GABRIEL KLEIN | grão ed.1

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TODOS OS DIREITOS RESERVADOS © VICTOR CORREA, 2015

PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL POR QUALQUER MEIO DE IMPRESSÃO, OU EM FORMATO DIGITAL EM FORMA IDENTICA, RESUMIDA OU MODIFICADA, EM LÍNGUA PORTUGUESA OU OUTRO IDIOMA.

CRÉDITO DAS IMAGENS TODAS AS FOTOGRAFIAS DESTA PUBLICAÇÃO PERTENCEM AO ACERVO PESSOAL DO FOTÓGRAFO GABRIEL KLEIN. SUA REPRODUÇÃO OU CÓPIA É PROIBIDA SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO.

DESIGN, PROJETO GRÁFICO E EDIÇÃO VICTOR CORRÊA TEXTOS DE VICTOR CORRÊA FOTOGRAFIAS GABRIEL KLEIN

ESSA PUBLICAÇÃO FOI DESENVOLVIDA DURANTE A DISCIPLINA DE PROJETO VII DO CURSO DE DESIGN NA PUC-RIO. COM ORIENTAÇÃO DAS PROFESSORAS SUZANA VALLADARES, PRISCILA ANDRADE, VERA BERNARDES E EVELYN GRUMACH.


UMA PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL , COMPOSTA POR TRÊS LIVRETOS. CADA UM CONTÉM UMA SELEÇÃO DE FOTOGRAFIAS DE TRÊS FOTÓGRAFOS DIFERENTES. OS LIVROS COMPOEM UM TRÍPITICO NA MESMA EMBALAGEM DEVIDO A RELAÇÃO EXISTENTE ENTRE O TRABALHO DE CADA FOTÓGRAFO, MAS PODEM TAMBÉM, SER ADQUIRIDOS SEPARADAMENTE. E S S A P U B L I C AÇ ÃO A P R E S E N TA O O L H A R D E F OTÓ G R A F O S QUE FAZEM DOS SEUS REGISTROS ANALÓGICOS SUA FORMA DE EXPRESSÃO E APRESENTAM UM NOVO OLHAR, SOBRE UMA NOVA SOCIEDADE. CADA VEZ MAIS INTERCONECTADA, IMEDIATA, QUE NECESSITA CONSUMIR A MAIOR QUANTIDADE POSSÍVEL NO MENOR ESPAÇO DE TEMPO. A PUBLICAÇÃO PROPÕE ENTÃO, QUE SE TOME UM TEMPO PARA APRECIAR, CONTEMPLAR E IMERGIR NA FOTOGRAFIA, E SE DISTANCIAR, POR ALGUM TEMPO, DA CORRERIA DO DIA-A-DIA. ENTÃO SEPARE UM TEMPO PARA IMERGIR.


GABRIEL TEM 25 ANOS, FOTOFRAFA DESDE 2009, E É GRADUADO EM FOTOGRAFIA. JÁ TRABALHOU COM A FOTOGRAFIA EM DIVERSOS CAMPOS, E HOJE SUA PRODUÇÃO FOTOGRÁFICA EXPRESSIVA É DE MODA E SKATE. ALÉM DISSO, KLEIN TEM UM PROJETO DE FOTOGRAFIAS EM FILME CHAMADO “ TODAY’S 35”, ONDE FAZ O REGISTRO DO SEU COTIDIANO, NUMA ESPÉCIE DE DIÁRIO DESPRETENCIOSO, AUTÊNTICO E SEM PREOCUPAÇÃO. KLEIN REGISTRA TUDO COM CAMERA VARIADAS E DIVERSOS TIPOS DE FILMES. SEGUNDO SUAS PRÓPRIAS PALAVRAS O PROJETO É “UM CAOS ORGANIZADO, SEM MUITO COMPROMISSO C O M NA DA , FA Z END O F OTO S TO DO SA N TO DI A . . . 6

ONDE, EVENTUALMENTE, QUEM FAZ PARTE DA MINHA VIDA VAI APARECER.” O PROJETO É PUBLICADO ONLINE E ATUALIZADO CONSTANTEMENTE. WWW.TODAYS35.TUMBLR.COM


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“A F O T O G R A F I A É A F O R M A D E C O N S E G U I R E M P R E S TA R O M E U O L H A R PA R A A S P E S S O A S .” GABRI E L

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ENTREVISTA COM GABRIEL KLEIN

EXPONDO O PROCESSO

Q UA ND O E C O M O CO M E ÇO U S E U INT ER ES S E P E L A FOTO G RA FI A?

