O Melhor Divã

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Victor Ferraz

O Melhor divã

Primeira edição

Vitrine Literária Editora 2011



À Dani.



Índice Parte um

Cityo Cultos, claro Vulto Poetraficante Desinocência Early Seventies Seus olhos Há um poeta em cima do muro Sentindo frio em minh’alma Lapso Dorian Caminho divino Divagação do estudante de história no bar Consensual A pior parte é quando fedem Post mortem Simples À passiva Canal Saint Martin

11 13 15 17 19 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49

Parte dois

Aquele Velho Olhando o calendário... Entramos em fila... O melhor divã Necrópole

53 55 57 61 63


Parte três

André e Gina I Promessa Promessa II Promessa III Augusta Lugosi II III IV V VI

67 69 71 73 75 77 79 81 83 85 87 89

Parte quatro

Agosto Carga Cavar Naufrágio À deriva Requisitos Não Sei Vítima Corda bamba Sincero Quebra Eremita do século 21

93 95 97 99 101 103 105 107 109 111 113 115


PARTE um A m達o na pena vale a m達o no arado. (Rimbaud)



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Cityo nasci num curral fora da manjedoura cultural no meio de espécies sem chifres me vi rodeado de cornos por temer minha crescente ameaça minha semelhança com filho bastardo da luz me enlaçaram injustamente virado de ponta pra baixo me botaram pra sangria cortaram profundamente a garganta na esperança d’eu parar de blasfemar insuportáveis realidades Maizé mió crussificá duma veiz do que tê que pensá passaram a faca entre as fendas da pata arrancaram os chifres e o sangue jorrou cobrindo sol terra rios e logo eu terminaria e tudo em 7 atos


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Cultos, claro!

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Adoro o que você escreve. As luzes, a cidade movimentada, baladas, tudo tão cheio de glamour, tão bucólico, né. maravilha de cultura! assistem Jô e portanto são a mais fina flor da sociedade brasileira Sou fã do Warhol, pena que no seu auge teve que ir trabalhar numa “Factory”. cultos, claro! conhecem Warhol e sua magnífica obra frente as esteiras na embalagem de sopas Campbell inteligência abençoada a dessas criaturas. poliglotas desde a maternidade eles arriscam na sétima arte Sétima?! Gente! Assisti ontem Laranja Mecânica. Maravilhoso! Uma obra-prima de Riticóque e flutuam para outros assuntos


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com a mesma sutileza de uma agulha arranhando um disco cultos, claro! brincam de roleta-russa com o dicionário marcam com a unha pintada de rosa pink com estrelas cintilantes uma palavra que usarão até a estação que vem ¹ cultos adj. pl. 1. Cuidado, esmerado, civilizado, polido, ilustrado.


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Vulto um vulto não se deixa prender não se pode tocar fumaça dispersa que se sente nos fios de cabelo perto do ouvido lhe fala que você inala e espalha com abanar dissipa subindo sumindo ventania pra longe se expande um gás que te vive ou que fechado em uma caixa de tijolos o espreme no frenesi fugir fora da mangueira Tífon assopra silhueta que quica entre pessoas permanecer jamais até que encontre


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um chão frio para calçar os pés e estático esperar esperar


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Poetraficante: o fornecedor não somos nada além de simples vultos através das vidas pulamos os muros escalamos a cidade passando pontilhões avenidas porcos chafurdando na lama para fornecer a mais pura evasão Vício: imediato Efeito: duradouro não há rostos nunca haverá manequins lisos sem história ou nome apenas números números números a serem ligados do celular e assim que termina começa a corrida vital até o ansioso consumidor num único cumprimento trocamos tudo droga-dinheiro


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que banca esse mercado e eu abasteço esse altar sumo quando um caminhão passa entre a câmera e eu deixando de vestígio mesmo que mínimo a influência devastadora sobre o oco ser apago rastros sou ninguém para autoridades inteligentíssimas repouso o corpo entre as sombras das grandes torres onde apenas o que brilha é minha caneta incessante e meu celular pertinente


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Desinocência Pra onde foram as músicas de correr contra vento que faziam voar seus cabelos sumiram aquelas cenas em que caminhava pelo tapete de concreto com os lábios sorrindo diretamente a alma e os rostos dos outros apenas borrões infelizes não interessam o close é seu desapareceu a surpresa dos flashes o olhar limpo a primeira vista descoberta de pensamentos cadê? os simples acordes na guitarra sem distorção até cair um solo humildemente improvisado


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Acaso encontrou seu destino traçou suas metas trilha agora de terno e gravata fala ao celular deposita seu dinheiro no banco não se rola da ladeira sem se preocupar com a cabeça nem mais dancing in the rain sem um convite Aquilo já foi feito. livre arbítrio foi planejado pensa no que amanhã vai pensar a ele foi aconselhado o que tem que fazer começaram anos atrás e a nós restou apenas seu replay. replay.


