VOZ DAS RAÍZES

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VOZ DAS VOZ DAS raízes

V O Z D A S V O Z D A S raízes

Sesc – Serviço Social do Comércio

Presidente do Conselho Nacional

José Roberto Tadros

DEPARTAMENTO NACIONAL

Direção Geral

Carlos Artexes Simões

Divisão de Programas Sociais

Lúcia Regina Prado

Gerência de Cultura

Marcos Henrique Rego

Equipe de Artes Cênicas

Mariana Barbosa Pimentel

Raphael Vianna Coutinho

Vicente Carlos Pereira Jr.

DEPARTAMENTO REGIONAL

Presidente do Conselho Regional

Francisco Valdeci de Sousa Cavalcante

Direção Regional

Francisco Campelo Soares Filho

Direção Financeira

Jesus Enrique Arias Fernandez

Divisão de Programas Sociais

Ana Lucia Rocha Oliveira

Coordenação de Cultura

Rozenilda Castro

Supervisão de Cultura

Hildegarda Sampaio

Gerência Unidade Operacional Sesc Avenida

Amanda Pinho

Equipe de Artes Cênicas

João Carlos Araújo de Sousa

Laura Maria

Damasceno Nogueira

Maria do Livramento da Silva Machado

PRODUÇÃO EDITORIAL

Revisão

Valdenilde dos Santos Araújo

Projeto Gráfico

Víctor Veríssimo Guimarães

Fotos

Arquivo do Grupo | João Carlos Araújo

Franzé Sousa | Walter Firmo

Rosiane Theóphilo | Tacyane Machado

Capa e Diagramação

Víctor Veríssimo Guimarães

AUTORES

Fabiana Reis Brito

Rosiane Barros da Silva Theóphilo

ORGANIZADORES E REVISÃO DE CONTEUDO

João Carlos Araújo

Maria do Livramento da Silva Machado

COLABORADORES/ INTEGRANTES DO RAÍZES

Priscila Santos

Tatiana Maria de Souza Reis

Mariana Cristina dos Santos Costa

Jordana Reis Brito

Francisca Reis Brito

Flávia Suzany Reis dos Santos

Fernanda Reis Brito

Débora Cristina Linhares Viana

Luany Barros da Silva Theóphilo

Alyane Silva Neves

José Claudio Victor Silva dos Santos

Diovanna Azevedo dos Santos

Aline Santos Batista

Maria Clarice da Silva Souza

Yara Gabriele Oliveira do Nascimento

Daiane Rodrigues

Cleyton Carvalho

Laldicélia Cunha

Rodrigo Reis

Gerciany Costa

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Bibliotecária: Gabriela Freitas de Paiva CRB 3/1501

ISBN:

1. Artes Cênicas: Circo, Teatro, Dança e Performance

2. Dança 3. Arte 4. Educação 5. História 6. Patrimônio

Imaterial I. Título: Voz das Raízes

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A todos os integrantes que acreditaram no poder transformador da dança desde o PFTM ao Raízes do Nordeste.

Aos que permaneceram e dão vida ao nosso fazer artístico.

Aos nossos familiares pelo apoio necessário para seguirmos.

A cada um de vocês que foi nos prestigiar e chamou um amigo.

Aos que nos auxiliaram a realizar os mais diversos objetivos.

E a todos os amantes e artistas da dança desse nosso país.

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“ “

_sumário

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07 .Prólogo

08 .Da Sina ao Sino

11 .Apresentação

15 .Do meio do mato a menina que tinha medo de gente

17 .De uma ilha à outra

18 .A Vazantinha

19 .PFTM e o início da dança em nossas vidas

21 .A lama que vem e vaza

22 .Dançar para atravessar ou atravessar para dançar?

24 .Do chão batido, a passagem do nome PFTM para Raízes do Nordeste

25 .A Ilha Grande de Santa Isabel como um reduto de manifestação cultural

26 .Ueco! Unidade Escolar Cândido Oliveira!

27 .A primeira professora de dança

29 .Tia Lili – Referência do jump de Parnaíba

30 .Da Unidade Escolar Cândido Oliveira aos festivais estudantis

A escola aberta para a arte.

33 .Um salto para a capital

35 .A ação do Raízes nas comunidades

35 .Projeto Faça uma criança sorrir

35 .Projeto Fapex

36 .Das premiações, a reverberação no entorno e as apresentações pelo .país

36 .Prêmio Anu Dourado

38 .Festdança

38 .Ser Tão Vivo!

39 .Projeto Corpo em Cena (Curso Danças Populares)

40 .A VIII Mostra de dança popular por Ryck Costa 42 .Passo de Arte 42 .IX Prêmio AMB de Jornalismo 44 .Exposição na arte e na vida parnaibana 44 .Conquistas de Maculelê 48 .Quando o Raízes do Nordeste se torna objeto de estudo

50 .Patrimônio Vivo da Ilha

51 .O Raízes para Ione Garcia Altieri e Izabel Brunsizian

52 .O Projeto Palco Giratório do Sesc e o intercâmbio com o Balé Popular do Recife

54 .Festival de Dança de Joinville – SC

58 .Exemplo de Inovação e Criatividade da Educação Básica

58 .Do Universo do Boi nasce Berra Boi

60 .Aplausos para Ressignificação! Por Ryck Costa

63 .Geleia Total é Píauí, é Fabiana Reis!

63 .Celebração. Sonhos Realizados!

66 .De meus poros ao Raízes...

68 .O Retrô Raízes para debutarmos

70 Festival Internacional de Dança de Araraquara – SP

72 .2019, ano de desacelerar um pouco mais.

76 .Na conexão com outros pares - Gumboot Dance Brasil

77 .O Projeto Retocar: práticas formativas e ocupação de artes cênicas e a conexão com outros corpos e outras danças

81 .Vozes dos que iniciaram a Cia de Dança PFTM / Raízes Do Nordeste.

86 .Vozes dos que dançam atualmente no Raízes.

94 .Vozes dos que passaram e saíram dançantes do Raízes.

97 .Aurora do Raízes do Nordeste

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r ó l o g o

Há mais de duas décadas, o Departamento Regional do Sesc no Piauí tem promovido os direitos culturais da população do Estado e contribuído com o bem estar de sua clientela e da sociedade através do oferecimento de um programa intenso e diversificado de atividades artísticas. Por meio de projetos locais e da participação em projetos artísticos em rede nacional como o Palco Giratório e o Sesc Dramaturgias, a instituição tem fortalecido um circuito artístico relevante entre as cidades de Teresina, Floriano e Parnaíba, possibilitando que artistas e públicos dessas cidades acessem trabalhos produzidos em todo o Brasil, bem como dando oportunidade a profissionais dos diferentes Estados para que intercambiem com esses territórios.

Em 2019, o Piauí recebeu o maior número de apresentações do Palco Giratório e o maior número de atividades formativas do Sesc Dramaturgias em toda a Região Nordeste. São dados que dão conta da importância atribuída por este Departamento Regional à cultura enquanto elemento impulsionador da qualidade de vida das comunidades, um dos aspectos que tornou o Sesc uma das empresas mais inovadoras do país.

1 Mestrando em Arte, Patrimônio e Museologia pela Universidade Federal do Piauí - UFPI. Analista em Cultura e Produtor Cultural junto ao Serviço Social do Comércio – SESC, atuando no Núcleo de Pesquisa e Memória das Artes Cênicas. Graduado em História pela Universidade Estadual do Piauí - UESPI (2009-2012) - Campus Parnaíba. Especialista em Ensino de História pela Universidade Estadual do Piauí - UESPI (20142015). Fotógrafo de Artes Cênicas. Desenvolve atividades como produtor em Artes Cênicas, e musical. Recentemente também realiza roteiros e direção de documentários ligados as “Artes Cênicas”.

2 Doutorando e mestre em artes cênicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), especialista em gestão e políticas culturais pela Universidade de Girona e Itaú Cultural, bacharel em artes cênicas pela Universidade Estadual de Londrina. Desde 2012, é analista em artes cênicas do Departamento Nacional do Sesc, atuando como curador e na coordenação dos projetos Palco Giratório e Sesc Dramaturgias.

O Projeto Retocar: Práticas formativas e ocupação em artes cênicas, desenvolvido pelo Sesc Avenida, em Parnaíba, desde 2018, consiste num desdobramento criativo e necessário de todos esses anos de gestão cultural que fortaleceram o amor e o interesse daquela cidade pelas artes cênicas. O Retocar consiste numa ação de responsabilidade para com esses públicos e esses artistas que foram inspirados durante todos esses anos a ver no teatro, na dança, no circo e na performance maneiras de estar no mundo, maneiras de ver e de pensar a realidade, maneiras de estar uns com os outros, acolher e pensar as diferenças, e de ter apreço pelo seu local e pela possibilidade de estar vivos, de habitar o tempo presente.

O projeto faz do Sesc e de seu Núcleo de Pesquisa e Memória das Artes Cênicas uma incubadora criativa onde os artistas da cena de Parnaíba desenvolvem aspectos de suas poéticas, as pesquisas e conceitos que sustentam suas obras, sistematizam sua gestão ou suas memórias, como propõe e cumpre, neste livro, o grupo Raízes do Nordeste. Pela competência e pelo carinho com que a equipe do Sesc Piauí conduz esse trabalho e pelo pertencimento com que o seu público se relaciona com ele, essa experiência merece ser conhecida e replicada por outras instituições culturais no país. Vida longa ao Retocar!

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João Carlos Araújo1 Vicente Pereira Júnior2
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Da Sina ao Sino

raízes do nordeste

_Um universo que muita gente não sabe onde fica. _Mas foi aí, em cada pedacinho desses micromundos que nasceu o Raízes.

Quem? Como é?

- As raízes? O Raízes?

- Sim.

- Do chão batido.

Uma vida como retirantes, chegando e partindo, amando e abandonando.

- Mas onde fica isso?

- Piauí?

- Mas é possível?

Falas que se repetiram para elas e para mim. Nesta sina, o desejo importa pouco, o que rege mesmo é a necessidade de sobrevivência. Entre perder tudo e recomeçar. Entre enchentes e seca, roça e escola, tarefas do lar e da vida, as crianças cresceram e as raízes se aprofundaram.

Da parte da planta que se fixa no solo, ou ainda, do fundamento ou base, a palavra do latim radix, significa raiz. Também se associa a vínculo ou ligação moral, origem de uma pessoa, de sua cultura, seu passado.

Assim é o RAÍZES DO NORDESTE. Potência empática.

8 p r e f á c i o

Grupo de Dança é pouco para nomear esse coletivo. Trata-se de algo muito maior, que inclui a oposição (vetorial) de se fixar firmemente na terra e verticalizar-se cada vez mais, e se alongar para o céu, num movimento contínuo que mais se assemelha ao de alçar um voo precioso, como o do Carcará.

Para cima e para baixo, espiralando-se numa dança que inclui, que agrega, que acaricia, que cuida e que marca qualquer pessoa que chega perto. Tornamo-nos raízes da mesma árvore. Não há saída, ao menos que não seja familiar ao verbo aconchegar-se ou achegar-se ou aninhar-se.

Foi numa semana de abril que conheci esse grupo, junto ao meu orientando de Mestrado em Dança Douglas Emílio, quase filho. E dessa experiência de uma semana, renascemos como novos membros da família raizeira.

Foi assim que eu me acheguei, me acomodei e me entendi um pouco mais como gente. O primeiro contato foi com o espetáculo Berra Boi. E o boi me chamou. E então voltei em junho para trabalhar com este coletivo no Projeto RETOCAR.

A gente toca, retoca, toca de novo e segue com vontade de sempre ficar perto.

Ainda não consigo ter palavras que deem conta do sentimento que me conecta ao RAÍZES, só sei que fazer parte desta fase de luta, comemoração e renovação do amor à dança, também me reencanta.

Viva Raízes.

Viva Parnaíba.

Axé. Vida longa.

Gilsamara Moura - eternamente grata à vida por ter conhecido vocês. (texto escrito entre junho e julho de 2018)

3 Pós-doutorado pela Université Côté d’Azur - UCA - (2018-2019). Artista, curadora, consultora de projetos culturais, docente da Universidade Federal da Bahia - UFBA. Doutorado e Mestrado em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) com pesquisa sobre Políticas Públicas em Dança. Graduação em Letras: Licenciatura com Habilitação em Português / Francês e Português / Grego pela Universidade Estadual Paulista (UNESP, campus Araraquara - 1994). Fundadora do Grupo Gestus e da Escola Municipal de Dança Iracema Nogueira de Araraquara-SP; Curadora e Coordenadora Artística do Festival Boi Estrela de Iguatu (Chapada Diamantina) e do Festival Internacional de Dança de Araraquara - SP. Líder do Grupo de Pesquisa "Ágora: modos de ser em dança" (CNPq). Pesquisadora convidada do Human Connection Project 2018- 2019 (Harvard University - ECA USP). Organizadora da coletânea “Ágora: modos de ser em dança”, com 2 livros publicados (2018-2019).

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_a. pre. sen. ta. ção.

Que encanto! Mui respeitosa e cuidadosamente alinho palavras para confluir uma reflexão de nós. Dos pares que somos porque fomos todos afetados pela dança que nos tornou seres implicados e habilidosos de um mesmo saber-fazer: dançar. Gestar a dança. Sermos artistas da dança.

Ao termos nossas vidas ligadas em ocasião do Festival Internacional de Dança de Araraquara – SP/2018, ali experimentávamos o sentido de atravessar. Estávamos quilômetros de distância de nossos lares. E fomos lá para compartilhar vida, saberes, experiências técnicas e estéticas das danças que nos transformam. Isso porque Gilsamara Moura já havia sido atravessada dos vossos valores e desejou partilhá-los para tantos quanto possível fosse. Acertou-me em cheio também!

Ao mesmo tempo, e encantados de nós, gestávamos nossas travessias, estabelecendo contatos, ampliando o mailing, alargando as enseadas, e plantávamos novos desejos, eis aqui um deles: encontramo-nos em palavras dançantes traduzindo-nos plurais.

Há nesse encontro um sabor potente porque se trata de algo contundente e histórico: a narrativa da poética de existência de uma Instituição Cultural que atravessou das mais simples às mais complexas fragilidades para estar como está: celebrando a sua existência.

Poderiam ter findado entre um desterro e outro, porém, Raízes que são, aprofundaram-se para o fortalecimento, o que marca sua resistência política e cultural para continuarem acontecendo/ sendo – gerúndios de permanência - entre uma produção artística e outra, um festival e outro, uma transformação social e outra, que acontece em cada um dos integrantes desta Instituição.

Não foram abafadas (os) por um mercado que supervaloriza uns em detrimento de outros. Criativas (os), pela gênese que lhes constitui, encontraram seus modos operandi de atravessar as pontes, de moverem-se entre Parnaíba e as Parnaíbas do Mundo, e nesse mover-Ser provocaram/provocam de tudo: risos, emoção, comoção, alegria, lágrimas, potências, descobertas, conhecimentos, saberes regionais. Ufa! Eu grito: “Êh Boi!”. A plateia grita: “Êh Boi!!”. Gritamos todos: “Êh Boi!!!”. Provocam catarse!

Reunimo-nos aqui pelo sentido de sermos atravessados por Danças. Esta é também uma obra de dança. Até poderia ser fábula, porém é real, suas personagens principais protagonizam suas histórias de vida e generosamente as partilham nos palcos das Parnaíbas do Mundo. Quando as (os) vi em cena, chorei. O espetáculo “Berra Boi” é o manancial de todas essas palavras, aqui aninhadas. Se eu ficar mais um pouco aqui a pensar no Grupo Raízes do Nordeste, torno a chorar. Tão substancial é a vossa existência!

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Sê bem vindo, prezado leitor! O mundo palavral que acessaremos nas páginas que virão agora, é um presente para a Dança de qualquer lugar em que estejamos, tenaz de um movimento social de transformações e revoluções!

4 Jean Souza: artista da dança e das palavras, autor de “Coisas de Menino”. Mestrando em Dança pela Universidade Federal da Bahia – UFBA, Licenciado e Bacharel em Dança, com Especialização em Estudos Contemporâneos em Dança - UFBA, Diretor de Cultura de Candeias – BA. Jean Souza 4

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É preciso coragem para compartilhar as entrelinhas de uma trajetória que tinha tudo para se registrar apenas em meio a uma ilha.

É preciso sensibilidade para perceber que os anjos da beleza e da arte, que as energias advindas da natureza nos conduzem ao longo dos anos.

É preciso pé no chão e amor para ser impulsionado a seguir em frente em meio a tantas adversidades que insistem em dizer “Não”.

E muito otimismo para visualizar no atravessar de uma ponte, o sinal verde para a realização de parte de nossos sonhos.

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A R E
A B I A N
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“É do chão batido que nascem as raízes mais fortes.
Nossos pés, eles brigam com o chão quente, na tentativa de não deixarem bolhas.
E nesse mesmo chão, levantamos poeira.
E nasceram as raízes do Raízes do Nordeste.”

5 Local de produção artesanal de beneficiamento da mandioca onde se extrai a goma e a massa para fazer farinha torrada num forno à lenha.

6 Cabeça de Cuia é um mito da região Nordeste do Brasil, mais precisamente contado no Estado do Piauí, ao longo da bacia do Rio Parnaíba. Há várias versões de lendas que envolvem a figura do Cabeça de Cuia. Em uma das lendas mais difundidas trata-se da história de Crispim, um jovem pescador que morava às margens do Rio Parnaíba.

7 A Carnaúba (Copernicia prunífera), também chamada carnaubeira, é uma árvore que pertence à família das palmeiras (família Arecaceae) muito presente no litoral nordestino. O nome Carnaúba vem do tupi e significa “árvore que arranha”. A resistência e longevidade da carnaúba sempre foi motivo de orgulho e satisfação para os sertanejos. É também conhecida como “árvore da vida”, pois consegue suportar às adversidades da caatinga, como exemplo de resistência e poder produtivo.

8 Brinquedos e brincadeiras tradicionais.

A menina que dormia na casa de forno5 para sentir o quentinho e o cheiro da farinhada.

Que saía para caçar, pescar, plantar e colher.

Que acordava às cinco horas da manhã para fazer a primeira refeição do dia, leite mugido com farinha de puba.

Que só iniciou os estudos aos sete anos de idade, porque tinha medo da ponte, do Cabeça de Cuia6 e da professora levá-la embora, porque era isso que falavam para ela.

Que lavava a havaiana azul com branco e guardava para não sair o cheiro de Parnaíba e também, porque só tinha um par para ir para todo canto.

A menina que usava roupa feita pela mãe costurada à mão.

Que sonhava em ter uma boneca com cabeça, cabelo e roupa de verdade, porque as delas eram feitas de sabugo de milho verde.

Que brincava com seus irmãos de cavalinho com os talos de carnaúba7, da mancha, do macaco atrepado8

Que via o trabalho árduo de seu irmão Jordão, tirar leite das vacas do patrão de nosso pai.

A menina que se aventurou com sua primeira irmã Francisca, descer o morro de bicicleta, cair em cima de uma carcaça de boi e ficar até hoje com as marcas pelo corpo.

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Fonte: Arquivo particular do Grupo. Crédito: João Carlos Araújo.

Que comia os frutos nativos de sua região: criuli9, manga, azeitona, goiaba e remela de macaco10

Que andava de canoa e balsa feita de aningas11 para lá e para cá.

A menina que levou carreira de vaca, de bode e picada de cobra.

Que via o choro incontrolado de Fernanda sua quarta irmã, que chegava a desmaiar quando sentia falta de nossa mãe, ou quando outras coisas aconteciam.

Que viu a balsa, onde sua mãe e sua terceira irmã Jordana estavam, virar, o sangue escorrer pela cabeça de sua mãe e mesmo assim teve forças para mergulhar e salvar sua filha.

Cultivar a terra era o trabalho da família Reis, sempre foi assim. Do cultivo vinha o milho, feijão, arroz, mandioca, banana, melancia.

Era capinar, ciscar, queimar e ainda vigiar para os bichos não comerem o plantio.

Aprenderam a lidar com as ferramentas para ajudar no sustento: enxada, facão, foice, machado, ora plantando, ora pescando ou raspando mandioca.

Seus irmãos paravam só quando estavam na escola, ou quando elas estavam nos “dias de moça”.

Mesmo com todas as dificuldades tiveram os melhores momentos de suas infâncias: trabalhar, brincar, estudar e sonhar, tudo ali juntinho um do outro.

do meio do mato a menina que tinha medo de gente

9 Criuli: pequena fruta vermelha e pouco adocicada, geralmente encontrada nas margens dos rios, riachos, lagoas e áreas que são alagadas no período da chuva.

10 Remela de macaco: nome popular de arbusto trepador cipó. Sua altura atinge 10m.

11 Aningas: plantas herbáceas que crescem na água, em solos cobertos por água ou em solos saturados com água. Chegam a medir entre 4 e 6 metros de altura.

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Fonte: Arquivo particular do Grupo. Crédito: João Carlos Araújo.

12 Localidades situadas na Ilha Grande de Santa Isabel, que é uma das 73 ilhas do Delta do Parnaíba. O Delta do Parnaíba ou Delta das Américas, corresponde à foz do rio Parnaíba e está situado entre os estados brasileiros do Maranhão e do Piauí. O rio Parnaíba percorre 1.450 km até desembocar no Oceano Atlântico. O rio abre-se em cinco braços em formato da letra grega Delta, envolvendo 73 ilhas fluviais. Sua paisagem exuberante, cheia de dunas, mangues e ilhas fluviais, garante o cenário paradisíaco dessa região do Maranhão e Piauí. O Delta do Parnaíba começa na cidade de Parnaíba, onde se encontra a primeira e maior ilha do Arquipélago: a Ilha Grande de Santa Isabel considerada um bairro de Parnaíba litoral do Piauí. Esta ilha é separada da cidade pelo rio Igaraçú, um braço do Rio Parnaíba.

Foi preciso revoar até as reminiscências de minha infância no mundo encantado dos povoados12 da Ilha do Urubu, Cipoal, Goiabeiras, Ilha das Batatas na década de 90.

Encantado, porque é desses locais que vem toda minha inspiração e força de vontade para seguir em frente.

Sair da Ilha do Urubu não foi fácil para a família Reis, deixar para trás tudo o que construímos e chegar a um lugar desconhecido.

Não tínhamos escolha, era só aceitar...

Não lembro a data, mas lembro exatamente a cena do meu pai, senhor Francisco Brito, chegando repentinamente, com o caminhão para fazer a mudança e falando para arrumar as coisas que já íamos embora. Pois para continuar a nos sustentar, ele havia conseguido outro emprego e iríamos morar na comunidade Vazantinha.

Não tínhamos muitas coisas, apenas alguns pertences, os quais minha mãe chamava de “cacarecos”.

Pegamos tudo, colocamos no caminhão e partimos dali.

Lembro muito bem da nuvem de poeira, que o caminhão deixava na estrada de piçarra sobre as carnaúbas e pés de manga, apagando aos poucos a visão daquele lugar, lugar este que sempre estará presente em nossas melhores lembranças.

Meus pais, Maria Aparecida Reis e Francisco Brito, criaram seus cinco filhos: Francisca Reis, Jordão Reis, Jordana Reis, Fernanda Reis e eu Fabiana Reis, em meio a uma região privilegiada pela natureza, com seus rios, igarapés e matas verdes, onde nos

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sentíamos desbravadores daquelas terras, que serviram de palco para descobertas, instintos de sobrevivência, pertencimento e que nos fortaleceram como seres humanos.

Para quem tinha uma ilha, praticamente só nossa, a Ilha do Urubu, nada naquele momento nos parecia fazer bem. Eu muito criança ainda, só queria minha casa de forno, meus passarinhos, nossa canoa e tudo que tínhamos deixado, que não era nem nosso.

17 de uma ilha _a outra
Fonte: Arquivo particular do Grupo. Crédito: Rosiane Theóphilo.

_a vazantinha

Estávamos agora em Vazantinha, comunidade localizada à margem esquerda do Rio Igaraçu, compondo uma estreita faixa de terra de casas simples e arquitetura rústica fazendo parte da Ilha Grande de Santa Isabel, que é um bairro de Parnaíba – PI, carinhosamente chamada por nós, como terra hospitaleira.

Um local com suas características próprias onde à natureza também se fazia e ainda se faz presente, mas com ares mais urbanizados.

A pavimentação era bem natural com ruas de terra batida. Em épocas de chuvas, o lamaçal e as águas eram abundantes, o que tornava o lugar propício para o desenvolvimento da agricultura familiar através da horta comunitária.

Os principais aspectos socioeconômicos e culturais de Vazantinha se caracterizam pela pesca, e pelo cultivo da terra, práticas que nunca foram abandonadas por meus pais. Minha mãe, com todo amor, cuida da horta diariamente, pela manhã e à tarde. E uma vez por semana, ela participa da Feira da Agricultura Familiar, vendendo seus legumes no pátio da Universidade Estadual do Piauí – UESPI, a qual presta assessoria aos produtores comunitários, por meio do curso de agronomia dessa instituição.

Há também a presença do artesanato, que se expressa por meio do barro e da palha da carnaúba.

A arte em madeira é representada pelo mestre José Guilherdúcio, conhecido como Sr. Guilherme, tendo conquistado diversas premiações pela arte desenvolvida, destacando-se figuras religiosas como anjos, santos e cenas da vida cotidiana de Parnaíba. Ele juntamente com sua esposa Dona Maria Antônia nos auxiliaram bastante para o início e a manutenção de nossas atividades. Por se tratar de uma área próxima às margens do rio, é toda cortada por riachos e igarapés, passando por cheias e vazantes, em invernos intensos, daí a origem do nome Vazantinha.

A adaptação ao novo lugar não foi fácil. Precisávamos nos acostumar com nossa nova casa de quintal grande e calçada alta. A igreja ao lado, o chafariz, a quitanda13, as pessoas e os cheiros que eram bem diferentes.

O mais difícil foi a nossa aproximação com as pessoas. Lembro que eu andava sempre escondida, por detrás da minha mãe, pois tinha muito medo.