Cara, eu estava no terceiro ano do colégio e não sabia o que fazer da minha vida... Estava perdido fazendo vestibular para engenharia civil. Na real, antes disso, eu não sabia o que ia fazer, época de vestibular, precisava decidir uma carreira pra fazer, ai eu falei beleza, o que eu vou fazer?” “o que eu sei fazer bem? nada...” “o que eu gosto de fazer? nada também, não sei...” Naquela época eu não tinha muitos hobbies, eu jogava basquete, jogava futebol americano, era uma coisa que eu gostava de fazer, mas não dava pra ser jogador de futebol americano profissional. Ai o que eu fiz? Comecei a descobrir as carreiras e ver o que era mais interessante. Ai eu descobri que eu gostava muito de trabalhar com estética, com imagem e pensei “Arquitetura! Que legal. Decoração, montar uma casa, etc.”, ai jogaram no meu ouvido assim “cara, não faz arquitetura, faz engenharia civil. Porque engenheiro pode quebrar parede e ganhar mais.” Então eu falei “É isso que eu vou fazer”. A galera falava que se eu fizesse arquitetura eu ia virar decorador... O pessoal não sabia na época o que cada profissão fazia, era tudo muleque que nem eu. Ai eu fiz vestibular pra engenharia civil, e nesse mesmo ano do vestibular, eu comecei a andar de skate, matava aula numa loja de skate perto do colégio. Eu nem andava de skate, mas matava aula lá. Ai a galera andava de skate, começaram a me incentivar e eu comecei a andar de skate também. A gente saia da tijuca, e ia dar rolé em ipanema, ou ia pro estacionamento do extra que é lá na tijuca. Nesses rolés eu comecei a aprender algumas coisas, comecei a me divertir e comecei a levar uma camerazinha muito zoada, que era uma camera da HP de 7 megapixels que veio junto com a minha impressora, e comecei a fotografar com essa camerazinha que era muito irada, ela tinha um delay de 1 segundo e meio, era uma merda. Ainda mais pro skate né. Mas era irado, porque eu comecei a registrar os rolés, fazer uns videozinhos. Tenho video até hoje em algum lugar. Isso eu nem tinha computador direito, não sabia nada da vida, mas comecei a fazer uns videozinhos, porque é legal quando você está aprendendo alguma coisa você registrar a evolução. Você registra tudo que você aprendeu a fazer e os amigos. Totalmente registro. Isso tudo rolou na época do orkut, e ai eu comecei a ver que a galera começou a pegar as fotos que eu fazia e começou a usar no orkut. Ai eu falei “Que foda, mó galera colocando na foto de perfil, botando foto no album e tal. Vou começar a assinar”.

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E então eu comecei a assinar as fotos com G. Klein e ai outros fotógrafos na época começaram a falar que minhas fotos eram legais, interessantes, falando que tinham alguma coisa nas minhas fotos. E eu comecei a brincar de editar as fotos, não era nem com photoshop na época, não entendia nada, não gostava de editar também. E uma galera da fotografia, fotógrafos profissionais mesmo, até um cara que trabalhava com a analógica chegou pra mim e falou que eu devia comprar uma camera analógica e eu falava “tá maluco, cara. Não tenho knowhow pra isso, é difícil, complicado”, se eu tivesse ouvido esse cara na época... Quero até reencontrar esse cara hoje. Então, comprei uma camera digital, ganhei na verdade, comecei a curtir, mas era bem zoada também, era da minha mãe, mas muito ruim também. Mas a partir daí eu tinha uma camera um pouquinho melhor, e comecei a fazer mais fotos. A camera era manual já, tinha como regular. Comecei fazer fotos com ela e comecei a gostar da parada. Ai eu conheci uma família de fotógrafos, que era um casal e eles tinham 2 filhos. Os dois estudavam em um colégio particular, o dois do casal [pai e mãe] tinham carro e uma casa própria, e ai eu pensei “Ué, dá pra viver disso aí, né?” Comecei a descobrir que alí existia uma profissão também, eles me incentivaram e eu descobri o curso superior de fotografia, passei no vestibular pra engenharia civil e uma semana antes de me matricular eu mudei para fotografia. Não tinha certeza de nada, mas fui fazendo pra

ver qual era e acabei me encontrando, não tinha nem camera direito quando entrei na faculdade. Nem sabia se era aquilo ainda... Minha namorada na época não me apoiou, falou que não queria me ver morrendo de fome, a gente terminou (não por isso), mas enfim, foi feio. A minha mãe me apoiou claro, ela foi fotografa, mais de fotojornalismo, fez foto de teatro antigamente, mas o meu pai, que não é meu pai de verdade mas é o cara que era minha figura paterna, não me apoiou também, não levava a sério, ainda mais tirando foto de skate. Ele achava que skate era zoação, era brincadeira, porque skate pra ele até hoje é isso. Só minha mãe me apoio. E deu certo né? Quando eu ganhei meus primeiros 6 mil reais em um trabalho meu pai começou a falar sobre. Ganhei 6 mil num dia, nunca vou esquecer. Ele falou “Po, é mesmo é? Nossa legal” e aí ele começou a encarar como profissão. Ai ele deve ter pesando, imagina se fosse todo dia assim né? E eu também... Isso foi logo no início, um trabalho grande sabe. Foi legal, por indicação e tal. Muito maneiro. Meu primeiro trabalho grande, que eu vi e falei vai dar certo!”. H Á Q UA N TO TE M P O FOTO G RA FA?

