Edição revista e ampliada, adaptada ao Acordo Ortográfico 2009
Além da Revisão | Critérios para revisão textual
| Aristides Coelho Neto
Edição revista e ampliada, adaptada ao Acordo Ortográfico 2009
Além da Revisão | Critérios para revisão textual
| Aristides Coelho Neto
SENAC • Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial-DF PRESIDENTE DO CONSELHO REGIONAL Adelmir Santana DIRETOR REGIONAL Luiz Otávio da Justa Neves EDITORA SENAC DISTRITO FEDERAL Coordenador Luiz Otávio da Justa Neves Editora-chefe Bete Bhering (mariabh@senacdf.com.br) Coordenação Comercial Antonio Marcos Bernardes Neto (marcos@senacdf.com.br) Coordenação Editorial Gustavo Coelho (gustavo.souza@senacdf.com.br) Equipe da Editora Bete Bhering Gustavo Coelho Nair Ofuji Victoria Haidamus EDITORA SENAC-DF SIA Trecho 3, lotes 625/695, Shopping Sia Center Mall - Loja 10 CEP 71200-030 - Guará-DF Telefone: (61) 3313.8789 e-mail: editora@senacdf.com.br home page: www.editora.senacdf.com.br
CONSELHO EDITORIAL Membros Titulares Antonio Marcos Bernardes Neto Flávia Furtado Rainha Silveira Katia Christina S. de Morais Corrêa Lindomar Aparecida da Silva Tânia Maria Salvador Ferraz Paiva Membros Colaboradores Antonia Maria Ribeiro Rodrigues Luís Fernando Vizin Elidiani Domingues Bassan de Lima Heloisa Helena de Almeida Borges Thales Pereira Oliveira NESTA EDIÇÃO Colaboradores Conceitos sobre programação visual e produção gráfica: Danilo Barbosa Capítulo 9 e aula-resposta a cliente: Edelson Rodrigues Nascimento Assessoria em normalização técnica e entrevista sobre o tema: Geraldo Campetti Sobrinho Texto Aristides Coelho Neto (www.revisor10.com.br) Revisão textual Maria Tereza de Queiroz Piacentini Capa, Projeto gráfico e Diagramação Victoria Haidamus e Gustavo Coelho Revisão de editoração Gustavo Coelho Revisão de prova Nair Ofuji Copyright © by Aristides Coelho Neto Todos os direitos desta edição reservados à Editora Senac-DF. Editora Senac Distrito Federal, 2013.
Ficha Catalográfica C672
Coelho Neto, Aristides. Além da revisão: critérios para revisão textual /
Aristides Coelho Neto – Brasília: Editora Senac-DF, 2013
324 p.; 16,5 x 24 cm
ISBN: 978-85-62564-27-7
1. Revisão de textos. 2. Editoração. II. Título. CDU: 655.25
Edição revista e ampliada, adaptada ao Acordo Ortográfico 2009
Além da Revisão | Critérios para revisão textual
| Aristides Coelho Neto
sumário Antes de mais nada 11
capítulo 1 1.1
1.2 1.3 1.4
capítulo 2 2.1 2.2 2.3 2.4
capítulo 3 3.1 3.2 3.3
capítulo 4 4.1 4.2 4.3
texto e revisão 15 Das varetas e cinzéis ao teclado de computador 16 A escrita cuneiforme 16 A escrita hieroglífica 17 A escrita dos maias 18 O alfabeto ocidental 18 A evolução do sistema de produção e de reprodução de textos 19 Considerações sobre o “fim do livro” diante das novas formas de contato com o texto. Texto impresso ou virtual? 21 Histórico da revisão textual 23
o cenário em que nos situamos 31 As mudanças introduzidas com a nova reforma ortográfica 34 As celeumas de hoje que envolvem o nosso português 36 Uma celeuma em separado preconceito linguístico e “comandos paragramaticais” 41 O clima de discussão que paira sobre as gramáticas 47
conceito de revisão 57 Atribuições do revisor 59 Originais e editoração 59 Erros de revisão 60
parâmetros do revisor 73 A norma culta da modalidade escrita 74 Palavras dicionarizadas e não dicionarizadas 78 Oralidade 80
capítulo 5 5.1 5.2 5.3
capítulo 6 6.1 6.2 6.3 6.4 6.5
6.6
6.7 6.8 6.9 6.10
instrumentos para revisão 91 A leitura na vida diária 92 Os dicionários 94 Os elementos que compõem a norma culta 94
o processo de revisão 103 Discurso gráfico. Definições do editor. Padronização 104 Regras que norteiam a revisão 105 Conscientizações iniciais definição dos limites de atuação do revisor 106 Etapas preliminares 107 Revisão propriamente dita 107 Primeira revisão 107 Segunda revisão 108 Terceira revisão 108 Recomendações úteis 109 Arquivo magnético como suporte 109 Colocação e sentido 109 Comentários de revisor 109 Cronologia, datas, ordem crescente 110 Destaques 110 Digitação 110 Dúvidas 110 Erros imperdoáveis e erros toleráveis 111 Hifens e travessões 111 Interação 112 Intervenções claras 112 Marcas da oralidade 112 Notas de rodapé 112 Alterações opcionais 113 Ordem alfabética 113 Organização 114 Pesquisas 114 Presença do editor/autor 114 Remissões 114 Repetições 114 Revisão e impressão de segurança 115 Textos escaneados (ou digitalizados) 115 Contagem de caracteres 116 Revisão em meio magnético 117 Regras práticas para saneamento inicial de um texto 118 Quando o arquivo magnético funciona como um suporte para o revisor 123
Capítulo 7 7.1 7.2 7.3 7.4
o dia a dia do revisor 133 Intervenção no texto 134 Copidesque 136 Exemplos de aperfeiçoamento do texto 136 Quatro exemplos ilustrativos do cotidiano do revisor 139 Exemplo 1 – quando o amadorismo permeia 140 Exemplo 2 – quando a insensatez fala mais alto 146 Exemplo 3 – quando o cliente se sente traído 149 Exemplo 4 – quando o trabalho se ressente da figura do preparador de originais 154
Capítulo 8
memórias de revisão 169
Capítulo 9
citações, notas e referências - normalização 205
Capítulo 10
teste seus conhecimentos (exercícios) 229
Capítulo 11
tabelas práticas, listagens úteis 253 Abreviaturas 255 Abreviaturas, acrônimos e sinais curiosos utilizados por internautas 258 Algarismos arábicos e romanos 260 Coletivos 261 Duplicidade de pronúncia e grafia 271 Dúvida de grafia (relação de palavras) 272 Estilística, uma questão de 263 Formas variantes 261 Gentílicos 267 Homônimos e parônimos 297 Linguagem dos chats, das salas de bate-papo e dos “torpedos” 258 Locuções adjetivas 271 Numerais cardinais e ordinais 260 Países que mudaram de nome 268 Particípios duplos 300 Pontos colaterais 302 Porcentagens 302
Prefixos gregos 302 Prefixos latinos 303 Radicais gregos 303 Radicais latinos 306 Siglas 287 Siglas dos estados e do Distrito Federal 288 Sinais de revisão 285 Sufixos 307 Unidades de medida 308 Verbos abundantes 300
Considerações finais 313
Referências 314
Textos diluídos neste livro Conjugação esperta (Thirsa do Carmo Fernandes Costa) 86 Cuidado com os revizores (Luis Fernando Verissimo) 68 Dicionários (Luis Fernando Verissimo) 84 Diferenças dificultam unificação de idiomas (Mario Prata) 53 Dois dedos de gramática (Sérgio Rodrigues) 249 Errata (Luis Fernando Verissimo) 225 Gigolô das palavras, O (Luis Fernando Verissimo) 166 Ler é chato. Será? (Jaime Pinsky) 26 Livro, Sobre o (Clarice Lispector) 28 Nome das coisas, O (Mario Prata) 311 Norma culta (Maria Tereza de Queiroz Piacentini) 97 Pedra no sapato, uma colocação (Aristides Coelho Neto) 164 Por falar em tortura (Paulo Leminski) 223 Português.com, O (Ana Paula Franzoia e Antonio Gonçalves Filho) 247 Programação visual e produção gráfica (Antonio Danilo Morais Barbosa) 128 Projeto Nurc, Síntese da história do (Luiz Antonio da Silva) 51 Quem escreve (Carmen Cinira) 88 Questões gramaticais (João Ubaldo Ribeiro) 309 Reforma não vingou, A Redassão, um ato de ex-crever (Carlos Eduardo Novaes) 70 Tipo assim (Kledir Ramil) 200 Uso da crase (Dad Squarisi) 87 Vingança do português, A (autor desconhecido) 202
índice 317
Agradecemos a todos os autores que enriqueceram esta obra ao autorizar gentilmente a inserção de seus textos.
antes de mais nada Quando me propus a escrever sobre revisão de textos, jamais me passou pela mente ser completamente original. Era abril de 2002, e eu, à época, aluno de um curso de Especialização em Língua Portuguesa implementado pelo UniCEUB, com professores da UnB.1 Em meus contatos com editoração de textos (meus e de outros), diagramação, correção de originais, planejamento visual gráfico, coordenação de edição, sempre me deixei envolver pelo fascínio da criação de uma obra. Os percalços da concepção até a concretização foram sempre altamente motivadores para mim. E o cheiro bom do livro recémnascido adquiria conotação de coroamento de minhas andanças pelo ambiente gráfico. As agruras foram sempre vistas como aprendizado. O livro empacotado – vendido ou não – sempre foi prêmio ao suor despendido. E nunca soube exprimir com precisão a sensação boa que traz todo o processo da criação de um livro. O que sempre me incomoda é a impressão final com erros que poderiam ter sido evitados. E a gota d’água para me decidir pelo tema da revisão de textos foi o fato de, no curso precitado, ter tido um proveitoso contato com uma gramática da língua portuguesa editada em Portugal. Contato profícuo, pelo excelente conteúdo, mas improficiente, pelo que o livro pecou por ausência de revisão – isso se revela inadmissível em obra que dita regras sobre a língua. Tal fato me faz citar Firmin Didot (1764-1836), livreiro e impressor francês, criador dos caracteres que levam o seu nome. Didot asseverava que “um simples erro ou transposição de uma letra fere a vista tanto quanto a nota falsa de um concerto fere o ouvido”. Ele reflexionava, quero crer, não só sobre o momento presente, sobre a estética textual, mas sobre a perpetuidade de uma obra, que traz saber intrínseco, boas novas, visão de mundo, transformações, conhecimento científico. Que traz a mistura do micro e do macrocosmo, a abolição das fronteiras, e, lamentavelmente, em muitos casos, erros perenizados, transcendendo os séculos. Estes últimos, uma vez perpetuados, não mais admitem reflexões tardias sobre a falta de um revisor... Quando se analisam os depoimentos de editores no passar dos últimos 500 anos, é gratificante e curioso depararmos com o esmero e o preciosismo – às vezes até exacerbado – de muitos livreiros e editores que ofereciam prêmios para quem achasse um erro sequer em sua obra. No entanto, é mais comum nos defrontarmos com o desdém pela figura do revisor, expresso na falta de condições dignas de remuneração, na falta de condições mínimas de instrumentação, incluindo-se até o espaço físico, na pressão quanto a prazo, em função de atrasos de outrem. E desdém, muitas vezes, no ato de considerá-lo supérfluo ou de não lhe conferir o devido valor. Vêm à baila neste trabalho minhas experiências pessoais, numa época de evolução vertiginosa dos recursos da informática, que influem nas técnicas de impressão, na produção da arte gráfica e na própria revisão. Do séc. XV para cá, assinalam-se técnicas rudimentares de impressão a partir da China e da Coreia. Com Johann Gutenberg (c.1398-1468) surge uma tecnologia bem mais confiável. E decorrem algumas centenas de anos de utilização do processo da fundição tipográfica, até, já nos anos 50 do séc. XX, 1 Corpo docente: Denise Martins, Álvaro Faleiros, Josênia Vieira, Stella Maris Bortoni-Ricardo, Enilde Faulstich, Cibele Brandão, Lucília Garcez, cujas produções intelectuais acham-se citadas ou transcritas em parte nesta obra.
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manifestar-se a tecnologia da fotocomposição. E a partir dos anos 70, o computador se firma. Gutenberg, se fosse possível trasladá-lo do seu tempo a este começo de séc. XXI e aportasse numa redação de jornal, num parque gráfico com as rotativas da atualidade, provavelmente ficaria alucinado de prazer. E apreensivo, quem sabe, ao ver as pessoas lendo livros no computador ou em tablets. A revisão de textos também foi a reboque, nessa explosão atual da informática e da tecnologia de impressão gráfica. Sempre constou de minha proposta original trazer um histórico da revisão textual e sua evolução. Tocaria nos erros mais comuns que comparecem na mídia, falaria das siglas, das abreviaturas, do uso da vírgula e da crase, da concordância, das formas de tratamento, dos lugares-comuns, do uso das maiúsculas, das regras básicas de redação oficial. E iria além – abordaria questões como a influência do computador na revisão e na produção de texto, e a utilização dos dicionários em meio digital. No que tange a modismos, faria uma breve análise do seu surgimento e do processo de dicionarização de palavras e expressões novas, não me furtando a falar sobre o quanto é dinâmica a nossa língua, e sobre o respeito à linguagem falada pelo brasileiro. E foi o que fiz, quando da monografia. Mas em tese, já que acabei por abrir mão de detalhes que poderiam ser postergados. E o projeto foi simplificado. Incluí algo sobre produção de texto, em face das ocasiões em que o revisor necessita fazer copidesque, utilizando-se de noções práticas de coerência e coesão textual e muitas outras. A interação revisor-cliente foi abordada e os limites da atuação do revisor foram explicitados. Como complementação, entrevistas com profissionais da área. Pelo fato de minha formação não ser específica (arquiteto, professor de artes plásticas, revisor-tradutor-escritor-articulista autodidata, e com especialização em Língua Portuguesa somente em 2002), preocupei-me em não me expor demasiadamente aos acadêmicos – fossem gramáticos ou sociolinguistas. À época do curso citado, a professora e orientadora Denise Martins2 aceitou minha proposta. E entendeu que o trabalho não poderia ser árido – também não poderia ser vulgar –, de forma a poder ser lido pelo profissional de linguística textual, pelo revisor de textos, pelo publicitário, pelo jornalista, pelo leitor simplesmente amante do português. Um dos atrativos de Além da Revisão deveria ser a condição de agradável à leitura, contendo curiosidades, amenidades. Daí a razão de não ter se parecido com uma monografia, no sentido clássico. Quanto a moldar um livro de forma a atender a essa gama de profissionais, possivelmente só o leitor poderá confirmar se a meta foi atingida, se o virtual passou a concreto. O que chamei de “primeira edição” constituiu a monografia propriamente dita. Teve uma tiragem de dez exemplares, cheia de erros, em função de correrias de última hora. Quem recebeu a “primeira edição” teve o direito de trocá-la com o autor por dois exemplares da edição de verdade, e ainda receber o título de persona grata. Em homenagem a Didot, todos os dez exemplares foram incinerados. Este autor, no entanto, foi poupado da execração, já que se redimiu com o lançamento de duas edições revisadas pelo amigo Edelson, e desta agora, adaptada ao Acordo Ortográfico 2009, revisada por Maria Tereza Piacentini. A terceira edição traz novas memórias de revisão, maiores esclarecimentos sobre a norma culta, novas palavras a compor a lista daquelas que podem oferecer dúvida de grafia. E, sobretudo, menos rigidez na aceitação das palavras e expressões às vezes sim2 Denise de Aragão Costa Martins, mestra em Língua Portuguesa pela PUC/RJ, doutora em Linguística e Filologia pela UFRJ, é professora aposentada do Instituto de Letras da UnB. Integrou a banca de redação para o concurso de admissão para a carreira de Diplomata (IRBr-MRE) de 1996 a 2010. Atua como docente da disciplina Sintaxe do Português Contemporâneo no Curso de Especialização em Revisão de Textos do UniCEUB.
