Revista Viração - Edição 58 - Janeiro/2010

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a r i V a z a f m e Veja qu

Sexo e Saúde

pelo Brasil

Associação Imagem Comunitária Belo Horizonte (MG)

Casa da Juventude Pe. Burnier Goiânia (GO)

Universidade Popular Belém (PA)

Ciranda – Curitiba (PR) Central de Notícias dos Direitos da Infância e Adolescência

União da Juventude Socialista Rio Branco (AC)

Catavendo Comunicação e Educação Fortaleza (CE)

Centro Cultural Bájò Ayò João Pessoa (PB)

Avalanche Missões Urbanas Underground Vitória (ES)

Cipó Comunicação Integrada Salvador (BA)

Companhia Terra-Mar Natal (RN)

Agência Uga-Uga Manaus (AM)

Girassolidário Campo Grande (MS)

Rede Sou de Atitude Maranhão São Luís (MA)

Bemfam - Recife (PE)

Diretório Acadêmico Freitas Neto Maceió (AL)

Fundação Athos Bulcão Brasília (DF)

Grupo Makunaima Protagonismo Juvenil (RR)

Centro Cultural Escrava Anastácia Florianópolis (SC)

Jornal O Cidadão Rio de Janeiro (RJ)

Grupo Cultural Entreface (Diversidade Juvenil, Comunicação e Cidadania) Belo Horizonte (MG)

Grupo Atitude - Porto Alegre (RS)

Centro de Refererência Integral de Adolescentes Salvador (BA)

Virajovem Vitória - Vitória (ES)

Taba - São Paulo (SP)


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0 1 0 2 o s jo a r o C e o d a Feliz, Ous

ças na Vira e, profundas mudan . 009 foi um ano de a sua colaboração tamos muito com em todas elas, con de iva a tentat nceras linhas são um Estas poucas mas si ecimento. ção Livre que deu traduzir nosso agrad digital e uma Reda ão aç tiz cra mo de ios. Nosso próprio Temos um centro de rogramas proprietár s p do ar ert lib se os para s pessoas a seus primeiros pass ojeto gráfico e nova pr vo no m : u ou ud vo. As ta, também m ilhado e colaborati carro-chefe, a Revis bem mais compart so es oc pr um vel local, m ní co em o mpliando cuidar da arte, junt ções políticas se a ula tic ar ral, as o, nd da tri consoli os e o Dis to Fede parcerias foram se rceiros em 24 Estad pa e os cle nú om l. Estamos c vo. estadual e naciona ovimento colaborati empre ando um amplo m rm ecer a vocês que s ad gr acreditando e fo ue queremos a a q ad inh am er os e c ov o d om fender e pr E é nesse espírit mos juntos para de tar es de rça fo na o der e ireito Human à acreditaram no po s. A começar pelo D en jov e tes en sc sempre s, adole r como movimento direitos de criança nossa razão de vive o, çã pa ici art à P e Comunicação mo viração. os a brisa do mar, co sa forma de estarm perene, fresco como anto” e nos deu es u t de os e n qu e, a, eir Paulo Fr “Gracías a la Vid viável”, como dizia ando um “inéditoliz rea o nd ossamos mu o e p s n qu junto o 2010 para z, Ousado e Corajos eli . F ão ”. aç Vir o -vi ad cham os “inéditos áveis es para novos projet ad ilid sib os s p va criar no Boa leitura!

Conteúdo

“2

” Quem somos

Copie sem moderação! Você pode: • Copiar e distribuir • Criar obras derivadas Basta dar o crédito para a Vira!

Apoio Institucional

a edição é “duas a de fim de ano: est P.S: Uma surpresinh fevereiro! té e a se virtacapas em uma”. Di

a

Viração é um uma organização não governamental (ONG), de educomunicação, sem fins lucrativos, criada em março de 2003. Recebe apoio institucional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), do Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo e da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). Além de produzir a revista, oferece cursos e oficinas de capacitação em comunicação popular feita para jovens, por jovens e com jovens em escolas, grupos e comunidades em todo o Brasil. Para a produção da revista impressa e eletrônica (www.revistaviracao.org.br), contamos com a participação dos conselhos editoriais jovens de 24 Estados, que reúnem representantes de escolas públicas e particulares, projetos e movimentos sociais. Entre os prêmios conquistados nesses seis anos, estão Prêmio Don Mario Pasini Comunicatore, em Roma (Itália), o Prêmio Cidadania Mundial, concedido pela Comunidade Bahá'í. E mais: no ranking da Andi, a Viração é a primeira entre as revistas voltadas para jovens. Participe você também desse projeto. Veja, ao lado, nossos contatos nos Estados. Paulo Pereira de lima Coordenador Executivo da Viração – MTB 27.300

partiCipe da vira!

Conheça os Virajovens em 24 Estados brasileiros Aracaju (SE) - se@revistaviracao.org.br Belém (PA) - pa@revistaviracao.org.br Belo Horizonte (MG) - mg@revistaviracao.org.br Boa Vista (RR) - rr@revistaviracao.org.br Brasília (DF) - df@revistaviracao.org.br Campo Grande (MS) - ms@revistaviracao.org.br Curitiba (PR) - pr@revistaviracao.org.br Florianópolis (SC) - sc@revistaviracao.org.br Fortaleza (CE) - ce@revistaviracao.org.br Goiânia (GO) - go@revistaviracao.org.br João Pessoa (PB) - pb@revistaviracao.org.br Lavras (MG) - mg@revistaviracao.org.br Maceió (AL) - al@revistaviracao.org.br Manaus (AM) - am@revistaviracao.org.br Natal (RN) - rn@revistaviracao.org.br Porto Velho (RO) - ro@revistaviracao.org.br Recife (PE) - pe@revistaviracao.org.br Rio Branco (AC) - ac@revistaviracao.org.br Rio de Janeiro (RJ) - rj@revistaviracao.org.br Sabará (MG) - mg@revistaviracao.org.br Salvador (BA) - ba@revistaviracao.org.br S. Gabriel da Cachoeira (AM) - am@revistaviracao.org.br São Luís (MA) - ma@revistaviracao.org.br São Paulo (SP) - sp@revistaviracao.org.br Serra do Navio (AP) - ap@revistaviracao.org.br Teresina (PI) - pi@revistaviracao.org.br

Gosta de escrever reportagens? Curte fotos? Ou seu lance são poesias, artigos, charges? Mande seu material pra gente! O endereço eletrônico é redacao@revistaviracao.org.br

atendimento ao leitor Rua Augusta, 1239 - conj. 11 - Consolação 01305-100 - São Paulo - SP Tel./Fax: (11) 3237-4091 / 3567-8687 9946-5584 Horário dE atEndimEnto Das 9h às 13h e das 14h às 18h E-mail da rEdação E assinatura redacao@revistaviracao.org.br assinatura@revistaviracao.org.br

Revista Viração • Ano 7 • Edição 58

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6 Acessibilidade, juventude e mídia Encontro de M ídia Legal ince ntiva jornalism não-discriminat o ório

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Sem lenço, com documento

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As férias estão aí e a vontade de viajar é grande. A Vira dá dicas de como curtir sem gastar muito, no bom e velho estilo “mochilão”

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Galera cidadã

ferência sobre os Jovens participam da 8ª Con lescente Ado do e nça Direitos da Cria

O Divino em audiovisual

A virajovem Leandra Barros, de Vitória (ES), venceu concurso sobre víde os e conferiu a exibição de seu documentár io na Itália

Estamos de olho

Adolescentes e jovens fazem diagnóstico dos serviços de saúde

Sempre na Vira

ECA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 Imagens que Viram. . . . . . 14 Rango da Terrinha . . . . . . 16 No Escurinho . . . . . . . . . . 17 Rap Dez . . . . . . . . . . . . . . 18 Sexo e Saúde . . . . . . . . . . 19 Parada Social . . . . . . . . . . 20 Galera Repórter . . . . . . . . 23 Que Figura . . . . . . . . . . . . 29 Manda Vê . . . . . . . . . . . . . 33

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issão ns Contra a ve Chega deoloesm centes e Jo S) A Rede de Ad venil (RAJCE al Infanto-Ju xu Se a ci ên Viol do silêncio estimula o fim

s dos Centro a a rm fo a t o Pla açã à ertoasdações iz il b o m : s Urbano primeiro ano com inúm dores a e arre PCU finaliz São Paulo idades de nas comun

34 Com o futuro em mente

A Vira foi conhecer o Centro de Defesa da Criança e do Adolescente – Cedeca Sé, na capital paulista

RG VÁLIDO EM TODO TERRITÓRIO NACIONAL Conselho Editorial

Equipe

Eugênio Bucci, Ismar de Oliveira, Izabel Leão, Immaculada Lopez, João Pedro Baresi, Mara Luquet e Valdênia Paulino

Adriano Sanches, Ana Paula Marques, Eduardo Peterle, Elisângela Nunes, Eric Silva, Giliane Queiroz, Gisella Hiche, Maria Rehder, Micaela Cyrino, Rafael Lira, Rafael Stemberg, Renata Trindade, Vânia Correia e Vivian Ragazzi

Conselho Consultivo Douglas Lima, Everaldo Oliveira, Isabel Santos, Ismar de Oliveira, Izabel Leão, Renata Marangon, Rodrigo Bandeira e Vera Lion

Administração/Assinaturas Norma Souza Lemos e Danilo Asevedo

Presidente

Mobilizadores da Vira

Juliana Rocha Barroso

Acre (Leonardo Nora), Alagoas (Jhonathan Pino), Amapá (Camilo de Almeida Mota), Amazonas (Cláudia Ferraz, Délio Alves e Lorena Bahia), Bahia (Isabel Brasileiro e Nilton Lopes), Ceará (Amanda Nogueira e Rones Maciel), Distrito Federal (Ionara Silva), Espírito Santo (Leandra Barros), Goiás (Gardene Leão), Maranhão (Sidnei Costa), Mato Grosso do Sul (Cibele Sodré),

Vice-Presidente Cristina Uchôa

Primeiro-Secretário Luciano Souza

Coordenação Executiva Paulo Lima e Lilian Romão

4 Revista Viração • Ano 7 • Edição 58

Minas Gerais (Daniel Rabello, Maria de Fátima Ribeiro e Pablo Abranches), Pará (Alex Pamplona), Paraíba (Niedja Ribeiro), Paraná (Juliana Cordeiro), Pernambuco (Maria Camila Florêncio), Piauí (Anderson Ramos da Luz), Rio de Janeiro (Gizele Martins), Rio Grande do Norte (Alessandro Muniz), Rondônia (Luciano Henrique da Costa), Roraima (Cleidionice Gonçalves), Santa Catarina (Celina Sales e Ciro Tavares), São Paulo (Luciano de Souza, Simone Nascimento e Virgílio Paulo), Sergipe (Raphaela Machado)

Colaboradores Amanda Proetti, Bianca Pyl, Camila Caringe, Carol Lemos, Cristina Uchôa, Gabriel Vituri, Juliana Giron, Juliana Sayuri Ogassawara, Heloísa Sato, Lentini, Márcio Baraldi, Natália Forcat, Nayara Carvalho, Novaes, Paloma Klysis, Rassani Costa, Sálua Oliveira, Sérgio

Rizzo, Ubirajara Barbosa e Vitor Massao

Consultor de Marketing Thomas Steward

Projeto Gráfico Ana Paula Marques e Cristina Sayuri

Jornalista Responsável Paulo Pereira Lima – MTB 27.300

Divulgação Equipe Viração E-mail Redação e Assinatura redacao@revistaviracao.org.br assinatura@revistaviracao.org.br

Preço da assinatura anual Assinatura Nova Renovação De colaboração Exterior

R$ 58,00 R$ 48,00 R$ 70,00 US$ 90,00


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A Vira pela igualdade. Diga lá. Todas e todos Mudança, Atitude e Ousadia jovem.

