Ano 5 · no 39 · Dez/2007 Jan Fev/2008 R$ 5,00 · www.revistaviracao.org.br
V iRAÇÃO
Mudança, atitude e ousadia jovem
Ele abraça
a causa, e você? Laço no Cristo marca o Dia Mundial de Luta Contra a aids
Vira Brasil
Veja quem faz a
pelo Associação Imagem Comunitária Belo Horizonte (MG) – www.aic.org.br
Universidade Popular – Belém (PA) www.unipop.org.br
Centro Cultural Bájò Ayò João Pessoa (PB)
Casa da Juventude Pe. Burnier Goiânia (GO) www.casadajuventude.org.br
Ciranda Curitiba (PR) – www.ciranda.org.br
Catavento – Fortaleza (CE) www.catavento.org.br
Companhia Terra-Mar Natal (RN) – www.ciaterramar.org.br
Centro de Referência Integral de Adolescentes Salvador (BA) – www.criando.org.br
Agência Uga-Uga – Manaus (AM) www.agenciaugauga.org.br
Diretório Acadêmico Freitas Neto Maceió (AL)
Fundação Athos Bulcão Brasília (DF) – www.fundathos.org.br
Girassolidário – Campo Grande (MS) www.girassolidario.org.br Jornal O Cidadão Rio de Janeiro (RJ)
Secretaria de Cidadania e Direitos Humanos – Vitória (ES)
Rede Sou de Atitude Maranhão São Luís (MA) – www.soudeatitude.org.br
Grupo Atitude – Porto Alegre (RS)
Abraço à causa
QUEM SOMOS
V
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m dezembro, a questão da luta contra o HIV/aids é lembrada pelo mundo com manifestações, eventos e seminários. A Vira não podia ficar fora dessa, já que a situação de jovens vivendo com HIV/aids é pauta o ano todo. O Virajovem Rio de Janeiro participou da mobilização do Dia Mundial de Luta contra a aids, realizada no Cristo Redentor. Um laço vermelho gigante, símbolo da causa, foi colocado sob os pés de um dos monumentos mais conhecidos do mundo. A preocupação de tirar a discussão do “gueto” e ampliá-la para toda a sociedade é compartilhada por muitas/os jovens pelo Brasil. Um exemplo disso é o Escuta Soh!, um projeto iniciado em Salvador (BA), durante o 2o Encontro de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/aids. Com a participação de mais de 30 pessoas, entre jovens e educadores, o evento – organizado pelo Grupo de Apoio à Prevenção à Aids (GAPA) e apoiado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância e Adolescência (Unicef) – foi demais! Por meio da Agência Virajovem de Notícias, a galera fez de tudo: entrevistas, fotos, vídeos, jornal mural e spots radiofônicos sobre sexualidade, redução de danos, relações familiares e muitos outros temas que fazem parte do dia-a-dia da juventude. Nesta edição, você confere um pouco do que foi feito. Todo o conteúdo produzido pela galera você confere em www.revistaviracao.org.br/escutaso. E aí, vamos caminhar juntas/os e levantar essa bandeira?
VIRAÇÃO é publicada mensalmente em São Paulo (SP) pelo Projeto Viração da Associação de Apoio a Meninas e Meninos da Região Sé de São Paulo, filiada ao Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas de São Paulo; CNPJ (MF) 74.121.880/0003-52; Inscrição Estadual: 116.773.830.119; Inscrição Municipal: 3.308.838-1
ATENDIMENTO AO LEITOR Rua Augusta, 1239 – Conj.11 Consolação – 01305-100 – São Paulo – SP Tel./Fax: (11) 3237-4091 / 3567-8687 / 9946-6188 HORÁRIO DE ATENDIMENTO das 9 às 13h e das 14 às 18h E-MAIL REDAÇÃO E ASSINATURA redacao@revistaviracao.org.br assinatura@revistaviracao.org.br
iração é um projeto social de educomunicação, sem fins lucrativos, criado em março de 2003 e filiado à Associação de Apoio a Meninos e Meninas da Região Sé. Recebe apoio institucional da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). Além de produzir a revista, oferece cursos e oficinas de capacitação em comunicação popular feita para jovens, por jovens e com jovens em escolas, grupos e comunidades em todo o Brasil. Para a produção da revista impressa e eletrônica (www.revistaviracao.org.br), contamos com a participação dos conselhos editoriais jovens de 17 capitais, que reúnem representantes de escolas públicas e particulares, projetos e movimentos sociais. Entre os prêmios conquistados nesses quatro anos estão o Prêmio Don Mario Pasini Comunicatore, em Roma (Itália), o Prêmio Cidadania Mundial, concedido pela Comunidade Bahá’í. E mais: no ranking da Andi, a Viração é a primeira entre as revistas voltadas para jovens. Participe você também desse projeto. Veja, abaixo, nossos contatos nos Estados. Paulo Pereira Lima Diretor da Revista Viração – MTB 27.300 CONHEÇA OS 18 VIRAJOVENS EM CAPITAIS BRASILEIRAS • Belém (PA) – pa@revistaviracao.org.br • Belo Horizonte (MG) – mg@revistaviracao.org.br • Brasília (DF) – df@revistaviracao.org.br • Campo Grande (MS) – ms@revistaviracao.org.br • Curitiba (PR) – pr@revistaviracao.org.br • Fortaleza (CE) – ce@revistaviracao.org.br • Goiânia (GO) – go@revistaviracao.org.br • João Pessoa (PB) – pb@revistaviracao.org.br • Maceió (AL) – al@revistaviracao.org.br • Manaus (AM) – am@revistaviracao.org.br • Natal (RN) – rn@revistaviracao.org.br • Porto Alegre (RS) – rs@revistaviracao.org.br • Recife (PE) – pe@revistaviracao.org.br • Rio de Janeiro (RJ) – rj@revistaviracao.org.br • Salvador (BA) – ba@revistaviracao.org.br • São Luís (MA) – ma@revistaviracao.org.br • São Paulo (SP) – sp@revistaviracao.org.br • Vitória (ES) – es@revistaviracao.org.br
Apoio Institucional
QUE FIGURA Cartão virtual no portal da Vira: www.revistaviracao.org.br Francisco Nascimento: Dragão do Mar
RG
Conselho Editorial Eugênio Bucci, Ismar de Oliveira, Izabel Leão, Immaculada Lopez, João Pedro Baresi, Mara Luquet e Valdênia Paulino E quipe Pedagógica Aparecida Jurado, Cássia Vasconcelos, Isabel Santos, Juliana Rocha Barroso, Maria Lúcia da Silva, Nayara Teixeira, Roberto Arruda, Robson Oliveira e Vera Lion Diretor Paulo Pereira Lima paulo@revistaviracao.org.br Jornal Mural Literário Vítor Massao, Gisella Hithe, Sálua Oliveira e Adriano Sanches A gência V iraJove m Cristina Uchôa Portal da V ira Vivian Ragazzi Redação: Carol Lemos, Juliana Mastrullo e Rafael Stemberg Mobilização dos V irajovens Bianca Pyl A dministração/ Assinaturas Thays Alexandrina Midiadores da V ira Acássia Deliê (Maceió – AL), Alex Pamplona (Belém – PA), Daniel Gonzo (Recife – PE), Gardene Leão de Castro (Goiânia – GO), Graciema Maria (Natal – RN), Ionara Talita da Silva (Brasília – DF), Ivanise Andrade (Campo Grande – MS), João Paulo Pontes e Bruno Peres (Porto Alegre – RS), Lizely Borges (Curitiba – PR), Marcelo Monteiro de Oliveira, Maxlander Dias Gonçalves, Patrícia Galleto, Thiago Martins e Vitor Bourguignon Vogas (Vitória – ES), Niedja Ribeiro (João Pessoa – PB), Pablo Márcio Abranches Derça (Belo Horizonte – MG), Raimunda Ferraz (São Luiz – MA), Renata Souza (Rio de Janeiro – RJ), Renata Gauche e Clarissa Diógenes (Fortaleza – CE), Scheilla Gumes (Salvador – BA) e Ubirajara Barbosa (São Paulo – SP) Colaboradores Lentini, Márcio Baraldi, Natália Forcat, Novaes, Paloma Klysis e Sérgio Rizzo
MAPA da • CRISTO ENLAÇADO O Cristo Redentor veste o laço da luta contra aids
• QUADRINHOS PODEROSOS 12 Cartunista vem da Índia mostrar como usar os HQs para fazer denúncias sociais
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anual R$ 48,00 R$ 40,00 R$ 60,00 US$ 50,00
Revista ViRAÇÃO · Ano 5 · nº 39
mina
Magda Fernada / Programa Nacional de DST E AIDS
16 • ESCUTA SOH ! A agência ViraJovem desembarca em Salvador e conta como foi o encontro de jovens vivendo com HIV/aids • EQUILÍBRIO CRÍTICO O rapper BNegão mostra porque é uma das vozes mais críticas da música brasileira
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25 • MUNDO DESENHADO A artista Vânia Medeiros conta de sua entrega ao papel em branco • FEIRÃO SOCIAL Jovens do Programa Geração MudaMundo apresentam seus projetos
26 Cristo redentor recebe o laço da causa
Guylherme Custódio
Consultor de Marketing Thomas Steward P rojeto Gráfico IDENTITÀ Adriana Toledo Bergamaschi Marta Mendonça de Almeida Fotolito Digital SANT’ANA Birô Impressão TARFC Jornalista Responsável Paulo Pereira Lima – MTB 27.300 Divulgação Equipe V iração E-mail Redação e Assinatura redacao@revistaviracao.com.br assinatura@revistaviracao.com.br P reço da assinatura Assinatura Nova Renovação De colaboração Exterior
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DIGA-LÁ MANDA VÊ MAIS IGUAL ECA TODOS OS SONS NO ESCURINHO QUE FIGURA Jovens utilizam a câmera fotográfica para mostrar sua realidade atrás das grades
SEXO E SAÚDE PARADA SOCIAL RAP DEZ
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FAZ A DIFERENÇA Maria Emilia, Curitiba (PR)
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arabéns a equipe, midiadores, colaboradores e Virajovens que fazem a diferença. E muito sucesso para tudo o que vem por aí. Espero podermos exercitar essa experiência nas ações de educação socioambiental que desenvolvemos na região de influência do Reservatório da Usina Hidrelétrica de Itaipu e nos municípios envolvidos no Programa de Formação de Educadores/ as Ambientais – FEA (33 municípios no Estado do Paraná e 01 no Mato Grosso do Sul). Raquel Pulita, São Leopoldo (RS)
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aço parte da ONG Trilha Cidadã e estamos montando uma biblioteca para a galera que trabalhamos, gostaríamos de ver a possibilidade de termos as revistas anteriores (edições) para compor a nossa biblioteca. A partir de hoje estou fazendo a assinatura para nós. VIRAÇÃO NO AR Victor Ribeiro, Rio de Janeiro (RJ)
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lá, parabéns pelo trabalho feito com jovens. Ouvi falar muito bem do projeto de vocês com o pessoal dos CEDECAS aí de SP. Bom, meu nome é Victor, eu trabalho em um projeto de uma ONG aqui do Rio de Janeiro que se chama EXCOLA (www.excola.org.br). O projeto que fazemos é um quadro de oficinas de informática e rádio comunitária com jovens em risco social. Nestas oficinas os jovens são estimulados a pensarem nas questões sociais sempre tendo a rádio comunitária como um fim reclamador de seus direitos. Queria saber se é possível realizarmos algum tipo de parceria no sentido de envolvermos o conteúdo editorial que vocês trabalham na revista dentro da nossa rádio. Algo do tipo Viração no Ar.
A Vira entra no debate de gêneros e levanta a bandeira da igualdade, que deve estar também na forma de escrever. Por isso, todas as palavras que tiverem variação de feminino e masculino iremos incluir os dois gêneros, e não somente o masculino. Por exemplo: a/o jovem, o/a professor/a e assim por diante, de forma que contemplaremos a todas e todos!
OPS! Erram os
A Vira deu três vaciladas nas últimas edições e queremos limpar a barra. Não publicamos os nomes dos virajovens de Fortaleza que também produziram a reportagem de capa da edição 36. Aí vão: Keywilla Venceslau, Beto Arcanjo e Roberta França. Foi mau, galera cearense. Ficou feio também no título da reportagem de capa da edição 37, com um erro de ortografia. O correto é: Da floresta para o Cerrado. Nesta mesma edição, pisada de bola também foi com a foto da reportagem TV de Bolso (pg.14): a foto é do professor José Pacheco, e não do Sérgio Amadeu.
