E ESCOLA DO BORDADO DE IBITINGA-SP
Sumário
Apresentação
Cidade e contexto
PANORAMA E LOCALIZAÇÃO
FUNDAÇÃO E PRIMEIRAS DÉCADAS ECONOMIA LOCAL APÓS A CRISE DO CAFÉ
A ECONOMIA DO BORDADO
Introdução do bordado na economia local O ensino e a preparação para o trabalho Os trabalhadores: das bordadeiras aos costureiros Ibitinga, "Capital Nacional do Bordado"
ESTÂNCIA TURÍSTICA DE IBITINGA
DUÍLIO GALLI E O MUSEU MUNICIPAL
Duílio Galli
Museu Municipal Atual Museu, Arquivo Histórico Municipal e Centro Artístico de Ibitinga Duílio Galli
Da cidade à intervenção
ASPECTOS GERAIS
A ATUAL ECONOMIA DO BORDADO MUSEU DO BORDADO
CECRIBI ÁREA DE INTERVENÇÃO PROPOSTA
Partido Sistema Estrutural
Escola e Museu do Bordado Referências
Apresentação
A PROPOSTA DESTE TGI É A IMPLANTAÇÃO DE UMA ESCOLA TÉCNICA TÊXTIL, JUNTO A UM CENTRO DE ENSINO, CULTURA E DIFUSÃO DO BORDADO NA CIDADE DE IBITINGA, INTERIOR DO ESTADO DE SÃO PAULO.
Na cidade que tem a economia profundamente vinculada à indústria têxtil e grande parte da população empregada nesse setor econômico, propôe-se a instalação de uma escola industrial têxtil. Considerando a demanda turística local (turismo principalmente relacionado às compras de bordados e outros produtos têxteis), assim como a necessidade de novos equipamentos culturais na cidade, propõe-se também, junto à escola, um museu e centro de pesquisa e difusão da cultura do bordado em Ibitinga. Instalado no centro da cidade, junto a uma praça bastante arborizada e vizinho da sede da prefeitura municipal, o conjunto se desenvolve em dois edifícios de esquinas fronteiriças.
O edifício dedicado à escola têxtil e do bordado tem o seu programa inspirado em uma escola técnica têxtil local, vinculada ao Senai de Araraquara, e é projetado em um terreno lindeiro à sede da prefeitura municipal, defronte à praça. Neste edifício, que possui 4 pavimentos (incluindo o térreo e o subsolo), o programa é acomodado de modo a deixar o nível da rua o mais livre possível. Parte considerável deste pavimento, o térreo, se compreende sob pilotis, como uma extensão da praça, mas com o oferecimento de um abrigo - principalmente aos dias quentes e ensolarados, comuns no verão e na primavera ibitinguense.
O outro edifício, dedicado ao museu e centro de pesquisa e difusão do bordado, é projetado na esquina vizinha, em um terreno onde há um antigo casarão que já abrigou uma tradicional empresa de bordado da cidade, além de ter sido o primeiro edifício onde o museu municipal municipal foi instalado. O projeto do museu, portanto, se dá através da implantação de um novo edifício e na adaptação e tratamento, com o devido cuidado, do edifício histórico pré-existente no terreno.
A escoha por projetar uma escola técnica têxtil e um museu e centro cultural do bordado, além da própria relação destes programas com a cultura local da cidade natal do autor deste trabalho (caso da economia do bordado em Ibitinga), vem do desejo de explorar o potencial de equipamentos públicos integrados, que atraem diferentes grupos de pessoas e possuem
Um dos croquis iniciais de estudo da proposta, ainda em fase de TGI 1.
distintos usos, na reocupação e revitalização de regiões centrais urbanas, muitas vezes em processo de desocupação e degradação.
No caso desta proposta em Ibitinga, a partir da demanda por uma nova escola industrial têxtil, é proposta a sua associação com um centro cultural e museu a ser instalado em uma região central e histórica da cidade, podendo atrair diferentes grupos de pessoas: dos adolescentes matriculados na escola industrial às veteranas bordadeiras que frequentem o centro de cultura do bordado; de sacoleiras que vêm à cidade aos sábados comprar bordados a um ibitinguense qualquer, em um fim de semana com tempo livre.
Portanto, a proposta parte da exploração do programa e do desenvolvimento do projeto ao plano de instalação do equipamento de ensino e cultura em um terreno inusitado, no centro da cidade, de frente ao antigo largo municipal e ao lado da sede da prefeitura da estância turística de Ibitinga. Este trabalho foi feito à partir do levantamento da bibliografia que aborda a cidade de Ibitinga no que se refere à fundação, desenvolvimento e às questões urbanas, sociais e naturais do município; do estudo do novo plano diretor do município; da bibliografia que trata do tema do bordado em Ibitinga; do trabalho de campo que procurou reconhecer o centro da cidade, principalmente a região do centro histórico, associada à fundação e aos primeiros ciclos econômicos de Ibitinga; do levantamento de edifícios de valor e interesse histórico, concentrados nessa determinada região do centro, além do levantamento de áreas livres e potenciais para se tornarem o terreno da proposta deste trabalho.
Cidade e contexto
Panorama e localização
Ibitinga é uma cidade localizada no centro do estado de São Paulo, distante cerca de 350 km da capital paulista, situada na Região Administrativa Central do estado,1 dentro da microrregião de Araraquara.2 Contando com uma área de 689,3 km², o município possui uma população de aproximadamente 61 mil habitantes,3 taxa de urbanização de 96% e densidade demográfica de 77,12 hab/km² (IBGE 2010). O IDH ibitinguense é 0,747, um pouco menor que o IDH do estado, que é 0,783 (IBGE 2010). Os principais acessos ao município se dão através das rodovias SP-304 e SP-331 - que liga Ibitinga à Rodovia Washington Luís (SP-310).4 Situado na Bacia Hidrográfica do Paraná, o município possui uma rica rede de águas, sendo banhado por rios como o Tietê (onde existe uma usina hidrelétrica junto à Represa de Ibitinga), o Jacaré-Pepira e o Jacaré-Guaçu, entre outros.5 Ibitinga, assim como a região onde está inserida, se destaca pela agroindústria (principalmente nos setores de laranja e sucroalcooleiro) e pela atividade industrial têxtil - no caso de Ibitinga, a confeccção e comércio de bordados e outros produtos textêis; além do significativo setor de serviços, que inclui o turismo de compras de bordados.
1 Localizada na divisa da Região Administrativa Central com a Região Administrativa de Bauru, o município de Ibitinga tem todas as suas divisas com municípios de pequeno porte e menos populosos: Borborema e Itápolis à norte; Tabatinga e Nova Europa à leste; Boa Esperança do Sul e Itaju à sul; Iacanga à sul e oeste.
2 Ibitinga é um dos 19 municípios da Região de Governo de Araraquara.
3 A população estimada pelo IBGE em 2021 é de 61.150 pessoas. A população ibitinguense contabilizada no censo de 2010 era de 53.158 pessoas.
4 A Rodovia Dep. Victor Maida (SP-331) é a principal ligação de Ibitinga à capital paulista e a centros regionais, como Araraquara e São Carlos. Além das rodovias SP-331 à leste e SP-304 à oeste e à sul; Ibitinga também pode ser acessada pela rodovia SP-317 à norte.
5 As várzeas dos rios Jacaré-Pepira e Jacaré-Guaçu são conhecidas como “Pantaninho” e “Varjão”, respectivamente, e formam a Área de Proteção Ambiental de Ibitinga (APA Ibitinga), criada em 1987. De acordo com a Fundação Florestal de São Paulo (2012), no município de Ibitinga existem ao todo 247 nascentes e 78 cursos d’água.
IBITINGA
SÃO CARLOS REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO RIO TIETÊ ARARAQUARA PARANÁ MINAS GERAIS RIO DE JANEIROFundação e primeiras décadas
Poucos anos depois de fixarem-se por aqui, não muito distante do Largo Municipal já construído, Miguel Landim, auxiliado por um companheiro de ofício nas construções, de nome José Custódio, ergueu uma Capela para seu santo de devoção, o Senhor Bom Jesus.
A colocação de uma imagem, em tamanho natural, no altar da Capela, aconteceu em meio a um grande festejo, em 6 de agosto de 1866. Para os habitantes da pequena comunidade esse festejo teve o significado de fundação da Vila de Ibitinga. (Elza Gonçalves Racy, apud VILLELA, 2017, p. 16)
A história da ocupação da região de Ibitinga se relaciona com a migração de famílias vindas de Minas Gerais para o interior do estado paulista.6 Após passarem pela região da Zona Araraquarense, na metade do século XIX, os “Landim” rumaram para o sul atrás de terras virgens até se estabelecerem, formando o povoado de Senhor Bom Jesus de Ibitinga.
Em 1885, Ibitinga é elevada à categoria de Distrito de Paz e tem a sua emancipação política-administrativa, por força de lei, em 4 de julho de 1890. Em 1910, é inaugurada a Estação de Ibitinga, servida pela Companhia Estrada de Ferro do Dourado (CEFD), a ferrovia douradense, que garantia o escoamento das produções agrícolas da cidade e região, assim como a acessibilidade ao restante do estado.