Diga lá

Fale com a gente! Shellen Batista Galdino, pelo portal da Vira

Márcio Rontani, Gerente de Serviço – Centro para Juventude – Arco Associação Beneficente, por carta A Arco Associação Beneficente quer agradecer pela imensa oportunidade de conhecer a redação da Revista Viração. Nossos jovens ficaram emocionados em conhecer o amplo espaço, e a atenção direcionadas a todos, além de ver as diversidades. Esta é a nossa forma de agradecer por esta realização, que graças aos vossos consentimentos, nos abriram portas, mostrando-nos novos conhecimentos.

Sou estudante de Serviço Social da UFPB, e é incrível como vocês abordam os temas de uma forma que possibilita o entendimento de uma maneira não influenciadora e unidirecionalista!

Olá Márcio, como vai? Nós é que ficamos felizes com a visita de vocês!

Hélen Cristina, por e-mail Mande seus comentários sobre a Vira, dizendo o que achou de nossas reportagens e seções. Suas sugestões são bem-vindas! Escreva para nosso endereço: Rua Augusta, 1239 - Conj. 11 Consolação - 0135-100 - São Paulo (SP) ou para o e-mail: redacao@revistaviracao.org.br Aguardamos sua colaboração!

Olá! Meu nome é Hélen Cristina, tenho 16 anos e gostaria de mandar meu material para a Revista Viração. Faço parte de um programa chamado PPT (Preparação Para o Trabalho) do Jd. Macedônia (São Paulo-SP). Já fui chamada para comparecer numa reunião da revista, porém ocorreu um imprevisto e não deu para eu ir. Vi a revista e achei muito interessante, por ser uma revista com a voz do jovem. Tenho várias ideias, já escrevi algumas redações sobre o cotidiano dos jovens, tanto na escola, quanto na rua, e sobre o aquecimento global, que ultimamente está sendo muito tratado.

Ponto G Para garantir a igualdade entre os gêneros na linguagem da Vira, onde se lê “o jovem” ou “os jovens”, leia-se também “a jovem” ou “as jovens”, assim como outros substantivos com variação de masculino e feminino.

Oi Shellen! Isso só é possível graças à colaboração de vocês, que acreditam na democratização dos meios de comunicação! Um grande abraço.

Siga a Vira no Twitter! Nosso perfil é http://twitter.com/viracao

Querida, que bom que você quer participar da Vira! Envie-nos seus textos para o e-mail redacao@revistaviracao.org.br. Seja bem-vinda!

Parceiros de Conteúdo


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Universitários acompanham o 6 Encontro da Mídia Legal no Rio de Jane iro

Mídia consciente

nações frequentemente 6o Encontro da Mídia Legal discutiu discrimi e juventude. Cartilha com reproduzidas pela mídia sobre deficiência 0 análises e propostas será lançada em 201

A

força e motivação da juventude em refletir sobre políticas públicas, participação e mídia responsável estiveram presentes na sexta edição do Encontro da Mídia Legal – Universitários (as) pelas Políticas de Juventude, na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), que aconteceu em outubro de 2009. O encontro é organizado pela ONG Escola de Gente em parceria com a Escola Superior do Ministério Público, a Uerj e a Fundação Avina. O evento começou com uma

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audiência pública convocada pela Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, sobre o tema “Acessibilidade para a Democratização das Políticas Culturais”. A audiência também teve como objetivo divulgar a Campanha Acessibilidade Siga Essa Ideia!, do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Conade). A campanha tem por objetivo sensibilizar a sociedade para acabar com as barreiras de informação e arquitetônicas que geram preconceito e

Pedro Henriques, João Guilherme, Carlos Oliveira e Jefferson Gomes, colaboradores da Vira

impedem as pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida de participarem efetivamente da vida social. No dia seguinte à audiência, começaram os seminários, sempre abertos ao público, divididos em quatro dias, sobre os subtemas “Políticas Públicas de Juventude: O que são? A quem se dirigem?”; “Comunicação e Participação Juvenil”; “Educação inclusiva: Direito Humano dos(as) Jovens” e “Juventude e Vulnerabilidade: Diferenças e Desigualdades”.


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O coordenador do 6o Encontro da Mídia Legal, Fábio Meirelles, disse que o tema da juventude é cada vez mais importante na agenda das instituições oficiais e entidades que lidam com a questão da inclusão social e garantia dos direitos humanos e de cidadania

Cada dia era iniciado por apresentações, que se seguiam por perguntas aos palestrantes, como a jornalista Lilian Romão, da Viração; Marcus Aurélio de Carvalho, coordenador executivo da União e Inclusão em Redes de Rádio (Unirr); Neto, um jovem representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Rio de Janeiro, e Misiara Oliveira, chefe de gabinete da Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação (Seesp/MEC). Todos os presentes, realmente, tinham direito à participação: o evento contava com tradução simultânea para a Língua Brasileira de Sinais (Libras). O coordenador do 6o Encontro da Mídia Legal, Fábio Meirelles, disse que o tema da juventude é cada vez mais importante na agenda das instituições oficiais e entidades que lidam com a questão da inclusão social e garantia dos direitos humanos e de cidadania: “A criação da Secretaria Nacional de Juventude, em 2005, foi o marco legal que reconheceu a necessidade de uma política pública específica para a juventude. O que se tinha até então era o Estatuto da Infância e Adolescência, mas as demandas da juventude são específicas e diferenciadas”. Mas, por que será que em muitos Estados brasileiros os jovens ativistas aparecem no jornal na seção de segurança pública, mesmo quando colocam organizadamente suas reivindicações? Por que, mesmo sabendo que foram pessoas jovens como nós que iniciaram as manifestações que devolveram ao nosso País o processo de democratização, muitas vezes não acreditamos na força que temos? Por que poucos de nós conhecem os próprios direitos? Embora seja difícil dizer ao certo quais são os motivos que geraram cada um dos problemas presentes nessas perguntas, a solução para eles passa inevitavelmente pelo acesso à educação. Por uma educação que abrace a todos, na formação de uma sociedade onde todos saibam como lutar para que tenham seus direitos respeitados, em uma sociedade inclusiva.

Seminários servirão de base

para Manual de Mídia Legal

Agentes de Inclusão Um grupo formado por estudantes dos cursos de Ciências Sociais, Direito e Comunicação Social da Uerj faz análise de mídia, ou seja, analisam reportagens de diferentes meios de comunicação, para apurar como a questão da deficiência está sendo abordada pela mídia. Com esse material, é produzido o Manual da Mídia Legal, que será lançado em 2010. Fábio Meirelles explicou que os debates realizados com o público, e mais um conjunto de matérias publicadas pelos veículos de comunicação, com conteúdos identificados como discriminatórios da juventude, foram levados às discussões. “Este é o momento em que aprofundamos e formulamos as questões levantadas. Aí faremos a análise de mídia e escreveremos o texto da cartilha”, disse ele. Atividades como essa são passos firmes rumo à obtenção de respeito à nossa identidade, seja ela qual for, à conquista de nossa independência e à defesa e consciência de nossos direitos.

V

O Manual da Mídia Legal 6 - Universitários(as) pelas Políticas de Juventude, tem data de publicação prevista para o mês de março de 2010. Para conseguir o seu, basta visitar o endereço virtual da Escola de Gente: www.escoladegente.org.br.

Revista Viração • Ano 7 • Edição 58 7


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Ivo S

De olho no ECA

sa ou

Equipe do Portal Pró-Menino

O que a lei brasileira diz sobre relações sexuais com adolescentes?

A

partir da nova redação do Código Penal Brasileiro*, quem tiver relações sexuais ou praticar atos libidinosos com adolescentes menores de 14 anos, de qualquer sexo, estará cometendo o crime `Estupro de Vulnerável´. Isto significa que não basta o adolescente querer. Antes dessa alteração, o estupro só ocorria no caso da consumação da relação sexual, sendo a vítima sempre uma mulher. Hoje a lei é mais dura, porém mais imparcial. Uma pessoa, de qualquer sexo, que pratique relação sexual ou ato libidinoso com adolescente com menos de 14 anos, do sexo masculino, também

o: açã Ilustr

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8 Revista Viração • Ano 7 • Edição 58

responderá por Estupro de Vulnerável. Mas quando um ato pode ser chamado de libidinoso? Apesar dessa definição não ser objetiva, a Justiça tem interpretado que um ato é dito libidinoso quando envolve carícias nas partes íntimas. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) considera a criança e o adolescente como pessoas em fase de desenvolvimento. Por esse motivo procura preservá-los de qualquer tipo de violação, negligência ou exploração. Este é o princípio da proteção integral que encontra ressonância em outras leis como é o caso do Código Penal. O assunto é delicado, sem dúvida, especialmente para os adolescentes. O próprio conceito de adolescência é recente em termos históricos e as mudanças culturais impõem novos padrões de comportamento, tanto por parte dos pais quanto dos filhos. A erotização da infância, principalmente pelos meios de comunicação de massa, é uma realidade com a qual pais e professores precisam lidar cotidianamente. E o diálogo é ainda o melhor jeito de educar. No caldo cultural em que estamos todos submersos, a atual lei confronta a maneira como temos abordado questões sexuais com os adolescentes, delimitando a idade em que o mesmo pode consentir com o ato sexual.

Entre na seçã o Estatuto da Criança e do Adolescente do Portal Pró-M enino (www.prom enino.org.br) , procure pelo Estatuto na íntegra e leia o comentári o técnico ao ar tigo 6 o que trata da condição peculiar de desenvolvim ento.

Mas o intuito da lei é proteger. Ela protege, inclusive, a criança e o adolescente de outra criança ou adolescente. Em síntese, adolescentes com menos de 14 anos podem namorar, mas não podem praticar relações sexuais nem atos libidinosos. A partir dos 14, o consentimento será válido. Namorados menores de 14 anos devem dialogar bastante, inclusive com os pais, buscando soluções aceitas pela lei dos homens e pela lei do coração. Vale lembrar que é possível desenvolver vínculos muito fortes, mesmo sem envolver sexo. Já dizia o grande poeta português Fernando Pessoa, “tudo vale a pena, quando a alma não é pequena”.

*alterado pela Lei no. 12.015/09, art. 217-A O Portal Pró-Menino, parceiro do Vira, é uma iniciativa da Fundação Telefônica em conjunto com o Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor (Ceats/FIA).