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nos olhos que não são inocentes não se enxerga apenas cores primárias a raça humana ficou dégradé viver por viver anda morrendo


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Early Seventies ingênuos Deuses andando sobre terra com pés descalços nas mochilas utópicas ideologias entremeadas contos de fada todo brilhantismo granulava espessas camadas de discursos moralistas falta de luz não afronta a claridade bobinhos. príncipes damas aventura com arte em punho combate ao monstro da mesmice inocentes perguntas no quinto planetinha vendo o claro lampião ascender uma nova estrela (ou flor)


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e apagar no tempo de ilusórios minutos de fama vida sacana não definiu trilhos deu liberdade em um caminho repleto de miragens abismos quais desmoronaram ruíram os olhos que enxergavam agora decompostos restos mortais de Deuses


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Seus olhos Olhos que me curiosam! Dadiva Capitu. De fato, Olhos que causam inveja a Bette Davis. De uma digna femme fatale. Olhos que jรก se mostraram frรกgeis, que jamais entenderei.


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Há um poeta em cima do muro que passa pé frente pé no bambo muro concreto, de asas abertas jogando de cintura ocidente-oriente sorte se meu Greenwich fosse apenas bipolar mas tridimensional ainda é pouco quando distorcido pelo tempo voltimeia me confundo falando que o outro é melhor que aquele que sou eu. e não posso ser assim? me dedicaram certa vez “desregramento do turismo interior” e quando me desregro me catalogam, nos assim e nos assados. Agora como Hilst Depois. Depois. Depois como Clarice Nos incluíram nos Fernandos! E agora José? Tá todo mundo tisperando i cê aí. Brincando de andá no alto. Desce que tu vai caí muleque! se a queda fosse literal seria menos doída. O Seu Lírico mando um e-mail ta lá se divertindo, te deixou na mão. Já disse pra descê daí! Mas nós continuamos firmes cambaleando pela rosa dos ventos


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agora eu os vejo por cima e reluzem ao sol suas cabeças desmatadas pelos anos. Todos “gling-glang”. no geral, então, sou Clarice Hilst de Andrade Pessoa? sou aquela paria sem catálogo o vírus que existe e complica? Sou um profeta-pássaro tentando bater asas e correr pro vôo. pro povo. prum dia, quem sabe, virá categoria pro dia que os mais novos (que verão por cima minha brilhante clareira) serão incluídos no que nessa se baseia um poeta em cima do muro.


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Sentindo frio em minh’alma (à João Bosco – Aldir Blanc / Elis Regina)

eu me tirei pra dançar dois pra lá dois pra cá enquanto lubrifico meus olhos com as tristezas que expurgo com mãos nos cabelos e pés na poça. rosto reluzindo a faixa pela qual escorrem meus suspiros o verdadeiro falso brilhante e as imagens crescem materializando-se em valentões da infância que me espancam, fazendo meus olhos incharem sem ao menos tocá-los. ficam evidentes olheiras de papel de seda roxo coladas dia após noite uma sobre a outra. o gelo já derretido enfraquece meu uísque curtido no clima à meia-luz.


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Lapso Pássaro sulfite desgarrado do bloco plana entre as altas árvores (minúscula em plana) arquitetadas. Os sóis ofuscam a visão daquele que observa. Eu. Uma manada apressada esbarra no observador que cambaleia. Foca a folha sulfite perdida entre os prédios o Sol ofusca o Relógio marca nossa manada anda.


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Dorian E os momentos esvaem-se. E quando esquecer sua beleza os olhos o lembrarão. Chora. E quando as lágrimas escorrerem por fossas definidas, e a água vazar pelos afluentes da palma e a única lembrança, os olhos, daquilo que foi. Os olhos brilhantes e a boca entreaberta. Encolhe a face dilatada no aconchego da fina seda.


