Vira pelo Brasil
Veja quem faz a
Associação Imagem Comunitária Belo Horizonte (MG) – www.aic.org.br
Universidade Popular – Belém (PA) www.unipop.org.br
Centro Cultural Bájò Ayò João Pessoa (PB)
Casa da Juventude Pe. Burnier Goiânia (GO) www.casadajuventude.org.br
Ciranda Curitiba (PR) – www.ciranda.org.br
Catavento – Fortaleza (CE) www.catavento.org.br
Companhia Terra-Mar Natal (RN) – www.ciaterramar.org.br
Centro de Referência Integral de Adolescentes Salvador (BA) – www.criando.org.br
Agência Uga-Uga – Manaus (AM) www.agenciaugauga.org.br
Diretório Acadêmico Freitas Neto Maceió (AL)
Fundação Athos Bulcão Brasília (DF) – www.fundathos.org.br
Girassolidário – Campo Grande (MS) www.girassolidario.org.br Jornal O Cidadão Rio de Janeiro (RJ)
Secretaria de Cidadania e Direitos Humanos – Vitória (ES)
Rede Sou de Atitude Maranhão São Luís (MA) – www.soudeatitude.org.br
Grupo Atitude – Porto Alegre (RS)
Sonoras e
ativas
E
las têm rock, samba, rap, pop, afro e erudito. Fazem o que gostam e, sabe se lá porque, ainda são minoria. Garotas e mulheres tocando... Música, nesses e em muitos outros estilos. Elas já têm seu espaço e público em festivais, casas noturnas no Brasil e mundo afora e nessa edição a capa da Vira é delas. Algumas das instrumentistas que fazem a diferença nas cenas alternativas usando técnica, atitude e tesão nos palcos e estúdios também estão nas páginas desta edição. São Paulo (capital e interior), Rio Grande do Sul e Minas Gerais foram por onde a Vira rodou para saber dessas meninas tocadoras. Às vezes falando dos direitos das mulheres, às vezes tocando oboés, guitarras, alfaias e pandeiros com presença. Difícil foi fazer as entrevistas sem relacionar o papo ao som das minas. Uma escolha de vida no erudito, politicamente engajado para as garotas do Riot e do Rap, já no samba o lance é mais descontraído. O começo pode ser mais fácil ou difícil para cada uma, mas, permanecer na lida fazendo o que curte é o mais complicado, e elas tiraram de letra. Para você que tem banda a dica é não desistir e correr atrás! Se você acreditar todo mundo acreditará! Se você não conhece o trabalho das meninas, passe a conhecer porque os sons são, cada um ao seu modo, poderosos! Ou deveríamos dizer poderosas?
VIRAÇÃO é publicada mensalmente em São Paulo (SP) pelo Projeto Viração da Associação de Apoio a Meninas e Meninos da Região Sé de São Paulo, filiada ao Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas de São Paulo; CNPJ (MF) 74.121.880/0003-52; Inscrição Estadual: 116.773.830.119; Inscrição Municipal: 3.308.838-1
ATENDIMENTO AO LEITOR Rua Augusta, 1239 – Conj.11 Consolação – 01305-100 – São Paulo – SP Tel./Fax: (11) 3237-4091 / 3567-8687 / 9946-6188 HORÁRIO DE ATENDIMENTO das 9 às 13h e das 14 às 18h E-MAIL REDAÇÃO E ASSINATURA redacao@revistaviracao.org.br assinatura@revistaviracao.org.br
QUEM SOMOS
V
iração é um projeto social de educomunicação, sem fins lucrativos, criado em março de 2003 e filiado à Associação de Apoio a Meninos e Meninas da Região Sé. Recebe apoio institucional da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). Além de produzir a revista, oferece cursos e oficinas de capacitação em comunicação popular feita para jovens, por jovens e com jovens em escolas, grupos e comunidades em todo o Brasil. Para a produção da revista impressa e eletrônica (www.revistaviracao.org.br), contamos com a participação dos conselhos editoriais jovens de 20 capitais, que reúnem representantes de escolas públicas e particulares, projetos e movimentos sociais. Entre os prêmios conquistados nesses quatro anos estão o Prêmio Don Mario Pasini Comunicatore, em Roma (Itália), o Prêmio Cidadania Mundial, concedido pela Comunidade Bahá’í. E mais: no ranking da Andi, a Viração é a primeira entre as revistas voltadas para jovens. Participe você também desse projeto. Veja, abaixo, nossos contatos nos Estados. Paulo Pereira Lima Diretor da Revista Viração – MTB 27.300 CONHEÇA OS 21 VIRAJOVENS EM CAPITAIS BRASILEIRAS • Belém (PA) – pa@revistaviracao.org.br • Belo Horizonte (MG) – mg@revistaviracao.org.br • Brasília (DF) – df@revistaviracao.org.br • Campo Grande (MS) – ms@revistaviracao.org.br • Cuiabá (MT) – mt@revistaviracao.org.br • Curitiba (PR) – pr@revistaviracao.org.br • Florianópolis (SC) – sc@revistaviracao.org.br • Fortaleza (CE) – ce@revistaviracao.org.br • Goiânia (GO) – go@revistaviracao.org.br • João Pessoa (PB) – pb@revistaviracao.org.br • Maceió (AL) – al@revistaviracao.org.br • Manaus (AM) – am@revistaviracao.org.br • Natal (RN) – rn@revistaviracao.org.br • Porto Alegre (RS) – rs@revistaviracao.org.br • Recife (PE) – pe@revistaviracao.org.br • Rio de Janeiro (RJ) – rj@revistaviracao.org.br • Salvador (BA) – ba@revistaviracao.org.br • São Luís (MA) – ma@revistaviracao.org.br • São Paulo (SP) – sp@revistaviracao.org.br • Teresina (PI) – pi@revistaviracao.org.br • Vitória (ES) – es@revistaviracao.org.br
Apoio Institucional
MAPA da
QUE FIGURA Cartão virtual no portal da Vira: www.revistaviracao.org.br MANUEL BANDEIRA Conselho Editorial Eugênio Bucci, Ismar de Oliveira, Izabel Leão, Immaculada Lopez, João Pedro Baresi, Mara Luquet e Valdênia Paulino
Diretor Paulo Pereira Lima paulo@revistaviracao.org.br
RG
Equipe Pedagógica Aparecida Jurado, Cássia Vasconcelos, Isabel Santos, Juliana Rocha Barroso, Maria Lúcia da Silva, Nayara Teixeira, Roberto Arruda, Robson Oliveira e Vera Lion
Equipe Adriano Sanches, Bianca Pyl, Carol Lemos, Cristina Uchoa, Gisella Hiche, Rafael Stemberg, Rassani Costa, Sálua Oliveira, Vitor Massao e Vivian Ragazzi Administração/ Assinaturas Thays Alexandrina Marketing Maria Fernanda dos Santos Midiadores da Vira Acássia Deliê (Maceió – AL), Alex Pamplona (Belém – PA), Daniel Gonzo (Recife – PE), Gardene Leão de Castro (Goiânia – GO), Graciema Maria (Natal – RN), Ionara Talita da Silva (Brasília – DF), Ivanise Andrade (Campo Grande – MS), João Paulo Pontes e Bruno Peres (Porto Alegre – RS), Lizely Borges (Curitiba – PR), Marcelo Monteiro de Oliveira, Maxlander Dias Gonçalves, Patrícia Galleto, Thiago Martins e Vitor Bourguignon Vogas (Vitória – ES), Niedja Ribeiro (João Pessoa – PB), Pablo Márcio Abranches Derça (Belo Horizonte – MG), Raimunda Ferraz (São Luiz – MA), Renata Souza (Rio de Janeiro – RJ), Renata Gauche e Clarissa Diógenes (Fortaleza – CE), Scheilla Gumes (Salvador – BA) e Erick Silva e Ubirajara Barbosa (São Paulo – SP) Colaboradores Lentini, Márcio Baraldi, Natália Forcat, Novaes, Paloma Klysis e Sérgio Rizzo Consultor de Marketing Thomas Steward Projeto Gráfico IDENTITÀ Adriana Toledo Bergamaschi Marta Mendonça de Almeida Fotolito Digital SANT’ANA Birô Impressão Editora Referência Jornalista Responsável Paulo Pereira Lima – MTB 27.300
mina
• ATORES SOCIAIS 8 Juventude do semi-árido participa de encontro promovido pelo Unicef para conhecer ferramentas de atuação social
Maíra Soares
• FÓRUM PARANAGUÁ 12 Adolescentes discutem a realidade das suas comunidades e elaboram propostas de mudanças em Paranaguá, no estado do Paraná • CHAME SE PRECISAR 14 Conheça o Centro Humanitário de Apoio à Mulher (CHAME), pioneiro no trabalho de prevenção à exploração da mão-de-obra feminina em outros países • MINAS NO COMANDO 18 Saiba mais sobre o cenário musical feminino, que contempla variados estilos: rock, samba, rap, hardcore, clássico, pop e punk
Sapato no chão, violão no chão. Meninas e mulheres tomam conta da cultura musical
• ANTENAS LIGADAS 22 Com a atenção voltada para qualquer manifestação que possa virar música, Jorge du Peixe, vocalista do Nação Zumbi, conversa com jovens do Embu das Artes • PARA COMBATER E • MULTIPLICAR 25 Jovens paranaenses se encontram para multiplicar o conhecimento sobre HIV/aids e combater o preconceito
• ECA • MAIS IGUAL • NO ESCURINHO
Divulgação Equipe Viração
• QUE FIGURA!
E-mail Redação e Assinatura redacao@revistaviracao.com.br assinatura@revistaviracao.com.br
• SEXO E SAÚDE
4
• VIRARTE Divulgação
Preço da assinatura anual Assinatura Nova R$ 48,00 Renovação R$ 40,00 De colaboração R$ 60,00 Exterior Revista ViRAÇÃO · AnoUS$ 5 · n50,00 º 41
6 13 17
• MANDA VÊ
• PARADA SOCIAL • RAP DEZ
29 30 31 32 34 35
VIRANDO PELAS ESCOLAS Carlos Brito, de Fortaleza (CE)
“A
EMEIF Adroaldo Teixeira Castelo localiza-se na periferia da cidade de Fortaleza – CE, local em que se tem uma quantidade muito grande de crianças e adolescentes negros. Dessa forma, solicitamos a gentileza de nos enviar a revista Viração para nossa escola sem anuidade, já que somos uma escola pública e dispomos de poucos recursos financeiros.