plesmente condenadas. Isso porque sempre há teorias contrárias que avalizam seu uso. E porque, queiramos ou não, elas vão se consagrando rápida ou lentamente na nossa língua, bela e pulsante, porque viva. Aristides Coelho Neto Brasília, junho de 2013
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Capítulo 1
Texto e revisão
1.1 das varetas e cinzéis ao teclado de computador (um histórico da escrita – a cuneiforme, a hieroglífica, a escrita dos maias, o alfabeto ocidental) O homem, para se comunicar e influenciar o semelhante, representar o seu pensamento e o mundo que o cerca, utiliza-se de várias formas de linguagem – a verbal, a mais difundida, precursora de todas as demais, e outras não verbais, como a mímica, a fotografia, a dança, a música, a pintura, o desenho, a escrita. Todas as linguagens se utilizam de signos, que combinam entre si, com base em determinadas regras de organização. Os primeiros sistemas de escrita foram a cuneiforme, a hieroglífica, a ideográfica (símbolos da escrita chinesa e japonesa) e a pictográfica (dos maias).
| a escrita cuneiforme |
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As inscrições gráficas (como desenhos esquemáticos, estampas, pinturas rupestres) mais antigas de que se tem conhecimento datam de aproximadamente 30 mil anos a.C. Mas tais achados, não só em cavernas, mas em rochas, pedras, objetos, constituíram rudimentos da escrita, não ainda um sistema organizado e completo. Tais embriões da escrita (encontrados na Europa, no Mediterrâneo, no norte da África) constavam de representações esquemáticas de animais, objetos variados, sempre ligados à ritualística, seja de práticas de magia, seja de práticas religiosas. Nessa fase, é de se supor que o desejo de materializar sons, sensações, ideias, o abstrato, enfim, era impossível de ser retratado nas inscrições. Muito provavelmente havia os nomes, mas sem verbos, advérbios, conectivos. A caverna de Lascaux, no vale de Vézère, perto de Montignac, França, contém nas paredes e tetos alguns dos mais significativos exemplos de pinturas e gravuras da arte paleolítica descobertos até hoje. Em tons amarelos, vermelhos, pardos e negros, estão representados diversos animais, como bisontes, cavalos e cervos, com motivos geométricos.3 Acredita-se terem sido produzidos no período paleolítico, por volta de 13000 a.C. No Brasil, existem vários achados de inscrições rupestres. A clareza de seus significados é muito variável. “Entre as mais enigmáticas – com símbolos que lembram letras e códigos – está a da Pedra do Ingá, perto de Campina Grande, na Paraíba. Estudos arqueológicos apontam que as inscrições são contemporâneas à chegada dos grupos tupi e cariri à região.” (GURGEL, 2002:19) Dizem os pesquisadores que as provas materiais de um sistema racionalizado de escrita vêm do sul da Mesopotâmia, por meio dos sumérios. A forma de escrita era a chamada cuneiforme4, em princípio a mais antiga que se conhece. Onde hoje é o Iraque, foram encontrados plaquetas e fragmentos com esse tipo de escrita pictográfica, que, dizem os pesquisadores, são fruto de um sistema composto de mais de 600 sinais. O escriba, com uma vareta fina, imprimia sinais em forma de cunha sobre tabletes de argila ainda não totalmente seca. Inscrições desse tipo foram encontradas sobre metais, pedras, estelas5 e outros materiais. Logicamente, para objetos mais duros eram utilizados outros mais resistentes e afiados. 3 Enciclopédia Microsoft Encarta 2001. © 1993-2000 Microsoft Corporation. 4 Do latim cuneum, cunha. 5 Monólito. Espécie de coluna destinada a ter uma inscrição. Marco, baliza – Dicionário Aurélio eletrônico século XXI.
Se os textos mais antigos datam de 5 mil anos passados, e os mais modernos, de aproximadamente 1.900 anos, conforme referências, é de se supor que, se antes cada símbolo reproduzia uma ou mais coisas palpáveis, com o correr do tempo os sinais passaram a designar sílabas. E o sistema de escrita pôde assim economizar no número de caracteres, que passou a apenas algumas dezenas. Os acádios, povo semita que habitava a Mesopotâmia entre cerca de 3000 e 1000 a.C., fizeram uso desse sistema de escrita, com adaptações. A escrita acádia disseminou-se pela Ásia Menor, Síria, Pérsia, sendo utilizada também em documentos diplomáticos do império egípcio. O Código de Hamurabi6, com seus caracteres cuneiformes, é um dos documentos mais importantes que chegaram até nós. Em função da escrita cuneiforme descerraram-se os conhecimentos existentes hoje sobre a Assíria, a Babilônia e o Oriente Médio. Fica patente que a escrita cuneiforme não foi utilizada por um único povo, nem para um só idioma ou numa época isolada.
| a escrita hieroglífica | Hieróglifo (ou hieroglifo) vem do grego. Significa “gravura do sagrado” (hieros: sagrado). O hieróglifo pode ser considerado um caractere de qualquer sistema de escrita no qual os signos representam objetos, embora o termo seja associado à escrita do antigo Egito. Os egípcios consideravam os hieróglifos como sendo as “palavras de Deus” reveladas pelo deus-escriba Thot. Os gregos aplicaram o termo nos caracteres decorativos esculpidos em monumentos. Posteriormente, foi empregado nos sistemas de escrita dos hititas, cretenses e maias. No início, por volta de 3300 a.C., o que não pudesse ser visualizado nos hieróglifos não tinha como ser representado. Mais tarde, as ideias também tiveram a sua vez. E seguiramse as indicações de valores fonéticos. As inscrições hieroglíficas egípcias compõem-se de pictogramas (representam o objeto, ou algo relacionado) e de fonogramas (empregados unicamente pelo valor fonético; não possuem qualquer relação com a palavra representada). “No hieróglifo, a figura de um objeto serve para representar não somente o objeto, mas também uma palavra que contenha seu nome. Muitas palavras são escritas graças à combinação de signos fonéticos, pictográficos e ideográficos.” (Encarta, 2001) O papiro7 (planta encontrada no Egito, na Etiópia, no vale do rio Jordão e na Sicília) era utilizado na Antiguidade para confecção de uma excelente base para a escrita. Sua consistência é muito parecida com a do papel. A partir do papiro, a escrita, antes utilizada apenas no círculo dos sacerdotes e escribas, começou a ser generalizada. O estilo hierático veio por volta de 2900 a.C., quando os hieróglifos eram unidos, como na caligrafia cursiva. A escrita chamada demótica, mais simplificada, constituiu o último estágio da escrita hieroglífica egípcia e vigorou para textos administrativos e literários produzidos entre os sécs. VII e V a.C. Os hieróglifos subsistiram até o fim no séc. III. No Egito antigo, a língua copta tomou seu lugar, com inserções do grego e de outras línguas semíticas. 6 Coleção de leis e editos do rei Hamurabi, o primeiro código conhecido da história. Série de emendas ao Direito comum da Babilônia. Uma cópia do código, realizada em escrita cuneiforme esculpida sobre um bloco de pedra negra de dois metros de altura, encontra-se atualmente no Museu do Louvre – Enciclopédia Microsoft Encarta 2001. 7 O caule do papiro é cortado em tiras, que, quando trançadas, prensadas e secadas, dão origem às lâminas parecidas, porém mais rústicas que o papel feito de celulose. Os papiros eram escritos com tinta preta e vermelha. Sua apresentação era em forma de rolos de até 15 metros de comprimento.
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Das escritas ideográficas, a única remanescente está na China, praticamente sem mudanças estruturais desde mais de 1.000 anos a.C. O sistema de escrita dos chineses em uso registra aproximadamente 5 mil caracteres mais utilizados. Mas “existem modernos dicionários chineses com mais de 40 mil palavras”. (GURGEL, 2002:46)
| a escrita dos maias | A civilização maia fixou-se na América Central. Grande problema que afeta os pesquisadores é que os dominadores espanhóis, no séc. XVI, destruíram quase todos os vestígios dessa rica cultura. O parco material que restou da destruição cultural revela ser a escrita maia uma das mais complexas concebidas pelo homem. Em número de 350, os símbolos principais dos hieróglifos maias podem combinar-se com um mesmo número de signos secundários, o que leva a outros signos. Mas o sistema não foi totalmente decifrado. Com o uso da informática, pesquisadores russos concluíram que “cada hieróglifo podia exprimir som, sílaba ou conceito” (GURGEL, 2002:96). Sabe-se também que os maias eram profundos conhecedores de matemática e de astronomia, possivelmente os povos mais adiantados da época em toda a Terra. As primeiras referências ao povo maia datam do séc. III a.C. A escrita assumia extrema importância para os maias, e sua origem era atribuída à concessão de Itzamná, filho do deus Hunab-Ku. Era restrita somente a sacerdotes, seus filhos e alguns privilegiados.
| o alfabeto ocidental |
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Alfabeto é palavra que vem do grego (alpha e beta) e compreende uma série de sinais escritos, que evocam um ou mais sons. Tais sons, combinados e ordenados, formam todas as palavras de determinado idioma. Alfabetos são diferentes dos silabários, dos pictogramas e dos ideogramas. Em um silabário, cada sinal representa uma sílaba. No sistema pictográfico, os objetos são representados na forma de desenhos. Nos ideogramas, os pictogramas são combinados para representar o que não pode ser desenhado. Os gregos, para definir seu primeiro alfabeto, valeram-se do domínio dos fenícios sobre os sinais gráficos. Das adaptações surgiram vários alfabetos gregos, já que a civilização grega se difundia pelo continente, pelas ilhas e cidades-estado. Tais alfabetos passaram por muitas transformações até assumirem um molde quase definitivo, por volta do séc. IV a.C. Todas as escritas alfabéticas, em maior ou menor grau, foram influenciadas pela grega. A contribuição dos gregos é notória no fato de se escreverem as vogais claramente, na definição do sentido da escrita da esquerda para a direita e de cima para baixo. O alfabeto latino derivou-se da língua etrusca (os etruscos viviam na costa mediterrânea), que, por sua vez, também sofreu influência grega. A velocidade com que o alfabeto latino se disseminou esteve sempre ligada ao avanço dos romanos por sobre a península itálica. As adaptações não cessaram.
A partir do séc. I a.C., o alfabeto latino incorporou adaptações por força da influência das línguas dos povos subjugados pelos romanos. E esse alfabeto passou a ser o sistema de escrita predominante no mundo ocidental, tal qual o conhecemos. São contabilizados quase mil anos de transformações, desde a chegada à Grécia do alfabeto fenício (séc. IX a.C.) até a dominação do país pelos romanos (séc. I a.C.).
1.2 a evolução do sistema de produção e de reprodução de textos Do séc. V ao séc. XII, na Europa, praticamente ninguém sabia ler. Saber escrever, então, era coisa rara – só os monges tinham essa habilidade. Graças à atuação dos monges como copistas de antigos livros manuscritos em pergaminhos (os códices8), a experiência e a cultura da época (a chamada Alta Idade Média) puderam chegar até nós. Os copistas, que usavam caniço ou pena na sua atividade, não tinham vida fácil. Se um exemplar da Bíblia podia levar um ano para ser copiado, é de se imaginar as agruras por que passavam os copistas, em rotina martirizante, por horas a fio escrevendo sobre os joelhos, pranchas ou mesas. Manuscritos de monges copistas do tempo de Carlos Magno (742-814) contêm queixas desses artífices quanto a dores nas costas, nos rins, e quanto a consequências funestas para os olhos, ao lado de lamúrias quanto ao frio e ao horário das refeições. Tais dificuldades, inevitavelmente, se refletiam nos preços do produto final. Livros de autores romanos, como Cícero ou Sêneca, custavam caro no séc. IX. Quatro folhas escritas em ambos os lados (fólios) podiam valer o equivalente a um carneiro. Arthur Arezio nos traz uma curiosidade sobre os copistas: “Antes da divulgação da imprensa, os manuscritos antigos tinham tantas notas, tantas abreviaturas, que para traduzi-los era um jogo de paciência; somente os interessados se arriscavam a empreender tão árdua, quão penosa tarefa” (AREZIO, 1925:7). Os copistas eram notáveis, e por isso os nobres os disputavam acirradamente, conferindo-lhes altas posições na corte. Quando se passou a prescindir deles, no séc. XVI, os novos impressores tiveram muita dificuldade para decifrar as abreviaturas. O livro impresso teve vários formatos ao longo da história, e sua feitura esteve ligada à técnica disponível e aos materiais de cada região e de cada época. Na Mesopotâmia havia tabletes de argila avulsos e também presos uns aos outros. “No Egito, tinham forma de rolos de papiro. Na China eram tábuas de madeira, depois substituídas pela seda, até surgir o papel no séc. II. Gregos e romanos também usaram papiro, depois pergaminhos.” (GURGEL, 2002:120) O códice, parecido com o livro como o conhecemos hoje, com páginas quadrangulares encadernadas, surgiu por volta do séc. I. Já não era necessário desenrolar o papiro para localizar um trecho do texto. Com o advento do pergaminho (séc. II, aproximadamente), ficou mais fácil confeccionar os códices (as folhas de papiros eram quebradiças, o que não permitia a sua dobra). 8 Forma característica do manuscrito em pergaminho, semelhante à do livro moderno, e assim denominada por oposição à forma do rolo. Registro ou compilação de manuscritos, documentos históricos ou leis.
