V iRAÇÃO Ano 1· Nº 4 · Agosto de 2003 · R$ 3,00
www.revistaviracao.com.br
MARCELO YUKA NO GALERA REPÓRTER
Grupo de alunos durante intervalo das atividades na Casa do Hip Hop, no centro de São Paulo
BRASIL
de todas as Untitled-3
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tribos 18/8/2003, 08:51
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Tem gente nova na área. A Vira desse mês traz a participação da galera que faz parte do Conselho Editorial Jovem. Por enquanto, são apenas cinco, mas esse número pode aumentar. São eles: Edinalva Aprígio, Solange dos Santos, Leonardo Eguia, Jacson dos Santos Rodrigues e Rafael Bernardo Ferreira. O Conselho é uma forma de ter nas páginas da revista a participação cada vez maior dos jovens, que vão ajudar a avaliá-la da primeira à última página. Durante a reunião, a turma foi bem crítica e deu muitas sugestões para melhorar a Vira. Algumas foram rapidamente aceitas e já estão nesta edição, como, por exemplo, a mudança do nome da coluna Preto no Branco para Mais Igual e também a realização de uma série de reportagens sobre as tribos urbanas desse mundão chamado Brasil. Estimular a participação dos jovens é o que a Vira vai estar sempre fazendo. Determinação não falta. Apoio também não. Como o da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor. Gostaram tanto da Vira que resolveram fazer um pacote de assinaturas para as 68 unidades espalhadas pelo Estado de São Paulo. Valeu a força! Oxalá outras instituições de todo o país topem fazer o mesmo.
Apoio
Editorial
CONSELHO JOVE M JOVEM
RG
Conselho Editorial Alcides Costa, Cecília Garcez, Ismar de Oliveira e Izabel Leão (Núcleo de Comunicação e Educação – ECA/USP), João Pedro Baresi, Mara Luquet, Marcus Fucks e Valdênia Paulino Conselho Editorial Jovem Edinalva Aprígio, Jacson dos Santos Rodrigues, Leonardo Eguía Cappucci, Rafael Bernardo Ferreira e Solange dos Santos Equipe Pedagógica Edinalva Aprígio, Jacson dos Santos Rodrigues, Leonardo Eguía Cappucci, Rafael Bernardo Ferreira e Solange dos Santos Diretor Paulo Pereira Lima Redação Ana Lucia Pires, Giovanna Modé, Juliana Rocha Barroso Colaboradores Carlos Tautz, Carmen Franco, Deílson Louzeiro, Evanize Sydow, Francisco Baraglia, Gabriela Goulart, George Santos, João Alexandre Peschanski, José Manoel Rodrigues, Lílian Brandt de Calçavara, Luís Brasilino, Márcio Baraldi, Natália Forcat, Renato Farias de Araújo, Novaes, Sérgio Rizzo, Severino Francisco, Sidney de Paula Oliveira, Susana Piñol Sarmiento, Tatiana Azevedo e Tatiana Merlino Consultor de Marketing Thomas Steward Revisão Simone Pompeo Projeto Gráfico IDENTITÀ Adriana Toledo Bergamaschi Marta Mendonça de Almeida Fotolito Digital SANT’ANA Birô Impressão
COPYPRESS
Jornalista Responsável Paulo Pereira Lima – MTB 37.828 Divulgação Equipe Viração Administração
Benedito Olegário
VIRAÇÃO é publicada mensalmente em São Paulo (SP) pela Editora Alô Mundo (filial da Província dos Missionários Combonianos do Brasil), CNPJ (MF) 27.120.062/0019-12; Inscrição Estadual:115.279.034.118; Inscrição Municipal: 8.601.680-6. Atendimento ao leitor Rua Comendador Elias Assi, 147 05516-000 – São Paulo (SP) Caixa Postal 26046 – CEP 05513-970 Tel.: (11) 3722-4733 Fax: (11) 3721-7601 E-mail Redação e Assinatura redacao@revistaviracao.com.br assinatura@revistaviracao.com.br PREÇO DA ASSINATURA ANUAL Assinatura Nova R$ 35,00 Renovação R$ 30,00 De colaboração R$ 50,00 Exterior US$ 35,00
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mina
• PAPO DE DOIDO 16 Descubra as gírias que estão na boca da galera de todo o Brasil • HORA DE ALISTAMENTO 18 Serviço militar obrigatório: perda de tempo ou oportunidade de trabalho? • TODAS AS TRIBOS 20 Série de reportagens da Vira vai mostrar os diferentes estilos dos jovens brasileiros. A primeira é sobre os manos do Hip hop
Ilustração de Simone Pompeo sobre foto de Dado Galdieri/Folha Imagem
Atendimento à Galera
• MARANHÃO 23 Garotos explicam o que é protagonismo juvenil
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MAPA da
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CARTA: R. Comendador Elias Assi, 147 05516-000 – Caxingui São Paulo (SP)
• AMARRADOS EM VÍDEOGAME 24 Lan House é a nova mania para quem gosta de jogos eletrônicos
TELEFONE: (11) 3722-4733
• MARCELO YUKA 26 No Galera Repórter, o ex-baterista do O Rappa fala sobre sua vida depois do acidente que sofreu em 2000
FAX: (11) 3721-7601
@ E-MAIL:
Paulo Pereira Lima
redacao@revistaviracao.com.br
Sempre na Vira 5 6 8 9 10 12 15 17 19
DIGA LÁ REVELE-SE TURMA DA VIRA QUE FIGURA ENTRE ASPAS VIRATUDO TESÃO SE VIRA MAIS IGUAL
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DE OLHO NO ECA ECONOMÊS COLUNA VERDE SEXO E SAÚDE TODOS OS SONS DESAFIO NO ESCURINHO VIRAÇÃO SOCIAL
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Participe ! Crie um slogan para a revista com, no máximo, cinco palavras. As melhores frases serão publicadas na capa da revista com o nome do autor. Mande seu endereço postal ou eletrônico.
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Aguardamos sua participação!
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uero parabenizar vocês pela qualidade da revista ○ ○ ○ ○ e de todo o trabalho realizado para iniciá-la e poder chegar, assim, tão rica em diversos assuntos próprios do mundo adolescente/juvenil. Vocês já começaram com os dois pés e desejo que continuem caminhando sempre mais e melhor com esse meio de comunicação carregado de valores e sentimentos. Boa sorte! Leonardo Bronzatto, 23 anos, Moji Mirim (SP)
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Mudança, atitude e ousadia jovem
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arabéns pelo trabalho. Sou professora e achei muito interessante o material de vocês, um ótimo incentivo de leitura e informação. Silvinette Soler, Bonito (MS)
É MUITO FÁCIL FAZER OU
u era assinante da revista Alô Mundo, gostava dela, mas prefiro a Vira. Na edição zero gostei da reportagem da Ana Lucia Pires. Ela escreveu Escritores on-line. Gostei porque também tenho um blog. Na edição 1, eu gostei da reportagem Nana Neném (Pai adolescente) escrita pela Giovanna Modé e a Immaculada Lopez. Na edição 2 gostei do Investir no Futuro da coluna Economês. Também gosto muito dos desenhos do Márcio Baraldi. Lucas Fernandes da Silva Santos, 14 anos, São Paulo (SP) http://lucasobom.blig.ig.com.br ou e-mail: zedalila@yahoo.com.br
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FALA AÍ !
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Mande seus comentários sobre a Viração, dizendo o que achou de nossas reportagens e seções. Suas sugestões serão muito bem-vindas! Escreva para: Rua Comendador Elias Assi, 147 05516-000 – São Paulo (SP) Caixa Postal 26046 Tel.:(11) 3722-4733 – Fax:(11) 3721-7601 ou para o e-mail: redacao@revistaviracao.com.br Aguardamos sua participação!
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12 edições
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CUPOM DE ASSINATURA anual e renovação
RENOVAR A ASSINATURA DA SUA REVISTA SEM FRONTEIRAS
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ontinuem informando os jovens com suas linguagens e mostrando que todos eles passam pelos mesmos dilemas da vida. Mesmo que seja menos para alguns, eles irão continuar achando que o seu caso é exclusivo. Com suas informações verão que suas dúvidas são de “outros” também. Rosemeire Pasqualini de Brito, Santo André (SP)
1. CHEQUE NOMINAL e cruzado em favor de REVISTA VIRAÇÃO. 2. DEPÓSITO INSTANTÂNEO numa das agências dos seguintes bancos, em qualquer parte do Brasil: • BRADESCO – Ag. 3084-8 Taboão da Serra (SP) – C/c 103.230-5 em nome da Revista Viração
OPS! Erramos Na edição de junho, pisamos na bola com duas informações. O pensador Kalil Gibran não é indiano, conforme publicamos na seção Viratudo, mas libanês. Outro fora: na reportagem Tortura Não!, dissemos que o Dia Internacional de Combate à Tortura era 28 de junho. Não: é dia 26 de junho.
Basta preencher e nos enviar o cupom que está no verso. Para o pagamento, escolha uma das seguintes opções:
IMPORTANTE: Envie-nos, por fax ou correio – junto com o cupom que está no verso, devidamente preenchido –, o comprovante (ou cópia) do seu depósito. 3. VALE POSTAL em favor de REVISTA VIRAÇÃO, pagável na Agência 72300-710 Taboão da Serra (SP). 4. Boleto Bancário (R$1,50 de taxa bancária) agosto/2003 · ViRAÇÃO
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Abatido despertar Subitamente, o faminto olhar. Acordando. Feições a minguar, Assustadoramente. Faces a descorar. Desfigurando. Bocas a fechar, Completamente. Matando. Eterno esperar Vagarosamente. Respirando.
