Projeto social impresso sem fins lucrativos · Ano 4 · No 25 · Março / Abril de 2006 · R$ 4,00 · www.revistaviracao.com.br
V iRAÇÃO Mudança,
atitude e
ousadia jovem
TV DIGITAL Do jeito que a Globo gosta
PLANO NACIONAL da JUVENTUDE
SUS$ exo a 25,00
Os jovens ficaram por fora
O preço de um “programa turístico” made in Brasil
E D IN R B
Cartão-Postal PAGU
Conselho Editorial: Cecília Garcez, Ismar de Oliveira e Izabel Leão (Núcleo de Comunicação e Educação – ECA/USP), Immaculada Lopez, João Pedro Baresi, Mara Luquet, Marcus Fucks e Valdênia Paulino Equipe Pedagógica: Aparecida Jurado, Auro Lescher, Isabel Santos, Márcia Cunha e Vera Lion Diretor: Paulo Pereira Lima Editora: Juliana Rocha Barroso (juliana@revistaviracao.com.br) Redação: Alessandra Perrechil, Daniela Landin, Felipe Jordani, Marcela Mastrocola e Naíla Vasconcelos Colaboradores: Alder Augusto da Silva, Ana Lucia Pires, Ana Paula Corti, Ana Rogéria Araújo, Andréa Santos, Boris Tadashi Morokawa, Camila Crosso, Camila Perez, Carmen Franco, Carlos DaHora, Carlos Gutierrez, Carol Coimbra, Caroline Ciciliato, Cícera Gianini, Cínthia Almeida, Cleidson Viana da Silva, Daniela Negreiros Danilo Gomes, Douglas Lima, Douglas Martins, Eduardo Santarello, Elaine Leonora, Eliane Jesus Leite, Equipe do Programa Juventude (Ação Educativa), Érika Santana, Fabiana Salviano, Fábio Mallart, Fernanda Pompeu, Gabriel Gonçalves, Gabriel Mitani, Gal Castro, Gisele Palla, Giorgio D’Onofrio, Heloisa Sato, Gustavo Barreto, Ionara Talita Silva, Izabel Leão, Izabelly Costa, Jaqueline Fernandes, Jean Canuto, Jeniffer da Silva, Jhony Abreu da Silva, João Carlos R. Moreira, José Manoel Rodrigues, José Ramos “Macunaíma”, Keli Seeire, Lentini, Leonardo Valença, Lucas Carreira, Marcelo Amorim, Marciano Karaí, Márcio Baraldi, Mariana Antony, Mariana Cacau, Marília Almeida, Marina Buschmann, Nádja Bium, Natália Forcat, Natalie C. Consani, Novaes, Nina Nazario, Ohi, Orlando Tonholi, Osny Luz, Paloma Klisys, Paulo Gonçalo, Paulo H. Silva, Rafael Silva, Rafael Stemberg, Roberto Hunger, Robson de Oliveira, Rogério Santos Costa, Rosemeire Santos, Rubens Jesus, Sérgio Rizzo, Silvana Vieira, Suéllen Cristina, Susana Piñol Sarmiento, Taluana Brisa, Tathiane Cavalcante, Tiago Eloy Zaidan, Tony Marlon Santos, Ubirajara Barbosa, Vitor Salmazo e Vinícius Bondezan Consultor de Marketing Thomas Steward Relacionamento Institucional J5 Imprensa e Conteúdo Projeto Gráfico IDENTITÀ Adriana Toledo Bergamaschi Marta Mendonça de Almeida Fotolito Digital: SANT’ANA Birô Impressão: Editora Referência Jornalista Responsável Paulo Pereira Lima – MTB 27.300 Divulgação: Equipe Viração Administração: Miguel W. da Silva E-mail Redação e Assinatura redacao@revistaviracao.com.br assinatura@revistaviracao.com.br PREÇO DA ASSINATURA ANUAL Assinatura Nova R$ 40,00 Renovação R$ 35,00 De colaboração R$ 50,00 Exterior US$ 35,00
MAPA
Robson Oliveira
RG
da
mina Cena que se repete: no litoral brasileiro, homens pagam bebidas às adolescentes enquanto negociam valor do programa • DEIXADO DE LADO 12 Jovem não tem participação ativamente na formulação do Plano Nacional da Juventude (PNJ) • INDEPENDÊNCIA OU MORTE 14 Desvinculadas da mídia tradicional, gravadoras independentes sobrevivem por mecanismos próprios, atraindo artistas já consagrados
• DISCUSSÃO FORA DE PADRÃO 20 A galera da Vira conversa com os jornalistas Carol Ribeiro e Diogo Moisés sobre TV Digital e fica sabendo o que tem acontecido nas discussões do assunto • UMA OPORTUNIDADE 24 Núcleo de Comunicação e Educação da ECA/USP participa do projeto Geração Cidadã capacitando jovens
• CONSEQUÊNCIA, NÃO A CAUSA 16 A exploração sexual de jovens e adolescentes é resultado de diversos fatores sócio-econômicos e afeta toda a população
• DE BEM CONSIGO MESMO 26 Coordenador do Grupo de Jovens Adolescentes Homossexuais esclarece mitos sobre opção / orientação sexual
Sempre na Vira ENTRE ASPAS VIRATUDO TESÃO VIRA OU NÃO VIRA VIRALÍNGUA ECONOMÊS ECA SEXO E SAÚDE
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QUE FIGURA! TODOS OS SONS NO ESCURINHO TURMA DA VIRA REVELE-SE DESAFIO VIRAÇÃO SOCIAL
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No olho do furacão
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arece que foi ontem. Em março de 2003, a Vira ganhava o mundo das ruas e bibliotecas, escolas e grupos de jovens, coletivos e cidadãos individualmente e socialmente responsáveis. São três anos de uma luta diária pela informação séria e independente para os jovens, com os jovens e pelos jovens. Aqui participação não é faz de conta, não! Os conselhos editoriais jovens (Virajovens) já estão presentes e ajudando a produzir e divulgar a revista em 15 capitais. Prova disso é a reportagem de capa desta edição, que aborda a exploração sexual de crianças e adolescentes. Ela foi produzida com a colaboração dos Virajovens de Fortaleza, São Paulo e São Luís. Este tema é constante na grande imprensa, mas colocado de forma superficial, desconsiderando problemas sociais e econômicos a ele ligados.
Outro assunto de extrema importância, mas que não tem sido discutido devidamente no país, é a TV Digital. Para uma real democratização da mídia, os debates são fundamentais, principalmente se o assunto for de interesse público. Por esse motivo, a Vira conversou com jornalistas do coletivo Intervozes para aprofundar o tema.
VIRAÇÃO
Coordenadores do Virajovem Manaus: Jhony Abreu Silva e Izabelly Costa, também responsável pela articulação da parceria com a Agência Uga-Uga EDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO E PARTICIPAÇÃO PARA A CIDADANIA
C
ontribuir para formação cidadã de crianças, adolescentes e jovens amazonenses por meio de estratégias de educação, comunicação, participação juvenil e mobilização social que respeitem a sociodiversidade, a etnodiversidade e a diversidade cultural. Esta é a missão institucional da Agência Uga-Uga de Comunicação, ONG fundada em Manaus (AM), em abril de 2000, com foco para a promoção e defesa dos direitos de crianças e adolescentes. Integrante da Rede ANDI Brasil, a Uga-Uga desenvolve ações diretas para adolescentes e jovens, comunicadores e estudantes de jornalismo, professores e atores sociais de municípios do interior do estado. Tem realizado a cada dois anos o Encontro Juvenil Papo Aberto, em que crianças e adolescentes de escolas e entidades governamentais e nãogovernamentais discutem políticas públicas voltadas para a juventude; e o Seminário Mídia, Infância e Adolescência, que mobiliza jornalistas e radialistas para as questões que envolvem este público. A Agência Uga-Uga é parceira da Viração na articulação do Conselho Editorial Jovem (Virajovem) da capital manauara. AGÊNCIA UGA-UGA DE COMUNICAÇÃO Rua Diogo Bernardes, 72 – Jardim Espanha III, Aleixo – Cep: 69060-020 – Manaus (AM) Tel./Fax: (92) 3642-8013 / (92) 3642-9003 E-mail: agencia@agenciaugauga.org.br Site: www.agenciaugauga.org.br CONHEÇA OS 15 VIRAJOVENS EM CAPITAIS BRASILEIRAS:
Apoio Institucional
é publicada mensalmente em São Paulo (SP) pelo Projeto Viração da Associação de Apoio a Meninas e Meninos da Região Sé de São Paulo, filiada ao Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas de São Paulo; CNPJ (MF) 74.121.880/0003-52; Inscrição Estadual: 116.773.830.119; Inscrição Municipal: 3.308.838-1
Arquivo Uga-Uga
Editorial
ATENDIMENTO AO LEITOR Rua Fernando de Albuquerque, 93 – Conj. 3 Consolação – 01309-030 – São Paulo (SP) Tel./Fax: (11) 3237-4091 e (11) 9440-7866 HORÁRIO DE ATENDIMENTO das 9 às 13h e das 14 às 18h E-MAIL REDAÇÃO E ASSINATURA redacao@revistaviracao.com.br assinatura@revistaviracao.com.br
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TVejo lá ! Colaboraram: MARIANA ANTONY e IONARA TALITA, Virajovem Brasília (DF) MARINA BUSCHMANN, UBIRAJARA BARBOSA e VITOR SALMAZO, Virajovem Curitiba (PR) DANIELA NEGREIROS, Virajovem Fortaleza (CE)
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ania do entretenimento mundial, os reality shows vêm de uma expressão da língua inglesa que significa espetáculos reais. Um novo estilo de programas que coloca pessoas para lutar por um prêmio. O modelo espalhou-se pelo mundo e faz sucesso tanto na TV quanto na internet, onde é possível encontrar chats, fóruns e sites sobre o assunto. Mudam um pouco as regras, uns enfocam mais a luta pela sobrevivência, outros preservam o estilo de trancar os participantes numa casa, mas conservam a competição e o teste de resistência às
dificuldades e a exposição pública de suas imagens. Embora tenha havido precedentes no rádio e na televisão, o primeiro reality show, como é visto hoje, foi a série An American Family, transmitida em doze partes em 1973 nos Estados Unidos. Ficou famosa por lidar com divórcio em uma família, e ainda, pela revelação de que um dos filhos era homossexual. No Brasil, pode-se dizer que a “onda” de reality shows começou com o programa No Limite, daTV Globo, em 2000. O mundialmente famoso Big Brother foi criado em 1999, inspirado no livro de George Orwell, 1984.
O QUE VOCÊ acha dos reality shows? DIEGO HENRIQUE, 15 anos, Curitiba (PR) DÉBORA DA CUNHA, 20 anos, Fortaleza (CE) “Há quem adore e quem odeie, mas, particularmente, eu amo! As pessoas que participam de reality shows acabam se tornando um tipo de personagem de uma novela da vida real. Já viraram uma mania nacional.”