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ler é chato. será? jaime pinsky
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O tempo histórico não tem um compromisso muito grande com o tempo cronológico, ou mesmo o tempo psicológico: décadas no Egito dos faraós podem corresponder a anos no período da expansão ibérica ou meses do século XXI. A percepção da velocidade do tempo histórico decorre do ritmo dos acontecimentos, assim como da rapidez dos meios de transportes e comunicações. Talvez por isso, sempre que estamos em algum local tranquilo, geralmente no interior, somos tentados a dizer que ali as coisas não acontecem e que é como se estivéssemos em pleno século XIX. É possível que, para evitar a ideia de que possamos ser vistos como retrógrados, ou fora do nosso tempo, busquemos acelerar tudo: músicas não podem ser lentas, filmes buscam ritmos alucinantes e, se não tiverem dois mortos por minuto de projeção, em média, são considerados acadêmicos. Propaga-se a ideia idiota que tudo que não é muito veloz é chato. O pensamento analítico é substituído por “achados”, alunos trocaram a investigação bibliográfica por informações superficiais dos sites “de pesquisa” pasteurizados, textos bem cuidados cedem espaço aos recados sem maiúsculas e acentos dos bilhetes nos correios eletrônicos. O importante não é degustar, mas devorar; não é usufruir, mas possuir apressadamente. O tempo, o tempo correndo atrás. Não que eu queira fazer a apologia da lentidão e da ineficiência, mas um bom concerto é feito tanto de bons allegros quanto de dolentes adágios. Além disso (e Charles Chaplin já percebia isso no início do século XX, em Tempos Modernos), ser humano é dominar a máquina e não ser por ela dominado. E aí, a meu ver, se estabelece uma das principais distinções entre ler e ver televisão. Você pega o livro, olha a capa, a contracapa, folheia sensualmente suas páginas e escolhe, livremente, aquela que quer ler. Pode pular pedaços, começar pelo fim, reler várias vezes trechos que amou, para decorar, ou que odiou, para criticar. Desde que seja seu, você pode escrever no livro (para isso ele tem espaço em branco): livro rabiscado é sinal de leitura atenta. Nada como retomar um livro lido anos atrás e ler nossas próprias notas: se forem ingênuas, rimos com a condescendência de quem cresceu; se forem brilhantes, nos preocupamos com nossa estagnação. Você estabelece o próprio ritmo de apreensão do escrito, seja ele ciência, seja ficção. Tantas vezes me furtei lendo lentamente o final de um livro pelo qual me apaixonara e do qual não queria me separar... Já a telinha é autoritária. Ela começa o assunto quando bem entende, faz as pausas que quer, inserindo as propagandas que deseja, determina o ritmo, diz quando e para onde devo olhar. Se não estou no poder, então, é pior ainda. Tenho que ver jogo de time de que não gosto, pedaço de novela babaca, entrevistas sem sentido, assassinatos sem conta, tudo num volume superior ao que eu suporto, mas que não tenho como regular, pois estou sem o controle remoto nas mãos. Mesmo quando vejo um vídeo ou um DVD, em que posso controlar algumas dessas variáveis, lido com o personagem e a paisagem imaginados por outro, emboto a minha imaginação e me curvo diante de heróis e mocinhas prontos e iguais para todos, enquanto, no livro, cada um sonha como quiser e puder. Não
é por outra razão que dificilmente gostamos dum filme baseado em livro que já lemos, mesmo quando a película é de boa qualidade como O Nome da Rosa ou Vidas Secas. Antes que alguém pense que sou contra o cinema, ou até a televisão, devo dizer que isso não acontece, mas é que ando mesmo um pouco preocupado. Já não há mais quase nenhum consultório, laboratório e até sala de espera em prontos-socorros de hospitais que não tenham a sua televisão. E, o que é pior, ligada. O infeliz chega quebrado, estropiado, ou apenas dolorido, e se lhe impinge humor chulo, falsas “pegadinhas”, loiras igualmente falsas, com síndrome de eternas adolescentes, de botinha e coxas de fora, animando crianças de olhares perdidos, conversas de pessoas confinadas que não têm o que dizer, entrevistas com pessoas que estiveram confinadas e que continuam sem ter o que dizer, e por aí afora. A sala tem pouca iluminação, já nem sequer tem aquelas revistas semanais atrasadas. A luz que falta e o ruído que sobra impedem que aqueles que trouxeram seus livros possam ler. As pessoas olham para a telinha, olham-se umas às outras e à sua própria condição. Com um livro na mão poderiam estar viajando, sonhando, aprendendo, conhecendo gente e lugares interessantes, ideias fascinantes, desbravando, questionando, maravilhando-se. Contudo, continuam sentadas olhando umas para as outras e para a telinha que cobra o tributo da dependência, da elaboração de frases feitas e ideias gastas. A ideia de que livro é chato só pode partir de quem não sabe o prazer que a leitura proporciona. Assim, quero lançar aqui um pedido ou vários: aos médicos, para que iluminem melhor suas salas de espera, o que, além de deixá-las menos lúgubres, permitiria que as pessoas pudessem ler enquanto esperam. Aos hotéis, para que não se esqueçam de colocar luz de leitura nos quartos. Uns e outros poderiam manter uma pequena biblioteca ao alcance dos clientes. A concepção bastante corrente em nosso país de que diversão está sempre e necessariamente ligada ao ruído e ao álcool só pode partir de alguém que não gosta de fato do Brasil. E ele ainda merece uma oportunidade. Ou não? Correio Braziliense, Coluna Opinião, 28.7.2002, domingo, p. 5. Jaime Pinsky – Historiador, escritor e editor, doutor e livre-docente da USP, professor titular da Unicamp. Autor de vários livros, entre os quais O Brasil tem futuro? e As primeiras civilizações, é atualmente diretor editorial da Editora Contexto. E-mail: pinsky@editoracontexto.com.br
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Capítulo 2
O cenário em que nos situamos
a reforma não vingou O novo acordo ortográfico faz 18 anos. Está desempregado, pois ainda não é empregado. Atinge a maioridade, não namora e nem “fica”. Se rende votos? Ninguém sabe.
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O novo acordo ortográfico faz 18 anos. Está desempregado, pois ainda não é empregado. Atinge a maioridade, não namora e nem “fica”. Eleitor? Ninguém sabe se rende votos ou não. Se dirige? Não, ainda não se dirige aos 230 milhões de falantes de português que há por aí. Dizem que ele não serve para nada. Há quem diga que ele nem existe. Se fosse um ser humano, haja psicólogo para ajeitar os traumas nessa situação delicada. Celebrado em 1990, o tal acordo entraria em vigor em 1994. No Brasil, o assunto esquentou um pouco ao final de 2007. Mas ficou mais efervescente em Portugal. E falou-se em iniciarmos 2008 com a vitória dos que “creem” na “ideia” da unificação, enchendo “linguiça” para quem “argue”, um “enjoo” só, dizendo que o tempo não “para”, procurando beleza por trás da “feiura”. Auto-estradas ficariam mais curtas: seriam “autoestradas”. E Portugal perderia algo de sua “humidade” – o “h”, exatamente. Mas sabe-se que os lusitanos estão é sem humildade de aceitar que humidade se torne umidade apenas porque algumas ex-colônias andam querendo. Coisa boa para Wilmas e Wandas: o reconhecimento do valor do w, agora parte integrante do alfabeto, ao lado do y e do k. Já guardei um trema – ainda vivo – numa caixinha, para mostrar aos meus netos, pois sempre tive os dois pontinhos como uma das coisas mais chiques da língua portuguesa. Tenho até um amigo Boëchat com trema elegantíssimo em local totalmente inusitado. Dizem que o acordo propicia unidade entre os países que falam português. Para alguns, chega em boa hora a tal da reforma. Há gente que até comemora. Para outros, ela é imposição sem sentido. Língua é organismo vivo e não se sujeita a regras padronizadas em nações de histórias diferentes, com muitas línguas regionais remanescentes. Para outros ainda, a reforma tem de ser mais radical. Como está, é superficial, embora com poder arrasador. A vigorarem as mudanças, as bibliotecas escolares ficam inviabilizadas, pois não é recomendável que as crianças continuem tendo contato com a ortografia antiga. Nessa exterminação de livros, incluem-se as gramáticas. E os livros didáticos. E os dicionários. E logicamente o corretor ortográfico do word, já tão fraquinho. Reviravolta no meio editorial por pouca coisa. A meu ver, custo–benefício é o tipo de análise que tem sido menosprezada. Com reforma ou sem
reforma, a maneira de se escrever no Brasil e em Portugal continuará a ser diferente. Quem deveria estar morrendo de alegria são os revisores. Mas a empolgação não acontece. No planeta, são oito países-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, e Timor-Leste. Fala-se português também em Macau, em Goa, e no Damão. Fala-se um pouquinho também em Andorra, Luxemburgo e Namíbia. Bom lembrar que os integrantes da CPLP revelam diferenças significativas, de ordem socioeconômica e cultural. Entre eles reina também a desconfiança dos africanos, provocada pelos resquícios e seqüelas que ainda subsistem do colonialismo. E há interesses discrepantes em cada um dos países-membros. Uns imaginando unificação da língua, outros com olhos no desenvolvimento, outros mais querendo é se livrar de barreiras impostas pelo mundo desenvolvido. Alguns convictos de uma necessidade de difundir a língua portuguesa. Fala-se de cooperações diversas, circulação mais facilitada para os cidadãos de países lusófonos, integração cultural, combate à aids nos países africanos. Enfim, acordos assinados, prioridades não muito definidas, falta definição de rumos. E o acordo ortográfico, debatido por dezoito anos, reflete o desnorteamento da CPLP. Ao final do ano passado, estava eu na iminência de lançar um livro sobre revisão textual. Vingasse o acordo, uma obra totalmente inexeqüível. Pensei em mudar o capítulo sobre o assunto. No texto, registro os pitacos de 2002 de Fernando Henrique. Mas, lançamento em 2008, melhor seria procurar por manifestações recentes de Lula sobre o assunto. Não achei. Então, como pouco ou nada mudou, fica o texto do jeito que foi concebido à época. Afinal, passou janeiro... e nada! E Portugal, com reforma ou sem reforma, vai anunciar “berbequim para betão ao desbarato”, enquanto o Brasil dirá “furadeira para concreto em oferta”, como bem registrou o professor Cláudio Moreno. A reforma não vingou. Se vocês já tiraram o trema, favor botar de volta. Por enquanto, nada feito! E cá pra nós, o trema é tão elegante, não é mesmo? Aristides Coelho Neto Publicado em Opinião, p. 11 Correio Braziliense, 4. fev. 2008, segunda
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2.1 as mudanças introduzidas com a nova reforma ortográfica
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O artigo A reforma não vingou, publicado em fevereiro de 2008, denotava descrença quanto à implementação do Acordo Ortográfico. A primeira edição deste livro foi lançada no mês seguinte, em março de 2008. Não parecia haver data definida para a entrada em vigor do que se celebrara em 1990 entre os governos dos países lusófonos. Havia se falado na data de 1994, mas o assunto se arrastava. Em 29.9.2008, porém, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou o Decreto 6.583. O dispositivo legal estipulou a data que passaria a vigorar o Acordo: 1º.1.2009. Assistia-se, no recinto da Academia Brasileira de Letras – ABL, reduto de imortais, a um presidente de poucas letras tratando de um assunto, disseram os críticos, que ele exatamente estava longe de dominar: o uso da língua-padrão. Lula, nesse dia, fez discurso sobre a facilitação do acesso de pessoas carentes à leitura e outros assuntos. Não entrou na parte técnica do Acordo Ortográfico, mas disse do que se pretendia com o Acordo, no que se refere a negócios entre os países que integram a comunidade dos que falam a língua portuguesa. Mas diante da questão do preconceito quanto ao ato da assinatura do novo Acordo Ortográfico no Brasil, faz-se necessário abrir este parêntese. Seria Sociologia a exigência de formação para o cargo de presidente da República? ou seria Administração o curso ideal? Um presidente deveria ser agrônomo, médico (como Juscelino)? Engenheiro (como José Roberto Arruda)? Criador de bovinos (como Joaquim Roriz)? Da mesma forma, deputado deveria ser formado em Direito? Poeta e escritor deveria ser obrigado a cursar Letras? Músico deveria ser formado em Música? E o caso de revisores textuais? Somente são bons os que cursaram Letras ou Jornalismo? Temos de ser respeitados pelo diploma? ou pelo conhecimento e vivência adquiridos e demonstrados? Aliás, a grande maioria das faculdades, em regra, tem fornecido mais diplomas que conhecimento. A História nos diz que muitos e muitos jornalistas eméritos não tinham curso de Jornalismo. E poucos dos grandes juristas que se sobressaíram na sua área tinham diplomas em Direito. Respeitados pelo seu conhecimento, revelavam-se sempre como autodidatas. Um presidente sem curso superior pode, sim, administrar o país com competência política e técnica (se for com ética e justeza, claro, atenderá melhor às nossas expectativas). Basta ter discernimento e habilidade para escolher colaboradores e assessores. Que sejam sérios, que tenham experiência e boa formação profissional. Essa a regra. E funciona. Se Lula se enquadra nisso, convenhamos, é outra história. Estamos falando de pré-requisitos que valeriam para qualquer presidente. E um presidente iletrado poderia falar de Acordo Ortográfico no ninho dos imortais? Ora, desde que se abstenha de entrar na área dos linguistas. Ou que fale, até — se estudar o assunto e for devidamente instruído pelos especialistas de sua assessoria ou consultoria. Foram muitas as zombarias a respeito da formação deficiente de Lula. Tenho certeza, registre-se, que no evento da ABL este não falaria de neologismos, de sintagmas, homó-
fonos, regência, sinédoque, catacrese, elipse e gerundismo. Mesmo porque grande parte dos acadêmicos da ABL não dominaria o assunto. Eu e você, adeptos ou não de Lula, também poderíamos conviver com os imortais da ABL, porque brancos e negros, ricos e pobres, republicanos e democratas, civis e militares, emedebistas e arenistas, cristãos e muçulmanos, heterossexuais e gays, jovens e velhos, brancos, negros, amarelos... analfabetos e graduados luminares da cultura... somos todos imortais! Voltemos ao Acordo propriamente dito. Para a gradual adaptação dos brasileiros às novas regras, vivemos um período de transição que vigoraria até 31 de dezembro de 2012. Nessa data completar-se-ia o período de quatro anos em que a atual e a nova norma ortográfica iriam coexistir, sendo aceitas como corretas nos exames escolares, vestibulares e concursos públicos, bem como nos meios escritos em geral. No entanto, apesar de a mídia no Brasil já ter incorporado o Acordo Ortográfico 2009 ao seu cotidiano – o que não aconteceu em Portugal –, decreto de dezembro de 2012 prorrogou o prazo de transição para 31 de dezembro de 2015. A reforma ortográfica institui mudanças na língua portuguesa, como o fim do trema, a supressão de consoantes mudas, inclusão de três letras ao idioma, além de novas regras de acentuação consideradas de pouco alcance. As letras k, w e y serão usadas em casos de nomes de pessoas e de nomes de lugares que têm origem em outras línguas e em símbolos, siglas e unidades de medida. Não há novidades. O trema é deixado de lado, com exceção de em nomes próprios ou palavras portuguesas ou aportuguesadas. Conserva-se em Müller, por exemplo. Tratando-se de variantes como negoceio/negocio, premeio/premio etc. bebê/bebé, canapê/canapé, balê/balé etc., as duas formas serão admitidas. O uso de minúsculas e maiúsculas não traz novidades, mas fixa os usos facultativos. O que pesa mais são as novas formas de uso do hífen na formação das palavras compostas. Agora temos dia a dia (em qualquer situação), tão somente, autoescola, infraestrutura, arqui-inimigo, micro-ondas, inter-regional, antirreligioso, anti-higiênico, microssistema. Para um maior aprofundamento sugerimos consulta ao Acordo propriamente dito (texto integral), ao VOLP – Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (5. ed., 2009) ou ao livro Só palavras compostas, de Maria Tereza de Queiroz Piacentini. Lembramos que assinaturas, marcas e empresas poderão manter a escrita que foi levada a cartório ou a registro público. Incluem-se aqui os nomes de cidades (diferentemente do nome de países que sofreram tradução para o português). A tabela a seguir esclarece as dúvidas mais comuns. Acentuação
Como era
Como é, após o acordo
Acento nos ditongos abertos “éi” e “ói” em palavras paroxítonas
assembléia, centopéia, jóia, paranóia, clarabóia
assembleia, centopeia, joia, paranoia, claraboia
Acento nas formas verbais como “lêem”
lêem, vêem, crêem, dêem
leem, veem, creem, deem
Acento no primeiro “o” do grupo “ôo” (enjôo)
enjôo, abençôo, destôo, ensabôo, perdôo
enjoo, abençoo, destoo, ensaboo, perdoo
Trema
freqüência, conseqüência, lingüiça
frequência, consequência, linguiça
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Acento diferencial nas palavras homógrafas (como para, pela, polo, pelo, pera). Continua o acento em pôde e pôr (verbo). Forma e fôrma: acento facultativo
Ele pára e nos diz para ficar. Pára agora, Pedro.
