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Ficha Técnica Título: Villa da Feira - Terra de Santa Maria 4
Propriedade: LAF - Liga dos Amigos da Feira ® Director: Celestino Portela Director Adjunto: Fernando Sampaio Maia Colectivo Editorial - Fundadores LAF: Alberto Rodrigues Camboa; António Luís Carneiro; Carlos Gomes Maia; Celestino Augusto Portela; Joaquim Carneiro Processamento de Imagem e Design: Joaquim Carneiro Coordenação Científica: J. M. Costa e Silva Supervisão Editorial e Gráfica: Anthero Monteiro Colaboração do TOC, Belmiro da Silva Resende Periodicidade: Quadrimestral Assinatura anual: 30 euros Assinatura auxiliar: 50 euros Este número: 15 euros Pagamentos por:
Publicidade: Telef.: 965 310 162 | 256 379 604 Fax: 256 379 607 Tiragem: 400 exemplares Edição: N.º 34 - Junho de 2013 Pré-impressão, Impressão e Acabamento: Empresa Gráfica Feirense, S. A. Apartado 4 - 4524-909 Santa Maria da Feira Sede Social: Edifício Clube Feirense - Associação Cultural Vila Boa - 4520-283 Santa Maria da Feira Email: villadafeira@gmail.com http://www.villadafeira.blogspot.pt/ Depósito Legal: 180748/02 ISSN: 1645-4480 Reg. ICS: 124038 Depositária: Livraria Vício das Letras Rua Dr. José Correia e Sá, 59 4520-208 Santa Maria da Feira
Transferência bancária NIB 007900001127152910124 Cheque à ordem de LAF - Liga dos Amigos da Feira
Apoios: Câmara Municipal Santa Maria da Feira
Capa: Alfredo Luz - 1980. Retrato de Fernando Pessoa.
Irmãos Cavaco, S.A.
Óleo sobre tela 67x67cm
E. Leclerc
Fotografias: Óscar Maia, J. M. Costa e Silva, Filipe Pinto,
Termas das Caldas de S. Jorge
Biblioteca Municipal, Gabinete da Comunicação Social, Arquivos
Sociedade de Turismo de Santa Maria da Feira
particulares, LAF e Fotos Web por António Madureira.
Patrícios, S.A.
Redacção e Administração: Apartado 230 • 4524-909 Feira
Central Lobão.
Foto de Clara Azevedo
PÓRTICO
Maria do Carmo Vieira*
Passo e fico, como o Universo. Termina assim o poema de Alberto Caeiro que construído circularmente se inicia com a despedida do poeta aos seus versos, que partem para a humanidade. Uma consciência seguramente profética da imortalidade da sua poesia, que justifica plenamente o ter sido sentido por todos os «amigos» como o «Mestre», aquele cujas palavras terão naturalmente «uma influência benéfica na alma dos outros», como à sua poesia se referiu Ricardo Reis, o heterónimo de Fernando Pessoa com cultura clássica, ou o semi-heterónimo Bernardo Soares, «guarda-livros na cidade de Lisboa», que relendo o verso de Caeiro «Sou do tamanho do que vejo» se sentiu liberto e «por dentro» uma «paz indecifrável». Familiares que somos da obra pessoana e do seu drama em gente, porque leitores assíduos e atentos à intervenção dos seus vários actores, numa encenação magistral e sofrida do criador, esquecido de si próprio, testemunhamos a sua grandeza, reconhecida universalmente. A ela nos referiremos no dia 13 de Junho, num encontro cujo convite agradeço profundamente ao meu querido amigo Dr. Celestino Portela, conhecido pessoano que a todos contagia e fascina pelo seu conhecimento da obra do Poeta e pela sua dedicação, de anos e anos, a tudo o que diga respeito a Fernando Pessoa. Uma palavra de sentido apreço à Liga dos Amigos da Feira, ao Agrupamento de Escolas Fernando Pessoa e à Câmara Municipal de Santa Maria da Feira por esta tão relevante iniciativa.
* Licenciada em Filologia Românica, mestre em Literatura de Viagens e Professora do Ensino Secundário. Tem vários livros publicados sobre ensino e viagens; em 2010 publicou o Ensino do Português, editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, Lisboa.