Eu fotografo desde 2009, mais ou menos. Foi quando eu comecei com essas cameras zoadas, em 2010 já estava na faculdade, matriculado e comecei a fotografar mais sério, sabendo um pouco mais do que eu estava fazendo. Mas fotografo profissional mesmo, ganhando grana sendo fotografo foi em 2011 eu acho,


por aí. Mas me encontrando mesmo, como fotógrafo, foi ante-ontem, sabe. 2013. Que foi quando eu me defini, que eu descobri que eu era fotografo de skate e moda. Fiz faculdade, depois da faculdade fotografei um monte de coisa e eu gostava de tudo. Fiz evento, fiz casamento, fiz night, fiz show, fiz moda, fiz tudo. E demorou pra eu descobrir o que eu gostava, eu gostava de muita coisa. Amo fotojornalismo, acho algo muito incrível. Eu fotografei as manisfestações de 2011, achei incrível, mágico. Antes das manifestações na verdade, rolou um ataque do PCC em São Paulo, lembra? Eu estava na faculdade ainda, eu acho que era 2011. Eles estava queimando onibus em todo lugar, e eu estava com a camera pra lá e pra cá. Foi na época que eu estava fazendo na faculdade a matéria de fotojornalismo. E eu andava com a camera de um lado para o outro torcendo pra acontecer alguma coisa do meu lado. E aconteceu. Tacaram fogo em um ônibus, eu fui o primeiro a chegar, fiz altas imagens. Fiz imagem do ônibus pegando fogo, do cara fugindo, do morado

por adrenalina. No colégio eu comecei a jogar basquete, me apaixonei. Depois fui jogar futebol americano, me amarrei. E a adrenalina estava sempre alí. Comecei a andar de skate depois, ai andando de skate eu quebrei o crânio, aí fiquei afastado do skate e do futebol americano, e fiquei assim “Cara, preciso resgatar a adrenalina”. Adrenalina vicia, é uma parada meio química mesmo. É que nem droga. Quando o cara ele é viciado e quer cada vez você mais aquilo. A adrenalina funciona dessa mesma forma. E a adrenalina sempre esteve presente na minha vida, primeiro jogando basquete, depois com o futebol americano e skate. Depois que eu quebrei o crânio no skate, eu não podia fazer isso. E ai eu me encontrei nas manifestações, fotografando. Porque era incrível, eram bombas, tiros, porrada. Tomei porrada, tomei bomba de gás lacrimogênio, várias coisas aconteceram comigo. E tinha muita adrenalina, e eu me encontrei com a fotografia misturada. E então juntou as duas coisas, o vício pela adrenalina e a paixão pela fotografia.

EU ME REENCONTREI FOTOGRAFANDO NAS MANIFESTAÇÕES. ERA INCRÍVEL. ERA BOMBA, TIRO, GÁS LACRIMOGÊNIO... MUITA ADRENALINA, E A FOTOGRAFIA MISTURADA. ENTÃO JUNTOU AS DUAS COISAS, O VICIO PELA ADRENALINA E A PAIXÃO PELA FOTOGRAFIA. correndo pra jogar água no fio, porque tava pegando fogo no poste na frente da casa do cara... Bombeiro chegando, polícia chegando, a guarda municipal chegando, defesa civil. E foi muito legal, me amarrei na adrenalina. Sempre fui apaixonado

S UA PRO D U ÇÃO A N A LÓ G I CA VA I MA IS O U MEN O S P O R A Í , CE RTO ? Q UA S E U M F OTOJ O RN A L I S M O ?

Sim, é street photography total. É dia-a-dia, cotidiano, lifestyle. É muito mais um registro do que uma obra de arte, digamos assim. São pequenas

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narrativas, pequenas histórias. Todo um assunto, um sujeito, uma história ali por trás. É um registro forte de alguma coisa que aconteceu e que eu vivi, do que eu vejo. O Q U E S IG NIF IC A A F OTO G R A F IA PR A VO C Ê?

A fotografia significa várias coisas. É não só um registro do real, do que vo c ê está vendo, c omo de um ac onte cimento, de uma geração. Muita gente vem me falar isso, que meu projeto [Today’s 35] é um registro de uma geração. Achei muito legal quando me disseram isso, porque é realmente o registro do comportamento de uma geração.

INTERESSANTE COMO TUDO ISSO FAZ PARTE DO REGISTRO DE UMA GERAÇÃO. TALVEZ DAQUI HÁ 10 ANOS, LÁ NA FRENTE, EU OLHE PRA TRÁS.

