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s o r i e c r a p s o s s No
Sexo e Saúde
pelo Brasil
Auçuba - Comunicação e Educação Recife (PE) aucuba.org.br
Movimento de Intercâmbio de Adolescentes de Lavras – Lavras (MG)
Grupo Conectados de Comunicação Alternativa GCCA - Fortaleza (CE) www.taconectados.blogspot.com
Catavento Comunicação e Educação Fortaleza (CE) www.catavento.org.br
Amadora – Portugal www.buefixe.org
Rede Sou de Atitude Maranhão São Luís (MA) www.soudeatitude.org.br
Mídia Periférica - Salvador (BA) www.midiaperiferica.blogspot.com.br
Casa da Juventude Pe. Burnier – Goiânia (GO) www.casadajuventude.org.br
Agência Fotec – Natal (RN)
Cipó Comunicação Interativa Salvador (BA) www.cipo.org.br
Universidade Popular – Belém (PA) www.unipop.org.br
Gira Solidário Campo Grande (MS) www.girasolidario.org.br
Jornal O Cidadão – Rio de Janeiro (RJ) ocidadaonline.blogspot.com
Lunos - Boituva (SP) www.lunos.com.br
Avalanche Missões Urbanas Underground Vitória (ES) www.avalanchemissoes.org
Casa Pequeno Davi João Pessoa (PB)
Cientifica Assessoria Empresarial Porto Alegre - RS
Projeto Juventude, Educação e Comunicação Alternativa Maceió (AL)
Coletivo Jovem - Movimento Nossa São Luís São Luís (MA)
Ciranda – Curitiba (PR) Central de Notícias dos Direitos da Infância e Adolescência www.ciranda.org.br
União da Juventude Socialista – Rio Branco (AC) ujsacre.blogspot.com
Grupo Makunaima Protagonismo Juvenil (RR) grupomakunaimarr.blogspot.com
Oi Kabum - Rio de Janeiro (RJ) www.oikabumrio.org.br
Grupo de Comunicadores Adolescentes e Jovens da Vila de Ponta Negra (UFRN)
Idesca - Manaus (AM) www.idesca.org.br
Rejupe www.rejupe.org
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Conteúdo
o d a g e l o h n u j e d
Copie sem moderação! Você pode: • Copiar e distribuir • Criar obras derivadas Basta dar o crédito para a Vira!
a trou para e 2013 en d o h hares de n ju m oucas il mês de p o e d e o u s q e õ e ç ida d verdadeir ifesta ão há dúv com man u em um o u o rm ç e fo s m n o se tra que c sil. Da luta s do País história. O todo o Bra es cidade d e n d s ra que a g ru m protestos ando as pessoas e blico, os ú oas ocup s p s e e p rt o e p d s ans m milhõe diferentes rifas do tr levante co ço das ta agora sob , re p to o n do que e n m to a aumen apanhado em and m m e u u s g ê e contra o s m ste junho iparam e capa de o mês de matéria d que partic a s agitaram n te n re a fe it il n dam a com m . Você co trevistas ue nos aju n q e bandeiras s m ta s o li c , ia ada das espec protestos e esta tom os atos e u d q o foram os s ã a ç v u ti tr c s rspe te da con o e as pe ativamen o de junh d a g le o . bre coletiva frente refletir so ui para a entrevista q a a d m a u c re lo fe co ainda con ruas nos com a ex ão, você ão Paulo S e d e Nesta ediç p a Reju leitura! s jovens d oser. Boa M feita pelo a n A i le de vô jogadora
N “
Quem somos A
Viração é um uma organização não governamental (ONG), de educomunicação, sem fins lucrativos, criada em março de 2003. Recebe apoio institucional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), do Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo e da ANDI Comunicação e Direitos. Além de produzir a revista, oferece cursos e oficinas em comunicação popular feita para jovens, por jovens e com jovens em escolas, grupos e comunidades em todo o Brasil. Para a produção da revista impressa e eletrônica (www.viracao.org),contamos com a participação dos conselhos editoriais jovens de 20 Estados e no Distrito Federal, que reúnem representantes de escolas públicas e particulares, projetos e movimentos sociais. Entre os prêmios conquistados nesses dez anos, estão Prêmio Don Mario Pasini Comunicatore, em Roma (Itália), o Prêmio Cidadania Mundial, concedido pela Comunidade Bahá'í. E mais: no ranking da Andi, a Viração é a primeira entre as revistas voltadas para jovens. Participe você também desse projeto. Paulo Pereira Lima Diretor Executivo da Viração – MTB 27.300
”
Conheça os Virajovens em 20 Estados brasileiros e no Distrito Federal Belém (PA) Boa Vista (RR) Boituva (SP) Brasília (DF) Campo Grande (MS) Curitiba (PR) Fortaleza (CE) Goiânia (GO) João Pessoa (PB) Lagarto (SE) Lavras (MG) Lima Duarte (MG) Maceió (AL) Manaus (AM) Natal (RN) Picuí (PB) Pinheiros (ES) Porto Alegre (RS) Recife (PE) Rio Branco (AC) Rio de Janeiro (RJ) Salvador (BA) S. Gabriel da Cachoeira (AM) São Luís (MA) São Paulo (SP) Vitória (ES)
Apoio Institucional
Asso
ciazione Jangada
Quem faz a Vira Eli Carvalho
Virajovem de Salvador faz entrevistas para a seção Manda Vê desta edição
Revista Viração • Ano 11 • Edição 97 03
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Recepção calorosa?
Humilhação e desrespeito são alguns adjetivos que qualificam o trote universitário. Mas há estudantes que promovem ações solidárias e integração respeitosa entre calouros e veteranos
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Afroeducação
Evento em São Paulo discute como a Educomunicação pode auxiliar no enfrentamento ao racismo dentro das escolas brasileiras
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Copa em pauta
A ex-jogadora de vôlei, Ana Moser, conversa com adolesc entes da Rejupe sobre o projeto que cria ações de desenvolvimen to social para as cidades-sede da Copa do Mundo
O povo vai às ruas!
Junho de 2013 entrou para a histó ria com uma série de levantes populares País afora. O que começou com as tarifas engloba outras pautas e está long e de acabar
Arte que restaura
com uma Coletivo cultural de Manaus, em parceria comunidade e eleva uma de l visua o muda organização local, o preconceito a autoestima de jovens que convivem com
Sempre na Vira
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Manda Vê . . . . . . . . . . . . . 06 Quadrim . . . . . . . . . . . . . . 08 Vale 10 . . . . . . . . . . . . . . . 09 Imagens que Viram . . . . . 10 Como se faz . . . . . . . . . . 28 No Escurinho . . . . . . . . . . 30 Que Figura . . . . . . . . . . . . 31 Sexo e Saúde . . . . . . . . . . 32 Rango da Terrinha . . . . . . 33 Parada Social . . . . . . . . . . 34 Rap Dez . . . . . . . . . . . . . . 35
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União que fortalece Projeto de jovens da Amazônia promove encontro entre comunidades quilombolas que se fortalecem a partir do diálogo e da troca de experiências
Óia o arraiá!
Junho é o período da tradicional festa de São João! essa Conheça como maranhenses e capixabas curtem ira brasile celebração tipicamente
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Nas ondas do rádio
Entenda como uma rádio comunitária pode ser educomunicativa a partir do envolvimento dos moradores com as mídias e ferramentas da comunicação
RG VÁLIDO EM TODO TERRITÓRIO NACIONAL Revista Viração - ISSN 2236-6806
Primeiro-Secretário
Conselho Editorial
Eduardo Peterle Nascimento
Eugênio Bucci, Ismar de Oliveira, Izabel Leão, Immaculada Lopez, João Pedro Baresi, Mara Luquet e Valdênia Paulino
Diretoria Executiva
Conselho Fiscal
Bruno Ferreira, Elisangela Nunes, Evelyn Araripe, Irma D’Angelo, Gutierrez de Jesus Silva, Ingrid Evangelista, Luiz Altieri, Manuela Ribeiro, Marcos Vinícius Oliveira, Rafael Silva, Tulio Bucchioni e Vânia Correia
Everaldo Oliveira, Renata Rosa e Rodrigo Bandeira
Conselho Pedagógico Alexsandro Santos, Aparecida Jurado, Isabel Santos, Leandro Nonato e Vera Lion
Paulo Lima e Lilian Romão
Equipe
Administração/Assinaturas
Presidente
Douglas Ramos e Norma Cinara Lemos
Juliana Rocha Barroso
Mobilizadores da Vira
Vice-Presidente
Acre (Leonardo Nora), Alagoas (Jhonathan Pino), Amazonas (Jhony Abreu, Claudia Maria Ferraz e Sebastian Roa), Bahia (Everton Nova, Enderson
Cristina Paloschi Uchôa
Araújo e Mariana Sebastião), Ceará (Alcindo Costa e Rones Maciel), Distrito Federal (Webert da Cruz), Espírito Santo (Jéssica Delcarro e Izabela Silva), Goiás (Érika Pereira e Sheila Manço), Maranhão (Nikolas Martins e Maria do Socorro Costa), Mato Grosso do Sul (Fernanda Pereira), Minas Gerais (Emília Merlini, Reynaldo Gosmão e Silmara Aparecida dos Santos), Pará (Diego Souza Teofilo), Paraíba (José Carlos Santos e Manassés de Oliveira), Paraná (Juliana Cordeiro e Vinícius Gallon), Pernambuco (Edneusa Lopes e Luiz Felipe Bessa), Rio de Janeiro (Gizele Martins), Rio Grande do Norte (Alessandro Muniz), Rio Grande do Sul (Evelin Haslinger e Joaquim Moura), Roraima (Graciele Oliveira dos Santos), Sergipe (Grace Carvalho) e São Paulo (Luciano Frontelle, Verônica Mendonça e Vinícius Balduíno).
Voluntárias Julia Dávila e Viviane Andrade
Colaboradores Anais Quiroga, Antônio Martins, Heloísa Sato, Márcio Baraldi, Natália Forcat, Novaes, Sérgio Rizzo e Thamy Cabral.
Projeto Gráfico Ana Paula Marques e Cristina Sayuri
Revisão Izabel Leão
Jornalista Responsável Paulo Pereira Lima – MTb 27.300
Divulgação Equipe Viração
E-mail Redação redacao@viracao.org
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A Vira pela igualdade. Diga lá. Todas e todos Mudança, Atitude e Ousadia jovem.