Hélio Martins, de Trindade (GO)
“S
omos do Instituto Sócio-Educativo Juvenil e trabalhamos com jovens na Cidade de Trindade (GO). Temos cinco anos de caminhada e muito temos feito pelos direitos da juventude em nossa cidade. Agora conseguimos um espaço pra montar a nossa sede, onde estamos executando alguns projetos de qualificação profissional, de lazer e cidadania, informática e cidadania. Gostaria de saber se é possível um envio de revistas de edições passadas para a nossa biblioteca comunitária. Aproveitamos para parabenizar a revista.
Renata Cristina Arruda, Ibitinga (SP)
“P
razer, meu nome é Renata Arruda, conheci o site de vocês através da indicação do meu filho Lucas, de 14 anos.Usando as palavras dele: “Mãe é muito legal, irado”. Também gostei de todas informações e da qualidade dos textos. Que bom encontrar sempre algo de instrutivo e antenado.
OPS!
Na página 17, Erramo s da edição 40, o quadro “As nóias premiadas” saiu sem o crédito da nossa Virajovem Talita Christine, de Fortaleza (CE)
A Vira entra no debate de gêneros e levanta a bandeira da igualdade, que deve estar também na forma de escrever. Por isso, todas as palavras que tiverem variação de feminino e masculino iremos incluir os dois gêneros, e não somente o masculino. Por exemplo: a/o jovem, o/a professor/a e assim por diante, de forma que contemplaremos a todas e todos!
Mande seus comentários sobre a Vira Vira, dizendo o que achou de nossas reportagens e seções. Suas sugestões são bem-vindas! Escreva para nosso endereço: Rua Augusta, 1239 – Conj. 11 Consolação – 01305-100 – São Paulo (SP) Tel: (11) 3237-4091 / 3567-8687 / 9946-6188 ou para o e-mail: redacao@revistaviracao.org.br Aguardamos suanº 41 colaboração! · Ano 5 · Revista ViRAÇÃO
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As Conferências Estaduais estão rolando pelo Brasil todo e a Vira promoveu a Agência ViraJovem de Notícias em muitas delas. Entre discussões, apresentações culturais e falta de organização do evento, a galera falou sobre os temas mais importantes para construir uma política pública específica para a juventude. Agora é aguardar a Conferência Nacional, que rola entre os dias 27 e 30 de abril, em Brasília. E ficar de olho nas propostas aprovadas.
Falta de organização no Maranhão CLÉCIO CLÉCIO,, 26 anos – São Luís (MA) “Não, ainda estamos aguardando chegar à refeição porque estão servindo primeiro os municípios. Os da capital vão ser servidos por último. Até agora, às três da tarde, ainda nada de almoço. Foi previsto para começar o credenciamento às oito e só foi começar depois do meio dia. Estou estressado com a organização que não esta tendo cuidado em manter a juventude em local só, para ter um debate.” TALITA MARTINS MARTINS,, 20 anos –São Luís (MA)
Qual a sua bandeira? KAMILLA DA CONCEIÇÃO Guaratinga (MT)
“Estamos aqui tentando comer, mas acabou a comida, a galera está esperando. A desorganização é tanta que a gente nem sabe quem que é delegado, quem não é. Eu era delegada e me colocaram como suplente, alegando que eu não tinha muitas presenças. Não querem me apresentar as listas de presença e eu assinei todas.”
“Eu espero que as propostas escolhidas sejam aceitas e efetuadas com rapidez, para termos um êxito como juventude, porque o nosso propósito aqui, além de representação, é buscar a realização”.
LIGIANE FAREZIN Juina (MT) ALINE SCHORRO Terra Nova do Norte (MT) “Espero que nós possamos ser ouvidos e ouvirmos propostas que nos beneficiem, e que com isso possamos adquirir mais respeito e cidadania”.
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Revista ViRAÇÃO · Ano 5 · nº 41
“Minha expectativa é a melhor possível. Esse é um momento oportuno para que a juventude levante sua bandeira”.
RENATO MELO Sorriso (MT)
FIQUE POR DENTRO
“Espero que o encontro seja muito aproveitável, principalmente que os objetivos e as opiniões sejam respeitadas e colocadas em funcionamento. Outra coisa muito legal, é que a diversificação cultural entre os jovens é muito grande. Paz e amor galera!”
A Conferência Nacional de Políticas Públicas de Juventude é um espaço de diálogo entre o poder público e a sociedade sobre os desafios da juventude e quais alternativas devem ser tomadas para resolvê-los. Por que esse assunto é importante?* JAMILSON - Teresina (PI) Diante dos desafios vividos atualmente pela juventude “A Conferência é uma forma da juventude brasileira, a sociedade pode se organizar e defender politicamente o que reagir de pelo menos duas ela deseja e sonha. As atividades pareciam formas: de um lado, pode mais um palanque político para defender sentir-se responsável pelo ideologias partidárias, e as câmeras temátique acontece aos jovens; cas que são porta aberta para a discussão de políticas públicas, só aconteceram de tarde. no outro extremo, Hoje a juventude em nível de Estado saiu pode responsabilizar prejudicada com esta conferência, por que não inteiramente a juventude. houve uma participação maciça da defesa de seus Quem atribui aos jovens a culpa interesses, mas sim uma fomentação de pessoas para pelas suas próprias mazelas eleger delegados para ida a Conferência Nacional.” defende que o problema é que a juventude é acomodada e passiva. Pensa que as chances para melhorar de vida estão aí para todos e só não as aproveita NACIETE SOUZA SOUZA,, quem não quer. Pensa diferente 26 anos – Cariacica (ES) quem vê na atual condição juvenil uma situação grave de violação de “Eu defendo o Fórum direitos: a questão não está na falta Capixaba de Pré-Vestibulares de interesse dos jovens. O que falta são Populares (FOCAPP)”, oportunidades para que eles desenvolvam seu potencial. É a partir desse enfoque que devemos construir as políticas públicas de juventude. O Estado tem o papel de conduzir um projeto de desenvolvimento nacional verdadeiramente democrático. Cabe aos governos, portanto, implementar políticas públicas efetivas, capazes de oferecer perspectivas de futuro e propiciar a cidadania plena aos milhões de jovens brasileiros. Em todos os casos, as políticas de juventude • Confira todo o devem ser frutos de um pacto entre as gerações, que se conteú do produzido comprometem a interromper o ciclo gerador de pobreza pela galera pelo Brasil a fora que historicamente o Brasil insistiu em reproduzir. www.revistaviracao.org.br/ Neste amplo acordo que deve ser firmado pelos brasileijuventude ros e brasileiras de todas as idades, o desafio é garantir a participação da sociedade civil, em particular dos próprios jovens, na solução das demandas juvenis. Mas sem minimizar o papel do poder público.
TÁ na MÃO
*Texto do Documento de Base, da Secretaria Nacional de Juventude nº 41 · Ano 5 · Revista ViRAÇÃO
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Fotos : Vito r Mas sao
Encontro promovido pelo Unicef reúne mais de 80 jovens representantes para conhecerem ferramentas participativas de atuação social
De olho na MARIA CLÁUDIA GONÇALVES MORAES e RAIMUNDA FERRAZ, do Virajovem São Luís (MA)* IMMACULADA PIETRO e DÉBORA FERREIRA, de São Luís (MA)**
participação O
s direitos das crianças e adolescentes do semi-árido maranhense ganharam novos aliados nos dias 15 e 16 de fevereiro. Mais de 80 jovens e comunicadores, vindos de 35 municípios participaram em São Luís de um encontro de capacitação, promovido pelo Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef), do Selo Unicef Município Aprovado Edição 2008. “Foi emocionante perceber a criatividade e o entusiasmo do grupo. Tantos os jovens, como os comunicadores têm um grande potencial de multiplicação em seus municípios. E certamente a mobilização ganha novo impulso”, destaca Eliana Almeida, coordenadora do Unicef no Maranhão. VOZ DOS JOVENS
Legenda
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Revista ViRAÇÃO · Ano 5 · nº 41
O encontro, realizado com o apoio do GACC-MA, fez parte da capacitação do eixo de Participação Social do Selo Unicef. Para começar, entrou em cena o protagonismo e a organização dos jovens e adolescentes, com o relato de dois grupos de jovens de São Luis. O Comitê da Cidadania contou o processo de reivindicação da primeira escola de ensino médio no bairro da Cidade Olímpica, que somente agora contará com uma escola desse porte, graças ao empenho de lideranças comunitárias e dos jovens protagonistas. “Participar é cobrar das autoridades, fazermos também nossos próprios projetos. É também tirar o título de eleitor. Votar é contribuir com o município”, Francivaldo da Costa Cruz, 17 anos, integrante da Juventude Construtora do Reino (Jucore), município de
Timon (MA). Entre outros projetos, estão batalhando por uma biblioteca comunitária e um cursinho pré-vestibular. Em seguida, a Rede Sou de Atitude falou da experiência de elaboração e negociação de emenda orçamentária para assegurar o direito à educação das crianças com deficiências. À tarde, o assunto foi orçamento público. Além de começar a decifrar o orçamento, os jovens puderam exercitar uma das atividades propostas pelo Selo Unicef deste ano. “Somos as próximas gerações de gestores dos nossos municípios. Precisamos participar mais”, pontuou Washington Alves de França, 16 anos, completando o Ensino Médio, participa Legenda do Grupo Juventude em Ação, no município de Timbiras (MA). Muitos dos jovens presentes naquele encontro relataram que em seu município não existem iniciatiFormação, despertou o grupo para vas na área do controle social, mas várias possibilidades de exibição e que a partir daquele momento, eles criação. Ficou provado que basta ter seriam multiplicadores, para ver seu uma máquina digital, um pouco de município se desenvolver. massinha e criatividade para produzir em equipe uma inesperada COMUNICAÇÃO PARTICIPATIVA animação. Para completar, a Revista Viração desenvolveu a Oficina de O segundo dia ficou por conta da Jornal-Mural. Desta vez, o grupo Comunicação em suas diferente debateu e experimentou as criativas linguagens. Misturados jovens e possibilidades de suporte, materiais comunicadores se dividiram em três oficinas. Na Oficina de Rádio, realizada em parceria com a Matraca – Agência de Notícias da Infância, o grupo discutiu como o radialista pode introduzir a temática dos direitos da infância no seu dia-a-dia, com a participação dos meninos e meninas. “Falar em rádio é ampliar o entendimento. A essência é usar a comunicação para garantir a voz da comunidade. Cada um pode criar novas possibilidades com os recursos que tem: uma bikesom pode virar uma rádio-ambulante.” Marcelo Amorim, jornalista, Agência Matraca, que deu a oficina de rádio. A Oficina de Cinema, em parceria com a ONG
e conteúdo para um veículo de comunicação barato participativo e com identidade local.
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*Integrantes de um dos 20 Conselhos Editoriais Jovens da Vira espalhados pelo País (ma@revistaviracao.org.br) **Immaculada Lopez e Déborah Ferreira são representantes do Unicef no Maranhão
Legenda nº 41 · Ano 5 · Revista ViRAÇÃO
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Fotógrafo ou poeta?