Personagem do jogo de vídeo game “Vampire Saviors” Allan Morais Martins, Mogi das Cruzes (SP)
Gabriela Potti Cerqueira, 23 anos, São Paulo (SP)
Condiçăo humana H
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á mais de dez anos procuro palavras para declarar o que sinto. Por que será que as pessoas levam tanto tempo para compreender coisas tão simples? Talvez se compreendêssemos que toda pessoa tem direito de amar quem e como ela quiser, não nos martirizaríamos tanto preocupados com aquilo que os outros podem pensar. Se sou eu que amo, esse amor diz respeito apenas a mim e se isso só me faz bem, o que tem de errado nisso? ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A condição humana é realmente condicionada. Não declaramos o que sentimos por medo de não sermos compreendidos, e, no entanto, amamos calados e não conseguimos nos compreender. E essa droga de condição humana nos escraviza tanto que nos sufocamos com medo de nossa própria condição. Agradamos a Deus, fazendo aquilo que o diabo gosta. De uma coisa tenho certeza: procuramos durante toda a vida sermos corretos, prudentes e, na maioria das vezes, o somos. Porém uma coisa me indago: somos felizes? ○
Caixa Postal 26046 05513-970 – São Paulo (SP) Tel.: (11) 3722-4733 Fax: (11) 3721-7601
Faminto
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Vilmara Lessa, 20 anos, Imaruí (SC)
Ilustração de Ney Silva, Embú (SP)
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Assinatura nova Renovação De colaboração Exterior
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ENDEREÇO ____________________________________________________________________________ BAIRRO ______________________ CEP __________________________________________ FONE (RES.) ___________________ FONE (COM.) ___________________________ CIDADE ______________________________ ESTADO _________DATA DE NASC. __________ E-MAIL ____________________________
Revista Viração
R$ 35,00 R$ 30,00 R$ 50,00 US$ 35,00
Cheque nominal Depósito bancário no banco ___________________________________ em ____ / ____ / ____ Vale Postal Boleto Bancário
Assinatura nova Renovação De colaboração Exterior
PREÇO DA ASSINATURA
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Laranja Simboliza luz irradiante em todas as direções, esperança, idealismo e originalidade
Gostaria que...
Josiane Aparecida Reis Gonçalves, enviado por e-mail
PARTICIPE! Envie para a Viração contos, poesias, músicas, desenhos, fotos, charges de sua autoria que publicaremos aqui e no site. Não esqueça de colocar nome, idade e endereço. REVELE-SE!
Ilustração de Francisco Baraglia
Gostaria que as coisas do mundo fossem mais simples... Que os seres humanos tivessem mais felicidade... Que a vida não fosse tão cruel... Que não existisse solidão, que simplesmente invade os corações sem pedir licença, sem que ao menos alguém perceba... Que a saudade prevalecesse apenas como um sentimento que não durasse tanto o quanto dura... Que a felicidade existisse em cada um de nós, e fizesse um mundo muito mais alegre... Que este sentimento que machuca, que faz chorar, que causa uma enorme ferida, sumisse, evaporasse... Que a tristeza de não ter quem amamos por perto fosse embora, sem precisar dizer pra onde... E que o amor, este sentimento puro, que só faz iluminar a vida de quem o sente, reinasse e governasse eternamente nossos corações.
Aqui é o seu espaço
Saudoso amigo Nos momentos cruciais que grito, nos braços do perigo Vens ao meu encontro, Oh! Saudoso amigo E quando as lágrimas Encharcam minha face cansada É em teu ombro que repouso Teus ouvidos estão sempre prontos a me escutar! E de teus lábios vejo fluir um sorriso largo nos momentos mais difíceis Ao teu lado sinto-me mais seguro. Como ave a desvendar seu primeiro vôo rumo à Liberdade. É regozijante saber que estamos juntos nos momentos mais difíceis e de alegria mútua. Respeitando as diferenças! E amando sem limites Onde o egocentrismo é fugaz! De nós flui apenas benevolência E mesmo longe intercedemos um pelo outro, como almas gêmeas. E no risco de qualquer perigo, estamos novamente juntos Oh! Saudoso amigo. O tempo galopa em passos largos concretizando e moldando ainda mais esta eterna e sublime amizade. Não há mais mar revolto, Apenas uma árvore da harmonia que nada ousa derrubar.
O sol fotossintético observa tudo em silêncio. A refletir a benevolência em outros corações Assim, nossa amizade segue harmônica como nota de lindas canções. Luiz Fernando Esperantivo, Ponte dos Carvalhos (PE)
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Márcio Baraldi
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QUE FIGURA
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SEVERINO FRANCISCO
Tarsila do Amaral
Azul
Simboliza verdade, paz, confiança, amor e fidelidade
musa modernista
A
s musas da hora se esfalfam malhando em academias, se submetem a uma infinidade de operações plásticas, disputam espaço na ilha da revista Caras, desfilam nas telenovelas e se transformam em cyberperuas siliconadas em busca da perfeição de deusas. No entanto, quase sempre são musas com prazo de validade: só duram uma estação. Na próxima, tem de ser substituídas por outra peça de reposição. Mas o Brasil teve uma musa de radares femininos poderosos, uma musa parabólica, que irradiava, a um só tempo, beleza e talento, graça e invenção, elegância, imaginação e encanto: a pintora paulista Tarsila do Amaral, que nasceu em 1o de setembro de 1886 e morreu em 17 de janeiro de 1973. Ela é a grande estrela do modernismo brasileiro. Inspirou esse movimento artístico iniciado na Semana da Arte moderna em 1922, em São Paulo, com o seu charme e sua arte. Nascida em Capivari, filha de uma tradicional e milionária família de paulistas, proprietária de inúmeras fazendas de café, Tarsila recebeu uma educação esmerada. Passou a infância no campo, mas, em 1920, ganhou os rumos de Paris, para estudar arte. Em 1922, desembarcou no Brasil trazendo as técnicas vanguardistas da pintura cubista – que teve como mestre o espanhol Picasso –, tintas bonitas, vestidos de alta costura e brincos, com os quais revolucionaria a arte brasileira e arrasaria corações. Na verdade, ela chegou ao Brasil quatro meses após a Semana de Arte Moderna, mas encarnou como poucos o espírito do modernismo brasileiro. Ao lado de outra figura, Anita Malfati, Tarsila teve a audácia de pintar, pela primeira vez, as cores, formas, luzes e personagens brasileiros, rompendo com a arte cinzenta dominante e seus tons pastéis. Em seus quadros,
cenas triviais como a de um vendedor de frutas, ou míticas como a de uma negra de seios enormes sobre o fundo de bananeiras, são filtradas pelas técnicas da pintura de vanguarda e explodem em cores exuberantes. Na hora de pintar, evocou personagens e imagens de sua infância nas fazendas de café. Os quadros Antropofogia e Abopuru inspiraram o poeta Oswald de Andrade a criar os movi-
mentos Pau-Brasil e Antropofágico, dois dos desdobramentos mais importantes do modernismo: “Medularmente paulistinha/de Capivari reaprendendo/o amarelo vivo/o rosa violáceo/ o azul pureza/o verde cantante/desprezados pelo doutor/bom gosto oficial”, escreve o poeta Carlos Drummond de Andrade em poema intitulado Brasil/ Tarsila. Ela nos ensinou a ver (e a sentir) as formas e cores do Brasil.
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“ Agosto,”mês do ENTRE ASPAS
desgosto? E você, o que acha disso?
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Quebrar espelho dá 7 anos de azar, passar embaixo de escada traz má sorte, vassoura atrás da porta espanta visitas, apontar estrela com o dedo faz nascer verrugas. Essas são apenas algumas superstições que deixam muitos cruzando os dedos. O mês de agosto também é considerado de azar, como fala o dito popular: “Agosto, mês do desgosto”. Ninguém sabe porque ele é considerado um mês azarento, mas sabe-se que as mulheres portuguesas não casavam nesse mês, período em que os navios das expedições saíam à procura de novas terras. Quem casava em agosto não tinha lua-de-mel e podia até ficar viúva. Os portugueses trouxeram essa crença aqui para o Brasil na época da colonização e ela permanece até os dias de hoje.
Susana Piñol Sarmiento
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Ana Lucia Pires
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Eu não sou supersticioso, acho que é tudo mentira. JOÃO SIVANETTE 14 anos
Esses ditados sobre superstições não existem. É besteira. Só acredito em magia (negra e branca) que está no interior de cada pessoa, que depende dela para desenvolver. MICHELE REGINA MOURA 16 anos ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
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Susana Piñol Sarmiento
MONIQUE FIGUEIREDO 17 anos
Ana Lucia Pires
A maioria das pessoas liga muito para superstições, esquecendo de valorizar as coisas boas que a vida proporciona. Já passei embaixo de escada, vi gato preto e não mudou nada em minha vida. Não acredito em supertições.
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Eu acho que a superstição é coisa da cabeça de cada um. Como eu não acredito, costumo agir normalmente. RAFAEL TADEU PEREIRA 18 anos
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Susana Piñol Sarmiento
Ana Lucia Pires
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Superstição não tem lógica. Se você passa embaixo de uma escada não acontece nada demais. Sexta-feira 13, olhar gato preto, isso é tudo frescura. DANIEL SILVA NOGUEIRA 17 anos
Eu não acredito nisso! Mas em todo caso, evito quebrar algum vidrinho, passar embaixo de escada e outras coisas, já que minha mãe sempre fala que isso não atrai bons fluídos. Um dia estava andando de skate e a galera toda me avisando para chutar um gato preto que estava em minha direção. Não dei ouvidos e me esburrachei no chão. Maldito gato preto! MEGGY PELUZZO 17 anos
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VIRATUDO R
Vermelho
Simboliza a cor da emoção, energia, coragem, dinamismo, ação e alegria comunicativa
“A salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena.”
“Quando a gente muda, o mundo muda com a gente.”
Clarice Lispector, escritora brasileira
“Acreditar em algo e não o viver é desonesto.”
Mahatma Ghandi, pacifista indiano
Quer aprender a economizar e fazer o seu dinheiro durar mais? Então você pode ler Esticando a Mesada, de Ricardo Humberto Rocha e Rodney Vergili. O livro explica como abrir uma conta no banco, qual a diferença entre comprar com cartão de crédito e cheque, entre outras coisas. Para quem gosta de pensar no futuro, Esticando a Mesada mostra os diversos tipos de investimentos que podem fazer a sua grana render mais. Siglas estranhas como BNDES, Bovespa, FMI são traduzidas no livro de uma forma clara e fácil de entender. Quem quiser também pode acessar o site: www.mesada.com.br
Márcio Baraldi
Ex-meninos e meninas em situação de rua no centro e na periferia da capital paulista saem do anonimato e revelam suas vidas no livro Histórias Reais, do Projeto Travessia. Sem mais sentir vergonha do o çã lga vu Di passado, contam suas perdas e derrotas, mas também pequenas e grandes vitórias. Uma delas foi ter participado de programas sociais que os ajudaram a mudar de vida, como os promovidos pelo Travessia. Criado em 1995, por iniciativa de sindicatos de trabalhadores e empresas privadas, o projeto atende crianças e adolescentes em situação de risco na região central da cidade de São Paulo. Em meio a experiências dramáticas que vivenciaram por causa da droga, da violência e da falta de perspectivas, surgem também histórias de solidariedade na hora da partilha da comida ou do roubo, do parto ou do trabalho. Mais informações e pedidos: Projeto Travessia – Rua São Bento, 365. 18º andar – CEP 01011-100 – São Paulo (SP) – Tel.: (11) 3105-1059 – Site: www.travessia.org.br
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Vida real
Dinheiro na măo
Divulgação
Gabriel, o Pensador, rapper carioca
“Amigo é uma pessoa com a qual se pode pensar alto.”
