Revista Xikelela. Ano 1 - Edição 1.
Centro da de Referência de Cultura Negra e Igualdade Racial Xikelela
Expediente Alexandra Alves Nascimento, Amanda de Souza Araújo, Bárbara Aparecida Lins, Bruna Mariano Silva, Caique Mota Cavalcante, Caique Luã de Freitas da Cunha, Daylane de Almeida, Daniela Silva, Fabiana Batista, Filipe Luiz Almerindo, Janeclécia Barros Silva, Jaqueline Batista, Jaqueline Soares Vieira, Jennifer Felisbino Leiguez, Jhennifer Miranda Fonseca, Juliana de Almeida, Juliana Freires (Fresant), Larissa Teixeira Prescinotto, Letícia Fritacia Bazan, Letícia Santos de Oliveira, Leuri Laine de Oliveira, Luiz Felipe Mendes, Mayara Silva, Margareth Augusta dos Santos, Melinda Almeida, Michelle S. Reis, Miquelina Rodrigues Mendes, Miriam Teixeira de Souza, Miriam Oliveira de Souza, Natália Cristina Alves de Brito, Nathan Figueiredo Arruda, Paz Benita Vallejos Flores, Rita de Fátima Rodrigues, Solange Cristina de Morais, Taís S. Oliveira, Talita Nascimento, Thaysa Marques Pereira, Terezinha Aparecida Souza Dias,Valdemir da Silva, Wesley Santos da Silva.
Conselho Editorial: Ailton Pinheiro, Edna Roland, Greice Oliveira, Tatiane Eigenmann Justo, Vilma Neres.
Equipe Pedagógica: Tatiane Eigenmann Justo Vera Lúcia de Oliveira
Direção de Arte: Ailton Pinheiro
Jornalista Responsavél: Vilma Neres - DRT/BA 3.382
Revisor de Texto: Franscisco Soares
Diagramação: Ailton Pinheiro Ana Paula Marques
Capa: Marcos Santos Ferraz
Colaboradores: Alex Godoi Pinheiro, Claúdia S. Ferreira Lucena, Deivison Nkosi, Elmi El Hage Omar, Jaqueline Lima Santos, Maria Arlete Bastos Pereira. Agradecimento: Nosso agradecimento especial à artista plástica Goya Lopes pela autorização do uso das estampas Ex Votos e Afro Africana na Revista Xikelela.
Editorial
A
Revista Xikelela é resultado de um longo trabalho realizado pela Coordenadoria da Igualdade Racial desde a criação do Xikelela, o primeiro Centro de Referência de Guarulhos destinado a combater o racismo e promover as culturas negra, indígena, cigana e de outros grupos discriminados. Foi viabilizada com recursos de convênio com a SEPPIR (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República), por meio de emenda parlamentar da deputada federal Janete Rocha Pietá, pioneira das políticas de igualdade racial no município de Guarulhos. A Revista Xikelela apresenta textos produzidos pelos alunos e alunas das oficinas de comunicação do Projeto Xikelela. Em sua grande maioria tive ram contato pela primeira vez com a discussão das relações raciais. A revista apresenta também textos elaborados por profissionais, estudiosos, militantes do Movimento Negro e especialistas na temática de promoção da Igualdade Racial e combate ao racismo. A Revista Xikelela contou também com o trabalho de jovens profissionais militantes do Movimento Negro. Junto com o aprendizado das técnicas de comunicação, a oficina buscou realizar diálogos para a construção de conhecimento acerca da presença negra e indígena no município de Guarulhos, resgatar a história da população negra no Brasil assim como desconstruir estereótipos que permeiam o imaginário popular sobre negros e indígenas. A publicação do material produzido pelos alunos da oficina tem o objetivo de dar visibilidade à produção de conhecimento daqueles que vivem cotidianamente a discriminação e o racismo. Escrever a sua própria história, deixando de ser apenas o objeto da história escrita pelo outro é ocupar um lugar de saber. Acreditamos que o protagonismo juvenil é também fundamental para a formação de cidadãos e cidadãs mais conscientes e críticos para enfrentar todas as formas de manifestação de preconceitos e discriminações. A Revista Xikelela tem 6 editorias : Novembro Negro, Saúde, Cultura, Educação, História e Memória, Racismo Xenofobia Intolerância e Discriminação Racial. Tomou o seu nome emprestado do Centro de Referência no qual nasceu. Xikelela é uma palavra em quimbundo, a língua mais falada em Angola, região de onde teriam vindo muitos dos primeiros africanos para a região de Guarulhos no século 16, e quer dizer Negro. Sob a forma de entrevistas, crônicas, reportagens, as matérias abordam temas como a anemia falciforme, a cultura hip-hop, a capoeira, a culinária afro-brasileira, o cabelo crespo, a presença dos povos indígenas em Guarulhos, a história do bairro do Pimentas, o mais povoado de Guarulhos, as religiões de matriz africana, patrimônio histórico e outros. Com este número 1, comemoramos o Ano Internacional dos Afro-descendentes, proclamado pela Organização das Nações Unidas no décimo aniversário da III Conferência Mundial contra o Racismo. Esperamos que você aprecie a leitura e nos diga o que achou! Edna Roland Coordenadora da Igualdade Racial igualdaderacial@guarulhos.sp.gov.br
3
ÍNDICE
Projeto Xikelela
05
Linguagens e ações de valorização da cultura negra e indigena.
07
Novembro Negro • Mês da Consciência Negra • Manisfesto Novembro Negro • Ensaio fotográfico dos alunos
Saúde
13
• Vamos Conversar sobre Saúde da População Negra. • Vamos driblar a Anemia falciforme com diagnóstico e cuidado.
16
Educação • Sobre a Lei. 10.639 / 2003 • Dica de Leitura • Palmas e Vaias
Racismo, Xenofobia, Intolerância, Discriminação
Cultura • Maria da Resistência • Cabelo enrolado e crespo • Hip Hop 450 em Homenagem a Cidade de Guarulhos • Rap realidade contada através da música • Gurulhos Hip Hop 450 • Capoeira é arte, dança e poisa, camará • Culinária africana degustada em guarulhos
27
32
História e Memória • Povos Indígenas em Gurulhos (Entrevista com Awá Kuray Wera) • Curiosidade em gurulhos • Historia Bairro dos Pimentas • A presença da população indígena em Gurulhos • Casa da caninha - Porpectivo patrimônio Cultural e Ambiental.
40
• Racismo? Pra quê ? • Candomblé religiosidade matriz africana. • Racismo e desigualdade social no dia a dia • Discriminação e intolerância religiosa • Xenofobia
Quem Somos A Coordenadoria da Igualdade Racial foi criada em 2009 a partir do desmembramento da Coordenadoria da Mulher e da Igualdade Racial criada em 2006. Cabe à Coordenadoria formular, propor, articular e executar políticas públicas que protejam os direitos dos negros, indígenas e outros grupos discriminados. O trabalho é desenvolvido a partir de três eixos: Enfrentamento do racismo, desconstrução de estereótipos e preconceitos; valorização das culturas negras e indígenas e capacitação para o trabalho e geração de renda. O Centro de Referência da Cultura Negra e Igualdade
Racial-Xikelela, é o órgão executivo da Coordenadoria que realiza cursos, oficinas e exposições sobre as culturas negras e indígenas, além de oferecer atendimento social e psicológico às vítimas do racismo e da discriminação racial. A Revista Xikelela é resultado das oficinas de comunicação realizadas no ano de 2010, fruto do convênio da Prefeitura de Guarulhos e do Governo Federal através da SEPPIR- Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Coordenadoria da Igualdade Racial Rua Luís Turri, 75 Jd. Zaira - Guarulhos/SP CEP: 07095-060 Telefone: 2408-5597 e 2409-6843 Centro de Referência da Cultura Negra e Igualdade Racial - XIKELELA Av. Dr. Timóteo Penteado, 4114 Vila Galvão - Guarulhos/SP CEP: 07061-003 - Telefone: 2304-7464 e 2304-7189
Projeto Xikelela Linguagens e ações de valorização da cultura negra e indígena Por Vilma Neres*
C
ertamente você já soube que a Coordenadoria da Igualdade Racial no início de sua criação se constituía de dois órgãos públicos administrados apenas por uma coordenadoria. Criada em 2006 como Coordenadoria da Mulher e da Igualdade Racial. Mas em 2009, a fim de atender a uma demanda de governo, a Coordenadoria da Mulher e da Igualdade Racial foi desmembrada, criando-se então duas coordenadorias: uma voltada para as questões da Mulher e outra para as da Igualdade Racial. Inaugurado em 2008, o Centro de Referência de Cultura Negra e da Igualdade Racial Xikelela, administrado pela Coordenadoria da Igualdade Racial, é o mentor das atividades em benefício da diversidade etnicorracial, de combate e enfrentamento do racismo. Só em 2010 a Coordenadoria realizou atividades para cerca de 29.838 pessoas através de ações realizadas direta e indiretamente. Um dado importante se levarmos em consideração que a cidade de Guarulhos abriga cerca de 1.222.357 pessoas, de acordo com censo 2010. As ações desenvolvidas pela Coordenadoria da Igualdade Racial se concretizam a partir de seminários, de workshop, publicação, encontros, oficinas e cursos de formação para jovens ingressarem no mercado de trabalho. Foi possível implementar o Projeto Xikelela a partir de recursos de emenda parlamentar da deputada federal Janete Pietá e da parceria com o Governo Federal, através da SEPPIR- Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. O foco do Projeto Xikelela é promover oficinas culturais e em paralelo fomentar discussões sobre diversidade etnicorracial, empreendedorismo, mídia, racismo e valorização da
autoestima da população negra e indígena, especificamente, e entre outros povos como a população cigana. Durante o ano de 2010 o Projeto Xikelela ofereceu 11 modalidades de oficinas, sendo estas: Cultura dos povos indígenas; Africanidades para crianças; Colares e brincos; Bonecas em miniaturas; Biscuit; Comunicação; hiphop itinerante; Penteado afro; Bonecas negras; Arte em tela; Dança afro. A realização dessas oficinas permite reflexões diante do racismo e valorização da cultura desses povos, além de possibilitar geração de renda, como é o caso das oficinas de biscuit, penteado afro, confecção de colares, brincos e bonecas negras. De acordo com Vera Lúcia de Oliveira, da Equipe Pedagógica do Projeto Xikelela, em 2010 as oficinas já beneficiaram cerca de 2.341 pessoas, entre crianças, jovens e adultos. A educadora Cristianne Lopes, da Oficina de Biscuit, durante a realização da oficina ensinou aos participantes a criar e modelar acessórios em biscuit, além de provocar discussões acerca da autoestima das pessoas a partir da confecção de bonecas negras. Cristianne Lopes nos conta que “cada pessoa inscrita reagiu de forma diferente da outra, algumas ficaram surpresas com o fato de as bonecas de biscuit serem negras. Outras gostaram por não ser um produto fácil de encontrar em lojas desse segmento”, avalia. Em muitos casos, os/as educandos/as identificaram ser
5
a primeira vez que discutiam o assunto, o que evidencia como o mito da democracia racial ainda impera na nossa sociedade. Assim como a educadora Cristianne Lopes, o restante da equipe de educadores/as do Projeto Xikelela promoveu discussões referentes à desconstrução de estereótipos racistas de modo interdisciplinar. Essa metodologia permitiu assegurar para os participantes uma discussão mais educativa, pois sabe-se que os crimes de racismo não é um problema das minorias políticas, mas de todos/ as nós, cidadãos brasileiros/as. Como resultado avalia-se que o problema do racismo não será resolvido em apenas quatro meses de oficinas, mas ainda assim é possível garantir a reflexão e sensibilizar cada participante. Um exemplo desse resultado é a reflexão que uma das educandas escreveu, “na escola, por exemplo, estamos fazendo palestras sobre preconceito e em casa aviso e ensino aos meus irmãos menores”, conta Bárbara Aparecida Lins Silva, 17 anos. Em 2011 a Coordenadoria da Igualdade Racial através do Projeto Xikelela irá oferecer oficinas de Dança afro; Africanidades para criança; Penteado afro; Escola de hiphop itinerante; Biscuit; Colares e Brincos; Cultura dos povos indígenas. Espera-se que mais ações como estas sejam promovidas pelo poder público e privado, pois quem ganha é a sociedade. *Jornalista (DRT/BA 3.382), foi educadora da Oficina de Comunicação do Projeto Xikelela entre agosto e dezembro de 2010.