Mande seus comentários sobre a Vira, dizendo o que achou de nossas reportagens e seções. Suas sugestões são bem-vindas! Escreva para nosso endereço: Rua Augusta, 1239 – Conj. 11 Consolação – 01305-100 – São Paulo (SP) Tel: (11) 3237-4091 / 3567-8687 / 9946-6188 ou para o e-mail: redacao@revistaviracao.org.br Aguardamos suanºcolaboração! 39 · Ano 5 · Revista ViRAÇÃO
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Ê MARA FREITAS, RHENAN BEZERRA, JACKSON DA SILVA, LUCAS WALLACE, JULIA MELO E CLEDSON DA SILVA, do VIRAJOVEM NATAL (RN)* Imagens Agência ViraJovem
Psiu! Foi com esse slogan que a galera da Agência ViraJovem fez a cobertura do 6º Encontro Potiguar de Adolescentes (EPA), realizado de 8 a 11 de novembro e promovido pela ONG Canto Jovem. Cerca de 350 adolescentes e jovens de várias partes do Estado e também da Paraíba, Pernambuco, Bahia, Brasília e São Paulo (tinha gente até de Portugal e Espanha) debateram identidades e direitos humanos sob diversas óticas: meio ambiente, raça e etnia, gênero, comunicação, saúde sexual e reprodutiva, entre tantos outros. Durante quatro dias, o pessoal participou de oficinas e grupos de discussão. Depois, realizaram uma Conferência Livre e escolheram as melhores propostas de mudanças nas políticas públicas voltadas para a juventude, para constar na relação das propostas da Conferência Nacional da Juventude, que vai rolar em abril de 2008. Um dos temas mais debatidos foi a saúde sexual e reprodutiva. As/os jovens em geral reclamaram da ausência de uma política voltada para a juventude e também da prestação de serviço nas unidades de saúde. Com isso, nossas/os virajovens quiseram saber como anda as informações da galera quanto ao uso do preservativo.
Você transaria com alguém sem camisinha, mesmo sabendo dos riscos de se contrair alguma doença sexualmente transmissível, aids ou de pintar uma gravidez não planejada só pelo tesão? DANIEL FREIRE, 19 anos – Recife (PE) “Eu iria sim, só evitaria a penetração. Existem muitas outras formas de proporcionar prazer sem precisar penetrar.”
MARINA ROSIÑOL, 21 anos Barcelona – (Espanha) “Eu não iria, porque tem o risco de gravidez, de doenças. É muito perigoso e eu não me arriscaria.”
RUTH GABRIELA, 15 anos – Pau dos Ferros (RN) “Temos que conhecer a pessoa antes de ter alguma intimidade. Temos que ter consciência de fazer com responsabilidade. Eu não faria sexo desse jeito.”
DIEGO ROCHA, 16 anos – Natal (RN)
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“Já aconteceu comigo e eu recusei. É muito fácil pegar uma doença venérea e eu tenho medo. Sou muito jovem e iria atrapalhar minha vida. Tem até um caso desses na minha família. Um primo de 15 anos namorava uma menina e ela engravidou.” Revista ViRAÇÃO · Ano 5 · nº 39
RAIDIR ALVES DA SILVA, 21 anos – Pau dos Ferros (RN)
Ê PSIU!
“Não rola comigo, porque seria só um momento e as conseqüências podem mudar o resto da minha vida e isso não vale a pena.”
Durante o 6o Encontro Potiguar de Adolescentes (EPA), houve uma turma de discussão bastante atuante: o que tratava da prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, especialmente a aids. Cerca de dez pessoas participaram do grupo FLÁVIA DE SOUZA, e demonstraram que mesmo com tanta informação, ainda há 22 anos – Ceilândia (DF) dúvidas sobre doenças sexualmente transmissíveis, aids, “Não sairia. Eu não transo sem camisinha. como se pega, tratamento, como É uma opção. Temos que nos proteger usar a camisinha, entre muitas das doenças e também da gravidez. outras. A Sociedade Civil de É muita responsabilidade. Bem Estar Familiar no Brasil Não pode ser por acaso.” (Benfam), uma entidade que trabalha com sexualidade em Natal, foi quem passou os ensinamentos. “Foi tudo muito proveitoso. Discutimos os assuntos LUIZ CARLOS MOURA, a partir das dúvidas que surgiram na caixinha”, explica Edjane Silva, 21 anos – Brasília (DF) assistente social da entidade. No curso, o ato de usar a camisinha “Tem uma farmácia do lado da minha também foi estimulado. “Fizemos uma casa. Sempre que preciso, corro lá! demonstração com os modelos Mas, se não tiver a farmácia por perto, anatômicos. Muita gente se enrolou.” não tem sexo. Amo minha vida. Por meio de dramatização, o pessoal ficou Só faço com camisinha.” mais solto e passou a interagir mais, debatendo principalmente o preconceito e a vulnerabilidade. Segundo uma pesquisa publicada em 2003 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 22% dos jovens entre 15 e 24 anos têm filhos e, ao contrário do RENATHA MELDAMARA, que pensa o censo comum, 40% deles declararam 14 anos – Natal (RN) ter planejado a maternidade/paternidade. Por outro lado, 7,2% das jovens entre 15 e 17 “Não iria. Porque temos que nos anos são mães e entre as que têm de 18 a 24 prevenir. Eu tenho medo de engravidar anos, esse índice sobe para 22,4%
e também das doenças. Nunca me aconteceu, mas se acontecer, não vou aceitar.”
TÁ na MÃO • Veja a cobertura da equipe do Ê Psiu do 6o Encontro Potiguar de Adolescentes www.revistaviracao.org.br/epsiu • Para tirar dúvidas sobre o vírus HIV/aids: www.aidsbrasil.com • Mais informações sobre outras doenças sexualmente transmissíveis www.adolesite.aids.gov.br/dst.htm *Integrantes de um dos 18 Conselhos Editoriais Jovens da Vira espalhados pelo País (rn@revistaviracao.org.br)
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Jornal mural na escola
Muito além de Sampa
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Equipe Jornal Mural
ntra ano, sai ano, e o Projeto Revista Viração e Jornal Mural na Escola avança Brasil afora. Em Maceió (AL), 60 professoras e professores se reuniram em novembro para conhecer o projeto e levá-lo pra frente em 2008. A professora Claúdia Ferraz, de São Gabriel da Cachoreira (AM) quer desenvolver um jornal entre as escolas de sua cidade. Ela já agita um programa de rádio feito por jovens e quer fazer muito mais. A Vira também vai botar pra quebrar em Campo Grande (MT), em parceria com a ONG Girasolidário, e em Natal (RN) em parceria com a Companhia Terramar. Já em Minas Gerais, 11 cidades querem desenvolver jornais murais, uma parceria com a Martins Pereira Consultoria em Educação. E a Vira e o Projeto Jornal Mural na Escola pra muito além de Sampa. Mas em São Paulo, muita coisa vai rolar também em 2008. As diretorias de Ensino Norte 1, Norte 2, Leste 2, Leste 3 e Centro-Oeste estão muito a fim de continuar o projeto. São os jovens produzindo comunicação em todo Brasil!
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E.E. SÓLON BORGES DOS REIS
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ós passamos o que tínhamos aprendido na Viração e hoje somos uma equipe de comunicação muito unida. Todos pedem a opinião de todos e entramos em um consenso. Apesar das duras situações que passamos, desde ter que raspar a parede com colher para tirar a tinta e pintar novamente, até agora, pois picharam o jornal e destruíram a redação... mas foi uma comunicação tremenda, tanto que os alunos que destruíram o jornal liam ele. a Thays Alexandrina, 17 anos, 3o ano do Ensino Médio
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um espaço onde alunos e professores podem colocar assuntos que interessam a todos e que geralmente não são discutidos em sala de aula. Em relação a mim houve uma mudança em meu comportamento, na maneira de me expressar com meus colegas e também com funcionários da escola, deixando de lado um pouco a timidez. a Elizabeth Gonçalves, 18 anos, 3o ano do Ensino Médio
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esenvolver esse projeto foi uma vivencia enriquecedora, pois apesar de todas as dificuldades, vários alunos descobriram a importância da comunicação, da integração, do respeito pelo outro, principalmente dentro da escola. a Edna Nogueira Moroto, professora
E.E. PLÍNIO DAMASCO PENNA `
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u achei que ficou bom. Todo mundo se empenhou, ficamos amigos. Precisa colocar mais coisas no jornal, se passar no pátio ninguém vê isso aí. Precisa de fotos.a José Carlos Messias Júnior, 16 anos, 2o ano do Ensino Médio u achei o jornal legal, mas não tem muita coisa que interessa o jovem, precisa colocar mais cor, mais foto. a Júlia dos Santos Rocha,12 anos, 5o ano do Ensino Fundamental
E.E. JOAQUIM SILVADO `
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oi extremamente legal participar, eu criei expectativas que agora estão acontecendo. Mudou muita coisa na escola, porque faltava esse ícone para que a educação tivesse comunicação entre os alunos. Eu espero que haja intensidade a cada dia que passar e cada vez mais nos nossos projetos. a Wilgor Carlos da Silva, 15 anos, 1o ano do Ensino Médio
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articipar do Jornal Mural foi uma experiência libertadora porque eu era muito autoritário e tinha alguns tabus que eu não quebrava facilmente. A coisa mais bonita que tem é você chegar na sala do Jornal Mural e ver todo mundo trabalhando. Daqui em diante eu acho que as coisas vão melhorar. Haverá grandes lutas, é claro que algumas pessoas vão se opor, teremos dificuldades, mas nada que não sirva para deixar o trabalho mais bonito. Somos pessoas que estamos tentando e conseguindo. a Luciano Fernandes de Souza, 16 anos, 1o ano do Ensino Médio
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TÁ na MÃO Procure a comunidade Jornal Mural Revista Viração, no Orkut!
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u sempre gostei de ter esse contato com os alunos e para mim foi surpreendente porque a gente aprende muito também, uma experiência maravilhosa. Não percebi muitas mudanças na escola a princípio, mas os professores passaram a perguntar como estava o Jornal, os próprios alunos vieram me perguntar, então as mudanças estão acontecendo devagar.a Ana Lúcia, professora
Agradecemos às Diretorias Regionais de Ensino Norte 1 e Leste 2 que formaram as turmas 5, 6,e 7 do Projeto Jornal Mural juntamente com as escolas: Ana Siqueira da Silva, Araci Teixeira Zebral, Ataulpho Alves, Charles de Gaule, Cohab Yadóia, Deputado José Bustamante, Dr. Genésio de Almeida Moura, Florestan Fernandes, Francisco Pereira de Souza Filho, Jardim Centenário, Jardim Iná, Madre Pauline, Pedro Geraldo Costa, Prof. Carlos de Laet, Prof. David Eugênio dos Santos, Prof. Joaquim Luiz de Brito, Prof. José Righeto Sobrinho, Prof. Mariano de Oliveira, Prof. Rafael de Moraes Lima, Prof. Renato Arruda de Penteado, Silva Jardim, República Argentina.
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cho que o jornal mural é uma experiência que os alunos podem, além de demonstrar que são capazes, também estarem pensando no futuro. Eu gostei muito de participar da Viração, dos encontros, e também de tentar organizar aqui na escola e eu espero que o jornal mural tenha vindo para ficar. a Elcine Nunes, professora
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Apoio:
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Evento no Rio de Janeiro lança campanha do Dia Mundial da Luta contra a Aids direcionada para a juventude
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juventude é centro das atenções no Ministério da Saúde. O lançamento da campanha da luta contra a aids foi no dia 1o de dezembro: “Sua atitude tem muita força na luta contra a aids”. A principal ação foi realizada pela primeira vez no Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. Um laço vermelho de oito metros de altura, símbolo de solidariedade pelas pessoas vivendo com HIV/aids, foi colocado aos pés da estátua. O objetivo da campanha deste ano é afirmar os direitos do jovem de viver sua sexualidade e de ter acesso ao preservativo e à informação. PRECONCEITO E DESINFORMAÇÃO Um dos presentes no evento foi o ativista Cazu Barros, Coordenador Nacional do Projeto Aids da Federação de Bandeirantes do Brasil. Com 34 anos, Cazu vive há 18 anos com HIV. “Mesmo na zona sul do Rio de Janeiro, em um lugar em que supostamente há mais educação e acesso à informação, ainda existe preconceito. Depois que eu apareci na campanha de 1o de dezembro de 2006, eu tinha um vizinho e a gente costumava sair no mesmo horário para passear com o cachorro. Por conta disso, ele mudou o horário, muda de elevador quando me vê e não fala mais comigo”. A campanha do 1o de dezembro, que Cazu Barros protagonizou, chama-se Prevenção Positiva, que é trabalhar com as pessoas com aids como se elas não tivessem. A campanha do Ministério da Saúde de 2006 mostrou algo diferente.
