SAVOIR
1
2
3
4
5
6
7
8
概概概 要要要 SUMÁRIO
Carta ao leitor
12
TÓQUIO transcendendo a imaginação
20
FOREVER JAPAN um editorial baseado em Rei Kawakubo e Hanae Mori
30
seria o Japão a verdadeira Terra do Nunca?
40
OS PERSONAGENS INVADEM A RUA a moda lúdicados jovens de Tóquio
46
BUNKARU a arte secular das marionetes japonesas
50
PINOCCHIO um editorial baseado no conto
54
9
概概概 要要要 SUMÁRIO
62
IMPRESSIONS OF NEW YORK análise O/I Elie Saab 2016
70
INTIMATE FASHION análise O/I Chanel 2016
76
CINEMA
80
DESIGN
82
ARQUITETURA
86
ARTE
94
DIÁLOGO E PENSAMENTO NA ROUPA um legado do JAPONISMO
98
MINIMAL um editorial inspirado no minimalismo japonês
106 10
DESTINO nossas dicas finais sobre Tóquio
11
CARTA AO LEITOR
A primeira edição de uma revista é sempre muito importante. Dita o tom das restantes e carrega em si uma energia vital potente e preciosa. Marca este tão importante começo, faz com que a redação se desdobre para dar conta do recado e traz embutida toda efervescência que começos costumam ter. Em um terreno como o da moda e design, não é fácil descobrir o que vai ser novo, aonde podemos inovar, já que a novidade é uma condição indispensável. Quem trabalha com paixão sabe que as dificuldades acabam se transformando em desafios e geram o impulso necessário para ir além e tentar acertar sempre. Foi assim, apaixonadamente e com muita garra, que o time da Savoir preparou sua primeira edição. Quase sempre quando pensamos em inovação, pensamos na Terra do Sol-Nascente. Um país tão tradicional e ao mesmo tempo tão tecnológico causa estranhamento e deslumbramento aos nossos olhos ocidentais. Para os que ainda não tiveram oportunidade de visitá-lo, o Japão talvez ainda permaneça como uma incógnita, por vezes incompreendido. Escolhido para hospedar os Jogos Olímpicos de 2020, Tóquio é o foco da nossa primeira edição. Preparamos matérias que envolvem vários cenários desta megalópole e tentamos desvendar o que está por vir de lá. Esperamos que este seja o início de uma evolução constante, por parte nossa e sua. Com carinho,
12
13
14
15
SAVOIR Diretora: Luiza Andrade
Redatora-chefe: Luiza Andrade Editora: Luiza Andrade Editor Assitente: Pedro Ivo Mota Repórteres: Luiza Andrade e Pedro Ivo Mota Revisor: Luiza Andrade Produção de moda: Luiza Andrade e Pedro Ivo Mota Produção gráfica: Luiza Andrade
Redação e Correspondência: Rua dos Agrimensores 165, Alípio de Melo, Belo Horizonte, MG, CEP 30840-140, tel (31) 3474-7633.
16
17
18
東 京 19
R E P O RTAG E M
TÓQUIO TRANSCENDENDO A IMAGINAÇÃO
“Uma cidade que promete todo tipo de diversão, constantemente inventando novos estilos enquanto une tradição e inovação juntos”
O
principal centro cultural, político, comercial, educacional e financeiro do Japão é dividido em 23 distritos autônomos e possui cerca de 14 milhões de habitantes. Tóquio, o maior e mais importante núcleo financeiro do mundo, é altamente desenvolvida e orgulha-se em ser a interseção entre passado e futuro e de continuadamente, dar vida à novos estilos. A própria logomarca da cidade “&Tokyo” foi criada para “expressar como Tóquio cria novas manei-
ras de lazer, formando novos valores e conexões”, como dito no próprio site da cidade .
I
novação e tradição unidos aos cinco valores principais da cidade: singularidade, excitação, conforto, excelência e prazer é o que faz turistas se encantarem com o que os cidadãos de Tóquio consideram normal – tudo acontece nas ruas. A comunhão da cultura japonesa e diversas culturas do mundo faz de Tóquio um local para experiências e pessoas se expressarem de uma maneira nunca imaginada no mundo ocidental.
Harajuku em 2015
20
P
elas ruas de Tóquio é possível deparar-se com todos tipos de moda, a pluralidade da cidade é encontrada à todo momento, mas as transformações mais exuberantes têm origem em um lugar: Harajuku. Área ao redor da estação de metrô, Harajuku é conhecida por abrigar os jovens japoneses que estão sempre ultrapassando os níveis de estilo. O local começou a tornar-se relevante para a moda no pós-guerra, quando soldados e civis do ocidente passaram a morar em Harajuku. Os jovens japoneses da época, curiosos, aproveitavam para transitar no estilo oriental e ocidental, comprando nas lojas ocidentais que se instalaram por lá. Eventualmente, designers que comungavam com esta união de culturas começaram a se estabelecer pela área e foi em 1964, nos jogos olímpicos de Tóquio, que Harajuku se tornou relevante no cenário de moda mundial.
H
oje, Harajuku não é apenas o núcleo da moda jovem vanguardista japonesa, é um dos maiores centros de moda do mundo. As ruas de Takeshita e Omotesando são passarelas de adeptos aos muitos estilos que emergem na cidade, todos os dias. A imensa quantidade de lojas nestas ruas, unidas ao preço competitivo,
As ruas de Harajuku 1979, 1982 e 1989, respectivamente e a logomarca &Tokyo.
21
“discover Connect to Tokyo and something new beginning in you” atraem turistas e adolescentes de todos lugares. A popularidade da cultura e moda de Harajuku é tão grande, que eventos e encontros para Harajukustyle são feitos no mundo todo.