Fale com a gente! Via Facebook
Diga lá
Sou a favor da diminuição penal de idade, em razão de que a maioria dos crimes que são cometidos hoje em dia, são causados por menores de idade. Isso tudo acontece por não ter nenhum tipo de punição para essas pessoas, por isso eles se acham no direito de fazer tudo aquilo que não está certo perante a lei dos homens. Com certeza, se houvesse uma punição para esses menores, eles iriam pensar mais antes de roubar alguém. Rerisson (sobre a reportagem de capa Apelo à Razão, da edição nº 95)
Rerisson, a Viração, enquanto entidade defensora dos direitos da criança e do adolescente, não poderia deixar de se posicionar contrária a essa proposta. No Brasil, inclusive, a partir dos 12 anos, o adolescente já é responsabilizado criminalmente. Acreditamos que antes de discutir punição, é amplamente necessário discutir a ampliação de direitos de crianças, adolescentes e jovens, inclusive o acesso à educação.
Perdeu alguma edição da Vira? Não esquenta! Agora você pode acessar, de graça, as edições anteriores da revista na internet: www.issuu.com/viracao
A Viração Educomunicação recuperou o seu perfil original no Twitter. Volte a nos seguir pelo @viracao.
E também confira a página da Viração Educomunicação no Facebok.
Ops! Erramos! Na página 20, da edição 95 da Vira, no contexto da reportagem de capa sobre redução da maioridade penal, utilizamos o termo "desestrutura familiar" no box Um olhar positivo sobre as medidas socioeducativas. Fomos esclarecidos de que o termo adequado seria “famílias em situação de vulnerabilidade social”, visto que não existe uma estrutura ou padrão único de família. Há famílias com diferentes formações e fatores de renda.
Mande seus comentários sobre a Vira, dizendo o que achou de nossas reportagens e seções. Suas sugestões são bem-vindas! Escreva para Rua Augusta, 1239 - Conj. 11 - Consolação - 01305-100 - São Paulo (SP) ou para o e-mail: redacao@viracao.org Aguardamos sua colaboração!
Parceiros de Conteúdo
Ponto G Para garantir a igualdade entre os gêneros na linguagem da Vira, onde se lê “o jovem” ou “os jovens”, leia-se também “a jovem” ou “as jovens”, assim como outros substantivos com variação de masculino e feminino.
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Manda Vê Sebastian Roa, do Virajovem Manaus (AM); Lannay Raquiele, Eives Sena, Emilae Sena, Jucilene Andrade, Magno Neves e Helder Crisan, do Virajovem Salvador (BA)*; e Bruno Ferreira, da Redação
A internação compulsória está prevista pela Lei da Reforma Psiquiátrica, e se refere ao ato de internar um dependente químico contra sua vontade, sempre e quando represente algum risco para a sociedade ou para ele mesmo. De um lado estão os que apoiam a medida. Dados recentes do Instituto de Saúde Mental (NIMH, sigla em inglês) apontam que um em cada dois dependentes submetidos ao tratamento sofrem de algum tipo de distúrbio que representa perigo à sociedade, sendo um deles a depressão. O aumento de usuários de drogas é um dos pontos que levaram o projeto de lei adiante, e o crack é apontado como o maior vilão da história. Já os que são contrários à ideia de internação compulsória defendem que essa não é a solução para acabar com o problema, pois as reclamações de violências físicas, maus tratos, torturas e ainda, casos de pacientes serem enterrados até o pescoço são inúmeras. O grupo que se opõe à proposta ainda ressalta que isso seria mais uma medida para a higienização das ruas do que para o dependente. Alguns estudos de centros de pesquisa de vários lugares do mundo mostram que de todas as pessoas que se submetem a tratamento para se livrar das drogas compulsoriamente, apenas 30% conseguem deixar a dependência. Perguntamos aos jovens o que pensam sobre a questão:
Você é contra ou a faVor da internação compulsória? Adriano Leonel, 20 anos, São Paulo (SP) “Não acredito que seja a melhor solução. Acho que até pode funcionar, mas ao mesmo tempo tem tudo pra ser muito traumático se o Estado não conseguir fazer as internações com certo cuidado. E eu não sei até que ponto o Estado está preparado pra isso.”
06 Revista Viração • Ano 11 • Edição 97
Amanda Santos, 15 anos, Salvador (BA) “Eu concordo, porque simplesmente têm muitas pessoas que são usuárias e estão nas ruas, esquecidas pela sociedade. Muitas vezes já estão tão tomadas pelas drogas e não têm consciência do que querem.”
*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal
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Daniela Rodrigues, 26 anos, Salvador (BA)
Asafe Paixão Oliveira, 18 anos, Manaus (AM)
“Eu concordo, se a intenção for a de realmente reabilitar essas pessoas, pois as instituições privadas estão recebendo incentivos para receberem dependentes químicos e nessa parte há uma grande preocupação. Será que essas instituições irão realizar um bom trabalho?”
“Sou a favor. Quando a pessoa não tem domínio sobre a sua condição psicológica e física, deve sim ser ser internada, por determinação de um juiz.”
Marcella Laise Gomes, 24 anos, Salvador (BA) “Sou contra, sempre fui. Não acredito nessa metodologia. São paliativos da saúde pública em função dessa ‘higienização social’. Detesto esse termo. É mais um reforço de tornar pessoas coisas, objetivos, elementos e estatísticas.”
Joarleson Reis, 24 anos, Salvador (BA) “Penso que as drogas são um problema de saúde pública, logo, acho válida a internação compulsória. Deixar pessoas nas ruas a mercê do vício é negligenciar uma patologia, visto que, em casos agudos as pessoas perdem a noção até de quem elas são. O Estado deve intervir enquanto gestor da saúde pública.” Gustavo Paiva, 24 anos, São Paulo (SP)
Leidiane Gomes, 19 anos, Salvador (BA)
“Sou contra, porque ela segue a lógica de criminalização do usuário que, aliás, me parece o grande equívoco e motivo do fracasso das políticas de drogas no País. Além disso, a medida abre brecha para mais práticas higienistas e violadoras de direitos como os muitos exemplos que vimos de ações policiais.”
“Acho a internação compulsória algo errado. Acredito que com conversas sobre a droga, que é ruim para sua vida, e especialmente força de vontade da pessoa, é possível largar a dependência.”
não é de hoje!
Faz Parte
No último dia 22 de maio, a Câmara Federal aprovou o Projeto de Lei de autoria do deputado Osmar Terra (PMDB-RS), que dispõe sobre a internação compulsória e agravamento da pena para traficantes de droga. No projeto, o deputado defende que familiares de dependentes químicos consigam internar uma pessoa, mediante autorização médica, sem que um juiz precise autorizar. Atualmente, a lei prevê uma análise jurídica das condições do usuário de drogas, que avalia se a pessoa representa perigo para a sociedade ou não.
A diferença da internação voluntária para a compulsória é que a primeira é realizada quando o dependente precisa ser neutralizado. Já a segunda autoriza que o dependente, mesmo apresentando um aparente controle, seja submetido ao tratamento por ordem judicial. É importante frisar que o paciente pode recorrer ao habeas corpus caso se sinta lesado pela justiça. Foi o que ocorreu em 1975, nos Estados Unidos, no famoso caso O'Connor X Donaldson, no qual Kenneth Donaldson, paciente do Florida State Hospital processou as pessoas do hospital por mantê-lo preso durante 15 anos contra sua vontade.
b
k Um gari oto e seuquadrim_97:Layout 1 23/07/2013 13:10 Page 9
Quadrim
-
tigre de estimacao
Divulgação
Nobu Chinen, crítico de quadrinhos
E
ra uma vez um menino franzino, de cabelo espetado, camiseta listrada e que vivia aprontando. Em sua fértil imaginação, pôde se transformar em um feroz dinossauro ou num audacioso astronauta. Estamos falando de Calvin, que com suas observações nem sempre infantis, sobre um mundo adulto demais, diz verdades incômodas e cheias de ironia e humor. Seu companheiro inseparável é o tigre Haroldo, que na presença de outras pessoas é apenas um boneco de pelúcia, mas que na fantasia do menino solitário ganha vida. Os dois adoram passar o dia brincando, fazendo bonecos de neve, aprontando com a vizinha
Susie ou bagunçando toda a casa, para desespero da babá Rosalyn e dos pais de Calvin. A pior inimiga do garoto é a sra. Wormwood, sua professora, que ganha forma de monstro alienígena nos delírios de Calvin. Ler as tiras de Calvin e Haroldo é um passeio pelo universo da imaginação infantil, recheado de momentos mágicos e divertidos, sem evitar temas cotidianos como o questionamento das autoridades, as obrigações escolares e familiares e até o conflito entre gêneros. Bill Watterson, criador de Calvin, é totalmente avesso a dar entrevistas e se nega a ser uma celebridade. Uma das razões que o levaram a interromper a série, no auge do seu sucesso, foram os frequentes conflitos com a agência que distribuía a série, que insistia para que ele concordasse em explorar os personagens em brinquedos, camisetas e outras quinquilharias, algo que ele sempre recusou. Calvin e Haroldo é uma das séries mais amadas e prestigiadas por leitores do mundo inteiro apesar de ter sido publicada por apenas dez anos, de 1985 a 1995. Tanto que, passadas quase duas décadas desde que deixou de ser produzida, ela continua sendo republicada com sucesso em coletâneas e jornais de grande circulação. V
Por que é legal ler? As tiras de Calvin são divertidíssimas. O menino apronta mil e umas. Em casa, na rua, na escola. Suas aventuras fazem lembrar uma infância cheia de molecagens, travessuras e, obviamente, muita imaginação.
08 Revista Viração • Ano 11 • Edição 97
Por que é importante ler? A série é uma referência em tiras diárias de jornal, um gênero que ajudou a popularizar as histórias em quadrinhos com um tipo de humor sintético e ligeiro. Hoje são menos comuns e ocupam espaços cada vez menores.
Para ler e refletir Calvin e Haroldo não é exatamente leitura infantil, apesar dos personagens serem simpáticos e engraçadinhos. As situações criadas pelo autor muitas vezes embutem comentários muito profundos sobre temas complexos e bastante atuais como amizade, bullying e morte.