6
Novembro Negro Mês da Consciência Negra As ações institucionais voltadas para o Dia da Consciência Negra iniciaram-se em Guarulhos no ano de 2001. No dia 20 de novembro celebra-se o grande herói brasileiro, Zumbi dos Palmares símbolo da resistência negra. A partir de 2009 as ações realizadas ganharam proporção, de modo que a Semana da Consciência Negra deu lugar ao Novembro Negro. O Novembro Negro é uma ação política que visa à desconstrução de estereótipos e preconceitos, ao resgate e à valorização da cultura negra, à recuperação da memória negra na cidade e à promoção da igualdade racial. No ano de 2010 a Coordenadoria da Igualdade Racial (CIR) apresentou à cidade uma programação de 54 atividades de música, dança, cultura, formação política, teatro, exposições, lançamento de revista, dentre outras. A realização do Novembro Negro que celebrou
os 450 anos da cidade contou com a parceria de 31 entidades da Sociedade Civil e empresas apoiadoras e 21 órgãos de Governo e Autarquias. Nesse ano, o Novembro Negro estabelece como eixo central os 10 Anos da Conferência Mundial Contra o Racismo e a resolução 64/169 da ONU que declara o ano de 2011, como Ano Internacional dos Afrodescendentes, reforçando os compromissos dos países na defesa dos direitos da população negra. Confira abaixo, o SELO criado pela la SEPPIR que será adotado pelaa Prefeitura de Guarulhos.
7
MANIFESTO Novembro Negro 2010
D
esde que o primeiro africano pisou em solo brasileiro, não cessou nossa luta por liberdade. A resistência negra iniciou-se desde os navios negreiros. A figura de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares é símbolo dessa resistência. É em sua homenagem que neste 20 de novembro celebramos o Dia Nacional da Consciência Negra. Relembramos nesta Marcha um dos marcos de nossa resistência, a Revolta da Chibata, que completa cem anos em 2010. A revolta foi protagonizada por , João Cândido Felisberto, o Almirante Negro, que lutou pela extinção dos castigos físicos na Marinha Brasileira, que eram aplicados aos marinheiros de baixo escalão, mesmo após 22 anos da abolição da escravatura. João Cândido foi inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, apenas depois que um operário chegou à Presidência da República. Nos 450 Anos de Guarulhos, queremos também reverenciar Luís Gama, que dá nome a uma rua do Centro da cidade. Filho de Luísa Mahin, nasceu livre em 1830 e foi vendido como escravo pelo próprio pai, um fidalgo de origem portuguesa. Aprendeu a ler com 17 anos de idade, tornou-se escritor, poeta e foi precursor da luta abolicionista. Sonhava com um Brasil sem rei e sem escravos. Sua liberdade foi conquistada após ter conseguido provar que nascera livre e, segundo as leis da época, um brasileiro filho de pessoas livres, não poderia ser vendido como escravo. Autodidata, exerceu a função de rábula, ou seja, tornou-se advogado sem ter concluído o curso de Direito. Ao longo de sua vida, libertou mais de 500 escravos, seja através de sua defesa nos tribunais ou arrecadando dinheiro para comprar-lhes a alforria. A herança escravagista de ontem e a cultura racista camuflada de hoje nos negam a memória de nossos heróis e de nossos antepassados que lutaram pela liberdade.Ocupamos as ruas de nossa cidade neste 20 de Novembro para reverenciar os grandes
8
líderes negros e negras que nos inspiram a assumir nossa negritude e a lutar para transformar a realidade em que vivemos. Nos 450 Anos, Guarulhos recupera simbolicamente uma parte da memória de seu povo negro; demolida na década de 20 e reconstruída com seu nome mutilado a Igreja Nossa Senhora do Rosário, tornase novamente a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.
Ensaio FotográfIco dos Alunos Fotografia é informação Fotograr é um tipo de linguagem visual porque informa, educa, nos permite observar e apreciar paisagens, entender os processos históricos, conhecer lugares, etc. Partindo deste princípio e por entendermos que a fotografia é uma ferramenta de comunicação, durante a realização da Oficina de Comunicação, do Projeto Xikelela, introduzimos conceitos e elementos de composição fotográfica e como atividade produzimos um pequeno ensaio. Sabemos que todo ensaio fotográfico é produzido a partir de um assunto. Para esse ensaio fotográfico decidimos traba- lhar com o tema Novembro Negro, realizado em Guarulhos no dia 20 de novembro (2010) durante a macha em homenagem ao Dia da Consciência Negra. Confira abaixo algumas destas fotografias produzidas por educandas/os da Oficina de Comunicação:
Foto : Janeclécia Barros
Foto : Valdemir Silva
Foto : Valdemir Silva
9
Foto : Terezinha Souza
Foto : Valdemir Silva
10
Foto : Valdemir Silva
Foto : Valdemir Silva
Foto : Valdemir Silva
11
Foto : Margareth Augusta dos Santos Foto : Alexandra Alves
Foto : Janeclécia Barros ecl
Foto : Valdemir Silva
12
Foto : Caique Mota Cavalcante
. Saude Vamos conversar sobre saúde da população negra? Por Deivison Nkosi*
Porque saúde da população negra?
D
urante muitos anos a sociedade ocidental tratou a saúde como “ausência de doença”. As doenças por sua vez eram vistas de forma individual e isolada. Esta noção de doença nos faz comprar remédios para dor no estômago, por exemplo, sem nos questionar sobre o contexto social e psicológico que criou a dor: estresse, preocupações, correria da vida urbana, etc. Por outro lado, quando observamos os dados estatísticos de como as doenças se espalham (epidemiologia) entre a população brasileira podemos observar que elas estão intimamente relacionadas às desigualdades econômicas, raciais e de gênero. Um exemplo desta complexa associação é a saúde da população negra brasileira. Ao analisarmos importantes agravos à saúde, observa-se que o “nascer, crescer, adoecer e morrer” da população negra está intimamente ligado às desigualdades raciais. Vejamos alguns estudos:
Segundo o IBGE, os critérios de autoclassificação segundo a cor são: Preto, Pardo, Branco, Amarelo e Indígena 22,77 para cada 100 mil para os homens brancos e 41,75 para cada 100 mil para os homens negros; - a expectativa de vida ao nascer dos brasileiros é de 73,99 anos para os brancos e 67,87 anos para os negros; - a redução das taxas de mortalidade infantil foi menor entre os pretos (25%) do que entre os brancos (43%). Em vinte anos (1980 a 2000) a diferença relativa entre os níveis de mortalidade infantil dos dois grupos praticamente dobrou. - a taxa de mortalidade por Aids no Brasil 2000 foi de aproximadamente 10,61 para cada 100 mil para mulheres brancas, 21,49 para cada 100 mil para as pretas,
- a taxa de mortalidade materna de mulheres pretas (245,54) supera 6,3 vezes a mortalidade das mulheres brancas (37,90) em todo o estado de São Paulo; - para as crianças negras com menos de um (1) ano de idade, o risco de morte por doenças infecciosas foi 43% maior que de crianças brancas; - o risco de um homem negro de 15 a 49 anos ser vítima de homicídio é 2,18 vezes superior a um homem branco na mesma faixa etária.
13
. Saude O que estes dados nos mostram? Será que os negros são biologicamente mais fracos que os brancos, já que morrem mais? Os negros não são biologicamente mais fracos que os brancos. Aliás, as diferenças biológicas entre brancos e negros são quase inexistentes. A verdadeira explicação não está na biologia, mas sim em nossa sociedade racista e desigual. O racismo relaciona-se a outros fatores como pobreza, machismo e desigualdades geográficas influenciando drasticamente o contexto de vida da população negra. Por outro lado, estas desigualdades atravessam os muros do sistema de saúde produzindo um pior atendimento e acesso à população negra. O Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro é um dos melhores sistemas públicos de saúde do mundo, mas enfrenta grandes desafios para existir de fato como foi planejado. Entre estes desafios está a superação da invisibilidade às desigualdades raciais em saúde. Ao
Fotografia de Luis Alberto-UNESCO
mesmo tempo em que o sistema de saúde finge que todo mundo é igual, as desigualdades se perpetuam de diversas formas.
Mas e o quico? (O que você tem a ver com isto?) Em primeiro lugar temos que dar visibilidade às desigualdades raciais em saúde (racismo institucional). Fique ligado(a) como a população negra é tratada nos serviço de saúde: acompanhar, informar, propor e denunciar quando notar algum descaso. Em segundo lugar é importante saber que depois de muita pressão do Movimento Negro, o Ministério da Saúde lançou em 2008 a Política Nacional de Saúde da População Negra. Esta política foi um grande avanço porque o Governo brasileiro, através do Ministério da Saúde, reconhece que o racismo exerce influência sobre a saúde da população negra e que precisa ser combatido pelo serviço de saúde. No entanto, a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra é muito pouco conhecida pelos profissionais e gestores de saúde, militantes do movimento social e sociedade em geral. Precisamos conhecer melhor essa política e questionar as Unidades Básica de Saúde
14
mais próximas, bem como o Conselho Municipal de Saúde e a Secretaria de Saúde sobre o que está sendo feito, para que esta não seja mais um importante instrumento que não sai do papel. Para saber mais, consulte o blog da Rede Nacional de Saúde da População Negra através do link a seguir: http://redesaudedapopulacaonegra.blogspot.com/ FAUSTINO. D.M (Deivison Nkosi)) é Mestre em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina do ABC e Professor de História da África da Faculdade São Bernardo e representante da Rede Nacional de Saúde da População Negra. Bibliografia consultada: AYRES, J.R.C. e Col. Risco vulnerabilidades e práticas de prevenção e promoção da saúde, p.375-417 in Tratado de Saúde Coletiva. AKERMAN, M. et al (orgs.).Editora Hucitec, São Paulo, 2006. BATISTA, L. E.; KALCKMANN, S. (org.). Seminário da população negra de São Paulo 2004. Temas em Saúde Coletiva 3. São Paulo: Instituto de Saúde. 2005. LOPES, F. Experiências desiguais ao nascer, viver, adoecer e morrer: tópicos em saúde da população negra no Brasil. In: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Caderno de textos básicos do seminário nacional de saúde da população negra. Brasília, DF, 2004. p. 39-100.
