Revista Viração - Edição 05 - Setembro/2003

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V iRAÇÃO

www.revistaviracao.com.br

Ano 1· Nº 5 · Setembro de 2003 · R$ 3,00

Mudança, atitude e ousadia jovem

Sa mbA

VOTO E CIDADANIA NA COLA DOS VEREADORES QUE NEM RONALDINHO A DUREZA NOS CLUBES DE FUTEBOL PROFISSIONAL E MAIS... CUIDADO COM A PÍLULA MAPA DA JUVENTUDE VIAGEM AO PIAUÍ

Mais que gênero musical e tipo de dança afro-brasileira, o samba é um estilo de vida

no Untitled-6

pé o ano inteiro 1

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Identità Identificar Idealizar I d é i a s

Designers Associados

tel/fax.: (11) 3675.3645 identita@osite.com.br

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I m a g e m Imaginar I maginável

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IDENTIDADE VISUAL Logotipos & marcas Material de papelaria Relatórios anuais

DESIGN EDITORIAL Livros, jornais revistas Livros de arte coleções

PROMOCIONAL Folders, agendas Calendários Cartazes, malas diretas Anúncios

ASSESSORIA EDITORIAL & MARKETING ADRIANA BERGAMASCHI MARTA M. DE ALMEIDA


Editorial

O NEGÓCIO É AJU DAR AJUD Desde que nasceu, a Vira vem mostrando em suas páginas o que os jovens têm feito dentro e fora das escolas, nas ruas e praças, no campo e na cidade, no centro e na periferia. Histórias de uma galera com ideais de vida, que nutre o sonho de um país mais justo, menos concentrado em sua renda, como está sendo debatido na seção Entre Aspas desta edição. Nesse sentido, abrimos nossas páginas para os alunos do colégio Emilie de Villeneuve, de São Paulo, que enviaram uma reportagem contando uma viagem de solidariedade junto ao povo do sertão do Piauí. Outra iniciativa que segue nessa mesma linha está registrada na seção Viração Social deste mês. Trata-se da campanha nacional Selo Escola Solidária, encampada pelo Faça Parte – Instituto Brasil Voluntário. Um lembrete: você também pode participar da produção da revista. É só enviar sugestões de reportagens e mesmo artigos, crônicas, poesias, dúvidas... Conte sua experiência, REVELE-SE!

Apoio

RG

Conselho Editorial Alcides Costa, Cecília Garcez, Ismar de Oliveira e Izabel Leão (Núcleo de Comunicação e Educação – ECA/USP), João Pedro Baresi, Mara Luquet, Marcus Fucks e Valdênia Paulino Conselho Editorial Jovem Daiane Nunes dos Santos, Edinalva Aprígio, Gabriel Souza de Freitas, Jacson dos Santos Rodrigues, Leonardo Eguía Cappucci, Rafael Bernardo Ferreira e Solange dos Santos Equipe Pedagógica Aparecida Jurado, Auro Lescher, Isabel Santos, Márcia Cunha e Vera Lion Diretor Paulo Pereira Lima Redação Ana Lucia Pires, Giovanna Modé, Juliana Rocha Barroso Colaboradores Carlos Tautz, Carmen Franco, Érica Dias, Evanize Sydow, Francisco Baraglia, Gabriela Goulart, Immaculada Lopez, Juliana Villas, Márcio Baraldi, Natália Forcat, Novaes, Ryan Verderio, Sérgio Rizzo, Severino Francisco e Susana Piñol Sarmiento Consultor de Marketing Thomas Steward Revisão Simone Pompeo Projeto Gráfico IDENTITÀ Adriana Toledo Bergamaschi Marta Mendonça de Almeida Fotolito Digital SANT’ANA Birô Impressão

COPYPRESS

Jornalista Responsável Paulo Pereira Lima – MTB 37.828 Divulgação

Equipe Viração

Administração

Benedito Olegário

VIRAÇÃO é publicada mensalmente em São Paulo (SP) pela Editora Alô Mundo (filial da Província dos Missionários Combonianos do Brasil), CNPJ (MF) 27.120.062/0019-12; Inscrição Estadual:115.279.034.118; Inscrição Municipal: 8.601.680-6. Atendimento ao leitor Rua Comendador Elias Assi, 147 05516-000 – São Paulo (SP) Caixa Postal 26046 – CEP 05513-970 Tel.: (11) 3722-4733 Fax: (11) 3721-7601 E-mail Redação e Assinatura redacao@revistaviracao.com.br assinatura@revistaviracao.com.br PREÇO DA ASSINATURA ANUAL Assinatura Nova R$ 35,00 Renovação R$ 30,00 De colaboração R$ 50,00 Exterior US$ 35,00

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MAPA da ○

mina

• CHARANGA 16 Conheça uma banda de percussão que faz um batuque alegre com instrumentos nada convencionais • PÍLULA DO BEM 18 A pílula anticoncepcional vem sendo usada para curar doenças

Foto: Paul Aresu / Keystock

• A TRIBO DO SAMBA 20 A Vira mostra o que os sambistas e pagodeiros não tiram da cabeça (nem do pé)

Atendimento à Galera

• MAPA DA JUVENTUDE 23 Pesquisa revela quem são, o que pensam e gostam os jovens paulistanos

CARTA: R. Comendador Elias Assi, 147 05516-000 – Caxingui São Paulo (SP)

• QUASE CRAQUES 24 O duro caminho de quem quer brilhar nos estádios de futebol

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TELEFONE: (11) 3722-4733

• GALERA REPÓRTER 26 A aventura de uma galera que deixou São Paulo para ajudar a população carente do Piauí • DE OLHO NELES 28 Estudantes da cidade de São Paulo não dão folga para os vereadores

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FAX: (11) 3721-7601

Ana Lucia Pires

Sempre na Vira 5 6 8 9 10 12 15 17 19

DIGA LÁ REVELE-SE TURMA DA VIRA QUE FIGURA ENTRE ASPAS VIRATUDO TESÃO SE VIRA MAIS IGUAL

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DE OLHO NO ECA ECONOMÊS APRENDIZES COLUNA VERDE SEXO E SAÚDE TODOS OS SONS DESAFIO NO ESCURINHO VIRAÇÃO SOCIAL

@ E-MAIL: redacao@revistaviracao.com.br

Participe ! 23 25 29 29 30 31 32 33 34

Crie um slogan para a revista com, no máximo, cinco palavras. As melhores frases serão publicadas na capa da revista com o nome do autor. Mande seu endereço postal ou eletrônico.

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Aguardamos sua participação!


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cho legal como vocês aproveitam certas matérias para incluir duplamente conscientização, como na matéria “Xadrez de Campo” (maio de 2003). Foi uma salada deliciosa, com esporte e lazer, educação, direitos e deveres da criança e do adolescente. Numa reportagem rápida, muito “pano pra manga” para ser (re)pensado. Bem legal! Renata Nascimento, Salvador (BA)

Mudança, atitude e ousadia jovem

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DIGA LÁ

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lá pessoal, sou Simone Barbosa Teixeira, assessora da Infância Missionária (IM). Gostaria de fazer novas amizades e trocar experiências com outros grupos da IM. Ficarei muito feliz. Podemos nos comunicar através de e-mail ou cartas. Taí meu endereço: Paróquia Natividade do Senhor Av. Antônio Buono, 62 – Vila Guarani 03382-000 – São Paulo (SP) E-mail: sibarbosaa@yahoo.com.br

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12 edições

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É MUITO FÁCIL FAZER OU RENOVAR A ASSINATURA DA SUA REVISTA SEM FRONTEIRAS

N

ós, adolescentes da Unidade 16 do Complexo Tatuapé da Febem, ficamos orgulhosos de terem nos escolhido entre tantos para participar dessa reportagem sobre aids e DST (julho de 2003). Tivemos a oportunidade de falar sobre doenças que antes não conhecíamos. O que gostamos mais nessa reportagem é que ela foi publicada em uma revista que se especializa em levar todo o tipo de informação às pessoas e que envolve os menores da Febem e de rua. Gostaríamos que esse trabalho se repetisse mais vezes. A. L. S. – Complexo Tatuapé – São Paulo (SP)

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FALA AÍ !

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Mande seus comentários sobre a Viração, dizendo o que achou de nossas reportagens e seções. Suas sugestões serão muito bem-vindas! Escreva para: Rua Comendador Elias Assi, 147 05516-000 – São Paulo (SP) Caixa Postal 26046 Tel.:(11) 3722-4733 – Fax:(11) 3721-7601 ou para o e-mail: redacao@revistaviracao.com.br Aguardamos sua participação!

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enho 16 anos, sou alegre e versátil. Gostaria de me corresponder com amigos de todo o Brasil. Marcelo Ramos Abreu Rua João Gomes Cardoso, 1925 32315-030 – Contagem (MG)

CUPOM DE ASSINATURA anual e renovação

OPS! Erramos Na edição de agosto, não colocamos duas informações importantes na reportagem de capa (Os manos do Hip Hop). A foto da página 22 é de Mila Petrillo. Ela fotografou um grafitti feito pelo Grupo DF Zulu, de Brasília.

Basta preencher e nos enviar o cupom que está no verso. Para o pagamento, escolha uma das seguintes opções: 1. CHEQUE NOMINAL e cruzado em favor de REVISTA VIRAÇÃO. 2. DEPÓSITO INSTANTÂNEO numa das agências dos seguintes bancos, em qualquer parte do Brasil: • BRADESCO – Ag. 3084-8 Taboão da Serra (SP) – C/c 103.230-5 em nome da Revista Viração IMPORTANTE: Envie-nos, por fax ou correio – junto com o cupom que está no verso, devidamente preenchido –, o comprovante (ou cópia) do seu depósito. 3. VALE POSTAL em favor de REVISTA VIRAÇÃO, pagável na Agência 72300-710 Taboão da Serra (SP). 4. Boleto Bancário (R$1,50 de taxa bancária) setembro/2003 · ViRAÇÃO

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Caixa Postal 26046 05513-970 – São Paulo (SP) Tel.: (11) 3722-4733 Fax: (11) 3721-7601

Loucos

! Valdecir Santos – Projeto Quixote

NOME _________________________________________________________________________________ SEXO ______ EST. CIVIL ________

ENDEREÇO ____________________________________________________________________________ BAIRRO ______________________ CEP __________________________________________ FONE (RES.) ___________________ FONE (COM.) ___________________________ CIDADE ______________________________ ESTADO _________DATA DE NASC. __________ E-MAIL ____________________________

Revista Viração

R$ 35,00 R$ 30,00 R$ 50,00 US$ 35,00

Assinatura nova Renovação De colaboração Exterior

Cheque nominal Depósito bancário no banco ___________________________________ em ____ / ____ / ____ Vale Postal Boleto Bancário

Assinatura nova Renovação De colaboração Exterior

PREÇO DA ASSINATURA

FORMA DE PAGAMENTO: TIPO DE ASSINATURA:

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REVELE-SE Você acha que somos loucos? Ouça o que vou lhe dizer Loucura pouca é bobagem E vou lhe mostrar o porquê

A vida não se baseia Em seus momentos de indecisão Se a cabeça não quer se achar Vai ouvir teu coração Não espere que amanhã “Vida” consiga colher Se ontem você se afastou E hoje foi incapaz de fazer

O medo não é o bastante Pra me fazer esquecer Do poder que tenho em mente E que preciso ainda conhecer

É assim que vivemos Num processo de evolução Nos alimentando do novo Revitalizando o coração