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s o d e d a Cid Direitos de ntes participam e sc le o d a e s a Crianç bre cidadania para refletir so

atividades

Assessoria de Comunicação do Instituto Internacional para o Desenvolvimento da Cidadania (IIDAC)

E

studantes de todos os Estados do Brasil participaram da Mobilização Nacional de Participação dos Adolescentes, em Brasília (DF), uma prévia para 8ª Conferência Nacional sobre os Direitos da Criança e do Adolescente, iniciativa do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), que aconteceu em dezembro de 2009. As meninas e os meninos defenderam ideias e tiraram dúvidas sobre os próprios direitos. Para aproveitar a presença dos adolescentes, também ocorreu o Seminário 20 anos de Direitos de Criança e Adolescente. Nele, foram discutidas as políticas públicas para população infantojuvenil. Ao final, os participantes redigiram carta com recomendações para o Plano Decenal, elaborado na 8ª Conferência. Durante o evento, mais de 6.500 meninos e meninas participaram da Cidade dos Direitos da Criança e do Adolescente, construída pelo Instituto Internacional de Desenvolvimento para a Cidadania (IIDAC), que reproduziu de forma lúdica e didática, as principais instituições do Sistema de Garantia de Direitos (SGD). Foram mais de três mil metros quadrados, que proporcionaram a participação voltada à garantia, promoção e defesa dos direitos infantojuvenis. O Instituto Internacional também lançou seis Observatórios Juvenis, em 2009, em parceria com o Observatório Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Os Observatórios são grupos adolescentes de participação cidadã que estimulam

Jovens de todo o País o protagonismo juvenil acompanh Nacional d am Mobiliz e Participa e instigam a criação de ação ção dos A d o lescentes projetos e ações sociais. Os Observatórios reúnem adolescentes representantes de organizações e projetos do governo e da sociedade civil e participam de encontros de capacitação, fóruns virtuais e experiências, como a própria Cidade dos Direitos. Esses Observatórios já funcionam no Paraná, Pará, Alagoas, Pernambuco, Distrito Federal e Rio de Janeiro e a previsão é que sejam lançados em todos os estados do Brasil. O IIDAC promoveu, ainda, o 1º Seminário – A Voz dos Adolescentes do Semiárido, que ocorreu junto à 5ª Reunião do Comitê Nacional do Pacto em Natal (RN). Onze Estados brasileiros do semiárido foram representados por cerca de 50 adolescentes para ampliar a participação infantojuvenil na realidade do semiárido brasileiro. Os adolescentes realizaram várias atividades de formação cidadã juvenil gincanas, rodas de discussão, painéis e simulações, e assim, instigaram a discussão sobre a atuação dos adolescentes no Pacto do Semiárido.

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Capa

Dinheiro limitado, eça. É só o que você precisa para ampliar cab na a idei uma e tas cos nas hila moc Uma ada parte da juventude mente aberta, interess faz ira hile moc ura cult A tes. zon hori s seu no melhor estilo Lado B em viagens alternativas, independentes, Alan Ferreira, do Virajovem Maceió (AL)*, Juliana Cordeiro e Honislaine Rubik, do Virajovem Curitiba (PR), Murilo Augusto da Silva, Luan Machado e Cibele Sodré, do Virajovem Campo Grande (MS) e Juliana Sayuri, colaboradora da Vira. Fotos: Arquivo Pessoal

P

ara muitos, viajar é sinônimo de sair da rotina, mas desde que seja com tudo organizadinho, hotel reservado e poucos imprevistos. Para outros, viajar é sair pelo mundo para experimentar, desbravar, descobrir outros mundos dentro deste planeta. É a praia de quem acredita na responsabilidade de um cidadão do planeta – responsabilidade ecológica, pacifista e convicta dos direitos humanos. Nessa onda, vários jovens surfam e navegam mundo afora. A estudante Clara Coelho, de Camocim (CE), correu atrás do que queria em 2005, ao trancar o curso de Jornalismo na Universidade Estadual Paulista (Unesp) para se enveredar pelo Oriente Médio. Aos 18 anos, ela fez um intercâmbio “fora do convencional”, passando seis meses em Israel, no Programa de Voluntariado Internacional dos Kibbutzim. “A experiência de conviver com essa comunidade internacional, vivendo nos kibutz, uma fazenda no meio do deserto, foi transformadora. E me abriu a cabeça”, conta. “Meus pais não me ajudaram. Meu pai, por questões de princípios, pois achava que assim estaria me educando, e minha mãe, por falta de condições. Na época foi difícil, mas hoje agradeço, pois me sinto capaz de fazer qualquer coisa”. O paulistano Adriano de Melo Sanches, de 22 anos, também começou cedo a se aventurar por aí. “A primeira viagem que realmente merece o título de Mochilão com M maiúsculo foi aos 15.” Ele esteve em Portugal e depois foi sozinho para França, Espanha e Inglaterra. Para ele, é possível viajar com pouca grana, pois é prova viva disso. Campings e albergues são alternativas para

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economizar no orçamento, inclusive compartilhando quartos com outros viajantes, pois “é uma ótima oportunidade para conhecer outras pessoas”. Para o editor gaúcho Zizo Asnis, a diferença diante de turistas de carteirinha, com camisa havaiana florida e câmera fotográfica em punho, é que os viajantes independentes se viram com grana limitada, mas contam com liberdade, valorizam o contato com nativos e outros viajantes. “O mochileiro busca emoções na viagem, indo além de um roteiro fechado”, afirma.

Filosofia viajante Que filosofia é essa? Nas questões albergue versus hotel, ônibus versus avião, roteiro livre versus calendário amarrado, o viajante independente escolhe as primeiras alternativas. Foi assim com a repórter colaboradora da Vira, Juliana Sayuri, que percorreu nove países da América do Sul com dinheiro limitado e liberdade ilimitada. Tanto faz se sozinha ou acompanhada, é preciso ter responsabilidade para não se arriscar demais. “Liberdade vem com responsabilidade” - é o mantra de Clara. Para a estudante, é preciso ter disposição, saber rebolar no improviso e senso de humor para enfrentar as intempéries e os


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liberdade ilimitada Filosofia Independente

reveses inesperados de uma viagem. Os albergues da juventude são uma alternativa incrível para viajantes. Neles, é possível entrar em contato com os quatro cantos do mundo em um quarto compartilhado dos chamados hostel. “Gosto muito de albergues – não há local melhor para conhecer e socializar-se com outros viajantes. Este ano o movimento faz 100 anos, e ainda há espaço para crescer mais”, afirma Zizo, autor dos Guias O Viajante Independente pela Europa e pela América do Sul. Rita Castro, mochileira convicta e diretora do Hostel Verdes Mares em Natal (RN), recebe jovens a partir de 16 anos – sempre acompanhados por um de 18 e com autorização dos pais. O estilo mochileiro faz a cabeça de muitos, pois “viajar sem a família dá a sensação de liberdade e irreverência, além da socialização e do espírito de amizade”, diz. Para Rita, passar uns dias em um albergue da Hostelling International, “Centro de Cultura e Paz” declarado pela Unesco, é um “aprendizado”: “Nossa filosofia é permitir que todo mundo conheça, por meio do albergue, diferentes países, cidades, culturas e costumes diferentes e aprenda a respeitar as peculiaridades de cada povo e a conviver em sociedade, contribuindo para sua formação”. Afinal, albergue é ter abrigo, aconchego e carinho: “Nosso hóspede nunca será um número de apartamento... sempre terá um nome”. Para ficar na “casa” de Rita, basta R$ 30, o que corresponde a apenas 10% do valor de um hotel tradicional na praia paradisíaca de Natal. Na virada de 2001, Ewerton Soares investiu apenas R$ 35 para sair de Maceió rumo a Maragogi (AL). Detalhe: a pé. De lá pra cá, o mochileiro de 27 anos conheceu mais de 10 Estados brasileiros e fez uma viagem

í:

enda o Piau Ewerton desv O mochileiro turística' ão cote é 'pris pa m co r ja “Via

1

Não acomode sua vida no sofá de casa. Mantenha a janela e a mente sempre abertas.

Esteja aberto para vivenciar culturas diferentes, sem preconceitos. Aproveite as oportunidades que aparecerem, mesmo que fujam um pouco do seu roteiro. Conhecer seus costumes, tradições, culinária, falar com as pessoas do lugar, é o que dá o tempero às viagens.

2

Conscientize-se dos conflitos mundiais e da preservação do meio ambiente. Tente fazer sua parte por um mundo melhor.

3

Esteja onde estiver, promova o Brasil mundo afora. Poucos sabem que o Brasil não é só um País tropical e é preciso viajar para descobrir qual é a nossa.

4

Acorde cedo. O tempo é sempre muito curto, então otimizar as horas de sono é super necessário para conhecer melhor o lugar.

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Não dá pra fazer uma viagem longa quando se é sedentário. Na primeira trilha ou andança pela cidade, se não tiver preparo físico, você poderá não querer nem sair da cama no outro dia.

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Volte, são e salvo. Conte suas histórias e incentive seus amigos a viajar.

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Capa Viajante profissional Confira as dicas de Tomás Barreiros, professor universitário curitibano, que já viajou de carona até de avião! Você já fez várias viagens pelo Brasil, do tipo mochilão mesmo. Poderia nos contar um pouco sobre como é fazer viagens desse tipo? Já viajei de carona, especialmente de caminhão, e até, por incrível que pareça, de carona de avião. Eu tinha meus macetes: ficava na porta da sala de tráfego do aeroporto e abordava os pilotos de aviões particulares. Também fiz viagens pelo Correio Aéreo Nacional, sistema muito interessante para quem é militar ou tem parente nas Forças Armadas. Esse tipo de viagem é uma aventura a mais do que a simples viagem. Também pressupõe viagens "descoladas", ou seja, sem horários rígidos de saída e chegada e às vezes até sem itinerário muito definido - já fui pegar carona para um lugar e acabei em outro... Enfim, é um grande aprendizado de vida. Como fazer o orçamento para uma viagem de baixo custo? Meu sistema sempre foi o do "cálculo inverso". Explicando: não calculo quanto de dinheiro preciso para fazer uma determinada viagem, mas sim quanto posso gastar por dia de viagem com o dinheiro que tenho. Esse é meu orçamento! Se tenho condições de gastar 300 dólares, então vejo quantos dias posso ficar dividindo essa quantia pelo gasto mínimo diário. Com 30 dólares por dia, dá pra se virar bem então, eu poderia, nessa hipótese, viajar dez dias. Se conseguir gastar menos, fico mais. Vou sempre dosando a economia diária, mas também sempre compensando com alguns prazeres mais custosos típicos do lugar. Qual o conselho para quem pensa em fazer esse tipo de viagem, como se programar? O melhor é não se programar muito. Ponha coragem e disposição na bagagem, procure viver como vivem os locais (e não como turista) e boa viagem!