Ele para e nos diz para ficar. Para agora, Pedro.
Acento nas palavras paroxítonas em que “i” e “u” formam hiato com um ditongo
mucuiúba, feiúra
mucuiuba, feiura
Acento no “u” tônico ao se conjugar formas verbais como “argüir”
eles argúem, elas redargúem
eles arguem, elas redarguem
– Mais presentes no português de Portugal –
Como era
Como é, após o acordo
Consoantes mudas (não pronunciadas)
seccionar, exacto, acto, directo, adoptar, actual
secionar, exato, ato, direto, adotar, atual
Grupos consonantais
Para alguns, a língua portuguesa deve manter uma unidade entre os países que a adotaram, e a reforma chega em boa hora. Para outros, o Acordo não passa de uma imposição sem sentido, pois a língua é organismo vivo e não pode se guiar por regras comuns de nações diferentes.
2.2 as celeumas de hoje que envolvem o nosso português São oito países no planeta que, além de ter em comum a língua vernácula, são membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CPLP: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, e Timor-Leste. O português é primeira língua em Angola, São Tomé e Príncipe, Brasil e Portugal. Já em Cabo Verde e Guiné-Bissau, onde se fala português igualmente, é o crioulo a língua materna da população. Português é a língua mais usada em Moçambique. O nosso idioma é também uma das línguas oficiais do Timor-Leste (ao lado do tétum) e de Macau (ao lado do predominante chinês). Em Goa (ao lado do árabe e do hindu) e no Damão, na Índia, também se fala português. E este é bastante falado, embora não seja oficial, em Andorra, Luxemburgo e Namíbia. A maioria dos falantes de português vive em quatro continentes: África, América do Sul, Ásia e Europa. Contudo, há quase dois milhões de falantes na América do Norte (a maioria nos Estados Unidos da América, Canadá, Bermuda, e Antígua e Barbuda). Já na Oceania vivem menos de 50 mil falantes. Eis alguns dados16 sobre os integrantes da CPLP, revelando diferenças significativas, de ordem socioeconômica e cultural, sem contar a desconfiança dos países-membros africanos, provocada pelos resquícios (ou sequelas) do colonialismo que muitos deles ainda apresentam.
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16 Fontes consultadas: Almanaque Abril 2001, CPLP, Enciclopédia Encarta, Banco Mundial (Indicadores do Desenvolvimento Mundial), IPEA, IBGE, Embaixadas.
Angola
Capital Luanda, com 4,5 milhões de habitantes Outras cidades importantes Huambo, Lubango, Benguela, Cabinda e Lobito Línguas faladas português (oficial) e os dialetos umbundo, kimbundo, ganguela, tchokwé, kikongo, kuanhama, nhianeca, fiote Superfície 1.246.700 km² População 19.618.432 (2011) Analfabetismo 58,3% (1990) PIB US$ 8,47 bilhões (2010) Renda per capita US$ 270 (1999) Esperança de vida 47 anos
Brasil
Capital Brasília. O Distrito Federal tem 2.570.160 habitantes (2010) Outras cidades importantes São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Fortaleza, Curitiba, Recife, Manaus, Porto Alegre, Belém Línguas faladas português (oficial) e línguas de origem indígena Superfície 8.502.728,26 km² População 196.655.014 (estimativa 2011) Analfabetismo 9,6% (2010) PIB US$ 2,09 trilhões (2010) Renda per capita US$ 13 mil (2012) Esperança de vida 73,5 anos (2011)
Cabo Verde
Guiné-Bissau
Capital Praia, na Ilha de Santiago (106 mil habitantes em 2000) Outras cidades importantes Mindelo, Assomada, São Felipe Línguas faladas português (oficial) e crioulo Superfície 4.033 km² População 500.585 (2011) Analfabetismo 26,5% (2000) PIB US$ 1,60 bilhões (2010) Renda per capita US$ 1.200 (1998) Esperança de vida 69 anos Capital Bissau, com 246 mil habitantes (estimativa 2001) Outras cidades importantes Bafatá, Gabú, Mansôa, Catió, Cantchungo, Farim Línguas faladas português (oficial), crioulo, dialetos regionais (outras línguas de origem sudanesa) Superfície 36.130 km² População 1.547.061 de habitantes (2011) Analfabetismo 63,2% (1990) PIB US$ 817 milhões (2010) Renda per capita US$ 160 (1999) Esperança de vida 44,9 anos
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Moçambique
Portugal
São Tomé e Príncipe
Timor-Leste
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Capital Maputo, com 1.661 mil habitantes, incluindo Matola. (2004) Outras cidades importantes Beira, Nampula, Chimoio, Nacala-Porto, Quelimane, Tete, Xai-Xai, Pemba, Inhambane Línguas faladas português (oficial), inglês e línguas regionais de origem banto (ronga, changã, muchope) e outras como lomwéemakua, tsonga, sena Superfície 799.380 km² População 23.929.708 de habitantes (2011) Analfabetismo 56,2% (1990) PIB US$ 9,53 bilhões (2010) Renda per capita US$ 220 (1999) Esperança de vida 43,8 anos Capital Lisboa (população da área metropolitana: 2,8 milhões em 2011) Outras cidades importantes Aveiro, Braga, Coimbra, Évora, Faro, Funchal (Madeira), Ponta Delgada (Açores), Porto, Setúbal Língua falada português (oficial) Superfície 92.090 km² População 10.689.663 (2011) Analfabetismo 7,8% (2000) PIB US$ 228,85 bilhões (2010) Renda per capita US$ 11.030 (1999) Esperança de vida 78 anos Capital São Tomé, com 51,6 mil habitantes (2001) Línguas faladas português (oficial) e línguas regionais de origem africana Superfície 1.001 km² População 168.526 habitantes (2011) Analfabetismo 15,1% PIB US$ 212 milhões (2010) Renda per capita US$ 1.266 Esperança de vida 65,5 anos Capital Díli, com 160 mil habitantes (2001) Outras cidades importantes Baucau, Manatuto, Aileu e Liquiçá, Same, Maliana, Suai, Bobonáro, Maubessi, Ainaro Línguas faladas português, tétum e outros 30 dialetos Superfície 14.874 km2 Fazem ainda parte do território o enclave de Ocussi-Ambeno, com 2.461 km2 (a 70 km de Batugadé), e a ilha de Ataúro, com 144 km2 (23 km a norte de Díli) População 1.153.834 habitantes (2011) Analfabetismo 40% PIB US$ 349 milhões (2010) Renda per capita US$ 600 Esperança de vida 70 anos
Os países-membros da CPLP têm a característica peculiar de que nenhum de seus integrantes dividem fronteiras. Seus PIBs são bem discrepantes e apresentam muitas divergências, segundo Luiz Alberto Osório (2002).17 O que se notou ao final de julho de 2002, na reunião do Conselho de Ministros da CPLP, foram interesses discrepantes de cada um dos países-membros. Enquanto alguns imaginam uma unificação da língua, outros estão perseguindo uma estratégia de desenvolvimento; outros, “uma estratégia conjunta para enfrentar barreiras impostas pelo mundo desenvolvido” (OSÓRIO, 2002). Outros mais estão convictos de uma suposta necessidade de difundir a língua portuguesa e chegar aos foros internacionais (ONU e OMC). Cooperações diversas são engendradas, como a circulação mais facilitada dos cidadãos entre os países lusófonos – o que possibilita maior integração cultural –, sem mencionar projetos conjuntos de combate à aids nos países africanos. Acordos são assinados, mas as prioridades não são definidas. “[...] ainda falta descobrir, exatamente, que caminhos tomar. E como”, diz Osório. “Um dos exemplos mais significativos do encalhe da CPLP é o acordo ortográfico que há anos vem sendo debatido, mas nunca é ratificado pelos governos.” Mesmo que Osório tenha se manifestado em 2002 sobre o assunto, passados dez anos a situação é praticamente a mesma, a não ser a assinatura do Acordo, que vingou. A despeito de divergências como as descritas, falemos das características do português brasileiro e do europeu. Tomemos por base apenas um capítulo de um livro18 de Anthony Giddens editado em Portugal. Observemos as grafias e as expressões que destoam do nosso português (do Brasil): socioeconómicas, subtil, síndroma, crónica, reacção, acção, actual, directo, carácter, fenómeno, controlo (em vez de controle), adoptar, género, fiáveis, tornámo-nos, mapificar, planear (em vez de planejar), seja aceite (em vez de aceito), tão-pouco (em vez de tampouco), pouco e pouco (em vez de pouco a pouco), maquilhagem, autocarro (ônibus). Conceitos de não trabalho, culturas não modernas, relações não sexuais, impacte existencial, constroem novas comunalidades, no respeitante ao assunto, tema em causa, o homem como ganha-pão e a mulher ocupada com os filhos, páginas de anúncios íntimos, encontros por computador, estádio (no sentido de fase, época, período – “ao longo dos vários estádios da vida”), sentimentos reciprocados, valência própria, a vida do dia a dia, dentro dos confins da relação, modos de adorno facial e de vestuário, comidas prontas-a-comer, “o” nosso actual ênfase. Nota-se a ausência do trema (mesmo antes do novo Acordo) e constata-se a preferência pelo infinitivo em vez de gerúndio. Em resumo, características relacionadas às diversidades geográfica, histórica, ecológica, social e cultural, envolvendo particularidades fonéticas e fonológicas, bem como morfológicas e sintáticas, sem mencionar, é claro, as lexicais (o vocabulário). Vale a pena observar expressões e termos usados nas obras do autor português José Saramago e do angolano José Eduardo Agualusa. Quando o então presidente Fernando Henrique afirmou, na reunião de finalização do encontro da CPLP (1º.8.2002, Correio Braziliense), que o acordo ortográfico era necessário para que os “lusófonos saibam que estão mais próximos da língua portuguesa europeia”, os linguistas brasileiros ficaram assustados. Vale dizer que existem muitas diferenças entre o português brasileiro (mais de 195 milhões de falantes) e o de Portugal (em torno de 11 milhões).19 Tais números nos levam a desejar ingenuamente que o português 17 Ainda sem vocação, por Luiz Alberto Osório – Correio Braziliense, 2 ago. 2002. 18 A trajetória do self, cap. 3 do livro Modernidade e identidade pessoal, de Anthony Giddens (Lisboa: Celta, 2001). 19 Estima-se em 2012 mais de 260 milhões de falantes de português no mundo.
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CapĂtulo 3
Conceito de revisĂŁo
Poucas pessoas sabem dos meandros que envolvem o processo de realização de um livro, do ato de querer publicar, até sua concretização. Dos originais ao livro pronto, o caminho é longo. Nesse caminho, o papel do revisor de textos é de fundamental importância, quando existe preocupação do cliente (o editor ou o próprio autor) com a qualidade do material publicado. Qualquer autor, por melhor que seja, comete erros, emite conceitos incoerentes, é repetitivo, fica cego às vezes a coisas absurdas que o seu texto contém. Essa incapacidade de “enxergar” é fruto comumente do seu contato diuturno e exaustivo com a criação. Faz-se, então, imprescindível a figura do revisor. É na revisão textual consciente, detalhista, competente, que o conteúdo vai ser aprimorado, no que diz respeito à coesão e à coerência, aos erros ortográficos, aos erros conceituais, enfim, aos deslizes praticados pelo autor. Tudo, ressalte-se, é perfeitamente natural. O que não é natural: tanto a autoconfiança excessiva – de autores, de donos de gráfica, de diagramadores – como o consequente, melhor dizer inconsequente, ato de prescindir do revisor. Vale mencionar as observações de Ildete Oliveira Pinto quanto à necessidade da normalização29 textual, tanto na mensagem didática, técnica, científica, quanto na de informação geral, de forma a evitar o que chama de “língua de Babel” – fazer “com que a mensagem flua tranquilamente, sem tensões ou contradições”. O autor, com larga experiência em preparação de originais30, aborda a interveniência saudável da editora num processo de edição, que entendemos, também, em muitos casos, confundir-se com o papel comumente desempenhado pelo revisor textual. “Embora o estilo pertença ao autor, com a liberdade que ele tem de construir sua mensagem, a editora pode – e deve – intervir no seu texto, e o faz com o seu pleno consentimento, para garantir a correção e a clareza da informação e a qualidade da publicação. Para conseguir isso, às vezes, chega mesmo a modificar a estrutura de um livro.” (PINTO, 1993:9) Quanto mais preparado estiver o revisor, mais “catástrofes” poderão ser evitadas, sem mencionar o aprimoramento que se obtém na apresentação gráfica. Em resumo, a vivência profissional do revisor poderá influir tanto na forma quanto no conteúdo da publicação. É o revisor capacitado e experiente indo além da revisão, passando pela chamada preparação de originais. Lembremo-nos, porém, que tanto melhor que a preparação de originais seja trabalho de pessoa ou equipe específica para esse fim. Mas tudo tem seu preço. Uma publicação que não passar pelo revisor custará menos. E a análise custo-benefício só será profícua se se conseguir sensibilizar o autor quanto à necessidade de um revisor textual. E, propositalmente, não dizemos sensibilizar o editor, na medida em que partimos do pressuposto que a sua vivência profissional não deverá dar margem a esse tipo de dúvida. Editor sabe da necessidade. Autor, nem sempre. E revisão profissional de texto é fase imprescindível, cuja necessidade não admite discussão, qualquer que seja a publicação. 29 Normalização ou padronização é a aplicação de normas linguísticas e editoriais ao texto. 30 “As atividades relativas à adequação do texto que dizem respeito à organização, normalização e revisão dos originais são chamadas de preparação.” (PINTO, 1993:10)
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3.1 atribuições do revisor • Revisar os originais (ou provas, ou heliográficas, ou fotolitos) aprovados para edição por: editoras, gráficas, agências de publicidade, autores, mestrandos, doutorandos, preparadores de originais de quaisquer instituições etc. • Revisar, se tiver experiência, traduções, cotejando-as com os originais (necessita de um auxiliar, em tais casos). É a chamada revisão técnica. • Revisar textos a serem disponibilizados na internet. • Revisar livros já publicados, objetivando uma edição revista (e/ou ampliada). • Proceder a quantas revisões forem acordadas com o cliente.