Apesar de se constituir como uma modesta cidade no interior do no estado, Ibitinga se apresenta como um importante pólo dentro da chamada Zona Douradense, e compartilha características em comum com outros centros urbanos surgidos de povoamentos da região Douradense, como é o caso do seu traçado urbano e de suas condições de implantação e urbanização.7 O arruamento da cidade possui traçado ortogonal. O córrego São Joaquim acaba por delimitar a malha urbana que se desenvolve sobre a vertente leste da colina onde a cidade é fundada. Similar a outros povoamentos da região, o arruamento de Ibitinga é um
6 A historiografia sobre Ibitinga admite pelo menos duas teorias em relação à migração destas famílias para a região central do estado de São Paulo: uma tem relação com a repressão do estado imperial à Revolução Liberal que ocorreu em Minas Gerais, em 1842; outra se apoia na migração das famílias em decorrência da crise econômica com a decadência da mineração do ouro. Ver “História”. Disponível em: < https://www. ibitinga.sp.gov.br/cidade/historia>. Acesso em 10 outubro 2022.
7 Julciléa C. Zólio observa as relações entre os processos de formação dos diferentes núcleos urbanos da Zona Douradense, comprovando suas generalidades e particularidades. Ver “ZÓLIO, 2011, p. 45”.
Vista da Zona Douradense em recorte do Mapa da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, 1954. É destacada a extensão das linhas da CEFD, estando Ibitinga no centro do mapa. Fonte: ZOLIO, 2011, p. 29.
tabuleiro de xadrez, com construções em todas as faces das quadras, “quanto ao arruamento, este parece orientar-se paralelamente ao curso do córrego São Joaquim e perpendicular a ele. Suas ruas possuem 17 metros de largura, mas a cada quatro quadras, as ruas dispostas paralelamente ao córrego São Joaquim são mais largas, com 20 metros de largura” (ZÓLIO, 2011, p. 54).
Cruzando o córrego, têm-se os trilhos da ferrovia douradense, que passam pela estação e avançam, seguindo paralelos à direção do curso d’água.
O progresso chegava a olhos vistos. Ibitinga estava vivendo um período de desenvolvimento acelerado. Em menos de dois anos, a cidade expandiu bem além do pequeno quadrilátero em torno da igrejinha fundada pelos Landim. Se antes as moradias, o comércio e o movimento local eram restritos e meia dúzia de ruas, com a chegada da estrada de ferro o perímetro urbano cresceu para
o leste. O viajante, então, começaria a subir a longa ladeira da Rua Prudente de Moraes e andaria mais umas quatro quadras até o Largo da nova Matriz. Na virada do século XX, com a construção da nova igreja do Bom Jesus, a cidade começou a expandir também para o lado oeste, surgindo a nova praça e o comércio mudando-se do Largo do Jardim para circundar a nova área. As ruas eram movimentadas de gente, carroças e ponto de trolys, mesmo que a nova igreja estivesse com as obras paralisadas. (VILLELA, 2017, p. 19)
Sobre a malha viária quadriculada, novas edificações vão sendo erguidas e a cidade cresce para além de sua região de fundação, no entorno do antigo Largo Municipal, atual Praça Jorge Tibiriçá. A expansão se dá, cruzando-se o córrego São Joaquim, principalmente em direção à oeste. Seguindo o eixo da antiga Rua da Estação, a partir da estação em direção à Praça do América, onde, décadas mais tarde, seria construiído o Terminal Rodoviário de Ibitinga.8
Com o desenvolvimento da cidade, novos prédios são edificados, desde edifícios de alvenaria, principalmente a partir da influência de mestres e construtores italianos - em Ibitinga, o italiano Rosalbino Tucci projeta a maior parte dos edifícios da cidade neste período -,9 a edificações com a estrutura em concreto armado. Exemplos são o edifício do 1° Grupo Escolar - inaugurado em 1920 e representativo da arquitetura escolar da primeira república -, e o antigo prédio do Fórum, inaugurado em 1936, defronte à Praça Jorge Tibiriçá. Entre 1947 e 1953, são construídos o 2° Grupo Escolar e o novo prédio do Ginásio Estadual. Na mesma década, são inaugurados a sede do Clube Recreativo Ibitinguense (1956) e o Centro de Saúde (1957). A partir deste período tem-se em Ibitinga um processo de maior imple-
8 O Terminal Rodoviário de Ibitinga, inaugurado em 1988, foi construído na antiga Praça do América, onde eram realizadas partidas de um antigo clube de futebol amador da cidade, o América. Antes da construção do terminal, a rodoviária estava instalada em um edifício vizinho, um antigo galpão adaptado no prolongamento da Rua José Custódio.
9 Rosalbino Tucci, nascido na itália em 1874, estabeleceu-se em Ibitinga por volta da última década do séc. XIX. Em sua atuação como arquiteto, é autor de dezenas de projetos em Ibitinga e região, incluindo edificações de valor patrimonial, como o conjunto da Praça Rui Barbosa, a Matriz do Senhor Bom Jesus, o prédio do Banco Melhoramentos, além de obras em cidades vizinhas, como as igrejas de Iacanga e de Tabatinga.
À direita, na próxima página, fotografia aérea presente em cartão postal da cidade de Ibitinga, 1941.
Os três eixos destacados na foto se referem, da esquerda para direita, à Av.
Victor Maida (antiga Rua da Estação), à Rua José Custódio e à Rua Prudente de Moraes.
Fonte: Museu e Arquivo Histórico Municipal Duílio Galli.
Legenda: 1: Matriz do Senhor Bom Jesus, junto à Praça Rui Barbosa, “Largo da nova matriz”.
2: Praça Jorge Tibiriçá, “Largo municipal”. Foi erguida em frente ao largo a antiga capela do Senhor Bom Jesus, demolida no início do século XX.
3: Estação de Ibitinga, às margens do Córrego São Joaquim.
4: 1° Grupo Escolar.
5: Praça do América.
mentação de instituições, obras públicas e melhorias urbanas. Processo favorecido pela presença dos dois parlamentares ibitinguenses na Alesp (o udenista Juvenal Sayon, que manteve legislatura entre os anos de 1947 e 1959, e Victor Maida, também eleito três vezes entre as décadas de 1950 e 1960), além das próprias transformações político-econômicas que o país e o estado passavam naquele momento - tinha-se o início do processo do nacional-desenvolvimentismo, associado à ação populista regional, sob o governo de Adhemar de Barros em São Paulo. Nos anos seguintes, novas melhorias urbanas, instituições e infra estruturas vão sendo implantadas, representando o desenvolvimento econômico e social, conduzido pela capital paulista, alcançando, nas devidas proporções, o interior.
Fonte:
À direita, na próxima página, planta da cidade de Ibitinga, 1939. Sem escala.
Os quarteirões reservados a espaços livres e institucionais se concentram no eixo entre as ruas Prudente de Moraes e José Custódio; estão ali o antigo Largo Municipal (à direita) e a Praça Rui Barbosa junto à Matriz do Senhor Bom Jesus (no centro); Nos dois quarteirões identificados como “praça”, foram instalados o 2°Grupo Escolar (à direita) e o Ginásio Industrial (à esquerda); o Colégio Estadual e Ginásio Estadual foi instalado no quarteirão identificado com a cruz, o antigo Largo de São Benedito, à norte, na Rua Pereira Landim.
Fonte: Museu e Arquivo Histórico Municipal Duílio Galli.
À esquerda, Estação de Ibitinga, inaugurada em 1910 e desativada em 1969.
Fonte: Museu e Arquivo Histórico Municipal Duílio Galli.
Antiga Capela do Senhor Bom Jesus (construída com taipa de pilão, foi demolida no início do século XX em razão de danos estruturais agravados por fortes chuvas), implantada em frente ao antigo Largo Municipal. Museu e Arquivo Histórico Municipal Duílio Galli.Primeira praça e ponto cívico da cidade, no seu entorno se localiza até hoje o Paço Municipal de Ibitinga, [s/d].
Fonte: Museu e Arquivo Histórico Municipal Duílio Galli.
Edifício do Fórum (atual gabinete da Prefeitura Municipal de Ibitinga), em frente à Praça Jorge Tibiriçá, [s/d].
Fonte: Museu e Arquivo Histórico Municipal Duílio Galli.
Largo Municipal, atual Praça Jorge Tibiriçá, antes das alterações que sofreu a partir da 2ª metade do século passado.Vista da Praça Rui Barbosa, junto ao seu respectivo conjunto, que inclui o coreto e a fonte, e da Paróquia Matriz do Senhor Bom Jesus - ainda em fase de conclusão de suas obras, completamente inauguradas em 1929. Tanto a Praça Rui Barbosa e o seu conjunto, quanto a Paróquia Matriz do Senhor Bom Jesus foram projetados pelo arquiteto ítalo-brasileiro Rosalbino Tucci, [s/d].
Fonte: Museu e Arquivo Histórico Municipal Duílio Galli.
Economia local após a crise do café
A decadência da economia cafeeira paulista após os anos 1930 é manifestada de maneira variada nas diferentes regiões do estado. Regiões de ocupação e exploração mais recente, como o centro-oeste e oeste, ainda resistem por décadas à economia baseada na monocultura do café que, por sua vez, estava atrelada às ferrovias. Prova da prosperidade econômica na região mesmo após a crise do café é o prolongamento da linha-tronco da CEFD em mais de 64 quilômetros, fazendo a ligação de Ibitinga até Novo Horizonte em 1939.10
Em 1949 a Companhia Paulista de Estradas de Ferro incorpora a CEFD. A estagnação econômica da produção cafeeira enfim alcança a região e a ferrovia passa a sofrer um déficit em função da redução do transporte do café e do próprio aumento dos custos de operação e de maquinário - que ficaram mais elevados no período em razão da 2ª Guerra Mundial. Desde meados do século passado a economia de Ibitinga, inserida nesse contexto, é acompanhada por novos ciclos de produtos agrícolas, como a produção de algodão e de ovo (CINTRÃO, 1990, p.23). Houveram também tentativas de se atrair a indústria, que acabou não aderindo significativamente à economia do município, a despeito dos diferentes esforços realizados pelo poder público municipal para a atração de capital industrial.