C
osplay, Lolita, Punk, Gyaru, Ganguru, Yamanba, Visual Kei e mais recentemente, Neo Street
22
Style, Neo Gal, Neo Ikemen, Neo Karasu, Neo-Sto e Neo Lolita, são alguns exemplos de culturas e subculturas de estilo que tiveram sua origem em Harajuku e, apesar de o desaparecimento de algumas ou a baixa popularidade de outras, a constante renovação da moda no local vai continuar a acontecer. Para a principal blogueira japonesa, Misha Janette, “não importa quão extravagante seja a roupa, do Neo Gal para Shironuri ou Decora-kei, [as roupas] não vêm dos clubes noturnos, elas vêm das ruas, durante o dia. Harajuku, e até Tóquio
como um todo, é um local muito seguro para usar moda única durante o dia, e tem sido dessa maneira desde sempre. (…) Nova Iorque teve certa vez um local chamado St. Marks, mas nada pode ser comparado à Harajuku”.
N
o cenário atual, os novos estilos, os chamados “neo” vêm tomando às ruas de Tóquio, hibridizando os sete estilos principais (Cosplay, Lolita, Punk, Gyaru, Ganguru, Yamanba e Visual Kei) com elementos próprios do mundo ocidental, como o estilo rapper, por exemplo. Todos sempre de portas abertas para a transição entre gêneros. Um dos mais novos estilos, o Neo Street Style, ou Neo-sto, é descrito pelo seu membro Shoshi Ogawa como uma desordem, uma combinação de cyber, mangá, hip-hop, rave, club, futurismo, vintage e gyaru. A união das coisas favoritas de uma pessoa, “balanceada” no superexagero. Shoshi relata que para ele “tudo que é um nível acima, é Neo-sto. Algumas pessoas não conseguem fazer direito e elas se marcam no Instagram como neoboy mas eu não acredito que elas tenham indo longe o bastante. ” A origem do Neo-sto? Mais uma vez, Harajuku.
A
s ruas de Tóquio são como uma boite, onde a moda acontece abertamente à luz do dia.
É a era do tudo se pode.
何でも可能です
23
原 宿 ス タ イ ル 24
ENTENDa
OS PRINCIPAIS
ESTILOS DE
HARAJUKU:
C
osplay vem de “costume play” e é
sobre não apenas se vestir como um personagem de filme, jogo ou mangá, mas também incorporar a personalidade e atuar como tal.
L
olita tem seu nome graças ao romance
de Vladimir Nabokov e traz consigo todas conotações sexuais que referem-se à personagem do livro. O exagero de tons pasteis, do estilo colegial e uso de morangos e cerejas faz parte deste universo.
P
unk Inspirado pelo estilo musical, o punk
é a marca da rebeldia. O uso de preto, xadrez, alfinetes, couro, correntes, piercings, roupas rasgadas, meia-arrastão e botas é a marca do estilo.
G
yaru é um termo traduzido do inglês
“gal” e significa menina, garota. O estilo é visto como uma caricature da adolescente Americana, infantilizada. Os cabelos descoloridos ou pintados maquiagem e unhas extravagantes são necessários para a composição do look. A roupa pode variar, dependendo do sub-estilo escolhido.
コスプレ G
anguro é uma ramificação do Gyaru,
levando-a para um outro nível. Os adeptos ao Ganguro são reconhecidos pelo uso excessivo de bronzeador artificial, o cabelo platinado, laranja ou prata e olhos delineados de preto, envoltos de sombra branca e cílios postiços. As roupas são coloridas e os sapatos de plataforma.
Y
パンク
ぎゃる
がんぐろ
amanba Extrapolando o Ganguro, o
Yamanba sustenta o uso dos bronzeadores ao ponto da pele tornar-se marrom, ou marrom-alaranjado, a maquiagem é mais exagerada, por pouco não passando-se por maquiagem de palhaço e os cabelos são de cores neon, frequentemente em dreadlocks.
V
ガングロ
isual Kei Caracterizado pelo uso
de roupas, cabelos e maquiagem espalhafatosos, adotando o look andrógeno, começou dentro do cenário musical e foi espalhado pelos fãs, que adotavam o estilo como uma forma de cosplay de seus ídolos.
山姥
ゔぃすあl けい 25
26
27
28
29
E D I T O R IA L
30
日本 JAPAN
FO R E V E R UM EDITORIAL INSPIRADO EM HANAE MORI E REI KAWAKUBO
Fotografia: Kenneth Anders e Felipe Beleza: Pedro Ivo e Brianna Carvalho Modelos: Luma Valentina e Tatiana Perdomo Edição: Luiza Andrade 31
32
33
34
35
36
37
38
39
BELEZA
Seria o Japão a verdadeira
do
Terra Nunca ?
Por que tudo no Japão sempre parece ser tão infantilizado? O que podemos aprender com os japoneses?
40
永遠に生きる A
Terra do Nunca não é um local fictício, ela realmente existe! E neste mundo a chamamos de Tóquio: um local onde a ideia de crescimento é abordada de maneira diferente de qualquer outro lugar do planeta. Poder vestirse, agir ou “ser” qualquer idade que se queira ter e ainda ter uma vida em sociedade normal é um privilégio da cidade.
O
Japão é um local tão único que muitas pessoas o descrevem como mágico. Obviamente, a fada Sininho não está voando por lá, mas é bem possível encontrar “fadas do mundo real” nas ruas de Harajuku. A ideia de “crescer” na cultura japonesa é pensada de maneira diferente de muitos outros países do mundo. Pense sobre o que significa ser adulto para você e sua cultura. É a maneira de se vestir? De agir? De falar? Os tipos de experiências que se tem? Os japoneses acreditam que é possível pausar o tempo e permitir que as pessoas vivam suas vidas de
uma maneira que não é possível em outros lugares.