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inesperada à Bolívia. “Sair da rotina, conhecer novos lugares, pessoas com outros valores, ter novas experiências” são suas motivações. Para ele, só podemos conhecer um lugar de verdade quando temos a liberdade de ir para onde quiser e quando quiser. Ele defende que “o dinheiro é bem gasto se investido em viagem de mochileiro, então viajar de mochila é investimento, viajar em pacote turístico ('prisão turística'), é gastar dinheiro.”

Viajantes brasileiros no Brasil Já que tantos jovens navegam por outros mares, por que nem todos mergulham de cabeça no Brasil? O editor Zizo tem a impressão que europeus têm mais a cultura mochileira na veia do que nós, brasileiros. “A cultura mochileira é bem mais forte entre os anglo-saxões. Os brasileiros ainda estão no roteirão colégiofaculdade-estágio-formatura-trabalho-casamento, abrindo poucas brechas neste esquema para olhar para outros lados”, diz. Ele nos abre os olhos para uma questão-chave verde-eamarela: “Os brasileiros precisam conhecer o Brasil – e não apenas o litoral”.

A Hostelling International (HI) era antes a International Youth Hostel Federation (IYHF). Os hostels prezam pelo sentimento de solidariedade e o desejo de viajar. Ser alberguista é, sobretudo, amar a liberdade, dignificar a convivência humana e o respeito. São mais de 4 mil albergues espalhados por 70 países. Mais nos sites: http://www.hostel.org.br/pg.php e http://www.hihostels.com/


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Cinco itens essenciais da mochila Documentos! Não importa onde, você precisará provar que você é você. Se for para o exterior, lembre-se do passaporte.

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Um guia de viagens. Não é porque você está viajando ao léu, sem um roteiro prédefinido que você precisa negligenciar informações básicas sobre o destino. Lembre-se: liberdade não quer dizer irresponsabilidade.

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Faça um seguro de viagens, pois poderá contar com assistência médica onde estiver. Se tiver um imprevisto ou um acidente, você dará graças por ter esse seguro.

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Um bom livro é uma ótima companhia para os eventuais momentos de tédio.

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Coragem. Não cabe na mochila, mas é o item mais importante para qualquer um.

O Couch Surfing prima pela criação de um mundo melhor, buscando a interação internacional, fomentando a consciência coletiva e o entendimento cultural. O que você precisa para participar desse surfe? Um sofá para abrigar viajantes na sua terrinha, que também o acolherão quando você precisar. Mais no site: http://www.couchsurfing.org/

Na onda de tantos viajantes, uma coisa é certa: quem vira mundo, vira jovem. Ao se despir de tantos compromissos quadrados, na correria do dia-a-dia, o viajante resgata sua juventude Uma boa dica é Bonito, cidade localizada a 300 quilômetros de Campo Grande (MS), que recebe grande número de turistas (boa parte deles mochileiros). Pessoas das mais diversas regiões do mundo já marcaram presença na cidade que já diz tudo só pelo nome. Ronaldo Mendoza, agente de Turismo, conta que Bonito é um dos destinos preferidos de quem está em busca de aventura e contato com a natureza. “O lugar é rico em beleza, fauna, flora, gastronomia e oferece diversas opções para quem quer se aventurar com trilhas ecológicas e esportes radicais”, afirma. Os aventureiros encontram albergues aconchegantes e diárias em conta. O valor varia entre R$ 25 e R$ 38 dependendo da época. Europeus e paulistanos com idade entre 17 e 30 anos são a maioria no hostel. Na onda de tantos viajantes, uma coisa é certa: quem vira mundo, vira jovem. Ao se despir de tantos compromissos quadrados, na correria do dia-a-dia, o viajante resgata sua juventude, seu ímpeto de curiosidade e seu espírito de liberdade. Nem é preciso ter tanta grana, como provam as histórias narradas. É preciso ter coragem e virar o mundo. Se, por enquanto, não for possível estrear o passaporte – só é permitido se enredar sozinho por aí a partir dos 18 –, os jovens podem cruzar o Brasil, que já é um País continental, com diferentes culturas de Norte a Sul.

* Integrantes dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 24 Estados do País (al@revistaviracao.org.br, pr@revistaviracao.org.br e ms@revistaviracao.org.br)

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IMAGENS QUE VIRAM

DE PARAISÓPOLIS À CONSOLAÇÃO Grupo de adolescentes comunicadores visita a Avenida Paulista e registra suas impressões sobre a região

Jéssica Teixeira, Cheila Britto e Maíra Soares, do jornal Comunidade em Ação

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aímos de Paraisópolis, comunidade na zona sul de São Paulo, às nove horas da manhã, rumo à Avenida Paulista, no centro da cidade. Durante o percurso, no ônibus Princesa Isabel, fizemos algumas entrevistas e tiramos fotos. Tivemos uma pequena “dificuldade”, pois o ônibus balançava muito, então tínhamos que nos segurar e fazer a entrevista ao mesmo tempo. Quando chegamos à Paulista, nos dividimos em duplas, e aí entrevistamos mais pessoas, como consultores, faxineiros, jornaleiros, executivos e estudantes. E claro, recebemos vários “nãos”, mas faz parte. Fomos à livraria Fnac, depois ao parque Trianon, e então seguimos para o Museu de Arte de São Paulo (Masp), que fica em frente ao parque. Quando saímos do museu, continuamos nossa caminhada na Avenida Paulista. Fomos conhecer a redação da Viração, um lugar muito legal. É bem a cara dos jovens. E ganhamos a edição da revista que tinha uma matéria escrita pela gente. Nossa última parada foi no metrô Consolação. Algumas pessoas de nosso grupo nunca haviam entrado no metrô. O nosso dia foi muito bom! A Paulista é complexa e mágica, por sua arquitetura e por ser o centro financeiro. Com certeza, quem nunca foi à Avenida Paulista deve se impressionar com o volume de pessoas que circulam por lá e o trânsito. V

Uma pausa no Parque Trianon

Outro olhar sobre o espaço cultural Casa das Rosas

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Arte urbana no cruzament

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Solidão

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Rango da terrinha

e b a r á o r e p m Te Elisângela Nunes, da Redação

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Ingredientes 250 gramas de trigo para quibe 3 cenouras grandes 1 xícara de chá de cheiro-verde picado 2 colheres de sopa de hortelã picada sal a gosto 1 colher de sopa de azeite óleo para untar a assadeira Tudo Saboroso

Modo de preparo Ponha o trigo de molho na véspera. Na hora de fazer, escorra, apertando bem as mãos para extrair toda a água. Rale as cenouras no ralador fino. Misture o trigo, as cenouras, o cheiro verde, o sal e a hortelã. Ponha o azeite e misture com as mãos para obter uma massa bem homogênea. Unte uma assadeira com óleo, ponha a massa de trigo, aperte-a com as mãos, alise com um pouco de azeite, faça riscos com uma faca e leve ao forno por 20 minutos. Se ficar seco, regue com mais azeite.

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The Veg

gie Kitch

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uitute típico de países do Oriente Médio, como Líbano, Síria e Iraque, o quibe também faz parte da culinária de todo o Brasil, trazido pelas mãos de imigrantes no século 19. É também comum no norte da África, na Turquia, na península arábica e em parte do Cáucaso, como na Armênia. A palavra quibe se originou de kubbeh, que em árabe quer dizer “bola”. O quibe se baseia na mistura de trigo integral com carne e especiarias. Ele pode ser servido frito, cru ou assado. No Oriente Médio, a carne de cordeiro é a mais utilizada no preparo do quibe, prato tradicional da gastronomia do oriente. No Brasil, a carne bovina prevaleceu. O formato, o tamanho e os ingredientes variam muito nos diferentes tipos de quibes. Normalmente, o quibe é acompanhado por homus tahine, pasta feita de sementes de gergelim. A versão de quibe que apresentamos a seguir é a vegetariana, que leva cenouras. A receita é leve, saudável e fácil de fazer. Bom apetite!

Como fazer o Quibe vegetariano

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No Escurinho

Fala, tu Sérgio Rizzo, crítico de cinema Fotos: Divulgação

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a primeira cena do documentário Contratempo, dirigido por Malu Mader e Mini Kerti, vemos diversos jovens chegando à sala de ensaios do projeto Villa-Lobinhos, no Rio de Janeiro. Como seria natural esperar de moças e rapazes daquela idade, eles são barulhentos. Enquanto se cumprimentam e conversam, ouvimos também os sons dissonantes de instrumentos sendo afinados ou “aquecidos”. Por fim, a ordem se instala. Disciplinado, o grupo toca a canção Abertura do Circo, do espetáculo O Grande Circo Místico, de Chico Buarque e Edu Lobo. Até mesmo quem não tem o ouvido musicalmente “educado” notará que a execução carrega várias imperfeições, mas o filme dá a entender que esses detalhes são secundários. Como percebemos em seguida, o objetivo do projeto Villa-Lobinhos não é criar prodígios para integrar orquestras do País ou do exterior – embora alguns de seus bolsistas demonstrem, nos depoimentos colhidos em 2006, sonhar com essa perspectiva de profissionalização. Não estamos, contudo, diante de uma produção “chapa branca”, de caráter institucional, que aplaude a benemerência do projeto por meio de seus resultados. Contratempo se dedica a investigar quem são esses jovens -- suas origens, sentimentos, crenças e desejos. Ao fazer isso, Mader e Kerti se aproximam do que promovem outros documentários brasileiros recentes, também voltados para extratos da população jovem do País, como Fala Tu (2003), de Guilherme Coelho e Nathaniel Leclery, e Pro Dia Nascer Feliz (2006), de João Jardim. Para os personagens desses filmes, as coisas nem sempre saem de acordo com o que se planeja. Às vezes, dão muito errado. Em alguns casos, como o da trajetória mais dramática entre os jovens de Contratempo, o sonho termina de forma violenta, e não só para a vítima, mas também para o espectador, que sente na poltrona a forte pancada da realidade.