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Juliana Rocha Barroso* Rita Freire*
F
Pés firmes por uma nova comunicação
oi no começo de 2005 que o midiativismo ligado ao Fórum Social Mundial conheceu o time da Viração. O grupo chegou a Porto Alegre para juntar-se às mídias alternativas que faziam naquele ano uma experiência mais ousada. Após quase um ano debatendo a comunicação do fórum, vários veículos, coletivos e comunicadores independentes decidiram fazer tudo de modo colaborativo, compartilhando recursos, conhecimentos e conteúdos em produções multimídia conjuntas, o que era uma inovação à época. Pelo centro de imprensa do FSM foram montados estúdios de rádio e TV sob gestão coletiva. A sala da Ciranda era também a sala dos textos para as rádios comunitárias, da cobertura latino-americana feita pela Minga dos Movimentos Sociais, do jornal Flamme D´Afrique, editado por jornalistas africanos. No Acampamento da Juventude funcionava um laboratório de conhecimentos livres em autogestão, com hackers ensinando tecnologias de vanguarda em salas erguidas no barro extraído do Rio Guaíba. Tendo à frente o jornalista Paulo Lima, que deixou uma editoria do jornal Brasil de Fato para se dedicar ao que conheceríamos como educomunicação, o grupo se integrou a tudo com a naturalidade de uma geração que chegava exatamente para ensinar a compartilhar. Com apenas um ano de existência do Orkut, não era ainda a grande época das redes sociais. Embora se tratasse da primeira experiência da Viração no FSM, os(as) jovens logo assumiram seus espaços na gestão da veterana Ciranda, sem perder o foco da sua própria cobertura especial como inventores de uma nova mídia jovem brasileira. Com textos simples e experimentais, relatavam seu contato com propostas para “Outro Mundo Possível” em discussão nas oficinas e espaços do FSM. A presença da Viração não diminuiu com o desmonte do centro de mídia ou o derretimento natural do hacklab de barro em Porto Alegre. Seus ativistas pelo País foram consolidando aos poucos seu papel na educomunicação, nas coberturas do FSM, no Fórum Mundial de Mídia Livre, e na construção de uma mídia comprometida com a juventude e a sociedade. Os conteúdos de suas publicações são também objetos de uma reflexão crítica, a exemplo das vozes contra a redução da maioridade penal, tema recente da revista, e sem muito espaço na imprensa conservadora. No Brasil, o fazer coletivo na comunicação compartilhada ajudou a aproximar quem vê criticamente a velha mídia de quem faz outro tipo de mídia, e estes dois elementos são fortes nas práticas da Viração. Com eles, jovens educomunicadores(as) ajudam a construir o atual movimento pela democratização da comunicação, que visa mudar as regras e as leis das mídias no País. V
Natália Forcat
Vale
*Rita Freire é jornalista, editora da Ciranda Internacional de Comunicação Compartilhada, atua no Fórum Mundial de Mídia Lívre, na Rede Mulher e Mídia, integra o Conselho Internacional do FSM e o Conselho Curador da EBC.
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IMAGENS QUE VIRAM
Verônica Mendonça, do Virajovem São Paulo (SP)* Em dezembro de 2012 decidi tentar algo novo e fui passar pouco mais de dois meses na Índia, trabalhando com crianças, viajando entre cidades, provando do misticismo e dos diferentes sabores... Tentar sintetizar em poucos caracteres essa experiência é impossível, por isso prefiro deixar aqui algumas das minhas recordações de lugares e pessoas que contribuíram para que essa oportunidade seja uma marca para sempre em minha vida. "Não espere. Não fique velho e invente desculpas. Guarde um pouco de dinheiro. Venda seu carro. Compre um mapa mundi. Comece a olhar para cada página e diga a si mesmo que você pode ir lá. Você pode viver lá. Sacrifícios vão precisar ser feitos? Claro. Vale a pena? Absolutamente. O único jeito que você saberá é entrando no avião e indo. (...)". - Jason Gaspero. V
Namastê!
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*Uma das virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal
Revista Viração • Ano 11 • Edição 97 11
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Brincadeira tem limite
tortura. O trote Para uns, uma espécie de “rito de passagem”, para outros, uma começo de ano todo ca polêmi nas universidades é sempre uma discussão que gera
Maurício de Paula e Stephany Pinho, do Virajovem São Luís (MA)*
io D’Paula
Em 2009, os acusados receberam habeas corpus através do STF, que alegou não haver “justa causa” para dar continuidade ao processo, mas o Ministério Público recorreu da decisão. Casos de trotes que chegavam a acontecer em locais isolados, justamente para evitar os olhares mais críticos ou a denúncia de pessoas que sabem que “brincadeira tem limite”. “Não é necessário, mas é uma cultura, que faz parte do imaginário cultural acadêmico. Existem trotes e trotes, uns mais intelectualizados e outros são uma forma de afirmar um status de poder do veterano sobre o iniciado, para a manutenção de status quo. Válido, porque faz parte do
Fotos: Mauríc
P
or definição, o trote é uma atividade promovida por estudantes veteranos de uma instituição de ensino que marca a entrada dos novatos. Recorrente em instituições de ensino superior, acontece também em algumas escolas de ensino médio, principalmente quando, para ingressar é necessário passar por um processo seletivo rigoroso, que se dá por meio de prova. Segundo Paulo Denisar Vasconcelos, professor da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG), o trote que temos hoje no Brasil foi inspirado por um ritual de passagem que ocorria nas universidades da antiga Idade Média. Nessa época, os calouros (como são chamados os novatos) eram separados dos veteranos e, por medidas de higiene, tinham suas cabeças raspadas e suas roupas queimadas. O primeiro trote no Brasil aconteceu em 1831, na Faculdade de Direito de Olinda (PE). A tradição, muito presente no Brasil, provoca divergências entre os que acreditam que a atividade caracteriza-se como bullying e os que a defendem, dizendo que se trata de uma recepção, uma brincadeira divertida e tradicional. Muitos trotes já foram noticiados, revelando casos em que veteranos promoveram trotes violentos e que causaram grande constrangimento, problemas de saúde e até a morte de recém-chegados nas instituições de ensino, como foi o caso do estudante Edison Tsung Ching, encontrado morto na Faculdade de Medicina da USP em fevereiro de 1999. Esse caso, inclusive, entrou na pauta de discussões da plenária do Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 23 de maio deste ano, para se discutir a possibilidade de os acusados pela morte do estudante, durante o trote ocorrido no final dos anos 1990, responderem por homicídio qualificado ao tribunal do júri.
A veterana Roberta Lima recepciona o calouro Marcos Paulo com tinta e bom humor
12 Revista Viração • Ano 11 • Edição 97
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ambiente acadêmico, é um rito de passagem, uma celebração. Existem trotes muito legais, mas às vezes as pessoas perdem o parâmetro entre ser engraçado e ser constrangedor”, afirma a professora Luiziane Saraiva, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). A professora lembra que, quando era estudante universitária, foi realizado uma arrecadação entres os alunos de sua turma para que todos pudessem participar de uma festa. “ Isso não humilhou ninguém e todo mundo aproveitou. Eu achei legal”, afirma. “O trote é um importante ritual de passagem, mas tem que ter limites, sem bater ou forçar os calouros a fazer o que não querem”, diz a estudante de Relações Públicas da UFMA, Roberta Lima, que este ano ajudou a organizar o trote para receber os calouros da turma de Comunicação Social. Já para Tiago Máci, que é o cantor e estudante do curso de Artes Visuais da UFMA, o trote não é válido. “O trote ridiculariza e talvez até coaja a formação de opinião. Nada mais é do que ridicularização”, diz. Apesar das divergências, todos acreditam que é importante que haja atividades que integrem os novos alunos à universidades e façam com que os mesmos passem a alimentar um sentimento de pertencimento em relação ao novo espaço. Por isso, muito se fala nos chamados “trote de integração” e “trote solidário”. Os trotes de integração têm por objetivo promover um espaço de brincadeira, diversão e integração entre os veteranos e calouros, mas sem violência, atos discriminatórios e humilhantes. Nada deve ser feito sem o consentimento dos que passam pelo trote, levando-se sempre em consideração suas particularidades e limites a serem respeitados. O trote solidário funciona com base no respeito entre os calouros e os veteranos, a fim de sensibilizar os novos alunos trazendo uma mensagem de responsabilidade social. Nessa ocasião, dinheiro, alimentos ou roupas são arrecadados em brincadeiras. Os calouros saem batendo de porta em porta ou pedem dinheiro no trânsito para levantarem uma grana. Tudo é revertido para comunidades em situação de vulnerabilidade ou instituições sociais. É sempre bom encontrar alternativas para ressignificar práticas culturais que já não atendem mais às necessidades de um novo mundo, onde há mais amor, respeito e dignidade no trato para com outros seres humanos. V
Diretório Acadêmico do curso de Comunicação Social da UFMA deseja boas-vindas aos calouros
Calouros da turma de Comunicação Social da UFMA, de 2013, posam para foto em ônibus
*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal
Revista Viração • Ano 11 • Edição 97 13
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r e t r ó Rep
a r e l a G
Esporte para que te quero obrigação de construir os estádios Para Ana Moser, é preciso ir além da em que cuidar de quem está aqui.” e receber os turistas durante a Copa:“T Eduardo Ferreira, Livia Costa de Souza, Jenicleide de Barros, Maria Aparecida Santana, Victoria Satiro Martins, adolescentes comunicadores da Rejupe-SP; e Reynaldo Azevedo, do Virajovem Lavras (MG)*
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m abril deste ano, a cidade de São Paulo deu início ao projeto Cidades da Copa, plano de mobilização de diferentes setores da sociedade civil, governos e órgãos privados que pretende discutir e criar ações de desenvolvimento social nas 12 cidades-sede que irão receber os jogos da Copa do Mundo de 2014. Idealizado pelo Instituto Esporte & Educação, a iniciativa conta com o envolvimento de secretarias municipais, Rede Esporte pela Mudança Social, UNICEF, Sesc, Atletas pela Cidadania, entre outras ONGs, organizações privadas e federações esportivas. O projeto será feito em duas etapas, sendo a primeira de construção de um plano municipal de esporte para, em seguida, ser apresentado aos governos e pressioná-los para a aplicação dessas ações. Durante a cerimônia de lançamento, a ex-jogadora de vôlei Ana Moser, que preside o Instituto Esporte & Educação, conversou com os adolescentes da Rejupe-SP (Rede de Adolescentes e Jovens pelo Direito ao Esporte seguro e Inclusivo) sobre as perspectivas do Cidades da Copa e o possível legado social que o Brasil pode ganhar. Ela conta que é preciso envolver o máximo possível de atores da sociedade civil para construir esse plano, pois assim ele irá contemplar as diferentes demandas da cidade. “Vocês (jovens) possuem o conhecimento de como fazer chegar aos jovens as informações a respeito do que está acontecendo na preparação dos jogos e ajudarão a desenhar uma visão de futuro. Esperamos que essa ação crie uma estrutura de movimento para as pessoas que atuam com o esporte e faça com que saibam a importância de discutir a questão do legado esportivo”, disse. Confira os melhores momentos da entrevista. Como o jovem pode interferir na cobrança de um legado social dos megaeventos esportivos? Ana Moser: Em primeiro lugar, precisamos fazer chegar aos jovens as informações da Copa do Mundo e Olimpíadas além do que eles veem
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na televisão, na internet, para que possam refletir sobre tudo o que está acontecendo e conseguir ter uma visão crítica a respeito disso. Depois, é preciso incentivar a criação de um grupo de jovens na escola que proporcione um debate mais amplo sobre o assunto. No caso do nosso projeto, o Instituto Esporte & Educação, existem muitos jovens organizados em grupos que realizam práticas esportivas na periferia e aproveitam esses momentos para discussão, ou seja, usam os instrumentos que existem para falar com outros jovens, e se posicionam. Eu acho que muitas vezes as decisões estão nas mãos dos adultos, mas o posicionamento dos jovens ajuda a criar demandas que são específicas dessa faixa etária.