“Esses programas são máquinas de fazer dinheiro. Mas é divertido ver a vida dos outros e saber das fofocas.”
RENATO RIBEIRO, 17 anos, Curitiba (PR) “Reality Show é uma perda de tempo. Devia ter coisa melhor passando na TV, como jornal ou algo mais instrutivo.”
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GABRIEL ALMEIDA, 19 anos, Brasília (DF) “Eu acho esses reality shows uma perda de tempo. O que falta na TV aberta é uma programação de qualidade, com conteúdo e que acrescente conhecimento para as pessoas. O que a gente ganha assistindo os defeitos e qualidades de um monte de gente na televisão? Na minha opinião, nada.”
JÉSSICA MEYER, 15 anos, Curitiba (PR)
ROSIVALDA SANTOS, 24 anos, Brasília (DF) “A televisão deveria aproveitar esse espaço com programas voltados para a conscientização, o aprendizado. Como não gosto e não assisto, aproveito o meu tempo para ler, estudar e me ocupar com atividades que me acrescentem algo positivo.”
“Acho legal pra ver as mulheres que têm nos programas e poder torcer. O mais legal são as intrigas, o circo pegando fogo.”
RODRIGO PESSOA, 20 anos, Brasília (DF)
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WESLEY CRISTIAN FRANÇA, 15 anos, Curitiba (PR)
“Acho legal porque na TV não tem programação muito jovem. As pessoas querem saber da intimidade dos outros, de fofoca, de picuinha...”
“Sinceramente, eu acho uma tremenda sacanagem. O espaço da televisão é muito mal aproveitado, se formos analisar o que passa de interessante chegaremos à conclusão de que quase nada se aproveita. Acho que em vez de a televisão ficar explorando esse tipo de programação deveria investir mais na produção de programas voltados para as questões sociais.”
tá na mão • LIVRO: 1984 – o romance, escrito por George Orwell e publicado em 1948, retrata o cotidiano numa sociedade totalitária. O título vem da inversão dos dois últimos dígitos do ano em que foi escrito. Nele é satirizada uma sociedade em que o Estado é onipresente, com a capacidade de alterar a história e o idioma, de oprimir e torturar o povo e de travar uma guerra sem fim, com o objetivo de manter a sua estrutura inabalada. • FILME: O Show de Truman – o filme do diretor Peter Weir, estrelado por Jim Carrey, explora justamente a invasão da privacidade. Truman é um inocente, cuja vida tem sido transmitida ao vivo e em cores 24 horas por dia para os Estados Unidos inteiro em canal de TV paga, desde o seu nascimento. Ele é o único personagem que não sabe o que está acontecendo. Não há dinheiro movendo suas ações, assim como, no seu cotidiano ele não consegue imaginar a repercussão de seus atos e sua popularidade junto ao grande público que acompanha sua “novela da vida real”.
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Dica de Livro FILHOS CRESCIDOS, PAIS ENLOUQUECIDOS
Divulgação
As mudanças da adolescência vêm acontecendo de forma muito rápida e esse ritmo tem feito com que muitos pais sejam pegos de surpresa. Para tentar evitar que os pais “enlouqueçam”, o médico hebiatra (especialista em adolescentes) Maurício de Souza Lima reuniu em seu livro orientações baseadas em exemplos e experiências freqüentes com que ele teve contato ao longo de sua carreira. Começa o livro explicando o que é um hebiatra e segue tratando de temas como as mudanças no corpo de meninos e meninas, sexualidade, drogas, saúde, piercings, tatuagens, depressão e outros assuntos associados a essa faixa etária. (Filhos crescidos, pais enlouquecidos, de Maurício de Souza Lima – Editora Landscape).
Dica de Site Mídia Independente Você anda descontente com a grande mídia e tem vontade de fazer algo diferente do que tem sido feito nela? O Centro de Mídia Independente (CMI) é uma rede de produtores (as) independentes de mídia que tem como principal objetivo a divulgação de informações que contribuam para a “construção de uma sociedade livre, igualitária e que respeite o meio ambiente”. A idéia é dar voz a quem não aparece na grande mídia. No site (www.midiaindependente.org), qualquer pessoa pode disponibilizar textos, imagens, sons e vídeos. Deixe de ser apenas um receptor, produza!
Curió Ilustração: Érica Dias
Na língua tupi-guarani significa ”Amigo do Homem”
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Como todo passarinho, o curió viaja pelo mundo e vê coisas interessantes. Ele não fica de bico fechado. Sai logo por aí contando tudo para a gente, que não teve a sorte de nascer com asas.
Você já disse que não gosta de política? Que não entende do assunto ou que isso não interessa a você? Então, aí vai uma novidade: política é essencial e, mesmo que você não perceba, as decisões políticas afetam cotidianamente a sua vida. Na acepção mais contemporânea do termo, política significa a ciência de governar, organizar e administrar Estados. Isso significa que todas as leis que definem e protegem seus direitos e todas aquelas que determinam suas obrigações são definidas, aperfeiçoadas e algumas vezes executadas pelo grupo de homens e mulheres conhecidos como “políticos”. Ou seja, aqueles eleitos para representar o povo na tomada de decisões em relação à coisa pública, seja na cidade, no estado ou no país. Além de decidir o que fazer, são os “políticos” que executam algumas dessas decisões, como, por exemplo, onde e como aplicar os recursos vindos dos impostos. Pode-se dizer que política, num sentido mais amplo, está ligada a toda negociação e tomada de decisões que tenha como objetivo o bem comum, os interesses da coletividade. Uma das origens do termo é a palavra “pólis”, uma espécie de cidade autônoma da Grécia Antiga. Para eles, a cidade não era apenas um local de moradia, mas uma forma de organização democrática, em que o grupo de cidadãos se reunia para tomar as principais decisões que, de uma forma ou de outra, iriam afetar a vida de cada um. Esse exercício de se interessar por temas de cunho coletivo, debater, negociar e pensar num projeto de futuro para a cidade, que era feito na pólis, pode ser comparado ao que hoje chamamos de cidadania. Se você se interessa por seu bairro, sua comunidade, sua escola, você faz política. E mesmo quando está exigindo seus direitos de consumidor, pedindo uma nota fiscal, por exemplo, está fazendo política. Quer outro exemplo? Quando você debate temas de interesse coletivo com seus colegas da escola, isso também é uma forma de política ou de cidadania.
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“A arte de vencer se aprende nas derrotas.”
texto Marília Oliveira O estudante de jornalismo, BRUNO DE OLIVEIRA, morador de Guarulhos (SP), não concorda com o fato de menores de 18 anos trabalharem. O jovem, de 21 anos, explica por que é contra essa prática.
Arquivo Pessoal
DO CONTRA
Simon Bolívar, libertador venezuelano “O amor é a força mais sutil do mundo.” Mahatma Gandhi, pacifista indiano
Por que você é contra trabalho para menores de 18 anos? – Porque, nessa idade, os menores deveriam estar completamente focados no exame do vestibular, além de ter um período do dia reservado ao lazer. Embora exista uma lei que garante isto ao jovem, o sistema social “burla” e obriga os menores a abdicar de certas coisas para trabalharem e complementarem a sua renda ou a da família. Então o que precisaria ser feito, já que o problema é social? – Fiscalização por parte do governo para que essas leis sejam cumpridas e a reformulação do sistema de ensino adotado no Brasil. Mas e quanto a adolescentes que precisam de apoio financeiro? Onde poderão buscar? – Quais são os gastos de um jovem que precisa trabalhar? Alimentação, livros e atendimento médico? Se a escola oferecer todos esses serviços, talvez a necessidade de um emprego diminua. A escola também deve fornecer seu entretenimento? – Sem dúvida.
Divulgação
Fórum cria Grupo de Trabalho contra maus tratos a adolescentes infratores O Fórum Municipal de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, que se reuniu no dia 4 de março na Câmara de Vereadores de São Paulo, acaba de compor um Grupo de Trabalho (GT) para elaborar um documento cobrando a responsabilização direta dos autores de maus tratos a adolescentes infratores. O principal motivador do GT é a Febem, cujo modelo é duramente criticado pelos especialistas e por pessoas ligadas à defesa dos direitos de crianças e adolescentes previstos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A idéia é “levantar uma bandeira” contra a situação de descumprimento do ECA. “O ECA determinava 90 dias para que a sociedade e as autoridades se adequassem. Já faz 15 anos”, declarou Lourival Nonato, membro da executiva do Fórum e idealizador do GT. O momento é propício também porque, de acordo com Nonato, está tramitando na Assembléia Legislativa do Estado um Projeto de Lei (PL) do deputado estadual Renato Simões (PT) cujo conteúdo se refere à adequação das medidas sócio-educativas aplicadas aos adolescentes infratores às determinações do ECA. Segundo Lourival, a meta do grupo é se manifestar publicamente contra todo o tipo de maus tratos e pressionar para que esses abusos não aconteçam mais. O Fórum também deliberou sobre o processo de eleição para o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) e sobre a destinação das verbas do Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. Os recursos do fundo são provenientes da renúncia fiscal do governo federal, que permite que pessoas físicas destinem até 6% do valor do Imposto de Renda (IR) ao fundo de sua cidade. Já pessoas jurídicas podem destinar até 1% do IR. Natalie Catuogno Consani
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TESÃO
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LARA MEDEIROS tem paixão pelo que pensa e faz
Lara tem 22 anos e faz veterinária na Universidade Federal Fluminense (UFF)
de
Carinho
mãe
GUSTAVO BARRETO, do Rio de Janeiro (RJ)
P Arquivo Pessoal
ara a jovem carioca Lara Medeiros, a escolha da profissão não foi um problema. Na dúvida, ela seguiu uma paixão de infância: a veterinária. “Fiquei um pouco confusa entre veterinária e medicina. A única diferença é o paciente. E essa é a parte mais ‘maneira’ da veterinária. A gente é meio detetive, sabe? Tem que usar todos os sentidos para tentar descobrir aquele enigma. O bicho não fala ‘eu tô com dor de dente’, ‘tô com dor no meu pé’”, justifica. Mas ela garante que o animal dá uma série de sinais que, juntos, como num quebra-cabeça, se encaixam em um quadro clínico característico de uma determinada doença. “É muito semelhante à pediatria. O paciente também não fala, ele só chora, e berra, e grita, e esperneia, e quer te bater. Cachorro só quer morder e te arranhar, eqüino só quer te escoicear, mas tá tudo certo.” Atualmente, Lara faz estágio no bairro da Mangueira e sai de vez em quando para trabalhar no campo, que é o que mais gosta de fazer. “Não curto muito ficar em laboratório. O legal é sair, fazer clínica, cirurgia. Quando estagiei na polícia, tinha que pegar cada um dos 90 cavalos, fazer tipo um exame clínico geral. Na parte de reprodução, dá pra sentir direitinho o potrinho dentro da égua... É muito lindo!”. Lara conta que uma vez, em Curitiba (PR), ela estava na cocheira de éguas que estavam prestes a parir. Ficou ali a madrugada inteira, vigiando as oito fêmeas. “Uma das éguas entrou em trabalho de parto, que pode durar duas horas ou o dia inteiro. Ela estava com medo, mas quando eu voltava, ficava mais calma. De manhã ela pariu”, lembra.