D Outro ângulo da Cohab
VIVIAN RAGAZZI, da Redação
esde pequeno, o paulista Felipe Valentim Bonifácio, de 22 anos, morador da Cohab Raposo Tavares, adora tirar fotos. Como não gostava de sair nos retratos de família, o estudante de Comunicação Digital sempre se oferecia para os cliques. Nem sempre deixavam, mas o interesse do garoto só aumentava. Uma das primeiras fotos que lhe chamou muito a atenção foi na casa de um amigo. “Emoldurada, o que é coisa rara de ver acontecer com foto, tinha um formato grande e era em preto e branco. A expressão do rosto era marcante, o olhar do sujeito fotografado chamava atenção, Luzes acesas na a composição em geral era muito avenida que não dorme bonita”, detalha. Surgia o amor à primeira vista por Sebastião Salgado, fotógrafo brasileiro conhecido internacionalmente. A compra de uma máquina digital fez com que o interesse por fotografia deslanchasse. Felipe compara a arte da fotografia à poesia. “Assim como o poeta, que enxerga momentos imóveis e os transforma em versos, com o fotógrafo pode acontecer a mesma coisa. Ele tenta firmar esses momentos imóveis, tenta sensibilizá-los, expressar talvez.” Por trás de suas lentes, Felipe começou a observar mais a vida, e se apaixonou por ela e mais ainda pela fotografia. “Amo meu povo, amo a vida”, finaliza. Nessa galeria, Felipe mostra seu olhar sobre diversas realidades de São Paulo, com toda sua beleza, caos e disparidades. *Integrante de um dos 21 Conselhos Editoriais Jovens da Vira espalhados pelo País
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Revista ViRAÇÃO · Ano 5 · nº 41
IMAGENS que viram
O Ceagesp, antigo armazém da cidade
O mesmo Ceagesp do lado de fora Catedral da Sé vista em preto e branco
Pôr-do-sol na Paulicéia Desvairada
Martinelli e sua imponência nº 41 · Ano 5 · Revista ViRAÇÃO
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CAROLINA GARBADO, EDNUBIA GHISI e LIZELY BORGES, do Virajovem Curitiba (PR)*
Adolescentes discutem a realidade de suas comunidades e elaboram propostas de mudanças no 2o Fórum de Jovens, realizado em Paranaguá, no Estado do Paraná
A
s/os jovens de Paranaguá se reuniram cedo no auditório do Colégio Estadual José Bonifácio para dar um colorido ao espaço. Ali, naquela sala decorada com a cara da rapaziada, jovens do município e de outras cidades do Paraná se encontrariam para um grande momento de reflexão sobre sonhos da juventude. A agitação era grande. E a ansiedade também. O ônibus que levaria o pequeno Ben-hur de Freitas Martins, de 10 anos, até Paranaguá saiu de Curitiba com atraso. Alguns minutos de espera, mas que pouco importaram – quem estava para chegar tinha muito a falar. Ben-hur é um jovem que participa das atividades do projeto Olho Vivo. No ônibus, ele se juntou aos meninos da Chácara de 4 Pinheiros, de Mandirituba; aos integrantes da Associação da Juventude de Araucária; aos adolescentes participantes do projeto Luz, Câmera... Paz! na Escola; aos jovens do Instituto Salesiano de Assistência Social (Isas) e também aos participantes do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) – um representante de Almirante Tamandaré e outro de Colombo, todos municípios no Paraná. Eram jovens de diferentes realidades, que estavam a caminho do 2o Fórum de Jovens – Como eu, jovem, posso realizar meu sonho na minha comunidade.
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Revista ViRAÇÃO · Ano 5 · nº 41
Fotos: Guylherme Custódio
Luciano Sarote
Em busca
de soluções Caneta e papel na mão, sentados em círculo, o misto de idéias e opiniões construiu propostas de práticas para provocar mudanças positivas para cada um dos assuntos.
RESPEITO AO PRÓXIMO
Além das/os participantes de Curitiba, estavam presentes estudantes de Jornalismo e alunas/os de escolas do município. Todas/os elas/eles convidadas/os pelas/os adolescentes participantes do projeto Navegando nos Direitos, realizado pela Central de Notícias dos Direitos da Infância e da Adolescência (Ciranda). As apresentações artísticas e culturais (como peças de teatro e hip hop) animaram a galera. Com as experiências da realidade de suas comunidades, as/os participantes trocaram idéias sobre educação, cultura, políticas públicas, comunidade, violência e profissão.
O debate sobre violência gerou uma lista de exemplos: preconceito, agressão física e psicológica, discriminação de classe e raça e o desrespeito à natureza. Entre os muitos casos de violência que surgiram na roda – de vizinhos, parentes, que já passaram por situações de agressão, a violência sexual contra crianças e adolescentes foi uma das mais lembradas pelas/os jovens. As propostas de mobilização foram desde abaixoassinados até ciclos de debates e palestras nas escolas. A idéia é conscientizar a comunidade à “respeitar ao próximo e a si mesmo”. A participação ativa da juventude entrou como ponto principal entre as iniciativas de melhorar a Educação. Entre as medidas a serem tomadas estão “fazer a/o jovem se interessar mais pela política, para que tenha noções dos seus direitos e deveres”. E como provocar esse interesse? “É necessário investir em políticas de base dentro do movimento estudantil, por exemplo, com a criação de grêmios dentro das escolas”, disseram elas e eles.
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*Integrantes de um dos 21 Conselhos Editoriais Jovens da Vira espalhados pelo País (pr@revistaviracao.org.br)
Direitos e desejos
DE OLHO NO
ECA
sul-americanos PALOMA KLISYS*
E
Lentini
m fevereiro de 2008, foi lançada a pesquisa Juventude e Integração Sul-Americana, realizada em parceria entre o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), o Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais (Instituto Pólis) e com apoio do International Development Research Center (IDC), do Canadá. A pesquisa traça um panorama da realidade de jovens
latino-americanos de 15 a 29 anos e aponta temas levantados pelos próprios jovens para a construção de uma agenda comum no continente. Foram ouvidos jovens de seis países: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai. As seis principais demandas destacadas foram: Educação, Trabalho, Transporte, Cultura, Segurança e Ecologia. Em pauta, velhas questões que se tornaram mais complexas conforme os avanços e retrocessos dos governos e da participação da população dos países em foco. Educação não deixou de ocupar o primeiro lugar na lista das prioridades insatisfeitas, pois este tema interfere nos modos como se desenvolvem todas as outras demandas. Os jovens chamam a atenção para a urgência há muito ignorada de educação pública, gratuita e de qualidade, universalização do acesso, aproximação entre educação e qualificação profissional e continuidade da formação. Dentre as explicações para o abandono escolar estão a dificuldade de transporte, migração, gravidez e dificuldade de conciliar o período de trabalho com o período de aulas. Quando o assunto é trabalho, a galera está interessada em saber como promover mudanças relacionadas à remuneração, estabilidade, níveis de informalidade, investimento em políticas de ampliação de
sa Sou Ivo
Saiba sobre seus direitos e deveres, garantidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente oportunidades, controle rígido das condições de trabalho. O transporte é uma preocupação dos jovens trabalhadores rurais que, para atingir um nível mais elevado de escolaridade, se vêem obrigados a sucumbir ao “sonho” das grandes cidades. A valorização da diversidade juvenil é apontada como uma das soluções para os problemas de violência e segurança. O relatório final propõe que seja definida uma agenda de reforma, aperfeiçoamento técnico e gerencial e democratização/humanização das instituições policiais, judiciais e penitenciárias em cada um dos países da América do Sul. Existe o desejo de que seja possível o intercâmbio entre os jovens sul-americanos. Você que já está ligado(a) no Estatuto da Criança e do Adolescente, já parou pra imaginar como poderia ser divertido e interessante conhecer mais sobre a cultura, os direitos e as condições de vida de jovens que moram nos países do nosso continente?
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*Paloma Klisys é escritora, autora de Drogas: Qual é o barato e Do avesso ao direito paloklis@hotmail.com nnºº41 41 ·· Ano Ano 5 · Revista ViRAÇÃO
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Migrar é um
Direito
KAREN KRSNA, CRISTIANE CONCEIÇÃO e LUANA DANDARA, do Virajovem Salvador (BA)*
N
uma rápida e usual pesquisa de notícias na internet sobre tráfico de pessoas encontramos estas manchetes: “PF prende 18 pessoas por tráfico internacional no Paraná e em Bauru”; “Tráfico de pessoas: ACIME defende maior penalização criminal”; “PF deflagra mega operação e prende sete pessoas”; “Governo cria plano para enfrentar tráfico de pessoas”; “Barreiro: suspeitos de tráfico detidos”; “Presos 18 suspeitos de tráfico de drogas no Paraná e em SP”; “Após prisões de aliciadores em MS, PF deflagra Operação Mula”. Se a pesquisa pára aqui, fica a impressão de que o tema só é caso de polícia. Essa visão é a mais encontrada na mídia. Divulga-se o sucesso ou fracasso da ação policial na prisão dos culpados, se houve alguma morte e dá-se destaque às vítimas principalmente quando são mulheres, negras ou mestiças em busca de melhorar a vida fora do país, mas acabam caindo nas malhas do tráfico e da prostituição. Coisa de novela. Abordagens como essas são sensacionalistas, pois falam do tráfico apenas como mais uma mazela social que recai sobre a comunidade negra do nosso país, apostando na repressão para resolver o problema. “É inegável que as mulheres negras e mestiças são as mais vulneráveis”, afirma Maria Jaqueline de Souza Leite, coordenadora do Centro Humanitário de Apoio à Mulher (CHAME), em Salvador, Bahia. “Isso acontece porque são essas pessoas que precisam ir atrás de alternativas de sustento próprio. Vão e muitas vezes mandam todo o dinheiro que ganham para suas famílias.” PRODUTO SEXUAL
Com a proposta de reconhecer e garantir o direito à informação e à escolha, o Centro Humanitário de Apoio à Mulher (CHAME) é pioneiro no trabalho de prevenção à exploração da mão-de-obra feminina em outros países 14
Revista ViRAÇÃO · Ano 55 ·· nnºº41 41
É preciso ter cuidado para não reforçar a imagem de um Brasil do prazer e da diversão que só tem mulheres negras e mestiças a oferecer, como um “produto sexual”. É preciso esclarecer que a condição social dessas pessoas agrava sua vulnerabilidade ao tráfico. Um amplo atendimento jurídico, psicológico, social, de trabalho, de habitação são necessidades que o poder público tem o dever de garantir às pessoas.