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Caminho divino A voz materna impõe: tua cria deve estar próxima à sua imagem criadora Ao clero que com as mãos de unhas sujas juntas frente à batina esconde a excitação da carne trêmula - Não falais Teu nome em vão! cospe pelo ânus para as latrinas infantis e pisca para seu pupilo. Querubins dos nichos ouvem: - Oh Deus! Oh Deus! grunhidos sobre um anjo que sufoca sob a gordura mole de luxúria.


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Divagação do estudante de história no bar Croquete pensa, logo croquete existe? Somos todos feitos a partir da mesma receita? saborosa carne, sabor que nunca saberemos reprovado pelos croquetes-pensantes assim como sentir a textura crocante da nossa croquete-eva. Desde que me entendo por massa, assim que croquete sai do mar borbulhante só tem uma finalidade: servir. servir sem muito acompanhamento pelo visto. Croquete em mim? no estômago. Em si, petisco. Garçom, me vê mais uma porção!


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Consensual Tem dias que acordo estuprado parasitas clandestinos interrompem minhas sinapses Levanto fecundado pelo zigoto do desconforto. e massageio e apoio e descanso mas meu feto cresce aumenta fermenta minhas idéias recuso abortar o cordão nutrindo meu pensamento vital minha anatomia se deforma e meu crânio pressionado não acha a posição na cama. acode! acode, a bolsa estourou! Prematuro! sem tempo ou tira ou óbito! provoco parto forçado sem cesárea espremem meu lobo temporal contrai! ofego ofego, e afago... repouso no virgem plano branco o filho do encéfalo tensionado.


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A pior parte é quando fedem mas param de incomodar. Samsa metamorfoseado me acusaria de psicopata e desejaria meu coração queimando na luminária do teto mas minha carapaça é de quitina meu coração não arranca facilmente. me acusaria de ter sangue de barata de fato, agora eu tenho.


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Post mortem O banheiro. Parte mais fria do ninho Parte do reflexo cunhado diariamente Sabe tudo, já que viu. Sorrateira imagem te chama à chama à água rubra. escorre pelas bordas rotineiras, rotineira chacina!


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Simples Terça que parou parecia um domingo plena e oscilante. A rua me chama única interessada na minha presença. Tão solitária quanto eu. Me envolvo facilmente com aquilo que não há, aquilo que não acontece. Saio E caio Na frente do incrível silêncio Entre um fogo e outro anestesiado pela pequenez que rodeia a vida que se faz de grande. Volto para o recôncavo solitário o qual se transformou o quarto Frio. (15/06/2010 – Comemoração Copa do Mundo)


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À passiva sobre lençóis deito outro corpo me segue atrás seu Sonho se colou à minha ventosa Ativa. se rebelam os cabelos contraio. os olhos eu fecho Olho eu tento O prazer se revela. Olho eu fecho Impulso. se revela o prazer.


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Canal Saint Martin As gotas chuvosas paralelas à cachoeira que esvazia o aquário e do cardume o único desaba na correnteza. Mira a distorcida imagem do passado e sua antiga morada solta pela rubra octogonal partilhando com a mocinha de olhar pesado. O passado e nada mais Mas o cardume do eu sozinho Formaria.


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PARTE dois A verdadeira vida estรก ausente. (Rimbaud)


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Aquele velho Aquele velho, tão velho cambaleando pela estreita calçada com um olhar que atravessa carne. mórbido sem rumo e de mãos ocupadas sua vida contada por um único dente restante a identidade encoberta pelos largos calos nos largos dedos comove a situação como vê o seu redor a passagem de um lenço jovem ao seu lado reflito nos olhos cheios d’água último suspiro daquele rapaz esquecido da cidade


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Olhando o calendário de perto os dias passam como régua cega num espelho embaçado vivendo apenas um dorme e acorda incessante até que algo emerge banhado por esse tempo escuro serve de alerta rouba meu calendário e taca longe atropelamento infarto aquela fisgada no peito toda madruga às quatro horas na casa estéril é a surpresa de enxergar os anos e não há nada que console as lembranças das caminhadas na praça os braços esticados para entrelaçar os laços dos dedos que na memória são flashes em sépia


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tudo tão distante e o medo de algum dia perder essas fotografias em porta-retratos de metal esquecer os protagonistas desse filme que roda a uma eternidade para uma sala vazia e com um único vestígio de que existiu alguém pipocas amassadas no chão gélido tanto quanto essa folha indiferente à humanidade alguma passiva e cômoda que sofre os arranhões pesados de uma mão que desmanchada de nós agarra uma escalada cheia de pedras podres para chegar à sua nova superfície