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MAGDA FERNADA/ Programa Nacional de DST E AIDS
Foco jovem
AMANDA DE SOUZA, FÁBIO HENRIQUE DE MORAES, GUSTAVO BARRETO e RENATA SOUZA, do Virajovem Rio de Janeiro (RJ)*
Durante o evento, a entidade Grupo Pela Vidda aproveitou a presença de autoridades para protestar contra a falta de profissionais e de remédios. “O principal objetivo da nossa manifestação é chamar a atenção da população para dizermos
que a aids não está resolvida. O governo vende para o mundo que tem o melhor programa de aids, só que não é essa a verdade”, adverte Ricardo Ramos, um dos coordenadores do Grupo Pela Vidda. “A verdade é que faltam kits para exame, as pessoas aguardam mais de dois meses uma testagem Marie-Pierre: para saber se tem HIV, “é preciso os medicamentos não debater a aids” têm regularidade, não se encontram profisna de Saúde (OPAS), Programa das sionais de saúde na Nações Unidas para o Desenvolvirede pública. E olha mento (PNUD) e Fundo de Populaque estamos falando ção das Nações Unidas (UNFPA). de Rio de Janeiro e Uma das presentes foi MarieSão Paulo. A realidade Pierre Poirier, representante do de outros Estados do Unicef no Brasil. “Num País como País é pior”, destacou. o Brasil, onde a prevalência da aids é baixa, é necessário colocar este MOBILIZAÇÃO DOS JOVENS tema no debate público. Um evento como esse, num lugar Thiago reforçou a importância tão simbólico, alerta do foco da campanha deste ano a sociedade sobre na juventude. “Eles percebeo fato de que há ram que a situação não era algo especial como imaginavam, que não acontecendo”, dava pra ignorar a vida dos afirma Marie. jovens, especificamente os Para ela, jovens que vivem com HIV. as políticas É uma luta que a gente tá públicas na área fazendo para que todos estão melhorando, possam interferir nas políticas porque estão deixanefetivamente, e não que outras do de falar apenas com pessoas falem por nós.” determinados grupos de jovens com Com 24 anos e vivendo com e começando a falar com HIV, o curitibano Kleber de Oliveira todos os jovens. Mendes foi o representante dos jovens no palco montado no Cristo DE JOVENS PARA JOVENS Redentor. Ele vê avanços na luta contra a aids, mas ressalta que ainda Ao lado de Marie-Pierre, esteve há muito por fazer. “Temos que fazer no evento Nils Kastberg, diretor parte para que esta mudança aconteregional para a América Latine e ça. Avançar em novos meios de Caribe do Unicef. Ele destacou como tratamento, em novas secretarias, positiva a participação dos jovens em novos ministérios”. Kleber e adolescentes que se capacitam no acredita que as campanhas ainda tema do HIV e aids. “Eles próprios estão presas à área de saúde. começam a compartilhar as informa“A aids não é só uma questão de ções na televisão, na rádio e outros saúde, mas também de cultura, jovens os escutam muito melhor do educação. A questão é que o jovem que quando os adultos falam. Creio não se sente vulnerável. Ele sente que aí está o caminho do futuro, que isso é uma doença do outro.” se queremos parar o HIV. Que O ato foi organizado pelos muitos jovens transmitam essa governos Federal, Estadual e Municimensagem a outros jovens.” pal e pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com apoio *Integrantes de um dos 18 do Fundo das Nações Unidas para a Conselhos Editoriais Jovens Infância (Unicef), Programa Conjunto da Vira espalhados pelo País das Nações Unidas sobre HIV e Aids (rj@revistaviracao.org.br) (Unaids), Organização Pan-America-
Fotos de Gustavo Barreto
“Pessoas vivendo com aids podem ser uma pessoa qualquer, a gente não carrega isso na testa e nem fisicamente”, ressaltou. Também no evento, o mineiro Thiago Barbosa contou como contraiu HIV. “Foi na primeira relação sexual que eu tive com a minha primeira namorada, com 15 anos. Hoje estou com 21”. Atualmente Thiago estuda filosofia e trabalha na ONG Grupo Vhiver. Ele acredita que para a prevenção positiva ser colocada em prática é necessário mais envolvimento de instituições em geral, além de “espaço para diálogos”. Inclusive em casa. “O primeiro refúgio que eu busquei foi em casa. Os governos têm um papel importante, mas a família tem a principal responsabilidade, por ter um envolvimento diário, constante, desde o nascimento.” O Programa Nacional de DST e Aids ainda precisa melhorar muito, apesar de ser o único programa governamental que distribui gratuitamente o coquetel no mundo. “No entanto, não temos acesso aos medicamentos que curam as doenças oportunistas que levam à morte, como pneumonia e tuberculose”, lembra Cazu.
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Quadrinhos sem fronteiras RAFAEL STEMBERG, da Redação
Cartunista e empreendedor social da Ashoka fala sobre a importância de levar informação às pessoas analfabetas por meio dos quadrinhos
“C
oncordo que o texto é uma das principais ferramentas para a informação. Acontece que nem todos sabem ler”, diz o cartunista Sharad Sharma aos participantes de seu curso de quadrinhos, o World Comics, ministrado nos dias 12, 13 e 14 de novembro de 2007, no espaço de oficinas do Projeto/Revista Viração, em São Paulo, em parceria com a Ashoka Empreendedores Sociais.
O cartunista, do Estado de Rajasthan, é um dos empreendedores sociais da Ashoka na Índia desde 2003 e viaja por alguns países ensinando o método Comics Power (Poder dos Quadrinhos – em livre tradução), criado com a intenção de informar pessoas com pouca instrução de ensino, sendo grande parte pessoas analfabetas. Segundo Sharad, na Índia crianças e adultos utilizam as histórias em quadrinhos
(HQs) para fazerem denúncias sociais e políticas, como corrupção e desigualdade social. Com duração de três dias, o curso tem o objetivo de capacitar jovens para multiplicar a técnica. Para isso, a maioria das/os participantes foram convidadas/os pela atuação em alguma instituição social da qual fazem parte. É o caso da estudante de Design Gráfico Camila Pinho, 20 anos, que veio
O cartunista mostra o resultado da Oficina realizada na Vira
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de todos. Para ele o sucesso foi tão grande que o público do jornal começou a enviar as próprias HQs, fazendo algum tipo de denúncia, para que fossem publicadas. Em 2003, o cartunista resolveu ir mais longe. Acreditando que através dos quadrinhos muitas pessoas poderiam reivindicar direitos, Sharad começou a percorrer países em conflitos ou com alta taxa de desigualdade social, como Sri Lanka e Paquistão, para desenvolver o curso. Em entrevista concedida à Vira, o cartunista conta um pouco de sua história, fala sobre os Direitos Humanos e crítica os veículos de comunicação do mundo. O site oficial do seu trabalho recebe muitas visitas da América Latina. Em uma entrevista, você disse que gostaria de descobrir o porquê de tanto interesse dos latinos. Descobriu? – Não (risos). Mas acredito muito que o motivo seja o mesmo que acontece na Índia. Lá, a imprensa não dá voz aos leitores, ela dita o que acha correto. Com a proposta dos quadrinhos, muitos têm a oportunidade de expressar sentimentos, revoltas e críticas ao que considera errado. No site tem muitas visitas da África, América. Vejo que muitas pessoas querem ter espaço e oportunidade de participar dos meios de comunicação. Douglas Lima
de Belo Horizonte para o curso. “Quero repassar todo o aprendizado. Verifiquei que através dos quadrinhos é possível fazer uma atuação maior no campo social”. Camila é coordenadora de Comunicação da ONG Vhiver, que trabalha com jovens que vivem com HIV/aids, de Minas Gerais. Camila explica que o trabalho com quadrinhos irá contribuir no desenvolvimento do grupo de jovens com que ela trabalha. “Têm algumas pessoas que se inibem ao falar em grupos de discussão. Com o desenho, elas saberão se expressar melhor e com maior tranqüilidade”, diz. Diego Pereira dos Santos,
19 anos, fala que também pensa em dar continuidade ao que aprendeu no curso. “É um outro meio de se expressar, além de chamar a atenção e ser muito interessante de fazer. Talvez comece a trabalhar nesse ramo”, disse o estudante do Ensino Médio e integrante da ONG Mais Diferenças, de São Paulo. EXPRESSÃO EM TIRINHAS Sharad descobriu o gosto pelas tirinhas animadas ainda na infância. Formado em Sociologia, nos tempos de faculdade escrevia artigos para jornais da Índia. Mas certo que seus textos não eram lidos por todos, já que, segundo ele, 60% da população é analfabeta, começou a fazer quadrinhos com críticas políticas com o intuito de chamar a atenção
Quando começou a se interessar por quadrinhos? – Sempre gostei de pintura. Quando estava na escola realizava exposições e participava de feiras culturais. Passei a escrever para jornais quando entrei na faculdade.
Mas queria que meus textos chegassem às classes menos favorecidas, só que elas não sabiam ler, então lembrei dos meus desenhos. Foi legal, em pouco tempo meu público queria participar, faziam quadrinhos e mandavam pro jornal publicar. A maioria dos desenhos eram críticas, denúncias de violência contra mulher, abuso de crianças. Por que resolveu abandonar o seu trabalho em jornais para se dedicar a causas sociais? – Depois de tantas cartas com quadrinhos do público que chegavam. Achei que deveria ajudá-los. Queria ir além, meu objetivo era chegar àqueles lugares onde o acesso à informação era pouco, mas que as pessoas tinham alguma coisa para dizer, elas queriam se ouvidas e gostaram de serem retratadas nos quadrinhos. Não abandonei meu trabalho, apenas o direcionei aos que precisavam de ajuda. Existe muita desigualdade social. Vocês estão acompanhando o crescimento da Índia, mas ela acontece de forma desigual, apenas uma pequena parcela da população está crescendo. Outros continuam na pobreza. Você deve ter acompanhado as manifestações ocorridas em países mulçumanos após jornais europeus terem publicado uma charge com críticas a Maomé... – Há uma coisa muito engraçada na mídia. Os jornais costumam revisar e censurar os textos escritos pelos jornalistas. Porém, isso não ocorre com os chargistas e cartunistas desses veículos. Não digo que deva ser restringida a liberdade de imprensa, muito pelo contrário, mas devemos respeitar as crenças dos outros. Maomé é algo sagrado, representa muito a determinada população. Eles, os mulçumanos, se sentiram ofendidos e a Europa demorou a se desculpar.
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TÁ na MÃO • Conheça mais sobre o trabalho de Sharad Sharma (em inglês) www.worldcomicsindia.com nº 39 · Ano 5 · Revista ViRAÇÃO
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A Galera sabe do que está falando! Pesquisa revela que a discriminação racial é uma das maiores preocupações das/os adolescentes brasileiros
E
m novembro, Mês da Consciência Negra, a Vira reeditou seu especial sobre Racismo, desta vez com foco na população quilombola, para lembrar que esse monstro continua à solta, apavorando, em especial, sabe quem? Meninas e meninos desses ‘Brasis’ afora. É isso mesmo e, para provar que é verdade, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), lançou no dia 28 de novembro, a pesquisa Adolescentes e jovens do Brasil: Participação Social e Política, realizada em parceria com o Instituto Ayrton Senna e a Fundação Itaú Social. A grande mídia tentou esconder o grave problema do racismo neste País, fazendo a cobertura do lançamento da pesquisa de forma a evidenciar somente o problema da
corrupção na política brasileira, apontado como uma grande preocupação por 30% das/os jovens entrevistados. Dezessete por cento delas/es, porém, opinaram ser o racismo e a discriminação racial os responsáveis pelos problemas sociais brasileiros. O estudo foi realizado em âmbito nacional pelo Ibope Opinião. Cerca de três mil adolescentes entre 15 e 19 anos, moradores das capitais e do interior de todas as regiões brasileiras, e 210 indígenas de 15 municípios, foram entrevistados com o objetivo de se mapear as principais preocupações e expectativas dessa população que, segundo o Unicef, já soma quase 18 milhões de habitantes.
