVEZ FAZÊ-LO COM PEIDOS? GUI LHE RM I N O: O igorrr ou até os ninja kore seriam os projectos

ideais para concretizar essas ideias, a partir, por exemplo, do tema «peidinho ron ron», do “star whores”, que tem, lá está, diversos samples dessa, digamos…natureza [risos]. Não conhecia esse tema dos chronical diarrhoea! Não há limites para a imaginação, de facto. PA U LO : Já pensei fazer um tema só com espirros e arrotos, ao mesmo tempo, com o britar de nozes e um peido monumental em fundo! [risos] mas o carlos ainda não consegue comer mais do que 1kg de feijão. Vamos ter de aguardar! [risos]

ESTE ÁLBUM APRESENTA A CHANCELA DA ALEMÃ ROTTEN ROLL REX (RRR). QUAL DAS PARTES FOI SUFICIENTEMENTE LOUCA PARA TOMAR A INICIATIVA DE ENTRAR EM CONTACTO COM A OUTRA? G U ILH ER M INO : A rrr já fizera a distribuição do “ass troubles”. Ao manifestar interesse pelo que estávamos a fazer e, consequentemente, dar o seu apoio, a editora abriu a porta a futuras colaborações. O marco [kunz], dono da rrr, gabava persistentemente a nossa audácia, pelo que se tornou óbvio com que editora deveríamos trabalhar. PA U LO : Eu acho que as duas! Mas nós, sem dúvida, fomos a parte mais tresloucada! Logo no início da banda (comigo e o carlos) falámos com o marco sobre serrabulho, num festival alemão! Quem é que faz isso? Falar com alguém de uma editora bem cotada, tanto a nível

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de lançamentos como dos nomes constantes do roster, quando ainda só tínhamos meia-dúzia de ensaios? Só mesmo dois malucos dos serrabulho [risos]. Ficou logo ali - julgo eu - a porta aberta para uma futura colaboração. E esse dia chegou depressa!

FALEM-ME DA ESTRATÉGIA ESTABELECIDA COM A EDITORA RELATIVAMENTE À DISTRIBUIÇÃO DO ÁLBUM E A E VENTUAIS LICENCIAMENTOS. ESTA PARCERIA TEM SUBJACENTE UMA TENTATIVA DE A BANDA CONQUISTAR UMA MAIOR FATIA DE MERCADO NO TERRITÓRIO EUROPEU E, QUEM SABE, PARA LÁ DELE? G U IL H E R M INO : Os tentáculos da editora são gigantescos e têm conseguido fazer chegar o álbum aos quatro cantos do mundo. Constatamos cada vez mais o interesse e o apoio continuado dos fãs em locais tão distantes como as filipinas ou o chile. Era esse o principal objetivo que tínhamos em vista com este disco. Não que o trabalho anterior da vomit your shirt fosse mau – bem pelo contrário, só temos coisas boas a dizer do micael olímpio! – mas, inevitavelmente, a rotten roll rex tem mais peso no mercado, ao ponto de nos conseguir, por exemplo, imensas análises ao disco na imprensa especializada internacional.

O ÁLBUM TEM SIDO TOCADO AO VIVO COM FREQUÊNCIA E NOVOS CONCERTOS SE AVIZINHAM. QUEREM FALAR MAIS EM DETALHE ACERCA DA VOSSA AGENDA AO VIVO A CURTO PRAZO? G U IL H E R M INO : Já levamos cerca de 30 espetáculos de promoção do disco e temos à volta de 20 datas prestes a ser reveladas para 2016. Há imensas surpresas a esse respeito, mas por ora não podemos abrir o jogo. É uma ótima sensação perceber que o following da banda continua, permanentemente, a crescer e que as solicitações dos promotores – dentro e fora do país – não cessam.

NO QUE RESPEITA AO ESPETÁCULO VISUAL PODEMOS ESPERAR CONCERTOS TÍPICOS DA BANDA OU 9 9 / VERSUS MAGAZINE


“OS TENTÁCULOS DA EDITORA SÃO GIGANTESCOS E TÊM CONSEGUIDO FAZER CHEGAR O ÁLBUM AOS QUATRO CANTOS DO MUNDO.”