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13 Quitanda: pequeno estabelecimento comercial especializado em frutas, hortaliças, ovos e temperos. Tudo aquilo que se localiza nas feiras livres.

Eu tinha dez anos, e minha irmã Jordana, que havia feito Catecismo e Crisma passou a dar aulas para outras crianças, e uma delas era eu. Eu não tinha amigos, mas comecei a conhecer novas crianças nessas aulas de Catecismo, entre elas: Priscila Barbosa, Laldicélia Cunha, Mariana Cristina, e Clarice Silva, minha prima Tatiana Reis sempre morou com a gente, era minha companhia.

A partir daí, fiz parte da Infância Missionária, que era um projeto que tinha como objetivo levar a palavra de Deus através do estudo bíblico às crianças.

Nesse projeto só podíamos ficar até os doze anos, então minha irmã resolveu levar a palavra de Deus com dança e convidou quatro meninas: Tatiana Reis, Priscila Barbosa, Mariana Cristina e eu para fazer uma apresentação na igreja, à noite, na missa. Ela preparou tudo e lá estávamos nós, dançando com amor a primeira coreografia.

Dançávamos em todas as noites de missa. Fazíamos tudo com muita dedicação, mas estava chegando o dia em que precisaríamos sair da Infância Missionária, para que outras crianças pudessem também fazer parte.

Minha irmã, Jordana Reis preocupada conosco, nos fez uma proposta, a de que iríamos sair do projeto, mas sugeriu a continuação do grupo de dança para que não ficássemos sem participar das atividades quando houvesse.

Contudo, ela não ia ter muito tempo para se dedicar às coreografias e precisava de ajuda neste sentido. Eu muito ansiosa, disse que ajudaria.

Então, no dia 15 de agosto de 2003, reunimo-nos para nomear o grupo e foi daí que nasceu o PFTM, uma nomenclatura dada pelas letras iniciais das quatro integrantes do grupo: Priscila, Fabiana, Tatiana e Mariana e com o lema “Prometemos fazer tudo melhor”.

O movimento se fortaleceu. Ensaiávamos na Capela de Santo Antônio. As primeiras coreografias surgiram em conjunto com Jordana Reis e Francisca Reis, esta que logo se transformou em figurinista do grupo.

Era um dia qualquer para as pessoas, mas para mim era muito especial, pois sabia que ali se iniciava uma longa relação minha com a dança. Descobri que tudo o que eu mais queria era dançar, montar coreografias, ensinar e aprender a arte com o corpo.

O dia 15 de agosto de 2003 tornou-se uma data inesquecível e significativa para mim. Aquela menina do interior, cheia de medos e sem grandes sonhos tão definidos ainda, iniciava sua história no mundo da arte. Não sabia muito o que estava fazendo, mas comecei a coreografar e passar para o grupo tudo o que eu con-

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PFTM e o início da dança em nossas vidas

seguia criar intuitivamente. Era uma coisa tão natural em minha consciência que parecia que eu fazia isso a vida inteira.

No ano seguinte, em 2004, o grupo recebeu mais jovens, e com isso ampliamos Cia de dança PFTM, nome este que perdurou em torno de cinco anos. No entanto, nada mudou a não ser minha responsabilidade de ensinar mais jovens, dentre elas três crianças, onde eu fazia tudo com muito amor.

Toda vez que tinha uma música para criar passos, durante a noite, eu ficava pensando muito na letra e melodia e ao dormir, eu chegava a sonhar com a dança.

Adorava ir para debaixo do pé de manga ao lado da minha casa e dançar o sonho da noite anterior, para poder repassar ao grupo. Eu ainda medrosa e muito tímida não falava isso para ninguém no início.

Lembro que vi na TV umas meninas dançando balé e me encantei. Eu queria fazer aquilo um dia, pensei. Minha irmã Francisca já tinha um emprego na época e disse que pagaria para eu fazer dança. Contudo eu não fui, porque meu medo foi maior.

Nossas apresentações eram em igrejas e comunidades vizinhas como: Alto do Moreno, Alto do Batista, Fazendinha, Ilha Grande do Piauí. Dentre elas tivemos o prazer de nos apresentar para a querida e humanitária Drª. Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança, quando visitou Parnaíba.

No início, tudo era muito escasso para levar nossa arte adiante. Não tínhamos dinheiro para nada. Os primeiros figurinos eram feitos de materiais recicláveis como: sacolas, sacos de nylon, panos e punhos de rede, retalhos velhos, e costurados à mão por minha mãe, que tinha muito prazer em nos ajudar no que podia para nos ver dançar. Chegávamos a usar nossas próprias roupas como figurino nas apresentações.

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Fonte:Arquivo particular da pesquisadora Maria do Livramento. Crédito: Walter Firmo.

Enfrentamos neste mesmo ano a enchente de 2004. Morávamos em uma casa, dentro da área da fábrica Irmac14 Cerâmica. Meus pais, assim como na Ilha do Urubu, nunca abdicaram das práticas do campo, criavam: galinhas, bodes, vacas, cavalo, porcos. Em uma madrugada, nunca esquecida por nós, acordamos com a correnteza do rio levando nossas coisas de dentro de casa, foi muito desesperador. Com essa enchente, perdemos quase tudo. Todos os animais se foram. Ficamos alagados e para sobreviver, passamos a morar na Escola Luis Galhanone, atual Centro Cultural de Línguas de Parnaíba - CCL15

Durante seis meses, ficamos sem exercer as atividades em dança. Foi muito difícil para nós, deixar novamente tudo para trás numa situação de emergência, pois ao sair de casa, levamos apenas as roupas do corpo e algumas peças que conseguimos pegar de última hora.

O desafio agora era morar em uma escola. Tivemos que receber ajuda para sobrevivermos por meio de doações de cestas básicas, roupas e remédios. Nossa família conseguiu ficar reunida numa sala daquela escola. Fizemos novas amizades. Conhecemos várias pessoas acolhedoras, que nos confortavam e nos davam forças para seguir.

Quando o inverno cessou, retornamos para nossa casa que ainda estava tomada pela lama. A defesa civil, não permitiu que ficássemos lá pela insegurança que o local apresentava às nossas vidas.

E aquela casa cheia de lembranças, brincadeiras, aventuras foi demolida. Próximo ao local havia o Centro de Nutrição da Vazantinha, que estava em processo de construção. Foi este local que serviu de abrigo para que pudéssemos retomar os nossos ensaios.

Apesar das dificuldades, havia em todos nós um fio de esperança, pois sabíamos que aos poucos tudo iria mudar e as oportunidades surgiriam em nossas vidas.

Como diz a Professora Ms. Maria do Livramento da Silva Machado16, nossa querida Lili Machado em sua dissertação:

“A dança é o meio que permite às jovens da Vazantinha atravessar o tempo, trazer um pouco de ruído vivido nos seus cotidianos, emitir breve clarão exercido pela circularidade e o movimento de suas lutas diárias, de seu pertencimento – toda uma vivência constituída ao longo do tempo, laços afetivos cuja ancestralidade e expressões são legado cultural daquele lugar. A dança permitiu às jovens dar vazão a seus desejos, por vezes abafados, silenciados e/ou esquecidos”.

a lama que vem _ e vaza

14 Fábrica especializada em tijolos de alvenarias para a construção civil localizada na Vazantinha

15 CCL: Centro Cultural de Línguas de Parnaíba, que proporciona à comunidade cursos de Língua Inglesa, Espanhola, Português para concursos e Língua Brasileira de Sinais. (Libras).

16 Pedagoga, Graduação em Licenciatura Plena em Pedagogia/Magistério-Universidade Federal do Piauí. Especialista em Psicopedagogia- (UFPI/UNICE e Arte e Educação (INTA). Mestra em Educação - Educação, Movimentos Sociais e Políticas Públicas, pela Universidade Federal do Piauí - UFPI. Teresina, Brasil. Autora da Dissertação e do livro: Jovens bailarinas de Vazantinha: conceitos de corpo nos entrelaces afroancestrais da dança na educação. Desenvolve pesquisa com ênfase em Sociopoética, Educação, Dança, Arte, Corpo e Movimento e Juventude. Coordenadora Regional de Cultura do Serviço Social do Comércio – Sesc/PI, 2014 a 2019. Produtora cultural e Curadora dos Projetos Palco Giratório-Difusão Nacional das Artes Cênicas; Dramaturgias; Sonora Brasil; Sesc Amazônia das Artes - 2010-2019 e Nordeste das Artes – 2018/2019. Cursando Especialização em Gestão e Politicas Culturais, realizada pelo Observatório ITAÚ Cultural - SP, em Parceira com a Universitat de Girona – Espanha – 2019/2020.

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dançar para atravessar

_ou atravessar para dançar?

A T R A V E S S A R sempre fez parte do nosso trajeto. Em nosso contexto geográfico as pontes sobre os rios e igarapés eram constantes. As travessias que fiz e ainda faço em todos os sentidos são partes do movimento da dança no qual escolhi para a vida.

A mais majestosa e talvez a que representa um grande salto em nossas vidas artísticas de bailarinos é a P O N T E Simplício Dias. Ela liga a Ilha de Santa Isabel e outras localidades, assim como a Vazantinha ao restante da cidade de Parnaíba. Ela é um dos cartões postais do litoral e foi inaugurada em 1975. E atravessar para o outro lado dessa ponte foi um dos nossos primeiros sonhos.

Esse acontecimento deu-se em 2006, quando participamos do Circuito Cultural Jovem apoiado pelo Posto de Puericultura Suzane JacobPPSJ17

O evento com o tema “Juventude e Cidadania” foi realizado na Concha Acústica Dr. Ary Castello Branco Uchôa, espaço multicultural localizado no Bairro Nova Parnaíba, construído para ser palco de grandes eventos

17 ONG que desenvolve vários trabalhos educacionais e culturais estimulando jovens e adultos a aprimorarem seus conhecimentos em diversas áreas. O Posto de Puericultura Suzanne Jacob, antigo Lactário Suzanne Jacob, foi fundado em 1938 por Roland Jacob com a finalidade de fornecer leite e alimentos para as crianças pobres do município de Parnaíba. Até 1998 suas ações estavam voltadas basicamente para a nutrição de crianças, com momentos de forte investimento em atenção à saúde e apoio material às famílias. Hoje o PPSJ trabalha na promoção da melhoria do ambiente de cuidado e desenvolvimento das crianças, estimulando nas comunidades uma cultura lúdica, sanitária e de diálogo cooperativo entre instituições.

Fonte:Arquivo pessoal do grupo

culturais, que contemplem o teatro, dança, festivais musicais, dentre outras atividades.

Essa foi uma grande realização para a Cia de Dança PFTM. Alegria e ansiedade se misturavam em nossos corpos. Minha irmã Francisca costurou uns tecidos pretos para simular nossas sapatilhas e dançamos com elas, tentamos padronizar um figurino mais adequado. A felicidade foi tanta que fomos lá e fizemos o melhor que podíamos. Nunca um grupo de fundo de quintal venceria o festival. Este foi o combustível recebido nesse dia, uma frase forte que nos acompanhou por muito tempo.

Tempos depois, sentimos gratidão, pois através daquele comentário procuramos melhorar, fazer a nossa parte e quem sabe conseguir um título nos anos seguintes com humildade e respeito com o trabalho dos outros.

As experiências e os desafios superados vão nos alicerçando profissionalmente, sem haver necessidade de atropelar as etapas e o que já estava reservado para registrarmos nessa existência.

Em 2007, ainda como Cia de Dança PFTM, o grupo participou do 3º Circuito Cultural Jovem, realizado no Colégio Estadual Liceu Parnaibano. Desta vez o evento trouxe a temática “Juventude e Meio Ambiente”, apresentamos o espetáculo “Água e o semi-árido brasileiro”.

Os ensaios eram no quintal de minha outra casa, que já não era mais no Centro de Nutrição e até mesmo na rua, quando ainda não tinha calçamento na comunidade, a famosa rua Projetada 100 ou a atual Antônio Alves do Nascimento.

Nessa época já contávamos com Francisca Reis, despertando sua criatividade na produção dos figurinos do grupo. Com seus poucos recursos, adquiriu uma máquina de costura e aprendeu a costurar sozinha. Lembro bem dela falando: “fiz os figurinos só no olho”. Ela era hábil na confecção, pois não tirava medidas, só olhava o corpo dos bailarinos e os fazia na medita certa. Com imensa alegria obtivemos o título de 1º lugar, entre gritos de euforia e lágrimas de felicidade, o primeiro: É campeão! Saiu de nossas bocas. Foi o divisor de águas para sairmos do anonimato. O grupo passa a ser requisitado nos diferentes eventos culturais de Parnaíba e entorno.

Através das várias pontes que atravessamos e das que foram sendo criadas, não para ligar apenas um território a outro, mas para ligar vidas, forças e oportunidades, fomos trilhando uma trajetória de crescimento e formação.

Elas se dão por meio de muitas formas: encontros, intercâmbios, apresentações, bate papos, cursos, palestras, oficinas tudo que possa gerar conhecimento e sensibilidade artística. E isto só foi possível com os deslocamentos que fizemos atravessando a Ponte Simplício Dias.

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do chão batido, a passagem do nome PFTM para _raízes do nordeste

Em 2008, o grupo se inscreve no Projeto Fundo Jovem Movimento da Aliança Mandu18, cuja proposta de atuação contemplava a atuação das juventudes e instituições - em parcerias, a fim de aproveitar as oportunidades e enfrentar os desafios sociais, econômicos e ambientais da região da Planície Litorânea – nos municípios de Parnaíba, Luís Correia, Cajueiro da Praia e Ilha Grande, no Piauí.

Para que o PFTM pudesse participar do projeto, foi preciso repensar o nome do grupo. Reunimo-nos e pedimos sugestões aos integrantes. Minha irmã, Francisca Reis uma das mentoras do grupo pega um pedaço de madeira e escreve na areia ao redor do Centro de Nutrição originando uma lista de nomes, eis que surge: Grupo Cultural Raízes do Nordeste.

Apresentamos a proposta para o Projeto Fundo Jovem Movimento da Aliança Mandu e para a nossa satisfação o Grupo Raízes do Nordeste foi contemplado. A proposta tinha como prioridade a aquisição de alguns benefícios para a estruturação do grupo. Com a obtenção dos recursos oferecidos pelo projeto, conseguimos camisetas, guarda-roupa para os figurinos, DVD, caixa de som e subsidiar algumas apresentações. A caixa de som e o dvd foram essenciais, pois para os ensaios tínhamos que pegar som emprestado e nem sempre isso era possível.

Nessa época, também se trabalhava o teatro, além da dança. Encenamos durante alguns anos A Paixão de Cristo na Vazantinha, além de outros trabalhos. Jordana Reis, Francisca Reis, Cleyton Carvalho, Bruno Oliveira e a Camila Oliveira ficavam responsáveis pelo teatro.

Passamos a partir de 2008, a nos chamar Grupo Raízes do Nordeste, substituindo aos poucos o “PFTM”.

18 Movimento de Articulação Norte Piauiense para o Desenvolvimento Sustentável – MANDU, coordenado pela Care Brasil, Embrapa, Instituto Floravida e UFPI.

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A Ilha Grande de Santa Isabel sempre se apresentou com um campo fértil de manifestação artística e de tradição. É lá onde está os grandes mestres da cultura popular como os mestres do Bumba meu Boi, os artesãos responsáveis pelo artesanato de madeira, barro e palha e os inúmeros músicos que fortalecem e enriquecem a sonoridade local.

Conquistamos um dos nossos maiores parceiros: o compositor que assinou várias trilhas sonoras para o Raízes do Nordeste - José Cláudio de Sousa Viana, pai de Débora Viana, uma das bailarinas do grupo.

A colaboração artística de Zé Cláudio foi muito significativa compondo especialmente para o Raízes durante muito tempo. Todas as suas letras retratam profundamente a nossa cultura.

De 2008 a 2013, um dos primeiros objetivos do grupo no primeiro semestre, era preparar apresentação cultural para o São João da Parnaíba voluntariamente. O evento ocorre todo ano entre os meses de junho e julho na Praça Mandu Ladino atraindo um expressivo público com apresentações de danças e concursos de quadrilhas juninas e de Bumba meu boi.

No primeiro ano uma das músicas de Zé Cláudio falava da nossa terra hospitaleira, a Vazantinha, em ritmo de quadrilha.

Raízes do Nordeste chegou aqui agora

Com a sua história para todos encantar Fundado por crianças da Infância Missionária

Promovendo a vida e a arte de dançar

Viemos descrever a nossa comunidade

Com seus costumes e seu jeito de viver Somos da Vazantinha uma terra hospitaleira

O nosso artesanato é o mais belo de se ver

Com Santo Antônio o nosso protetor Nós prometemos fazer tudo melhor

Maria do Bonfim com o artesanato em argila

O melhor da Ilha e de toda região

Tem o Guilherdúcio com esculturas em madeira

Fazendo lindas peças até para a exportação

A Maria Antônia fabricando cajuína

A mais saborosa e gostosa de beber

Tem a Dona Lourdes com artesanato em palha

Com bolsas e tapetes muito mais para vender

Com Santo Antônio o nosso protetor Nós prometemos fazer tudo melhor

Na arte de bordados tem a Dona Santa Fazendo toalhas também para a exportação

Lá temos ainda a horta comunitária

E para as crianças o centro de Nutrição

Vamos agradecer pela oportunidade

De termos mostrado a mais bela tradição

Raízes do Nordeste já contou a sua história

O nosso obrigado pela sua atenção.

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a ilha grande de Santa Isabel como um reduto de manifestação cultural

Em 2008, surge o 4º Circuito Cultural Jovem, abordando o tema Inclusão Social. Pedimos que Zé Cláudio compusesse a música para a participação do grupo no projeto. Ele nos atendeu com a música "É hora da mudança acontecer". Mais uma vez, o grupo obteve o primeiro lugar.

E com a poesia de Bruno Oliveira, interpretada por Cleyton Carvalho, o terceiro lugar. Este evento foi realizado até 2008 e teve como objetivo fomentar a cultura e promover a integração de diversos grupos juvenis das cidades do litoral piauiense.

Participávamos de vários eventos que nos rendiam alguns benefícios e ajudavam cada vez mais na estruturação do grupo. Tivemos a participação no Festival de Turismo Sustentável na Universidade Federal do Piauí, ficamos em segundo lugar e auxílio para a produção de figurinos.

Nesse concurso a magnífica apresentação do Boi Novo Fazendinha que fica na Ilha Grande de Santa Isabel, foi a vencedora do Festival. O grupo foi constituindo-se referência artística para a cidade, apresentando-se em eventos educativos e culturais.

UECO! Unidade Escolar Cândido

Oliveira!

Como falar do PFTM, Raízes do Nordeste sem mencionar uma escola muito especial? Onde a maioria dos componentes do grupo estudou?

A interação entre o grupo e a escola foi perfeita, com efeito, e com afeto. Em todas as festividades escolares éramos estimulados a apresentar nossas coreografias num espaço bem acalorado. O ambiente nos serviu de laboratório por muitos anos.

Percebemos o quanto foi importante o incentivo da escola na vida dos educandos. O quanto a união da arte com a educação através de atividades que marcaram gerações, nos serviram de alicerces para as nossas possíveis escolhas profissionais.

Neste ambiente conheci meus primeiros nomes de referência da dança na cidade, as professoras de Educação Física Maria Cleane Alves e Lidiane Lopes Pereira. Eternamente grata pelas experiências vividas juntamente com elas. Rememorando esse tempo, com a palavra tia Cleane:

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a primeira professora de dança

"Sou Maria Cleane Alves.

Comecei a trabalhar na Unidade Escolar Cândido Oliveira em 2002, como professora e também montava as coreografias para as apresentações festivas da escola.

Pensamos em montar um grupo de dança da escola que pudesse ser a base para trabalhar as coreografias. Neste momento, as alunas que tomaram a frente deste trabalho foram Fabiana Reis, Priscila Barbosa, Mariana Cristina e Tatiana Reis.

Meninas que começaram lá no seu Ensino Fundamental, que sempre demonstraram esse amor, dedicação pela dança. Tendo humildade para aprender e de ensinar. E como eu não preciso nem falar, no meio dessas quatro, Priscila, Fabiana Tatiana e Mariana. Fabiana já se destacava como líder, como aquela que era orientadora e era muito bonito de ver o respeito que as meninas tinham por ela. A admiração, a obediência no sentido de haver uma concordância quando íamos montar as coreografias.

Eu sempre fui muito aberta a ouvir opiniões. Muitas vezes elas criavam, trabalhávamos juntas. Elas me ensinaram que não devemos desistir dos nossos sonhos. Que a dança é uma arte linda, uma arte acessível, uma arte que todos podem fazer parte, que todos podem aprender com ela.

E elas que vinham de realidade cultural bem diferente, mas que momento algum renegavam suas origens. Era o que eu mais admirava nelas, esse amor pelas suas origens. Faziam questão de me mostrar isso, falavam-me das apresentações feitas nas igrejas, nas comunidades onde elas moravam e isso me enchia de orgulho.

Depois de algum tempo tive que sair da escola, mas elas continuaram com esse trabalho. Eram minhas alunas e sempre estavam à minha disposição.

E quando eu olho hoje, algum tempo atrás estavam essas meninas no grupo PFTM se transformando em Grupo Cultural Raízes do Nordeste, esse lindo grupo que hoje é coordenado pela Fabiana Reis, um destaque na nossa cidade, um grupo que exalta as nossas origens, nossa cultura. Mas além de tudo, um grupo de meninas que vieram lá de baixo, que trilhou cada degrau para chegar no topo, com muita humildade, com muito amor. Eu via todo o esforço e dedicação.

Eu me emociono muito quando eu falo delas, porque eu vejo nelas tudo aquilo que eu sonhava, que eu buscava ter sido enquanto bailarina, enquanto coreógrafa. Eu via aquelas meninas que sonhavam, mas que muitas vezes eram desacreditadas, que muitas vezes não eram apoiadas. Conseguir chegar onde elas chegaram, e irão chegar muito mais longe. Porque elas são envolvidas por um sentimento chamado AMOR, RESPEITO e esses sentimentos não só uma pelas outras, mas

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pela dança, as move, as mobiliza. E leva a superar, ultrapassar qualquer obstáculo, qualquer dificuldade.

E assim, o tempo que eu passei com elas, foi a fase mais bonita da minha vida. Uma fase muito importante, eu estava começando como professora de Educação Física, mas uma apaixonada pela dança. E que eu via os meus sonhos colocados em prática ali por aquelas meninas.

Eu me sinto uma privilegiada em ter feito parte da história da vida delas. E quando tudo aconteceu comigo, quando eu sofri esse acidente e eu as reencontrei de novo. As reencontrei com mais felicidade ainda. Porque eu olhava para elas, e eu me via ali, em cada movimento que elas estavam fazendo. Em cada novo espetáculo que eu tinha a oportunidade e o prazer de ser convidada por ela para assistir, meu coração vibrava, eu me enchia de orgulho, de alegria.

Eu dizia assim: Eram minhas meninas, que trilharam por si só uma caminho lindo, que construíram sua história, que venceram o preconceito, que são as cacheadas mais lindas que eu conheço, mais talentosas, que não estão e não chegaram aonde chegaram porque foram indicadas, mas porque têm talento, porque batalharam e conquistaram cada vitória dessa, construída com muito sacrifício. Então só posso aplaudir e sentir orgulho de ver meninas, que saíram de um desconhecido para chegar a num nível que elas chegaram hoje.

Vencedoras de inúmeros prêmios, merecedoras de todos esses que conquistaram por seu trabalho, por sua capacidade, por serem guerreiras. Eu me emociono muito, porque a dança faz parte da minha alma, faz parte da minha vida, eu cresci amando a dança, eu cresci querendo ser bailarina e por um bom tempo da minha vida posso dizer que eu dancei, não posso dizer que eu fui bailarina, porque não tenho formação acadêmica clássica. Mas eu me senti uma bailarina, eu tinha muito orgulho em ensinar o pouco que eu sabia.

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Professora Cleane Alves e PFTM Fonte: Arquivo pessoal do grupo

Não é por um simples acaso, não é por sorte, é por talento, por capacidade, amor que elas são hoje Raízes do Nordeste são essas raízes que se entremeiam, que se constroem, que se agregam em talento, conhecimento, em busca contínua do aprender. E de passar para outras pessoas com todo esse amor e humildade que sempre vejo.

Parabenizo não só Fabiana, mas Tatiana, Mariana, Priscila. Por terem seguido adiante, por jamais terem aceito um não, em ter transformado esses “nãos” em força para lutar e vencer, para serem melhores como são.

Só posso dizer que eu fui feliz, sou feliz e cada vez que eu as vejo dançando em um espetáculo novo é como se eu renascesse novamente. Eu fecho meus olhos e eu consigo me imaginar dançando no meio de vocês.

Então, vocês vão ser sempre essa memória boa, essa lembrança linda da minha vida, sempre. Que Deus as abençoe, que não sejam só quinze, dezesseis, dezessete, mas que sejam todos os anos de suas vidas, de muito sucesso, de muito aprendizado e conquistas. Eu sempre vou amar vocês, sempre terei um carinho muito grande, aconteça o que acontecer, esteja distante como estivermos, mas vocês sempre vão estar comigo."

Tia Lili – referência do jump de Parnaíba

"Como falar nesse grupo tão maravilhoso que tanto admiro? Difícil tarefa, porém, prazerosa ao extremo. Porque Raízes do Nordeste para mim é sinônimo de amor, competência e superação. É simplesmente espetacular.

Conheci o grupo ao assisti-lo no concurso de dança no Colégio Liceu. Passei a admirá-lo pela belíssima apresentação e por tão grande talento! Pouco tempo depois, fui ministrar a disciplina de Educação Física na Escola Cândido Oliveira. Chegando lá, encontrei essas dançarinas maravilhosas que fazem o grupo. Elas eram alunas de minha amiga Cleane Alves, a qual fui substituir.

