Universidade Federal do Espírito Santo
AGROPARQUE
EM GOIABEIRAS
Vitória, 2018 Vicente Gonçalves Gewehr
FOLHA DE APROVAÇÃO
Capa: figura adaptada pelo autor,
do desenho de Darci Seles.
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO APROVADO EM
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/
.
ata de avaliação da banca
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS avaliação da banca examinadora Trabalho de conclusão de curso apresentado à Universidade Federal do Espírito Santo, como parte das exigências para obtenção do título de Arquiteto e Urbanista
Nota:
Data:
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Prof. Dr. Homero Marconi Penteado
Nota:
Data:
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Profa. Dra. Karla do Carmo Kaser
Nota:
Data:
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Examinador externo
Orientador: Prof. Dr. Homero Marconi Penteado Coavaliadora: Profª Karla do Carmo Kaser
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AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
Vicente Gonçalves Gewehr
A imersão no processo de elaboração de traba-
Aos professores de paisagismo Jonas Bellingrodt e Udo Wei-
lho foi uma jornada de profunda extração do que eu entendia por
lacher da TUM (Technische Universität München) na Alemanha.
zona de conforto: pela dificuldade em projetar em uma área tão
Homero Penteado pela orientação e Karla Kaser pela coorientação
grande, pela ausência de referências projetuais, pela superação ao
deste TCC.
usar com sucesso a plataforma BIM (Archicad) para um projeto de
Ao programa Ciência sem Fronteiras e todos envolvidos neste
paisagismo, pela inexperiência em escrever trabalhos científicos
programa, por proporcionarem essa experiência única e revolu-
e por ter que continuar o projeto com apenas uma mão, durante
cionária na minha vida acadêmica e pessoal, aproveitei cada cen-
três meses, após quebrar o braço. Todos esses fatores demanda-
tavo investido!
ram muito tempo de trabalho e isolamento para reflexão e auto-
A Elaine de Azevedo, Tatiana Tenorio Matuk e Luciane Cris-
conhecimento. Por isso agradeço a todos que compreenderam (ou
tina Ferrareto pelos excelentes trabalhos acadêmicos realizados
tentaram) minha ausência durante o processo.
que foram fundamentais na construção do entendimento sobre o
Em especial agradeço a todo o universo pela oportunidade de poder estar compartilhando tantas vivências na terra. Não é fácil, porém está sendo uma honra!
Sistema Agroalimentar e Agricultura Urbana. A Leandra Postay por ter me auxiliado com a revisão sintática e gramatical de maneira voluntariamente sensacional.
Agradeço à toda minha família pelo apoio, para um estudante
Aos amigos (Júlia Pedruzzi, Leonardo Valbão, Luayza Perim,
se graduar no Brasil ainda é muito difícil, sem vocês eu não conse-
Matheus Bonjour e Tayna Moreschi) que me ajudaram em um
guiria. Vocês são demais!
mutirão quando eu estava desesperado com as finalizações.
Não poderia deixar de homenagear meu avô João Gonçalves in
Às bibliotecárias Cynthia de Andrade Bachir da biblioteca seto-
memoriam e minha avó Olga Dalbem Gonçalves, muito obrigado
rial de artes e Merielem Frassom do incaper que foram excelentes
por tanto carinho e pelo amor mais sincero e lindo que já vi na
profissionais e o auxílio delas contribuiu muito para a realização
vida. Amo vocês eternamente!
deste trabalho.
Os 5 heróis que me ajudaram nos dois meses de recuperação da fratura no Úmero. Mãe, Sú, Guel, vovó e Tia Lene. Muito obrigado mais uma vez! Às professoras de Urbanismo Eneida Mendonça e Daniela Bonatto que revolucionaram o meu entendimento sobre as cidades. A dedicação, responsabilidade e compromisso de vocês está certamente formando um mundo melhor. As Universidades públicas precisam de mais profissionais como vocês!
AGRADE CIMENTOS
SU MÁ RIO
1 2 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6
introdução campo teórico
SISTEMA AGROALIMENTAR CONVENCIONAL 21 A ALIMENTAÇÃO DE VERDADE 24 ABORDAGENS DISTINTAS SOBRE A AGRICULTURA URBANA 27 ESTUDOS DE CASO DA AGRICULTURA URBANA 30 REPERTÓRIO DE AGRICULTURA URBANA 38 PARQUES URBANOS 44
3
o projeto
3.1 3.2 3.3 3.4 3.5
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 54 CONCEITUAÇÃO PROJETUAL 64 PROGRAMA 65 PARTIDO 66 MACROPROPOSTA 68
ÁREA DE AGRICULTURA URBANA 71
PARQUE LINEAR 82
3.6 GERENCIAMENTO DO PARQUE 108
CONSIDERAÇÕES FINAIS 111 REFERÊNCIAS 115 ANEXOS 120
IN TRO DU ÇÃO
“ 11
Vicente Gonçalves Gewehr
Produzir alimentos é uma das tarefas mais perigosas da existência Humana, perigosa porque você corre o risco que se tornar Livre. [ Dervaes, Jules ]
A alimentação da maioria da população segue um mo-
de ameaça à soberania alimentar, gerando impactos culturais e
delo ditado pelos veículos de comunicação, e a produção desses
socioambientais significativos. Desse modo, a globalização pode
alimentos é realizada de acordo com as premissas de um siste-
ser compreendida sob a ótica da alimentação e também influencia
ma agroalimentar global, dominado pelas grandes corporações
a mobilidade das pessoas e suas ideias sobre culinária, gosto e nu-
interessadas no lucro máximo. Esse modelo atual de alimentação
trição (GREW, 2011 apud AZEVEDO, 2016).
1
regido pelo interesse do capital torna a prática cotidiana de ali-
A urbanização também influenciou os estudos da alimenta-
mentar-se uma ação insustentável e danosa à saúde dessa maioria.
ção. O processo descrito por Verthein e Vázques-Medina (2015
Esses mesmos efeitos negativos são percebidos na produção des-
apud Azevedo, 2016) como desritualização da comida evidencia-
ses alimentos (AZEVEDO, 2016).
-se com a flexibilização de horários, locais e ritmos alimentares
Atualmente, existe uma efervescência de debates sobre a ação
das cidades (mas não restritos ao meio urbano). Também promo-
diária de alimentar-se que transcende os estudos da nutrição, ciên-
veu uma transformação da relação das pessoas com a produção
cias agrárias e ambientais. A alimentação também se configura
de alimentos realizada pelas indústrias do agrobiopoder, concen-
como um legítimo objeto de estudo de análise sociocultural que
trando uma produção monocultora e mecanizada desprovida
possibilita a compreensão do viver em sociedade. Entre muitos pa-
muitas vezes do contato do homem com o plantar (MOREIRA,
péis que a alimentação desenvolve, nota-se o de meio de análise de
2000). Porém, o homem nunca deixou de praticar a agricultu-
fenômenos como a globalização e o poder; pilar de organização so-
ra, mesmo com grande parte da população vivendo em centros
cial; a construção de identidades; os gêneros e as etnias; o estímulo
urbanos onde espaços para a produção alimentar parecem insu-
ao prazer e a lubrificação de interações sociais; as controvérsias
ficientes ou inadequados à chamada de agricultura urbana (AU),
científicas; os questionamentos étnicos; o surgimento de angústias;
prática que sempre esteve presente, todavia geralmente no ano-
a aparição de riscos ambientais; entre outros (AZEVEDO, 2016).
nimato das cidades (FERRARETO, 2015).
Apesar das suas claras relações com a cultura local, a religião,
Segundo Garcia et al (2003), era inevitável que a alimentação se
o gosto, a tradição, o simbolismo e a identidade, a comida tem sido
modificasse com as transformações da sociedade. Como exemplo
produzida como uma mercadoria sob as premissas de um merca-
dessas transformações das relações com o alimento, serão apresen-
do e de uma política agroalimentar de caráter global, dominada
tadas três realidades alimentares no decorrer da história brasileira.
na maioria das vezes por corporações agroalimentares transna-
Segundo Araújo (2010) os índios tinham como alicerce a mandio-
cionais, o que envolve uma forma legitimada de agrobiopoder e
ca, na forma de farinha e de beijus, mas também, frutas, palmito,
1 Neste trabalho usaremos a expressão sistema agroalimentar e sistema alimentar indistintamente, o qual foi profundamente modificado por dois eventos, sendo estes a Revolução Agrícola, ocorrida durante a Revolução Industrial no final do século XVIII, e a Revolução Verde, na segunda metade do século XX.
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AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
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Vicente Gonçalves Gewehr
pescado, caça, milho, batata e pirões. Uma típica refeição indígena era carne de paca assada em uma panela de barro sobre três pedras (trempe), em um forno subterrâneo (biaribi), era salgada com sal obtido a partir da cinza de vegetais pilado juntamente com pimenta e como acompanhamento tinham a farinha de mandioca.
No que concerne ao Brasil colônia, Cascudo (1989) comparti-
Assim podemos perceber que a alimentação se transformou
espaços recreativos e educacionais relacionados com a temática
lha em seu livro História da alimentação no Brasil o Relato de João
muito desde o Brasil colônia até a atualidade. Mesmo hoje, com
da alimentação, como um restaurante-escola que permite que as
Brígido (1829-1921), capixaba vivendo no Ceará desde 1831, escre-
uma grande variedade de alimentos, as refeições atuais possuem,
pessoas aprendam maneiras de utilizar alimentos locais e susten-
veu “Um almoço de rico, nos sertões, era antes das 7 horas da manhã, o
em geral, 5 alimentos como base, sendo eles trigo e açúcar refi-
táveis e um parquinho infantil que diverte as crianças utilizando
jantar às 12, a ceia ao cair da noite. O primeiro consistia principalmente
nados, milho transgênico, gordura saturada e derivados animais
alimentos.
em carne com pirão, o segundo idem, o terceiro idem, com esta diferen-
oriundos de confinamento/pecuária extensiva. Vivemos também
A estruturação deste trabalho conta com um fragmento teó-
ça que no jantar havia de ordinário, um assado com molho chamado
uma era de modismos alimentares extremamente insustentáveis
rico, que funciona como base, para o desenvolvimento da etapa
de ferrugem, e vinha por último, para cada um, a sua tigela de caldo
ditados pelos veículos de comunicação. O acesso à alimentos sau-
prática: que consiste na elaboração de um projeto apresentado em
da mesma panela. Seguia-se a sobremesa, que era melaço com farinha,
dáveis está cada vez mais restrito a uma parcela limitada da po-
nível de estudo preliminar para uma área subutilizada de aproxi-
ou doce de frutas da terra em mel de rapadura, ou queijo com a dita,
pulação e alimentos refinados e cheios de conservantes à maioria
madamente 330.000m² no bairro de Goiabeiras, em Vitória, Es-
melancia, melão, etc. Uma coisa bem entendia: as mulheres não vinham
menos abastada (MATUK, 2015).
pírito Santo. Será apresentado como esse parque influenciaria
à mesa no copiar. Comiam no fundo da casa, em companhia da dona.”
As práticas agroalimentares devem objetivar, ao invés do lucro,
positivamente as práticas agroalimentares da população e como
Na atualidade, temos a dieta moderna da maioria dos adoles-
o bem estar da população em geral, sendo a comida produzida da
transformaria a realidade dos espaços livres públicos no entorno
centes caracterizada pela preferência por alimentos com elevado
maneira mais sustentável possível, abrangendo os pilares ambien-
e na região metropolitana de Vitória.
teor de gordura saturada, colesterol, sódio e carboidratos refina-
tal, social e econômico. Uma etapa fundamental para um sistema
dos, representados muitas vezes pela ingestão de refrigerantes e
alimentar sustentável é a relação dos consumidores com o alimen-
sucos; balas; chicletes e pirulitos; salgadinhos empacotados (à base
to. Estes que devem se importar com o que estão comendo, sua
de milho e batata); salgados fritos ou assados (coxinha, pastel); bis-
origem e a forma como foi produzido.
coitos recheados; doces em geral; bolos; sorvetes e chocolates. Esse
Da mesma forma que o sistema alimentar segue as demandas
padrão alimentar está associado a comportamentos inadequados
do capital, grande parte dos espaços urbanos são concebidos nas
relacionados a dietas monótonas, modismos alimentares e omissão
cidades. Esses espaços deveriam ser pensados de maneira a aten-
das refeições, principalmente o café da manhã. Infelizmente, parte
der as necessidades da população proporcionando melhorias na
significativa da população adere de forma inconsciente à maneira
qualidade de vida das pessoas, bem estar social, espaços recreati-
de se alimentar semelhante às dietas modernas dos adolescentes,
vos e convidativos que contemplassem usuários em diversidade e
muito distinta da maneira tradicional, com alimentos oriundos
fossem pensados de acordo com a escala humana.
dos vários lugares deste mundo globalizado. Era inevitável que a
O presente trabalho consiste no desenvolvimento de uma cate-
alimentação se modificasse com as transformações da sociedade
goria de parque inédita denominada Agroparque que visa implan-
(GARCIA et al. 2003; OCHSENHOFER et al., 2006; WEICHA et al.,
tar ideais agroalimentares sustentáveis e atender demandas sociais
2006 ROLIM et al., 2007; KOURLABA, 2008).
nos espaços urbanos. Para isso, utiliza a Agricultura Urbana, cria
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AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
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Vicente Gonçalves Gewehr
CAMPO TEÓ RICO
“
Não vamos deixar de acreditar que a revolução pode começar no prato, mas para isso não podemos esperar passivamente que as mudanças venham de fora. [ Elaine de Azevedo ]
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Vicente Gonçalves Gewehr
Neste capítulo, exibiremos a base teórica que serviu como fundamento para a concepção do Agroparque. Inicialmente será abordada uma caracterização da realidade agroalimentar atual, mostrando como a agricultura acontece de maneira insustentável e em decorrência de uma alimentação globalizada
2.1
SISTEMA AGROALIMENTAR CONVENCIONAL
que vem sendo produzida em função do lucro máximo ao invés
A Revolução Industrial transformou o sistema de cultivo e, como
de atender as necessidades da população.
consequência, intensificou a industrialização, aumentando sua pro-
Como resultado da reflexão, objetiva-se mostrar uma alimenta-
dutividade, produzindo mais alimentos com menos terra e menos
ção alternativa às convencionais, que seja mais sustentável, local,
mão-de-obra, ocasionando o êxodo rural e um aceleramento da
saudável e nutritiva, chamada de alimentação de verdade: conceito
urbanização das cidades, que passaram a depender do meio rural
que destaca ações capazes de mudar a situação alimentar atual, a
para garantir suas necessidades alimentares (AZEVEDO e RIGON,
partir do entendimento de que comer é um ato político relaciona-
2016). Por sua vez, a Revolução Verde teve início no Brasil durante
do a consequências sociais, ecológicas e ambientais.
a década de 1960, tendo como principais características uma pro-
Em seguida, as maneiras de melhorar a problemática agroa-
dução marcada pela tecnização, a difusão do uso de sementes hí-
limentar vão ser trabalhadas com mais afinco com um estudo
bridas, o uso de fertilizantes sintéticos, agrotóxicos e drogas vete-
teórico sobre a Agricultura Urbana (AU) e como essa atividade
rinárias, como também o confinamento de animais (MATUK, 2015).
possui capacidade de promover benefícios diversos à sociedade.
A Revolução supracitada resultou em muitos impactos nega-
Para complementar o entendimento da AU, foi efetuada uma pes-
tivos, como a contaminação de recursos naturais, a dependência
quisa de exemplos bem-sucedidos da aplicação dessa prática em
dos agricultores de insumos químicos e de maquinário importado
diferentes realidades na esfera urbana, como jardins de residências
com preço elevado, concentração fundiária e emigração do cam-
e espaços públicos, que apontam a produção de alimentos nos es-
po para as cidades. Também houve a inserção de monoculturas,
paços urbanos como um instrumento que traz consigo diversos
objetivando potencializar o lucro, e espécies exógenas altamente
benefícios para as pessoas que a praticam e para a dinâmica das
produtivas foram adaptadas, substituindo espécies locais e preju-
cidades. A compreensão da AU será finalizada com a elaboração de
dicando assim a diversidade ambiental (ALVES; GIUVANT, 2010;
um repertório que expõe maneiras distintas de aplicá-la na cidade.
AZEVEDO; RIGON 2014).
O campo teórico será finalizado com um estudo que objetiva
Atualmente, o sistema alimentar é marcado pelo distanciamen-
ampliar o entendimento sobre parques urbanos seguido pela expo-
to entre produtores e consumidores, devido ao sistema econômico
sição de dois exemplos de parques que serviram como referência
que demanda mais etapas, como: produção, colheita, armazena-
projetual.
mento, comercialização, processamento, distribuição, venda e consumo, aumentando consequentemente o número de atores envolvidos no sistema alimentar (FAO, 2013 apud MATUK, 2015).
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AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
21
Vicente Gonçalves Gewehr
Até meados do século XX, a produção de hortaliças estava pre-
Azevedo (2016) aponta que os agrotóxicos causam, segundo
e o herbicida Roundup (utilizado nas culturas transgênicas) du-
esses valores os mesmos nos últimos 20 anos, de acordo com uma
sente nos denominados cinturões verdes, ao redor das cidades,
muitos estudos , diversos efeitos à saúde humana, como: alguns
rante 24 meses. O resultado mostrou que o primeiro rato macho
comparação entre os censos agropecuários de 1985, 1995 e 2006
distanciados algumas dezenas de quilômetros. No fim do século
tipos de câncer; imunodepressão; doença de Parkinson; depressão
alimentado com o milho transgênico morreu um ano antes do rato
(AZEVEDO e RIGON, 2016).
XX, a urbanização desordenada estendeu o perímetro dos cen-
e outras desordens neurológicas; aborto e problemas congênitos;
não alimentado com organismo geneticamente modificado (OGM),
Segundo Azevedo e Rigon (2016), a agricultura familiar pro-
tros urbanos e, consequentemente, a produção de alimentos se
tipos de câncer dependentes de hormônio; infertilidade; malfor-
enquanto a primeira fêmea alimentada com o milho transgênico
duz 80% do que é consumido no país, mesmo ocupando apenas
distanciou mais que o dobro da distância original. Os alimentos
mação congênita; sintomas respiratórios e esterilidade em adultos.
morreu oito meses antes. No 17º mês, foram observados cinco ve-
24,3% da área agrícola brasileira. A agricultura familiar, mesmo
passaram a ser transportados por grandes distâncias e com isso
Segundo o Ministério do Meio Ambiente (2018), o Brasil é o
zes mais machos mortos alimentados com milho transgênico do
alimentando quase toda a população brasileira, conta com menos
aconteceu a deterioração da matéria-prima, resultando em perdas
maior consumidor de agrotóxicos do mundo, com aumento de
que os ratos alimentados com a dieta convencional. As fêmeas
recurso público. Tomando por exemplo o ano de 2014, enquanto o
econômicas consideráveis e doenças transmitidas por alimentos.
127% entre os anos de 2003 e 2008, o que representa 19% do mer-
apresentaram macro tumores mamários e problemas hipofisários
agronegócio recebeu das políticas públicas mais de 156 bilhões de
Como solução, foram criadas tecnologias para preservar a quali-
cado mundial. Entre os anos de 2000 e 2010, o aumento no consu-
e renais, enquanto os machos, graves deficiências crônicas hepa-
reais, os agricultores receberam cerca de 21 bilhões de reais.
dade dos alimentos e garantir maior tempo de vida aos produtos
mo de agrotóxicos no país foi de 190% em relação ao crescimento
torrenais. O estudo provocou polêmicos debates que envolviam
A produção de alimentos hoje é dependente das grandes em-
(GERMANO e GERMANO, 2014 apud MATUK, 2015).
de 93% no consumo do mercado internacional. Esse aumento é
as poderosas empresas detentoras da tecnologia transgênica e os
presas, porque estas são as portadoras da tecnologia e dos insumos
Esses avanços tecnológicos, principalmente os agrotóxicos, in-
percebido pelos dados divulgados pelo Conselho Nacional de Se-
especialistas pró e contra liberação dos transgênicos de todo o
necessários à manutenção do modo de produzir contemporâneo.
sumos químicos, transgênicos, trouxeram inúmeros benefícios e
gurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), que registra a evolu-
mundo. Embora nenhuma conclusão tenha sido encontrada, o mi-
Como resultado dessa dependência, temos grandes lucros às gran-
malefícios. De positivo, aconteceu um atendimento às demandas
ção da taxa de consumo de agrotóxicos no Brasil de 7,5 quilos por
lho foi liberado em alguns países, inclusive no Brasil, e proibido em
des companhias alimentares e diminuição da renda dos agriculto-
da sociedade moderna, aumentando a capacidade de produção
hectare em 2005 para 15,8 quilos por hectare em 2010. O maior
outros, como na Rússia e no Quênia.
res, estes remunerados com valores que não condizem com seus
de alimentos, com o aumento da expectativa de vida e de saúde
percentual foi verificado nas propriedades rurais com mais de 100
da população, devido ao melhor perfil nutricional, refrigeração,
hectares, das quais cerca de 80% fazem uso dos biocidas.
1
Na agricultura, espécies vegetais foram transportadas e o seu
esforços e necessidades. Também é frequente no ambiente rural
cultivo adaptado em novos ambientes. Boa parte das hortaliças
migração para as cidades e famílias com dificuldade de inserção em
transporte e abertura de mercados, medidas que facilitaram o
A produção de alimentos atual tem sido bastante prejudicial ao
tem sido comercializada ao longo de todo o ano independente da
novos postos de trabalho, devido aos baixos índices de escolariza-
acesso a alimentos durante todo o ano por diversas populações
meio ambiente, pois demanda alto consumo de água e de energia
sazonalidade. A produção de alimentos fora da estação e provindos
ção observados no meio rural (ALVES e GILVAN, 2010; AZEVEDO
(McMICHAEL et al, 2007).
proveniente de combustíveis fósseis e promove também a degra-
de outros países aumenta a necessidade de insumos e as emissões
e RIGON, 2014 apud MATUK, 2015).
Por outro lado, surgiram novos riscos ambientais e à saúde
dação do solo, contaminação dos rios e lagos, poluição aérea, per-
de gases na atmosfera por meio de longas distâncias percorridas
Os desdobramentos do sistema agroalimentar quanto à ali-
dos seres vivos, devido principalmente aos resíduos de agrotóxi-
da da diversidade genética e do habitat selvagem, dentre outros
entre uma região e outra e entre um continente e outros (PREUSS,
mentação atual é um resultado de diversas transformações que
cos, antibióticos e dioxinas (GERMANO e GERMANO, 2014 apud
(McMIchAEL, 2005 apud MATUK, 2015).
2009 AZEVEDO e RIGON, 2014 apud MATUK, 2015).
aconteceram na nossa sociedade. Como principais influências se
MATUK, 2015). Verificou-se também o agravamento do quadro da
Azevedo e Rigon (2016) destacam o mais importante estudo
O sistema alimentar, mesmo sendo essencial à vida humana,
destacam a globalização da economia e o estilo de vida urbano,
pobreza rural, da poluição e do esgotamento dos recursos natu-
sobre transgênicos realizado por um grupo de pesquisadores in-
atualmente baseia-se no lucro e na produtividade máxima. É ainda
responsáveis pelo aumento do consumo de alimentos industriali-
rais, do mesmo modo como a acentuação do padrão alimentar
dependentes do Committee for Independent Research and Informa-
dependente de investimentos em tecnologia e favoreceu a grande
zados e por uma alimentação frequentemente fora do lar. Tal pa-
pouco equilibrado e do comprometimento da diversidade cultural
tion on Genetic Engineering (CRIIGEN). A pesquisa, publicada em
propriedade rural. Segundo informações dos últimos censos agro-
drão alimentar é caracterizado pelo excesso de alimentos muito
(MALUF e REIS, 2013 apud MATUK, 2015; AZEVEDO e RIGON 2016)
2012, envolveu 200 cobaias alimentadas com milho transgênico
pecuários, as propriedades menores de 10 hectares ocupam 2,7%
energéticos, ricos em gordura, açúcar refinado e sal e pobres em
da área total dos estabelecimentos rurais, e as propriedades com
fibras (GARCIA, 2003; DIEZ-GARCIA, 2011 apud MATUK, 2015).
1 Estes estudos possuem as referências listadas em anexo ao fim do volume.
22
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
mais de 1.000 hectares ocupam mais de 43% da área total, sendo 23
Vicente Gonçalves Gewehr
Os alimentos muito valorizados pela praticidade passam a ser vistos como mercadoria, enquanto alimentos considerados como
opta-se por refeições rápidas ou prontas para o consumo (GARCIA,
ciclo de vida de cada um desses tipos. Essas consequências podem
povo brasileiro que passa a ganhar. Adquirimos independência e
variar quanto à origem (animal ou vegetal), grau de processamen-
soberania alimentar, passamos a ser donos das nossas sementes e
“alimento natural” ou “alimento saudável” são comercializados
É possível concluir que o sistema agroalimentar atual, que teve
to, local de origem, respeito à sazonalidade, técnicas utilizadas
florestas, da nossa própria água e nossas ervas medicinais, nossa
com maior preço. Consequentemente, o seu acesso está restrito à
como justificativa erradicar a fome para a criação da revolução
(que envolvem o consumo de energia, o uso da terra e da água,
flora e nossa fauna.
população de maior poder aquisitivo. Em contrapartida, alimen-
verde, não realizou o que se propôs. Da mesma maneira, é nítido
a toxicidade dos pesticidas), os meios de transporte, a distância
Uma alimentação de verdade está atenta às relações do sistema
tos nutricionalmente desequilibrados são consumidos por preços
que não objetiva a promoção da SAN e nem a inclusão social dos
percorrida e o empacotamento. O consumidor final também está
agroalimentar atual, este que é o maior responsável pelos impactos
acessíveis e consequentemente pela maior parte da população
agricultores. As grandes corporações agroalimentares objetivam
inserido nesse processo, uma vez que o transporte do alimento
ambientais (ao considerar que ele acolhe a indústria alimentar).