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LUGAR PARA CRESCER Texto e foto: Rafael Stemberg, da Redação

Centro de Defesa das Crianças e do Adolescente promove atividades que conscientizam a comunidade sobre seus dir eitos

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ndréia* estuda de manhã e toda quinta-feira à tarde, quando volta da escola, caminha 35 minutos para chegar a uma das unidades do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca) em São Paulo. Aos 13 anos e na 5a série, a garota tímida e moradora da região da Luz, no centro da cidade, diz que sua atividade preferida é a pintura. “Por isso gosto daqui”, referindo-se ao espaço de recreação do local. Existente há 12 anos, o Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Sé é um dos projetos filiado à Associação de Apoio às Meninas e Meninos da Região Sé (AAMM), que atua em diversas frentes sociais como auxílio a adolescentes mães e profissionais do sexo jovens. Enquanto projeto, durante seis anos, a Viração fez parte da AAMM. A missão do Cedeca é atuar na prevenção e defesa de todos os tipos de violação de direitos humanos e manifestações de violência contra a criança e adolescente. As famílias atendidas estão em situação de risco pessoal e social, e geralmente têm moradias de alta vulnerabilidade e risco, como ocupações, cortiços, comunidades e pensões. Funciona de segunda a sexta, durante todo o dia. “O Cedeca é um local que respeita os direitos à igualdade. Aqui procuramos fazer com que as pessoas consigam adquirir sua dignidade”, conta a educadora social Sonia Conceição Ramos, que trabalha há três anos no espaço. Mônica, de 10 anos, também vai toda quinta e entende que o lugar é uma extensão de sua educação. “Estou aprendendo bastante e quando eu crescer não farei as coisas erradas”. Sua amiga, Simone, 11 anos, completa: “Pra mim o legal é que eles ensinam a gente sobre

drogas, violência...” Ela conta que conheceu o lugar porque a mãe do Bruno, que estava ao seu lado durante a visita da Vira, contou à mãe dela. “Daí pedi para ela me trazer aqui”. Os moradores da região conhecem o local como a “Casa 20”, em referência ao número do prédio. Nas oficinas pedagógicas direcionadas às crianças, adolescentes e jovens da comunidade, a equipe composta por educadores sociais, assistente social, psicóloga e advogado entra em contato com o universo individual e contexto social de cada família, de onde se desdobram os atendimentos psicossocial e jurídico, realizados em outro prédio da mesma rua. As atividades pedagógicas e informativas também servem como meio de aproximação e criação de vínculos com estas crianças e adolescentes, que se mostram muito “desconfiados” e raramente contam sua história real. “Com o tempo de frequência estes adolescentes elegem um profissional como referência, e aí contam sua verdadeira história. Eles vêm de famílias que estão na mesma situação de vulnerabilidade e que por motivos diversos, 'expulsam' estas crianças e adolescentes de casa, por meio de movimentos de exclusão muitas vezes marcada pela violência psicológica e física, e em alguns casos, sexual”, diz a psicóloga Ana Claudia Lima. Crianças e adolescentes em situação de rua também participam dos projetos realizados no Cedeca. Alguns chegam ao local por conta dos plantões que os educadores fazem pela região central de São Paulo, já outros vão por conta do boca-a-boca. Sonia se anima ao dizer que o trabalho com os adolescentes em situação de rua é o que mais lhe agrada. “Ao chegarem, primeiro eles fazem a higienização pessoal, depois realizam uma atividade pedagógica e, em seguida, fazem

Adolescen tes partic ipam de o sobre que ficinas e stões soc debates iais no Ce deca Luz

a refeição”, fala a educadora. Ataíde França, também educador social, afirma que no Cedeca ele tem a possibilidade de fazer o trabalho de maneira autônoma, de acordo com a necessidade ou situação do grupo em que está atendendo, sempre com o acompanhamento pedagógico. “Essa troca de conhecimento que acontece nas oficinas é importante, pois possibilita o desenvolvimento deles como cidadãos.” V * os nomes das crianças entrevistadas foram trocados

O Cedeca Sé Sé funciona de segunda a sexta, das 9h às 18h Rua Djalma Dutra, 70/20 Luz – São Paulo/SP Tel. (11) 3229 3935/4045

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Manda Vê Luciano de Souza e Simone Nascimento, do Virajovem São Paulo (SP)*

A Marcha Mundial pela Paz e pela Não-Violência é um movimento que pretende alertar a sociedade sobre a grande quantidade de armas existentes no mundo. Lançada em 2 de outubro, dia do nascimento de Gandhi e declarado pelas Nações Unidas como “Dia Internacional da Não-Violência”, a campanha irá percorrer 90 países e 100 cidades em 90 dias, totalizando 160 mil quilômetros por terra. Criada pelo Movimento Humanista, organização que tem como principio divulgar a mensagem da prática da

não-violência e a não-discriminação, a Marcha Mundial ganhou a adesão da sociedade e dos movimentos sociais, de políticos, personalidades e empresas do setor privado. Durante o percurso serão realizados fóruns, festivais e eventos culturais. Essa grande passeata terminará na América do Sul e passa pelo Brasil em dezembro. Os participantes da Marcha sabem qual a paz ideal que eles buscam, mas e você...

Qual a sua paz ideal? Júlio César Pedroso, 26 anos, Rio Claro (SP) “Não consigo pensar em paz apenas como uma ausência de violência, como vemos nos discursos políticos e da sociedade em geral. Para mim, falar em paz é falar numa cultura criada de respeito ao ser humano, é falar em direitos humanos, em direitos básicos de sobrevivência e em respeito e vivência da diversidade. Tudo isso passa não só pela ideia e pelo discurso, mas também pelas vivências, o que inevitavelmente gera conflitos. Conflitos esses que são indispensáveis para entendermos nossos limites quanto a esse respeito”.

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Thais Oliveira, 17 anos, São Paulo (SP) “A paz ideal é ter plena convicção do que se quer e onde se quer chegar com isso, para assim poder ir além e conseguir mais entre as pessoas. Estando em paz, consegue-se dar e proporcionar a paz aos outros. Essa é a minha paz, a espiritual e a interior”.

* Integrantes de um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 24 Estados do País (sp@revistaviracao.org.br).


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Rafael Biazão, 19 anos, São Paulo (SP) A paz ideal seria aquela onde as pessoas respeitassem e se sentissem respeitadas. Que não tivessem medo de amar, e nem de ser amadas. Que o hoje fosse um ambiente que nos permitisse sonhar com o amanhã. Fazendo valer o verdadeiro significado da palavra paz: calma, tranquilidade, sem violência”.

Mariana de Oliveira Cabral, 18 anos, São Bernardo do Campo (SP) “O mundo nunca vai viver em paz. Impossível levarmos uma vida sem nenhum tipo de caos. Até a perfeição, depois de um momento, se torna caótica. Porém um mundo ideal, com a chamada ''paz'', seria um lugar onde as pessoas aceitassem as diferenças, não só de etnia, cultura e religião, mas de princípios e personalidades”.

Denis Camacho Marchello, 15 anos, São Paulo (SP) Na minha opinião nunca iremos alcançar a paz ideal. Paz pode ser muitas coisas, mas ao falar de paz lembramos sempre de guerra, que é um confronto de ideias. Quando todos concordarem com tudo o que você disser, você não terá conflito algum, estará na paz ideal. Assim como você pode discordar disso, sabemos que ainda não consegui minha paz”.

Elionai Rodrigues, 23 anos, Governador Valadares (MG) “A paz ideal é aquela em que tudo é de real espírito... A nossa paz é importante para ter a mente no lugar e o coração tranquilo. Só assim a paz do mundo seria possível. As pessoas iriam respeitar o próximo! Paz ideal pra mim é viver uma vida longa com saúde e felicidade ao redor do mundo”.

ento Humanista O site do Movim aixar) ra downloads (b disponibiliza pa eiras de amentos e man livros com pens obras é s da ia erra. A maior gu m se z pa a to se buscar or do movimen gentino e fundad lo, Si o m co assinada pelo ar o id bos, conhec Co s ue ig dr Ro Mario Luis pirituais e de ar mensagens es famoso por pass violência ativa de propor a nãos meditação, além o mundo, muita ação. Em todo se como forma de os ic polít ciais e partidos . organizações so ra se articularem pa lo Si de as vr la pa s na inspiram url.net/jb Confira: http://ty

Faz Parte

Novaes

Muitas figuras fizeram a diferença na luta pela paz mundial. A mais conhecida foi Mohandas Karamchand Ghandi, líder espiritual e pacifista. Gandhi, nascido na Índia, era contra a violência e defendia maneiras diferentes de protesto, sem a necessidade do uso de armas. A prática do jejum e retiros espirituais eram alguns dos exemplos utilizados por ele. Quando foi assassinado em 1948, por um extremista hindu, passou a ser chamado de Mahatma (em sânscrito “grande alma”) Gandhi e ganhou seguidores em todos os cantos do planeta. Revista Viração • Ano 7 • Edição 58 32


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MobilizaçãO URBANA Comunidades discutem melhorias para crianças e adolescentes dos centros urbanos

Adolescentes Comunicadores da Plataforma dos Centros Urbanos (PCU)*

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dolescentes de São Paulo e Itaquaquecetuba (SP) participaram, nos últimos três meses, de fóruns comunitários para a melhoria de suas comunidades. O fórum foi a primeira oportunidade das meninas e meninos que integram a Plataforma dos Centros Urbanos (PCU)**, e seus respectivos Grupos Articuladores, discutirem, junto às suas comunidades, possíveis soluções para os problemas que enfrentam as crianças e adolescentes que ali vivem. Ao todo, foram realizados 46 fóruns comunitários e os adolescentes se destacaram. Além de realizarem coberturas jornalísticas para produzir matérias (assim como este texto que você lê aqui na Vira), eles também foram responsáveis pela “consulta”, processo pelo qual saíram a campo para realizar uma conversa organizada com crianças e adolescentes sobre suas realidades. Os resultados foram compartilhados ao longo dos fóruns, que elegeram as prioridades de atuação na região. Leia a seguir o que rolou em alguns fóruns.

Jardim Keralux discute em fórum melhorias para crianças e adolescentes

**A Plataforma dos Centros Urbanos (PCU) é uma iniciativa do Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef), desenvolvida com diferentes parceiros, que tem como objetivo melhorar a qualidade de vida e garantir os direitos das crianças e dos adolescentes que vivem nas grandes cidades. A Plataforma está sendo implementada inicialmente nas cidades de São Paulo e Itaquaquecetuba (SP) e Rio de Janeiro (RJ), com duração prevista até 2011. Os chamados adolescentes comunicadores são membros das comunidades que integram a PCU e são responsáveis por auxiliar na mobilização comunitária para a conquista das metas e comunicação de ações realizadas no âmbito de suas comunidades.


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Força do processo Confira abaixo a entrevista com Renato Nascimento e Ana Paula Corti, assessores da Ação Educativa. Qual é a importância de um Fórum Comunitário no âmbito da Plataforma dos Centros Urbanos? A Plataforma dos Centros Urbanos é um processo de construção dinâmico e o Fórum Comunitário foi uma das etapas desta construção. Os Fóruns foram encontros nas comunidades que reuniram pessoas de diferentes grupos, organizações e segmentos para discutirem a situação das crianças e dos adolescentes. O Fórum gerou uma avaliação coletiva e a eleição de seis prioridades, e com base nisso, cada comunidade envolvida na Plataforma vai elaborar um Plano de Ação. Qual é o papel da Ação Educativa neste contexto? A Ação Educativa é parceira da Plataforma e contribuiu desenvolvendo a metodologia dos Fóruns Comunitários. Além disso, capacitamos os mediadores e acompanhamos o processo de implementação nas comunidades. Acreditamos na força dos processos participativos na luta pelos direitos, pois eles mobilizam pessoas, propiciam o diálogo entre os diferentes e apostam nos cidadãos como sujeitos do processo. Quais foram os principais resultados e pontos mais marcantes na sua opinião? Três pontos merecem ser destacados. Os Fóruns propiciaram o diálogo entre poder público e sociedade civil, algo que não faz parte da nossa cultura política e precisa ser aprofundado. Um segundo ponto foi a heterogeneidade de públicos que o Fórum reuniu, o que gerou uma riqueza nas discussões e nos resultados. Finalmente, percebemos que o processo dos Fóruns também fortaleceu os grupos articuladores locais, dando maior visibilidade à sua atuação e à pauta dos direitos das crianças e dos adolescentes.