A ESCOLA COMO UM DESAFIO
Salva
dor
Prevenção para o CHAME significa ter informação e assim ter garantido o direito de escolha de cada um sobre o caminho que deve trilhar. Para migrar, é necessário ter informação, autonomia, falar a língua estrangeira, ter recursos que torne VOCÊ não-vulnerável.
vem
Por que o trabalho com as escolas é importante? – A escola é importante porque a partir do educador a informação pode chegar a muitos jovens e estes podem divulgar para suas famílias. O público mais vulnerável é alcançado, formando redes, que disseminam informações sem o CHAME precisar sempre estar de corpo presente. O que nós gostaríamos é isso: que os jovens passassem para os jovens. Seria o ideal. Tivemos muitos problemas com a aproximação com as escolas, pela falta de compromisso de muitos professores. Para as turmas, num primeiro momento, o tema só interessa porque fala sobre sexo e a idéia de “palestra” para eles é chata e sem graça. Conquistamos a simpatia de alguns professores que ajudavam nosso contato com os estudantes.
V
Quais as conquistas da luta pelo enfrentamento ao tráfico de pessoas? – O fato de ter um Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, poucos países têm e significa que o governo reconhece hoje que a questão deve ser motivo de discussão, preocupação e busca de soluções. Termos conquistado uma Superintendência de Mulheres ligada à Secretaria Estadual de Promoção da Igualdade é um importante fruto da luta de todos os movimentos feministas e de mulheres do nosso Estado. O fato de vocês estarem aqui, querendo uma reportagem para uma revista que circula no Brasil todo e é de mobilização de jovens e adolescentes indica um avanço enorme para nossa luta. Tornar o assunto pauta é nossa maior conquista e que o assunto venha de uma forma verdadeira e não sensacionalista.
Virajo
Como o CHAME trabalha na prevenção ao tráfico de pessoas? – Hoje em dia a gente percebe: temos que falar mais das formas de viver fora do país e menos do turismo sexual, que é mais comum. Na verdade, já é muito conhecido. Mostramos como é viver irregularmente em outro país, os riscos de trabalhar sem visto, de ser deportada, de cair nas “malhas do sistema dos traficantes” e as possibilidades de viajar legalmente e ter boas experiências. Atuamos em três eixos: prevenção, através de palestras em escolas, comunidades, para grupos de jovens a partir de 15 anos e de mulheres, além da formação de jovens multiplicadores; articulação com diversas organizações que possam levar a seus públicos a informação mais correta; e a pesquisa, quando nos perguntamos – o trabalho que fazemos é pertinente? De que formas o tráfico acontece?
Virajovem Salvador
eja o que rolou no bate-papo com Maria Jaqueline de Souza Leite, coordenadora do Centro Humanitário de Apoio à Mulher (CHAME)
Qual o conteúdo da formação de jovens multiplicadores? – Mostramos como funciona o tráfico, o turismo sexual, a migração – quando é legal/ilegal, regular/irregular. Esse conteúdo é básico. Para ser multiplicador, ir até as escolas informar sobre o tema, também trabalhamos os temas: direitos humanos, direitos da mulher, etnia, gênero – como é ser mulher hoje em dia, como somos tratadas, onde está a nossa autoestima, precisamos continuar submissas a um homem para ter sucesso na vida? Além disso, cada dupla de jovens é desafiada a planejar como eles apresentariam esse conteúdo numa palestra, em escolas.
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trancadas em quartos, sem comida, roupas e sem contato com conhecidos. É muito difícil registrar dados e testemunhos do tráfico porque as pessoas e seus familiares geralmente são ameaçados de morte. Quando conseguem retornar para o Brasil, ficam escondidos por tempo indeterminado. As mulheres, principalmente, não procuram o CHAME, elas rompem com qualquer coisa que lembre o que aconteceu, o que elas viveram e que seja um indício para a família do que passaram. Há muita vergonha envolvida na volta ao local de origem. Por isso, a prevenção através da disseminação de informações de diferentes formas e meios é um marco para o CHAME. “O trabalho do CHAME sempre foi pautado em cima da prevenção, para alertar sobre riscos e possibilidades de se viver em outro país. Não queremos coibir a viagem, pois as pessoas têm o direito de escolher se querem morar fora do país”, afirma Jaqueline.
Virajovem Salvador
O tráfico de seres humanos acontece quando uma pessoa é enganada, coagida e impedida do seu direito de ir e vir.. Só é caracterizado quando se chega lá, em outro país e por isso existem instituições que fazem o atendimento lá, pois cada país tem formas legais diferentes de caracterizar o tráfico. Além disso, o tráfico é de pessoas e não apenas de mulheres.. O resultado da migração pode ser a prostituição bem como o trabalho doméstico, rural, casamento e muitos outros... Hoje, é comum que adolescentes sejam levados pelos seus familiares para morar com parentes, vizinhos e conhecidos próximos que conseguiram alguma estabilidade no exterior, com a intenção de estudar e trabalhar. São chamadas “redes familiares”, identificadas em diversos países, pela Aliança Global Contra o Tráfico de Mulheres. Com tempo, pode acontecer dos parentes os explorarem em trabalhos domésticos, por exemplo. Os meninos e meninas ficam com
vergonha de contar aos pais o que está acontecendo e se calam por tempos indeterminados. A exploração do trabalho se desdobra de várias maneiras: trabalho rural em grandes propriedades, em cabarés e casas noturnas, trabalho infantil em fábricas. Além de mulheres, homens e crianças, têm-se registros do tráfico de idosos, travestis e homossexuais. O ciclo vai se repetindo: os traficantes oferecem a passagem de ida e um emprego garantido; a passagem deve ser paga com o dinheiro ganho pelo trabalho. Nunca se está satisfeito com o pagamento, mais trabalho é exigido (muitas vezes a prostituição é imposta) e as pessoas são
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*O Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (PNETP) foi publicado através do decreto nO 6.347, no dia 09 de janeiro de 2008. Tem como objetivo prevenir e reprimir o tráfico de pessoas tanto para exploração sexual quanto para o trabalho escravo. Entre as metas está a criação de centros públicos de intermediação de mão-de-obra rural, estudos para identificar a dimensão e a natureza das várias formas de tráfico de pessoas, capacitação de técnicos envolvidos no enfrentamento ao tráfico, a estruturação de um sistema nacional de atendimento às vítimas e outros. Acompanhe a execução do Plano, prevista para os próximos 2 anos! *Em 2000 foi divulgado o Protocolo de Palermo (ONU), que traz como marco a definição do termo “tráfico” relacionado a três elementos: droga, armas e seres humanos. Isto indica que o tráfico deve ser combatido, com repressão aos traficantes, e incentivo às pessoas a denunciarem. Uma abordagem a partir dos direitos humanos se empenha em conquistar políticas para a melhoria da condição de vida das pessoas, como forma de prevenção. *Integrantes de um dos 21 Conselhos Jovens da Vira espalhados pelo País (ba@revistaviracao.org.br)
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TÁ na MÃO • CHAME: www.chame.org.br • Global Alliance Against Traffic in Women (GAATW) / Aliança Global Contra o Tráfico de Mulheres: http://www.gaatw.net
ADRIANO SANCHES, da Redação
Esta seção tem o patrocínio do Unicef
Em nome da
M
Jovens indígenas defendem o direito do nome e sobrenome segundo suas culturas
Lei
aria, Pedro, Rafael. Já pensou se esses nomes, tão comuns para a maioria das pessoas, não fossem aceitos ou respeitados pela nossa lei? Ou pior ainda, já pensou se o seu nome tivesse que ser registrado em uma língua diferente da sua, de outra cultura? Pois é isso que vem acontecendo há décadas com diversos grupos indígenas, e o pior: dentro das próprias regiões onde moram. Apesar de terem sua identidade cultural protegida pela Constituição Federal e o direito de conservar seus nomes originais assegurado pela Lei no 6.001/73 no artigo 12 (ver quadro), o que acontece em geral é que a arbitrariedade de cartórios e juízes impera, fazendo com que não se mantenham os nomes indígenas, sob os mais diversos argumentos. Em alguns casos, os oficiais de cartórios vinham rejeitando registros de nomes que têm em sua grafia as letras y, k e w que, oficialmente, não fazem parte do português do Brasil. “O que a Lei do Registro Público diz é que o nome não pode causar constrangimento ou incorrer em erro de grafia, o que não está configurado nesses casos”, ressalta o promotor de Justiça José Ferreira de Souza Filho, coordenador do Centro de Apoio Operacional às Promotorias Cíveis e Fundações da Bahia. Contra todas essas barreiras, existe uma galera que está tentando mudar a situação. Grupos indígenas em diversos Estados estão se mobilizando para garantir que seus direitos sejam cumpridos e que todos tenham consciência deles. “A gente não deve renegar nossa origem e cultura. Em um mundo globalizado, só assim manteremos nossa identidade”, afirma Lucélia de Oliveira Pena, 21anos, e que apesar de não ter o nome indígena registrado, tem orgulho de pertencer à etnia Tukano. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o movimento ainda não se caracteriza como uma luta nacional, pois em algumas regiões do país essa questão ainda não é levantada. Já em Estados como Manaus e Maranhão essa bandeira já é assunto desde 2007. “Temos que exigir nosso direito. Se a gente parar de falar, perdemos nossas crenças”, afirma Raiany Gomes, cujo primeiro nome significa gota d´água, na língua Nheengatú. “O registro do nome em língua indígena tem que ter a mesma importância de qualquer outro registro brasileiro, para que todos possam valorizar essa diversidade”, acrescenta Soraya Nogueira, 15 anos, ambas de São Gabrielda Cachoeira, na região noroeste do Amazonas.
O que diz a
CONSTITUIÇÃO Art. 231: “São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”.