(AZEVEDO e RIGON, 2014 apud MATUK, 2015).
a manutenção das relações de controle econômico que resulta em
até o lar, o acondicionamento, a preparação e o descarte das so-
Então é preciso que este sistema se volte para formas de agrope-
A pesquisa de doutorado realizada pela Christiane Costa no
uma concentração de capital pelas grandes oligarquias transnacio-
bras também fazem parte do ciclo de vida. Dessa maneira, será
cuária sustentáveis, que não poluam as águas, o ar, o solo e os ali-
bairro Embu das Artes, São Paulo, em 2014, identificou nos bairros
nais desse setor. Estas promovem cada vez mais um controle da
apresentada a alimentação como uma forma diferente de fazer
mentos, que contribuam para o equilíbrio do clima e que respeitem
de perfil de baixa renda que os estabelecimentos comercializavam
área de alimentos, o monopólio de sementes, interferem na sobe-
política, é uma ação que pode ser colocada a serviço do planeta
a biodiversidade, a vida e o meio ambiente.
em grande maioria apenas produtos industrializados e de baixa
rania alimentar dos povos e promovem erosão da agrobiodiversi-
e da humanidade; nos retira dessa inércia social e nos fortalece
Uma alimentação de verdade não ignora a qualidade de vida
qualidade. Também mostra que nesses locais era raro encontrar
dade, obtendo assim o lucro máximo em detrimento da sociedade.
como atores individuais e coletivos. Então, o ato de alimentar-se
e os direitos dos animais, o consumo de carne deve ser preferen-
pode ser visto como ação de ativismo ou de compactuação com o
cialmente eliminado. Caso não seja possível, diminuído significa-
sistema agroalimentar atual.
tivamente. Deve-se entender que o consumo de carne extrapola
frutas e verduras e quando encontradas eram de baixíssima qualidade, ficando a população dessas áreas restrita a pouca diversida-
2003 apud MATUK, 2015).
2.2
A ALIMENTAÇÃO DE VERDADE
Uma alimentação de verdade se preocupa com a vida de quem
a vida dos animais, gera o impacto dos frigoríficos e abatedouros
produz essa comida. No caso do Brasil, temos os indígenas, qui-
que consomem muita água. O consumo excessivo de carne cria
lombolas, ribeirinhos, neoruralistas, agrofloresteiros, pescadores,
impactos consideráveis, como as florestas sendo destruídas para
campesinos e agricultores familiares que produzem comida e segu-
a criação de pastagens, além de esses animais produzirem mui-
Esta seção se apresenta ao leitor em forma de manifesto e busca
rança alimentar e nutricional ao mesmo tempo. São responsáveis
tos gases que promovem o efeito estufa, desequilibrando o clima.
está ligado ao aumento do crescimento demográfico, em vez disso,
reunir ações alimentares para a construção de um sistema agroa-
pela produção de 70% do que comemos com 25% do orçamento
Ainda, dietas hiperproteicas estão ligadas a doenças metabólicas,
é resultado de um apelo mercadológico, em que os cidadãos são
limentar mais sustentável. É um resumo do manifesto da comida
destinado à agricultura. Ao comprarmos comida deles, ajudamos
renais e reumáticas.
incentivados ao consumo excessivo (GARCIA, 2003; McMICHAEL,
de verdade (AZEVEDO, 2016), que segue a mesma estruturação de
a manter os filhos dos agricultores familiares na escola, o indígena
Uma alimentação de verdade promove a vida saudável dos
2005 apud MATUK, 2015).
ideias, exemplificações e dados. Também se apropria do valioso
e o agrofloresteiro na floresta, o quilombola protegendo o rio. As-
produtores: crianças sem autismo, homens e mulheres férteis e
No modelo contemporâneo de alimentação, o preparo de pra-
termo “Comida de Verdade”, cunhado dentro do CONSEA, e lema
sim eles não precisam migrar para as periferias urbanas e viver as
lúcidos, indivíduos sem Alzheimer, depressão e outros problemas
tos típicos ou tradicionais são transferidos para os restaurantes,
da “V Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional: Co-
mazelas sociais nas grandes cidades.
neurológicos e dermatológicos, alergias e tumores relacionados
e o preparo caseiro torna-se restrito às ocasiões especiais, como
mida de Verdade no campo e na cidade: por direitos e soberania alimen-
celebrações e festividades, sendo os pratos adaptados ou simplifi-
tar”, realizada em 2015.
de de alimentos e alimentos pouco nutritivos. Tem-se como resultado uma população urbana supernutrida, devido ao aumento da obesidade e das doenças crônicas não transmissíveis. A produção de alimento triplicou enquanto a população mundial dobrou, todavia o aumento da produção de alimentos não
Uma alimentação de verdade é locavórica (baseada em produ-
aos diferentes venenos na agricultura convencional. Devemos es-
tos locais). Devemos procurar alimentos produzidos próximos às
tar atentos a produtos além dos agrotóxicos, como drogas veterinárias, antibióticos e hormônios, fertilizantes e aditivos sintéticos,
cados, como a feijoada, que passa a ser light, e a moqueca de peixe,
Partimos do entendimento de que cada tipo de alimento pode
nossas residências, evitando assim quilômetros de energia à base
que passa a ser feita com leite de coco industrializado. No dia a dia,
causar mais ou menos consequências ao planeta de acordo com o
de petróleo implicados na sua produção. O dinheiro investido é revertido para o desenvolvimento local, rural e urbano. Assim, o
24
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
25
Vicente Gonçalves Gewehr
produtos da irradiação e sementes manipuladas e transgênicas, prezando pela vida, e não pela morte.
Uma alimentação de verdade precisa da ação individual, pa-
enquanto economizamos na comida. Gastar com comida de ver-
(SAN), pelo fato de promover acesso a alimentos em quantidade
rando de consumir alimentos industrializados e colocando pro-
dade é investimento no futuro, na segurança, na saúde e no meio
e qualidade, a sua relação com a saúde dos seus participantes, já
Uma alimentação de verdade está constantemente ligada à cul-
dutos frescos à mesa. Ao invés de desembrulhar, abrir latas, gar-
ambiente. Isso não significa que essa comida deve ser cara e ina-
que estamos tratando de alimentos produzidos sem uso de agro-
tura, não esquecendo da manutenção do patrimônio alimentar, da
rafas plásticas e embalagens tetra park, devemos comprar mais
cessível. Esses gastos podem ser revertidos em bons hábitos que
tóxicos e insumos químicos, que também promovem a realização
territorialidade dos hábitos alimentares e das práticas agrícolas. A
produtos a granel e em vidros e menos produtos embalados em
resultem em um corpo saudável, satisfação pessoal, afetividade e
de atividades físicas e saúde psicológica dos participantes; por fim,
cultura pode ser pensada no sentido de promover a alimentação
plástico, isopor e alumínio. Devemos preferir alimentos locais que
tudo mais que contribua para um estilo de vida mais equilibrado.
a sua relação com a capacidade de superar as dicotomias entre
saudável, pois é a legitimadora deste conceito, com base nas dietas
estragam, mofam e não duram muito tempo porque estão vivos,
O conceito Agroparque engloba os princípios descritos nesta
saudáveis dos povos pré-modernos caracterizadas por alimentos
como nós seres humanos. O tempo de vida na prateleira é um
seção, sendo que todos estes foram levados em consideração na
Os temas mencionados anteriormente serão expostos com
apoiados na sazonalidade, na geografia, nos hábitos e práticas lo-
apelo estratégico que favorece a indústria alimentar.
elaboração do projeto. Desta forma o espaço se apresenta muito
uma abordagem sobre SAN e a relação da pobreza com o acesso
cidade e campo.
cais. Como exemplo, queremos o azeite de oliva para o mediter-
Uma alimentação de verdade necessita de dedicação e inves-
mais do que uma área produtora de alimentos e recreativa, existe
aos alimentos. Depois, vamos ver como o abastecimento alimentar
râneo, o óleo de palma e coco para os trópicos, manteiga e banha
timento de tempo, com o equacionamento do que fazemos com
com importância política e representa atitudes alimentares que
garante a SAN. Sequencialmente, como a alimentação pode reper-
para os locais frios.
o tempo livre. Devemos incluir tempo para ir à feira, além do su-
buscam promover a vida, é uma forma de agir emancipatória, im-
cutir em saúde ou doença. Então, veremos como a inserção da AU
Uma alimentação de verdade está relacionada à retomada do
permercado, tempo para ir à loja de produtos naturais e agroeco-
pactante, pacifista, altruísta, ambientalista, comprometida, cons-
no planejamento urbano pode potencializar a prática. Por fim, será
campo, pautada na distribuição mais igualitária da população para
lógicos, como também à cooperativa de agricultores familiares.
ciente e sem partido construindo um mundo melhor.
abordado como a AU pode realizar uma aproximação da relação
o meio rural e para as cidades pequenas. Mudar o ritmo de vida,
Estimular a família a voltar para o fogão, ensinando os filhos a
ser dono do tempo, rever o conceito de produtividade e qualida-
cozinhar, a apreciar a culinária e os rituais da mesa. Devemos in-
de de vida. Ocupar o território de maneira menos concentrada,
vestir o nosso tempo para passear com a família na feira e para
tomando os campos novamente, cuidando das nascentes e enten-
fazer turismo rural, ensinar os nossos filhos a respeitar o agri-
dendo que “água se planta”, como fala o mestre das Agroflorestas
cultor e a natureza, para se encantar com uma árvore carregada
Ernest Götsch. Assim como devemos produzir e ensinar a produ-
de frutas e o cheiro de uma flor. Tempo para se relacionar com o
zir o próprio alimento.
alimento, aprendendo de onde vêm as abóboras, tempo para lavar
entre o campo e a cidade.
2.3
ABORDAGENS DISTINTAS SOBRE A AGRICULTURA URBANA
A definição de SAN reformulada em 2004, na II conferência Nacional de SAN em 2004, e aprovada em 2006, diz: Segurança alimentar e nutricional consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente sem comprometer o
Caso você não se encaixe nesta retomada do campo, produza
sua salada, descascar sua fruta, se encantar com o cheiro do pão
seu alimento em hortas urbanas, nos parques, nos espaços de la-
e do bolo saindo do forno e tempo para comer juntos. Todo esse
zer, na varanda e na janela do seu apartamento. Soberania alimen-
tempo investido vai se reverter em aproximação e qualidade de
Neste momento do trabalho, serão apresentadas algumas ações,
diversidade cultural e que seja ambiental, cultural, econômica e
tar e independência significam muito em tempos de crise. Quem
vida, satisfação, saúde, socialização, segurança alimentar e nutri-
temas e conceitos relacionados às práticas de AU, que nos permi-
socialmente sustentáveis. A SAN também está ligada ao princípio
não deseja plantar seu alimento, não se esqueça do seu poder de
cional, não é tempo perdido. Uma alimentação de verdade implica
tem relacionar o cultivo de alimentos na esfera urbana com temas
da soberania alimentar, que consiste na definição pelos povos:
compra de alimentos da agricultura familiar sustentável, que é um
em mudanças no estilo de vida urbano industrial.
como o abastecimento alimentar das pessoas que a praticam e os
suas estratégias de produção e consumo dos alimentos que necessitam.
acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitam a
poderoso ato político. Capaz de ocasionar o equilíbrio dos preços
Uma alimentação de verdade também está vinculada a um re-
que se beneficiam indiretamente, e como a AU está ligada ao pla-
e garantir acesso a quem não pode comprar alimentos orgânicos
pensar das prioridades: trabalha-se muito para gastos com plano
nejamento urbano, já que estamos nos referindo à produção de
e ecológicos.
de saúde, seguro de vida e de automóvel, roupas e medicamentos,
alimentos nas cidades. Outros três aspectos que são significativos
O autor Josué de Castro (1984) apresenta a fome como um
sobre a AU é a sua relação com a Segurança Alimentar Nutricional
problema socioeconômico e político, e não de insuficiência de ali-
26
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
27
Vicente Gonçalves Gewehr
mentos. Como exemplo disso, temos o Brasil, que, segundo Can-
em formas alternativas de abastecimento, como a produção de
metros por ano para a compra dos alimentos que consomem, com
çado (2009 apud Ferrareto, 2015) é um potencial exportador de
alimentos em áreas urbanas e periurbanas (FERRARETO, 2015).
base em uma realidade urbana inglesa analisada . 2
Agricultura urbana como promotora da aproximação cidade e campo
alimentos em escala global, que possui significativa parcela de sua
Maluf (1999) aponta que a relação do abastecimento alimentar
Diferente dessa realidade descrita anteriormente, o autor
Com a Revolução Industrial, aconteceu, segundo Mougeot (2000
população sem acesso ou com acesso de maneira dificultada aos
com a SAN pode contribuir na produção e distribuição de alimen-
Friedman (1993 apud Ferrareto, 2015) acredita que uma política
apud Ferrareto, 2015), um divórcio entre a agricultura e a cidade,
alimentos básicos necessários. As pessoas vivem em locais com
tos sob formas mais igualitárias. O que significa promover ativi-
alimentar democrática deve dar valor à proximidade na produção
a produção de alimentos e a economia urbana. O autor acredita
quantidade suficiente de alimentos, mas o que lhes falta é o acesso
dades econômicas geradoras de trabalho e de renda sob formas
e no consumo dos alimentos. Friedman e MCMichel (1989 apud
que tal fato se deu pela visão filosófica predominante na Europa
a eles. ROCHA (2013 apud FERRARETO, 2015).
que, simultaneamente, diminuam a diferença social e possibilitem
Ferrareto, 2015) propõem reconectar a produção e o consumo
Ocidental caracterizada pela oposição entre natural e artificial,
Maluf (2007 apud Ferrareto, 2015) aponta que o padrão de
ampliar a disponibilidade de alimentos de qualidade de uma ma-
local. Para isso, seriam viáveis a implementação de ações como
natureza e civilização, homem natural e homem urbano. Mas essa
consumo alimentar atual deve ser repensado e que a SAN deve
neira menos custosa, valorizando e explorando a multiplicidade
educação política dos consumidores e a organização cooperativa
divisão, que surgiu com a revolução industrial, ainda é adequada
ser um eixo ordenador das medidas políticas de um país. O autor
nos hábitos de consumo.
de produtores e empreendimentos locais, vinculando-os aos con-
nos dias atuais? Não é possível ser uma pessoa urbana que vive
sumidores.
no território rural?
também aponta que a produção de alimentos doméstica (nacio-
Uma maneira, de acordo com Maluf (1999), de realizar as me-
nal) seria responsável por fazer os países atingirem a soberania
lhorias supracitadas é aproximar o produtor do consumidor: ação
A AU pode ser associada ao conceito de civic agriculture, criado
Da mesma forma, se nota uma contradição em relação à AU,
alimentar e a SAN.
chamada de circuito curto de produção, distribuição e consumo,
por Thomas Lyson (2004), que segundo o autor (apud Ferrareto,
vista muitas vezes como um resgate do rural, mas outros a veem
Um agente que garante a SAN é o abastecimento alimentar.
tratando-se de circuitos que vinculam a produção a uma maior
2015), pode ser entendido como uma estratégia de promoção da
apenas como um trabalho igual a qualquer outro em perímetro
Este que não é garantido, como entendido geralmente, com a es-
proximidade dos consumidores. Esses circuitos se mostram im-
agricultura sustentável e um sistema alimentar alternativo, cen-
urbano. Levanta-se o questionamento de se existe uma atividade
coação da safra e ampliação de espaços de comercialização. Os
portantes pelo fato de que a comercialização de produtos oriundos
trado em diferentes práticas agrícolas e no estabelecimentos de
apenas rural ou uma atividade apenas urbana, visto que o rural
autores Linhares e Silva (1979 apud Ferrareto, 2015) apontam que
de mercados externos tem prejudicado a população e o mercado
laços comunitários, (re)conectando o lugar às pessoas. O autor
e o urbano estão mais atrelados a modo de vida do que à delimi-
ele envolve também uma série de questões, como a produção, a
local devido aos custos ambientais provocados pelas distâncias
aponta que diversos casos de civic agriculture existem e vão con-
tação territorial.
circulação e o consumo dos alimentos, cabendo ao Estado a fun-
percorridas entre países, pela perda de oportunidades na esfera
tra o processo produtivo em larga escala industrial. São capazes
Até mesmo o conceito “agricultura urbana” já separa a atividade
ção de garantir que as questões citadas aconteçam corretamente.
global da economia, pela extinção de variedades tradicionais e pe-
de resignificar os espaços sociais e econômicos e se articulam a
pelo espaço geográfico. Em vez disso, podemos pensar a agricultura
las alterações na dieta alimentar (FERRARETO, 2015).
consumidores que demandam alimentos frescos, agroecológicos
como uma atividade que pode ser desenvolvida em qualquer loca-
Infelizmente, muitas políticas de abastecimento alimentar atuam de maneira distinta, desconsiderando toda sua complexi-
Segundo Viljoen e Bohn (2007 apud Ferrareto, 2015), os gran-
e produzidos localmente. Sendo uma reorganização da produção
lidade (dependendo da escala) e, dessa maneira, podendo receber
dade, que envolve o processo desde a produção até a comercializa-
des deslocamentos que os produtos percorrem no seu transpor-
agroalimentar, sendo a agricultura vista como parte integrante da
incentivos tanto de políticas públicas voltadas para o desenvolvi-
ção. A prática vem acontecendo com a produção alimentar ligada
te provocam impactos significativos e crescentes no aumento da
comunidade e não apenas como mercadoria.
mento rural quanto para o desenvolvimento urbano. Nesse sentido,
às áreas rurais e a distribuição ligada às áreas urbanas (MALUF,
temperatura, poluição atmosférica e sonora devido aos custos
2001 apud FERRARETO, 2015).
a cidade não pode mais ser entendida como o local onde se desen-
ambientais provocados pelas longas distâncias percorridas entre
2 Com base no artigo “Paisagens urbanas produtivas contínuas: a agricultura
volvem atividades industriais e de serviços e o campo como o local
Assim, acontece no campo o incentivo à produção no local, en-
zonas de produção e zonas de consumo. Os autores ainda con-
urbana como infra-estrutura essencial”, na Revista de Agricultura Urbana
onde se desenvolvem atividades agrícolas. Mais do que nunca, as
quanto a instalação de equipamentos se realiza nas áreas urbanas,
cluíram que os consumidores se deslocam em média 1.500 quilô-
da mesma dforma que a maior parte da distribuição e comerciali-
n.º 15, um estudo encomendado pelo Departamento de Meio Ambiente, Agricultura e Assuntos Rurais do Reino Unido.
zação, sem frequente preocupação com o circuito do alimento ou
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
integrando as políticas de planejamento no território dos municípios como um todo.
em reduzir o trajeto da produção até o consumo, ou ainda pensar 28
cidades estão desafiadas a unir essas realidades (urbano e rural),
29
Vicente Gonçalves Gewehr
Podemos enxergar a AU como uma entre outras ferramentas capazes de superar a dicotomia entre rural e urbano, superando o modelo imposto de industrialização e urbanização para as cidades e o da atividade agrícola como definidora dos espaços rurais. A cidade deve ser vista como um lugar de solo fértil que pode
2.4
ESTUDOS DE CASO DA AGRICULTURA URBANA
e as outras áreas permeáveis do terreno por espécies com utilidade
transformação do solo seco e improdutivo em um solo úmido e
alimentícia.
rico em minerais. Destacam também a satisfação com a própria saúde física e mental e a relacionam com um estilo de vida simples e ativo.
ser cultivado, sem a visão de que se trataria da tranferência de
Serão expostos exemplos bem sucedidos da AU que mostram de
2.4.2 Cidade de Todmorden
uma prática do campo para a cidade, ou seja, não se trata apenas
maneira prática as abordagens teóricas vistas anteriormente. Fo-
Uma relação diferente com alimentação e com a Agricultura Ur-
de uma transposição de um saber fazer, de um modo de ser, do
ram escolhidos exemplos distintos quanto à função da utilização
bana pode ser notada com as ações do grupo voluntário de nome
campo para as cidades ou um resquício indesejado que resulta da
da agricultura urbana, assim como às dimensões do espaço de
Comestível Incrível (original: Incredible Edible). Os ativistas da ali-
urbanização incompleta. A agricultura deve ser vista como uma
produção. O primeiro exemplo é a produção em um espaço pe-
mentação buscaram disseminar a prática de consumir alimentos
prática que faz parte da dinâmica da cidade e, por isso, parece
queno e privado, caracterizado pelo quintal da família Dervaes
locais na cidade de Todmorden, no Reino Unido, para mostrar que
equivocado considerá-la uma anomalia dentro do espaço urbano.
nos Estados Unidos; em seguida veremos o projeto Incredible Edi-
é possível consumir alimentos locais e que não compactuem com
O rural e o urbano extrapolam os limites espaciais tradicionais
ble, na cidade de Todmorden, na Inglaterra, que cultiva alimentos
a poluição ao serem transportados por longas distâncias. Começa-
e tanto os atores que se aproximam do urbano quanto os que se
por toda a cidade em espaços públicos; o terceiro é o projeto
ram a cultivar frutas, ervas e vegetais por toda a cidade em espa-
aproximam do rural tendem a adquirir características específicas
Lavoura, na cidade de Curitiba, que é um exemplo bem-sucedido
de cada espaço, porém, nem sempre essas características levam o indivíduo a se urbanizar ou ruralizar. Podemos ter espaços, ativi-
no Brasil a partir de uma parceria entre sociedade e prefeitura.
ços públicos, sendo a colheita da produção realizada por qualquer FIGURA 1 Quintal da Família Dervaes. Fonte: melhorviver.com.br. Acesso em 27
de março de 2018
pessoa, mudando a relação da cidade com os alimentos. Segundo Hay (2012), o projeto teve início de maneira espon-
dades e pessoas que carregam consigo o rural e o urbano, seja no
2.4.1 Familia Dervaes
Com muito trabalho, após 15 anos de dedicação à agricultura
tânea por parte da população. Os cidadãos organizaram-se pro-
campo ou na cidade. A AU e seus praticantes são prova de que o
Segundo Florios (2017), a família Dervaes, composta pelo pai
urbana, aproveitando ao máximo o espaço de 400m² de maneira
curando ações que viessem a contribuir para uma vida mais sus-
rural e o urbano extrapolam os limites espaciais tradicionais.
e três filhos, vive a cerca de 15 minutos de Los Angeles em um
horizontal e vertical, atingiram a produção anual de aproxima-
tentável. Entendeu-se que atitudes para um mundo melhor aos
Ao fragilizarmos o pensamento disciplinar e dicotômico que
terreno retangular de 20 por 40 metros, cuja residência teve seu
damente 2.700 kg de alimento por ano, produção que no verão
futuros habitantes do planeta não devem depender unicamente
representa 80% e no inverno 55% da dieta da família.
do governo e das grandes empresas.
segrega o rural e o urbano, podemos abrir possibilidades inter-
entorno transformado em uma fazenda urbana (original: urban
pretativas capazes de convencer quanto à existência de diversas
homestead). Este exemplo busca mostrar um aplicação da AU em
Os excedentes são comercializados sem intermediários com
O principal objetivo é disseminar a utilização de alimentos lo-
formas de viver e de se organizar coletivamente, seja na cidade ou
espaços privados e mostra que não é necessário grandes espaços
restaurantes e o material residual das áreas de plantio serve de
cais, prática a qual não é muito frequente nos países de clima frio
no campo, pois suas áreas estão conectadas em vários aspectos.
para produção de alimentos.
alimento às galinhas, patos e cabras, dos quais retiram composto
e desenvolvidos. No Reino Unido, 50% do alimento consumido é
utilizado na fertilização do solo.
importado. Nos Estados Unidos, os alimentos viajam em média
Manejos do solo, em torno dos ciclos naturais, estão presentes
Os Dervaes transformaram o cultivo de alimentos em uma pe-
tanto no campo quanto na cidade, cujos limites são abstrações
quena horta na parte de trás do quintal de maneira despretensiosa.