*Este texto foi produzido de forma colaborativa com os adolescentes e jovens da PCU- SP: Nayara Lima, Daniela dos Santos, Mauri de Sales, Ayrton Rodrigues, Alisson Rodrigues, Mario Henrique da Silva, Alexandre Rocha, Bianca de Souza, Estefánia Souza, Paulo Pereira, Janaina Leonardi , Gabriel Henrique, Karina Araujo, Laudiceia Bezerra ,Willian Marques, Felipe Batista Thiago Almeida, Daiana Paixão, Monique Francis ,Cássio Góes, Michel Santos, Gutierrez Silva, Francielly Sales ,Catarina Ferreira,Taiguara Cruz , Eduardo de Lima , Silvia Ariel, Agda Bravos, Cleber Souza, Lucas Pontes, Thais Ferreira, Shirley Serôdio, Ana Karoline Lins, Karina Batista, Elaine Vieira, Paulo Mateus , Ana Inez Pereira, Michel Sanabio, Odara Toledo, Erick Cruz, Kariny Sopranzi, Fabiana da Cruz , Nair Moraes, Laís Carvalho, Jéssica Idalina ,Gilvan de Brito , Donizete Silva, Karine Lima, Márcio Severo, Carolina Sena, Aldo Santos, Cesival Batista, Giovane de Souza , Joice Araujo.

na comunidade Crianças pedem melhorias para o Instituto União Keralux (Inker) Catarina Ferreira, adolescente comunicadora do Jardim Pantanal

Para a melhoria da comunidade do Jardim Keralux, na zona leste de São Paulo, foi realizado um fórum comunitário da Plataforma dos Centros Urbanos no dia 16 de novembro, no Instituto União Keralux (Inker). Na ocasião, os participantes apresentaram os resultados da consulta (pesquisas) feitas com crianças e adolescentes. Definitivamente o fórum rendeu. E quem disse que o fórum serviu somente para adolescentes e adultos? Crianças com média de 10 a 12 anos também opinaram. A questão que mais provocou reação neles foi tópico 'Aprender', que envolve questões ligadas à Educação. Uma das metas citava a participação de alunos em grêmio estudantis. A maioria concordava que o grêmio funcionava até o momento em que um dos Adolescentes Comunicadores exclamou: “Aqui nem grêmio existe! Na escola a diretoria não concorda com a opinião dos alunos então, só tem grêmio para dizer que tem”, disse. O fórum acabou, mas agora todos estão cientes de seus deveres como cidadãos e ansiosos para provar o poder da comunidade junto com a PCU. “Transformação no Clímax.” É o que querem os moradores da comunidade. Leonardo Belo da Silva e Diego Gomes de Moraes, adolescentes comunicadores de Heliópolis

O Fórum Comunitário na comunidade Jardim Clímax aconteceu no dia 14 de novembro e reuniu 45 pessoas, entre elas membros da comunidade, adolescentes, pessoas que trabalham com infância e juventude, poder público e representantes de ONGs. Carla Cristina Silva, enfermeira da comunidade e participante do Grupo Articulador do Clímax, contou o que mais chamou sua atenção: “Foi muito legal o envolvimento dos adolescentes, porque eles também deram suas opiniões”, disse. Poder público e sociedade civil juntos em Itaquera Kariny Sopranzi e Fabiana da Cruz, adolescentes comunicadoras da Parada XV de Novembro

O primeiro fórum comunitário da Plataforma dos Centros Urbanos (PCU) em Itaquera, zona leste, foi concluído com sucesso no dia 15 de outubro. Importantes membros da comunidade como a Dona Benedita, que trabalha na Unidade Básica de Saúde (UBS) do seu bairro, não deixaram de contribuir. “Se todos vestirmos a mesma camisa, podemos juntos melhorar nosso bairro”, disse a líder. E como a PCU conta com a participação do poder público, também esteve presente o subprefeito de Itaquera, Laert de Lima, que além de auxiliar a comunidade nas soluções dos problemas, cedeu o lugar para realizar o fórum, ali mesmo na Subprefeitura de Itaquera. Daqui pra frente, a comunidade terá muito trabalho, mas com certeza, com a ajuda coletiva, a vida de todos vai melhorar. V

Revista Viração • Ano 7 • Edição 58 30


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Que Figura!

o r i e r r e u G s a m r a m e s Renan Cegatto, Evelyn Pereira, Leonardo da Silva, Mayara Mantovani, Wagner Oliveira Filho, Beatriz da Costa Balduino (Adolescentes do Projeto Cidadanias/ TABA – Espaço de Vivência e Convivência do Adolescente), do Virajovem Campinas (SP)*, Luciana Bittencourt e Virgilio Paulo Alves, educadores

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a noite de uma quinta-feira, dia 4 de abril de 1968, na cidade de Memphis, no Tennessee (Estados Unidos), o hospital Saint Joseph declarou que Martin Luther King havia morrido. Ele foi atingido por um único e fatal tiro de rifle, disparado a uma distância de 50 a 100 metros, momentos antes de uma marcha. O ativista estava na varanda do segundo andar do Hotel Lorraine, onde estava hospedado. A filosofia de vida de Martin Luther King, como seguidor de Mahatma Gandhi, era baseada nos princípios da nãoviolência. Por isso, o ativista lutava sem armas, pacificamente. Ele nasceu em 1929, em Atlanta, em um período de grande segregação entre negros e brancos. Graduou-se em 1948 em Sociologia. Em 1954, tornou-se pastor da Igreja Batista em Montgomery, no Alabama. O primeiro grande êxito de Martin Luther King como ativista aconteceu em 1955, quando organizou junto a líderes

negros de Montgmery um boicote aos ônibus da cidade, por conta de um episódio de discriminação racial. O boicote foi motivado pela prisão de uma mulher negra, que se negou a dar seu lugar em um ônibus para uma mulher branca. Durante essa campanha, que teve a duração de 381 dias, muitas ameaças foram feitas contra a sua vida. Ele foi preso e viu sua casa ser atacada. O ativista era odiado por muitos segregacionistas do sul dos Estados Unidos. O boicote foi encerrado com a decisão da Suprema Corte Americana em tornar ilegal a discriminação racial em transporte público. Ele também organizou e liderou marchas pacíficas para conseguir o direito ao voto, o fim da segregação, o fim das discriminações no trabalho e outros direitos civis básicos. A maior parte destes direitos foi, mais tarde, agregada à lei estadunidense. Em 1963, Martin Luther King fez em

Novaes

ou político estadunidense, lut Martin Luther King, ativista nhava gros e das mulheres. Ele so pelos direitos civis dos ne ra esse liberdade e justiça pa com um mundo onde houv nidade rcada na História da huma todos. Sua figura ficou ma violenta como símbolo da luta não-

Washington, capital dos Estados Unidos, o discurso I Have a Dream (Eu tenho um sonho), que se tornou mundialmente conhecido. No discurso, ele dizia que negros e brancos precisavam ser unidos, para que no futuro pudessem viver em paz. Vários trechos são lembrados até hoje: “Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!”. Sua ação foi reconhecida com o Prêmio Nobel da Paz em 1964, tornando-se a pessoa mais jovem a receber o prêmio, em reconhecimento à sua liderança na resistência nãoviolenta e pelo fim do preconceito racial nos Estados Unidos. Em 1986, foi estabelecido um feriado nacional nos EUA para homenagear o ativista, o chamado Dia de Martin Luther King. V

* Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 24 Estados do País (sp@revistaviracao.org.br)

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Capa

De porta em porta contra a aids Se o problema é o jovem não ir ao posto de saúde buscar informações sobre dsts, tem quem vá até eles; do outro lado, dados do Ministério da Saúde mostram que preconceito com quem vive com HIV ainda é grande

Maria Camila Florêncio, do Virajovem Recife (PE)* e Weslei Vicente Silva, do Virajovem Lavras (MG)*; Micaela Cyrino e Rafael Stemberg, da Escuta Soh!

C

om objetivo de envolver os jovens nas ações para divulgação sobre os direitos sexuais e direitos reprodutivos, a ONG Reprolatina criou em 1996 um projeto piloto que capacitou adolescentes, jovens e educadores na cidade de Santa Bárbara d'Oeste (SP) para realizar o trabalho de prevenção em algumas regiões brasileiras. Dois anos depois, após 64 participantes iniciarem o projeto, foi pensada a criação de uma rede de adolescentes e jovens para atuarem como Vigilantes da Saúde e dos Direitos Sexuais Reprodutivos, uma espécie de fiscais da saúde. A proposta dessa rede era desenhar e implementar uma estratégia de complemento à Política Nacional de Saúde Sexual, do Ministério da Saúde. Para isso, a Reprolatina selecionou jovens de diferentes organizações e localidades, como Pernambuco, Minas Gerais e Rio de Janeiro, e iniciou em 2008 ciclos de capacitação e atividades, realizados em Campinas (SP). “Esta capacitação foi um pouco complicada porque eu nunca tinha saído de casa sozinho. Imagine assumir uma responsabilidade desse tamanho! Sem contar que eu era muito tímido. Mas, o tempo foi passando, eu fui me ambientando e quando dei por mim, já estava entrosado com o pessoal e discutindo os direitos sexuais e direitos reprodutivos”, diz Weslei Vicente Silva, que participa do projeto em Minas Gerais. Após a formação, os participantes voltaram para suas cidades com a missão de difundir a política nacional e fazer um diagnóstico sobre a saúde do adolescente e jovem. Começaram buscando informações sobre os serviços e projetos desenvolvidos na área. Foi elaborado um breve roteiro que

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questionava desde a estrutura até a distribuição de métodos contraceptivos e atividades educativas específicas para esse público. Em seguida, os participantes apontaram as dificuldades de trabalhar com o tema em cada região. Em Recife (PE), nem a Secretaria Municipal de Saúde e nem à época Gerência de Juventude (agora secretaria), possuíam algum projeto. Também foram visitadas duas Unidades Básicas de Saúde (UBS), ambas na zona norte, que são do Programa de Saúde da Família (PSF), conhecidos como postos de saúde. Segundo os funcionários que foram ouvidos pela reportagem, não existe um atendimento específico e nem um horário diferenciado para os jovens, mas que eles podem receber métodos e serem atendidos sem a presença dos pais. Realidade diversa da rede básica de saúde de São José dos Campos (SP), cidade também participante do projeto, onde a contracepção de emergência (ou “pílula do dia seguinte”) é disponibilizada a partir dos 15 anos. De acordo com os moradores dos postos visitados em Recife, na região são realizadas poucas atividades educativas, mesmo sendo ações dos Agentes Comunitários de Saúde e dos enfermeiros que compõem uma ou mais equipes presentes em cada posto. Em um deles, um funcionário que não quis se identificar disse que só realizavam atividades quando a comunidade solicitava. De todos os funcionários ouve-se a queixa de que os próprios adolescentes e jovens não procuram o serviço. Já os adolescentes dizem que não se pode confiar nos agentes comunitários, já que esses agentes são moradores da comunidade onde atuam e, por isso, próximos à família dos jovens, o que gera desconfiança no compartilhamento de


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Para cada 15 casos de homens com HIV, existem 10 mulheres soropositivas.