A ambição da municipalidade com a indústria é exemplificada em um artigo especial que o jornal Correio Paulistano trouxe em sua edição de 24 de dezembro de 1944 sobre a cidade de Ibitinga. Apesar do desenvolvimento econômico da cidade se dar majoritariamente pela atividade agrícola e pecuarista, o texto dá destaque para a participação industrial:
Da humilde povoação formada em meados do século passado à moderna cidade de hoje - a marcha progressista da ‘Terra Branca’ é uma esplêndida afirmativa de espírito operoso de sua gente. (...) mais de 60 estabelecimentos industriais concorrem para o enriquecimento maior de Ibitinga com aumento diário de sua produção e o emprego de considerável número de operários. (Correio Paulistano, São Paulo, SP, ed. 27229, p. 42, 22 dezembro 1944).
10 Os dados apontam para uma concentração da produção cafeeira paulista após os anos 1930 na região onde estava inserida a Douradense. Em 1935, a região Araraquarense alcançou o primeiro lugar na produção cafeeira, com 26,9% do total colhido em São Paulo (MILLIET, 1982 apud NUNES, 2005, p. 22).
Vista Aérea de Ibitinga, 1941. Fonte: IGC.A economia do bordado
INTRODUÇÃO DO BORDADO NA ECONOMIA LOCAL
Apesar das iniciativas industriais que já existiam em meados do século passado, como frigoríficos e laticínios, a consolidação da indústria em Ibitinga se deu pelo bordado e não pelo capital industrial de outros setores da manufatura, sem muita adesão na cidade, a despeito dos esforços municipais. Nas décadas de 1940 e 1950, em um período de implantação de instituições, obras públicas e novas infraestruturas, surge em Ibitinga a atividade manufatureira do bordado, que em duas décadas se transformaria num promissor campo industrial a partir do desenvolvimento desta técnica tradicional.
A cientista social Bader B. Sawaia, em sua tese de doutorado em psicologia social, pôde analisar diferentes tranformações e condições que caracterizavam o ciclo econômico do bordado em Ibitinga justamente no momento de impulsionamento desta atividade. Como sugere Sawaia, o movimento que propicia a inserção da produção e venda de bordado - com a estagnação, em Ibitinga, de ciclos de produções agropecuárias, como ovo e algodão, e o aumento da população urbana e do desemprego - dependeu da iniciativa da força de trabalho feminina em busca de complementação da renda familiar (SAWAIA, 1979, p. 96).
Enquanto a cidade sonhava com a grande indústria, as mulheres (mão-de-obra ociosa), pressionadas pelas dificuldades econômicas, se viram forçadas a buscar uma fonte de renda alternativa para completar o salário dos maridos e assim garantir a subsistência da família. Dentre as restritas opções de trabalho, acessíveis à mão de obra feminina, estava o bordado. Atividade introduzida em Ibitinga por D. Dioguina Sampaio (em 1950), migrante portuguesa da Ilha da Madeira, que resolveu utilizar a técnica aprendida em sua terra natal para garantir o sustento da família. Ela ensinou inúmeras moças que passaram a trabalhar em seu salão e posteriormente compraram suas próprias máquinas industriais e abriram seus próprios salões. (SAWAIA, 1979, p. 96)
Atividade tradicionalmente feminina, o bordado passa a ser introduzido na economia de Ibitinga11 a partir da iniciativa de bordadeiras pioneiras, como
11 Apesar da história do bordado em Ibitinga ser oficialmente apresentada a partir da iniciativa de determinadas bordadeiras que criaram os primeiros salões de
Cartão postal “Brasil: Ibitinga-SP. Bordadeira e sua arte”, [s/d].
Fonte: Museu e Arquivo Histórico Municipal Duílio Galli.
a imigrante portuguesa Dioguina Martins Sampaio Pires.12 A inserção do bordado na economia de Ibitinga dependeu de iniciativas que envolviam, além do conhecimento da técnica de bordar, a organização de salões-oficinas de confecção de bordado e a comercialização e divulgação dos produtos têxteis. Nos salões-oficina as mulheres que não sabiam bordar aprendiam com as bordadeiras mais experientes; outras já conheciam a técnica através de sua tradição entre as mulheres; existiam também aquelas que aprenderam a bordar por meio de bordadeiras que ofereciam cursos ou que aprenderam a bordar em escolas de bordado.
confecção, o bordado já era praticado na cidade por bordadeiras experientes (algumas também ofereciam aulas de bordado) e por mulheres que bordavam eventualmente e conheciam a técnica provavelmente através de sua tradição entre as mulheres, transmitida entre gerações familiares.
12 Além da figura de Dona Dioguina Sampaio, a historiografia sobre o tema indica outras personagens importantes na introdução do bordado na economia de Ibitinga, contemporâneas à Dona Dioguina, como as bordadeiras e empreendedoras Maria Braga e Marieta Macari Pires, entre outras.
O ENSINO E A PREPARAÇÃO PARA O TRABALHO
O bordado é uma atividade artesanal ensinada entre as mulheres há muitos séculos, sendo difícil a localização temporal de seu início em Ibitinga. Certamente muitas mulheres imigrantes chegaram à cidade fazendo seus artesanatos aprendidos com suas mães, tias e avós em seus países de origem. O bordado é uma herança cultural passada entre as gerações de mulheres. (ESTRONIOLI, 2022, p. 17)
Desde o início do século passado, existem vestígios não só realização de bordado em Ibitinga, mas do seu ensino. Em 1912, um anúncio no antigo jornal O Ibitinguense divulgava para a população o oferecimento de aulas de bordado pela bordadeira Maria Honória de Oliveira, “avisa as excelentíssimas famílias que dá lição de bordados pelo processo Singer, garantindo a discípula sair fazendo qualquer trabalho com sejam blusas, fronhas, lençóis, etc, etc” (O Ibitinguense, 28 de fevereiro de 1912, apud VILELA, 2017, p. 40).
Além do ensino oferecido por bordadeiras experientes,13 desde as primeiras décadas do século passado existiam escolas de bordado em Ibitinga;14 exemplos são a Escola de Bordados PFAFF15 - cuja primeira turma data de 1935 - e a Escola de Bordados da Singer “Escolinha da Singer” - criada em 1973.16
13 O anúncio de ensino de bordado pela pioneira Maria Honória de Oliveira é o mais antigo a que se tem registro nas fontes consultadas neste trabalho; entretanto, desde o período de impulsionamento da atividade do bordado na cidade, a partir da década de 1970, é possível encontrar em periódicos locais diferentes anúncios de aulas e cursos de bordado oferecidos por empresas e mesmo por bordadeiras.
14 O ensino a partir de escolas de bordado em Ibitinga já teve diferentes iniciativas, além das escolas da PFAFF e da Singer, há registros que indicam outros exemplos, como a Escola de Bordados do Consórcio de Promoção Social.
15 A existência de uma escola de bordados associada à fabricante alemã de máquinas de costura (PFAFF), ainda na década de 1930, mostra como o conhecimento da técnica de bordar, inclusive em máquinas que envolviam alguma industrialização, era difundido na cidade antes mesmo da atividade dos primeiros salões de confecção, na década de 1950.
16 A demanda por conhecimento profissional do bordado permitiu a abertura de uma escola de bordados vinculada à fabricante de máquinas de costura mais presente na indústria têxtil de Ibitinga, a Singer; por iniciativa do revendedor local, Gottardo Ju-
1ª Turma da Escola de Bordados PFAFF de Ibitinga (profª Dona Nina Simões), 22 de outubro de 1935.
Fonte: Museu e Arquivo Histórico Municipal Duílio Galli.
Escola de Bordados do Consórcio de Promoção Social, Ibitinga, [s/d].
Fonte: Museu e Arquivo Histórico Municipal Duílio Galli.
OS TRABALHORES: DAS BORDADEIRAS AOS COSTUREIROS
Aproveitando-se do contigente da população que já conhecia a técnica de bordar, com o ensino e preparação das bordadeiras que acontecia nos próprios salões-oficinas, e com a instrução das profissionais em escolas de bordado, formava-se a partir da organização dos primeiros salões de confecção as primeiras empresas de bordado que inserem o produto têxtil na economia de Ibitinga e, mais tarde, na região. Inicialmente de maneira manual, depois, com a introdução das primeiras máquinas elétricas e, posteriormente, industrais, a produção do bordado absorve a mão de obra ociosa de mulheres que buscavam um trabalho na área urbana, que muitas vezes poderia ser realizado no próprio ambiente doméstico - ainda que também existissem bordadeiras na zona rural.
Pela relação da técnica do bordado com o trabalho feminino e devido ao caráter de complementação de renda que a atividade do bordado representou, principalmente em seu início, a força de trabalho das mulheres teve papel precursor e esteve à frente da economia do produto têxtil em Ibitinga, tanto na produção, no comércio e na organização17 - protagonismo que as mulheres não tiveram em outras cidades onde surgiu a atividade econômica especializada no bordado e outros produtos têxteis (SAWAIA, 1979, p. 98).18
Conforme a atividade do bordado cresceu, se especializou e alcançou novas demandas, a força de trabalho envolvida na atividade econômica passou a incluir cada vez mais o trabalho masculino.