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Uma galera que não se preocupa muito com a nudez por exemplo. Antigamente quando eu era mais novo, vazava um nude de alguém era um escândalo, era tipo “vazou na net”. Era horrível. A mina mudava de colégio, era falada. Hoje em dia a galera troca nude, né cara? É uma coisa muito interessante porque no tumblr [site onde Klein publica as fotos do projeto] está começando a aparecer muita gente pelada, muita gente doidona, fazendo doideira. Antigamente, mesmo a galera mais velha na época, era muito mais recatada, eu acho. Hoje em dia é interessante essa banalização da nudez. A galera fotografa nude, troca nude e não está nem aí. Tem muito peitinho no tumblr. Isso

é muito interessante e é só parte do registro de uma geração sabe. Fora a galera se drogando muito, né? Porque o site tem dois padrões; as meninas peladas, fazendo xixi na rua e muita gente fumando maconha. Não sei se antigamente era assim, mas eu acho interessante, também é outro registro de uma mesma geração. O pessoal fala que a galera está muito moderninha, eu discordo. Na época de 70 o pessoal cheirava pra caramba, tomava lsd, ficava locão. Era muito mais moderno do que hoje em dia. Ao mesmo tempo tem esse lance de nudez, mas o woodstock tinha um monte de gente pelada, transando nos campos abertos. Eu não vivi isso pra saber. Mas esse negocio de estar muito moderninho eu discordo disso aí. É interessante como tudo isso faz parte do registro de uma geração. Talvez daqui há 10 anos, lá na frente, eu olhe pra trás, veja o tumblr e fale “Nossa, olha que legal como a galera era naquela época”. E não só isso, em relação a moda também, as vestes... A galera se vestindo de tal maneira, se comportando de tal maneira. Porque normalmente eu fotografo no projeto não só o dia-a-dia, mas também a diversão. Quando a galera está curtindo, sabe? Festinhas eu estou sempre com ela [a camera]. E é muito interessante isso. Eu realmente estou curioso pra daqui há 10 anos olhar pra trás. Então, nesse projeto no caso, a fotografia significa o registro de uma geração, de um tempo. E na fotografia em geral é... a forma de eu conseguir emprestar o meu olhar


para as pessoas. É conseguir externalizar uma coisa que só eu vejo. A fotografia é muito interessante, porque quando você fotografa alguém, você está emprestando seu olhar, é como eu te vejo, sabe? É muito foda. Eu fiz muito nu a partir de 2011, e era muito isso. E isso mexe muito com a auto-estima, com o ego. Porque as pessoas falam “Nossa, olha que interessante como eu sou bonita”. É muito legal. É a forma de você materializar sua visão. E a visão não quer dizer literalmente o que você está vendo, mas o que você enxerga. Ver e enxergar são coisas completamente diferentes. Por exemplo, todo fotógrafo enxerga muito mais. A maioria das vezes as pessoas só veem, enquanto o fotógrafo está enxergando. Você vê além. A fotografia te permite interpretar e externalizar e passar o que você está vendo. É um uma coisa de próprio perspectiva mas também tem esse lance de compartilhar com o outro a sua visão. O fotógrafo é isso, é o cara que aponta a camera, e mexe meio centímetro pra esquerda porque sabe que isso muda totalmente a fotografia. Você descolou uma textura de outra, a luza bateu da forma que você queria. A fotografia te permite isso, né? Pra mim não é “A escrita com a luz”, acho nada a ver essa definição. QUAL A SUA RE LAÇ ÃO COM A FOTOGRAFI A?

Amor e ódio. Dependência, quase. Ódio não, na verdade é dependência só. Ódio porque é caro, né? Ainda mais filme. Eu não tenho mais muito

tesão em fazer digital, tenho muito mais vontade de fazer analógico. Acho muito mais divertido. E eu fotografo todo dia da minha vida, eu me sinto nu se eu sair sem a camera. Eu fico mal de ficar sem a camera e de ficar sem algumas coisas que eu precisava ter para baratear meu processo e fazer minhas coisas. E tempo também. Mas a fotografia pra mim é minha melhor amiga. Está todo dia comigo, TODO dia mesmo. Sem excessão, a camera está aqui do lado. E são várias cameras, eu não fico sem. E eu não posso ficar sem filme, é tipo meu ar. Ficar sem filme é meu combustível, e ai eu fico parado. E não pode parar, porque se parar morreu. É uma doideira, é uma relação de dependência, não era assim, mas se tornou.

É A FORMA DE VOCÊ MATERIALIZAR SUA VISÃO. E EU FOTOGRAFO TODO DIA DA MINHA VIDA, EU ME SINTO NU SE EU SAIR SEM A CAMERA. EU NÃO POSSO FICAR SEM FILME, É TIPO MEU AR. E PELA F OTO G RA FI A E M FI L M E ? C O MO F O I O I N Í CI O ?