3.2 originais e editoração | original | Original é a “matéria-prima” do livro, o material entregue pelo autor à editora ou à gráfica. Antigamente os originais eram manuscritos (pouco provável de acontecer nos dias de hoje, mas não impossível). Um original pode ser, ainda, datilografado ou digitado por meio de um programa qualquer de edição de textos31 em computador. O resultado ficará armazenado, portanto, em meio digital – hard disk, disquete, zip drive, pendrive, cartão de memória, CD ou DVD, tablet. Um original em meio magnético pode ser entregue fisicamente ou enviado de forma virtual (pela internet). Esta última é a forma usual hoje em dia. À época dos textos datilografados, havia formulários próprios para a feitura de um original (as chamadas laudas, em papel popular, contendo numerações de linhas, na vertical, e de toques, na horizontal). O microcomputador (PC), assim como veio trazer grandes facilidades ao processo de edição, simplificando procedimentos, também facilitou a vida do produtor de textos.
| editoração | Editoração é termo comum na mídia (livros, revistas, filmes, discos, televisão). Para defini-la, vale a pena reportarmo-nos à obra O livro: manual de preparação e revisão (PINTO, 1993:9). Para situar melhor o processo de editoração, costuma-se dividi-lo em três momentos: o pré-industrial, o industrial e o pós-industrial. O pré-industrial consiste na busca, seleção, contratação e nas adequações dos originais para publicação; o industrial é a fase de composição, impressão e acabamento; e o pós-industrial diz respeito a todos os aspectos relacionados à comercialização do livro. O conjunto das tarefas inerentes aos três momentos – exercidas por um editor ou sob sua supervisão – denomina-se editoração. (PINTO, 1993:9) 31 Alguns softwares antigos de edição de textos: World Star, Redator Itautec, Carta Certa, World Perfect. Software que predomina hoje: Microsoft Word.
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Interessa-nos, no entanto e sobremaneira, o processo de editoração apenas quando se refere às “adequações dos originais”, fixando-nos na preparação e revisão do texto – etapas classificadas dentro das fases pré-industrial e industrial, tal e qual o autor citado. Assim, a revisão de originais ocorrerá antes da composição (também chamada de editoração eletrônica), ou seja, na fase de preparação de originais (que consta de organização, normalização e revisão). A revisão de originais pode ser chamada de 1ª revisão – fase pré-industrial. A 2ª revisão ocorrerá após o texto já composto (ou diagramado, ou ainda editorado eletronicamente) – fase industrial. Uma 3ª revisão é recomendável e, em certos casos, uma 4ª revisão. Cada uma delas tem características diferenciadas e, obviamente, ocorrem antes da fase de fotolito, gravação de chapa, e impressão e acabamento. Antes da gravação de chapa, às vezes é solicitada a chamada prova heliográfica, que pode suscitar uma pequena revisão para ajustes de paginação ou outros.
3.3 erros de revisão Todo ser humano é passível de errar. E a psicanálise, ao vir em socorro de quem erra, considera que os erros, lapsos ou atos falhos são resultado de motivações inconscientes. “No campo da ciência, é verdade admitida que o método experimental está sujeito ao risco dos erros de observação, devido à ilusão de óptica ou a diferenças de percepção de um objeto que também sofre mudanças. Marquês de Laplace e Carl Friedrich Gauss foram os primeiros a elaborar a teoria dos erros, partindo da análise dos enganos cometidos nas medidas físicas e astronômicas.” (Encarta, 2001) No que diz respeito a erros encontrados numa publicação, estes quase sempre são imputados ao revisor, sejam de ortografia, de pontuação, sejam de discrepância com o original, de supressão de partes, e muitas vezes até de diagramação. No entanto, é frequente o revisor participar de mais de uma revisão e acabar perdendo o controle de seu trabalho justamente na fase final. Prazos alterados, pressa do editor, motivada por lançamento já marcado, acabam por atropelar todo o processo. E a qualidade é comprometida. Assim se manifesta Arezio sobre a sina dos revisores, que transcrevemos na grafia original: Nos tempos modernos, nos nossos dias, o revisor é quasi um anonymo no trabalho de uma imprensa, escondido, muita vez, no canto escuro da sala, a desenhar signaes á margem das provas, é o bode expiatorio de todas as culpas. Nenhum autor o cita, nem faz menção destes humildes collaboradores. Se o livro sahe perfeito, todo o applauso é para o editor ou para a empresa, mas se houve descuido, errata ou gralhas, é a revisão quem paga. Autores descuidosos desculpam-se das faltas grammaticaes com o celebre erro de revisão; os legisladores, com a chapa, em nota, no fim da pagina: reproduzido por ter sahido com incorrecções; ou aliás, para salvar apparencias: este discurso não foi revisto pelo orador. Na verdade é que nin-
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guém quer ser o culpado, só o revisor é o unico responsável; para elle todo o castigo é pouco... mesmo aquelle que na China mandava cortar a cabeça ao revisor. (AREZIO, 1925:20)
Na leitura do trecho da obra de Arthur Arezio, o bom observador imediatamente se reportará ao início de seu livro. E não deixará de sorrir da seguinte observação: “Daqui, leitor amigo, lavro o meu protesto garantindo-vos não ter feito a revisão deste trabalho; entretanto espero reproduzil-o em dezenas de milheiros, com a nota: Reproduzido por ter sahido com incorrecções. Maio de 1925. O AUTOR”. É comum observar autores, na primeira metade do séc. XX, ao tratar do assunto revisão textual, darem importância à caligrafia das pessoas, relacionando a boa ou a má caligrafia diretamente com o resultado final do processo de edição. A caligrafia ruim – como a da maioria das receitas médicas que observávamos até recentemente – já causou muitos transtornos. Há autores que não conseguem “traduzir” seus próprios originais. E datilógrafos ou digitadores que acabam por inferir coisas erradas em razão da ilegibilidade. É no mínimo hilariante saber de fato ocorrido em 1867, na Câmara dos Lordes, na Inglaterra, quando o secretário anuncia a entrada em discussão de uma emenda que, de tão ilegível, não se podia dizer nem do que se tratava, nem de quem era a autoria.32 Hoje a realidade é bem diferente. Escrever à mão está caindo em desuso. É difícil chegar ao editor um original manuscrito. O próprio autor datilografa/digita o seu texto ou pede a alguém para fazê-lo. A questão da ilegibilidade provavelmente já teria sido sanada antes de o original chegar ao editor, seja de forma doméstica, seja de forma profissional. Em épocas passadas, o desconhecimento dos sinais de revisão convencionais provocava muitos contratempos. Observações feitas à margem, na correção de provas, eram incorporadas pelo tipóprafo ou, mais tarde, pelo linotipista e produziam resultados terríveis. Hoje em dia já são poucos os revisores que ainda se utilizam dos sinais de revisão. As emendas são feitas diretamente no texto em meio digital, pelo revisor ou pelo diagramador33. Este último geralmente é mais bem preparado profissionalmente do que os compositores da época da tipografia. Na sua maioria, os diagramadores, versados nos softwares de edição como PageMaker, Indesign, Photoshop, Corel Draw etc., não mais conhecem os sinais convencionais de revisão – já estão familiarizados com indicações mais diretas, cada um a seu modo, utilizadas atualmente pelos revisores.34
| gatos, pastéis, gralhas, piolhos – exemplos curiosos | Aos erros de composição (erros de caixa, saltos, repetições, acréscimos) os revisores apelidaram: • Pastel — antigamente chamado “erro de caixa”, é inversão indevida de sinais, letras, sílabas, palavras, linhas ou trechos. Também é pastel a mistura desordenada de caracteres tipográficos. • Salto — qualquer omissão involuntária de letras, palavras, frases, linhas ou parágrafos. • Piolho — duplicação indevida de sinais, letras, sílabas, palavras, linhas ou trechos. O pequeno erro tipográfico que escapa à revisão é também conhecido por piolho. 32 Walter W. Barr, em artigo publicado no American Typographical Journal (AREZIO, 1925:20). 33 Vamos chamar de diagramador o profissional que executa a editoração eletrônica. Ele pode conceber o projeto gráfico ou só executá-lo. Quando ele apenas executa, supõe-se que o projeto foi executado por um profissional chamado planejador gráfico ou programador visual, ou pelo próprio diretor de arte. 34 O Word apresenta em ferramentas, controlar alterações condições para uma ou mais pessoas interagirem na feitura/correção de um texto, com total controle do que cada um rejeita, acrescenta, modifica etc.
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• Gato — troca indevida de uma palavra por outra. • Gralha — presença indevida de letras ou sinais virados (erro frequente na composição tipográfica), fora de lugar ou trocados. Passamos a transcrever, com pequenas adaptações, alguns casos interessantes de gatos e piolhos relacionados por Arezio (1925:28-33): Firmin Didot, célebre impressor francês, na edição do luxuoso Devocionário (livro de orações), deixou passar um gato na descrição de uma cerimônia religiosa; era o caso em que o sacerdote, em vez de tirar o solidéu35 (calota, de callote), tirou as calças (culote, de culotte).
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No jornal The Times, de Londres, anunciaram uma janela para alugar, por ocasião de uma solenidade real, e a revisão deixou passar um gato: em vez de janela (window), uma viúva (widow).
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A Correspondencia de España publicou uma edición de ayre, por uma edición de ayer; la vieja descamisada, por la oveja descarriada.
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Uma composição poética para brindar os noivos: “as bodas de um noivado”. O título esdrúxulo publicado com piolho: “as botas de um noivado”.
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Um fazendeiro manda para um jornal a seguinte notícia: “chuvas torrenciais; grande devastação; a minha roça está perdida!” Com piolhos, o noticiário ficou assim: “chaves torrenciais; grande detestação; minha roca está torcida!”
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Um padeiro manda anunciar: “Ao famoso pão torrado”. E os piolhos tipográficos o fazem dizer pelo jornal: “Ao famoso pão borrado”.
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Um célebre folhetinista manda para a imprensa a descrição de um baile. Entre outras belezas literárias, dizia: “o meu par elegantemente trajado; um lindo postiço36 lhe arqueava as vestes”. E como passaram dois piolhos, lia-se no dia seguinte: “o meu par estava elegantemente traçado; um lindo postigo37 lhe arqueava as vestes”.
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Um pobre enfermo manda publicar na imprensa um agradecimento ao seu médico por ter-lhe restabelecido a saúde. Entre outras palavras elogiativas, dizia: “e por este meio agradeço ao distinto oculista que me curou os olhos”. No jornal lia-se: “e por este meio agradeço ao distinto oculista que me furou os olhos”.
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35 1. Pequeno barrete, em forma de calota, com que bispos e alguns padres cobrem o alto da cabeça. 2. Barrete semelhante ao solidéu (1), ou de outra forma, usado sobretudo por pessoas calvas, e pelos judeus, em determinadas ocasiões – Dicionário Eletrônico Aurélio Séc. XXI. 36 Postiço: de pôr e tirar. Acrescentado a obra já concluída. Colocado artificialmente. Que não é natural – Dicionário Aurélio. 37 Postigo: pequena porta. Abertura quadrangular em porta ou janela, que permite observar sem as abrir. Tampa de gateiras, escovéns, vigias etc., nas embarcações.
Um correspondente manda a descrição de uma festa por ocasião do nascimento de um príncipe, dizendo: “Na festa real o que mais digno de menção houve foi aparecer um camelo com grandes corcovas, nas quais montavam dois árabes”. No jornal lia-se: “Na testa real, o que mais digno de benção houve foi aparecer um cabelo com grandes corcovas, nas quais montavam dois árabes”.
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Alguém anuncia uma porta para alugar, e nos aluga-se dum jornal lia-se no dia seguinte: “Aluga-se um poeta”.
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Certo folhetinista manda para o jornal a descrição de um passeio. Entre muitas ninharia, dizia esta: “e todo gamenho38 ofereci-lhe uma rosa”. Os malditos piolhos tipográficos zombaram dele, e no outro dia lia-se no folhetim: “todo gemendo ofereci-lhe uma roca”.
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Reinava em Portugal a rainha D. Maria II, e num boletim do Diário do Governo, falando-se da mesma augusta senhora, se disse tainha em vez de rainha. O ministério em peso reclama da redação uma errata estrondosa. No dia seguinte, lia-se em letras grandes a seguinte corrigenda: Errata – no boletim publicado ontem, em vez de tainha, leia-se bainha.
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Um leiloeiro, entre outras frases bombásticas, anuncia um “Leilão monstro!”, e no anúncio aparece: “Leitão monstro!”
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Numa das crônicas de Lisboa, publicadas na Gazeta de Notícias, Ramalho Ortigão titulou: O passado e o presente. Mas a revisão, habilmente, emendou para O passado e o presunto. Atendendo a uma reclamação, em bilhete, a empresa retificou o equívoco: – O passeante e o presídio.
