Memorial da Balaiada

Page 1

Memorial.DA. Balaiada

HISTORIAS DA GUERRA DO MARANHAO

´
~

© Copyright 2017

Vanda Marinha Silva

Todos os direitos reservados.

Memorial da Balaiada: histórias da Guerra do Maranhão

Créditos:

Este catálogo é parte dos resultados da pesquisa-ação “Memorial da Balaiada: uma proposta de educação Museal”, desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-graduação em Artes, Patrimônio e Museologia, Mestrado Profissional da Universidade Federal do Piauí.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

Reitor:

Prof. Dr. José Arimatéia Dantas Lopes

Vice-reitora:

Prof. Drª. Nadir do Nascimento Nogueira

Pró-reitor de Ensino de Pós-graduação:

Prof. Dr. Welter Cantanhêde da Silva

Diretor do Campus Ministro Reis Veloso: Prof. Dr. Alexandro Marinho Oliveira

Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Artes, Patrimônio e Museologia:

Prof. Drª. Áurea da Paz Pinheiro

Conselho Editorial:

Profª Drª Áurea da Paz Pinheiro

Rita de Cássia Moura Carvalho

Projeto | Pesquisa:

Vanda Marinha Silva Gomes

Capa, projeto gráfico e editoração eletrônica:

Victor Veríssimo Guimarães

Comunicação e Design:

Victor Veríssimo

Fotos:

Rita de Cássia Moura Carvalho

Editora:

VOX MUSEI arte e patrimônio

[...]”Foi em mil e oitocentos

No ano de trinta e oito

Quando explodiu a Balaiada

Com muitos cabras afoitos

Pra agarrar a burguesada

E (ó) cortar-lhe o pescoço

Unindo valentes vaqueiros

Raimundo Gomes Vieira

Na Vila da Manga chegou Assaltando a cadeia

À toda nação brasileira Um manifesto gritou”[...]

Magno José Cruz, 1998.

A epopéia dos guerreiros balaios na versão dos oprimidos

i. a cidade

Com histórico riquíssimo devido à formação étnica, a história de Caxias inicia-se no século XVII com os Movimentos de Entradas e Bandeiras ao interior do Maranhão para o reconhecimento e ocupação das terras às margens do Rio Itapecuru. O perímetro onde está situada a cidade, outrora, foi um território povoado por aldeias dos índios Timbiras e Gamelas, que num processo de colonização, foram vendidos pela coroa portuguesa como mercadorias.

Num processo de construção de identidade, vários foram os nomes dados ao lugar. Guanaré, São José das Aldeias Altas, Arraial das Aldeias Altas, Freguesia das Aldeias Altas, Caxias das Aldeias Altas e Vila de Caxias e em 1836, por fim, Caxias. No ano 1858, o padre Dom Manoel da Silveira, antístite da Igreja de São Benedito, a conclama de “A Princesa do Sertão Maranhense”.

Sendo uma das cinco principais cidades do Maranhão, localizada a 354 km da capital São Luís, com uma população estimada em 161.137 habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. A economia baseia-se na prestação de serviços e no comércio. Apresenta uma diversidade de belezas naturais, sendo reconhecida como terra das águas cristalinas, com diversidade cultural, tendo como uma das manifestações peculiar na região a dança do Lili, manifestação popular genuinamente caxiense, que traz em seus traços identitários, cânticos, molejos dos trabalhadores da roça. De uma culinária rica que traz como referência gastronômica: o pirão de parida – prato típico da culinária caxiense.Terra de grandes ilustres da literatura brasileira como Gonçalves Dias, Teófilo Dias, Coelho Neto, Vesparsiano Ramos, Raimundo Teixeira Mendes e outros.

Além de toda contextualização histórica e cultural, Caxias foi palco de uma das maiores Revoltas populares do Nordeste Brasileiro do século XIX, a Revolta da Balaiada, ocorrida entre 1838 a1841, período colonial da História do Brasil.

ii. a balaiada

Na historiografia brasileira, a Revolta da Balaiada foi um dos episódios mais sangrentos e marcantes do contexto das revoltas populares no período Brasil Colônia, tendo como desfecho trágico 10 mil mortos, entre os anos 1938-1842, século XIX, Acontecido na província do Maranhão, estendendo-se para o estado do Piauí e Ceará.