O animal dá uma série de sinais que, juntos, como num quebra-cabeça, se encaixam em um quadro clínico
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Um dia com um profissional para ajudar você a escolher sua carreira
Atriz CAROLINE CICILIATO, de São Paulo (SP)
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que queremos, o que vamos enfrentar... São tantas dúvidas, contradições! Passar algumas horas com o ator Ivam Cabral, um profissional tão qualificado com uma excelente formação e uma trajetória de vida estimulante, me fez ter mais certeza de que a arte é o que eu realmente quero para meu futuro. Ouvir respostas para algumas perguntas que martelavam a minha Daniela Landin cabeça foi muito bom e gratificante. E o legal é que nem precisei fazê-las para ele dizer coisas que eu precisava ouvir. Ele também me apresentou o espaço Satyros, um lugar superlegal, com uma enorme energia positiva que é típica de locais de quem trabalha com isso. O caminho para cada um é, obviamente, diferente. Conversar com uma pessoa e conseguir enxergar um pouquinho do nosso futuro, mesmo que seja pequeno para os olhos dos outros, é o que sonhamos e buscamos. Ele me deu dicas ótimas, como focar a atenção nos meus estudos, no meu objetivo, na seleção de pessoas e escolhas. A meu ver, essas dicas são válidas para qualquer adolescente que queira ser um profissional bem-sucedido. Mostrou-me que não é fácil, “Passar algumas horas com o ator me fez ter mais que vou passar por muitas dificuldades, certeza de que a arte é o que eu realmente quero” muitas dúvidas. Mas acho que isso tudo é necessário para eu amadurecer, aprender e, enfim, tornar-me uma atriz, talvez não de sucesso, mas uma boa atriz, digna e satisfeita. Agradeço a oportunidade à Vira. E agradeço principalmente ao ator Ivam Cabral por ter me apresentado algumas coisas.
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Caroline Campos Ciciliato, de São Paulo (SP), 17 anos, é aluna do 3o ano do ensino médio na E.M.E.F.M. Professor Derville Allegretti e faz curso técnico de Turismo na Escola Técnica Estadual de São Paulo
tá na mão • Sobre Teatro Brasileiro: www.teatrobrasileiro.com.br • Guia de Teatro: www.sobresites.com/teatro • Teatro Oficina: www2.uol.com.br/teatroficina • Biblioteca Virtual de Artes Cênicas: www.bibvirtuais.ufrj.br/artescenicas/index.php • Enciclopédia Virtual de Artes Cênicas da USP: www.eca.usp.br/enciclopedia • Sobre o curso de graduação em Artes Cênicas da USP: www.usp.br/prc/uniprof/descricao_artce.htm
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Para não morrer na praia
Falta o essencial na elaboração do Plano Nacional da Juventude: a participação dos próprios jovens
Foto: Luciney Martins
EQUIPE DO PROGRAMA JUVENTUDE, da Ação Educativa
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ntre os dias 30 e 31 de março, acontece em Brasília um encontro para discussão e elaboração do que deve ser o Plano Nacional de Políticas Públicas de Juventude (PNJ). Para quem ainda não está por dentro do assunto, a formulação do PNJ é uma iniciativa da Câmara dos Deputados, que, desde 2002, tenta constituir um conjunto de marcos legais e documentos sobre os direitos dos jovens, que, hoje, correspondem a 34,1 milhões de brasileiros. Para isso, foi constituída a Comissão de Juventude da Câmara, atualmente presidida pelo deputado Lobbe Neto (SP) e que tem como relator o deputado Reginaldo Lopes (MG). Numa importante iniciativa, a comissão convocou os jovens para participarem desse processo de construção, o que é fundamental para dar visibilidade às suas demandas específicas e reconhecer que esses sujeitos têm direito à participação. No entanto, as dificuldades em organizar processos realmente democráticos influenciam negativamente a iniciativa da comissão e fragilizam a formulação de propostas consistentes. Isso pode fazer todo o processo morrer na praia. Nos três últimos anos, a construção do PNJ já desencadeou a realização de um seminário nacional, encontros estaduais e uma Conferência Nacional de Juventude. Mas quais foram os resultados desses encontros? O documento final – e disponível no site da Câmara dos Deputados (www.camara.gov.br) – até o presente momento, contém contradições, é vago e mais parece uma carta de intenções. Ou seja, está longe de ser um documento que tenha algum peso político e aponte compromissos reais com a juventude. Isso reflete a dificuldade na organização de uma metodologia adequada para a elaboração de um documento coletivo, capaz de “escutar” diferentes vozes e de expressar consensos possíveis com atores tão diversos.
POUCO DIÁLOGO Para avançar na construção desse documento, a Comissão de Juventude convocou, no final de 2005, uma nova rodada de participação, com audiências estaduais antecedendo o seminário nacional. Mas, mais uma vez, muitos grupos e organizações ficaram frustrados com o processo, já que as audiências reproduziram, na maior parte dos estados, os mesmos erros dos processos anteriores: organização centralizada, pouco diálogo e comunicação com os coletivos e organizações interessadas no assunto, ausência de divulgação e de estrutura e recursos que garantissem a participação dos jovens, entre outros. Com isso, grande parte dos jovens interessados não pôde participar ou pouco conseguiu interferir na discussão. Embora tenham sido eleitos 13 delegados em cada estado, ainda não se sabe quem são eles (tudo indica que sejam pouco representativos da diversidade da juventude brasileira) e sabe-se pouco sobre seu papel no seminário nacional. Aliás, sabe-se pouco sobre muita coisa. As cartas produzidas nas audiências estaduais não estão acessíveis. O texto substitutivo, a ser discutido no seminário, ainda está sendo elaborado pelo relator e só deverá ser concluído às vésperas do evento. Como o encontro não tem caráter deliberativo, não se sabe como é que serão utilizadas as contribuições da sociedade civil. Além dos jovens delegados, sabe-se que os integrantes do Conselho Nacional de Juventude e alguns convidados participarão do encontro, mas não quem serão esses convidados. Estabelecer como diretriz a participação de jovens na elaboração de um documento ou de uma política exige muita organização e recursos compatíveis. A construção do PNJ tem efetivado pouco o direito de participação juvenil. Assim, o que poderia ser um espaço de diálogo, experimentação e construção de uma agenda comum, tem se convertido em um processo confuso, pautado muitas vezes por disputas que pouco ou nada contribuem para a efetivação de direitos da juventude brasileira, reforçando, entre muitos, a aversão às entidades políticas tradicionais.
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tá na mão www.acaoeducativa.org.br
www.ijc.org.br
www.bocadaforte.com.br
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1. MODO DE USAR por Fernanda Pompeu * Existe gente que não acredita em duendes, assombrações, alma do outro mundo, mas acredita que a redação é um fantasma! Gente que treme nas bases quando se depara com a ação de redigir um texto. A coluna Viralíngua, que ora começamos, terá como objetivo principal desfazer o mito de que só escritores ou jornalistas escrevem, e o mito de que a língua portuguesa é uma armadilha esperando a próxima vítima. Vamos tentar aprender as regras gramaticais da chamada língua padrão – aquela que precisamos para passar no vestibular ou nos concursos públicos. Não apenas isto, o domínio da língua padrão é a carteira de habilitação para escrevermos e-mails, artigos, crônicas, contos, poemas, manifestos, folhetos e, até mesmo, cartas de amor.
Viralíngua será uma coluna duas em uma: terá um olho na gramática, e outro nas técnicas de estímulo à criatividade verbal e à redação. Desde já, reservem lápis e papel. Preparem-se para decolar.
* Fernanda Pompeu é redatora e professora de redação
www.obj.org.br
www.camara.gov.br
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Divulgação
Banda recifense Mombojó: independente e colecionadora de prêmios importantes no cenário musical
Guerrilha
cultural
Mesmo sufocado pela indústria fonografia, o cenário da música independente ganha força no Brasil JAQUELINE FERNANDES, de Brasília (DF)
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Fotos: Jaqueline Fernandes
reordenamento da cadeia musical no Brasil é discussão que sai cada vez mais dos ditos submundos e da marginalidade. A música independente sobrevive por mecanismos próprios, desvinculada da mídia tradicional e mais articulada do que nunca. Prova disso é a quantidade de selos,
O cantor, Tom Zé, e o produtor da Feira de Música Independente, Gustavo Vasconcellos. ABMI calcula que existam cerca de 400 gravadoras independentes no Brasil
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debates, feiras e associações de música independente criados no Brasil nos últimos anos. A Associação Brasileira de Música Independente (ABMI) calcula que existam cerca de 400 gravadoras independentes no país, 90% de micro e pequeno porte. A antiga visão do cenário como um meio sem organi-
zação, onde a sustentabilidade não mostrava importância, mudou. O que fez com que artistas de renome, como Ed Mota, Maria Bethânia e Tom Zé, mesmo com possibilidades de lançar seu trabalho em grandes gravadoras, aderissem aos selos independentes. Organizados e consistentes, estes
OUTRA COISA A ABMI estima que de cada 10 discos gravados no país, sete são independentes. Gustavo Vasconcelos, produtor e organizador da 1a Feira da Música Independente de Brasília, reuniu, de 27 a 30 de abril de 2005, cerca de 30 mil pessoas entre debates, workshops e shows no Teatro Nacional. Todos os eventos foram voltados para a difusão da música independente, conquista de espaço e sustentabilidade. O músico Lobão tem levantado a bandeira da “independência ou morte” para a música brasileira desde os anos 1980. Ganhou destaque ao discutir por todo país o tema. Ele é responsável pela Outra Coisa, revista
independente de circulação nacional em que cada edição vem com um CD por R$12,99. A publicação traz música brasileira lançada por selos independentes e matérias com super-doses de guerrilha cultural. A criminalização do pagamento para tocar músicas nas rádios, o chamado “jabá”, é outra bandeira do cenário musical independente. “Temos que parar com este discurso de que existem rádios comunitárias e mídias independentes. Precisamos tomar também as rádios tradicionais e baixar o preço dos CDs. Rádio é uma concessão pública, é preciso quebrar esse paradigma, porque pagar pra tocar na rádio é criminoso, censura e afeta a formação cultural do povo brasileiro”, alerta Lobão. Por conta deste cenário, deu-se a proliferação de novas formas de distribuição musical. A pirataria é uma delas. Outra é a multiplicação de grupos com licenças autorais diferenciadas, capazes de viabilizar a recombinação musical em meio digital. PRODUÇÃO COLETIVA Dados da FGV apontam que são lançados mil CDs de tecno-brega por ano no Maranhão. No entanto, nenhum é encontrado nas lojas porque vão direto para os camelôs, a R$ 3,00. O produtor negocia a venda direta. O mesmo acontece com outros estilos, como o forró de Manaus. Grupos como Re: combo e Creative Commons fazem a liberação de direitos autorais com restri-
ção apenas para o uso comercial e possibilitam a produção coletiva. A internet acelera trocas musicais e estoura os limites legais. “O mercado musical paralelo é o mercado da verdadeira música brasileira”, polemiza Lemos. Lobão afirma que o explorador dos artistas não é a pirataria, mas as interessadas em uma lei rigorosa contra ela: as gravadoras. “Todo mundo sabe que a pirataria não interessa mais porque fugiu ao controle e não serve mais às gravadoras”, diz. “O modelo de Direito Autoral, tal como existe hoje, começou a ruir naturalmente, com a revolução digital, surgida nos anos 1990”, explica Lemos. “O poder que foi transmitido para o indivíduo rompeu com as barreiras entre criador, produto e consumidor. Vivemos em uma sociedade em que não precisamos mais ser consumidores passivos”, analisa. “Me dou ao luxo de ser entusiasmado. A música nasce dos pequenos absurdos do dia-dia e poesia é simplesmente percebê-los nascendo. Talvez a música tenha uma geografia muito mais misteriosa, a geografia da vontade”, desabafou Lobão, no editorial de uma das primeiras edições da revista Outra Coisa.