Não tenho muito a ensinar Serei uma eterna aprendiz Ainda acha que somos loucos? Louco é quem não quer ser feliz!!! Lílian Barroso Gentilini, Altinópolis (SP)

A metáfora do canteiro

A

sirene silenciou, as máquinas pararam, por um breve instante os olhos dos homens se voltaram para o terreno, logo em frente ao conglomerado de concreto. De repente, do solo rude onde apenas o mato se atrevia a crescer, flores começaram a brotar... Rosas, tulipas, margaridas, begônias, cravos, camélias, lírios, orquídeas e uma infinidade de outras espécies de flores. Distribuídas aleatoriamente, elas passaram a adornar o espaço do qual há muito o mato já havia se apossado. Aos poucos – mas em pouco tempo – elas formaram um imenso canteiro, cujo colorido chamou a atenção de toda a nação. A princípio estupefatos, os olhares dos homens que habitavam o porão do conglomerado logo se converteram em fascínio desacreditado, misto de medo e saudosismo. Medo das agruras que apenas o despertar de uma paixão carrega consigo, saudosismo de um tempo em que foram eles os apaixonados, cuja fama correu todo o País... De imediato, os homens que habitavam as torres do conglomerado não gostaram do que viram. A eles não agradava a idéia de abrir a janela e dar de cara com as flores. Se ao menos fossem como o mato, com o qual já estavam acostumados a lidar... Esse sim era um vizinho que não atrapalhava. Não dispunha do colorido das flores, não inspirava sensações além da indiferença, não chamava atenção (posto que, há muito, já era parte do cenário) e, principalmente, jamais despertara paixões. É; seria preciso agir antes que o colorido do canteiro refletisse noutros terrenos abandonados e inspirasse novas flores a brotar. E assim foi feito. Poucos dias depois, os homens que habitavam as torres deram a ordem ao capataz. Já prevendo o que lhes ia acontecer, as flores, espontaneamente, começaram a murchar e, tão repentinamente como surgiram, desapareceram. Gabriela Potti Cerqueira, São Bernardo do Campo (SP)

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Brasil ou Brazil? Brazil

Laranja

Aqui é o seu espaço

Onde vivemos? Qual o nosso lugar? Simboliza luz irradiante em todas De quem é essa pátria? as direções, esperança, idealismo e Quem é o dono de cá? originalidade Onde nós vivemos? Quem mesmo manda aqui? PARTICIPE! Será nosso presidente ou o FMI? Envie para a Viração contos, Não conseguimos trabalhar, poesias, músicas, desenhos, fotos, Nem as coisas conquistar, charges de sua autoria que publicaDesde o tempo da Independência remos aqui e no site. Não esqueça Não somos donos deste lugar. As pessoas pedem paz, honestidade e liberdade, de colocar nome, idade e endereço. Mas sempre o que temos é uma falta de igualdade. REVELE-SE! E a nossa democracia, onde será que está? Talvez esteja na mão dos poderosos que mandam cá. Poderosos que não são quem colocamos no poder, Poderosos que mandam sem mesmo conhecer, Conhecer nosso país, nossas vontades e costumes, Poderosos que simplesmente querem parecer ilustres. Por isso minha grande dúvida... Somos Brasil ou Brazil? Leonardo Eguía Cappucci, São Paulo (SP)

O Brasil em

meus versos

Minhas rimas são pequenas, Para descrever um país tão grande, Meus versos são requintes apenas, A equiparar com a beleza dos Andes Meu Brasil lírico e romântico, Onde as estrelas brilham mais, E as ondas marítimas do Atlântico Beijam o maciço dos ricos cais Meu Brasil, eu te amo e bendigo Eu te venero e te defendo Serás eternamente meu abrigo, Do teu amor, jamais me desprendo Glorifico a vastidão de seus campos, Personifico a beleza das cordilheiras Onde o pisca-pisca dos pirilampos, Até parecem constelações altaneiras Lucas Fernandes Silva Santos, São Paulo (SP)

Ilustração de Francisco Baraglia

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Márcio Baraldi

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QUE FIGURA

...

SEVERINO FRANCISCO

Noel Rosa

Azul

Simboliza verdade, paz, confiança, amor e fidelidade

Filósofo do samba R

eza a lenda que no Brasil tudo termina em samba. Em samba do crioulo doido, poderíamos acrescentar. Mas nas décadas de 30 e 40 quase tudo terminava em sambas inspirados. De uma simples caixinha de fósforos podia nascer um samba eterno. O carioca Noel de Medeiros Rosa, ou simplesmente Noel Rosa (19101937), autor de Conversa de Botequim, Fita Amarela, Silêncio de um Minuto, entre outros sambas, vem dessa época de ouro da música popular brasileira. Ele só viveu 26 anos, mas deixou uma obra genial. Se o espírito de uma cidade pode se encarnar em uma pessoa, o espírito do Rio de Janeiro, em sua expressão mais elevada, se encarnou na figura franzina de Noel Rosa, na forma de inteligência, inspiração, elegância, humor e ironia. A melhor biografia de um poeta são os seus versos. Vamos a eles. Noel nasceu de um parto de fórceps. Uma das conseqüências foi o queixo afundado, que lhe causou constrangimentos, mas virou samba: “Eu, nascendo pobre e feio, / Ia ser triste o meu fim / Mas, crescendo, a bossa veio / Deus teve pena de mim”. Alegre, inteligente, brincalhão, gozador, Noel estuda no Colégio São Bento e apronta com um professor surdo, Mário Barreto. Logo na primeira aula, ele pergunta, provocando uma explosão de gargalhadas na turma: “Professor, posso mijar no seu bolso?” – “Pode ir, mas rápido”.

Tudo muda quando a música entra na vida de Noel. Ele é um autodidata, aprende música ouvindo seresteiros, freqüentando saraus caseiros, experimentando métodos de violão. Abandona o curso de medicina para se dedicar à boêmia e ao samba. Noel é uma espécie de filósofo de botequim do samba, sempre buscando um ângulo original, uma mirada surpreendente: “Quando eu morrer / Não quero choro e nem vela / Quero uma fita amarela / Gravada com o nome dela / Se existe alma, se há outra encarnação / Eu queria que a mulata sapateasse no meu caixão”. Branco, ilustrado, elegante, civilizado, moderno repeliu os clichês do samba. O samba não é do morro nem da cidade. “O samba nasce no coração”, diz no samba Feitio de Oração. Em uma célebre polêmica musical com o grande sambista negro Wilson Batista, que fez a apologia do malandro de tamanco, terno branco e navalha, Noel responde: “Deixa de arrastar o teu tamanco / Pois tamanco nunca foi sandália / Tira do pescoço o lenço branco / Joga fora esta navalha / Que te atrapalha / Da polícia quero que

escapes / Fazendo samba canção / Pegue papel e lápis / Arranje um amor e um violão / Malandro é palavra derrotista / Que só serve para tirar todo valor do sambista / Proponho ao povo civilizado / Não chamar de malandro e sim de rapaz folgado”. Bem, acabou o espaço. Fiquemos, pois, agora, com esses versos do conhecido samba Cordiais Saudações, de Noel Rosa: “Saudações ao meu vizinho / Abraços no cachorrinho / Um chute na empregada / Porque já se acabou o meu carinho”.

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” “ Sonhando ENTRE ASPAS

ALTO E você, qual o seu ideal?

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odo mundo tem um sonho, algo que deseja muito para si, para família ou até para a humanidade inteira. É o que costumamos chamar de “ideal”, que pode mudar de pessoa para pessoa, ou de geração para geração. Por exemplo, se você tivesse a idade que tem hoje no final da década de 60, provavelmente estaria correndo atrás da liberdade, pois naquela época o regime militar proibia a população, principalmente os jovens, de se manifestar na rua, de votar e dar sugestões ou criticar o próprio governo. Tudo era proibido. Em termos de ideais, o pacifista indiano Mahatma Gandhi também pode ser considerado exemplo. Ele lutou a vida inteira por um ideal: libertar seu país, a Índia, da dominação inglesa sem precisar matar ou ferir ninguém. Susana Piñol Sarmiento

Gabriela Goulart

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Meu ideal é me formar em Administração, trabalhar na área. E, se tiver condições, fazer uma pós-graduação. Constituir família, ter uma vida estável e saber aproveitá-la muito bem. MARCELO SANCHES 18 anos

Na maioria das vezes, o jovem não tem livre arbítrio para escolher o que quer, pois como os pais são protetores, eles é que escolhem o que querem. Mesmo que os pais queiram o melhor, às vezes acabam prejudicando os filhos porque todo mundo tem o direito de escolher. Mesmo com proibições, com decepções, temos nossos ideais e lutamos para que eles sejam realizados. O meu ideal é terminar o ensino médio e cursar comunicação. Embora minha mãe queira que eu seja doutora, quero ser uma grande jornalista, para estar sempre bem atualizada e perto das grandes aventuras. ANA PAULA DA CONCEIÇÃO 17 anos

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LUCAS NOGUEIRA 18 anos Susana Piñol Sarmiento

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Experimentar com as situações humanas. É interessante perceber as reações quando fazemos aquilo que não se espera, aquilo que não nós é programado para ver, ler ou escutar. Ser violento na hora de ser carinhoso, enfim, chocar as pessoas sendo sincero.

Gabriela Goulart

Que as pessoas deixem de ser tão egoístas. O maior problema da humanidade é que o homem é um bicho centrado em si, nada mais. A raiz de todos os males é que NINGUÉM está interessado em um bem comum. Está todo mundo muito mais interessado em garantir o SEU, da maneira que for, passando por cima de quem for. Espero que isso aconteça antes do próximo milênio. DANDARA PALANKOF 18 anos

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Uma sociedade mais justa, honesta, realista, com igualdade social, incentivo à cultura e um governo dedicado ao povo. Esse é o meu ideal: que as pessoas não sejam tão egoístas e mesquinhas, que se preocupem com o próximo, com um país livre e não alienado. Pessoas que votem com consciência e não troquem o seu direito de cidadão por um saco de arroz. Que o governo consiga acabar com a miséria física e intelectual da população.

Gabriela Goulart

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Susana Piñol Sarmiento

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JANAÍNA VALADARES 17 anos

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O ideal seria não ter violência, que as pessoas se conscientizem mais sobre a vida. Por exemplo, se pessoa tem tudo, o carinho de sua família, educação e cai no mundo das drogas, ela está se matando. Você tem que mudar a sociedade para ter algum ideal de vida. Principalmente agora com a alta taxa de desemprego e, conseqüentemente, a violência. Se continuar assim você acaba sem ideal, sem perspectiva. PEDRO LUÍS NATALI 18 anos

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VIRATUDO R

Vermelho

Simboliza a cor da emoção, energia, coragem, dinamismo, ação e alegria comunicativa

“O homem está sempre disposto a negar aquilo que não compreende.”

“Muito dinheiro e pouca educação é a pior combinação.”

“A amizade é haver uma alma em dois corpos.”