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Entramos em fila no lar esterilizado nossos rostos de finos contornos riem sem barulho as almofadas continuam no lugar quando uma batida forte e rĂĄpida enforca o ar. Isso soa como liras. Pego meu assento em volta da mesa circular o espelho me chama viro e arrumo meu cabelo desviro e meu reflexo agora vejo na garrafa. Pegam as cartas me empurram as regras medem as doses. na primeira perdemos o brilho


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dos olhos na segunda nossas linhas se dissipam e copo a copo o que perdemos em aparência ganhamos em vitalidade. as paredes brincam de girar agora gargalhamos a beleza afasta-se e aproxima de mim esse cálice que abraço junto ao peito arremesso copos ao vento e como se direcionado atinge uma balança dourada o liquido de nosso batismo acaba trazem o vinho e todos levantam suas cortinas retiram seus cabrestos e cortam a linha do limite.


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toda nossa pele se encontra com a brisa que conduz nossos movimentos desregrados uivamos enquanto dançamos até que um dardo atinge o centro da noite tudo para. extasiados e transeados nossos olhos enxergam além do teto gorduroso vemos quem sussurra a verdade sem espelhos vemos as imagens palpáveis de nós mesmos


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O melhor divã Despejo o celofane transparente no copo opaco. 45% de liberdade mais menos. O simples sobe rápido com calos no estômago e garganta exercíto movimentos anárquicos todo final de tortura (o que torna mais afetuoso nosso encontro). salpico o limão. deixo no ponto. pronto? Eu nunca beijei alguém do mesmo sexo. passa. passa. vai! Viro! Chupo seu doce suco. minha grossa garganta Arghde! Rosé Cuerbo. ritual que sou fiel. saio. Me liberto com alguém em cima do muro. queimo minha semana de sabor cereja desenvolvo incríveis habilidades manuais manuseio incansável abro seus lábios verticais. Desejo em forma cor de cereja. veriam suas almas refletidas no espelho se tivessem uma. Talvez um ou dois ainda tenham. esforçam-se para deixar a linha reta Dominantes. Isso é o que sobrou pra dominarem... (apresentam-me as ina’s) ... em nossas vidas. A única química que importa.


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e tudo gira rápido. rasgo meus pensamentos prévios. afasto pra poder ver melhor. abro mão da alma pra poder me conhecer. embora longe seja um alvo fácil agora tenho a mim ao meu lado.


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Necrópole toda a merda exalando de fendas na calçada doenças trepando suavemente em burros outros entregando seus prazeres deflorados olhos virados à noite fardada caras que se deixam iluminar pelo brilho das algemas pegajosas sob esse tapete de piche existe respirando purpurina vencida junto à cocaína a Necrosfera onde fracos são subjogados diante calças de couro envernizado o sopro como veneno espanta os ratos afloram superfície ratazanas abastadas gastando influência atrás de algum novíssimo fiapo pupilo


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que ainda não consta no catálogo mensal


PARTE três A moral é a fraqueza do cérebro. (Rimbaud)


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André e Gina nos becos nas trincheiras ela de olhos pintados ele de nariz branco madrugada que André e Gina tornam-se um movendo com vaselina na margem ajoelhados em frente saliências crânios enrubescidos lábios cigarreados queimados até as cordas soltando melódicos grunhidos na hora que o submundo emerge nas ruas toque profundo e curvo me mandam e obedecem nos becos nas trincheiras eu de olhos pintados eu de nariz branco.



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I André

A rua à frente gargareja olhares reagindo por medo dos que os veem por cima. A rua à frente lhes ilumina e estoura em possibilidades. E a mim (que deseja seu lado direito) resta resto.


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Promessa I Vic Ferraz

e você quer liberdade... volta! vou te dar asas! assim poderá voar quando e quão longe quiser! Ícaro ingênuo que quer o Sol caso, algo aconteça meus flácidos braços vão te salvar tenha certeza!


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Promessa II Vic Ferraz

jamais direi que o mar que te afoga são minhas lágrimas! e que o seu sufoco são minhas mãos no seu pescoço! que o sol que tanto quer são meus olhos que te invejam! e o buraco em que jaz, é minha boca que te deseja!