A história oficial apresenta fatos que inicia-se com a luta pela adesão à independência de Caxias, quando tropas comandadas pelo major Salvador Cardoso de oliveira e por João da Costa Alecrim derrotaram as tropas legalistas do militar João Cunha Fidiê. Naquele contexto, Caxias era a vila mais importante da província maranhense.

Documentos oficiais, relatam que a deflagração da Balaiada deu-se pelo recrutamento forçado e a criação da Lei para cargos de Prefeitos e Subprefeitos municipais que notadamente havia excesso de abuso de poder e violência contra a classe popular, subalternas. O movimento teve inicio em 1838 na Vila da Manga do Iguará, atual município de Nina Rodrigues (MA), com a chegada de um dos líderes do movimento Raimundo Gomes Vieira acompanhado por um grupo de vaqueiros, tendo como finalidade inicial libertar seu irmão e demais homens que encontravam-se presos em virtude de prestar serviço militar.

Outra figura importante no movimento foi a Francisco dos Anjos, modesto fabricante de balaios, que teve suas duas filhas violentadas por militares das tropas legalistas, viu-se movido por sentimento de vingança e juntou-se ao demais, fortalecendo aquela comitiva de trabalhadores, transformando-se em soldados do povo.

O exército do povo, os balaios, como ficaram conhecidos, tiveram algumas vitórias e um dos marcos mais significativo nesse percurso, foi a ocupação da cidade de Caxias, segunda maior cidade do estado na época, pelo ano de 1939, por ser uma cidade privilegiada pela posição geográfica. Bem que se diga, que as lutas dos balaios, tiveram um caráter de ações políticas, nesse momento formaram uma junta provisória e exigiam basicamente, cargos administrativos, anistia aos combatentes, fim do recrutamento e melhores políticas de distribuição de terra, nada mais que revindicar por direitos a todos.

Diante do novo quadro, as forças governamentais sentiram-se ameaçadas fazendo com que o governo central se posicionasse e pedisse reforço às tropas do Coronel Luis Alves de Lima e Silva para conter os ânimos e os atos do povo revoltados, fazendo com que o coronel mandasse edificar um quartel militar na parte mais privilegiada geograficamente da cidade, lugar estratégico, por ter uma visão que permitia observar quem chegava e saia da cidade, o morro das Tabocas; Morro do Alecrim, sob a alegação de zelar pelos interesses nacionais. Ali foi erguido o quartel e um depósito de armamentos.

No ano de 1840, os balaios sobreviventes à luta de Caxias juntaram-se ao numeroso grupo de homens liderados por Cosme dos Santos, quando D. Pedro II assumiu o poder e decretou anistia aos revoltosos. Manuel dos Anjos morreu em combate, Raimundo Gomes foi preso, o jornalista piauiense, Lívio Lopes Castelo Branco fugiu, alguns balaios se refugiaram no estado do Ceará, onde conseguiram apoio dos nativos, os que restaram, aceitaram a anistia. Cosme e seu pelotão continuaram lutando e em

1841, os governos do Maranhão e Piauí anunciaram “pacificação” de suas províncias. Após a chamada pacificação, Cosme ainda enfrentou sua última batalha sendo ferido e preso, condenado à morte em 1842, foi levado à forca, em praça pública, no município de Itapecuru Mirim – MA, sua morte foi um troféu das chamadas forças legalistas, consequentemente ao exército brasileiro. Os revoltosos presos foram absorvidos pelo imperador Dom Pedro II. A vitória sobre a balaiada levou o coronel Luís Alves de Lima e Silva a ser condecorado pelo imperador com um título de nobreza: Barão de Caxias.

Interessante afirmar que atualmente existe um movimento popular/social, que discute o movimento da Balaiada, na perspectiva de inversão de valores, trazendo a tona discussões que desconstrói o interesse de manter a figura de Luis Alves de Lima e Silva como o grande herói da Balaiada.