BEATRIZ CAITANA/IIDAC
SOLUÇÕES “É a primeira vez que a preocupação com a discriminação racial é apontada como uma das principais em âmbito nacional. Mais do que mapear, o levantamento estimulou os adolescentes a apontar soluções para as preocupações reveladas por eles. Para o caso do racismo, alguns caminhos apontados foram as cotas para afrodescendentes na universidade e políticas de acesso Jovens indígenas e afrodescendentes se preocupam com discriminação racial
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Revista ViRAÇÃO · Ano 5 · nº 39
FERNANDO / INTERVÍDEO
ARIANA LAYSSA, do Virajovem Maceió (AL)* e AMANDA PROETTI, da Redação
aos direitos dos adolescentes negros e indígenas, que são os que mais sentem esse problema, que é gravíssimo hoje no nosso País”, explica Mário Volpi, oficial de Relações Institucionais do Unicef no Brasil. Segundo ele, o Unicef vai trabalhar através de quatro linhas: pesquisa de opinião, apoio a projetos locais relacionados à cultura e entretenimento, cursos de capacitação que possibilitem que os próprios jovens capacitem outros jovens e projetos de conexão e interatividade e comunicação participativa. Tudo isso para que um dia não seja mais preciso ouvir depoimentos como o da jovem Marcela Sampaio, 17 anos, de Maceió (AL): “Com relação às minhas expectativas profissionais e sociais, creio que, infelizmente, o País não tende a melhorar, em todos os sentidos”. *Integrante de um dos 18 Conselhos Editoriais Jovens da Vira espalhados pelo País al@revistaviracao.org.br
TÁ na MÃO • Pesquisa Adolescentes e Jovens do Brasil www.unicef.org/ brazil/pt/voz2007.pdf
Esta seção tem o patrocínio do Unicef
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Questões
DE OLHO NO
indigestas
ECA
PALOMA KLISYS* Ivo
D
e acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 35 milhões de pessoas vivem abaixo da linha de pobreza no Brasil, o número de analfabetos é de aproximadamente 15 milhões de habitantes e ainda enfrentamos questões indigestas como mortalidade infantil, violência doméstica, exploração sexual, trabalho escravo, dificuldade de acesso ao ensino etc etc etc. Ser criança e/ou adolescente neste País não é fácil, mas sempre vale insistir na importância do ECA para a transformação do cenário nacional, afinal o Estatuto é o principal instrumento legal que as/os jovens têm a disposição para fazer valer o direito de prioridade na execução de políticas públicas. Políticas públicas são planejadas por uma série de atores e atrizes sociais para contemplar necessidades coletivas: moradia, saúde, educação, transporte, lazer, cultura, profissionalização. Os ruins e velhos problemas brasileiros são frutos de processos históricos e culturais que desafiam os incomodados a buscar novas formas de mobilização, participação e construção de alternativas e estratégias capazes de provocar mudanças radicais a médio e longo prazo. A informação e a articulação de grupos e de lideranças engajadas servem como valiosa munição para quem precisa enfrentar contextos onde o desrespeito rola solto. O ECA assim como os preservativos que
você já deve estar acostumada/o a levar na mochila não é mais a única ferramenta capaz de contribuir para a garantia da sua integridade.
Sou
sa
Saiba sobre seus direitos e deveres, garantidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente
Procure saber mais sobre organizações que incentivam de protagonismo juvenil, sobre o Plano Nacional da Juventude, o Plano Nacional de Educação, Plano Diretor Participativo, Estatuto das Cidades e vá, literalmente, procurar sua turma. Nas cinco regiões do território nacional existem grupos de jovens afins de provocar a apatia e interferir de maneira positiva em decisões que afetam nossa realidade.
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*Paloma Klisys é escritora, autora de Drogas: Qual é o barato e Do avesso ao direito. paloklis@hotmail.com
TÁ na MÃO • Plano Nacional da Juventude – Acompanhe as datas dos Seminários do Plano Nacional da Juventude que acontece em cada Estado. www.soudeatitude.org.br/holofote/br/lista.htm • Plano Diretor Participativo – Ministério das Cidades cria movimento nacional para construir cidades democráticas e sustentáveis, por meio da reforma urbana. www.cidades.gov.br/planodiretorparticipativo/ • Estatuto das Cidades – Conheça o guia do Estatuto nº 39 · Ano 5 · Revista ViRAÇÃO www.estatutodacidade.org.br/download/guia.html
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Divulgação
Escuta Soh! Jovens que vivem com HIV/aids se mobilizam para contar suas histórias de mobilização social
“A
gente quer ter voz!”, argumenta a equipe de comunicação Escuta Soh!, formada durante o 2o Encontro Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/aids, em Salvador (BA), durante oficina de Educomunicação da A gência V iraJovem de Notícias. A escolha do nome, representou o desejo das/os 30 jovens contarem as histórias do evento a partir de seus olhares e experiências de vida. O encontro, organizado pelo Grupo de Apoio e Prevenção à Aids (Gapa) da Bahia, teve apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e do Programa Nacional de DST e Aids do Ministério da Saúde, contou com a presença de 130 pessoas, entre adolescentes, jovens e educadoras/es. As/os jovens repórteres e fotógrafas/os cobriram oficinas, momentos culturais, plenárias e aprenderam como fazer entrevistas, escrever notícias e ainda participaram de oficinas de rádio. Pensa que parou por aí? Que nada! A galera é super animada e continua escrevendo matérias para a agência. Em breve, o portal da Vira (www.revistaviracao.org.br) abrigará também um espaço especialmente para reportagens do Escuta Soh! E mais uma surpresa: está para sair da gráfica uma revista com o visual escolhido por elas e eles, com todas as produções já desenvolvidas e outras por vir. Quer conhecer o trabalho do pessoal? Dá uma olhada em algumas que selecionamos. Para ler e ouvir, já que também foram produzidos spots (programinhas de rádio), confira o site www.revistaviracao.org.br/ escutaso.
Agência ViraJovem
Galera participa de oficina
QUEM É QUEM Vivian Ragazzi, Acássia Deliê e Rafael Stemberg do Projeto Revista Viração; Magda Fernanda e Rodrigo Hilário, do Programa Nacional DST e aids, do Ministério da Saúde; Bia Caitana, do Instituto Internacional para o Desenvolvimento da Cidadania (IIDAC) Jovens repórteres Fábio Souza, Michele Aguiar, Ingrid Santiago, Cinthia Camilo, Leandro da Silva, Alison França, Ana Carolina Menezes, Josi Salazar, Leandro Silva, Kelly Araújo, Otávio Machado, Paulo Ricardo Limira, Rafaela Queiroz, Rafael de Oliveira, Edvan da Silva, Wedson de Souza, José Santos, Solange de Oliveira, Raphael Maik, Weigton de Jesus, Daniel Davidson, Natasha Braz, Allison dos Santos, Anna Rosa Vilar, Camila Pinho, Melany Lima Colaboradores Léo Nogueira, Fátima Cardeal e Roselli Tardelli, da Agência Aids; Andréia Neri, Carla Perdiz e Adriana Egito, do Unicef; Alessandro Lino e Fábio Lino, da Conex 4 Projeto do site Cristina Uchôa, do Projeto Revista Viração Coordenação geral Paulo Lima, do Projeto Revista Viração; Daniela Ligiéro e Alexandre Magno, do Unicef
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FESTA DANÇANTE VIVENDO 2007 Daniel Davidson o segundo dia de encontro, 19 de outubro, rolou uma super festa na boate do Ondina Aparthotel para as/os jovens participantes do evento. A festa começou por volta das 20 horas, e contou também com a presença das/os principais organizadoras/es do evento, que animaram ainda mais o momento. Na entrada era entregue para cada jovem uma máscara de festa para climatizar ainda mais a noite que estava só começando. Ao som de música eletrônica, as/os jovens dançavam e se divertiam muito. Bem no auge da festa, a música foi interrompida por dois jovens, Edson Santos e Camila Pinho, integrantes do Grupo VHIVER, de Belo Horizonte, que pegaram o microfone e declamaram um desabafo que sensibilizou as/os presentes. As frases foram as seguintes: “Ao pensar como é ser soropositivo, ou o que é ser soropositivo, me passam algumas coisas pela cabeça: eu estudo, trabalho, namoro, faço teatro, tenho amigos, gosto de música, de festas, entre muitas outras coisas.Tá, mas e daí? Isso não me caracteriza como soropositivo e não me diferencia muito das outras pessoas. Por que será, então, que às vezes sinto-me como se escondesse algo das pessoas? Ou por que muitas vezes sinto-me incomodado em dizer que sou soropositivo? Creio ter medo da forma como me lançarão o olhar de estranheza ou até mesmo de curiosidade. Elas ainda nos imaginam acamados nos hospitais e desacreditam na vida após o HIV. Mais do que acreditar, eu aprendi a viver com o HIV. Desde então faço parte de um grupo de Apoio, Integração Social e Informações Gerais a outros soropositivos. Comecei a trabalhar com a aids: acolhendo aqueles que passam por toda a dor e sofrimentos já vividos por mim. E também por meio de trabalhos de prevenção, cuidando para que outras pessoas não vivam tamanho sofrimento. Após o trabalho, a caminho de casa, às vezes de súbito me vem à mente que ela não ficou no Grupo VHIVER, ela continua comigo, e vai estar em todos os lugares que eu estiver, quando eu acordar, me alimentar, quando eu abraçar, quando eu cantar, dançar, sorrir, chorar. Mas uma coisa ela não consegue fazer, me de-
sanimar nem desistir de viver. O jovem soropositivo deve sair da posição de coitadinho, de vítima, enfrentar o preconceito e combatê-lo. Acima de qualquer coisa somos jovens, somos humanos. Devemos ser protagonistas do nosso futuro, devemos responder por nós mesmos. Quem sou eu? Qual é a minha cara? Sou filho. Sou amigo. Sou pai e mãe. (Todos) Somos soropositivos. Será que eu me aceito como sou ou isso não me interessa mais? Não sou melhor. Nem pior que ninguém. (Todos) Somos todos areias no vento. Onde ficaram os meus sonhos? E o que é ser soropositivo? Não é ser doente. Não é ser vítima. Não é ser coitado ou incapaz. O mais difícil é sair da imagem que se criou em cima da aids e que não me deixa acreditar no meu potencial, na minha garra. E me faz muitas vezes desistir de mim... da vida. Passo a representar personagens. E quando é que sou eu mesmo? Ninguém tem que me entender. (Todos) Mas temos por obrigação TENTAR nos entendermos e nos conhecermos. Porque só assim poderemos nos construir em cima de bases fortes e resistir aos grandes ventos e tempestades. Temos obrigação de lutar pela vida. Nesse momento, todas/os as/os presentes aplaudiram Camila e Edson, emocionadas/os com o desabafo. Todas as máscaras foram rasgadas, que tinham na verdade o simbolismo das máscaras que usamos em nossas vidas. A festa continuou num clima gostoso e descontraído, onde as/ os jovens tiveram a oportunidade de conhecer novas pessoas e se conhecerem melhor.
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Agência ViraJovem
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FALAR DE SEXUALIDADE DÁ PRAZER
JOVENS DISCUTEM EFEITOS DA MEDICAÇÃO
Camila Pinho
Raphael Maik e Otávio Machado
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Agência ViraJovem
a tarde do dia 19 de outubro, a psicóloga Juny Kraiczyk, do Instituto ECOS – Comunicação em Sexualidade, realizou a oficina Sexualidades, que contou com a participação de mais de 20 jovens de vários Estados. A oficina despertou o interesse e a curiosidade das/ os jovens. Geralmente, a galera não tem espaço para falar abertamente a respeito deste assunto, que é mais amplo que falar do ato sexual em si. Em casa, com os pais, na escola, entre outros lugares que o rodeia, a/o jovem não encontra espaço onde possa discutir sobre a sexualidade e o sexo de maneira natural. O trabalho proposto gerou observações interessantes. A partir da dinâmica proposta por Juny, pôdese observar a dificuldade das/dos jovens participantes. Por exemplo, no momento em que eles deveriam se cumprimentar com beijos no rosto, os meninos, principalmente, se sentiram travados. Ou como quando os jovens tiveram de definir sexo e sexualidade, várias palavras foram escritas em ambas as listas, percebendo-se que para eles estas palavras significavam a mesma coisa. E em outro momento quando os participantes formaram duplas e tinham que se colocar um no lugar do outro: os meninos tiveram dificuldade para se expor. Eles pensaram que, por fingir-se ser do sexo feminino, deixariam de ser homens. Leia, abaixo, o papo que rolou com a Juny. Juny, afinal, qual a diferença entre sexo e sexualidade? – A gente trabalha com a idéia de que sexo é uma coisa mais relacionada ao aparelho reprodutor. Então, sexo masculino e sexo feminino. E as pessoas geralmente começam a relacionar isso com o ato sexual, que é uma coisa mais restrita. Sexualidade envolve tudo o que significa ser “ser humano”. Envolve gênero, afeto, preconceito. É uma coisa bem mais ampla. É importante a gente entender isso.