Curió
Ralph Waldo Emerson, pensador estadunidense
Provérbio russo
Pręmio Arte na Escola
O Instituto Arte na Escola Cidadã, de São Paulo, abriu inscrição para o IV Prêmio Arte na Escola Cidadã, que irá premiar professores de artes que desenvolvam projetos ligados à cidadania. As categorias são artes visuais, teatro, dança ou música. Poderão se candidatar professores do ensino infantil ao ensino médio que sejam também participantes da Rede Arte na Escola. Os ganhadores, em cada categoria, recebem prêmios em dinheiros que variam de 2 mil a 3 mil reais. As inscrições devem ser enviadas a um dos Pólos de Arte na Escola até o dia 29 de agosto de 2003. Mais informações: www.artenaescola.org.br
Filhote do Leăo
• O mês de AGOSTO é em homenagem ao sobrinho de Júlio César, Otávio, que foi o primeiro imperador com o nome de César Augusto • Você sabia que o maior órgão do corpo humano é a pele?
Conselho de amigo Líder da luta contra o apartheid, o regime de segregação racial imposto por décadas pelo governo da África do Sul, Nelson Mandela completou 85 anos em julho e ainda dá mostras de que pode fazer mais do que inspirar novas gerações de ativistas. No especial que a MTV exibiu dia 25 de julho, o líder negro foi convidado a atuar como um “conselheiro” para um grupo de quatro jovens, engajados em procurar soluções para problemas de suas regiões. A uma garota palestina e a um israelense, que perderam parentes em incursões militares e ataques suicidas, o ex-presidente sulafricano falou sobre a possibilidade do perdão: “Se nós seguirmos o nosso cérebro e controlarmos a temperatura do nosso sangue, seremos superiores ao nosso oponente. Se você aceitar a integridade e a honestidade de seu oponente, ele tenderá a considerar você e seu povo”, afirmou Mandela. (Folha Online)
Márcio Baraldi
O site Leãozinho – Educação Fiscal para Crianças e Jovens explica, de forma fácil, com desenhos coloridos e até jogos, como palavras cruzadas, o funcionamento do Estado, o papel do tributo e direitos humaDivulgação nos. Lançado em novembro de 2002, o site é voltado para crianças e adolescentes de 7 a 14 anos. Todos esses assuntos estão divididos em links na pequena cidade de Mateus e Leãozinho. Eis alguns locais: Escola, Biblioteca, Parque, Casa dos Poderes, Receita Federal, Cine Teatro, Banco e Correio. Para conhecer o leãozinho, acesse: http//leaozinho.receita.fazenda.gov.br.
Como todo passarinho, o curió viaja pelo mundo e vê coisas interessantes. Ele não fica de bico fechado. Sai logo por aí contando tudo para gente, que não teve a sorte de nascer com asas.
Themba Hadebe/POOL/AFP
“Ter saudades do passado é correr atrás do vento.”
Érica Dias
Na língua tupi guarani significa ”Amigo do Homem”
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Traduçăo Vida americana (Madonna)
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A Agência Quixote Spray e Arte está com as inscrições abertas para o Curso Regular de Grafitti. O curso é dividido em aulas práticas e teóricas. Durante três meses, os alunos aprenderão as técnicas do grafitti, desenho artístico, tags (assinaturas) e manuseios de spray. Eles também recebem apostilas e ao final do curso participam de um grafitti coletivo num muro da cidade. O curso começa dia 1º de setembro. Mais informações pelo telefone: (11) 5904-3524 ou pelo e-mail: agenciaquixote@epm.br
DNA!
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Curso de grafitti
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O chocolate pode ser doce, mas sua história é amarga. Esse alimento surgiu primeiro como uma bebida feita de cacau pelos Maias antes mesmo da América ser colonizada. A bebida se tornava amarga, pois além do cacau, os índios acrescentavam pimenta e milho. Bebê-la era privilégio dos mais ricos, que reservavam vasilhas especiais para ela. Foram os espanhóis que mudaram a maneira de prepará-lo, adoçando a bebida com açúcar.
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VIRATUDO R Chocolate amargo
Tenho de mudar meu nome? Isso vai me levar longe? Preciso emagrecer? Será que vou ser uma estrela? Tentei ser um garoto Tentei ser uma menina Tentei ser uma confusão Tentei ser a melhor Acho que errei Por isso escrevi esta música Este tipo de vida moderna – é pra mim? Este tipo de vida moderna – é de graça? Então fui a um bar em busca de simpatia De companhia – tentei fazer amigos Pra dizer a verdade, sempre foi assim Este tipo de vida moderna – é pra mim? Este tipo de vida moderna – é de graça? Vida americana Eu vivo o sonho americano Você é a melhor coisa que eu já vi Você não é só um sonho Tentei estar à frente Tentei ficar por cima Tentei fazer um papel Mas de alguma forma me esqueci O motivo pelo qual fazia E por que eu queria mais
Origem de palavras e expressões
OBRIGADO Essa palavra tem origem do latim obligatus, que significa ligar, amarrar. O agradecimento é uma forma reduzida do seguinte: “Eu fico obrigado a lhe retribuir esse favor”. Por isso, a mulher deve sempre agradecer dizendo “obrigada”.
COCA-COLA
Novaes
Em 1886, na cidade de Atlanta (Estados Unidos), o farmacêutico John Styth Pemberton inventa um tônico para o cérebro, feito de folha de coca e de noz de cola. A partir desses ingredientes, a bebida foi batizada de Coca Cola, já escrita com letras inclinadas e floreadas. Até 1915, o refrigerante ainda tinha uma pequena quantidade de cocaína na sua composição.
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Este tipo de vida moderna – é pra mim? Este tipo de vida moderna – é de graça? Tenho de mudar meu nome? Isto vai me levar longe? Preciso emagrecer? Vou virar uma estrela? Vida americana Eu vivo o sonho americano Você é a melhor coisa que eu já vi Você não é só um sonho Tentei ser um garoto Tentei ser uma menina Tentei ser confusa Tentei ser a melhor Tentei fazer amigos Tentei ficar à frente Tentei ficar por cima Dane-se Preciso mudar meu nome? Isto vai me levar longe? Preciso emagrecer? Eu me sinto o máximo Eles me dizem que eu sou demais E eu fico satisfeita Eu faço ioga e pilates Numa sala cheia de gente gostosa Eu dou uma olhada nos corpos E eu fico satisfeita Eu sei tudo de isótopos Metafísica é uma droga E se isso tudo me dá esperanças Eu fico satisfeita Tenho um advogado e um empresário Um agente e um cozinheiro Três babás, uma assistente Um motorista e um jato Um instrutor e um mordomo Um guarda-costa ou cinco Um jardineiro e um estilista Você pensa que estou satisfeita? Gostaria de expressar meu ponto de vista extremo Não sou cristã nem sou judia Apenas vivo o sonho americano E acabo de perceber que nada é o que parece Preciso mudar meu nome? Será que vou ser uma estrela? Preciso mudar meu nome? Será que vou ser uma estrela? Preciso mudar meu nome?
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TESÃO
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MILA PETRILLO tem paixão pelo que pensa e faz Rayssa Coe
Vermelho alaranjado Simboliza o desejo, a paixão
Infância em foco GABRIELA GOULART
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otografar é escrever com a luz, na era Collor e registrou iluminar um momento, registrátambém espetáculos e lo para sempre. As lentes da oficinas de dança, fotógrafa Mila Petrillo parecem teatro e música. dotadas de magia. Um encanto capaz O ano da virada foi 1993, de revelar a beleza, mesmo em quando Mila conheceu situações totalmente adversas, Cesare de La Rocca, um quando as pessoas têm de conviver filósofo italo-baiano, que com o horror da miséria. Há dez dirige o Projeto Axé, em anos, Mila acompanha o envolvimenSalvador. Depois de dez dias to de meninos e meninas em projetos clicando o atendimento às sociais de todo o Brasil, registrando a famílias, o trabalho dos cor, o movimento na expressão da infância e da juventude. Mas a intimidade com o mundo das imagens vem Experiência de arte-educação de longe. Ela cresceu entre os tanques de química da com crianças e adolescentes produtora de publicidade e em situação de rua ou cinema de seus pais, em de comunidades de baixa renda Goiânia e, desde cedo, entrou em contato com fotos, filmes e pinturas. Na adolescência, trabalhou como office-girl em uma empresa de educadores nas ruas, as oficinas de publicidade. Aos 18 anos, já com a percussão, balé, circo, moda, primeira filha, garantia algum serigrafia e papel reciclado, nada foi trocado com trabalhos de ilustração, igual na sua vida e no seu trabalho. reprodução de obras de arte ”Pela primeira vez, tive contato e fotos de cena. com a transformação de coisas que A partir de então, a fotografia pareciam ser impossíveis de serem nunca mais saiu da sua vida. De 1979 transformadas. E a mudança a 1994, fotografou para jornais e acontece pelo que há de mais belo, revistas como Folha de São Paulo, mais honesto, mais verdadeiro nas Correio Braziliense, Isto é, Veja, entre pessoas”, diz a fotógrafa. outros. Com a câmera nas mãos, A experiência foi uma porta de encarou delegacias de polícia em entrada para outros projetos de plena ditadura, cenas da política no educação. “Até hoje, quando estou Congresso e no Palácio do Planalto com os educadores e com os meni-
nos do Axé, me vem de novo aquela emoção, como se fosse um divisor de águas na minha vida!”, conta. Mila registrou tantos outros projetos espalhados pelo país. Atualmente, 80% de seu trabalho retrata experiências na área social. A qualidade de suas imagens também renderam alguns prêmios importantes, entre eles, o Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo, em 1998. Ainda mais importante do que o reconhecimento oficial, talvez seja a capacidade que suas fotos têm de levar adiante esse impacto que a própria fotógrafa sente ao se envolver com os projetos sociais. É como se a máquina fotográfica funcionasse conforme as suas emoções. Mila explica: ”Essas fotografias comunicam a transformação pela qual aquelas pessoas estão passando. Eu fotografo na onda do que acontece no meu coração”.