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Travara-se entre dois partidos uma luta renhida. Era véspera de eleições para o cargo de intendente e, em artigo de fundo, um dos redatores assim escrevera: “Os nossos correligionários não são traidores. Os vossos, sim”. Qual não foi, porém, a surpresa quando, na manhã seguinte, aparecera publicado: “Os vossos correligionários não são traidores. Os nossos, sim”. Entretanto, da revisão não fora a culpa. “Lembro-me bem que, dias depois, aquele meu colega contava-me que, ao suspender a forma, caíram algumas letras, as quais foram repostas, por ele mesmo, sem ter cotejado a prova... e, mais uma vez, a revisão levou a culpa.” 38 Gamenho. 1. Diz-se de, ou indivíduo casquilho, janota, muito enfeitado. 2. Malandro, vadio. Casquilho: que veste com apuro exagerado, peralta – Dicionário Aurélio.
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| erros e suas possíveis causas | Selecionamos alguns exemplos a partir de observações feitas em trabalhos diversos de revisão textual, sem identificar as fontes (às vezes alteradas para preservar autores que poderiam sentir-se constrangidos). Evidenciamos que digitações rápidas e pouco cuidadosas podem induzir os revisores a erros, principalmente porque, hoje em dia, não é comum existirem originais para confrontação, como em outras épocas. Algumas construções são verídicas. Outras, hipotéticas. Texto
[...] organizações comprometidas com a construção de uma sociedade saiam justa.
Revisão Descuidada
[...] organizações comprometidas com a construção de uma sociedade saia justa.
Revisão Descuidada 2
[...] organizações comprometidas com a construção de uma sociedade saia-justa.
Digitação Revisão Atenta
Texto Revisão Descuidada Revisão Descuidada 2 Digitação Revisão Atenta
Texto
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saiam justa, em vez de mais justa. [...] organizações comprometidas com a construção de uma sociedade mais justa.
[...] Ao forte cabe proteger o franco.39 Ao forte cabe proteger o flanco.40 [...] Aos soldados do forte cabe proteger o flanco. franco, em vez de fraco. [...] Ao forte cabe proteger o fraco.
As drogas ainda existirão, já que a conscientização nas salas de aula manterá a maioria dos jovens longe delas. Deve ficar claro que os jovens ficarão longe das drogas e não das salas de aula (algo também convidativo para alguns alunos...).
39 S. m. 1. Antiga moeda francesa, de ouro. 2. Unidade monetária, e moeda, da França, Bélgica, Suíça, Mônaco, Andorra, Luxemburgo, Liechtenstein, Alto Volta, Burundi, Camarões, Chade, Comores, Costa do Marfim, Congo [Brazzaville (cf. zaire)], Daomé, Djibuti, Gabão, Máli, Mauritânia, Níger, República Centro-Africana, República Malgaxe, Ruanda, Senegal e Togo, dividida em 100 cêntimos. S. m. 1. Indivíduo dos francos, confederação de povos germânicos que conquistaram parte da Gália. Adj. 2. Pertencente ou relativo aos francos. 3. Espontâneo, sincero, leal, liso: 4. Desimpedido, desembaraçado, livre: 5. Liberal, generoso: 6. Isento de tributos, impostos ou qualquer forma de pagamento. 40 S. m. 1. Espaço entre a cortina e o baluarte, nas fortificações. 2. Lado de um exército ou de um corpo de tropas. 3. Anat. Cada uma de duas regiões abdominais laterais, direita e esquerda, que se situam, em altura, sob cada hipocôndrio; ilharga, ilhal: 4. P. ext. Parte lateral de qualquer objeto; lado. 5. Ponto ou lado acessível, expugnável. De flanco. 1. De lado; lateralmente.
Revisão Atenta
Texto Revisão Descuidada
“As drogas ainda existirão, já que a conscientização manterá a maioria dos jovens longe delas.” Se não for aceitável, omitir salas de aula e optar por sala de aula (singular) – a expressão longe delas só poderá referir-se às drogas (plural). Teremos: “As drogas ainda existirão, já que a conscientização em sala de aula manterá a maioria dos jovens longe delas”.
[...] mode prendê as polícia marvada. [...] de modo a prender os policiais malvados.
Revisão Atenta
[...] mode prendê as puliça marvada (tratava-se de texto imitando a oralidade regional, e havia outras incidências de puliça no original. E há de se padronizar. Quem havia digitado polícia o fez por automatismo).
Texto
[...] exigiria a efetivação do poder público e na a sua ausência, conforme preceituava o sistema de mercado.
Revisão Descuidada
Digitação Revisão Atenta
Texto
Digitação Revisão Atenta
Texto
[...] exigiria a efetivação do poder público e na sua ausência, conforme preceituava o sistema de mercado. Substituiu-se um não por na. [...] exigiria a efetivação do poder público, e não a sua ausência, conforme preceituava o sistema de mercado.
O pensamento de Rosseau foi um dos pilares de desenvolvimento da democracia burguesa. Digitou-se errado o nome do filósofo. [...] O pensamento de Rousseau foi um dos pilares de desenvolvimento da democracia burguesa.
[...] Essa iniciativa do Ministério constitui-se em algo bem mais abrangente que um mero concurso.
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Capítulo 8
Memórias de revisão
Este capítulo agrega observações do revisor feitas a clientes. Tais memórias acompanham o produto final, como meio de consulta quanto a pendências julgadas de competência do autor ou seu preposto e como meio de promover um histórico/registro das principais decisões tomadas pelo revisor. Não se tem notícias dessa estratégia em manuais de revisão, mas, por considerá-la de fundamental importância tanto para o cliente quanto para o profissional revisor, fica a sugestão. Alguns clientes a ignoram, outros passam a exigi-la nas revisões. As chamadas Memórias de Revisão têm sido enviadas durante o processo de revisão, por e-mail, ou simplesmente ao final da primeira revisão. Notei, já no decorrer de 2006, que cada vez mais o revisor estava trabalhando sobre arquivo em meio magnético, seja em trabalhos que seriam apresentados em MS Word, seja em trabalhos que após a primeira revisão seriam formatados com programas profissionais de diagramação. Isso reflete que os novos tempos, de predomínio dos crescentes recursos da informática, influenciam sobremaneira a revisão textual, sem cotejamento de provas com originais, sem marcações em provas impressas. Nestas Memórias de Revisão, quando o revisor se manifesta sobre formatação/diagramação, significa quase sempre que o trabalho será finalizado em MS Word mesmo. Em casos, no entanto, em que os arquivos no MS Word serão posteriormente exportados para programas profissionais, não cabe ao revisor quaisquer menções a diagramação – é trabalho de pessoa especializada. E essa seria uma fase posterior, só depois do trabalho impresso, quando o revisor pode apontar algum problema visível. A seguir, doze Memórias de Revisão. Nelas prevalece a linguagem coloquial, rápida, expressa, objetiva.
memória 1
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1. Minhas intervenções estarão em azul. As que estiverem em vermelho significam alerta para o autor. Na questão das vírgulas, porém, não deixei “rastro azul”...(dá muito trabalho). Vamos evitar sublinhados no texto (não é elegante). Para destacar texto (orientação para o diagramador), vamos preferir os negritos ou itálicos (com ênfase para estes últimos). 2. O mesmo (...rigoroso controle do mesmo). Evitaremos sempre “o mesmo”... Gostaria que o autor verificasse cada solução dada pelo revisor para supressão do termo e desse seu aval. 3. Etc. sempre terá ponto abreviativo (havia muitas incidências sem ponto). Não terá vírgula antes, pois o autor assim prefere (constatação das incidências). 4. Corrigimos de forma geral todo espaço indevido em abertura/fechamento de trechos entre parênteses. Retiramos de forma geral espaços indevidos antes de vírgula. No decorrer da revisão retiramos espaçamentos duplos, triplos etc. indevidos (e inexplicáveis), o que vai facilitar a diagramação. 5. Toda palavra estrangeira será em itálico.
6. “Irá desenvolver”, vai passar a “vai desenvolver”, que é equivalente a “desenvolverá”. A formação desse tipo de futuro é com o verbo no presente. 7. Em casos de “manter contatos com outros profissionais”, optamos por “manter contato”, no singular. Mesmo no singular, há um sentido pluralizado implícito. É o caso também de “registros de movimentação” – acho desnecessário “registros de movimentações”. 8. Verificar se há alguma razão especial para “nutricionista” no singular (é um só dentre os outros?). “Treinamentos são também realizados no dia a dia por colegas, gestores ou nutricionista, quer seja testando receitas, quer dando dicas, ou fazendo demonstrações etc.” 9. Estou eliminando “ponto e vírgula” nas itemizações. Acho que é mais elegante com “ponto”. Em itemizações com frases curtinhas, estou deixando sem nada. 10. “Conforme abaixo”. Nunca diremos “abaixo” ou “acima”. O que se segue pode não estar abaixo e nem acima, mas sim na outra página... 11. Na hora de juntar os arquivos em um só, acho que vieram muitos negritos que não existiam (problemas possivelmente de diferentes versões do MS Word). Peço olhar isso com atenção antes da diagramação. E não se preocupar com formatação de texto – é trabalho do diagramador. Nem se preocupe se está em arial, times ou outra fonte... Mas negritos você deve olhar com cuidado. E não abuse de negritos: eles poluem o texto. 12. Retiramos, de forma geral, espaços indevidos em 5 %, adotando 5%. 13. Vamos evitar iniciar frases com “porém”. Essa conjunção irá para o meio então. 14. Algumas definições de grafia: não prevista, vale-refeição, semipronto, subdimensionado, décimo terceiro, contracheque, salário-educação, auxíliocreche, matéria-prima, caixa-d’água, antitérmico, antichama, cachorro-quente, self-service, layout, não comestível, não distribuído, público-alvo, hortifrúti, pimenta-de-cheiro, pós-venda. 15. Substituí “devido a” em lugares que julguei indevidos... No caso de “...sem o devido gozo de férias” está correto. No resto, a meu ver, não! Sou adepto de que não se deve usar “devido a” no lugar de “por causa de, em razão de, graças a, em virtude de, em consequência de”. “Devido a” varia quando se refere diretamente a um substantivo ou pronome, equivalendo a “causado por, decorrente de”. Ex.: eram ferimentos devidos à queda que sofrera. Prestou as homenagens devidas. A queda devida à instabilidade da bolsa agravou-se. 16. ...“o gestor deve buscar o comprometimento da equipe no sentido de reduzir os desperdícios, quer utilizando-se de campanhas educativas, capacitação, premiação etc.” Um quer pede outro quer... Quer utilizando-se de uma coisa, quer de outra... 17. É o momento onde... é o momento em que. Onde, só como referência física. 18. % (grudado no número), kg (sempre em minúscula, não grudar no número), g (sempre em minúscula, nunca grudar no número), R$ (R em maiúscula, não grudar o número no cifrão), 02 litros: não é necessário. São 2 litros. Mesmo sabendo que a questão é controversa, a nossa intenção é padronizar.
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19. Abóbora-itália, abóbora-menina, abóbora-japonesa (vamos convencionar assim por analogia com outras abóboras...) 20. “pmg” como pequeno, médio e grande: não há a menor possibilidade de os leitores entenderem. Para mim pode significar outra coisa.
memória 2 1. Sem-Terra e Sem Terra (os trabalhadores sem terra, Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. Os sem-terra chegaram...) 2. Fulano, não me atrevo a revisar o espanhol, embora tenha corrigido casos de falta de acento que me chamaram atenção. E peça a quem vai diagramar para não descuidar da formatação. Faltam muitos ajustes, de maneira geral. 3. “Acrescentar bancos e parlamentares...” Acho que se está misturando instituição (banco, no caso) com membros de outra instituição (parlamentares, no caso). A isso dá-se o nome de falta de paralelismo semântico. 4. “As regiões foram ocupadas por populações tradicionais com pouco impacto ambiental” fica um pouco dúbio se são as populações ou as regiões que têm “pouco impacto”. Fiz uma inversão. 5. A abertura de estradas ilegais facilita a penetração (de quê? coisa boa ou ruim? já que é ilegal?). 6. Aviso ao diagramador — atentar para a formatação de marcadores... 7. Verificar se posição de poder ou posição e poder. 8. No caso do eslaide 2, hierarquizar marcadores. Atente-se para o fato de que marcador vazado confunde com a letra “o”. 9. No cognome “Gata, Gaulesa”, obviamente trata-se de vírgula proibida. 10. No eslaide 5, padronizar os títulos e a cor. O vermelho está vibrando demais.
memória 3
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1. Rever formatação como um todo... 2. Desconfio da escrita dos nomes próprios, mas não posso interferir – Jose Alesandro ou José Alessandro? Isaias, Isaías? Márcia ou Marcia? Sônia ou Sonia? Félix, Felix? Edílson com acento? (ai ai ai), Gloria, Glória? 3. Desconfio também da escrita das siglas. São estranhas para mim, algumas contendo mistura de caixas-altas e caixas-baixas. Por não conhecê-las, peço que o autor confirme. Estão marcadas em vermelho. 4. Diante de anotações sumárias e telegráficas, peço que o autor se pronuncie. 5. Os marcadores da página 33 confundem o leitor.
6. Caramba, o teclado de quem escreveu não tinha acentos... Andei corrigindo para “fazendeiros” em “fazendeiro, ocupantes (grandes e pequenos), equipamentos do judiciário”, sem muita certeza... vai depender do contexto. Foi o caso de pecuarista, pecuaristas também no Anexo 4. 7. Às vezes caixa-alta chama atenção para a palavra (assim como negrito, itálico, sublinhado). É recurso usado para destaque. Mas grande incidência de maiúsculas dificulta a leitura, por incrível que pareça! Para mim, é um desastre! Já leu uma ata ou um edital todo em letras maiúsculas? É de chorar. 8. Há apontamentos sumários demais na p. 55 que não permitem revisão!!! 9. Há abuso de maiúsculas dificultando a compreensão na p. 60. Dificulta tudo, até revisão (se o revisor não for convicto, ele desiste da profissão). Rever formatação. Texto parece não acabado, já que existem até interrogações espalhadas... Formatação bem ruim e desestimulante.80 10. Eslaide 4 — acho que há algo errado... Verificar. 11. Eslaide 19 — sociedade determinada ou determinada sociedade (há uma sutileza de sentido aí). Estou às ordens.
memória 4 1. Quanto à diagramação – estou suprimindo “zero” de Figuras/Tabelas 01, 02, 03... aliás, se é zero à esquerda... não vale nada! Só atrabalha. Me recuso a morar na casa 08. Moro na 8, simplesmente... 2. Verificar Plaino de Acumulação Aluvial (pl) em várias incidências... 3. O apud será sem itálico sempre. 4. Estou adotando “tipos de solo” (e não tipos de solos) e “unidades de solo” (e não unidades de solos). 5. Plurais de verde-escuro (adjetivo) seria verde-escuros... No entanto, com verde-oliva seria “uniformes verde-oliva”. 6. Há abreviações nas tabelas que não fazem o menor sentido, já que há espaço suficiente para que o nome compareça inteiro. Há casos outros de abreviações mirabolantes. Nelas nem imagino o que o autor quer dizer. Vamos respeitar o leitor... 7. Siglas — adotamos as siglas todas em cx-alta, já que o autor usava às vezes uma forma, às vezes outra. Havia Eletronorte, Dentel, Telepará. Mas ao mesmo tempo IBAMA, CELPA etc. Padronizamos. 8. Normalização — essas caixas-altas que estão sendo usadas (NOME DE AUTOR seguido de ano) só são pertinentes quando há transcrições entre aspas ou por meio de recuos. Não vou interferir, mesmo porque quem decide se é transcrição ou não é o autor. É o caso de “Como foi mostrado em Parangolé, as populações de muitas espécies migratórias foram fortemente reduzidas ou extintas no lago e até acima dele” (SARTANA, 1982). 80 Fica evidente tratar-se de um trabalho que seria entregue em MS Word, e já formatado. Se fosse o caso de revisão em Word precedendo a formatação em programa mais profissional, o revisor não deveria se pronunciar sobre diagramação. Essa seria a fase subsequente.