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Jaqueline Fernandes é integrante do Virajovem de Brasília (df@revistaviracao.com.br)
A cantora e compositora cearense Eliane Brasileiro também é adepta do selo independente
Arquivo pessoal – Eliane Brasileiro
selos atuam com o mesmo poder das gravadoras internacionais, embora com menos visibilidade e oportunidade. Ronaldo Lemos é diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas (FGV). Segundo ele, existem, hoje, quatro grandes gravadoras no Brasil e estas lançaram 48 CDs de música brasileira no primeiro semestre de 2004. Os selos independentes colocaram no mercado 276 produtos nacionais. Acontece que as grandes gravadoras dominam 85% das rádios e, conseqüentemente, do mercado. Ronaldo conta que para os selos independentes resta apenas 3% de venda e execução. “A diferença é ocupada por uma gravadora que apenas licencia músicas e vende em formato de trilha de novela. O artista brasileiro não tem canal nos meios de comunicação tradicionais e não chega ao Brasil real”, afirma.
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Crime organizado, drogas, desemprego e fome. Saiba mais sobre o que move a exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil
e s e d n Ve DANIELA NEGREIROS, de Fortaleza (CE), JOÃO CARLOS RAPOSO MOREIRA, de São Luís (MA), CÍCERA GIANINI, DOUGLAS MARTINS e RAFAEL STEMBERG, de São Paulo (SP) DANIELA NEGREIROS, de Fortaleza (CE),
Colaboraram: ROBSON OLIVEIRA, de Fortaleza (CE), MARCELO AMORIM, de São Luís (MA), GIORGIO D’ONOFRIO e NATALIE CATUOGNO, de São Paulo (SP) fotos ROBSON OLIVEIRA
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ortaleza é a quinta maior cidade do país com aproximadamente 2,3 milhões de habitantes. Não é famosa apenas por ser um grande pólo turístico em função de suas belas praias e animada vida noturna. A capital cearense também ostenta a triste fama de ser conhecida, mundialmente, como um dos principais pontos da rota do turismo sexual. Segundo Renato Roseno, coordenador do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente de Fortaleza (CEDECA), existe ainda o fetiche cultural em relação à mulher brasileira, sobretudo, nordestina. “Há o mito de que ela seja mais erotizada, mais fácil”. Neste contexto, o corpo infanto-juvenil é mais um produto colocado no mercado do sexo, principalmente na alta estação. A maioria das adolescentes vêm de famílias desestruturadas do ponto de vista social, econômico e afetivo. Elas vêem nessa prática a possibilidade de acesso a coisas e lugares inimagináveis. Às vezes, são levadas apenas pela satisfação imediata do acesso a comida, roupas e passeios. Outras, ainda, vivem a fantasia de encontrar um “príncipe encantado”, que transformará suas vidas.
sos”, diz, em entrevista à CPMI Agência Câmara. Conta, ao mesmo A Comissão Parlamentar tempo, com a particiMista de Inquérito (CPMI) pação de deputados e que investigou a explorasenadores ção sexual de crianças e adolescentes identificou casos em todo o país, principalmente durante as festas populares, com envolvimento não só de estrangeiros, mas de pessoas de vários estados brasileiros. Mas a deputada Maria do Rosário, que foi a relatora da CPMI, teme que a vinda de exploradores estrangeiros para o Brasil se acentue devido à destruição dos países asiáticos após o tsunami, no fim de 2004, e também a ações governamentais e da sociedade civil desses locais.
CRIMINOSOS, NÃO TURISTAS A deputada gaúcha Maria do Rosário faz questão de ressaltar que essas viagens não devem ser classificadas como turismo. “O Brasil é um dos principais destinos turísticos do mundo, tristemente também para exploração sexual. Precisamos separar esses temas. Turismo é cultura, é paz e respeito humano. Quem se vale da exploração sexual não devemos nem mais considerar turistas e sim crimino-
BRASIL EM CAMPANHA
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Secretaria Especial dos Direitos Humanos e os ministérios da Saúde e Turis-
mo criaram, no dia 18 de maio de 2003 (Dia Nacional de Enfrentamento à
Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes), uma central de atendimento telefônico que ajuda a combater a violência e o turismo sexual infanto-juvenil no país. O telefone do Disque-Denúncia é 0800-990-500. Firmar parcerias com o setor turístico é uma das estratégias do Governo Federal para combater o problema. Em dezembro de 2005, foi lançada a Campanha
Nacional de Enfrentamento e Combate à Exploração Sexual e Comercial da Criança e do Adolescente noTurismo. A campanha prevê ações sugeridas pela CPMI da Exploração Sexual, como a adoção regionalizada de um Código de Conduta do Turismo, com dicas para que hoteleiros, taxistas e guias possam agir na prevenção e identificação de casos de exploração sexual infanto-juvenil.
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A Tailândia, estigmatizada como paraíso sexual, é citada pelo coordenador do programa Turismo Sustentável e Infância, do Ministério do Turismo, Sidney Costa, como um país que avaliou o quanto perdeu com essa classificação e agora investe no combate à exploração para se reabilitar como destino turístico. O turismo sexual tem, com freqüência cada vez maior, vítimas menores de 18 anos. Segundo a Rede Internacional de Organizações Contra a Exploração Sexual da Infância (Ecpat), isso se deve a duas causas principais: de um lado, a facilidade dos intercâmbios na internet; de outro, o medo da aids. Os que procuram sexo preferem pessoas virgens para manter relações sexuais seguras, afirma a Ecpat. O resultado disso é um exército de crianças e adolescentes que, além de sofrer diversos abusos, estão expostos a vários tipos de doenças. A Ecpat é referência para organismos como a Organização das Nações Unidas e a Interpol. Ao contrário do que se acredita, ainda segundo as investigações da Ecpat, a maioria dos exploradores sexuais não é pedófilo nem apresenta patologias psiquiátricas relacionadas à pederastia. São cidadãos comuns, respeitáveis em suas comunidades de origem, com mulher e filhos, profissões qualificadas e uma posição social e econômica média ou alta. Mas também existe outro grupo de exploradores que são pedófilos e buscam ativamente o contato sexual com crianças e adolescentes. É um grupo pouco numeroso, mas muito ativo, que costuma aproveitar a exploração das vítimas também para gerar pornografia infantil e trocar fotos pela internet. Não costumam ser clientes habituais de bordéis – conseguem as crianças diretamente nas ruas ou por meio de contatos com as máfias locais.