E
m Tóquio, é praticamente impossível adivinhar as idades das pessoas. Além de uma genética favorável, que possibilita os japoneses aparentarem serem mais novos durante toda sua vida, o mercado de produtos de beleza é colossal e as cirurgias plásticas vem crescendo no gosto popular. Uma pele limpa, macia e branca é considerada padrão de beleza asiático, portanto, produtos para limpeza, hidratação, proteção Nozomi Sasaki, modelo e atriz japonesa mais solar, remoção de manchas, bem paga atualmente suavização de rugas são usados em peso pela população. Operações cirúrgicas para remoção de manchas mais profundas, rugas, linhas de expressão e descoloração são umas das mais pedidas nos consultórios.
A
s técnicas de maquiagem japonesas ajudam, ainda, a enganar o outro. Fazer os olhos parecerem maiores e amendoados, as bochechas rosadas e o uso de lentes de contato col-
Produtos de cuidados com a pele das marcas LuLuLun e Tatcha
41
若者 若者 若者 若者 若者
oridas que aumentam a íris são técnicas comuns. Esses meios não são descritos como maneiras de se parecer mais jovem, são apenas considerados mais atraentes para a cultura. Uma mulher usando maquiagem, por exemplo, não é descrita como “alguém que está tentando aparentar ter 20 anos”, ela é referida como “alguém que está usando maquiagem”.
E
então tem-se a maneira mais óbvia e divertida de se mergulhar nesta fonte da juventude: a moda. As subculturas japonesas têm um papel muito importante em manter a população parecendo jovens para o resto do mundo.
E
xistem Lolitas que tem mais de 40 anos, Gyarus que podem ter idade bastante para serem mães de 3 crianças, Decora-keis na faixa de 16 a 36 anos. Em Tóquio, não é atípico ver uma variedade de idades em uma subcultura. Para o “olho ocidental”, esses tipos de moda podem parecer infantis e é comum presumir que os adeptos são adolescentes – afinal, pensa-se que subculturas são para pessoas mais jovens, que estão “se encontrando” - e não adultos de fato.
N
ão é apenas na estética que o espírito da Terra do Nunca está presente. O humor japonês, ao contrário do ocidental, é simples e pateta. Muitas mulheres adultas falam num tom mais agudo, que por nós é descrito como “voz de bebê”, mas que lá, é descrito apenas como um tipo de voz. A maior infantilização de todas, entretanto, deve ser ao “consentimento” de se ficar animado com situações ou objetos do dia-a-dia. Enquanto crianças, é “permitido” que nos exaltemos com pequenas coisas: sorvete, bolhas, um animal, um passeio - à medida que crescemos, não é mais apropriado agir mais desta maneira. No oriente, adultos e crianças podem ter a mesma reação - e não é incomum ver um grupo de adultos espetacularizando o florescimento de uma flor de cerejeira, por exemplo. Sentir-se animado é mais que permitido, é esperado de você.
42
Vista-se de acordo com a idade que você quer ter
ワンダーランド E como é viver na Terra do Nunca?
A
blogueira Misha Janette, nascida nos EUA, mudou-se para Tóquio em 2004 e vive na cidade desde então. Para ela Tóquio “é um lugar maravilhoso de se estar. Tem menos stress, menos brigas. Posso me vestir do jeito que quiser, sem dúvidas. E a melhor parte? É que realmente me fez parecer mais nova para os ocidentais. Eu geralmente recebo 6 ou 7 anos do que eu realmente tenho. Percebi que em algum ponto quando eu me tornei uma ‘adulta’ nos EUA, eu virei um interruptor na minha cabeça que, de repente, fez todas as coisas que gostava enquanto criança ‘não boas’. Mas no Japão, alguma dessas coisas podem ser desfrutadas para o resto da sua vida sem sombra de dúvidas, porque é aceitável. E ainda assim, isto não significa que Tóquio é cheia de ‘bebezões’, as pessoas são extremamente respeitosas, atentas e inteligentes. É um local maravilhoso que, sim, é certamente ‘mágico’ em muitos aspectos. Portanto, esta fonte da juventude está aberta para todos se banharem, por quanto tempo assim desejarem”.
Misha Janette 43
44
45
R E P O RTAG E M
OS PERSONAGENS INVADEM A RUA A MODA LÚDICA DOS JOVENS DE TÓQUIO Com influências na cultura de games e mangás, jovens japoneses transpõem o universo do vestir em uma imagem irreverente e curiosa, que caracteriza os personagens da vida real.
O
Japão, apesar da herança tradicional, se tornou ao longo dos anos um país com espaço propício à criatividade e inovação. A moda no país, que no passado aparecia como uma adaptação do vestuário usado na Europa e Estados Unidos, surge, em meados da década de 1970 como uma nova expressão da cultura nipônica no mundo.
Porém, no final da década de 1990 o país se destaca pela identidade excêntrica da moda individual e pessoal. Jovens que circulam por Shibuya e Harajuku exibem produções ousadas com sobreposições, excesso de cores e mistura de elementos. Trazendo na forma de vestir um discurso de afirmação do estilo individual. Eles romperam com a moda vigente, criando personagens que se aproximam ao teatral e caracterização vista nos jogos e mangás, tão populares entre os jovens japoneses.
C
om o fim dos conflitos vividos na Segunda Guerra, o Japão encontrou um bom momento para desenvolvimento e industrialização do país. O arquipélago, até anos antes considerado
Anime Street
46
Mangás
entre os asiáticos. Mercados de entretenimento como o de jogos, mangás e animes atingiram sucesso rapidamente. Hoje, este setor já consolidado no Japão e no mundo, arrecada milhões e é considerado um dos principais meios de exportação de cultura japonesa. Estima- se que 40% de todo papel usado no país se destine a produção das histórias em quadrinhos, os mangás.