Na nova configuração histórica, a Balaiada foi um movimento de libertação do povo sob o julgo do poder, assim como, as arbitrariedades impostas pelas tropas do governo português. No processo de luta, as instituições de fomentos culturais e de construção de conhecimentos reflexivos, novos heróis surgem e a figura do Negro Cosme destaca-se pela articulação política, poder de liderança, como novo herói, desencadeando novos olhares, para que a sociedade ressignifique a história da Revolta da Balaiada.

A ocupação criativa do espaço do antigo quartel militar culminou em ações públicas. Em 1990, foi decretado o tombamento do Centro Histórico de Caxias, o que inclui as ruínas do antigo quartel, pelo Governo do Estado do Maranhão, através do Decreto nº 11.681 de 29 de novembro do referido ano.

Entre 1997 e 1998, a Secretaria Municipal de Caxias e técnicos do Departamento do Patrimônio Histórico e Paisagístico do Maranhão executaram projetos de pesquisa arqueológica associada ao antigo quartel e entorno: a valorização e revitalização da área incluiu a consolidação estrutural das ruínas e pesquisas arqueológicas, coordenada pelo arqueólogo Deusdedit Carneiro Filho contou com a participação de estagiários do curso de História e Geografia da Universidade Estadual do Maranhão. Em dezembro de 2004, foi inaugurado o Memorial da Balaiada, instituição museológica cuja missão e vocação é conservar, investigar, comunicar e expor um rico e complexo acervo sob sua gestão a história da Revolta da Balaiada (1838-1842) do ponto de vista dos Balaios, um episódio da história emblemático para os residentes da cidade.

Localizado no Morro do Alecrim, lugar emblemático representado pela territoriedade histórica e carregado de simbolismo. Na parte externa do museu, nos deparamos com o jardim com esculturas de representação dos balaios e a frente, a praça inaugurada em 1969, na gestão do então prefeito Aluízio Lobo, em homenagem ao Duque de Caxias, com forte símbolo de poder “militar”, composta pelo

busto austero do patrono de exército brasileiro Luís Alves de Lima e Silva, e pelos canhões, personificação representativa da força e intimidação social, assim como a perpetuação das ruínas..

Vale ressaltarmos, que existe uma relação de poder que estão inter-relacionados nesse contexto, no mesmo espaço de simbologia de poder militar, também é contemplado, pela Faculdade de Ensino Superior – FESM, hoje, Universidade Estadual do Maranhão, criada pela Lei 3.260 de 22 de agosto de 1972, símbolo do poder científico, social e reflexivo, que busca ressignificar a Balaiada como movimento de resistência e de construção de identidade e desconstrução do herói que aniquilou 10 mil homens. Trazendo discussões que dignifiquem a figura de Negro Cosme como grande herói da Balaiada.

No Maranhão e, especialmente, na cidade de Caxias, a Universidade Estadual do Maranhão através do curso de História fomenta juntamente com entidades e movimentos sociais, através de debates, simpósios e ações afirmativas, a construção documentos históricos que comprovem de forma embasada que Cosme Bento das Chagas, tornou-se um dos maiores líderes dos balaios, chegando a comandar um grupo de mais de três mil homens, fundando um dos maiores quilombos do Maranhão. Tornando-se um símbolo de resistência contra a escravidão no século XIX, corroborando na nova leitura e configuração do movimento social e de luta ressignificando a historiografia Maranhense.

iii. o memorial da balaiada

iv. o acervo

O museu conta com o acervo com mais de 378 peças, catalogadas e registradas no Livro de Tombo, contendo artefatos arqueológicos, restos de armamento, balas de chumbo, projéteis, botões e fivelas dos militares e de homens e mulheres que fizeram parte da revolta, porta-tinteiro, chaves, fragmentos de ossos, espadas de oficiais, instrumentos de suplícios como palmatória, correntes, gargalheiras, artefatos de cozinha, reproduções de azulejos, reprodução de obra de arte (quadro de Gonçalves Dias), louças de porcelanas, oratório, piano, baús, conjunto de sala, retratos de cidadãos caxienses, esculturas de argilas representando os balaios, maquete reproduzindo Caxias em sua fundação, xilogravura da artista caxiense Tita Silva do Rego que contempla a cidade, a história, a cultura, a memória afetiva da artista e o imaginário infantil.

v. os públicos

Sendo vocacionado a um museu-escola e como Centro de documentação, atende principalmente ao público estudantil, em diferentes níveis de escolaridades, pesquisadores, professores e turistas.