SÍNDROME DE FORTALEZA Coletados por Robson Oliveira e Daniela Negreiros, os diálogos abaixo fazem parte de um documentário exibido no Festival dos Direitos Humanos em Bolonha, na Itália, cujo título é Síndrome de Fortaleza
“Acredito que os homens tenham preferência por meninas entre 14 e 15 anos.” F.A.S.M., 15 anos, cursa a 5a série do Ensino Fundamental e faz programas com turistas
“Comecei a fazer programa porque estava precisando de dinheiro. Chego a fazer sete programas por noite e cada programa custa 40 reais. As meninas que fazem programas na Beira Mar preferem os gringos por que eles pagam mais e em dólar.” M.R.S., 17 anos, não freqüenta escola
“Minhas hóspedes são daqui e também vem de outro Estado; a maioria faz prostituição para ajudar a suas respectivas famílias.” Ana Maria Silva, proprietária de uma casa de massagem
AMPARO LEGAL texto Natalie Catuogno
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xploração sexual é crime. Crianças e adolescentes vítimas do chamado turismo sexual – ou de outras formas de exploração sexual – contam com o amparo legal do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que, em seu artigo 244 – A, define pena de quatro a 10 anos de reclusão, além de multa, a quem submeter criança ou adolescente à prostituição ou à exploração sexual. O turismo sexual pode configurar diversos crimes, para os quais o Código Penal prevê aumento da pena quando são praticados contra adolescentes. É o caso, por exemplo, do artigo 228, que trata de favorecimento da prostituição. Se a vítima tiver entre 14 e 18 anos incompletos, a pena sobe de dois a cinco anos de reclusão para de três a oito anos. No artigo 230, que trata de rufianismo (tirar proveito da prostituição alheia), o caso é o mesmo: a pena aumenta de um a quatro anos de reclusão, mais multa. Se o explorador de um adolescente que o submete ao turismo sexual for denunciado, ele responde pelos crimes previstos no Código Penal e também pelo artigo 244 – A do ECA. “Além do artigo específico no ECA, se aplica também o Código Penal, quando for o caso”, explica a promotora de Justiça e assessora do Centro de Apoio Operacional (CAO) da Infância e Juventude do Ministério Público do Estado de São Paulo, Laila Said Abdel Qader Shukair. A promotora explica que tanto a polícia, quanto os conselhos tutelares e o Ministério Público são instâncias aptas a lidar com situações de abuso e exploração sexual. Revista ViRAÇÃO · Ano 4 · nº 25
CAUSAS E CONSEQÜÊNCIAS
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erca de dois milhões de jovens brasileiros, entre 16 a 24 anos, não estudam nem trabalham. Em Fortaleza, este número pode chegar a 250.000, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE). Jovens que deveriam está estudando competem com adultos pelos poucos empregos que surgem. Diante das dificuldades, muitos começam a fazer qualquer coisa pra sobreviver, como, por exemplo, catar papel e recicláveis, vender milho e coco nas ruas e praias, limpar e guardar carros, trabalhar no jogo de bicho, vender CDs piratas e mercadorias falsificadas, mendigar e até praticar pequenos roubos. Além disso, existem os que iniciam no tráfico como “avião” – os que passam a usar a droga além de traficar – , e as garotas que são forçadas a “alugar o corpo”. É importante frisar que, atualmente, em todo mundo, o tráfico organizado está intimamente ligado à exploração sexual de crianças e adolescentes, pois estes são os maiores vetores do uso das drogas. O crime organizado também cresce e se fortalece devido ao consumo de drogas potencializado pela oferta do sexo e pelo poder aquisitivo do turista. (Dados da Interpol de 2005 confirmam que a máfia Siciliana, Napolitana e Colombiana atuam de forma associada na região de Fortaleza e Natal). Robson Oliveira é sociólogo e fotógrafo e representa no Brasil a Rede Italiana de Combate ao Turismo Sexual; Daniela Negreiros é integrante do Virajovem de Fortaleza
NA CIDADE DE PEDRA Da rota do turismo sexual não fazem parte apenas cidades litorâneas. Em São Paulo, poe exemplo, há uma grande quantidade de casas noturnas. Isso faz com que, além das meninas pobres da capital, muitas outras garotas, principalmente vindas do Norte e Nordeste, sejam trazidas com ofertas de empregos. Meninas que vivem em situação de miséria caem na promiscuidade, e quando não dão mais lucro para as boates são jogadas na rua, onde mantêm o hábito de vender o corpo para sobreviver. Apesar da falta de interesse das autoridades diante de problemas tão sérios, existem pessoas que procuram ajudar. É o caso da Associação Maria de Magdala, que busca integrar socialmente mulheres e jovens prostitutas e exprostitutas. Segundo a professora responsável por sua criação, Maria Cristina Castilho, a maioria das
prostituídas foram vítimas de violência sexual, principalmente na infância e na puberdade. Maria Cristina diz que é necessário discutir o assunto com as famílias, que muitas vezes também precisam de tratamento; e nas escolas, para que professores possam detectar se a criança está sofrendo algum tipo de abuso. A Associação atualmente tem um trabalho de reintegração social com 111 mulheres e 140 crianças e adolescentes. TRAUMAS Uma criança explorada sexualmente pode carregar uma série de traumas ao longo da vida. Lembranças constantes dos abusos sexuais sofridos afetam não só física, mas também psicologicamente. Elas podem gerar o medo de se relacionar com outras pessoas. O toque e um contato mais próximo com o outro indivíduo ficam comprometidos. A criança cresce com proble-
mas como baixa estima, tristezas, vergonha e agressidade. Na maioria dos casos, as crianças acham que são as culpadas pela violência sexual que sofreram e se sentem responsáveis por terem permitido que os atos acontecessem. Isso ocorre devido às crianças não terem discernimento para entenderem que a culpa não é delas. A análise é de Suzy Camacho, psicóloga há 12 anos. Ela, que atua com psicoterapia infantil e de adolescentes, conta ainda que os traumas podem acompanhar durante muito tempo a vida dessas crianças que sofreram algum tipo de violência sexual. “Os pais precisam ficar atentos ao comportamento dos filhos, pois eles têm formas diferentes de mostrar que algo não anda bem. Alguns podem apresentar um comportamento isolado e outros podem ter um comportamento agressivo. O tratamento é longo, pois elas carregam uma carga de culpa muito grande”, explica Susy.
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TV Digital que bicho é este? GALERA REPÓRTER
ALDER AUGUSTO DA SILVA, ALESSANDRA PERRECHIL, CAMILA PEREZ, CÍCERA GIANINI, DANIELA LANDIN, DOUGLAS LIMA, ELIANE JESUS LEITE, ÉRIKA SANTANA, FÁBIO MALLART, FELIPE JORDANI, GIORGIO D’ONOFRIO, GISELE PALLA, HELOISA SATO, KELI SEEIRE, LUCAS CARREIRA, MARCELA MASTROCOLA, MARÍLIA ALMEIDA, NATALIE C. CONSANI, ORLANDO TONHOLI, PALOMA KLISYS, RAFAEL STEMBERG, ROSEMEIRE SANTOS, SUSANA SARMIENTO, TALUANA BRISA e TONY MARLON SANTOS fotos GIORGIO D’ONOFRIO e JULIANA ROCHA BARROSO
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Faltou discussão: “dos pontos de vista lógico, financeiro e cultural, não havia nenhuma razão para se tomar uma decisão apressada quanto à adoção de um padrão de TV Digital”, afirmam jornalistas do Intervozes
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iante do que tem se falado sobre TV Digital, você acha que está preparado para se posicionar a respeito do assunto? A adoção da TV Digital no Brasil foi reduzida à escolha entre três padrões tecnológicos existentes: o japonês, o europeu e o estadunidense. Na verdade, a grande questão é a democratização das comunicações no país. A digitalização da TV tem funções muito mais importantes que oferecer uma imagem melhor. Ela possibilita uma abertura para novos canais de TV, com um recurso chamado multiprogramação, existente apenas no modelo europeu. Com isso, amplia-se a participação com a veiculação de produções de sindicatos, movimentos sociais, ONGs, canais comunitários e universitários. Sobre esses e outros aspectos da TV Digital, os jornalistas Carol Ribeiro e Diogo Moisés, do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social –, conversaram com os virajovens de São Paulo. O Intervozes é uma associação que luta pela democratização da comunicação e tem tido um papel super importante para dar visibilidade ao tema. Essa galera produziu um documento com propostas para a implantação tecnológica e lançou um abaixo-assinado: “Por um Sistema Brasileiro de TV Digital de Interesse Público”. Vale lembrar que o coletivo, junto com outros movimentos, moveu uma ação civil que tirou do ar, durante um mês, o programa do apresentador João Kleber, da Rede TV!, transmitindo, no mesmo horário, programas sobre direitos humanos.
“COPIOU”?
Abaixo-assinado – A sociedade exige que as decisões sobre a TV Digital sejam transparentes e voltadas ao interesse público. Participe dessa luta e divulgue o abaixo assinado. Pessoas físicas devem acessar http://www.petitiononline.com/ stvd2006/petition.html e entidades devem enviar um e-mail para abaixo-assinado@intervozes.org.br Revista ViRAÇÃO · Ano 4 · nº 25
SBTVD – Sistema Brasileiro de TV Digital Sistema alternativo, que juntaria as melhores características dos padrões existentes, criando uma quarta modulação
O que é TV digital, como funciona e o que vai mudar? Diogo – TV digital significa o fim da TV recebida de forma analógica, passando para um outro universo, semelhante à maneira como são transmitidos os dados por computador. Atualmente, já captamos em meio digital, tanto nas câmeras fotográficas, quanto nas câmeras vídeo, mas não transmitimos com a mesma qualidade. Funciona mais ou menos assim: os sinais de rádio e TV são transmitidos no que chamamos de espectro eletromagnético. Vocês se lembram do “dial” no rádio, aquele botão que girávamos passando por um monte de números? Cada posição do ponteiro é uma freqüência e é no espaço dela que você consegue transmitir a programação. Tanto no rádio, quanto na TV, cada transmissora tem seu espaço fixo. Na TV analógica, cada canal ocupa seis megahertz – hoje, na TV aberta, temos entre 25 e 30 canais. Na digital, neste mesmo espaço cabem quatro canais. Existem enormes possibilidades, mas o que a TV digital vai ser ainda depende de debates, de conchavo político e de muito lobby. Carol – A primeira conseqüência direta dessa mudança tecnológica é a possibilidade de ter mais espaço para novos canais, pois os dados são comprimidos. Além disso, as transmissões digitais de dados, áudio e vídeo, podem ser transmitir pelo mesmo sistema. Outra possibilidade é a interatividade. O telespectador, hoje passivo em frente à TV, poderá chegar a um nível de interatividade que permitirá produzir
MEGAHERT Homenagem ao físico alemão Heinrich Hertz, que descobriu o fenômeno das vibrações eletromagnéticas no início do século 20. A primeira aplicação do invento foram as transmissões de rádio nos anos 40.
informação e enviá-la para um certo espaço para veiculação. O que é o padrão? Quais são os existentes e como funcionam? Diogo – O padrão é a modulação, como se comprime e transmite os sinais. Então, ao falar padrão DVB (europeu), ISDB (japonês) ou ATSC (estadunidense), estou falando desse sistema de modulação. Os três padrões podem satisfazer o interesse nacional em utilização e interatividade. Se tivermos que adotar um padrão, o fator de maior relevância é a política industrial – a quem pertence a tecnologia que está sendo aplicada e a quem eu pago o royalty de utilização do padrão existente. Segundo a mídia, parece que a grande questão é escolher entre os padrões europeu, japonês ou estadunidense. Esquecemos que podemos ter um padrão próprio, que satisfaça tanto o lado industrial, quanto o modelo de serviço. Resgatando a história, durante o governo FHC, formou-se um grupo para estudar estes padrões optando por um que fosse o melhor para o país. Quando Lula assumiu, publicou um decreto formando 22 consórcios de pesquisa vinculados a importantes universidades, com a intenção de construir um sistema brasileiro. A idéia desse sistema de TV digital era justamente não optar por um dos três sistemas, mas, sim, construir um sistema
novo. Só que, infelizmente, voltamos ao que estávamos fazendo no final de 2002, escolhendo o padrão com mais força no cenário internacional. Por que não usar o modelo brasileiro que foi desenvolvido? Carol – O decreto estabelecia um prazo para entrega das pesquisas até 10 de dezembro e o relatório final até 10 de fevereiro deste ano. Só que no discurso do Hélio Costa, ministro das Telecomunicações, isto mudou. Para ele, precisamos definir agora. Interpretamos que terminado o relatório deveria haver uma
IMPACTO INDUSTRIAL: “O Brasil tem a Gradiente como maior exportadora de televisores na Zona Franca de Manaus. Adotando o padrão japonês, vai exportar para quem?”