Cada cidade tem uma realidade e uma maneira de se organizar. Em Brasília (DF) ainda não tivemos os jovens participando no projeto. Em Porto Alegre (RS), já iniciamos com muita participação dos jovens, como aqui em São Paulo (SP), que temos a Rejupe. Mas queremos avançar nessa participação, e para isso temos que dar conta da realidade e visualizar o caminho para conseguir (essa participação). A Copa do Mundo será um sucesso se...? Se a gente cuidar de questões que vão além do cumprimento dos contratos assinados pelo Brasil com a FIFA e o Comitê Olímpico Internacional. Se nós cuidarmos só desses contratos, os eventos irão sair (do papel), mas, para ser um sucesso a Copa, tem que ser boa para mais gente, ir além da obrigação de construir os estádios e receber os turistas. Tem que cuidar de quem está aqui. V
Como é, depois de ter representado o Brasil em muitas competições, atuar pela construção de um legado social no esporte? A intenção dessa ação e desse projeto, o Cidades da Copa, é lançar um desafio: saber o que estamos ganhando com essa Copa e o que se espera que esses grandes eventos tragam de benefícios esportivos e sociais para as cidades-sede. O projeto irá construir, com atores do esporte, a sociedade civil e as organizações parceiras, um plano municipal de esporte. Em seguida, quer que os governos adotem esse plano em cada cidade, refletindo de forma positiva na construção de um legado esportivo da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Vamos ter atletas do mundo inteiro jogando aqui no Brasil. Mas como é que estão os nossos jovens, nossos espaços de esporte, pra competição, saúde, inclusão, e para o desenvolvimento de crianças e jovens? São esses questionamentos que têm que vir junto com os grandes eventos. São 12 as cidades-sede que vão ser beneficiadas com o Cidades da Copa, mas têm várias cidades turísticas que vão receber visitas durante os jogos. Existe a intenção de ampliar as ações do projeto? A nossa ação é focada nas cidades-sede, mas o que a gente espera é que isso seja exemplo para outras cidades. O projeto é feito com a intenção de ser aplicado até 2014, e que seja bem sucedido. Sabemos que será difícil levar a outras cidades, já que em muitas capitais nem existem associações de esporte ou uma política consolidada para essa área. Mas esperamos que essa ação sirva de exemplo para o País.
“Para ser um sucesso, tem que ser para mais gente, ir além da obrigação de construir estadio.”
Como você vê a participação dos adolescentes e jovens nessa discussão?
*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal
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Educação que enfrenta o racismo nicação no contexto dos dez anos da Evento em São Paulo debate a educomu ra negra e história da África nas escolas Lei que dispõe sobre o ensino da cultu
Janicleide Santos e Carlos Eduardo, da Agência Jovem de Noticias; Izzy Gomes, colaboradora da Vira em São Paulo (SP)
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iariamente, sem que percebamos, nas rodas de conversas e espaços abertos é citado direta ou indiretamente à discussão sobre políticas públicas e, principalmente, na escola questões referentes à cultura africana e suas respectivas características. Isso porque nossos antepassados africanos e negros ajudaram no processo de construção educacional, estrutural e religioso do nosso País. O racismo, ou qualquer forma preconceituosa de diferenciar o próximo, na maioria das vezes surge por causa de um legado negativo transmitido sobre um povo. No caso dos negros, eles foram taxados de escravos, sem capacidade para adquirir conhecimento, eram vistos como animais. Ainda hoje, grande parte dos países africanos sofre com o legado do colonialismo no continente. Não é raro nos esquecermos de grandes figuras negras, revolucionárias e importantes para o Brasil, em diversas áreas, como Machado de Assis, Aleijadinho, Grande Otelo, Juliano Moreira e o líder Zumbi dos Palmares. Como reconhecimento ao negro e à sua cultura, a Lei Federal 10.639/2003 garante a obrigatoriedade da História e Cultura Afro-brasileira no currículo oficial da Rede de Ensino, uma tentativa de tornar os brasileiros conhecedores de sua relação histórica com a África e a cultura negra. Mas essa lei sofre alguns problemas, apesar de estar em vigor já há dez anos. Na prática, ainda há desconhecimento da
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sociedade sobre a importância de se conhecer a história do negro, suas raízes como forma de enfrentar o racismo ainda enraizado na sociedade. Além disso, percebe-se que não há auxílio do governo para a promoção e concretização de objetivos colocados nessa Lei. É como diz a frase: ‘’ No papel é tudo lindo, mas na prática... ’’
Educomunicação tem cor? Essa foi a indagação que orientou a conversa da manhã de 6 de abril de 2013, que contou com a participação dos professores Angela Schaun, Ismar de Oliveira Soares e Vera Lucia Benedito. O evento foi mediado pela diretora da Afroeducação, a jornalista educomunicadora Paola Prandini. O debate aconteceu no auditório do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, promovido pela Afroeducação. O evento contou com a participação de professores da rede pública de ensino, Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial do Estado de São Paulo, além de estudantes de educomunicação e jovens da Viração. Os debatedores propuseram uma reflexão sobre a Educomunicação na perspectiva da aplicação da Lei 10.639/03, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da educação brasileira, tornando obrigatório um ensino que contemple as contribuições sociais, econômicas, culturais e políticas do povo africano e afrobrasileiro na constituição do Brasil enquanto país. A Lei completou dez anos, mas que balanço é possível fazer? Que avanços podem ser observados em termos de ações e quais as possibilidades que a Educomunicação traz para essa jornada? A professora Angela Schaun, baiana e uma das primeiras estudantes brasileiras brancas a morar com negros nos Estados Unidos, acredita que a temática étnico-racial sempre esteve camuflada pela mídia brasileira para apoiar a falácia da democracia racial. Para ela, é preciso pensar porque esse tema causa tanta polêmica. “O contexto contemporâneo exige que a estética negra esteja presente, representada com dignidade na mídia, não é possível admitir o desprezo histórico, o autoritarismo, o desrespeito à cidadania, a estereotipia, é preciso contemplar a singularidade da cultura africana e afrobrasileira, que é parte do que somos”, diz Angela. Para o professor Ismar de Oliveira Soares, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, e estudioso da educomunicação, é necessário um envolvimento social para mudança, um processo com características de uma terceira via capaz de promover o empoderamento das minorias. “A educomunicação tem a cor negra, tem a cor das pessoas que estão vivenciando, experienciando essas práticas, e tem uma voz, tem uma luta pelo direito de expressão”, afirmou, durante o evento.
A professora Vera Lucia Benedito, pesquisadora negra e consultora na área de Educação, ajudou a implementar políticas raciais na cidade de São Paulo e a lei nº 10.639/03, mas para ela não basta ter lei, projetos, propostas políticas. “O fundamental é mudar a cabeça, as percepções equivocadas das pessoas sobre esse tema. A gente não precisa só ter imagens positivas do negro, precisamos de políticas públicas. E foi isso que os movimentos sociais que discutem direitos e igualdade racial fizeram. Nesses dez anos, conseguimos algumas coisas interessantes e importantes, mas que ainda não foram detalhadas em livros ou conteúdos acadêmicos sobre o que é que foi feito em todo o País”, ressalta. Vera Lucia destaca ainda que a violência nas escolas tem fundo racial, onde as crianças negras são massacradas, hostilizadas, e a mídia tem contribuído para reforçar estereótipos negativos dentro do ambiente escolar. V
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es Protestos contra o aumento das tarifas de ônibus levam milhar Brasil de pessoas às ruas e sacodem o cenário político e social do
Túlio Bucchioni e Vânia Correia, da Redação. Colaborou Rafael Silva, da Redação. Fotos: Mídia Ninja
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rotestos contra aumento das tarifas levam milhares de pessoas às ruas e as manifestações que levaram centenas de milhares de pessoas às ruas das principais cidades do Brasil surpreenderam os governos e os pessimistas de plantão. Contrariando a crença da apatia política, multidões, formadas especialmente por adolescentes e jovens, foram às ruas protestar e reivindicar direitos. O mote inspirador desse levante foi o aumento das tarifas do transporte público, anunciado em grande parte das cidades brasileiras durante o primeiro semestre deste ano. Os centavos somados à já alta tarifa do transporte público, canalizaram uma reivindicação O custo com mais ampla pelo direito ao transporte público transporte e à cidade. pode comprometer até Convocado principalmente 25% do orçamento de pelo Movimento Passe Livre um trabalhador (MPL), que se define como um brasileiro que recebe movimento social autônomo, um salário mínimo em horizontal e apartidário, os São Paulo, por exemplo protestos tinham como foco principal a revogação dos aumentos e a discussão da gratuidade no transporte público – o passe livre ou tarifa zero. Depois de três semanas de protestos massivos, a maior parte das prefeituras foi obrigada a recuar e revogar o aumento. Para João Pedro Stédile, economista e membro da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a pauta do preço e qualidade do transporte público é uma questão em comum entre a população, o que ajudou a ampliar a
Confronto entre manifestantes e policiais, em todos os protestos pelo País, teve destaque na grande mídia
Protesto chega às portas do Teatro Municipal de São Paulo
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adesão aos protestos. “A redução da tarifa interessava muito a todo povo e esse foi o acerto do MPL, saber convocar mobilizações em nome dos interesses de todos”, analisa. As manifestações também cumpriram um papel pedagógico ao resgatar a crença na força popular e na efetividade da ocupação das ruas. É o que afirma Letícia Cardoso, de 18 anos, militante do MPL: “essa vitória significou enraizar a cultura de luta para a população. As pessoas não acreditavam mais que ir para as ruas, ocupar os espaços, poderia proporcionar mudanças”. Terminado o mês de junho, as ruas seguem sendo ocupadas com manifestações de diferentes proporções e sobre temas variados. E depois de tomar gosto pelas ruas, ao que parece, dificilmente, a população sairá delas. “A preocupação agora é não deixar que o movimento esfrie, ou que nosso esforço seja transformado em ‘Ibope’. O desejo é que esses protestos impulsionem mudanças importantes no nosso país”, diz o jovem Jackson Ventura, que participou dos protestos no Rio de Janeiro.