Na década de 70, o bordado, de fonte alternativa de subsistência, se transforma na principal atividade econômica do município e na melhor opção de trabalho,
liani (posteriormente, com o apoio da prefeitura municipal), a “Escolinha Singer” abre a sua primeira turma em 1973.
17 A ênfase dada ao papel do gênero feminino, além de caracterizar a divisão sexual do trabalho que se deu nesse processo econômico, está presente na maioria dos estudos que abordam a atividade do bordado em Ibitinga (muitas vezes, sendo questão central).
18 Citando o exemplo da produção têxtil de Rio Claro-SP, Bader Sawaia indica que o caso do domínio do gênero feminino sobre todas as etapas da atividade econômica do bordado, como se caracterizou em Ibitinga, não é regra.
Bordadeiras em Ibitinga, [s/d].
Fonte: Museu e Arquivo Histórico Municipal Duílio Galli.
quando não a única, tanto para as mulheres, quanto para os homens. (SAWAIA, 1979, p. 96)
Apesar da expansão da atividade econômica do bordado e com o crescimento das empresas - algumas originadas a partir dos primeiros salões de confecção - a força de trabalho envolvida na produção e venda do bordado ainda apresentava baixa escolaridade, altas jornadas de trabalho e os salários representavam baixos ganhos reais; a classe (bordadeiras e bordadeiros) também não tinha o reconhecimento como profissão. A historiadora Júlia Estronioli (curadora e pesquisadora do Museu, Arquivo Histórico Municipal e Centro Artístico de Ibitinga Duílio Galli), exemplifica as mudanças que ocorrem na situação dos trabalhadores do bordado a partir da regularização da profissão e da organização do Sindicato das bordadeiras:
Devido ao fato de o bordado não ser considerado profissão na época, havia dificuldades para o registro das trabalhadoras em carteira de trabalho. Essa situação mudou com a organização do Sindicato das Bordadeiras de Ibitinga em 1988 e a sua luta para o reconhecimento e regularização da profissão, conseguida em 1990. A partir deste momento, as empresas foram pressionadas a assinar as carteiras de trabalho das bordadeiras e a profissão passou a ter um piso salarial, hora extra, auxílio doença, entre outros direitos trabalhistas. Essa regularização revelou que cerca de 85% das famílias ibitinguenses se sustentavam a partir da indústria do bordado no começo da década de 90. Essa porcentagem pode ainda ter sido mascarada pelo fato de muitas empresas não terem regularizado suas trabalhadoras, já que boa parte do serviço sempre foi realizada pelas bordadeiras terceirizadas em suas próprias residências, mas já mostra a grande importância que o bordado teve para o crescimento econômico da cidade (ESTRONIOLI, 2022, p. 20)
IBITINGA, “CAPITAL NACIONAL DO BORDADO”
A expansão da atividade econômica do bordado em Ibitinga dependeu também do desenvolvimento dos meios tecnológicos utilizados no arranjo produtivo local. As máquinas de bordar eram utilizadas desde antes da organização dos primeiros salões de confecção, mas, particularmente a partir de uma solução que adaptava a máquina semi-industrial de costura
Anúncio da Singer em folheto comemorativo da VII Feira do Bordado de Ibitinga fazendo referência à máquina de costura 20U, 1980.
Fonte: Museu e Arquivo Histórico Municipal Duílio Galli.
Singer 20U (deixando-a apta para bordar),19 a produção local passa a contar com uma tecnologia relativamente acessível e aumenta-se a capacidade da produção.
Ainda que a máquina 20U tivesse alguns problemas em função de sua adpatação e uso pelas bordadeiras, representou uma evolução tecnológica em um momento inicial. Posteriormente, com o crescimento do arranjo produtivo local do bordado, novas tecnologias são inseridas, junto a transformações no processo produtivo têxtil e do bordado. É o que apontam Fabiana Florian e Helena de Lorenzo:
Naquela década iniciou-se um processo de modernização da indústria de bordados que marcou uma nova fase para a atividade. A mais importante transformação ocorrida no início dos anos 1970 foi a gradativa substituição das velhas máquinas Singer 20U por máquinas mais modernas, que proporcionaram signifi-
19 De nome popular “Cabeça preta”, a máquina de bordar adpatada a partir do modelo Singer 20U é relacionada ao aumento da capacidade de produção do bordado em Ibitinga a partir da década de 1950.
cativa melhoria na produção em quantidade. Em conseqüência, a mão de obra da bordadeira foi sendo substituída por outros grupos de serviços, como os de costureira, de embaladores, de arrematadores, cortadores, desenhista de moldes e afins. (FLORIAN; LORENZO, 2008, p. 35).
Na década de 1970, a atividade econômica do bordado de Ibitinga, que já assumia um peso relevante no desenvolvimento do município, adquire um caráter regional, atraindo turistas e compradores. Ibitinga tem seu nome usado como referência em crescimento econômico de um arranjo produtivo, mesmo que de porte relativamente pequeno; a Singer chega a produzir pequenos fimes abordando a cidade e o bordado20 - um desses filmes chama-se “Ibitinga - Example of Exportation” e foi exibido em diferentes países (SAWAIA, 1979, p.109); em 1980, A Singer expõe produtos têxteis de Ibitinga em seu estande na Feira de Hannover, na Alemanha. Iniciativa que consolidaria a cidade como um centro regional de compras de bordado e outros produtos têxteis, em 1974 é realizada a I Feira do Bordado de Ibitinga (FEBI). O evento, que desde então passou a ser realizado anualmente,21 serviu para inserir Ibitinga no calendário turístico nacional e promover a cidade como “Capital Nacional do Bordado”.
Promovida pelo poder público municipal, a feira teve papel fundamental na divulgação do bordado local para outras cidades, inclusive para outros estados (caso do Paraná), e na popularização da marca “Bordados de Ibitinga” (FLORIAN; LORENZO, 2008, p. 35).
O título de capital nacional do bordado, aliás, apesar de seu reconhecimento local e a sua consolidação regional e até nacional, oficialmente ainda não foi instituído a Ibitinga, apesar de duas tentativas de projetos de
20 Entre os filmes produzidos pela Singer sobre a economia têxtil de Ibitinga, há um com o de título “Vamos Melhorar a Vida”. Este filme está disponível no Youtube, no canal de um terceiro usuário, sob o título “1994 documentário sobre o bordado de ibitinga feito pela singer”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=XO_ MKL_PSo8&t=15s>. Acesso em 10 novembro 2022.
21 Realizada anualmente desde 1974, a FEBI teve a sua 47ª edição suspensa em razão da pandemia do coronavírus em 2020. Condição que permaneceu no ano de 2021 e também neste ano, 2022.
Faixa sobre o Viaduto do Chá divulga a III Feira do Bordado de Ibitinga. São Paulo, 1976.
Fonte: Museu e Arquivo Histórico Municipal Duílio Galli.
Reprodução de máquina de costura, utilizada como marco da V Feira do Bordado de Ibitinga, realizada no Colégio Comercial Municipal, em 1978.
Fonte: Museu e Arquivo Histórico Municipal Duílio Galli.
leis com tal intuito22 (RIPA, 2021, p. 42).
Na década de 1980 a procissão de Corpus Christi é envolvida pela economia têxtil, no evento os produtos têxteis passam a decorar o trajeto que a procissão percorre, fazendo-se a inclusão do feriado religioso no calendário turístico de Ibitinga. Na procissão o bordado é usado na composição de diversas peças que formam um longo tapete estendido sobre as ruas do trajeto por onde passa o pároco, carregando a imagem de Cristo, acompanhado do corpo de pessoas da procissão; a partir de então, todos os anos, “Ibitinga borda suas ruas para a passagem do Senhor”. (ESTRONIOLI, 2022, p. 20)
Na mesma década a recessão econômica que se instala no país atinge também a economia do bordado em Ibitinga. A produção local do bordado, caracterizada até então por pequenas e micro empresas, sofre profundas transformações; empresas pioneiras na produção industrial do bordado encerram as atividades - processo que modifica ainda o padrão dos produtos no mercado, considerando que os bordados de qualidade mais artística, de execução relativamente artesanal, estavam mais relacionados a empresas tradicionais.
Com a vulnerabilidade maior das micro e pequenas empresas aos efeitos da crise econômica, além do aumento da informalidade e do desemprego, a produção do bordado toma outro aspecto na década de 1990, se caracterizando por uma grande disparidade entre o porte das empresas e à própria qualidade dos produtos e da mão de obra empregada (FLORIAN; LORENZO, 2008, p. 36).
A crise econômica que afetou a economia local especializada acentua a falta de cooperação entre os produtores e comerciantes e tensiona a competitividade, principalmente entre as micro e pequenas empresas. A diferença de qualidade entrenos produtos das grandes e pequenas empresas aumenta; cresce também a informalidade e se deteriora a qualidade das condições de trabalho.
A partir da deterioração de diferentes parâmetros na estrutura produtiva local, iniciativas que visam apoio institucional aos produtores, comerciantes, e trabalhadores surgem e contribuem para a melhora das relações e
22 De acordo com Rômulo Ripa, já houveram dois projetos de lei com a intenção de oficializar o título à Ibitinga, o PL 6558/2016 e o PL 1448/2019 - este último ainda em prazo de ser aprovado pela Câmara Federal.
Cartaz divulgando a Procissão de Corpus Christi de Ibitinga, 1983.
Fonte: Museu e Arquivo Histórico Municipal Duílio Galli.
condições de trabalho em Ibitinga.