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SUMÁRIO
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Pórtico Maria do Carmo Vieira
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Mensagem Rafael Portela da Silva
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Poesia Anaas
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As Raízes de Fernando Pessoa em Terras de Santa Maria Maria Lucília Lencart
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Poesia Francisco Pinho
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Entre-Guerras Filomena Pinheiro
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Evocação de Fernando Pessoa na Vila da Feira e em Santa Maria da Feira Joaquim Carneiro
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Lançamento do Livro “Retratos Legendados” Serafim Guimarães
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Poesia António Madureira
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Celebração da Festa de S. Sebastião. Santa Maria da Feira, 20 de Janeiro de 2013 Dom João Lavrador
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Aos Bisnetos da Minha Mãe Rosa Amélia Soares Martins
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Carta Inédita do Padre António Vieira Carlos Maduro
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A Propósito de Aristides de Sousa Mendes Maria do Carmo Vieira
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Poesia Anthero Monteiro
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Fernando Pessoa Heterónimos Serafim Guimarães
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Poesia Manuela Correia
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Os Génios Também Fazem Favores Orlando da Silva
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Poesia Anaas
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Aquilino Ribeiro Homenageado no 25 de Abril com Apresentação do Livro de Manuel de Lima Bastos
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Agradecimento Manuel de Lima Basto
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Poesia Manuel de Lima Bastos
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Carta aos Leitores de Manuel de Lima Bastos Dom Manuel da Silva Martins
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A Moral e o Direito Jorge Augusto Pais de Amaral
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Poesia Anthero Monteiro
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Bestiário Nemesiano Maria da Conceição Vilhena
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Poesia António Madureira
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Memórias e Impressões no 100.º Aniversário do Nascimento
do Poeta Edgar Carneiro (1913- 2013) Anthero Monteiro
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Poesia Manuela Correia
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Que Retrato Para Fernando Pessoa? Celestino Portela
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Poesia Francisco Pinho
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Postais do Concelho da Feira Ceomar Tranquilo
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Foto de Eugénio Silva
MENSAGEM Rafael Portela da Silva* É em tempo de crise e mudança que a poesia me dá mais sentido. É especialmente quando perdidos e desorientados, que descobrimos algum desabafo e reconforto nas palavras dos poetas. Igualmente, acredito que durante estados alegres, e até eufóricos, se encontra expansão naquele aglomerado de letras, que quase por destino se juntaram para formar frases capazes de despertar, ou intensificar, o que de mais único temos, as emoções. Assim me assumo, um fã dos poetas. Dos maus, dos bons, dos intermédios, mas um fã geral daqueles seres destemidos, que seguindo o seu instinto, apenas com uma tela e um pincel, desenham sobre os mais diversos temas. Enfim, de todos que se atrevem a “poetar”! Há quem pinte sobre tudo e há quem pinte sobre nada. Há quem seja realista ou surrealista, e há quem seja uma mistura de qualquer coisa. É tal a sua fama que até lhes chamam de mentirosos. Mas creio que não. Afinal de contas, só é possível pintar com as cores do que sentimos no nosso âmago. * Médico.
Na poesia, há um processo mágico de ver depositado em papel a realidade química de alguém. Ao ler, tornamo-nos cúmplices da ficção fiel desse espírito, que mesmo distante da nossa realidade, compartilhamos, empaticamente, “salpicos” das emoções que transbordam dos seus versos. Outras vezes, não sentimos nada, e só na decantação da nossa maturidade, somos capazes de absorver as entrelinhas escondidas entre as figuras de tinta preta. Poeta é para mim quem consegue através da arte de colar letras, estampar todas as emoções mais íntimas e intrínsecas do seu ser, evocando no leitor uma sensação de sossego envolvida em desassossego, denunciada por um sorriso discreto de (quase) plenitude. Na crise de hoje, somos constantemente bombardeados com “clichés” relativos ao nosso lugar no mundo face a uma série de conceitos que apenas têm a ver com a forma como a sociedade era organizada num passado tão próximo. Hoje, mudar, experimentar, parar, recomeçar, fazer o que fomos preparados para fazer ou o que nunca pensamos fazer, possibilita o encontro e a descoberta. Na diversidade de um profundo conhecimento do que somos, do que queremos, e de uma maior consciência do que efetivamente pretendemos fazer, sem o comodismo da segurança de amputar o sonho do desconhecido e da descoberta, somos obrigados a caminhar tateando e arriscando um caminho cheio de curvas e contracurvas. Agora, o sucesso já não é mais a meta! O sucesso é o caminho, mais longo, mais exigente, mas mais rico, com mais paisagens, mais nosso e menos monótono.
Em tempo de crise a poesia faz mais sentido.