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De bocaem As gírias săo consideradas a segunda língua dos jovens. Cada lugar tem a sua
“B
JULIANA ROCHA BARROSO
boca
ah, fala sério, aí. Mó boçal aquele mendigo que tomou bolada nas costas. Tá tora, mano.Tu num sabe quem é o cara, carraca! Ôrra, meu. É aquele ali que tá largando pra baia.” Não se assuste! Essas palavras fazem parte da segunda língua dos jovens
brasileiros: a gíria. E, dependendo da “tribo”, ela pode ser até a primeira. Nesse idioma as regras mudam de região para região, podendo causar a maior confusão. E foi o que já aconteceu com a paraense Érika Coelho Teixeira, de 17 anos. “Meu irmão, Bruno, está fazendo
Surge num determinado grupo e se torna familiar em todas as camadas sociais
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“A gíria é a
simples, prático e social. Por isso a gíria é nossa língua”, comenta. Natália Gastão Salies, “...Pisou na bola conversa fiada malandragem carioca de 15 anos, Mala sem alça é o rodo, tá de sacanagem completa, destacando a Tá trincado é aquilo, se toca vacilão existência de diversas Tá de bom tamanho, otário fanfarrão “tribos”. Ela se inclui na dos rockeiros e conta Tremeu na base, coisa ruim não é mole não que tem suas gírias Tá boiando de marola, é o terror alemão próprias. “Quando a Responsa catuca é o bonde, é cerol gente acha algo maneiro Tô na bola corujão vão fechar seu paletó...” (legal), a gente fala ‘beath metal’.” “....Se liga no papo, maluco, é o terror Uma coisa que vem Bota fé compadre, tá limpo, demorou acontecendo hoje é que Sai voado, sente firmeza, tá tranqüilo os jovens estão falando Parei contigo, contexto, baranga, é aquilo cada vez mais a mesma Tá ligado na fita, tá sarado língua. Isso se deve, em grande parte, ao poder Deu bode, deu mole qualé, vacilou da televisão, que difunde Tô na área, tá de bob, tá bolado expressões, especialBabou a parada, mulher de tromba, sujou” mente por meio dos personagens das Trechos da música do CD A Gíria é a cultura novelas e seriados e do povo, do sambista Bezerra da Silva, apresentadores de lançado em 2002. A composição é de Elias programas de auditório. Alves Junior e Wagner Chapell É o caso do “tipo assim...”, como lembra o goiano Paulo Henrique faculdade em uma cidade do interior Carvalho, de 17 anos. Para o jovem, de São Paulo e chegou aqui nas que mora na cidade de Quirinópolis, férias falando ‘o cara tomou bolada a 300 quilômetros da capital Goiânia, nas costas’. Eu fiquei olhando pra ele a TV tem grande influência na divulcom aquela cara de quem diz: ‘e você gação das gírias por todo o país. acha que todo mundo sabe o que é Já a gaúcha de Porto Alegre, Juliana isso?’”, conta. Bruno explicou que Gonzáles Coelho, de 16 anos, aprendeu a gíria com um amigo considera o jeito de falar do pessoal carioca. Significa “levar um chifre”, do sul bem característico e serve “ser traído por alguém”. para identificá-lo facilmente. Mas aposto que você continua “Além do ‘tu’, a gente usa muito o ‘tri’ curioso para decifrar o significado da antes das palavras. Por exemplo: primeira frase dessa matéria... É uma tri-bala, tri-legal. Tem também o mistura de gírias das cinco regiões ‘bah’! Um exemplo: ‘Bah, como isso do Brasil. A tradução: “Vai, fala a estranho!’”, conta Juliana que lembra verdade. Muito estranho aquele também de uma amiga que tem em moço que foi traído pela namorada, Brasília. “Ela sempre fala ‘caracas’ e não é mesmo? Ele está numa situa‘véio’. Não passa uma frase ção difícil, amigo. Você não sabe sem uma dessas gírias.” quem é ele? Nossa! É aquele ali, que está indo para casa”. Do monte Caburaí (RR), no extremo norte, ao Chuí (RS), no extremo sul do Brasil, as gírias difundem a • Livro (Pedidos) identidade regional do povo. Em Dicionário de Gíria, de J.B Salvador, Cristiane Santos Prado, de Serra e Gurgel 17 anos, define a gíria como um SQS 302, Bloco B, Ap. 403 “ciclo revolucionário” da língua. 70338-020 – Brasília (DF) “Completada e renovada ao longo dos anos, ela possibilita um diálogo • Site fácil e direto entre os jovens. www.cruiser.com.br/giria O adolescente de hoje é direto,
cultura do POVO”
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SE VIRA As faces do MARKETING THOMAS STEWARD
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onversas geram idéias e é preciso arrumar essas idéias, assim como organizamos as gavetas de um armário. Com o marketing não é diferente. Dentro dessa palavra, temos muitas gavetas, partes diferentes onde agrupamos ferramentas que trabalham determinado mercado ou setor. É preciso entender o que tem dentro de cada gaveta, o que faz cada parte, para sabermos o que vamos vestir, utilizar. Cada ferramenta possui detalhes únicos, que podem fazer a diferença dentro da atitude a ser tomada. Sua escolha pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso! Seguem algumas dessas ferramentas: Marketing promocional cuida das promoções dos produtos, sua produção extra e logística (quanto vai custar o produto, quais seus objetivos e custos);
Marketing de eventos, muitas vezes executado junto com as promoções, organiza os eventos, controla seus custos, alinha o tipo de evento (festa, show, palestras, treinamentos, visitas a fábricas etc.) à empresa, acompanha toda a sua execução e os fornecedores de serviços; Marketing direto é aquele que cuida do contato com os clientes ou futuros clientes por meio de cartas, telefone (tele-marketing), e-mails; Marketing publicitário, como o nome já diz, trabalha a propaganda de um produto, sua circulação e anunciantes, podendo atingir agências de propaganda e empresas anunciantes; Como você pôde notar, o marketing possui diversas faces, cada uma responsável por determinadas ações. Juntas, todas formam um armário repleto de opções para resolver, sem receitas prontas, as necessidades de cada empresa de acordo com a sua necessidade. Na próxima Vira, vamos falar de outras gavetas e mais detalhadamente de cada uma. Thomas Steward é consultor de marketing da Vira agosto/2003 · ViRAÇÃO
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O sentido
do pelotăo
Ansiedade, medo e imposiçăo marcham alinhados com o ALISTAMENTO MILITAR. Os garotos que estăo beirando os 18 anos que o digam
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Arquivo pessoal
oldado Cornejo! Número 256! Essa é a resposta que, durante um ano, um mês e 21 dias, Francisco Cornejo foi obrigado a dar cada vez que era chamado por um superior militar. Na época, com 18 anos, tinha sido convocado pelo Exército para prestar serviço obrigatório. Com outros 120 jovens, foi chamado para “servir à Pátria” – no caso dele, contra sua vontade. Mas não é esse o caso dos estudantes Heitor Siviero e Luiz Carlos Barbosa da Silva, ambos com 17 anos. Eles encaram as Forças Armadas como uma oportunidade. “Se não conseguirmos passar em uma universidade pública ou não tivermos um trampo (traba-
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lho) legal, a gente vai fazer o Exército”, concordam. Eles devem se alistar no início do próximo ano e, se forem convocados, querem seguir carreira na corporação. Francisco, hoje com 24 anos, estuda Ciências Sociais e considera o tempo que passou no quartel um desperdício. “Não aprendi nada lá. Eu poderia ter aproveitado esse período para viajar ou estudar, e fui forçado a me submeter a uma rotina que não tinha nada a ver comigo”, afirma. Durante o serviço obrigatório, chegava às 7h30 no quartel, assistia ao hasteamento da bandeira brasileira e, até às 18h, cumpria ordens. Estas variavam entre punições físicas, como João Peschanski
JOÃO ALEXANDRE PESCHANSKI E LUÍS BRASILINO
Francisco considera perda de tempo o período em que serviu ao Exército
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Luís Brasilino
Bate-papo sobre igualdade
Auto-estima SIDNEY DE PAULA OLIVEIRA
Heitor (à esquerda) e Luiz: Exército como opção profissional fazer flexões (“Paga 10!”), atividades burocráticas e serviços para os superiores. Ele conta que várias vezes o comandante do quartel “pedia” aos soldados que realizassem outro tipo de tarefas, como consertar o encanamento ou arrumar o jardim de sua casa. O comandante dizia que os soldados serviam a Pátria e, como ele era autoridade, também deviam serví-lo. Apesar de conhecer histórias como as de Francisco, Heitor não tem medo do Exército – ele apenas está ansioso em relação ao alista-
mento. “Será uma experiência nova, e nunca dá para ter certeza do que vai acontecer”, avalia. Para ele, no entanto, o serviço militar não deveria ser uma obrigação, pois acha injusto interromper, na marra, os planos e projetos de uma pessoa. O que mais choca Francisco quanto à sua passagem pelo Exército é pensar que ele estava sendo preparado para uma possível guerra. “Isto sempre me preocupou. Eu me perguntava sobre o que eu faria se o Brasil entrasse num conflito armado. No fim, tenho certeza de que não lutaria”, confessa.