Logo pensei: Que desafio! Trabalhar com as alunas de uma profissional ímpar. Mas encarei e, certamente, foi uma das minhas melhores experiências. Pouco tempo depois, o grupo foi participar de um concurso em Teresina, no ano de 2009.

Como sempre, foi muita dedicação durante os dias que antecederam a apresentação. Os ensaios não aconteciam apenas no horário da aula, mas também nos demais dias e até nos fins de semana.

Elas ensaiavam com tanta felicidade e amor pela dança. Coisa linda de se ver mesmo! Para mim sempre foi um prazer estar presente, acompanhando-as. Mesmo com a correria diária, eu também não media esforços para estar com elas, mesmo minha filha bem pequena, ainda assim íamos aos ensaios na Ilha nos fins de semana (Ah! Que tempo bom!).

E quando chegou o grande dia, não poderia ser diferente: O grupo deu um show de dança, talento e simpatia. Simplesmente magnífico!!

Carrego muito orgulho no coração e felicidade por fazer parte dessa história linda. Estarei sempre aqui para o que precisarem, ou apenas para torcer e aplaudir de pé cada conquista. Quando penso que já assisti a uma dança perfeita, sou surpreendida na próxima. O grupo se supera a cada apresentação.

Carrego muito orgulho no coração e felicidade por fazer parte dessa história linda. Estarei sempre aqui para o que precisarem, ou apenas para torcer e aplaudir de pé cada conquista. Quando penso que já assisti a uma dança perfeita, sou surpreendida na próxima. O grupo se supera a cada apresentação.

Raízes do Nordeste do meu coração, sucesso mais e mais é o que desejo sempre!!! Brilhem!!!

Raízes do Nordeste do meu coração, sucesso mais e mais é o que desejo sempre!!! Brilhem!!!

Da Unidade Escolar Cândido Oliveira aos festivais estudantis – a escola aberta para a arte

O III Festival Estudantil de Identidade Cultural do Piauí em 2008 possibilitou a ampliação do repertório e criatividade do grupo Cultural Nordestinando. Este grupo foi criado dentro da escola Cândido Oliveira da junção de alunos talentos descobertos durante o processo e dos integrantes do Raízes do Nordeste.

A apresentação aconteceu no auditório da Universidade Federal do Piauí em Parnaíba. Nossa torcida estava em peso, com a presença maciça dos alunos da escola. Obtivemos a maior pontuação, mas perdemos o título.

O edital não especificava que a banda deveria ser composta por alunos da escola e foi nesse quesito que fomos desclassificados, estávamos com uma banda com músicos profissionais. O desejo de ir para capital representar a cidade ficou guardado para o ano seguinte.

Um cartaz e um edital nos levaram a participar pela primeira vez de um mundo cultural mais amplo, mesmo sem muita experiência encaramos e pisamos fundo nessa viagem. Viagem essa que deu certo. Obstáculos, críticas, raiva, desespero, doença e vontade de desistir fizeram parte também de nossa história, não esquecendo ao mesmo tempo a felicidade, os momentos de alegrias, sorrisos e lágrimas de vitória, pois sem isso não teríamos uma história completa.

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Os primeiros passos, a música estava sendo feita, a coreografia estava sendo elaborada em minha mente, os dançarinos se preparando, o cantor só esperando a hora de começar. Mas houve um entrave, fiquei doente, sentia muitas dores em minhas pernas, chorava, pois não conseguiria concluir meu trabalho.

A professora Rosiane Theóphilo, carinhosamente nossa Tia Rosy, amparou-nos junto com a Francisca e a Fernanda Reis, que concluíram a coreografia. Só faltava uma semana e eu ainda doente, creio que a vontade em participar era tão grande que me deu forças para conseguir me apresentar.

O grande dia chegou, todos estavam juntos, grupos com todos os estilos. Não esqueço aqueles que estavam sujos de lama da cabeça aos pés. Naquele momento, um frio na barriga, todos os dançarinos emocionados e sem contar o cantor que estava uma pilha de nervos.

Testando os instrumentos, aquecendo o corpo e acalmando o coração, anunciam a Unidade Escolar Cândido Oliveira. E o som da flauta nos encantou com uma melodia incomparável, o sorriso tomava conta de todos. A emoção fazia com que a torcida gritasse.

Dançamos tão rápido, e não percebi quando a música parou, ouvia apenas uma coisa: Já ganhou, já ganhou! Quando anunciaram o primeiro lugar U. E. Cândido Oliveira, o auditório da UFPI estremeceu com nossa alegria.

Erramos em estarmos com uma banda de músicos profissionais e fomos desclassificados e o segundo lugar foi para Teresina. Uma pena não termos ido à capital representar Parnaíba, mas tenho certeza de que daqui a alguns anos, olharemos para essa etapa de nossa vida com muito orgulho por ter tido a coragem de continuar e alcançar nossos sonhos.

O Festival Estudantil de Identidade Cultural do Piauí era uma ação educativa que promovia a formação da consciência para preservar, valorizar e divulgar o Patrimônio Cultural do Piauí, interagindo dança e música na perspectiva de construção de uma identidade cultural. Oportunizando aos estudantes da rede pública estadual da Educação Básica a partir da 7 ª série (8ºano), Médio, EJA, Educação Profissional Técnica de Nível Médio) expressarem seus talentos através de apresentações que contemplavam música e dança de forma integrada.

Alguns erros foram cometidos, mas sem dúvidas contribuíram para o sucesso obtido tempos depois.

A música “Parnaíba, cidade princesa” de Zé Cláudio traz os costumes e tradições de nossa cidade. O bailado do bumba-meu-boi, o ritmo do tambor, o artesanato desenvolvido na Ilha Grande de Santa Izabel, que se expressa a partir da cerâmica e da palha de carnaúba; as rendas de almofadas tecidas pelas mãos hábeis das rendeiras desde a antiga região Morros da Mariana, hoje Ilha Grande do Piauí. Com o corpo em cena, dançamos tudo isso.

Parnaíba, cidade princesa, de Zé Cláudio

PARNAÍBA cidade princesa, a mais bela do meu Piauí. Nas vielas do Porto das Barcas, nossa história começou aqui.

Artesões e bravos pescadores são os tipos do meu litoral. Nossa gente é hospitaleira, pelo mundo não há outro igual.

Venha aqui conhecer Parnaíba e a Ilha de Santa Isabel.

Belas dunas, lagoas e rios, Verdadeiros pedaços de céu.

Bumba-meu-boi, marujada e quadrilha são folclores do nosso lugar.

Lindas praias e um lindo Delta e o Portinho pra te encantar.

Vem!! Vem a Parnaíba comer caranguejo e ver o pôr-do-sol.

Vem! Vem a Parnaíba fazer luarada às margens do Igaraçu.

Parnaíba de lendas e mitos, mil histórias para se contar. Tem a lenda da Macirajara e o Portinho formou a chorar

Na Pedral tem a pedra gigante, o mistério deixado por Deus. Lá no rio o Cabeça de Cuia tá pagando os pecados seus.

Parnaíba terra de talentos, nobres frutos nasceram aqui. Escritores, poetas, artistas um orgulho pro meu Piauí.

Aqui tem a melhor cajuína, nosso chão é mais acolhedor. E a Ponte Simplício Dias nos ligando a Ilha do Amor.

Vem!! Vem a Parnaíba comer caranguejo e ver o pôr-do-sol

Vem! Vem a Parnaíba fazer luarada as margens do Igaraçu.

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Fonte: Arquivo pessoal do grupo Crédito: Rosiane Theóphilo

um salto para a capital

O Grupo Cultural Nordestinando, sob a coordenação das professoras de Educação Física, Lidiane Lopes e da professora de Língua Inglesa, Rosiane Theóphilo, participa pela segunda vez do Festival Estudantil de Identidade Cultural do Piauí.

Para tanto, iniciou-se um processo em busca do título e procuramos não repetir o erro do ano anterior. Desta vez, selecionamos a banda e mais bailarinos alunos da escola que tinham interesse em participar e assim seis novos integrantes compuseram o grupo. Faltando pouco mais de 15 dias para o festival, recebemos a música: “Piauí, terra de encantos!” E a maratona de ensaios inicia entre banda de música e os bailarinos. E a dinâmica dos ensaios foi em diversos locais: Centro de Nutrição da Vazantinha, Escola, Igreja de Santa Isabel, Porto das Barcas. Era uma novela, ter que levar os instrumentos para todos esses locais. Fizemos horas extras pelos próximos dez anos. E o trabalho rendeu uma linda coreografia criada por Fabiana Reis, que era aluna do 2º ano A da Escola Cândido Oliveira.

O empenho era grande, todos estavam unidos com um único propósito: representar Parnaíba em Teresina no Teatro 4 de Setembro. E assim no dia 2 de setembro de 2009 fizemos uma belíssima apresentação, juntamente com nossa torcida, muitos saíram da escola e foram para o Porto das Barcas torcer pelo Nordestinando, a vibração da plateia era singular.

Fizemos uma corrente de oração e recebemos o resultado de primeiro lugar. Era tanta felicidade, os corações a mil e o caminho à capital estava aberto. Parecia um sonho. A maratona de ensaios continuara, iríamos competir com vinte escolas.

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Fonte: Arquivo pessoal do grupo Crédito: Rosiane Theóphilo

E no domingo, 27 de Setembro, viajamos para Teresina, rezamos antes de sair e muita felicidade tomava conta de todos nós. Ficamos na Vila da Paz. A plateia ficou surpresa com a apresentação de Parnaíba. Ficamos classificados nas 2ª e 3ª etapas do evento e levamos 4º lugar com gosto de 1º, já que a plateia só falava em Parnaíba. A diretora Luciana Palhano levou um ônibus com alunos selecionados através do bom rendimento escolar para torcer pelo grupo, foi um imenso apoio para toda equipe. Afinal, era a primeira vez na capital.

Toda emoção

da Tia Rosy

"Quantas coisas passamos juntos? Reuniões, tantos locais de ensaios, produção, bingos, rifas, contribuição dos professores, a procura de patrocínio e material adequado.

Mudança de coreografia de um dia para o outro, com o intuito de melhorar na última etapa de seleção. Eu aflita, e vocês, muito seguros; as lágrimas que antecederam a entrada em cena devido às dores, sendo substituídas por um largo sorriso como se nada tivesse acontecendo, não foi mesmo Priscila Barbosa?

Dias inteiros em estúdios gravando as músicas; no último ano, tivemos um atraso e todos tiveram apenas dez dias para os ensaios;

Sentei-me no chão em frente ao palco no Porto das Barcas e foi impossível conter as lágrimas de emoção durante a apresentação, aquela sensação de dever cumprido; a força e determinação de todos em cena radiava para o público.

Agradeço a todos que se envolveram durante esses anos: professores, direção, produção, alunos protagonistas de cada espetáculo. Foi uma experiência maravilhosa acompanhar o crescimento de todos; o brilho em cada olhar, o desejo de melhorar e aprender arriscando, os medos que superamos juntos e as sensações de trabalho concluído ao saírem de cena em cada uma dessas apresentações é inesquecível.

Sem dúvida convivi com vocês momentos únicos, que ficarão para sempre em minhas melhores reminiscências, enquanto professora de vocês, os bastidores ficaram impressos em cada um de nós. Obrigada por acreditarem que éramos capazes de vencer."

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Projeto Faça uma

Criança Sorrir

Com o objetivo de promover momento de lazer para as crianças da comunidade Vazantinha através de brincadeiras, jogos, música, o Grupo Raízes do Nordeste, no período de 2008 a 2013, desenvolveu o projeto Faça uma Criança Sorrir que era destinado às crianças para agraciá-las com doações de brinquedos e roupas na passagem do dia das crianças.

Para a realização do projeto tivemos a participação de muitas pessoas de boa vontade como os donos do comércio local e artistas como Esther

Silva que nos auxiliou bastante com oficinas de contação de história, de pintura e desenho, além de doação de materiais para a execução das atividades.

Com esse projeto, também colaborávamos em outros espaços nos apresentando, por exemplo: nos eventos do professor Jones Castro na Rua Paraíba, Bairro do Carmo ou na quadra da mesma região, em escolas e eventos infantis no mês das crianças. O projeto também foi realizado nas comunidades do Labino e Pedra do Sal e teve apoio da família do advogado Rodney Spíndola, grande articulador de projetos sociais.

a ação do raízes nas comunidades

Projeto FAPEX

Em 2009 participamos do Projeto FAPEX - Fundação de Apoio à pesquisa e a extensão, que possibilitou ao Raízes fazer assessoria em duas comunidades.

A primeira foi na comunidade Labino que é uma localidade próxima à Ilha Grande de Santa Isabel. Tínhamos o intuito de criar com os jovens da comunidade, um grupo de dança para valorizar a cultura local. Foi criada a música Cajuí de autoria de Zé Cláudio Viana com coreografia de Fabiana Reis e figurinos de Francisca Reis, mostrando as riquezas da região.

Depois dessa iniciativa, a professora Glória Galvão, moradora da localidade, deu continuidade ao grupo Mandacaru, mantendo com recursos próprios, novos figurinos e coreografias. Com dez anos de criação o grupo trabalha atualmente com foco na cultura popular através da quadrilha junina da localidade.

Logo após, Fabiana trabalhou com os jovens da comunidade do Cajueiro da Praia, onde foi criado o grupo Canoas, Zé Cláudio mais uma vez compôs a música para o projeto, contudo o grupo durou apenas alguns anos.

Em 2011, recebemos o convite para participar do festival junino de São João do Arraial, município do Piauí, localizado na microrregião do Baixo Parnaíba. Apresentamos "Ruído da Senzala: um grito de liberdade", fomos muito bem recebidos e alojados pela organização do evento. E como incentivo, íamos receber o primeiro cachê para se apresentar em uma programação de folguedos.

Nesse mesmo embalo, apresentamos no Encontro de Folguedos de Teresina. Ficamos felizes e ansiosos ao levarmos nossa dança para fora de Parnaíba e ainda podermos apreciar diversas apresentações.

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Fonte: Arquivo pessoal do grupo

Das premiações, a reverberação no entorno e as apresentações pelo país

Prêmio Anu Dourado

Recuperando-se da emoção de termos concluído com sucesso a nossa última participação no Festival Estudantil de Identidade Cultural do Piauí, nos últimos meses de 2010, eis que surge a indicação para concorrermos ao Prêmio Anu, idealizada pela CUFA – Central Única das Favelas, do Rio de Janeiro, que objetiva destacar ações de toda natureza desenvolvidas dentro de favelas, ou em regiões de vulnerabilidade em todos os estados brasileiros.

Não sabíamos ao certo a magnitude da premiação e de maneira tímida convivemos durante um tempo com essa notícia. No primeiro ano, enviamos o projeto com o tema “Resgatando a Cultura Piauiense”; No segundo ano recebemos um telefonema da CUFA enfatizando que o Raízes do Nordeste se destacava e enviamos o projeto “Ruído da Senzala: Um grito de liberdade”.

No resultado da seleção, ficamos mais uma vez entre as cinco melhores iniciativas do Piauí, fizemos o que estava ao nosso alcance, entrevistas, divulgação nas redes sociais, matérias em jornais. Contudo, foi a iniciativa de Teresina, Cineperiferia que venceu, um belíssimo projeto por sinal.

Como os sonhos sempre nos acompanham, no segundo semestre de 2012 entre conversas indaguei: Quem serão os indicados deste ano? Já pensou se ficássemos mais uma vez entre as cinco?

Uma semana depois em sala de aula recebi uma ligação do Rio de Janeiro, onde Julia Ornellas nos comunica que dentro do banco de dados da CUFA, a nossa instituição continuava em destaque e se aceitávamos enviar nossa ação do ano.

Mais uma emoção, era um sinal....

Enviamos o Projeto “Faça uma Criança Sorrir”, acreditando mais uma vez, que seria possível.

Ficamos por três anos entre as cinco melhores iniciativas do estado para acontecer o que mais desejávamos. A ação do Raízes do Nordeste era a vencedora do Prêmio Anu Dourado do estado do Piauí e estaríamos em fevereiro de 2013, recebendo esse reconhecimento nacional no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

Quando saiu a lista, faltava um estado e qual seria? Justo, o Piauí, a adrenalina só aumentou, segundos depois vimos nossa ação na lista. Foi uma das viradas de ano mais felizes para o grupo, todos vibraram, gritaram, choraram de emoção. Continuamos em processo de votação onde as três ações mais votadas receberia o Prêmio Anu Preto.

Ao adentrar no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, foi muito deslumbrante e emocionante. Sentamos na primeira fileira do Theatro e entre apresentações de vários cantores, as premiações eram feitas. Momento inesquecível, no 4º bloco logo após a homenagem à Glória Maria seguiram as ações do Piauí e outros estados.

A chamada: Estado do Piauí: Projeto: Faça uma Criança Sorrir, Grupo Cultural Raízes do Nordeste, não tem dinheiro que pague, o coração bateu mais acelerado, chegara a nossa hora.

E por incrível que pareça, com toda tranquilidade, agradeci a Deus, a todos que votaram, a Cufa pela visibilidade do prêmio, aquela noite estava sendo um marco em nossas vidas e em nome do Raízes do Nordeste e das crianças do projeto dediquei o Anu a nossa coreógrafa Fabiana Reis que um dia acreditou que o sonho de ser reconhecido em esfera nacional se tornaria realidade. E entre aplausos de todo o teatro, nosso dever estava se cumprindo.

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Ao retornarmos com o prêmio, fomos muito noticiados na cidade. Surgiram diversas matérias para a mídia impressa, digital e televisiva. Foi aquele burburinho. Passamos meses e meses encantados com o reconhecimento e daí, ganhamos mais projeção no entorno, ficamos mais mobilizados e uma autoestima mais confiante de que o Raízes do Nordeste era visto como um patrimônio que enriquecia a cultura local com a nossa dança, música e ações.

Dois meses após recebermos o Prêmio Anu no Rio de Janeiro, em abril de 2013, o grupo recebeu a visita dos "Caçadores de Bons Exemplos", Eduardo e Iara Xavier, um casal que percorreu todos os estados do Brasil catalogando as boas ações que lhes eram indicadas pelo país.

Nessa busca fomos encontrados por eles, que nos cadastraram no site do projeto, contabilizando mais de 1.000 projetos visitados em todos os estados brasileiros, gerando o livro: "Caçadores de Bons Exemplos: em busca de brasileiros que fazem a diferença", lançado em dezembro de 2015.

O contato que tivemos com os Caçadores de Bons Exemplos, foi muito significativo para o Raízes. Tempos depois, recebemos o telefonema de uma pessoa que havia visto nossa ação no site e gostaria de nos presentear com a reforma do local onde ensaiávamos que na época era um pequeno espaço cimentado a céu aberto que fi-

cava ao lado da minha casa na Vazantinha sem estrutura nenhuma. Contudo, a proposta foi inviabilizada, pois o terreno onde morávamos não era legalizado. Ficamos muito tristes com isso.

Fonte: Arquivo pessoal do grupo Fonte: Site CUFA Caçadores de Bons Exemplos com o grupo Raízes do Nordeste Fonte: Arquivo pessoal do grupo

Festdança

Em 2012, participamos pela primeira vez do Festdança na cidade de Teresina com a coreografia “Nobre Folia”, música do Grupo Sertanília da Bahia que nos autorizou a utilizar suas músicas no espetáculo intitulado Ser tão vivo! Não ficamos entre os primeiros finalistas, mas ficamos muito instigados ao perceber que os primeiros lugares ficariam classificados para participarem da Competição Internacional de Dança Passo de Arte em Indaiatuba – SP, e começamos a sonhar com essa possibilidade. Naquele ano conhecemos o senhor Edmar Silva, motorista que nos levou para esse festival. Continuávamos a novela para conseguir transporte e apresentar fora de Parnaíba, só tínhamos a metade do dinheiro e mesmo assim ele nos levou dando-nos alguns meses para terminar de pagar. Um mês depois conseguimos honrar o nosso compromisso. Ele conheceu um pouco da nossa história e nos doou nosso piso de cimento ao lado da casa de Fabiana, que serviu de local de ensaio durante os três anos seguintes.

Ser tão vivo!

O espetáculo “Ser Tão Vivo!” traz a sonoridade do Grupo Sertanília e relembra tradições como o Coco e Folia de Reis. Com esse espetáculo, participamos pela primeira vez em um projeto do Sesc: o Vamos ao Teatro. Na época, buscamos a assessoria de Ryck Costa, ator, diretor do Grupo Cabaça, gestor e produtor cultural do Espaço Balaio em Parnaíba-PI, para compor o espetáculo com mais de trinta minutos.

Poucas pessoas nos prestigiaram nesse dia, mas para a companhia era como se o teatro estivesse lotado. O elenco desse espetáculo contou com: Aline Santos, Clarice Silva, Cláudio Victor, Diovanna Azevedo, Fabiana Reis, Fernanda Reis, Gerciany Costa, Ielane Silva, Rosiane Theóphilo e Tatiana Reis.

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Fonte: Ser Tão VivoArquivo pessoal do grupo Credito: Tacyane Machadoo

De 2012 a 2013 o Raízes do Nordeste participou do Projeto Corpo em Cena que viabilizava cursos anuais de danças populares oferecido pelo Sesc Piauí por meio da Unidade Operacional Sesc Avenida em Parnaíba. O curso era ministrado pela coreógrafa Eugênia Castelo Branco formada em dança contemporânea pela UFBA.

O grupo todo foi inscrito nesse projeto buscando um processo de formação e qualificação profissional. Gratidão à professora Eugênia pelo apoio e conhecimentos compartilhados, pois a partir desse curso pude me preparar melhor com técnicas corporais e metodologia de sala de aula. A partir de 2014, assumi as turmas do projeto Corpo em Cena do Sesc, com a ausência da professora Eugênia que havia passado em um concurso fora do Estado. Além das turmas em Parnaíba, o curso ocorria também em duas comunidades: Barro Vermelho e Labino.

Os cursos contemplavam crianças, jovens e adultos proporcionando um contato semanal com a arte da dança popular. No inicio fiquei temerosa em assumir a missão de dar aulas numa instituição tão reconhecida como o Sesc, mas logo fui adquirindo um grande entusiasmo e experiência durante as aulas.

Confesso a satisfação de ver os resultados práticos no final de cada ano exibidos na Mostra de Dança. A ansiedade que antecede as apresentações de fim de ano, o brilho do olhar dos alunos e alunas que se apresentam pela primeira vez em um palco, é prazeroso ver tudo isso acontecer.

Ao longo dos oito anos do Projeto Corpo em Cena, centenas de alunos puderam vivenciar a experiência da dança em Parnaíba. São em média oitenta vagas oferecidas gratuitamente, durante o ano como forma de democratização da arte.

Projeto Corpo em Cena

curso danças populares

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Credito: Franzé Sousa

A VIII Mostra de Dança Popular por Ryck Costa

"Mais uma vez fui arrebatado por raízes, currais e fitas de cetim!

Fui assistir a Mostra de Dança Popular do SESC PI e saí de lá suado, cansado, com os pés doloridos de tanto dançar, com a ressalva que não subi ao palco ou se quer me mexi da poltrona, porém meu corpo pulsou contagiado por corpos dançantes e brincantes da cultura popular.

Entendi! Duvidei! Estranhei! Sorri e afrontei qualquer conceito de dança. Até porque o termo dança no sentido vago e leigo (que me cabe) não dá conta mais do trabalho de Fabiana Reis. Hoje, sentado pertinho do palco na primeira fila percebi uma presença onipresente de Fabiana. Quem é Fabiana Reis nessa toada? Bem diria que é a Ama do Boi, ou a Rainha desse Maracatu, porque não dizer a capitã dessa marujada ou a Dandara do nosso Quilombo, mas “os outros” rasamente apenas a classificam como - a coreógrafa. Acho INJUSTO! Essa menina-mulher-artista não preenche palco com movimentos coreografados repetidos. A dança rizomática de Fabiana é uma celebração ancestral.

Hoje, de perto não só vi, como senti, corpos ritmados por aboios, pífano, sanfonas, tambores e pandeiros. Um corpo que não queria reproduzir, mas agregar, celebrar, profanar e reverenciar o seu sagrado.

Outrora conceituei como conjunto de repertório recorrente, hoje compreende o que a razão não quer perder tempo em responder. Existe definida uma escola raízes de dança. Um formato, uma pulsação que te arremessa e explode o palco. Enfrentar um espetáculo de dança popular capitaneado por Fabiana Reis e costurado por suas raízes, refiro-me aqui aos bailarinos icônicos do Grupo de Dança Raízes do Nordeste que permeia com tanta potência e humildade o ritmo dos novatos a cena dançante. Isso! Enfrentar! Tem que ter coragem para não temer um palco italiano explodir, e suas tabuas construírem um curral de sensações.

Hoje, me vi de novo no meio do curral, me senti o boi, ora para morrer já com a respiração ofegante, ora festejado como dono da festa. Antagônico um palco europeu ser o terreiro de corpos pretos. Observei que o palco riscado de breu não

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apagou quantos negros serram suas tabuas, o mesmo breu não deu conta sentar a gira.

O palco só por hoje, não era italiano, era preto, era quente, empoeirado de terra, barro, lama, assentado na pisada forte de seus brincantes. Quantos corpos pretos, quilombolas e nordestinos vi e enraizei. Corpos pretos baixos, pretos altos, pretos gordos, pretos loiros, tinha preto crespo. Um preto ancestral recheado de história, valor, resistência, política e arte. Tinha Zumbi deflagrado por seu interprete Francisco em movimentos aguerridos. Senti-me protegido. Era dança ou ritual. Era intérprete ou encarnação? Penso que o quilombo se reinventou e retomou seu território de direito.

Quantos cachos são necessários para se emaranhar na dramaturgia cênica sertaneja da Dança Popular promovida pelo Sesc Avenida em Parnaíba! Não sei! E nem quero saber, quero criar vergonha na cara e perder o medo ou comodismo de misturar-me aos meus. Sim! Porque hoje os meus dançaram, dançou minha mãe, minhas tias, minha avó (in memorian). Dançou meus vizinhos. Dançou minhas raízes. Até eu dancei. E suei. Chutei o coco para coxia e saltei para dentro e para fora da cena. Hoje! Compreendi minha ingratidão.