A família não se arrepende por ter se arriscado na árdua tarefa
mais de 2.400km para chegar à mesa do consumidor, tornando
conceituais que precisam ser revistos para que novos conceitos,
Inconformados com a falta de identificação dos alimentos trans-
de produzir seu próprio alimento, que demanda muito trabalho,
o ato cotidiano de alimentar-se extremamente insustentável. Por
geradores de novas ideias e realidades, possam ser construídos.
gênicos no mercado, decidiram trocar a grama do jardim frontal,
tempo e dedicação. Em vez disso, seus membrosficam satisfeitos
exemplo, para consumir uma caloria de salada, pré-lavada e se-
que gastava muita água e nunca promovia uma satisfação estética,
com o privilégio de se alimentarem de gêneros sazonais e de ori-
lecionada em Nova Iorque, oriunda da Califórnia, são gastas 56
gem conhecida. Entre os muitos benefícios dessa prática, citam a 30
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
31
Vicente Gonçalves Gewehr
calorias com derivados do petróleo utilizado no transporte (NA-
Os envolvidos afirmam que uma das vantagens de plantar em
2.4.3 Cidade de Curitiba
facilitar o acesso ao alimento e reduzir custos com alimentação;
locais públicos é reconectar e conectar as pessoas com o solo, com
Neste estágio será exposto o programa Lavoura, que promove a
promover a educação alimentar através do consumo de
Os voluntários mostram com os canteiros públicos, distribuídos
as alterações climáticas, com o crescimento do alimento e princi-
AU na cidade de Curitiba. O cultivo de alimentos acontece pela
hortaliças e frutas sem uso de agrotóxicos; servir como
pela cidade, diversas possibilidades de alimentação, disseminam e
palmente com as relações de gentileza e bondade, criando possi-
população organizada pela prefeitura. O conteúdo foi apresentado
atividade física e terapêutica; servir como ferramenta
resgatam tradições alimentares perdidas ou desconhecidas, que
bilidades de das pessoas confiarem umas nas outras, pelo lema do
a partir de estudo da dissertação de mestrado de Ferrateto (2015),
pedagógica nas unidades educacionais; gerar renda com a
são mais sustentáveis. Além dos canteiros que ficam, por exemplo,
projeto “se você precisa disso, é só pegar”, encorajando assim as
que aborda a experiência de AU na cidade e adota como metodo-
comercialização da produção; conscientizar as pessoas para
em todas as escolas, postos policiais, estações de transporte públi-
pessoas a ajudarem a si mesmas.
logia: entrevistas com produtores, coordenadores, representantes
a preservação ambiental das áreas urbanas com recuperação
da prefeitura e empresas.
de áreas degradadas; proteção ambiental com a redução
TIONAL FARMERS UNION, 2015; POLLAIN, 2010).
co e do prédio do corpo de bombeiros, os voluntários organizam eventos e festas disseminando a alimentação de verdade.
Em 1986, a prefeitura de Curitiba criou o programa Lavoura,
da impermeabilização do solo urbano; estimular ações
O projeto conta com 200 voluntários que promoveram em
objetivando possibilitar aos moradores, principalmente os mais ca-
comunitárias e de inclusão social; resgate da cultura rural
2017, com o intuito de disseminar os saberes sobre alternativas
rentes, o acesso aos alimentos. O programa destinava-se principal-
no espaço urbano, aproveitando a experiência agrícola dos
alimentares, as seguintes atividades:
mente à criação de hortas em áreas abaixo de fiações, que vinham
moradores locais.
»»
60 tours pela cidade, mostrando a mais de 1000 pessoas
sendo ocupadas ilegalmente por populações carentes, transforma-
onde comprar alimentos locais;
das em lixões ou em locais de práticas ilícitas (FERRARETO, 2015).
Esses objetivos, que são os mesmos desde a criação do progra-
»»
demonstrações culinárias e degustações gratuitas de receitas
A prefeitura realizou o mapeamento dessas áreas públicas li-
ma, demonstram que o conceito de Segurança Alimentar Nutricio-
com ingredientes locais;
vres. Grande parte correspondia a espaços das empresas Eletrosul
nal (SAN) não estava incluído nas pautas, mas na prática sim, ou
»»
palestras e oficinas;
e Capel abaixo de fiações. O projeto era apresentado à comunidade
seja, previa-se o acesso aos alimentos e ainda educação alimentar
»»
um evento chamado de tenda das famílias agricultoras,
pelos técnicos da SMAB, que realizavam as inscrições. Então, os
(FERRARETO, 2015).
promovendo a aproximação das famílias produtoras com os
espaços eram distribuídos, juntamente com ferramentas, mudas
A maioria dos participantes do programa são idosos aposenta-
consumidores;
e sementes, além da permissão para produção de alimentos no
dos ou desempregados organizados em associações de bairro ou
organização e recepção do Encontro de Segurança
espaço indicado (FERRARETO, 2015).
por lideranças locais, havendo uma produção anual em média de 2
»»
Alimentar do Reino Unido (original: United Kingdom Food
Antes de o programa ser criado pela prefeitura, muitos mora-
Sovereignty Gathering).
dores já produziam nas áreas da Eletrosul e Capel. A prefeitura,
FIGURA 2 Os policiais em frente à estação policial orgulhosos
do desenvolvimento dos vegetais cultivados no local. Fonte: usbeketrica.com. Acesso em 27 de março de 2018.
32
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
mil toneladas de alimento (esse volume já chegou a 5 mil toneladas no início dos anos 2000) (FERRARETO, 2015).
em certos casos, só organizava e distribuía insumos. Optaram pela
As hortas são espaços de produção individuais, os canteiros
distribuição de espaços individuais ao invés de coletivos e conta-
(Figura 3) de tamanho padrão são distribuídos e o cultivador re-
vam com o apoio da empresa de assistência técnica e extensão
cebe o canteiro pronto, ou seja, adubado e com kit de sementes,
Rural e o curso de agronomia da Universidade Federal do Paraná,
mudas e acessórios. Desistências são muito raras, os canteiros va-
que prestava assistência técnica às famílias (FERRARETO, 2015).
gos são resultados de falecimento ou quando o cultivador que ti-
Segundo a prefeitura de Curitiba (apud Ferrareto, 2015, p. 72), os objetivos do programa são:
33
Vicente Gonçalves Gewehr
nha horta como alternativa ao desemprego consegue um trabalho (FERRARETO, 2015).
FIGURA 3 Trecho das Hortas do bairro Tatuquara. Fonte: Ferrareto, 2015.
A produção dos alimentos nas hortas acontece com ausência
“Eu sempre quis plantar, queria morar num sítio... Então, quando
de utilização de pesticidas e herbicidas, resultando em alimentos
vi isso aqui, eu quis. Gosto de mexer com a terra, aqui tem
mais saudáveis aos produtores, sua família e para terceiros que
verdura, tem milho... Minha horta é linda e eu já estou comendo
recebem ou compram esses alimentos (FERRARETO, 2015).
o feijão que plantei” (p. 90).
Com objetivo de mostrar a perspectiva da agricultura urbana através de quem a pratica foram selecionados relatos dos partici-
É perceptível que não são apenas pessoas que vieram do cam-
pantes do programa Lavoura, destacados do trabalho da Ferrareto
po que plantam e, portanto, a AU se apresenta como experiência
(2015, p. 90). As falas desses cultivadores confirmam as múltiplas
urbana e não apenas como uma atividade de resgate do passado.
funções da agricultura urbana anteriormente apresentadas. Quanto ao motivo de querer a horta, o mais retratado é o apego à terra e a prática de plantar seu alimento:
O segundo ponto mais destacado pelos cultivadores em relação ao motivo que os fazem querer as hortas é ter mais alimentos em casa. Alguns citam apenas isso, ou seja, ter mais alimento (acesso) e com isso economizar com as compras em supermercados, ou-
“Eu quis a horta porque acho bom plantar... Mais agora
tros destacam a questão do alimento saudável, dando muita ênfase
como estou com problema no coração e meu marido está
ao fato de serem orgânicos. A seguir as falas que elucidam essa
desempregado é ele que cuida, mas eu ainda venho, nem que
questão:
seja só para ficar olhando” (p. 90). “Eu me interessei em ter a horta para ter economia com gastos “Eu morava na roça e sempre quis ter uma horta na cidade, só
na alimentação” (p. 90).
não tinha espaço, quando vi isso aqui, quis na hora” (p. 90). “Eu me interessei por causa da verdura ser melhor, essa aqui é
Cada bairro que participa do programa Lavoura possui um coor-
está se alimentando de forma diversificada e ainda disponibilizan-
“Eu quis porque está no sangue... Quem trabalhou com roça quer
sem veneno. O gosto é tão diferente, minha filha... Fora que no
denador, eleito pelos próprios cultivadores, responsáveis por con-
do (por meio de vendas ou doações) alimentos para terceiros de-
plantar” (p. 90).
mercado não tem muita variedade” (p. 91).
tatar a prefeitura em situações de emergência, fazer o cadastro de
vido ao grande volume de produção (FERRARETO, 2015). As famílias também realizam uma economia ao produzir seu
É possível perceber nas falas a relação que seus enunciadores
Nas falas destacadas, podemos notar que a questão do acesso
O programa beneficia diretamente 773 pessoas, que cultivam
próprio alimento. Segundo dados disponibilizados pela unidade
ainda mantêm com o campo, com as suas origens e com a atividade
é muito presente e, portanto, o autoconsumo como ferramenta
em uma área total de aproximadamente 670. 000 m² dividida em
de agricultura urbana (apud Ferrareto, 2015), as famílias partici-
da agricultura. Entretanto, a relação com a terra não se dá apenas
de abastecimento se faz muito importante. Esse fator é marcante
762 espaços de produção individuais. Segundo dados apresenta-
pantes do projeto gastam em média 100 reais a menos mensal-
com originados do campo, há casos de pessoas mais jovens que
principalmente para os cultivadores mais novos, que ao contrário
dos pela unidade de agricultura urbana (apud Ferrareto, 2015),
mente nas compras de supermercado, e para os que vendem a
nunca haviam plantado, que aprenderam a criar essa aproxima-
dos mais idosos não possuem uma forte relação com a terra, pre-
cada cultivador produz em média 3 kg de alimento por dia, capazes
renda gira em torno de 300 reais por mês, valor geralmente des-
ção nas hortas, e ainda assim destacam como principal motivo a
valecendo para eles a questão do acesso. Ferrareto (2015) relata
de alimentar cerca de seis pessoas, variando entre 15 e 18 espécies
tinado à compra de outros itens da alimentação não produzidos
relação com a terra.
que a produção da horta abastece a casa do próprio cultivador e
diferentes. Dessa forma, a população, em grande maioria carente,
nas hortas.
novos interessados e realocar canteiros vagos (FERRARETO, 2015).
34
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
35
Vicente Gonçalves Gewehr
também de seus filhos e vizinhos, através das doações. Em média, a
“Eu quis porque tenho problema de saúde e quero viver mais.
horta de um cultivador gera alimentos para dez, até doze pessoas.
Isso é terapia, faço exercício vindo aqui. Eu tenho mal de
seus hábitos alimentares, interferindo inclusive na melhoria da
Eu não vejo a hora de dar cinco horas para eu ir na horta. Se
Parkinson e me exercitando, melhora” (p. 92).
saúde. Abaixo algumas respostas que elucidam isso:
meus filhos vão em casa e eu não estou lá, eles já sabem que eu
Outro ponto bastante destacado é o fato de os produtos serem
No entanto, a grande maioria respondeu que a horta mudou
orgânicos, ou seja, não há nenhum tipo de insumo químico na
“Gosto porque é fisioterapia e terapia também...Entretém a gente.
estou na horta” (p. 93).
produção. Podemos observar nos relatos que o discurso do ali-
“Eu trabalhava, daí fiquei doente e a Ivonete que ajudou abrir
“Mudou muito, para meu marido que era ressecado, melhorou
mento orgânico está muito presente, talvez por ter sido colocado
tudo aqui, me chamou para ajudar ela até eu conseguir um
muito, minha pressão ficou mais regulada, tomava dois
como tema forte pela prefeitura, resultando em sua apropriação
espacinho para mim. Eu estava com depressão e a horta até
comprimidos para pressão alta e agora tomo só um. Como muito
alguns tenham se interessado em ter a horta por indicação médica,
por parte dos cultivadores.
diminuiu minha medicação” (p. 92).
mais verdura depois da horta porque o gosto é diferente” (p. 93).
quando questionado se gostam da atividade, eles afirmam que sim
Outra questão importante de apontar, é que, muito embora
e complementam com algo mais, como ter acesso ao alimento, por
O terceiro ponto mais destacado pelos cultivadores sobre os
exemplo.
motivos que os levam a querer a horta é ter uma atividade. Esta
Outra pergunta do roteiro que pode ser associada à questão da
Outro ponto de destaque é que a inclusão das verduras na die-
pode ter caráter físico, já que muitos alegam não quererem estag-
saúde era: “você mudou seus hábitos alimentares depois da hor-
ta, fez com que deixassem ou diminuíssem o consumo de carne,
nação doméstica, e também ter caráter emocional já que muitos
ta?” Muito embora alguns cultivadores tenham respondido que
ou ainda que o consumo de verduras tenha passado a se dar em
"Agora acostumei e gosto de vir, ver o alimento crescer. É lindo”
dizem que ter essa atividade os relaxa e acalma, não raro sendo
não, pois sempre comeram muita verdura, alguns deles reconhe-
grande quantidade. Os entrevistadores passaram a considerá-las
(p. 94).
utilizada a palavra “terapia”. Outros ainda veem essa atividade
ceram que agora a alimentação estava melhor pelo fato de estarem
como comida o que não faziam antes, quando o consumo era res-
como uma opção de lazer, ou seja, a horta como um espaço onde
ingerindo produtos orgânicos ou por estarem fazendo uma dieta
trito a uma ou duas espécies.
podem fazer amigos e conversar. Dessa forma, pode-se destacar
mais diversificada.
“Gosto de tudo. Ajudei abrir valeta e tudo. Gosto de ajudar, me sentir parte, eu me envolvo mesmo e assim me sinto dona de
que, sendo a maioria dos cultivadores aposentados, os trabalhos
“Sim, muito bastante. Agora como muito mais verdura, às vezes
fato. Eu estou sempre envolvida, ajudo a coordenadora no que
na horta os fazem, por fim, se sentir “úteis”. Abaixo algumas das
“Não mudou não, sempre comi muita verdura, só que agora está
nem como comida, só verdura. Escarola mesmo, eu como uma
precisa. É comunitária, né!! então acho que todos devem cuidar
respostas que elucidam essa questão:
mais acessível e tem mais variedades. Tem verdura aqui que a
bacia. Agora é almoço e jantar salada, e antes eu comia bem
e ajudar também, não ficar só na mão dela. Eu doo bastante
gente nem acha no mercado. Lá só tem alface, repolho. Aqui tem
pouca. Agora faço salada americana, misturo tudo, todas as
para a creche as mudas que sobram. Antes eu dava as verduras,
almeirão, escarola, abobrinha, até morango plantamos” (p. 92).
folhas” (p. 93).
agora dou as mudas para que eles mesmos plantem com os
“Eu quis para ter alguma coisa para fazer, isso é terapia para minha cabeça, venho aqui para não matar meu marido” (p. 91).
alunos, porque tem espaço na escola para isso” (p. 94).
Outro ponto importante diz respeito aos hábitos de alguns que,
“Como mais e também estudo sobre os alimentos. Tem alguns
“Para mim o principal motivo foi para o stress, a horta descansa
embora não tenham mudado, reconhecem que para os familiares
que eu não comia e agora que eu sei que faz bem e para o que
a mente e também para bater papo, fazer amizade” (p. 91).
mudaram, inclusive para as crianças:
ele é bom, eu como” (p. 93).
Como última questão do roteiro foi perguntando aos cultivadores se a horta havia mudado algo em suas vidas para além do que já haviam dito. As respostas mais marcantes foram:
O quarto motivo mais citado pelos cultivadores, sobre o por-
Uma das perguntas do roteiro era: “você gosta de trabalhar na
“A minha alimentação continua a mesma, mas para o resto da
quê de eles quererem as hortas, é a questão da saúde. Alguns, in-
família mudou sim. Eles comiam pouca verdura e, quando
horta? por quê?”. Aqui, a maioria dos cultivadores citaram nova-
“Mudou toda a minha vida. Se eu tivesse parado estava morto já.
clusive, mencionam que, com o trabalho nas hortas e com a inges-
comiam, era só alface, agora tem opções” (p. 92).
mente a palavra “terapia”:
Eu vivia doente e hoje não tenho dor, não tomo remédio e até
tão de mais verduras, os medicamentos foram diminuídos. Abaixo
ando de bicicleta”.
algumas das respostas referentes a essa questão: 36
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
37
Vicente Gonçalves Gewehr
“Agora parece que tenho mais ânimo e saúde. Ainda mais depois
Também é possível concluir que a AU praticada nestes bairros
grandes terrenos, estes localizados principalmente na esfera pe-
2.5.2 Pomar Urbano
da operação do útero, muita gente me ajudou, fiz muita amizade.
caracteriza um circuito curto de produção-consumo e apresen-
riurbana. As hortas também acontecem em espaços públicos da
A palavra pomar vem do latim pomum que significa fruta e com-
O povo aqui é muito unido, é bonito, sabe.... A família também
tam-se em outra lógica de abastecimento e consumo, porque inse-
cidade, como parques e espaços residuais urbanos, sendo exem-
preende um terreno dotado de árvores frutíferas localizado em
fica orgulhosa da gente em ver a horta tão bonita. Eu estou até
rem na alimentação dos envolvidos produtos frescos em diversida-
plos canteiros e terrenos baldios. Como não possuem delimita-
área urbana. A presença de pomares urbanos e verifica em muitas
famosa no tal do face...Tem foto minha lá com meus repolhos”.
de, quantidade e em qualidade, apresentando-se como uma prática
ção de tamanho, a aplicação em diversas escalas é possível assim
cidades na implantação de árvore frutíferas em proximidade (Fi-
que pode ser inserida em qualquer cidade e que promove muitas
como uma diversidade de design. Muitas não recebem projeto de
gura 4). Como em Brasília, que das 5 milhões de árvores planta-
melhoras sociais econômicas e ambientais.
implantação, os canteiros caracterizam-se como amontoados de
das, tem 2 milhões são frutíferas (FARIAS, 2016).
A partir da compreensão dos relatos expostos pelos cultivadores de Curitiba, ficam claras as potencialidades da AU e como essa
2.5
prática pode trazer diversas melhorias à população. A prática pode
terra, tendo assim a produção como foco, todavia as hortas também podem receber uma preocupação estética associada à funcio-
REPERTÓRIO DE AGRICULTURA URBANA
nalidade, explorando materiais distintos, recipientes e combinação
ção. Da mesma forma, a agricultura urbana promove a educação
Após o entendimento das múltiplas vantagens da inserção da AU
educativas são aplicadas em escolas e proporcionam educação
alimentar e resulta em um aumento do consumo de vegetais mais
nas cidades foi desenvolvido um repertório de possibilidades de
alimentar, ambiental e conhecimento a respeito do crescimento
diversificados e sem agrotóxico.
aplicações da agricultura, que fosse adequado à realidade da área
e desenvolvimento de vegetais. A produção das hortas também
promover o abastecimento alimentar das pessoas envolvidas assim como dos seus vizinhos e parentes. Consegue promover o acesso aos alimentos mais saudáveis e diversificados para os moradores dos bairros carentes, seja pelo autoconsumo ou por doações. Além de promover a redução dos custos da população com alimenta-
de espécies. Hortas urbanas também possuem uma variedade de objetivos, podendo ser um espaço que pode garantir a segurança alimentar, educativo, recreacional e de interação urbana. Muitas hortas
As práticas da agricultura urbana funcionam como atividade
de inserção do Agroparque. Esses espaços produtores de alimen-
é variável. A autora Florios relata o caso da família Dervaes que
física e terapêutica e também fortalecem os laços de amizade e
tos são horta urbana, pomar urbano, jardim PANC, floresta de
possui uma produção anual de 7,29 kg/ m² no quintal da sua re-
convívio social. Os relatos de melhorias em casos de depressão
bolso e sistemas agroflorestais urbanos e serão expostos em se-
sidência , valor muito superior, por exemplo, quando comparado
e ansiedade mostram como promovem o bem estar social. A AU
guida.
à produção monocultora de milho que produz 0,32 kg/m² de ali-
gera renda com a comercialização da produção e conscientiza a população quanto à preservação ambiental das áreas urbanas. Da
2.5.1 Horta
mesma forma as atividades de produção de alimentos promovem
Espaço de aplicação da agricultura urbana mais usual por sua
inclusão social através do convívio nas hortas e fortalecem os laços
versatilidade e multifuncionalidade. Do latim hortus, horta é um
de amizade. Da mesma maneira que promove um resgate da cul-
lugar onde se cultivam hortaliças e legumes. A existência de hor-
tura rural no espaço urbano, os cultivadores possuem um modo
tas urbanas pode acontecer em diversas situações com diferentes
de vida rural que se adaptou ao modo de vida urbano, inclusive
objetivos. Variam quanto ao local de implantação, tamanho, pro-
adaptando os seus conhecimentos agrícolas. O programa mostra
jeto, produção de alimentos, espaço de aprendizado, entre outros.
que a dicotomia campo-cidade fica cada vez menos marcante nos espaços urbanos. 38
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
mento (EMBRAPA, 2017).
FIGURA 4 Avenida das jaqueiras em Brasília, 2016, constituindo assim um
pomar urbano. Fonte: http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/cidadepomar-brasilia-tem-cerca-de-900-mil-arvores-frutiferas-em-area-publica/
A versatilidade das hortas pode ser percebida pelo local de cultivo variável em espaços privados, como pequenos quintais ou 39
Vicente Gonçalves Gewehr
2.5.3 Jardim PANC
2.5.4 Floresta de Bolso
2.5.5 Sistemas Agroflorestais Urbanos
PANC significa Plantas Alimentícias Não Convencionais, categoria
veitamento depende de diversos fatores como aproveitamento da
Floresta de bolso é uma técnica de restauração da mata atlântica
O Ministério do Meio Ambiente, por meio da Instrução Normati-
que se deve ao seu desconhecimento pela maioria da população.
matéria prima (de produção, cultivo, manejo ou extrativismo),
desenvolvida pelo paisagista Ricardo Cadim, baseada no plantio
va nº 05 de 2009, define Sistema Agroflorestal (SAF) como:
Plantas as quais são nativas no Brasil e têm o seu uso muitas vezes
tecnologia de aproveitamento (criação de derivados e processados
de espécies originais do bioma de acordo com a dinâmica original
negligenciado. Frequentemente, por ocorrerem entre as plantas
destas plantas) e mercado consumidor. Esse potencial permanece
das florestas, exemplificado na Figura 6. Com tamanho adaptado
Sistemas de uso e ocupação do solo em que plantas lenhosas
cultivadas, são denominadas ‘daninhas’, ‘invasoras’, ‘matos’ e ‘in-
ainda subutilizado e muitas vezes desconhecido em razão dos pa-
à dinâmica das cidades, a aplicação é possível em áreas a partir
perenes são manejadas em associação com plantas herbáceas,
festantes’. No entanto, muitas dessas espécies massacradas pelo
drões culturais fortemente arraigados que privilegiam produtos e
de 15m² e tem como objetivo a restauração da biodiversidade ori-
arbustivas, arbóreas, culturas agrícolas, forrageiras em uma
pisoteamento, enxadas e herbicidas são importantes espécies ali-
cultivos exóticos.
ginal, inclusive oferecendo um ambiente favorável à fauna e pos-
mesma unidade de manejo, de acordo com arranjo espacial e
sibilitando o contato da população ao patrimônio nativo e suas
temporal, com alta diversidade de espécies e interações entre
formas, texturas e sabores resgatando a biodiversidade original
estes componentes;
mentícias, que podem garantir a segurança alimentar e são fontes
Os jardins PANC são espaços que utilizam as PANC como ins-
de alimentos nutritivos e possibilitam diversos usos culinários (KI-
trumentos agregadores de valor estético, volumes e formas, maxi-
NUPP e LORENZI, 2017).
mizando a multifuncionalidade de espaços de agricultura urbana,
Segundo Kinupp e Lorenzi (2017), vivemos em uma sociedade
tornando os espaços mais atrativos à população e aos animais e
de analfabetos botânicos que não conseguem ler o que nos rodeia
ampliando as possibilidades paisagísticas, ainda promovendo uma
e assim não usamos dos benefícios que as plantas poderiam acres-
produção de alimentos urbana. Esses jardins podem inserir uma
centar à nossa rotina corriqueira e básica do dia a dia, sendo as
maior diversidade de cores, texturas diversificadas, árvores colo-
PANC uma viável alternativa à alimentação atual: muito básica, ex-
ridas, cactos, flores, palmeiras e coqueiros.
tremamente homogênea, monótona, pouco nutritiva e globalizada. Muitas PANC também são espécies convencionais, entretanto
FIGURA 5 Nesta imagem,
vemos a PANC de nome popular jasmimmanga (Plumeria rubra) amplamente utilizada no paisagismo das cidades que possui as suas flores comestíveis, exemplificando uma das diversas possibilidades de uso das PANC.
no cotidiano. Tais sistemas se destacam pela produção de alimentos que simula a dinâmica de uma floresta: para Götsch (2002), a sucessão das espécies é uma das forças motrizes da vida no planeta. Nos SAF’s, em um primeiro momento, espécies pioneiras ocupam clareiras na mata, em um segundo momento, são substituídas por espécies secundárias e, por fim, em um terceiro momento, o sistema entra em um equilíbrio com a dominância de espécies primárias.
possuem partes, porções ou produtos alimentícios não convencio-
Em Sistemas Agroflorestais, essa sequência é imitada, promoven-
nais, por exemplo, a bananeira e o mamoeiro presentes em quase
do e acelerando a sucessão natural, cultivando plantas de ciclo
todos os estados brasileiros. Da bananeira é possível a utilização
curto, médio e longo, pensando desde o início as espécies do futu-
do coração e do palmito e, do mamoeiro, a utilização da medula,
ro. Garantindo uma colheita diversificada ao mesmo tempo mais
dos frutos verdes, sementes e flores é viável. Esse conhecimento
atrativa para a fauna pela biodiversidade presente. O manejo do sistema pode ser realizado na sombra, por meio
possui também uma viabilidade econômica: no caso do mamoeiro, as grandes culturas após o ciclo economicamente viável, em vez de descartados, os pés poderiam ser cortados, manipulados e processados em doces em calda, farinha ou adicionados à outros doces.
das podas seletivas, para possibilitar o desenvolvimento de plantas FIGURA 6 Implantação de uma floresta de bolso no Parque Cândido Portinari
em São Paulo. Acervo pessoal.
novas e adquirir biomassa de determinadas espécies. Tal biomassa é espalhada nos arredores de onde foi retirada e é utilizada
As PANC variam de espécies extremamente conhecidas a espé-
como serapilheira, ação fundamental na fertilização do solo e na
cies totalmente desconhecidas e totalizam mais de 3.000 espécies
manutenção do mesmo sempre fértil, mostrando-se um sistema
de plantas com potencial alimentício. Também possuem um po-
muito eficiente na recuperação de solos inférteis. As raízes da
tencial de aproveitamento muito grande. Infelizmente, o seu apro-
diversidade de espécies presentes nos SAF’s espalham-se no solo
40
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
41
Vicente Gonçalves Gewehr
de maneira diversificada envolvendo um maior volume de solo,
III – a limitação do uso de insumos agroquímicos, priorizando-se
Todavia, a implantação de SAF’s em APP’s e corredores ecológi-
quando comparado à monocultura, sendo muito viável também
o uso de adubação verde;
cos se mostra muito apropriada por conciliar a preservação de
na recuperação de solos degradados pela erosão 3.