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9. Formação do futuro (vai construir, e não irá construir). Essa classe social vai construir suas precárias habitações de restos de madeira nas margens de igarapés e na periferia das novas áreas de ocupação. 10. O parágrafo a seguir parece mais especificação para licitação do que parte de um diagnóstico sobre a cidade... “O tratamento da água é efetuado através de filtros de pressão, com vazão de 150 m³/hora e através de misturador rápido tipo Parshall, Floculador, Decantador laminares, filtros de gravidade de dupla camada, com areia e antiácido e câmara de desinfecção e reatores de cloro tipo Hidrogerox, para uma vazão de 450 m³/hora.” 11. A frase a seguir é um tanto estranha (oportunidade de quê?) e outras coisas... Se for uma transcrição mesmo, o autor deveria colocar entre aspas. Logicamente depois de conferir MUITO BEM a transcrição... Quem faz o texto (e este tudo pode) também pode transformar o conceito ou ideia que se quer transmitir para uma forma mais assimilável por todos... “A grande emissão líquida de gases de efeito estufa causada pelo desmatamento representa uma oportunidade, porque o valor em potencial de não desmatar cada hectare é pelo menos duas ordens de magnitude maior que o valor que pode ser ganho vendendo mercadorias tradicionais como madeira e carne bovina.” 12. Houve grande incidência de “o tabela” e “no tabela”. Curioso... Possivelmente substituições gerais (e afoitas) no comando “substituir” do Word. 13. Aviso ao formatador: no gráfico 8, perto da tabela 27, há grafia errada de tonelada (já substituí Ton por toneladas). Há casos também de Ton./ha., que logicamente passarão a t/ha (sem quaisquer pontos). Não se esqueça, diagramador, que não estou de posse de MUITAS TABELAS e GRÁFICOS. Isso significa que essas modificações ficarão por conta do diagramador. 14. O que é Micro/UF nas tabelas 32 e 34? 15. Sugiro redação mais clara. “Analisando-se a Tabela 40, verifica-se que o Município Azul é o que possui mais diversificada a participação dos principais produtos da extração vegetal da microrregião e que os demais concentram cada uma das restantes, de modo que cerca de metade da produção de lenha é extraída em Riacho Branco, com forte tendência de aumento.” 16. Consultar o autor quanto à necessidade desse detalhamento e dessa junção de galinhas com suínos. Os bichos é que estão em declínio? ou a sua criação? “Por meio da observação dos dados tabulados na Tabela 41, verifica-se que os principais rebanhos criados na microrregião são os bovinos, com forte expansão desde o início da década de 1990 e, em menor escala, os equinos e ovinos; os galos, frangas, pintos e frangos; galinhas e suínos, todos apresentam declínio, o que indica tendência de substituição desses animais pelos bovinos.” 17. Este parágrafo não está compreensível: “De acordo com a Tabela 21, verifica-se o mesmo processo de desconcentração gradual do estoque de emprego microrregional do Município Amarelo, que respondia por aproximadamente 67% do total de empregos formais da microrregião em 1999, para cerca de 50% em 2003, havendo expansão principalmente nos municípios de X, Y e Z.”
18. Não sei se notou, mas o(s) autor(es) frequentemente mistura(m) município e cidade. Aí embaixo, o autor começa com município, depois fala de cidade... A Microrregião é composta por sete municípios do sudeste: [...]. Essas cidades foram influenciadas, em seu desenvolvimento, pela construção da hidrelétrica, nos anos 70. Quatro cidades foram emancipadas entre 1991 e 1993. 19. Estamos evitando iniciar frase com “porém”... 20. Exemplo de copidesque com texto ruim... e que consome muito tempo do revisor... ERA ASSIM — “A microrregião manifesta o fator de não reconhecimento paterno devido ao problema da prostituição e grande fluxo migratório que significa chegar e sair muita gente em pequeno espaço de tempo.” FICOU ASSIM —“Em razão da prostituição e do grande fluxo migratório – muita gente chegando e saindo em pequeno lapso de tempo –, a microrregião registra alto índice de não reconhecimento paterno.” 21. Solicito deixar o texto mais claro: “Também é baixo o número de consultórios médicos nas 91 unidades de saúde da microrregião – são ao todo 118 e 16 equipamentos odontológicos com menos de 0,8 equipamentos para cada 10.000 habitantes, conforme dados abaixo. É grande a disparidade entre os municípios, o que se traduz por três consultórios em Patrícia Quarenta, representando 0,7 consultórios por 10.000 habitantes, e X, com 64, representando 8 consultórios. Em Nova Y simplesmente não existem equipamentos odontológicos.” 22. Solicito rever redundâncias e deixar o texto mais claro nestes dois parágrafos contíguos: “Em 2004, a esperança de vida do brasileiro atingiu 71,7 anos (71 anos, 8 meses e 12 dias). No ranking da ONU, o Brasil é o 82º em esperança de vida ao nascer, atrás de países como Chile e Argentina. As mulheres continuavam a ter, em média, uma expectativa de vida superior à dos homens e os jovens tinham seis vezes mais chances de morrer do que as mulheres jovens, principalmente em função das mortes por causas externas (leia-se violência urbana principalmente), segundo dados do IBGE.” “Em 2004, a esperança de vida ao nascer no Brasil ultrapassou os 71 anos e o indicador ficou acima do calculado em 2003 (71,3 anos). Em relação a 2003 houve um acréscimo de 0,4 ano (4 meses e 24 dias). Entre 1980 e 2004 a expectativa de vida do brasileiro experimentou um acréscimo de 9,1 anos, ao passar de 62,6 anos, para os atuais 71,7 anos.” 23. Solicito dar o aval para “as maiores esperanças de vida”: No ranking das Unidades da Federação com as maiores esperanças de vida, em 2004, o Distrito Federal (74,6 anos) ocupa a 1ª posição. Alagoas (65,5 anos) ocupa o último lugar. 24. Solicito que o autor reveja e aprimore o texto: “Sobre a taxa de fecundidade, outro dado analisado e de suma importância para caracterizar a microrregião, pois é um dado produzido em praticamente todas as regiões e países do mundo, os dados manifestam 3,7 filhos por mulher na microrregião enquanto para o Estado do Pará esse índice é de 3,1.”
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Capítulo 9
Citações, notas e referências, normalização Autor: Edelson Rodrigues Nascimento Normalizador entrevistado: Geraldo Campetti Sobrinho
No momento de se concretizar um livro não técnico (de ficção, memória ou mesmo de poesia), geralmente não nos lembramos de normalização, o que não ocorre quando da elaboração de trabalhos científicos (monografias, dissertações, teses, manuais, guias, catálogos, enciclopédias, dicionários). Estes, muito mais do que aqueles, devem enquadrarse em parâmetros preestabelecidos. Isso significa que no primeiro gênero o livre-arbítrio prevalece mais que no segundo, e usa-se e abusa-se dos tipos de fonte, das capitulares criativas, da diagramação não convencional, das letras grandes e providenciais para a terceira idade. Ou seja, a criatividade tem seu curso em projetos gráficos que podem fugir às normas convencionais. A sisudez que cerca os trabalhos científicos indica, por exemplo, que se deve usar o ponto e vírgula entre alíneas ou subitens. Nas obras não técnicas, pode-se substituí-lo por ponto ou simplesmente suprimi-lo. Portanto, no segundo gênero, há de se seguir, nesse particular e em outras situações, a NBR 6024, entre outras, sob pena de não corresponder à expectativa do orientador do trabalho científico. Antes de apresentarmos uma síntese do que julgamos importante para um revisor de textos, recomendamos a leitura das normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT (NBR 10520, NBR 14724, NBR 6023 e outras relacionadas ao assunto), assim como os livretos da Universidade Federal do Paraná – Sistema de Bibliotecas e, complementarmente, os documentos consultados para a feitura dessa importante coleção produzida pela Editora UFPR. E, antes ainda de prosseguirmos, faz-se necessário ressaltar que quanto mais conhecimentos sobre normalização tiver o revisor melhor será o resultado de sua revisão. No entanto, não se deve prescindir do trabalho do normalizador, que investiu numa formação específica e, portanto, possui conhecimentos técnicos aprofundados sobre o tema. Como tal, é o normalizador o profissional a quem se deve recorrer em casos de dúvida nessa área.
9.1 citações A inserção no texto de uma informação extraída de outra fonte denomina-se citação. Esta pode dar-se de duas formas: pela transcrição, que nada mais é do que a cópia fidedigna do texto original, e pela paráfrase, que consiste em uma adaptação do conteúdo expresso na fonte, preservando-lhe o sentido (o que implica, necessariamente, uma interpretação). As citações podem ser diretas, quando repetem o texto original, ou indiretas, quando reproduzem uma fonte intermediária. Tanto em um caso como no outro, é recomendável que o autor informe a fonte, para não correr o risco de ser acusado de plágio.
| Normas gerais |
206
• A citação deve ser exata, textual e devidamente identificada, sendo a fidedignidade à fonte responsabilidade exclusiva do autor. Deve o revisor, no entanto, ao deparar com uma citação não definida, assinalá-la e submetê-la ao autor.
• Os erros tipográficos evidentes devem ser corrigidos. Para tanto, conta o revisor com o auxílio indispensável de corretores ortográficos eletrônicos instalados em praticamente todos os editores de texto. Tais corretores não são infalíveis – não se pode jamais prescindir do bom e velho dicionário (também eletrônico, se possível) e dos guias ortográficos, meios que se complementam. • Na ocorrência de outros erros, emprega-se a palavra latina sic (assim) entre parênteses ou colchetes e em tipo regular, ao final da citação ou logo após a palavra ou expressão estranha ou errada, para indicar que está igual ao original. Exemplo: “Este artigo é uma espécie de síntese dos resultados que chegaram [sic] lutas seculares inspiradas no ideal da igualdade”. • A citação deve ser atualizada de acordo com o sistema ortográfico vigente, excetuando-se os textos de valor histórico ou aqueles cujos escritos originais se destinem à apreciação. O revisor, caso não tenha sido informado, deve estar atento a essas peculiaridades, para não corrigir indevidamente os supostos “erros ortográficos”. Em caso de dúvida, sempre consultar o autor. • Usam-se aspas duplas no início e no final de transcrição e aspas simples em transcrição inserida em outra. As interpolações ficam fora das aspas. Exemplos: “No sentido comum, as ideologias se tornaram naturalizadas ou automatizadas. Além disso, Gramsci concebia ‘o campo das ideologias em termos de correntes ou formações conflitantes, sobrepostas ou cruzadas’, a que se referiu como ‘um complexo ideológico’. Isso sugere um foco sobre os processos por meio dos quais os complexos ideológicos são estruturados e reestruturados, articulados e rearticulados.” (FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Trad. Izabel Magalhães. Brasília, DF: UnB, 2001. p. 123) Mas, se a atividade narrativa está tão intimamente ligada a nossa vida cotidiana”, diz Umberto Eco, “será que não interpretamos a vida como ficção e, ao interpretar a realidade, não lhe acrescentamos elementos ficcionais?” • Deve-se recuar, em relação à margem esquerda, e usar corpo menor que o do texto, quando a transcrição tiver mais de cinco linhas (algumas editoras ou órgãos governamentais fazem o recuo em citações com mais de três linhas). Nesse caso, dispensam-se as aspas, como se pode observar no recuo do exemplo a seguir. “Os acontecimentos, num romance, são ligados por relações de complementaridade ou de consequência que o leitor dispõe de lugares de ancoragem para sua leitura. Segundo Barthes (1977):
207
A compra de um revólver tem como correlato o momento em que ele será usado (e se não é usado, a anotação é devolvida como sinal de veleidade etc.); tirar o fone do gancho tem como correlato o momento em que será recolocado; a intrusão do papagaio na casa de Félicité tem como correlato o episódio do empalhamento, da adoração etc. (p. 30)
As relações de semelhança, de oposição ou de concatenação entre as unidades de um texto são, portanto, para o leitor, os pontos de apoio mais evidentes”. (JOUVRE, Vincent. A leitura. Trad. Brigitte Hervot. São Paulo: Unesp, 2002. p. 71) • Indicam-se com reticências entre parênteses ou colchetes as supressões de texto no meio da citação. Exemplo: “O caráter reducionista do conceito de negação [...] também desvia a atenção da complexidade real da mudança social”. • Os acréscimos que se fizerem necessários à citação, visando à clareza do texto, vêm entre colchetes. Exemplo: “A mesma ilusão [de ascensão social] existia quando se deslocava a fronteira agrícola ou depredavam-se florestas”. (FURTADO, Celso. O capitalismo global. São Paulo: Paz e Terra, 1998. p. 21) • Para informar que não é original o destaque de uma palavra ou conjunto de palavras na citação, utiliza-se a expressão grifo nosso (ou equivalente). Essa indicação pode vir logo após o trecho destacado (para evitar confusão com eventual destaque do original citado) ou no final da transcrição, após as aspas, ou ainda no rodapé, na sequência da referência. O grifo é feito, geralmente, com o uso do itálico, do sublinhado ou do negrito. Exemplo: “Lido pelo locutor, o texto dizia: O próximo presidente do Brasil tem que merecer a confiança e conhecer de perto a vida dos pobres. [...] Tem que governar olhando nos olhos das pessoas. [...] tem que ter coragem para enfrentar os mais fortes e se
emocionar com os mais fracos (30/9; grifos meus).