Adriano Sanches
Integrantes do Consulta Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais
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Ferzita Durango
UBIRAJARA BARBOSA DA FONSECA e ERIC SILVA, do Virajovem São Paulo (SP)* SÁLUA OLIVEIRA, da Redação
Mercenárias, Samba de Rainha, Cacto Rosa, Negras Ativas, Sopra Mulheres, Ilu Oba De Min, Dominatrix. Sabe o que esses nomes têm em comum? São de bandas ou grupos musicais formados só por garotas e mulheres. É! Só por mulheres. E porque não?! E os estilos são os mais variados: rock, samba, rap, hard core clássico, pop, punk. 18
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Ferzita Durango
Banda de Mina
Ferzita Durango
UMA TRADIÇÃO QUE VEIO DO PUNK
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or ser um movimento de contestação e rebeldia e não apenas um estilo musical,o punk é um dos movimentos com uma longa história de banda de meninas. Aliado as idéias libertadoras do feminismo, surge na cidade estadunidense de Olympia, no estado de Washington, em meados dos anos 90 o Riot Grrrl. Riot significa manifestação pública, tumulto, levante e Grrrl é um trocadilho de garota em inglês (girl), e um grunhido raivoso, GRRRR! Raivosas e indignadas as Riot Grrrls queriam fazer música para informar as mulheres sobre seus direitos e incentivá-las a reivindicá-los, além de quebrar um dos grandes dogmas do rock: mulheres não sabem tocar baixo, bateria e guitarra tão bem quanto homens. Ignorância que cai por terra quando se ouve algumas das bandas como a pioneira Bikini Kill, ou outras como L7 ou uma das representantes brasileiras, Dominatrix, que tem a “pegada forte e rápida” característica do punk rock e do Hard Core. Pela forma de tocar e por suas posições e idéias, elas às vezes são rotuladas como agressivas ou até violentas. Elisa Gargiulo, fundadora da banda Dominatrix, primeira e maior expoente do Riot aqui responde aos que pensam assim, “Se um homem é agressivo naquilo que faz isso é considerado positivo, legal, ele é assertivo, agora se uma mulher faz a mesma coisa isso é mal visto porque para a sociedade capitalista é interessante que a mulher continue sendo submissa e não se posicione”. Elisa hoje com 15 de anos de banda comenta ainda como vê o crescimento da cena Riot no Brasil “Hoje existem vários festivais de mulheres espalhados pelo país, tem em Belo Horizonte, Curitiba, Brasília, Goiânia, tem bandas com clip na MTV. Isso é legal porque se uma menina quer tocar guitarra e tem um irmão idiota que diz pra ela que ela não pode fazer isso e vê a gente tocando ela pensa: Tem alguém mentindo para mim. E vai tocar guitarra.”
Camisetas com o símbolo do Ladyfest 2007 em São Paulo, Festival que também acontece no Estados Unidos FESTIVAL SÓ DE MENINAS Em 2000 na mesma Olympia onde surgiu o Riot Grrrl acontece o primeiro LadyFest, festival de bandas exclusivamente femininas. No Brasil ele acontece desde 2004. Antes disso, as brasileiras já participavam com o Dominatrix, desde 2002, e a funkeira Tati Quebra Barraco em 2004. Aquela mesmo. Dos hits Dako é Bom, Boladona e Sou feia, mas tô na moda. Além de muita música, o LadyFest tem oficinas, festas, debates e exposições ligadas à temática feminina. No ano de 2005, o festival passou a ser organizado pelo Portal Quitéria, “o primeiro portal com proposta pop feminista para meninas interessadas em música, arte e cultura”, como definem suas criadoras Elisa Gargiulo e Geisa França. ANTES DE OLYMPIA Em São Paulo, na primeira metade da década de 1980, um grupo de amigas se reunia num porão em São Paulo para tocar e se encontrar. Assim começa o Mercenárias, “No começo era para poder se expressar, para se sentir a vontade, não era uma coisa feminista”, explica Sandra Coutinho, 49 anos, baixista da banda. A banda subiu aos palcos impulsionada por Edgar Scandurra, do Ira. “O Edgar foi o nosso primeiro baterista, ele foi buscar a gente do porão. Começamos abrindo os shows do Ira”, explica Sandra.
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Pya Lima
Mesmo sendo as primeiras, Sandra conta que entre os punks não teve problemas, “Fomos acolhidas com respeito, até porque nós éramos mais radicais que os caras na época”. Clemente, de 44, dos Inocentes, e um dos precursores da cena punk aqui no Brasil, completa “na época o legal era tocar todo mundo junto”, mesmo assim, Sandra diz que teve problemas com técnicos de som que não respeitavam suas opiniões por serem mulheres. Sobre o movimento Riot Grrrl Sandra comenta que “respeito. Acho legal quando as coisas são feitas com qualidade, não só no Garotas do samba de rainha que começaram a tocar de brincadeira em festas discurso, mas uma qualidana cultura brasileira”, é o que Vocês fazem backing vocal – cantode estética também.”, mas, faz explica a Baby Amorim, 45 anos, ras de apoio – Ai a gente respondia: observações, “pra mim algumas uma das organizadoras, “É um Não. Nós somos a banda. E ficava coisas não precisam ser tratadas bloco para mulheres. Tem negra, aquela coisa ´Como assim elas não com arte. A postura é conseqüência japonesa, branca, tudo junto”. Beth fazem backing e tem uma banda?’ de uma coisa mais profunda e às Beli uma das regentes e idealizadoHoje a interação é boa participamos vezes as coisas estão só nas aparênras do bloco explica um pouco mais do Coletivo Hip Hop Chama, que cias. Tem muitas coisas que você “a idéia é aproximar as mulheres e tem feito bastante para a superar o culpa o outro e às vezes você tem recuperar a cultura afro-brasileira”. machismo. Hoje em dia o pessoal que ir buscar seu espaço. Você tem O Ilú sai em cortejo pelas ruas da está mais ligado. Quando alguém faz que lutar pelo ser humano, cidade na sexta- feira de carnaval e uma piada homofóbica por exemplo, não tem que segregar”. atrai mais de três mil pessoas. “Sai alguém chega e fala: Ei! Isso é NEGRAS ATIVAS do Viaduto Major Quedinho, na Bela homofobia.” As Negras Ativas estão Vista e vai até o Paissandu na frente preparando o CD Mulheres de da Igreja da Irmandade dos Homens Atitude para sair este ano. Muito antes do Grupo Antonia Preto”, conta Baby. Um dos diferenSobre como é trabalhar só surgir na TV e no Cinema, o Hip Hop ciais do Ilu Oba Demin é que, ao com mulheres Negrona responde já tinha mulheres para representar contrário do que acontece nos minericimamente “É bom demais! seus quatro elementos – MC, Dj, outros blocos femininos afro, A nossa forma de perceber as coisas break e grafite – e muitas vezes a ele é regido por duas mulheres, é outra. Somos uma família”. participação feminina traz o chamado Beth Beli e Renata Aragão. quinto elemento, a conscientização. MÃOS FEMININAS TOCAM Exemplo disso acontece OUTROS ESPAÇOS TAMBOR PARA O REI XANGÔ em Belo Horizonte, desde 2003, quando membras do Movimento Além do rock e do rap Sábado depois do almoço, Praça Negro Unificado (MNU) reuniram outros estilos são contemplados do Patriarca, centro de São Paulo. mulheres para discutir questões com a participação das mulheres, Dia e local onde cerca de 80 mulhede gênero. Ao perceber que muitas do sinfônico ao pop e ao samba res ritmistas se reúnem com seus delas cantavam rap (MC) surgiu espalhadas pelo país. djembês, agogôs e outros instrua idéia de formar uma banda. Ali Em Nova Hamburgo (RS), mentos de percussão para ensaiar. inicia a banda Negras Ativas. o Cacto Rosa começou quando Ilu Oba De Min: assim é Larissa Borges, a Negrona, de Bibiana Arriaga, voz e vocal, colocou chamado o bloco que reúne essas 26 anos, comenta que mesmo o Hip um anúncio no jornal: procura-se mulheres estudantes, arquitetas, Hop mineiro um dos mais adiantamulheres para montar uma banda. secretárias do lar, donas de casas dos em discussões sobre relações Carole, bateria e vocal, respondeu e e muitas outras ocupações, com de gênero teve todo um caminho até aí começou uma parceria que teve idades entre 15 e 55 anos. reconhecerem a banda, “No começo como frutos varias músicas e o CD “O Ilu surgiu em 2004 com a quando a gente dizia que tinha um O Tempo Necessário. Com influênidéia de homenagear as mulheres grupo de rap eles diziam: ‘Legal!
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PAOLLA tem 16 anos e toca em várias bandas, inclusive com homens. Confira o que ela pensa sobre o cenário musical feminino.
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O que você acha da mídia que só mostra mulheres em bandas no vocal? Por que isso acontece? – Parece o velho preconceito idiota de séculos passados, onde mostra que a mulher é inferior ao sexo masculino, mas as mulheres têm SIM capacidade de fazer tudo aquilo que lhes convém, inclusive tocar em uma banda, não somente sendo vocal. Embora, muitas vezes, as mulheres têm o posto de vocalista nas bandas por terem a voz interessante. Como você acha que a mulher é vista pelos membros da banda? E pelas pessoas de fora, e por que dessas visões? – Quando se tem uma garota que seja boa em uma banda, toda a banda em um conjunto acaba sendo bem vista, fazendo com que as pessoas de fora e da própria banda comentem sobre o assunto. Existem essas visões pelo fato de que cada um sempre gosta de colocar seu ponto de vista e eu acho válido quando é um ponto de vista construtivo.
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cias que vão de Alanis Morissette a Engenheiros do Hawaii, passando por Nirvana e Roberto Carlos. Sobre o trabalho de fazer música só entre mulheres, as integrantes dizem que existe mais cumplicidade e o diálogo flui melhor. De Nova Hamburgo para Tatuí, interior de São Paulo, o toque feminino na música continua só que agora não são mais duas e sim trinta e cinco mulheres que formam a banda Sinfônica Sopra Mulheres, fundada em 2007. A sinfônica é formada por alunas do conservatório da cidade, o maior da América Latina e é gratuito, para quebrar uma regra que abrange tanto o popular quanto erudito, a minoria feminina nos grupos, “Como as bandas sinfônicas vem de uma forte tradição de regimentos militares, a grande maioria dos integrantes é homem” explica Cibele Sabioni Sotelo, de 32 anos, maestrina da banda, profissão do meio musical onde a participação feminina é pouquíssima. “Em São Paulo existem apenas umas três ou quatro maestrinas em atividade quase todas atuam como convidadas”. Sobre o trabalho com tantas mulheres, Cibele compartilha de uma opinião parecida com a das meninas do Cactos Rosa “nossa relação é ótima, temos uma comunicação muito clara”. Destoando um pouco dessa posição, as mulheres do Samba de Rainha apontam uma outra singularidade de trabalhar entre mulheres, “é muito difícil, são 8 TPMs, 8 egos e mais a empresária” brinca Núbia Maciel, de 40 anos, vocalista da banda. O Samba de Rainha começou como uma brincadeira, nenhuma das integrantes sabia tocar, mas as a galera gostou da idéia e tomou consistência, agregaram mais algumas meninas e começaram a tocar em bares. Essas sambistas ainda têm grande diferenciais em seu repertório. Tocam de Satisfaction, clássico dos Rolling Stones, em versão sambada em versão samba, “a gente faz o show de um jeito que parece rock’n’roll, de uma forma jovem. Fazemos um samba mais louco” conta Nubia. Além disso, resgatam as raízes do sambas e compositores antigos, “a galera canta Ari Barroso, Clara Nunes, meninas de 20 anos cantando uma música da época dos pais delas. Tem muito samba de roda e terreiro com a mesma finalidade, mostrar para a galera o que a aquele público não tem acesso.”