Um Salve para a comunidade! Braços cruzados para Wakanda e por todas misses universo que subiram ao palco. Um Salve aos SESC. Um Salve ao público que grita, torce, ri e no final de tanta energia implodida solta um ansioso registro de “Acabou? A resposta depois de tantas vezes usar a palavra HOJE é que sim, mas só por hoje, porque o AMANHÃ com certeza tem mais."

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Passo de Arte

Em 2013, participamos pela primeira vez da Regional Norte e Nordeste Passo de Arte em Fortaleza-CE. Os três primeiros colocados se classificariam para a competição internacional. Participamos com a coreografia “Sambada de Reis” e com o 3º lugar nos classificando para nos apresentar em Indaiatuba-SP. Ficamos radiantes com essa classificação.

Apresentamos no Teatro do Shopping Via Sul. Ao chegarmos estava acontecendo o ensaio dos grupos de sapateado e ficamos tomados pelo barulho ensurdecedor que o sapateado emitia. E nesse primeiro contato, após assistir as apresentações ficamos encantados nos deixando a vontade de aprender a dançar para o futuro.

Retornando de Fortaleza-CE, procuramos o prefeito de Parnaíba, na época Florentino Neto que nos auxiliou para irmos à Indaiatuba-SP. Fazer contatos com tantos grupos do Brasil e exterior, era muito importante para o Raízes do Nordeste.

Iniciamos nossa labuta para chegar a Indaiatuba-SP, preparando nosso figurino, adereços e os ensaios coreográficos para a apresentação. Mestra Aparecida Reis, preparava artesanalmente o boi da apresentação. Foi muito emocionante subir ao palco do Teatro do CIAEI – Centro Integrado de Apoio à Educação de Indaiatuba.

Foi a primeira vez em que mais integrantes viajaram de avião, felicidade não cabia no peito, contudo, os menores de idade não puderam ir.

IX Prêmio AMB de Jornalismo

Em 2013, participamos em Brasília do IX Prêmio AMB de Jornalismo a convite do prefeito Florentino Neto na companhia de grandes atrações como: Elen Olléria, Banda Judges e Valor de Pi. Fomos notificados no site da AMB: Outra atração que está ganhando o Brasil é o Raízes do Nordeste, composto por dez integrantes. A apresentação tem significado especial, por ser um grupo de Parnaíba, terra natal do jurista, escritor e homem público Evandro Lins e Silva, o grande homenageado desta edição do prêmio.

O convite para irmos à Brasília foi feito na abertura do Projeto Portas Abertas com a exposição Mulheres de Esther Silva no Casarão Simplício Dias. Faltando um mês para a apresentação, gravamos novamente a nossa música: "Parnaíba, cidade princesa". Aceleramos os ensaios e os preparativos para honrar o convite.

Retornando de Brasília ficamos em Teresina, para participar do Festdança que estava acontecendo no Teatro do Boi, ficamos em 2º e 3º lugares, com "Parnaíba, cidade princesa "e "Piauí, terra de encantos". Lá, iniciamos a participação nas primeiras oficinas de dança fora de Parnaíba, na ocasião conhecemos Arthur Garcez, jurado do festival e professor de danças populares do Colégio Marista de Natal-RN.

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Exposição na arte e na vida parnaibana

E em 21 de outubro de 2013, abrimos a exposição "Raízes do Nordeste: na arte e na vida parnaibana", no Casarão Simplício Dias da Silva, dentro do 1º edital do Programa Portas Abertas da Superintendência de Cultura. Esta exposição foi possível com a nossa participação em um edital para comemorarmos os 10 anos do grupo.

No ano seguinte ela foi exposta no Sesc Avenida em Parnaíba-PI. O acervo da exposição era composto pelos figurinos e adereços cênicos, fotos, crítica da imprensa, troféus, nossas bonecas temáticas mostrando um pouco dos dez anos de trabalho.

Nesses dias em que ocupamos o espaço, recebemos muito carinho e reconhecimento das pessoas e eis que ouvimos mais uma frase: “Aproveitem que a fama passa”.

Entreolhamo-nos e estávamos tão felizes de podermos chegar a uma década, compartilhando com Parnaíba nossa caminhada, que o comentário serviu para que as conquistas de cada novo ano fossem comemoradas com muito mais amor e respeito ao que nos propúnhamos em fazer.

Conquistas de Maculelê

Em 2014, com o grupo formado inicialmente só por mulheres: Aline Santos, Clarice Silva, Débora Viana, Diovanna Azevedo, Fabiana Reis, Fernanda Reis, Gerciany Costa, Ielane Silva, Tatiana Reis e Rosiane Theóphilo atuando na sonoplastia e produção, nos interessamos em participar novamente da Regional Passo de Arte em Fortaleza-Ce, com a coreografia Maculelê.

Foram três meses de preparação. O processo de pesquisa, vivência com a capoeira, a maratona de ensaios, as dores que nos acompanharam. O primeiro figurino foi feito com a palha da carnaúba, pois queríamos trazer uma relação com a natureza utilizando os elementos da nossa terra como a “Árvore da vida” tão presente no nosso dia a dia.

Fomos o único grupo do Piauí inscrito no Festival. Os desafios foram grandes para chegarmos até o palco de apresentação, mas vencemos todos e o sonhado 1º lugar em Danças Populares Avançado foi conquistado, ficando assim desta vez selecionado para a 22ª Competição Internacional de Dança em Indaiatuba - SP.

Para irmos até Indaiatuba neste mesmo ano, não tínhamos recursos e nem conseguimos apoio da Prefeitura de Parnaíba como da vez anterior. Mas como é próprio do Raízes ter fé e acreditar que tudo vai dar certo e na resistência, fomos à luta e conseguimos outras formas de ajuda, através de doações e empréstimos vindos de amigos.

Algumas das componentes do grupo viajaram de avião pela primeira vez, realizamos o sonho da maioria e foi muito gratificante saber que foi através do Raízes. A responsabilidade que tínhamos com cada uma, era imensa, mas deu tudo certo, hoje só temos a agradecer aos pais pela confiança e por acreditarem na arte enquanto prática humana.

Em meio a grupos de São Paulo, Minas Gerais e Paraguay ficamos em 4º lugar mais uma vez.

Sabendo sempre que tudo tem o seu momento certo para acontecer, e que algumas pedras no meio do caminho também acontecem.

No dia da apresentação não sei onde eu estava com a cabeça que coloquei quase todo nosso dinheiro, que não era muito, na mochila que era idêntica a de mais três dançarinas, com câmera, dois celulares e um figurino.

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Uma delas deu uma crise de choro após a apresentação, uma moça chegou perto do grupo, começou a conversar e ela se tranquilizou mais, minutos depois nosso táxi chegou e quando fui pegar a carteira para pagar, cadê a bolsa? Não era nenhuma das que estavam no carro.

Assim, Fernanda, Gerciany, Fabiana, Diovanna e eu nos dirigimos correndo para o CIAEI, já não tinha mais nenhum ser humano no estacionamento, tudo deserto.

Diovanna era a única que estava com celular e com crédito apenas para uma ligação. Começou a ligar, chamou e uma pessoa atendeu, era o vigia do local, gritamos de alívio, estava tudo intacto.

Ele disse que uma moça havia deixado para ele e, que sabia que as donas da bolsa voltariam para pegar. Eternamente gratas. Fomos comprovando que surgiriam sempre pessoas nos auxiliando na caminhada.

Continuando sua saga, o Raízes é absorvido em algumas programações locais. O Sesc em Parnaíba, por exemplo, é uma das poucas instituições que procura dar incentivo aos grupos da cidade. Projetos como: Palco Giratório – Difusão Nacional de Artes Cênicas; Projeto Dramaturgias; Projeto Vamos ao Teatro; Abril Dançando; Dança Corpo e Movimento; Corpo em Cena; Miscelânea das Artes, são alguns exemplos de espaços criados onde sempre estamos inseridos de alguma forma, seja apresentando ou adquirindo conhecimentos.

A preocupação do Sesc, muito nos instigou, quando em 2017, recebemos em nosso espaço a visita de um dos integrantes da coordenação da Gerência de Cultura do Departamento Nacional, Raphael Vianna, que em conversa nos alertou para um processo de pesquisa e de formação visando o desenvolvimento da dança cada vez mais a partir de nossa realidade.

Em 2014, ocorreu a Mostra Parnaíba de Dança e "Maculelê" compôs a programação onde tivemos contato com várias apresentações do Dança em Trânsito. Conhecemos Flávia Tápias e Gisele Tápias, fundadoras do Grupo Tápias do Rio de Janeiro-RJ. Foi um encontro enriquecedor, pois tivemos a oportunidade de fazer oficina e conversar um pouco sobre a nossa história e o trabalho delas.

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Nesse mesmo ano, participamos pela terceira vez, do 18º Festdança em Teresina nos classificando em 2º lugar em conjunto estilo livre, com a coreografia “Lamento Nordestino”. E o 1º lugar com "Maculelê" em danças populares avançado, além de vencermos como melhor conjunto de danças populares do evento. Fabiana Reis, Fernanda Reis e Gerciany Costa participaram de oficinas de Jazz e de dança contemporânea.

Esta classificação colocou o grupo diretamente na 23ª Competição Internacional de Dança Passo de Arte em Indaiatuba-SP, que aconteceria em julho de 2015, caso conseguíssemos recursos financeiros necessários para chegarmos até lá.

Entre novembro de 2014 a março de 2015, fomos agraciados com nossa história sendo contada através de capítulos em cinco edições do jornal “O Piagui” organizado por Claucio Ciarlini , intitulado “Da capela aos palcos”. Tudo isso tem um retorno afetivo e valoroso para o grupo, pois divulga o nosso trabalho, possibilitando também reconhecimento.

Neste mesmo ano fomos instigadas a participar do edital R. Petit, lançado pela Superintendência Municipal da Cultura de Parnaíba.

Então entramos em contato com Benjamim Santos, dramaturgo, encenador e escritor parnaibano que roteirizou e dirigiu a proposta do espetáculo Berra Boi. E Ione Garcia e Izabel Brunsizian do Programa Janela para o Mundo da empresa Ômega Energia, nos assessoraram na proposta do espetáculo infantil "Cantigar". Inscrevemos os dois espetáculos no edital e em dezembro de 2014, saiu o resultado e fomos aprovados com as duas propostas, porém, nunca recebemos os recursos que o edital assegurava.

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Fonte:Arquivo pessoal do grupo

Quando o Raízes do Nordeste se torna objeto de estudo

De 2013 a 2015, o Raízes é convidado a fazer parte da pesquisa de mestrado em Educação da UFPI, com a pesquisadora Maria do Livramento da Silva Machado – a Lili Machado, na época Produtora Cultural do Sesc Avenida em Parnaíba-Pi. Aceitamos o convite e nos tornando copesquisadoras. Ficamos com receio em participar da pesquisa, mas decidimos viver essa experiência juntos.

Em abril de 2014, iniciamos o processo de negociação das condições da pesquisa, onde a pesquisadora nos apresentou a metodologia do trabalho, a Sociopoética.

Aceitamos o desafio, tivemos o primeiro encontro onde participamos da oficina de “Negociação da Pesquisa”, momento esse em que nos tornamos copesquisadoras e onde a pesquisadora oficial fez um mapeamento dos nossos perfis, onde cada uma falou de si por meio de uma boneca de tecido feita por cada uma das copesquisadoras.

Ela nos disse que precisava nos encontrar pelo menos quatro vezes para vivenciamos as técnicas de produção de dados. A pesquisadora tinha o intuito de saber sobre o Raízes, nossos processos de criação, nossos saberes e os modos de aprender e de ensinar, sobre os conceitos produzidos acerca de cada um dos integrantes, do corpo e do mundo em que vivíamos.

Para isto ela tinha as seguintes questões: Que conceitos as jovens do Raízes do Nordeste têm de corpo? Que outros elementos elas trazem para pensar o movimento de seu corpo, de suas vidas? Que linhas de fuga produzem frente às concepções instituídas de corpo? O que aprendem com o corpo em movimento? Tinha também como foco os temas: Sociopoética, Educação, Dança, Arte, Corpo e Movimento e Juventude. E para a produção dos dados da pesquisa, vivenciamos duas técnicas: “Mutante em Mar de Lama” e “Corpo Rendado”, esta que deu origem ao Corpo Entrelaçado.

A pesquisadora gravava nossos relatos e a partir disso, ela analisava para encontrar os confetos (Conceitos Perpassados de Afetos) que produzíamos a partir do nosso pensamento e afetamentos na relação com o corpo e o movimento fazendo sempre uma relação com a educação.

Produzíamos os conceitos sobre os temas abordados. Na Sociopoética o Grupo Pesquisador (Pesquisadora oficial + Copesquisadoras) é dado como sendo um grupo filosófico que pensa e que produz conhecimento.

Aqui apresentamos alguns dos confetos que foram produzidos sobre corpo durante as técnicas de produção de dados:

[...]"mutante alegria estranha; experiência-escuridão; história do corpo no corpo; corpo criativo; buraco-cela; barreiras-nós, saberes da tradição; Palavras de tradição; corpo lutador-batalhador; o corpo alegria; Raízes do Sorriso, dança pé no chão e dança 1, 2, 3; Corpo entrelaçado e corpo coletivo; história do corpo no corpo; Corpo afroancestral e corpo X.[...]

Para saber mais sobre a pesquisa, sugerimos a leitura de sua dissertação que já fora transformada e publicada em livro21

A experiência do Raízes em fazer parte dessa pesquisa nos possibilitou pensar melhor sobre as questões de corpo. Pudemos refletir um pouco, sobre o SER negro que é o Raízes e assumir nossa

21 MACHADO, Maria do Livramento da Silva. Jovens bailarinas de Vazantinha: conceitos de corpo nos entrelaces afroancestrais da dança na educação. – 1. ed. – Fortaleza: EdUECE, 2018.

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condição étnica com mais afirmação como também poder vivenciar na arte da dança a nossa ancestralidade e nos posicionarmos politicamente sobre alguns assuntos importantes para nossa condição de vida.

Vimos por exemplo que a arte nos ajuda a assumir essas condições com mais confiança e clareza nos situando melhor no tempo e no espaço onde vivemos tendo mais consciência do que é tolerância e respeito e do que é intolerância e desrespeito com o outro.

Pudemos perceber mais, sobre as nossas práticas, o nosso entorno, o lugar onde vivemos, a nossa cultura e a ligação que temos com o lugar que habitamos. Sobre tudo isso a pesquisadora Lili Machado enfatiza em sua dissertação um pouco do que tem a ver com o Raízes e com a nossa cultura, no sentido de que:

“O chão é ancestralidade. O chão é a vida, é a força. É do chão que elas gostam, por isso, Raízes. Dançar é o que leva estas jovens para muitos lugares. É o que faz assumirem de modo diferente o que elas são. Um jeito de pensar e de ser que não aspira estar no centro nem o quer como referência. Um jeito de ser que desafia as maiorias reguladoras, por isso, um corpo estranho que incomoda, que perturba, que provoca e que fascina.

E em 31 de agosto de 2015, no auditório do CCE Maria Salomé da UFPI em Teresina, foi a defesa da dissertação de Maria do Livramento da Silva Machado que teve como orientadora a professora Doutora Shara Jane Costa Adad. Na ocasião, o grupo performou os confetos que foram produzidos na pesquisa, dentre eles: Corpo Entrelaçado; Corpo Coletivo; Raízes do Sorriso; A Dança Pé no Chão e o Corpo Afroancestral; Experiência Escuridão; Corpo Lutador Batalhador; Corpo Buraco Cela; Corpo Alegria Estranha; Corpo X; História do Corpo no Corpo;

Referências importantes se fizeram presentes na defesa da referida dissertação como: Jacques Kaiowá Gauthier, teórico e criador da Sociopoética e Sandra Petit, sociopoeta, pesquisadora da temática africanidade e professora da UFCE. Coreografamos os confetos com a música Ponto de Nanã, de Mariene de Castro. Fomos muito aplaudidas pelos presentes inclusive por Jacques Gauthier, que se tornou amigo e admirador do Raízes do Nordeste, incentivando muito Fabiana Reis estudar e fazer dança na Universidade Federal da Bahia - UFBA.

De 2013 a 2015 foi realizado pela empresa Ômega de Energia Eólica, o projeto “Janelas para o Mundo”, que tinha como meta principal o mapeamento da cultura local e o desenvolvimento de algumas ações educativas e culturais nas comunidades onde atuava. Durante três anos eles fizeram o mapeamento das riquezas culturais existentes na Ilha Grande de Santa Isabel e entorno objetivando fomentar uma transformação sustentável por meio de atividades realizadas como: oficinas, cursos e encontros. Com o mapeamento realizado pela Ômega foi gerado uma publicação das práticas culturais locais com a entrega de um selo aos grupos ou manifestações culturais da região. Dia 06 de fevereiro de 2015, recebemos o selo como Patrimônio Vivo da Ilha.

Dez instituições foram contempladas com este selo, havendo também, o lançamento da loja do Patrimônio no Parnaíba Shopping, e do livro do Patrimônio Vivo na Educação da Ilha Grande, o Centro de

O Patrimônio Vivo da Ilha

Educação na comunidade Labino, o Catálogo de produtos e serviços dos empreendedores sociais da região de Ilha Grande e Parnaíba.

Algumas representatividades da Ilha se fizeram presentes na ocasião: os familiares dos bailarinos, Zé Cláudio Viana; os Brincantes do Bumba meu Boi, Dona Maria Antônia – presidente da Associação de Moradores; Senhor Guilherme – mestre e escultor, Francisco Eduardo que nos auxiliou muito com a placa entre outros.

Dona Maria Antônia, relembrou alguns momentos marcantes de nossa história e como se sentia orgulhosa por todas as conquistas ao longo desses anos. O carinho no olhar e nas palavras da equipe da Ômega e em especial de Ione Garcia Altieri, Izabel Brunsizian da Via Gutemberg de SP, elas que tanto nos apoiaram e nos deram força. Era lindo ver a preocupação, o cuidado conosco, a vibração em cada nova conquista, a mão estendida quando mais precisávamos; as orientações para melhor nos organizarmos, as possibilidades de nos mantermos de maneira sustentável.

"O trabalho desenvolvido ao longo de 12 anos com muita persistência, força de vontade, superando todos os obstáculos que se possa imaginar, transformando o mínimo em grandes conquistas, tornando-nos protagonistas de uma trajetória reconhecida hoje como Patrimônio Vivo da Ilha só nos estimula a continuar, mesmo não sabendo o que ainda está por vir."

O Raízes para Ione Garcia Altieri e Izabel Brunsizian

"O que dizer do grupo Raízes do Nordeste?

Não se diz sobre o grupo, se sente!!

Elas são puro sentimento e beleza!

Ninguém consegue vê-las dançar e continuar o mesmo; necessariamente somos chamados a ser mais gente!!!

Quando assistimos um dos seus espetáculos pela primeira vez, paralisamos! Como era possível existir uma força tão grande, tão coletiva, tão profunda como aquele grupo?

Jovens, pareciam inexperientes! Doce ilusão! A qualidade técnica, a beleza do figurino, o ritmo e coreografia tão cuidadosamente pensados e elaborados, revelavam uma força infinita, uma beleza que merecia florescer.

Estávamos em Ilha Grande para identificar quais grupos e/ou pessoas representavam o lugar. Ao mesmo tempo em que as conhecíamos, as admirávamos cada vez mais pela força e ousadia. Valia o lugar de bailarinas de grandes companhias...

Houve um momento que entendemos que um grande salto viria se elas pudessem qualificar a gestão financeira do grupo. O desafio era encontrar uma maneira de dizer do simbólico – que a dança revelava lindamente – na concretude de um objeto que pudesse ser comercializado.

Como fazer isso sem perder a história e o sentido do que faziam? Ao desafiarmos a pensar, a resgatar o sentido do que se fazia, a refletir sobre o que se produzia...

Um dia, uma surpresa! Nasceram as bonecas da coleção; cada uma representando um estudo! E de novo, com que beleza, com que qualidade!!!!

Merecem todas as premiações que já conquistaram e que conquistarão! Mostram a juventude, cultura e beleza dos movimentos, apenas sendo o que são: Raízes do Nordeste!!! Nós as admiramos!!!!"

Tias Ione e Izabel

O Projeto Palco Giratório do SESC e o Intercâmbio Balé Popular do Recife

O ano de 2015 iniciou e ficamos sabendo que participaríamos da programação do projeto Palco Giratório daquele ano, intercambiando com um dos grupos selecionado para circular pelo Brasil. Era então o Balé Popular do Recife-PE, referência na história da dança popular brasileira.

Uma emoção grande tomou conta de todos e abraçamos a oportunidade com muito afinco. Nossos corpos traziam todas as sensações que se possa imaginar. O quanto seria a responsabilidade de trocar experiências e nos apresentar para o Balé Popular de Recife. Mas preparamo-nos e pensamos em algumas ações para recebê-los em nossa cidade.

Poder interagir com referências na dança como: Angélica Madureira, Ângela Fischer, André Madureira e Marconi Stylebrasil, foi bem bacana para o Raízes.

O grupo chegou a Parnaíba, onde assistimos ao seu espetáculo "Nordeste: a dança do Brasil" nos deixando maravilhados. Em seguida apresentamos para eles o espetáculo "Maculelê" e no outro dia iniciamos o Intercâmbio no Sesc Avenida.

Foi enriquecedor demais, primeiro por conhecermos um pouco mais da história de um dos grupos referência em dança popular, suas conquistas, os obstáculos e as superações.

Importantíssimo poder vivenciar junto ao Balé Popular do Recife os bastidores durante o momento da apresentação do espetáculo, conhecer a dinâmica de como se dava, por exemplo, as trocas dos figurinos e a preparação para as mudanças de cena.

Tivemos a oportunidade de acompanhar a passagem de palco e ficamos atentos a todo o movimento do grupo, não desgrudamos nenhum segundo. A curiosidade em saber como todos aqueles figurinos ficariam dispostos pelo teatro era tamanha. Vimos por exemplo, como o camareiro organizava todos aqueles elementos muito bem, foi uma aula que nunca iremos esquecer.

Intercambiar com esse grupo ampliou o nosso olhar sobre a dinâmica cênica de um espetáculo, e a cada história contada, sentíamos que algumas coisas se entrecruzavam com a nossa trajetória e isso foi magnífico, parecia um sonho aquela vivência.

E ficamos a pensar que, só uma instituição como o Sesc é capaz de proporcionar vivências como essas e acreditar nas potências dos grupos locais e ajudar no desenvolvimento das artes cênicas proporcionando experiências desse tipo. O Palco Giratório é um espaço de formação e de oportunidade para os artistas locais e de todo o Brasil.

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A proposta do intercâmbio era, compartilharmos um pouco da nossa história com o Balé Popular de Recife e vice e versa. Depois os levamos para conhecer nosso espaço e nossa Vazantinha, atravessamos o rio Igaraçu de canoa para chegar a minha casa. Dona Aparecida, minha mãe, preparou o almoço e com muita satisfação recebeu os artistas que levamos em sua casa. Valorizamos muito as práticas afetivas. Gostamos e praticamos sempre que possíveis experiências como essas.

Além de tanta colaboração, recebemos dos diretores e coreógrafo do grupo alguns feedbacks e mensagens de incentivos como as que trago aqui:

“Eu achei muito importante ter assistido a esse espetáculo. Fiquei muito emocionada em diversos momentos, porque tem muita coisa relacionada ao nosso trabalho. A gente sabe das dificuldades, porque nós também já passamos. Mas a gente sabe também que vocês estão com toda garra, estão querendo vencer e o amor com que vocês fazem o espetáculo é muito importante. Belíssimo, lindo, adorei, fantástico.” (Ângela Fischer) (Diretora Artística – Balé Popular do Recife)

“Muita garra, muita energia, bem ensaiado, coreografias marcantes. Estão de parabéns os meninos em cena, muita sensualidade. Continuem assim vibrando, lutando pela cultura, acreditando. Isso é um trabalho de amor que vocês fazem, dedicação. O resultado é esse, uma coisa maravilhosa, vibrante que a gente viu hoje aqui. Muita garra, mulheres brasileiras, energia, a força, a coragem e a disposição estão presentes em seu espetáculo. É importante ressaltar a amizade que surgiu entre os grupos, são coisas espirituais que vão além da compreensão humana. É uma comunhão entre os povos e isso só tem a ganhar é o planeta que fica mais bonito, mais colorido, mais festivo. Que continue essa amizade pra sempre. Teremos a oportunidade de recepcioná-los em breve em Recife. Esperamos vocês de braços abertos em minha casa.” (André Madureira – Diretor Artístico e coreógrafo do Balé de Recife)

Quando soubemos que daqui o grupo seguiria para FortalezaCE, tratamos logo de nos organizar para ir ao encontro deles, já que fica tão próximo de Parnaíba-PI.

Nossa intenção era participar da oficina de danças populares que seria realizada e mais uma vez podermos assistir o espetáculo do grupo. Chegamos ao local da apresentação na hora da passagem de palco, então Angélica pergunta se eu, Fabiana, Fernanda, Taty e Ielane topavam em participar da última coreografia do espetáculo.

Ficamos lisonjeadas pela oportunidade e ainda poder vivenciar a vibração dos bastidores e dançar juntos cada música, cada coreografia. Isso foi para nós, um grande presente. Não estávamos acreditando.

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Festival de Dança de Joinville – SC

Em maio de 2015, saiu o resultado de mais uma seleção. "Maculelê" foi uma das cinco coreografias selecionadas dentre mais de quarenta para a Mostra Competitiva do maior festival de dança do mundo em julho de 2015, o Festival de Dança de Joinville – SC, compondo o único grupo do Nordeste na categoria de danças populares sênior e a primeira vez que um grupo parnaibano ficou selecionado para tal festival.