IV – a não utilização e controle de espécies ruderais e exóticas
áreas verdes urbanas e dos corredores ecológicos com a produ-
invasoras;
ção alimentar (KABASHIBA et al., 2009).
Desde 2011, o CONAMA, por meio da Resolução nº 429 permi-
A sua inserção em contexto urbano pode gerar certa estranhe-
te que as atividades de manejo agroflorestal sustentável (SAFs),
V – a restrição do uso da área para pastejo de animais
praticadas na pequena propriedade ou posse rural familiar, sejam
domésticos, ressalvado o disposto no art. 11 da Resolução
za quanto à sua estética para aqueles que não estão culturalmente
aplicadas na recuperação de APPs. Sendo as três metodologias to-
CONAMA Nº 369/06;
acostumados com esse tipo de sistema, mas sempre que possí-
leradas:
VI – a consorciação com espécies agrícolas de cultivos anuais;
vel, pode-se considerar cuidados paisagísticos principalmente em
VII – a consorciação de espécies perenes, nativas ou exóticas
áreas intensamente urbanizadas
I - condução da regeneração natural de espécies nativas;
não invasoras, destinadas à produção e coleta de produtos
Segundo o Manual agroflorestal para a Mata Atlântica de
II - plantio de espécies nativas; e
não madeireiros, como por exemplo fibras, folhas, frutos ou
2007, a distribuição das espécies em SAF’s pode acontecer de di-
III - plantio de espécies nativas conjugado com a condução da
sementes;
versificadas maneiras 4. Iremos destacar a distribuição espacial em
regeneração natural de espécies nativas”
VIII – a manutenção das mudas estabelecidas, plantadas e/
faixas pelo fato de ter sido utilizada na concepção do projeto: é a
ou germinadas, mediante coroamento, controle de fatores de
implantação de espécies por faixas com cultivos de ciclo curto ou
perturbação como espécies competidoras, insetos, fogo ou
cultivos de baixo porte, entre as quais estão dispostas faixas de
outros e cercamento ou isolamento da área, quando necessário”.
espécies de porte mais alto como espécies florestais altas; fruteiras
E no capítulo IV o código florestal estabelece requisitos para a inserção de SAF’s em APP’s:
perenes e espécies de porte bastante alto. “Art. 6º As atividades de manejo agroflorestal sustentável
Além disso a Lei 12.651 de maio de 2012 menciona algumas me-
praticadas na pequena propriedade ou posse rural familiar,
todologias possíveis de serem usadas na recuperação de APPs con-
conforme previsto no Código Florestal, poderão ser aplicadas na
solidadas a saber: o plantio de espécies nativas e/ou a condução
recuperação de APPs, desde que observados:
de regeneração natural de espécies nativas e o plantio intercalado
I – o preparo do solo e controle da erosão quando necessário;
de espécies lenhosas, perenes ou de ciclo longo. Tolera também a
II – a recomposição e manutenção da fisionomia vegetal nativa,
inserção de espécies exóticas com nativas de ocorrência regional,
FIGURA 7
mantendo permanentemente a cobertura do solo;
em até 50% da área total a ser recomposta.
Esquema de SAF com a distribuição espacial em faixas (Manual agroflorestal para a Mata Atlântica, 2007).
2.5.1.1 Agrofloresta na esfera urbana 3 É sugerido aos leitores mais interessados no entendimento sobre os Sistemas Agroflorestais a leitura do trabalho chamado de Sistemas agroflorestais em espaços protegidos dos autores CALDEIRA P., CHAVES produzido pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente de São Paulo em 2011. Disponível em: http:// www.sigam.ambiente.sp.gov.br/sigam3/Repositorio/222/Documentos/SAF_ Digital_2011.pdf. Acesso em 09 dez. 2017.
42
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
As áreas centrais geralmente são bastante urbanizadas e com poucos espaços não edificados, além dos terrenos muito valorizados, caracterizando um ambiente pouco favorável à implantação de SAF’s. Desse modo, a implantação desses sistemas é muitas vezes mais apropriada na esfera periurbana da cidade.
4 Para a compreensão de todas as maneiras de distribuição dos SAF se recomenda a leitura da Apostila Sistemas Agroflorestais, dos autores NARDELE, M., CONDE I. 2010. Disponível em: https://biowit.files.wordpress.com/2010/11/ apostila-agroflorest.pdf. Acesso em 09 de abril de 2018
43
Vicente Gonçalves Gewehr
FIGURA 8 Como exemplo de Sistema agroflorestal urbano, temos o Parque Ecológico Sitiê, o qual surgiu pela transformação de um lixão pelos moradores. Passaram 6 anos retirando 16 toneladas de resíduos do local e viram na implementação de vegetação uma forma de conter o depósito de resíduos. Então passaram a praticar a agricultura urbana e a criar infraestrutura como escadas e taludes nos 8,5mil m² de área. Em 2012 o parque do Sitiê foi reconhecido como a primeira agrofloresta do Rio de Janeiro pela Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura Municipal. Fonte: http://misturaurbana.com/2016/02/ moradores-de-favela-alto-vidigal-rj-transformam-deposito-de-lixo-em-parqueecologico/. Acesso em 14/06/2018.
PARQUES URBANOS
2.6
O autor Jan Gehl entende parques como instrumentos que
promovem transformações sociais positivas, por exemplo, com
dor unificador. Interligando os espaços do parque ao eixo central
possibilitam a permanência em áreas públicas e são responsáveis
uma política de saúde pública eficaz, de modo a reduzir a pre-
foram dispostos caminhos secundários (perceptível na Figura 10).
por aumentar as relações sociais entre as pessoas. O autor diz que
valência de sedentários, a aumentar os níveis de atividade física
O primeiro setor inclui instalações esportivas, como pista de
cidades vivas devem proporcionar espaços públicos de qualidade,
e, por consequência, melhorar a qualidade de vida da população
skate, dez quadras (oito poliesportivas e duas de tênis), áreas de
onde as pessoas se desloquem a pé ou de bicicleta, criando nos
(STOKOLS, 1992; SALLIS et al., 2006).
descanso vestiário e pista para caminhada.
Esta seção trata da importância de parques urbanos, o papel des-
bairros mais oportunidades de convívio e caminhos onde as pes-
Cassou (2009) realizou um estudo que mostrou associação
O segundo, denominado Parque Central, possui 95 mil m² que
tes espaços na dinâmica das cidades e as características que ga-
soas se desloquem mais lentamente e se envolvam com o entorno.
entre a frequência de usuários de parques e praças e a qualidade
incluem um conjunto de atrativos para os visitantes na imensa área
Jane Jacobs em Morte e Vida das Grandes Cidades (2011) cita al-
do ambiente. Na medida em que o potencial de qualidade do am-
verde com alamedas, jardins, bosques e árvores frutíferas. As pas-
Segundo Cavaleiro (1992), os parques são compreendidos por
guns motivos que podem fazer um parque populoso ou não. A au-
biente aumenta, maior é proporção de mulheres, pessoas mais ve-
sarelas do tempo do antigo presídio foram preservadas e funcio-
áreas verdes com mais de 100.000 m² destinados ao lazer ativo
tora mostra que a localização e a maneira que esses espaços se rela-
lhas e frequência de utilização. A respeito dos motivos para o uso:
nam como atração aos usuários.
ou passivo, à preservação da flora e da fauna ou dos atributos
cionam com a vizinhança são fundamentais, ao mesmo tempo, um
a maioria dos usuários de parques indicou ser a beleza e presença
O terceiro setor inclui os prédios institucionais e se encontra
naturais que possam caracterizar a unidade de paisagem na qual
entorno com usos variados possui usuários entrando e saindo em
de estacionamento os fatores essenciais, todavia a localização do
próximo à estação de metrô Carandiru facilitando o acesso da po-
o espaço está inserido, bem como promover a melhoria das con-
distintos horários do dia, contribuindo para a utilização do espaço.
parque, beleza geográfica e das estruturas, pista de caminhada/
pulação da Capital.
dições de conforto ambiental nas cidades. Quanto à preservação
Cavalheiro (1992) aponta que para garantir o sucesso de uti-
corrida, estacionamentos, comportamento dos usuários, apoio/
da flora, Scanavaca (2012) diz que com a inserção de áreas verdes
lização dessas áreas públicas os espaços nos parques de uso in-
incentivo dos amigos e a regulamentação do trânsito nos arredo-
os parques podem promover a recuperação de ambientes degra-
tensivo devem possuir uma variedade de atividades, como esta-
res foram percebidos como fatores de estímulo, independente das
dados, e em relação à fauna no meio urbano, mostra que as aves e
cionamentos, áreas de esportes, restaurantes, museus, áreas para
pessoas praticarem ou não atividade física regularmente.
abelhas em geral dependem da arborização para sobrevivência. O
espetáculos culturais, entre outros. Enquanto os espaços de uso
A seguir serão apresentados dois projetos que serviram de
autor conclui dizendo que a existência desses espaços possibilita a
semi-intensivo devem possuir áreas para piqueniques, passeios,
referência projetual. O primeiro é o Parque da Juventude em São
vida desses animais e consequentemente promove uma melhoria
caminhadas, trilhas, apresentando-se como espaços de menor in-
Paulo e o segundo é o Jardin del Turia, na cidade de Valência, na
na qualidade do ar.
terferência humana.
Espanha.
rantem o sucesso dessas extensões.
Martins e Araújo (2014) apontam que os parques também
Corti et al. (1997 apud Szeremeta e Zannin), mencionam que os
possuem funções estéticas e sociais. A função estética aconte-
parques provavelmente estimulariam a atividade física por fatores
2.6.1 Parque da juventude - São Paulo Brasil
ce principalmente pela exuberância das espécies vegetais e pela
relacionados à motivação, uma vez que as pessoas estariam mais
O Parque da Juventude (Figura 9) foi criado no lugar da peniten-
harmonização das distintas construções nas cidades realizada pe-
satisfeitas com os caminhos compostos de vegetação arbórea do
ciária Carandiru após sua desativação. Ele mudou a paisagem da
los espaços propostos. A função social é a democratização dos
que com os espaços vazios. Sendo necessária a presença de uma
Zona Norte de São Paulo, criando um marco cultural e de lazer,
espaços públicos destinados ao lazer e à recreação, melhoras na
infra-estrutura apropriada, programação de atividades, ambientes
renovando a paisagem urbana metropolitana da cidade.
qualidade de vida da população com benefícios físicos, aumento
agradáveis, salubres e facilidade de acesso, entre outros, para que
O projeto do parque foi feito pela arquiteta Rosa Kliass e com-
das interações sociais experiências psicológicas relevantes para a
com isso as pessoas se sintam atraídas e motivadas a frequentar
preende 240 mil m², espaço dividido em três setores: Parque Es-
melhoria da saúde mental.
tais localidades. Esses ambientes com qualidades sócio-ecológicas
portivo, Central e Institucional, extensões organizadas por uma alameda central de pedestres que funciona como eixo estrutura-
44
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
45
Vicente Gonçalves Gewehr
FIGURA 9 Imagem das
antigas passarelas de vigia. Fonte: https://www. archdaily.com.br/br/763644/ arquitetas-invisiveisapresentam-48-mulheresna-arquitetura-paisagismo/ 55007abae58ecee4f10000e7. Aceso em 14/06/2018
de zoo-imersão que leva os visitantes ao habitat dos animais e
FIGURA 12
Interação entre pessoas e animais no Bioparc y Parque de Cabecera >>
não o contrário, como acontece comumente. Podemos entender a Implantação definitiva A. Parque Esportivo B Parque Central C. Parque Institucional D. Área de preservação permanente E. Muralha
ambiência do espaço na Figura 12. Outro espaço marcado pelo conceito de criar um complexo de lazer científico, tecnológico e cultural é a Cidade das Artes e das Ciências, composta por edifícios coerentes com a temática. Como exemplo, destacam-se o Cinema 3D (nome original: El Hemisferic) e o museu de ciência (nome original: Museo de las Ciencias Príncipe Felipe). Assim como a arquitetura destas edificações dialogam a proposta conceitual da área.
FIGURA 10 Esquema de implantação e planta do parque, sem escala. A
figura possibilita observar o grande eixo que conecta todas as áreas do parque. Fonte: https://teoriacritica13ufu.wordpress.com/page/2/. Aceso em 14/06/2018.
El Hemisfèric FIGURA 11 Vista aérea do Jardin del
VISTA
2.6.2 Espaços livres públicos de Valência
reproduzindo o antigo leito do rio Turia, que foi desviado para
O Jardin del Turia (Figura 11) é um dos grandes parques naturais
evitar as contínuas inundações que a cidade sofreu.
urbanos da Espanha, um espaço verde de mais de nove quilôme-
Existem espaços distribuídos ao longo do Jardin del Turia que se
tros transitáveis que atravessa a cidade com áreas recreativas, es-
destacam por uma releitura e inovação de espaços convencionais
portivas, edificações com atrações distintas e espaços de perma-
como o Bioparc y Parque de Cabecera. Essa zona é uma releitura
nência variados. Esse parque, inaugurado em 1986, foi construído
dos tradicionais Zoológicos, baseada na implantação do conceito
46
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
47
Vicente Gonçalves Gewehr
VISTA
Turia, destaque para Hemisferic e Museo <<
Museo de las Ciencias Príncipe Felipe
O PRO JETO
a produção de alimentos o estar o lazer o permanecer a recreação a contemplação o exercício físico a educação alimentar a interação entre a comunidade o acesso à alimentos mais sustentáveis o contato e experimentação da produção de alimentos.
51
Vicente Gonçalves Gewehr
O presente projeto, idealizado para o bairro de Goiabeiras, se trata de um Agroparque. Essa categoria de parque foi desenvolvida neste trabalho e é definida como um espaço produtor de alimentos, recreativo e educacional, que visa, além do lazer, transformar a relação das pessoas com a alimentação. O espaço escolhido para o projeto foi uma área ociosa de 330.000 m², destacada em vermelho na Figura 13, entre uma via arterial e o manguezal, próximo ao aeroporto de Vitória e à Universidade Federal do Espírito Santo. A via denominada Fernando Ferrari é uma das principais da Região Metropolitana de Vitória, representando uma importante ligação entre Vitória e o município da Serra. ra r
i
Goiabeiras e os bairros do entorno são áreas de
Fe r
população economicamente desfavorecida e com
local busca proporcionar aos moradores da área os benefícios da agricultura urbana (abastecimento alimentar, auxílio na SAN, desenvolvimento da
nd na
AEROPORTO
Av .F er
xos. Dessa maneira, a inserção do Agroparque no
o
espaços livres públicos pouco utilizados e descone-
UFES
economia local, melhora no meio ambiente, maior convívio social entre outros), assim como também visa a democratizar o acesso ao espaço público de qualidade em bairros carentes e, ao mesmo tempo, atender a população da Região Metropolitana. A Figura de número 13 destaca em vermelho a localização da área de projeto em Vitória e nos bairros de Goiabeiras e entorno, sendo possível notar quão significativas são as proporções da área em Vitória.
52
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
53
Vicente Gonçalves Gewehr
FIGURA 13 Posicionamento da área projetual na cidade de Vitória e ampliação do entorno, estando a área do projeto destacada em vermelho em ambas. Fonte: adaptado de googleearth. com.
3.1
VENTO DOMINANTE
MARIA ORTIZ
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA
O bairro de Goiabeiras está localizado na zona continental de Vi-
JABOUR
tória, ao norte da cidade. Segundo o IBGE (2002), possui clima tropical super úmido, vento predominante nordeste e relevo plaÁR
no, com exceção da elevação no interior do bairro, denominada I LIM
de Morro do Sales (destacados na Figura 14). É cortado pelas via
DE
DA N Ç Ã E RV TE IN
TE
veis por proporcionar ruídos oriundos do tráfego automobilístico
O
VER
possui uma conexão direta com diversas vias gerando assim mui-
ET
MORRO DO SALES
nordeste e norte. Ao oeste, a presença do manguezal proporciona
MULTIVIX
RR
AR
I
o visual característico e, ocasionalmente, odor peculiar. Esse ecos-
AN FE
RN
No morro do Sales existe uma área classificada como reserID
A
va ecológica pela Prefeitura Municipal de Vitória (PMV), que é
Existe uma predominância de área com solo descoberto, esta com
BAIRRO REPÚBLICA
AV
EN
uma mata de tabuleiro preservada. Do alto, há ampla visualização
exuberância da preservação do manguezal e do Rio Santa Maria.
FIGURA 14
vegetação de crescimento espontâneo.
MORADA DE CAMBURI UFES
Ao redor da área de intervenção, existem quatro áreas de espaços livres públicos e três grandes empreendimentos se destacam
LEGENDAS
pelas grandes proporções, sendo eles a VIX Transportadora, a Uni-
Acessos
versidade Multivix e a subestação de energia.
Mangue Áreas de Lazer
54
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
A ocupação foi acontecendo de maneira desacelerada nos anos
gião ao redor do bairro ao norte da Avenida Fernando Ferrari são
iniciais, e o primeiro registro do número de moradores é de 1950,
áreas classificadas pela PMV (2010) como bairros com baixo ren-
quando o bairro contava com 642 habitantes (A TRIBUNA, 2010).
dimento nominal médio mensal e elevada densidade habitacional.
Área com predominância de solo descoberto Mata de tabuleiro
Ruídos Via arterial Via coletora
Segundo Vieira (2015), com a ocorrência da Segunda Guerra Mundial, o campo de aviação, existente desde 1930, é adaptado para receber aviões de porte maior. A inauguração do Aeroporto Eurico Salles, em 1946, foi o primeiro empreendimento que possi-
Como método para o desenvolvimento desta subseção foram uti-
bilitou a expansão do bairro, pois a estrada que ligava o aeroporto
lizadas reportagens históricas, sendo assim possível entender mu-
ao centro urbano passou a ter maior fluxo. Na década de 1950 a
danças importantes no bairro e compreendê-las pelo ângulo dos
instalação de empreendimentos ao norte da cidade como a Univer-
habitantes da área.
sidade Federal do Espírito Santo e o Porto de Tubarão influenciou
Segundo o jornal A Tribuna, de 2010, a ocupação do atual bairro
nos anos posteriores a construção de conjuntos habitacionais na
de Goiabeiras iniciou-se na década de 1930. Era uma vila carac-
região da Grande Goiabeiras entregues pela COHAB-ES originando
terizada pela aglomeração de casas de pau a pique e barro em
os bairros Antônio Honório, Sólon Borges e Bairro República.
de gado.
DO
área, funcionar como uma barreira física.
Características da área. Fonte: googleearth. com (adaptado).
pela grande quantidade de árvores homônimas presente na região.
ras, Antônio Honório, Segurança do Lar e Maria Ortiz. Toda a re-
uma baixada cercada por manguezais, mata atlântica e fazendas
FE
sistema deve ser preservado pelo seu valor ambiental, além de, na
município vizinho, e da baía noroeste de Vitória, marcada pela
centrações populacionais compreendidas pelos bairros: Goiabei-
V LO
tas possibilidades de acessos, distribuídos ao sul, sudeste, leste,
da marcante elevação denominada Mestre Álvaro, localizada no
SEGURANÇA DO LAR
INO AN
A área de intervenção, contornada em vermelho na Figura 14,
Tribuna em 2010 dizem que o bairro foi batizado como Goiabeiras
3.1.1 Aspectos urbanos, de evolução urbana, sociais e culturais
NID
SUBESTAÇÃO DE ENERGIA
e também dos principais acessos.
ANTÔNIO HONORÁRIO
VIX TRANSPORTADORA
AV E
arterial Fernando Ferrari e coletora Jerônimo Vervloet, responsá-
EA
Ao leste e ao sul da área de intervenção estão as maiores con-
A partir da década de 1970, com o aumento da industrialização com a instalação do Parque Industrial de Carapina e, consequen-
Segundo relato dos moradores para o jornal A Tribuna (2010),
temente, o aumento populacional devido ao êxodo rural, surgiram
os primeiros habitantes do local tinham uma vida autossuficiente
zonas de ocupação irregulares na Grande Goiabeiras caracteriza-
em relação à produção de alimentos e pouco conectada com o cen-
das pela instalação de barracos e palafitas sobre uma área original-
tro da cidade. Nas décadas de 1940 e 1950, para acessar o centro
mente de mangue, todavia, sujeitada ao depósito de resíduos da
da cidade, era necessário andar mais de três quilômetros a pé até
prefeitura. Sobre essa área de “lixão” acontecia a inserção das habi-
chegar ao bairro Santa Lúcia, onde era possível pegar o bonde. A
tações. É perceptível a partir da comparação entre as Figuras 15 e
escola mais próxima era a Irmã Maria Horta, localizada na Praia do
16, a rápida ocupação dos arredores da área destacada (PMV, 2017).
Canto, e os moradores de Goiabeiras sobreviviam da pesca artesa-
Entre as décadas de 1980 e 1990, visando conter a ocupação do
nal de peixes e mariscos, gado leiteiro, frutas tropicais, silvestres,
bairro sobre o manguezal promovendo assim a proteção ambien-
verduras e legumes oriundos da agricultura de subsistência e da
tal, a prefeitura criou a via de contorno no mangue e, em 1997, o
tradicional produção artesanal da panela de barro.
morro do Salles foi transformado na Reserva Ecológica Municipal
O bairro foi fundado em 1944, ao ser desmembrado do município da Serra. Os moradores mais antigos, em entrevista ao jornal A 55
Vicente Gonçalves Gewehr
Mata de Goiabeiras, visando à preservação da mata nativa na região (PMV, 2017).
Segundo o jornal A Tribuna (2010), em 2003, uma valorização em 30% no valor dos imóveis no bairro foi perceptível, devido à
lar sobre um “lixão”, e Goiabeiras foi parcelada a partir de terrenos
instalação da faculdade brasileira Univix (atualmente Multivix), ao
O espaço da proposição prática deste trabalho compreende
projeto da ampliação do aeroporto e às obras na Avenida Fernan-
áreas livres ou subutilizadas ideais para a inserção dos espaços
do Ferrari. A Multivix começou a funcionar no bairro em 2002 e
lúdicos e de produção de alimentos. O terreno se divide em três
estimulou sua ocupação por moradores de classe média. O aero-
núcleos de acordo com o PDU de Vitória: áreas inseridas na zona
porto Eurico Salles passa a tomar dimensões cada vez maiores e
de parque tecnológico (ZPT), áreas inseridas na zona de proteção
receber projetos de ampliação. A Avenida Fernando Ferrari, por
ambiental 1 e 2 (ZPA 1 e ZPA 2), identificados na Figura 18.
sua vez, concentrava comércios que eram voltados à avenida e não ao interior do bairro. sível entender uma evolução da ocupação marcada pela inexistên-
nológica com objetivo de preservar o meio ambiente e paisagens. A
cia de edificações na área da intervenção. Muitos vazios urbanos
zona localizada em ZPA 2 compreende espaços de conservação do
foram mantidos até 2017, uma realidade diferente do bairro vizinho
ecossistema e recursos naturais, podendo ser usada para estudos,
Maria Ortiz, o qual conta com uma ocupação quase completa. O fato
turismo, recreação e esportes, desde que não prejudiquem o meio
pode ser explicado pois Maria Ortiz se edificou de maneira irregu-
ambiente.