ENTENDA o serviço militar • Quem deve se apresentar? Todos os homens jovens, no ano em que completam 18 anos. • Todo mundo que se apresenta serve às Forças Armadas? Não. Grande parte das pessoas acabam sendo dispensadas. • O que acontece se alguém não se apresentar? Todos os homens são obrigados por lei a se apresentar. Se não o fizerem, não poderão tirar passaporte, matricular-se em uma universidade, entre outras conseqüências. • Quanto tempo dura o serviço militar obrigatório? Geralmente, um ano. Mas o prazo pode ser maior ou menor, dependendo do caso. • Depois desse período, o jovem ainda tem obrigações em relação ao Exército? Durante cinco anos, o soldado é considerado reservista, isto é, pode ser chamado para assumir tarefas militares. • As mulheres também têm que se apresentar? Não. Mas elas podem se alistar como voluntárias. • Qual é o tamanho do Exército brasileiro? O número de militares no Brasil é de 145 mil homens (na China, este total chega a um milhão de pessoas).
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Podemos notar com satisfação que, já há alguns anos, houve um considerável aumento do número de jovens nas áreas centrais, periféricas ou suburbanas da capital e outros municípios da grande São Paulo utilizando roupas e adereços chamados “étnicos”. Óbvio que isso não se resume apenas a roupas, jóias e bijuterias. Existe uma crescente conscientização política da juventude afro-descendente ou, para usar o termo da Constituição, afro-brasileira. São adolescentes mostrando suas tranças, seus rastafaris com arranjos multicores, enfeitados com faixas, lenços e um sem número de complementos que realçam e enaltecem a beleza de homens, mulheres, jovens e crianças negras. É estimulante ver nas ruas jovens casais de negros de mãos dadas, famílias negras passeando juntas, pais e mães saindo com suas filhas, jovens rapazes discutindo letras de rap e sambas de raiz e pesquisando a história de luta dos antepassados. Jovens que têm se interessado e efetivamente atuado na busca de uma sociedade mais justa e igualitária, onde o respeito à diversidade não fique apenas no formalismo frio da legislação. Mais e mais pessoas procurando conhecer melhor a cultura e as religiões africanas, mesmo que não sejam seus adeptos. As iniciativas da juventude têm se dado nos mais variados setores, como em projetos sociais, Organizações Não-Governamentais, cooperativas ou mesmo através de atitudes isoladas, o que demonstra que sua inquietação e energia pode ser dirigida para o bem de todos. Ao notar todas estas manifestações, constatamos que é sempre possível elevar a auto-estima das pessoas e acreditar que a transformação e a construção de uma sociedade que respeite a diversidade pode não estar tão longe quanto imaginávamos. Sidney de Paula Oliveira é advogado e consultor do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), agosto/2003 · ViRAÇÃO nas áreas de Direito e Relações
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Brasil de todas as tribos Os manos do
p o h p Hi Essa é apenas a primeira matéria da série de reportagens que a Vira está preparando para você sobre as novas tribos do Brasil. Vamos começar pela galera do Hip hop. E vem mais por aí: a esportista, regueira, roqueira, surfista, clubber... TATIANA AZEVEDO E TATIANA MERLINO, de Penápolis (SP) RENATO DE ARAÚJO E LÍLIAN DE CALÇAVARA, de Brasília FOTOS LUCINEY MARTINS, REDE RUA
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ão é só na periferia das grandes capitais que a galera do Hip hop consegue se mobilizar. No dia 19 de julho, os fãs de rap do interior de São Paulo tiveram a chance de conferir as novidades desse movimento no oeste paulista. Penápolis, cidade a cerca de 500 quilômetros da capital, foi palco do 2o Festival Regional de Hip Hop, que contou com apresentações de grupos de rap e de break, grafitti ao vivo e DJs. A prefeitura da cidade havia prometido verba para organizar o evento, mas cedeu apenas o ginásio e o equipamento de som. Para compensar, a organização teve de buscar apoio em lojas da cidade para conseguir os R$ 400,00 necessários para a compra dos troféus, tintas e camisetas. Mesmo com tantas dificuldades, Carlos Valenzuela, um dos organizadores, acha que o esforço vale a pena. “No interior, a diferença social é tão ou mais acentuada que na capital”, diz. O b.boy Leonardo dos Santos, conhecido como Ado, completa: “Um evento como este promove a auto-valorização dos excluídos”. Preconceito é coisa do cotidiano de muita gente que participa do movimento. Sofrem pelo seu modo de falar, carregado de gírias, pela maneira como se vestem e pelo seu jeito de se divertir. Ado conta que uma vez, em um baile, fizeram uma roda para dançar break, a dança típica do rap. Na mesma hora, a música parou e seu grupo foi expulso. “Eu não entendi o que aconteceu. A gente só queria dançar.”
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AUTO-ESTIMA EM ALTA Além de ser uma alternativa para a diversão dos jovens, o Hip hop tem um forte peso político e social, pois retrata o desejo de mudança da realidade daqueles que vivem nas periferias. As letras das músicas, o grafitti nas paredes e a dança expressam a contestação do preconceito, da violência e da pobreza. A atuação não se limita a letras de músicas provocativas. Para o grafiteiro Waldecir da Silva, o Bylla, “subir no palco e cantar é fácil. Difícil é ser verdadeiro no dia-a-dia, dentro de uma realidade que te reprime”. Rafael Rossini, b.boy de São José do Rio Preto, conta que uma vez foi abordado por policiais na frente da escola em que estuda. “Eles perguntaram onde estavam as drogas. Ficaram falando que quem usa roupa larga é tudo drogado, e começaram a dar uns tapas na gente. Humilhação existe, mas fazer o quê? Eles não sabem que o Hip hop serve pra tirar o pessoal da periferia do mau caminho.” A vitória chega aos poucos. Há certo tempo, os grupos de rap da região lançaram sua primeira coletânea, “Teoria Perfeita”. A produção e o lançamento do CD foram financiados pelos próprios integrantes. As mil cópias feitas, vendidas de mão em mão, acabaram logo. Esse tipo de iniciativa desperta a simpatia de pessoas como Fernando Vieira de Almeida, trabalhador rural de Avanhandava. “O Hip hop fortalece o ego e a auto-estima, faz a gente se sentir importante”, ele diz. PAPEL SOCIAL Do interior de São Paulo para a capital federal. “Todos em frente, todos ao ataque! Só assim nossos direitos se tornarão realidade.” A música A Voz do Brasil, do rapper Gog, de Santa Maria, cidade-satélite do DF, ilustra o potencial convocatório e transformador do movimento. No Distrito Federal, especialmente na periferia, os jovens e adolescentes se identificam muito com a cultura hip hop, por tratar de temas cotidianos de uma forma inteligente e familiar. É o que pensa Paíque, que ouve rap desde os 12 anos e hoje está com 17: “É um cara da sua comunidade falando sobre a sua comunidade. É algo acessível que dá possibilidade de você se ver como artista e também começar a fazer coisas”. Engajado , o rapper aborda temas num discurso fácil e direto, tendo como fundo um ritmo forte, que em si basta para definir o conteúdo da música. “Devido ao Hip hop ser uma cultura produzida por pessoas pobres, que vivem à margem da sociedade, sempre trata da desigualdade social, da violência à qual estão sujeitos diariamente”, diz Sowto, líder do Grupo DF Zulu, um dos mais significativos grupos de Hip hop do Brasil. Essa atuação social pode se dar por outros meios, como o grafitti, por exemplo. Erika Ferreira, mestre em lingüística pela Universidade de Brasília, diz em sua tese Vozes e Identidades Juvenis: o Hip Hop como Representação que “o grafitti chama a atenção se não pelas mensagens pouco legíveis, lançando um desafio à compreensão, ao menos pelos desenhos que retratam problemas sociais”. É uma arte que conseguiu converter a energia de adolescentes, que antes pichavam suas assinaturas, em uma expressão visual criativa, socialmente aceita e trazendo mensagens positivas, como apelos pela paz e contra o uso abusivo de drogas.
Grafitti também iluminou o 2º Festival Regional de Hip hop, em Penápolis (SP)
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Grafitti do Zulu Breakers, de Ceilândia (DF) OCUPANDO A ESCOLA A escola, local onde o jovem passa boa parte de seu tempo, seria o lugar ideal para se trabalhar direitos humanos, exclusão social, cultura de paz e outros temas que o rap aborda com tanta desenvoltura. Segundo Erika, “muitos adolescentes se identificam mais com os temas e com as propostas da cultura hip hop do que com as atividades pedagógicas do atual sistema de ensino”. Ela também acredita que a escola, na tentativa de “guiar” os alunos para os caminhos tradicionais de inserção no mercado de trabalho, bloqueia talentos e desencoraja práticas sociais na comunidade. Mariana Lima, de 16 anos, faz parte do Grupo Interagir e ministrou oficinas sobre protagonismo juvenil em diversas escolas públicas e particulares, utilizando um rap como base para um debate. Ela acredita que a participação das manifestações populares na educação é fundamental. “A escola está separada da vida das pessoas, tanto para professores quanto alunos, é um mundo paralelo”, ressalta Mariana. O preconceito e a resistência à cultura hip hop nas escolas explicitam-se nas normas escolares e nas relações entre escola e aluno. Por exemplo, as barreiras para que os estudantes grafitem o espaço escolar, mesmo que os desenhos e mensagens caibam na proposta pedagógica. Fabrício, de 19 anos, conta que quando estudava no Centro Educacional 05, de Taguatinga, providenciou junto com um grupo de amigos um painel grafitado que servia de cenário para
a Feira Cultural da escola. Uma semana depois, os pedreiros faziam massa de cimento sobre o painel. “Isso mostra a pouca importância que a escola deu ao trabalho”, diz Fabrício. A autorização de diversas manifestações culturais em sala de aula torna o aprendizado contextuali-
Por dentro da TRIBO • HIP HOP do inglês “mover os quadris”. O movimento surgiu na periferia de Nova Iorque (EUA), nos anos 60, com festas que se tornaram uma maneira pacífica de expressar a revolta da juventude da periferia • BREAK BOYS (b.boys) e BREAK GIRLS (b.girls) dançarinos de break • MC mestre de cerimônias; rapper que canta • DJ disc jóquei, que faz os efeitos sonoros da música • GRAFITTI pinturas ou desenhos em muros
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zado e abre possibilidades para o aluno desenvolver potencialidades diversas, que vão além do aprendizado mecânico. Mariana acredita que o Hip hop não tem fácil entrada nas escolas por ser um movimento contestador. “Somente quando alunos e professores se relacionarem e perceberem que é possível ser diferente, é que as coisas mudarão.”