Luigi Pirandello, escritor italiano

Valentín Moragas Roger, escritor e jornalista espanhol

Aristóteles, filósofo grego

Piada de gringo

Dica de Livro

Mangá em alta

Márcio Baraldi

Quem gosta ou já teve contato alguma vez com os quadrinhos ou a animação japonesa (como os desenhos Dragon Ball Z, Cavaleiros do Zodíaco, Pokemon) já deve ter se perguntado por que os japoneses desenham personagens com olhos tão grandes. A “culpa” é de OsamuTezuka, considerado o deus do Mangá (histórias em quadrinhos japonesas), que teve sua biografia lançada há poucos meses pela editora Conrad. Criador de sucessos como Astro Boy, Tezuka é responsável pela atual característica dos quadriDivulgação nhos japoneses modernos. Foi ele quem começou a desenhar bonecos com os olhos enormes para mostrar melhor o que os personagens estavam sentindo. O autor também se inspirou em filmes franceses e alemães e começou a utilizar ângulos cinematográficos em suas histórias, garantindo a impressão de movimento. As histórias de Osamu Tezuka começaram a ficar populares em 1950 e hoje são lidas em diversas partes do mundo. No Brasil, um dos admiradores do desenhista japonês é o cartunista Maurício de Souza, criador da Turma da Mônica. – Uma Biografia Mangá-Osamu Tezuka. O Nascimento do Osamuchi (1928-1945), deTezuka Productions eToshio Ban, Conrad Editora, preço: R$ 34,00. Informações pelo telefone (11) 3346-6088 – ramal 172.

Uma espécie de brincadeira está acontecendo em algumas cidades do mundo. É a flash mob (mobilização rápida), evento maluco organizado por e-mail. Os destinatários são convidados para irem a um determinado lugar, numa certa hora e recebem instruções sobre como participar de cada situação. A primeira aconteceu em Roma, em julho, quando uma multidão se reuniu numa livraria, enchendo os funcionários de perguntas sobre uma obra que não existia. Em Nova Iorque (Estados Unidos) cerca de 300 pessoas se reuniram em frente a uma loja de brinquedos para olhar um dinossauro gigante que ruge ameaçadoramente para os clientes. Elas pareciam hipnotizadas pelo bicho, mas depois caíram no chão, gritando e agitando os braços. Enquanto os funcionários chamavam a segurança, o grupo se dispersou com a mesma rapidez com que se reuniu. No Brasil, a moda já pegou. Eventos aconteceram em São Paulo, em agosto.

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Leon Tolstoi, escritor russo

“Se não queres que ninguém saiba, não o faças.”

Internet camarada

Provérbio chinês

Navegar na rede mundial de computadores melhora o desempenho das crianças na escola e não tende a prejudicar as relações sociais. É isso que aponta o estudo HomeNetToo divulgado na semana passada pela Universidade do Estado de Michigan, nos Estados Unidos. Os pesquisadores constataram que as crianças que passaram mais tempo na internet no período de um ano tiveram melhor desempenho na escola dos que os que navegaram menos. “Tudo indica que as páginas com muito texto fazem com que as crianças adquiram o hábito de ler mais, melhorando a interpretação e resultando em melhores notas na escola”, disse, em nota oficial, Linda Jackson, professora de psicologia e principal investigadora do HomeNetToo.

Dica de site – Vai trabalhar

Como todo passarinho, o curió viaja pelo mundo e vê coisas interessantes. Ele não fica de bico fechado. Sai logo por aí contando tudo para gente, que não teve a sorte de nascer com asas.

• AS SETE MARAVILHAS DO MUNDO são: A Grande Pirâmide de Keops; O Colosso de Rodes; O Farol de Alexandria; O Túmulo do Rei Mausolo; Os Jardins Suspensos da Babilônia; A Estátua de Júpiter em Olímpia e O Templo de Diana em Éfeso. • A única construção feita pelo homem, que pode ser vista do espaço, é a GRANDE MURALHA DA CHINA. Mas, o contrário do que muitos pensam, ela não faz parte das Sete Maravilhas do Mundo.

Origem de DNA! palavras e expressões VÁ PLANTAR BATATAS A expressão surgiu em Portugal, na segunda metade do século XIX. Na época, quem trabalhava em fábricas tinha prestígio e era considerado moderno e digno. Já quem trabalhava na agricultura era considerado um trabalhador braçal, gente desqualificada. Assim, mandar alguém plantar batatas significava remeter o ofendido ao campo para cuidar de tarefas rudimentares.

HAMBÚRGUER Do inglês Hamburger, bife preparado como em Hamburgo, cidade alemã famosa pelos pratos de carne e de salsichas de carne moída.

Márcio Baraldi

A internet pode ajudar você a conseguir um estágio. O site do Centro de Integração Escola Empresa (CIEE) divulga vagas disponíveis em todo o Brasil para estudantes do ensino médio, técnico e superior. Para acessar essas oportunidades, o estudante precisa se cadastrar no site, registrar o curso que freqüenta, em que ano está e a área que quer traDivulgação balhar. Sempre que houver uma vaga com o seu perfil, o CIEE manda um e-mail avisando. O serviço é gratuito: www.ciee.org.br

Curió

Na língua tupi guarani significa ”Amigo do Homem”

Érica Dias

“Se um coração é grande, nenhuma ingratidão o fecha, nenhuma indiferença o cansa.”

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VIRATUDO R Bola pra frente

Abrinq em festa

Divulgação

O Programa Nossas Crianças, da Fundação Abrinq, completou 10 anos de existência em setembro. Para comemorar a data, foi realizado um evento no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo, com a presença de mais de cem organizações sociais, crianças e adolescentes. A Vira também estava lá e participou dessa festa. Criado em junho de 1993, o Programa Nossas Crianças tem o objetivo de estabelecer uma ponte entre pessoas interessadas em colaborar financeiramente para melhorar a situação da criança no país e das organizações que trabalham por essas mudanças mas não dispõem de dinheiro. O programa é um sucesso e nesses 10 anos já mobilizou 12 milhões de dólares, beneficiando mais de 38 mil crianças e adolescentes.

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De braços bem abertos Well I just heard the news today bem, acabei de ouvir as notícias de hoje It seems my life is going to change parece que minha vida vai mudar I closed my eyes, begin to pray fechei meus olhos, comecei a rezar Then tears of joy stream down my face e lágrimas de felicidade desceram rosto abaixo

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A Febem (Fundação Estadual do Bem Estar do Menor) do Estado de São Paulo e o Ministério do Esporte e Turismo retomaram o proão jeto Pintando a aç lg u v Liberdade. Nessa Di iniciativa, internos trabalham na confecção de bolas oficiais de campo, futebol de salão e vôlei. A fábrica funcionará dentro do Complexo doTatuapé, na cidade de São Paulo. Cerca de 20 garotos foram selecionados e receberão uma bolsa educativa que pode ser de 50 ou 100 reais, dependendo da quantidade de horas trabalhadas. Outros 300 garotos participarão das oficinas de costura e receberão uma bolsa educativa de 2 reais por bola produzida. Além da ajuda financeira, os garotos poderão ganhar responsabilidade e experiência antes de voltar à liberdade.

With arms wide open (Creed)

With arms wide open de braços bem abertos Under the sunlight sob o sol Welcome to this place bem-vindo à esse lugar I’ll show you everything vou te mostrar tudo With arms wide open de braços bem abertos Well I don’t know if I’m ready bom, eu não sei se estou preparado To be the man I have to be pra ser o homem que tenho de ser I’ll take a breath, I’ll take her by my side ou respirar fundo, trazê-la pro meu lado We stand in awe, we’ve created life paralisados pelo deslumbramento, acabamos de criar vida With arms wide open de braços bem abertos Under the sunlight sob o sol Welcome to this place bem-vindo à esse lugar I’ll show you everything vou te mostrar tudo With arms wide open de braços bem abertos Now everything has changed agora tudo mudou I’ll show you love vou te mostrar o amor I’ll show you everything vou te mostrar tudo If I had just one wish se eu tivesse apenas um desejo Only one demand apenas um pedido I hope he’s not like me eu torceria pra ele não ser igual a mim I hope he understands espero que ele compreenda That he can take this life que ele possa abraçar essa vida And hold it by the hand e segurá-la pela mão And he can greet the world e que ele possa saudar o mundo With arms wide open... de braços bem abertos...

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Rayssa Coe

TESÃO

!

RAQUEL BARROS tem paixão pelo que pensa e faz

Vermelho alaranjado Simboliza o desejo, a paixão

Papo de

psicologia IMMACULADA LOPEZ

“Q

uando adolescente, comecei a perceber a existência de outros caminhos e verdades além daquelas oferecidas pela minha família e apostei na Psicologia para buscar novos mundos e respostas.” Cheia de inquietações, Raquel Barros começou o curso de Psicologia na Universidade de São Paulo (USP), em 1984. Nem imaginava que, anos depois, voltaria à cidade onde nasceu, Sorocaba, no interior paulista, para fundar a Associação Lua Nova. Com uma proposta inovadora, a entidade acolhe mães adolescentes usuárias de drogas e seus filhos. Busca construir novas alternativas de vida para ambos, sem separá-los. Raquel começou a participar de discussões e projetos de inclusão social ainda na faculdade. “Sabia que não queria ficar presa a um consultório e, aos poucos, o curso foi me abrindo novos horizontes”, lembra. Tentou aproveitar ao máximo o contato com os outros alunos e

conseguiu um estágio na Comunidade Villa Renata, em Veneza, e fez as malas. “Lá, pude participar de uma equipe integrada que valoriza o vínculo com o paciente. Aprendi que um tratamento efetivo deve ser comunitário, baseado na colaboração, confiança, auto-responsabilização e reinserção social”, conta Raquel. No final do estágio, a psicóloga foi convidada a participar de um projeto pioneiro para mães usuárias de drogas e seus filhos. Claro que ela aceitou e acabou ficando mais sete anos por lá. Chegou então a hora de voltar para o Brasil e ajudar a transformar a nossa realidade. Foi assim que, em agosto de 2000, nasceu a Associação Lua Nova. “Na verdade, a minha busca interior não tem fim, mas hoje, ao oferecer às mães a possibilidade de resgatar sua identidade e dignidade, recebo delas a energia para continuar adiante. É como se a Lua Nova fosse minha filha, minha mãe. É o espaço de realização do que acredito e quero para esse mundo.”

professores. E, no terceiro ano, deu seu primeiro passo na área de pesquisa: conseguiu uma bolsa de iniciação científica para investigar o uso de maconha entre jovens. “Descobri uma realidade complexa, rica de afetos e comportamentos, e comecei a acreditar que poderia ser uma área de grande desenvolvimento pessoal e profissional.” Logo, Raquel batalhou um estágio em uma entidade social para trabalhar em contato direto com o usuário de drogas. A partir daí, ampliou sua experiência, atuando em diferentes projetos de formação de profissionais, prevenção e tratamento. Com uma vivência mais madura da sua profissão, ela sentiu necessidade de conhecer propostas de tratamento mais ousadas. De olho na experiência • Associação Lua Nova italiana das www.uol.com.br/aprendiz/designsocial/luanova comunidades terapêuticas,

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Batucada

jovem Arquivo Charanga

Jovens de uma orquesta de percursăo aprendem mais sobre a cultura tradicional brasileira, como o maracatu, a ciranda e o coco SUSANA PIÑOL SARMIENTO

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ma batucada contagiante que faz pensar na magia do grupo Olodum, de Salvador. Mas não é. Estamos na periferia de São Paulo, acompanhando os ensaios dos meninos do projeto Charanga – Orquestra de Percussão e Dança. Iniciado em fevereiro de 2002, o projeto formou uma orquestra de percussão que faz uma batucada alegre e contagiante misturando instrumentos 100% brasileiros com rap, axé e samba-rock. O Charanga é fruto de uma dobradinha entre a Associação

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Comunitária Despertar, do Jardim Vilas Boas, e o músico e dançarino Maurício Alves. Mais conhecido como Badé, ele é percussionista da banda pernambucana Mestre Ambrósio. Atende crianças e jovens de 8 a 22 anos na própria comunidade e em bairros vizinhos, como Jardim Miriam e Cidade Ademar – conhecidos pelos altos índices de violência. “Antes, não fazia nada, só

jogava futebol”, conta Paulo César dos Santos, de 15 anos, uma das figuras do Charanga. Não conseguindo emplacar no mundo do futebol por falta de patrocínio, optou pela música.Toca surdo. “Como já toco numa banda de samba, fui aprender a parte teórica no Charanga, já que lá fora está difícil de encontrar esse ritmo de percussão para o samba.” Para a diretora da associação, Nanci Marques Pereira, o projeto deu um novo alento aos jovens porque “é pura música, é só alegria. E música faz bem pra alma”. A maioria dos jovens e seus familiares notaram as mudanças tanto de comportamento quanto de atitude depois de participar desse projeto musical. Os resultados surpreendem também Elisabeth Santos da Cruz, de 17 anos, que toca sabaná. “Eu não curtia tanto o Olodum, achava que era coisa de macumba, mas agora adoro esse tipo de percussão. O pessoal de casa acha esquisito quando escutam minhas músicas, mas digo a eles que, um dia, vão aprender a gostar disso”, afirma.