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8 Foto Arlindo Costa
AS RAÍZES DE FERNANDO PESSOA EM TERRAS DE SANTA MARIA1
Maria Lucília Lencart*
É-me curioso constatar que, desconhecendo as origens que à Terra da Feira o ligavam, as suas gentes tivessem sido as primeiras que a Fernando Pessoa ergueram um monumento. Conheço-o apenas por fotografias, mas sobre ele me debrucei e cuido nele encontrar, através do cinzel que o esculpiu, os múltiplos seres para quem criou linguagens próprias, filosofias próprias e, em Criador-escultor de Homens, lhes traçou perfis adequados. Não conheço o escultor que criou, modelou, cinzelou, deu forma ao monumento, mas ouso julgá-lo: soube bem interpretar Fernando Pessoa. Prumos e perfis vários que se erguem para o infinito e perdem as dimensões materiais que parecem limites, mas apenas materiais, mais não são que a perspectiva de dimensões outras que continuam a sua ascensão recusando o infinito, o acabado, taI como Fernando Pessoa o recusou sempre e dividido permaneceu na eterna dúvida, considerando as coisas como meras aparências de outras coisas... máscaras de outras máscaras... impossível de arrancar a última... por inexistente... como última. As Raízes de Fernando Pessoa em Terras de Santa Maria. Soberania do Povo. Águeda, Dep. Leg., N.º 41619/90.
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Fernando Pessoa, iremos ver, pertence ao Norte, todos os seus antepassados ilustres aqui tiveram o seu berço. Foi um trabalho insano, mas de prazer, aquele que concebi e que entrego à cidade da Feira, à Liga dos Amigos da Feira, porque entendo que a esta terra pertence, como berço mais recuado no tempo e na História de Fernando Pessoa, o Poeta, o polígrafo, o Homem simples e respeitado, humilde, solitário, místico, discutindo sempre consigo próprio, insatisfeito, perseguindo a Verdade última, cuja vida foi tão breve e que finalmente morreu mantendo a dúvida “I know not what tomorrow will bring”. Começarei por analisar seu terceiro avô, o militar José António Pereira de Araújo e Sousa, que, tal como seus irmãos, parte para o sul em serviço da Pátria e cuja carreira militar analisei através de documentos idóneos que se encontram no Arquivo do Museu Histórico Militar, em Lisboa. Será, através dele, que soerguerei o véu dos antepassados de Fernando Pessoa do lado dos Pereiras de Araújo e Sousa e dos Camizões. Antepassados que se radicaram em Fermedo e em S. Martinho de Arada em terras que pertenceram à Vila da Feira, Terras de Santa Maria, cidade da Feira de nossos dias. Nota: Na evocação do “125º Aniversário do Nascimento de Fernando Pessoa”, impõe-se arquivar na Villa da Feira, a palestra que a Senhora Dra. Maria Lucília Lencart, investigadora profunda das raízes do Poeta em Terras de Santa Maria, proferiu no Salão Nobre da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, em 11 de Junho de 1988.
*Licenciada em Filologia România pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Diploma de Estudos Superiores pela Universidade de Toulouse le Mirail.
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ENTRE – GUERRAS
Filomena Pinheiro*
Será que a nossa reação ao ler um poema pode ser análoga ao ato de olhar um quadro? O tema é antigo, a sua discussão existe desde a Antiguidade Clássica até à Modernidade, este diálogo intensifica-se no Renascimento. No séc. V a.C. o poeta lírico grego Simônides de Ceos, marcaria o momento em que o homem grego descobre a imagem. É a si que a Antiguidade atribui a famosa definição “Pintura é poesia muda e a Poesia é pintura que fala” celebrizada por Plutarco ao elogiar a capacidade dos poetas e dos pintores de “representarem” com vivacidade, afetos e personagens. Longe de mim querer responder a tal questão, quero apenas trazê-la para vossa consideração. O que de facto importa, agora, é a frequente analogia feita entre ambas as artes. Essa homologia foi de certa forma, o ponto de partida para a minha reflexão, dialogando, na minha modesta opinião, com três dos maiores poetas líricos portugueses.
Diálogo interior com ..................FERNANDO PESSOA
Para Fernando Pessoa a discrição e a ausência de sentimentalismos predominam, levando esta perspetiva à sua radicalidade, pois torna o sujeito uma hipótese. O Eu do poema passa a ser visto como um outro e portanto objeto, é pois um sujeito objetivado. Nestes trabalhos transmito a minha visão objetivada do mundo. Um retrato com o sujeito desdobrado em várias hipóteses e duas interpretações de outros tantos poemas deste poeta, visando permitir que cada um estabeleça e interprete esta “guerra/diálogo” entre a poesia e a pintura. Termino citando Pablo Picasso: “Não, a pintura não é feita para decorar os apartamentos. É um instrumento de guerra ofensiva e defensiva contra o inimigo”.
* Foi Professora de Educação Física e Empresária. Está reformada. Dedica-se com entusiamo à pintura.
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Retrato - 80X80X4
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