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t á na mão • O que ler Manuscrito – Revista Virtual de Hip Hop (www2.uol.com.br/manuscrito/) Rap Nacional – www.rapnacional.com.br Hip Hop: a Periferia Grita, de Patrícia Casseano, Janaína Rocha, Mirella Domenich • Onde ouvir www.buscamp3.com.br
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atividade dos jovens no campo social é, hoje, muito diferente daquela que ocorria há décadas, em que a participação social se dava por meio de partidos, agremiações estudantis ou grupos religiosos. Atualmente, há uma enorme multiplicidade de formas de expressão e organização juvenil. Protagonismo juvenil é um conceito que começa a ser usado para se referir a essa realidade. Diz respeito à idéia de que o jovem não é um ser alienado, passivo, seja na família, seja na escola ou em relação ao seu próprio desenvolvimento. Ele é protagonista, pode participar da construção de sua realidade quer seja individual ou coletiva. No Estado do Maranhão, os movimentos sociais têm contribuído muito na formação e organização de multiplicadores. Hoje, já sentimos os jovens mais presentes em discussões, seminários, encontros e outras atividades de mobilização. Se um jovem participa de ações de protagonismo, ele tem a possibilidade de se descobrir, conhecer a própria vida, ganhando melhores condições de entender seus limites e proteger-se dos riscos da vida moderna, como a violência, o uso de drogas, as doenças sexualmente
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transmissíveis e a aids, a gravidez indesejada, entre outros. Os grupos de jovens precisam de apoio e atenção para que possam se sentir valorizados e contribuírem na construção de uma sociedade justa e com solução para seus problemas.
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Deílson e George fazem parte da Comissão Jovem, do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua do Maranhão
ECA Ivo Sousa
Saiba sobre seus direitos e deveres garantidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente
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A adolescente grávida tem direito a atendimento médico? – Sim, a garota que engravida na adolescência tem direito a ser atendida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para fazer acompanhamento pré-natal. O parto deve ser feito preferencialmente pelo mesmo médico que acompanhou a gestação. O poder público também tem de assegurar à garota a realização de todos os exames dela e ainda do bebê, dar apoio alimentar, caso necessite, e possibilitar que, após o parto, ela possa ficar no mesmo local que o recém-nascido.
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Os filhos que nascem fora do casamento do pai ou da mãe podem ter o sobrenome dos pais? – Sim. Realmente os filhos que nascem fora do casamento têm direito ao registro em cartório e ter o nome dos pais na certidão de nascimento.
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Um adolescente pode ser adotado? – Sim, uma pessoa pode ser adotada até os 18 anos de idade. O filho adotivo tem os mesmos direitos dos filhos naturais e os pais devem assumir todas as responsabilidades por ele. Ao ser adotado, o jovem ou a criança passa por um período de experiência com a nova família, que pode variar de acordo com a idade do adotado.
plugue-se~
DEÍLSON LOUZEIRO E GEORGE SANTOS
Paulo Pereira Lima
Os maranhenses Deílson e George escreveram esse texto por ocasiăo do aniversário do Estatuto da Criança e do Adolescente (13 de julho)
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s n e v Jona dianteira
DE OLHO NO
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Mande também suas dúvidas para a VIRAÇÃO: R. Comendador Elias Assi, 147 05516-000 – São Paulo (SP) Tel.: (11) 3722-4733, Fax: (11) 3721-7601 ou para agosto/2003 · ViRAÇÃO eca@revistaviracao.com.br
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Luciney Martins/Rede Rua
Saiba mais sobre as LAN-HOUSES, que surgiram na Ásia e agora estăo conquistando muitos brasileiros
Nova
mania JOSÉ MANOEL RODRIGUES
J
Luciney Martins/Rede Rua
ogar vídeogame sozinho, em casa, é a última coisa que esses garotos pensam em fazer. E não é porque o pai proibiu, mas por causa de uma diversão que surgiu na Coréia do Sul, ganhou os Estados Unidos e, agora, começa a contagiar o Brasil: são as lan-houses, casas que alugam computadores, principalmente para os jovens jogarem seus games. Herdeira do cyber-café, a lanhouse oferece além de games, os serviços de internet, como e-mails, o programa de mensagem instantânea (ICQ) e fontes para pesquisas em trabalhos de escola. No Estado de São Paulo já existem 400, junto com uma “tribo” que tem características próprias: uma linguagem só dela e apelidos estranhos, ou melhor, nick names. Marcelo Matias, de 13 anos, tem um. É o Ness. Com dois primos e um amigo de escola, criou um clã – clube
Garotos numa lan-house de São Paulo. Os olhos não “desgrudam” da tela por no mínimo 2 horas
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fechado para as competições entre eles – em uma lan-house da zona leste da capital paulista. Essa é uma das possibilidades da casa: “Você pode participar dos campeonatos que a casa patrocina ou inventar o seu próprio a partir do clã”, explica Ness. O clã tem uma marca, ou senha secreta, que identifica a turma na rede de computadores.
Lan é a abreviatura de “Local Arena Network (“Rede de Arena Local”) e indica a rede de comunicação local por computador;
house (casa)
GUERRA NO IRAQUE O jogo preferido de Ness é o Counter Strike (“contra-ataca”), onde o jogador enfrenta mil e uma dificuldades para atirar no adversário que está na tela do computador. É um jogo em que se mata e morre. “Já sei que você vai me perguntar sobre a violência”, se antecipa Ness. Os demais, que acabaram de jogar na mesma sala que ele, também resmungam: “Xiiii, lá vem o repórter!”. “Não acho que a emoção da batalha vire na gente uma coisa ruim, que possa passar para a convivência com os outros”, argumenta Marcelo Rampazzo, de 16 anos. “A guerra no Iraque foi um Counter e nem por isso houve violência aqui, quando aTV mostrou os ataques. Conheço quem gosta de curtir esse jogo e que protestou contra a guerra”, completa Ness. João Wesley Godoy, de 17 anos,
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A abertura de centenas de lanhouses provocou debates entre os bambambans da educação e até entre os vereadores de São Paulo. “Não existe ainda uma categoria que defina o nosso ramo, é como o negócio de locadoras de vídeo, que quando surgiram também precisaram de regulamentação para que pudessem operar dentro da lei”, explica Marcelo Fourlan, proprietário de uma lan-house. Enquanto a lei não chega, a Luciney Martins/Rede Rua polêmica está no ar. Essas casas de jogos são confundidas com fliperamas. Por isso, setores da sociedade pedem que a Câmara Municipal de São Paulo, ao discutir a matéria, estabeleça normas rígidas, como a obrigatoriedade da lan-house guardar o mínimo de 2 km de distância em relação a escolas, de fixar um horário de freqüência dos menores de idade, e de estar sob vigilância rotineira do Estado e de órgãos como os Conselhos Tutelares da Criança e do Adolescente, além de respeitar leis que já regulam atividades afins, como a de proibir venda de bebida alcoólica a menores. Na Câmara, uma comissão presidida pelo vereador Willian Woo está ouvindo os empresários e setores da comunidade para criar um projetolei que vai regular o funcionamento desse tipo de comércio. Marcelo Fourlan reconhece que é importante pensar em ambientes que não sejam nocivos. “Na minha lan-house não vendemos bebida, nem cigarro. E o controle é tão sério que antes de cadastrarmos adolescentes, consultamos os pais”, afirma Fourlan. O sócio do empresário, Rodrigo Brandão, lembra que o entretenimento digital está em tudo hoje em dia, “no celular, no computador, na DirecTV, nos aparelhos portáteis, e até agora não se conseguiu formar um juízo definitivo sobre o vídeogame, se é bom ou ruim para o desenvolvimento humano e intelectual”.
afirma que o costume de passar quatro horas por dia na lan-house não alterou seu rendimento escolar. “Minha mãe só reclama porque acha que faz mal para a vista e porque fico muito tempo fora de casa, mas na escola estou bem”, diz o garoto, aluno do 2º ano do ensino médio. “O que mais gosto na lan-house é encontrar os amigos. Meu pai acabou de comprar um computador pra ver se eu fico mais em casa, e é uma máquina igual à que tem na lanhouse, mas eu prefiro vir pra cá”, revela Marcelo, que freqüenta o lugar há um ano. Estevão Mellin, de 12 anos, conta que reserva as tardes de sexta a domingo para os games. O ranking que a lan-house promove toda semana é mais um atrativo. Quem fica entre os 5 melhores colocados ganha 3 horas de uso grátis. A
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concorrência é dura: só nessa lanhouse da zona leste, os clientes cadastrados são mais de 2.700. O jogador paga R$ 2,50 a hora para ter acesso ao equipamento.
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A LÍNGUA DOS GAMES Newba: jogador fraco Fragger: aquele que derruba muitos adversários, mata muito e morre pouco Ping: tempo de resposta da máquina Camper: franco-atirador Mito: jogador de bom aproveitamento
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DENTRO da lei
ECONOMÊ$ Você entendendo de Economia
O FANTASMA da
inflação Mara Luquet
Este mês vamos falar de inflação, que, ao contrário das taxas de juro, vai minguando com o tempo as nossas economias. Inflação é o aumento contínuo e generalizado no nível de preços, definem todos os economistas. Na prática, funciona como se você fosse perdendo dinheiro aos poucos, mesmo que todas as notas continuassem lá, guardadinhas do jeito que você deixou. Isso porque o preço de todos os bens e serviços que você compra vão aumentando. E aí, os R$100 que você deixou tão bem guardado em casa já não compram mais as mesmas coisas que compravam há um ano e quanto mais o tempo passa é pior. Por isso tem que ter cuidado sob pena de você se esforçar para economizar sua mesada e, no final, descobrir que não adiantou nada. Suas economias foram todas corroídas pela inflação. Para proteger seu dinheiro desse mal, é necessário guardá-lo no banco de sua escolha, e não em casa. Você também precisa aplicar suas economias em locais que tenham uma taxa de retorno maior do que a taxa de inflação. Assim, com o passar do tempo, a inflação vai tirar o poder de compra da sua mesada que está guardada, mas as taxas de juro, o rendimento de sua aplicação no banco vai acrescentar mais dinheiro à mesada que está investida. Se essa taxa de retorno for igual à inflação, você empata, vai apenas manter o poder de compra de suas economias. Mas se a taxa for maior, aí você vai, ao longo do tempo, fazendo sua mesada crescer, o que vai lhe dar mais poder de compra no futuro. Porque investir é isso: adiar um consumo presente para fazê-lo no futuro, com mais conforto e qualidade. No próximo Economês, vamos falar sobre as formas de investir sua mesada para conseguir alcançar seus objetivos.