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Por quê? – Porque a gente sempre acha que falar de sexo é errado. Você não tem espaço para falar de sexo em lugar nenhum, porque acha-se que só de falar já vai estar e incentivando as pessoas a transarem. Sexualidade é dizer que todas as pessoas têm direito à inRevista ViRAÇÃO · Anofalando 5 · nº 39 que qualquer adolescente formação, está
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urante o 2o Encontro Nacional de Jovens Vivendo com HIV/aids, aconteceu a oficina Adesão à terapia: quais os problemas? Construindo soluções! Participaram cerca de 15 jovens de vários Estados brasileiros, como Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Paraná, Paraíba. A galera se reuniu para discutir os problemas que elas/es enfrentam para tomarem a medicação. “No começo eu não queria tomar, cheguei ate a jogar o remédio no vaso sanitário. Aí o que aconteceu é que peguei neuro-toxosplasmose e acabei ficando cego, agora percebo a diferença que faz a medicação para os pacientes”, conta Edílson Camilo Martins, de 22 anos, de Goiás. “A pessoa deve conhecer bem a medicação, conversar com outras pessoas que tomam a mesma remédios medicação e também ter um bom relacionamento com seu médico”, explica a psicóloga Isadora Oliveira, de 28 anos. Para a mestra em Psicologia Social e integrante do Gapa – (BA), “é um prazer, um orgulho estar na organização de um evento como este”.
pode sim ir em uma unidade básica de saúde para pegar camisinha, e também de poder conversar com uma menina se ela se sente bem com o próprio corpo ou não. As modelos hoje são pessoas esqueléticas, com cabelo loiro, isso tudo é sexualidade. É difícil a gente passar isso mas é importante a gente pensar que a gente fala de sexualidade o tempo todo, mesmo sem falar. Quando a gente, por exemplo, tira uma com a cara do outro porque acha que o outro está parecendo gay, você está falando de sexualidade. Tem muitos pais que falam ”eu não quero que vocês falem com o meu filho na escola sobre sexualidade ou sobre sexo”. Isso é besteira porque adolescente fala disso o tempo todo. Quando a pessoa é lésbica ou gay, mas não tem o estereótipo? Como é na sua opinião? – Acho que não tem padrão para a vivência da sexualidade. A gente é que inventa que ou o cara é gay ou o cara não é gay. Quem tem que definir o que é ou não é a própria pessoa. A gente é que colocou na nossa cabeça que o cara para ser gay tem que ser “mulherzinha”. E é um estereótipo de mulher. De alguma maneira, na nossa sociedade, tudo que se parece com uma mulher é desqualificada.
Fábio Souza
C
oordenadora da ONG Alliance, a inglesa Kate Harrison, que trabalha com pessoas com HIV em países da África e Ásia, surpreende-se com o ativismo das/os jovens brasileiras/os. Conta que enfrentou dificuldades na adolescência por não ter informações sobre a aids. “Tive muito temor, principalmente quando iniciei minha vida sexual”, afirma Kate. Leia a entrevista a seguir.
OLHAR DA ÁFRICA Fábio Souza e Kelly Araújo
O
s repórteres Fábio Souza e Kelly Araújo, da equipe Escuta Soh! conversaram com o amigo Kagilson Dias Lima, de 26 anos, de SãoTomé e Príncipe, nação com duas ilhas que fica na costa ocidental da África. Kagilson participou de todo o evento e falou sobre como o HIV é encarado em seu país. Confira a entrevista. Como você se sente hoje vivendo com HIV? – Bom, hoje já estou conformado, porque antes eu pensava que estava acabado, que essa doença não tinha cura, que eu ia morrer de qualquer jeito, então eu fui falar com um médico amigo meu o que tinha acontecido comigo, porque eu tinha atraído essa doença, então ele me aconselhou a tentar juntar umas pessoas soropositivas. Mas isso foi muito ruim, porque no meu país as pessoas não querem falar dessa doença, para eles é uma grande confusão juntar pessoas para fazer uma associação, é muito difícil. Qual foi sua reação ao saber que estava com o vírus HIV? – Eu pensei que iria morrer, porque as pessoas têm muito preconceito, mas não deveriam ter, pois elas não conhecem as pessoas. Agora, quando a gente encontra 50 ou 100 pessoas que têm o vírus, nos sentimos muito à vontade. Meus amigos tinham muito preconceito, eu deixei de trabalhar e larguei tudo. Você sabe quando você contraiu o vírus HIV? – Por volta de um ano e meio atrás, mas até agora eu não tomo remédio, quem toma remédio é a moça que me contaminou.
O que te levou a trabalhar com pessoas soropositivas? – Ao me formar em Psicologia comecei a estudar Pedagogia e acabei me interessando, quando iniciei o ensino, a falar de assuntos relacionados ao HIV.
Agência ViraJovem
O PROBLEMA É GERAL
Quando tomou a iniciativa e por quê? – Quando me dei conta que estava interessada nesses assuntos (crianças com HIV), decidi morar fora da Inglaterra e seguir para Uganda (África) por três anos. E nesse momento aprendi a importância do assunto. Quando voltei à Inglaterra, decidi me especializar nessa área, o estudo do HIV, e a importância de participar dessa luta.
Hoje qual foi a grande mudança na África? – Uma das mudanças que ocorreram quando saí da África foi o acesso aos tratamentos e medicamentos da aids. No período em que trabalhei lá não era tão fácil conseguir. Antes do trabalho na ONG você tinha algum tipo de medo ou receio com as pessoas soropositivas? – Com certeza eu tinha. O HIV surgiu quando ainda era criança, e naquela época havia pouca informação a respeito, não tínhamos orientação do que estava acontecendo. Tive muito temor, principalmente quando iniciei minha vida sexual. Os artistas estavam morrendo, como Freddie Mercury. O que de positivo você irá levar do Brasil? – Visitei agências de HIV em Brasília e fiquei muito impressionada com o trabalho desenvolvido por aqui, do envolvimento das ONGs com o governo. Vou levar a lembrança do ativismo que enxerguei nesses encontros. Qual sua mensagem para os jovens do Brasil? – Que vocês continuem sempre cuidando uns aos outros.
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TÁ na MÃO • Site do Escuta Soh! www.revistaviracao.org.br/ escutaso • Site da ECOS Sexualidade www.ecos.org.br nº 39 · Ano 5 · Revista ViRAÇÃO
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a tradição
O R I G E M DA FESTA Contada pelos mais antigos, a origem da Festa de São Benedito se dá a partir do naufrágio de um navio negreiro na costa capixaba. A lenda conta que vinte e cinco escravos se salvaram do naufrágio do navio Palermo, nas proximidades do litoral de Nova Almeida, em 1856. Agarrando-se ao mastro que continha uma imagem de São Benedito e pedindo sua proteção, os náufragos foram trazidos à terra firme. Os tripulantes, em gratidão, prometeram homenagear o santo, a cada ano. A Festa de Congo de São Benedito e as cerimônias do mastro começam duas semanas antes dos dias 25 e 26 de dezembro, respectivamente, o dia de Natal e o dia do Santo. Para fechar esse ciclo, no Domingo de Páscoa acontece a derrubada do mastro, que é retirado da praça
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PADRE ANTUNES SIQUEIRA (1832-1897)
GA LI
o som de tambores ou Congos, casaca ou reco-reco de cabeça esculpida, chocalhos e apito – a voz de comando do Mestre –, acrescidos às vozes finas e grossas, claras ou fanhosas, homens e mulheres cantam tradicionais toadas, com referências a pessoas e cenas da escravidão, à guerra do Paraguai, aos santos de devoção popular, às sereias do mar, ao amor e à morte, à tristeza da partida, à saudade... O Congo é a tradição cultural mais presente no Espírito Santo. Típico das regiões litorâneas ocorre principalmente em comemorações religiosas, como as festas de São Benedito, São Sebastião, Festa da Penha e São Pedro. As primeiras bandas teriam surgido por volta de 1855, segundo relato do padre Antunes Siqueira. Essas bandas de Congo têm seus dias certos de apresentação. O principal dia é o da Puxada de Mastro de São Benedito, de São Pedro, de São Sebastião e de outros santos. Nessa manifestação, inúmeros devotos conduzem o mastro em barco armado, num carro de duas ou quatros rodas, aparentemente puxado por meio de uma longa corda. Durante o trajeto a caminho da Igreja, na cidadezinha, vila ou povoado, a banda de Congo ao redor do ‘navio’ vai tocando e cantando, ininterruptamente, suas toadas, muitas delas em louvor ao santo do dia. O ritmo, por vezes gingante, dessas toadas faz que grande parte da procissão, instintivamente, se requebre, cantando ou não.
Poeta, teatrólogo, educador e filólogo natural de Vitória. Exerceu as funções de sacerdote em São Mateus e na “Aldeia Velha” (Santa Cruz), por volta do ano de 1855.
Fotos Vixação
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Resgatando
e levado pelo povo através das ruas da cidade, em uma coreografia que lembra o movimento das ondas do mar revolvendo o mastro, no qual os sobreviventes do Palermo se agarraram, e foram levados até a praia, por um milagre do Santo. A representação é acompanhada pelas bandas de congo em todo o seu trajeto.
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*O V ixAção é um dos 18 Conselhos Editoriais Jovens da V ira espalhados pelo País (es@revistaviracao.org.br) e recebe o apoio da Secretaria de Cidadania e Direitos Humanos da Prefeitura de V itória
TÁ na MÃO • Banda de congo Panela de barro de Goiabeiras www.clerioborges.com.br/congo.html
O que a juventude M A X D I AS e T H AY N A R A D UARTE, do V irajovem V ixAção (ES)*
As Conferências da Juventude são espaços ideais para a galera mostrar o que precisa
quer
Ao lado, Paulo Sérgio Vieira os jornais ela parece violenta, e abaixo, Danilo Bicalho na publicidade feliz, no dia-a-dia rebelde. A juventude do século 21 Fotos Vixação é retratada e convencionada em todo tempo com base em estereótipos variados. Em alguns casos ser jovem parece significar disposição, beleza, liberdade – qualidades almejadas também por boa parte dos adultos, em outros é sinônimo de irresponsabilidade, incerteza e consumo – adjetivos que ninguém deseja para si. Segundo Sandra Regina Ferreira, coordenadora dos projetos Odomodê e Agente Jovem da Prefeitura de Vitória, a juventude tem vivido um processo de individualização e isso tem impedido o surgimento de espaços que visam à coletividade. Com o intuito de contrapor essa idéia da/o jovem apática/o, acomodada/o, conferências estão ocorrendo em todo o Brasil visando resgatar a idéia da participação e da organização coletiva das/os jovens. De acordo com Paulo Sérgio Vieira, um dos organizadores da 1o Conferência Municipal da Juventude em Vitória, a juventude representa um quarto da população brasileira, mas não tem sido ouvida. “A conferência é a oportunidade para que os jovens possam colocar as suas idéias e propostas de maneira livre e com responsabilidade”, declarou. Sem dúvida, qualquer espaço que dá voz participar das conferências da sua cidade ou aprenda a fazer ativa a juventude é de extrema importância para a construção de políticas públicas uma conferência livre. É simpara esta parcela da sociedade. Conforples e o resultado é garantido. Em abril, dezenas de jovens me Danilo Bicalho, estudante de Comunicação Social da Universidade como você estarão em Brasília Federal do Espírito Santo (Ufes) e votando pelas propostas que coordenador dos trabalhos do melhorarão a vida de cada grupo de Participação Política, na jovem espalhado por este imenso Brasil. Conferência o jovem perde o medo de se expressar – pois muitos ainda *O V ixAção é um dos 18 Conselhos Editoriais Jovens têm este medo – e, além disso, ela e ele pode pautar as suas necessida V ira espalhados pelo País dades. “Ele vem até aqui para dizer (es@revistaviracao.org.br) e recebe o apoio da o que precisa e o que pensa”, disse. Você também quer ver sua idéia S ecretaria de Cidadania e virando realidade? Acesse o site Direitos Humanos da Prefeitura de V itória www.juventude.gov.br e saiba como
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Sandra Regina Ferreira
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Equilíbrio Crítico S Á L UA OLIVEIRA, UBIRAJA R A B A R B O SA, TIAG O M ATOS E ERIC SILVA, d o V I R A J OV E M S Ã O P AU LO (SP)*
GALERA REPÓRTER
Defensor ferrenho da música independente no Brasil, o rapper carioca BNegão diz que “a melhor forma de melhorar o mundo é se melhorar”
Sálua Oliveira
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“Tô fazendo música bem melhor do que eu fazia, as letras também. A única diferença negativa é monetariamente, mas tranqüilo. Ganhando menos e mais feliz.”