ZONA FRANCA DE MANAUS A Zona Franca de Manaus (ZFM) é uma área de livre comércio, com incentivos fiscais especiais, criada em 1967, com o objetivo de formar um parque industrial e comercial para permitir o desenvolvimento da Amazônia.
avaliação para saber se o tempo foi suficiente, se os resultados foram satisfatórios, o que foi desenvolvido. Do ponto de vista do interesse público, não existe qualquer justificativa para tanta urgência. Há no decreto a afirmação de que se deveria fazer um relatório, mas não uma escolha. Diogo – Em teoria, deveriam ter sido destinados 80 milhões de reais para o desenvolvimento de pesquisas. De fato, foram 38 milhões e mesmo assim os resultados são positivos. Mostram que o país tem uma capacidade de produção científica enorme. Entretanto,
LOBBY Tentar obter a aprovação de um projeto ou de uma lei, mediante pedido de votos; tentar influenciar. ROYALTY Pagamento de direitos autorais para exploração de patentes. nº 25 · Ano 4 · Revista ViRAÇÃO
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essa ausência da parcela de dinheiro, não permitiu que as pesquisas fossem concluídas. Em um universo como esse em que giram bilhões de reais, faltar 40 milhões para finalizar uma pesquisa é vergonhoso. Do ponto de vista lógico, financeiro, cultural e econômico, não há nenhuma razão para se tomar uma decisão apressada. Poder-se-ia muito bem gastar mais alguns anos discutindo com sociedade civil, governo e pesquisadores para que todo mundo entenda o que está acontecendo e para conseguir tomar a melhor decisão. Há também uma questão de política eleitoral. Durante o governo Lula, todos os ministros de comunicação foram do PMDB. No meio da crise política, Lula nomeou Hélio Costa, uma figura com vínculos históricos com a Globo. Eis a questão: Lula pode ou não pode contar com o apoio político da rede Globo nas eleições? Com a escolha de um sistema temos que pagar algum royalty? Diogo – Certamente. No caso de todos os sistemas internacionais temos que pagar produzir os equipamentos. O padrão japonês é ligado às empresas orientais Sony e Panasonic. Só que em 2003, se discutia a ajuda do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) à Globo, que estava endividada por causa da Globocabo. Os japoneses fizeram esse aporte de dinheiro em troca da rede Globo usar sua força política em favor da escolha do padrão japonês. Outra questão é que esse sistema é o que mais facilmente justifica a manutenção da ocupação dos seis megahertz no espaço do espectro e aí a Globo não precisa repartir com mais ninguém. Esse padrão permite a divisão do espectro, só que ele é o que apresenta mais argumentos para a Globo e as outras emissoras permanece-
rem com o mesmo espaço e aí continua tudo como está. Então não é correto afirmar que um padrão é mais fraco e outro mais avançado? Diogo – Eles têm diferenças técnicas, isso é um fato. Também há diferenças do ponto de vista da política industrial, ou seja, de quem fica com o dinheiro. O único país que adotou o padrão japonês foi o Japão. O europeu foi adotado por vários países. Isso cria uma questão: o Brasil tem a Gradiente como maior exportadora de televisores na Zona Franca de Manaus. Adotando o padrão japonês, vai exportar para quem? Será que o Japão não tem capacidade de importar com baixo custo, e assim, destruirá o nosso parque industrial? E o padrão brasileiro? Diogo – Nesse debate, simplesmente sumiram os pesquisadores brasileiros e as possibilidades das tecnologias desenvolvidas aqui. O padrão de modulação desenvolvido pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Porto Alegre (RS) une o que há de melhor entre os três padrões, além disso, ele é mais flexível, robusto e barato. Se ele aparecer no debate, reabre a questão do sistema brasileiro e aí não conseguem usar a moeda de troca eleitoral para pressionar o governo a escolher agora um padrão. A escolha de um padrão é uma decisão definitiva? Diogo: Ao adotar um padrão, começam a serem fabricados os decodificadores. E pra trocar tudo isso depois? Mas, então, como intervir nessas decisões? Carol: Percebemos que não havia nenhum ator da sociedade civil preocupado em fiscali-
PADRÕES INTERNACIONAIS – No mundo, apenas o padrão europeu (DVB) seguiu o caminho mais democratizante, embora tenha imagem digital inferior à de alta definição, mas melhor do que a atual, analógica. Os padrões japonês (ISDB) e estadunidense (ATSC) privilegiaram a alta definição, barrando a inserção de novos canais. O estadunidense, para muitos, paga o preço do pioneirismo e é o pior entre os três existentes, com interatividade muito limitada e sem trasmissão móvel. O japonês alia alta definição com mais interatividade e portabilidade.
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zar, em compreender esse processo. Tudo isso está acontecendo e ninguém está sabendo, vendo, não se fala... Nossa primeira tarefa é mostrar que esta discussão precisa estar na sociedade. Foi por isso que soltamos um encarte na revista Caros Amigos de novembro, com a chamada: Saiba porque você tem que participar desse debate! Após isso, tentamos mobilizar alguns políticos, com uma ou outra resposta positiva. Além disso, fizemos o abaixo-assinado, agora com 2.000 assinaturas. Qual tem sido a reação das outras emissoras com relação a essa transição? Diogo: Elas têm uma preocupação semelhante à da rede Globo. Se houver mais concorrentes públicos ou privados, teremos que dividir espaço e audiência. Ao repartir, perde-se publicidade. A preocupação em comum é fazer com que ninguém mais entre no esquema. Isso os une. As empresas de telecomunicações têm ido contra a rede Globo? Diogo – Evandro Guimarães, chefe das Relações Institucionais da rede Globo, disse que mesmo sendo mais ricas que a emissora, as “teles” não poderiam produzir conteúdo, já que teriam que mudar a constituição e para isso não elas têm poder político. Ou seja, eles têm dinheiro, mas quem manda no Brasil é a Globo. Muito se fala que as “teles” querem ocupar o espaço das emissoras de televisão, só que existe na Constituição a condição de que para transmitir audiovisual a empresa precisa ser constituída em 70% de capital nacional. O conflito existente entre as “teles” e as emissoras foi amenizado pelo Hélio Costa, que aumentou em 40% o lucro das empresas de telefonia.
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tá na mão • Intervozes – Coletivo Brasil de ComuAnicação Social www.intervozes.org.br • Sistema Brasileiro de TV Digital – Ministério das Telecomunicações sbtvd.cpqd.com.br • Centro de Mídia Independente vídeo cordel – TV Digital: www.midiaindependente.org/pt /red/2006/03/348365.shtml
Você entendendo Economia
VOCÊ SABIA QUE...
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• Planilha do orçamento – planilha eletrônica que aborda a execução orçamentária dos recursos da Educação no município • Calendário e livro do Grêmio – destinados ao grêmio escolar • Mural da cidadania – painel para estimular e facilitar a comunicação escola-aluno-comunidade • Jogo e livro do Caça Fantasma – para a escola registrar sua experiência em relação aos problemas de gestão escolar.
Divulgação
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ocê sempre ouve seus pais discutindo sobre as contas do mês, o orçamento familiar, mais ainda não entende bem o que significa, na prática, certos nomes estranhos como saldo, extrato, declaração de renda... Na escola, pouco se fala de uma disciplina que explique como funciona esse mundo burocrático e adulto da economia. Imagine se, de repente, um grupo de pessoas achasse que isso é fundamental para sua formação como cidadão e para a integração de sua comunidade! Pois Ana Maria isso está acontecendo desde 2000 no município de São Paulo Quadros por meio do Programa Banco na Escola. A iniciativa é da Aliança Social pela Educação, formada pelas instituições financeiras ABN AMRO Real, Citibank, Fundação Banco do Brasil, Fundação BankBoston, Santander Banespa, Instituto Credicard e JP Morgan. São parceiros desta Aliança o Ministério da Educação (MEC) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Por meio do trabalho voluntário, bancários colocam à disposição de alunos, pais, educadores e comunidade seus conhecimentos sobre como lidar com dinheiro, orçamento e gestão. O Banco na Escola (BNE) foi implementado como piloto em 51 escolas públicas de São Paulo, 50 na Zona Leste e uma na Zona Oeste. Entre os resultados, estão a criação de 43 grêmios estudantis, o fortalecimento do chamado protagonismo juvenil e a redução da violência, da repetência e da evasão nas escolas. Em 2002, foi estabelecida uma parceria entre Banco na Escola, a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo e a Coordenação do Orçamento Participativo (SP) para levar este programa às escolas municipais. A diretora de Orientação Técnica da Secretaria de Educação de São Paulo, Ana Maria Quadros, conta que, no ano passado, o BNE capacitou professores para ensinar o aluno a fazer planejamento, controle do dinheiro e a entender como se dá a aplicação das verbas da Educação. “Você está formando um cidadão que vai aprender a conhecer a verba pública, como ela é elaborada, como é feita e gasta”, diz a pedagoga. Para ela, este aprendizado se estende ao próprio orçamento familiar. “É um programa de cidadania. Conhecer o dinheiro, saber planejar, acompanhar o gasto das verbas, tudo isso é muito importante. Se todas as pessoas pudessem acompanhar seu orçamento, o Brasil daria um salto muito grande”, justifica.
Divulgação
Banco na escola
• Jogo e manual do orçamento – que tratam do orçamento municipal
Divulgação
texto e foto JULIANA ROCHA BARROSO, da Redação
om o apoio técnico da Oficina de Idéias, o Banco na Escola utiliza as seguintes tecnologias sociais durante os trabalhos nas escolas:
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tá na mão • Saiba mais: www.banconaescola.com
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Geração Pesquisadores da ECA participam do projeto Geração Cidadã, que oferece novas perspectivas de vida para 2 mil jovens da Grande São Paulo
que se comunica IZABEL LEÃO, de São Paulo (SP)
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participativa, que é um elemento fundamental para o jovem que quer ingressar no mundo do trabalho”, ressalta Robson Braga, sociólogo e coordenador pedagógico do NCE. A capacitação é feita de três formas: workshop, oficina de blog e oficina de rádio. Nos workshops são desenvolvidas temáticas envolvendo produção de textos, cartazes e trabalho com imagens. Essas atividades desdobram-se na construção de blogs. Nas oficinas de rádio são desenvolvidos a oralidade, a gestão participativa, as linguagens radiofônicas e o entendimento de como lidar com o equipamento. Para Nilton Bispo, coordenador-geral do consórcio, não se trata somente de colocar esse jovem no mundo do trabalho. “Quando ele está fazendo um blog, uma página na internet, desenvolvendo um programa de rádio, também está criando ferramentas para a sua inclusão social.” Maria da Graça Mattar, pedagoga e coordenadora pedagógica do NCE, vê a experiência como um núcleo de experimentação. “O principal é que constituímos um projeto de relações humanas, de capacitação de pessoas, de olhar para o mundo do trabalho.”