Ficha de Identificação de Acerrvo Objeto Nº. 017

Nome: Porta Tinteiro

Categorial: Utilitário

Modo de Aquisição: Doação

Fonte de Aquisição: Família Lobão

Época: (data/época): Século XIX

Procedência: Caxias – MA

Material/Técnica: Vidro Acrílico

Estado de Conservação: Bom

Dimensões:

17 cm comp. X 11cm larg. X 4 cm de Altura

Descrição: Recipiente em vidro transparente, de forma retangular. Na parte de trás três (03) orifícios finas e circulares, sendo o do meio mais raso. Na parte da frente declive para apoio das penas (canetas). Possuem duas tampas em material acrílico nas cores vermelha e preta. De formato circular com alça (orelha) também circular.

vi. diagnóstico

O diagnóstico realizado no Memorial da Balaiada, surgiu da necessidade em cumprir créditos da disciplina Gestão Museológica, referente ao Programa de Pós-Graduação do Mestrado em Artes, Patrimônio e Museologia, da Universidade Federal do Piauí, em conhecer e traçar a dinâmica museológica e a real situação desse museu no interior do Maranhão.

A realização da pesquisa para elaboração do estudo diagnóstico, ocorreu no período de julho a setembro de 2015, para a análise foi usado o Método SWOT, ou análise FOFA (Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças), em português, que nos permitiu analisar a Instituição. Trata-se de uma ferramenta muito usada, servindo como base para gestão e planejamento estratégico de uma corporação ou empresa. É um instrumento fácil de ser utilizado, simples, o que permite ser aplicado na análise de cenário desde a criação de uma rede social à gestão de uma multinacional. Portanto, esse instrumento nos permitiu traçar um diagnóstico, identificar e analisar as forças, oportunidades, fraquezas e ameaças do Memorial da Balaiada; vivenciar as práticas museológicas no espaço, compreender a sua missão institucional e salvaguarda do acervo, a imagem do museu na comunidade, a estrutura organizacional, os investimentos/recursos, a comunicação, os serviços prestados à comunidade, dentre eles os serviços de educação e ação cultural. Para traçar o perfil da análise, observamos as práticas vivenciadas no Memorial, conversamos com os profissionais que ali trabalham e participamos de algumas ações. Diante da vivência, traçamos os resultados.

O Diagnóstico global revela:

Fortalezas:

• Documentação Museológica e Museográfica: Inventário, Livro de Tombo do Acervo museológico e arqueológico;

• Parcerias sócio educativas e de preservação do patrimônio com o Serviço Social do Comércio – SESC, escolas da Educação Básica, Universidade Estadual do Maranhão – UEMA, Tiro de Guerra (Exército Brasileiro); (Refere-se a palestras educativas relacionadas ao patrimônio, divulgação e efetivação de exposições de fotografias, campanhas educativas e locação de espaços para divulgação de eventos culturais, artes visuais e outros);

• Valorização do monumento arqueológico;

• Preservação da História social e cultural, fonte de criação do museu;

• Reconhecimento do trabalho sócio educativo do Memorial pela comunidade, através de ações educativas, mediações e divulgação histórica e documental acerca da Balaiada;

• Pesquisa arqueológica;

• Presença do profissional da museologia (museóloga).