Fotos: Kazuo Watanabe
Musicistas do sopro mulheres: a primeira banda sinfônica feminina do Brasil
Por que você acha que as meninas optam em tocar com outras meninas? – Muitas vezes por comodidade e porque ser de uma banda formada por meninas ainda é diferente, ou seja, há um grande diferencial, já que muitas bandas ainda são formadas predominantemente por meninos.
Leia a entrevista completa no portal da Vira Vira: http://revistaviracao.org.br/ artigo.php?id=1563 nº 41 · Ano 5 · Revista ViRAÇÃO
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JOYCE DA CRUZ, DANILO QUINTILIANO, BRUNO SONENTINO e ANDRÉ SAID e DANIELA KARIN, de Embu das Artes (SP)
Divulgação
GALERA REPÓRTER
Informação é a arma Jorge du Peixe: “acesso à
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oi no embalo do show do Nação Zumbi que os jovens do município de Embu das Artes (SP), comemoraram o encerramento da 2a Conferência Municipal de Políticas Públicas de Juventude, que rolou em fevereiro. Entre discussões sobre Trabalho e Geração de Renda, Educação, Cultura, Saúde e Meio Ambiente, quatro jovens entrevistaram Jorge du Peixe, percussionista, cantor e compositor da banda pernambucana Nação Zumbi.
Qual a importância de vocês participarem da Conferência de Políticas Públicas para a Juventude de Embu das Artes? – Conseguir tocar em um lugar novo é uma conquista! E fazer parte deste evento é importante, o jovem tem que estar inserido na cultura do município, seja por meio do envolvimento com o meio ambiente, com a cultura, com a saúde, com a geração de emprego, com intenções e idéias. Isso é de grande importância para a gente, com certeza.
cultura é importantíssimo.” Com as antenas voltadas para qualquer manifestação que possa O que o Nação Zumbi acha do acesso da juventude à cultura? – Importantíssimo. Eu acho que o jovem tem que estar inserido, virar música, Jorge du Peixe, tem que olhar mais para o seu lugar, para sua volta, tem que estar junto. Saber dos problemas que estão acontecendo onde você vive. vocalista do Nação Zumbi, Esse envolvimento deve começar cedo. Com uma postura de engajamento e com a busca de um esclarecimento maior, sua visão se conversa com jovens do Embu amplia e as portas se abrem. das Artes (SP) e incentiva a galera a participar ativamente das etapas da Conferência LINHA DO TEMPO DO MANGUEBEAT Nacional de Juventude, • 1991 – Ano que marca a cena Manguebeat, liderada por bandas que rola de 27 a 30 de como Mundo Livre S/A e Chico Science & Nação Zumbi em Recife, Pernambuco. Estas bandas divulgam o manifesto Caranguejos com abril, em Brasília
Cérebro Cérebro,, que diz: “Vamos criar um satélite de idéias, fincar uma parabólica no mangue e mostrar a cara do Brasil”.
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• 1992 – Ano de formação da banda Mestre Ambrósio
Como o Embu é o berço do Hip Hip, em São Paulo, a gente gostaria de saber qual é a afinidade da Nação Zumbi com o Hip Hop de São Paulo? – Temos um pé no Hip Hop. Eu fui B Boy (dançarino de break). O Chico Science foi B Boy também, nos anos 80, logo no início do movimento, quando não se tinha muitos discos e os primeiros grandes MCs surgiam de uma maneira muito tímida. Tentamos sair dos clichês mexendo com nossa cultura, com a nossa identidade. A gente percebe que no Brasil, o Hip Hop fundiu o estilo americano com as raízes brasileiras, unindo elementos da capoeira, do frevo. O Hip Hop é o que o jazz foi para música americana nos anos 50, 60. Hip Hop aglomera muita coisa dentro de um gênero só. Não é só um gênero, é uma cultura muito ampla, envolve grafitti, DJ, o B Boy e o MC. A gente tem um pouco de tudo isso, só que fazemos do nosso jeito. No primeiro disco, Da Lama ao Caos, você percebe a intenção de mexer com samba e Hip Hop, e trazer o que é nosso!
GEOPOLÍTICA DA FOME
que eu dou é estudem! Estudem porque a informação ainda é a maior arma. O que pode ser feito para juntar a cultura e a música com a preservação do meio ambiente? – Esclarecimento, informação acima de tudo. O porquê de você ter cuidado, a importância de separar o lixo, daqui a pouco a gente vai pagar para respirar, as prefeituras vão distribuir máscaras para você Crédito
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ocê sabia que muitas das músicas do Chico Science e de Zero Quatro foram inspiradas nos estudos de Josué de Castro, Médico, professor, geógrafo, sociólogo e político? Parte da letra da música Da Lama Ao Caos, por exemplo, cita trechos do livro Geopolítica da fome, no qual o estudioso reflete sobre as causas da miséria em nosso país e no mundo e afirmava que ambas eram frutos de uma sociedade injusta. O manguebeat também usa o livro Homens Caranguejos, no qual o autor compara o ciclo de vida do homem miserável ao do caranguejo, que se alimenta dos dejetos orgânicos do mangue. Galera do Embu entrevista du Peixe
Crédito
Solano Trindade foi o maior poeta negro do Brasil. Ele nasceu em Recife e adotou Embu das Artes como terra para se viver. Este ano comemoramos o seu centenário. Há alguma influência dele no trabalho de vocês? – Sem dúvida, ele foi um dos maiores poetas negros. A gente não tem influência só da música, mas da literatura, do cinema. Tudo o que está à sua volta você absorve da melhor maneira para poder canalizar na criação de cada disco. Qual é o recado que vocês mandariam para essa juventude, que está mobilizada participando desta conferência de grêmios estudantis, Hip Hop, ecologia? – Eu acho que só esse primeiro passo de se juntar e procurar um entendimento maior é importante. Esse núcleo criado é de grande importância, toda a comunidade deveria ter algo neste sentido, de pensar junto, e o recado maior
• 1993 – Ano de organização do Mangue Tour, que levou a criação pernambucana para o resto do país. Em apenas três shows por São Paulo e Belo Horizonte, Chico Science & Nação Zumbi e o Mundo Livre S/A provocaram uma onda no cenário musical do Brasil, inédito desde os tempo da Tropicália.
• 1994 – São lançados dois álbuns essenciais do manguebeat: Samba Esquema Noise, do Mundo Livre S/A S/A,, e Da lama ao Caos, de Chico Science & Nação Zumbi. O Manguebeat resgata elementos da cultura folclórica regional como o maracatu, coco, embolada, cantiga de roda, juntando-os nº 41e· Ano 5 · Revista ViRAÇÃO com rock, reggae, rap, funk hip-hop.
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respirar melhor. Isso cabe a cada um, pensar em um planeta melhor para se viver, eu acho que cada um tem que fazer a sua parte. Porque Nação Zumbi? – Zumbi é uma homenagem à Zumbi dos Palmares, um dos primeiros líderes negros das Américas, pouco difundido nas escolas. Não se fala sobre Zumbi, não se fala sobre o mangue, não se fala sobre grandes vultos da história do país. A televisão hoje é muito voltada para o comércio, tudo é pensado a partir da moeda, do dinheiro. É um capita-
lismo cego e acirrado então, acho que só algumas tvs culturais tentam levar informação às pessoas. Mas acho que somos Zumbis sim, todo mundo tem um pouco de zumbi. Qual a importância do jovem estar fazendo mídia alternativa como nós? – É importante. Hoje, vocês têm a internet, os blogs, criar um site para poder, a partir daí, criar discussões. Vários endereços já vêem o jovem neste esquema, mais interados, mais juntos, com um pensamento mais coeso. É importante estar inserido dentro deste pensamento. Descobrir, discutir e sugerir coisas novas. Vocês sabem o que acontece aqui, o que precisa
na sua área, o que não precisa, o que tá além da conta. É importante querer saber o que acontece. A música é um caminho para a inclusão social? – Sem dúvida, é uma boa ferramenta também. A música, a dança, o grafitti, as artes plásticas, visuais, tudo isso é muito importante. A escola está num formato muito atrasado, entre quatro paredes ali, aquele formato chato, sentado numa mesa, vendo o professor ensinar. Acho que hoje em dia existem colégios informatizados, não é mais a lousa, são computadores, vai demorar um pouco, é meio que uma utopia isso, mais tá bem mais fácil hoje do que há dez anos atrás.
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Fotos: Divulgação
Jorge du Peixe: “Cabe a cada um pensar em um Planeta melhor pra se viver.”
• 1995 – Nação Zumbi lança Afrociberdelia com a participação de Gilberto Gil. • 1997 – No dia 2 de fevereiro, quando Chico Science ia de Recife a Olinda, pra ver a Cabralada tocar, sofreu um acidente de carro e morreu. A banda Nação Zumbi, depois de ViRAÇÃO · Ano 5para · nº 40 41 se reestruturar, retorna à música. umRevista tempo parada
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• 1998 – Lançamento do álbum CSNZ CSNZ,, o primeiro sem Chico Science, com Jorge du Peixe assumindo a voz da banda. • 2003 – Primeiro solo de Otto – ex-percussionista da primeira formação da Nação Zumbi e do Mundo Livre S/A – Sem Gravidade
No Paraná, jovens se encontraram para trocar figurinhas e propor ações para multiplicar o conhecimento sobre HIV/aids e combater o preconceito
é
multiplicar OTÁVIO HENRIQUE MONTANHER, do Escuta Soh!*
Fotos: Agência Brasil
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Uma das maneiras de lutar pelos seus direitos e multiplicar conhecimentos é sair às ruas
articipei de um encontro no fim do ano passado, em Curitiba (PR), promovido pela Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/aids do Paraná. Em um hotel, foi reunida a galera das cidades, além de Curitiba, de Cascavel e Toledo. Neste evento, aprendi muitas coisas, como trabalhar com pessoas que descobriram há pouco tempo que estão com o vírus. Fiz parte da equipe organizadora do encontro. Nessa minha primeira experiência como instrutor – é a primeira vez que jovens fazem parte da organização -, fizemos uma roda de apresentação com todos os participantes. Havia muitas pessoas, cada uma com histórias diferentes. Aprendi muito, e vou passar isso pra toda galera que eu conhecer de agora em diante. Quero ser multiplicador. Fizemos teatro em grupo, discutimos bastante sobre os assuntos que norteiam o nosso dia-a-dia e, principalmente, o que fazer para acabar com o preconceito em torno da doença. Decidimos que vamos trabalhar juntos para multiplicar nossas idéias e conhecimentos acerca do assunto. Fiz novos amigos, conheci pessoas muito legais que passei a admirar muito. E colocar nossa missão em prática: convidar outros jovens para participar da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/aids do Paraná. Bom, ainda não sei quem vou indicar, mas estou à procura de pessoas com muita vontade e garra. Procuro pessoas que estão a fim de trabalhar e ir atrás de soluções, que adore trabalhar em equipe. Este evento foi muito bom, era como se fosse uma capacitação para trabalhar com todos os tipos de pessoas. Mostrei-me de uma maneira que não me reconhecia, de tão entusiasmado que estava. Foi ótimo pra mim. Aprendemos a trabalhar com nosso espírito, como ter uma boa respiração no nosso dia-a-dia e a fazer exercícios que ajudam em nosso bem estar. Um dia que não esquecerei tão fácil.