Instrumento criado pelo músico Badé, uma espécie de sabá “abrasileirado”. Típico do Senegal, na África, o sabá é feito de resina, com barbante, armação de cuíca e corda de pele sintética

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SE VIRA

GENTE DO BEM A

As faces do MARKETING 2

lém do Charanga, a Associação Comunitária Despertar desenvolve outros projetos sociais, como Construindo a Cidadania, voltado às

mulheres da comunidade para obtenção de renda e aprendizado. Outro é o Mão do Futuro, que consiste em oficinas que ensinam mulheres a fazer tricô, crochê, bordados e outros trabalhos artesanais. Além desses, há o

THOMAS STEWARD

projeto Ateliê Alta Costura, Tecendo o Amanhã e Acreditando em Você-

C

Micro Crédito. A associação foi fundada em abril de 1994 e é presidida por Milu Villela, presidente do Museu de Arte Moderna de São Paulo, do Instituto Itaú Cultural e Faça Parte – Instituto Brasil Voluntário. Com a função de atender o jovem e suas família, oferece cursos profissionalizantes, como digitação, cabeleireiro e manicure, eletricista e jardinagem. A cada ano, a entidade atende cerca de 292 adolescentes e conta com 31 profissionais e 9 voluntários para atender a demanda de uma das regiões mais carentes de São Paulo. Para levar adiante esse trabalho, conta com convênios com a Prefeitura de São Paulo, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e os Banco Itaú, Banco Fator e outras instituições.

O projeto, que conta com 30 Além das aulas práticas e teóricas integrantes, também será bom de de percussão, ajuda os meninos a dança e pretende alargar para 60 criar e afinar os próprios o número de tocadores e dançarinos. instrumentos.Também ensina ritmos “A gente trabalha com o sambamusicais novos, como o sambareggae, o maracatu, o coco e a reggae maracatu. O percussionista ciranda, que pedem acompanhamenpernambucano veio para São Paulo to de dança. Junto com o grupo de em 1996 para divulgar sua bagagem percussão não poderia deixar de cultural “aos excluídos de ter um povo se balançaninformação e educação”, como do. Por isso, pretendecostuma dizer. mos formar um grupo de dança. Por enquanto estamos só na percussão, uma coisa de cada vez”, ressalta Badé. Ele não sente dificul• Para conhecer um pouco mais do dades em trabalhar na repertório nordestino acesse os sites: periferia já que passou www.maracatunacaopernambuco.com.br por uma infância bem www.nordesteweb.com.br agitada nas comunidades de Recife, a capital pernambucana. Desde pequeno, conheceu as danças tradicionais e os batuques da cultura nordestina. “Fiz de tudo. • Associação Comunitária Despertar Minha infância foi muito Rua Antonio Machado Sobrinho, s/ n.º boa, graças aos incenti04416-070 São Paulo (SP) vos de meus pais para Tel./Fax: (11) 5621-0901 sempre participar das Site: www.despertar.org.br atividades da comunidaE-mail: asscomdespertar@uol.com.br de”, lembra Badé.

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tá na mão

plugue-se

ontinuando nosso passeio pelas ferramentas utilizadas em Marketing, temos ainda: Marketing de varejo é aquele que cuida dos produtos que estão nas gôndolas dos supermercados, que são gerenciados por categorias como: achocolatados, higiene pessoal, carnes, hortifrutis, vestuário, entre outros. Todas essas categorias que estão distribuídas de forma estratégica dentro das lojas e suas promoções e propagandas são feitas de acordo com a necessidade de giro de cada mercadoria; Marketing de guerra é aquele que utiliza técnicas de ataques regionais para, por exemplo, um produto com pouca força em determinada região. Usa de táticas de vendas e distribuição para ocupar o espaço de seu concorrente nas lojas. Normalmente é através de avaliações de oportunidades momentâneas que acontecem essas ações; Marketing de incentivo utiliza ações de incentivo para alavancar vendas e melhorar o rendimento das equipes envolvidas nos processos de fabricação, administração, vendas, etc. Essas ações normalmente estão ligadas a eventos ou promoções. Temos ainda atividades que integram departamentos de uma mesma empresa, realizadas pelo departamento de Recursos Humanos ou de Marketing e que podem ser chamadas de endomarketing; Marketing do 3º Setor, como o nome já diz, atua com responsabilidade cultural, ambiental e social, fazendo com que a empresa passe a ter algum tipo de relação com a sociedade onde atua; Trade marketing trabalha promovendo a ligação entre pesquisas, promoções, eventos, produção, finanças e logística, de maneira a facilitar toda a operação, monitorar e tornar possível seu lucro. De acordo com a necessidade, utilizase determinada ação para melhorar o desempenho de vendas e a formação da marca perante os consumidores. Até a próxima.

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Thomas Steward é consultor setembro/2003 · ViRAÇÃO de marketing da Vira viracao5.pmd

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O outro lado Adolescentes usam pílulas para regularizar o ciclo menstrual, controlar as cólicas e exterminar as famosas espinhas

da pílula

SUSANA PIÑOL SARMIENTO

As pequenas bolinhas não estão sendo usadas apenas como método anticoncepcional, mas também para prevenir problemas como ovário policístico, espinhas, ontas amareladas no rosto, cólicas e náuseas. As ciclo menstrual desregulado e cólicas. meninas sabem o que é passar por essas chateaAtualmente, a menarca (primeira menstruação) está ções todo mês. A cada ciclo menstrual, a mesma chegando cada vez mais cedo, por volta dos 12 anos, choradeira. Mas aí cada uma tem um devido à alimentação e ao borbulho dos hormônios. remédio para as dores: um chazinho, Calcula-se que a cada dez anos se uma bolsa de água quente ou até antecipe em seis meses a pílulas anticoncepcionais. menstruação das Pílulas, sim. mocinhas. O psiquiatra Aumento dos ovários Jairo Bouer confirma a precocidade da caracterizado pelo aumento menarca e o uso de de hormônios masculinos, anticoncepcionais, irregularidades no ciclo menstrual e não vê a pílula como um grande problema para a saúde das meninas, desde que elas sejam orientadas pelos seus médicos. As garotas podem até usar anticoncepcionais mais modernos (como doses mais baixas de hormônio). “Minha primeira menstruação foi aos 13 anos. Aos 16, fiquei seis meses sem menstruar. Achei aquilo maravilhoso. Sem cólicas, sem a chateação da menstruação. Mas não era normal. Então, decidi procurar a ginecologista para ver o que estava acontecendo”, conta Ana Paula Navas, de 19 anos, estudante de enfermagem. Através de um ultrasom, ela descobriu que tinha um cisto de 6 centímetros. “Eu precisava até operar, mas comecei o tratamento com a pílula. Engordei seis quilos e foi eficaz. O cisto desapareceu.” Depois de alguns anos, ela passou a tomar uma pílula mais fraca. E depois outra, pois tinha o ciclo desregulado e muita cólica. O que aconteceu com Ana Paula é normal na adolescência, mas o uso de anticoncepcional é indicado após dois anos de menstruação, já que a menina ainda está

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NO BRASIL

e no mundo

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ados do Comitê Científico do Centro Latino-americano de Saúde

Bate-papo sobre igualdade étnica e racial

e Mulher (Celsam) mostram que o Brasil está em terceiro lugar no

consumo de pílulas na América Latina. Fica atrás apenas do Uruguai

Orgulho indígena

(21,8%) e Chile (19%). Segundo pesquisa Adolescência e anticoncepção – conhecimento e uso, realizada com adolescentes de 10 a 19 anos na região sul da cidade de

PAULO PEREIRA LIMA

São Paulo, 68,7% das 387 adolescentes entrevistadas conheciam algum tipo de método anticoncepcional, mas no grupo com vida sexual ativa apenas 49,1% usavam algum método anticoncepcional sendo que 43,4% tomavam pílula e 54,8% já tinham tido pelo menos uma gravidez. O estudo foi feito por Néia Schor, professora da Faculdade de Saúde Pública, da Universidade de São Paulo.

Principal hormônio que carrega as características masculinas

e obstetra do Hospital das Clínicas de São Paulo. As garotas que passam por esse problema também podem apresentar espinhas no rosto e em outras partes do corpo. “É comum meninas terem ovários micropoliscítico, algumas vezes acompanhado de aumento da taxa de hormônios masculinos (testosterona) resultando em aumento da oleosidade da pele e dos cabelos. Como os anticoncepcionais deixam os ovários em repouso, a pele melhora com diminuição da acne”, explica a dermatologista do Hospital das Clínicas de São Paulo, Ana Paula Gomes Meski. Mas nesse caso há também outros tipos de tratamento. Dependendo do grau da acne, os métodos podem variar de antibióticos até um remédio forte. O médico indica o melhor método para cada caso. É bom lembrar que a combinação de pílula e cigarro jamais deve ser feita, pois aumenta o risco de problemas vasculares como, por exemplo, a trombose.

em processo de formação do seu ciclo e a irregularidade dos sangramentos é comum nessa fase. A estudante Kandyce Sganzula, de 17 anos, também viveu uma experiência parecida. Ela começou a tomar anticoncepcional aos 15 anos, devido a cistos nos dois ovários, um em seguida do outro. “Da primeira vez, tomei anticoncepcional durante um ano e emagreci. Depois, fiquei durante um mês sem tomar nada.” Para curar o segundo cisto, Kandyce voltou a tomar pílula e até agora já engordou 4 quilos. Por enquanto, seu problema está sendo resolvido, já que o primeiro cisto desapareceu. “Estou acompanhando o outro junto com a ginecologista. Não consegui mais voltar ao meu peso normal, mas tudo por uma causa nobre.” “Quando a paciente apresenta um quadro típico de síndrome dos ovários policísticos, com ovários aumentados, menstruação Doença causada por uma bolha a cada três meses e aumento de pêlos, principalmente, no de sangue mais grosso rosto, é necessário tratar que pode entupir uma veia, com hormônio. Nesses causar lesões no organismo casos, recomenda-se o uso e até mesmo matar de anticoncepcionais”, esclarece Mara Solange Carvalho Diegoli, ginecologista