D Loja Noodles Cosplay Uma das mais famosas, e caras, em Tóquio essencialmente agrário, surpreendeu o mundo com o rápido crescimento do setor de tecnologia, e passou, nas próximas décadas a exportar diversos produtos para todo o mundo. Com esta abertura ao mercado internacional, a cultura japonesa é consumida em vários lugares, alavancada pelo consumo da tecnologia desenvolvida no país. Além do sucesso exterior, os elementos de cultura pop no Japão se tornaram muito populares
iversas histórias de mangá, antes da fama, são publicados em conjunto, em um só mangá, com cerca de 300 a 800 páginas. Cada história ganha um certo destaque na revista, de até 40 páginas. A partir do momento que uma derminada série faz sucesso, a editora faz uma edição especial com todas as histórias públicadas daquele determinado mangá. Elas, então, são vendidas em vários países e dependendo do nível de aceitação do público, ganha seu próprio mangá.
A
s histórias e os personagens presentes nestas mídias, sejam elas jogos, revistas ou desenhos animados, causam fascínio de pessoas em todo mundo, sobretudo os jovens. No comportamento, desejos, hábitos e gostos dos jovens japoneses, é notável a influência da
47
Jovens japonesas em Cosplay de Sailor Moon cultura de games e mangás. Na moda e na forma que se vestem não seria diferente. Além das diversas inspirações tidas pelos jovens em suas produções de moda, os personagens e o universo das histórias destes veículos atuam lugar de destaque. Na forma que se vestem, os jovens demostram sua individualidade, bem como sua interpretação, muitas vezes lúdica do mundo em que vivem. Na escolha de cores, tecidos e combinações vemos o desejo de expor os valores de uma geração, da cultura pop.
S
emelhante à moda de rua, o hábito de criar e produzir reproduções fiéis aos figurinos de personagens, chamado de cosplay, reúne uma legião de adeptos no Japão e em todo mundo. Contudo, neste caso, apesar da forte influência nas histórias e personagens, os jovens estão emulando um personagem e não
48
tomando este universo como inspiração para expressão pessoal no modo de vestir. A força que mangás e animes exercem entre os jovens é percebida por seus desenvolvedores há certo tempo. Esta popularização fomentou a produção de novos episódios, séries e sequências, além da criação de novas histórias muito mais estruturadas e interessantes ao público. O figurino, tão característico dos desenhos japoneses, possibilitou o surgimento do profissional dedicado apenas ao design e concepção dos personagens e sua identidade, por consequência seus trajes. A irreverência da moda das ruas de Tóquio cresceu e tornou-se conhecida em todo o mundo, sendo fonte de inspiração para muitos designers que veem no modo como pessoas comuns se vestem um universo primoroso para uma nova visão de moda.
49
BUNRAKU 文化る
R E P O RTAG E M
ENCENANDO COSTUMES JAPONESES Tradição secular, o Bunraku, remonta em suas peças tradições do Japão medieval em forma da arte de manipulação de marionetes.
P
artindo de um pedaço de madeira qualquer, o marceneiro Gepeto esculpe um boneco à imagem de um menino. Em uma dada noite, esta marionete ganha vida pela magia de uma fada. Uma dos romances infantis mais conhecido, a história de Pinóquio, narra as aventuras de um boneco de madeira, que apesar de sua natureza, vive o cotidiano de um menino real. A fantasia presente no conto escrito pelo italiano
50
Carlo Collodi no século XIX recria a arte da representação através de bonecos, um ofício presente em vários momentos da história da humanidade.
A
pesar da origem incerta, no Japão medieval entre os séculos VII e VIII já existiam formas rudimentares da produção e uso de bonecos. A técnica foi aprimorada ao longo dos anos e se tornou popular no século VXII. Em 1684 se origina o Bunraku, uma excelência no teatro de marionetes criado por Takemoto Gidayu. Se estabelecendo em Osaka, o Teatro Takemoto-za, alcançou reconhecimento no entretenimento da população de uma ci-
Fachada do Teatro Nacional de Bunkaru, em Osaka.
dade comercial em ascensão. Usando de obras do famoso escritor Mozaemon, o Bunraku viveu um próspero momento de popularidade, e devagar se fez em diversas partes do país.
K
yoto, cidade vizinha a Osaka, usou do sucesso para estabelecer sua versão do teatro de bonecos. Enquanto Gidayu acreditava que sua arte devia ter acesso pelo povo, o teatro de Kyoto era opulento e luxuoso, frequentado pela nobreza do período, instaurando a rivalidade entre os estilos. Teatros Bunraku tiveram ampla construção entre o século XVII e XIX. Foi usado por diversas companhias, porém muitos destes foram destruídos com os bombardeios da Segunda Guerra, em 1945. Neste período, o teatro entrou em declínio, retomando suas atividades com a intervenção do governo e a criação da Associação Bunraku, no fim do século passado.
[Acima] Uma marionete sendo operada pelo Omozukai, maniuplador principal, e seus dois assistentes. [Abaixo] Cabeça de Gabu, que passa de mulher à demônio.
N
o Bunraku, os bonecos possuem lugar de destaque, ao assumir a posição de verdadeiros atores, tradicionalmente em fundo preto, sem intervenção de cenários.