41,7% é a redução que o Brasil teve nos casos de transmissão vertical quando a mãe transmite a doença para o filho na gravidez. Entre os jovens, de 13 a 19 anos, as meninas são quem apresentam mais registros: 10 para cada 8 meninos.

Vigilantes fazem diagnóstico dos serviços de saúde

informações sobre sexo. A confidencialidade é um direito garantido pela política nacional. Os representantes de Belo Horizonte voltaram à cidade, após a capacitação em Campinas, com a ideia de promoverem um seminário sobre sexualidade para estudantes do Ensino Médio e que mobilizou mais de 100 professores e instituições ligadas à área da saúde em sua realização. Tanto nesse seminário como em outras ações, constatou-se que as pessoas têm poucas informações sobre HIV/aids. “Tenho orgulho em dizer que sou um Adolescente Vigilante dos Direitos Sexuais e Reprodutivos”, conclui Weslei, que pretende continuar fazendo sua parte pelo fim do preconceito. Com o preconceito não dá! Na última campanha do governo federal do Dia Mundial de Luta contra a aids, que acontece em 1º de dezembro, chamou a atenção da mídia um dos filmes exibidos nas emissora de televisão. Com duração de 30 segundos, a campanha mostra um casal sorodiscordante (quando só uma das pessoas tem o vírus) se beijando. A ideia era mostrar ser possível essa vivência entre as pessoas. No entanto,

jornalistas levantaram a discussão sobre a possibilidade de contágio meio da saliva. Em nota divulgada no site do Ministério, Mariângela Simão, diretora do Departamento de DST, Em dados Aids e Hepatites, diz que a opção de usar o beijo como preliminares, de 1980 a 2009, o símbolo de aceitação foi feita com base em estudos e por País registrou falta de caso descrito na literatura científica sobre contágio 544.846 casos por saliva. “Ao contrário do que alguns veículos de de aids. comunicação noticiaram desde o lançamento da campanha, beijo na boca não transmite o vírus da aids. Líquidos corporais, tais como suor, lágrima e saliva concentram apenas anticorpos contra o HIV e partículas virais não infectantes (fragmentos de proteínas virais)”, informa o comunicado. O protagonista da campanha e integrante da Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/aids (RNAJVHA), Samir Amim, diz que aceitou participar porque acredita numa qualidade de vida mesmo sendo soropositivo e imaginou desde o início do convite que esse trabalho iria incomodar algumas pessoas. “No início da

A faixa etária com maior incidência de casos está entre 25 e 40 anos.

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Capa 60,9% dos adolescentes e jovens entre 15 e 24 anos afirmam usar camisinha na primeira relação sexual.

Os jovens são os que mais pegam preservativo no serviço de saúde: 37, 5%. Entre quem tem 25 e 49 anos, o percentual é de 27%.

epidemia, a mídia construiu uma imagem da aids ‘pré-conceituosa’. E é usando do mesmo recurso, a mídia, que desconstruímos a discriminação existente na sociedade, mostrando a vida e a verdade de viver com HIV/aids”. Mas a falta de informação sobre a doença vai além. Em 2008, o Programa de Nacional de DST e Aids do Ministério da Saúde entrevistou 8 mil pessoas em todo o Brasil para entender o tipo de comportamento delas ao encontrarem pessoas vivendo com HIV. A pesquisa mostra que casos de exclusão ainda persistem. Nas respostas apresentadas, 13% dos participantes abordados disseram que uma professora portadora do vírus não pode dar aulas em qualquer escola. 19% acreditam que se um membro da família contrair a aids, essa pessoa não poderia ser cuidada na casa da família. 22% afirmou que não se pode comprar legumes e verduras em um local onde trabalha alguém com o vírus. Além do beijo de Samir, outras manifestações de carinho foram produzidas para a campanha que teve o slogan “Viver com aids é possível,

com o preconceito não”. Em setembro, o artista plástico e fotógrafo Vik Muniz ao lado de 1.600 voluntários produziram mosaicos com figuras de casais selando a amizade e o amor. À Vira, Vik diz que resolveu contribuir com a causa porque ele mesmo não sabia como lidar com pessoas próximas a ele que tinham a doença. “Deixei de dar um beijo no meu amigo, que tinha HIV, por não entender bem a aids. Disso saiu a ideia das imagens reproduzidas no mosaico.” Dessa produção, saíram exposições, filmes para a TV e o site Todos contra o preconceito (www.todoscontraopreconceito), em que os internautas são convidados a participar com vídeos, fotos e textos passando mensagens de apoio a luta contra o HIV e seus estigmas.

HIV nos casos masculinos: 28% são homens que fizeram sexo com homens (HSH). Entre os declarantes homossexuais, o número é de 43,2% na faixa de 13 a 24 anos. 60,9% dos adolescentes e jovens entre 15 e 24 anos afirmam usar camisinha na primeira relação sexual.

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* Integrantes de Conselhos Jovens da Vira presentes em 24 Estados do País (pe@revistaviracao.org.br e mg@revistaviracao.org.br)

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Relatório da ONU Recentemente, o Programa Conjunto da ONU para HIV/aids (Unaids) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), também orgão da ONU, divulgaram relatório afirmando que o número de contágios do HIV pelo mundo teve redução de 17% desde o ano 2000. No entanto, 2008 foi o ano com o maior número de contaminações dentro desse intervalo de oito anos. A estimativa é de que existem 33 milhões de pessoas vivendo com HIV/aids em todo o mundo, sendo que 2,7 milhões contraíram a doença em 2008. O mesmo relatório elogia a atuação da América Latina, principalmente o Brasil, pelas políticas públicas de prevenção que realiza e que ajudaram a estabilizar o número de casos na região, que concentra 2 milhões de pessoas com HIV.

“Com o preconceito não dá!”: Mosaico produzido por Vik Muniz reproduz um beijo de casal, considerado símbolo de aceitação, acolhimento e da proximidade

Nas mulheres, a forma de contágio predominante é na relação heterossexual: 96,9% em 2007.

*Os dados apresentados nesta reportagem foram retirados de pesquisas do Ministério da Saúde (sobre Comportamento, Atitudes e Práticas Relacionadas às DST e Aids na População Brasileira de 15 a 64 anos e Boletim Epidemiológico Aids/DST 2009)

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r e t r Repó

Band

a r e l a G

Agência Na Lata/

e o d a g u l P e t n e r e v e irr

s alfineta: ernet e mídias sociais, ma Int r po do na cio afi é C, CQ web” Rafael Cortez, repórter do e não é tão válido assim na qu o e de rda ve de rve se e “É preciso diferenciar o qu Wellington de Oliveira, Paulo Henrique Neves, Danilo Gomes, Janaína Candido, Verônica Machado, Maria Lícia Farias, Maicke Barbosa da Silva, Lohanny Cristina Souza, do Conselho Jovem do Jornal Radcal; Régia Vitória, Silvia Bertoldo e Ionara Silva, do Virajovem Brasília (DF)*; Nayara Carvalho e Lilian Romão, da Redação Fórum Radcal de Mídia e Juventude, promovido pela Fundação Athos Bulcão, em Brasília (DF), que Rafael conversou com os jovens produtores de comunicação sobre democratização da comunicação, irreverência e cultura. Qual a importância do Fórum Radcal de Mídia e Juventude? Rafael Cortez: Fico muito mais empolgado nos meus encontros com pessoas de mídia, em debater mídia e aprender com elas, do que tentar trazer qualquer outra coisa. Juro por Deus. Sempre que participo, aprendo alguma coisa.

O que você acha dessa onda de todos poderem ser produtores de comunicação? Muito legal, só fico preocupado com o volume de informações produzidas, porque, mais hora menos hora, com a oferta de tantos blogs e twitters interessantes, me pergunto como vamos encontrar a seletividade pra diferenciar o que serve de verdade e o que não é tão válido assim. Às vezes, essa oferta me aflige, porque é muita quantidade e quero qualidade. Por sorte, até agora, acho que as pessoas são seletivas. Mas isso está crescendo tanto que um dia o blog

Linha do Tempo Com a turma da classe, no colégio Aristides de Castro

Descobrindo a paixão pelo violão clássico

Aos 4 anos de idade

1980 23 Revista Viração • Ano 7 • Edição 58

1984

1999

Apresentando o Prêmio Comunique-se, ao lado de Cid Moreira

Fotos: arquivo pessoal

E

le não para. Além de ser repórter do programa de televisão Custe o que Custar (CQC), da Band, o paulistano Rafael Cortez é ator, palhaço, músico e jornalista. Ele ainda encaixa tempo em sua correria diária para gravar áudiolivros de Machado de Assis (O Alienista, Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas), e participar de eventos sobre comunicação na era digital e, claro, para alimentar seu blog (http://rafael.cortez.zip.net) e twitter (@cortezrafa), que, diga-se, é bem popular – ele tem mais de 240 mil seguidores. Foi num desses momentos, durante o

2009


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Você é conhecido por seu jeito irreverente. Você acha que essa é uma forma de democratizar a mídia? Não sei. Essa é uma forma de trabalhar, nunca pensei que seria uma forma de democratizar a mídia. A minha irreverência veio no sentido de ser uma arma forte para eu poder me defender e sobreviver. Eu fiz faculdade de Jornalismo e confesso que não orientei minha vida para ser um grande jornalista. Achava que ia viver como músico e ator. E de repente me vi trabalhando avidamente como jornalista. Então tive que usar os meus trunfos e por isso a tal da irreverência é um trunfo. Mas então como você conceitua a democratização da mídia? Democratização da mídia é o que já está acontecendo. É o que está acontecendo aqui, por exemplo. É dar o poder da comunicação para quem precisa, para o jovem empreendedor, que está a fim. É instruir esse cara para fazer a coisa direito, para que ele não se perca nesse mundo de ofertas e coisas imprecisas que vão aparecer no caminho. Não basta formar jovens comunicadores, é preciso dar a eles subsídio para que possam trabalhar bem. Essa é a forma de democratizar. É um trabalho como esse aqui. Vocês do CQC fazem o programa do jeito que querem? Acho que existe um mundo real e um mundo dos sonhos. O mundo real é aquele em que vivemos como profissional e que todos vocês vão viver, ou já vivem profissionalmente. Nesse mundo existe um editor, uma corrente ideológica, um viés político, que você tem que seguir. Eu não acredito mais em imparcialidade jornalística. Eu chegava a pensar nisso no

início da faculdade. No primeiro semestre achei que poderia trabalhar como um jornalista de opinião, livre com as ideias, aquela coisa que não existe. Na prática, não é aquilo que gostaríamos que fosse de verdade. O CQC tem um privilégio muito grande de ir um pouquinho à frente disso. Tem muitas coisas que podemos fazer. Mas também tem muitas outras coisas que não podemos fazer. Porque nós temos chefes e representamos uma emissora grande em rede nacional. Mas não é algo que chega a ser frustrante. Temos uma liberdade ótima. Como você vê seu trabalho com os áudiolivros? Vejo meu trabalho com os áudiolivros do Machado de Assis como formação de opinião. Esse sim é um trabalho que acredito, embasado na literatura do maior escritor brasileiro. Eu uso a popularidade que ganho com o Orkut, twitter, blog, e também com o CQC, para fazer esse trabalho e outros futuros bombarem. Eu me utilizo das possibilidades democráticas da internet para fazer mídia em torno de coisas relevantes como o áudiolivro. Um dia, espero que eu possa publicar coisas recorrentemente, lançar discos, compor. Em outras palavras, sou bem marqueteiro nesse sentido. Eu não uso meu blog pra falar de mim e das minhas coisas. O blog do Marco Luque só tem a agenda dele. Eu ainda proponho textos e divagações, discussões, questionamentos. Mas não vou ser hipócrita de negar que meu twitter, blog e Orkut tenham função de divulgar trabalhos que eu faço. Desde que esses trabalhos estejam ligados com esse ideal que tenho como jornalista, como Rafael Cortez, de propagar inteligência, de fomentar cultura, de incentivar a galera a ler o Machado de Assis, e não necessariamente ler só Harry Potter. De ouvir o Villa Lobos e não só a Gracyanne do Tchakabum.