LINHA DO TEMPO
ranqüilo, sagaz, atencioso e crítico. Assim é BNegão, um dos precursores do copyleft (disponibilizar conteúdo para baixar de graça), músico que deixa sua marca na música brasileira desde o começo da década de 1990, época que fez parte do polêmico Planet Hemp. Em plena atividade, Bernardo Gomes Ferreira dos Santos (nome de nascença) é considerado uma das vo-zes mais conscientes na cena brasileira, além de ser um cara sossegado que não se importou em refazer a entre-vista para a Vira (a primeira desa-pareceu por mágica do gravador). Curta um pouco dessas duas conversas e, se tiver chance de encontrar BNegão por aí, numa rua, num boteco ou num ônibus, aproveite para trocar uma idéia. Da onde surgiu esse nome BNegão? – Muito tempo atrás tinha um lugar com dois Bernardos: o BBrancão e eu BNegão. Esse BBrancão era
RAP, PUNK E REGGAE Década de 1980: Teve seus primeiros contatos com o rap e o punk, estilos musicais e atitudes que o marcariam para o resto vida
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jornalista. Eu já era o Black Bernadão Erótico, no Funk Fuckers. Já no Planet eu era Bernardo, quando fomos gravar o disco cada um pegou seu apelido, botou e já era! O BNegão no Planet Hemp e o BNegão de hoje tá igual? – O que mudou basicamente foi que entendo as paradas, tô fazendo todos os negócios bem consciente. Tô fazendo música bem melhor do que eu fazia, as letras também. A única diferença negativa é monetariamente, mas tranqüilo. Ganhando menos e mais feliz. Hoje você está com as bandas Turbo Trio e com os Seletores, o que mais você tá fazendo? – É uma porção de coisas, eu tenho uma parceria com o Digital Dubs e mais outros. Eu me amarro em fazer, e é uma das coisas que eu mais faço. Já fiz parceria com o Cordel do Fogo Encantado, Paralamas do Sucesso, gravei com uma galera. Tem também o 3B Rio – eu, o Binho, do Paralamas e o Bidu que toca trombone na Orquestra Imperial. Fora isso, tô fazendo trilha de filme pra caramba, participei da trilha do filme Encontro com Milton Santos e eu ando discotecando muito. E essas paradas de gravadora e mercado independente? – Eu estava de saco cheio de gravadora, tinha uma parte boa, mas mesmo assim era “foda”.Tem coisas
1993: Lançou o polêmico disco Usuário, como um dos vocalistas da banda Planet Hemp, que chacoalhou a música brasileira pela sua sonoridade e por falar explicitamente sobre a legalização da maconha
que enchiam o saco. Eu estava a fim de tentar outros meios, e tem o tipo tal independente. Tô nessa por opção, sempre tem proposta de gravadora grande, mas eu prefiro trabalhar assim. Como é ser independente no Brasil? – Ainda é complicado, eu vivo graças a Deus porque sou conhecido, já para a galera nova é uma ralação absurda. É falta de organização e os festivais independentes pagam pouco. A maioria paga uma grana legal pras bandas grandes tocarem, mas as bandas pequenas não ganham nada. É muito desigual! Os próprios organizadores dos festivais precisam se tocar e valorizar a rapaziada. E fora do País? – Lá fora é bonzão, você joga de igual pra igual e pagam as paradas, divulgam os shows sem caô. E lá fora você pode ser uma banda independente e vender mil cópias de discos e viver bem. Várias bandas têm esse esquema, existem circuitos de bandas de vários tamanhos e a gente lá fora é menos vaiado do que no Brasil. E como fazer para os músicos independentes terem mais visibilidade? – As rádios deveriam apoiar os novos músicos. O problema é que o jabá ainda é muito forte. Se você não tem grana, ou uma gravadora, dificilmente vai aparecer para o grande público. Acho que os veículos alternativos deveriam se unir e mostrar sua produção. Falando sobre o Planet Hemp, como vo3cê vê a questão da maconha nas músicas? – Eu sou totalmente a favor da legalização da maconha. E posso até vir a
Virajovem Sampa troca uma idéia com BNegão
CAÔ, JABÁ E AFROBEAT
fazer novas músicas falando disso. Só acho que as músicas naquela época não eram muito maduras; agora eu faria diferente. Quando uma banda independente estoura na mídia, você acha que existe uma mudança de comportamento? – Mudança de comportamento existe em qualquer coisa. Se você faz um trabalho e chegam junto, elogiando, a partir do décimo elogio vai ter uma mudança. Na época do Planet eu fazia questão de descer do show e ir pro meio da galera. Eu sempre fui em muito show, já fui
2003: O disco Enxugando o Gelo, feito com os Seletores
1997: Foi preso em Brasília, junto com todo o Planet Hemp, por supostamente estar fazendo apologia à maconha, acusação que não se confirmou
• CAÔ: gíria carioca que significa mentira, picaretagem, enrolação. • JABÁ: é uma grana paga por gravadoras para seus músicos participarem de programas de televisão e rádio. • AFROBEAT: estilo musical criado na África pelo nigeriano Fela Kuti, seu maior expoente, nos anos 1960, é a combinação de ritmos locais com o jazz e o funk.
1997: Junto com o MC Alexandre Basa e o produtor Tejo Damasceno surge o embrião do Turbo Trio, que mistura batidas graves e dançantes do funk carioca e do reggae jamaicano a letras
de Freqüência, é lançado de forma independente. O álbum inteiro foi disponibilizado gratuitamente no site do Centro de Mídia Independente (CMI). No mesmo ano, Enxugando o Gelo foi eleito melhor disco de Rap Black Music no Prêmio Dynamite (o maior prêmio independente do Brasil) 2004: O cantor ganhou o prêmio Orilaxé de Melhor Cantor de nº 39 · Ano 5 · Revista ViRAÇÃO Black Music, após votação promovida pela ONG Afro-Reggae
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Divulgação
tirado no tapa por segurança, então faço questão de estar ali porque já passei por situações dessas. Mesmo na época do Planet eu sempre andei de ônibus. Na minha visão de mundo, todos são iguais e ponto. Todo mundo é parte do princípio, dentro da evolução espiritual e outras coisas em que acredito. Pode até ter diferença, mas todo mundo tem que ser tratado igual. V ocê falou que mudou. Qual é a diferença entre as suas letras de antigamente e as de agora? – A diferença básica, fora que são bem melhores escritas, é que antes era mais vontade do que qualquer outra coisa. Na verdade, eu não levava tanto a sério quanto passei a levar. A partir da minha carreira solo, tem uma diferença brutal. Desde a levada até a letra. Antes, eu escrevia de forma bem arrogante, era mais novo, pensava que estava certo, e o resto errado. Daí, eu comecei a pensar: “quem sou para ficar apontando o dedo?”. Eu acreditava que era o cara mais humilde do mundo e, por causa disso, apontava o dedo para os outros. Agora, em todas as letras que eu faço, falo comigo também. Antes, eu só falava com as outras pessoas. Numa entrevista você falou: “É preciso priorizar a prioridade”. O que é prioridade para você? – Isso é uma filosofia oriental. No mundo tem tanta gente falando milhares de coisas que podem ser feitas para melhorar o meio ambiente, e, que não faz o básico, como reciclar o lixo. Pô, é só separar lá e entregar para uma cooperativa. Se todo mundo fizesse isso já seria uma puta ajuda. Para mim, prioridade é dormir bem. Ninguém dá mais importância para isso, mas dormir bem é fundamental para a saúde. Quero emagrecer também. Na outra entrevista você falou de ser equilibrado, não se empolgar nem se abalar com o que os outros falam. – Isso é preceito budista que fala da não-expectativa, que é um modo de você viver. Não faço isso o tempo todo, mas eu sempre busco. É o principal de qualquer coisa que você for fazer de melhor para você
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não são de dominação, são de libertação. Religião é ligação, é ligar com uma energia superior.
mesmo, para evoluir como sujeito. Você pode não conseguir fazer sempre ou fazer poucas vezes, mas tá sempre mirando aquilo, esse é o jeito. A não-expectativa é você ter em mente que o mundo é uma montanha-russa, num momento você está lá, no outro cá. Então, se você ficar exposto, emocionalmente, energeticamente e espiritualmente vai sair da montanha-russa e vomitar. Se alguém te elogiar, só acolha e agradeça, mas não fique se achando. E se te acharem uma merda também. Tem que saber se equilibrar porque faz você dormir melhor, aproveitar melhor sua energia, ficar menos estressado, sem comparação. E essa mudança de estilo, tem a ver com essa sua filosofia? V ocê sempre adotou isso? – Sempre não, mas eu sempre achei “do caralho” só que eu não aplicava, ficava só na cabeça. Aí eu fiz o download pro coração e tô usando. Todas as filosofias estão aí, você tem acesso, estuda e tal, mas falar é fácil. A partir do momento em que eu comecei a usar isso, melhorou tudo. Fala mais um pouco disso, dessa sua formação espiritual. – Sempre gostei desses assuntos e estudo desde moleque. Eu ficava com os estudantes de filosofia e de religião, a maioria sabe tudo de cabeça, mas não aplica. Eu mesmo estava assim muito tempo, até o momento em que eu decidi pôr em prática. Você tem que ir fazendo um por um, existem várias filosofias que vão para o mesmo lugar. As certas
Com essa parada de Tropa de Elite, a imagem do Rio ficou atrelada à violência, o que você acha como carioca? – Se em todos os lugares acontecessem essas violências e noticiassem, iriam ver que o mundo é assim. O mundo tem violência, só que a parada braba é a forma como manipulam as notícias. O Rio de Janeiro é tão violento quanto qualquer cidade grande do mundo, não tem mistério. Sobre o filme, o grande problema para mim é dizerem que não quiseram fazer o cara (do Bope) de herói, lógico que quiseram. Pelo menos, foram omissos em não falar que no Bope tem corrupção. Quando eu vi o filme, eu comprei pirata porque eu queria ver essa confusão, fizeram tanta propaganda. Nos primeiros dez minutos de filme percebi que a parada se vendeu, que o Bope era a solução de tudo. Colocaram o filme à frente da verdade. Dicas para quem tá começando e dicas musicais. – Dica musical via internet: o AntiBalas é uma banda “foda” de afrobeat. Procurem música do mundo todo, Tony Allen, Fellacut, Edson Rá. As coisas daqui: Cordel do Fogo Encantado, Naná Vasconcelos, Cidadão Estigado, Nação Zumbi, Jimmy da Família 7 Velas, Funk Budha, Sakao da Paraíba. Para quem tá começando, coloque tudo na internet e se organize minimamente, tem que parar um tempo consigo mesmo para entender o que tá fazendo de certo, e o que tá fazendo de errado. Devíamos fazer isso todo dia ou uma vez por semana. Se você tiver uma banda anote suas idéias e ponha em ação. A melhor forma de melhorar o mundo é se melhorar. Se você tiver vícios errados, vai chegar lá em cima e vai fazer merda.
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*Integrantes de um dos 18 Conselhos Editoriais Jovens da V ira espalhados pelo País (sp@revistaviracao.org.br)
TÁ na MÃO Site oficial www.bnegao.com.br
viver
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Desenhar para
Jornalista e ilustradora dá a dica: cada um descobre a sua técnica
SCHEILLA GUMES, TÁSSIA BATISTA, BEBEL BRASILEIRO, CRISTIANE CONCEIÇÃO, LUA N A D A N DA R A , M A R COS OLIVEIRA e ENICE KLEIN, do V irajovem Salvador (BA)*
V
ânia Medeiros, artista de 23 anos, ilustradora de Salvador (BA), conta da sua entrega ao papel em branco. Desde sempre gostou de inventar mundos com a ponta do lápis e misturas de aquarela, recortes de tecido, tesoura e cola. E eis que surgem desenhos de si, mas também dó, ré, lá, sol, mi. Nas palavras que seguem, imagens de Vânia. E você pode ir atrás dela. Onde você nasceu? – Em Campos (RJ), mas vivi a maior parte da vida em Salvador (BA). Passei minhas férias de infância no interior de Pernambuco, na cidade de Paulista, onde mora minha família materna, me sinto um pouco de lá também. O que mais gosta de ler? – Gosto de ler histórias reais e inventadas e também adoro poesia. João Cabral de Melo Neto, Guimarães Rosa, José Saramago, Rosa Montero, Hilda Hilst, Pablo Neruda... e muitos outros. Acho que pra ser ilustrador tem que gostar de ler. Também adoro quadrinhos de Marjane Satrapi, Angeli, Lorenzo Mattotti, André Kitagawa, Quino, Liniers e sou apaixonada por livros ilustrados, é claro, principalmente por Odilon Morais, Alê Abreu, Daniel Bueno, Andrés Sandoval e Ziraldo.