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Cuidado com a língua é bom, sobretudo quando temos de falar sobre os povos que foram os primeiros a habitar esse Brasil plural. Ao pronunciar a palavra “índio”, poucos percebem, mas estão repetindo o mesmo erro em que caiu Pedro Álvares Cabral e outros invasores portugueses e espanhóis, há mais de 500 anos. Eles acreditaram estar chegando nas Índias. Estamos não só entrando numa furada, mas também reduzindo uma infinidade de povos e culturas a uma categoria sem identidade. É, como disse Lourenço, do povo Ewororo, “reduzir a gente a uma coisa”. De uma só vez destruímos nome, história e passado, da mesma forma como se fez com as populações de origem africana, que se tornaram simplesmente negros. Quando foi invadida, viviam nessa terra, que ainda não se chamava Brasil, cerca de 6 milhões de pessoas. Hoje, depois de intensos massacres a ferro e fogo e doenças, a população indígena soma pouco mais de 700 mil pessoas. Elas vivem em quase todo o território nacional, em aldeias e periferias de cidades. São cerca de 235 povos, com tradições, línguas, crenças, formas de viver e pensar diferentes. Podemos olhar para eles e descobrir aspectos de sua cultura que servem de lição para nós. Podemos também apoiá-los na luta pela defesa de suas terras. Segundo Egon Heck, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), seria melhor chamá-los de indígenas ou, de preferência, pelo nome do grupo. Mas jamais usar a expressão “índio brasileiro”, conceito colonialista que precisa ser banido de nosso vocabulário e da nossa cultura. Indígena é nosso hábito de comer feijão todos os dias, juntamente com a farinha de mandioca. Poucos sabem que nosso gosto pelo churrasco tem raiz indígena. Os povos indígenas foram os primeiros a cultivar a abóbora, o tomate, a batata, a batata doce e muitas frutas, como o abacate, o caju, a goiaba, a jabuticaba, o abacaxi e o cacau. O famoso chimarrão do sul foi inventado pelos Guarani. setembro/2003 · ViRAÇÃO

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Brasil de todas as tribos

Eles vivem de

A galera cai na roda o ano todo. Mais que gęnero musical e tipo de dança afro-brasileira, o samba é um estilo de vida

Samba

símbolo do Brasil, no século 17 o ritmo foi alvo de muito preconceito. Foi discriminado pela alta sociedade porque odo brasileiro já dançou samba pelo menos uma era visto como coisa de negros escravos e pobres. vez na vida. O ritmo musical mais famoso do Brasil Na verdade, o samba é realmente uma das grandes pode não tocar nas rádios, ser visto como fora-deheranças dos africanos. Em determinados momentos da moda ou brega por muita gente, mas existe uma galera história, as festas de rua serviam também para protestar que gosta, ouve e dança samba não só no Carnaval, mas contra a situação dos negros no País. O primeiro carnaval em todos os dias do ano. Alguns gostam só de samba de em São Paulo do qual se tem notícia foi organizado em raiz, samba-enredo e canções mais antigas, escritas por 1857. Negros e brancos, juntos, festejaram e saíram Cartola e Noel Rosa. Outros preferem grupos e dançando pelas ruas do centro, cantores de pagode e as músicas que pedindo o fim da escravidão. falam de amor nas rádios e venO samba que a gente dem milhões de discos. conhece hoje nasceu do O compositor carioca Agenor de Oliveira Não importa. Cada um com batuque africano, da ganhou este apelido porque trabalhava seu estilo, todos se encontram mistura de ritmos como pedreiro e usava um chapéu para na mesma tribo. como o maxixe, Se hoje o samba é conhecido o lundu e a impedir que o cimento sujasse sua cabeça no mundo todo e já se tornou um umbigada com Texto JULIANA VILAS e Fotos CAROL MINÊM

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elementos da música européia. Foi só nos anos 20, porém, que saiu do gueto e se tornou popular. Tudo por causa do carioca Noel de Medeiros Rosa, ou Noel Rosa, considerado o grande responsável pela popularização do ritmo. (Leia mais no Que Figura..., pág. 9).

Os meninos do D+Prazer e Débora: samba na balada do final de semana. Luana (abaixo): “Minha vida é só estudos e samba”

D+PRAZER Mas hoje nem todo mundo conhece a obra de Noel, mesmo entre os que gostam do assunto. A tribo do samba e pagode curte Zeca Pagodinho, Bezerra da Silva, Beth Carvalho e grupos como Exaltasamba, Fundo de Quintal e o famoso cantor Belo. Cada um no seu estilo, mas com a mesma origem e sem faltar, jamais, o pandeiro e o cavaquinho. E também as letras que falam de amor. Numa batida mais agitada ou mais lenta, é sempre o tema da maioria das canções. “Antes eu escrevia letras de rap e falava de violência. Hoje só falo de amor”, conta Valério da Silva, de 22 anos, compositor do grupo D + Prazer.

Formado por quatro amigos de estilos diferentes, que sempre ouviram e gostaram de samba e pagode, o grupo existe há cinco anos. Aos poucos, chamaram outros conhecidos e compraram os instrumentos fazendo “vaquinhas” e economizando o dinheiro da balada de final de semana. Hoje, fazem shows em bares, quadras de escolas de samba e festas. Eles contam que aprender a tocar um instrumento e a se dedicar a um ritmo musical já tirou muita gente do caminho errado. “Várias pessoas que conheço estavam desencaminhadas e depois que montaram um grupo de pagode pararam de usar drogas e andar com gente errada”, garantem. setembro/2003 · ViRAÇÃO

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Toda sexta-feira à noite, Valério e seus amigos ensaiam na garagem de sua casa, no bairro dos Pimentas, em Guarulhos, na Grande São Paulo. “A rua inteira fica lotada. O pessoal do bairro já conhece nossa música e todo mundo fica dançando na porta de casa em dia de ensaio. Quando a gente acaba de passar o repertório, a galera pede mais e a gente toca tudo de novo. Vira uma festa.” Até por estar muito associado ao Carnaval, samba é quase sinônimo de festa. Onde tem batuque, é alegria garantida. É por isso que a estudante Luana Alves Lima, de 19 anos, encara uma hora de condução para ir e voltar da quadra de sua escola de samba, a Vai Vai, no centro da capital paulista. “Venho aos ensaios todos os domingos, sem falta. Minha família toda desfila no Carnaval e minha vida é só estudos e samba.” NA ESCOLA DO SAMBA Há dois anos, Luana, que quer estudar Direito ou Administração, desfila como passista. Ela prova que realmente nasceu numa casa de sambistas. Ouve desde os sambas antigos dos discos de sua mãe até CDs de grupos pagodeiros como Revelação e Pique Novo. Já sua companheira de avenida Cassandra Angélica Alves de Araújo, de 21 anos, que desfila no carnaval há 12, não gosta de pagode e só ouve samba de raiz. Além de dançar, ela também toca repique. “Aprendi a tocar com meu irmão, que é compositor e também desfila”, conta. Em casa, gosta de escutar músicas do grupo Fundo de Quintal e do cantor Jorge Aragão. Sua irmã de 15 anos, Ana Paula, também é figurinha carimbada na quadra da escola. “Não sou muito de dançar, mas conheço os sambasenredo e venho em todos os ensaios.” Como o Carnaval está se aproximando, as escolas já começam a se preparar para fevereiro. A tribo do samba, que durante o ano vai a shows e rodas em bares, pode também festejar nos ensaios das quadras espalhadas pelo Brasil, dançando ao som de uma boa batucada de bamba. Afinal, como já disse o compositor baiano Dorival Caimmy: “Quem não gosta de samba / bom sujeito não é / ou é ruim da cabeça ou é doente do pé”.

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Samba DO QUĘ? A

palavra “samba” vem de “semba”, do idioma africano quimbundo, e significa umbigada, dança de roda na qual os participantes se tocam pela barriga. O primeiro samba gravado oficialmente é Pelo Telefone (1917), composição atribuída a Ernesto dos Santos, o Donga. Os sambas mais conhecidos são os da Bahia, de São Paulo e do Rio de Janeiro. Com pequenas variações regionais, samba que é samba tem que ter violão e pandeiro, no mínimo. Veja os diversos tipos: • Samba-corrido: mais comum na Bahia de antigamente, é o samba sem refrão. • Samba de breque: o ritmo é sincopado e a música é cortada por paradas súbitas chamadas de breque (do inglês break) e comentários bem humorados do cantor. É da década de 30. • Samba-canção: as músicas são melódicas, com letras românticas e sentimentais. O ritmo nasceu na década de 20 e os discos eram lançados fora do período de carnaval, por isso são também chamados de samba de meio de ano. • Samba-choro: a melodia segue o fraseado instrumental do choro (com flauta) misturado com o batuque do samba. • Samba-enredo: foi criado por compositores das escolas de samba do Rio de Janeiro no começo da década de 30 e traz na letra o tema escolhido pela escola para se apresentar e competir no Carnaval. • Samba exaltação: as letras são patrióticas e o arranjo orquestral tem ar de grandiosidade. Um bom exemplo é a música Aquarela do Brasil, de Ari Barroso, gravada em 1939. • Samba de gafieira: samba geralmente instrumental (com muitos metais) e feito para dançar, foi criado em 1940 pelas orquestras de salões públicos de dança (gafieiras e cabarés). • Samba de morro: com pandeiro, tamborim, cuíca e surdo, foi criado por compositores cariocas que se reuniam em rodas de samba da década de 1930. • Samba de partido alto: as letras são improvisadas, tem refrões curtos e marcantes e muitas estrofes. O ritmo segue o batuque do samba tradicional. • Sambalanço: mistura de samba com ritmos dos Estados Unidos, foi criado na década de 50 por músicos brasileiros influenciados pelo jazz. Em 1960, evoluiu para um mix de bossa nova, maracatu, jongo e rhythm & blues, dando origem ao samba rock atual. • Sambalada: samba-canção com ritmo lento e letras românticas, parecido com o das músicas comerciais estrangeiras lançadas no mercado brasileiro na década de 50 e conhecidas como baladas.

tá na mão • Site: www.papodesamba.com.br • Blocos – uma história informal do carnaval de rua. João Pimentel, Rioarte, coleção Perfis do Rio • Sambeabá – o samba que não se aprende na escola. Nei Lopes, Folha Seca/Casa da Palavra (208 pág. R$28,00)

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JULIANA ROCHA BARROSO

Paulo Pereira Lima

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ual a cara do jovem paulistano? É o que sabemos melhor desde o dia 02 de setembro, quando foi lançado o Mapa da Juventude, a mais importante pesquisa já feita sobre o segmento jovem da capital paulista. O Mapa é um amplo e pioneiro diagnóstico da juventude da cidade. São Paulo tem aproximadamente dois milhões de jovens (faixa etária entre 15 e 24 anos, conforme definição adotada pela Organização das Nações Unidas), o que corresponde a quase 20% da população do município. Eles representam 10% da juventude brasileira, que compreende 31,1 milhões de pessoas, ou seja, 20% da população total do País, segundo o Unicef. A iniciativa partiu da Coordenadoria Especial da Juventude da Prefeitura de São Paulo, que aposta nesse instrumento como Caminhada promovida pela Pastoral da ponto de partida para uma nova Juventude de São Paulo maneira de governo e sociedade civil se relacionarem com os diversos grupos jovens. O projeto possibilitará ao poder público conhecê-los, saber o que os motiva, em torno do quê se organizam, qual é sua linguagem, como vivem e atuam, o que pensam e produzem, quais são seus grupos, símbolos e valores, estabelecendo assim um perfil dos jovens paulistanos que integram a sociedade, avançando em políticas públicas mais eficazes, voltadas para essa população. A pesquisa identificou e localizou geograficamente os grupos jovens, as atividades desenvolvidas por essa faixa etária – sejam elas esportivas, culturais, sociais ou religiosas – e os equipamentos públicos que atendem esse público específico. Além de apontar os grupos jovens, o Mapa será documento de valorização dos diversos movimentos urbanos protagonizados pelos jovens da cidade, podendo ser utilizado nas diversas ações das demais • Site: www.prefeitura.sp.gov.br/juventude secretarias.

tá na mão

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ECA Ivo Sousa

Saiba sobre seus direitos e deveres garantidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente Até quantos anos os adolescentes estão protegidos pelo estatuto?