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*Integrante da equipe Escuta Soh!, formada durante o 2o Encontro Nacional de Jovens Vivendo com HIV/aids, realizado em Salvador (BA), em outubro de 2007 (www.revistaviracao.org.br/escutasoh) nº 41 · Ano 5 · Revista ViRAÇÃO
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No Reino da Aracruz
Virajovem Vitória
ENZO CANIÇALI DO AMARAL, JOÃO FELIPE BRAGATO DE OLIVEIRA e FABIANO PEREIRA SILVA, do Virajovem Vitória (ES)*
Descendentes dos antigos quilombos no Espírito Santo se encontram para somar forças e defender seus direitos diante das ameaças da transnacional Aracruz Celulose e dos políticos da região
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esistindo a um histórico de opressão contínua, os quilombolas do Espírito Santo demonstraram sua força com a realização da 1ª Conferência Estadual de Quilombolas, que aconteceu no mês de dezembro de 2007, em um centro de encontros, localizado na Grande Vitória. A Conferência pode ser encarada como um marco importante para a organização, fortalecendo as lutas comuns que as diversas comunidades quilombolas presentes no Espírito Santo enfrentam. Na Conferência foram debatidas questões do cotidiano e da realidade dos quilombolas capixabas. A necessidade da união entre as comunidades protagonistas desta causa e o movimento social negro foi enfatizada como uma estratégia crucial para vencer a fragmentação à qual os movimentos sociais estão submetidos.
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Representantes dos descendentes de Quilombolas reunidos durante o 1a Conferência Estadual A bandeira principal desta luta no campo é garantir o direito de propriedade dos territórios quilombolas. Entre alguns dos fatores, citados na conferência, contrários à luta quilombola pelo reconhecimento e o direito à terra no Brasil, está a investida de parlamentares, muitos dos quais representantes do agronegócio, presente nas Comissões de Agricultura da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Na plenária principal do encontro, intitulada Terra, Território e Direitos Humanos, a representante da
Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), Jocilene Brandão, atentou para a pressão que os referidos parlamentares vêm realizando junto ao Governo Federal para modificar os decretos e portarias que vão de encontro ao estabelecido pela convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que estabelece normas para o reconhecimento e a titulação das terras pertencentes às comunidades tradicionais a partir do princípio da auto- identificação desses povos.
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Virajovem Vitória
ntidades e órgãos envolvidos na titulação e reconhecimento das comunidades quilombolas
O QUE SÃO OS QUILOMBOS?
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s quilombos são comunidades negras rurais que se distinguem de outros setores da coletividade nacional devido a seus costumes, tradições e condições sociais, culturais e econômicas específicos. Essas comunidades têm uma história de luta pela liberdade, desde que seus antepassados foram trazidos da África como escravos. Hoje lutam por um pedaço de terra onde possam viver de acordo com suas tradições. Outra característica marcante é a ocupação do território de acordo com ligações de parentesco. Os moradores de comunidades quilombolas sempre fazem referência a um ancestral comum, que pode ser real ou imaginário, e que foi o primeiro a chegar naquelas terras.
RACISMO NO CONGRESSO Esses parlamentares chegam a proferir palavras que beiram o racismo. Com discursos que questionam a “real existência” das comunidades tradicionais, entre elas os povos indígenas, apelando para uma idéia de que os indígenas e quilombolas já não existem mais e que essas reivindicações “absurdas” (o direito à terra, primordialmente) estariam atrapalhando o verdadeiro desenvolvimento econômico do Espírito Santo. Segundo os participantes da Conferência, os usurpadores dos direitos das comunidades encontram o apoio irrestrito do governador do Estado do Espírito Santo e quase a totalidade da bancada capixaba no Congresso Nacional, que em mais de uma ocasião já se mostrou favorável às reivindicações feitas pelos representantes do agronegócio em detrimento dos direitos das populações quilombolas.
De acordo com os quilombolas, o apoio de grande parte da classe política capixaba à empresa Aracruz Celulose, historicamente envolvida em conflitos fundiários com as populações tradicionais do Espírito Santo, se deve à atuação desta gigante transnacional como uma das maiores doadoras de dinheiro para abastecer as campanhas eleitorais destes políticos. A Aracruz Celulose envolveu-se, desde meados dos anos 1970, em relações promíscuas com o poder público, a partir das quais realizou inúmeras ilegalidades em solo capixaba, tais como: a destruição de grandes porções de mata atlântica, o incentivo à grilagem de terras pertencentes aos quilombolas e indígenas por parte de terceiros com a posterior venda das terras à empresa, a utilização de recursos hídricos de forma agressiva e totalmente fora das legislações ambientais, dentre outros.
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• Advocacia Geral da União (AGU) – Representa o interesse da união nos litígios judiciais nos processos de destinação de terras às comunidades quilombolas, de acordo com o estabelecido no artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) e regulamentado pelo Decreto no 4.887/2003. • Fundação Cultural Palmares – Formula e implanta políticas públicas que têm o objetivo de potencializar a participação da população negra brasileira no processo de desenvolvimento, a partir de sua história e cultura. • Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) – Através da Coordenação Geral de Regularização de Territórios Quilombolas, exerce a função de implementar ações de regularização fundiária dos territórios quilombolas e pela aplicação do Plano Nacional de Reforma Agrária no qual os territórios quilombolas estão inseridos. • Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (IDAF) – Responsável por encaminhar ao INCRA a relação das terras devolutas no Espírito Santo. * Enzo Caniçali do Amaral, João Felipe Bragato de Oliveira e Fabiano Pereira Silva são integrantes de um dos 21 conselhos jovens da Vira espalhados pelo País (es@revistaviracao.org.br) nº 41 · Ano 5 · Revista ViRAÇÃO
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SÉRGIO RIZZO, crítico de cinema Fotos: Divulgação
NO ESCURINHO
Violências telona
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azia alguns anos que nenhum filme brasileiro tinha a capacidade de despertar polêmica como Tropa de Elite. Antes mesmo do lançamento, houve o escândalo sobre a circulação de cópias piratas. Quando chegou aos cinemas, tornou-se a maior bilheteria do cinema nacional em 2007, com cerca de 2,4 milhões de espectadores. No início deste ano, recebeu o Urso de Ouro de melhor filme no Festival de Berlim. Estréia na ficção do documentarista José Padilha (que investigou o drama dos meninos de rua em Ônibus 174), o filme provocou também as mais acaloradas discussões sobre a violência das imagens desde o lançamento de Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles. Além de expor a corrupção policial e a tortura como método no combate aos traficantes no Rio de Janeiro, Tropa de Elite mexe em outros temas incômodos para a sociedade brasileira. Um deles é a responsabilidade da população que vive no ‘asfalto’ em relação ao que ocorre no ‘morro’, no jargão de uso corrente no Rio. Na trama, concentrada nos dilemas de um oficial de elite (Wagner Moura) para encontrar um sucessor que lhe permita deixar o trabalho de campo, alunos universitários (e, por extensão, todos os consumidores de drogas das classes média e alta) são representados como co-responsáveis pela existência do tráfico e de suas ramificações no universo do crime, na medida em que geram demanda econômica para atividades ilícitas. Por coincidência, alguns meses antes da estréia de Tropa, outro filme brasileiro ambientado no Rio tratou desse universo: Proibido Proibir, dirigido por Jorge Durán, chileno radicado há décadas no Brasil, e que escreveu, entre muitos outros, os roteiros de Lucio Flávio, o Passageiro da Agonia e Pixote, a Lei do Mais Fraco. É evidente que Durán não pensava em criar um contraponto ao outro filme, mas sua história acabou funcionando como um complemento a ele. Se o interesse for o de discutir o universitário de hoje, a diferença é grande: enquanto Padilha apenas registra a participação de estudantes na cadeia do tráfico de drogas, Proibido Proibir elege os jovens como seu principal interesse e se dedica inteiramente a procurar entender algumas de suas angústias pessoais e políticas. Na trama criada por Durán, um estudante de medicina (Caio Blat, o Frei Tito de Batismo de Sangue) divide uma casa de fundos em bairro popular do Rio com um aluno de ciências sociais (Alexandre Rodrigues, o Buscapé de Cidade de Deus). Eles têm opiniões divergentes a respeito de quase tudo, inclusive de futebol, mas parecem amadurecer nas discussões, no convívio com a namorada do segun-
Cenas de Tropa de Elite e Proibido Proibir
do (Maria Flor, a jovem cortejada por Stepan Nercessian em Chega de Saudade) e ao proteger um jovem que pode incriminar policiais por um assassinato, ponto em que o filme volta a se aproximar de Tropa de Elite. Não se consegue fugir da violência urbana no Brasil de hoje, mas o foco se concentra nos sonhos e perspectivas da geração que precisará lidar, nas próximas décadas, com o país que lhe deixaram como herança.
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QUE FIGURA
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MARIA CAMILA FLORÊNCIO, do Virajovem Recife (PE)*
Manuel Bandeira: Bandeira
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anuel Carneiro de Souza Bandeira Filho, o Manuel Bandeira, nasceu em Recife (PE) em 1886 e morreu no Rio de Janeiro em 1968. Em 2008, faz 40 anos de sua morte. Quando adolescente, o escritor e poeta tinha o plano de ser engenheiro e chegou até cursar engenharia, mas foi impedido de continuar ao descobrir com 17 anos que tinha tuberculose. Naquela época, acreditava-se que a tuberculose não tinha cura, então o aconselhável era que as pessoas tivessem que se isolar. Ele sentiu na pele coisas piores: sempre passou por restrições e, por isso, nunca se casou. Veja só que ele escreveu a respeito: “... – O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. – Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? – Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.”