Fraquezas:

• Necessidades de acondicionamento adequado e de implantação de uma rotina de conservação e higienização do acervo;

• Falta de acessibilidade para deficientes físicos e de políticas educativas para pessoas com deficiência visual (material tátil);

• Falta de regularidade em atividades educativas no museu (refere-se a complementação de atividades artísticas, lúdicas e de discussão sobre o tema, logo depois da mediação – visita guiada);

• Ausência de rotatividade do acervo - permanência do acervo de forma inalterada desde a inauguração do circuito museólogo;

• Reserva técnica inadequada, assim como acondicionamento de acerco documental (falta de biblioteca);

• Pouca divulgação e difusão do acervo, dos eventos e das atividades do museu;

• Falta de recursos humanos, assim como a falta de qualificação para os trabalham no memorial;

• Falta de autonomia para gerir e captar recursos da Associação dos Amigos do Memorial.

• Reforma e manutenção do prédio, assim como a segurança ao acervo;

• Falta de bebedouros e banheiros adaptáveis a pessoas com necessidades especiais;

• Acessibilidade ao museu.

• Falta de atividades educativas e diversificadas que fortaleça a compreensão do tema principal. Como: exibições de documentários, diálogos reflexivos, releituras do acervo, etc;

• Falta de climatização no prédio.

Ressaltamos que o museu teve alguns avanços, porém precisa adaptar-se às dinâmicas do campo museológico como por exemplo, manter atividades educativas voltadas para a diversidade de público que dialoga com o território, Pois as que existem não completam a todos, as atividades restringe-se a dramatização, ações voltadas especificamente o para um público infantil. Criar estratégias para um museu dinâmico, com rotatividade do acervo, devendo dinamizar as exposições de longa e curta duração, fazer uma reelaboração no circuito museológico, iluminação e climatização do ambiente são precárias, qualificar os servidores, dentre outras ações.

Outro fator vital para qualquer museu é a criação e revisão do Plano museológico e Museográfico, ambos relevantes para a compreensão da instituição como espaço de conhecimento de comunicação, de educação e de cultura. A atualização dos referidos planos, são imprescindíveis para uma boa prática de gestão e planejamento museológicos.

A falta de uma biblioteca também se faz necessário urgentemente, pois o Memorial contém um acerco documental significativo, referente à Revolta da Balaiada, contendo documentos originais de comunicação entre os balaios que carecem de conservação adequada ao manuseio e preservação dos mesmos, assim como um profissional habilitado para conduzir os trabalhos de pesquisas.

Caso houvesse o planejamento estratégico, a criação e discussão do plano museológico, parte dos problemas do Memorial seriam sanados, trazer a comunidade para a roda de conversa , amenizaria algumas fraquezas e fortaleceria o dialogo com a comunidade, na tomada de decisão em relação ao museu.

vii. uma proposta educativa

Na melhor compreensão do tema a ser trabalhado nas ações educativas do Memorial da Balaiada, consideramos os procedimentos que irão nortear e promover uma aprendizagem significativa para o público que nos visita, tendo como centro atividades refletivas e lúdicas no intuito de construir o conhecimento a cerca da balaiada e da preservação e ressignificação de uma história de povo.

Procedimentos Metodológicos

Público: escolar com idade entre 10 a 12 anos

Quantidade: 30 alunos

Tempo de execução: 02 horas

Material: jogos educativos (quebra-cabeças com fragmentos das obras especificas: xilogravura e maquete da cidade); desenho e pintura; papel chamex; lápis de cor e cera; barbante.

Objetivos:

• Compreender o museu, como uma fábrica de conhecimentos históricos;

• Proporcionar um contato com o tema revolta da Balaiada, identificando a possível relação com a história de vida daquelas pessoas e a história de vida de cada uma das crianças;

• Oferecer elementos teóricos e visuais para a leitura e interpretação do acervo do museu;

• Possibilitar vivência prática e de criação artística a partir das leituras orais advindas do processo de mediação (visita guiada);

• Oportunizar produções artísticas individuais e ou coletivas no museu,

• Socializar a produção plástica no Memorial.

Primeiramente houve um planejamento entre a gestão do museu e estagiária, considerando o público específico, alunos de faixa etária de 10 a 12 anos das escolas no entorno do Memorial da Balaiada. A escolha desse público se fez pelo fato da escola efetivar agendamento para visita

ao espaço. A definição da escola não inviabiliza a participação de visitas espontâneas e tão pouco reajustar o público visitante na atividade.