51
Os movimentos de cada boneco são orquestrados por três manipuladores, chamados de titereiros. Estão posicionados nas costas do boneco em vestes específicas e rostos cobertos, tendo cada um deles uma função específica e hierarquizada na expressão corporal da marionete. O manipulador principal insere a mão esquerda numa abertura nas costas do boneco, sustenta a maior parte do peso com os dedos indicador e polegar em uma haste interna, [Acima] Principais tipos de cabeça usadas nas peças. usa dos dedos restantes para [Abaixo] Paródia do Filme “O Exterminador do movimentar a expressão facial. Já com a mão Futuro - Gênesis” produzida e estrelada no bunkaru. direita, controla o braço esquerdo do boneco, enquanto o segundo titereiro é responsável pelo outro braço. O terceiro fica encarregado
52
das pernas, assume a posição mais desconfortável, onde durante todo o espetáculo precisa se manter oculto da plateia.
E
m sua maioria os bonecos do Bunraku são fabricados em madeira pau-lownia, com cabelos naturais e pintura artesanal na cabeça e sapatos, podem ter até um metro e meio de altura e pesar até 20 quilos. A cabeça é a sessão mais importante de uma marionete, onde vemos a representação e personalidade do personagem. O Bunraku é uma arte bem regionalizada, tendo cada lugar estabelecido suas características seguidas com rigidez, desde a construção do boneco ao espetáculo finalizado. Existem cerca de 70 tipos de cabeças e 50 tipos de cabelos, usados em acordo com o tipo de espetáculo, personagem e classe social. As vestes desempenham função primordial ao retratar costumes e preservar a história da indumentária japonesa. As marionetes são classificadas em: homem, jovem, mulher, criança, humor e extra. No rosto, existem muitos mecanismos articulados
que modificam a expressão para representar diversas emoções. Em especial, uma cabeça transformista, a Gabu, passa de uma mulher para um demônio em uma fração de segundos.
O
Bunraku marca a junção de técnicas japonesas ainda mais antigas, as marionetes, o enredo poético e o instrumental. As histórias, chamadas de Joruri, são compostas de trechos musicais que se originam do teatro Nô. São passagens, que narram a vida do Japão antigo, entre temas de nobreza e comerciantes, escritos de forma poética e dramática. Este drama épico é declamado pelo tayu, o narrador, ao som do shamisen, um instrumento de três cordas, que cria uma atmosfera musical marcando o compasso da fala e o movimento dos bonecos. Além da declamação de tradicionais contos da literatura japonesa, diversas outras peças foram adaptadas para teatro de marionetes, como Hamlet, Madame Butterfly e Camile.
53
E D I T O R IA L
PINOCCHIO 54
Um editorial baseado no conto do menino-boneco
Fotografia: Luiza Andrade e Pedro Ivo Mota Hair: Pedro Ivo Mota - Make: Luiza Andrade Produção: Luiza Andrade e Pedro Ivo Mota Modelo: Luma Valentina 55
56
57
58
59
60
61
Impressions desfiles
of
62
New York OUTONO - INVERNO 2017 ELIE SAAB
63
A
coleção da marca libanesa lançada na Semana de Moda de Paris, em julho, foi inspirada em aves migratórias e na cidade de Nova Iorque na era do Jazz, conjurando o espírito de Beirute – a cidade em que Saab nasceu. O momento para seleção do tema não foi ao acaso: a marca está para lançar, em 2017, sua primeira loja no país, na Madison Avenue, uma das mais movimentadas da cidade.
A
paixonado por sua cidade, Saab afirma que ela “é a fonte da minha inspiração e eu tenho orgulho que eu mesmo sou a imagem de sucesso e progresso do meu país – isto é o que me motiva” e, de fato, a cada coleção ele faz questão de permear sua influência libanesa. O uso constante de bordados é prova deste desejo do artista: o Líbano é renomado pelos bordados à mão e Saab contrata artesões de sua região para trabalhar em seu atelier.
64
Edifício Chrysler
N
a coleção Outono/Inverno 2016 da Alta Costura, Saab virou sua atenção às aves migratórias. No momento de guerra em que a Síria se encontra, na grande discussão que envolve os grandes países sobre oferecer abrigo aos refugiados e na influência que o Líbano sofre, a escolha do tema reflete, belamente, o zeitgeist de nossa sociedade. A coleção também aborda Nova Iorque na era do Jazz, que compreende os anos 30 e 40, época em que a imigração ao país ocorreu em peso por famílias europeias, dando força a referência silenciosa do tão polêmico tópico. Durante o período, o Estados Unidos era definido pelo edifício Chrysler – atualmente o terceiro maior do mundo. O arranha-céu, que terminou de ser construído em 1930, tem estilo Art Déco e sua geometria apareceu em diversos momentos na passarela.
A
silhueta e beleza ficaram claras com o passar das modelos na passarela. A influência de ícones da época como Ava Gardner e Rita Hayworth está presente: cabelo grande e armado, ombros protuberantes, cintos e quadris modelados, enfaixados em vestidos justos. Rita Hayworth no filme Gilda, de 1946
65
M
udando um pouco o tom de suas coleções passadas, nas quais observa-se o uso de bordados e aplicações em peças da mesma cor, o desfile de julho contou com a mistura de tons nos ornamentos, quebrando o look monocromático. Pássaros azuis e violetas em detalhes, estampas ou aplicados em uma peça de veludo, corações em tons vinho apareceram como estampas e bordados e cristal. Haviam inúmeras flores em amarelo, azul claro, Bordeaux e rosa pastel, aplicações de miçangas pretas no tulle e bordado em 3D em renda Chantilly. As mudanças feitas
66
certamente abraçaram o espírito do Upper East Side de maneira sofisticada e trouxeram um frescor para a marca.