Sem catracas
Movimentos que defendem o passe livre entendem o transporte como um direito de todos, inclusive para garantir o acesso a outros direitos, como saúde, cultura, emprego. Falar em passe livre significa questionar a lógica da política tarifária que promove lucro de grupos empresariais em detrimento da necessidade da população. Sobretudo, questionar a lógica do investimento público em transporte. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o País investe 11 vezes mais em transporte privado, por meio de obras viárias e políticas de crédito para o consumo de carros – como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) – do que em transporte coletivo, com construção de corredores exclusivos para ônibus, por exemplo. A Proposta de Emenda Constitucional - PEC 90/11, de autoria da deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP), que tramita na Câmara dos Deputados, inclui o transporte público no grupo dos direitos sociais descritos na Constituição Federal, como acontece com moradia e saúde. Para Lúcio Gregori, ex-secretário de Transportes da Prefeitura de São Paulo, uma solução para custear o transporte público é a criação de um Fundo de Transportes. O Fundo seria financiado com recursos provenientes de um aumento progressivo – quem tem mais, paga mais; quem tem menos, paga menos; quem não tem, não paga – do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU), direcionando o custeio do transporte público para todos os contribuintes, não para o usuário direto, como acontece com outros serviços, como saúde.
Manifestantes protestam contra o aumento da tarifa de ônibus no Viaduto do Chá, Centro de São Paulo
demonstravam antipatia aos partidos, tendo inclusive episódios de hostilidade e agressões a militantes partidários. Diante desse cenário, o MPL divulgou uma nota repudiando a violência contra partidos: “O MPL é um movimento social apartidário, mas não antipartidário. Repudiamos os atos de violência direcionados a essas organizações durante a manifestação, da mesma maneira que repudiamos a violência policial". Mas, quais fatores permitem compreender esse sentimento? Para Stedile, um dos pontos de análise está exatamente nos partidos políticos. “Os partidos ficaram velhos em suas práticas e se transformaram em meras siglas que aglutinam, em sua maioria, oportunistas para ascender a cargos públicos ou disputar recursos públicos para seus interesses. Mas o mais grave foi que os partidos da esquerda institucional, todos eles, se moldaram a esses métodos. Envelheceram e se burocratizaram. E, portanto, gerou na juventude uma ojeriza à forma dos partidos atuarem.” O geógrafo e militante do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), João Victor Pavesi, segue um raciocínio semelhante. “No Brasil, o antipartidarismo nas mobilizações tem respaldo principalmente em uma crítica ao PT, na transformação de um projeto construído a serviço da população pobre, oprimida e trabalhadora em um projeto que se afastou das ruas, da mobilização social e que se institucionalizou depois que entrou para o poder, sendo limitado pelo processo eleitoral e pela governabilidade”, afirma. Stédile pondera que os jovens, embora decepcionados com as instituições políticas, não estão negando a política
Antipartidários
Um sentimento comum pôde ser observado, em maior ou menor escala, em muitas das manifestações que tomaram conta das ruas do Brasil: o antipartidarismo. Especialmente depois da terceira semana de protestos, quando houve uma adesão em massa às manifestações, se repetiram episódios que Revista Viração • Ano 11 • Edição 97 19
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Dados oficiais indicam a presença de cerca de 65 mil pessoas nas ruas de São Paulo, em 17 de junho de 2013
em si. “A juventude não é apolítica, ao contrário, tanto é que levou a política para as ruas, mesmo sem ter consciência do seu significado”. A adolescente Jenicleide Santos, de 15 anos, concorda com essa percepção. “O que andou acontecendo em nosso País foi uma forma de mostrar que o poder do povo ainda prevalece e que ele não vai mais ficar em silêncio perante a hipocrisia de governos que foram eleitos para nos representar.”
Reforma Política
Em pronunciamento oficial sobre as manifestações, a presidenta Dilma Rousseff (PT), condenou atos de violência, enfatizando o compromisso de “manter a ordem”. Entre outras coisas, comprometeu-se com a construção de uma agenda positiva na qual está inclusa a criação do Plano de Mobilidade Urbana, que privilegia o transporte coletivo; a destinação dos recursos do petróleo para a educação e a qualificação e ampliação do Sistema Único de Saúde (SUS) com a importação de médicos estrangeiros para ocupar vagas abertas. A presidenta reconheceu a necessidade de ampliar os espaços de participação popular. “Precisamos oxigenar o nosso sistema político. Encontrar mecanismos que tornem nossas instituições mais transparentes, mais resistentes aos malfeitos e, acima de tudo, mais permeáveis à influência da sociedade”. Nesse sentido, Dilma prometeu a construção de uma “ampla e profunda” reforma política. No início de julho o governo encaminhou ao Congresso uma mensagem com a sugestão de plebiscito sobre a reforma política, na qual sugere que pelo menos cinco temas sejam abordados nas perguntas: financiamento público ou privado de campanha, sistema eleitoral (voto proporcional ou distrital), continuidade ou não da suplência para senador, fim ou não do voto secreto em deliberações do Congresso e continuidade ou não de coligações partidárias proporcionais.
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Violência policial
Uma das marcas das manifestações recentes no Brasil é, sem dúvida, a violência policial. Manifestantes reclamam de truculência, arbitrariedade e força desproporcional da polícia. Durante os protestos, muitas pessoas ficaram feridas e foram presas. Em São Paulo, houve grande número de pessoas presas para averiguação por portarem vinagre – que minimiza os efeitos do gás lacrimogêneo, usado pela polícia para dispersar manifestantes. Entidades de Direitos Humanos e órgãos como a Anistia Internacional emitiram notas nas quais condenaram o abuso e violência por parte da força policial. Os episódios trouxeram à tona reivindicações, já antigas, pela desmilitarização da polícia, defendida inclusive pela Organização das Nações Unidas (ONU). A presidenta Dilma também foi alvo de críticas por ter se silenciado sobre o tema da violência policial.
Democratizar a mídia
Entre os muitos temas que surgiram durante os protestos, a democratização dos meios de comunicação apareceu mais uma vez como pauta urgente. Durante os protestos, a imparcialidade e tentativas de
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A entrevista de João Pedro Stédile foi concedida originalmente ao Jornal Brasil de Fato, onde pode ser conferida na íntegra. Confira relatos dos protestos pelo Brasil e no mundo, no site da Agência Jovem de Notícias: www.agenciajovem.org
A forca das redes -
manipulação ficaram evidentes na cobertura realizada pela grande mídia. No início dos protestos, o vandalismo e a depredação ganhavam destaque desproporcional à realidade e os manifestantes eram qualificados como “vândalos” e “baderneiros”. Jornais de grande circulação chegaram a incentivar o aumento da repressão contra manifestantes, em São Paulo. No entanto, depois de dezenas de jornalistas, muitos a serviço desses jornais, terem sido feridos pela polícia e da adesão de centenas de milhares de pessoas aos protestos, negar o peso destas mobilizações já não seria uma posição viável. A estratégia passou a ser, então, a disputa dos rumos do movimento. A virada na abordagem veio acompanhada de uma tentativa de tomada e indicação das pautas dos protestos. Em poucos dias, as mobilizações passavam a ser consideradas históricas, transformadoras, prova inegável do amadurecimento de cidadãos democráticos e conscientes de seu futuro. Manchetes como “A semana que mudou o Brasil” e “Pátria amada, Brasil” entraram em cena em revistas de grande circulação nacional. Com o aumento das pessoas nas ruas, o movimento foi, de certo modo, capturado por forças da direita que contribuíram para a difusão das pautas e ascensão de bandeiras defendidas por setores conservadores, como a criminalização do aborto e a redução da maioridade penal. O tema do combate à corrupção, simbolizada pela crítica à PEC 37, ganhou força nos protestos e exigiu respostas do Congresso, que derrubou a proposta semanas depois. Movimentos sociais tradicionais e partidos de esquerda se desesperaram. Muitos se retiraram das ruas, num recuo estratégico para se reorganizarem. Pelas redes sociais, falava-se até em golpe de Estado. Iniciou-se uma defesa antecipada do governo de Dilma Rousseff (PT). Para Stédile, esse é um momento de disputa que está em curso. “Estamos em plena batalha ideológica, que ninguém sabe ainda qual será o resultado. Em cada cidade, cada manifestação, precisamos disputar corações e mentes. E quem ficar de fora, ficará de fora da história.”