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– O Estatuto considera criança a pessoa até 12 anos incompletos e o adolescente entre 12 e18 anos de idade. Em alguns casos, o estatuto também protege os jovens que têm de 18 a 21 anos.

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Por que quando um adolescente comete um crime seu rosto e seu nome não podem ser divulgados nos jornais? – O ECA garante que a imagem e a identidade do adolescente seja preservada a fim de protegê-lo e evitar situações constrangedoras ou represálias. Os jovens que estão ou já estiveram em regime de privação de liberdade também não podem ter sua identidade revelada.

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Uma criança ou um adolescente pode ser processado na justiça? – Sim, podem ser processados. Porém, se o jovem tiver menos de 16 anos, ele será representado no tribunal por seus pais e se tiver mais de 16 poderá ser acompanhado por eles. Vale lembrar que todos têm direito a assistência de um advogado gratuitamente.

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e d u t n Juve

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Mapa da

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Mande também suas dúvidas para a VIRAÇÃO: R. Comendador Elias Assi, 147 05516-000 – São Paulo (SP) Tel.: (11) 3722-4733, Fax: (11) 3721-7601 ou para setembro/2003 · ViRAÇÃO eca@revistaviracao.com.br

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Bola

no pé

A vida difícil de quem freqüenta as escolinhas de futebol e sonha ser um Ronaldinho

Ana Lucia Pires

ANA LUCIA PIRES

Felipe, Caio e Juliano (da esq. para a dir.): talento, determinação e disciplina para se tornar jogador profissional

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vida de um jogador de futebol, às vezes, parece uma festa. Gols, títulos, aplausos da torcida e uma boa grana como salário. Mas a vida de quem começa a jogar futebol ainda na adolescência não tem nada de fácil. Quem pode explicar bem isso é a garotada que joga nos times de base dos grandes clubes do Brasil. Eles vivem uma rotina dura. Treinam no mínimo quatro horas por dia e vão à escola à noite. Alguns até chegam a morar no próprio clube, longe da família e dos amigos. “Tem que ter disciplina e trabalhar bastante”, diz Felipe Oliveira Queiroz, de 16 anos, um dos 22 garotos que compõem a equipe juvenil do São Paulo Futebol Clube. Ele está há um ano na equipe, mas somente há cerca de um mês morando no Sport Ville, o centro de treinamento do São Paulo, que fica em Barueri, próximo à capital. “Eu morava longe e sempre vinha e voltava todo dia. Ficava cansado. Agora estou morando aqui”, conta ele, que admite não ser fácil morar fora da casa de seus pais. “Dá muita saudade, principalmente na primeira semana. Dá saudade dos pais, dos amigos, da namorada.” Colega de Felipe no time, o baiano Caio Rodrigues Sabaini, de 16 anos, sabe muito bem o que é ficar longe da família. Ele veio de Itamaraju (BA) para jogar no clube paulista. “Treinava em uma escoliContratado pelos times nha de para observar e indicar minha potenciais jogadores cidade. Um dia, quando fui para um campeonato em Ilhéus, um olheiro do São Paulo me viu e me trouxe para fazer um teste”, recorda Caio, que leva uma semana puxada, como os outros colegas. Treina meio período três vezes por semana e o dia inteiro em dois dias. Sábado é sempre dia de jogo na categoria juvenil do Campeonato Paulista. Domingo é o seu único dia de folga.

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PENEIRA Geralmente, os garotos podem entrar para os clubes ou indicados por olheiros ou por meio de testes marcados pelos próprios times. Não parece tarefa fácil, pois o menino precisa se destacar entre muitos outros para ser escolhido. E uma vez dentro do time, para ser dispensado é coisa rápida. Felipe explica: “Eles fazem uma ‘limpeza’”. No final do ano passado tinham 30 jogadores, mas só sobraram 11. Desses 11, acho que só tem 5 ou 6 aqui hoje. O resto foi dispensado. Aqueles que acabam ficando no clube, vão subindo de categoria até chegar na profissional. Mas quem não passa na peneira não precisa ficar desesperado. O próprio Ronaldo, jogador do time espanhol Real Madri, foi reprovado em um dos testes que fez no Flamengo, quando adolescente. “Talento, determinação e disciplina são muito importantes. Precisa ter sorte também, porque nem sempre o time profissional precisa de novos jogadores”, alerta José Geraldo de Oliveira, gerente da divisão de futebol de base do São Paulo, que já viu passar pelas categorias craques como Cafu, Mü3ller e Silas. TALENTO OU SORTE? Foi exatamente disciplina e sorte que faltaram ao jogador Rogério Luis da Silva, de 18 anos. Ele viajou 44 horas de ônibus, de Recife (Pernambuco) até São Paulo para jogar no Santo André. Deu com a cara na porta. É que a equipe do clube já estava formada. Rogério não pensou duas vezes. Foi batalhar uma vaga no São Paulo e conseguiu ingressar na categoria de aspirantes. Porém, após dois meses no time, sofreu uma contusão na coxa e acabou sendo cortado. Sem desistir do sonho de ser jogador profissional, ele se empenhou para se recuperar e logo conseguiu outra vaga, dessa vez no clube da famosa dupla Diego e Robinho, o Santos. De novo, o pé frio do Rogério se contundiu e foi colocado para fora da equipe, pois a recuperação costuma demorar semanas, o que representa prejuízo para o time. Agora está de malas arrumadas para embarcar em direção a uma cidade do interior de Goiás, onde pretende tentar mais uma vez. Apesar da falta de sorte, Rogério não culpa somente o acaso pelo constante fracasso de suas tentativas. “Eu mesmo tornei a minha vida difícil. Quando parei de jogar pelo Náutico em Recife, também acabei com os treinos. Meu tio sempre me falava: ‘Vai treinar’ e eu não ligava. E aí, quando pintou a chance de jogar aqui, eu vim mal preparado fisicamente.” Mesmo assim, o jogador não desiste do sonho. Quer agora se acertar no time de Goiás, voltar a estudar (parou na oitava série) e quem sabe, um dia, voltar a jogar no seu time do coração: o São Paulo Futebol Clube.

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Ernesto Rodrigues/AE

Ronaldinho disputa bola com jogador do Equador: jovens não desistem do sonho de serem jogadores profissionais

ECONOMÊ$ Você entendendo de Economia

Dono da empresa Mara Luquet Beber guaraná é gostoso, não é mesmo? Que tal seria então ser dono de uma fábrica de refrigerante? Se você pensa que é preciso ser milionário para ter uma empresa, está enganado. Vou lhe contar um segredo: hoje, com R$100,00 já é possível comprar ações de empresas brasileiras que fazem muito sucesso. Veja, por exemplo, a Embraer, a fabricante de jatos que vende aviões para vários países. Para ser um dos donos da Embraer, você precisa apenas comprar ações da empresa. O mesmo acontece com a Ambev, a fabricante do guaraná Brahma e da cerveja Antártica. As ações são negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo, a Bovespa. A ação representa um pedacinho da empresa e quem compra uma passa a ser um dos donos da empresa, um acionista. Se ela tiver lucro, o acionista recebe uma parte desse lucro, que são os dividendos. E se a empresa tiver prejuízo, o acionista não recebe nada. Além dos dividendos, o acionista também pode ganhar com a valorização de suas ações. Se a empresa crescer e tiver lucros maiores, o preço da ação sobe. Nesse caso, o acionista poderá vender suas ações por um valor maior do que comprou. Para comprar ações, você precisa de um corretor. Ele vai lhe representar na Bolsa e comprará as ações em seu nome. O caminho mais fácil para contratar um corretor de valor é a internet, principalmente quando se tem pouco dinheiro. Não importa quantos anos você tem, basta ter uma carteira de identidade e o CIC, dois documentos que vão lhe acompanhar por toda a vida, para se cadastrar numa corretora e comprar ações. Mas antes de usar sua mesada para sair comprando empresas por aí, você precisa fazer uma visita à Bovespa. Visite primeiro a página da bolsa na internet (www.bovespa.com.br) e depois vá, pessoalmente, conhecer o pregão, que é o lugar onde os corretores compram e vendem as ações. Esse é o caminho mais fácil para ser um dos donos de uma empresa, mesmo quando não se tem muito dinheiro.

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Mara é editora de Investimentos dosetembro/2003 jornal Valor· ViRAÇÃO Econômico

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GALERA REPÓRTER

De

Verde Alunos de colégio particular de Săo Paulo contam sua experięncia de trabalho como voluntários no Piauí

braços dados RYAN VERDERIO

É

cada vez maior a participação de jovens em projetos sociais que buscam tapar os buracos deixados pela administração pública de nosso país. Como essas deficiências podem ser encontradas nas mais diversas áreas, as possibilidades para ajudar são enormes. Um exemplo disso é o Projeto Piauí, a “menina dos olhos” do grupo de voluntários de nosso colégio, o Emilie de Villeneuve, em São Paulo. Já em seu terceiro ano de atuação, amadurecido e ampliado, o projeto tem como objetivo melhorar as condições de vida da população do sertão do Piauí. Para isso, duas formas de ação são desenvolvidas: as imediatas, como atendimentos médicos, odontológicos e laboratoriais, e as outras que só mostrarão seus frutos no futuro. Entre elas, podemos destacar as oficinas com as comunidades, principalmente com as crianças; a capacitação oferecida aos líderes comunitários e agentes de saúde e a ampliação da agricultura familiar.Tudo isso realizado por nós, alunos e professores do Emile, e pelos universitários e profissionais ligados à Universidade de Santo Amaro (UNISA) de diversos cursos,

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como Biologia, Biomedicina, Educação Física, Medicina e Odontologia. Mas você deve estar se perguntando: com tanta gente também sofrendo em São Paulo, por que esse pessoal vai para o Piauí? A diferença é que por aqui diversas organizações, como nosso próprio colégio, já

mantêm projetos sociais. Mas no Piauí é diferente: as escolas do sertão não têm condições suficientes nem para oferecer tudo o que desejam a seus alunos, como poderiam alimentar projetos sociais? Entretanto, a distância também apresentou um obstáculo à realização do projeto, por aumentar muito o custo. Mas ele foi superado com o patrocínio da Philips, que nos ajudou a contratar um ônibus e manter mais de 40 pessoas por 20 dias. TRAÇANDO O BRASIL Partimos no dia 28 de junho. Ao chegar, o clima de partilha nos sensibilizou. As famílias nos recebiam de braços abertos, oferecendo o pouco que tinham como forma de gratidão. Logo nos primeiros dias, havia uma coisa que todos concorda-

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Simboliza paz, crença, firmeza, juventude e coragem