Vamos driblar a anemia falciforme com diagnóstico e cuidado Por JULIANA DE ALMEIDA, DANIELA SILVA E TALITA NASCIMENTO
A
tualmente, os resultados de algumas pesquisas e dados estatísticos têm mostrado as desvantagens em diversos parâmetros sociais em que se encontram os homens e as mulheres negras. No quesito saúde, ainda que o estado brasileiro promova políticas públicas em prol da saúde de todas e todos, através do Sistema Único de Saúde (SUS), não há garantia de prevenção e diagnóstico das doenças que mais atingem a população negra, a exemplo da anemia falciforme. De acordo com a Pesquisa Nacional de Domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE/2006), a realização de exames clínicos de mama durante uma consulta ginecológica é menos frequente para mulheres negras que para as brancas. O Brasil possui cerca de 72.632.421 habitantes, sendo 45% desse contingente formado pela população negra. Desse modo este país não pode desconhecer as necessidades de saúde da população, a exemplo da anemia falciforme – anemia crônica e que mais afeta a população negra. (DADOS DEFASADOS) Segundo Censo 2010, a população do Brasil é de 185.712.713 habitantes, não localizei os dados referente o quesito raça/cor. Aqui no município de Guarulhos há muitas pessoas que possuem a anemia falciforme ou anemia crônica. Se o diagnóstico for realizado precocemente é possível conviver de forma saudável, como relata a bióloga Andrea Vasconcellos, 39 anos: “Uma das coisas que eu aprendi com o tempo é interpretar o meu corpo. Se eu estou mais cansada, é hora de diminuir o ritmo e descansar. Se o clima mudou, é hora de me agasalhar ou tomar mais líquido. Aprendi a lidar com o preconceito em relação a essa doença, e com a “dó” que as pessoas tendem a ter de você, por ter uma doença como a anemia falciforme”, conta. Sintomas da anemia falciforme – De acordo com Andrea, em seu caso alguns sintomas foram identificados logo na infância com a ajuda de um médico pediatra,
pois ela sofria com infecções na garganta e fez cirurgia para retirar as amígdalas. “Depois da cirurgia tive uma hemorragia e entrei em coma por 18 dias. Eu tinha quatro anos, e foi aí que, através do exame de sangue, o pediatra diagnosticou que havia algo de estranho e encaminhou para um hematologista”, conta. A anemia falciforme ou anemia crônica é uma doença herdada de mãe para filho(a) ou de pai para filho(a). Vamos ler outro depoimento da professora Beatriz Santos, 23 anos, que relata como ficou sabendo que tinha anemia falciforme. “O meu pediatra começou a suspeitar quando eu tinha oito meses, mas como eu morava numa cidade no interior da Bahia e não tinha como fazer todos os exames para confirmar, ele solicitou que meus pais procurassem um lugar com mais recursos. Daí os meus pais me levaram para Marília, aqui em São Paulo, e os médicos de lá diagnosticaram”, relata. Beatriz Santos diz ainda que é “basicamente normal, mas é claro que tento evitar situações que podem desencadear uma crise, tais como excesso de esforço físico, estresse, tento me manter sempre bem hidratada, coisas do tipo”, explica. Para a estudante de Direito, Fernanda Lourenço, 28 anos, que também tem anemia falciforme “ainda é ruim saber que muitas pessoas não têm consciência da existência da anemia falciforme ou o que sabem é muito precário. Mas na rotina também entra a explicação ao próximo, não importa se é a faxineira da escola em que dou aula ou aos auxiliares de enfermagem que me atendem”, conclui. Aqui em Guarulhos, na área médica, a única especialista em doenças hematológicas é a dra. Cristiane Maria da Silva Pinto, que trabalha no Hospital Municipal da Criança – HMC. Como podemos perceber, ainda há muito que se fazer em termos de políticas públicas em prol da saúde da população negra.
15
ultura
Maria da Resistência Por Margareth Augusta Dos Santos, 43 anos, mora no Jd. Presidente Dutra, é maã e educadora através do Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos ( MOVA) e Caique Mota Cavalcante, 15 anos, cursa o ensino médo na E.E. Francisco Antunes Filho, gosta de ser reconhecido como intelectual, pretende ser jornaltista, empresário e gastrônomo.
M
aria da Resistência, 40 anos bem vividos, é mãe de seis filhos, crioula forte, nascida no interior de Minas Gerais, migrou para São Paulo pelos idos de 1980. Como o próprio nome diz, Maria era rep sistente sisten e resistiu, com bravura até os 23 aanos, à sua verdadeira cor. Um fato fat interessante aconteceu, descobriu que não era morena escuco ra... ra Babado! Foi numa consulta de pré-natal que ao olhar o prontuário estava lá... Era fato... Cor tuá NEGRA! Sua decepção foi tão grande NEG que ao chegar em casa foi logo contar ao c seu m marido: - Você acredita que colocaram no V meu p prontuário que sou negra? - Mas meu bem, que cor você acha que é? Pergun Perguntou o marido. Foi aí que a crioula desesperada saiu do corpo corpo, passou a viver em função de criar os filhos. Teve infância difícil, para a sua sobrevivência começou a trabalhar aos brevivê oito an anos de idade como empregada doméstica. Auto-estima ela nem sabia o significado, que é “amor por si, o poder se olhar no espelho e se reconhecer”. Ao ligar a TV ou ao ver alguma revista nunca se viu representada, com muita vergonha e culpa por ser quem era: “Uma mancha escura na sociedade... Vivia como que pedindo desculpas por sua existência.” Com muito medo de ser estereotipada, na adoles-
16
cência, perdeu a alegria e a ousadia que é inerente a todas as crianças. Mas a negra teve um lapso de lucidez, volta ao corpo, termina o ensino médio e aos 36 anos teve seu primeiro e único registro na carteira de trabalho. A negra ainda era muito frágil, e se deparou com uma chefe hostil, irmã de cor que na sua vida foi como um capitão do mato. Saiu do corpo mais uma vez, diante de tantas idas e vindas o corpo de Maria começou a dar sinais de cansaço e pegou o órgão reprodutor, onde está o auto amor. Ela passou a ter perdas urinárias e de Maria Resistente passou a Maria sem resistência. Vagando fora do corpo, Maria não tinha trabalho, precisou de ajuda pública para se locomover até ao hospital. E o Estado lhe disse: -Você é problema do Município. Em resposta o Município diz: -Ti vira negra o problema é seu. Então, ela retorna ao corpo, toma posse de si e descobre que ela é a sua maior missão. Olhou no espelho e viu o que ela procurou por toda vida, ela mesma. E fez algumas ações para o seu fortalecimento: curso de bonecas e se viu representada; curso de penteados afro e se sentiu bonita; participou do programa Saúde da Mulher e acordou para a sua sensualidade; viu na comunicação a grande oportunidade de ser ouvida. Babado! A negra decidiu que daqui pra frente ia “viver e não ter vergonha de ser feliz... E cantar a beleza de ser um eterno aprendiz...”.
Cabelo enrolado e crespo Entrevista com a trançadeira Ana Lúcia de Jesus Mendes Por Luis Felipe Mendes, participou da primeira Turma da Oficina de Comunicação.
Ana Lúcia Santos de Jesus Mendes, 31 anos, nascida no município de Guarulhos/SP, é especia- lista em trançar cabelos enrolados e crespos, a seguir Ana Lúcia conta para nós algumas dicas de como pentear e cuidar do cabelo crespo. Luiz Felipe Mendes: Quando começou essa cultura de trançar os cabelos? Ana Lúcia: Ah! Foi há muito tempo, muito antes da escravidão e vem se aperfeiçoando cada vez mais. Desde muito tempo, a gente pode ver isso nos filmes antigos, o uso das tranças no cabelo era muito chique e não era só mulheres que usavam, os homens também trançavam seus cabelos. Hoje em dia o penteado com tranças é uma característica das mulheres negras, que têm cabelo encaracolado ou crespo. Mas o uso das tranças combina em qualquer pessoa, seja homem ou mulher, e em diversos tipos de cabelo, seja liso, crespo, encaracolado ou enrolado. Luiz Felipe Mendes: Quando você se interessou em trançar cabelos crespo e enrolado? Ana Lúcia: Eu estava num supermercado quando vi uma moça, com o cabelo diferente, bonito. Foi a partir daí que começou o meu interesse de trançar cabelos.
Luiz Felipe Mendes: É difícil aprender a trançar cabelo? Ana Lúcia: Sim! É um trabalho demorado, mas no fim se tem uma bela obra de arte. Luiz Felipe Mendes: Qual é a sensação de contribuir com valorizar da estética negra? Ana Lúcia: É uma alegria e tanto, pois, eu também sou negra, e só de saber que estou contribuindo com a valorização da nossa auto- estima me deixa muito alegre e confiante. Luiz Felipe Mendes: Qual mensagem você deixar para todos e todas nós? Ana Lúcia: Que levantem a cabeça, que nunca se deixem levar pela descriminação, continuem lutando pelos objetivos e que nunca deixem de sonhar.
Hip Hop 450 em homenagem a cidade de Guarulhos
O
título desta matéria faz alusão aos 450 anos da cidade de Guarulhos, comemorado no dia 8 de dezembro do ano passado. Hip - hop 450 graus aborda alguns ângulos de afirmação de que, apesar das dificuldades, o movimento mostra-se cada dia mais resistente. O hip - hop se popularizou nas décadas de 60 e 70 pelos guetos e periferias da Jamaica, Estados Unidos e em países da América latina. Os jovens
Por LARISSA TEIXEIRA PRESCINOTTO, 18 anos, vestibulanda em Sociologia, reside no Jardim Presidente Dutra, Guarulhos; e VALDEMIR DA SILVA, 33 anos, Conselheiro do COMPIR- Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial Militante do Hip Hop Guarulhense, reside em Cumbica.
17
ultura de lá sofriam diariamente preconceitos, discriminação, pobreza, falta de infraestrutura educacional, problemas com drogas e violência. Com isso, em 1973 foi criada a Zulu Nation, uma ONG fundada pelo DJ Afrika Bambaataa que tem como princípios as bases do hip - hop: paz, amor, união e diversão, além de organizar palestras sobre diversos conhecimentos. Além de música, dança e arte, os militantes e apreciadores(as) desse movimento têm um modo particular de se vestir e de falar. Os elementos de articulação do movimento hip - hop são: Break; DJ; MC (mestre de cerimônia); Grafitte. Como se vê abaixo a definição de cada elemento: Grafitte – desenhos, com forte apelo à exuberância das cores, produzidos com o uso de tinha spray, muitas das vezes, retratados em espaços públicos, como muro e viaduto. O grafitte é uma arte plástica que busca retratar o cotidiano da sociedade, fazendo críticas sociais que nem tudo está em ordem e que muitos comportamentos não podem ser considerados normais, muitas das vezes reproduzidos pela televisão. Como a prática de crimes sexista, racista, homofóbico, lesbofóbico, entre outras questões problemáticas e temas político-sociais que são expressados em forma de desenho; MC’s (mestre de cerimônia) – são rappers (homem e mulher) responsáveis por entoar e cantar as letras de rap; Dj’s - os animadores de festas, pessoas que mixavam as músicas tocadas por meio de instrumentos como a pick-up; Break - dança artística de rua com movimentos peculiares e próprios do Hip Hop. Os(as) dançarinos de break são conhecidos(as) por B.Boy (quando é homem) e B.Girl (quando é mulher). Os movimentos do break surgiram para criticar contra a guerra do Vietnã, que através do corpo fazem movimentos que lembram hélices de helicóptero, e às pessoas mutiladas, movimentos conhecidos dentro do Hip Hop como: moinho de vento e robozinho.