Como já vimos em outras mobilizações e levantes ao redor do mundo, outro ator entrou em ação no Brasil: as mídias sociais, que vêm cumprindo um papel importante na articulação dos protestos e na disseminação de conteúdos alternativos aos veiculados pela grande mídia. “As redes sociais são uma coisa nova, que ainda precisa ser estudada. Elas quebram o monopólio estrutural tradicional de mídia, ainda que não tenham o alcance que a grande mídia tem. São um filtro mínimo que cria contrapontos, mas as redes sociais não são neutras e grupos conservadores se mobilizam nas redes. É um espaço público novo”, afirma Dennis de Oliveira, professor de Comunicação da ECA/USP. O jovem Jackson Ventura, que utilizou a internet para sensibilizar e convidar amigos, concorda com a importância do papel das redes no processo de mobilização social. “As redes sociais estão sendo utilizadas como mesas de debates, principal forma de divulgação de registros fotográficos dos protestos e meio mais eficaz para organização de novas manifestações.” V
Manifestantes no Rio de Janeiro lembram da importância das redes sociais para os protestos pelo Brasil
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Faz Cultura Sebastian Roa, Virajovem de Manaus (AM)
COLORINDO UM BAIRRO MELHOR
Grafiteiro: Soft
O ambiente que os rodeia é uma preocupação da galera do Coletivo Difusão, grupo cultural da cidade de Manaus. Essa turma de jovens e a comunidade se reuniram no mês de abril para “fazer arte” e melhorar a visual do local. A oficina de grafite foi uma iniciativa do coletivo em parceria com a Associação para o Desenvolvimento Integrado e Sustentável (Adeis), que propiciou o contato dos jovens da comunidade e os grandes nomes da cultura grafiteira em Manaus, como Arab e Raiz. “A cultura, por si só, é emancipadora do ser humano”, explica Valeria Machado, socióloga e coordenadora de projetos de geração de trabalho e renda na Adeis. Ela entende a oficina de grafite, que aconteceu no bairro, como forma de resgatar a autoestima desses jovens, que convivem com o preconceito na cidade. Para a socióloga, o projeto cumpre um dos objetivos da Associação, que é o de profissionalizar jovens na área da cultura, afinal “trabalho é uma forma de transformação humana”, diz Valeria, que acredita que a cultura em Manaus não representa os jovens, e ainda está estagnada e centralizada. Uirapuan Santos, de 19 anos, participou da primeira oficina de grafite e já começou a planejar a próxima junto aos grafiteiros. Para ele, o bairro precisa mais de iniciativas como essa. Por isso, ele e um grupo de jovens estão de olho em um edital da Claro como forma de viabilizar um projeto de dança, teatro e cinema, e levar cultura ao bairro Grande Vitória. Já Rodrigo Souza, que também tem 19 anos, mora no bairro há um ano e ressalta o trabalho da Adeis na comunidade: “Ações como essa, ajudam manter muitos jovens longe das drogas, tira muita criança da rua”. Para ele, este tipo de projeto é necessário no combate à violência. “Queremos tornar este bairro um local melhor”, diz Lidiane de Souza, de 18 anos, ao ser questionada sobre o que ela pretende participando desse projeto. Ela está terminando um curso de jornalismo comunitário e se prepara para escrever sobre o lugar onde vive. Atualmente, o Coletivo Difusão realiza oficinas ambientais, culturais e comunicativas, em parceria com algumas organizações que atuam com essas temáticas. A intenção é justamente a “descentralização” da cultura em geral. Coletivo difusão surge da ideia de ter um grupo que promova a arte sem nenhuma barreira. Grafiteiro: Raiz Campos
Grafiteiros: Hipz e Adonay Graff
Moradores de periferia fazem do cinema um sonho possível
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Quilombos unidos a-quilombola da Amazônia Oriental Projeto Ijé Ófè fortalece a juventude negr
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Melina Marcelino e Maria Luiza Nunes, colaboradoras da Vira em Belém (PA)*
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Arquivo: Ijé Óf
ocê sabe o que é um Quilombo? Kilombo, ou “calhambo”, é uma palavra de origem bantu – a palavra Bantu compreende Angola e Congo, é uma das maiores nações do Candomblé, uma religião AfroBrasileira, segundo a Wikipedia, e significa “acampamento” ou “fortaleza”. Muitas pessoas acham que os quilombos não existem mais, porém um mapeamento feito pela Fundação Palmares, do Ministério da Cultura, prova o contrário. São 3.524 comunidades de remanescentes Quilombolas, registradas em todo território brasileiro. E é dentro dos Quilombos que o projeto Ijé Ófè (em português Raça Livre), do Fórum da Amazônia Oriental – FAOR, está atuando. Com foco na juventude negraquilombola, o projeto pretende fortalecer as comunidades quilombolas, formando jovens lideranças para garantir a preservação da biodiversidade e o uso sustentável dos recursos naturais, a partir da atuação desses jovens. O Ijé Ófè atua em 80 comunidades quilombolas, dos quatro Estados da Amazônia Oriental (Pará, Amapá, Maranhão e Tocantins), e todas elas foram impactadas por grandes projetos, por madeireiros ou por algum tipo de monocultura, o que deixa essas jovens lideranças e suas comunidades reféns do racismo ambiental. Por conta da luta pelo direito constitucional do território quilombola, alguns dos jovens estão ameaçados de morte. Leidiane
Paulo Vitor, participante do Projeto Ijé Ófè, em protesto contra o extermínio de jovens
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dos Santos, de 20 anos, mora no Quilombo Camaputiua, em Cajarí (MA). A comunidade dela convive diariamente com invasores que entram no território Quilombola para retirar madeira. Os moradores são ameaçados de morte. Conforme relata Lidiane, “me ligavam de um número não identificado, mandavam eu parar de denunciar, senão eles iriam me matar. Até que um dia meu pai foi assassinado a tiros, ai me ligaram perguntando se eu tinha gostado da surpresa”, lamentou. Além das mortes, os invasores também colocaram fogo em casas dos moradores da comunidade. A troca de experiências entre as lideranças quilombolas, que acontece nas oficinas do projeto, é muito valorizada por Lidiane, “ouvir o que acontece nas outras comunidades e ver que a minha situação não é única, me dá forças para continuar lutando para preservar nosso território,” conclui a jovem quilombola. No município de Abaetetuba, no Pará, mora Queize Couto, de 24 anos. Ela pertence à comunidade Itacuruçá, que sofre diariamente com as investidas de uma empresa produtora de dendê. Segundo Queize, a empresa entrou em uma comunidade vizinha iludindo as pessoas, oferecendo comprar as terras e emprego na plantação. “Muitos venderam suas terras e só ficaram com as casas sem ter espaço para plantação e ainda têm que trabalhar no sol quente passando fome, mas eu sei que eles só venderam as terras porque pensavam que suas vidas iriam melhorar. Sei que faltou essas pessoas serem conscientizadas dos prejuízos que a venda de suas terras iria trazer”, resume a jovem, que continua na luta para preservar a área da comunidade Itacuruçá.
Formações que sensibilizam Através de oficinas temáticas, o Ijé Ófè debate com os 80 jovens, temas como Identidade e Terra, Biodiversidade e Conhecimento Tradicional, Manejo Sustentável e Mudanças Climáticas, Elaboração de mini-projetos comunitários e controle social das políticas públicas. O quilombola Paulo Vitor Vieira, de 18 anos, mora na comunidade Conceição do Maracá, no município de Mazagão (AP). Para ele, o maior problema que a comunidade enfrenta é as empresas privadas entrarem nos rios do território para pescar. “Esses barcos entram nos nossos rios e pescam todos nossos peixes, quando a gente sai pra pescar, não tem mais nada. Isso interfere na nossa alimentação. Por isso, com a ajuda do Ijé Ófè, eu quero elaborar um projeto de criação de peixe para a minha comunidade. Aí nunca vai faltar o peixe para comer”, diz Paulo Vitor. Além do debate político, o projeto também trabalha no resgate e valorização da cultura negra-quilombola. No Tocantins, Ana Cláudia Matos, de 23 anos, comprova que a atuação do Ijé Ófè, ajudou a jovem a valorizar mais a cultura da comunidade Quilombola Mumbuca. “Após o projeto, passamos a compreender e assumir o sentimento de pertencimento, as origens e a identidade quilombola. Detendo esse entendimento fica viável a luta contra as diversas formas de conflitos que enfrentamos,” diz Ana Cláudia.
Jovens do Projeto Ijé Ófè do Estado do Amapá
Jovens do Projeto Ijé Ófè na 6ª Conferência do FAOR, em Belém
As distâncias continentais da Região Amazônica, as dificuldades de comunicação, um orçamento reduzido e falta de políticas públicas para o povo quilombola não são obstáculo para a as entidades parceiras e a coordenação do projeto, representada por Maria Luiza Nunes, que sabe da importância de compartilhar o conhecimento. “Isso vem de uma coordenação que diz que é possível coordenar na força da ancestralidade, na crença e fé de cada um, que traz na sua bagagem o respeito pelo saber científico e tradicional. Essa força vem também da juventude negra-quilombola, que tem nos ensinado novos meios de lutar pelo direito de viver no Quilombo.” Em 2014 será realizado o 1º Encontro Interestadual de Jovens Lideranças Quilombolas da Amazônia Oriental com a presença de todos os jovens do projeto, que é financiado pelo Ministério para Cooperação e Desenvolvimento da Alemanha (BMZ), através da Ação Mundo Solidário da Alemanha (ASW) e realizado com apoio dos parceiros: Imena (AP), Aconeruq (MA), CCN (MA), Fórum Carajas (MA), Cedenpa (PA), Malungu (PA), Rede Mocambos (PA), Gruconto (TO), APA( TO), CONAQ (TO), UNIPOP (PA) e GIZ. V
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é festa de São João! comemoram os festejos juninos Saiba como capixabas e maranhenses
Jéssica Delcarro, do Virajovem Pinheiros (ES); e Maurício de Paula, do Virajovem São Luís (MA)*
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unho é o mês de São João, Santo Antônio e São Pedro, no entanto as festas que acontecem nesse mês são conhecidas, em boa parte do País, como Festa Junina. No Nordeste, a festa típica de junho é em homenagem a São João. Mas cada Região ou Estado brasileiro possui uma tradição diferente com relação às festas desse período do ano. Todas utilizam muita cor, comidas típicas, músicas, danças e agradecimentos aos Santos, com suas particularidades regionais. A quadrilha é uma das danças mais características dessa festa, que tem como objetivo homenagear os santos juninos e agradecer as boas colheitas na roça. Como o mês é época da colheita de milho, grande parte dos doces, bolos e salgados relacionados às festividades são feitos deste grão, como a pamonha, cural, milho cozido, canjica, cuzcuz, bolo de milho, entre outros. No interior do Estado do Espírito Santos os festejos juninos acontecem durante todo o mês de junho. Pessoas de todas as idades se vestem a caráter, dançam, e colocam músicas caipiras pra tocar e participam de brincadeiras tradicionais, como pau-desebo, pescaria, argola, boca do palhaço, entre outras que fazem a alegria da criançada. Umas das mais belas manifestações culturais desse mês acontece no dia de São João, celebrado em 24 de junho. Na festa, é comum que vizinhos celebrem juntos a data, reunindo-se nas ruas, onde montam mesas com comidas típicas ao redor de uma grande fogueira e soltam fogos de artifícios que homenageiam o santo católico. O auge dos festejos é à meia noite, onde os devotos do São João andam por cima das brasas, numa atitude de coragem e fé.