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Arquivo Emilie Villeneuve Arquivo Emilie Villeneuve

vam: ao invés de ensinar, nós estávamos aprendendo muito mais. Uma de nossas ações era a instalação de placas de energia solar e a construção de uma cisterna, para captar a água das chuvas, na casa de um senhor escolhido pela própria comunidade. Foi então que conhecemos o seu Mário, cheio de energia e vida, muito simpático e conversador. Sua casa era isolada de todas as outras. Sua família era obrigada a andar quase 6 quilômetros cada vez que precisava de água. Foi nessas conversas com esse senhor que percebemos quanta sabedoria e riqueza estão escondidas naquelas pessoas. A imensa fé que os mantêm lutando, o respeito à natureza e aos outros, tudo isso era tema dos discursos do seu Mário. A ausência de horizontes produziu um certo preconceito em relação à sua própria terra: muitos preferem os medicamentos comerciais, de difícil acesso para eles, aos diversos remédios naturais que podem ser feitos com as mais diversas plantas, facilmente encontradas na região. Mas nem todos pensam assim. Descobrimos isso quando conhecemos a dona Raimunda, que fez questão de oferecer um almoço ao Arquivo Emilie Villeneuve

Alunos do colégio Emilie atuando na triagem e na orientação à higiene bucal grupo inteiro. Seus filhos, todos formados ou cursando uma faculdade, mantêm uma grande área, onde plantam cana, melancia e diversos vegetais para o próprio consumo e para comercializar.Tudo isso foi possível após a construção de um poço artesiano em seu terreno. O que muitos não sabem é que o Piauí tem o maior lençol freático do mundo e seu solo é extremamente fértil. A construção de poços melhoraria muito as condições de vida dessas pessoas, como melhorou a da dona Raimunda. Mas os profundos lençóis piauienses encarecem bastante estas construções, que precisam ser viabilizadas de alguma maneira.

Reservatório subterrâneo de água

Depois de 20 dias de trabalho, pudemos ver os resultados: mais de 650 atendimentos odontológicos, mais de 1.500 pacientes atendidos pela equipe médica e 523 exames laboratoriais. Além disso, desenvolvemos diversos atendimentos domiciliares, realizados por uma equipe-volante multidisciplinar e atividades recreativas.

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Ryan Verderio tem 17 anos e integrou o grupo de jovens que foi ao Piaui setembro/2003 · ViRAÇÃO

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Chega de

Projeto capacita jovens para ficarem na cola dos vereadores, além de enviar projetos de lei AG Estado

enrolação

Câmara de veradores de São Paulo: a galera vai estar de olho neles

ANA LUCIA PIRES

U

Vem do grego. Era a praça das antigas cidades gregas, onde os cidadãos realizavam debates e assembléias

ma galera de São Paulo cansou do blá, blá, blá dos políticos e resolveu conferir de perto o que eles andam aprontando. A iniciativa é do Instituto Ágora em Defesa do Eleitor e da Democrapolítico e cobra atitudes. Os jovens cia, que em 1998 junto com adolespodem enviar projetos de leis ou centes de escolas públicas e particureclamar de um vereador pela lares da capital paulista começaram internet ou em dois terminais de a pensar em ações concretas para computador na Avenida Paulista, conseguir cobrar dos políticos as onde qualquer eleitor também pode promessas de campanha. Uma acessar. O estudante e voluntário do dessas ações é a Ouvidoria do Ágora, Leandro Torres, de16 anos, Eleitor, que funciona como uma aprova esse tipo de trabalho. “Eu espécie de Procon. Quando o eleitor gosto muito do projeto pela forma se sentir enganado por um como ele é feito, com vereador, pode a participação reclamar dele, sim. popular”, afirma O Ágora encamio garoto. Órgão criado para defender nha a reclamaAntes mesmo o cidadão que teve seus ção para o de conhecer o

direitos desrespeitados

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instituto, Leandro já havia mandado um recado para um vereador por meio da Ouvidoria. “Perguntei ao Nabil Bonduki (PT) como estavam os projetos para cinema e teatro. Recebi uma resposta dele no próprio totem (suporte onde está instalado o terminal de computador).” O Ágora acompanha diariamente o trabalho na Câmara dos Vereadores e o publica em um boletim bimestral impresso e online, chamado E-leitor Cidadão. A publicação conta tudo o que se passa com os vereadores. Em abril, divulgou que a maior parte dos projetos (cerca de 39) aprovados pela Câmara foi para dar nome às ruas ou títulos de honra. Pasmem: apenas 15 projetos buscam melhorar a vida na cidade. E o pior: em outras cidades anda acontecendo o mesmo. Os projetos do Ágora vão mais além. Os jovens podem participar de oficinas e do Debate do Eleitor (espaço de diálogo com os políticos). E mais. Desde agosto também participam do projeto Adote um Vereador. Algumas das 22 escolas da rede Ágora irão acompanhar por seis meses o trabalho de um vereador para avaliar o seu trabalho. “O cara fica lá quatro anos ganhando o salário bom que eu ajudo a pagar com meus impostos. Depois, o mandato dele vence e percebo que ele não fez o que prometeu. Esse cara me traiu. Por isso, a gente assumiu a tarefa de fundar essa espécie de Procon do eleitor”, explica Gilberto de Palma, diretor do Ágora.

. tá na mão

• Conheça outros projetos parecidos: www.agoranet.org.br www.votoconsciente.org.br www.lei9840.org.br

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Alderon Perira da Costa

coluna

Jovens do Aprendizes trabalham sua criatividade em oficinas

Nossas

raízes T

enho uma família bem legal. Minha mãe praticamente criou a mim e meus três irmãos, já que meu pai é falecido há sete anos. Mas isso não mudou muito a nossa vida. Claro que todo mundo precisa de um pai, mas eu e meus irmãos não pensamos muito nisso, nós procuramos ajudar uns aos outros. E, assim, meu pai acaba sendo meu irmão mais velho. Ele trabalha como gerente de empresa; outro irmão, como guarda civil metropolitano; e o terceiro é estudante. Minha mãe, apesar de viúva, é bem feliz, até trabalha em uma escola como servente, e nunca levou problemas de casa para o trabalho. E tem também a família do meu pai, que mora no Paraguai. São primos, tios e avós. Foi lá onde ele nasceu e cresceu, para depois vir para o Brasil e conhecer minha mãe. Quanto à família da minha mãe, é toda da Bahia. Alguns tios meus vieram morar aqui, mas meus avós e alguns primos ainda moram lá e mantêm contato conosco. Por enquanto, essa é minha grande família. Adilson Alves Gayoso, 18 anos

N

asci dia 07 de junho de 1984, quinta-feira, às 15h50 no Hospital São Luiz, localizado em Santo Amaro, zona sul de São Paulo. Meu nome, Yara, é de origemTupi e significa “senhora d’água, mãe d’água”. Apesar de parecer submissa e quase sem iniciativa, tenho muita garra para lutar por meus objetivos. Quando estabeleço uma meta, sou persistente até o fim. Tenho certeza de que minha mãe não me deu esse nome por causa da sua origem (eu acho que ela nem sabia a origem do nome), mais sim porque nasci antes de completar 9 meses. Nasci pequena demais, então ela achou melhor colocar um nome pequeno para uma pessoa pequena. Como nasci antes da hora, as pessoas tinham que tomar muito cuidado comigo. Yara de Oliveira Souza, 19 anos

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Verde

APRENDIZES

por Carlos Tautz

TRANSGÊNICOS em debate

T

ransgênicos são seres que nunca existiram na natureza. Foram criados nos laboratórios de grandes empresas transnacionais dos Estados Unidos e da Europa, que agora pressionam dezenas de países a liberar a sua comercialização sem que pesquisas para identificar os impactos que os transgênicos causam no meio ambiente e na saúde de quem os consome.Também conhecidos por Organismos Geneticamente Modificados (OGMs), servem apenas para aumentar a montanha de dinheiro que essas corporações ganham no mercado internacional de alimentos. Há no mundo soja, milho, algodão além de outros cultivos geneticamente modificados. Nos Estados Unidos, os transgênicos foram liberados em 1992 sem que o governo de lá exigisse testes que comprovassem a sua segurança. Aqui no Brasil, as organizações não-governamentais Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) e Greenpeace, ambas sediadas em São Paulo, foram à Justiça, em 1998, e impediram que uma obscura comissão do Ministério de Ciência e Tecnologia autorizasse a entrada no País da soja geneticamente modificada, cujo cultivo necessita de quantidades enormes de veneno (agrotóxico). Em breve, a Câmara dos Deputados, em Brasília, deve debater um Projeto de Lei que, se aprovado, pode liberar os transgênicos no Brasil. Apóiam esse projeto as transnacionais, os parlamentares apoiados pelos latifundiários (que possuem vastas áreas de terra improdutiva) e parte dos deputados que sustentam o governo. Ninguém, em sã consciência, pode ser contra os avanços da pesquisa científica. Mas, ela não pode ficar sem controle. Assunto de interesse tão grande quanto os transgênicos precisa ser debatido publicamente. Ou alguém tem medo de debate?

tá na mão Na internet, procure em: www.idec.org.br www.greenpeace.org.br setembro/2003 · ViRAÇÃO www.mma.gov.br

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SEXO e SAÚDE

CARMEN FRANCO – PSICÓLOGA E PEDAGOGA

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Tenho vários amigos, entre eles garotas. Nunca me interessei por nenhuma. Isso é normal? Thiago, 14 anos Thiago, cada um tem o seu tempo de interessar-se afetivamente por outras pessoas. Uma das possíveis encucações (comuns neste tipo de questão) é a homossexualidade. O fato de uma pessoa nunca ter se apaixonado por alguém não significa absolutamente nada. Talvez não tenha surgido alguém com acesso livre a seu coração até este momento. O mais importante é o respeito às suas emoções e não se deixar levar pela opinião de todo um grupo. No entanto, sugiro algumas questões para pensar: qual sua opinião sobre namoro e amigos, quanto você está aberto a relacionamentos afetivos e qual sua opinião sobre os relacionamentos afetivos que estão à sua volta. Reflita um pouco e nos questione novamente.

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Aqueles alimentos e ervas vendidos em barraquinhas são mesmo estimulantes sexuais? Como o amendoim, ovo de codorna e aqueles matinhos. Denise, 17 anos

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Por que, geralmente, o menino chega antes ao ápice sexual que a menina? Por que tem essa diferença de “tempo”? Angélica, 17 anos O tempo para se atingir o ápice sexual difere de pessoa para pessoa, não só de menino para menina. A ocasião também interfere na chegada ao orgasmo. Se o menino está muito tenso ou muito ansioso, estes elementos podem levá-lo a uma ejaculação mais precoce.

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E a menina pode estar tensa e preocupada, o que pode retardar seu ápice sexual, mas não é verdade que só os rapazes sempre chegam primeiro. Fatores que favorecem um entrosamento melhor nas relações sexuais são o tempo de intimidade, a confiança no companheiro e a segurança em si mesma. Além da possibilidade de um ambiente calmo sem interferências. E lembrese: sexo só é seguro com a presença obrigatória de camisinha. Para saber mais leia Sexo e cia. (Jairo Bouer, Publifolha, 2002).