18
E
m Guarulhos o hip - hop existe desde a década de 80, teve sua presença garantida nos bailes das grandes equipes de som da época, a exemplo do Cash Box, Cash Money, Zimbabwe, Dinamite, Cascatas, Black Mad, Bleckout Geral, entre outras. Como conta o DJ Bonne Dee, que é produtor fonográfico, responsável pela assessoria artística de algumas
DJ Bonne Dee
bandas dos seguimentos do samba e rap, mas continuo no rap e, paralelamente, exerce a função de DJ: “o movimento Hip Hop me influenciou a tomar gosto pela leitura e preservo esse habito até o dia de hoje. No início dos anos 90, quando o rap nacional, em especial paulista, conquistou um espaço considerável, os temas abordados em sua grande maioria eram os seguintes: racismo, violência policial, alta valorização do homem preto. Como os rappers geralmente escreviam as suas próprias letras, para que as letras ficassem mais fortes e com mais conteúdo, boa parte da cena paulista de hip - hop recorreriam aos livros, que não eram muitos expostos nas livrarias, com muita dificuldade alguém conseguia um exemplar e esse livros eram passados de mão em mão. Eu, Bonne Dee, fui um desses rappers que recorreu aos livros para obter conhecimento, que também apliquei na época ou melhor aplico até o dia de hoje em minhas letras e na minha vida. Na verdade sou um de-
nominado autodidata graças a um amigo chamado Ari ou skema que escreveu inúmeras músicas para o rapper Thaide da dupla Thaide e DJ Hum, ambos fizeram muito sucesso e ganharam visibilidade nacional cantando rap. Fui abençoado com a oportunidade de ter em minhas mãos livros como: História Geral da Africa, Nelson Mandela, Steve Biko, Malcon X, DR Martin Luther King, Black Panthers, Maquiavel e o Príncipe, coletâneas que tentavam explicar algo sobre Zumbi dos Palmares e a resistência quilombola no Brasil”, contextualiza DJ Bonne Dee. O movimento hip hop guarulhense foi consolidado apenas em 1993, quando diversos grupos começaram a surgir nas periferias. Excluídos e marginalizados em todas as ações de grande porte, artisticamente falando. O boicote se desmascara após o rompimento de alianças com políticos locais, empossados em secretarias de interesses comuns, como Cultura e Educação. Um dos grandes nomes e mestre de cerimônia (MC) da época era o MC Cool, hoje chamado de Bonne Dee Band Bom, além de exportar grandes nomes de grupos como Gang Master 90, Calibre Urbano, Aliados do Gueto, Memória DMC`s, SNJ, entre outros. Tivemos também a presença marcante dos Breikers Grafiteiros e DJ`s na história da cidade de Guarulhos. O hip hop guarulhense tomou projeção em meados de 1990, quando começou a participar das antigas coletâneas de disco de vinil. Realizadas por equipes de som ou organizadores de eventos grandes da época, sempre na grande metrópole, no ABC e no Interior paulista. O graffiti é pintura com objetivo de ser visto e apreciado sempre por um número maior de pessoas, e mais além é arte plástica. De acordo com Amilton Júlio que usa codinome Mister Peu, o graffiti atual começou entre 1970 e 1975, em Nova York, quando os caras de lá, desenham nas estações de trem seus nomes, ou nome do seu bairro, ou rua e iam colocando em vários lugares. Desde então, começou a crescer e se espalhou pelo mundo. Em São Paulo
um dos maiores precursores do graffiti foram Os Gêmeos e o Binho. Os Gêmeos é mais Internacional e o Binho é mais nacional. Binho foi uma das pessoas que ajudou muito o graffiti a crescer no Brasil e em São Paulo, e Os Gêmeos levaram o nome do Brasil para fora”, relata Mister Peu. Mister Peu acredita que hoje “as pessoas reconhecem o graffite como arte, como uma forma de expressão. O graffiti hoje em dia está mais tranquilo, a mídia tem ajudado bastante a mudar o graffiti e mostrar que o graffiti não é mais como antigamente, vandalismo”. Para Mister Peu o graffiti enquando arte expressa estilo e a visão de mundo de muitos jovens, que tentam através do graffite mostrar o que sentem e pensam para poder mudar o contexto de muitas pessoas, porque DJ Bonne Dee às vezes um desenho ou uma escrita na parede, hoje em dia garante mais atenção e acaba pensando, refletindo a partir daquele mensagem expressada com tintas de spray, desenho e muita cor. “O trânsito de São Paulo é terrível, então é uma maneira de as pessoas se distraírem e pensar sobre o tema que está na parede, no caso, racismo, violência, droga , etc”.conta o grafiteiro Mister Peu. O grande marco do hip hop em Guarulhos foi no período de 1997 a 1999, quando a Rádio Costa Norte difundia os trabalhos dos grupos de Guarulhos e de toda grande São Paulo. . Parabéns Guarulhos pelos seus 450 anos, parabéns ao Movimento hip - hop pela resistência.
19
Rap realidade contada através da música Por Bruna Mariano Silva, 19 anos, moradora do bairro Pimentas - Vila Any, vestibulanda para seguir a carreira de Produtora de TV . e Nathan Figueiredo Arruda, 19 anos, morador do bairro Pimentas - Vila Any , vestibulando para seguir a carreira de Produtor de Tv.
Foto de leo.eloy (http://www.flickr.com/photos/leoeloy
O
rap é uma abreviação para rhythm and poety, na tradução significa ritmo e poesia, e foi criado nas comunidades negras dos Estados Unidos, no final do século 20. Uma característica marcante desse gênero musical é o ritmo acelerado e também sua melodia singular. Teve destaque maior aqui no Brasil, principalmente dentro das periferias. Aqui no estado de São Paulo, os primeiros grupos de Rap começaram a se reunir na Estação de Metrô São Bento, na capital. Os compositores desse gênero musical trazem em suas letras poesia, filosofia de vida, e posicionamento
20
político. Normalmente o rap expressa a desigualdade social, a violência das ruas, preconceito, pobreza, denuncia injustiças vividas pelas pessoas que vivem em períferias, muitas vezes como protesto e até mesmo histórias verídicas, que são cantadas e contadas pelos mestre de cerimônia (MC’s). Leandro Roque de Oliveira, mais conhecido como Emicida, 25 anos, nascido em São Paulo, é um dos rappers mais conhecido da atual geração. Além de rapper, Emicida é repórter e produtor musical, abaixo fizemos transcrição do trecho de uma de suas produções, que identifica uma característica marcante do rap, a criação de uma letra inspirada em uma realidade mais subjetiva: “Nosso sofrimento dá prêmio pra quem se esconde em bairro nobre. Tô cheio disso, igual as cadeias é cheias de pobre (...) Cidadania onde? Nós cuspiu na lei de Gandhi É quente memo, cidadão é uma cidade grande”. E como dica, para os guarulhenses, indicamos o grupo de rap Interna Mente, que produz um rap mais moderno, com a apropriação do violão e batida eletrônica. Para ouvir e conhecer mais sobre o grupo. Acesse:http://myspace.com/internamente.
Guarulhos Hip Hop 450 Por Larissa Teixeira Prescinotto, 18 anos, vestibulanda em Sociologia, reside no Jardim Presidente Dutra, Guarulhos; e Valdemir Da Silva, 33 anos, Conselheiro do COMPIR- Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial, reside em Cumbica.
J
aqueline Lima Santos, conhecida como Jaque, iniciou a sua militância aos 12 anos de idade no movimento hip - hop de Sorocaba, participando de oficinas de MC’s e de eventos de mobilização social nas periferias da cidade. O contato com o hip hop transformou a sua vida, e lhe deu instrumentos para uma atuação política e social. Começou no hiphop como rapper, hoje escreve letras e atua no quinto elemento do movimento através de pesquisa, formação e difusão do conhecimento. Participa do Fórum de hip hop do interior, e é militante do Movimento Negro Unificado (MNU). O hip hop fez com que desse grande valor aos estudos. Hoje é formada em Ciências Sociais, e estudante de Mestrado em Ciências Sociais/Antropologia pela Universidade Estudal Paulista (UNESP), onde atua como pesquisadora no NUPE (Núcleo Negro da UNESP para Pesquisa e Extensão). Suas linhas de pesquisa são: Patrimônio Cultural, Diáspora Africana, Etnomusicologia, Identidade, Memória, Relações Raciais, Gênero e Juventude. Seu tema de mestrado é sobre o hip hop de Sorocaba. Participou da construção do Fórum Paulista de hip hop em 2002, uma rede estadual de organizações e militantes do movimento hip hop, e do Fórum de hip hop do interior nos anos de 2002, 2003 e 2004. Um dos seus objetivos é ocupar o espaço acadêmico e levar as contribuições do movimento negro e hip hop para o campo de construção do conhecimento. Em 2007 ganhou o prêmio Kabengele Munanga de melhor trabalho científico apresentado no Fórum África com o título: “Resignificando a Negritude nas Batidas de hip hop: Do Quilombo para a Periferia”. Confira abaixo a entrevista completa com Jaqueline Lima Santos:
Larissa Prescinotto e Valdemir Silva: Quais são as características mais marcantes do movimento? Jaqueline Lima: O que tem de mais marcante no hiphop, é que ele dá elementos para transformação social. Seus elementos, a discotecagem, o canto, as artes plásticas e a dança se apresentam como instrumento de transformação social, não é só arte pela arte, mas é uma relação destes elementos com o cotidiano que faz com que os jovens que têm contato com o movimento passem a ter um olhar crítico sobre a sociedade e criem um potencial de transformação social, seja local, nas suas comunidades, ou seja, uma transformação social mais ampla. Outro fator marcante no hip hop é a construção da identidade negra, que é uma identidade que foi historicamente negada no Brasil, e o hip - hop leva para as comunidades e periferias essa necessidade de afirmação, a história do negro no Brasil, a importância de se firmar essa identidade, esse orgulho do que a gente é; ele conta a história não contada. Como exemplo disso, estudei em uma escola chamada Zumbi dos Palmares, mas nunca os professores falaram sobre quem foi Zumbi, eu só descobri quem ele era graças a uma letra de Rap.
21
Larissa Prescinotto e Valdemir Silva: Qual a influência do hip hop na juventude da periferia e como ele pode ser usado na luta a favor de igualdade racial e social? Jaqueline Lima: Bom, o hip hop surge como instrumento de arregimentação política da sociedade negra e periférica. Quando ele surge lá em Nova York ele surge não só como uma ferramenta de diversão, mas como uma ferramenta política, por exemplo, os guetos de Nova York, onde surge oficialmente o hip hop era habitado por jovens negros e caribenhos, na sua maioria afro caribenhos. Existia em Nova York conflitos entre comunidades e a dança, o breaking, serviu para acabar com as brigas, com as guerras nas comunidades, ou seja, invés desses jovens saírem nos tapas eles disputavam na dança, uma forma saudável. O breaking mostra um pouco da realidade que os jovens viviam naquele momento, por exemplo, a questão da guerra do Vietnã, a maioria dos enviados eram os jovens negros e eles temiam muito a isso, então quando o B-Boy ou a B-Girl estão dançando quebrado, aqueles passos quebrados estão representando um soldado voltando mutilado da guerra, ou quando coloca as pernas para cima e gira, é a hélice do helicóptero na guerra do Vietnã, o corpo expressa um pouco da realidade que eles viviam,e eles dançavam na batida do soul e do funk da música negra que pregava a identidade e o orgulho negro. A maioria desses jovens que iniciaram o movimento hip hop era irmãos mais novos dos Black Phanters, que foi um movimento importante na luta para um lugar do negro na sociedade norte americana. Nos guetos de Nova York aconteciam as festas de rua que eram os Sound Systens e é ai que surge a figura do DJ ( Disk Jockey). As festas de rua começaram na
22
Jamaica. Os afros caribenhos migravam para os Estados Unidos em busca de melhores condições, mas quando chegavam lá eles não encontraram condições de vida melhores. Ao contrário, encontram racismo, preconceito, discriminação, exclusão do negro na sociedade e, então, eles levam essas festas de rua para lá. Os DJ´S tocavam as músicas que era a música negras norte - americana: soul, jazz, funk, e na intro e a deixa, que são os espaços da música que ficam sem fala, dão acesso ao surgimento do MC ( Mestre de Cerimônia). Ele subia no palco para animar a festa, para falar de diversão, em geral e além de falar de diversão falavam de sua realidade. Uma coisa muito particular era o graffiti, linguagem muito própria dos integrantes das comunidades de falar de sua identidade, da sua história, de seu orgulho e falar das coisas que iriam acontecer entre eles. Como eram muito perseguidos pela polícia, pela sociedade, então através do graffiti eles conseguiam se comunicar. Aqui no Brasil também existia uma juventude negra, periférica que estava excluída, marginalizada, que sofria violência policial, reprimida pela sociedade. Esses jovens, através dos bailes Black dos anos 70 começam a ser informados deste movimento e começam a se identificar com coisas que, por exemplo, na escola eles nunca tiveram sua identidade valorizada, sempre foram marginalizados, aquele menino, que vai para a escola e é chamado de todos os nomes pejorativos possíveis pois ele é negro, se bate em alguém por causa disso é expulso, ninguém escuta que
tipo de violência ele sofreu, pois ninguém esteve do lado dele, ninguém falou nada diferente para ele, a professora não falou nada diferente e ele simplesmente deixa a escola, e isso existe ainda hoje, questões do tipo: por que aquela pessoa foi violenta e agrediu a outra pessoa? A gente não tinha um impacto de afirmação na sociedade, então um cara vai ao baile e ouve a música do James Brown: Grite bem alto sou negro e tenho orgulho disso, ou outras músicas, ou vê os clipes e vê os negros se movimentando, ele se identifica, pois ele também vive uma realidade de exclusão social no Brasil... Então a maior influência do hip - hop aqui no Brasil na juventude foi essa questão da construção da identidade negra e estimular esses jovens a buscar transformação social através destes elementos. Larissa Prescinotto e Valdemir Silva: Você acha que se houvesse mais oportunidades para esses jovens da periferia envolvidos com o hip - hop mudaria a temática protestante de suas poesias? Jaqueline Lima: Sim. O hip hop em geral é expressão de uma realidade, se essa juventude não vivesse a exclusão, a marginalidade, a violência policial, a repressão, a falta dos direitos básicos, eles poderiam falar só de diversão e alegria. Larissa Prescinotto e Valdemir Silva: Você vê obstáculos dentro do movimento?