No intuito de atingirmos os objetivos propostos, usamos as estratégias:

1 – Apresentação do Espaço e dos agentes mediadores, assim como as orientações e esclarecimentos em relação as regras do museu;

2 - Mediação (visita monitorada) com as crianças, iniciando pela parte externa, tendo como princípio as ruínas e depois as personagens do Movimento, tendo sempre o cuidado de fazer intervenções com a participação dos mesmos, fazendo uso de dramatizações, perguntando quem quer participar do enredo dramático.

3 - Exposição na parte interna do museu – fazendo relações com questionamentos acerca de quem tinha adentrado o espaço e ou conhecia a história dos balaios? A mediadora ouve atentamente as discussões fazendo as intervenções cabíveis acerca do tema central – A Balaiada;

4 – Escolhida antecipadamente as obras que serviram de apoio para as atividades pós- exposição oral. Faz-se uma explanação mais apurada daquelas ou daquela obra e organiza-se as atividades complementares.

5 – Dependendo do número de alunos divide-se o grupo em quatro subgrupos no espaço do auditório e a colaboradora – estagiária, organiza as atividades de releitura do tema, usando como exemplo, a obra xilográfica de Tita Rego, propondo desenho, pintura, montagem de quebra cabeça, produção oral sobre o que virão no museu. Atividade proposta é para ser executada em uma hora.

Após a execução das atividades, é solicitado aos estudantes para relatarem as suas impressões sobre o conhecimento adquirido na visita, apresentando suas produções individuais e/ou coletivamente. No final dos relatos e socialização de suas produções, as obras são expostas em murais e/ou varal, fotografadas posteriormente e depois devolvidas à escola.

O processo de devolução das produções artísticas das crianças somente acontece posteriormente, devido a avaliação que é feita pelos profissionais envolvidos no processo, incluindo a participação dos professores das escolas participantes. É o momento de avaliar se o planejamento das ações educativas acontecidas no museu estão atendendo o processo de construção do conhecimento e de sensibilização da história e da importância de preservar o patrimônio por meio de práticas de sensibilização educativa nos espaços de difusão cultural.

A importância do setor educativo nos museus, pode e deve ser analisado na dinâmica de possibilitar diálogos com a sociedade, mostrando sua contribuição social, afirmando o quanto se faz necessário a colaboração de professores, arte educadores, gestores e funcionários do museu favorecendo a colaboração, no sentido de propiciar construção de identidade e reconhecer-se enquanto sujeito daquele espaço, mediante ações educativas planejadas.

viii. a xilogravura “A Balaiada” da artista Tita da Silva

A escolha da xilogravura, “A Balaiada”, surgiu a partir de observações acontecidas nas mediações (visitas guiadas) com o público infantil no Memorial da Balaiada. O universo exposto na obra revela uma identificação com história de vida de cada um. A artista, Tita da Silva, imprime de forma lúdica a contextualização da cidade, inserindo em seus traços, a história do povo caxiense, com cores e formas pertinentes ao entendimento de quem visita o Memorial, desconstruindo o peso do massacre, bruto e violento da Revolta da Balaiada, mas, sim, sintetizando todas as nuances históricas e das contribuições que fizeram de Caxias uma cidade com belezas naturais e culturais, reproduzindo ali, a identidade de um povo que ressignificou a história dos vencidos, em vencedores.

Dentre todo o acervo exposto no Memorial da Balaiada, a xilogravura da artista plástica caxiense Tita do Rêgo Silva, tornou-se emblemática, como obra que mais representa o entendimento sobre o século XIX, a dinâmica da cidade caxiense e a Revolta da Balaiada compreendida a partir do imaginário infantil. A artista faz análise histórica através de lendas entremeando com o universo de suas origens. Ali, está registrada suas primeiras experiências artísticas, remetendo a pinturas nos cacos dos jabutis que passeavam em seu quintal, passeando por lendas do imaginário popular até expressar em cores e traços marcantes o masacre do povo por dias melhores, luta que permeia até hoje os escombros de uma Caxias que foi palco de disputas, lutas, mortes e legados de homens que lutaram por dignidade humana.