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Bumba-Meu-Boi
Bra Fotos: Herberth
ndão
O São João do Maranhão, por exemplo, apresenta uma rica diversidade de manistações culturais, que expressam a linguagem popular de maneira clara e harmônica. São inúmeros arraiais espalhados pelo Estado, que carregam características próprias, mas é possível encontrar também características de danças africanas em várias brincadeiras. Umas das mais tradicionais manifestações juninas é o Bumba-Meu-Boi e o Cacuriá. Grupo de Bumba-Meu-Boi de São Luís, O Bumba-Meu-Boi é uma tradição secular, surgida no uma das manifestações culturais típicas século 18, que conta a história de Pai Francisco, um escravo dos festejos juninos na cidade que mata o boi de estimação de seu patrão para sacear o desejo de sua esposa grávida, Catirina, de comer a língua do animal. Quando descobre a morte de seu boi de estimação, o senhor convoca pajés e curandeiros pra ressuscitá-lo. De volta à vida, a comunidade se reúne pra comemorar a ressureição do boi. Essa história é um retrato das relações sociais e econômicas vigentes, principalmente no nordeste do período colonial, onde se vivia da monocultura e da criação de gado, apoiadas no regime da escravidão. Mesmo com o seu fim, a tradição se manteve com traços da tradição inicial. Só em São Luís são mais de cem grupos de Bumba-MeuBoi, divididos em cinco sotaques, ou variedades da brincadeira: Boi de matraca, que tem como principal instrumento a matraca, dois pedaços de madeira que são batidos um no outro, e o pandeiro rústico, feito de couro de cabra. Há também o Boi orquestra, que é acompanhado por uma banda com Grupo de Cacuriá durante festejos instrumentos de sopro e corda. Boi de zabumba, que tem de São João, em São Luís (MA) como puxadores o ritmo africano das zabumbas, tambores bem grandes socados por uma maceta, além de pandeirinhos e matracas. Boi de costa de mão, embalado ao som de pandeiros tocados com as costas da mão, som das caixas do divino (pequenos tambores). O cacuriá caixas e maracás; e é a parte profana da festa do divino. Era praticado Boi da baixada, que unicamente com as caixas, mas aos poucos foram se embora use os acrescentando outros instrumentos, como banjo, violão, pandeiros e clarinete e flauta. A dança é envolvente, num ritmo de matracas, tem um carimbó e, tradicionalmente, no fim das apresentações, tom mais suave. os casais se desfazem e buscam pessoas na plateia O Cacuriá é pra dançarem. típico do Maranhão, O São João maranhense além de se apresentar como surgiu como parte um elemento cultural bem forte, contribui também para o das festas do Divino aquecimento da economia local, pois são muitos os arraiáis Espírito Santo. A vendendo comidas típicas do Estado, como o arroz de dança é bastante cuxá, camarão, peixe frito, entre outros pratos, além de ser sensual, os casais uma forte atração de turistas de todo o mundo. V dançam em círculo, ou em cordão, como é conhecido Casal dança durante festa e, é embalado ao de São João em São Luís
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Como se faz
danças circulares Seu grupo mais unido e descontraído no dia a dia Luiz Felipe Bessa, do Virajovem Recife (PE); e Reynaldo Azevedo, do Virajovem Lavras (MG)*
A
dança circular sagrada, ou dança de roda, é uma prática que reúne vários tipos de danças tradicionais ou folclóricas de diferentes locais do mundo. A dança foi disseminada e pesquisada em várias partes do mundo pelo bailarino Bernhard Wosien 19081986, mas no Brasil, as danças circulares chegaram na década de 1980, por meio de Carlos Solano, visitante da Fundação Findhorn, comunidade espiritual no norte da Escócia. O termo “sagrado”, utilizado como adjetivo da dança, tem a função de qualificá-la em função de seus objetivos: ser uma dança capaz de fazer emergir o respeito ao próximo, o carinho por si e pelo outro, já que é dançada em grupo. As danças circulares centram-se na noção de “energia”, pois acredita-se que a roda, formada pelas mãos dadas dos praticantes, é capaz de fazer circular a energia, podendo até ser curativa. A dança pode ser utilizada, no intuito de integrar pessoas em congressos, encontros, seminários entre outros, para chamar a atenção para uma temática. Um de seus benefícios é proporcionar o trabalho em grupo sem que a pessoa perca sua individualidade, respeitando a diferença entre as pessoas, sendo uma forma de trabalho horizontal, da qual todos participam igualitariamente. V
*Virajovem presente em 20 Estados e no Distrito Federal
Passo a passo 1. A dança é fácil, qualquer pessoa, de qualquer idade, pode dançar em uma roda. Não é preciso ter experiência anterior em dança, basta ter vontade, querer entrar em contato com a alegria e com a possibilidade da comunhão entre os seres humanos; 2. Um integrante do grupo ensina para todos uma letra da música a ser cantada, treinando até que todos possam cantar juntos; 3. Após todos saberem a letra, é passado os passos e os movimentos da dança pelo facilitador da roda até que todos saibam dançar; 4. Em seguida, o facilitador faz com que todos dancem na mesma sincronia e, se for necessário, todos dançam várias vezes. 5. Por último, é interessante refletir sobre a letra e os movimentos passados por todos!
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Mídias Livres
Frequência da comunidade compromisso com uma comunicação Por lei, as rádios comunitárias têm moradores cidadã, permitindo a expressão de seus
Maurício Vieira de Paula, do Virajovem São Luís (MA)*
A
s rádios comunitárias têm como público principal a comunidade em que ela está inserida. Esse tipo de veículo de comunicação alternativo tem programação de interesse social vinculado à realidade local, sem fins lucrativos, preza pela democratização da informação, dando voz ativa à população, representantes de movimentos sociais e de outras formas de organização coletiva na programação e nos processos de criação e planejamento. Outro papel importante das rádios comunitárias é o exercício da cidadania, pois colaboram para o enriquecimento da educação informal e o nível cultural dos receptores sobre temas diretamente relacionados às suas vidas e realidades. No Brasil, o Ministério das Comunicações (MiniCom) considera a rádio comunitária um meio de “radiodifusão de sons, em frequência modulada (FM), de baixa potência, que dá condições à comunidade de ter um canal de comunicação inteiramente dedicado a ela, abrindo oportunidade para divulgação de suas ideias, manifestações culturais, tradições e hábitos sociais”. No entanto, muitas rádios comunitárias brasileiras ainda esperam pela regulamentação no Brasil, ou seja, de uma autorização do governo federal para funcionar. Tratase de uma concessão pública, necessária, pela legislação brasileira, para o funcionamento de qualquer serviço de radiodifusão. A rádio Cultura FM é um exemplo de rádio comunitária. Fundada em 1997, no bairro Maiobão, região metropolitana de São Luís do Maranhão, a rádio foi ao ar pela primeira vez em maio deste mesmo ano e com frequência ainda em megahertz, o que fazia atingir cerca de 30 municípios maranhenses. Contudo, esse projeto funcionou somente por dois meses, quando a Rádio Cultura saiu do ar para entrar
com pedido no Ministério das Comunicações para operar legalmente. Já legalizada, a então Rádio Cultura passa a se chamar Rádio Cultura FM, dessa vez em frequência modulada e com alcance num raio de um quilômetro, sendo, portanto, considerada uma rádio comunitária. Com o slogan “A Rádio que gosta de você do jeito que você é!”, a Rádio Cultura FM, há 15 anos, presta serviço de interesse da comunidade, promovendo a democratização da comunicação para favorecer a liberdade de expressão e contribuir para o desenvolvimento equitativo, socialmente justo e sustentável da população. Atualmente tem programação bastante eclética e tem a juventude como maior público. Outro diferencial da Cultura FM é a convergência midiática entre rádio e internet, que tem feito seu público se expandir consideravelmente, não só na comunidade, mas em outras localidades do Estado e até fora do Maranhão. V
Você pode acompanhar a Rádio Cultura FM em: http://www.fmcultura.com/ https://www.facebook.com/FmCultura106.3 https://twitter.com/FmCultura10
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No Escurinho
Fo r a , d it a d o r Sérgio Rizzo, crítico de cinema*
O
diretor e roteirista chileno Pablo Larraín tem se empenhado em representar diferentes aspectos da sociedade chilena nas décadas de 1970 e 1980. Em Tony Manero (2008), ambientado durante o regime militar, o protagonista é um homem solitário e violento que imita as coreografias de John Travolta em Os Embalos de Sábado à Noite (1977). Já a trama de Post Morten (2010), sobre o trabalho dos legistas de um necrotério, se passa nos últimos dias do governo do presidente socialista Salvador Allende, derrubado por um golpe militar em 11 de setembro de 1973. No (2012), o filme mais recente de Larraín, empreende outra jornada à história do Chile, ao reconstituir o referendo convocado em 1988 com o objetivo de decidir se os eleitores aprovavam um novo mandato de oito anos para o então presidente, o general Augusto Pinochet, no poder desde o golpe de 1973. Para a ala mais radical do governo, seus apoiadores na sociedade civil e o próprio Pinochet, tratava-se apenas de uma formalidade para driblar as críticas internacionais à ditadura, que ganhavam força. A oposição estava dividida: alguns propunham o boicote ao plebiscito, enquanto outros defendiam que a participação era importante para denunciar a farsa e "ocupar espaços". Nenhuma das partes envolvidas, no governo ou na oposição, imaginaria que o processo escaparia ao controle. O Chile viria a ganhar, com essa ida às urnas, um marco histórico muito claro para celebrar, de maneira pacífica e festiva, a passagem da ditadura à democracia (diferentemente do que ocorreu com a lenta transição brasileira). No recria, em forma de suspense político, os bastidores das campanhas. Baseada em peça de Antonio Skármeta (o mesmo autor de O Carteiro e o Poeta), a trama criada por Larraín acompanha a equipe de propaganda do "não", sob responsabilidade da
"Concertación", a coalizão oposicionista, mas faz também breves e significativas incursões às fileiras dos adversários, que lutavam pelo "sim" a Pinochet (ou, como argumentavam, a um Chile progressista e livre da "ameaça" esquerdista). V
Divulgação
O ator Gael García Bernal interpreta René Saavedra, que coordena a campanha pelo Não
* www.sergiorizzo.com.br
30 Revista Viração • Ano 11 • Edição 97
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Que Figura!