A recuperação, ainda em curso, vem mostrando que sem a participação de parte da comunidade empresarial atuando em benefício do conjunto e buscando criar um ambiente institucional a mesma teria sido impossível. Os agentes envolvidos na recuperação do conjunto foram os responsáveis por uma estratégia para a recriação da marca, e principalmente de um produto de melhor qualidade. Ibitinga tem sido um exemplo de criação de emprego, porém a qualidade desse emprego ainda é bastante precária e ainda está presente um alto grau de informalidade. (FLORIAN; LORENZO, 2008, p. 48).
Caracterizada pelas diferentes transformações que passou desde a década de 1980, a atividade econômica do bordado, junto ao arranjo produtivo e de comércio dos produtos têxteis, continua sendo muito relevante na economia e na sociedade local.
Peças bordadas expostas em diferentes edições da FEBI.
Fonte: Museu e Arquivo Histórico Municipal Duílio Galli.
Estantes de exposição da
FEBI.
Fonte: Revista O Bordado, 1980, p.10.
Estância turística de Ibitinga
Apesar do relevante turismo comercial do bordado, a cidade de Ibitinga torna-se estância turística em função de outras características presentes também em seus limites territoriais.
O título de Estância Turística de Ibitinga, conquistado em dezembro de 1992, foi concretizado após esforços do poder público municipal e depois de analisado um relatório que abordava diferentes características do município.
Além do turismo comercial do bordado, o relatório destacou o acervo de arte sacra presente na Matriz do Senhor Bom Jesus, caso da estátua do Bom Jesus (talhada em madeira e trazida do Forte de Itapura, em 1868) e da Via Sacra, pintada por Duílio Galli; o acervo artístico do Museu Municipal (organizado também por Duílio Galli) que, além de obras de Duílio, reúne produções de outros artistas, como Alfredo Volpi, Tarsila do Amaral e Ademir Martins; e o conjunto de áreas alagadas da várzea do Rio Jacaré-Pepira, conhecido como “Pantaninho”. Junto ao “Varjão”, que reúne a várzea do Rio Jacaré-Guaçu, a região compreende a Área de Proteção Ambiental, APA Ibitinga, criada em 1987.
Região de imensa riqueza natural, onde importantes remanescentes de vegetação e fauna se associam, formando um ambiente com a presença de espécies raras, como tamanduá-mirim, veado campeiro, lobo guará, onça parda, além de diferentes espécies de peixes e aves, algumas ameaçadas de extinção.23
23 Ibitinga. Secretaria de turismo e viagens. Disponível em: < https://www.turismo.sp.gov.br/1934>. Acesso em 23 junho 2022.
Vista aérea do Pantaninho, na várzea do Rio Jacaré Pepira.
Fonte: Prefeitura Municipal de Ibitinga.
Duílio Galli e o Museu Municipal
DUÍLIO GALLI
Sendo um dos autores do relatório que possibilitou o título de estância turística à Ibitinga, Duílio Galli nasceu em São Carlos, em 1930, mas passou toda a sua infância em Ibitinga, onde seus pais mantinham a Alfaiataria Galli. Mais tarde, a família muda-se para São Paulo, em 1948, onde Duílio Galli forma-se contabilista e torna-se piloto profissional de moto, tendo ganhado vários prêmios e competições. Auto-identificado como “pintor caipira”,24 Duílio também se dedicava à pintura desde a década de 1950 e foi justamente a carreira artística a que Duílio passou a se dedicar após ir se afastando do escritório de contabilidade e das corridas de motocicleta, por volta de 1966, depois de uma “anunciação espiritual de que seu destino seria a dedicação a arte” (GALLI, 1989, p. 3).
Aluno de Tarsila do Amaral, que ele considerava a sua grande mestra, Duílio foi integrante do movimento que fez surgir o encontro semanal de arte na Praça da República, onde, posteriormente também na Praça Roosevelt e numa outra praça no município de Embu, expunha seus quadros.
Antes do início do movimento na praça do Embu, no entanto, alguns artistas já haviam iniciado o movimento da Praça da República em São Paulo desde 1966. Segundo Zé Figueiredo, os artistas Vanderlei Ciulf, Câmara, Ivan e Duílio Galli, teriam iniciado com suas exposições um movimento na Praça da República, abrindo um espaço para artistas que não tinham acesso às galerias. As notícias de jornal também enfatizam esta busca de um novo espaço por parte destes artistas.
Duílio Galli é citado como o primeiro artista a descobrir a Praça da República fazendo com que dezenas de artistas, que se “esfurnavam” em seus ateliês, saíssem para a praça.
(...)
De acordo com alguns artigos de jornal, Duílio Galli teria sido o criador da “arte fantástica caipira”, iniciando o movimento primitivo da Praça da República. (JEOLÁS, 1988, p. 34)
24 Duílio Galli se identifica como um “pintor caipira”, em referência à sua região de origem, em um de seus três livros editados, onde relata experiências de uma viagem internacional por vários países, com o título de “As Andanças de um Pintor Caipira”. Ver GALLI, 1989.
Duílio Galli expondo suas obras na Feira de Arte da Praça República, [s/d.].
Fonte: Blog Duílio Galli.
Duílio tem a sua primeira exposição individual na galeria KLM, em 1967. No mesmo ano, recebe menção honrosa no Salão Paulista de Arte Moderna e no ano seguinte conquista a medalha de bronze.
Já nos primeiros anos de sua carreira de artista, Duílio passa a realizar viagens a outros países e a participar de exposições individuais e coletivas.
Após voltar de uma dessas viagens, em 1969, participa da comissão que elabora o estatuto da Associação de Artes Plástica do Brasil (AIAP).
Em 1970, participa do Grupo Bisonte e, em 1974, do Grupo Prisma. Nos anos seguintes, torna-se um dos fundadores, junto com o espanhol Miguel Abellá, do grupo Arte e Pensamento Ecológico, “o grupo surge no auge do regime militar de exceção como movimento pioneiro na conscientização ecológica do povo brasileiro” (GALLI, 1989, p.4).
A consolidação de sua carreira vem com a seleção para expor na 14ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1977. Com cerca de 40 objetos descartados na natureza, como bombonas de plástico, pneus, canos de esgoto e vaso sanitário, Duílio explora a crítica e a denúncia à poluição industrial e ao modo de vida consumista e agressivo ao meio ambiente.
Nos anos seguintes, Duílio pinta a Via Sacra (1987) da matriz de Ibitinga e
retoma as viagens a diferentes países, inclusive, realizando uma viagem ao redor do mundo em 100 dias (1981). Deixa de viajar em 2002 quando retorna definitivamente para Ibitinga, onde continua pintando e trabalhando como videorrepórter para uma estação de rádio e televisão local.
No início, suas obras apresentavam pequenas figuras, normalmente santos ou beatos. Nesta época, Duílio era considerado primitivista mas ele preferia chamar-se de ‘pintor caipira’. Posteriormente, suas obras foram ficando mais claras, mais luminosas apresentando uma perfeição técnica que até hoje predomina em todos os seus trabalhos. Suas figuras alongadas sempre fascinaram os espectadores e as vibrações em tons verdes que Duílio conseguiu nesta fase, fizeram com que fosse classificado como surrealista. Ele se opôs muito a essa denominação, pois, segundo o próprio manifesto de André Breton, faltavam à sua obra elementos essenciais como morbidez, sexualidade onírica. Além disso, os trabalhos de Duílio sempre foram essencialmente cristãos, profundamente impregnados por religiosidade e sentimentalismo. Por isso, em vez de surrealista, ele preferia que se chamasse sua obra de arte fantástica. Posteriormente, Duílio ingressou em uma de suas fases mais magníficas em que ele apresentava a problemática de gente do interior ingressando na cidade grande ou então do homem sendo massacrado pela asfixiante metrópole. Os prédios, por assim dizer, se curvavam, alongavam-se para agarrar e sufocar os seres humanos ou então se transformavam em labirintos intransponíveis. Nesta época, Duílio conheceu alguns artistas como A. Peixoto, Eunibaldo Tinoco e Zé Cordeiro e resolveu-se: sua arte seria chamada simplesmente de Arte Brasileira. A partir daí, continuou pintando alternando temáticas e enriquecendo suas obras tecnicamente. Hoje em dia, sem dúvida alguma, Duílio Galli está entre os grandes artistas do Brasil. (Jos Luyten, apud DUÍLIO, 1974)
Como avalia o crítico de arte Jos Luyten (Joseph M. Luyten), ao longo de sua carreira, Duílio foi transformando a sua expressão artística, assim como tocou em diferentes temas, como a religiosidade, questões ambientais e sociais. Mas, além disso, Duílio também pintou obras que trataram do tema do bordado e da própria cidade de Ibitinga, e se tornou um dos principais autores das peças de artes visuais que divulgavam e promoviam o produto e os eventos relacionados, como a Feira do bordado. Duílio Galli faleceu em Ibitinga, em 2016, aos 85 anos.
Exposição das obras de Duílio Galli na XIV Bienal Internacional de São Paulo, 1977. Fonte: Blog Duílio Galli.
MUSEU MUNICIPAL
O Museu Municipal de Ibitinga foi inaugurado em 1971, em uma antiga edificação implantada na esquina da Praça Jorge Tibiriçá, a residência que pertenceu a família de Dona Dioguina Sampaio.25
A comissão organizadora do Museu contou com Maria José Maroti (presidente do Conselho Municipal de Cultura e da Comissão de Artes Plásticas), Cleto Stocco e Maria Carolina do Nascimento (integrantes da Comissão de Artes Plásticas), e teve a colaboração de Duílio Galli.