A emoção surge, assim, como uma das características necessárias a um governante”. (MIGUEL, Luis Felipe. Mito e discurso político: uma análise a partir da campanha eleitoral de 1994. Campinas, SP: Unicamp; São Paulo, SP: Imprensa Oficial, 2000. p. 173)
208
• Ao citar um autor estrangeiro, pode-se transcrevê-lo na língua original ou, preferencialmente, traduzi-lo para o português. Citando-se um autor alemão, por exemplo, de cuja obra só se dispõe em espanhol, obrigatoriamente a citação será traduzida para o português, embora na indicação bibliográfica da fonte deva ser mencionada a língua original da edição consultada – nesse caso, o espanhol. Exemplo:
“Damos por suposto como verdade que nos acontecimentos dos povos domina um fim último; que na história universal há uma razão, não a razão de um sujeito particular, senão a razão divina e absoluta”. (G. W. F. Hegel, Lecciones sobre la filosofía de la historia universal – tradução livre – Relacionar editora, cidade etc.)
| normas para identificação da fonte | • Os dados necessários à identificação da fonte citada devem aparecer no corpo do texto, em nota de rodapé ou em lista no final do capítulo ou do livro. • Quando a citação de uma obra aparece pela primeira vez em um texto, sua referência deve ser completa. As citações seguintes da mesma obra, desde que não ocorram intercalações de outras obras do mesmo autor, podem ser substituídas pela expressão latina opus citatum (obra citada), na forma abreviada op. cit., após o nome do autor. Exemplo: ____________ ¹² BAKHTIN, Mikhail. Op. cit., p. 110. • A indicação de uma obra de mesmo autor já referenciada em nota imediatamente anterior, na mesma página ou em página não distante, faz-se com a expressão latina ibidem, na forma abreviada ibid. Exemplo: Na mesma página: ____________ ³ Ibid. Em páginas diferentes: ____________ ² Ibid., p. 75. • Se obra for diferente de autor referenciado em nota imediatamente anterior, usa-se somente a expressão latina idem, na forma abreviada id., acrescida do título e demais elementos da referência. Exemplo: ____________ Id. Estética da criação verbal. Tradução feita a partir do francês por Maria Hermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 241.
9
• Na citação indireta, usa-se a expressão latina apud (da obra de, citado por, conforme, segundo) e faz-se a indicação da obra consultada de forma completa. Ex:
209
____________ Apud PERRONE-MOISÉS, Leila. Altas literaturas. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 95-6. 4
• As expressões latinas empregadas em referências devem ser impressas em tipo redondo (ou normal), e não em itálico.
9.2 notas Usadas principalmente em textos técnicos, científicos e acadêmicos (mas também se verificam, com menor frequência, em textos jornalísticos), as notas são importante recurso para acrescentar informações sem interrupção da fluência textual. Constituemse de observações, indicações ou pormenores acrescentados no rodapé da página ou em sessões especiais. Têm por finalidade: • indicar a fonte da citação ou referência, ou complementá-la quando já indicada no texto; • apresentar esclarecimentos e comentários do autor, tradutor, editor etc.; • remeter o leitor a outro documento, a outra obra ou a outra parte do próprio trabalho. São as chamadas notas remissivas e vêm indicadas pelas abreviaturas cf. (conferir), cfr. (confrontar) ou v. (ver, ver também).
| observações importantes |
210
• Geralmente a nota de rodapé é separada do texto por um traço horizontal, de 2 cm a 3 cm de extensão, iniciando-se na margem esquerda da página. • Empregam-se algarismos arábicos na numeração das notas, asteriscos nas edições anotadas pelo editor e letras minúsculas exclusivamente nas tabelas. • As notas recebem, a cada capítulo, numeração sequenciada e anteposta ao sinal de pontuação que encerra a citação (regra geral) ou posposta a este e às aspas. Coloca-se o algarismo, o asterisco ou a letra minúscula um pouco acima da linha (sobrescrito), tanto no texto (cuja marcação também é chamada remissiva, por remeter a outra anotação) quanto no rodapé (comissiva), sem parênteses ou qualquer outro sinal de pontuação. • As notas do tradutor, do editor etc. (com exceção das notas do autor) devem ser enumeradas por asteriscos, tantos quantos forem necessários por página (uma nota, um asterisco; duas notas, dois asteriscos; e assim por diante). • As notas do tradutor são identificadas pela abreviatura N.T.; as do editor, pela abreviatura N.E. Devem ser colocadas entre parênteses, no final da respectiva nota.
9.3 referências Na definição da ABNT (NBR 2000), referência é o “conjunto de elementos descritivos, retirados de um documento, que permite a identificação individual [deste]”. A Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT é o Fórum Nacional de Normalização, cujas diretrizes constituem o parâmetro oficial obrigatório, no Brasil, para todas as publicações e outras atividades dos meios técnicos, científicos e acadêmicos. É a versão nacional de normas internacionais – em vigor, portanto, em todos os países do mundo. A referência pode figurar: • inteiramente incluída no texto – entre parênteses, logo a seguir a uma transcrição direta ou indireta; • parte no texto, parte em nota de rodapé – no texto, aparece o nome do autor, seguido de um número que remete à nota; no rodapé, o nome da obra e os elementos de imprenta (ou notas tipográficas, quais sejam: o local de publicação, o nome da editora e a data de publicação); • em nota de rodapé ou de fim de texto – aparece no texto, imediatamente após a citação, um número que remete à nota, posicionada no rodapé da página ou no final do capítulo ou do livro; • em lista bibliográfica também há uma numeração que remete à respectiva nota de uma lista numerada, contendo as referências do capítulo ou de todo o livro; • em resumos ou recensões (análises críticas) – impressa no início de um texto; • no final de uma obra – em listagem ordenada alfabeticamente pelos sobrenomes dos autores.
| elementos essenciais e elementos complementares | Para uma referência ser considerada como tal, são necessárias indicações que figuram como informações mínimas para imediata identificação de uma obra. São os elementos essenciais: autor, título da obra, edição e imprenta ou notas tipográficas (local da publicação, editor e data da publicação). A estes podem somar-se indicações facultativas, as quais têm o objetivo de melhor caracterizar a publicação ou fornecer outras informações também úteis. São os chamados elementos complementares: notas bibliográficas (número de páginas ou de volumes, ilustrações, formato etc.) e notas especiais de coleção ou série, entre outros. 33. Autor SOBRENOME em maiúsculas, vírgula, prenomes por extenso, somente com as iniciais em maiúsculas, ou abreviadamente.
211
Capítulo 11
Tabelas práticas, listagens úteis
sumário Abreviaturas 255 Abreviaturas, acrônimos e sinais curiosos utilizados por internautas 258 Algarismos arábicos e romanos 260 Coletivos 261 Duplicidade de pronúncia e grafia 271 Dúvida de grafia (relação de palavras) 272 Estilística, uma questão de 263 Formas variantes 261 Gentílicos 267 Homônimos e parônimos 297 Linguagem dos chats, das salas de bate-papo e dos “torpedos” 258 Locuções adjetivas 271 Numerais cardinais e ordinais 260 Países que mudaram de nome 268 Particípios duplos 300 Pontos colaterais 302 Porcentagens 302 Prefixos gregos 302 Prefixos latinos 303 Radicais gregos 303 Radicais latinos 306 Siglas 287 Siglas dos estados e do Distrito Federal 288 Sinais de revisão 285 Sufixos 307 Unidades de medida 308 Verbos abundantes 300
254
| abreviaturas | jan. – janeiro
caps. – capítulos
fev. – fevereiro
cav. – cavalaria
mar. – março
cc. – centímetro cúbico
abr. – abril
cel. – coronel
maio – maio
cf. – confira
jun. – junho
cg – centigrama(s)
jul. – julho
Cia. – companhia
ago. – agosto
CIF ou cif – cost, insurance and freight (custo, seguro
set. – setembro
e frete)
out. – outubro
cl – centilitro(s)
nov. – novembro
cm – centímetro(s)
dez. – dezembro
cm/s – centímetro(s) por segundo cm² – centímetro(s) quadrado(s)
A. – autor
cm³ – centímetro(s) cúbico(s)
a.C. – antes de Cristo
cód. – código
a.D. – anno Domini (no ano do Senhor), corresponde
Com. – comandante
a d.C.
comp. – companhia (no meio militar)
a.m. – ante meridiem (antes do meio-dia)
Cr$ – cruzeiro
aa. – assinados(as)
Cz$ – cruzado
AA. – autores
D. – digno, dom, dona
Al. – alameda
d. – dom, dona
alm. – almirante
d.C. – depois de Cristo
alm.-esqdra. – almirante de esquadra
DD. – digníssimo
ap. ou apart. – apartamento
dec. – decreto
AR – Administração Regional
dg – decigrama(s)
art. – artigo
DL – decreto-lei
arts. – artigos
dm – decímetro(s)
asp. – aspirante
Dr., drs. – doutor(es
Av. – avenida
Dra., dras. – doutora(s)
bel. – bacharel
E – este (ponto cardeal)
bras. – brasileiro(a)
E. – editor
brig. – brigadeiro
ed. – edição
btl. – batalhão
EE. – editores
c.-alm. – contra-almirante
EM – Estado-Maior
C.G.S. – centímetro, grama, segundo
Ema. – eminência
cap. – capitão
emb. – embaixador
cap. – capítulo
Emmo. – eminentíssimo
cap.corv. – capitão de corveta
eng. – engenheiro(a)
cap.frag. – capitão de fragata
Esc. – escola
cap.m.g. – capitão de mar e guerra
etc. – et cetera
cap.-ten. – capitão-tenente
ex. – exemplo(s)
255
| Numerais | Algarismos
260
Numerais
Arábicos
Romanos
Cardinais
Ordinais
1
I
um
primeiro
2
II
dois
segundo
3
III
três
terceiro
4
IV
quatro
quarto
5
V
cinco
quinto
6
VI
seis
sexto
7
VII
sete
sétimo
8
VIII
oito
oitavo
9
IX
nove
nono
10
X
dez
décimo
11
XI
onze
décimo primeiro ou undécimo
12
XII
doze
décimo segundo ou duodécimo
13
XIII
treze
décimo terceiro
14
XIV
catorze
décimo quarto
15
XV
quinze
décimo quinto
16
XVI
dezesseis
décimo sexto
17
XVII
dezessete
décimo sétimo
18
XVIII
dezoito
décimo oitavo
19
XIX
dezenove
décimo nono
20
XX
vinte
vigésimo
21
XXI
vinte e um
vigésimo primeiro
30
XXX
trinta
trigésimo
40
XL
quarenta
quadragésimo quinquagésimo
50
L
cinquenta
60
LX
sessenta
sexagésimo
70
LXX
setenta
septuagésimo ou setuagésimo
80
LXXX
oitenta
octogésimo
90
XC
noventa
nonagésimo
100
C
cem
centésimo
200
CC
duzentos
ducentésimo
300
CCC
trezentos
trecentésimo
400
CD
quatrocentos
quadringentésimo
500
D
quinhentos
quingentésimo
600
DC
seiscentos
seiscentésimo ou sexcentésimo
700
DCC
setecentos
setingentésimo
800
DCCC
oitocentos
octingentésimo
900
CM
novecentos
noningentésimo ou nongentésimo
1.000
M
mil
milésimo
| coletivos | acervo: de obras artísticas (livros, discos, quadros etc.)
esquadrilha: de aviões
álbum: de fotografias, de figurinhas
feixe: de lenha
alcateia: de lobos
frota: de navios, de ônibus
antologia: de trabalhos literários
junta: de médicos ou especialistas, de bois
arquipélago: de ilhas
júri: de jurados
assembleia: de pessoas, de parlamentares
manada: de bois
banca: de examinadores
matilha: de cães
banda: de músicos
molho: de chaves
cáfila : de camelos
multidão: de pessoas
caravana: de viajantes
plateia: de espectadores
cardume: de peixes
ramalhete: de flores
clero: de religiosos
rebanho: de ovelhas
concílio: de bispos
repertório: de músicas, de peças teatrais
congregação: de religiosos, de professores
réstia: de alho ou cebola
coro: de cantores
revoada: de pássaros
discoteca: de discos
tripulação: de marinheiros
elenco: de atores
vara: de porcos
enxame: de abelhas
| formas variantes | Recomenda-se adotar apenas uma num determinado texto, com vistas à padronização. abdome / abdômen / abdómen
berinjela / beringela
acessório / accessório
bilhão / bilião
afeminado / efeminado
bílis / bile
alarma / alarme
biscoito / biscouto
aluguel / aluguer
bravo / brabo
amídala / amígdala
cãibra / câimbra
aritmética / arimética
carnegão / carnicão
arrebentar / rebentar
carroçaria / carroceria
arrebitar / rebitar
catorze / quatorze
arregaçar / regaçar
catucar / cutucar
arremedar / remedar
chicle / chiclete
aspecto / aspeto
chimpanzé / chipanzé
assoalho / soalho
clina / crina
assobiar / assoviar
cociente / quociente
assoprar / soprar
coisa / cousa
azaleia / azálea
contato / contacto
baguncear / bagunçar
cota / quota
barganhar / berganhar
cotidiano / quotidiano
bêbado / bêbedo
cotizar / quotizar
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Além da revisão tem esse nome porque extrapola conceitos usuais de revisão de textos, num mundo hoje dominado pelas facilidades da informática e de distâncias minimizadas pela internet. São poucos os trabalhos nessa área. E esta obra não se parece com as que foram até agora publicadas sobre revisão textual. O livro pode até ser aceito pelos acadêmicos, mas seu público-alvo é o revisor de textos, o estudante de letras, o publicitário, o jornalista. Aquele leitor simplesmente amante da língua portuguesa, no entanto, não ficará entediado com Além da revisão. Na sua simplicidade ele é agradável à leitura. E contém textos com curiosidades e amenidades. Entre os que conhecem este projeto de Aristides Coelho Neto, há quem fale em efervescência. E há quem diga que o livro reflete a aventura entusiasta que ele empreende em seu trabalho de revisão. Há quem pondere também que é contribuição importante para eliminar a falsa ideia da prevalência do conteúdo sobre a forma. Isso numa época em que os revisores textuais sumiram das redações. E em tempos de premissas equivocadas de que autores são autossuficientes para revisar seu próprio texto, com a ajuda de corretores ortográficos frios, desumanizados, incompetentes. Esta republicação surge num momento em que se prorroga o prazo para a implantação definitiva do Acordo Ortográfico 2009, a despeito de os brasileiros – meio editorial e mídia – terem assimilado por completo a reforma ortográfica. E surge numa hora em que se especula rever eventuais lacunas e equívocos desse Acordo. Como não podemos esperar até que tudo se ajeite, aqui está a terceira edição de Além da revisão, revista, ampliada e de conformidade com o Acordo 2009.
ISBN : 978 -85 -62564 -27 -7
9 788562
56427 7