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Fotos: Arquivo Geração Cidadã
screver e cantar rap são as formas com que o jovem José Ramos de Jesus, mais conhecido como Macunaíma, acredita poder mudar o seu futuro. Mas nem só de música se vive hoje. Ele sabe que precisa de curso profissionalizante para adquirir mais experiência, poder gravar um CD e entrar definitivamente para o mercado da música. Para ajudar jovens como ele, o Ministério do Trabalho e Emprego criou o Consórcio Social da Juventude. A iniciativa pretende criar mais e melhores oportunidades de trabalho e renda para jovens, por meio da mobilização e da articulação dos esforços da sociedade civil organizada. São 23 consórcios espalhados pelo país. Na Grande São Paulo, o consórcio adotou o nome fantasia de Geração Cidadã e oferece cursos para dois mil jovens dos municípios de Embu das Artes, EmbuGuaçu, Itapecerica da Serra, Juquitiba, São Lourenço da Serra e Taboão da Serra. O Núcleo de Comunicação e Educação (NCE) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP) participa do projeto, na capacitação destes jovens, de 16 a 24 anos. O núcleo, sob supervisão geral do professor Ismar de Oliveira Soares, especificamente para esse projeto conta com três coordenadores e 51 mediadores, que atuam diretamente com os jovens. “Nosso papel é fazer um resgate do potencial expressivo e de comunicação dos jovens, dando-lhes uma perspectiva de desenvolvimento da postura
Geração Cidadã: resgate do potencial e da participação juvenil
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Direito à à
comunicação A
posentaram o “pombo correio” e agora, com todas as inovações tecnológicas, vivemos os desafios da conquista de direitos na Sociedade da Informação. Mesmo com o fim da Ditadura Militar em 1985, as leis que garantem a liberdade de expressão e o direito à comunicação ainda encontram uma série de obstáculos para serem implantadas. Uma das principais barreiras para o exercício destes direitos é a concentração da propriedade dos meios de comunicação nas mãos de empresas privadas. Atualmente nove famílias detêm os oligopólios da mídia controlando 85% da informação veiculada em território nacional e apóiam, numa censura velada, a perseguição e coação dos veículos comunitários. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) sobre consumo de mídia pela população infanto-juvenil apontam que 85% dos jovens brasileiros têm a TV como a principal fonte de entretenimento. Presente em 98% dos lares, a televisão permanece como a principal mediadora nas relações políticas, sociais e culturais. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) garante que as emissoras de rádio e televisão somente exibirão no horário recomendado para o público infantojuvenil, programas com finalidades educativas, culturais e informativas.
DE OLHO NO
ECA
A Constituição Federal por sua vez determina algumas características que nem sempre são cumpridas pelos veículos de comunicação de massa, dentre elas: a preferência a finalidades artísticas e culturais, a promoção da cultura regional e estímulo à produção independente, e regionalização da produção cultural e jornalística. A mídia pode funcionar como um poderoso instrumento de sensibilização para integrar reflexões e melhorar a qualidade de vida, à medida que promove o destaque de matérias sobre educação, trabalho infantil, protagonismo juvenil, abordadas numa linguagem acessível, informativa e não sensaLentini cionalista. A informação de qualidade, além de ser um direito, serve como motor para mudanças, pois instrumentaliza os cidadãos de todas as idades, oferecendo condições de avaliar, interferir e promover ações que tenham ressonâncias consideráveis na gestão do cotidiano das comunidades. O direito à comunicação é mais do que direito à informação e à liberdade de expressão: é o direito de produzir e veicular informação, de possuir condições técnicas e materiais para dizer e ser ouvido, de ser protagonista de um sistema de comunicação plural. É, acima de tudo, compreender a comunicação como um bem público. Com a internet, a telefonia e outros meios eletrônicos acessíveis financeira-
Ivo Sousa
Saiba sobre seus direitos e deveres, garantidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente
mente, a capacidade de articulação de cada indivíduo aumenta e as formas de expressão habituais são ampliadas. Diversos atores vêm batalhando a democratização dos meios de comunicação e trabalhando com foco na qualidade da geração e comunicação do conhecimento. No Brasil ainda não há uma política de disseminação de conteúdo de interesse público, muitas questões polêmicas estão em debate e pedem a nossa atenção e participação para que a diversidade cultural, a pluralidade, o acesso as mídias e conteúdos, a representação de minorias e grupos marginalizados seja uma realidade.
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Paloma Klisys é escritora, autora de Drogas: Qual é o barato e Do Avesso ao Direito
tá na mão • Para saber mais acesse: www.obore.com www.andi.org.br www.midiativa.org.br nº 25 · Ano 4 · Revista ViRAÇÃO
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Descoberta sem culpa
Como enfrentar a parada ao ser discriminado por sua orientação sexual
EDUARDO SANTARELLO
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uando a gente se descobre homo ou bissexual, graças à cultura embutida na nossa cabeça, começam a aparecer muitas dúvidas, mas a pergunta que não se cala é: por quê? Parece que algo ruim aconteceu e queremos saber quem é o culpado. Ninguém tem culpa (se é essa a resposta que você precisava). Cada pessoa tem as suas realidades e posturas diferentes em relação a tudo na vida. E não é diferente em relação à descoberta de sua sexualidade, independente de ser homo, hetero ou bissexual. Às vezes um adolescente heterossexual tem mais dificuldades e tabus na sua expectativa de vida sexual do que um garoto gay, e vice-versa. O que importa, de verdade? É você estar de bem consigo mesmo. O resto você vai levando conforme as coisas vão acontecendo. Se você é jovem e está se descobrindo agora, não fique assustado (a), ou mesmo se já descobriu faz tempo, mas ainda não está bem, não se sinta obrigado (a) a colocar essa informação num outdoor, nem sinta que é o (a) único (a) do mundo a viver essa realidade. Não se feche. Primeiro, abra seu coração e sua mente para você mesmo (a), identifique o que você realmente é, e se chegar a alguma conclusão converse com algum (a) amigo (a) verdadeiro (a). Contextualize uma nova forma de ver o mundo sem dor nem traumas e avalie os riscos de ganhar e perder. Lembre-se: sexualidade não é só sexo, vem no pacote o seu comportamento na sociedade, que não tem regras, pois quem o define é você mesmo (a). Optar é quando a gente escolhe, até hoje nunca vi nenhum relato de alguém que é homo ou bi porque escolheu, mas sim porque é. Então, se alguém perguntar a você o motivo pelo qual optou ser o que é, corrija-o
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dizendo que, assim como ninguém opta por gostar de gordinhos ou magrinhos, de mais velhos ou mais novos, ninguém opta por gostar de homem ou de mulher. Seguimos apenas a nossa orientação natural, que não precisa ter resposta ou motivo, necessariamente, mas que deve ser respeitada, obrigatoriamente.
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Eduardo Santarello faz parte do Grupo de Jovens e Adolescentes da Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo
SEXO e SAÚDE ? Sexo faz com que mude o corpo das mulheres? HTA, 15 anos
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ão, o sexo não muda o corpo das mulheres, o que acontece nos tempos atuais é que os jovens começam a ter a primeira relação sexual mais cedo. Para se ter uma idéia, no Brasil, 50% dos jovens têm a primeira experiência sexual entre os 14 e 16 anos, 72% já tiveram relação sexual até os 17 anos e 90% são sexualmente ativos até os 18 anos, independentemente do sexo. Então, criou-se a impressão de que o sexo alterava o corpo das meninas, o que não é verdade, pois os caracteres sexuais secundários ainda estão em desenvolvimento quando elas iniciam as relações. Portanto, o volume das mamas, nádegas, coxas, cintura ainda não está definido, levando a crer, de maneira enganosa, que foi a atividade sexual precoce que fez com que tal garota tivesse mais bumbum ou mamas maiores.
DOUTOR OSNY LUZ
dolorosas, protege contra o aparecimento de cistos nos ovários e nas mamas (benignos), diminui a ocorrência de infecções no útero, trompas e ovários, diminui o risco de câncer de ovário e de endométrio, diminui o risco de gravidez tubárea (fora do útero nas trompas uterinas). O uso prolongado favorece, em pessoas predispostas, o aparecimento de manchas no rosto que ficam mais visíveis ao tomar sol,
por isso recomenda-se a não exposição prolongada ao sol e o uso diário de protetor solar. Para terminar, fica um alerta: o uso de contraceptivos orais não livra os indivíduos do risco de contaminação por doenças sexualmente transmissíveis, portanto não se esqueça da velha amiga camisinha!
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Doutor Osny Luz é ginecologista, obstetra e professor universitário
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As pílulas de prevenção prejudicam a mulher após muito tempo de uso? Rodrigo, 17 anos ntes de iniciar o uso de anticoncepcionais, a jovem deve submeter-se a um exame geral, um minucioso exame ginecológico (inclusive Papanicolaou ou preventivo do câncer do colo do útero) e das mamas, além de ser excluída qualquer possibilidade de estar grávida. Durante o tratamento prolongado, é importante submeterse a cada seis meses a exames de controle em que seu médico poderá detectar possíveis contra-indicações ao uso. Além da contracepção, as pílulas trazem à maioria das mulheres outros benefícios: ciclos menstruais mais regulares ou a supressão dos mesmos se assim o desejar, menstruações mais curtas (sangramento menos intenso) e menos
Natália Forcat
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QUE FIGURA
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TIAGO ELOY ZAIDAN, de Maceió (AL)
Feminina e vanguardista A
Novaes
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pequena cidade paulista de São João da Boa Vista viu nascer em 9 de junho de 1910 “um anjo anárquico que veio ao mundo para nos inquietar”. Estas palavras do dramaturgo Plínio Marcos se referem à Patrícia Rehder Galvão, ou simplesmente Pagu. Sua vida – não muito longa – foi bastante agitada. Ao menos é o que sugere o seu fragoroso currículo. Concluiu o curso escolar normal em 1928, mesmo ano em que ingressou no célebre movimento antropofágico. Nele, conheceu o notório casal modernista Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. Aproximou-se de ambos e acabou se envolvendo com Oswald, que por sua vez, rompeu com Tarsila! Em 1930, Oswald e Pagu casaram-se, e desta união nasceu Rudá de Andrade. Tal episódio revela bem quão ousada era Patrícia Galvão. O hábil escritor de Memórias Sentimentais de João Miramar não foi o único a ter a atenção “fisgada” pela jovem. Pagu atraia olhares por sua beleza e pelos atos “avançados” que protagonizava, chocando a conservadora sociedade de então. São dessa época os curiosos versos de Oswald: “Se o lar de Tarsila/ Vacila/ é por causa/ do angu/ de Pagu”. Não bastasse o seu passeio pela literatura – com os romances Parque Industrial (1933) e A Famosa Revista (1945) – além de sua dedicada performance no teatro, Pagu também enveredou pela política. Ingressou no Partido Comunista (PC) em 1931, chegando a ser presa mais de uma vez em função de sua militância. Foi até mesmo torturada. Em 1932, trabalhou como lanterninha de cinema, seguindo a orientação do partido. A idéia era adquirir experiência com um trabalho proletariado. Em 1940, ano de seu rompimento com o PC, após decepcionar-se com a distorção ideológica da União Soviética, casou-se novamente, desta feita com o jornalista Geraldo Ferraz, com quem teve seu segundo filho, Geraldo Galvão Ferraz. Também dissertou expressivamente na imprensa. Lastimavelmente, um câncer implacável arrebatou a magnífica vanguardista. Pagu faleceu em 12 de dezembro de 1962, mas não sem antes deixar seu extenso exemplo anticonservador para mulheres e homens brasileiros.