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Mara é editora de Investimentos agosto/2003 · ViRAÇÃO Econômico doValor
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GALERA REPÓRTER Verde
Simboliza paz, crença, firmeza, juventude e coragem
Sempre
em frente
“Minha vida hoje se resume a encontrar o que eu era antes.”
Osvaldo Praddo/Agência O Dia
Marcelo Yuka no show do grupo O Rappa, na Rocinha, no Rio
JULIANA ROCHA BARROSO, DA REDAÇÃO DIEGO CARDOSO, 15 ANOS FERNANDO MERGULHÃO, 16 ANOS FRANS FRANK, 16 ANOS GIANE ALVES, 22 ANOS JORDANA SCHIAVINI, 17 ANOS LEONARDO EGUIA, 17 ANOS RODRIGO DA SILVA, 17 ANOS
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fa! Como foi difícil conseguir falar com Marcelo Yuka! Tivemos que aproveitar um intervalo entre suas idas e vindas dos médicos. O ex-baterista do grupo O Rappa está se tratando de um acidente ocorrido na noite de 9 de novembro de 2000. Marcelo estava saindo da Tijuca, bairro na zona norte do Rio de Janeiro, onde mora. Ia para a comunidade de Vigário Geral se encontrar com integrantes do grupo de teatro Nós do Morro, quando foi atingido por oito tiros ao tentar ajudar uma mulher que estava sendo assaltada. Hoje, aos 37 anos, em ritmo de recuperação, o carioca Marcelo Fontes Nascimento Viana de Santa Ana trava diariamente uma batalha consigo mesmo. E, apesar de todas as dificuldades, ele confia na vitória. Marcelo fez parte do O Rappa por mais de nove anos e tem mais de 10 músicas de sua autoria, entre elas, os sucessos Me Deixa, O Que Sobrou do Céu, Lado B Lado A, Na Palma da Mão e Minha Alma (A Paz Que Eu Não Quero). O letrista, que aos 20 anos deixou a faculdade de jornalismo para se dedicar à música crítica e de protesto, conta pra galera da Vira um pouco dessa e de outras lutas que fazem parte da sua história.
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Márcio Mercante/Ag. O Dia/AE
Como surgiu O Rappa? – O Rappa surgiu há quase dez anos, depois de eu e mais duas pessoas termos tocado numa banda de um cantor jamaicano, o Papa Winnie. Eu tinha umas canções e a gente começou a tocá-las depois que esse cantor foi embora do Brasil. Botamos anúncio no jornal procurando cantor e aí apareceu o Falcão (Marcelo Falcão) e a gente começou a trabalhar junto e virou O Rappa. Qual foi seu melhor momento no O Rappa? – Acho que foi logo depois do lançamento do disco Lado B Lado A, quando a gente foi premiado na MTV. O disco foi um clássico. Isso aconteceu entre os anos de 98 e 99. Com quantos anos você entrou na vida artística? – Comecei aos 23 anos. Tinha 27 quando O Rappa começou. Alguma gravadora já rejeitou seus trabalhos? – No começo eles queriam apenas mudar as letras porque achavam muito pesadas. Mas, dificuldades mesmo não tivemos. Quando a gente começou a mostrar o trabalho, não demorou muito para chegar na gravadora porque era um momento bom, um momento em que várias bandas estavam gravando de novo. O Rappa estourou faz uns sete anos. Sua família sempre o apoiou em sua carreira artística? – Não. Na época, eu fazia faculdade de jornalismo e comecei a tocar numa banda de reggae da Baixada Fluminense, que é um gueto aqui no Rio. E isso parecia promissor na época. Mas, na realidade, não era nada promissor você largar uma faculdade de jornalismo. Eu estava no último período.
Você se arrepende? – Não. Hoje eu sou respeitado no que faço e até escrevo bastante para jornais de grande porte no país. Querem saber meu ponto de vista sobre várias coisas também. Sou um músico que transcendeu a questão de ser só músico. Tenho um ponto de vista que as pessoas querem saber qual é. Foi difícil, mas eu consegui. E o que despertou isso foi a minha musicalidade, a coisa que eu escrevo através das músicas. O jornalismo não ia me dar isso. Como anda sua vida e quais seus projetos para o futuro? – Minha vida hoje se resume a encontrar o que eu era antes. Então faço os projetos sociais que eu fazia antes. Trabalho com a FASE (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional), uma Organização Não-Governamental. Faço
palestras por todo o Brasil. Estou compondo um novo disco e estou escrevendo um livro sobre adolescentes grávidas em comunidades carentes. Tudo pra ser lançado no começo do ano que vem. E também tenho uma rádio em casa, chamada Rádio Anti-Combate FM. Ela quer combater as fronteiras que o narcotráfico impôs no Rio de Janeiro. Hoje, tem lugar que você não pode ir porque é dominado por uma ampla corrente criminosa. E a função dessa rádio é evitar que isso continue. Imagina se na raiz do samba ou no futebol isso acontecesse. A gente não teria os grandes compositores, nem o futebol como um ícone nacional. Porque os compositores iam cantar em outros lugares do Rio, a mesma coisa com os jogadores de futebol. E a rádio vem com a proposta de fazer com que as comunidades se comuniquem, que agosto/2003 · ViRAÇÃO
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GALERA REPÓRTER DIVULGACAO
9ª Edição do Festival Abril pro Rock Recife , na capital pernambucana
possam receber artistas de diferentes lugares. Quais foram as principais mudanças em sua vida após o acidente? – As mudanças são enormes. A principal é você estar com a cabeça em paz de novo para poder trabalhar e acreditar que reabilitação ainda é possível. E eu tenho a cabeça em paz de novo agora, depois de algum tempo. Consigo encarar mais claramente as coisas e posso trabalhar não só no meu som, como também nos meus projetos. Quanto tempo você demorou para se recuperar física e psicologicamente do acidente? – Mais ou menos um ano e meio. Como seus fãs reagiram ao acidente? – Eles são muito carinhosos, isso me dá força. Mandam cartas, me tratam com carinho e respeito. Eu realmente sou agraciado por isso. Tem algo particular de um fã que você lembre? – Tem uma senhora na minha rua que eu conheço apenas de vista. Toda semana ela me traz uma torta, um doce, um chocolate e eu nunca falei com ela. Coisa de carinho. Tem gente até que chora quando chega perto de mim. Suas músicas sempre falaram de paz e você foi vítima da violência. Qual a sua visão com relação à violência no Brasil hoje? – Eu sou otimista. A violência tem um fundo econômico e social, mas eu acho que o principal problema ainda é a vontade política das pessoas. Acho que qualquer solução responsável só se dá pelas próprias pessoas do país, que aprendem a se importar um pouco. E se importar é se dar ao próximo, não só à família, mas ao seu vizinho, à sua rua, ao seu bairro. Porque o que protege mesmo é a consideração. Não o cachorro, as grades altas, cercas elétricas, seguranças ou armas de fogo. O que protege mesmo é a consideração. E, para isso, as pessoas têm de saber quem são.
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coluna
Verde
APRENDIZES
por Carlos Tautz
Tesouro BRASILEIRO
F
De todas as
Galera do Projeto Histórias de Vida apredem a colocar no papel sua visão de mundo
cores
Diretamente do interior para a capital paulista, jovem descobre um mundo rico em diversidade
E
u me chamo Leonardo Eguía Cappucci, tenho 18 anos. Apesar da pouca idade, tenho muitas experiências para contar. Venho de Araçatuba, cida de do interior de São Paulo, a 530 quilômetros da capital. Lá, trabalhava em um cursinho pré-vestibular e era uma das coisas que mais gostava de fazer, pois lidava com o público. Meus pais são divorciados e cada um seguiu sua vida com outra pessoa. Minha vinda para São Paulo ocorreu da seguinte forma: meu padrasto foi transferido da Polícia Científica do interior para a capital; minha mãe veio com ele, e depois de um ano vim morar com os dois. Como todo morador de uma cidade do interior, apesar de não ser tão pequena, quando cheguei em São Paulo fiquei deslumbrado. Essa cidade é de uma imensidão magnífica, vemos pessoas de todos os tipos, gostos e aparências. Da mesma forma, há lugares muito diferentes, ora pensamos que estamos no interior do Estado, ora pensamos que juntaram todos os prédios possíveis e impossíveis e os colocaram em um único lugar. Quando nos aventuramos a sairmos de nossas casas até nossas escolas, cursos e afazeres diários, encontramos e vemos pessoas de todos os tipos: negros, brancos, pardos e amarelos; gordos e magros; altos e baixos. Gostam de rock ou samba; de skate ou de futebol. Vivemos e convivemos com tanta multiplicidade de pessoas e lugares que isso faz parte de nossas vidas. E é essa diversidade que embeleza mais nossa cidade e nosso dia-a-dia.