56
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
Zona de Parque Tecnológico (ZPT) Zona de Ocupação Limitada (ZOL)
Zona Especial de Interesse Social (ZEIS 2)
dos e à União e são áreas, segundo o Plano Diretor Urbano de Vitória, destinadas a instalações industriais e de serviço de base tec-
vermelho para a área de intervenção. Fonte: veracidade.com. br (adaptado). FIGURA 16 Goiabeiras e arredores em 1978. Destaque em vermelho para a área de intervenção. É perceptível a grande expansão urbana identificada em oito anos quando
Zona de Proteção Ambiental (ZPA 1)
As áreas localizadas em ZPT pertencem a proprietários priva-
De acordo com a comparação entre as Figuras 15, 16 e 17, é pos-
FIGURA 15 Goiabeiras e arredores em 1970. Destaque em
Zona de Proteção Ambiental (ZPA 2)
privados (A TRIBUNA, 2003).
comparado à vista aérea de 1970 (Imagem 15) urbana no >> atual bairro Maria Ortiz, onde residências foram construídas sobre depósito de resíduos. Assim como a ampliação do aeroporto e novas instalações da Universidade Federal do Espírito Santo. Fonte: veracidade.com.br (adaptado).
Zona de Equimpamentos Especiais (ZEE 3)
FIGURA 18 Zoneamento da área de intervenção. Fonte PMV (2006).
Segundo o censo do IBGE (2010), o bairro conta com 2.633
terial registrado pelo IPHAN. A banda de congo Panela de Barro
habitantes. Enfrenta problemas ambientais, um exemplo foi retra-
reúne parte dos moradores nos ensaios e eventos, sendo uma das
tado na reportagem do jornal A Tribuna (2010), que mostrava que
bandas de congo mais representativas do Espírito Santo. Toda-
o esgoto lançado no mangue proveniente das residências dos bair-
via a relação com a natureza foi insustentável, moradores antigos
ros fronteiros à região de manguezal foi o fator que inviabilizou a
relataram, em entrevista, que no passado era um ato frequente
atividade de coleta das ostras comercialmente.
banhar-se nas águas limpas do manguezal, ação hoje impossível
Atualmente, o bairro de Goiabeiras possui grande importância
pela poluição oriunda principalmente das residências não conec-
FIGURA 17 Goiabeiras e arredores em 2017. Destaque em
na região de Vitória, pelos aspectos culturais preservados, como a
tadas ao sistema de tratamento de águas de Vitória e dos detritos
vermelho para a área de intervenção. Fonte googleearth.com
tradição da produção de panelas de barro e o congo. As panelas e
lançados no curso do rio Santa Maria. Muitas residências foram
acessórios são produzidas de maneira artesanal pelas paneleiras,
construídas em locais destinados à preservação do mangue, o qual,
prática repassada das mães para as filhas, netas e vizinhas, preser-
mesmo afetado pela poluição, ainda é muito importante na biodi-
vando esse saber, da cultura indígena local, que é patrimônio ima-
versidade da região metropolitana de Vitória.
57
Vicente Gonçalves Gewehr
área interditada
3.1.2 Levantamento de espaços livres do entorno
As Figuras de número 21, 22, 23 e 24 são fotografias que complementam o entendimento desses espaços, mostrando a situa-
Objetivando o entendimento da oferta atual de es-
ção deles. A identificação destes espaços nos mapas possibilitou
paços livres públicos no entorno da área de inserção
concluir que são espaços isolados e desprovidos de conexão, não
do Agroparque foram desenvolvidos dois esquemas
representando um sistema de espaços livres integrados. Nas visi-
apresentados nas Figuras 19 e 20. No primeiro, foi
tas, quanto à utilização, foi possível perceber que esses espaços
destacada em vermelho a área de intervenção e nas
são pouco utilizados pelos moradores das proximidades e não se
demais cores os espaços livres públicos existentes
apresentam muitos atrativos à população.
atualmente em Goiabeiras e nos bairros vizinhos ao
Quanto ao público alvo, as ofertas lúdicas são voltadas ao aten-
norte da Avenida Fernando Ferrari.
dimento da comunidade que reside próximo ao local, sendo um en-
O esquema representado na Figura 20 destaca a
tretenimento não convidativo a usuários de bairros mais distantes
área de intervenção em vermelho e os espaços livres
ou outras cidades.
presentes no entorno imediato. Os ícones represen-
Também foi notado que a maioria dos espaços recreativos são
tam as atividades presentes nesses espaços e abaixo
destinados ao entretenimento de usuários do sexo masculino,
o público alvo de cada área recreativa.
adultos e não portadores de necessidades especiais, perceptível pela presença de 2 campos de futebol e uma quadra poliesportiva.
FIGURA 21 Fotografia do espaço livre destacado
FIGURA 22 Fotografia da praça mostrando a
em azul na imagem 20 representa o galpão das paneleiras a direita e deck em construção a esquerda. O galpão das paneleiras é um ponto turístico de Vitória, pois preserva o ofício da criação de panelas de barro de maneira artesanal, sendo esta atividade um patrimônio imaterial reconhecido pela UNESCO Fonte: acervo pessoal (maio 2018).
academia popular e a ao fundo um campo de futebol retratando a área em laranja na figura 20. No campo de futebol acontecem eventos esportivos, na academia do idoso a ausência de sombra impossibilita a utilização do espaço durante o dia Fonte: acervo pessoal (maio 2018).
FIGURA 23 Fotografia do espaço público destacado em amarelo na figura 20, no local existe uma diversidade de oferta recreacional como academia do idoso, boxa, quadra e palco.
FIGURA 24 Fotografia do espaço público representado
Existem duas academias do idosos, desprovidas de sombreamento e possibilidades de assento, o que torna esses espaços pouco utilizados. Outras características desses espaços estão descritas nas legendas das Figuras 21, 22, 23 e 24.
FIGURA 19 Espaços livres do entorno da área de intervenção, esta destacada em vermelho. Fonte: adaptado de googleearth.com (2018) FIGURA 20 Perspectiva com destaque para os espaços livres (em colorido) ao redor da área de intervenção (em vermelho) e ícones representando o público alvo e atividades ofertadas. Fonte: adaptado de googleearth.com (2018).
58
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
em fase de construção
59
Vicente Gonçalves Gewehr
em roxo na figura 20. É possível perceber o campo de futebol society ao fundo e o depósito de resíduos (lixeira) no local, assim como árvores exuberantes e espaços de permanência pouco convidativos.
DIAGRAMA FOTOGRÁFICO DE PERCEPÇÕES Para somar ao entendimento sobre a área, foi realizado um diagrama fotográfico de percepções apresentado nas páginas seguintes, nas Figuras 25 e 26. Este mostra a realidade atual da área de intervenção e do seu entorno.
F3 Vista do Deck em construção (junho 2018) em frente ao galpão das paneleiras
F13 Quem olha este muro não imagina que há um campo de futebol, uma quadra e um parquinho do outro lado
F2 Panelas de barro sendo produzidas e o mangue ao fundo
F6 Urbano ou Rural? Dicotomia?
F15 Lateral norte da empresa Vix Transportadora
F5 Condições de habitação
FIGURA 25 Diagrama de percepções sobre Goiabeiras (1/2).
F7 (esquerda) Protesto vegetal pelo seu espaço
F12 Vista leste do Morro do Sales e a erosão oriunda da modificação planimétrica
F8 Toda forma de plantar é valida
F9 Simples e bonito como sinônimo
F8 (direita) Imagina o responsável por esse jardim plantando nos 330 mil m² do Agroparque!
F11 Cidades para pessoas automóveis
F17 Ruínas de uma fábrica. Ao fundo está o mangue
F10 Natureza resiste
F10 Circuito curto de produção e comércio
F4 Muro que segrega.
F14 Lateral sul da empresa Vix Transportadora
F1 Raízes exuberantes do mangue
FIGURA 26 Diagrama de percepções sobre Goiabeiras (2/2). F16 "No passado sempre tomávamos banho no mangue", disse um morador na captura desta imagem
CONCEITUAÇÃO PROJETUAL
3.2
PROGRAMA
3.3
A elaboração do programa surge visando a indicar os possíveis
Assim, para compor esses espaços e atender às expectativas a
modos de utilização para a área do Agroparque em Goiabeiras,
eles direcionadas, foram vislumbradas diferentes configurações,
A partir das considerações apresentadas sobre os temas observa-
Um Agroparque concilia diferentes conjuntos tipológicos de
baseando-se nos anseios projetuais e nas necessidades e poten-
tais como: três hortas comunitárias, três diferentes tipos de sis-
dos como alicerces para o desenvolvimento do projeto em ques-
produção de alimentos, estes adequados à cada área de inserção
cialidades identificadas no contexto de intervenção. Assim, são
temas agroflorestais, uma área de Floresta de Bolso e um pomar,
tão. Através de contextualizações teóricas e elaboração de aná-
na esfera urbana. Como a agricultura está diretamente ligada à ali-
estipulados os espaços apontados, tipos de agricultura urbana, ati-
estes sendo mais voltados à produção alimentar. Quanto às ati-
lises da área, segue-se para a exposição da proposta que busca a
mentação, esta tipologia de parque também deve existir de forma
vidades, e usos a serem desenvolvidos, estimulando formas de vi-
vidades de caráter educacional, foram pensados: dois auditórios,
conciliação da áreas funcionais de agricultura urbana com áreas
educacional, apropriando-se, informando e difundindo os princí-
vência, percepção e interação entre usuários e o espaço planejado.
uma biblioteca com acervo destinado à temática agroalimentar,
recreativas.
pios da alimentação de verdade (trabalhados no segundo capítulo).
Buscando iniciar a elaboração do projeto, definiu-se como pri-
salas de planejamento dos espaços de produção e de atendimento
Vislumbrando as necessidades e potencialidades, tanto na re-
Assim como apresenta características de parques convencionais,
meiro item do programa a determinação das áreas destinadas à
gião do entorno quanto da região determinada para a proposta,
como áreas de recreação e alimentação, todavia adaptando esses
implantação da agricultura urbana mais adequadas a cada espaço.
Quanto às atividades de caráter mais recreacional foram pro-
estabeleceu-se um programa com funções, atividades e usos con-
espaços ao conceito agroalimentar.
Assim, para compor esses espaços, foram distribuídas áreas mais
postos um restaurante conceitual, um mercado conceito de ali-
voltadas à produção de alimentos e uma área mais recreativa, cha-
mentos sustentáveis e produzidos no agroparque, três trilhas, dois
mada de parque linear.
mirantes, uma academia popular, um espaço recreativo boêmio,
à população.
siderados adequados para serem desenvolvidos na área de inter-
O presente projeto é uma releitura do Plano Diretor Urbano
venção. Seguindo as definições postas em questão e visando uma
de Vitória (PDU), que estabelece o espaço como Zona de Parque
prévia organização espacial das pontuações a serem projetadas,
Tecnológico, a proposta do Agroparque é que seja um espaço de
Todas as áreas do Agroparque são relacionadas com a temática
uma pista de skate/patins volumétrica e uma plana. Quanto à pos-
organizou-se o partido projetual, a partir do qual se apresenta a
transformação, seja esta social: pelo acesso ao alimento saudável,
da alimentação, existindo áreas mais voltadas à produção alimen-
sibilidade de acesso e circulação, é importante salientar que, de
espacialização do programa, que direcionará, em sequência, o de-
pelas melhoras alimentares e pelo acesso ao espaço público de
tar, outras mais educativas ou mais recreativas, gerando espaços
modo geral, o programa prevê uma reorganização da área de inter-
senvolvimento do projeto.
qualidade e democrático; seja econômica: por incentivar um co-
que incitam à produção de alimentos, ao estar, ao lazer, ao perma-
venção, visando a possibilitar uma conexão entre os espaços livres
mércio mais humano, local e sustentável e seja ambiental: pela pre-
necer, à recreação, à contemplação, ao exercício físico, à educação
já existentes no entorno com o Agroparque proposto, este que
3.2.1 Conceito
servação e respeito dos ecossistemas existentes, pela utilização de
alimentar, à interação entre a comunidade, ao acesso a alimentos
também se relaciona com as vias e acessos existentes no entorno
O conceito deste projeto foi a elaboração da categoria de parque
práticas que não degradam o solo, ampliam a diversidade vegetal
mais sustentáveis, ao contato e à experimentação da produção de
e cria novas alternativas de circulação no bairro, sendo dispostas
inédita denominada Agroparque. O nome surge a partir da união
e que atraem a diversidade de fauna.
alimentos.
duas vias que proporcionam o tráfego seguro de ciclistas, cami-
da palavra Agro, definida como campo cultivado ou cultivável
Um Agroparque pode ser entendido não só como uma relei-
nhos para pedestres dentro do parque alternativos às vias existen-
(PRIBERAM, 2018) com a palavra Parque, entendida como espa-
tura do PDU, mas também como um espaço de releitura do estilo
tes, caminhos voltados à contemplação do Agroparque e uma área
ço dentro de uma região urbana, geralmente com abundância de
de vida urbano, das práticas agroalimentares atuais, das relações
de estacionamento, sendo todas as atividades criadas relacionadas
vegetação e áreas não pavimentadas, que propicia o lazer e a re-
insustentáveis, incoerentes e incorretas presentes no nosso coti-
com a temática agroalimentar de alguma forma.
creação dos habitantes da cidade, possibilitando uma apropriação
diano com o meio ambiente, com o tempo, com as relações sociais
lúdica do espaço público (ZANNIN, 2016).
e com as prioridades inventadas.
64
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
65
Vicente Gonçalves Gewehr
PARTIDO
3.4
A partir das definições estabelecidas pelo programa, foi elabora-
Entre o mangue e o SAF de inclusão foi desenvolvida uma
da a proposta de partido para o projeto. Objetiva-se nesta etapa
tipologia de SAF denominada Agrorestinga, que adequa o modo
proporcionar uma noção da ocupação da área, usos, localização
de produção de uma agrofloresta tradicional, criando assim uma
das atividades, e formas de apropriações previstas, em função das
floresta adequada ao espaço de inserção e diversificando as espé-
características do local.
cies em número. A floresta de bolso (em vermelho) foi inserida de
Para a representação do partido, foi desenvolvida uma pers-
forma a criar uma barreira no entorno da subestação de energia.
pectiva axonométrica explodida (Figura 27) que apresenta a área
O Parque Linear foi projetado aproveitando a ampla área dis-
em camadas. A camada mais abaixo é a representação da setori-
posta no sentido norte sul e representou o espaço de concentração
zação das superfícies que representam as diferentes atividades,
das atividades recreativas, apresentadas na perspectiva explodida
na camada superior estão elementos pontuais que representam
como elementos pontuais. Distribuídas ao norte, estão as ativida-
as atrações e na camada do topo as linhas que representam os
des de caráter mais esportivo, ao sul, atividades de aspecto mais
caminhos. O partido é então apresentado de modo a destacar as
recreativo e de maneira central as atividades mais educacionais.
estratégias que configurarão o projeto.
de skate e patins (2), ao sul estão o Espaço Recreativo Boêmio
as áreas voltadas à recreação (em roxo), esta chamada de Par-
(3), o parquinho dos vegetais (4), o restaurante (5), o mercado
que Linear, e as áreas de agricultura urbana (nas demais cores).
(6) e os dois mirantes (8). Na área central está o Prédio principal
Objetivando uma interação entre os transeuntes e moradores do
(7) com dois auditórios, uma biblioteca, salas de planejamento da
entorno com a produção de alimentos e colheita, foram dispostas
agricultura, de atendimento à população, administração do parque
três áreas de horta comunitária (verde) e um pomar (amarelo) no
e um café.
limite entre o parque e o bairro.
das no local levando em consideração a área, aproveitando suas
tons de azul) na área do Morro do Sales e entorno, com objetivo
características morfológicas e naturais, assim como proporcionan-
de conciliar a produção de alimentos com a preservação da mata
do um espaço público, funcional, democrático, inclusivo, acessível
de tabuleiro existente. Nesta área, foi criada uma Agrofloresta de
e transformador.
transição da área de preservação com áreas mais frequentadas.
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
5 4
inclusão margeada por dois SAF de transição, estes realizando a
66
6
3
Todas essas atividades apontadas anteriormente foram inseri-
Foram inseridos diferentes tipos de Sistemas Agroflorestais (em
7
8
Ao norte do parque, estão a Academia Popular (1) e as pistas
No nível das superfícies, foi realizada uma setorização entre
1
2
67
Vicente Gonçalves Gewehr
FIGURA 27 Projeto representado
em perspectiva axonométrica explodida.
MACROPROPOSTA AGROPARQUE
MACROPROPOSTA
3.5
Será apresentado o projeto do Agroparque em Goiabeiras, com
Estas foram planejadas de maneiras distintas, visando atender aos
base na teoria trabalhada no capítulo dois, concebido diante das
moradores pela proximidade das residências ou pela afinidade com
intensões projetuais definidas anteriormente. A prancha denomi-
as características de cada horta. Em relação à localização, as hor-
nada Macroproposta, presente na página ao lado, representa as
tas visam a atender às populações mais próximas. A horta ao sul
decisões projetuais em toda a área de intervenção. O projeto con-
visa a atender principalmente a população de Goiabeiras. A horta
ta com um parcelamento da área entre parque linear (em roxo no
a leste (mais ao sul) visa ao atendimento dos bairros vizinhos, An-
diagrama denominado síntese projetual) e as áreas mais voltadas
tônio Honório e Segurança do Lar, e a horta mais ao norte objetiva
à agricultura urbana (nas demais cores), apresentado na Figura
o atendimento da população de Maria Ortiz.
28. Esse zoneamento considerou a adequação de cada sistema de produção alimentar e levou em consideração as características da área e seu entorno. A explicação do projeto vai acontecer inicialmente com uma explicação das parcelas mais voltadas à produção de alimento, seguida das extensões mais voltadas à recreação. Observou-se que a região delimitada à inserção do projeto poderia ser seccionada em quatro fragmentos: áreas próximas à comunidade (leste), local de acesso mais facilitado e rápido pelos habitantes; a fração a extremo oeste entre o Morro do Sales e o mangue; a região ao entorno da subestação de energia, pela qual a entrada de pessoas não é recomendada, bem como a circulação por sua área; por fim, uma extensão linear central disposta no sentido norte sul, atualmente fragmentada e desprovida de contato direto com a concentração habitacional. Objetivou-se promover, primordialmente, o contato dos moradores e usuários do parque com a produção alimentar, aproxi-
FIGURA 28
mando os espaços de produção das habitações. Para atender esse
Síntese projetual, adaptado de googleearth. com.
objetivo, foram desenvolvidos os espaços Horta Pro Nobis nas áreas próximas à comunidade, que se caracterizam por três hortas comunitárias (em verde) de aproximadamente 7.000 m² cada. 68
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
69
Vicente Gonçalves Gewehr
A leste, próximo às residências e frontal à rua Jerônimo Ver-
segue o conceito agroalimentar e explora o universo da alimenta-
espaços é que foram planejados de maneira a distribuir as frutifi-
outros. Esses espaços podem ser módulos individuais ou podem
vloet, foram identificadas algumas árvores frutíferas, todavia, estas
ção alternativa e mais sustentável. A produção de alimentos des-
cações ao longo do ano, assim, apresentam-se como uma atração
acontecer juntamente a outras edificações, por exemplo, utilizan-
não eram acessíveis devido à quantidade de resíduos descartados
sa área acontece com a combinação das plantas alimentícias não
mutável que estimula os usuários ao desbravamento do parque,
do de um espaço coberto no espaço do prédio principal.
pela população sobre o solo, se tornando uma área inutilizada pela
convencionais (PANC) com espécies alimentícias convencionais.
descobrindo diversas frutificações, florescimentos, aromas, sabo-
Assim, constituiu-se a proposta do Agroparque para Goiabei-
população. Objetivando potencializar essa área, foi implantado um
Em suma, essa região diverge do restante do Agroparque pelo seu
res, texturas e cores. Para o deslocamento no parque foram de-
ras, que combinou a implantação da produção alimentar na esfera
pomar urbano (em amarelo), sendo um espaço produtor de ali-
caráter mais voltado ao lazer e à educação.
senvolvidos além da Alameda das Cores, caminhos com função de
urbana, esta responsável por impulsionar a criação do presente
No Agroparque, as possibilidades de deslocamento foram am-
conectar acessos e aproximar os usuários das espécies vegetais.
projeto, com a área do Parque Linear de caráter mais recreativo.
Os SAF’s (representados na síntese projetual em tons de azul)
pliadas para ciclistas e pedestres com a criação da via Cacauí, da via
Tal como o Circuito Contemplativo, este responsável por oferecer
Como resultado, foi criada essa atração inédita e inovadora.
foram implantados ao redor da área de preservação ambiental per-
Catajé e da Alameda das Cores, responsáveis por fundir o caráter
um trajeto que intersecta as principais atrações e percorre todo
manente (presente no Morro do Sales), e objetivam uma transição
funcional (mobilidade urbana) com o recreativo e conectar toda a
espaço do parque linear.
da floresta com o entorno e também uma conexão da vegetação
extensão do Agroparque. A Alameda das Cores, na área do Parque
As três trilhas (Grumixama, Juçara e Cambucí) promovem o
Serão apresentadas as áreas de agricultura urbana de maneira
desta com o mangue. Na área da floresta existente e protegida, foi
Linear, funciona como um eixo de caráter estruturador do traçado
acesso das pessoas à Mata de Tabuleiro localizada no morro do
mais detalhada de maneira a proporcionar a compreensão sobre
implantado o SAF de inclusão (azul mais claro), sendo que este não
e ordenador das atrações e canteiros, enquanto as duas vias citadas
Sales (área de preservação), cada uma possui cerca de 800m e
a dinâmica das áreas produtoras de alimento na esfera urbana e
interfere na dinâmica dos sistemas remanescentes. Ao redor da
proporcionam alternativas de trajeto mais rápidas e seguras.
termina em dois mirantes no alto do morro. O Mirante Inharé,
posteriormente será retratado o parque linear.
mentos próximo às residências e aberto ao entorno.
3.5.1 Áreas de agricultura urbana
área de preservação ambiental, seria inserido o SAF de transição
As atrações inseridas no parque linear foram pensadas após
com vista para o Mestre Álvaro, e o Mirante Umarí, com vista para
(tom de azul mais vibrante), responsável pela transição da área de
estudos de atividades que se relacionassem com a temática da ali-
preservação com o parque linear (à leste) e a Agrorestinga (à oes-
mentação, com o conceito de Agroparque e também estivessem de
Para criar um espaço público integrado e contínuo, duas edi-
Após o estudo sobre o sistema de produção de alimentos em
te), acontecendo o SAF de transição com uma agrofloresta conven-
acordo com as necessidades das diversas faixas etárias e públicos.
ficações foram desapropriadas e realocadas (representadas em
Agroflorestas, percebeu-se uma necessidade de adaptação desses
cional. A Agrorestinga desenvolvida (azul escuro) foi implantada
Tais atrações foram divididas em três grupos: edificações, atrações
laranja) para uma área disponível, distante 50 metros das antigas
sistemas à realidade da área de inserção do Agroparque e como
a extremo oeste do Agroparque, ao lado do mangue, e permite
ao ar livre e canteiros PANC.
habitações. A via Desembargador Cassiano Castelo foi prolongada
resultado foram desenvolvidos três sistemas sendo eles: SAF de inclusão, SAF de transição e Agrorestinga.
a Baía Noroeste de Vitória.
Sistema agroflorestal (SAF)
uma adequação da agrofloresta à realidade botânica das cidades
As edificações são: o prédio principal, o restaurante-escola
ao lado do pomar, buscando proporcionar um maior contato das
litorâneas, representando as espécies da restinga no Agroparque.