Jaqueline Lima: Pra mim o obstáculo maior que tem dentro do movimento foi superado, era o discurso de vítima. Somos sim vítimas da sociedade, temos que assumir isso, mas se só fizermos discurso de vítima a gente não muda nossa realidade, pois ninguém vai dar nada pra gente, esse discurso que era um obstáculo foi transformado, não fica só na vitimização, mas sim o desejo de mudar nossa realidade . E o obstáculo, que existe até dentro da própria cultura, é que vivemos em uma sociedade machista e o hip hop é a expressão dessa sociedade. Há uma contradição muito grande no hip hop, pois a maioria dos homens foi criado por suas mães solteiras, a maioria não conheceu a figura do pai e quando conheceu não teve o pai presente, então eles exaltam a figura da mãe, e eles criticam totalmente a figura do pai, pois quem foi a guerreira na vida deles, quem cuidou deles, estimulou eles a mudarem de vida foi a mãe. Mas ao mesmo tempo toda mulher que não é a mãe é tratada no sentido pejorativo, então eles acabam repetindo o que os pais deles fizeram com as mães, por exemplo, os filhos deles talvez sejam criados só pelas mães, talvez os filhos deles façam o mesmo discurso que eles fazem sobre os pais, isso é uma contradição e um obstáculo no hip hop, que ainda é um movimento machista, mas ele é expressão de uma sociedade assim. Larissa Prescinotto e Valdemir Silva: Na sociedade há muitos mitos, por exemplo, dizer que no hip hop há muita violência, há muita marginalização, como você vê isso?
23
Jaqueline Lima: O obstáculo da sociedade é: tudo o que é da juventude negra é estigmatizado. Historicamente a juventude negra foi tratada como marginal. A maioria das pessoas que estão na marginalidade são pessoas que moram nas periferias, a maioria destas pessoas são jovens negros, então tudo que é de negros, e principalmente de jovens negros, vai ser marginalizado nesta sociedade. E outra, o hip hop tem um discurso agressivo, é a agressividade que esses jovens vivem que eles expressam através do grafitti, da dança e da música, então as pessoas se incomodam de ouvir isso. O hip hop tem o objetivo também de resgatar. Aí eu olho para mim e para vários outros amigos e vejo que nossa vida foi transformada e resgatada pelo movimento. Mas com este objetivo de resgatar, ele vai resgatar quem? Quem está na marginalidade. Então ele atrai essas pessoas para perto de si, só que a sociedade não compreende o papel que este movimento tem cumprido nas comunidades, e aí começa a ter este olhar do marginal, do agressivo. Eu acho que é uma coisa que vai ser difícil de ser superada, a capoeira foi perseguida, proibida, prendiam pessoas em praça pública. No candomblé, os policiais invadiam terreiros, fechavam, era proibido. E o hip-hop é uma manifestação mais contemporânea da cultura negra, então hoje ele é perseguido pela polícia, reprimido. Se você contesta a postura de um policial ele vai te perseguir, a gente vive numa sociedade onde, por exemplo, se eu estou aqui falando que a polícia é violenta, a corporação policial não pode repensar e deixar de ser violenta? Não, as pessoas levam para o lado pessoal e tentam agredir aquela pessoa que está fazendo o discurso. Por exemplo, a nossa sociedade é racista, a sociedade brasileira é racista, os dados mostram isso, mas enquanto a sociedade brasileira não admitir que é raacista e não escutar os negros que estão falando que ela é racista, ela não muda. Larissa Prescinotto e Valdemir Silva: O que você vê de promissor nessa cultura que é ao mesmo tempo muito boa e persistente e também muito reprimida pela cultura brasileira?
24
Jaqueline Lima: O que vejo de promissor é que o hip hop é um instrumento de transformação social, ele transformou a vida de muitas pessoas, o rap deu uma potencialidade para mim e deu uma potencialidade para vários amigos meus. Tem uma coisa que o Kl Jay que é o DJ dos Racionais falava no programa dele: Nem sempre no hip- hop vai ter um rapper, um DJ, grafiteiro, dançador de Breaking famoso, mas o hip hop está na nossa vida, tem um papel de transformação, ele cumpre um papel na nossa vida, ele traz novas expectativas, assim como eu houve várias pessoas que saíram do crime, da marginalidade, pessoas que tiveram o hip- hop como instrumento de transformação, que desenvolveram sua inteligência através dele, seja nas artes plásticas, na escrita, na leitura, na música, na discotecagem, seja o que for o hip - hop dá elementos para desenvolver diversas habilidades.
Capoeira a ra é art arte,, dança e poesia, camará! Por Fabiana Batista, 17 anos, estudante curso ensino médio, pretendo ser arquiteta, e moro no Continental II; e JAQUELINE BATISTA, 16 anos, estudante do ensino fundamental, pretendo ser fisioterapeuta,e moro no Continental II
H
oje a presença da capoeira na sociedade brasileira contribui com a memória histórica e cultural do nosso país. Mas, foram os negros, que aqui chegaram por voltam do século 16, que desenvolveram movimentos com a necessidade de lutar contra a opressão dos capatazes e senhor de engenho. Ao longo dos anos esses movimentos de pernas e braços ficaram conhecidos por capoeira angola e/ou regional. De acordo com o praticante de capoeira, Renato dos Santos, a diferença entre capoeira angola e regional é que capoeira angola é mais lenta e mais agachada, e a capoeira regional tem movimentos mais rápidos e é feita em pé. Ambos os tipos de capoeira têm em comum a roda, as ladainhas cantadas e musicadas com o som do berimbau, atabaque e do pandeiro. A capoeira além de ser um elemento típico da cultura brasileira, é informação, arte marcial, jogo, luta e poesia.
Informação útil: Liga Regional Guarulhense de Capoeira Presidente José Lapa Filho A liga foi criada há 19 anos e reune 28 associações e academias de capoeira
Culinária africana degustada em Guarulhos Por JAQUELINE SOARES VIEIRA, 16 anos, cursa o segundo ano do ensino médio, mora no bairro Jardim Nova Cidade – Guarulhos.
A
África por ser um continente muito grande, com 53 países, influencia na alimentação de outros povos e culturas espalhados por todo o globo terrestre. Podemos citar alguns exemplos de pratos da culinária africana que podem ser encontrados aqui em Guarulhos, como o cuscuz, o vatapá, o tutu, a feijoada, o acarajé, os caldos, etc.
O inhame faz parte do cardápio de quase toda a população de Guarulhos, e é muito consumido em dias de frio. Para quem não sabe, o inhame é cultivado em diferentes regiões do continente africano e foi inserido na culinária brasileira por homens e mulheres de origem africana, que de acordo com o historiador Ubiratan
25
Castro Araújo, chegaram em terras brasileiras por volta dos anos de 1541 (século 16), quando se estabelecia a rota atlântica do tráfico de pessoas para a Europa e, depois, para as Américas (Brasil, Estados Unidos, Cuba, etc.), conduzido por espanhóis e portugueses. Agora vamos falar de um prato tipicamente afro - brasileiro e que é, provavelmente, consumido de norte a sul deste país, os caldos. Abaixo segue a receita do caldo de inhame Abaixo segue a receita do Caldo de inhame: Ingredientes necessários: 8 inhames pequenos 1 cenoura média 100 g de bacon 400 g de carne moída (patinho ou acém) 3 cebolas médias 1 colher (sopa) de óleo 1 colher rasa (café) de colorau 1 colher (chá) de alho picado 1/2 litro de água fervente Sal a gosto 1 laranja doce Cheiro verde a gosto 1 cubo de caldo de carne 12 azeitonas verdes sem caroço Passo a passo para o preparo do delicioso caldo de inhame 1- Coloque o inhame para cozinhar no vapor, deixe até o ponto de amassar com um garfo. 2- Tempere a carne moída com sal, cebola e pimentado-reino. 3 - Corte a cenoura em cubinhos e deixe de molho com o suco de laranja. 4 - Coloque a água para ferver. 5 - Pique medtade de uma cebolas e a outra metade corte em rodelas grossas.
26
6 - Corte o bacon em pedacinhos e coloque em uma panela para fritar. 7 - Acrescente a carne e deixe refogar, acrescente colorau. 8 - Assim que a carne estiver pronta, com um caldo escuro, reserve em outra vasilha. 9 - Na mesma panela coloque o alho para fritar. 10 - Depois acrescente um pouco da água fervente e dissolva o caldo de carne. 11 - Coloque um pouco mais da cebola picada e o inhame amassado, desmanche até que fique todo homogêneo. 12 – Verifique o sal e a quantidade de água, deixe engrossar para não ficar ralo. 13 - Acrescente a cenoura e a carne e desligue o fogo após três minutos. 14 - Adicione o tempero verde, a cebola e as azeitonas. 15 - Arrume levemente com uma colher e sirva na própria panela ou coloque em uma sopeira.