O início da fotografia em filme foi; eu estava numa reunião da Platz, uma marca das antigas [2012], e era a marca de uns amigos meus, o João Ferro, Victor Corrêa e o Lucca Rizzo. E eu estava na reunião com eles, e não lembro como aconteceu isso, mas tinha uns filmes na mesa ou na casa, sei lá. Ai o João falou assim “Po, tenho uns filmes aí, você quer?” Ai eu falei que queria, e ele me avisou que estava vencido. E eu pensei “ah, vencido é bom, vai funcionar só que diferente, eu quero!”

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E aí guardei os filmes. Eram do avô do João, eram filmes vencidos da copa da Alemanha, ele me deu 4 filmes. Guardei lá em casa, e nunca fiz nada. Demorei um mês e meio pra fazer alguma coisa com eles, na real. E pensei, o que eu vou fazer com isso? Foi aí que eu achei uma camera antiga lá em casa, que eu achei que não funcionava, mas foi só colocar pilha que ela voltou. Era um canon point and shoot, automática. Era só apontar e clicar, o que é bem legal, porque o registro fica bem mais íntimo, muito mais fiel. Você não tem o delay, não da tempo da pessoa se maquiar, se mexer.

foi muito mais pela forma como fotografa. É mágico. E ai eu falei “c a ra mb a , e u qu e ro f a z e r m a i s ! ”. Comprei mais filme, comecei a produzir, e comecei a juntar um material muito grande, e não sabia o que fazer. Foi aí que eu criei o tumblr, que é um blog né? Eu comecei a postar pequenas narrativas de três, quatro, cinco fotos. E no tumblr se você for lá até hoje, os primeiros 4 filmes são esses de Arraial. Foi um dos primeiros filmes que eu queimei até o final. Porque antes de sair da faculdade eu fiz duas materias de analógicas, mas eu nunca terminei. Eu fazia o filme e não terminava.

EU TINHA DEIXADO A CAMERA NA MÃO DA GALERA, DEIXEI BEM LIVRE E O RESULTADO FICOU MUITO ÍNITIMO, MUITO VERDADEIRO, MUITO NATURAL. FIQUEI APAIXONADO PELO RESULTADO, PELA FORMA QUE AS FOTOS FICARAM.

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Um tempo depois rolou uma campanha da Redley em Búzios, Arraial, Cabo Frio e levei a camera. E eu não sabia nem se a camera estava funcionando, nem se o filme estava rolando. E eu não tinha experiência com o filme. E o registro ficou muito incrível. Quando eu voltei pro Rio eu falei, quero revelar logo... Quando eu cheguei em casa foi muito foda. Eu tinha deixado a camera na mão da galera, deixei bem livre e o resultado ficou muito ínitimo, muito verdadeiro, muito natural. E eu fiquei apaixonado pelo resultado, pela forma que as fotos ficaram. Coisas que eu nunca consegui extrair com o digital. Então não foi pela estética. A estética é bonita, eu gosto, mas

Eu nunca terminei os filmes, nem revelei. Joguei fora, sei lá o que eu fiz. Só esses que eu realmente fui até o final. E aí eu matei em uma viagem só, e aí contei uma história. Foi muito incrível e eu comecei a fazer mais e mais. Criei o tumblr, e eu não tinha muita ideia pro tumblr, era só fotografar o dia-a-dia e colocar lá. Era um lugar para publicar as coisas, e ai começou a entrar nessa vibe de fazer todos os dias mesmo, e virou um registro do cotidiano. E é muito legal, eu me amarro e alimento até o hoje. É um projeto que nunca vai terminar, vai ser até eu morrer. Eu comecei há um ano atrás, e está até hoje e não para. Eu alimento ele pra sempre.


QUAIS AS DI FEREN Ç A S DA FOTOGRAFI A DI GI TAL E DA FOTOGRAFI A AN ALÓG IC A? E P OR QUE VOC Ê AC H A Q U E O FIL M E É MAI S I N TI MISTA?