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Promessa III Vic Ferraz

quando pensei que Ícaro cairia me enganei voou mais alto rumando o sol. e sem ter como remar (culpa dos braços flácidos) afoguei em minhas próprias lágrimas.


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Augusta André

Usando seu belo vestido comprido de seda preta Augusta que me puxa os cabelos Augusta que urra com a minha boca sob sua saia. Augusta a bela dama de olhos néons e 9 mm preso na meia calça Somos cobras calçando oxford rastejando nas múltiplas estampas de sua pele pálida somos André e Gina. Párias de nariz branco e olhos pintados Augusta que geme enrolada junto ao vicio que queimo constantemente. Augusta que me batiza bebida que arde garganta e me faz ver Augusta pelos olhos fluorescentes pulseiras no meu braço que dançam no escuro som dos gritos de Augusta que nos limpa do canto da boca com língua afiada noite adentro de si. Augusta que me fuma Augusta que me cheira Augusta que me bebe Augusta que me entende e isso basta.


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Lugosi André

Corre com a mão pela conhecida velha jovem estrada escala suavemente As unhas demarcam as veias sulcos quentes vermelho úmido no chão esculpe As cortinas rasgadas voam fantasmas translúcidos queimam fora corpo arde A cruz é fraca contra espada reta forte avança morto Vivo como nunca


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II Gina

A rua é infinita, também em possibilidades explode E a mim (que deseja o simples) me recebe com mão dupla Ela gargareja em olhares Lâminas polidas, tão polidas que me iluminam Seus becos não me afugentam.


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III Gina

Fazia tempo que a rua não via e que suas luzes nada iluminavam mas no beco do escuro dessa vez matei em mim a vontade. me envolvo com os braços e percebo que não é tarde que infinito em possibilidades é também a casa.


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IV Gina

Na casa que coloco os pés pra cima onde no final do corredor se junta ao silêncio o som do chuveiro Deixo a água lavar da lama seca o corpo


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V Gina

Enrolo no cobertor eu como no papel o fumo a cabeça leviando pernas pesando são Atlas sob o peso do caderno a cada acende apaga do abajur estou sentada em outro lugar.


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VI Gina

Me deito para sentir que vivo reta, m達os sobre o peito me vejo sobre bosta esgoto viscoso no qual meu caix達o flutua seres deformados me acorrentam a pedras a perdas malham meus olhos inveja pelos seus de est叩tuas gregas abro os reais e morro mais um dia


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PARTE quatro O amor deve ser reinventado. (Rimbaud)


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Agosto Agosto gotas chuvosas caindo no dia ensolarado. o não. desgosto triste des(a)gosto frustração na cama ou ela vazia Agosto desgosto só. des(a)gosto noite escura o clichê anual mais uma vez desgosto passante. des(a)gosto Agosto


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e quando de forças exaurido deitar em cruz no chão suas esqueléticas mãos se tornam fofas para deitar a cabeça do seu mais um filho (com o mesmo sorriso afiado) na estreita cova que me cabe

cobre meus caminhos debaixo da pança restando escalar seus atalhos pré-fabricados

carregar anos deixaram as costas robustas montaram sobre mim e me fazem rastejar mais rápido! com um chicote rasgando feridas me movo pela suposta alforria das garras da vida que me espora a virilha ela me olha sob sua vista contorcida profunda sombreada por seu chapéu me convence com largo sorriso afiado de toda liberdade do mundo

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Carga


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Cavar Crava aquelas unhas cor rosa desmanchando ventre adentro impurezas amáveis alojando entre carne queratina cava pisca cava sua desespero cava cava lágrimas ao menos amolecem a terra vestido de seda jaz rasgado no galho do auge contorcido nua de dedos corpo sentidos degradê nos olhos aprofunda garra nas entranhas da fama ferida onde? sangue? suja cara com lama hemorrágica


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cega pra contar os palmos ao sétimo cai feito feto de volta ao útero hemofílico


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Naufrágio oscilante fluido total descendo o corpo resquiciando vida pelas bolhas peso espesso declina por natural densidade arrastando fundo adentro o cadáver social grosso barbante gangrena a perna com pressão ameaçada por vários indicadores matéria concisa esconde sem furos uma esponja inexorável demolição do imaginário arranha-céu braços flagelos em queda livre não sustentam a dúvida em decisão


concreto solúvel preenche os nichos profundos da submersa satisfação


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À deriva Ao longo da costa penumbra chega assim como a onda arrasta a praia e no olhar distante, encontro esfoliação com cinzel silcando as rochas cômodas evidências somem a cada passo, que para mim, piso através de teclas monofônicas declaram ecos, sonantes realidade na instabilidade dos sonhantes marcas que perduram como um grito submarino. seu máximo. ficando perdido no passado, do passado. eu bailarino para molhar os pés, perco meus sapatos, e meu álbum de velhas fotografias nas espumas, brumas.