o
çã uca
Ed
Sobre a Lei 10.639/2003 Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana... Para além da obrigatoriedade! Por Claudia S. Ferreira Lucena e Maria Arlete Bastos Pereira Estou convicto de que a finalidade da nossa educação reside não somente em educar um homem de espírito criador, um homem-cidadão capacitado para participar com a máxima eficiência na edificação do Estado. Nós devemos educar, também, uma pessoa para que seja obrigatoriamente feliz. Anton Makarenko
E
ste texto tem como proposta trazer algumas reflexões sobre o processo de implementação da Lei 10.639/2003 - Obrigatoriedade do Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, e apresentar algumas nuances da história de um grupo de profissionais da educação municipal de Guarulhos, intitulado GTPIR – Grupo de Trabalho de Promoção da Igualdade Racial, o que iniciou sua trajetória no ano de 2002, na ocasião como Comissão Organizadora da Semana da Consciência Negra. Constituído por profissionais da Secretaria Municipal de Educação, este grupo desejava transcender as ações de promoção da igualdade racial para além deste evento. Ao enfocarmos o processo de implementação da Lei 10.639/2003 evidenciamos também as experiências do GTPIR, posto que esta imbricado e permeado por muitos desafios, caminhos tortuosos, mas também êxitos! Para compreendermos a dimensão destas afirmações é necessário nos reportar a uma questão essencial: Qual é a educação que buscamos? Acreditamos que traduzir uma educação a partir de princípios democráticos é pensá-la na perspectiva de construir uma sociedade capaz de assegurar direitos sociais, econômicos, políticos e culturais a todos e todas. Como afirma Wallon, todos os educandos, quaisquer
que sejam as suas origens familiares, sociais étnicas, têm igual direito ao desenvolvimento, máximo que a sua personalidade implica (1977, p.178). Diante disto, a urgência é pela busca de uma política educacional que vislumbre um processo de transformação, o qual atue contra toda e qualquer forma de discriminação e exclusão. Neste sentido, tínhamos a clareza de que traba lhar com a temática da promoção da igualdade etnico racial não seria nada fácil, uma vez que envolve questões complexas
27
e implica mudanças, tanto de discursos como de posturas reprodutoras de uma mentalidade racista e discriminatória, ainda tão cristalizados no âmbito da escola. No entanto compreendíamos a importância e a necessidade de seguirmos adiante, se buscávamos, de fato, uma educação igualitária. Na luta contra o racismo não temos receio em fazer uma afirmação: A educação tem um papel imprescindível na reconstrução das imagens do povo negro, a fim de superar as “visões distorcidas” instaladas há quatro séculos em nossa sociedade. Reconhecemos que, muito embora, o processo educativo não seja a única via de acesso ao resgate da auto estima da criança, jovem e adulto negro, é sem dúvida uma das principais. Portanto, trabalhar identidade racial implica, o respeito à diversidade cultural tão presente na sociedade brasileira e que por vezes passa despercebida no espaço da escola e da sala de aula. O primeiro passo nesta direção pressupõe a desconstrução da crença de que vivemos em uma sociedade não racista - “Mito da Democracia Racial”- fundamentada na ideologia de que não vivemos em uma realidade de preconceitos e discriminações de ordem racial, mas apenas de ordem social! Este processo ao invés de deflagrar um contexto histórico cultural de desigualdades acaba por reforçá-lo. Precisamos “olhar de frente” para estas questões, compreendendo que o preconceito racial vem historicamente assumindo diferentes formas de manifestação. Atualmente lidamos com sua configuração mais desafiadora: o racismo velado. Este não se traduz em cenas explícitas de racismo, uma vez que para reconhecê-lo é preciso apurar o olhar, só assim perceberemos como
28
este está inserido, de forma naturalizada nas relações do cotidiano. Na trajetória das ações de promoção da igualdade racial, uma das mais significativas diz respeito à inclusão da temática sobre o estudo da história e cultura afro-brasileira (Lei 10.639/03) no currículo da escola. Acreditamos que esta Lei caracteriza-se como um divisor de águas na história de nosso país, no reconhecimento da diversidade etnicorracial que nos constitui, uma vez que busca dar visibilidade à população negra, do ponto de vista do direito ao autoco- nhecimento (identidade e diversidade), ao reconhecimento (humanidade e dignidade) e ao conhecimento (igualdade de oportunidades). Passados oito anos da promulgação da Lei, ainda encontramos dificuldades em trabalhar com o tema. Como justificativa para tal dificuldade são recorrentes queixas por parte dos educadores(as) sobre a falta de formação de recursos pedagógicos. No entanto, é necessário considerar que outros aspectos também interferem no processo de implementação da Lei, relembrando que somos produto de uma educação eurocêntrica e, em função desta, acabamos por reproduzir consciente ou inconscientemente os preconceitos que permeiam nossa sociedade, o que reafirma a necessidade de políticas de formação docente com foco na reflexão sobre as desigualdades raciais que permeiam o espaço escolar. Em relação a este aspecto podemos classificá-lo como o “núcleo duro” das ações de promoção da igualdade étnicorracial, como nos lembra Kabengele Munanga: As chances da escola ser um núcleo de resistência e de abrigo contra violência racial dependem de uma completa virada de jogo... Na verdade, uma obra sobre a superação do racismo na escola será sempre um libelo contra uma das mais perversas formas de violência perpetradas cotidianamente na sociedade brasileira. A violência racial
ããoo ç ç a a cc EEdduu escolar atenta contra o presente, deforma o passado e corrói o futuro (2005, p.204). Diante deste cenário, a Secretaria Municipal de Educação de Guarulhos, fundamenta-se em uma política de educação que reafirma a importância de ampliar a discussão do respeito à diversidade etnicorracial, de gênero, de classe social e regional. Desde 2001, promove ações e discussões procurando ampliar esta temática em todos os níveis de ensino da Rede Municipal (Educação Infantil, Ensino Fundamental e de Jovens e Adultos), inclusive antecipando-se `a Lei 10.639/03 `a Lei 11.645/08. Neste percurso foram alcançados avanços significativos das Políticas de Promoção da Igualdade etnicorracial na educação municipal. Ilustraremos estes avanços por meio de algumas ações desenvolvidas, mais recentemente, como a Proposta Curricular da Rede Municipal – Quadro de Saberes Necessários (QSN), elaborada coletivamente no ano de 2009, na qual a temática sobre o estudo da história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros é abordada à luz da concepção de uma educação humanizadora e libertadora. Além desta ação, destacamos a Política de Formação Permanente aos Educadores (as) da Rede; o Prêmio Akoni de Promoção da Igualdade Racial que tem como objetivo por meio das produções dos(as) educandos(as) reconhecer e estimular práticas pedagógicas sobre esta temática; a criação na estrutura organizacional da Secretaria de Educação de uma Seção com enfoque em ações educativas para igualdade racial e de gênero e a publicação da Revista Ashanti de Promoção da Igualdade Racial. Não temos dúvida de que muitos passos foram dados, contudo temos consciência de que muitos desafios ainda permanecem... E também, a esperança de que a promoção da igualdade etnico racial não seja um tema restrito aos negros militantes, mas de todos e todas (brancos, amarelos e indígenas) que lutam pela melhoria das condições sociais, econômicas e psíquicas da população negra, na busca de uma sociedade pautada em princípios de equidade e alteridade. Uma sociedade na qual todas as vozes possam ser ouvidas!
*
Claudia S. F. Lucena - psicóloga escolar, coordena a Seção Técnica de Ações Educativas para Igualdade Racial e de Gênero da Secretaria Municipal de Educação e o Grupo de Trabalho de Promoção da Igualdade Racial da Secretaria de Educação de Guarulhos – GTPIR. *Maria Arlete Bastos Pereira - psicóloga escolar, mestranda do Programa Educação e Saúde na Infância e Adolescência da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, atua na Divisão Técnica de Políticas para Diversidade e Inclusão Educacional e membro do Grupo de Trabalho de Promoção da Igualdade Racial da Secretaria de Educação de Guarulhos – GTPIR.
*
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MAYER, Bel Santos – Coerência necessária para a Promoção da igualdade Racial. Revista Ashanti, n.01, Guarulhos-SP: Secretaria de Educação, nov.2010. MUNANGA, Kabengele - Superando o Racismo na Escola, SECAD/MEC, Editora SECAD, 2ª ed, 2005. WALLON, Henri et al. Plano de Reforma Langevin-Wallon. In: MERANI, Alberto L. Psicologia e Pedagogia: as idéias pedagógicas de Henri Wallon. Lisboa: Editorial Notícias, 1977.
29
DICA DE LEITURA Por Rita De Fátima Rodrigues, tenho 44 anos casada mãe de três filhos, atualmente faço trabalho social na comunidade São Rafael, Guarulhos.
E
ste livro é o resultado de uma pesquisa desenvolvida entre 2003 e 2007 no centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), da Fundação Getúlio Vargas. Inicialmente com o objetivo de formar um banco de entrevista com lideranças do Movimento negro no Brasil, a partir das décadas de 1970 e 1980 em todas as regiões do país. Histórias como a da criação do Grupo Palmares no Rio Grande do Sul, em 1971, a da fundação do primeiro bloco afro na Bahia, o Ilê Aiyê em 1974, assim como a formação do centro de estudos e defesa do negro no Pará, em 1980, por exemplo, estão pela primeira vez, lado a lado com histórias de organizações criadas no Rio de Janeiro e São Paulo. O livro não aborda, somente, as primeiras organizações de movimento negro da história do país, como mostra as inúmeras notas e a cronologia que completa o livro, mas daquelas que surgiram em pleno regime militar e se proliferaram a partir do lento processo de abertura política, e numa conjuntura interna- cional na qual ganharam força as lutas pela libertação das colônias portuguesas na África e a repercussão dos movimentos pelos direitos civis nos EUA. Além da trajetória do movimento e das experiências de algumas de suas principais lide- ranças, o livro discute temas com grande visibilidade, como a implementação de políticas de ação afirmativa, incluindo as cotas raciais nas universidades, o reconhecimento de propriedades de terras das populações quilombolas e da participação de militantes em diferentes instâncias do poder público. Como disse acima o livro é de leitura fácil ,nele temos a chance de conhecer nosso passado para entender nosso presente e futuro.
30
Serviço: Alberti, Verena. Histórias do movimento negro no Brasil. Editora: Pallas. Ano 2008 - páginas: 528. Preço sugerido: R$ 44,90
o
çã uca
Ed
pALMAS E VAIAS Por Natália Cristina Alves De Brito, participou da primeira turma da Oficina de Comunicação.
Uma dica de leitura para o público jovem
Serviço: O livro Palmas e vais é da Editora Pallas, tem 28 página e pode ser encontrado em qualquer livraria, custa em torno de R$ 30,00.
O
livro Palmas e vais aborda os desafios de uma jovem que vivencia diversas transformações. Neste livro temos a narração de uma história muito interessante, que conta para nós a vida da personagem Florípedes. Essa personagem começa a viver diversas experiências quando descobre que deixou de ser criança para se tornar adolescente. Florípedes experimenta as mudanças da adolescência. Começa a modificar o corte de cabelo, inicia as dores de dentes, os seios começam a crescer e começa a sentir e ver que o corpinho também sofreu mudanças. Além
disso, Florípedes enfrenta mais reviravoltas: ela muda de bairro e muda de escola. Ela precisa então fazer novos amigos e conhecer os novos professores, mas se depara com as diferenças e, para superá-las, decide optar pelo amor, pelo carinho e pela atenção de sua mãe. A autora do livro Palmas e vaias é a Professora e escritora Sônia Rosa. Esse livro é a décima oitava publicação dessa educadora. Vale a pena ler, convide as suas irmãs, amigas e/ ou os seus irmãos e amigos para embarcar nesta leitura prazerosa.
31
História Povos indígenas em Guarulhos Entrevista com Awá Kuaray Wera Por ALEX GODOI PINHEIRO, da Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Guarulhos
E
m 1500, os portugueses chegaram ao litoral brasileiro, dando início a um processo de exploração de suas riquezas que se estenderia até final do século 19. Aos poucos foram migrando e se estabelecendo nas terras que eram ocupadas pelos povos indígenas. Primeiro tentaram escravizá-los na
32
extração do pau-brasil. Como eles resistiam e fugiam para o interior do País, foram em busca dos africanos para a exploração do ouro, do cultivo da cana de açúcar e do café. Situação que perdurou até 1888, quando então novo surto migratório veio a ocorrer com o ingresso de europeus de várias nações. O processo de colonização levou à extinção de muitas sociedades indígenas que viviam no território, seja pela ação das armas, seja em decorrência do contágio por doenças trazidas pelos brancos, ou, ainda, pela aplicação de políticas visando à “assimilação” dos índios à nova sociedade de forte influência europeia. Hoje, no Brasil, vivem cerca de 519 mil índios, distribuídos entre 225 sociedades indígenas, que perfazem cerca de 0,4% da população brasileira. Este dado populacional considera tão-somente aqueles indígenas que vivem em aldeias, havendo estimativas de que, além destes, há entre 100 e 190 mil vivendo fora das terras indígenas, inclusive em áreas urbanas. Há também 63 referências de índios ainda nãocontatados, além de existirem grupos que estão requerendo o reconhecimento de sua condição indígena junto à Fundação Nacional do Indio ( FUNAI), orgão federal que estabelece e desenvolve politicas publica em favor das populações indígenas no Brasil.