E
m suas coleções passadas Saab vinha mostrando esforço para se manter jovem. Nesta, entretanto, este não foi o ponto principal. Uma variedade de
vestidos para mãe e filha, lembrando a época dos hoje chamados “imigrantes de luxo” que escapavam da segunda Guerra Mundial, conquistou o público e foi bem recebida pela crítica. Mais uma vez, o trabalho de Elie Saab foi excepcional e expressivo, passando uma mensagem positiva
e sensível sobre os acontecimentos atuais. Imigrantes não são inimigos, a maioria de nós, senão todos, já fomos imigrantes. Os EUA acolheram as famílias europeias nas décadas de 30, 40 e 50 e os deu uma chance de liberdade e é isto que a coleção representa: liberdade para viver.
67
68
69
desfiles
INTIMATE PRIMAVERA - VERÃO 2018
70
FASHION READY TO WEAR CHANEL
71
frente e atrás. Ela usa uma clutch de robô” dizia o press release da marca. De fato, o traço de “modernidade” é afirmado no uso de peças modeladas de maneira mais esportiva, sapatos e bonés. Pode-se observar, ainda, o famoso casaco de tweed que consagrou a marca explorando cores fortes como o turquesa, vinho, amarelo e azul.
A
O
desfile ready-to-wear que ocorreu no dia 4 de outubro, na semana de moda de Paris tinha como tema a tecnologia. As modelos entraram caminhando por metros de cabos, placas metálicas e cabines de computador, estando no centro do processamento de dados da Chanel. Segundo o diretor criativo da marca, Karl Largerfeld “novos materiais e um guarda roupa que não é de nenhuma maneira clássico” afirmavam o caráter futurístico da coleção. Entretanto, o que se apresentou foi, de certa maneira, previsível. A mulher Primavera-Verão 2017 da Chanel veste seu babydoll e robe em seda e renda e sobre isto ela combina, despreocupadamente, uma jaqueta de tweed com ombros arredondados, mangas longas, lapelas grandes e um par de calças de zíper na
“
72
praticidade também tem seu lugar nesta coleção com o uso de velcros substituindo botões e uma infinidade de materiais foi explorada. Detalhes em vinil nos tweeds, algodão, denim e lã se entrelaçaram como cabos eletrônicos. Explosões de azul, vermelho, amarelo, rosa, roxo, preto, azul-marinho e um mix de ton pasteis e elétricos. Os bonés eram em seda ou tweed, as bolsas em
couro e prata, os sapatos baixos com tiras transpostas e acessórios grandes, com o símbolo da marca. Além do caráter esportivo, parte desta coleção foi delicada como peças de lingerie - que deu o nome “Intimate Fashion”. Peças rendadas e rufadas, soltas ao corpo, lembrando lingerie, em tons creme, rosado, branco, pêssego e azul contrastavam
com o que fora apresentado na primeira parte do desfile.
M
ais uma vez, a consistência da Chanel nas roupas foi encontrada: é impossível não saber que os looks são da marca, mas seria isso suficiente para manter o segmento de RTW? Num mundo em que se valoriza o produto e não
73
mais a marca, apresentar um desfile que, claramente, foi inspirado pelo que já está se fazendo nas ruas das grandes capitais, é cansativo ao olhar – apesar de belo. Certamente, a Chanel continuará a ser prestigiada por muitos anos e seu grupo de clientes fiéis continuará a consumir a moda da marca, mas e as gerações seguintes? Entender a linha tênue entre inovar e lançar algo pouco visto, com o nome da marca, é algo que não só a Chanel, mas outras maisons deveriam repensar. Até quando o público se contentará com status? Quando a moda estiver realmente globalizada, como vai funcionar este sistema de copiar das ruas e colar para passarela, fingindo novidade? O futuro e a tecnologia vão muito além dos cabos coloridos da internet, eles pedem por originalidade.
74
75
CINEMA
A
conteceu dos dias 25 de outubro a 3 de novembro deste ano a 29ª edição do Tokyo International Film Festival (TIFF). O festival, que foi estabelecido em 1985, é o único reconhecido pela FIAPF (Federação Internacional das Associações de Produtores de Filmes) e, juntamente com o Shanghai International Film Festival, é um dos mais competitivos festivais de filmes da Ásia. O evento foi sediado em cinco locais diferentes e contou com Talk-shows, sessões de Q&A com os nomeados, além de sessões de filmes que participavam ou não da premiação. A SAVOIR selecionou para você alguns filmes que foram contemplados pelo evento.
Tokyo Grand Prix/ WOWOW Viewer’s Choice Award The Bloom of Yesterday [Die Blumen von Gestern] 125min. 2016 Germany, Austria Direção de Chris Kraus Drama – Romance Enquanto estava estudando o Holocausto com sua assistente excêntrica, francesa e judia, um pesquisador alemão, neto de nazistas faz uma descoberta inesperada. A franqueza e maneiras não-convencionais da assistente viram sua vida profissional e familiar do avesso e o ajudam a finalmente quebrar as barreiras que ele construiu em volta de si. Com um toque de comédia romântica, este drama apresenta a sombra que estes eventos históricos continuam a ter sobre a vida das pessoas.
76
Special Jury Prize/ Award for Best Actress Sami Blood [Sameblood] 112min. 2016 Sweden, Denmark, Norway Direção de Amanda Kernell Drama – Drama Juvenil Na década de 30, os Sami, indígenas das montanhas suecas, eram alvo de discriminação. Recusando aceitar este destino, Ella Maria, de 14 anos, sonha com outra vida. Para conquistar uma nova vida, ela tem que se tornar outra pessoa e quebrar todos os laços com sua família e cultura.