Foi uma emoção indescritível e um orgulho imenso, se apresentar em um dos palcos mais cobiçados do mundo da dança. Foi uma sensação de extrema alegria, realização e nos deu a certeza de que sonhos se tornam realidade com muita dedicação e força de vontade.

Tínhamos dois meses para conseguirmos as passagens, estadia e alimentação para cerca de dez pessoas. Decidir se íamos para Indaiatuba e Joinville, ou apenas um dos dois. Um turbilhão de sentimentos nos embalou nesses meses. A correria para conseguirmos algum patrocínio, campanhas, bingos, rifas, produção de canetas bonecas de EVA foram feitas a todo vapor, onde os integrantes saíam no centro da cidade vendendo, surgiram nesse meio tempo algumas apresentações, onde todos os cachês foram totalmente utilizados para a viagem.

Mobilizamos a cidade com campanhas em Tvs, rádios, internet e jornais. Passamos também o “Caderno de Ouro”, tudo em prol da viagem. Os dias iam passando numa velocidade, que não sabíamos se seria possível o que havíamos projetado. Tínhamos que decidir o que garantíamos primeiro.

Nessa época, Geisa Pinheiro, artista da dança e mãe da bailarina clássica Anne Julieth, ao saber da nossa seleção, entra em contato e se pôs a nossa disposição para esclarecer as etapas do Festival. Várias pessoas foram surgindo, nos auxiliando a seguirmos. Produzimos um figurino novo com saias de linha do tucum22 feitas com a ajuda do senhor Laurindo (in memorium), marido de Dona Serrate Maria, artesã da Associação “Trançados da Ilha”, que também é Patrimônio Vivo.

A senhora Suzana Silva, filha do ex-governador Alberto Silva, quando soube da nossa aventura, abriu as portas de sua casa para realizarmos um arraial em prol da viagem e nos auxiliou com roupas de frio também. Contamos também com a parceria de alguns grupos locais como: o Coletivo Cabaça, Grupo Chama Viva, Grupo Mandacaru, Shekinah Dance.

Houve uma ampla mobilização. Os programas Teófilo Piauizando e a TV Delta, nos auxiliaram com uma campanha para angariar recursos para nossa viagem.

Através do facebook conhecemos Rosana Barros e Boanerges da empresa Dança Maria de São Paulo, que ao ver nossa campanha, entrou em contato para mandar alguns produtos de sua marca, onde poderíamos vender para subsidiar a viagem. Eles se sensibilizaram com a nossa causa, pois suas filhas dançam também e sabem muito bem das dificuldades e gostariam de nos ajudar. Conseguimos vender tudo e investimos nos alojamentos para todos.

Não foi nada fácil, houve os momentos de várias portas fechadas ao irmos pedir apoio, os comentários inapropriados, tais como: e vocês não foram aprovados no projeto da prefeitura? Sim, fomos, mas

22 Tucum (Bactris setosa), tucunzeiro, é uma palmeira que cresce formando touceiras densas. Atinge de 10 a 12 metros de altura. Das folhas, faz-se uma fibra muito forte e útil. As sementes fornecem um óleo alimentício. Seu palmito é usado em diversas culinárias.

o projeto é para os espetáculos de dança e não para viajar e outra, até o presente momento nunca foi repassado; Vocês têm certeza que querem viajar? Ir pro Sul? Vão virar picolé. Não podemos ajudá-los de forma alguma.

E assim no início do mês de julho de 2015 seguimos para Campinas – Indaiatuba – SP. Ficamos no primeiro alojamento, uma escola próxima ao CIAEI. Todo o nosso grupo ficou só em uma sala de aula. Levamos nossos colchonetes, que seriam nossas camas por algumas semanas. Aos poucos íamos nos acostumando e também descobrindo algumas sensações um pouco estranhas do lugar, talvez levemente assombrado.

Tudo era novidade, prazeroso, estávamos com diversos outros bailarinos de outros estados do país, íamos criando novas amizades, descobrindo suas histórias, seus percursos, seus trabalhos.

No dia do credenciamento, fomos dar aquele abraço na tia Rosana da Dança Maria e agradecer pessoalmente o patrocínio que havíamos recebido. Parecia que já nos conhecíamos há anos. E selamos daquele dia em diante um carinho, amizade e respeito. Ficamos em terceiro lugar e levamos o último troféu Passo de Arte.

Antes de chegarmos a Joinville, ainda em Indaiatuba, a equipe da Atlântida FM, filiada da RBSTV de Joinville entrou em contato conosco, pois havíamos sido indicados como um dos grupos que estaria no festival pela primeira vez. A equipe queria saber se aceitávamos participar da Ação “Adote um Grupo” onde iríamos conhecer os bastidores da TV e Rádio, do Zoo Botânico, da Arena Joinville, da UNISOCIEC (Universidade Sociedade Educacional de Santa Catarina). A nossa resposta foi afirmativa, seria uma bela tarde de lazer para o Raízes.

Seguindo viagem de São Paulo para Santa Catarina, chegamos na madrugada e tivemos que esperar no aeroporto até o dia amanhecer para passarmos uma diária no Hotel Bavarium para aliviar os dias dormidos no chão e nos prepararmos para outros dez dias dormindo em outro alojamento.

Em Joinville, o grupo teve uma gama de apresentações em vários espaços tais como: Mostra Competitiva, apresentações nos Palcos Abertos na Feira da Sapatilha, nos Shoppings Muller e Cidade das Flores, Praça Nereu Ramos. Conheceu os bastidores da escola de Teatro Bolshoi no Brasil. Além de cumprir a agenda de apresentações, o grupo participou de oficinas de iluminação e de danças populares com Deca Madureira. E tiveram a oportunidade de conhecerem o parque Beto Carrero World.

Nos anos seguintes, a coordenação do grupo participou de oficinas no festival com: Itaércio Rocha, Eleonora Gabriel, Gilmar Sampaio, Jessé Cruz entre tantos outros.

Em 2015, participamos pela última vez do Festdança em Teresina, onde obtivemos dois segundos lugares com o trio e conjunto em danças populares, além de participar de oficinas de jazz lírico com Edson Santos e balé clássico com Toshie Kobayshi "in memorium".

Atualmente, participar de festivais de competição, não é mais o foco do grupo. Mas deixamos claro que, as experiências vividas nos festivais de dança, das competições, das participações em oficinas, dos encontros com os outros pares, das amizades construídas nos serviram de aprendizado e que através das contribuições a partir das avaliações dos diversos jurados, o Raízes procurava sanar as dificuldades em cena. O lugar da pesquisa, da criação, da formação e do trabalho ganhou mais espaço.

Exemplo de Inovação e Criatividade da Educação Básica

No final de 2015, recebemos o reconhecimento do Ministério da Educação-MEC, que mapeou e selecionou práticas Educativas inovadoras na Educação no país.

Uma das pesquisadoras engajadas nessa ação foi a professora doutora Shara Jane Costa Adad, que orientou o Raízes do Nordeste a participar da seleção pública, pela já conhecida pesquisa de mestrado realizada pela pesquisadora Maria do Livramento da Silva Machado.

E o Grupo Cultural Raízes do Nordeste foi reconhecido como Exemplo de Inovação e Criatividade na Educação Básica, representando o Estado do Piauí dentro do mapa criado para reconhecer as instituições. Para tanto, foram inscritos as experiências vividas no âmbito escolar, desde que éramos alunos da escola pública Cândido Oliveira e que se projetaram no campo profissional.

Para que as ações do Raízes pudessem ser reconhecidas como exemplo de Práticas Educativas Inovadoras na Educação Básica, passaram por uma avaliação criteriosa fazendo parte de uma lista de 138 instituições que já trilham um longo caminho com práticas inovadoras, Raízes do Nordeste contribuindo assim na garantia da qualidade à educação oferecida.

E em abril de 2016 o Grupo Raízes do Nordeste saiu na lista dos 122 NOVOS PONTOS DE CULTURA DO ESTADO DO PIAUÍ pelo projeto Rede Cultura Viva do extinto Ministério da Cultura. Mais um reconhecimento do trabalho realizado.

E do Universo do Boi Nasce Berra Boi

Voltando a saga dos projetos que foram aprovados no edital R. Petit, de Incentivo à cultura, lançado pela Superintendência de Cultura de Parnaíba, passamos o ano de 2015 esperando pelo pagamento do valor anunciado no edital, mas não foi pago.

Lamentamos muito, pois esse recurso teria nos ajudado a investir na criação e produção do novo espetáculo – Berra Boi. Decidimos no início de 2016, que iríamos executar o projeto com os materiais que tínhamos, e fomos a luta como sempre.

Recebemos um convite do Sesc de produzirmos para compor a programação do projeto Cenas Contemporâneas, previsto para novembro de 2016. Foram dez meses de produção, pesquisa, ensaios. Benjamim Santos dirigiu o espetáculo a distância, através dos vídeos que gravávamos do processo de montagem coreográfica e dessa forma nos direcionando.

Benjamim Santos escreveu a dramaturgia do espetáculo "Berra Boi" trazendo a estética do Bumba Meu Boi que existe na cidade de Parnaíba. O nosso desafio foi fazer a leitura com o corpo tra-

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zendo a dimensão contemporânea e a dimensão da tradição para o palco. Jogamos cenicamente com as nossas próprias referências culturais acumuladas ao longo dos anos.

A primeira parte do espetáculo é inspirada coreograficamente na infância que tivemos na Ilha do Urubu e da relação que tivemos com o animal boi, pois meu pai era vaqueiro e cuidava da fazendo do patrão e ali, aprendemos a olhar e conhecer um pouco a natureza desse animal.

Já a segunda parte de Berra Boi trata especificamente da estética do Bumba meu Boi, que é característica do universo cultural da cidade de Parnaíba, principalmente da Ilha Grande de Santa Isabel, pois, compondo o território da Ilha e colado à Vazantinha, fica a comunidade Fazendinha conhecida assim, pela presença das fazendas de gado que existiam lá no passado. O documentário “Bois de minha terra” de Joaquim Lopes Saraiva também contribuiu no processo de pesquisa.

Dessa forte presença e influência da manifestação cultural local, procuramos os mestres responsáveis pelo Boi Novo Fazendinha, que também é Patrimônio Vivo da Ilha. Senhor Acrísio, Aline e demais componentes colaboraram junto ao Raízes no processo de criação do espetáculo.

Nossas conversas e vivências serviram de laboratório, pois mesmo convivendo nas mesmas proximidades como moradores da Ilha, precisávamos sentir de perto as batidas, os ritmos, o brilho dos adereços com toda a riqueza cênica que traz o boi de Parnaíba. Nossos elementos cênicos e trilha sonora foram produzidos por eles.

Somos muito gratos da parceria com o senhor Benjamim Santos e com o Boi Novo Fazendinha da Ilha Grande de Santa Isabel.

No dia 22 de novembro de 2016, o espetáculo "Berra Boi" estreou, com roteiro e direção artística de Benjamim Santos, direção coreográfica de Fabiana Reis, coordenação geral de Rosiane Theóphilo, iluminação de José Maria Silvestre, dentro do projeto Cenas Contemporâneas. O espetáculo foi apresentado no teatro do Sesc Avenida em Parnaíba – PI. Sendo noticiado nos principais jornais como:

O Piaguí Culturalísta, O Bembém, Jornal Meio Norte e redes sociais.

O espetáculo pôde compor uma vasta programação do Sesc, como: Trisca – Festival de Arte para Criança; I Mostra Sesc Tremembé de Música; Março de Artes Cênicas 2017/2018; Projeto Abril Dançando 2017/2018; Intercâmbio Palco Giratório 2017 com Denise Stutz; mostra presencial XV Encontro Nacional de Programação em Artes Cênicas 2017/2018; Intercâmbio Palco Giratório 2018 com a Cia dos Pés; Festival Internacional de Dança de Araraquara - SP 2018; Projeto Tríade Cênica – 2018 e Projeto Vamos ao Teatro -2018.

O espetáculo "Berra Boi" foi um dos 250 trabalhos habilitados na segunda fase do Prêmio Funarte Arte e Educação 2018 e habilitado para o Prêmio de Culturas Populares 2018, Região Nordeste, edição Selma do Coco do Ministério da Cultura.

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Aplausos para Ressignificação!

Por Ryck Costa

Não sou crítico, por isso minha escrita não é uma análise, apenas um depoimento. 22 de novembro de 2016! Uma tatuagem gravada na história cultural de Parnaíba! Vi meninas da periferia ressignificarem suas vidas e um território; cravarem para sempre sua marca de mulheres. Na noite de ontem fui ao teatro esperando ver lindas maquiagens, figurinos coloridos e customizados, uma pesquisa musical já conhecida e muita alegria no palco, porém nunca me senti tão feliz e arrepiado em ser frustrado do meu (pré) conceito. Elas estavam de cara limpa, sem adornos, as cores gritavam simplicidade e identidade, eu profundo curioso da arte do corpo, presenciei vários corpos ressignificados. Vi dormir de vez o PFTM (antigo nome) e ganhar maturidade e expandir o novo Raízes do Nordeste.

Um espetáculo que com a musicalidade do primitivo e ancestral do boi Novo Fazendinha, a evocação do melhor do balé popular dos brincantes de litoral do Piauí e uma arte contada por homens, na sua maioria, ontem foi destaque pela força feminina.

Gênero é uma questão a parte, poderia escrever livros sobre esse assunto nessa obra. 03 garotos, 03 homens, 03 corpos, 03 feras, 03 entidades cênicas se apresentaram. Natan, o nego, mais preto, encarnação zumbi, leveza indígena e malemolência Tupy proporcionou um encanto único. Patrick, ainda desconhecido para mim, novo, recente, mas com a força de um guerreiro e a masculinidade transbordante necessária. Sua dança cheia de referências remeteu-me aos consagrados congos de Oeiras e suas danças africanas. Meu suspiro finda após falar em Robson, antes apenas e isso não é pouco um quadrilheiro branco no meio das negras indígenas da Vazantinha, hoje um corpo ressignificado, muito mais que um par de pernas (como ele mesmo define), uma doação de se fazer presente, dá o recado e ainda abre espaço para seus parceiros de palco. A Catirina plural, a Catirina branca de sangre negro, a Catirina bela, a Catirina vibrante da chita e da alma. Meninos obrigado por tamanha inspiração.

Meu escrito agora foca na utópica Fabiana Reis, a coreógrafa. Um dia a chamaram de utópica, pessoas que sonharam e não realizaram. Aí lembrei de outros que levaram esse título, como: Santos Dummond, e a invenção do avião,

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Grahbell, e a invenção do telefone, Leonardo da Vinci e a sua Monalisa. Nêga, obrigado por sua utopia, obrigado por me deixar ser testemunha disso tudo. Esse trabalho consagra a obra mais original, inédita e utópica que já vi em Parnaíba sobre a nossa cultura popular. Poderia arriscar um neologismo em dito popular "Parnaíba não sendo Parnaíba, mas falando de Parnaíba"... A terra do ´"já teve" hoje pode dizer que tem. Tem Raízes do Nordeste. Vi história, cultura, política, gênero, fisiologia, vi a história da dança em Parnaíba do extinto Balé de Parnaíba à maioridade com vocês, vi você em cena. Vi o corpo. Alguém já sentiu vergonha alheia? Pois bem, já senti várias vezes. Alguém já sentiu orgulho e vaidade alheia, pois bem, ontem senti demais. Não sei se é prepotência me sentir orgulhoso e achar que dei minha contribuição para esse momento. Alguns anos atrás conheci um grupo de garotas, com fortes referências no Calypso paraense buscarem suas raízes sempre apresentando com maior destaque suas referências. Buscarem conhecimento e apoio nos mais diversos cantos, trocamos juntos, até uma brincadeira de direção artística já ensaiamos, mas isso não significa muito, isso é pouco. Minha maior contribuição foi assistir, pois não há espetáculo sem público, estar nessa condição me deixa orgulhoso, já posso fazer a camiseta EU ESTIVE LÁ.

Para Benjamim Santos meu sincero e carinhoso afeto por mais essa parcela de contribuição para revitalização da cultura popular genuinamente parnaibana. Não sou digno de escrever sobre essa lenda após Djalma Thuller, Francisco Nascimento, Ana Maria Machado o terem feito. Posso apenas registrar meus sinceros agradecimentos.

Guerreiras negras da tribo indígena Vazantinha ladeadas por seus cavaleiros afros e europeus, meus sinceros parabéns! Minhas palavras não são gratuitas e nem efêmeras. Nunca escrevi nada por ninguém e por espetáculo algum, mas me senti provocado com esse BERRO, mesmo assumindo que toda estreia é um parto e que essa criança ainda precisa de algumas orientações, calos e aperfeiçoamentos que COM CERTEZA o tempo trará. Agradeço por esse registro histórico de ressignificação das artes cênicas em Parnaíba, com traços de dança-teatro, dança popular, contemporâneo e moderno que pudemos apreciar na noite de ontem. E agora que venham mais prêmios, patrocínios, aplausos, choros e palcos. Estarei lá, na última poltrona, sendo testemunha desse alvoroço, desse grito, desse BERRO. ÊHH BOI.. VAI VAQUEIRO E VAQUEIRAS..VAIIII.. BERRRAAAAAAAAAAA BOI.

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Em 2017, o Raízes com o espetáculo Berra Boi foi uma das quatro companhias do Piauí (Involuntários da Pátria, grupo Metáfora, Luzia, de Cia Luzia Amélia e Exercícios sobre Medeia, Coletivo Piauhy Estúdio das Artes), indicados para a mostra presencial realizada no teatro do Sesc Avenida, no XV Encontro Nacional de Programação em Artes Cênicas.

O evento foi realizado no Sesc Praia em Luís Correia/PI reunindo técnicos e curadores representantes do Sesc do Brasil inteiro, para analisar e selecionar espetáculos para compor a programação do Projeto Palco Giratório de 2018.

Foi uma honra e orgulho imenso termos sido indicados. Foram meses de preparação, ansiedade, adrenalina. Diante de todas as apresentações feitas pelo país, seria no nosso querido palco do Teatro Antônio Oliveira do Sesc Avenida onde iríamos fazer uma das apresentações mais importantes para o grupo. Contudo, mesmo tendo sido uma das melhores apresentações de Berra Boi não foi possível entrar no circuito.

Em 2017 também intercambiamos com a querida Denise Stutz, uma referência na dança contemporânea e que nos inspirou orientando para os projetos futuros. Convidamos Denise para um almoço em nossa casa onde a recebemos com todo afeto nesses encontros que só nos fortalecem.

Minha última cidade na circulação do projeto Palco Giratório do SESC foi Parnaíba no litoral do Piauí.

Ali eu encontrei o grupo Raízes do Nordeste. Foi um encontro lindo e emocionante. Assistir a dança deles, conhecer um pouco o processo e mesmo a vida do grupo me fez pensar no tamanho do desejo de dança no Brasil e o jeito diferente de pensar e produzir dança.

Viajando pelo Brasil percebi que as histórias dos grupos se misturam com os lugares e com a vida de quem dança. São outras realidades e necessidades de se mover. O grupo Raízes do Nordeste faz parte desse desejo de dança, faz parte de uma realidade que torna o movimento maior do que uma simples apresentação. Dança se torna possibilidade de vida, possibilidade de afirmar a vida e de encontros possíveis.

Obrigada Raízes do Nordeste pela alegria, pela comida, pela dança, pela boneca que agora fica em cima da minha cama me lembrando dos dias que passei em Parnaíba e por abrir esse espaço nesse outro lugar que agora também se mistura com a minha vida.

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é Píauí, é Fabiana Reis!

Em dezembro de 2017, a equipe da Geleia Total, Noé Filho e Alisson Carvalho, entraram em contato com Fabiana Reis, explicaram sobre o projeto e perguntaram se ela aceitava ser homenageada. Com um misto de alegria e surpresa ela disse sim.

A Geleia Total é um projeto que tem como missão a valorização da arte e cultura do Piauí, um espaço de diálogo artístico que, desde 2014, atua no sentido de divulgar ações artísticas produzidas no Piauí. Semanalmente, um artista é homenageado nas redes sociais. E assim por meio de uma atenciosa entrevista feita por Alisson Carvalho, culminou durante uma semana em relatos diários sobre sua trajetória. Do dia 14 a 20 de janeiro de 2018, Geleia total é Piauí, é Fabiana Reis!!!

A entrevista completa encontra-se no QR Code ao lado.

Celebração. Sonhos Realizados!

Em 2018, o Raízes do Nordeste, é contemplado com uma residência artística no projeto Abril Dançando do Sesc, no qual pudemos nos aproximar da querida Gilsamara Moura, fundadora do Grupo Gestus e da Escola Municipal de Dança Iracema Nogueira de Araraquara-SP, artista da dança, curadora, docente, dentre tantas atividades de seu vasto currículo se tornaria mais uma de nossas madrinhas especiais.

Recebemos o primeiro abraço após a apresentação do espetáculo "Berra boi". Nesse encontro, ela nos fez sentir que nossos caminhos já estavam traçados. Aos poucos fomos nutrindo a confiança e o amor necessário para entrelaçarmos nossas vidas, percebemos as coincidências de nossos passados separados apenas por territórios e tempos distintos, mas que em sua essência possuíam as mesmas vivências.

Foi um prazer imenso recebê-la juntamente com Douglas Emílio, que na época ainda era seu orientando de mestrado em nossa terra hospitaleira: Vazantinha. Nas conversas que tivemos durante o almoço nos conectamos para sempre.

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O querer estar perto e conversar foram intensos e nos fez na despedida dizer apenas um até breve, pois nos reaproximamos depois no projeto Retocar do Sesc de 2018 quando apresentamos como atividade proposta o levantamento de todas as publicações em sites, jornais, revistas, folders, coleta de depoimentos para viabilizarmos uma publicação que reside no presente livro.

Tínhamos também o interesse de produzir o espetáculo Retrô Raízes 15 anos, no qual pudemos contar com a assessoria artística de Gilsamara Moura.

Foi uma semana inesquecível e de muita produção. Marcada de grandes emoções, sonhos, ensaios e aperfeiçoamentos. Brincamos e brindamos o dom da vida e a resistência nossa de cada dia. Mais uma despedida difícil embalada por um até logo. Na ocasião, ela nos convidou para compormos a programação do Festival Internacional de Dança de Araraquara – SP. Este foi o primeiro convite para esse Festival e será impossível esquecer, pois nos encheu de felicidade e novos desafios.

No final de julho de 2018, estreamos no Projeto Tríade Cênica, o espetáculo Retrô Raízes, que registra as principais coreografias ao longo dos quinze anos de atuação. Ex-integrantes foram convidados para compor o elenco. Os textos a seguir foram criados para e a partir da estreia.

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Fonte:Arquivo pessoal do grupo

Raízes

De que são feitas as nossas raízes? Senão de labuta, suor e cicatrizes?

Do fundo de um quintal, aos palcos de todos os cantos Brilhando a cada festival, tocando o coração de tantos Desviando do mal olhar e do preconceito Num constante batalhar por mais respeito

De quatro sonhadoras nasceu o projeto Enfrentando espinhos durante o trajeto

Mas hoje são muitos a mergulhar, mostrando talentos

Ao som de mil aplausos a motivar, coroando momentos

Na bela e eterna missão, da arte valorizar

A história, a cultura, a tradição, a ensaiar Da natureza, do índio, do negro, do folclore da região Da Água ao Berra Boi, uma odisseia a cada apresentação

Dando suporte para uma criança sorrir É o nosso norte, nosso jeito de agir E dessa forma seguiremos... Relembrando Do tempo que ainda éramos: Nordestinando

Sem esquecermos, em nenhum momento, mesmo os de dor. Aquela que é a maior de nossas bases, a que nos integra: o amor!

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“Mais uma vez fui nocauteado pela emoção de ver um grupo que há alguns anos era desacreditado, se consolidar como campeão na arte e na vida. Vejam as voltas que o mundo dá! Hoje o Raízes do Nordeste transformou-se numa frondosa árvore carregada de frutos maravilhosos: talento, emoção, humildade e superação.

Como é bom ver antigos críticos se transformarem em fãs. A arte tem mesmo esse poder de desarmar e transformar pessoas. Transformar um quintal em palcos onde vocês brilham como verdadeiras estrelas.

Continuem assim, Raízes: transformando a indiferença em aplausos; o descrédito em reconhecimento; a inveja em admiração, mas, sobretudo, transformando a dor em sorriso, transformando um homem em um menino que, tomado pelas lágrimas de emoção, vivenciou momentos indescritíveis durante a apresentação da Retrô Raízes. Que venham novos palcos e novos desafios! As Raízes estão fincadas e, tenho certeza, a colheita vai ser maior ainda.

Que Deus vos abençoe, RAÍZES DO NORDESTE DO BRASIL!”

Dos meus poros ao Raízes...

Olhei em primazia o esvoaçar das saias dos vaqueiros, mal sabia eu que até ali havia folhas envolvidas em tudo. Talvez a definição mais clara ao emaranhado de pessoas que compõe esse coletivo seja “amor”, sempre ficou muito evidente a relação sincera nos olhares, sorrisos, e principalmente no suor que caia no palco a cada movimento, que transpassava uma coreografia, e desembocava como se fosse o rio que passa ao lado da história de vocês, pois se findava em nossos olhos sedentos do próximo ato.

Carregar no corpo o legado de uma vida complexa, que vos ensinou a cada desafio, a olhar a Arte como alternativa de ultrapassar as próprias ansiedades que discutiam internamente a cada momento, se no final daria certo.

Ser Raízes é ser gente, gente que acredita na transformação sincera, na vitória pelo esforço, e principalmente no retorno para casa, pois é lá que as inspirações começam em sua mais bela primazia. Em quinze anos de história, é perceptível que se tornaram impenetráveis aos olhos ruins do pré-conceito.

Não tenho dúvidas que vocês atravessaram a ponte, atravessaram a própria cidade que insistia em dizer não, que chegaram, ou melhor, que chegam diariamente onde queriam, pois os territórios são ínfimos diante dos vossos sonhos.