(Nastúrcio Culinária PANC), o Espaço Recreativo Boêmio Sete Co-
pessoas com essa área de produção. Também foi criado um pro-
Na área ao entorno da subestação de energia, foi inserida a
pas e o espaço comercial (Mapati Mercado Conceito). Enquanto
grama de gestão dos resíduos, que realiza a coleta do lixo orgânico
SAF de inclusão
floresta de bolso (em vermelho), com objetivo de impedir a aproxi-
as atrações ao ar livre são o Parquinho dos Vegetais, as pistas de
das residências interessadas e deposita na área de compostagem,
Este sistema de produção é caracterizado pela inserção de espé-
mação de pessoas devido a riscos e também proporcionando uma
skate e patins (Pajurá) e a academia popular (Mutamba).
transformando-o em composto orgânico, este utilizado nas áreas
cies com interesse alimentício na área de mata existente. Com ob-
produtoras de alimento do Agroparque e/ou comercializado.
jetivo de interferir o mínimo na dinâmica da mata de tabuleiro em
restauração da diversidade da flora original, sendo caracterizada
No parque linear entre as áreas de produção de alimentos, edi-
por uma área de maior concentração vegetal e menos propícia ao
ficações e atrações ao ar livre, estão os canteiros PANC, compostos
Pensando na visitação e utilização do espaço público criado,
preservação, foi escolhida apenas uma espécie: o palmito-juçara
acesso humano.
por espécies alimentícias pensadas de forma a atrair os usuários
foram popostos 10 pontos de apoio (representados por pontos em
(Euterpe edulis, ARECACEAE). A implantação foi feita de forma des-
Disposta de maneira central e no sentido norte sul, está a área
pela exuberância das diversificadas espécies vegetais, com desta-
azul escuro), caracterizados por espaços com cobertura que ser-
contínua e circundada por vegetação natural por toda a área da
de Parque Linear (em roxo), com aproximadamente 600m entre
que para as frutificações e florescimentos. O diferencial desses
vem para informação dos usuários e/ou para a realização ativida-
mata de tabuleiro no Morro do Sales, sem a retirada de qualquer
as extremidades. Essa área, que concentra as atrações recreativas,
des práticas, como treinamentos sobre agricultura, oficinas, entre
espécie pré-existente. Esta palmeira é nativa da área, pode atingir
70
71
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
Vicente Gonçalves Gewehr
JUÇARA
CORTICEIRA SERRANA
JUÇARA
até 12m de altura, possui folhagem exuberante, palmito saboroso
a visualização do relevo da região noroeste de Vitória, é possível
e frutos globosos de cor roxo escuro.
entender um desses espaços no corte C10. É importante salientar
LISTA DE ESPÉCIES
A escolha da espécie de palmito juçara deu-se porque extração
que a implantação dos mirantes deve acontecer gerando o menor
do palmito juçara, segundo o biólogo Mauro Galetti, é ilegal e é
impacto possível na área da floresta de tabuleiro em preservação.
1 Adubos verdes Feijão de porco, mucuna preta, mucuna anã, mucuna cinza, feijão guandú, leucina, crotalária jucea, crotalária espectabilis, feijão guandu anão, amendoim forrageiro, pueraria, estilozantes mineirão, estilozante campo grande, trevo branco, tremoço branco, ervilhaca, soja perene, capologonio,
uma das maiores ameaças da Mata Atlântica. Os frutos do palmito correspondem a 80% da biomassa de frutos em todo bioma.
SAF de transição
Apesar da juçara ser parecida com o açaí da Amazônia, que quan-
O sistema agroflorestal de transição margeia a floresta à leste e à
do cortado rebrota, o palmito juçara não rebrota e cada palmito
oeste, ambas implantações utilizaram a distribuição espacial das
comido significa que uma palmeira de 10 metros foi cortada para
espécies em faixas, objetivando proporcionar um grande contato
aproveitamento de menos de 30 centímetros. O palmito juçara
visual dos usuários com a produção alimentar no interior do SAF.
leva pelo menos sete anos para produzir frutos e alimenta cerca de
A seleção de espécies aconteceu de acordo com um estudo
60 espécies de aves e mamíferos na Mata Atlântica. Sem os frutos
que priorizou as culturas predominantes no estado do Espírito
do palmito, muitos desses animais podem desaparecer da mata.
Santo, a partir do boletim da conjuntura agropecuária capixa-
Sem eles para fazerem a dispersão das sementes, outras plantas
ba realizado pelo INCAPER em 2016, este que lista os principais
não conseguem mais ter regeneração natural.
produtos alimentares produzidos no estado. Também foram in-
Optou-se então pelas diversas formas de utilização dos frutos do Juçara, estes que são similares ao açaí-do-pará (Euterpe olera-
CORTE C10
seridas espécies essenciais à dinâmica da agrofloresta e algumas espécies menos populares.
cea, ARECACEAE), todavia mais rica em antocianinas e compostos
Em resumo os espaços de SAF de transição estão de acordo
antioxidantes (KINUPP; LORENZI, 2017) e o os usos culinários tam-
com a cultura alimentar local e ao mesmo tempo inserem espécies
bém muito diversificados. Através da extração da polpa dos frutos
menos conhecidas proporcionando uma maior diversidade de ali-
é possível fazer sucos, geléias, sorvetes, cremes, entre outros atin-
mentos, experiências e nutrientes.
gindo assim um equilíbrio entre a utilização dos frutos e a oferta de alimentos à fauna.
Abaixo foram listadas espécies que são utilizadas frequentemente em SAFs e estas foram dividas em grupos de acordo com
O mestre francês Cézane diz que conhecer os apoios geoló-
suas características produtivas e participação na dinâmica agro-
gicos é essencial para que se possa pintar, fotografar, conhecer,
florestal. Por exemplo o grupo de adubos verdes são responsáveis
respeitar e amar uma paisagem. Assim, foram criados os Mirantes
por fixar nitrogênio no solo, adubando naturalmente o solo e ao
Inharé e Umarí que estão no alto do Morro do Sales e possibilitam
mesmo tempo servindo como alimento. Outro exemplo relevante é o grupo das espécies arbóreas de adubação e massa verde, estas espécies de crescimento rápido servem como produtoras de biomassa que são utilizadas como serapilheira.
72
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
73
Vicente Gonçalves Gewehr
2 Culturas agrícolas Abacaxi, abóbora, algodão, araruta, arroz, banana, bucha, cacau, café, cana de açúcar, cará, cará-moela, côco, chuchu, cúrcuma, dendê, fumo, gergelim, girassol, inhame, mamão, mamona, mandioca, maracujá, melancia, melão, milho, moranga, pepino, piaçava, quiabo, soja, sisal, etc. 3 Plantas medicinais e aromáticas Alecrim, alfavaca, anis, arnica, arruda, assa-peixe, manjericão, mussambê, tansagem, mastruz, confrei, Boldo, Erva-macaé, Saião, Erva-de-bicho, Terramicina, Cinco folhas, Melão-de-São-Caetano, Carobinha, Sabugueiro, Alfazema, Calêndula, Cana-do-brejo, Hortelã, Hortelã-Pimenta, Erva-grossa, Capim-limão, Erva-cidreira, Guaco, Mirra, Ervagambá, Guiné, erva-de-passarinho, Orégano, Vick, Poejo, Babosa, Jurubeba, etc. 4 Hortícolas Agrião, alface, almeirão, batata, batata-baroa, batata-doce, beldroega, berinjela, bertalha, beterraba, brócolis, caruru, cebolinha, cenoura, chicória, coentro, couve, couvechinesa, couve-flor, espinafre, flores, gengibre, inhame, jiló, maxixe, mostarda, nabo, nirá, ora-pró-nóbis, pimenta, pimentão, rabanete, repolho, rúcula, salsa, serralha, taioba, tomate, trapoeraba, trevo, vagem, etc. 5 Arbóreas madeira, sementes e produtos Acácia, andiroba, angico, araticum, araucária, aroeira, bracatinga, camboatá, cambuci, canafístula, candiúva, canela, casca-de-mata, cássia, caxeta, cedro, cerejeira, copaíba, embaúba, eucalipto, figueira, grumixama, guabiroba, guapuruvu, imburana, ingá, ingá- cipó, ipê, jacarandá, jacatirão, jatobá, louro, mamica, mogno, munguba, orelha-demacaco, paineira, palmeiras (açai, jussara, palmeira-real, pupunha), pau-ferro, pauBrasil, pau-mulato, pau-jacaré, pau-cigarra, pau-d’alho, pinus, sombreiro, taiúva, teca, sabugueiro, uvaia, vassourão, etc. 6 Arbóreas frutíferas Abacate, acerola, amora, araçá, atemóia, cajá, caju, caqui, carambola, condessa, cupuaçu, figo, fruta-do-conde, fruta-pão, goiaba, graviola, jabuticaba, jaca, jambo, jamelão, jenipapo, laranja, limão, lixia, manga, mangaba, pitanga, pitomba, sapoti, siriguela, tamarindo, tangerina, romã, umbu, etc. 7 Arbóreas adubaçao verde e massa verde Albízia, gliricídia, eritrina, leucena, samanéia, ingá, urucum, etc.
SAF (Agrorestinga) A agrorestinga foi uma ideia pensada no desenvolver do projeto inserindo entre o Morro do Sales e o mangue uma diversidade vegetal muito presente no litoral do Espírito Santo e explorando
LISTA DE ESPÉCIES
sua capacidade de produção alimentar. A forma da implantação
1 Angelim, FABACEAE Andira legalis 2 Aperta boca, MYRTACEAE Myrcia guianensis 3 Araçá da praia, MYRTACEAE Psidium cattleianum 4 Articum, ANNONACEAE Annona glabra 5 Bacupari, CLUSIACEAE Garcinia brasiliensis 6 Bajiru, CHRYSOBALANACEAE Chrysobalanus icaco 7 Aroeira, ANACARDIACEAE Schinus terebinthifolius 8 Guapebão, SAPOTACEAE Pouteria grandiflora 9 Bapuana, MYRTACEAE Eugenia copacabanensis 10 Caju, ANACARDIACEAE Anacardium occidentale 11 Cambui, MYRTACEAE Eugenia arenaria 12 Canela, LAURACEAE Ocotea notata 13 Maracujá, PASSIFLORACEAE Passiflora alata
dessa massa vegetal aconteceu sem ordenamento lógico, o acesso e utilização da área aconteceria por meio de trilhas. O trabalho denominado Plantas úteis da restinga da região de Arraial do Cabo (2006) é baseado nos saberes dos pescadores, que dependeram por muitos anos desse ecossistema para alimentação e confecção de utensílios. Eles relatam no estudo que seus descendentes caminhavam de Arraial do cabo até Saquarema (aproximadamente 40 km) pela restinga para pescar, durante as longas caminhadas através da restinga, reconheciam muitos frutos comestíveis que saciam a fome e tinham um conhecimento em geral muito amplo das espécies alimentares da restinga. As plantas alimentícias da restinga, hoje pouco exploradas, representam muitas possibilidades alimentares alternativas e complementares às convencionais. Destaca-se o Bajirú a espécies mais lembrada pelos pescadores que chamam o fruto de maçã da praia, que é consumido maduro e cru e também é muito citado como espécie medicinal (KRUEL et al, 2006).
74
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
FIGURA 29 Bajirú com frutos maduros. Imagem de Catarina de Sá. Fonte: KRUEL 2006.
75
Vicente Gonçalves Gewehr
14 Pitanga, MYRTACEAE Eugenia uniflora 15 Pitangubaia, MYRTACEAE Eugenia selloi 16 Saputiquiaba, SAPOTACEAE Sideroxylon obtusifolium 17 Arumbeba, CACTACEAS Opuntia monacanta 18 Gravatá, BROMELIACEAE Neoregelia cruenta 19 Guriri, ARACACEAE Allogoptera arenaria 20 Ingá mirim, FABACEA Inga subnuda 21 Murici, MALPIGHIACEAE Byrsorima sericea 22 Abacaxi-da-campina, BROMELICEAE Ananas ananassoides 23 Ananá, BROMELICEAE Ananas bracteatus 24 Bananinha-do-mato, BROMELICEAE Bromelia antiacantha
CORTE C2
Figura adaptada pelo
autor do desenho de Daci Seles.
No corte C2 se percebe dois Sistemas Agroflorestais de Pro-
espaços de plantio norteou a concepção de projeto dos canteiros,
dução, à direita está o SAF de transição enquanto à esquerda a
que originaram-se a partir do modelo buraco de fechadura. Este
Agrorestinga entre as duas áreas produtoras de alimentos passa a
modo de produção de alimentos foi apontado pelo núcleo de con-
via Catajé, dotada de ciclovia e caminho para pedestres. É impor-
servação da fauna do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (2016)
tante salientar que os SAF possuem produção variada ao decorrer
como um modelo de produção eficiente e adequado às dimensões
do tempo, o corte mostra esse sistema já desenvolvido e algumas
humanas, pelo fato de possibilitar uma manutenção do espaço de
espécies em produção estão representadas.
forma contínua, acessível ao alcance humano e proporcionar bons
Também pode ser notado que como essa opção de cultivo, além
resultados quanto a produção de alimentos.
da produção de alimentos: adiciona diversidade vegetal, não empo-
Na Figura 30 é possível perceber a forma original canteiro bu-
brece o solo, é um espaço favorável ao habitat de animais e pode
raco de fechadura e as adaptações criadas. O espaço destacado em
proporcionar resultados estéticos encantadores.
vermelho é onde as pessoas acessam o interior de cada canteiro e possuem larguras semelhantes representadas pelo x nos 4 canteiros.
Horta pro nobis
Todas as hortas concentraram o espaço de comercialização
O programa chamado de Horta pro Nobis teve nome inspirado na
e socialização no interior do seu espaço, objetivando proporcio-
PANC popularmente conhecida como Ora pro Nobis (Pereskia
nar o contato dos clientes e dos produtores com a produção de
aculeata) que significa do latim ‘ora por nós’ e desta forma o nome
alimentos.
FIGURA 30: Esquema de
concepção do formato dos canteiros das hortas.
do programa pode ser entendido como Horta para nós. Com o intuito de: proporcionar a possibilidade da produção do alimento pelos moradores do bairro, promover o maior acesso ao alimento,
Canteiro da horta buraco de fechadura
Canteiro desenvolvido para a horta das panelas
contribuir para a SAN e estimular relações sociais foram desenvolvidas três hortas comunitárias. Cada uma destas hortas foram idealizadas a partir de conceitos distintos de acordo com a especificidade do local de inserção e do público alvo, sendo o funcionamento independente do restante do parque e das outras hortas. Possuem espaços de plantio, armazenamento de materiais, comercialização dos produtos, recreação dos usuários, como também espaços que possibilitem a permanência como banheiros, armários e vestiários. Seguindo as experiências bem sucedidas do programa Lavoura ARAÇA DA PRAIA
ARUMBEBA
MANDACARU mangue
GURIRI
GRAVATÁ
PIMENTA ROSA
AGRORESTINGA
CICLOVIA CATAJÉ ANANÁ
VIA DE PEDESTRES
CACAU
MADEIRA DE LEI
e cedidos de maneira individual aos moradores. Esta divisão dos
JUÇARA
SAF DE TRANSIÇÃO
de agricultura urbana em Curitiba, os canteiros serão parcelados
Morro do Sales
77
Vicente Gonçalves Gewehr
Canteiro desenvolvido para a horta campo de futebol
Canteiro desenvolvido para a horta das casacas
CORTE C1
Horta das Panelas Este espaço de produção alimentar foi inserida na parte mais
à permanência e interações sociais (entre a horta e a via), assim
tradicional e carente do bairro de Goiabeiras, teve a forma mais
como os canteiros redondos podem ser associados à forma das
próxima ao exemplo original da horta buraco de fechadura. O
panelas de Barro.
formato foi projetado para que, de qualquer lado que esteja você
No interior da horta há um espaço para a comercialização dos
consiga alcançar o outro lado sem a necessidade de pisar nas es-
alimentos produzidos no local, este espaço de venda seria respon-
pécies cultivadas.
sável por concentrar a comercialização diretamente com o consu-
Os canteiros em forma circular que proporcionam continui-
midor, fortalecer o comércio das paneleiras pela atração de pes-
dade do fluxo de trabalho e ainda Possuem inclinação que apro-
soas à área e consequentemente a cultura capixaba. A metodologia
veitam de maneira inteligente a água da chuva. A água que cai na
de vendas sugerida busca um atendimento ao conceito do parque,
parte de cima da espiral vai descendo, isto é sendo absorvida pelos
podendo o consumidor colher e pagar tendo assim contato com o
solos abaixo, e assim levando mais nutrientes. Por isso as ervas que
alimento e a agricultura.
demandam de mais nutrientes são plantadas em baixo e as que necessitam de menos, em cima.
Nesta representação percebemos a Horta das Panelas e sua relação com o espaço das paneleiras. Observa-se, da esquerda
A horta das panelas fica em frente ao galpão das paneleiras
para a direita, os canteiros de produção de alimentos, uma área
(como observado no corte C1), cooperativa que concentra e or-
de passeio e permanência com bancos sombreados por árvores
ganiza a produção de panelas de barro. Com objetivo de dialo-
(propostos) e após a via das paneleiras o Galpão de produção e
gar com esse espaço de comercialização foi destinado um espaço
comercialização das panelas de barro. O espaço proposto dialoga e soma ao existente.
HORTA DAS PANELAS
78
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
CERCAMENTO EM TELA
CALÇADAS COM POSSIBILIDADE DE PERMANÊNCIA
RUA DAS PANELEIRAS
PASSEIO
GALPÃO DAS PANELEIRAS
CORTE C5
Horta das casacas O nome foi escolhido de forma a fazer uma referência ao Congo, símbolo cultural do Espírito Santo e se caracteriza por uma manifestação artística que possui uma representação muito forte no bairro de Goiabeiras, representada pela tradicional banda de Congo panela de barro. Essa horta foi projetada visando atender um público que dispunha de menos tempo e dedicação à horticultura, caracterizado geralmente por jovens e adultos com uma ocupação principal. Os canteiros foram projetados em módulos ortogonais em forma de E, que dispostos lado a lado facilitam a introdução de uma irrigação mecanizada. Ainda pensando nos hortelões, os canteiros são elevados 80 centímetros do solo facilitando o manuseio, perceptível no corte C5. Os canteiros mais próximos ao Parque Linear são voltados ao exterior possibilitando assim uma maior visualização tanto de quem está no parque quanto aos usuários que estão passando para estacionar e no centro foi criada a área de convívio, com ferramentas, banheiro, depósito entre outros. No corte C5 percebemos no primeiro plano a horta das casacas, com a produção de alimentos acontecendo nos canteiros elevados e pessoas utilizando o espaço. Ao lado, pode se perceber a área de estacionamento com espaço para o estacionamento de ônibus e automóveis. Também é possível perceber que a área de circulação de automóveis foi dimensionada com proporções adequadas de maneira a proporcionar um estacionamento fluido e descomplicado. Assim como a ambientação, marcadas por muitas
CALÇADA
árvores, constitui um espaço sombreado e agradável.
HORTA DAS CASACAS
80
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
ESTACIONAMENTO DE ÔNIBUS
ESTACIONAMENTO DE AUTOMÓVEIS
VIX TRANSPORTADORA
Horta campo de futebol
Floresta de bolso
Esta horta está situada próxima ao campo de futebol, um espaço
A área de floresta de bolso visa conter o acesso das pessoas à su-
público já consolidado. A área escolhida para a implantação da
bestação de energia, então o espaço se caracteriza por espécies
horta, situa-se em um fragmento não levado em consideração
vegetais plantadas de maneira espontânea, pouco espaçadas, inse-
no projeto do entorno do campo. Atualmente, caracterizado por
ridas por mudas e semeadura direta. A área está conectada com a
um espaço inutilizado com chão em solo batido e resíduos de
mata em preservação no morro do Sales e funciona produzindo
construções.
alimentos da mesma forma que restaura a biodiversidade original
Os limites norte e sul da horta são muito distintos, ao sul existe
CORTE C6
da mata de tabuleiro (com foco nas espécies alimentícias).
a via Catajé, ciclovia de formato mais linear que visa o atendimento funcional das pessoas realizando deslocamentos mais rápidos. Já
Pomar
na face norte da horta foram criadas reentrâncias no trajeto com
A área do pomar é compreendida pelo plantio de espécies frutí-
opções de permanência e espaços sombreados.
feras convencionais espaçadas de forma a proporcionar o acesso
Segundo Mascaró (2008) a sinuosidade do caminhar estimula
das pessoas às árvores. Neste espaço será possível encontrar fru-
as pessoas a um caminhar mais lento e contemplativo, objetivando
tas distintas durante todo o ano. O espaço também visa promover
uma maior interação das pessoas com a horta. Assim foram defi-
interações sociais e uma permanência das pessoas, por isso foram
nidas as reentrâncias, pensadas estrategicamente de forma a pro-
implantados mobiliários e iluminação urbana. É possível entender
porcionar um visual que valorizasse o plantio no interior da horta.
o funcionamento do pomar no corte C6.
Os canteiros dessa horta também são elevados como na horta das casacas e visam atender o público em diversidade, sendo o espaço dotado de áreas de suporte ao usuário como banheiro,
3.5.2 Parque linear
vestiário e área de comercialização.
Já foram expostas as parcelas mais voltadas à produção alimentar. Neste momento do trabalho será retratado de maneira mais aprofundada o parque linear (mais voltado à recreação). A apresentação vai iniciar com o traçado desenvolvido para o parque e a escolha da vegetação para a área, essas decisões projetuais foram fundamentais para o desenvolvimento da proposta. Em seguida serão abordadas as atrações recreativas presentes na extensão do parque linear.
EDIFICAÇÃO
82
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
PASSEIO
VIA
PASSEIO
POMAR
Traçado
jardins PANC, como manga espada no verão, laranja natal no inverno e pitanga na primavera.
recreativas. A Alameda possui largura constante de 4 metros, tem
A concepção do traçado do Agroparque foi a etapa mais desafia-
Vai cruzar o mangue e poder observar as incríveis raízes cheias de ritmo e beleza, também
início na extremidade sudeste do parque e acaba na extremidade
dora do desenvolvimento do projeto, pelas dimensões do espaço,
acompanhar a mudança deste ecossistema com as mudanças de maré e ver vários crustáceos
oposta. Foi o traço inicial na concepção da proposta e foi respon-
Objetivando o lazer e desfrute do parque, foi criado o circuito contemplativo que se difere
por tentar integrar o parque ao máximo com o entorno e propor-
saindo dos seus abrigos. Em seguida, essa pessoa vai estar entre dois sistemas de produção de
sável por potencializar e fortalecer o interior do parque. A ala-
dos demais por proporcionar uma opção mais voltada à recreação e desbravamento da área do
cionar alternativas de deslocamento mais eficientes para pedestres
alimentos completamente distintos. A Agrofloresta e no seu lado oposto encontrará grande
meda das cores é um espaço singular no parque, funciona como
parque. O traçado foi concebido como uma sequência de linhas que se articulam dançando por
e ciclistas.
No corte C9 podemos notar as espécies escolhidas para as laterais da Alameda das Cores, suas cores e o período do ano em que elas florescem.
parte da flora da restinga, esta de menor altura e com espécies como cactos e bromélias.
um elemento ordenador, tanto pela sua continuidade como pela
toda a extensão do parque linear, passando por todas as ofertas recreativas do parque e possi-
Na Macroproposta é visualmente contrastante, as linhas retas
Seguindo o caminho passará pela horta das panelas, vendo as pessoas cultivando alimentos
implantação da vegetação, esta disposta de maneira alinhada. Seu
bilitando uma diversidade de experiências sensoriais. Segundo Mascaró (2010), cada mudança
(presentes na área do parque linear)e a sinuosidade da via Catajé,
e finalizaria sua experiência com a observação do galpão das paneleiras e o deck atualmente
exuberante florescimento distribui cores e aromas pelo caminho
de sentido no trajeto muda o ponto focal do observador, e assim foi concebido este traço, cada
esta que se adequa a topografia da área oeste e se apresenta na
em construção (junho de 2018).
durante vários momentos do ano. As espécies de tamanho dife-
interrupção na linearidade do trajeto foi posicionada de forma a estimular a observação do entorno e assim o contato com cores, aromas, texturas entre outros.
área mais plana da região. Essa via estabelece a conexão leste e sul,
O traçado acontece na porção do parque linear, de maneira distinta. É perceptível um de-
rentes proporcionam sensações surpreendentes, como a sensação
sua curvatura tênue cria uma margem no limite entre o mangue e
senho desenvolvido a partir de uma lógica geométrica, que forma um traçado constituído por
de andar por debaixo das copas das sapucaias, experimentar uma
O circuito contemplativo é caracterizado por uma fragmentação em seis circuitos que
a agrorestinga estas à oeste e noroeste. Assim como proporciona
retas, com larguras regulares que se interceptam de forma desprovida de ordem resultando
sensação mais aberta passando entre os flamboyanzinhos e passar
levam o nome de espécies marcantes em cada trecho de deslocamento, placas e opções de
uma diversidade incrível de sensações. Uma pessoa oriunda do
em uma trama irregular que gera vazios de ordens triangulares e trapezoidais.
entre as paineiras rosas quando caducas e se encantar com o ritmo
permanência no encontro de cada circuito foram pensadas, objetivando marcar o fim e um
dos galhos.
novo início enquanto educa e informa.
bairro Antônio Honório à leste passando pela via Catajé vai ter
A Alameda das Cores, apresentada no corte C9, e o circuito contemplativo possuem
contato com a área da horta do campo de futebol, quando en-
funções muito importantes na dinâmica do parque e na relação dos usuários com as ofertas
Os demais caminhos constituintes do traçado são conexões, estas são responsáveis pela
trar no parque linear terá contato com muitas frutificações dos
comunicação entre os acessos, espaços recreativos e edificações. Possuem uma frequência de uso menos significante, todavia desenvolvem ligações muito importantes como a via criada com o alinhamento com a via desembargador Cassiano de Melo que torna o prédio principal como ponto focal, estimulando sua observação.
SAPUCAIA
Lecythis pisonis. Florescimento: dez-maio. Cor rosa.
84
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
FLAMBOYANZINHO
Caesalpina pulcherrima. Florescimento: set-fev. Cor: vermelho.