Audience Award/ Best Actor Award Die Beautiful [Die Beautifu] 120min. 2016 The Philippines Direção de Jun Robles Lana Drama – Comédia Trisha, uma mulher transgênero filipina, morre enquanto está sendo coroada num concurso de beleza. Seu ultimo desejo era ser apresentada como uma celebridade diferente cada noite que fosse velada, mas seu pai quer enterrá-la como um homem. Os amigos de Trisha, então, não veem outra solução senão roubar seu corpo e velá-la em um local secreto. À medida que transformam Trisha em celebridades, eles relembram a vida colorida e extraordinária que ela levo: sendo filho, irmã, mãe, amiga, amante, esposa e, acima de tudo, uma Queen.
77
Best Asian Future Film Award Birdshot [Birdshot] 116min. 2016 The Philippines, Qatar Direção de Mikhail Red Maya, a filha de um fazendeiro, acidentalmente mata uma águia filipina que se encontra em extinção, numa reserva florestal. Quando a polícia começa a investigar o ocorrido, uma descoberta ainda mais horrenda se apresenta. [Mensagem do diretor] Nós podemos perder nosso caminho enquanto vagamos através da selvageria do mundo que nos cerca, mas sempre acharemos um caminho de volta para nós mesmos. Por vezes podemos sentir que somos os últimos que buscam esperança, porém, assim como as águias Filipinas, nós resistimos, debatendo-nos para existir, em busca de uma verdade que está, talvez, em perigo, mas nunca extinta.
Best Picture Award POOLSIDEMAN [ プールサイドマン ] 117min. 2016 Japan Direção de Hirobumi Watanabe Em um subúrbio no norte de Tóquio que parece ser alheio à loucura e malícia do mundo, Yusuke Mizuhara trabalha como salva-vidas. Sem família, amigos ou amor, sua vida é solitária e monótona. O filme, feito pelos irmão Watanabe, expõe as profundezas da sociedade japonesa e as tendências inexplicáveis dos japoneses com extrema sensibilidade e com uma visão única.
78
79
D E SIG N
Design
As meslhores ideias do trimestre
Adesivo de parede da W.O.O.D. – Walls of Original Design, destaque na feira de design Las Vegas Market 2015
bioLogic
V
encedores do Innovation By Design Award (IBD) 2016 na categoria Experimental, os criadores do bioLogic o definem como uma segunda pele. A descoberta da bactéria Bacillus Subtilis natto, feita cerca de um milênio atrás por um samurai japonês, estabeleceu a principal fonte de fermentação do prato japonês nattō, que é à base de soja. Em estudos, descobriu-se que o microorganismo se expande e contrai conforme a temperatura atmosférica. Foi então que o time bioLogic decidiu criar uma biopele que reage ao calor e suor do corpo, causando aberturas ao redor das zonas de calor a se abrirem e permitindo a evaporação do suor e resfriamento do corpo, através de um material orgânico. bioLogic está sendo cogitado para substituir os tecidos esportivos.
80
BioDesign Studio
B
ioDesign Studio é a mais nova e permanente exibição do Museu Tecnologio de San Jose, na Califórnia. Ela oferece a possibilidade do visitante interagir e criar colonias de bactérias de forma digital. Além disso, eles podem usar DNA para mudar a matiz e tonalidade das bactérias ao vivo. Uma maneira mais fácil de se explicar sobre biologia sintética, bioengenharia e design biológico que rendeu ao museu três indicações ao IBD Awards 2016 (Graphic Design & Data Visualization ;Spaces, Places, Cities; e User Experience)
V
iajar em classe econômica pode ser bastante desconfortável. Pensando nisso a AirCom Pacific refez o design de seus assentos. No novo desenho, um descanso para pés foi integrado, encosto de cabeça feito com uma curvatura que ajuda na hora de dormir, o assento reclinável foi revisado, de maneira que fosse mais confortável e deixasse a coluna melhor apoiada quando não reclinado e, por fim, a mesa de bandeja possui três opções de abertura – revelando por baixo, numa tela de entretenimento maior do que a atual. Entretanto, não se sabe quando as modificações serão feitas.
81
arquitetura
MINI-ESPAÇO MACRO-INDIVIDUALIDADE
Plantas dos apartamentos
C
ombinar espaço e design, sem se esquecer do cunho sustentável não é fácil. A promessa de uma construção mais barata, rápida e eficiente é o que, em teoria, construtoras de casas pré-fabricadas oferecem, mas a realidade não é esta. Na ilha de Manhattan, onde espaço é tratado como um tesouro e preços imobiliários são exorbitantes, o espaço Carmel Place destaca-se no espaço urbano.
V
Foto das “mini-torres” de Carmel Place
82
oltado para acomodar a população de família pequena, ou solteira, o protótipo do edifício acaba de ser inaugurado, no menor tamanho de unidades e maior número delas permitido em um prédio. Carmel Place oferece o aluguel de 55 lofts que variam de 80 a 110 metros quadrados, além das facilidades que áreas comuns oferecem, aumentando o padrão para o segmento de microapartamentos.
n
ARCHITECTS, a empresa que fez o design do conjunto, desenhou o exterior da edificação como “mini torres”, conectando o conceito, e necessidade, de micro dos futuros inquilinos do local. O objetivo dos arquietetos era oferecer uma nova moldura para o horizonte urbano da cidade, mantendo o tom cinza – parte do legado de Nova Iorque - e apresentando os três prédios como parte de um conjunto, aninhados no conceito de comunidade, ao invés de prédios individuais.
A
lém de ser o primeiro edifício de micro-unidade em Nova Iorque, Carmel Place é, até o momento, o mais alto prédio modular em Manhattan e um dos primeiros a usar o estilo de construção modular. O lugar foi, ainda, vencedor do IBD Awards 2016 na categoria “Spaces, Places, Cities”.