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Talvez as Fabianas, Tatianas, Alines, Roses, juntamente com todos aqueles que apostam no povir, sejam os personagens de um filme que narra a história de uma comunidade guerreira, que sente orgulho de seus filhos vencedores de guerras sociais.

Lembro-me do meu olhar técnico, reportando aspectos infindáveis de uma critica externa ao que realmente importava a todos vocês, sem dúvida, cometi um erro, pois ali a dança era pele, e não teoria. Ainda é cedo para prever os finais que irão compor as novas páginas da vida e arte de cada um de vós, sendo que, não me resta nenhuma dúvida, que iremos ser surpreendidos muitas vezes pela força de vossos trabalhos, de dias de ensaio, de falas tímidas, que dizem mais que teses, de olhos lacrimejados pelo saber da vitória de seu próprio esforço, e de lutar contra o cansaço do desânimo que assola o covarde diante das dificuldades.

Não tenho a pretensão de contemplar neste devaneio textual a complexidade nomeada finalissimamente de “Raízes”, nem tão pouco expressar todos os impulsos que me arremetem ao vê-las dançando, pois não saberia quantificar o meu sensorial diante da grandeza de vossos movimentos. Estou tranquilo ao lembrar-me de uma fala que remeti ao grupo como “Raízes do Brasil”, pois nas linhas anteriores, em nenhum momento utilizei o segundo termo do grupo, “Nordeste”, sendo propositalmente tal omissão, pois entendo que o Raízes nunca será do Nordeste, da Ilha, da Vazantinha, da Parnaíba, do Piauí, ou de qualquer território que limite o brilhar dos olhos de cada um de vocês, pois o Raízes é dos poros de todos nós.

João Carlos Araújo de Sousa – Julho -2018

Raízes e Nordeste são duas palavras fascinantes. Parece vibrar nesse agora com tal intensidade que chega a incomodar. De onde vêm essas Raízes? De que lugar e corpo estão acostumados a nos olhar e refletir de onde se vem?

Manter o discernimento no agora, ter a capacidade de reconhecer o que se faz sentindo, o que fortalece e o que ajuda a ganhar espaço no meio de tão pouco espaço. Durante 16 anos o que se foi necessário para seguir em movimento?

Não paralisar ou engasgar, diante do que se consumiram as forças. Arriscar e expor. Distinguir o que não se pode abrir mão, sobre o que é indestrutível e implacável, em 16 anos de existência, para seguir em locomoção. Deixar a criatividade impaciente acrescentar algo que se faz em um mundo que não fizeram, foi deixar que as escolhas da vida seguissem a pulsação de cada um. Devorar e mover aquilo que por algum momento paralisou, é neutralizar e renovar as esperanças. Desejo que o Raízes do Nordeste permita-se atravessar pelos afetos por muitos anos; o passado pode ser uma inspiração, pode ser um lugar de aprendizado, inspire, e deixem-se inspirar todos os dias dentro da luta da vida.

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Continuem sendo essas raízes fortes de começos, elos, temas, ligações, fundamentos e princípios. Vida longa a arte e sentidos do Raízes do Nordeste. Quase morro de chorar, olha o que vocês conseguem fazer comigo. Muito obrigada por tudo!!! A dança de vocês acaba emocionando a minha vida.

23 Laura Maria Damasceno Nogueira: Analista em Dança e Produtora Cultural junto ao Serviço Social do Comércio - Sesc, atuando na coordenação dos cursos de Dança Clássica e Dança Popular. Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Piauí - UFPI (2008 - 2012) - Campus Parnaíba. Especialista em Arte e Educação pela Faculdade Internacional do Delta - FID (2012 - 2014). Formação técnica em Ballet Clássico pelo Serviço Social do Comércio - Sesc (2008 - 2019). Professora de Ballet Clássico, produtora de Projetos Culturais de Dança. Atua nas artes visuais como ilustradora botânica e colorista em desenhos preto e branco.

O Retrô Raízes para debutarmos

O tão esperado 15 de agosto de 2018 tornou-se real e o sonho de debutarmos concretizou-se. Debutar? Sim, conseguimos realizar uma festa em comemoração aos quinze anos de trajetória do grupo onde reunimos nossos familiares e amigos próximos.

Uma noite memorável e para sempre em nossas melhores reminiscências. Foi no Sesc Beira Rio, tendo o cerimonial apresentado por Carol Porto, decoração de S.A. Produções, Sérgio Andrade e DJ Mix.

Quem diria que aquele grupo de fundo de quintal tatuado dessa forma na sua primeira tentativa de realizar seus sonhos, chegaria a comemorar e renovar seu amor pela dança por quinze anos completos de dedicação a essa arte, que tem o poder de transformar a vida das pessoas ao seu redor?

Conhecê-los em meados de 2008 transformou a minha vida. Os conheci na transição de PFTM para Raízes do Nordeste, lembro-me muito bem quando Cristiane Santos, minha ex-coordenadora da escola Cândido Oliveira, falou, Rosy o PFTM venceu o Circuito Cultural Jovem. Sorri, disse parabéns e a perguntei e o que é PFTM? É o grupo das meninas aqui da escola, tempos depois vi a primeira apresentação do espetáculo Água também na escola, mal sabia que meu destino já estava traçado ao deles.

Tive a oportunidade de conhecer a sua história de perto, acompanhar ensaios, via o compromisso daqueles jovens de estarem todos os dias juntos e criarem da sua maneira a arte que era fonte de energia para eles, o estímulo para superarem as adversidades ao seu redor.

Senti a necessidade de poder ajudá-los de alguma forma e assim fui me aproximando, virei a Tia Rosy. Passa um filme ao tentar descrever em palavras todas as emoções e descobertas que a família Raízes me proporcionou ao longo de dez anos.

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Ter sua moto virando uma Hilux para transportar o material necessário para uma apresentação, perder as contas de quantas vezes atravessou a ponte Simplício Dias em um mesmo dia, para que no final tudo desse certo. Os inúmeros cds e dvds gravados, as noites acordada planejando e enviando material do grupo para concorrer a algum projeto, o nervosismo minutos antes das apresentações que perdurava até o último toque e passo de cada coreografia, o frio na barriga ao dançar com eles pela primeira vez, superando um trauma de infância justamente relacionado à dança.

Descobrir particularidades de cada um que já passou pelo grupo, torcendo sempre para que sigam no caminho do bem, sentir a perda daqueles que tiveram que se afastar do nosso convívio; ter a honra de representá-los em meio ao Theatro Municipal do Rio de Janeiro recebendo o Prêmio Anu Dourado do Estado do Piauí; gritar, coração acelerar e pular de felicidade ao ver o nome do Grupo Raízes do Nordeste selecionado para diversos festivais e premiações, registrar a primeira participação de um grupo parnaibano na mostra competitiva do maior festival de dança do mundo, o de Joinville e superar todas as barreiras que tivemos para as viagens e realizar sonhos foi magnífico.

Gratidão ao fomento cultural que o Sesc Piauí sempre proporciona aos artistas através de seus projetos.

A cada pessoa que um dia fez parte, aos raizeiros que aceitaram o desafio, o nosso muitíssimo obrigado.

"É do chão batido que nascem as raízes mais fortes e é do amor que envolve a nossa dança que faz toda a diferença."

Trechos do depoimento do baile de 15 anos - Tia Rosy Theóphilo

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Fonte:Arquivo pessoal do grupo

Festival Internacional de Dança De Araraquara – SP

Ao sermos convidados por Gilsamara Moura para participarmos do Festival Internacional de Dança de Araraquara-SP, que ocorreu de 15 a 23 de setembro de 2018, tivemos que selecionar um pequeno grupo para representar o Raízes no festival. Foi uma das tarefas mais difíceis. Tivemos que fazer isso para caber dentro da proposta e das condições financeiras do evento. Os selecionados foram: Claudio Victor, Diovanna Azevedo, Fabiana Reis, Fernanda Reis e Rosiane Theóphilo.

Representamos o eixo fora Rio - São Paulo. Na oportunidade ministramos também uma oficina na Escola Municipal de Dança Iracema Nogueira, de Araraquara-SP. Esta escola foi criada por Gilsamara Moura, e é uma referência artística e patrimônio da região. Lá conhecemos as salas de aula, o acervo de figurinos e materiais cênicos, a dinâmica de funcionamento, a cada nova descoberta sonhávamos em termos tido a oportunidade de passar por um local de formação como este.

No Festival Internacional de Dança de Araraquara-SP e na Escola Municipal de Dança Iracema Nogueira, compartilhamos nossa história com centenas de alunos e queridos artistas que participaram junto conosco. Um festival que agrega e proporciona experiências únicas a população.

Tivemos acessos a oficinas e diversos trabalhos artísticos, intercambiando experiências e enchendo nossa bagagem de conhecimento com momentos únicos e marcantes confluindo com grupos e artistas renomados como: Cia Á Fleur de Peau – França, Denise Namura e Michael Bugdahn, Núcleo de dança contemporânea da Escola Municipal de Dança, Cia Ser o no Ser – Paraguai, Casixtranha – Araraquara-SP, Edu Ó e Lucas Valentim, Douglas Emílio, Cia Intermitente – Assunção – Paraguai, Gilsamara Moura e Denny Neves, Grupo Experimental de Pernambuco além dos oficineiros Lulu Pugliese, Marilza Oliveira, Kranya Díaz, Geórgia Palomino, Carlos Fonseca, Nicolas Fernandes, Cintía Sadoyama entre tantos outros.

Somos gratos à equipe do festival e sua receptividade. Hoje, ao lembrarmos de cada um, bate aquela saudade e o que vivemos vem numa velocidade que parece que estamos diante de todos nesse exato momento.

Geraldo Junior, o GG, que nos recebeu em sua casa Estúdio Aflora, ficamos encantados com o local e pelo cuidado conosco. Acordávamos e dormíamos embalados pela dança do estúdio. O sapateado mais uma vez nos chamou atenção e pudemos praticar os primeiros passos com ele.

Dias depois recebemos no mesmo estúdio o querido Jean Ferreira, artista da dança, das palavras, autor de “Coisas de Menino”, diretor de cultura de Candeias – BA e que se tornou nosso parceiro nas andanças do festival.

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Ele compartilhou conosco suas experiências, seu modo de ver e sentir a dança, a luta e a conquista de seu espaço com todo carinho e amor. Ao saber do início da nossa história foi logo dizendo que ela daria um livro sem dúvidas. E não é que está se tornando realidade? Obrigada Jean pelas dicas em relação a esse registro e por sua disponibilidade.

A expectativa para a nossa apresentação no Teatro Wallace estava a mil, nos preparamos para aquela noite memorável, às 20h 30min do dia 21 de setembro. O Teatro lotado, cada minuto foi mágico e ao acender das luzes fomos embalados pelos aplausos de todo o teatro. Observamos que muitas pessoas estavam emocionadas, foi impossível conter nossas lágrimas de gratidão também. Nosso berro tinha ecoado bem longe e ali deixaríamos registrado um pouco de todos os raizeiros e de nossa amada Parnaíba.

Denny Neves, mestre em dança pela UFBA, nos presenteou com sua fala pós "Berra Boi" e para findar passou seu chapéu pela plateia e conseguimos um cachê adicional, nunca nos esqueceremos desse ato, que era um desejo contido em nós.

Um mês após o festival, recebemos um e-mail, o requerimento da Câmara Municipal de Araraquara, através da vereadora Thainara Faria e o ofício do presidente da Câmara Jeferson Yashuda congratulando-nos por nossa participação no Festival de Araraquara-SP, e isso nos deixou felicíssimos.

Gilsamara Moura, que os anjos da beleza e da arte a conduzam sempre com esse amor à arte para que possa insistir e resistir sempre nos inspirando ainda mais. Obrigada por tudo, cada minuto passado ao nosso lado, orientando-nos, plantando sementes, nutrindo um amor para toda vida. Se tivéssemos que escolher uma foto de lembranças ao seu lado, ficaria com aquela última tarde que tivemos no projeto Retocar que ocorreu no Núcleo de Pesquisa em Artes Cênicas do Sesc Avenida, onde sentimos todas as bênçãos dos universo. Um grande abraço querida.

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Fonte:Arquivo pessoal do grupo

2019_ Ano de desacelerar um pouco mais

Os passos pela ponte, as remadas das canoas, a maratona de encontros e ensaios e a busca por um lugar que possamos chamar de nosso, nunca foi tão presente e se fez tão necessário como agora. É um grito constante em nossos corpos.

O Centro Cultural Raízes do Nordeste, com nossa tão sonhada sala de dança, nosso ateliê com todo material e máquinas de costura para Fernanda Reis e demais, darem asas à imaginação. Estimulamos os integrantes do grupo a produzirem os bordados, aplicações e adereços de seus figurinos e personagens, despertando o lado criativo de cada um. Contribuindo dessa forma, para que eles encontrem também na produção artesanal uma fonte de renda extra.

Atualmente temos a Artes e Mimos de Tatiana Reis com a produção de laços, bordados, roupas e sapatos de crochê. E a FR Artes de Fabiana Reis e Fernanda Reis onde produzem roupas, bolsas, chaveiros, colares.

São os sonhos que nos movem.

“Eu venho lá dos sertões onde a saudade se perdeu, daquela estrada empoeirada que doeu, feito uma flor que resistiu assim sou eu. Silêncio! para eu me lembrar de tanta coisa que eu sonhei, encontrar todas as folhas que eu juntei. Por essa estrada que me trás até a mim!“

Essa música de Flávia Wenceslau, interpretada por Maria Bethânia, foi uma das primeiras inspirações de trilha sonora para o trabalho desse ano. O espetáculo "Revoar".

Revoamos até as reminiscências de nossa infância e através de nossa arte, deixaremos tudo registrado para a posteridade, sobretudo para o nosso público: orgulho, carinho e amor que temos sobre nosso passado, nossas origens que se entremeia com a vivência de cada integrante, formando uma única história e um corpo entrelaçado quando assim foi dito quando vivenciamos a técnica do corpo rendado na pesquisa de mestrado da professora e produtora cultural Lili Machado.

Montamos o espetáculo "Revoar", com direção artística e coreográfica de Fabiana Reis; figurinos de Fernanda Reis; produção e coordenação de Rosiane Theóphilo; iluminação de José Maria e José Eduardo; elenco: Alyne Santos, Alyane Neves, Cláudio Victor, Clarice Silva, Diovanna

Azevedo, Debora Viana, Daiane Rodrigues, Fernanda Reis, Flávia Suzanny, Iara Gabriele, Luany Theóphilo, Tatiana Reis e estreamos no projeto Abril Dançando do Sesc de 2019.

Criar não é fácil. Coreografar é um dom que não se explica. Ideias, motivações, inspirações musicais, textos, um turbilhão de imagens. Sinto-me anestesiada no tempo que antecede uma nova criação, como um ritual. Sinto-me um ser mágico percorrendo caminhos de luz, às vezes sem um roteiro pré-estabelecido no meu mundo, no meu solo sagrado de composição.

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O segundo semestre de 2019 veio com o Projeto Retocar que nos trouxe a sensibilidade e o olhar atento de Victor Veríssimo22, pois nessa edição, o projeto viabilizou a participação para publicação que se afinasse à politica cultural do Sesc. Compartilhamos e abrimos o livro de nossa história para que ele pudesse desenvolver a concretização desse sonho da maneira mais sensível e especial possível.

Foram dias de vivências com Victor sobre o universo do Raízes para que ele pudesse cartografar e materializar o mapa de nossas experiências. E assim, ele nos referenciou da seguinte forma:

"Viver o Grupo de Dança Raízes do Nordeste durante três dias juntos, desconstruiu minha ideia do corpo como simples e plena existência, um CORPO é ENERGIA.

Vários corpos juntos são FORÇA EXPONENCIAL. Foram três dias de amor, que rememoraram 16 anos de dores, tristezas e conquistas sempre plurais e divididas. Conquistas construídas em cima de um chão empoeirado, mas fértil de saberes e sentires.

Nenhuma enchente derrubará um corpo constituído de identidade, a fé são nossas Raízes. Obrigada por me deixarem ouvir muito, por me ensinarem o que nenhuma aula de educação ao patrimônio me apontou: todo produto cultural é feito de resistência, de amor e interesse contínuo.”

24 Designer gráfico, graduado em arquitetura e urbanismo - UFPI, mestre profissional em Museologia, Artes e Patrimônio-UFPI.

Na conexão com outros pares

GUMBOOT DANCE BRASIL

No caminhar da vida nem sempre o caminho é fácil, mesmo em meio às pedras, Deus nos dará sapatos adequados.

Assim é nossa jornada nesse sertão cheio de dança, verde e terra farta, farta de arte, de rios, de lagos, de praias e ilhas. Caminhar no solo rachado e sentir a brisa gostosa do vento, vento esse que traz pessoas que nos fortalecem, que nos deixam fortes e com a certeza que estamos no caminho certo.

Gumboot Dance é um vento leve cheio de energia boa, corpo potente, resistente e insistente.

Vocês cruzaram o caminho do Raízes com a potência que existe em cada um e juntos atravessamos de canoa e andamos pela terra empoeirada da terra hospitaleira, nossa querida Vazantinha para sentir o

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sabor nosso de cada dia, nossa tapioca, nosso café e o famoso almoço de Dona Cida. Uma experiência intensa e cheia de amor vivida em setembro de 2019. Somos gratos a Deus por ter colocado vocês em nossas vidas ainda que num tempo muito curto, mas de forma muito intensa. Momentos como esses, só o projeto Palco Giratório do Sesc nos propicia em Parnaíba. Quando nos coloca em conexão com outros grupos para ir de encontro com a arte que produzimos, trazendo sua dança para o nosso lugar e nos levando para outro lugar que também é o nosso: a dança de raiz africana e periférica, essa que vimos no corpo do Grupo Gumboot Dance de São Paulo-SP através dos espetáculos Subterrâneo e Yebo.

Na oficina ministrada pelo diretor e coreógrafo do grupo, Rubens Oliveira, vivenciamos uma significativa interação partilhando espaços de confiança e de conhecimentos técnicos. Ela foi composta por exercícios rítmicos que surgem da leitura corporal e dos códigos construídos pelos mineiros que trabalhavam nas minas de ouro da África do Sul. Gumboot Dance, traz os elementos da brincadeira, do canto de trabalho e a sonoridade extraída do próprio corpo.

Esta ação do Palco Giratório, nos deu ainda o privilégio de contracenar com o Grupo Gumboot Dance Brasil, de São Paulo-SP, na última cena do espetáculo Yebo, no teatro do Sesc Avenida, em Parnaíba-PI. Tivemos essa participação especial em cena que para nós foi uma imensa emoção que extravasou nossos corpos.

O Projeto Retocar:

práticas formativas e ocupação de artes cênicas e a conexão com outros corpos e outras danças.

Após as fortes emoções que tivemos no Projeto Retocar: práticas formativas e ocupação de artes cênicas, em agosto de 2019, com o desenvolvimento de processo junto ao Víctor Veríssimo para organização desta publicação, iniciamos em setembro do mesmo ano a segunda proposta na qual fomos selecionados nesta edição do Projeto Retocar. Tal proposta consiste num desenvolvimento de processo tendo o sapateado como foco, pois sempre foi um desejo do Raízes trazer para o seu corpo o sapateado enquanto estética rítmica e sonora. Quando víamos em diversos festivais de dança que participamos fora do Piauí, este desejo só foi possível quando nos inscrevemos na convocatória do projeto Retocar e fomos selecionados.

A ideia foi trazer uma proposta de sapateado aliada com a nossa cultura e logo nos primeiros momentos fizemos uma imersão sobre a história e produção do sapateado no Brasil e em especial, e principalmente sobre a fusão do sapateado com as danças populares brasileiras.

Passamos as primeiras semanas imersas ocupando o Núcleo de Pes-

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quisa e Memória das Artes Cênicas no Sesc Avenida, pesquisando e aprendendo através de vídeos, leituras e discussões. Para nossa surpresa descobrimos muitas coisas interessantes, dentre elas, o sapateado de Valéria Pinheiro25, que não pensamos duas vezes em convidá-la para desenvolver o processo conosco quando percebemos sua vasta experiência.

Em meio ao processo, houve o Festival de Dança de Teresina, que viabilizou um curso de Sapateado e Jazz com Erick Gutierrez - coreógrafo, bailarino e diretor artístico da Plexus Centro de Dança - SP. Seguimos para lá em busca de aprendizado, Eu Fabiana Reis, Fernanda Reis e Rosiane Theóphilo. Com este contato, Erick Gutierrez, se torna mais uma pessoa especial em nossas vidas, pelo exemplo de profissional, de amor que emana em seus movimentos. Toda troca de conhecimentos e sensibilidades valem muito a pena quando colocada com amor.

Retomando ao desenvolvimento de processo em relação à proposta do Sapateado, uma semana depois, o Retocar nos trouxe Valéria Pinheiro, cearense, considerada mestra do sapateado brasileiro, que há 35 anos vem pesquisando os sapateios brasileiros, trazendo para suas obras um diálogo entre tradição e contemporaneidade no Sertão brasileiro.

Estabelecemos uma linha de diálogo bem antes dela pousar em Parnaíba, enviamos informações do Raízes: vídeos, fotos, textos para que ela pudesse fazer um apanhado melhor possível sobre a trajetória do grupo, devido o curto espaço de tempo que a agenda dela possibilitava nesta ação.

Valéria muito se impressionou com nossos desejos e nossa conquistas e tratou de encaminhar uma proposta de pesquisa e de criação a partir de dramaturgia etnográfica, considerando a história de cada integrante. A intenção foi performar um processo criativo trazendo o Raízes enquanto um corpo político considerando tudo que nos afetou ou que nos afeta na nossa condição de atores sociais e culturais.

Valéria nos inseriu num processo criativo muito rico e bem dinâmico dentro do pouco tempo que tínhamos com uma variedade de elementos cênicos e de composição artística. Nessa imersão, ela faz grandes e importantes descobertas sobre o Raízes, como por exemplo, durante o almoço que oferecemos em nossa casa na Vazantinha, ela descobre Dona Aparecida Reis, a nossa mãe detentora de uma cultura de tradição, pois quando moça dançava cocos e reisado.

Valéria reconheceu e convidou Maria Aparecida Reis, como mestra do Coco para dançar também a história do Raízes no processo que estávamos vivenciando no Retocar. Foi um grande presente, a ideia ganhou força e um resultado lindo se deu, onde ela trouxe toda a força de sua ancestralidade para dentro do processo criativo do Raízes trazendo um sapateado do nosso jeito de uma forma mais original possível.

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25 Diretora artística e Coreógrafa da Cia Vatá –RJ desde 1994 e Gestora cultural do Café Teatro das Marias CE. Coordenadora Pedagógica do Ponto de Cultura Ancorando Poço da Draga. UBUNTU. Diretora artística do Pontinho de Cultura Escola de Musicais na região do Cariri-CE.

Foi emocionante ver essa interação em cena nesse rápido e pequeno resultado prático do Retocar. Um trabalho que se apresenta em forma embrionária, e que por enquanto é chamado de "NorDestiNada", mas que pode ganhar corpo e agregar outros elementos estéticos trazendo sim um sapateado diferenciado como é o de Valeria Pinheiro.

Do lado de cá e do lado de lá da ponte, nessa travessia constante de cada dia, sempre haverá corpo e coragem para criar, para fazer junto com pessoas que nem ela e a tantos outros que conhecemos e nos aliamos enquanto pares na arte. E como não poderia deixar de acontecer, ela também tem a dizer sobre o Raízes nestas breves e emocionantes linhas:

"A convite do Sesc Parnaíba, através do projeto "Retocar", em outubro de 2019 tive a oportunidade de colaborar com o grupo Raízes do Nordeste, da Parnaíba. Conhecia muito pouco sobre o grupo, salvo o material que estava na rede, mas sem a qualidade de fruição necessária, pouco sabia sobre a sua obra ou sobre o grupo.

O projeto me deu 4 (quatro) dias para fazer uma colaboração e quem sabe daí, mexer, alterar ou ajudar a construir uma dramaturgia com a sua história, ou sua obra em execução.

No início achei bem difícil para mim, questões vieram de pronto: como conhecer mais sobre o grupo, algo que pudesse me aproximar do "humano" desse grupo. A velha rede... nos aproximamos pelo whats app, começamos a conversar, questões trocadas, algumas respondidas, outras gerando ainda mais questões, eu precisava entender o porquê do grupo me escolher para essa colaboração. Depois de alguns whats app, entendi de pronto que chegaram a mim porque sapateio a música brasileira, porque tenho uma forma diferenciada de abordar a linguagem do sapateado, e o grupo estava trabalhando um argumento onde queriam uma cena com sapateado. Eu, prestes a fazer uma prótese de quadril, e com condições de sapateios bem limitadas. Mas coloquei meu sapato de sapateado na mochila e depois de mais de 11(onze) horas de táxi, avião, ônibus e carro, cheguei a Parnaíba.

No dia seguinte, jovens meninas e um menino, cujas idades estavam entre quatorze e vinte poucos anos, me esperavam para primeira interação entre nós.

Quando entendi a jovialidade do grupo, mas já com uma história na dança tão forte, resolvi investir quase um dia inteiro, de nossos preciosos 4(quatro) dias de interação, em escutar cada um dos integrantes do grupo.

Histórias fortes, de dores, superação, resiliência e resistência vieram à tona.

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E no final do dia, adentra a esse encontro a menininha de 10 anos no máximo, a mais nova integrante, filha de uma das criadoras do grupo, mas criada pelas tias e a avó, por sinal avó essa que nos rendeu cenas lindas...

E enfim, escutei cada história, voltei para o hotel munida de tantas histórias, tantas imagens, um verdadeiro mapa de identidades.

Uma noite sem dormir, uma cabeça habitada de questões e 3 (três) dias pra levantar algo, que não caberia numa "coreografia de sapateado", eu estava diante de uma potência de grupo, quase inteiro feminino, com histórias de vida e questões pautadas na periferia, na raça e no social, questões que são contemporâneas por demais nesse Brasil.