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Requisitos para começar uma relação marquei as alternativas correspondentes ao meu humor atual burocracia! enlouquecem quando foge subitamente do perfil assinalado seus gráficos distorcem sucumbem ao tão adorado caos isso te ferve arranca da sua mão a bula do meu eu como deve agir quais contra-indicações você me tomou de overdose perdeu as instruções do jogo que já não tinha regras preestabelecidas e com palavras difíceis demonstra sua ira(onia) de uma forma tão oscilante quanto a que condena em mim


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Não sei já sei que não foi a poesia o que eu perdi. e sendo específico desse jeito, sei que cedo não vou achar saí rodei andei passei olhei sorri falei rodei de novo voltei mas ainda não estou aqui rabisco qualquer coisa no canto da folha pra pensar e enquanto não acho o que não sei escrevo sobre a perda pra me preencher de entusiasmo até


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me tocar de que ainda n達o achei


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Vítima você joga a toalha muito rápido e se não bastasse cai sobre o ralo que escorria os fluídos de suas feridas mestre dos extremos se mantém constante oscilação com um freqüência e intensidade que te ensurdece e labirintita fazendo-o fechar os olhos pra não cair sob o pano a pressão aumenta arrrrrranca libera esse esgoto podre de água bordô não soque mais agulhas nesse boneco autoretratado você chora pelo seu choro


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Corda bamba conciliador de nascença todos são bons até que se prove o contrário e o contrário já se provou e de sapos transborda a garganta me faltam as fronteiras nossos espaços cruzam interceptam linhas e acabo apertado entre pedregulhos monstros e severos falta a dinamite pra explodir na cara dum carne contra carne até tirar leite das pedras me faltam ossos largos pra deixar de ser ideia e passar a ser ação


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Sincero nos vejo nessa noite como o refrão daquela centésima-vez-ouvida música. eleva. livre céu alcança nossos braços esticados atrevido estrelas-holofotes transitam sob ordem nenhuma sem baco ou apolo rodamos na reveladora madrugada de risos fáceis onde não importa os donos dos tais olhos de estátuas gregas onde dentro sabemos que há algo além de agir sob meras opiniões provincianas me expulso o ego e feliz por felicidade abro os olhos enquanto céu se amanhece e aproxima do chão todo seu infinito...


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Quebra as únicas testemunhas eram as estrelas das quatro rodas que seguiam as dianteiras pelo quase homogêneo caminho de piche santa Teresa nas curvas balançava certa segurança a imagem lhe dava sem tempo para que se espreguice o dia inteiro no caminho corria à noite a situação se estendia Hera prepara o revide em um campo de macieira na encosta havia um belo jardim de rosa a mão caída sobre as flores não lhe provocavam mais dores na costela a foto de sua amada sem vida e sem rosa a ser retomada


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Eremita do século 21 rosto liso óculos de grau e sem sair da cadeira largou do mundo primeiro deixou de visitar seus endereços favoritos ficou um pouco atônito olhos de barata tonta encheu seu lixo de piadas #fail alguns spams mas firme seguiu pelas janelas na barra de tarefas redes sociais genocídio! largou todos os perfis reais ou não. insira a senha. conta excluída uma lágrima ameaçou ser formada mas formatou fundo seguiu. bloqueou seus contatos e


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contatos-enfeites lembrou-se de esquecer os cรณdigos que ligavam seu passado desacoplou da trama binรกria sumiu nunca mais o viram chamaram de louco dois dias esqueceram com folhas debaixo do braรงo fugiu pra realidade. @eremita_sec21 #Partiu


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Não somos sérios aos 17 anos.


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Este livro foi impresso em papel offset 90 gr, pela Vitrine Literária Editora: (17) 3033.7200 contato@vitrineliteraria.com.br www.vitrineliteraria.com.br A impressão da capa e o refile final foram feitos pela Gráfica São Sebastião: (17) 3215.0700 grafica@impressorass.com.br www.impressorass.com.br




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