Galli liderou a busca de doações de obras de artistas em oficinas, ateliês e exposições. O resultado da iniciativa de Galli e da comissão organizadora foi um acervo que reunia cerca de 100 obras de artistas plásticos, como Aldemir Martins, Alfredo Volpi e Tarsila do Amaral.
25 Antes de sediar o museu, o edifício, localizado na esquina da Rua José Custódio com a Rua Dr. Teixeira, foi ocupado pela empresa pioneira na indústria de bordados da cidade, Bordados Sampaio, de propriedade da família de Dona Dioguina Sampaio.
Em 1974, o museu é denominado “Museu Municipal Duílio Galli” e homenageia o pintor que naquele ano também recebia o título de “Cidadão Ibitinguense”.
ATUAL MUSEU, ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL E CENTRO ARTÍSTICO DE IBITINGA DUÍLIO GALLI
Mais de cinquenta anos depois, o museu continua a existir, sob o título de Museu, Arquivo Histórico Municipal e Centro Artístico Duílio Galli. Sediado em outro edifício,26 o atual museu conta com o acervo artístico ainda pró-
26 O prédio onde o museu está instalado atualmente, localizado na Rua Cap. Felício Racy (próximo ao terminal rodoviário), é precário. O edifício de planta retangular, semelhante a um galpão, além de pequeno para o acervo, não é acessível e está mal adaptado ao uso. Nele, a ventilação e iluminação natural são ruins e as paredes laterais são atingidas pela umidade; condição que foi relativamente solucionada por uma pequena reforma realizada recentemente, quando as paredes foram pintadas novamente. No entanto, a despeito dos esforços de reorganização do acervo, o prédio ainda é bas-
Inauguração do Museu Municipal de Ibitinga, 1971.
Fonte: Blog Duílio Galli.
Interior do Museu, Arquivo Histórico Municipal e Centro Artístico Duílio Galli em 2021. Foto do autor.
ximo do original, caracterizado por distintos exemplares da arte plástica moderna, mas também com aquisições posteriores, reunindo atualmente cerca de 130 obras.27
O atual acervo do museu também abrange diversos objetos de diferentes tipos e utilidades, relacionados a ofícios e também à cultura local,28 pequenas instalações temáticas, como as relacionados à cultura caipira e ao trabalho no campo e à produção tradicional do bordado, praticado pelas bordadeiras pioneiras.
tante problemático ao uso do museu.
27 O acervo artístico também conta com obras mais recentes à coleção original, incluindo trabalhos posteriores de Duílio Galli, como alguns expostos na bienal e cartazes produzidos para feiras do bordado; também quadros de pintores locais, estes, porém, sem a singularidade da obra de Duílio.
28 Objetos como eletrodomésticos, aparelhos eletrônicos e mobiliários antigos, metais e louças com pinturas comemorativas e simbólicas.
Da cidade à intervenção
Aspectos gerais
Atualmente, contando com aproximadamente 61 mil habitantes, Ibitinga apresenta uma mancha urbana espraiada devido ao crescimento fragmentado da cidade nas últimas décadas. Como aponta o relatório novo plano diretor de Ibitinga,29 o crescimento irregular seguindo diferentes eixos de expansão - que acompanham linhas viárias associadas ao trajetos dos cursos d’água no perímetro urbano - permitiu o surgimento de novos loteamentos e empreendimentos desconectados da malha urbana, e a ampliação de vazios urbanos.
Atualmente, a imagem da mancha urbana, ainda apresenta um município espraiado que continua expandindo acompanhando a várzea do córrego capim fino (nordeste), córrego água quente (noroeste), córrego taquara do reino (sudeste e centro-leste) e em direção a rodovia SP – 331. A cidade ainda apresenta uma quantidade considerável de vazios urbanos e loteamentos cada vez mais desconectados da malha urbana. (Levantamento e Diagnóstico Plano Diretor Participativo, 2019, p. 25)
Os diferentes eixos de expansão urbana também definem distintos tipos de moradia, perfil populacional e até de desenho urbano. De forma geral, a expansão à sudeste e à nordeste se caracteriza por loteamentos que atendem a classes sociais de menor renda; à sul e à oeste, surgem loteamentos mais populares, mas também associados às classes médias; já à noroeste a expansão urbana se caracteriza por loteamentos que atendem a populações de faixas de renda média à alta, incluindo a implantação de condomínios fechados.
A ocupação atual da malha urbana vai bem além dos limites da Av. Eng. Ivanil Francischini (Avenida Perimetral),30 em alguns pontos se estendendo até
29 O Plano Diretor Participativo de Ibitinga teve seu relatório final revisado em 2019, e foi aprovado em 2021 pela Lei Complementar N°213. Disponível em: <https:// publico.ibitinga.sp.leg.br/pysc/download_norma_pysc?cod_norma=6603&texto_original=1>. Acesso em 31 outubro 2022.
30 A Avenida Perimetral foi projetada por Ivanil Francischini (em 1982, foi registrada com o nome do engenheiro), engenheiro atuante em Ibitinga, que teve papel importante no planejamento urbano da cidade e no projeto de alguns edifícios relevantes na esfera local a partir da década de 1960, como as arquibancadas do Ginásio Municipal de Esportes. Também foi vice-prefeito e diretor de obras da Prefeitura Municipal de Ibitinga.
À direita, na página seguinte, vista aérea de Ibitinga, com indicações dos principais eixos de expansão urbana e dos córregos que cruzam a cidade. Fonte: Google Earth. Editado pelo autor.
Eixos
Córrego Capim Fino Córrego da Água Quente Córrego São Joaquim Córrego Taquara do Reino Córrego Saltinho Avenida Perimetral de expansão urbanaáreas onde se projetou a nova avenida perimetral.31
A avenida perimetral, ou somente “perimetral” (como é conhecida pela população), aliás, tem papel fundamental não somente no sistema viário, mas também no sistema de espaços livres da cidade; em toda a sua extensão seu canteiro central se configura como um perímetro de calçadas e jardins - com diferentes arranjos ao longo do trajeto - onde as pessoas caminham e praticam atividades de lazer.
De forma que a maior demanda por espaços livres, de lazer e serviços na cidade se dá fora do centro. Inclusive, até mesmo algumas lojas de bordados e de outros produtos têxteis se localizam fora da região central - que ainda concentra o comércio têxtil e do bordado. Especialmente lojas de maior porte, muitas vezes associadas às próprias fábricas, se localizam em áreas periféricas da cidade, junto aos eixos viários, principalmente àqueles que acessam a cidade. Além das lojas de fábrica, há o futuro shopping
31 Atualmente uma nova avenida perimetral está sendo proposta contornando a malha urbana e se conectando com o sistema viário de acesso à cidade, como registra o novo plano diretor.
À esquerda, vista do canteiro central de um trecho da Avenida Eng. Ivanil Francischini.
Fonte: Prefeitura Municipal de Ibitinga. Editado pelo autor.
À direita, na página seguinte, planta da cidade de Ibitinga.
Fonte: Prefeitura Municipal de Ibitinga. Editado pelo autor.
Avenida Perimetral CentroCidade do Bordado; localizado junto à rotatória de acesso sul à cidade, o edifício do shopping já está sendo construído.32 Apesar de parte do centro ainda ser ocupado por habitações e da existência de comércio de bordado em outras áreas da cidade, a região central se caracteriza principalmente pela sua parte comercial e de serviços. Como observa Paula da Cruz Landim, situação semelhante em cidades de porte médio:
Com a predominância da função comercial e/ou de prestação de serviços, e ainda com a construção de calçadões, o que limita a vida da área central basicamente ao período diruno e aos dias útreis da semana, a área central degrada-se rapidamente, sendo comum a intenção de implementação de projetos de revitalização para o centro. (LANDIM, 2003, p. 76)
Os equipamentos de cultura existentes em Ibitinga também se concentram no centro da cidade, como a Biblioteca Municipal e o Museu e Arquivo Histórico Municipal Duílio Galli. Entre os equipamentos de educação, as principais escolas públicas estão localizadas no centro, ainda que existam outras escolas, da rede pública e privada, distribuídas em outras regiões. Ibitinga possui uma faculdade municipal, a FAIBI (Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ibitinga), que se localiza também próximo da região central; o mesmo para as escolas técnicas, como a própria ETEC e a escola técnica têxtil CECRIBI (Centro de Capacitação e Requalificação das Indústrias do Bordado de Ibitinga).
Equipamentos de cutura e educação em Ibitinga.
Fonte: Prefeitura Municipal de Ibitinga. Editado pelo autor. Legenda: Escola pública secundarista Escola privada secundarista Escola de ensino técnico e profissionalizante Faculdade municipal
32 O edifício do shooping Cidade do Bordado está sendo construído e será inaugurado em breve, segundo informações do site oficial. Disponível em: < https://www. shoppingcidadedobordado.com.br/estagio-das-obras/>. Acesso em 31 outubro 2022.