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AQUILO QUE NOS ESPERA É AINDA MAIS SURPREENDENTE? PAULO : Eu diria que é um pouco dos dois, dico. Nós estamos sempre a tentar surpreender! O próprio público aguarda isso de nós! Isso permite-nos aumentar (ainda mais) o nível de insanidade, para conseguirmos criar esses elementos que, visualmente, animam um espetáculo. Dou-te o exemplo de uma pinhata, ou de uma máquina de fazer bolas de sabão, sem esquecer a vez em que fizemos pipocas em cima do palco [risos]

HISTORICAMENTE, OS FÃS E MÚSICOS DE METAL LEVAM-SE DEMASIADO A SÉRIO. APESAR DE PORTUGAL TER ALGUMA TRADIÇÃO EM JOKE BANDS, NO MELHOR SENTIDO DA PALAVRA (COMME RESTUS, QUINTETO EXPLOSIVO OU KALASHNIKOW), OS SERRABULHO VIERAM AGITAR AINDA MAIS AS ÁGUAS. VOCÊS VIERAM TAMBÉM REFORÇAR A IDEIA DE QUE SE PODE FAZER MÚSICA EXTREMA COM PENDOR HUMORÍSTICO MAS SIMU LTANEAMENTE DE FORMA PROFISSIONAL. NA TUA OPINIÃO É NECESSÁRIO DESDRAMATIZAR UM POUCO E PROPORCIONAR AOS FÃS BOAS GARGALHADAS COMO ANTÍDOTO PARA A DURA REALIDADE QUE NOS ENVOLVE? GUI LHE RM I N O: Quando entrei na banda já o comboio ia em andamento – estava a gravação do “ass troubles” a decorrer –, mas cedo percebi que, para os restantes três elementos, era tão importante a diversão como o valor musical dos temas. Com isso em mente, é natural que haja, de facto, uma atenção extra no que à qualidade de som diz respeito. Ao início, nos primeiros concertos, cheguei a ouvir comentários em alguns testes de som, do género “é grind, não é necessária uma grande preocupação com isso!”. Mas, hoje em dia, já me parece que a mensagem passou. Em relação à desdramatização do non-sense ou humor na música, é claro que vão haver sempre pessoas a achar que “com o rock não se brinca”, mas na nossa ideia – que é, simultaneamente, a da cada vez maior base de apoio

desta banda – há espaço para a diversidade. Poder-te-ia dar uma série de nomes que sempre fizeram parte da minha dieta musical e que, mantendo a qualidade, sempre souberam aliar com mestria comédia e música extrema.

EM 2014, NO SIDE B, A BANDA FOI VÍTIMA DE ATOS DE VANDALISMO POR UM ELEMENTO DO PÚBLICO QUE VOS PROVOCOU PREJUÍZOS NA ORDEM DOS 200 EUROS. APESAR DE HOJE EM DIA O COMPORTAMENTO DO PÚBLICO SER INCOMPARAVELMENTE MAIS CIVILIZADO DO QUE NOS ANOS 80 E 90 ACHAS QUE AINDA EXISTE ALGO POR FAZER EM TERMOS DE SENSIBILIZAÇÃO DAS PESSOAS NO QUE RESPEITA À FORMA DE ESTAR NOS CONCERTOS OU FOI UMA SITUAÇÃO PONTUAL? PA U LO : Infelizmente, isso aconteceu e acabou por ser uma surpresa, pela negativa. Já tivemos muitas pessoas a subir ao palco – num estado normal ou “bem-disposto” [risos] e nunca tinha ocorrido uma situação do género. Esse acontecimento foi o colmatar do desespero de uma pessoa com a perda de um bem e a frustração de não estar a ser compreendido, no momento em que decidiu falar para o público, apelando à devolução dos seus óculos [risos]. Mas foi algo pontual. Não quero, nem queremos pensar que se vai repetir! E a prova disso é que, depois dessa noite no side b, já demos mais 30 e tal concertos, sempre sem problemas.

muita coisa a acontecer. Bandas como consequence, venial sin, hug a fly ou padariagang também têm dado cartas. Há algumas salas para os grupos se apresentarem e sinto que, por esta altura, os músicos já perceberam que o caminho para singrar passa apenas por arregaçarem as mangas e fazeremse à estrada. E se, por um lado, estamos a três horas de distância de lisboa, por outro estamos a 45 minutos de espanha. Noto também uma proatividade cada vez maior dos agentes locais e até uma abertura das mentalidades para a música extrema – há um ano e meio, por exemplo, os serrabulho atuaram no teatro de vila real perante uma plateia lotada. Aprazme registar isso, por contraponto ao marasmo de cultura underground de que esta região padecia até há alguns anos.

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QUE PONTO DA SITUAÇÃO FAZES DO CENÁRIO METÁLICO ATUAL NA TUA REGIÃO, POR UM LADO; E A NÍVEL DO PAÍS, POR OUTRO? G U ILH ER M INO : Acho que, a nível nacional, têm aparecido excelentes grupos. Destaco, por exemplo, os analepsy, que deveriam ser um case-study para qualquer banda aspirante a deixar a sua marca na cena. O facto de existirem cada vez mais salas com condições decentes para concertos também permite que o nível qualitativo cresça em termos gerais. Mas obviamente que, num país ideal, esse número de clubes tivesse de ser exponencialmente maior. Em trás-os-montes há igualmente 100 / VERSUS MAGAZINE


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