Porque as cameras são menores, sabe? Elas são pequenas. Não só por isso. Mas a camera por ser menorzinha ela intimida menos. Eu sou fotógrafo profissional, eu já fiz evento, faço moda, faço tudo. E quando você pega uma camera gigante, com um flash enorme, você intimida a pessoa. É uma parada enorme que assusta. Acaba com qualquer espontaneidade. Quando você pega uma camerazinha preta, com a camisa preta e só puxa ela e clica, a pessoa nem liga. Ai quando vê que é filme nem pede para ver. Não fala “Ai, tira outra, não sai bonito”. E isso é muito bom. E o click é rápido, por ser automática e você não tem que fotometrar, não da tempo da pessoa se arrumar. Porque quando você aponta uma camera grande, a menina arruma o cabelo, o cara estufa o peito, encolhe a barriga, já não é mais ele mesmo. Quando ele está relaxado, é tipo fotografar de longe, um paparazzi, você registra aquilo ali, é real, a pessoa é assim. A pessoa não estava toda arrumada, estufando o peito, posando. Então a fotografia de filme tem isso. Só por você não poder ver na hora, a pessoa não está preocupada em como ela saiu na foto. Além disso, tem outra coisa. Fora essa questão de não poder ver na hora, a nostalgia. Hoje em dia, rola uma relação muito de espelho. Uma vez eu conversando com o

Bruno Machado eu cheguei a essa conclusão. Ele até tinha essa ideia e eu concordei muito; quando você fotografa com o iphone atualmente, que a fotografia está muito acessível, as pessoas fazem 30 selfies, ela não está preocupada com uma foto que representa melhor aquele momento, ela não está preocupada com o registro daquele instante. Ela está preocupada com o quão bonita ela está na foto. Então ela vai pegar essas 30 fotos e escolhe a que ela está mais bonita e posta. Se ela está preocupada com a beleza dela, é uma relação muito mais de espelho, do que de um registro de um momento, da vibe, do ambiente, do momento, daquela fase, do dia, dos seus amigos, daquela energia. Não é nenhum registro. É um espelho, ela quer mostrar pros outros o quão bonita ela está. Então ela está falsificando aquele momento, dobrando aquela realidade. E isso é feio demais.

SE ELA ESTÁ PREOCUPADA COM A BELEZA DELA, É UMA RELAÇÃO MUITO MAIS DE ESPELHO, DO QUE DE UM REGISTRO DE UM MOMENTO... Além disso, depois que ela posta, ela nunca mais vai olhar aquela foto. No filme não. Você fotografa e não vê, você esquece. Eu gosto de esquecer o que aconteceu, e depois quando você olha você fala “Nossa, olha como foi foda esse dia. Olha que irado, cara. Não sei quem está mais gordo, esse cara está careca”. Isso é lindo, cara! É muito bonito, e é uma nostalgia que até doi as vezes. Eu percebi que algumas pessoas vendo album de fotografias

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choram, se emocionam. Hoje em dia ninguém se emociona vendo album no facebook, no instagram. Eu já me emo cionei, p orque eu olhei meu album de fotografia de quando eu era criança eu fiquei pensando em como minha mãe era mais jovem, mais disposta a fazer as coisas, como eu não tinha tantas preocupações na minha vida, como eu não tinha o ouvido zoado, como eu tinha o corpo mais inteiro, não estava tão destruído pela vida. Tinha menos problema, tinha mais dinheiro. Várias coisas. Você chora mesmo, se emociona. Como sua vida era, e como sua vida é agora, mesmo que sua vida esteja melhor agora você tem saudades daquele momento, dos amigos que se foram, é nostálgico. E a nostalgia vem um pouco com dor mesmo.

ISSO DÓI MESMO, MAS É MANEIRO PORQUE É UM TRANSPORTE DO TEMPO. É UMA COISA QUE TE TOCA, MUITO EMOCIONAL. E OLHA QUE LOUCURA, UMA IMAGEM CONSEGUIR 60

TE TOCAR DESSA MANEIRA Tem muita gente que eu conheço que não gosta de tirar foto, eu tenho uma amiga que diz que não gosta de tirar foto porque ela tem medo. Ela não gosta porque ela não quer olhar pra trás e ver como ela era mais bonita ou mais jovem... Olha que viagem. Como ela era mais feliz, sei lá. E é muito louco isso, mas é muito real. Te toca muito mais que uma coisa digital, que é imediatista. Mesmo em menor escala, as fotos

que você fez há uns dois meses atrás ou no carnaval, rola isso também, você se emociona. Quando você vai ficando mais velho também, a vida vai te tocando. Quando você é novo, você não tem nenhum amigo que morreu, não tem nenhum amigo que ficou doente, ninguém é velho, ninguém está careca. Agora eu tenho 25 anos, e estou vendo uma galera ficando careca, perdi dois amigos, por causa da violência no Rio, ai eu olho foto antiga, digital mesmo, e eu fico pensando “Caramba, cara. Fulano que estava com a gente e agora não está mais. Ou Fulano que foi morar longe e nunca mais apareceu.” Coisas assim... E isso dói mesmo, mas é maneiro porque é um transporte do tempo. É uma coisa que te toca, muito emocional. E olha que loucura, uma imagem conseguir te tocar dessa maneira, né? Coisa que o digital matou um pouco, porque ele é imediato. Você viu, deu like e nunca mais vai olhar de novo. O filme é palpável, eu de vez em quando eu pro meu tumblr e olho de novo, eu nunca fiz isso com meu facebook nem com meu instagram, nunca faço isso. Mas no tumblr eu faço isso, eu mostro para as pessoas, as pessoas que conhecem o tumblr agora, elas falam que vão até a primeira foto “Cara, olhei as 91 páginas do teu tumblr”, e eu fico “Caramba, cara! Que doideira”. Eu acho muito incrível isso. Então assim, filme é completamente diferente do digital, é outra parada, não dá para comparação. Não é melhor, eu odeio quem fala que é melhor. Não é melhor, nem qualidade estética, ou em qualidade