Atual economia do bordado
O setor da economia têxtil, incluindo o comércio e o arranjo produtivo especializado, continua sendo bastante relevante na economia, contribuindo com aproximadamente um quarto do montante do PIB Municipal e absorvendo quase a metade da oferta de empregos formais. Após sofrer as dificuldades econômicas, socias e de saúde pública ao longo dos dois anos de pandemia, Ibitinga passa por um processo de retomada e reorganização econômica. Hoje, a cidade possui mais de 90 lojas de bordados, que se concentram no centro da cidade.33 Há também a Feira de Artesanato34 que, todos os sábados, atrai centenas de ônibus e vans de cidades de todo o estado e de estados vizinhos, como Minas Gerais e Paraná. Na mesma praça, uma vez ao ano, acontece outro importante evento relacionado ao turismo de Ibitinga, a Procissão de Corpus Christi - em Ibitinga, o feriado religioso se tornou um importante dia para o turismo comercial, junto à festividade cristã, as ruas do entorno da Paróquia Matriz do Senhor Bom Jesus são enfeitadas e feirantes instalam as suas barracas, formando uma grande feira onde são comercializados bordados e outros diversos produtos.
Dessa forma, a atividade comercial têxtil continua sendo fundamental na economia de Ibitinga, ainda que sofra modificações estruturais, como o advento do e-commerce, e geográficas, caso da implantação de lojas de fábricas em áreas distantes da região central e da implementação do futuro shopping Cidade do Bordado.
Planta da cidade de Ibitinga.
Fonte: Prefeitura Municipal de Ibitinga. Editado pelo autor.
Participação da Indústria no Total do Valor Adicionado (Em %), 2018.
Participação dos Empregos Formais da Indústria no Total de Empregos Formais (Em %), 2019.
Fonte: Seade.
33 Exemplo é o caso da Rua José Custódio que, no trecho entre o terminal rodoviário e a Praça Rui Barbosa, com exceção de uma escola e da sede da companhia telefônica, tem os cinco quarteirões ocupados, em ambas as faces, por lojas de bordados.
34 Organizada pela Associação da Estância Turística de Ibitinga (AETI), a “Feirinha” reúne mais de 500 barraqueiros nas ruas perimetrais àPraça Rui Barbosa.
Rua José Custódio CentroMuseu do Bordado
Antiga sede do CRI em reformas para a instalação do Museu do Bordado de Ibitinga, 2022.
Foto do autor.
A proposta para a implantação do Museu do Bordado de Ibitinga está indicada no atual Plano Diretor, de 2019. O plano propõe, além do museu, a implantação de um calçadão (que ele chama de "boulevard") na Rua José Custódio, principal eixo do comércio têxtil, além de outras propostas dentro de um quadro de curto, médio e longo prazo, incluindo uma proposta de "revitalização do centro da cidade". Neste ano, 2022, a prefeitura municipal divulgou o início das obras de instalação do Museu do Bordado, a partir de recursos do DADEUT (Departamento de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios Turísticos),35 o museu será instalado na antiga sede do CRI (Clube Recreativo Ibitinguense). O acervo do novo museu será formado provavelmente a partir de novas aquisições e também através do atual patrimônio do Museu e Arquivo Histórico Muncipal Duílio Galli, onde existem itens relacionados à história e cultura do bordado em Ibitinga.36
35 Prédio do CRI passa por reformas para abrigar Museu do Bordado. Folha de Ibitinga. Disponível em: < http://www.folhadeibitinga.com.br/materia/10046/predio-do-cri-passa-por-reformas-para-abrigar-museu-do-bordado>. Acesso em 30 outubro 2022.
36 O acervo atual do museu municipal relacionado à história do bordado em Ibitinga se deve principalmente à atuação da historiadora Júlia Estronioli - que age na coordenação do museu e na sua curadoria.
Edifício onde está instalado o CECRIBI, 2022. Foto do autor.
Fazendo jus à tradição de ensino e capacitação dos profissionais que atuam na produção têxtil de Ibitinga, o Centro de Capacitação e Requalificação das Indústrias de Bordado de Ibitinga (CECRIBI) foi criado em 2013 a partir do firmamento de um convênio com o governo estadual de São Paulo.37 Atualmente o CECRIBI possui mais de 300 alunos e oferece cursos técnicos e profissionalizantes na área têxtil, majoritariamente, mas também em outras. A escola é conveniada ao Senai de Araraquara e também recebe apoio da prefeitura municipal para a sua manutenção. Segundo o coordenador do CECRIBI, Jean Ferreira, em entrevista realizada na primeira metade deste ano, o centro de ensino atende alunos de diferentes idades, de adolescentes a adultos, e o foco da escola é o curso de 3 semestres de formação técnica para atuar na indústria têxtil de Ibitinga; a maior parte dos alunos deste curso ainda frequentam o ensino médio e acompanham o curso de forma conjunta, em períodos alternados do dia. O prédio onde o CECRIBI está instalado desde a sua criação, em 2013, localizado em uma movimentada via da cidade, a Avenida Japão, é pro-
37 Alckmin assina convênio para criação de Centro de Capacitação em Ibitinga. Governo do Estado de São Paulo. Disponível em: <https://www.saopaulo.sp.gov.br/ sala-de-imprensa/release/alckmin-assina-convenio-para-criacao-de-centro-de-capacitacao-em-ibitinga/>. Acesso em 31 outubro 2022.
blemático ao uso da escola sob diferentes aspectos; o edifício, de planta retangular, tem sobre o salão um mezanino em todo o perímetro onde foram adpatadas e instaladas as salas de aula, que não possuem ventilação e iluminação natural; o espaço é insuficiente de forma geral, tanto para as salas de aula, quanto para o espaço das oficinas de costura, corte e embalagem, e para a oficina de manutenção; as áreas de convívio se resumem ao hall de acesso, onde há algumas poltronas, e ao refeitório, que acaba se conformando como a principal - e quase que exclusiva - área de estar. Há demanda por um auditório, por uma biblioteca e sala de leitura, por mais salas de aula e por mais espaço nas oficinas; há necessidade, flagrante, de ambientes adequados ao convívio e descanso, assim como vestiários para os alunos - que, em sua maioria, frequentam o curso de maneira complementar aos estudos no ensino médio e muitas vezes vão direto da escola ao centro técnico.
Ainda que o CECRIBI atualmente seja somente conveniada ao Senai, há expectativa por parte da instituição de que em breve o centro técnico se torne uma unidade do Senai.
Mezanino onde estão instaladas as salas de aula, 2022.
Foto do autor.
Oficina de costura. Foto do autor.
Sala de aula, localizada no mezanino. Foto do autor.
Área de intervenção
Procurando reconhecer parte da região central da cidade - região de ambição de se intervir - a partir de um levantamento fotográfico, mapeado em uma cartografia.
Considerando a Rua José Custódio, principal eixo viário na economia têxtil especializada de Ibitinga, como guia e um recorte que se restringe do entorno do atual terminal rodoviário às margens do Córrego São Joaquim, onde foi instalada, em 1910, a estação ferroviária. Um intervalo de dez quarteirões que não são homogêneos. Grosso modo, partindo do terminal rodoviário em direção a Paróquia Matriz do Senhor Bom Jesus, tem-se a maior concentração de lojas de bordado na cidade, densidade que extravasa pelas ruas transversais, como a Rua Domingos Robert, a Rua Daniel de Freitas e a Avenida Sete de Setembro. Após a passagem pela Praça Rui Barbosa, defronte à igreja matriz, tem-se uma maior presença de edificações remanescentes da primeira metade do século passado, situação que se torna ainda mais intensa conforme a distância até o antigo Largo Municipal é menor. As esquinas tornam-se - nessa área do centro, caracterizada como centro histórico de Ibitinga - pontos singulares, sendo várias ocupadas por arquiteturas ecléticas e com ornamentação Art Déco. Na região, ainda é possível encontrar diversos vestígios das edificações que primeiro ocuparam a quadrícula no início do século passado, desde edificações implantadas no alinhamento a antigas residências com jardim ocupando o recuo frontal.
Implantada na clareira aberta para a formação do antigo Largo Municipal, onde a cidade foi fundada, a Praça Jorge Tibiriçá já sofreu modificações que alteraram completamente o seu traçado. Atualmente a praça também é conhecida como "Praça da Concha Acústica", devido à estrutura implantada em seu centro. Defronte à praça tem-se o conjunto dos edifícios da prefeitura municipal, edificações de diferentes períodos e arquiteturas. Entre a praça e as margens do córrego São Joaquim, onde o percurso se encerra, existe uma maior presença de residências e as quadras passam a se caracterizar majoritariamente pelo uso residencial.
Por fim, vale ressaltar que, a despeito do burburinho devido ao movimento de pessoas no eixo comercial do bordado e da densidade de edificações naquele trecho, o entorno do córrego se caracteriza por uma grande área livre e um aspecto de despovoamento.
1 Terminal Rodoviário de Ibitinga, 2021. Aos sábados, feirantes vendem seus produtos nas calçadas do entorno do terminal.
Foto do autor.
10 Prédio da antiga Estação de Ibitinga, 2021.
Foto do autor.
Rua José Custódio
Córrego São Joaquim
2 Lojas de cama, mesa e banho na Rua José Custódio, 2021.
Foto do autor.
3 Mais lojas de cama, mesa e banho na Rua José Custódio, 2021. Foto do autor.
4 Nas ruas transversais em dias de grande quantidade de turistas as calçadas são disputadas entre pedestres e os carregadores de mercadorias dos ônibus, 2021. Foto do autor.
5 Feira de Artesanato, que acontece aos sábados de frente à igreja matriz e à Praça Rui Barbosa, 2021. Foto do autor.
6 Antigo palacete na esquina das Ruas José Custódio e Tiradentes, 2021. Foto do autor.
7 Concha acústica na Praça Jorge Tibiriçá, 2021. Foto do autor.
8 Dois dos edifícios que abrigam a Sede da Prefeitura Municipal, esquina das Ruas José Custódio e Miguel Landim, 2021. Foto do autor.