Como dançar tudo isso e ainda contribuir, de forma lúdica com a obra do Grupo Raizes do Nordeste? Como dançar todas essas histórias e agregando mais valor ao que está posto?

Chegamos no segundo dia, introduzi ao grupo a técnica do corpo brincante, e foi lindo, corpos ali prontos e vivos, experimentando o "novo", sem nenhum medo de vivê-lo, e fui elencando de nossas experiências um leque de movimentos, de ações, de jeitos, de músicas, de frases, um monte sobre eles.

Restava-me um dia, e tinha que apresentar ao projeto "Retocar" um processo aberto.

Juntamos alguns dos movimentos levantados, à poesia viva de suas histórias e começamos a levantar uma dramaturgia que se completa, quando convido a mãe de quase todas elas, uma "Jequitibá", que descobri que foi uma grande brincante de coco a se aproximar do projeto.

A Mestra Maria, de maneira muito linda nos convidou a todos para um almoço em sua casa, "o lado de lá da ponte", forma como os integrantes do grupo se dirigia à cidade, desde seu habitat, a periferia.

E lá estava a Mestra Maria interagindo com as filhas e netas. Nascia o começo da obra, que carinhosamente chamei de "NorDestiNada".

E estava ali alinhavado com amor, dores, histórias, e ancestralidade, um pouco da história dessas meninas fortes e que de forma resiliente, têm na dança, a trilha de se fazer voz nas suas lutas, que são diárias, numa cidade chamada Parnaíba, uma região chamada Nordeste, num país chamado Brasil.

Eita brasilzão do cão!

Mas nós amamos cada palmo do seu chão.

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Vozes dos que iniciaram a Cia de dança PFTM / Raízes do Nordeste.

"Raízes do Nordeste! Quem diria que um dia voaria tão alto, quantas ofensas ouvimos por sonhar em dançar!

PQuantas emoções vivi neste grupo de dança, quantas saudades! Queríamos crescer, mostrar nosso potencial, mostrar que não sabíamos dançar só Calypso, mostrar a todos que nosso sonho seria possível. E graças ao espetáculo Água conseguimos arrancar aquele grito de: “o grupo de fundo de quintal venceu”. Aquele dia foi incrível, choramos, gritamos, sofremos, levantamos nossa cabeça e nos mantemos firmes diante das injúrias, ofensas. Quando ouvimos o nosso nome foi inevitável não gritar é campeão. Depois desse episódio lutamos com mais garra para comprar um sapato, um tecido, um som, enfim lutamos...

No entanto, não era a posição que importava para mim e sim poder mostrar para as pessoas que sempre fomos capazes de vencer, que ninguém deveria nos humilhar.

Lembro que nunca fui uma pessoa muito fácil de conviver (e nem sou), mas sempre foram pacientes na minha ignorância. Como dei trabalho né Fabiana? Como fui intolerante, rebelde. No entanto, sempre amei todas vocês, não sabia como demonstrar esse amor. Eu sempre me senti deslocada da sociedade no geral, me sentia um ser de outro planeta, mas nunca quis falar disso. O Raízes deu um sentido a minha vida, dançando eu me encontrava, esquecia do mundo, de todos, parecia que estava flutuando.

Acrescento ainda uma coisa que aprendi com o passar dos anos: nunca desista de seus sonhos, por nada e nem ninguém. Caso haja sofrimento ou dor, estes servem apenas para te fazer crescer. Pare um pouco e reflita, depois volte ao seu tão amado sonho...

Apesar da minha saída nunca deixei de acompanhá-los, de buscar notícias.

Fiquei tão feliz quando vi receberem o prêmio ANU. Vibrei quando vi seus vídeos no YouTube, vi reportagem no jornal quando foram a Joinville.

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Saí do Raízes do Nordeste em corpo físico, mas no meu coração sempre serei uma raizeira. Amo Vocês!!! Parabéns pelo sucesso!!!

Só mais uma coisinha: se eu soubesse que meus batons de cores diferentes fossem fazer tanto sucesso hoje, teria patenteado e estava rica. Porque para quem não sabe sempre fui tendência. A primeira pessoa a usar batons mate de cores estranhas fui eu e todo mundo achava esquisito.

TFalar do Raízes para mim não é fácil, porque não tem como descrever o quanto eu tenho orgulho, o quanto eu sou apaixonada pelo grupo, pela dança! Sinto-me honrada em ter feito parte dessa história e ter passado por todas essas fases, boas e ruins. Foram muitos desafios percorridos, muitas perdas e também muitas conquistas: viagens, passeios, brincadeiras, apresentações, encontros e desencontros. Vivemos muitos momentos juntos que ficarão para sempre na minha memória e marcado no meu coração. Participar do grupo é um sonho que se renova a cada ano.

Ainda lembro minha primeira apresentação, era comemoração do dia das crianças, na capela de Santo Antônio da comunidade Vazantinha, comecei um pouco envergonhada, mas os aplausos no final foi o que me deixou mais encantada.

Nunca imaginei que viveria tudo isso, muito menos que chegaríamos tão longe. Dificuldades? Sim, muitas, mas superamos todas, porque a felicidade que sentimos quando estamos dançando é maior que quaisquer obstáculos que possam vir... pensar em desistir? Sempre vem isso na mente, mas quando imagino como seria minha vida sem participar do grupo, logo desisto de pensar em desistir.

Enfim, tenho muito orgulho de dizer que sou Raízes do Nordeste, que sou o T do PFTM, tenho orgulho do que somos hoje, sem esquecer de onde viemos....

Tatiana Reis o T do PFTM e Dançarina do Grupo Raízes do Nordeste

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Priscila Santos o P do PFTM

Poderia começar falando do Raízes das mais variadas formas, hoje escolho usar uma palavra: SAUDADE, sim saudade. O Raízes me proporcionou momentos saudosos e inesquecíveis. Fez-me provar o doce sabor da dança, me fez descobrir o amor por essa arte.

Dançávamos na igreja de nossa comunidade, com nossos figurinos a base de TNT e com nossos CDs que muitas vezes falhavam na hora da apresentação, mas quer saber de uma coisa? Adorávamos, sabe por quê? Porque simplesmente amávamos dançar, e nos dedicávamos diante das dificuldades que convenhamos, eram muitas. A gente dançava com prazer, com amor.

Aquele grupo de fundo de quintal ouviu de muita gente que sua dança não levaria a nada, que não sairia das paredes da Igreja. Mas quem dança voa alto e sonha mais alto ainda. PFTM não desistiu e foi crescendo, devagar sem pressa, querendo voar, mas sem perder o equilíbrio de ter os pés plantados no chão, é um tanto quanto paradoxo voar sem sair do chão, mas é isso mesmo, quanto mais a gente crescia, mais certeza tínhamos de nossas raízes. Dançávamos nas igrejas, dançávamos nas outras comunidades, dançávamos nas escolas, dançávamos, dançávamos, dançávamos... PFTM cresceu e se tornou RAÍZES DO NORDESTE. E eu orgulhosamente posso dizer: Eu sou Raízes de coração. Fabiana Reis nesse meio tempo já havia assumido o grupo como coreógrafa, mas não posso deixar de citar e agradecer Francisca e Jordana Reis, divas maravilhosas que estiveram com a gente desde o início e que de certa forma ainda estão. Obrigada meninas!

Fabiana assumiu o grupo e o que posso falar dela senão: QUE BAIXINHA ARRETADA!!!Viajava em seu mundo particular, colorido e onde tudo é possível e de lá nos agraciava com uma coreografia cheia de ritmo, ousadia e criatividade. Exigia da gente sempre o melhor, porque conhecia e acreditava em nosso potencial. Quantas vezes eu falei nos ensaios, que não ia conseguir fazer esse passo, ou não sabia fazer aquele... E ela sorridente dizia: Você consegue sim. E não é que ela estava sempre certa, no fim a gente sempre conseguia.

A vontade de crescer e mostrar para o mundo a nossa dança era intensa. Não precisávamos provar nada a ninguém, só queríamos uma oportunidade para mostrar nosso talento, não para mostrar que éramos melhores ou coisa assim, mas para dar vida a essa frase: Quem acredita sempre alcança.

Dei vida ao PFTM junto com Priscila Barbosa, Fabiana e Tatiana Reis, e me orgulho muito disso. Orgulho-me muito dessas três. Da garra, da parceria, da amizade... Lembro com muita saudade da minha primeira competição, que sensação mágica! Adrenalina a mil, coração disparado, cabeça dava bilhões de voltas, um tur-

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bilhão de emoções tomava conta da gente atrás das cortinas. E sim, eu estive lá, junto com Raízes, dando o melhor de mim em nome da dança.

Competíamos com raça nem tanto pelas premiações, mas para levar para fora a nossa dança, a potência do Nordeste, o talento do grupo de fundo de quintal. Dadas tantas emoções vividas me vi indo embora e deixando MEU grupo de dança, ênfase no meu, porque era sim que eu sentia. Meu grupo. Parte de mim, do que sou. Lembro que chorei muito. Preparei-me para dizer adeus, mas quem disse que elas permitiram? Diga um até logo! Uma vez Raízes sempre Raízes. Tá na carne, tá no sangue, tá na alma. Fui embora, mas guardei comigo essa frase: O SEU LUGAR SEMPRE ESTARÁ AQUI!!!

Passei anos fora, no entanto, ainda que de longe acompanhei a luta dessas feras e vibrava a cada nova conquista. Raízes ganhou asas imensas e faz uso delas com uma maestria invejável. E aqueles que diziam que não chegaríamos a lugar algum com nossa dança, restam apenas aceitar, ou melhor, apreciar. Que grandeza meninas e meninos! Que talento! Que orgulho!

Hoje depois de muito tempo, de volta a Parnaíba sou convidada a fazer uma participação no grupo. Meu primeiro pensamento foi:

- Que orgulho!!!

Logo em seguida pensei:

-Acho que não vou dar conta.

Dançar no raízes de novo é um orgulho para mim, é um prazer imenso, sem contar na quantidade enorme de boas lembranças. Uma vez raízes, sempre raízes.

Não posso mais me dedicar totalmente como dançarina, contudo o Raízes do Nordeste terá em mim uma amiga e um apoio por toda vida. Sou grata por ter sido parte desta família e com toda certeza serei uma eterna fã.

A todos que fazem parte dessa família deixo aqui meu obrigada. Obrigada por se dedicarem a uma arte tão linda, obrigada por levarem as belezas do nosso Piauí a outros lugares, obrigada por levarem alegria por onde quer que vocês passem.

Dançar é um alimento rico em amor e alegria que alimenta a alma e dá asas ao corpo. Dançar é dizer com corpo tudo aquilo que está em seu coração. Se você está feliz DANCE. Se você está triste DANCE. Se você esta doente, DANCE. Se você está com raiva DANCE

DANCE DANCE DANCE....

Aqueles que ainda não tiveram o prazer de experimentar deixe seu corpo falar mais alto, movimente-se, liberte-se, DANCE.

Mariana Cristina dos Santos Costa. M do PFTM

Dançarina do grupo

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Jordana Reis Fundadora do grupo

Tive a ideia de criar um grupo de dança para fazer apresentações na comunidade Vazantinha. Nesse tempo não imaginava que o grupo chegaria aonde chegou.

A primeira apresentação foi na capela de Santo Antônio na Ação de Graças logo depois da missa, a comunidade aplaudiu muito aquelas meninas, até porque na época não existia grupo assim para se apresentar dentro de igrejas. Comecei a ver o gosto que elas tinham, na época era eu que passava a coreografia nada muito profissional. Comecei a levá-las para outras comunidades vizinhas, no tempo de festejos.

Todo final de ano fazíamos um festival de dança na comunidade para se sentirem valorizadas e o grupo começou a ter reconhecimento local. Começamos a ensaiar outros tipos de danças de vários ritmos musicais, somente com a força e a coragem de cada uma delas, porque não existia patrocínio de nada, chegamos a passar coreografias nas praças, no meio da rua e no fundo de quintal, mesmo assim, não desistiam e sempre pensavam em participar de grandes festivais de dança.

Surgiu o interesse de outros jovens a querer participar do grupo e vendo isto, fiquei muito feliz, porque naquele tempo o grupo começava a ganhar destaque na localidade.

Quando foi no ano de 2007, eu tive que sair do grupo, pois iria mudar de cidade. Graças a Deus, nesse tempo minha irmã mais velha Francisca Reis estava nos ajudando no grupo dando apoio com figurino, então tive que sair e deixei a coordenação com ela, mas sempre que podia estava prestigiando, foi um tempo bom, uma experiência maravilhosa que não deixa também de ser um aprendizado.

Francisca Reis Fundadora do grupo

É uma honra estar escrevendo sobre o grupo que eu dei vida e que hoje tem 16 anos, fico muito orgulhosa.

Pois quando eu decidi vir embora para Fortaleza, isso era muito preocupante para minha pessoa, pois desde então eu tinha uma responsabilidade muito grande, tinha preciosos jovens ali. Mas vi também naquele grupo pessoas capazes de se destacarem e serem representantes como eu.

Reuni todo o grupo, que na realidade tinha três pessoas que era da minha família e falei da minha saída e que naquele momento iria ficar na reponsabilidade de minhas irmãs.

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Daí então o grupo se fortaleceu e hoje é um grupo reconhecido não só no Estado mais também nacionalmente.

O Grupo Cultural Raízes do Nordeste é um orgulho para mim. Só tenho a agradecer por tudo que eles se dedicaram esse tempo todo. Que Deus abençoe sempre cada um de vocês!

Vozes dos que dançam atualmente no Raízes

Flávia Reis

Dançarina do grupo

Desde sua formação, o PFTM - Raízes também é um lugar de passagem. Para alguns como um lugar de permanência e de acolhida que resistem na dança. Já foram tantos os que passaram pelo grupo, que dançaram e saíram dançantes e outros que resistem até os dias de hoje. As saídas muitas vezes são por motivo de trabalho, dedicação aos estudos ou até mesmo por período determinado, retornando depois de um tempo.

Entendemos o Raízes como um corpo aberto e agregador em que a dança é a nossa maior liga e um elo que nos conecta na vida e na arte. E nesse processo de existência, seguem algumas vozes atuais do Raízes:

Raízes para mim é força, arte e resistência. Eu participo do Raízes desde 2011. A minha primeira apresentação foi da Emília: a boneca gente, lá na Praça Santo Antônio. Quando eu dancei, eu tinha dois anos de idade. Continuei dançando no grupo e entrei no curso de dança popular do Sesc ano passado e tive o prazer de me apresentar esse ano de 2019 com minha avó Maria Aparecida Reis, a mestra dos cocos e dos reisados de antigamente.

Fernanda Reis

Dançarina e figurinista do grupo

Ao falar do Raízes me vem muitas lembranças, desde aquela eu sentada só olhando as meninas dançando, como a de hoje nos palcos da vida.

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Sempre acompanhei o grupo desde o início, como foi criado pelas minhas irmãs, eu sempre estava presente nos ensaios e apresentações. Admirava muito a força de vontade de cada uma e o empenho que elas tinham, achava tudo lindo e minha vontade era poder dançar, mas tinha muita vergonha, sempre ficava dançando escondida.

Até que um dia, minha irmã Jordana me chamou no quintal de casa com um balde na mão e um pedaço de madeira, começou a bater e cantar uma música pedindo para eu dançar e fui pelo impulso. Sempre me recordo daquela cena, ela cantando e eu dançando, mas para minha surpresa meu pai me observava, quando eu o vi não sabia o que fazer, foi um desespero e ao mesmo tempo senti uma sensação tão boa, foi como se eu me libertasse de algo que estava preso dentro de mim.

Em 2004 minhas irmãs me convidaram para entrar no grupo, quando ainda era chamado CIA DE DANÇA PFTM, fiquei muito feliz e realizada.

Já vivi muitas emoções durante essa trajetória e poder ver a minha evolução é muito gratificante. O Raízes já me proporcionou tantas coisas maravilhosas, uma delas são as viagens que fazemos, onde buscamos cada vez mais aprimorar o nosso conhecimento. Andar de avião pela primeira vez foi encantador para mim. Eu ficava na janela olhando aquela paisagem tão linda, e lembrava de quando eu era criança, que ao ver um avião corria para tentar alcançá-lo, nem imaginava que um dia eu pudesse estar dentro de um.

Dançar em outras cidades e poder prestigiar vários grupos de diversas categorias é magnífico. Cada um com sua arte e seu jeito de dançar, poder participar dos cursos também é algo muito enriquecedor, conhecer pessoas, compartilhar experiências que levamos para a vida toda.

O Raízes fez eu me descobrir como dançarina e figurinista, sempre admirei minha mãe e minha irmã Francisca que faziam os figurinos do grupo, que de início eram todos costurados a mão, elas pegavam aqueles retalhos de tecidos, ou até mesmo uma rede rasgada transformavam em arte para as apresentações.

Não tem como não amar tudo isso, sou muito feliz por ter vivenciado cada momento, hoje elas são minhas grandes inspirações, sempre procuro colocar algo que aprendi com elas em minhas criações como figurinista do grupo. Peço sempre a Deus saúde, para que eu possa continuar dançando e criando com minha mana Fabiana, (para os íntimos Binha), gratidão por todo ensinamento e por estar sempre me incentivando a continuar. Desejo ao Raízes vida longa e que possamos cada vez mais desbravar esse mundão de coisas boas e mágicas e encantar a todos com o nosso jeito Raizeiras de ser!

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Débora Viana

Dançarina do grupo

Falar de mim e do que eu gosto é uma das coisas que eu mais tenho dificuldade, imagina agora falar sobre mim em conjunto com algo que eu gosto. Foram dias para começar a escrever o depoimento para colocar no livro do Raízes do Nordeste.... Uau! Quem diria, quantas histórias, “são tantas histórias que cabem em um livro”, e ele está aqui, o livro.

Agora, enquanto escrevo vou tentar voltar em 2008, o ano que eu cheguei aqui, no Raízes do Nordeste. O que eu consigo lembrar é que eu fui convidada para participar de um teste para fazer parte do grupo, e adivinhem? Passei no teste! Essa foi a minha entrada no grupo, onde permaneci por “longos” e “maravilhosos”... 1 ano. Foi só um ano, mas um ano muito especial, aprendi que realmente gostava da dança, passamos por várias situações engraçadas, tinha muita dificuldade (Ps.: na época eu tinha 14 anos, talvez eu não percebesse os problemas, mas eles estavam lá, e passamos por todos eles, #TodosUnidosJamaisSerãoVencidos).

Em 2009 tive que sair do grupo, com muita tristeza, mas feliz e podendo dizer que já fiz parte do Raízes. Para mim tinha acabado ali, mas eu mal sabia que iria existir um recomeço.

“Oi 2013”. O ano do recomeço, esse momento é meu. Eu sou ruim para lembrar alguns dos muitos detalhes, mas eu não vou esquecer o dia que a Fabiana ligou para mim.... Binha falou algo parecido com “Débora, “bora” dançar no Raízes de novo? Vamos participar de uma competição e etc...”

Quanta felicidade, nervosismo e empolgação. Quanta mudança, o grupo cresceu muito, e eu só pensava se eu conseguiria acompanhar o ritmo. De 2013 para cá vivenciamos muitas coisas boas, amigos, prêmios em festival de dança, pessoas que admiram o que a gente faz, histórias e muito aprendizado, muitas oportunidades surgiram. Coisas ruins também, faz parte e faz a gente evoluir.

O Raízes do Nordeste para mim é uma segunda família, onde eu me encontro, e encontro pessoas que me fazem feliz, e onde eu me desligo de tudo que é negativo. A experiência de viver no grupo é um grato encontro que Deus me permitiu. A história do grupo é bonita, é feita de sonhos, superação, amor, alegria, da queda e da força para levantar... É a vida de cada um de nós se juntando para formar uma vida só. Gratidão por ser Raízes!

O Raízes continua na luta, para levar boas energias para plateias e para quem queira estar por perto. O Raízes continua “dando a cara a tapa”. O Raízes continua “com a cara e a coragem”.

O Raízes continua sonhando e realizando os sonhos que Deus nos permite. E que Deus abençoe para permanecer sempre assim. A arte é bonita, dançar é bonito, e faz bem.

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O grupo completa 15 anos, e eu me sinto honrada e feliz em fazer parte de tudo isso, que começou em 2003 por crianças da Infância Missionária, para dançar na igreja e permanece até hoje, com vitórias, muitas coreografias e um livro contando essa história.

A Fabiana acreditou e continua acreditando, a gente também acredita junto com ela. A gente sonha e ama o que faz... E quando o sentimento é verdadeiro não importa se veio do fundo de quintal, do meio rua ou do topo da alta sociedade, o que importa é acreditar e viver esse sonho.

Este texto foi para dizer que amo dançar no Raízes, tenho orgulho dessa história e sou grata de estar aqui, também para desejar ao Raízes e a todos que o acompanha muita fé, sonhos, luz e força de vontade. Parabéns Raízes do Nordeste, muitos anos de vida, sucesso e vitórias.

Luany Theóphilo Dançarina do grupo

Ainda consigo lembrar do meu primeiro ensaio no Raízes. Eu era pequena, tinha 4-5 anos, imediatamente amei tudo aquilo e não quis mais parar de dançar.

Quem diria que um grupo de quatro meninas, acreditado somente pela família e amigos, iria se tornar esse grupo maravilhoso, o Raízes do Nordeste. Que traz tamanha cultura para Parnaíba e também a outros municípios. O Raízes ainda tem uma trajetória muito extensa a ser traçada, os NÃOs que recebemos constantemente serviram como incentivo para ficarmos mais fortes, não deixando de sonhar intensamente e tornar aquilo realidade para nós. É muito difícil atuar num ambiente no qual poucos querem realmente nos ajudar. Fiquei um tempo fora das apresentações por conta do balé clássico, que coincidia com o horário dos ensaios, mas isso não impediu que eu acompanhasse os bingos, as rifas, as canetas, os chaveiros e as bonecas serem vendidas para nos ajudar nas viagens, nas quais representamos o Piauí.

Estar e dançar no Raízes me faz sentir livre. Aquele clássico nervosismo que bate tempos antes de dançar, a sincronia e nosso empenho dançando e o público que sai de casa para nos prestigiar são muito marcantes para mim. Eu sou muito grata a Deus, meus pais, minha irmã Rosy Theóphilo e minha irmã do coração (Fabiana Reis) por não desistirem de mim e sempre acreditarem que eu posso ir além. A família Raízes sempre estará marcada em meu coração e vou honrá-la com as bênçãos de Deus, para sempre. Pois sempre será "um por todos e todos por um".

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Alyane Neves

Dançarina do grupo

Quando alguém fala sobre Raízes do Nordeste, só consigo pensar em gratidão. Sou grata por todos terem me recebido tão bem, por ter toda paciência possível comigo, porque eu nunca tive experiência com dança antes do Raízes.

Quando eu entrei no grupo, eu era muito nova, tinha apenas oito anos e isso foi em 2011. No dia do meu primeiro ensaio, fiquei tão nervosa, pensei que ninguém ia gostar de mim, mas todos me receberam muito bem. A minha primeira apresentação foi da Emília uma bonequinha de pano.

Eu comecei apenas participando de apresentações no dia das crianças, ou dia dos pais ou das mães, até que chegou o dia do meu primeiro espetáculo, que foi Ruído da Senzala, foi uma sensação inexplicável, deu aquele frio na barriga e o nervosismo. É lógico que nesses oito anos em que estou no Raízes eu já pensei em sair, mas cada vez que convivo com todos, a energia deles é tão positiva e nos tratam tão bem, que esse pensamento desaparece. Minha relação com todos é tranquila, todo mundo se respeita, e é isso que importa, por isso que nunca vou me cansar de dizer que sou grata por tudo e por todos.

José Cláudio Victor

Dançarino do grupo

Conter a emoção ao me lembrar dos momentos com o Raízes é difícil, já são quase dezesseis anos de história e eu tenho estado junto há onze anos. Todas as experiências que eu tenho tido com a dança é graças a essa família, desde o dia das crianças de dois mil e sete, até aqui ao escrever desse depoimento vinte e três de Julho de dois mil e dezenove.

Forte são as marcas que carrego comigo de coreografias e ensaios inesquecíveis, o meu crescimento no meio da força feminina foi sem dúvida essencial para me tornar quem sou hoje, junto com minha família. Raízes do Nordeste é responsável por minha educação na vida, conselhos e exemplos vivos, que eu sigo com muita confiança.

Não sei o número exato de ensaios que já tive, e nem das coreografias que já dancei. Mas tenho comigo o aprendizado de cada uma, não tem como não lembrar de uma música ao executar um passo, ou não lembrar de uma apresentação ao ver um figurino, os registros desses momentos estão guardados com muito cuidado e sempre que surge uma pista, é revelado em mim a lembrança tão querida.

Colegas que fizeram parte dessa história, de alguma forma deixaram sua marca/lembrança.

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Agradecer todos os dias é o mínimo que posso fazer. Raízes do Nordeste também é motivo de todos os dias eu buscar uma versão melhor de mim. Sou muito, muito grato por tudo que a dança me proporcionou.

Estranho seria eu não ser uma raiz.

Diovanna Azevedo dos Santos

Dançarina do grupo

Não é fácil escrever, são muitas coisas que vivi com esse grupo, ainda criança não participava de todas as apresentações por conta da idade, mas sempre acompanhava. Acabei saindo por conta de mudanças de residências, mas sempre na vontade de continuar com eles. Passei por vários problemas familiares e até de saúde, mas nunca perdi o desejo em retornar. Como dizem, a esperança é a última que morre, voltei e em poucos ensaios fiz a primeira apresentação no dia das crianças.

Passei três anos no grupo, mas tive que sair novamente por minha mãe, que teve que fazer uma cirurgia, ela morando no Rio de Janeiro e queria minha companhia. Com essa mudança, a mesma me dizia que queria minha evolução na área da dança e acabei passando três anos no Rio, onde tive aulas de danças de salão. Mas, durante esse tempo tive idas e vindas, fui e voltei. Mais de uma vez.