de imagem, não é. São diferentes. Por exemplo, uma camera que faz 36megapixels, a Canon acabou de lançar uma que faz 55, não tem como ser melhor que isso. A definição é animal, você amplia do tamanho do Maracanã e ela aguenta. Mas é diferente. É mais interessante pra mim. Em qualidade ótica não é melhor não. A questão mesmo está na forma de fotografar, de fazer a foto. A diferença é a relação do fotógrafo com o fotografado, é uma relação mais íntima, mais verdadeira. Menos invasiva também, mais emocional.

Q UA L O U Q UA I S SÃO S UA S FOTO S / S ÉR IES PR EF E RI DA S ? P O R Q UE ?

Minhas series preferidas são aquelas do início, de arraial e búzios, porque foi onde começou um projeto que é de vida. Não vou parar nunca, até eu morrer. E foi uma viagem muito boa, muito maneira. E a foto que eu fiz que eu mais curti não é analógica, é digital. É a do Thainan, a Thaivolution. Que é a ilustração da evolução real de um quadro de tetraplegia. Ele fic ou tetraplégic o em um acidente de slackline e depois voltou a andar e hoje em dia

A QUESTÃO MESMO ESTÁ NA FORMA DE FOTOGRAFAR, DE FAZER A FOTO. A DIFERENÇA É A RELAÇÃO DO FOTÓGRAFO COM O FOTOGRAFADO, É UMA RELAÇÃO MAIS ÍNTIMA, MAIS VERDADEIRA. Agora não tem isso de ser melhor, em luz, em textura essas coisas. Até porque eu já fiz esse experimento. Eu fiz um editorial que eu fiz fotos iguaizinhas no digital e no analógico, e é a mesma coisa. Outro momento que eu fotografei com filme e com a digital e comparei, foi na maratona de lookbook agora. Cada look eu fazia uma foto analógica. Quando a pessoa está posando pro lookbook, na camera digital, com a equipe toda em volta, olhando roupa, maquiagem, cabelo, luz e etc. Quando eu fazer na analógica, a pessoa relaxa, o rosto das pessoas saia muito mais legal, a energia que passava. Era uma foto só de filme, e 40 clicks pra fazer a digital. Muito mais incrível a de filme, inacreditável. Da pra fazer um lookbook inteiro só com a analógica, ia ficar muito mais bonito.

está andando de bicicleta. Os médicos não acreditaram, falaram que ele ia ficar no mínimo paraplégico e hoje ele está andando. Na época da foto ele estava andando mancando ainda, mas sem muletas já, e eu fiz essa foto. Que é ele de cadeira de rodas de cabeça baixa, porque ele não mexia nada só o pescoço. Depois ele mais ereto na cadeira, depois ele conseguindo andar sozinho com a cadeira, depois ele em pé com duas muletas, depois com uma e depois sem nenhuma muleta andando. E essa foto foi muito incrível. Porque os médicos ficaram impressionados e a foto representa muita coisa, sabe. E isso rolou 6 meses depois de eu sofrer um acidente onde eu quebrei o crânio e os médicos falaram pra minha mãe que eu ia morrer. E eu estou aqui. E essa foto representa

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muita coisa, da energia pra uma galera que está aí desesperada, em um beco sem saída, acha que acabou e não acabou. Ele desenhava, andava de skate, ficou tetraplégico não podia fazer mais nada, mas ele voltou. E os médicos não são os detentores da última palavra, muito mais o que a gente quer, a nossa vontade. E aí deu certo. E depois de um tempo eu conheci um cara que sofreu um acidente de moto, ou de carro não lembro, e ele perdeu o movimento do braço, e ele falou que tinha visto minhas fotos, conheceu meu trabalho e essa foto tocou ele. Porque ele tinha acabado de sofrer o acidente, ele estava muito mal e quando ele viu ele ganhou energia, ele pensou “Não acabou pra mim”, sabe. Mesmo sem o movimento do braço a esperança é a última que morre. Acabou que o movimento do braço dele não voltou, mas o cara é super adaptado com isso hoje em dia. E a foto cumpriu o papel dela, que é tocar um cara que estava quase desesperado, e dar energia para esse cara que estava precisando. Essa foto é a mais incrível do mundo. É muito forte essa foto pra mim. De novo, uma foto que é muito mais do que uma imagem, um registro, né? É além né? Q UA IS SÃO S EU S PLA NO S / PROJETO S F U T U RO S ?