Filmes preferidos? – Gosto de filmes de Jean-Pierre Jeunet (aquele que fez O Fabuloso Destino de Amélie Poulain), Glauber Rocha, Kubrick, Fellini, adoro os clipes de Björk e amo desenho
animado. Meu favorito é a Viagem de Chihiro, de Hayao Miyazaki. Ah, também adorei Estamira, de Marcos Prado.
O que te inspira? – O rosto das pessoas, a música, a literatura, a luz. E as coisas que vão se passando nos dias.
Qual é sua formação? – Estudei Jornalismo na Universidade Federal da Bahia e passei quatro anos desenhando nas aulas.
V ocê se sente dividindo o que com o mundo, cada vez que consegue produzir uma tela? – O que eu vejo de beleza e que me emociona. O desenho que eu faço revela para mim alguma coisa e espero que revele para quem o vê também.
Como o desenho pintou na sua vida? – Sempre gostei de desenhar, desde criança. Não sou filha única, mas minhas irmãs são muito mais velhas que eu. Então, eu ficava meio só em casa com minha mãe. Aí, enquanto ela fazia as coisas dela, lavava os pratos, lia, arrumava os armários etc, eu ficava desenhando. E nunca perdi esse hábito.
V ocê faz alguma ligação da sua formação em comunicação com a carreira de ilustradora? – Diretamente, não influenciou. Eu fiz Jornalismo por que sempre gostei de ler e escrever, sempre fui muito ligada ao texto escrito. O desenho eu considerava um passatempo, uma brincadeira.
Quais as técnicas que você utiliza? – Eu uso muita coisa, vai mudanQue dicas você daria pra alguém do. Estou mais habituada a trabalhar que quer começar a desenhar? com lápis de cor, aquarela e pastel. – Papel sulfite branco. Também nunca faltam canetinhas A técnica, cada um descobre a sua, de nanquim com pontas variadas e o importante é fuçar. caneta bic preta também. Pedaços de pano e de papel estão sempre na *Integrantes de um dos 18 gaveta por que eu adoro trabalhar Conselhos Editoriais Jovens com colagem, é um recurso que da Vira espalhados pelo País sempre utilizo desde que comecei, (ba@revistaviracao.org.br) desde criança. Depois de trabalhar no papel eu levo pra o Photoshop e • Site de Vânia Medeiros trabalho com as www.vaniamedeiros.com cores, os contras• Flickr com as fotos da artista tes, um pouco de textura. www.flickr.com/photos/vania_medeiros
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TÁ na MÃO
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Boa idéia
é pra se mostrar
Veja o que rolou na 1ª feira de projetos do Programa Geração MudaMundo
DENISE PIRES, do V irajovem São Paulo (SP)*, e BIANCA PYL, da Redação
O
dia foi de sol forte na cidade de São Paulo, os termômetros marcavam 30 graus e a empolgação da galera era compatível com a temperatura. Essa turma forma a geração que quer mudar o mundo, elas e eles fazem parte do Geração MudaMundo, da Ashoka Empreendedores Sociais. E o recado foi dado: “Não estamos aqui para passar o tempo. Mais que isso, somos jovens querendo mudar o mundo”, lembra Josi Fernandes, do projeto Oficina de Mangá, um dos apoiados pelo GMM.
O ex-jogador Raí compareceu a feira para conferir o trabalho da galera
GERAÇÃO CEARENSE
A
galera do Ceará também está mostrando suas iniciativas. Aconteceu no final de novembro, a banca de apresentação de projetos sociais criados, na qual os jovens apresentam seus projetos para avaliadores externos dos três setores da sociedade que dizem se o projeto está ou não pronto para ser implementado. O encontro foi na Faculdade Sete de Setembro e reuniu trabalhos de aproximadamente 80 equipes e quase 300 jovens empreendedores sociais da capital, Fortaleza, e sete cidades do interior (Maracanaú, Caucáia, Limoeiro, Palmácia, Prainha do Canto Verde, Sobral, Guaiúba). *Integrante de um dos 18 Conselhos Editoriais Jovens da Vira espalhados pelo País (sp@revistaviracao.org.br)
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O evento aconteceu no Museu Brasileiro da Escultura (MuBe) e recebeu cerca de 200 jovens empreendedoras/es sociais, líderes de 40 projetos. Foram 55 estandes que mostraram trabalhos bem diferentes, e o que têm em comum é que todos integram o GMM. Desde produtora de vídeo, projetos de apoio ao ensino de ciências e até uma marca de roupas feita na própria comunidade, para despertar na juventude a consciência contra o consumismo. Apresentações de música, dança
PROJETOS DO GERAÇÃO Nossa Cara: jovens do Bairro de Campo Limpo Paulista criaram uma marca de roupa da própria comunidade e a venda desses produtos gera renda para os envolvidos. Arte e Amor: em Araçoiaba da Serra, próximo àSorocaba, os jovens fazem luxo do lixo por meio da realização de cursos de capacitação em reciclagem e manejo de bijouterias.
e malabares deram cores e ritmos ao evento. Na mesa de abertura estavam Olivia Martin, coordenadora do GMM no Brasil; Pablo Magallanes, diretor geral da Officenet, a principal patrocinadora do programa no País; a empreendedora social da Ashoka Luciana Martinelli; o ex-jogador e um dos fundadores da ONG Atletas pela Cidadania Raí de Oliveira; e Josi Fernandes, do projeto Oficina de Mangás, um dos apoiados pelo GMM. O programa ocorre em mais de dez países e ajuda jovens a pensarem e refletirem o dia de amanhã, mas com um simples e significativo diferencial: eles pensam, planejam e colocam em prática. Para Jorge de Lima, 18 anos, do Projeto Além do Vídeo, da ONG Arrastão, “a feira foi muito bacana. Quando nós nos conhecemos, o projeto era apenas umas idéias e estava somente no papel. Agora não, ele está aqui nesta feira, estamos tendo a oportunidade de ver o resultado, de ver como estão os outros projetos e isso é muito legal. E é ótimo ver que as pessoas estão gostando, é maravilhoso ver que o projeto que você escreveu, que você batalhou tanto está dando certo, é simplesmente demais.” A Ana Carolina Pereira, 19 anos, tem a mesma opinião. “O GMM chegou numa hora muito boa, pois ao meu projeto foi acrescentado muita coisa, a gente cresceu em saber como conseguir um patrocínio e se organizar melhor. Foi um empurrão para nossa reestruturação. Com tudo isso a gente atingiu mais público e com maior qualidade.”
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Procurando Dons: com base no Hip Hop, jovens do Jardim da Conquista, na Zona Leste de São Paulo, criaram um espaço de lazer, expressão e cultura. Projeto Companhia Cultural de Produção Teatral Corpo, Postura e Ação: jovens de São Mateus idealizaram uma Cia de Teatro e recriam obras de Shakespeare adaptadas para a sua realidade. P rojeto Cooperativa Semente: cooperativa entre os moradores do bairro Jardim Minas, em Embu das Artes, que produz e comercializa sabão feito a partir da reciclagem de óleo de cozinha e gordura. Cineclube Sarau: projeções de filmes alternativos criando espaços de discussão, estímulo à leitura, poesia, reflexão sobre cidadania, cooperação e liberdade de expressão. Conexão Social: criação e estruturação de uma rede de universitários da Fundação Getúlio Vargas, que apoiará e estimulará a atuação social e transformadora do aluno dentro e fora da instituição. Rosa dos V entos: promove o acesso ao lazer e ao turismo para crianças e jovens de baixa renda e pouco acesso a cultura, que são viabilizadas por meio de viagens e excursões priorizando o desenvolvimento pessoal e social das crianças e dos jovens. Malabares Arte Circense: jovens ensinam essa técnica circense como uma atividade de lazer, com malabares criados a partir de materiais reciclados. Pau no Gato Futsal com toque feminino: essa equipe promove oficinas, treinos e campeonatos de futsal, ajudando dessa forma a divulgar esse esporte principalmente entre as mulheres. nº 39 · Ano 5 · Revista ViRAÇÃO
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NO ESCURINHO
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SÉRGIO RIZZO, crítico de cinema
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A
inda hoje, mais de quatro décadas depois da deflagração do Cinema Novo, o mais importante movimento na história cinematográfica do Brasil, os principais temas que pautaram o debate naquele período efervescente continuam terrivelmente atuais, em boa medida por conta da incapacidade de o país encaminhar a resolução de seus desafios – sejam eles políticos, sociais, culturais ou existenciais. Aqueles eram tempos de intensa mobilização, discussões infindáveis sobre os caminhos a percorrer e muita esperança em um futuro melhor. Parte desse espírito, como todos sabem, infelizmente se perdeu em alguma esquina da nossa história pós-64. Para as novas gerações, a oportunidade de conhecer o pensamento e a ação dos “cinemanovistas” é agora reforçada com o lançamento em DVD dos dois primeiros volumes da Coleção Leon Hirszman. Apontado por seus próprios colegas de Cinema Novo como um dos mais lúcidos e talentosos de seus integrantes, filho de judeus poloneses, o carioca Hirszman (1938-1987) estreou no cinema com o curtametragem Pedreira de São Diego, episódio do longa Cinco Vezes Favela (1962), produzido pelo Centro de Pesquisa da Cultura da União Nacional dos Estudantes,
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o célebre CPC da União Nacional dos Estudantes (Une). Desse projeto, participou outro expoente do movimento que, assim como Hirszman, teve morte precoce: o também carioca Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988), com o curta Couro de Gato. Documentário sobre os dilemas de trabalhadores de uma pedreira cujas explosões ameaçam os barracos de um morro próximo, no Rio de Janeiro, Pedreira de São Diego está no primeiro volume da coleção dedicada a Hirszman, ao lado de outro filme centrado nos dramas da classe trabalhadora, o longa de ficção Eles Não Usam Black-tie (1981), talvez a sua obra mais popular, baseado na peça homônima de Gianfrancesco Guarnieri. Aqui, o foco está nas contradições do país já no período final do regime militar de 1964. Esse momento histórico é abordado também no documentário ABC da Greve (1980), sobre o movimento sindicalista que deu origem a Lula e ao Partido dos Trabalhadores (PT), e que funcionou como espécie de preparação para Eles Não Usam Black-tie. ABC da Greve está no segundo volume da coleção, ao lado dos também documentários Ecologia e Megalópolis, ambos de 1972, e do inédito Deixa que Eu Falo, realizado por Eduardo Escorel em homenagem ao colega – que tem sua trajetória reconstituída na biografia Leon Hirszman – O Navegador das Estrelas, de Helena Salem (Editora Rocco).
Divulgação VideoFilmes
Os filmes de Leon Hirszman fizeram parte do cinema Novo brasileiro
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Rock alternativo da capital do Paraná é quente e engajado para derrubar mito de cidade sem problemas sociais
M A R I N A G A L L UCCI, do V irajovem Curitiba (PR)*
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em gente que aponta a nova geração como carente de ídolos que tenham algo de relevante a dizer. E mais: rotulam os artistas com o discurso mais politizado como seguidores de modinhas. Definir até que ponto assumir a posição de politicamente correto é demagogia ou modinha é complicado, mas que a nova geração não tem ídolos preocupados com as questões sociais, isso sim é uma mentira. Em Curitiba, o rock alternativo nunca esteve em tanta evidência. Em meio a tanta banda, tem uma que começa a ganhar destaque também nacionalmente. Terminal Guadalupe não é apenas um ponto conhecido de Curitiba, é nome de banda e de música. A escolha não é aleatória, é uma representação das contradições da capital paranaense, que não deixam de ser um recorte dos problemas do País. O vocalista Dary Jr.canta: “Onde começa e acaba o mito que traz perfeição”, e assim é esse local da cidade que segundo ele “é um ponto antigo da cidade, mas não é cartão postal”. No terminal estão, lado a lado, prostitutas, religiosos, mendigos e trabalhadores que diariamente fazem o trajeto do centro (aparentemente bem estruturado) até a região metropolitana. A banda Terminal Guadalupe está na estrada desde 2003 quando lançou CD Burocracia Romântica, mas foi com o premiado Você vai perder o chão que teve sua formação definida com Dary Jr. (Voz e letras), Allan Yokohama (guitarra e voz), Fabiano Ferronato (bateria) e Rubens K (baixo). E, após a gravação do álbum A marcha dos invisíveis, ganhou mais um integrante, Lucas Borba, que é guitarrista e o caçula do grupo. A banda explora ao máximo os recursos da internet. Disponibiliza as músicas no site Trama Virtual e os vídeos no Youtube, tem site e comunidade no orkut. Segundo Dary Jr., utilizar a internet é uma forma de quebrar com a imagem que se faz dos artistas, pela web eles mostram os erros e que há muito trabalho para conseguir atingir os objetivos. O primeiro clipe Pernambuco Chorou , além de já ter estreado na MTV, foi selecionado como um dos representantes do Brasil em um festival
Divulgação
de arte em Barcelona, na Espanha. A letra foi inspirada em um documentário e a melodia é contagiante. “Ninguém espera que algo mude / Um sistema tão edificante / Quando quem vende atitude / Em comercial de refrigerante”. O que prova que música com algo mais a dizer não precisa ser chata. Para 2008, além de participar de vários festivais, eles pretendem lançar mais clipes e um novo álbum (duplo). Brasília, Belo Horizonte, São Paulo, Cuiabá, Florianópolis, são apenas alguns dos novos lugares que descobrem (na definição da própria banda) o pop de garagem: “Tem melodia, mas nem sempre refrão; tem microfonia, mas sem ser gratuita; tem guitarra distorcida, mas não o tempo todo”.