PAINEIRA ROSA
IPÊ AMARELO
Ceiba speciosa. Florescimento: jul-nov. Cor: rosa.
Handronthus chrysotrichus. Florescimento: set-out. Cor: amarelo.
85
Vicente Gonçalves Gewehr
CORTE C9
JASMIN MANGA
Plumeira rubra. Florescimento jul-nov. Cores: rosa amarelo, branco e laranja.
Vegetação
raízes aparentes. A espécie escolhida também visa criar
rísticas, com textura plástica e leveza, incrementando o parque
A escolha da vegetação para a área do parque linear teve como
GRUPO I:
um marco visual marcado pela altura que varia de 30-
com canteiros muito atrativos. Estão localizados ao lado do Espa-
objetivo funcionar como atrativo aos usuários e realizar coerência
ornamental, as espécies selecionadas atingem diferentes tamanhos
40m, sendo um marco visível de vários pontos do Bairro
ço Recreativo Boêmio Sete Copas, ao norte do restaurante escola
com o conceito Agroparque, a partir da implantação de apenas
e possuem diferentes formas, compondo canteiros muito dinâmi-
(KINUPP, LORENZI 2014).
e à nordeste da biblioteca.
espécies alimentares. Os visitantes seriam impulsionados a des-
cos e atrativos com destaque para a verticalidade do Mandacaru e
bravar a área do parque para observar a diversidade dos canteiros
o belíssimo florescimento da Dama da Noite.
As cactáceas possuem aparência encantadora e rico valor
»»
pensados, tal como os florescimentos e as frutificações. A sazonalidade das frutificações foi o que norteou a divisão das
GRUPO J:
As espécies rasteiras foram inseridas de maneira a pos-
espécies em grupos. Assim, os grupos A, B, C, D, E, F e G compõem
sibilitar a contemplação do Morro do Sales e do Mestre Álvaro.
mais de 70% dos canteiros PANC e neles foram inseridas árvores
»»
J1 - ABÓBORA: O
canteiro com diversas espécies de
»»
K2 - CÁSSIA E IPÊ AMARELO:
Espécies que se destacam pelo
GRUPO N:
espécie escolhida objetivando possibilitar uma permanên-
vibrante amarelo no florescimento tiveram a implantação de
cia confortável aos usuários da academia Mutamba e interferir o
um canteiro localizado próximo ao parquinho dos vegetais
mínimo possível na visualização do Mirante Inharé, pelos usuá-
objetivando além da ornamentação um atrativo às crianças
rios na extensão da academia. Justificando a escolha da espécie
que podem brincar com as flores caídas ao solo.
baru com fuste de aproximadamente 6m de altura e copa globosa.
K3 - BAMBU MOSSÔ: os
canteiros de bambu conectam o
Segundo Abbud (2010), o emprego de agrupamento de árvores
dispostas alinhadas, de maneira a proporcionar a visualização das es-
abóboras Possui produção durante todo o ano, com os
restaurante ao parquinho, a ideia foi criar um caminho Com
me maneira heterogênea atrai uma fauna diversificada de pássa-
pécies que estão no interior dos canteiros pelos usuários do parque.
frutos chamativos pelos tamanhos, formas e colorações
uma visualização restrita à estética ornamental do bambu
ros, pequenos animais e borboletas assim como enriquece a com-
diversificadas.
e dos pontos focais no fim do Caminho. Indo em direção
posição plástica paisagística pela variedade de espécies.
GRUPO A, B E C: composto
por espécies de médio e grande porte com
»»
florescimento e frutificação em períodos do ano distintos. GRUPO D, E, F E G:
canteiro das capuchinhas destaca-se pela
»»
Os grupos H, I, J, K, L, M e N são canteiros também alimenta-
ao restaurante é possível a visualização do Mestre Álvaro e
bela folhagem, resistência da espécie às variações de clima e
indo em direção ao parquinho é possível a visualização da
Atrações recreativas
principalmente pela encantadora e deliciosa floração amarela
escultura dos vegetais.
O restaurante-escola, Nastúrcio Culinária PANC, é o espaço res-
e vermelha.
composto por espécies de médio e grande porte
com florescimento e frutificação em períodos do ano distintos.
J2 - CAPUCHINHAS: O
»» O canteiro de radite peludo destaca-se pela
K4 – CORTICEIRA SERRANA: Espécie
que apresenta um
ponsável por colocar em prática as ideias agroalimentares mais
florescimento em vermelho encantados, estas espécies foram
sustentáveis e a alimentação de verdade trabalhadas no segundo
aparência de campo com o amarelo da floração combinado
implantadas nos mirantes Inharé e Umarí proporcionando
capítulo. O espaço apresentaria soluções alimentares baseadas em
com as palmeiras (escolher) alinhadas ao lado do caminho
uma sensação incrível.
alimentos locais, das Agroflorestas, do Projeto Horta pra Nobis e
J3 – RADITE PELUDO:
res, todavia uma finalidade estética e/ou funcional específica. Por
marcando o caminho e com alinhamento seguindo o das
exemplo, o Grupo I composto por cactáceas. Em seguida serão
árvores localizadas na academia popular.
do imenso universo PANC, resultando em receitas saborosas, nuespécies plantadas ao redor do Biergarten foram esco-
tritivas e com possibilidades de preço acessíveis. Além de difundir
lhidas de forma a proporcionar uma permanência agradável aos
a experimentação, o restaurante funcionaria como escola, capaci-
por espécies que foram implantadas de ma-
usuários, por isso foram selecionadas árvores com fuste variando
tando a população interessada, que teria a oportunidade de parti-
neira individual por alguma peculiaridade ou em grupos da mes-
de 5 a 10 m, evitando uma sensação de sufocamento provocada
cipar do processo da produção. Seria então um elemento difusor e
que encantam pela sua exuberância, a combinação destas espécies
ma espécie para ressaltar alguma característica Marcante.
pelas copas muito próximas das pessoas. Outro requisito foi a se-
promoveria o fortalecimento dessa alternativa alimentar.
resulta em uma diversidade de folhagens texturas e frutificações.
»»
leção de árvores com as copas cheias, objetivando assim sombras
apresentados estes grupos de espécies. GRUPO K: Caracterizado GRUPO H:
Grupo de espécies vegetais nativas de regiões tropicais
K1 - SAMAÚMA:
dois canteiros, cada um com uma árvore
Três Canteiros com espécies desse grupo foram distribuídos pelo
no seu interior, localizados próximos ao parquinho dos
Agroparque, um próximo ao parquinho dos vegetais, outro próxi-
vegetais objetivam oferecer uma opção lúdica as crianças
mo ao Nastúrcio restaurante-escola e o último próximo ao prédio
pelo formato singular do tronco e pela altura e beleza das
GRUPO L: As
agradáveis aos usuários.
ceito foi desenvolvida de forma a distribuir a produção gerada na área do Agroparque e também comercializar alimentos sus-
GRUPO M:
estas espécies selecionadas possui um caráter estético
principal.
característico muito encantador, pelas folhas alongadas caracte-
86
87
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
A área de comercialização chamada de Mapati Mercado Con-
Vicente Gonçalves Gewehr
tentáveis. O mercado teria também uma produção de alimentos congelados, padaria etc., oferecendo produtos por preços justos.
O Espaço Recreativo Boêmio Sete Copas foi inspirado nas am-
A academia popular Mutamba, localizada a extremo norte do
biências dos Biergartens tão presentes na cultura do estado da
parque, foi pensada de maneira a atender principalmente o públi-
Bavária no sul da Alemanha. São espaços sombreados geralmente
co de jovens e adultos, visto que já existem duas academias para
por Kastanien (espécie geralmente utilizada – Aesculus carnea) ao
idosos nos arredores do Agroparque. É uma atividade rotineira,
ar livre com mesas compridas, onde as pessoas se sentam para
contribuindo assim com a frequência da população no espaço
conversar, beber e comer. A atmosfera desses espaços é o grande
e, em geral, promotora do bem-estar da população. As pistas de
diferencial, as pessoas que vão até o espaço geralmente estão dis-
skate e patins Pajurá estão ao lado da academia e buscam atender
postas a interagir com as outras pessoas, sendo muito frequente
principalmente jovens e adultos de ambos os sexos, proporcio-
sentar-se com desconhecidos e iniciar conversas, como é possível
nando uma opção lúdica para os interessados nestes frequentes
perceber na Figura 31.
esportes urbanos.
Nesses espaços os usuários são livres para trazer sua própria comida, porém a bebida deve ser adquirida no local, e as pessoas se direcionam até onde são servidas as bebidas. Eles existem há mais de 200 anos e o maior deles é o Hirschgarten em Munique, Alemanha, com capacidade para 8.000 pessoas sentadas. Também é muito comum a existência de apresentações musicais. O espaço pensado foi representado de maneira esquemática na Figura 32 e busca recriar essa ambiência sob árvores nacionais de estrutura semelhante, oferecendo como principal bebida a cerveja produzida e armazenada no local, uma vez que a produção desta poderá ser observada pelos usuários do parque. O espaço contri-
PERSPECTIVA 01
buirá para o aumento da diversidade dos usuários no Agroparque e proporcionará entretenimento às famílias, possibilitando uma permanência mais prolongada.
FIGURA 32 Croqui que representa os anseios para a área de mesas do Espaço Recreativo Sete Copas.
FIGURA 31 Biergarten in Munique.
Fonte: https://br.pinterest.com/ pin/566468459353150228/. Acesso em 10/06/2018
88
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
89
Vicente Gonçalves Gewehr
No corte C3 percebemos da direita para a esquerda a Ciclovia
o desenvolvimento muscular e ganho de força) e uma área de levantamento de peso. O corte
Cacauí, a pista de skate e patins Pajurá, seguido da academia popu-
termina com uma via de circulação de pedestres (acesso ao parque), seguida pelo cercamento
lar Mutamba, esta fragmentada em exercícios calistênicos (exercí-
em gradil, a rua Ouro Preto e as edificações presentes.
CORTE C3
cios de força física que utilizam o peso do corpo dos atletas para
RUA OURO PRETO EDIFICAÇÃO
CIRCULAÇÃO
LEVANTAMENTO DE PESO
ÁREA DE EXERCÍCIOS CALISTÊNICOS
ACADEMIA POPULAR MUTAMBA
CICLOVIA CACAUÍ
PISTA DE SKATE E PATINS PAJURÁ
AMPLIAÇÕES Objetivando mostrar mais detalhadamente as a proposta do Agro-
As árvores de dentro do parque realizam o sombreamento na
parque para Goiabeiras foram elaboradas três ampliações que
área principalmente no período após o meio dia, momento que
mostram espaços de grande relevância no parque. A Ampliação
apresenta desconforto maior devido ao calor oriundo dos raios
01 mostra acesso de pedestres mais importante do parque, em se-
solares. O corte C8 complementa o entendimento da área mos-
guida será apresentada a Ampliação 02: que retrata o parquinho
trando a relação de alturas, como a faixa elevada mantém o nível
dos vegetais e arredores e por fim a Ampliação 03 esclarecendo
da calçada e o cercamento do parque em gradil que possibilita uma
sobre o prédio principal e entorno.
permeabilidade visual entre interior e exterior.
AMPLIAÇÃO 01 A escolha de realizar a ampliação do principal acesso de pedestres ao parque, mais especificamente à Alameda das Cores, busca mostrar com mais detalhes como aconteceria essa área. Uma vez que este acesso é o mais próximo da Avenida Fernando Ferrari, via que contempla grande fluxo de transporte público. A intenção projetual no local foi criar um espaço de transição entre a via Dr. Cassiano Castelo e o Agroparque, este espaço é um ambiente agradável aos usuários, mostra que no local acontece uma entrada e prioriza os pedestres em detrimento dos automóveis. Desta forma foi desenvolvido um espaço à frente da entrada que funciona como uma pequena praça: no local foram dispostos bancos que possibilitam a permanência dos usuários, um bicicletário, iluminação pública e lixeiras. O acesso se destaca devido à um portal com o nome do parque, pela presença da faixa elevada criada e pelas dimensões das sapucaias, que sazonalmente se tornam rosa com muita exuberância (perceptível no corte C8).
92
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
PLANTA BAIXA AMPLIAÇÃO 01
CORTE C8
AMPLIAÇÃO 02 A Ampliação 02 retrata o parquinho dos vegetais e entorno. Está localizado entre a alameda das cores e a via Desembargador Cassiano Castelo e entre o Circuito Samaúma. No centro da imagem está a área de recreação infantil, esta foi idealizada de maneira a promover simultaneamente opções de lazer e um contato com a temática da alimentação pelas crianças. Inspirado no parque Gulliver em Valença, representado nas Figuras 33 e 34, a área recreativa desenvolvida seria formada por esculturas de vegetais de dimensões muito grandes, combinados e manipulados de forma a possibilitarem escaladas, subidas, descidas, entre outros, atingindo aproximadamente 4 metros de altura e com 15 metros de comprimento. O parquinho infantil está à um nível mais baixo do passeio, cria então um espaço mais reservado para as crianças incentivando assim a independência e autonomia delas. Os espaços de permanência ao redor do parquinho destina-se aos responsáveis e demais usuários do parque. Esses espaços possibilitam um estar muito diversificado com bancos lineares, bancos em U, bancos semi sombreados por pergolados, área gramada e também a possibilidade de se sentar nas mesas do Espaço Recreativo Sete Copas. Entre o parquinho dos vegetais e o restaurante Nastúrcio foi projetado uma via diferente das demais do parque: caracteriza-se por um espaço com pouca visualização do céu e pouca amplitude visual lateral, devido à implantação do bambu-mossô nas bordas, este responsável por criar um ponto focal no fim do trecho e en-
VIA DES. CASSIANO CASTELO (COMPARTILHADA)
cantar com a beleza característica da espécie. Esse caminho foi inspirado no Templo Tenryu-ji em Arashiyama, Kyoto, Japão representado pela Figura 35 que ilustra como o espaço aconteceria.
CIRCUITO SAPUCAIA
94
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
SAPUCAIA
ALAMEDA DAS CORES
95
Vicente Gonçalves Gewehr
FIGURAS 33 (acima) Parque Guliver em Valença. Fonte: https://br.pinterest.com/ pin/380554237246578718/. Acesso em 10/06/2018.
FIGURA 34 (abaixo) Parque Guliver em Valença. Fonte: reddit.com/r/architecture/comments/7qoss4/the_parque_ gulliver_of_valenciaphoto_from_2013misc/. Acesso em 10/06/2018.
PLANTA BAIXA AMPLIAÇÃO 02
Além do bambu mossô se inseriu uma vegetação muito diversificada no local: as duas Samaúmas se destacam pelas proporções e pelas raízes parcialmente aparentes, estas encantam pela exuberância e realizam o divertimento de crianças e adultos, como é possível perceber na Figura 36.
FIGURA 35 (acima) Templo Tenryu-ji, Arashiyama,
Kyoto, Japão. Fonte: www.insidekyoto.com/ arashiyama. Acesso em 12/06/2018. FIGURA 36 (abaixo) raízes da Samaúma. Fonte: caliandradocerrado.com.br/2009/05/rainha-dafloresta.html. Acesso em 12/06/2018.
96
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
97
Vicente Gonçalves Gewehr
Ao norte do parquinho dos vegetais estão os canteiros E, F e G
morfológica do espaço ao mesmo tempo que diver-
dotados de árvores de pequeno porte. Esses três espaços totalizam
sificam as texturas e volumetrias existentes.
42 espécies alimentícias diferentes, entre elas graviola, pitanga,
Ao sul temos o grupo B caracterizado por um
romã e laranja. Entre esses canteiros existe um espaço com árvo-
canteiro com gramado aberto dotado de árvores de
res marcadas pelo florescimento amarelo das Cássias e dos Ipês,
grande porte ao redor, dentre as espécies se desta-
estes que pelas dimensões proporcionam uma sombra agradável
cam manga, abacate, jaca e ingá. O espaço aberto
nos bancos em U (perceptível no corte C7).
mencionado anteriormente se mostra como ideal
A oeste do parquinho dos vegetais está o canteiros de abóbora
para interações como jogos e competições.
(vegetação forrageira), seguido dos flamboyanzinhos (arbustos) enfileirados entre a Alameda das Cores, que possibilitam, devido às pequenas dimensões, a visualização do Morro do Sales e também inserem cores ao espaço: com o laranja das Abóboras e o vermelho do florescimento dos arbustos. As três palmeiras Babaçu inseridas
CORTE C7
de modo igualmente espaçado, inserem um ritmo na composição
ALAMEDA DAS CORES
FLANBOYANZINHO
Caesalpina pulcherrima.
ABÓBORA
ÁREA DE CIRCULAÇÂO DE PESSOAS
BABAÇU
Attalea speciosa.
PARQUINHO DOS VEGETAIS
RUA DR. CASSIANO CASTELO
SAMAÚMA
Ceiba pentandra.
PERSPECTIVA 02
PERSPECTIVA 02
ANTES
DEPOIS
100
101
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
Vicente Gonรงalves Gewehr
PLANTA BAIXA AMPLIAÇÃO 03
AMPLIAÇÃO 03 O Prédio Principal está no centro da extensão do parque, localiza-
O prédio principal possui dois pavimentos, sendo no térreo a
do entre a via Cacauí e a Alameda das Cores e dentro do circuito
recepção, os dois auditórios, o Café Uricuri e um vestíbulo. O aces-
Copaíba. À frente das faces oeste, norte e sul encontram-se zonas
so ao segundo pavimento acontece por uma escada ou elevador,
mais destinadas à produção de alimentos como o SAF de transição
garantindo assim o acesso dos portadores de necessidades espe-
e a Floresta de bolso. Enquanto a leste do prédio existe um espaço
ciais em toda área pavimentada do parque. Nesse pavimento está
mais voltado à interação humana e a permanência dos usuários.
a Sala Integrada de Planejamento Cambucí e a Biblioteca Camélia.
A edificação é o centro de suporte teórico sobre as questões
O espaço, que funciona como uma praça, a frente do prédio
agroalimentares, responsável pela propagação dos saberes agroa-
principal é uma extensão pensada de maneira a proporcionar di-
limentares e agroecológicos. Ali estão a Biblioteca Camélia, com
versificadas ações como atividades temáticas e permanência de
acervo sobre alimentação, agricultura entre outros, e os Auditó-
usuários. No espaço estão o Café Uricuri com mesas e comercia-
rios Jenipapo e Nogueira, responsáveis por abrigar apresentações,
lização de alimentos, bancos sombreados, gramados e banheiros.
seminários, palestras entre outros. Tantas áreas de agricultura ne-
A vegetação escolhida para a área é marcada pelo amarelo
cessitam de planejamento, sendo assim criada a Sala Integrada de
oriundo dos Ipês (na alameda das cores) e das forrações de nome
Planejamento Cambucí, setorizada de acordo com as aplicações
Tupinambor e Rosmarina. Canteiros diversificados fornecem fru-
de agricultura, realizando, além do planejamento, o controle da
tos como Jabuticaba, manga e caju ao mesmo tempo que propor-
produção, treinando e atendendo a população em geral.
cionam espaços para piqueniques e recreações diversas.
102
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
103
Vicente Gonçalves Gewehr
SALA DE REUNIÃO
IPÊ AMARELO
SALA DE TREINAMENTO SALA DE ATENDIMENTO À POPULAÇÃO
AUDITÓRIO JENIPAPO
BIBLIOTECA BACUPARI
ACERVO
VARANDA
VESTÍBULO
PAINEIRA ROSA
CAFÉ URICURI
RECEPÇÃO E ADMINISTRAÇÃO
CORTE C4
PERSPECTIVA 03
PERSPECTIVA 03
ANTES
106
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
DEPOIS
107
Vicente Gonรงalves Gewehr
GERENCIAMENTO DO PARQUE
3.6
dos espaços, cercando as áreas, criando os canteiros, fornecendo ferramentas, insumos e treinamento.
A parcela destinada à Floresta de Bolso e o pomar seriam de
famílias envolvidas. Assim como promoveu a autoestima da comu-
responsabilidade do Estado, são espaços que não demandam ma-
nidade com os espaços mais limpos e resgatou jovens envolvidos
Então seriam selecionados os cultivadores (com priorização
nutenção frequente e a implantação é simples. A criação Flores-
em atividades ilícitas com a oferta de empregos (CEPAGRO, 2014).
das pessoas de baixa renda) e os espaços para cultivo individuais
ta de Bolso acontece com o plantio de algumas mudas e muitas
Da mesma maneira foi idealizado o esquema de compostagem
distribuídos. Cada produtor de alimentos receberia um espaço de
espécies por semeadura direta e o Pomar com plantio de mudas
para Goiabeiras e arredores. Com a produção de composto acon-
Esta seção é destinada a explicar o gerenciamento do Agropar-
cerca de 100m² e cada horta contaria com um coordenador. Pessoa
de árvores frutíferas espaçadas. A colheita da produção desses
tecendo à norte da Horta das Panelas e o produto servindo como
que e as atividades nele realizadas, as ideias foram inspiradas em
que organizaria o espaço e os cultivadores, assim como fiscaliza-
espaços seria destinada à usuários do parque e à comunidade, não
adubo nas áreas do Agroparque e/ou comercializado, promovendo
experiências urbanas bem sucedidas e visam o sucesso do espaço
ria as atividades evitando canteiros ociosos, organizaria reparos
objetivando a comercialização.
a conscientização ambiental na comunidade e escolas ao mesmo
planejado.
entre outras atividades. Seria cobrado um valor mensal simbólico
O Estado seria responsável pela realização de um investimento
e acessível de acordo com as demandas de cada espaço, que varia
inicial, preparando a área, fornecendo ferramentas adequadas e
Os espaços de caráter comercial do Agroparque como o merca-
de R$ 0,25 à R$10,00.
auxílio teórico aos produtores, assim como seria responsável pela
do, o restaurante e o espaço recreativo boêmio seriam arrendados
fiscalização das atividades. Ampliando as possibilidades de sucesso
à interessados e os espaços de aspecto educacional como auditó-
das áreas de Agricultura Urbana.
rios, biblioteca e salas de planejamento seriam de responsabilidade
O Agroparque é um espaço público projetado de forma a promover uma integração com o entorno, por isso realiza um conti-
tempo que transforma a relação da comunidade com os resíduos.
nuísmo de muitas vias no entorno imediato, assim conta com 16
Em cada horta seria incentivado a comercialização de maneira
portões de acesso. Estes fundamentais para garantir a interação
direta com o produtor, sendo possível a este colher os alimentos
com os espaços públicos já existentes, promover uma mobilidade
que deseja, possibilitando uma relação com o alimento diferente
Foi pensada uma maneira de produção de composto orgânico
urbana mais eficiente e incentivar o uso do espaço livre público
da forma predominante na esfera urbana. Cabendo a cada hortelão
para o Agroparque. Com inspiração na experiência bem sucedida
Conclui-se o capítulo de gerenciamento do parque com o en-
pela população. Assim, o fechamento não diminui a utilização, pro-
a decisão de como comercializar ou não sua produção. As hortas
do programa chamado de Revolução dos Baldinhos, este respon-
tendimento de que os espaços projetados são destinados à socie-
move a proteção da área do parque e possibilita uma permeabili-
seriam espaços que ficariam abertos durante o dia e a visitação não
sável pela realização da gestão dos resíduos orgânicos com en-
dade, esta que está se transformando constantemente. Por isso
dade visual. As entradas estão marcadas com uma seta que indica
seria desestimulada sob nenhuma hipótese. Cada horta teria um
volvimento comunitário para a realização da agricultura urbana
se entende que muitas atividades propostas podem obter sucesso
o modo de fechamento na prancha da Macroproposta e é possível
banheiro seco, espaço para armazenagem das ferramentas e um
na periferia de Florianópolis em Santa Catarina. Na comunidade,
assim como fracasso, mesmo que tenham surgido a partir de mui-
o entendimento de como seriam as entradas no corte C8.
espaço coberto para eventos sociais, fortalecendo os laços entre
a população sofria com surtos de leptospirose devido a grande
tos estudos, análises e comparações.
os participantes e convidados.
quantidade de lixo presente nas ruas dos bairros (responsáveis
Buscando atender os usuários em diversidade indo realizar atividades laborais ou físicas, foi estipulado um amplo horário de
Nas áreas compreendidas pelos Sistemas Agroflorestais o ge-
por alimentar os ratos), então foi criado o programa de coleta e
abertura dos portões de 5:00 às 23:00 horas e o funcionamento
renciamento acontece de acordo com o zoneamento pensado. O
compostagem que retirou das ruas os resíduos orgânicos que ali-
dos espaços administrativos, auditórios entre outros seria o horá-
SAF de inserção seria de responsabilidade do Estado, este encarre-
mentavam os ratos. Cada morador participante recebeu um balde
rio comercial padrão.
gado do plantio das mudas de Juçara e pela preservação da Mata
onde depositam o lixo orgânico, e então depositam esse resíduo
de Tabuleiro. Os frutos do Juçara nesta área, seriam principalmen-
nos Pontos de Entrega Voluntário (PEV) de onde são recolhidos e
te destinados à alimentação da fauna.
destinados à compostagem no pátio de uma escola no bairro (CE-
Quanto às áreas de AU, foram pensadas maneiras de produção adequadas a cada espaço. Para o programa Horta Pro Nobis se desenvolveu uma dinâmica inspirada na experiência bem sucedida
As extensões de SAF de transição e Agrorestinga seriam arren-
PAGRO, 2014). O composto produzido é distribuído entre a comu-
do programa Lavoura em Curitiba. O primeiro momento seria de
dadas a interessados, estes deveriam seguir os princípios agroali-
nidade e também comercializado. Os resultados da Revolução dos
responsabilidade do Estado, responsável pela preparação inicial
mentares que servem de conceito para o parque.