V

Agência Na Lata/Band

mais acessado pode não ser o do Marcelo Tas, que tem conteúdo, mas sim um mais cômico, menos informativo, menos interessante.

“Eu me utilizo das possibilidades democráticas da internet para fazer mídia em torno de coisas relevantes como o áudiolivro. Um dia, espero que eu possa publicar coisas recorrentemente, lançar discos, compor.”

* Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 24 Estados do País (df@revistaviracao.org.br)

Revista Viração • Ano 7 • Edição 58 22


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O Divino como Amigo

*, venceu A virajovem Leandra Barros, de Vitória (ES) tes dos concurso de vídeos produzidos por integran o foi participar Conselhos Jovens da Vira. Ela relembra com outubro de 2009 do Festival de Cinema Religion Today em

M

eu nome é Leandra, tenho 27 anos e sempre quis conhecer outro país. Essa oportunidade aconteceu quando ganhei um concurso de vídeos entre virajovens. O prêmio foi a viagem a Trento, na Itália, para assistir à exibição do vídeo no Festival Religion Today. O legal é que o tema proposto no concurso: “Como você se comunica com o Divino?” teve tudo a ver comigo. Mesmo assim não esperava ganhar! Tentei parcerias, mas fiz o vídeo sozinha e na última hora. Eu não tinha nem a ideia, nem a câmera. Foi conversando com o Divino e atenta às respostas, que, num total de quatro horas e meia, consegui câmera emprestada, gravei e editei, e 15 minutos antes de acabar o prazo, o Em busca d’O ELO perdido foi enviado.

Na Itália... Lá fomos eu e Bruna Salgueiro, da entidade parceira da Viração em Vitória, a Avalanche Escola de Missões Urbanas, e minha mãe, que empenhou as economias da aposentadoria para “corujar” a filha na Itália. Katia Malatesta, coordenadora do Religion Today, me entrevistou diante da plateia, uma forma de fazer as honras por lá. Ela pediu pra eu contar como convivemos com tanta diversidade de religião no Brasil. Falei que convivemos pacificamente, que, infelizmente, existem os preconceitos entre uma religião e outra, mas nada que nos leve a guerras. O tema do Festival, “Explorando a diferença”, me fez lembrar de tantos conflitos já causados por conta de credos e pedi para ler um texto sobre o amor, que considero ser a solução para amenizar a questão. Li I Coríntios 13, em italiano! Sara Ciorli, a intérprete, prima da esposa de Paulo Lima, coordenador-executivo da Viração, me ajudou. Foi um momento muito bonito. Recebi uma linda rosa de cobre de lembrança. Concluímos que quem tem boca, não vai só a Roma. Quem usa a boca para conversar com o Divino pode ir também a Trento e a qualquer outro lugar! *Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 24 Estados do País (es@revistaviracao.org.br)

Katia Malatesta, Sara Ciorli e Leandra Barros durante apresentação dos víde os

"Como você se comunica com o Divino?": é esta a pergunta que adolescentes e jovens procuraram responder por meio de vídeos de até três minutos no âmbito de um concurso e projeto colaborativo, que envolveu quatro organizações no Brasil e na Itália: Viração, Mostra de Cinema e Religião de São Paulo, Festival Internazionale di Cinema delle Religioni Religion Today e Associazione Jangada, ambas de Trento, norte da Itália. A iniciativa, destinada apenas aos integrantes dos 24 conselhos jovens, os Virajovens, da Viração, teve seu pontapé inicial desfrutando das novas tecnologias da informação e da comunicação por meio de um chat com a mediação de César Sartorelli, curador da Mostra de Cinema e Religião de São Paulo.

Assista ao vídeo Em Busca d'O ELO perdido (http://tinyurl.com/yaahdvw)

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Revista Viração • Ano 7 • Edição 58 21


parada social 58:Layout 1 21/12/2009 19:33 Page 19

Parada Social

É hora de contar

Alex Pamplona, do Virajovem Belém (PA)*

ninguém estimula que Projeto Eu nunca contei a ca discutam violência domésti rá Pa do s en jov e tes en sc adole

O

Movimento de Promoção da Mulher (Moprom), organização nãogovernamental de Belém (PA) que trabalha com a valorização da mulher, iniciou em 2005 o projeto Eu Nunca Contei a Ninguém, com foco na prevenção da violência doméstica. Os participantes desenvolvem atividades de vivência teatral e promovem intercâmbio e multiplicação em escolas como ferramentas educacionais. As arte-educadoras do projeto, junto com psicólogos e assistentes sociais, desenvolvem dinâmicas para facilitar o debate de questões relativas à violência doméstica e aos direitos da criança e do adolescente. A construção das peças tem como base a própria vivência dos alunos, os motivos e as consequências dos maus-tratos. A campanha de combate à violência doméstica ocorre nos bairros e municípios com maior incidência de casos. Ela envolve 110 adolescentes e jovens de 15 a 21 anos e cerca de 160 famílias das áreas atendidas. No município paraense de Barcarena, os jovens também desenvolvem atividade de fruticultura do cupuaçu, andiroba e mudas para reflorestamento. Essa ação acontece na sede do Moprom na cidade e conta também com a participação de alguns familiares. Já em Belém, as atividades de arte-educação e geração de renda acontecem nos bairros de Terra Firme, Guamá e na sede do Moprom. “Nosso objetivo é desnaturalizar a violência, buscando fortalecer o papel protagônico dos jovens, contribuindo para um novo olhar para o modelo participativo”, afirma Elzeleis Menezes, integrante da equipe do projeto. As atividades de geração de renda em Belém envolvem a produção de brindes sociais, com cursos de cartonagem e construção de poéticas visuais, em que os jovens desenvolvem produtos com folhas desidratadas. Os familiares destes jovens têm cursos de chocolate com recheios regionais e um curso de bolsas retornáveis, que contam com o apoio do Programa Desenvolvimento e Cidadania da Petrobrás. *Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 24 Estados do País (pa@revistaviracao.org.br)

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CUPOM DE ASSINATURA anual e renovação 10 edições É MUITO FÁCIL FAZER OU RENOVAR A ASSINATURA DA SUA REVISTA VIRAÇÃO Basta preencher e nos enviar o cupom que está no verso junto com o comprovante (ou cópia) do seu depósito. Para o pagamento, escolha uma das seguintes opções: 1. CHEQUE NOMINAL e cruzado em favor de PROJETO VIRAÇÃO. 2. DEPÓSITO INSTANTÂNEO numa das agências do seguinte banco, em qualquer parte do Brasil: • BRADESCO – Agência 126-0 Conta corrente 82330-9 em nome de PROJETO VIRAÇÃO OBS: O comprovante do depósito também pode ser enviado por fax. 3. VALE POSTAL em favor de PROJETO VIRAÇÃO, pagável na Agência Augusta – São Paulo (SP), código 72300078 4. BOLETO BANCÁRIO (R$2,95 de taxa bancária) Revista Viração • Ano 7 • Edição 50 19


iânia (GO)* conversou sobre O pessoal do Virajovem Go DSTs/aids com Eliane sexualidade e prevenção às s, e Semerene e Lenise Borge ml Ke , za Pla na Joa , es alv Gonç * do Grupo Transas do Corpo

FONE(RES.) ESTADO

DATA DE NASC.

/ em

O vaginismo é uma contração involuntária da musculatura vaginal no momento da penetração. Pode ter origens emocionais, relacionadas a alguma experiência sexual anterior e/ou a uma educação muito repressora. É necessário verificar se há mesmo dispareunia (dores) ou se elas não estão sendo provocadas por pouca ou nenhuma lubrificação da vagina (por falta de estimulação correta de outras partes do corpo, principalmente seios e clitóris) antes rc Fo da penetração. a i l a at Caso realmente exista vaginismo, uma :N ção a r abordagem terapêutica talvez seja necessária, Ilust com um profissional que lide com sexualidade. No caso de as dores estarem associadas a alguma doença, ela deverá ser tratada.

NOME ENDEREÇO CEP CIDADE

Tanto se fala que o melhor modo de evitar o vírus HIV é usando a camisinha que eu fico pensando no seguinte: e o resto de uma relação sexual? E o sexo oral? E carícias na vagina?

REVISTA VIRAÇÃO Rua Augusta, 1239 – Cj. 11 Consolação – 01305-100 São Paulo (SP) Tel./Fax: (11) 3237-4091 / 3567-8687

Cheque nominal Depósito bancário no banco Vale Postal Boleto Bancário Assinatura nova Renovação De colaboração Exterior

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Qual é tratamento para mulheres que sentem dores na hora da penetração (vaginismo)?

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Sexo e Saúde

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sexo e saude 58:Layout 1 21/12/2009 19:39 Page 33

Pelo visto você já sabe que o vírus HIV é encontrado na maioria dos líquidos do corpo, mas é só infeccioso no sangue, sêmen (esperma), secreções vaginais e leite materno. Para haver contaminação, é preciso acontecer o contato da secreção infectada com uma porta de entrada (mucosas com feridas, por exemplo). É na relação sexual que estes dois ingredientes se encontram com maior possibilidade de contágio. Existe uma hierarquia das práticas sexuais com maior risco, sendo que o sexo anal sem camisinha é o mais perigoso. Em relação ao sexo oral, a transmissão é possível, já que está presente no esperma e nos líquidos vaginais, e pode entrar no organismo pela mucosa da boca e da garganta. Já a masturbação é considerada a prática de sexo mais segura. Portanto, é fundamental usar camisinha nas relações em que há penetração, sem deixar de ser criativo e responsável nas outras práticas.

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* ONG que desenvolve estratégias para redução das desigualdades de gênero, por meio de ações educativas, culturais e de pesquisa inspiradas nos princípios feministas de igualdade, pluralidade e solidariedade.

Transas do Corpo http://www.transasdocorpo.org.br


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