Então, eu estou com um projeto autoral, que é viajar o Brasil inteiro tirando foto de skate. Começou como uma ideia de fotografar só skate e deixou de ser. Eu aprendi sobre várias coisas nessas viagens. Aprendi sobre a

relatividade do tempo, sobre formas de vida e formas de viver e formas de relacionamento. Eu conheci uma galera que pensa e que vive de uma maneira diferente. E aí, o projeto começou como uma forma de me reconectar com as minhas origens. Eu estava saturado, trabalhando muito, a moda consome muito, e eu não estava tendo tempo pra mim. Eu gosto muito do que eu faço, é um ambiente maravilhoso, faço foto na praia, faço fotos incríveis em locais paradisíacos, mas cansa, é muita coisa. E ao mesmo tempo que é criativo interessante, você o tempo todo está produzindo para alguém, é por você, através, com uma carga muito forte pessoal, mas para alguém. Tem um limite, tem um conceito. E aí eu estava saturado, e com vontade de produzir coisas autorais. Eu tinha deixado tudo de lado, deixado de fotografar skate, estava com altas ideias e não estava conseguindo produzir, colocar nada em prática. Precisava me reconectar, precisava rever essa galera. E ai eu criei um projeto para viajar o Brasil e me reconectar com minhas origens, de fotografo de skate. E o skate me fez viajar muito, e aí eu comecei a fazer isso e fui descobrindo outras coisas. E comecei a viajar, reencontrar meus amigos e me reconectar com a natureza, e ela é uma fonte muito forte de energia. Quando você toca o pé na terra, você está com um fio-terra incrível alí, acho que é por isso que os animais são mais sensíveis que a gente. Porque eles, não estão tão distantes como a gente, a gente está de tênis, pisando


no chão de madeira, por cima do chão de asfalto. Olha que loucura. Qual foi a útlima vez que você pisou descalço na terra? Qual foi a última vez que você sentiu a grama entre os dedos? No máximo foi na praia, na areia. Muito poluida, cheia de interferência. Quando foi a útlima vez que você viu o sol nascer? Você mora em frente a praia e não sabe onde o sol nasce, isso é um absurdo. No interior as pessoas sabem onde o sol nasce, a hora, sabem quando os pássaros não cantaram na hora certa, quando o vento soprou pra um lado ou pro outro. O cara sabe, ele está muito mais conectado. E essas viagens tem me reconectado com isso tudo. Ele começou como um projeto de skate para fotografar personagens e entender a cidade através deles, a ideia era achar skatistas locais e entender a cidade pela perspectiva dos caras. E virou muito mais do que isso. Virou uma reconexão muito forte, e um aprendizado muito grande. Voltei da primeira viagem que eu fiz, que foi pro interior de São Paulo, outra pessoa, outro ser humano e mudei minha vida toda. E então eu comecei a aprender muito mais nas outras viagens. Sobre a relatividade do tempo. As vezes você está há um ano aqui e não produziu nada pra você, então você está numa vida de standby. Você está em pausa, numa espera, mas o seu corpo está se deteriorando, você vai morrer mais cedo. E o tempo é muito relativo, então as vezes você fica um ano sem fazer nada e em 3 meses você produz a mesma coisa de um ano inteiro.

Então eu aprendi sobre isso. E comecei a encaixar meus projetos autorais nesses momentos, comecei a dar tempo ao tempo. Eu viajo de dois em dois meses, e nessas viagens eu estou começando a emplacar outros projetos, resgatando projetos autorais que eu tinha. Então a fotografia está mais forte ainda, o autoral é o que me evolui, me motivo, me dá vontade de crescer. E eu estou desenvolvendo outros projetos analógicos também, o tumblr está ficando cada vez mais rico com essas viagens. Esse projeto que eu criei, vai ser lançado, tem tempo pra ser lançado, mas o tumblr não para. Então, o Today’s 35, mal ou bem queima a largada. Porque as viagens estão sempre sendo registradas e estão lá. Eu estou aprendendo muito, estou mudando como ser humano. Então a fotografia está trazendo cada vez coisas mais legais. Trouxe muitos amigos, muitas ideias, muito conhecimento. Conheci muitos lugares, muita vibe boa e agora está me trazendo muito auto-conhecimento, é uma coisa que não tem preço. --

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MIOLO: OPALINE 120g/m 2 CAPA: OPALINA EVENGLOW 240g/m 2 GRテ:ICA: TRIO STUDIO EM 2015 TIPOGRAFIAS: DIN NEXT LT PRO E ALEO



GRÃO - ED. 1 :

BRUNO MACHADO GABRIEL KLEIN R E N AT O G A LVÃ O


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