Indígenas de Guarulhos lutam pelos seus direitos
E
m Guarulhos, os cerca de 300 índios remanescentes das etnias Pankararé, Pankararú, Xucurú, Cariri Xocó, Cariri, Terena, Pataxó, Tupi-Guarani, Guarani, Xavante e Wassu Cocal, em parceria com a Coordenadoria da Igualdade Racial (CIR), por meio do Projeto Xikelela e da Associação Arte Nativa Indígena, realizam oficinas de cultura dos povos indígenas nas escolas municipais, disseminando conhecimento de costumes, rituais e crenças por meio da tradição oral, proporcionando aos alunos vivências de canto e dança, e explorando toda a arte do artesanato indígena. A Associação Arte Nativa Indígena de Guarulhos visa lutar pelos direitos dos po- vos indígenas urbanos, além de participar de conferências de promoção da igualdade racial. Nosso entrevistado Awá Kuaray Wera é presidente da Associação Arte Nativa e também integrante do Grupo de Trabalho Permanente pelas Populações Indígenas da Prefeitura Municipal de Guarulhos. A atribuição principal Grupo de Trabalho é elaborar estratégias e propor diretrizes e planos de ação para atender à demanda dos povos indígenas do município. Nesta entrevista Awá Wera conta um pouco de sua trajetória na cidade, sua relação com as aldeias existentes no estado de São Paulo, além das atividades e atribuições desenvolvidas pela associação no município. Revista – Há quanto tempo você está em Guaru- lhos e qual a sua origem? Awá – Moro em Guarulhos desde 2004, no bairro Inocoop. Sou casado com Cida (a esposa de Awá é descendente da aldeia Kaingang, do Rio Grande do Sul) e não tenho filhos. Antes de vir para Guarulhos, morava na cidade de Peruíbe (SP), onde nasci e fui criado, junta-
mente com outros integrantes da aldeia Bananal, a mais antiga do Estado de São Paulo, com mais de 300 anos de existência. Revista – Quais eram suas atividades antes da criação da Associação Arte Nativa Indígena? Awá – Quando morava em Peruíbe, minhas atividades eram a confecção de artesanatos, apresentação em palestras, além da prática de danças típicas e outras atribuições que pudessem gerar algum tipo de renda para a aldeia. Revista – Conte um pouco sobre a atuação da Associação Arte Nativa Indígena na cidade de Guarulhos. Como e quando surgiu a ideia de criá-la? Awá – Antes da criação da Arte Nativa, os integrantes das aldeias do Estado de São Paulo sempre se reuniam em diversas regiões, na forma de cooperativas, com o intuito de criar opções para melhorar a condição de vida do
33
História
povo indígena. No meu caso, já atuava juntamente com outros parceiros da aldeia na busca de atrativos para a sobrevivência de nossos irmãos, porém faltava algo mais organizado. Em 2004, surgiu a ideia de criarmos uma associação que pudesse participar mais da vida política da cidade, sugerindo, debatendo e discutindo assuntos que fossem de interesse da população indígena. No início, a Arte Nativa desenvolvia apenas projetos culturais, como artesanato, danças, oficinas, entre outros. Após esse período, as atividades passaram a ser desempenhadas em parcerias, primeiramente com a Secretaria do Trabalho e, em seguida, com a Secretaria de Assistência Social. Revista – Na sua visão, quais são os principais obstáculos enfrentados pelos indígenas na cidade de Guarulhos? Awá – A comunidade indígena necessita de um espaço para poder exibir seus trabalhos, apresentar sua cultura à população, enfim, mostrar que existe algo de bom dentro das aldeias e que, nós índios, também somos
34
capazes de realizar muitas coisas. Nós recebemos a ajuda da Funasa (Fundação Nacional de Saúde), que presta todo atendimento médico nas aldeias, além da Secretaria Municipal de Saúde, que também tem ajudado no apoio aos necessitados. No último ano, a Prefeitura de Guarulhos passou a olhar a questão do índio de forma diferente, ouvindo nossas necessidades e analisando as propostas apresentadas pela associação. Sabemos das dificuldades encontradas em apoiar uma comunidade indígena, porém temos esperança de conseguir bons resultados e melhores condições num futuro próximo. Revista – Existe alguma programação voltada para a comunidade indígena para o próximo ano? Awá – Em 2011 teremos a 4ª edição do Encontro dos Povos Indígenas, a Semana de Educação Indígena, além do 1º Encontro das Mulheres Indígenas. Outras atividades devem surgir ao longo do ano, porém ainda não estão confirmadas.
Curiosidades em Guarulhos Por Letícia Santos de Oliveira
B
ixiguentos - Guarulhos é uma cidade cheia de encantos, diversidade étnicorracial representada por diversos grupos, como os povos ciganos, negros, indígenas e brancos. Guarulhos tem uma população imensa que não pára de crescer. Para termos ideia, esta é a segunda maior cidade do estado de São Paulo, com 1.299.283 habitantes. De acordo com o jornal Independente, aproximadamente, há 140 anos existia um cemitério onde, hoje, situa-se a Escola Estadual Capistrano de Abreu, na Rua Capitão Gabriel, esquina com a Rua Teófilo - Centro. Na época, as pessoas que morriam pela manhã, por conta do número de incidência de pessoas que contraíram a varíola, eram enterradas apenas à noite. Pois, acreditava-se que pela manhã a doença se alastraria com facili-
dade, por conta do calor e do ar quente, e por esse fato, essa região fico, e é conhecida como “Bixiguentos”. Ervas que curam - Através de dados obtidos por uma moradora do bairro Continental III, Dona Maria Vilani Santos, de 51 anos, conclui-se que 75% da população, tem ervas em suas casas que servem para curar diversas doenças, porém muitas dessas pessoas não sabem como utilizá-la. Mas através de Dona Maria, que carrega consigo alguns conhecimentos herdados por suas avós, conseguimos saber quais os benefícios do poejo, espécie de hortelã miúda. Então anote esta dica: beba chá de poejo com hortelã graúda para combater gripe e resfriado, também descongestiona o nariz, alivia dores pelo corpo e elimina a febre.
História Bairro dos Pimentas Por: Jenifer Felisbino Leiguez, Letícia Fritacia Bazan, Miquelina Rodrigues Mendes E Daylane De Almeida, todas participaram da primeira turma da Oficina de Comunicação.
A
ntigamente, o bairro Pimentas, assim como vários bairros guarulhenses, já havia dado lugar para pequenas chácaras e fazendas. Passados os anos foram sendo transformadas em bairros. Hoje o Pimentas é considerado um Distrito do município de Guarulhos, ocupando uma área de 318,014 quilômetros quadrados, com milhares de moradores. “Vim morar no bairro Pimentas no ano de 1978, época da ditadura militar (1964-1985), pois queria o meu terreno próprio. E como o bairro estava começando, se-
35
História ria mais fácil comprar”, conta a dona de casa aposentada Lindaura Panta da Silva, 63 anos, nascida em Serra Talhada, interior do estado de Pernambuco. O relato de Dona Lindaura remete a um passado não tão longe, mas esta facilidade de comprar um terreno não faz parte da realidade atual. De acordo com moradores que moram nessas regiões há mais de três décadas, alguns dos proprietários das terras batizaram esses locais com os nomes de seus filhos e filhas, como exemplo: Jurema, Angélica e Stella. Dona Lindaura diz ainda que o bairro Pimentas não tinha muitas ruas formadas, “só tinha uma escola pequena de madeira que se chama E.E. Professora Mario Nakata. Até os postes de luz elétrica passavam bem longe da minha casa, morei um ano sem luz . O orelhão de telefone era bem distante e só tinha um,tinha muito mato no bairro, alguns barracos, um mais distante que o outro, não tinha padaria nem supermercado, a única venda que tinha era a do Seu Antônio, que também era longe. De pouco em pouco foram abrindo as ruas, foi aumentando a população e foram construindo mais escolas. E agora está assim, um bairro bom, com muitas coisas, mais perto de nossas casas e bem desenvolvido’’, relata Dona Lindaura. Andando pelas ruelas do bairro Pimentas, sem o cheiro das pimentas porque não há mais plantações de pimentas, percebe-se que houve uma evolução imensa, bem como afirmou Dona Lindaura, entre o ano de 1978 até hoje (2011), pois atualmente o bairro está cada vez mais desenvolvido. Hoje há escolas públicas e privadas, hospitais, unidades de saúde, farmácias, padarias, ruas asfaltadas, shopping, praças, entre outros espaços públicos. Ainda assim Dona Lindaura gostaria ‘‘que tivesse mais escolas técnicas perto e mais espaço de lazer, tanto para os jovens, quanto para as pessoas adultas e idosas”, disse Dona Lindaura.
Origem do nome bairro das Pimentas O bairro São Miguel, mais conhecido atualmente como bairro dos Pimentas. Esse nome foi dado a essa região devido a antiga plantação de pimentas, cultivada por povos indígenas. Em 1817 o bairro São Miguel (Pi-
36
mentas) é citado na história de Guarulhos como cenário de exploração dos povos indígenas e africanos, que aqui chegaram na condição de escravizados. Antigamente, o bairro Pimentas, como vários outros bairros guarulhenses, era formado por chácaras e fazendas. O bairro Pimentas é um distrito de Guarulhos formado por mais de 40 comunidades e está localizado na região leste deste município.
A presença da população indígena em Garulhos Por Leuri Laine De Oliveira, 16 anos, mora no bairro de Jardim Cumbica, é estudante do primeiro ano do ensino médio.
A
inda no século 16 o município que conhecemos por Guarulhos já foi chamado de Aldeia de Nossa Se- nhora da Conceição, provavelmente denominada pelos padres João Álvares, Manuel de Paiva ou Manuel Viegas. De acordo com dados históricos, teve seu nome mudado e abreviado para Conceição de Guaru- lhos, emancipada em 24 de março de 1880. Antes dessa data o município de Guarulhos era admi-nistrado pela capital do estado de São Paulo. As primeiras pessoas a habitarem este município foram os indígenas do grupo étnico maromomi. De acordo com os pesquisadores Elton Soares de Oliveira e Maria Cláudia Viera Fernandes, “as primeiras manifestações de resistência física e cultural vieram dos índios que não aceitaram docilmente a tentativa de aldeamento imposto pelos colonizadores portugueses, em seguida pelos negros sequestrados na África e escravizados no território guarulhense”. Em 2008 aconteceu o primeiro Encontro Indígena no município de Guarulhos, realizado no dia 22 de julho, nesse encontro estiveram presentes cerca de 800 pessoas. Esse encontro contou com a participação de dife-
rentes povos indígenas, como os povos da etnia Pankararu, Tupi-Guarani, Pankararé, Wassu Cocal, Tupinambá, Xavante e Kariri Xoko. De acordo com informações encontradas na página virtual do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), a líder do grupo étnico Wassu Cocal, Diva da Silva, disse que o objetivo do Encontro “é lutar pelos nossos direitos, pois só unidos venceremos. Nossos pais morreram, mas o sangue deles corre nas nossas veias. Estou muito feliz por ser indígena e não tenho vergonha por dizer que sou índia’’, enfatiza. A Associação Indígena de Guarulhos trabalha com vários grupos étnicos indígenas, essa associação os atua desde o ano de 2004. Hoje, a associação participa de eventos, realiza apresentações artísticas e culturais em escolas, realiza palestras, exposições e atende de modo geral toda a população indígena presente no município de Guarulhos.
37
História
Casa da Candinha - Prospectivo Patrimônio Cultural e Ambiental Por Elmi E. H. Omar. Escritor, professor, pesquisador em história e correlatas. Conselheiro do Compir e do Comtur; elmiehomar@gmail.com.