9 Área livre junto à margem do Córrego São Joaquim, 2021. Foto do autor.
Proposta
A partir do reconhecimento do território e das diferentes condições e situações que o caracterizam, propõe-se a implantação de uma escola técnica têxtil - que chamarei de Escola do Bordado - junto a um centro de memória, pesquisa e difusão do bordado - o Museu do Bordado.
Inspirado na demanda que o CECRIBI atende, a proposta serve a uma eventual nova sede do centro de ensino, absorvendo as implicações mais latentes, percebidas na entrevista com o coordenador e na visita à escola, e transborda o programa estrito do CECRIBI, ou mesmo de uma unidade do Senai.
O museu já foi proposto sob outras condições, já que para ele não existia uma demanda programática evidente ou até mesmo um exemplar local, para que se pudesse referenciar. Então, o museu é pensado como uma forma de relacionar o uso cultural esperado de um programa museológico associado a uma escola técnica que atende centenas de alunos. Para o museu e a escola também é considerável a proximidade destes com o eixo do comércio têxtil da cidade, que atrai semanalmente milhares de turistas, assim como a sua vizinhança com a prefeitura municipal e a região do centro onde é proposta a implantação do conjunto.
PARTIDO
O conjunto escola-museu, implantado em dois terrenos de esquina separados por uma via, se organizam a partir do eixo da Rua José Custódio (que tem como um de seus logradouros) e da localização do terreno, de frente à Praça Jorge Tibiriçá.
A intenção de livrar o piso térreo do terreno onde a escola é projetada permitiu a elevação do programa de ensino para o pavimento superior e inferior. No térreo, apenas a recepção e uma pequena área administrativa, uma grande laje livre, parte coberta, parte descoberta, e um restaurante que se abre para a praça.
A vizinhança deste terreno com o conjunto da prefeitura municipal permitiu também a exploração do terreno vizinho através da extensão da circulação que cruza os pilotis da escola e acessa o miolo da quadra. O lançamento da circulação dos pilotis para o interior da quadra e a proposta de uma volumetria que poderá acomodar futuras dependências da prefeitura municipal é tratada como diretriz neste trabalho, mas sem o maior aprofundamento.
O terreno onde o museu é projetado possui uma preexistência que será mantida - um casarão que serviu de residência e indústria a uma das primeiras famílias empreendedoras do bordado em Ibitinga.
O museu, que é semielevado com relação ao piso térreo da escola, iguala o nível de suas lajes com as da escola a partir do 1°pavimento. O piso "térreo" do museu (que é semielevado) se dedica ao programa mais relacionado a extensão do museu, como os ateliers de costura, uma sala de exposição e a loja de produtos confeccionados na escola técnica e no centro de difusão. Os níveis inferiores e superiores do museu seguem a mesma lógica, acomodando o programa museulógico, incluindo as dependências de instalações e de apoio.
SISTEMA ESTRUTURAL
A partir da pesquisa de projetos de escolas técnicas, incluindo unidades do Senai, tem-se o conhecimento da atuação do escritório NPC Arquitetura no projeto de unidades do Senai. O escritório projetou diferentes unidades para a instituição, incluindo projetos padronizados e projetos não padronizados, mas utilizando majoritariamente o sistema estrutural pré-moldado. Nesse sentido, neste projeto é usado a modulação estrutural adotada pelo escritório NPC em projetos não padronizados, mas que usaram componentes pré-fabricados, a partir da adoção da modulação de 1,25m, adotada pelo escritório.
Além da estrutura principal, pré-fabricada e modulada segundo a unidade de 1,25m, nos dois edifícios é proposta também a estrutura de concreto armado in loco, que se acomoda ao terreno e se localiza no perímetro dos edifícios.
37.80
Escola e Museu do Bordado
a
a'
Planta de cobertura
d f b'
Corte ee'
Vista R. Dr. Teixeira (oeste)
Vista R. Dr. Teixeira (leste)
Vista R. José Custódio (norte) 1
Vista R. José Custódio (norte) 2
ACERVOS E FONTES CONSULTADOS
Arquivo Público do Estado de São Paulo - repositório digital. Disponível em: <http://www.arquivoestado.sp.gov.br/site/acervo/repositorio_digital>. Acesso em 30 out. 2022.
Biblioteca Pública Municipal Profª Iracema Casemiro de Amorim. Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE) - GEOSEADE. Disponível em: <https://portalgeo.seade.gov.br/>. Acesso em 30 out. 2022. Instituto Geográfico e Cartográfico do Estado de São Paulo (IGC) - reposito rio digital. Disponível em: <http://www.igc.sp.gov.br/produtos/index.html>. Acesso em 30 out. 2022.
Jornal O Comércio - acervo pessoal de Fernando Pereira Racy. Museu, Arquivo Histórico Municipal e Centro Artístico de Ibitinga Duilio Galli.
Secretaria de Cultura da Prefeitura Municipal de Ibitinga. Secretaria de Obras da Prefeitura Municipal de Ibitinga.
SITES CONSULTADOS
Site Oficial Duilio Galli: De Ibitinga para o Mundo. Disponível em: <http:// www.duiliogalli.com.br/>. Acesso em 30 out. 2022.
Blog Duílio Galli. Disponível em: <http://duiliogalli.blogspot.com/>. Acesso em 30 out. 2022.
Museu Virtual de Ibitinga. Disponível em: <https://museuvirtualibitinga com.br/>. Acesso em 30 out. 2022.
BIBLIOGRAFIA
CALAZANS, José Fábio Z. Zé Calazans croquis de uma vida: a habitação e a cidade a cidade e a habitação/ Curadoria de André Takiya e Antonio Carlos Barossi. São Paulo: FAUUSP, 2010.
CINTRÃO, Janaina Florinda Ferri. O trabalho das bordadeiras de Ibitinga: fragmentação e subordinação. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais)Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Araraquara, 1990.
DUÍLIO Galli: retrospec 74. Texto de Jos Luyten. São Paulo: Galeria Prestes
Maia, 1974.
ESTRONIOLLI, Júlia. Exposição Compacta de Reabertura do Museu e Arquivo Histórico Municipal Duilio Galli. Ibitinga, 2022.
FLORIAN, Fabiana; LORENZO, Helena Carvalho de. Território e ambiente institucional: o arranjo produtivo local (APL) “Bordados de Ibitinga-SP”. Taubaté: Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, v. 4, n. 4, set/dez. 2008, pp. 25-53.
GEHL, Jan; GEMZOE, Lars. Novos Espaços Urbanos. São Paulo: Gustavo Gili, 2002.
JEOLÁS, Leila Sollberger. Artesanato urbano: do objeto alternativo à alternativa econômica. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1988.
LANDIM, Paula da Cruz. Desenho de paisagem urbana: as cidades do interior paulista. São Paulo: Editora Unesp, 2004.
NUNES, Ivanil. Douradense: a agonia de uma ferrovia. São Paulo: Annablume; Fapesp, 2005.
IBITINGA - sua gente, suas coisas, Edição de “O Comércio”, Ibitinga, 1971.
O BORDADO. Edição comemorativa da VII Feira do Bordado de Ibitinga do jornal “O Comércio”. 1980.
_____. Panorama Turístico: relatório de visita técnica - USP Municípios. 2019. Disponível em: http://municipios.usp.br/wp-content/uploads/sites/595/2021/03/USP-Munic%C3%ADpi os-IBITINGA-FINAL-Fevereiro-2020 pdf. Acesso em 30 out. 2022.
REIS, Nestor Goulart. Quadro da Arquitetura no Brasil. São Paulo: Perspe tiva, 2000.
RIPA, Rômulo Luís de Lima. Governança e desenvolvimento local : uma proposta para o município de Ibitinga/SP. Rômulo Luís de Lima Ripa. - 2021.
ROSA, Roque de. Retalhos - Meus Tempos em Ibitinga. Ibitinga: MG Editora, 2000.
SERAPIÃO, Fernando. Inhotim: arquitetura, arte e paisagem. São Paulo, Monolito, 2015.
SAWAIA, Bader Burihan. Ibitinga - suas práticas econômicas e representações sociais. Dissertação (mestrado em psicologia social) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1979.
SEVERINO, Vinicius Galbieri; FUJIOKA, Paulo Yassuhide. Caixa Econômica Estadual de São Paulo em Ibitinga: 40 anos do exemplar de arquitetura bancária na cidade. In: Anais do VI SEMINÁRIO DOCOMOMO SÃO PAULO: a arquitetura moderna paulista e a questão social, 2018, São Carlos. Disp
nível em: <https://www.nucleodocomomosp.com.br/publicacoes>. Acesso em 30 out. 2022.
SEVERINO, Vinicius Galbieri; SUZUKI, Marcelo; FUJIOKA, Paulo Yassuhide. Arquitetura moderna na cidade de Ibitinga-SP. In: Anais do 7° Seminário Docomomo São Paulo (livro eletrônico): a difusão da arquitetura moderna, 1930-1980. Disponível em: <https://www.nucleodocomomosp.com.br/publicacoes>. Acesso em 30 out. 2022.
VILLELA, Marisa. Annibal: uma biografia. Londrina: Kan, 2017.
WISNIK, Guilherme. Dentro do nevoeiro: arquitetura, arte e tecnologia contemporâneas. São Paulo: Ubu, 2018.
ZÓLIO, Julciléa Cristina. Lugares esquecidos. A preservação do patrimônio no interior paulista: investigações sobre as cidades de Dourado e Nova Europa. Dissertação (Mestrado em História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.