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Natália Forcat

Há alimentos e ervas que possuem propriedades afrodisíacas e, portanto, estimulam a libido (desejo sexual). No entanto, as mesmas devem ser comparadas a medicações, ou seja, só devem ser ingeridas sob orientação médica. O maior estimulante sexual na juventude é estar apaixonada e sentir-se amada. No entanto, podem existir algumas disfunções hormonais que levam a uma perda do interesse sexual. Neste caso, o indicado é procurar um endocrinologista ou ginecologista para avaliar a questão. Uma boa sugestão é um bom chá de conversa com alguém que você confie.

plugue-se

Se você tiver dúvidas sobre sexo e saúde, escreva para a nossa redação ou para o nosso endereço eletrônico: sexo@revistaviracao.com.br

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TODOS OS SONS

EVANIZE SYDOW

Uma maranhense

luminosa R

ita Ribeiro é uma festa musical. Como bem disse a jornalista Patrícia Palumbo, especializada em música, Rita é mutante, tropicalista e muito pop. Vinda do Maranhão, mesma terra de nomes importantes como João do Vale e Alcione, Rita está mostrando ao mundo a beleza de seu terceiro disco, Comigo. Neste trabalho ela resgata compositores grandiosos e, muitas vezes, desconhecidos do grande público. Gente que faz toda a diferença como Antonio Vieira, um autor de 80 anos, e o paranaense Carlos Careca. Hoje radicada no Rio de Janeiro, Rita viveu dez anos em São Paulo. Na música, é irmã de Chico César e Zeca Baleiro. Os seus dois primeiros discos são Rita Ribeiro, lançado em 1997, e Pérolas aos Povos, de 1999, lançado em Montreux, na Suíça. Nascida numa família de onze irmãos, desde pequena a música está presente em sua vida.

As radiolas eram ouvidas em todos os cantos. O repertório tinha Noel Rosa, Lupicínio Rodrigues, Cartola, passando por Lindomar Castilho, Waldick Soriano, mas também muito reggae, ritmo típico do Maranhão, já que o Estado recebia sons do Caribe pelas rádios. “O reggae vinha por aí e acabou sendo adotado pela periferia, pela classe mais pobre do Maranhão”, conta Rita. Como ela mesma diz, o reggae é uma verdadeira religião para o maranhense. “E na minha infância e adolescência, eu ouvia muito o som do baixo do reggae.” Considerada uma cantora de identidade muito própria, Rita tem como característica, além da bonita voz, a acertada escolha de seu repertório, dentro da diversidade do cancioneiro brasileiro. “É onde você diz assim: é aqui onde realmente vou

Para NAVEGAR O Clube dos Compositores tem uma página repleta de informações sobre talentos conhecidos e não conhecidos da música brasileira. Além de saber um pouco mais sobre cada um desses artistas, o internauta que também é músico pode encaminhar trabalhos em fita cassete ou CD para serem mostrados para produtores e gravadoras ligadas ao repertório. O endereço é www.clubedoscompositores.com.br.

Divulgação

passar toda a idéia e toda a concepção daquilo que penso”, diz. “Porque você está completamente ligado ao conteúdo, que são as letras, músicas, e a mensagem que você quer passar. Seja uma mensagem de amor, seja uma mensagem positiva de vida, protesto, enfim, qualquer coisa que seja, mas aquilo tem de ter uma coerência com o que você é, com o que você faz, com o que você quer transmitir.” Rita Ribeiro tem uma página na internet. Para melhor conhecer a intérprete, vale a pena acessar www.ritaribeiro.com.br.

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Se hoje o Programa Fome Zero existe, é graças ao sociólogo Herbert de Souza, o Betinho (1935-1997). Ele foi um verdadeiro guerreiro contra a fome no Brasil, lançando nos anos 90, o pioneiro Programa Ação e Cidadania contra a Fome e a Miséria. Abaixo a fome! Viva o Betinho!

Palavras cruzadas © Ediouro Publicações S/A 2003

Os Sete erros

DESAFIf

Correção moral Parte da Bíblia

Exerce atividade

Veste de juízes

Ligado Perceber pelo olfato

Item da data O Paraíso (Bíblia)

Colegas; camaradas

Andar vigiando

Que tem fé religiosa Sadias; saudáveis

Moradias indígenas

Melodiosa (fig.)

Intensas; brilhantes

Sílaba de "cerca" Litoral Companheiro (gír.)

Sílaba de "canto" O seio feminino

Abacaxi

Atreve-se

Cargo Em tempo Animal anterior como a A terra lombriga dos esquimós

Encontrada

A morada do turista

Márcio Baraldi Ricaço; milionário

Pequeno prego O macho da cabra

Pedro (?), repórter

Tribunal Superior do Trabalho (sigla) O Dente do Juízo Cachaça (bras.)

El. comp.: ombro

(?) Gabus, ator brasileiro Altivez; arrogância

Cervídeo de chifres ramificados

Caule

BANCO

3/uca. 4/beca — xara. 6/acesas — alasca — nababo — rondar.

Solução P A L N A S U C A D T E C B E N A C I X A

A A S T A M U N I C A G H S O E S A S I S R A P A N T E R A S I N T B A B O I S O A D E L C E

A R E N T O D O N E C D N O R A C E R C A N O S T O S E U T A S A C H A H O T A T O S D E M T A L O

Ilusão de ótica

4 8 1

2

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Colabore

Enviado pelo leitor Adilson Seno, Cambará do Sul (RS)

Envie seus desafios para desafio@revistaviracao.com.br 7

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RESPOSTAS :

E então, GALERA como foi? Dificíl, né!Tudo isso acontece porque o seu lado direito do cérebro tenta dizer a cor, mas o lado esquerdo insiste em ler a palavra.

Você consegue com apenas quatro retas, e sem levantar a caneta do papel, passar por todas as bolinhas abaixo!

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LARANJA VERDE VERMELHO PRETO AMARELO LARANJA

3

AZUL VERMELHO ROXO VERDE VERMELHO AZUL

Os Sete erros: Perna do pássaro, sombra do estribo, casco frontal, dente do cavalo, botão da armadura, ruga da testa e perna esquerda do Betinho. Quebre a cuca: Siga a sequência dos números conforme a ilustração ao lado.

AMARELO PRETO ROXO LARANJA AZUL VERDE

Quebre a cuca

Olhe abaixo e diga as cores, não as palavras.


NO ESCURINHO Roxo

Simboliza fantasia, mistério, misticismo, espiritualidade e grandeza

...

SÉRGIO RIZZO – crítico de cinema

O caminho das

nuvens

Os caminhos percorridos por uma família nordestina que sai de sua terra em busca de uma vida mais digna no Sul do Brasil Divulgação

Os atores Wagner Moura (ao lado) e Cláudia Abreu (abaixo)

I

magine um sujeito analfabeto que decida sair do Nordeste, em companhia da mulher e de seis filhos, para percorrer 3.200 km de bicicleta até o Rio de Janeiro. Objetivo: encontrar um emprego que lhe dê um salário de “mil real”. Parece coisa de fantasia, mas essa história tipicamente brasileira aconteceu mesmo com uma família nordestina e acabou inspirando o diretor Vicente Amorim a fazer O Caminho das Nuvens. Amorim e o roteirista David França Mendes começaram a preparar o filme há três anos com a realização de um documentário, 2000 Nordestes. Graças a esse trabalho, puderam conhecer a realidade da região hoje. Constataram – daí o título – que não existe mais apenas um Nordeste, como muita gente ainda acredita, em especial no Sul do

país. Os nordestinos são muito diversificados, com vidas e sonhos distintos de acordo com a região e a condição sócioeconômica. Ao contar a viagem daquela família, Amorim e Mendes fizeram pequenas adaptações. Uma delas foi reduzir o número de filhos para cinco, incluindo um recém-nascido. Para o papel do pai, um caminhoneiro desempregado, eles optaram por Wagner Moura (o anfitrião de Antonio Fagundes em Deus é Brasileiro e um dos presidiários de

Carandiru). Sua mulher é interpretada pela atriz Cláudia Abreu, mais popular pelo seu trabalho na TV (como a minissérie Anos Rebeldes e a telenovela Que Rei Sou Eu) do que por suas atuações no cinema (como em Guerra de Canudos, em que também fazia uma nordestina, e em O Homem do Ano). O filho mais velho, que adquire importância crescente na história, coube a Ravi Ramos Lacerda (que estreou em Abril Despedaçado). O cantor Sidney Magal faz ótima participação, como um empresário da noite em Porto Seguro, mas quem domina musicalmente o filme, sem aparecer em nenhuma cena, é Roberto Carlos. Diversas de suas canções acompanham a viagem da família e funcionam como trilha sonora de uma região ainda desconhecida por muitos brasileiros.

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Divulgação

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VIRAÇÃO SOCIAL R

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O Faça Parte – Instituto Brasil Voluntário, organização que promove a cultura e a prática do voluntariado, lança o Selo Escola Solidária 2003. Esse projeto quer identificar as ações voluntárias desenvolvidas nas escolas públicas e privadas do país. O projeto recebe apoio do Ministério da Educação (MEC), do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Criado em 2001 para coordenar o Ano Internacional do Voluntário no Brasil, o Faça Parte procura contribuir na construção de uma sociedade mais justa. O instituto é dirigido por Milú Villela. Escolas públicas e particulares receberão pelo correio o manual de inscrição. As respostas poderão ser encaminhadas pelo correio ou pela internet até o dia 31 de outubro. O formulário poderá ser preenchido nos seguintes sites: • www.facaparte.org.br, • www.mec.gov.br, • www.consed.org.br e • www.unimed.org.br. Os critérios de seleção serão: relevância (importância da experiência para os envolvidos), abrangência (envolvimento de alunos, professores, direção, pais, funcionários e comunidade) e impacto (resultados atingidos). A entrega do Selo Escola Solidária acontecerá no dia 5 de dezembro.

plugue-se

• Faça Parte – Instituto Brasil Voluntário Avenida Paulista, 1294 – 10º andar – 01310-915 – São Paulo – SP Tel.: (11) 3266-5477 – Site: www.facaparte.org.br – E-mail: selo@facaparte.org.br

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NOSSA GUERRA É CONTRA A FOME Fome Zero. Está começando o maior e mais completo programa de combate à fome já feito no Brasil. O que é. O Fome Zero é um conjunto de ações que vai acabar de vez com a fome em nosso país nos próximos

e a geração de empregos nas áreas mais carentes. E onde você entra nessa história. Acabar com a

quatro anos. Por isso, ele não se limita apenas à distribuição de cestas básicas. Ao contrário. Seu objetivo é permitir que

fome é um objetivo do Governo Federal que só será possível atingir com a participação de todos – cidadãos, empresas,

em quatro anos todos os brasileiros possam se alimentar adequadamente, sem precisar receber doações de ninguém.

entidades, prefeituras e governos estaduais. E é aí que você entra nessa história.

Como vai funcionar. O programa tem duas linhas de ação simultâneas. A primeira é a emergencial e tem como

Você pode participar do Fome Zero de várias formas. Ligue 0800-707-2003 ou acesse o site

objetivo arrecadar e distribuir alimentos e recursos em dinheiro, além de lançar o cartão-alimentação nas áreas

www.fomezero.gov.br e informe-se. Essa sim é uma guerra que vale a pena

mais carentes do país. A segunda e mais importante linha de ação é a estrutural, que envolve intervenções mais profundas do governo, destinadas a resolver definitivamente o problema da fome em nosso país. Entre essas medidas estão uma ampla reforma agrária, o incentivo à produção de alimentos mais baratos, o apoio à agricultura familiar, ao cooperativismo, ao microcrédito ABAP / ANJ / ABERT / ANER / CENP / FENAPRO / CENTRAL DE OUTDOOR / UNIÃOTV

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17/9/2003, 15:40


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