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Tiago Eloy Zaidan é integrante do Virajovem de Maceió (al@revistaviracao.com.br)
MARCIO BARALDI, de São Paulo (SP) A FILOSOFIA DO PUNK: MAIS DO QUE BARULHO
ROCK: A MÚSICA DA REVOLUÇÃO
Craig Ohara (Radical Livros)
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uito se fala no movimento punk e seu histórico lema “Faça você mesmo!”, mas quem quiser realmente entender as raízes políticas e filosóficas do movimento precisa ler este livro, verdadeira leitura de cabeceira para qualquer punk ou interessado que se preze. Um documento fundamental para qualquer um que queira entender o movimento punk como um todo: suas origens, idéias e transformações nesses quase 30 anos de existência. Além de escritor, Craig Ohara é baixista e produtor de shows punks desde 1982, quando entrou de cabeça no movimento. Com este livro, você vai entender porque o punk resiste bravamente há tanto tempo, se reciclando constantemente e formando novas gerações de adeptos deste estilo de vida crítico, barulhento, politizado e contestador. O livro aborda todos os assuntos que o punk foi incorporando na sua pauta de militância e discussões, como sexualidade, vegetarianismo, racismo, e as mais diversas questões políticas e sociais que compõem o universo da juventude e da sociedade em geral. Lendo este livro você vai sacar porque, mesmo prestes a completar três décadas de vida, a filosofia do “Faça você mesmo!” continua sendo uma das melhores maneiras de se enxergar e viver a vida.
Luiz Carlos Lucena (Editora Selecta)
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TODOS OS SONS
Punk e Rock uiz Carlos Lucena vivenciou muito bem os estonteantes anos 1960. Isso é o que fica claro pela competente análise que o veterano escritor e poeta apresenta neste livro. Numa meticulosa viagem pelos anos 1960, a década mais fervilhante do século 20, sempre usando o rock como veículo e guia turístico, Lucena examina o movimento hippie, a guerra do Vietnã, a literatura beat, a contracultura, as revoltas estudantis e todas as transformações culturais deste período. Tudo sempre pela ótica do Rock’n’Roll, a trilha sonora desta revolucionária década! Saiba como essa instigante música de três acordes catalisou todos os conflitos de uma época e os expurgou furiosamente através da obra de artistas contestadores e revolucionários como Rolling Stones, Doors, Steppenwolf, Bob Dylan, Janis e Hendrix, entre outros imortais que influenciam gerações e gerações até hoje! Um texto conciso, agradável e direto que vai fazê-lo entender a década que Punk e Rock: mais que mudou a História, através gêneros musicais, da música que mudou formas de viver o mundo!
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SÉRGIO RIZZO – CRÍTICO DE CINEMA
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Vlado – 30 Anos Depois (Gênero: documentário – Lançamento: 2005), Cabra-cega (Gênero: longa-metragem ficção – Lançamento: 2004 ) e Quase dois irmãos (Gênero: longa-metragem ficção – Lançamento: 2004)
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Divulgação
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ogo no início de Vlado – 30 Anos Depois, um depoimento arrepia. O diretor João Batista de Andrade pergunta a algumas pessoas, na Praça da Sé, centro de São Paulo, o que se lembram do regime militar de 1964. “Não sei, mas deveria voltar”, diz um rapaz. Todas as hipóteses são assustadoras: se ele de fato não sabia, e mesmo assim acredita que aqueles tempos eram melhores, e também se ele sabia um pouco do que ocorreu e preferia ver o retorno de um ciclo autoritário. O próprio Vlado é um antídoto ao esquecimento, fenômeno infelizmente tão brasileiro. Atual secretário estadual da Cultura em São Paulo, Andrade diz que sentia ter uma dívida com o amigo Vladimir Herzog, jornalista morto em 25 de outubro de 1975, nas dependências do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI). Precisava contar a sua história. Missão cumprida. Agora, quem não sabe o que aconteceu não tem mais desculpa. Outros dois filmes brasileiros recentes, ambos de ficção, também jogam luzes sobre a política brasileira dos anos 70. Em Cabra-Cega, a história se ambienta em 1971. Ferido, um militante de uma organização clandestina de esquerda (Leonardo Medeiros) é instalado em um apartamento, no centro de São Paulo, para se recuperar. Ali, é tratado pela filha de um antigo militante de esquerda (Débora Duboc). O confinamento leva a uma reflexão emocional sobre os rumos do combate à ditadura, em momento de crise da opção pela luta armada. Quase Dois Irmãos ambienta-se também em espaço de reclusão, desta vez institucional: a Penitenciária da Ilha Grande, no Rio de Janeiro. Durante os anos 70, presos políticos se misturavam ali com criminosos comuns. Essa convivência forçada se espelha no reencontro entre dois examigos de infância que trilharam caminhos opostos na vida: um filho de classe média engajado politicamente (Caco Ciocler) e um filho de sambista do morro (Flávio Bauraqui). Teria sido ali que o crime organizado carioca aprendeu ensinamentos importantes com as organizações de esquerda.
Divulgação
sobre a ditadura
Estevan Avelar
Olhares
NO ESCURINHO
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REVELE-SE
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Geração Tatoo ANDRÉA SANTOS, ELAINE LEONORA, GAL CASTRO, PAULO H. SILVA e SILVANA VIEIRA
Daysa Nogueira, 18 anos, Juquitiba (SP)
Silvana Vieira
Gal Castro
Aline Brito, 17 anos, de Taboão da Serra (SP)
Elaine Leonora
Andréa Santos
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tatuagem foi inventada diversas vezes, em vários momentos e partes diferentes dos cinco continentes, com maior ou menor variação de propósitos, técnicas e resultados. Por isso, não podemos dizer exatamente de onde ela vem e consideramos sua origem independente. Estamos mais íntimos da tatuagem agora do que há alguns séculos, quando causava tanta polêmica. Já não há mais tanto preconceito quanto antes em relação a tatoo, como é chamada na gíria, em inglês. Hoje é normal ver pessoas de todas as idades fazendo tatuagens, mesmo sabendo que para menores de 18 anos é indispensável a autorização dos responsáveis. A tatuagem virou moda e pode simbolizar várias coisas e sentimentos diferentes, como amizade, amor, indignação, religião etc. Mas vale lembrar que para sair do corpo, custa caro e pode Everton da Luz, até deixar marcas feias. 19 anos, de Juquitiba (SP) Então, pense bem se for fazer uma tatoo e, se decidir, procure um estúdio licenciado que tenha boa higiene. Conheça bem o trabalho feito pelo tatuador para saber se é mesmo o que você quer e não se arrepender depois. Neste ensaio, fotografamos as tatuagens de algumas pessoas que fazem parte do Consórcio Social da Juventude Geração Cidadã. Confira estas e outras imagens também na nossa página na internet: www.geracaocidada.org.br
Nilton Bispo, 34 anos, de Embú das Artes (SP) Rafael Rodrigues, 18 anos, de Embu das Artes (SP)
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Paulo H. Silva
Paulo H. Silva
Angélica da Silva, 18 anos, São Lourenço da Serra (SP)
Inverno de agricultor O sertanejo agricultor Não se cansa de esperar A terra bem molhada Pra seu plantio começar.
Depois de tantas chuvas É só festejar O que era seco agora vai se molhar. No rosto do agricultor sem se cansar.
Vendo a terra seca Dá vontade de chorar Tantos agricultores com vontade de plantar Guardando suas sementes Com a sua esperança inocente Que a chuva irá chegar.
Quando a colheita começa Tem milho verde e feijão Para fazer o mungunzá Os filhos de agricultores ajudam a debulhar O milho que vai ser feito Canjica para o jantar.
De repente lá no céu As nuvens começam a se formar Pulos e gritos de alegria O agricultor dá Mas é triste quando as nuvens Começam a se dissipar.
Pamonha na palha É gostoso pra jantar Um feijão bem cozidinho É alegria pra nunca mais acabar.
Quando dá a primeira chuva O agricultor começa a falar “A colheita vai ser boa! Como é bom pode plantar! faça chuva ou faça sol a esperança não pode acabar.”
No sertão também é festa Com o amigo agricultor Terminada a colheita É coisa do nosso senhor Depois é só agradecer o Inverno do agricultor. Helder Ferreira, Itapiúna (CE)
Mudança, atitude e ousadia jovem
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DESAFIf
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Palavras Cruzadas Diretas
VIRAÇÃO SOCIAL R
Educar para a Igualdade Racial E
m 2006, o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert) realizará a 3ª edição do Prêmio Educar para a Igualdade Racial: Experiências de Promoção da Igualdade Racial-étnica no Ambiente Escolar. As inscrições estarão abertas a professores(as) em exercício de todas as escolas do Brasil, nas categorias Educação Infantil, Ensino Fundamental (1o e 2o) e Médio, que desenvolveram atividades de promoção da igualdade racial-étnica entre 2003 e 2005. Elas devem ser feitas entre 13 de fevereiro e 15 de abril de 2006 na página na internet www.ceert.org.br ou pelo correio. Na edição anterior, doze educadores ganharam o prêmio por terem se dedicado a valorizar a diversidade humana e o combate à discriminação racial no ambiente escolar. Foram 314 inscrições de todos os Estados. Na categoria Educação Infantil, por exemplo, a experiência “Educar para Equalizar”, de Campinas (SP), ficou em primeiro lugar, por favorecer que crianças pequenas (3 anos) admirarem a estética negra. O projeto levou um cabeleireiro do bairro para fazer penteados afros nos (as) alunos (as) e contou com a leitura de contos africanos. Entre as experiências do Ensino Fundamental, chamou a atenção a preocupação dos educadores em refletir sobre o significado das palavras preconceituosas presentes em nosso vocabulário. No Ensino Médio, os educadores mostraram que com projeto e planejamento, seus alunos são estimulados a pesquisar, a mostrar o que aprenderam, a conviver com a diversidade e a mudar de atitude.
www.ceert.org.br
Mais informações sobre a 3a edição do Prêmio Educar para a Igualdade Racial com Daniela Portela, do Programa de Educação do Ceert: (11) 6978-8333 / 6950-1332 nº 25 · Ano 4 · Revista ViRAÇÃO
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Caro leitor (aluno, professor, jovem, educador ou leitores individualmente responsáveis), use a sua criatividade sem moderação. Veja uma forma de aplicar o conteúdo da Vira em sala de aula ou nas reuniões de seu grupo de jovens e repassar a informação. Depois, conte pra gente como foi a experiência. Essa é uma forma de promover aulas e encontros inovadores a partir do conteúdo da revista e premiar as melhores histórias. Vamos publicá-las nas edições mensal impressa e semanal digital da Vira (www.revistaviracao.com.br). Você pode mandar por mensagem eletrônica ou pelo correio, para a redação:
VIRAÇÃO Rua Fernando de Albuquerque, 93 – Conjunto 3 Consolação – 01309-030 – São Paulo (SP) Tel.: (11) 3237-4091 E-mail: redação@revistaviracao.com.br
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