[Acima] Um dos lofts do edifício. O sofá serve como suporte para o colchão, que fica em compartimento retrátil. [Abaixo] Construção dos múdulos
83
84
85
arte
Kenji Urata, 2014. www.kenjiurata.com 86
NEMURY (TsuyaTsuya / Tomoyuki Kurosawa), 2015. www.nemury.com 87
SILENCE. Danielle Clough www.danielleclough.com 88
SHAMAN WOMEN. Boicu Marinela www.saatchiart.com/vermillon 89
Adam Hale, 2015. www..thedailysplice.com 90
Eiko Ojala. www.ploom.tv 91
92
93
P E rfil
DIÁLOGO&PENSAMENTO NA ROUPA, UM LEGADO DO
JAPONISMO
A irreverência e transgressão das roupas japonesas da década de 1980 romperam com a moda vigente do período e inspiram estilistas na contemporaneidade.
O
impacto causado pelas coleções inusitadas de Yohji Yamamoto e Rei Kawakubo na década de 1980 em Paris, sobrevive ao passar dos anos. As questões abordadas por estes estilistas em suas peças marcaram a história da moda e se renovam com a leitura de novos designers a cada lançamento de novas coleções.
O Rei Kawakubo e Yohji Yamamoto
94
Japonismo, movimento que se origina na arte no começo do século XX, aparece na moda com a participação de estilistas japoneses na moda de Paris. Capital esta que detém a legitimação da moda e de quem pode participar de seu sistema. Já durante a década de 1960 a estilista Hanae Mori alcança reconhecimento como seu atelier na capital francesa, sendo a
primeira estilista asiática a integrar o seleto grupo de marcas da Alta Costura. Mori é conhecida por associar a cultura tradicional japonesa com as técnicas de costura parisiense, com peças delicadas e femininas causou furor no público.
A
pesar do ingresso pioneiro de Hanae, foi com Yohji Yamamoto e Rei Kawakubo que o japonismo toma forma em roupas e imagem de moda. No início da década de 1980 estes estilistas provocam estranhamento e curiosidade com suas coleções incompreendidas. Ambos com marcas próprias apresentam em Paris seus desfiles, com peças desestruturadas, predominante pretas, assexuadas e sem forma definida, causam impacto na impressa especializada.
Criações de Yamamoto [topo] e Kawakubo na década de 80
95
Q
uando comparados a moda da década, as roupas de Yamamoto e Kawakubo demonstram um forte rompimento com os padrões de beleza e estética, visto que no período a feminilidade e exuberância eram muito valorizados. As coleções dos japoneses traziam um discurso de pensamento e diálogo da roupa com o tempo vivido, problematização com questões de gênero, consumo e o ciclo da moda. Ainda que houvesse o estranhamento, estes designers ao longo dos anos se tornaram referência em um legado que permeia até os dias de hoje.
A
lguns outros nomes da moda japonesas fizeram seu nome neste momento. Kenzo, que já estava presente na moda europeia nos anos de 1970, consolidou seu nome e identidade usando
[Topo] Kansai Yamamoto. Kansai Yamamoto e David Bowie no Japão, em 1973. 96
estampas e recursos como o patchwork. Kansai Yamamoto foi um criador que se destacou nas peças conceituais que destorciam as formas do corpo e remetiam as dobraduras de papel e a técnica de Origami. Seu reconhecimento seu deu pela assinatura do figurino da turnê do cantor David Bowie na década de 1980. Issey Myake também foi um grande estilista da época que desenvolveu uma técnica de plissados e dobradura nos tecidos que originava peças inusitadas, seus experimentos contribuíram para o desenvolvimento da indústria têxtil. As inovações introduzidas por este grupo de estilistas japoneses ainda hoje inspiram diversos criadores em suas coleções e na forma como pensam sobre vestuário e moda. Nomes como Junya Watanabe e Martin Margiela foram notavelmente influenciados pelo japosnismo após o movimento alcançar reconhecimento.
Issey Miyake e [Abaixo] Foto de sua campanha nos anos 80
97
E D I T O R IA L
MINIMAL ミニマル
Fotografia: Luiza Andrade e Pedro Ivo Mota Iluminação: Luiza Andrade e Pedro Ivo Mota Hair: Pedro Ivo Mota Make: Luiza Andrade Produção: Luiza Andrade e Pedro Ivo Mota Modelo: Luma Valentina 98
99
100
101
102
103
104
105
destino
Ilustração 106 de James Sandifer
O
melhor tempo é durante os meses de Outubro e Novembro, e a temporada das cerejeiras dura de Março à Maio. Evitar os meses de Junho à Setembro, pois é o período de chuvas e furacões do país. Em restaurantes, limpe suas mãos com uma toalha, use os hachis para cortar e picar comida – nunca use seus dedos. É comum os japoneses usarem hachis para sopas e beberem o líquido diretamente da tigela. Nunca “crave” os hachis na comida, nem os cruze em seu prato: isto é considerado falta de educação. Sempre tire os sapatos quando entrar em uma residência e sentese ereto, com ambos pés no chão. Japoneses são extremamente pontuais 107 e atrasos são considerados rudes.
TÓQUIO
Robot Restaurant Endereço: 〒160-0021 Tokyo, 新宿区Kabukicho, 1-7-1 新宿ロボットビル Horário: 16:00–23:00
Tokyo DisneySea Endereço: 1-13 Maihama, Urayasu, Chiba Prefecture
Akihabara: A capital Geek de Tóquio
Yoyogi Park Endereço: 2-1 Yoyogikamizonocho, Shibuya,
VISITE TAMBÉM: •
Museu Shin-Yokohama Ramen • Teatro Ginza Kabuki-za • The Reversible Destiny Lofts • Tokyu Plaza Omotesando Harajuku Asakusa Temple (Senso-Ji) Endereço: 2 Chome-3-1 Asakusa, Taito, Tokyo 108
109
110