A xilogravura foi usada quase sempre nas ações educativas como pano de fundo para transmitir conhecimentos históricos, de uma forma lúdica e prazerosa, talvez passado de outra forma, tornaria bem distante o entendimento do fato histórico e da própria construção da história delas (as crianças) como seres integrantes dessa sociedade.

A obra em questão tem como título “A Balaiada” com metragem de 7M de comprimento X 70 cm de largura, na cor vermelha predominante, que ilustra a cidade no período de sua fundação com a contribuição indígenas, pelos símbolos: as palmeiras, que remete a

contribuição literária de Gonçalves Dias – Canção do Exílio, passando pela cultura popular riquíssima, pelo rio Itapecuru, lendas, até o estopim do Revolta da Balaiada em 1841.

Xilogravura – xilon, em grego: madeira; gravura – desenho.

Desde os primórdios, a gravura se faz presente na vida do homem, primeiramente, nas cavernas, em seguida sobre superfícies de barro, pedra, metal etc. daí surge a xilogravura não propriamente como uma arte, mas sim como uma necessidade primeira de multiplicação da escrita.

Diante do avanço pelo qual a humanidade passa, a xilogravura teve como suporte a seda e posteriormente o papel. Um aspecto relevante da xilogravura era a sua reprodução em consequência da religiosidade, por transmitir de forma acessível com os ensinamentos da igreja.

No Ocidente, a xilogravura inova não por representar o alfabeto e sim por contribuir com o figurativo. Como o passar dos séculos, a xilogravura conquista sua importância nas obras de grandes artistas do século XX, como Valloton, Gauguin e Munch, e muito antes influenciou de forma decisiva a arte de Durer (Renascimento).

No Brasil, a gravura chega com a família Real, em 1808, mas só se amplia e se firma com a instalação da Impressa Régia, do Arquivo Militar. Anos mais tarde, surgem vários cursos para ampliar as técnicas de gravação.

Nessa mesma época surgem os autodidatas Lasar Segal, Osvaldo Goeldi e Livio Abramogue. Posteriormente, criam a Fundação do Atelier Coletivo do Recife e dos Clubes de Gravura do Rio de Janeiro, São Paulo e Santos, partindo daí o exemplo nas novas gerações de gravadores.

A xilogravura incorporou-se e manteve sua tradição popular no Nordeste do Brasil, ilustrando a literatura de Cordel. Os folhetos de Cordel foram trazidos ao Brasil pelos colonizadores portugueses. Estes são pequenos livretos vendidos em feiras populares onde os temas abordados são: histórias de cangaceiros, milagres, crimes hediondos, aventuras e alguns clássicos da literatura, onde o público geralmente é composto por pessoas de pouca instrução.

No Maranhão, a xilogravura ganha destaque nas obras dos artistas Airton Marinho (São Luís), e Tita do Rego Silva (Caxias). Nascida em Caxias no ano de 1959, filha de um carpinteiro e de uma costureira, moradora de bairro tradicional de Caxias, o Cangalheiro. Traz em seu dna, matizes de infância alegre, onde as cores lhe eram recursos de sua criatividade e os cacos de seus jabutis foram as telas mais exuberantes de sua criatividade. Formou-se em Artes Plásticas pela Universidade de Brasília e galgou vôos internacionais. Residindo na Alemanha, onde tem atelier e vive de sua arte, a xilogravura. Ilustrou diversos livros e presenteou o Memorial da Balaiada com a matriz uma obra que retrata a história da cidade, sintetizando os acontecimentos mais emblemáticos para o povo caxiense a Balaiada, entremeando de vida, de contos, lendas e açoites a obra, contribuindo para a divulgação e projetando a sua história e memória da cidade, para além dos limites do Maranhão.

[...]”O Balaio chegou!

O Balaio chegou!

Cadê o Branco?

Não há mais branco!

Não há mais sinhô!

Cantiga que os antigos quilombolas

costumavam entoar na revolta da Balaiada. MOURA, Clóvis. Rebeliões da Senzala.São Paulo: LECH, 1981.

Soluções Gráficas:

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.