S
e você leitor é guarulhense, já deve ter ouvido falar na Casa da Candinha, a antiga casa sede da Fazenda Bananal. Inicialmente símbolo de um poder voraz escravocrata, hoje se encontra num período embrionário que produzirá um Centro de História e Memória das Culturas Negras, um local com potencialidade de preservação ambiental e produção da igualdade humana. Localizada numa região que ainda preserva o bioma natural, passa por um período de transição; é parte de um estímulo ao aprofundamento de estudos e ações igualitárias e ambientais, para responder perguntas inquietantes como: Quem eram os escravos que trabalharam compulsoriamente em Conceição dos Guarulhos? Como eram as relações sociais envolvidas no processo escravista e pós-abolição? Quais foram os agentes sociais que participaram na metamorfose e ruptura da mentalidade escravista ocorridas neste território? E finalmente, quais as pretensões em relação à implantação desse centro de estudos? Há alguns anos elaboro essa pesquisa, e com apoio da CIR (Coordenadoria da Igualdade Racial) produzimos um primeiro ensaio, a ser lançado em forma de livro em março de 2011 (CASA DA CANDINHA – RUPTURA E METAMORFOSE - De Casa Grande a Centro de História e Memória das Culturas Negras, DDR Editora, 2011), que servirá como fomento a identificação e historicidade dos autores negros e seus descendentes da história paulista e guarulhense, sem o vício comum de estigmatizá-los como submissos e ideais escravos. Rebeliões dos escravizados, inclusive do índio, foram identificadas, além da consideração de um possível pólo de resistência quilombola em Guarulhos. Porém, para realização plena desse
38
projeto, muitas coisas ainda terão de ser discutidas e realizadas tendo em vista a concretização desse centro de estudos; constatamos ainda que o estudado até esse momento é apenas uma base para essas consecuções. Um dos pontos mais importantes é a discussão sobre o trajeto e forma do Rodoanel. Antes de considerarmos esse tema, é importante abordar a esperança de a Casa da Can dinha, constituída em unidade de conservação, associe atributos históricos e culturais aos ambientais, possibilitando assim a criação de uma zona de amortecimento do avanço urbano. O resultado esperado da inclusão do Centro de História e Memória das Culturas Negras (Casa da Candinha), é o fortalecimento e formação de um corredor ecológico, com a criação da APA (Área de Proteção Ambiental) Cabuçú-Tanque Grande fazendo a ligação com a APA Paraíba do Sul e APA Federal do Jaguari, preservando importantes áreas de mananciais no Estado de São Paulo. Retornando a questão do Rodoanel, esbarramos em outro interesse que é a especulação imobiliária advinda da construção dessa via de ligação que prioriza o transporte rodoviário, já saturado. Inúmeros especialistas renomados afirmam que a construção do trecho Norte do Rodoanel poderá acentuar o problema de ocupação em áreas de mananciais importantes na Serra da Cantareira, que de certa forma, resistiram à urbanização. Destacamos também que dependendo do traçado e nível em relação ao solo, do trecho Norte, o Rodoanel poderá isolar ou incrementar o Parque Natural Municipal da Cultura Negra Sítio da Candinha e o Centro de História e Memória das Culturas Negras (Casa da Candinha), onde foram investidos mais
de um milhão de reais, provenientes dos cofres públicos. No momento da escrita desse artigo (1ª quinzena de janeiro de 2011), há grande ansiedade de como serão discutidas essas questões nas audiências públicas programadas. Esperamos e contribuiremos para que os lados antagônicos tenham bom senso, modéstia e humildade. Destacamos essas qualidades, pois observamos
com as chuvas desse início de janeiro de 2011 grandes tragédias anunciadas, resultado de ocupações urbanas que comumente chamamos de “desordenadas”. Na verdade, nada tem de desordenado e muito tem de descuidado e arrogante. A história tem mostrado que o homem não é o dominante sobre a natureza e, quando tem essa atitude, muito lhe é cobrado.
39
Racismo , Xenofobia, Intolerância, Discriminação
Racismo? Pra quê?! Por Miriam Teixeira De Souza, negra, residente na Vila Barros, graduada e licenciada em literatura e língua portuguesa e estudante da língua inglesa.
O
racismo é um problema que atravessa os séculos e, infelizmente, permeia todos os âmbitos da nossa sociedade. Mas, afinal o que é racismo? Antes de mais nada, a prática do racismo é crime, aqui no Brasil e em todo o globo terrestre. Agora definindo racismo: quando um grupo étnicorracial se julga superior a outro num dado contexto social. O racismo tem sido visto de diversos modos ao longo da história. Mas para a realidade do Brasil o racismo do qual falamos refere-se ao branco contra o negro. O período da escravização de pessoas negras oriundas de diversos países do continente africano é uma marca negativa na construção de identidade do negro na trajetória da sociedade brasileira. Hoje, ouvem-se relatos de pessoas que são maltratadas e discriminadas em escolas, bancos e outros lugares pelo simples fato de serem negras. Em questão do racismo contra o negro, paira uma pergunta no ar: por que a cor da pele de um ser humano sinaliza que esse é inferior a outro com tonalidade da cor da pele diferente, se a questão tem a ver tão-somente com mais ou menos melanina?
40
Sabemos que a origem da raiz deste “preconceito” não é de hoje, não! Desde quando os europeus começaram a traficar pessoas de diversos países do continente africano, a escravatura, com certeza, tornou-se uma arma para que se disseminasse no subconsciente do mundo inteiro que o “negro é inferior” a todos os “outros seres humanos”. Esta é a razão por que o “ser humano” que tem a cor de pele negra so- freu e sofre preconceitos na sociedade de hoje, que o menospreza e o exclui. Todos nascem, vivem, sofrem, choram, alegram-se e um dia todos morrem... A pergunta que não quer calar: De que serve esta “prática desumana” de alguns que se sentem melhores devido a “sua cor de pele?”. Para que serve isto? Qual é a utilidade deste “preconceito” que está impregnado nas mentes de outros seres humanos?! Destaque-se aqui o feliz slogan criado pelo geneticista francês André Longaney: “Hoje em dia sabemos que somos todos parentes e todos diferentes”. Afinal podemos sim viver em igualdade racial! Ninguém é melhor que ninguém! Acredite!
Racismo , Xenofobia, Intolerância, Discriminação
Candomblé: religiosidade de matriz africana Por Bárbara Aparecida Lins Silva, participou da primeira turma da Oficina de Comunicação.
N
o período em que era permitida a escravização, pessoas de diversos países da África (Angola, Nigéria, Congo, etc). foram aprisionadas e trazidas aqui para o Brasil para trabalhar como escravas(os). Elas eram transportadas em navios lotados de crianças, homens e mulheres em condições tão precárias que boa parte morria na travessia do Atlântico. Essas pessoas trouxeram consigo costumes culturais de diferentes regiões da África. O símbolo cultural dos povos africanos que vieram para o Brasil que mais resistiu – e que está presente até os dias atuais – é a religião. Segundo alguns pesquisadores, o Candomblé nasce no Brasil, mas tem muitas semelhanças com outras religiões seguidas em países africanos, como na Nigéria entre os povos iorubás. Aqui no Brasil, a escravidão foi abolida em 1888, final do século 19, e a partir de então os antigos escravos e seus descendentes foram se integrando à sociedade brasileira como cidadãos. Para os povos yorubás, Olorun é o deus supremo, esse foi quem criou outras divindades ou semideuses. Os Òrisás, que cultuamos através do Candomblé, são forças elementares, oriundas da água, da terra, do ar e do fogo. Candomblé – Os Terreiros de Candomblé da nação Ketu representam a maior e a mais popular religião de matriz africana, aqui no Brasil. O Candomblé nasceu da necessidade dos negros de poderem realizar ri tuais religiosos, que por muitas décadas foram proibidos pelos senhores de escravos e pelo catolicismo. E para driblar essa proibição, os negros faziam seus
assentamentos e escondiam os elementos referentes a cada Òrisás, preferencialmente fazendo um buraco no chão que depois era coberto e por cima colocavam um santo católico; cantavam e dançavam em homenagem àquele(a) Santo(a) católico, surgindo assim o sincretismo religioso. Mais tarde o culto aos Òrisás foi sendo permitido, graças `as lutas de resistência da população negra. O Candomblé passou a ser uma das religiões de matriz africana que mais representou a resistência do povo negro. E hoje tem garantido seu direito de expressão pela Constituição Federal do Brasil de 1988 que declarou livre toda e quaisquer práticas e/ou rituais religiosos.
Vocabulário do Candomblé Òrisás= Orixás = Divindades elementares que simbolizam a vida através do fogo, das plantas, dos rios, do mar, do ar e da terra. Ialorixá = Mãe de Santo. Babalorixá = Pai de Santo. Iakekerê = Mãe pequena. Babakekerê = Pai pequeno. Agiboná = Mãe criadeira. Ebomi = Pessoas que cumpriram o período de sete (7) anos da iniciação. Ibassé =Mulher responsável pela preparação das comidas. Ogans = Tocadores de atabaques. Ekedi = Camareira de Orixá. Alabê = Responsável pelos atabaques e toques. Iaô = Filho de santo que entra em transe.
41
Racismo e desigualdade social no dia a dia Por Filipe Luiz Almerindo, tenho 16 anos, sou estudante do 1° colegial (E.E. Therezinha Closa Eleutério), moro no bairro dos Pimentas e me considero descendente indígena.
O
racismo é existente em toda parte, nas cidades, casas de shows, mercados, lojas, etc... Muitas pessoas brancas discriminam os negros por serem negros, alguns negros também tem preconceito com pessoas de pele branca. De toda forma o preconceito é existente de ambas as partes. No dia a dia o preconceito existe, pois muitas pessoas não entendem que ambos somos iguais, negros, brancos, indígenas, ambos somos iguais todos somos seres humanos! A cultura negra influencia em toda a cultura do Brasil. Essa influência pode ser percebida através da música, danças, comidas entre outros elementos presentes em nossa sociedade. Mas, esta sociedade, na maioria das vezes, não enxerga essas contribuições do negro. Hoje em dia não existe muito preconceito racial como
antigamente, mas muitas pessoas são preconceituosas com pessoas negras que tem forte influência na sociedade ou que tem um cargo na empresa elevado. Muitas pessoas brancas não aceitam ter uma pessoa negra como seu superior ou alguém que lhe dá ordens. Pois, hoje em dia, o negro tem mais oportunidades em todas as áreas de atuação, pois muitos negros hoje em dia podem fazer uma faculdade e garantir um futuro melhor para si e as futuras gerações. O negro hoje pode sustentar sua família como qualquer pessoa, pois ele consegue receber um salário igual ao de uma pessoa branca ou até mais. Mas não é o caso da maioria, infelizmente, ainda hoje, a maioria da população negra e indígena ainda vive em condições desumanas. A desigualdade social diminuiu, pois o negro luta por seus direitos como qualquer pessoa hoje em dia!
Discriminação e intolerância religiosa Por Mayara Conceição Da Silva E Adriana Da Silva Ferreira. Mayara tem 15 anos, cursa o primeiro ano do ensino médio; Adriana tem 14 anos e cursa a oitava série do ensino fundamental; ambas moram no bairro Nova Cidade.
A
discriminação se caracteriza por ações e comportamentos que discriminam pessoas ou grupos, seja por causa da sua religião, por pertencer a um determinado grupo étnicorracial, por ter um estilo de vida diferente, orientação sexual, por morar em um determinado lugar , etc. Uma das discriminações que mais afeta a nossa sociedade hoje é a intolerância religiosa. A intolerância
42
religiosa se manifesta quando não se respeita o direito da pessoa de seguir qualquer religião. Infelizmente, hoje em dia, o desrespeito às pessoas que são de religiões de matriz africana, como o Candomblé, Tambor de Mina, Vodun e Umbanda é muito grande elas são as mais reprimidas, e é recorrente as agressões físicas e verbais contra pessoas, principalmente do Candomblé.
Xenofobia Por Paz Benita Vallejos Flores, 43 anos, é mãe de dois filhos e dona de casa. Nascida em La Paz (Bolívia), já morou no Iraque (Oriente Médio) por um ano, chegou ao Brasil em 1981, morou em Caraguatatuba, Guarujá, Santos, Guarulhos e atualmente reside na capital do estado de São Paulo.
O
lhe só que fato interessante! Tenho uma vizinha que as pessoas costumam chamála de Bênçnao. A realidade é que ela não pode me ver, quando nos encontramos, meio que por acaso, ela recusa-se a olhar para mim. Ela pegou uma antipatia tão grande que as vezes penso o que ela seria capaz de fazer. O curioso é que o motivo de tudo isso é uma parte do quintal. O arquiteto já disse que esse quintal não dá para dividir e parece que ela não dá para dividir e parece que ela não sabe. Ela me massacra com palacras do tipo, assim “ SAI(...)!!! boliviana, vai para sua terra”.Joga até água quente nos
meus cachorros, tanto que nem os cachorros gostam dela. Eu digo assim, porque ela tem três filhos, todos são adolescentes, confesso que não consigo ficar em casa porque agora um deles arranjou uma guitarra que fica treinando até de madrugada e ele berra. Às vezes penso que ele vieram de outro planeta. Gente alguém me socorre! NOTA: De acordo com definição encontrada no dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, de 2008, todo comportamento de SENOFOBIA é identificado quando alguém demonstra ter odio as pessoas ou coisas estrangeiras.
43
Coordenadoria da Igualdade Racial