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o poeta da rebeldia Em 1910, entrou em um concurso de poesia da Academia Brasileira de Letras, que não lhe conferiu o prêmio. Leu Charles de Guérin e tomou conhecimento das rimas toantes que empregaria em Carnaval. Manuel Bandeira cursou o colégio Pedro II, onde mais tarde, seria professor de Português. Em 1912, esteve na Suíça para tratamento. A Suíça já foi chamada de “Tisiopólis” (significa cidade dos tísicos = tuberculosos), onde ocorria isolamento de pessoas com a doença. Neste momento, encontrouse com os melhores simbolistas e pós-simbolistas da França, que muito influenciaram suas primeiras obras. Voltando ao Rio, juntou-se a um grupo de poetas e intelectuais, entre os quais Ronald de Carvalho, Ribeiro Couto e Graça Aranha. Numa reunião na casa de Ronald de Carvalho, em Copacabana, em 1921, conheceu Mário de Andrade. Estava presente, entre outros, Oswald de Andrade, Sérgio Buarque de Holanda e Osvaldo Orico. Iniciou, então, em 1922, suas correspondências com Mário de Andrade. Juntamente com esses escritores, aderiu ao movimento modernista de 1922, no qual teve importante participação. A Cinza das horas (1917) foi sua primeira obra, quando ainda estava fortemente ligado ao parnasianismo e ao simbolismo, mas já em Carnaval
(1919) fazia poemas de inconformidade e rebeldia, como o poemasátira Os Sapos, que seria recitado por Ronald Carvalho numa das noites da Semana de Arte Moderna, sob gritos e vaias da platéia. É que os sapos, para ele, simbolizavam os poetas de escolas passadas, especialmente os parnasianos. Mas o que marcou mesmo a obra literária de Manuel Bandeira foi sua relação e suas restrições por conta da tuberculose. Em Vou-me Embora pra Pasárgada, ele descreve bem seus desejos negados, assim como o porquinho da Índia que ele o apresenta como seu único amigo. Para uma pessoa que teve tuberculose numa época marcada de estigmas e cuja doença não tinha cura, ele até que viveu bem mais do que estimado, 82 anos. Atualmente existe um museu instalado onde ele morou em sua infância, Rua da União, em Recife, chamado Espaço Pasárgada onde existem objetos e móveis conservados, além das suas principais obras expostas. Na famosa Rua da Aurora, no centro da cidade, existe uma estátua em homenagem a este grande escritor e poeta, que mesmo diante de tormentos físicos, se permitiu viver e se imortalizou em suas obras.
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*Integrante de um dos 21 Conselhos Jovens da Vira espalhados pelo País (pe@revistaviracao.org.br)
SEXO E SAÚDE HUGO LEONNARDO CASSIMIRO, JACIARA REIS VEIGA, ERICK CORRÊA ROCHA, CAIO TEIXEIRA FRAUZINO, SHEILA MANÇO DOS SANTOS e CEILA RODRIGUES do Virajovem Goiânia (GO)*
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esponderam às questões do Sexo e Saúde desta edição Divino de Jesus da Silva Rodrigues, psicólogo e especialista em adolescência e juventude; Lidianne Ferreira Araújo, psicóloga; Patrícia Gomes de Macedo, bacharel em Ciências Sociais; e César Augusto Paiva Gonçalves, especialista em ensino de Ciências da Natureza.
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O homossexualismo é um distúrbio mental ou uma opção? Jackeline, 18 anos César Augusto Paiva Gonçalves: Sobre sua pergunta, Jackeline, o termo mais apropriado é homossexualidade. Nem distúrbio mental ou opção, a homossexualidade caracteriza-se pela capacidade de desenvolvimento de relações afetivas entre pessoas do mesmo gênero. Isso quer dizer que não se resume a uma simples atração sexual.
Divino de Jesus da Silva Rodrigues: Homossexualidade é orientação. A Organização das Nações Unidas possui um livro (Código Internacional de Doenças) no qual são identificadas as doenças. O termo homossexualismo foi usado nesse livro por um tempo. Hoje essa organização não reconhece a orientação homossexual como doença, além de proibir que qualquer profissional da saúde tente curar alguém que seja homossexual,
tanto homem quanto mulher. Rubem Alves escreveu um texto chamado “O urubu e o beija-flor” que trata das relações e orientações.
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Uma pessoa saudável ao manter relação sexual com alguém com HIV pode se contaminar? As emoções mexem com os hormônios? João, 18 anos César Augusto Paiva Gonçalves: Apenas o fato de iniciar uma relação sexual certamente não será o suficiente para que alguém que possua o vírus HIV o transmita a outra pessoa. Durante o ato sexual, é importante impedir o contato de algum líquido, como o sêmen, entre o/a portador/a e seu/a parceiro/a, através do uso da camisinha, por exemplo. Sobre as emoções, é importante dizer, as influências são recíprocas. Tanto os hormônios influenciam as sensações, quanto o que sentimos influencia a produção e eficiência dos hormônios.
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As meninas que sofrem abu so sexual com pouca idade abuso podem ter algum problema de saúde mais tarde? Juliana, 16 anos Lidianne Ferreira Araújo: Geralmente, quem sofre abuso sexual pode ter problemas psicológicos devido ao trauma deixado. Mas quanto a problemas de saúde que possam ser desenvolvidos, isso varia de pessoa para pessoa. Patrícia Gomes de Macedo: Depende da gravidade do abuso. Há casos em que a violência é tão intensa que os órgãos sexuais necessitam de intervenção cirúrgica, podendo até haver perda da capacidade reprodutiva, como nos casos em que são usados objetos. Emocionalmente, não é nada fácil superar um abuso, mas, com ajuda profissional e determinação pessoal, é possível construir uma vida saudável, inclusive sexualmente. Uma dica é: nunca sofra sozinha ou sozinho por causa de um abuso, partilhe e busque ajuda.
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*Integrante de um dos 21 Conselhos Editoriais Jovens da Vira espalhados pelo País nº 41 · Ano 5 · Revista ViRAÇÃO
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VIRA R ARTE
CAROL LEMOS, GISELLA HICHE e VIVIAN RAGAZZI, da Redação
Mulheres
O dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, ficou marcado por uma ação diferente em São Paulo (SP). A Vira promoveu duas oficinas de quadrinhos com 15 mulheres de diferentes instituições, baseadas na metodologia Comics Power, criada pelo cartunista indiano Sharad Sharma, empreendedor social da Ashoka. No curso, não existe a pretensão de ensinar a desenhar: o importante é contar histórias para que sejam utilizadas como ferramenta de mobilização social. Como resultado dos encontros, foram produzidas histórias em quadrinhos com uma coisa em comum: todas tratavam de questões relacionadas ao universo feminino. As tirinhas foram distribuídas durante a Marcha Mundial das Mulheres, manifestação anual que rola em várias cidades brasileiras. Confira algumas das histórias desenvolvidas pelas participantes! VEJA MAIS QUADRINHOS EM www.comicsdavira.blogspot.com
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Amor Verdadeiro Aline Ábrego, da Associação Comunitária Clave de Sol
Liberdade de comer banana Mariana Farcetta, da Associação Comunitária Clave de Sol
A Escolha de Bella Bela Zubellis, do Instituto Beleza e Cidadania
Como Será? Estefani Santos de Moura, do Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto
quadrinhos
Mudança, atitude e ousadia jovem
Mija mina, você também pode!!! Anelise Csapo, feminista
CUPOM DE ASSINATURA anual e renovação 10 edições É MUITO FÁCIL FAZER OU RENOVAR A ASSINATURA DA SUA REVISTA VIRAÇÃO O avião e o chute Karina Ferreira da Cruz, do Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto
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Pergunta o que não deve... Maria Fernanda dos Santos, da Revista Viração
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Um oi... Eliene Santana Correia, do Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto
3. VALE POSTAL em favor de PROJETO VIRAÇÃO, pagável na Agência Augusta – São Paulo (SP), código 72300078 4. BOLETO BANCÁRIO (R$2,95 nº de 41 ·taxa Ano 5bancária) · Revista ViRAÇÃO
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NOME _________________________________________________________________________________ SEXO ______ EST. CIVIL _______ ENDEREÇO ____________________________________________________________________________ BAIRRO ______________________ CEP _________________________________________ FONE (RES.) ___________________ FONE (COM.) ___________________________ CIDADE ______________________________ ESTADO _________DATA DE NASC. __________ E-MAIL ____________________________ REVISTA VIRAÇÃO Rua Augusta, 1239 – Cj. 11 Consolação – 01305-100 São Paulo (SP) – Tel.: (11) 9946-6188 Tel./Fax: (11) 3237-4091 / 3567-8687
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PARADA SOCIAL
Diversidade sexual nas favelas RENATA SOUZA, do Virajovem Rio de Janeiro (RJ)*
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Virajovem Rio de Janeiro
liberdade sexual foi o tema posto em debate no lançamento da campanha: “A Maré contra a homofobia dst/aids! Diversidade sexual e paz nas favelas.”, no dia 23 de fevereiro no Complexo da Maré, Rio de Janeiro. A campanha é encabeçada pelo grupo Conexão G, formado por jovens moradores das comunidades da Maré. Segundo a organização, o objetivo da campanha Lançamento da Campanha contra homofobia é promover uma manifestação pública em defesa do direito à liberdade de orientação e expressão sexual como garantia dos Direitos Humanos. “Essa mobilização também é para pôr em discussão a questão da aids, pois sabemos que na Maré vem aumentando o número de pessoas infectadas pelo vírus do HIV.”, disse o presidente do Conexão G, Gilmar Santos. O Conexão G inova ao propor a discussão dentro das favelas, locais onde, de acordo com o grupo, a discriminação e a intolerância são marcantes. “Queremos incluir a luta contra dst/aids e homofobia na agenda política dos movimentos de favelas como meio de combater a exclusão de líderes Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (GLBTTs) e de pessoas que são soropositivas nesses espaços.”, disse Gilmar. Desse modo, é possível conscientizar a comunidade acerca dos benefícios do respeito à diversidade como dimensão importante na luta pela paz e justiça. “Valorizamos o enfrentamento pacífico das práticas discriminatórias que orientam as ações violentas, como por exemplo, a violência policial, a violência sexual, o racismo e a violência de pessoas que são soropositivas”, completa Gilmar. A idéia do grupo é realizar a cada ano um grande seminário nas favelas para discutir e sugerir políticas públicas voltadas para a melhoria das condições de vida nas comunidades e dos GLBTTs. O lançamento da campanha foi elaborado pelo grupo Conexão G e desenvolvido no âmbito do projeto “Direitos-Derechos” da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE) que pretende sensibilizar e orientar ações de exigibilidade de direitos entre jovens lideranças comunitárias.
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*Integrante de um dos 21 Conselhos Editoriais Jovens da Vira espalhados pelo País (rj@revistaviracao.org.br)
Mรกrcio Baraldi
Roteiro produzido por Bruno Peres, do Virajovem de Porto Alegre (RS)