Vila Itororó: Uma história em três atos, por Sarah Feldman e Ana Castro

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CULTURA E COTIDIANO: O TOMBAMENTO EM QUESTÃO

CULTURE AND DAILY LIFE: HERITAGE LISTING IN QUESTION

Em 1981, um anúncio no jornal O Estado de S. Paulo 106, oferecendo a incorporadores um “magnífico terreno com três frentes“ e 4.965 m2, no centro, mobiliza a seção paulista do Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB, que encaminha um pedido de tombamento da Vila Itororó para o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico – Condephaat. Ancorada na proposta de recuperação urbana de 1975, a solicitação era justificada por “considerar o conjunto uma construção singular, um testemunho da ocupação histórica e espontânea da cidade” e “pelo seu caráter sui generis”107.

In 1981, an ad in O Estado de S. Paulo 106 offers for incorporators “a magnificent three-front plot” measuring 4.965 m2, at the city center, mobilizing the São Paulo section of the Architects Institute of Brazil - IAB, which then submits to the Historical, Artistic, Archaeological and Touristic Heritage Defense Council - Condephaat a request for the heritage listing of Vila Itororó. Based upon the urban recovery proposal of 1975, the request was justified by “considering the ensemble a singular construction, a testimonial to the city’s spontaneous historic occupation” and “by its sui generis character” 107.

Se as duas propostas para a Vila – tanto a do Sesc como a que embasava o pedido do IAB – silenciaram sobre o destino de seus moradores e sobre a moradia como parte da sua história, no Condephaat essas duas questões são trazidas para o centro do debate, a partir do momento em que o pedido é encaminhado para estudos de tombamento. Tal debate, apesar de emergir entre as quatro paredes das reuniões do Conselho, expressava a posição de um leque mais amplo de profissionais envolvidos com a cidade, sua história, seu patrimônio.

While both proposals for the Vila that of Sesc and the one behind IAB’s request - were silent on the destiny of its inhabitants and on housing as part of its history, in Condephaat both issues were brought to the center of the debate, from the moment when the request was submitted for heritage listing studies. Although this debate emerged within the four walls of the Council’s meetings, it expressed the position of a broader range of professionals involved with the city, its history and heritage.

Uma afirmação de Lina Bo Bardi ao Jornal da Tarde em 1977, ao iniciar os trabalhos do Sesc/Fábrica Pompeia, sinaliza de forma singela uma visão das relações entre a história de um edifício e a história da cidade para além de sua materialidade: “Preservar a fábrica é preservar um pedaço da história da cidade, mas um pedaço da história

A statement of Lina Bo Bardi to the Jornal da Tarde in 1977, when the construction of Sesc/Fábrica Pompéia began, expresses, in a simple way, a point of view on the relations between the history of a building and the history of the city beyond its materiality: “To preserve the factory is to preserve a piece of the city’s history, but a piece

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