Baldinhos foram: melhoria da saúde pública, o estímulo ao cultivo de alimentos, a contribuição com a SAN e diminuição de custos das
108
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
109
Vicente Gonçalves Gewehr
pública.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
AGROPARQUES EM DADOS
A proposta do Agroparque para Goiabeiras foi realizada numa
área de 330.000m², espaço que representa 0,35% da extensão de Vitória. A implantação desta área aumentaria em 11% o espaço de
parques na cidade. Também significa um ganho ambiental: Llan-
ganho mensal de aproximadamente R$ 450,00 de cada cultiva-
derte (1982) calculou que 1hectare de área de floresta é responsá-
dor. Economia anual de mais de 5.000 reais por pessoa. Quanto
vel pela remoção de 50t de pó e partículas residuais no ar, os 9,7
a produção, em cada espaço de 100m² das hortas é estimado, de
há de área de floresta adicionados eliminariam quase 500t de pó e
acordo com a experiência de Curitiba, uma produção diária de 3kg
partículas residuais do ar.
de alimento. Sendo assim 13,5 toneladas de alimentos produzidos
Quanto à capacidade de alimentação temos toda a extensão de 330.000m² servindo de área produtora de alimentos, sendo
Segundo Silveira (2016 apud Ribeiro, 2017) uma pessoa con-
alguns espaços mais voltados à produção alimentar (SAF de tran-
sume 3kg de alimentos diariamente entre sólidos e líquidos, se
sição e Hortas) e outros mais recreativos. Segundo a organização
considerarmos que 1/3 dessa quantidade seria oriunda do Agro-
agrofloresta do futuro (2018) os 43.688,35m² de SAF de transição
parque o espaço do SAF de transição seria capaz de alimentar
produziriam aproximadamente 350 t de alimento por ano.
960 pessoas por ano. As hortas teriam a capacidade de alimentar
O programa Horta Pro Nobis concederia a mais de 150 pessoas espaços de cultivo, todavia o número de pessoas que se beneficiariam seria maior, pois consumidores, parentes e vizinhos tam-
1.427 pessoas anualmente.
A partir dos dados apresentados é possível compreender a
capacidade de abastecimento alimentar que o espaço possui. Esses
(2015) aponta que em Curitiba cada cultivador fornece alimentos
dados não consideram os espaços onde acontecem a Agrorestin-
para até 12 pessoas, desta forma estima-se que 1.800 pessoas te-
ga, canteiros PANC (na área do parque linear), Floresta de Bolso,
riam acesso aos alimentos produzidos nas 3 hortas. Considerando
Pomar Urbano e SAF de inclusão, uma vez que não foi encontra-
a economia com compras em mercados e vendas é estimado um
do na literatura parâmetros que apresentassem sua capacidade
1 De acordo com os relatos dos participantes do programa Lavoura em Curitiba
AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
467 pessoas por ano. Resultando na possibilidade de alimentar
bém se beneficiariam consumindo alimentos saudáveis. Ferrareto
1
110
mensamente e 170 toneladas anualmente
111
Vicente Gonçalves Gewehr
de alimentação. Da mesma forma, não é possível apresentar em
me interessar pela produção de alimentos agroecológicos e pelo
Vitória à se tornar uma zona de parque tecnológico, de outra for-
números como a qualidade de vida da população do entorno me-
campo. A partir do interesse em entender mais sobre a produção
ma. O campo teórico promove uma ampliação sobre os entendi-
lhoraria, como seriam as interações sociais entre a vizinhança, a
de alimentos e buscar respostas às incompreensões mencionadas
mentos do sistema agroalimentar, os muitos benefícios e formas da
relação com a alimentação, os ganhos na saúde, como seria a SAN
anteriormente tive contato com a agricultura de distintas manei-
produção de alimentos em extensões urbanas e um entendimento
das pessoas que teriam acesso ao cultivo de alimentos e como esse
ras: na produção de alimentos em fazendas orgânicas, em uma
sobre o papel dos parques urbanos. Entendimento fundamental
espaço superaria a dicotomia entre campo e cidade. Todavia a par-
ecovila, em visitas à hortas urbanas, em diálogos com pessoas que
para o desenvolvimento do Agroparque em Goiabeiras.
tir dos estudos de casos da AU da família Dervaes, da cidade de
cultivavam alimentos nos quintais, visitando a família no interior
Este espaço é voltados às pessoas, a partir das múltiplas fun-
Todmorden e principalmente do programa Lavoura da prefeitura
entre outros. Desta forma, realizava comparações e questiona-
ções que a Agricultura Urbana a área promoveria o acesso à ali-
de Curitiba (que mais se assemelha ao Agroparque) foram notadas
mentos frequentemente sobre a vida em centros urbanos e em
mentos em diversidade, quantidade e qualidade, contribuindo para
melhorias nos aspectos mencionados, desta forma consideramos
espaços rurais.
a Segurança Alimentar Nutricional dos envolvidos. Da mesma for-
O desenvolvimento do projeto do Agroparque é um resultado
ma ampliaria as relações sociais, promoveria a educação, saúde e
de buscas próprias somadas ao aprendizado dos seis anos e meio na
ao mesmo tempo potencializaria o entorno pela conexão entre os
graduação de Arquitetura e Urbanismo, onde também se aprende
espaços livres públicos e pela transformação da paisagem. Seria
paisagismo realizada na Universidade Federal do Espírito Santo
um espaço que comprova que a distinção entre cidade e campo
(UFES) e na Universidade Técnica de Munique (TUM). O intercâm-
não faz sentido e mostra que a agricultura pode acontecer em cen-
Este trabalho surgiu a partir de três incompreensões sobre a vida
bio na Alemanha me mostrou que as cidades podem ser diferentes,
tros urbanos e inclusive estar atrelada à recreação populacional.
em sociedade:
principalmente quanto a relação com os espaços livres, uma vez
Tornando-se uma significativa atração na Região Metropolitana
que o país apresenta em geral cidades com muitos parques, praças
de Vitória e uma inovação paisagística em todo o mundo.
que todos esses pontos levantados seriam melhorados e a população em geral seria a principal beneficiada.
CONCLUSÕES
»» Por que não estamos cultivando alimentos em todo lugar na cidade, já que existem pessoas passando fome? »» Por que o espaço urbano tem que ser tão caótica, ao mesmo
e ciclovias em bairros mais afastados e nas áreas mais centrais. A experiência na UFES, entre tantos aprendizados, me mostrou como as cidades deveriam valorizar as pessoas, os espaços públicos serem
tempo que é espaço das oportunidades, e o campo tão
atrativos e confortáveis, a arquitetura deveria levar em considera-
monótono e sem oportunidades de “crescimento” ?
ção o entorno, para quem ela é feita, qual o seu papel no todo. Da
»» Por que a lógica do sistema atual que mata, envenena, polui,
mesma maneira aprendi que as ruas deveriam atrair pedestres, o
destrói, prejudica a saúde mental e física por dinheiro, ainda
transporte individual motorizado (geralmente carros) deveriam ser
não foi substituída por uma que valorize coisas importantes?
desestimulados enquanto ciclovias, calçadas e uma diversidade de transportes públicos deveriam ser valorizados.
Uma das respostas encontradas pelo autor foi a produção de
E esse presente trabalho é a conclusão de um marcante ciclo, o
alimentos agroecológicos oriundos da agricultura familiar, em um
projeto possibilita enxergar o espaço, destinado pela legislação de
evento na Universidade sobre alimentos orgânicos em 2011. Desde então passei a ver as práticas agroalimentares de outra forma e 112
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6
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GRUPO A (ESPÉCIES DE MÉDIO E GRANDE PORTE):
Manga Espada, ANACARDIACEAE Mangifera indica - PF: nov. – mar. Abacate, LAURACEAE Persea americana – PF: mar. - set. Nespereira, MALOIDEAE Eriobotrya japônica – PF: ago.-nov. Tamarindo, Fabacea Tamarindus - – PF: ago.-out. PANCS: Umari, CACINACEA Poraqueiba sericea Monguba, MALVACEA Pachira aquática Jaca-africana, MORACEA Treculia africana Decne. Camararuana, FABACEAE-FABOIDEAE Dipteryx odorata Uva-do-Japão, RHAMNACEAE Hovenia dulcis Pajurá-da-mata, CHRYSOBALANACEAE Parinari montana Ingá de metro, FABACEAE-MIMOSOIDEAE Inga edulis Mutamba, MALVACEA Guazuma ulmifolia Cacauí, MALVACEA Theobroma speciosum GRUPO B (ESPÉCIES DE MÉDIO E GRANDE PORTE):
Manga Ubá, ANACARDIACEAE Mangifera indica - PF: nov. – mar. Manga Palmer, ANACARDIACEAE Mangifera indica - PF: nov. – mar. Cajá manga, ANACARDIÁCEAS Spondias dulcis- PF: jan. – jun. Fruta pão, MORACEAE Artocarpus communis – PF: ago.-mar. PANCS: Mamão-do-mato, CARICACEAE Vasconcellea quercifolia Nogueira, EUPHORBIACEAE Aleurites moluccana Sapota, MALVACEA Matisia cordata Inharé, MORACEA Helicostylis scabra Guariroba-rugosa, MYRTACEAE Campomanesia schlechtendaliana Mapati, URTICACEAE Pourouma cecropiifolia Taberebá, ANACARDIACEAE Spondias mombin Jacaratiá CARICACEAE Jacaratia spinosa GRUPO C (ESPÉCIES DE MÉDIO E GRANDE PORTE):
Jaca, MORACEAE Artocarpus heterophyllus - PF: nov. - mar. Caju, ANACARDIACEAE Anacardium occidentale – PF: jun. – dez. Jaboticaba, MYRTACEAE Myrciaria cauliflora – PF: set. – out. Caramboleira, OXALIDACEAE Averrhoa carambola - PF: nov. – jan. Manga Tommy, ANACARDIACEAE Mangifera indica - PF: set. – jan. Jambo, MYRTACEAE Syzygium jambos – PF: jan. – mai.
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PANCS: Moringa, MORINGACEAE Moringa oleifera Chal-chal, SAPINDACEAE Allophylus edulis Guanandi, CALOPHYLLACEAE Calophyllum brasiliense Maça-de-elefante, DILLENIACEAE Dillenia indica Uxi-coroa, UMIRIACEAE Duckesia verrucosa Cupuaçu, MALVACEAE Theobroma drandiflorum Preciosa, LAURACEAE Aniba canelilla Minifigo, MORACEA Ficus subapiculata Cambuci, MYRTACEAE Campomanesia phaea Rambutã, SAPINDACEAE Nephelium lappaceum GRUPO D (ESPÉCIES DE PEQUENO PORTE):
Mamão, CARICACEAE Carica papaya – PF: o ano todo Goiabeira branca, MYRTACEAE Psidium guajava – PF: jan. – abr. Laranja Natal, RUTACEAE Citrus sinensis – PF: jul. – nov. Tangerinas, RUTACEAE Citrus reticulata – PF:: abr. – jul. Lichia, SAPINDACEAE Litchi chinensis– PF: dez. Amora, MORACEA Morus nigra L. – PF: out. –fev. Seriguela, Anacardiaceae Spondias purpurea– PF: fev. – mar. PANCS: Cacau-de-leite, APOCYNACEAE Ambelania acida Espinafre-arbóreo, EUPHORBIACEAE Cnidoscolus aconitifolius Hibisco, MALVACEAE Hibiscus rosa-sinensis Jaca-de-macaco, MORACEAE Artocarpus lakoocha Araçá-piranga, MYRTACEAE Psidium acutangulum Apuruí, RUBIACEAE Alibertia sorbilis GRUPO E (ESPÉCIES DE PEQUENO PORTE):
Figueira, MORACEAE Ficus lyrata – PF:dez. – abr. Laranja Bahia e Serra d’água, RUTACEAE Citrus sinensis – PF: mar. – jul. Laranja Valência, RUTACEAE Citrus sinensis – PF: set. – jan. Pitanga, MYRTACEAE Eugenia uniflora – PF: out. – jan. Graviola, ANNONACEAE Annona muricata – PF: mar.-abr. e nov. - dez. Abiu, SAPOTACEAE Pouteria caimito– PF: jan. – out. PANCS: Limão-doce, RUTACEAE Citrus limetta Curry Leaves, RUTACEAE Murraya koenigii
LISTA DE ESPÉCIES
Groselia-do-Ceilão, SALICACEAE Dovyalis hebecarpa Erva mate, AQUIFOLIACEAE Ilex paraguariensis Mari mari, FABACEAE-CAESALPINIOIDEAE Cassia leiandra Cacau azul, MALVACEAE Theobroma sylvestre GRUPO F (Espécies de pequeno porte): Ameixeira, ROSACEAE Prunus domestica – PF: nov. – jan. Coqueiro, Arecaceae Cocos nucifera – PF: ago. – mar. Laranja Pera, RUTACEAE Citrus sinensis – PF: mai. – fev. Laranja Sanguínea, RUTACEAE Citrus sinensis – PF: mar. a jun. Laranja Itaboraí, RUTACEAE Citrus sinensis – PF: jul. – set. Tangerineiras, Murcotte, RUTACEAE Citrus reticulata – PF: jul. – out. PANCS: Araça-boi, MYRTACEAE Eugenia stipitata Limão-caieno, OXALIDACEAE Averrhoa bilimbi Jenipapo, RUBIACEAE Genipa americana Murta, RUTACEAE Murraya paniculata Marianeira, SOLANACEAE Acnistus arborescens Bacupari, CLUSIACEAE Garcinia brasiliensis Teca, LAMIACEAE Tectona grandis GRUPO G (ESPÉCIES DE PEQUENO PORTE):
Tangerineiras Poncã, RUTACEAE Citrus reticulata – PF: abr. – set.; Laranja Piralima, Lima e Campista: RUTACEAE Citrus sinensis – PF: mar. a jun.; Pequi, CARYOCARACEAE Caryocar brasiliense – PF: nov. – jan. Romã, LYTHRACEAE Punica granatum– PF: dez. – jan. Acerola, MALPIGHIACEAE Malpighia emarginata – PF: set. – mar. Fruta do conde, ANNONACEAE Annona squamosa – PF: : jan. – mai. PANCS: Goiaba-de-anta, MELASTOMACEAE Bellucia dichotoma Camu camu, MYRTACEAE Myrciaria dubia Borrorô, RUBIACEAE Alibertia patinoi Noni, RUBIACEAE Morinda citrifolia Limoncillo, RUTACEAE Triphasia trifolia Camélia, THEACEAE Camellia japonica GRUPO H (PALMEIRAS):
Macaúva, ARECACEAE Acrocomia aculeata Uricuri, ARECACEAE Attalea phalerata
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AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
Rabo-de-peixe, ARECACEAE Aiphanes aculeata Babaçu, ARECACEAE Attalea speciosa Pupunha, ARECACEAE Bactris gasipaes Butiá, ARECACEAE Butia odorata Butiá do Cerrado, ARECACEAE Butia paraguayensis Juçara, ARECACEAE Euterpe edulis Buritis, ARECACEAE Mauritia flexuosa Guariroba, ARECACEAE Syagrus oleracea Jerivá, ARECACEAE Syagrus romanzoffiana Pata de elefante, ASPARAGACEAE Yucca guatemalensis GRUPO I (CACTOS):
Figo da índia, CACTACEAE Opuntia ficus-indica Pitaya, CACTACEAE Hylocereus undatus Mandacaru, CACTACEAE Cereus jamacaru Dama da noite, CACTACEAE Hylocerus undatus Palma Forrageira, CACTACEAE Napalea cochenillifera GRUPO J (RASTEIRAS):
Abóbora, CUCURBITACEAE Cucurbita moschata, Cucurbita maxima, Cucurbita pepo Capuchinha, TROPAEOLACEAE Tropaeolum majus Radite peludo, ASTERACEAE Hypochaeris radicata GRUPO K (ÁRVORES COM FUNÇÃO MAIS ORNAMENTAL):
Samaúma, MALVACEAE Ceiba petandra Chuva-de-ouro, FABACEAE-CAESALPINIOIDEAE Cassia fistula Corticeira-serrana, FABACEAE-FABOIDEAE Erythrina falcata Bambu mossô, POACEAE Phyllostachys edulis GRUPO L (UTILIZADAS NO ESPAÇO RECREATIVO SETE COPAS):
Pequi, CARYOCARACEAE Caryocar brasiliense Jatobá, FABACEAE-CAESALPINIOIDEAE Hymenaea courbaril 398 Baru, FABACEAE-FABOIDEAE Dipteryx alata Monguba-preta, MALVACEAE Pachira insignis Sete-capotes MYRTACEAE Campomanesia guazumifolia Pitomba SAPINDACEAE Talisia esculenta
GRUPO M (FAMÍLIA MUSACEAE):
Bananeirade-abissínia, MUSACEAE Ensete ventricosum Bananeira de jardim, MUSACEAE Musa velutina Bananeira, MUSACEAE Musa X paradisiaca Sororoca, STRELITZIACEAE Phenakospermum guyannense Bastão-do-imperador, MUSACEAE Etlingera elatior Pacua, ZINGIBERACEAE Renealmia aromática GRUPO N (UTILIZADO NA ACADEMIA MUTAMBA):
Baru, FABACEAE-FABOIDEAE Dipteryx alata
FIGURA 1: Quintal da Família Dervaes, fonte: melhorviver.com.br. Acesso em 27 de março de 2018 FIGURA 2: os policiais em frente à estação policial orgulhosos do desenvolvimento dos vegetais cultivados no local. Fonte: usbeketrica.com. Acesso em 27 de março de 2018. FIGURA 3: Trecho das Hortas do bairro Tatuquara, Fonte: Ferrareto, 2015. FIGURA 4: Avenida das jaqueiras em Brasília 2016, constituindo assim um
figura possibilita observar o grande eixo que conecta todas as áreas do parque. Fonte: https://teoriacritica13ufu.wordpress.com/page/2/. Aceso em 14/06/2018 FIGURA 11: Vista aérea do jardin del turia, destaque para hemisferic e museo FIGURA 12: zoológico. Fonte: www.visitvalencia.com/que-ver-valencia/ jardines-del-turia. Acesso em 14/06/2018.
pomar urbano. Fonte:http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/cidadepomar-brasilia-tem-cerca-de-900-mil-arvores-frutiferas-em-area-publica/
FIGURA 13: Posicionamento da área projetual na cidade de Vitória e ampliação do entorno, estando a área do projeto destacada em vermelho em ambas. Fonte: adaptado de googleearth.com (adaptado).
FIGURA 5: Nesta imagem podemos percebemos a PANC de nome popular
FIGURA 14: Características da área. Fonte: googleearth.com (adaptado).
jasmim-manga (Plumeria rubra) amplamente utilizada no paisagismo das cidades que possui as suas flores comestíveis, exemplificando uma das diversas possibilidades de uso das PANC.
FIGURA 15: Goiabeiras e arredores em 1970. Destaque em vermelho para a área de intervenção. Fonte: veracidade.com.br (adaptado).
FIGURA 6: Implantação de uma floresta de bolso no Parque Cândido Portinari
em São Paulo. Acervo pessoal. FIGURA 7: Esquema de SAF com a distribuição espacial em faixas. (Manual
agroflorestal para a Mata Atlântica, 2007) FIGURA 8: Como exemplo de Sistema agroflorestal urbano, temos o Parque Ecológico Sitiê, o qual surgiu pela transformação de um lixão pelos moradores. Passaram 6 anos retirando 16 toneladas de resíduos do local e viram na implementação de vegetação uma forma de conter o depósito de resíduos. Então passaram a praticar a agricultura urbana e a criar infra estrutura como escadas e taludes nos 8,5mil m² de área.Em 2012 o parque do Sitiê foi reconhecido como a primeira agrofloresta do Rio de Janeiro pela Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura Municipal. Fonte: http://misturaurbana.com/2016/02/moradores-de-favela-alto-vidigalrj-transformam-deposito-de-lixo-em-parque-ecologico/. Acesso em 14/06/2018. FIGURA 9: Imagem das antigas passarelas de vigia. Fonte: https://www.
archdaily.com.br/br/763644/arquitetas-invisiveis-apresentam-48-mulheresna-arquitetura-paisagismo/55007abae58ecee4f10000e7. Aceso em 14/06/2018 FIGURA 10: esquema de implantação e planta do parque, sem escala. A
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Vicente Gonçalves Gewehr
FIGURA 16: Goiabeiras e arredores em 1978. Destaque em vermelho para a área de intervenção. É perceptível a grande expansão urbana identificada em oito anos quando comparado à vista aérea de 1970 (Imagem 15) urbana no atual bairro Maria Ortiz, onde residências foram construídas sobre depósito de resíduos. Assim como a ampliação do aeroporto e novas instalações da Universidade Federal do Espírito Santo. Fonte: veracidade.com.br (adaptado). FIGURA 17: Goiabeiras e arredores em 2017. Destaque em vermelho para a área de intervenção. Fonte googleearth.com(adaptado) FIGURA 18: Zoneamento da área de intervenção. Fonte PMV (2006). FIGURA 19: Espaços livres do entorno da área de intervenção, esta destacada em vermelho. Fonte: adaptado de googleearth.com (2018) FIGURA 20: Perspectiva com destaque para os espaços livres (em colorido) ao redor da área de intervenção (em vermelho) e ícones representando o público alvo e atividades ofertadas. Fonte: adaptado de googleearth.com (2018). FIGURA 21: Fotografia do espaço livre destacado em azul na imagem 20 representa o galpão das paneleiras a direita e deck em construção a esquerda. O galpão das paneleiras é um ponto turístico de Vitória, pois preserva o ofício da criação de panelas de barro de maneira artesanal, sendo esta atividade um patrimônio imaterial reconhecido pela UNESCO Fonte: acervo pessoal (maio 2018).
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 22: Fotografia da praça mostrando a academia popular e a ao fundo
um campo de futebol retratando a área em laranja na figura 20. No campo de futebol acontecem eventos esportivos, na academia do idoso a ausência de sombra impossibilita a utilização do espaço durante o dia Fonte: acervo pessoal (maio 2018). FIGURA 23: Fotografia do espaço público destacado em amarelo na figura 20,
no local existe uma diversidade de oferta recreacional como academia do idoso, boxa, quadra e palco.
APA: área de proteção ambiental APP: área de proteção permanente AU: Agricultura Urbana AUP: Agricultura Periurbana COHAB-ES: Companhia de Habitação do Espírito Santo
FIGURA 24: Fotografia do espaço público representado em roxo na figura 20.
CONAMA: conselho nacional do meio ambiente
É possível perceber o campo de futebol society ao fundo e o depósito de resíduos (lixeira) no local, assim como árvores exuberantes e espaços de permanência pouco convidativos.
CONSEA: Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
FIGURA 25: Diagrama de percepções sobre Goiabeiras (1/2). FIGURA 26: Diagrama de percepções sobre Goiabeiras (2/2). FIGURA 27: Perspectiva axonométrica explodida da área. FIGURA 28: Síntese projetual, adaptado de googleearth.com. FIGURA 29: Bajirú com frutos maduros. Imagem de Catarina de Sá. Fonte:
KRUEL 2006. FIGURA 30: Esquema de concepção do formato dos canteiros das hortas. FIGURA 31: Biergarten in Munique. Fonte: https://br.pinterest.com/
pin/566468459353150228/. Acesso em 10/06/2018. FIGURA 32: Croqui que representa os anseios para a área de mesas do Espaço Recreativo Sete Copas. FIGURAS 33: Figura 29: Parque Guliver em Valença. Fonte: https://br.pinterest. com/pin/380554237246578718/. Acesso em 10/06/2018. FIGURA 34: Parque Guliver em Valença. Fonte: reddit.com/r/architecture/ comments/7qoss4/the_parque_gulliver_of_valenciaphoto_from_2013misc/ . Acesso em 10/06/2018. FIGURA 35: Templo Tenryu-ji, Arashiyama, Kyoto, Japão. Fonte: www. insidekyoto.com/arashiyama. Acesso em 12/06/2018. FIGURA 36: Raízes da Samaúma. Fonte: caliandradocerrado.com.br/2009/05/
rainha-da-floresta.html. Acesso em 12/06/2018.
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AGROPARQUE EM GOIABEIRAS
IPHAN: Instituto do Patrimônio artístico e Nacional MDS: Ministério do Desenvolvimento Social PANC: Plantas alimentícias não convencionais PMV: Prefeitura Municipal de Vitória SAF: Sistema agroflorestal SMAB: Secretaria Municipal de Abastecimento FAAC: Fundo de Abastecimento Alimentar de Curitiba INCAPER: Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural
LISTA DE SIGLAS
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AGROPARQUE EM GOIABEIRAS