Em maio de 2015, ano em que me mudei recebi o convite do Raízes para participar de uma apresentação em São Paulo e Santa Catarina. Não podia presenciar os ensaios, acabei recebendo os vídeos das coreografias para treinar. E retornei aos ensaios através de vídeos. Chegou o dia e demos o nosso melhor. Voltei para o Rio e para a minha rotina lá.

Em 2017, recebi o convite para participar da mostra presencial do Palco Giratório com o Raízes, Berra Boi. Assim como havia ocorrido em 2015 ensaiava inicialmente via vídeos. Voltei a Parnaíba e passei o mês de julho na maratona intensa de ensaios para a apresentação que ocorreu em agosto.

Em 2018, recebi uma proposta de trabalho e voltei a residir em Parnaíba e retornei de vez para o Raízes, que me transmite energia, amor, união, alegria e onde aprendi que não podemos desacreditar nos nossos sonhos mesmo que o mundo conspire a dar errado.

E nesse ano de 2019, em meio a tantas emoções surgiu um grande amor, nossa querida e amada Ohanna Nicole, a mais nova raizeirinha que fará parte da nova geração do grupo.

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Alyne Santos

Dançarina do grupo

Quem diria que iríamos chegar aonde chegamos, lembro-me como se fosse hoje, quando fui fazer uma participação no grupo. Sempre quis participar e agradeço até hoje por eu ter tido uma oportunidade, por terem confiado em mim, mesmo sabendo que eu ainda tinha muito que aprender.

Não foi fácil no começo, pois meu pai não aceitava, achava que era perda de tempo, ia me pegar nos ensaios e mesmo assim eu estava lá no outro dia para ensaiar.

Apesar da pouca idade, eu sabia que era aquilo que eu queria para mim.

Hoje sou independente, fazendo o que amo graças a nossa coreógrafa, que me deu todo o aprendizado que sei hoje. Foram muitos momentos bons, desde os ensaios puxados, até as viagens divertidas. Estou no grupo há nove anos e pretendo continuar sempre com o grupo, já teve os momentos que pensei em desistir, momentos de fraqueza, que me sentia só, mas era ali onde esquecia todos os problemas.

Pretendo ficar nessa família até meu físico permitir. Obrigada tia Rosy e madrinha Faby por não desistirem de mim. Eu amo vocês e que venha mais e mais conquistas para a família raizeira.

Clarice Silva

Dançarina do grupo

O interesse pela dança foi despertado em mim a partir do dia que comecei a acompanhar o Raízes de perto, todos os dias eu estava presente nos ensaios do grupo. Certo dia, fui para participar de uma experiência de três meses. Coloquei minha vergonha de lado, pé firme no chão e me dediquei muito nesse tempo de experiência. A cada apresentação, dei o melhor de mim. E desse tempo para cá, já são onze anos de trajetória.

Durante esses onze anos, assumi essa oportunidade com muita garra e coragem. Foram muitas emoções vividas, muitas alegrias e choros de felicidades. Passamos tantas coisas juntos, as primeiras competições, os primeiros títulos de 1º lugar. A saída da Francisca Reis e da Jordana Reis foi muito difícil, como iríamos conseguir? Precisávamos de alguém à frente do grupo. Então apareceu Rosiane Theóphilo, alguns integrantes já a conheciam, pois alguns participaram dos Festivais de Identidade Cultural do Piauí da escola, como ela é professora, participava com a gente. Ela chegou no momento certo e juntamente com Fabiana Reis nos ajudou a seguir em frente.

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Admiro muito essa força e coragem. O Raízes do Nordeste é muito importante na minha vida, ao longo desses anos. Entrei adolescente e hoje me tornei uma mulher. Engravidei, dancei até os seis meses e depois me afastei do grupo. Foi muito difícil para mim, passei uns sete meses afastada dos palcos, sofri muito durante esse tempo.

Quando retornei minhas atividades no grupo, minha filha tinha quatro meses de nascida. Não foi fácil, porque ela ainda mamava e minha vontade era tão grande de retornar que no começo tive que comprar um bebê conforto. Todos os ensaios e apresentações, até viagens ela ia junto. Isso para mim era muito gratificante, ela estar comigo, junto com o Raízes.

Eu tenho o Raízes do Nordeste como minha família. Agradeço a Deus todos os dias por fazer parte da trajetória do grupo. Eu sei que não foi fácil chegar até aonde chegou.

Recebi um convite ano passado, muito especial feito pela minha professora de dança popular e também coreógrafa do Raízes, Fabiana Reis. O convite era participar de um espetáculo chamado Revoar. Fiquei maravilhada pelo convite. Conheci pessoas que admiro e me inspiro, por sua força e determinação, que apesar de todas as dificuldades que existem, estão firmes e fortes.

Lembro da frase dita por tia Faby: "É do chão batido que nascem as raízes mais fortes". Só tenho a agradecer essas pessoas que me ajudam e me proporcionam momentos especiais. Sou grata pela tia Faby, por sua paciência e pela compreensão, principalmente nas coreografias mais difíceis. Esse tempo que estou passando é uma experiência única, onde eu fico deslumbrada. Mais uma vez, obrigada por cada aprendizado que cada um de vocês me proporcionou e que vão me proporcionar. Obrigada Raízes do Nordeste.

Daiane Rodrigues

Conheci o grupo Raízes do Nordeste a partir de uma amiga, mas só consegui assistir aos espetáculos Berra Boi e Retrô Raízes. No começo de 2019, Fabiana Reis, minha professora de dança popular me fez o convite para participar do espetáculo Revoar e foi aí que consegui conhecer realmente os meninos. Mostraram suas vidas e vi que não era tão diferente da minha realidade, sempre me trataram bem, vivi momentos felizes com eles. Só posso dizer que são pessoas maravilhosas, admiro muito e agradeço cada momento que passei com cada um, porque são pessoas fortes que marcam por onde passam e me marcam a cada dia que passo com eles.

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Yara Gabriele Dançarina do grupo Dançarina do grupo

Vozes dos que passaram e saíram dançantes do Raízes

Cleyton Carvalho

Ex-dançarino

Por volta do ano de 2006 a 2008, ainda adolescente, sem experiência, resolvi entrar no grupo de dança a convite de Francisca Reis e Jordana Reis. Comecei a dançar e foi algo desafiador, pois naquela época não era tão comum homens ou meninos fazerem parte de um grupo de dança, mais um desafio que enfrentei, “o preconceito”, além das dificuldades existentes no grupo que não eram poucas.

Mesmo sem saber da dimensão dos problemas que iríamos enfrentar, uma coisa era certa, a felicidade em fazer parte do grupo me fazia ser outra pessoa, eu particularmente já me sentia outra criança já indo para adolescência, porém convicto e consciente do nosso papel perante a comunidade.

O PFTM era um grupo simples em tudo, nas roupas, nas coreografias, nos efeitos das músicas editadas muitas vezes em casa. Lembranças de Fabiana Reis, criança ainda, falando como seria nossas roupas de apresentação, muitas vezes, tínhamos que customizar nossas roupas, porque dinheiro era quase zero para confeccionar figurinos, contávamos com a ajuda em alguns momentos da Associação de Moradores da Vazantinha ou da igreja quando possível.

Já passando alguns anos, houve a ideia de diversificar o grupo em categorias: dança, teatro e poesia. A ideia fluiu e deu certo por alguns anos, temos um troféu que ganhamos no Circuito Cultural Jovem, consegui o 3º lugar em poesia, poesia essa escrita por Bruno Oliveira que era integrante do grupo e interpretada por mim.

Depois de muitas dificuldades, erros, começamos a amadurecer, mudanças já eram notórias, começamos a ter referenciais e desenvolver novas técnicas. E hoje como Raízes do Nordeste no qual temos Fabiana Reis direcionando, o grupo é referência para outros em todas as modalidades seja no balé clássico, contemporâneo ou popular, o caminho foi árduo, mas todo o grupo seja por bailarinos que já passaram e os atuais estão de parabéns por fazer parte dessa referência na dança dentro e fora do Estado do Piauí. Meus agradecimentos em especial a você Fabiana Reis, por me tornar um amante incondicional da dança e acima de tudo da cultura brasileira.

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Laldicélia Cunha

Dançarina do grupo

Como começar? São tantas histórias, tantos momentos vividos, experiências. Mas é uma honra falar de Raízes do Nordeste, equipe como esta eu desconheço, uma coragem incrível de cada um.

Comecei no grupo bem pequena, via a empolgação de minha irmã (Priscila) junto com as outras meninas, era demais. Observava o grupo PFTM dançando, era lindo, a vontade e o gosto pela dança que elas tinham já conseguíamos ver. Assim ingressei e também quis para mim.

Ensaiávamos quase todos os dias, não tínhamos um lugar certo para ensaiar, às vezes o ensaio era no quintal de Dona Aparecida, mãe do grupo, outras vezes no Centro de Nutrição da comunidade, sem, bem dizer nada de estrutura financeira, mas a vontade era gigantesca, driblávamos todas as dificuldades. Os ensaios faziam parte de nós, de nossas vidas.

A alegria de estarmos juntos era, com certeza sem medidas, enorme sim, porque amávamos. Raízes ultrapassou barreiras, passou por várias situações difíceis, mas nada foi fácil mesmo, então superar esses momentos complicados também já estava por certo. Só o fato de nos prepararmos para fazer cada dia melhor a dança em nós, isso já valia a pena. A felicidade e a vontade de fazermos nossa dança, de elevarmos nossos sonhos, causava impacto em muitos que achavam que tudo aquilo era perda de tempo, mas isso dava mais coragem.

O ACREDITAR em nós funcionava tanto, igual ao ritmo em nosso corpo.

Porém, nem tudo dava certo ou saía como queríamos, no entanto, já se sabia que cada momento estava predestinado. O grupo me proporcionou momentos maravilhosos, com certeza, conheci a dança através dele, provei realmente do sabor de dançar, e posso dizer, é muito gostoso, magnífico. Deixar o corpo falar, se envolver nos movimentos das coreografias de Fabiana Reis, fazendo dessa forma uma comunicação corporal. A dança nos dá uma liberdade infinita, sensação de viagem, prazer, FELICIDADE.

Hoje o Raízes está firme e forte, na luta, brilhando nos palcos, espalhando amor pela dança, contribuindo com a cultura, espalhando ritmo, movimento, alegria. Sim! Tudo isso, porque isso faz parte da dança, a união resulta em um grande trabalho.

Enfim, vibrei, vibro, torço muito por vocês. Sucesso! E não se esqueçam de ACREDITAR sempre e sintonizem-se no pensamento positivo. Gratidão!

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Rodrigo Reis Ex-dançarino

Quando entrei o grupo ainda era chamado de Cia de dança PFTM e lembro muito bem dos nossos ensaios. Chegamos até ensaiar no meio da rua, quando passava carro ou moto a gente saía do meio, mas era divertido.

Enfim, tudo era maravilhoso, eu sempre me orgulharei de ter participado, que hoje se tornou um fenômeno pelo país. Hoje não faço mais parte, mas sempre que dá acompanho e vejo sempre o esforço, a dedicação de cada um. Lembro-me sempre das nossas vitórias, nossos choros juntos, nossas apresentações.

A maioria delas em frente ao Pró-Álcool, a convite do professor Jones Castro que fazia os eventos na comunidade do Bairro do Carmo e nos convidava. Enfim, agradeço a Deus por essa oportunidade e tenho muito orgulho de todos que participam do Raízes, principalmente a pessoa que faz tudo isso acontecer, Fabiana Reis, para mim uma das maiores coreógrafas, professora, dançarina, amiga, prima e irmã.

Fabiana seja sempre assim como você é. Parabéns! Eu ainda vou ouvir falar muito de você nesse mundão a fora, você merece tudo isso que está acontecendo.

Gerciany Costa Ex-dançarina

Entrei no grupo em 2008 a convite de Francisca Reis, para as meninas que gostavam de dançar era tipo um sonho entrar no Raízes. Comecei fazendo participações em apresentações do grupo da escola representando o Cândido Oliveira. Sou bastante agradecida a Fabiana (Binha) por todos seus ensinamentos, suas coreografias cheias de emoções.

Todos os dias de ensaios nós perturbávamos “Dona Aparecida” que sempre nos acolheu de braços abertos em sua casa mesmo dizendo: “lá vem essas meninas que conversam alto, não sabem falar baixo”. Uma grande mulher que tenho um carinho enorme. Em nossas idas até o ensaio aconteceram tantas coisas, já teve carreira de bode, de vaca, onde pude viver momentos inesquecíveis ao lado de cada uma de vocês. Lembro-me do choro de felicidade nas competições, foram anos de aprendizado com elas “Fabiana” e “Tia Rosy”, pessoas que tenho carinho e respeito enorme. Pude acompanhar o crescimento profissional do grupo e de cada um dos bailarinos e posso dizer que fiz parte de muitas conquistas, foram diversas coisas boas nas quais pude viver e que o Raízes me propôs a viver. Momentos que irão ficar para sempre em nossas memórias e em meu coração.

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Aurora do Raízes do Nordeste

E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música.

O filósofo Nietzche, através das palavras ecoou no tempo o sentimento que é dançar. Quando se movimenta, não existe mais chão, flutua-se.

Ser bailarino não é fácil. Nós gastamos nosso tempo, dinheiro, estressamo-nos, machucamo-nos, às vezes ficamos desmotivados e nos perguntamos se fazer isso faz sentido. Por experiência própria sei que começar não é fácil; se todos os começos fossem fáceis não teria a menor graça, gostamos de desafios e é isso o que nos move.

Mover é a palavra e o sentimento quando vejo o Raízes do Nordeste em cena e nos bastidores. Não são apenas corpos se movendo, não são apenas coreografias milimetricamente pensadas e cansadamente ensaiadas. São corpos que se movem num ritmo vivo, que vem de dentro e que atravessa os seus expectadores e os transforma.

Conheci o Raízes através da turma de Dança Popular do Sesc, ainda lembro na primeira aula; eu admirada com aquelas meninas: negras, belas e com a dança na ponta dos pés! Senti-me uma peixinha fora d’água (nunca tinha feito uma aula de dança), mas com um tempo me enturmei e aproximei de algumas das meninas e comecei a conhecer suas histórias. E o que é a história se não as experiências do homem no tempo, no caso as mulheres – e da Vazantinha.

Toda história que se preze tem seus altos e baixos. No mundo da arte não é diferente. Quando vemos o Raízes no palco não imaginamos a saga que é construir, manter e propagar o grupo, principalmente pelo fator econômico. O grupo é grande, não apenas composto pelo corpo de bailarinos, mas por todos aqueles que estão nos bastidores ajudando: a família, os amigos e todos aqueles que acreditam no seu trabalho.

Não poderei expressar o papel individual de cada integrante no grupo, mas de uma maneira geral as suas representantes falam por todos eles. Fabiana Reis e Rosiane Theóphilo.

Tia Fabi, para seus alunos, pode ser considerada uma das melhores coreógrafas do atual cenário da dança na cidade de Parnaíba. O que ela fez pelas turmas de dança popular não tem comparação: deu visibilidade, mostrando que a cultura do nosso povo deve ser celebrada não somente em uma data, mas todos os dias, em cada aula e em cada “estica o pé menino” (que ela grita). O festival “Celebrar”, que ocorreu no Sesc Avenida foi à prova disso. Nosso III Festival de Dança Popular, mas o primeiro emancipado do festival de dança clássica, isso claro ela não fez sozinha, nós sabemos disso. Mas o esforço e a dedicação dessa menina, vai nos levar para longe, aliás, mais ainda. Admiro muito o que ela faz não somente na turma de popular, mas pelo o Raízes e que ela continue sempre voando alto, com a ganância de está bem e fazer os outros bem dançando.

Fabiana é a raiz do Raízes. É ela que cria, inventa e reinventa as coreografias mais ousadas que expressam a nossa região, ancestralidade e a história do povo nordestino. É ela que cuida, chora e ensina todos esses meninos que estão no grupo e aqueles que já passaram por ele. Ela é a ideia de não só formar um grupo de dança, mas reunir adolescentes da chamada “periferia” da cidade, para

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que não caiam nas mazelas que a vida pode proporcionar. Quando eu vejo o Raízes do Nordeste como família, as meninas Reis (Fabiana, Fernanda, Tatiana), meninos que assumiram quem naturalmente são se encontrando e sendo acolhidos, afilhados de eucaristia, crisma, fogueira... é que confirmo que o objetivo de incluir, aceitar e ser uma referência de base familiar é a cara desse grupo. Formar um grupo de dança, sem apoio financeiro, claro que é uma dificuldade, e assim não foi diferente com o Raízes, mas também não foi motivo e nem desculpa para não continuar a dançar. Conversando com Fabiana, recentemente na volta de uma apresentação, fiquei emocionada com os relatos do início do grupo. Estávamos conversando sobre os contos e as lendas que ouvíamos quando crianças – os quais alguns são inspirações no espetáculo “Berra Boi”, 2016 – e uma conversa puxou a outra, Fabiana me relatou que em uma das enchentes que ocorreu em Parnaíba, por volta de 2004, a região da Vazantinha, local onde elas moravam/moram com a família ficou totalmente alagado, e não diferente de muitas famílias de lá, a família Reis ficou desabrigada, tendo que ir morar em um dos alojamentos cedidos pela prefeitura, uma escola. Depois disso por volta de 2009 outra enchente ocorreu, mas dessa vez não os deixou desabrigados, pois a nova casa construída no terreno doado pela União, na qual ainda hoje é residência dos Reis, não foi afetada devido está em um nivelamento mais alto da rua. De todas as dificuldades que ouvi na conversa, várias coisas me chamaram atenção: a primeira delas é que mesmo em volta de um cenário não favorável, em meio a dificuldades, crescendo trabalhando para ajudar em casa, em nenhum momento pensaram em desistir dos seus sonhos ou se rebelar contra eles; a segunda foi escutar que mesmo com água nos pés, no início do Raízes, elas em nenhum dia se quer deixaram de ensaiar, porque deixar de ensaiar era deixar as meninas em ociosidade, temendo o tão lamentável mundo das drogas, do crime e de outras formas de ruptura da adolescência . Eu achei isso tão lindo de se ouvir, o sentimento de cuidado com o outro, superar todas as dificuldades para transformar a vida de alguém, investir em pessoas para dar uma formação. Anos se passaram e o Raízes se tornou um grupo conhecido. A decisão de sair de Parnaíba rumo aos festivais fora da cidade foi um desafio, o qual como membro de grupo, sei o tamanho das dificuldades. Para você participar de um festival não basta apenas ter vontade: hospedagem, alimentação, deslocamento, são preocupações mínimas que se deve tomar, agora multiplique tudo isso para umas dez pessoas. Não são fotos bonitas postadas, não são sorrisos fáceis em solo desconhecido, não é “luxar” por Brasil a fora que corresponde a imagem de um grupo piauiense, da “periferia” de Parnaíba lutando para conquistar seu espaço em um mundo que tão duramente seleciona o seu. É ousadia, enfrentamento, lutar pelos seus sonhos que tornou o Raízes do Nordeste tão grande. É ir lá para o Sul do Brasil, sentir frio, ter medo de não ter onde ficar, conhecer amigos que se tornaram anjos, dançar, ser aplaudidos, reconhecidos, seguidos, marcados na História da dança contemporânea da cidade, ser patrimônio vivo, atuante e dançante de Parnaíba.

Claro que Fabi não está sozinha. Além de Deus em primeiro lugar, Rose é o seu braço direito, suas pernas e seus olhos, ou seja, ela é tudo! É a administração, fotógrafa, produtora, carregadora, mão amiga. É quem guia com sentimento de lar; se tem uma pessoa que dança mais que os bailarinos é ela. Rose seu sorriso contagia e os move em cena. É aquela que não está dançando, mas não falta um ensaio. É a curadoria, quem abre a casa para a produção, dos espetáculos, quem fica mais nervosa nas apresentações.

Quando soube do projeto de aniversário do grupo só imaginei, “dossiê 15 anos de raiz: a aurora do grupo raízes do Nordeste”, o qual pelo visto realmente se tornou um dossiê. Levantamento de fotos, vídeos, documentos que marcam a trajetória do grupo durante esses 15 anos. E advinha quem está a todo vapor na pesquisa? Quando vejo os status de Rose com as fotos antigas do grupo, de gente que ainda continuou e outras que já saíram do grupo, dá um sentimento de nostalgia, acho que todos vamos sentir quando tudo for publicado, exposto, dançado. Segundo a tradição, a primeira fatia do bolo é dada aquele que temos mais afeto, Rose é uma delas. Assim como várias pessoas que estão desde o início de tudo ajudando, dando força e acreditando que é possível dançar a história de nossas raízes.

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Sempre vi o Raízes com o olhar de bailarina, amiga, assistindo aos espetáculos, vendo os bastidores, dançando e aprendendo junto com eles, mas agora preciso falar como historiadora.

A primeira vez que ouvi o nome Raízes do Nordeste, sempre achei um nome forte e bem característico da nossa região. Vendo as coreografias confirmei isso. São temas que falam da nossa história, das nossas raízes ancestrais de povos que resistiram a dominação do estrangeiro. Como mulher, negra e nordestina, sinto-me representada pelo Raízes, quando os vejo em cena, não só pela dança, estética ou história, mas pelo contexto, as vivências, as dificuldades.

E se de exótico o Brasil tem em todo, o Raízes do Nordeste tem um pouco, de muito! Dança o vaqueiro, as pescadoras, as marisqueiras, o lavrador; dança o Piauí, o Nordeste, o Brasil, a África; dança o místico, as lendas, o imaginário social. Dança a dança popular, mas a dança popular contemporânea, tem a raiz no folclore, mas um ar de contemporâneo perpassa o corpo dos bailarinos e nos encanta pela genialidade que é compor e contar uma história através do movimento, e da tão famosa composição, eternizada por Pina Bausch. A composição é a raiz do movimento, e de fato o Raízes do Nordeste consegue compor em cena.

Do olhar de historiadora, vejo o Raízes do Nordeste como o que ele é: Patrimônio vivo da cidade, que preserva e propaga a importância da dança popular para a história da cidade. Já foi tema de dissertação de mestrado e por aí sabemos que o grupo está no caminho certo, o de não só ganhar a vida, ser meio de trabalho, conhecimento, mas o de ser patrimônio da cidade. Como historiadora me sinto honrada pelo convite para escrever nessa data tão importante para o grupo e muito instigada para investigar essa relação da importância que é elevar a dança popular para a história de nossa cidade. Como bailarina, me sinto honrada de dançar ao lado desse grupo e compor a história viva.

Fazer da dança a arte da vida é difícil, requer esforço, trabalho e amor. Ter um grupo é mais difícil ainda, é preciso espírito de união. Sobre o raízes chego a conclusão que não é o sucesso que o faz mais forte, nem o brilho dançando, é o processo de construção e de aprendizagem de todos os dias de ensaio, as dificuldades que enfrenta para chegar no dia do espetáculo. É saber onde dói, para disfarçar a dor. E como alguém do meio, todo mundo sabe dançar, mas somente eles (nós) escolheram (mos) que viver da dança nos faz feliz e é de onde extraímos a nossa essência.

Viva a dança nossa de cada dia! Mariane Sales, historiadora e bailarina.

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Ao longo dessa caminhada, centenas de pessoas atravessaram-nos das mais diversas formas e nesses infinitos encontros, nossa dança foi fortalecendo-se e atualmente é a prova viva de insistência e resistência artística da cidade de Parnaíba-PI.

De forma gradual, surgiram os reconhecimentos ao nosso trabalho, dentro e fora do Piauí. O atravessar das mais diversas pontes tornou-se necessária para a consolidação do pensamento político e cultural em que estávamos nos propondo a construir, enquanto protagonistas de nossa história.

A cada nova fase, as metas vão se moldando ao que podemos visualizar do outro lado dessas pontes que nos ligam aos mais diversos lugares desse nosso país.

Vozes das raízes, com o mapeamento e registro da historiografia do Grupo Raízes do Nordeste desde o ano de 2003, contribui para o desenvolvimento das artes cênicas da região.

Que Vozes das raízes sirva de estímulo para as novas gerações, que outros jovens, grupos, amantes e artistas da dança possam se inspirar a trilhar seus caminhos.

GRATIDÃO ao Núcleo de Pesquisa e Memória das Artes Cênicas, situado no Sesc Avenida em Parnaíba-PI, que viabiliza o projeto Retocar com o apoio do Departamento Nacional do Sesc – RJ pela concretização de mais esse SONHO.

GRATIDÃO a cada um de vocês que nos auxiliou ao longo dos anos.

GRATIDÃO a cada integrante que um dia compôs a sintonia perfeita de nossa dança;

GRATIDÃO a cada um de vocês que contribuiu para a composição desse livro.

Nossa MISSÃO continuará até o dia em que Deus e os anjos da beleza e da arte permitirem a execução do nosso fazer artístico!

Um brinde ao AMOR que envolve a nossa dança!

Rosiane

Fabiana Reis – Artista da dança, diretora artística e coreográfica do Grupo Raízes do Nordeste. Graduanda do curso de Bacharelado em Educação Física - Uninassau. Instrutora de danças populares do Projeto Corpo em Cena desde 2014. Seu trabalho artístico já foi reconhecido e premiado em diversos projetos socioculturais e em festivais de dança pelo país. Microempreendedora da FR Artes.

Rosiane Theóphilo – Coordenadora e produtora cultural do Grupo Raízes do Nordeste. Pedagoga com Graduação em Licenciatura Plena em Pedagogia pela UFPI, Licenciada em Letras – Inglês pela UESPI e Especialista em Língua Inglesa pela FAP. Professora de Língua Inglesa da rede pública estadual do Piauí.

contatos:

Facebook: Raizes do Nordeste

Intagram: @raizesdonordeste

e-mail: grupoculturalraizesdonordeste@gmail.com

site: https://raizes-do-nordeste.webnode.com

Whatsapp: (86) 9 9449-4727

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