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Esta coluna é produzida por estudantes que integram o programa História de Vida, da Cidade Escola Aprendiz em parceria com o Instituto Ayrton Senna, Programa Cidadão 21 Comunicação, Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade de São Paulo
iquem de olho no balneá rio mexicano de Cancun, entre os dias 10 e 15 de setembro. Nesse paraíso tropical, vão se reunir ministros dos 146 países-membros da Organização Mundial do Comércio (OMC), para discutir acordos internacionais que pretendem derrubar as leis nacionais de defesa do meio ambiente. Uma das discussões principais da OMC será a abertura indiscriminada dos mercados nacionais de distribuição de água doce potável – justamente a água, que não pode ser encarada como mercadoria por que, junto com o ar, é o bem mais indispensável à vida. Para subsidiar esse verdadeiro ataque às fontes de água potável do planeta que ocorrerá na OMC, o Banco Mundial está, desde o início do ano, fazendo o mapa das reservas de água doce da América do Sul. O objetivo é saber onde são os pontos em que chega à superfície o Aqüífero Guarani, a maior reserva subterrânea de água existente, e suficiente para alimentar o planeta por 300 anos ou o Brasil por 2.500 anos. Os resultados dessa pesquisa vão subsidiar as discussões na OMC. O Guarani vai da Argentina a Minas Gerais, passando pelo Uruguai, Paraguai e, no Brasil, pelo Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. E, apesar de 71% da área do aqüífero se localizarem no Brasil, o Banco Mundial, com a aceitação da Agência Nacional de Águas (ANA), forçou a transferência da sede do projeto de mapeamento para Montevidéu, no Uruguai. O objetivo, denuncia a rede de organizações não governamentais Fórum Social da Água, é dificultar o acesso da sociedade organizada aos resultados da pesquisa. Na internet, procure em: www.defensoriadaagua.org.br www.ana.gov.br agosto/2003 · ViRAÇÃO
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SEXO e SAÚDE
CARMEN FRANCO – PSICÓLOGA E PEDAGOGA
conhecer o próprio corpo, seus limites e prazeres. Masturbar-se não causa nenhum problema, a não ser que se torne compulsivo e comece a interferir em outras atividades de sua vida (sair com amigos, cinema). Quanto ao seu namoro, os limites do corpo e do desejo dela devem ser respeitados. Cada um tem seu tempo de descobertas. O ideal seria uma conversa através de uma leitura. Para ela: Sou uma adolescente (ARX jovem, 2002). Para ele: Coisas que todo garoto deve saber sobre garotas (Melhoramentos, 2002)
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Existe lado correto de se colocar o preservativo? Daniel, 15 anos
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Qual as conseqüências de um aborto mal executado? Roberta, 17 anos Um aborto mal executado implica em infecções que podem levar à morte. Outra conseqüência é comprometer o futuro reprodutivo da garota (nunca mais ter filhos). Além das questões orgânicas envolvidas em um aborto, ele é ilegal em nosso país, só sendo autorizado em caso de risco de morte da mãe ou violência sexual. Em qualquer outro caso podem
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implicar em problemas legais tanto para o médico quanto para a paciente. Um aborto pode não deixar seqüelas físicas, porém, há conseqüências emocionais que podem ser ainda mais graves.
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A masturbação vai me causar algum problema, como verruga no dedo ou na parte genital? E como posso falar disso pra minha namorada? Adriano, 15 anos A masturbação faz parte de uma das descobertas da vida sexual do adolescente. É uma forma de
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Natália Forcat
A maioria dos preservativos realmente não trazem uma bula. No entanto, há alguns (de caixinha) que trazem o modo de usar e sua constituição. Sim, Daniel, existe um lado correto para se colocar o preservativo. E há outras precauções a serem seguidas: não cortar a embalagem com objetos pontiagudos (tesouras, facas e dentes); só abri-los na hora do uso. Colocá-lo no pênis assim que ocorrer a ereção apertando a ponta do preservativo para que não fique retido o ar e desdobrá-lo até a base do pênis. Esses cuidados previnem não só a gravidez como as doenças sexualmente transmissíveis. Sugiro a leitura de Sexo e cia, do dr. Jairo Bouer (Publifolha, 2002).
Se você tiver dúvidas sobre sexo e saúde, escreva para a Redação: Rua Comendador Elias Assi, 147 – Caxingui 05516-000 – São Paulo (SP) ou para o e-mail: sexo@revistaviracao.com.br
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plugue-se
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TODOS OS SONS
S
EVANIZE SYDOW
e você tem vontade de montar uma banda de rock, não pode deixar de conhecer a página Monte Sua Banda, no www.montesuabanda.com.br. Idealizado e mantido por Fábio Luís Matavelli da Silva, de 17 anos, há dez meses, o site é um canal importante para quem está à procura de músicos, por exemplo, além de ser um divulgador de instrumentistas que buscam um grupo onde tocar e apresentar o trabalho. Mas não é só isso. No endereço, os internautas têm acesso a entrevistas com figuras conhecidas do mundo do rock, como Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, e muita gente do cenário independente, caso de Nitrominds e Choldra. Mas se você já tem uma banda e quer divulgá-la, o Monte Sua Banda tem espaço para agenda dos grupos, fotos de eventos, divulgação de demos, uma relação de estúdios em todo o Brasil e escolas com cursos de bateria, guitarra, baixo, canto, entre outras modalidades, também em todo o Brasil. Fábio Luís, o criador da página, é de Santo André, grande São Paulo. O jovem conta que a idéia nasceu quando ele e uma amiga estavam montando uma banda e não encontravam baixista para participar dela. “No começo, o site era voltado para a busca de integrantes para os grupos”, diz. Hoje, o trabalho se expandiu e o Monte Sua Banda tornou-se uma referência para o cenário alternativo do rock. Cinco voluntários trabalham na atualização da página, inclusive colunistas que dão um panorama sobre as novidades da música. Vale a pena conferir!
Monte sua
banda
plugue-se~
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Uma dica para quem gosta de conhecer novas páginas na internet é “Ao Chiado Brasileiro”(www.geocities.com/ aochiadobrasileiro). O site traz informações sobre a história do Carnaval brasileiro desde o início e faz um passeio pelo mundo do samba, das marchinhas, além da biografia de compositores e intérpretes. Também é possível acessar histórias e letras de músicas como Linda lourinha, Ta-hi!, Se acaso você chegasse e Ó abre alas.
Divulgaç
ão
Ouvidos ligados E
stão chegando às prateleiras de mais de 25 países do mundo os CDs com os remixes da trilha sonora do filme Cidade de Deus. São dois discos com drum’n’bass, techno, house, breakbeat e grooves, variedade da música eletrônica. Estão nos CDs nomes como Patife, Mau Mau, DJ Dolores, Mad Zoo e Ramilson Maia. O lançamento é da ST2 Records.
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... Ação Social. Cada vez mais jovens de todo mundo estão se preocupando com as questões sociais. Uma prova disso são as crescentes manifestações e passeatas em vários países contra a globalização e a invasão do Iraque pela coalizão anglo-estadunidense. Márcio Baraldi
Palavras cruzadas
Os Sete erros
DESAFIf
Os Sete erros: Estrela inferior direita, unha da mão esquerda, ranhura na janela direita, orelha esquerda, sombra na maçaneta esquerda, colar e detalhe na parte superior da janela.
Envie seus desafios para desafio@revistaviracao.com.br
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RESPOSTAS
Colabore
NO ESCURINHO
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SÉRGIO RIZZO – crítico de cinema
O mundo de
Roxo
Simboliza fantasia, mistério, misticismo, espiritualidade e grandeza
Paulinho da Viola
Documentário mostra um carioca da gema que procura o que há de melhor na música brasileira Divulgação
O
nome do documentário é Paulinho da Viola – Meu Tempo é Hoje, mas bem poderia chamar-se Samba – O Filme. Poucas vezes o cinema nacional foi capaz, como aqui, de condensar a essência de uma manifestação cultural brasileira de um modo tão discreto e, ao mesmo tempo, emocionante. A “culpa”, digamos assim, é de seu personagem principal – um músico de aparência serena e conversa tranqüila, que passaria despercebido no meio de um grupo barulhento, mas autor de uma obra potente que fala ao coração imaginário do país. Na verdade, são dois os Paulinhos que o filme revela para o público. O primeiro é a figura pública, o compositor e intérprete nascido no bairro do Botafogo, no Rio de Janeiro, em 12 de novembro de 1942. Filho do músico César Faria, violinista do conjunto Época de Ouro, ele conviveu desde muito cedo com o mundo da música carioca. Pixinguinha e Jacob do Bandolim eram alguns dos que freqüentavam a casa da família para sessões de choro. Nos anos 60, Paulinho resolveu adotar a música como profissão. Estourou nos anos 70 e se mantém até hoje como um ícone da cultura popular brasileira. A diretora Izabel Jaguaribe promove no filme alguns encontros marcantes de Paulinho com a Velha Guarda da Portela, que exerceu sobre ele influência marcante, e com representantes das novas gerações, como Zeca Pagodinho, Marisa Monte e Marina Lima. O outro Paulinho revelado pelo filme é o cidadão reservado que só a
O compositor e seu cavaquinho: conversa tranqüila e muito samba no pé Paulinho, ainda jovem, com a rainha do samba, Clementina de Jesus
família e os amigos íntimos conhecem. Seu hobby, ficamos sabendo, é a marcenaria: tem uma oficina em casa e, segundo os filhos, ele se diverte durante viagens encontrando problemas para solucionar nos quartos dos hotéis. Um restaurador, portanto. Metáfora super feliz para definir esse músico extraordinário, cujo maior valor talvez seja o de costurar a tradição e a modernidade da música brasileira.
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Divulgação
t á na mão • Site: www.paulinhodaviola.com.br
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Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completou 13 anos em julho e, para comemorar essa data, foi lançada a campanha Mídia e Conselhos: uma aliança estratégica na prioridade absoluta aos direitos da criança e do adolescente. O objetivo é sensibilizar a sociedade para a defesa dos direitos previstos no ECA e divulgar os Conselhos Tutelares, que são órgãos que defendem a criança e o adolescente que tiver seus direitos desrespeitados. Para isso, foi desenvolvida a campanha publicitária Conselho
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Tutelar: todo mundo precisa conhecer, que está sendo veiculada na TV, no rádio e em jornais e revistas. A Vira tá nessa também. O projeto Mídia e Conselhos é desenvolvido pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi), Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) e pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos do Ministério da Justiça. Conta com o apoio da Petrobras e das agências da Andi: Oficina de Imagens (MG) e Cipó – Comunicação Interativa (BA).
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VIRAÇÃO SOCIAL R
• ANDI – Agência de Notícias dos Direitos da Infância Graziella Nunes Tel.: (61) 322-6508 E-mail: redeandi@andi.com.br • Conanda – Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente www.presidencia.gov.br/sedh • Secretaria Especial dos Direitos Humanos Marina Spínola Tel.: (61) 429-3498
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Identità Identificar Idealizar I d é i a s
Designers Associados
tel/fax.: (11) 3675.3645 identita@osite.com.br
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I m a g e m Imaginar I maginável
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IDENTIDADE VISUAL Logotipos & marcas Material de papelaria Relatórios anuais
DESIGN EDITORIAL Livros, jornais revistas Livros de arte coleções
PROMOCIONAL Folders, agendas Calendários Cartazes, malas diretas Anúncios
ASSESSORIA EDITORIAL & MARKETING ADRIANA BERGAMASCHI MARTA M. DE ALMEIDA
Ad. Pulm達o 20.5x26.5 1
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