Estudioso do negro e da Bahia O historiador Ubiratan Castro dedicou sua vida a estudar os negros brasileiros e a cultura baiana
U
biratan Castro, homem de garra, figura memorável no contexto histórico da Bahia, tornou-se um grande ícone para muitos que acreditam em força de vontade e muito estudo. Nascido em Salvador, em 22 de dezembro de 1948, Ubiratan Castro de Araújo exercia, desde 2007, o cargo de diretor-geral da Fundação Pedro Calmon, unidade da Secretaria de Cultura do Governo da Bahia. Foi membro da Academia de Letras da Bahia, onde ocupava a cadeira 33, cujo patrono é o poeta abolicionista Castro Alves. Doutor em História pela Université Paris IV-Sorbonne, Mestre em História pela Université Paris X-Nanterre, Licenciado em história pela Universidade Católica do Salvador e Bacharel em Direito pela Universidade Federal da Bahia e professor da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia. Nascido em família negra baiana desde pequeno se interessou sobre o seu contexto social entendendo que o estudo seria o único caminho para sair da situação de vulnerabilidade social. Autor dos livros A Guerra da Bahia, Salvador Era Assim – Memórias da Cidade, Sete Histórias de Negro (o primeiro trabalho ficcional do autor) e Histórias de Negro, Ubiratan Castro dedicou-se à pesquisa sobre a escravidão no Brasil. Presidiu a Fundação Cultural Palmares, em Brasília, entre os anos de 2003 e 2006. Foi diretor do Centro de Estudos AfroOrientais da UFBA (CEAO), órgão suplementar da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia voltado para o estudo, a pesquisa e ação comunitária na área dos estudos afro-brasileiros e das ações afirmativas em favor das populações afro-descendentes, bem como na área dos estudos das línguas e civilizações africanas e asiáticas. Com o objetivo de destacar o cenário negro e cultura da Bahia, Ubiratan levou para o resto do mundo toda a nossa cultura. O seu trabalho ficou conhecido por vários setores tanto o acadêmico quanto os populares, tornando-o requisitado para entrevistas e palestras públicas em escolas e comunidades. O historiador baiano mantinha o blog do Bira Gordo, um espaço que servia para aproximá-lo dos seus leitores e seguidores espalhados pelo mundo. Temas como democracia, educação e movimentos sociais estavam sempre presentes em seu blog. Ubiratan Castro morreu aos 64 anos, no dia 3 de janeiro de 2013, no hospital Espanhol, em Salvador (BA), em decorrência de uma infecção que se agravou nos últimos dias. Ele era paciente renal crônico e estava internado desde 30 de setembro de 2012. Deixou sua esposa Maria da Gloria Machado, dois filhos e dois netos. V
*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal
Revista Viração • Ano 11 • Edição 97 31
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Sexo e Saúde
F
az parte do nosso dia a dia e é bem comum nas rodas de bate papo entre amigos o diálogo sobre “pênis”. Assim também como é normal existir as dúvidas, fantasias e a velha (e equivocada ideia) de que o pênis grande é o que dá mais prazer. Recentemente, circulou nas redes sociais e na mídia a reportagem com o ator norte-americano Jonah Falcon, de 42 anos, que alega ter o maior pênis do mundo. Ele diz que seu órgão genital possui 23 cm flácido e alcança até 32 cm quando ereto. Inclusive ele lançou uma música falando sobre seu órgão genital. O biólogo Michael Jennions, da Universidade Nacional Australiana, liderou uma pesquisa sobre a preferência das mulheres e, a partir desse trabalho, publicou um artigo na revista Proceedings of the Natural Academy of Sciences dos Estados Unidos revelando que a maioria das mulheres entrevistadas sentem-se mais atraída por homens com pênis grandes. Segundo pesquisas médicas, a média do órgão sexual masculino brasileiro é de 15 cm. E há controvérsias sobre o uso de extensores penianos ou dispositivos a vácuo para os homens que sofrem por achar que têm o pênis pequeno. Para entender a questão, conversamos com a Dra. Cristine Froemming, urologista de Porto Alegre (RS). Confira!
Evelin Haslinger, do Virajovem Porto Alegre (RS)* A partir de quantos centímetros um pênis pode ser considerado muito grande? Pesquisas realizadas em alguns hospitais universitários, como em Porto Alegre, por exemplo, revelaram que o tamanho médio de um pênis em ereção é de 14,5 centímetros. O biótipo de um homem não prediz o tamanho de seu pênis. at
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Pênis grande pode machucar a parceira ou o parceiro durante a relação sexual? Não, porque a elasticidade dos órgãos genitais permite a acomodação do mesmo. Existe alguma posição em que a mulher corre mais risco de se machucar com um pênis grande? Não existe uma posição especifica. Qualquer desconforto causado durante uma penetração impede que ela continue e que acabe gerando uma lesão grave. O uso de apetrechos sexuais apresenta algum risco para mulheres e homens gays? Quando os limites físicos e mentais são respeitados, não há regras nas formas de obter satisfação sexual. Ambos devem concordar com estas práticas. V
Mande suas dúvidas sobre Sexo e Saúde, que a galera da Vira vai buscar as respostas para você! O e-mail é redacao@viracao.org
32 Revista Viração • Ano 11 • Edição 97
*Uma das virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal
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Rango da terrinha
Quem come, jamais se esquece mais A pamonha nordestina é uma das comidas do junino perío no o apreciadas e consumidas na regiã Joelma Oliveira e José Carlos Santos, do Virajovem João Pessoa (PB)*
A
tradição do mês de junho não fica apenas restrito a homenagear os santos São João, Santo Antônio e São Pedro. A cultura nordestina tem mais elementos que caracterizam este período como, por exemplo, a música e as danças. A culinária típica desse mês festivo, em geral, é feita com o milho, produto da região. Tem bolo, canjica, mungunzá, cuscuz, pipoca e a pamonha, que não pode faltar na mesa das famílias. Dessas comidas, este último prato requer mais trabalho no preparo. Mas vale muito a pena, pois é delicioso! Vamos aos passos da receita. V
Ingredientes
Modo de preparo
100 g de manteiga derretida; 20 espigas de milho; 1 kg de açúcar; 1 colher (sopa) de sal; 1,5 litro de leite; Palha para embrulhar.
Descasque os milhos cuidadosamente e reserve as palhas inteiras. Rale as espigas ou corte-as rente ao sabugo e passe no liquidificador, juntamente com a água, para formar a massa. Peneire na “arupema” ou peneira. Acrescente o leite de coco, o açúcar e a manteiga, sempre mexendo bem. Depois, escalde as palhas do milho em água fervente para poder embrulhar a pamonha com mais facilidade. Coloque a massa na palha de milho e amarre bem, formando saquinhos. Em uma panela grande com água, coloque os “saquinhos” de pamonhas uma a uma, após sua fervura completa. É importante que a água esteja realmente fervendo para receber as pamonhas, caso contrário, elas vão se desfazer. Cozinhe por mais ou menos 40 minutos, retirando as pamonhas com o auxílio de uma escumadeira. E viva São João!!!
Claudia Maria
Ferraz
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*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal
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Projeto busca reduzir desnutrição em crianças alagoanas
Deriky Pereira e Jhonathan Pino, do Virajovem Maceió (AL)*
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médico, algumas mães ficam no Centro ocalizado no Conjunto Denisson participando de oficinas variadas com materiais Menezes, na parte alta de Maceió, o reaproveitados ou doados pela comunidade. Centro de Recuperação e Educação Uma delas, Zenilda da Silva, se diz contente em Nutricional (Cren) funciona desde agosto de participar. “Tenho aprendido muito aqui no 2007. Em quase cinco anos, o projeto já Cren. Não só com as oficinas, mas também, a atendeu diversas famílias e, atualmente, seguir as regras dos alimentos. Essa trabalha com cerca de 90 crianças de idades reeducação muda, não só a alimentação do entre um e seis anos, para reduzir o quadro meu filho, mas a minha também e eu estou de desnutrição delas, como explica a sempre buscando melhorar.” coordenadora do espaço, Gabriela Rossister. Os interessados em colaborar podem fazer “As crianças que estão aqui possuem qualquer tipo de doação pelos telefones: (82) desnutrição crônica, ou seja, por déficit de estatura e não de peso. E isso é mais difícil de 3322-1361 e (82) 9327-2700 ou ainda, por meio de depósito em uma conta do Banco do recuperar, pois sem o tratamento, no futuro, Brasil: Ag. 0013-2 / Conta: 16692-8. V elas podem sofrer problemas, como hipertensão, por exemplo. Aqui, elas recebem cinco refeições diárias voltadas à recuperação nutricional e ficam durante um ano. Com o final do prazo, damos alta a quem se recuperou ou à criança maior de seis anos.” Apesar da proposta positiva, Gabriela revela que, nem sempre, o aceitamento é o melhor possível. “Alguns casos chegam a ser A coordenadora Gabriela Rossister fala complicados pelo fato de as mães sobre o projeto que busca reduzir a desnutrição em crianças alagoanas não aceitarem nossa ajuda. Elas colocam alguns empecilhos, por exemplo, por ser longe de onde moram. Isso nos deixa triste, pois sabemos que acabar é muito difícil, mas ao menos reduzir o quadro de desnutrição nas crianças alagoanas é o nosso objetivo”, disse a coordenadora. Enquanto os pequenos brincam Enquanto os filhos brincam ou recebem ou recebem acompanhamento Fotos: Jhonathan Pin o
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acompanhamento médico, algumas mães participam de oficinas
*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal
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