TODOS OS SONS
Curitiba sem Ficção
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*Integrante de um dos 18 Conselhos Editoriais Jovens da V ira espalhados pelo País (pr@revistaviracao.org.br)
TÁ na MÃO • Site da banda: www.tg.mus.br • Clipe Pernambuco Chorou http://br.youtube.com/watch?v=tpbM78opdkA nº 39 · Ano 5 · Revista ViRAÇÃO
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Ilustra ção NOVAES
QUE FIGURA
JERSEY O.A L B U Q U E R Q U E , d o V I R A J OV E M F O R TALEZA (CE)*
Francisco Nascimento
Dragão do Mar
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urante o vergonhoso período de escravidão em nosso País, muitas ações foram feitas a fim de eliminar tal prática. Ao longo dos anos, diversas lutas serviram para pressionar o governo imperial e a classe social dominante branca para decretar a abolição. Um dos grandes líderes do processo de abolição foi o negro cearense Francisco José do Nascimento que, durante sua luta, recebeu o apelido de Dragão do Mar. Nascido em 15 de abril de 1839, Francisco foi criado pela mãe, Dona Matilde. Quando garoto seu pai viajou para ser seringueiro na Amazônia e tentar melhorar de vida, mas não obteve muito sucesso, morreu pouco tempo depois que chegou à nova terra.
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Devido a morte do pai, Francisco teve que começar a trabalhar muito cedo para ajudar sua mãe. Seu primeiro emprego foi de garoto de recados a bordo do navio Tubarão. Ao longo dos anos, adquiriu mais prestígio, subindo para cargos mais importantes. Francisco só aprenderia a ler aos 20 anos. Entre os anos de 1877 e 1879 um forte período de seca assolou o Ceará, resultando na morte de muitas pessoas por fome, malária e cólera. Devido aos grandes danos provocados durante essa época, os proprietários de escravos, com o objetivo de minimizar os custos, tentaram vender esses homens e essas mulheres para o Sudeste para trabalhar no plantio de café, em franco crescimento. Para tanto, precisavam embarcá-los no porto.
Durante a década de 1880, o chamado Dragão do Mar engajou-se na luta pela abolição por meio da Sociedade Cearense Libertadora. Um grupo de jangadeiros, liderados por Francisco, impediu que os escravos fossem embarcados no porto. Mesmo com ameaças judiciais, o movimento resistiu e influenciou os donos de escravos a libertarem os negros. A notícia se espalhou rápido, favorecendo o decreto da libertação dos escravos no Ceará, fato ocorrido quatro anos antes da abolição nacional. Francisco se tornou herói da abolição e por sua vigilância incessante no porto ficou conhecido como Dragão do Mar. Morreu em 1914, em Fortaleza.
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*Integrante de um dos 18 Conselhos Editoriais Jovens da V ira espalhados pelo País (ce@revistaviracao.org.br)
SEXO E SAÚDE EDNUBIA GHISI, d o V I R A J OVEM CURITIBA (PR)* As questões do Sexo e Saúde desta edição foram feitas pelos meninos em privação de liberdade, do Centro de Socioeducação Fazenda Rio Grande, localizado na Região Metropolitana de Curitiba (PR). Eles participam do projeto Luz Câmera...Paz! nas Unidades, desenvolvido pela Central de Noticias dos Direitos da Infância e da Adolescência (Ciranda), parceira da Vira. A médica de adolescentes e coordenadora do projeto Adolescente Saudável, da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba, Dra. Julia Cordeline, tirou as dúvidas dos garotos. Confira:
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Uma criança que nasce de pais com HIV pode nascer com o vírus? Pode ou não. Se a mãe estiver fazendo tratamento correto, tomar alguns cuidados durante o pré-natal e no parto, os riscos ficam bem menores. A mãe portadora não pode amamentar.
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Pega aids com sexo oral? Sim. Depende da carga viral do portador. A baixa imunidade e lesões na boca agravam o risco de infecção via sexo oral, mas o maior índice de infecção está, em primeiro lugar, pelo sexo anal, em segundo, pelo vaginal e, em terceiro, pelo oral.
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S e uma pessoa com aids transar com outra que também tem aids a doença pode piorar?
Depende. Se a carga viral de um dos dois estiver alta, sim. Isso se o casal não usa camisinha. Se usarem camisinha e estiverem com o tratamento certo, não há risco de piora.
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A pílula do dia seguinte pode ser considerada um método abortivo? Não é abortiva. Se a gravidez já estiver instalada, a pílula não mexe no óvulo. Este é um método contraceptivo de emergência e não funciona se a mulher estiver grávida. Hoje já existe uma resolução do Conselho Federal de Medicina que define questões sobre o aborto, e este caso é citado lá.
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*Integrante de um dos 18 Conselhos Editoriais Jovens da V ira espalhados pelo País (pr@revistaviracao.org.br)
Mudança, atitude e ousadia jovem
CUPOM DE ASSINATURA anual e renovação 10 edições É MUITO FÁCIL FAZER OU RENOVAR A ASSINATURA DA SUA REVISTA VIRAÇÃO Basta preencher e nos enviar o cupom que está no verso junto com o comprovante (ou cópia) do seu depósito. Para o pagamento, escolha uma das seguintes opções: 1. CHEQUE NOMINAL e cruzado em favor de PROJETO VIRAÇÃO. 2. DEPÓSITO INSTANTÂNEO numa das agências do seguinte banco, em qualquer parte do Brasil: • BRADESCO – Agência 126-0 Conta corrente 82330-9 em nome de PROJETO VIRAÇÃO OBS: O comprovante do depósito também pode ser enviado por fax. 3. VALE POSTAL em favor de PROJETO VIRAÇÃO, pagável na Agência Augusta – São Paulo (SP), código 72300078
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4. BOLETO BANCÁRIO (R$2,95nºde 39 taxa · Ano bancária) 5 · Revista ViRAÇÃO
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Fotos de Guylherme Custódio
A liberdade é um dos sonhos entre as grades do Cense Fazenda Rio Grande
Antes usando uma arma em mãos agora só o trompete interessa ao garoto
Os jornais produzidos por eles mesmos são uma das formas de contar um pouco das suas histórias
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Considerada por eles mesmos como uma medida ruim, os meninos são contra a redução da maioridade penal Revista ViRAÇÃO · Ano 5 · nº 39
Sonhos entre grades
G U Y L H E R M E C U ST Ó D I O, d o V I R A J OVEM CURITIBA (PR)*
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Os meninos desenvolvem no Cense a habilidade que tem mais vontade de aperfeiçoar, neste caso o violão é a escolha
Por meio da fotografia jovens passam para o restante da sociedade a sua realidade
IMAGENS que viram
or mais alto que gritem os jovens em conflito com a lei não transgridem as grades do Centro de Socioeducação (Cense) Fazenda Rio Grande. Criado em 2004, após uma rebelião no então único Cense em Curitiba, o Cense Fazenda Rio Grande tem 20 vagas para adolescentes caracterizados como primários. Rap, trompete, violão, texto, vídeo, fotografia e artesanato são alguns resultados que o tempo de privação os trouxe em benefício. A oportunidade de conhecer estas ferramentas de inclusão foi oferecida um pouco tarde, mas não tarde demais. Em alguns casos o estudo só veio agora, o que não tiveram quando estavam ‘livres’, quando os seus direitos não eram cumpridos na tal liberdade. Cerca de 900 meninos do Paraná procuraram um novo caminho para a vida. Um dos meninos do Cense diz em um jornal produzido por eles qual é a medida ideal: “Porque os governantes não procuram outros meios, como investir na educação, em cursos profissionalizantes, áreas de lazer para os adolescentes se divertirem e não terem tempo para usar drogas, ou cometer atos infracionais? Porque não implantar o que diz o ECA nas escolas para as crianças poderem aprender sobre os seus direitos? Não conhecendo seus direitos, as crianças não estão nem aí com a sociedade”. A reportagem fotográfica foi a vencedora do 5o Concurso Múltiplo Olhares, promovido pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância e Adolescência. O concurso foi promovido para os estagiários da Rede Andi Brasil, que teve como vencedor Guylherme Custódio da agência Ciranda – Central de Notícias dos Direitos da Infância e Adolescência, parceira da V ira. Os nomes dos adolescentes mostrados na reportagem Sonhos entre grades não podem ser divulgados, conforme definido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente no seu artigo 143 os jovens em conflito com a lei: Art. 143. E vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e administrativos que digam respeito a crianças e adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional. Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato não poderá identificar a criança ou adolescente, vedando-se fotografia, referência a nome, apelido, filiação, parentesco, residência e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome. *Integrante de um dos 18 Conselhos Editoriais Jovens da V ira espalhados pelo Paísnº(pr@revistaviracao.org.br) 39 · Ano 5 · Revista ViRAÇÃO
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Revista ViRAÇÃO · Ano 5 · nº 39
PARADA SOCIAL
A U TO R
Memória e defesa do
cerrado R A I M U N DA LOPES, SARA MANÇO E SHEILA MANCO , d o V I R A J OVEM GOIÂNIA (GO)*
Projeto sensibiliza a comunidade para a preservação de um dos principais biomas brasileiros: o cerrado
O
cerrado ocupa cerca de 22% Segundo Elizete Divina Xavier, do território brasileiro e se que visitou o espaço pela primeira destaca por ter uma vasta vez, “essa é uma iniciativa importanbiodiversidade da fauna e da flora. te para a preservação ambiental do Para conscientizar a população sobre cerrado”. Ela também enfatizou a a importância desse bioma, foi necessidade de maior divulgação criado, em Goiás, o projeto Memodesse espaço tão rico culturalmente. rial do Cerrado. Fundado em 21 de Davi Farias Ferreira, um dos setembro de 1999, pela Universidade monitores que acompanham os Católica de Goiás, o espaço tem o visitantes do Memorial do Cerrado objetivo de pesquisa, preservação e e estudante de Biologia, afirma: divulgação do cerrado e é aberto “É preciso clamar à sociedade para para a visitação da comunidade. uma maior conscientização sobre a O Memorial é um Virajovem Goiânia complexo cultural composto por: Museu de História Natural, Vila Cenográfica, Quilombo e Aldeia Indígena Timbira. No Museu de História Natural é possível visualizar a história evolutiva planetária e humana desde a era Pré-Cambriana até a era Cenozóica. A Vila Cenográfica Santa Luzia é uma réplica da antiga cidade de Correntina, na Bahia. O Quilombo retrata O projeto é um espaço ´para pesquisar o lugar onde os negros necessidade da preservação da fugiam de seus senhores na época natureza e do cerrado. Dinheiro não da escravatura no Brasil. A Aldeia é tudo. A natureza não precisa tanto Indígena Timbira retrata a vida dos de nós como nós precisamos dela. povos indígenas com seus hábitos e Se não nos conscientizarmos, costumes. sofreremos as conseqüências num No Memorial os visitantes futuro próximo, assim como também têm a oportunidade de a lei de ação e reação”. conhecer animais empalhados,
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plantas e flores típicas do cerrado, tais como o tamanduá mirim, baba-timão, sangria d’água, ipê amarelo, quaresmeira, tamanduá bandeira, entre outros.
*Integrantes de um dos 18 Conselhos Editoriais Jovens da Vira espalhados pelo País (go@revistaviracao.org.br)
www.marciobaraldi.com.br
Márcio Baraldi
Roteiro produzido por Jéssica, Beatriz, Josimara, Rhenan, Rita e Alison do Virajovem Natal (rn@revistaviracao.org.br) nº 39 · Ano 5 · Revista ViRAÇÃO
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