Revista Viração - Edição 84 - Maio/2012

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s o r i e c r a p s o s Nos

Sexo e Saúde

pelo Brasil

Associação Imagem Comunitária Belo Horizonte (MG) www.aic.org.br

Ciranda – Curitiba (PR) Central de Notícias dos Direitos da Infância e Adolescência www.ciranda.org.br

Centro de Refererência Integral de Adolescentes – Salvador (BA) blogdocria.blogspot.com

Grupo Conectados de Comunicação Alternativa GCCA - Fortaleza (CE) www.taconectados.blogspot.com

Gira Solidário Campo Grande (MS) www.girasolidario.org.br

Movimento de Intercâmbio de Adolescentes de Lavras – Lavras (MG)

Catavento Comunicação e Educação Fortaleza (CE) www.catavento.org.br

Universidade Popular – Belém (PA) www.unipop.org.br

Projeto Araçá - São Mateus (ES) www.projetoaraca.org.br

Casa da Juventude Pe. Burnier – Goiânia (GO) www.casadajuventude.org.br

Taba - Campinas (SP) www.espacotaba.org.br

Avalanche Missões Urbanas Underground Vitória (ES) www.avalanchemissoes.org

Instituto de Estudos Socioeconômicos Brasília (DF) www.inesc.org.br

Grupo Makunaima Protagonismo Juvenil (RR) grupomakunaimarr.blogspot.com

Rede Sou de Atitude Maranhão São Luís (MA) www.soudeatitude.org.br

Grupo Cultural Entreface Belo Horizonte (MG) gcentreface.blogspot.com

Cipó Comunicação Interativa Salvador (BA) www.cipo.org.br

Agência Fotec – Natal (RN)

Apôitcha - Lucena (PB) www.apoitcha.org

Jornal O Cidadão – Rio de Janeiro (RJ) ocidadaonline.blogspot.com

Lunos - Boituva (SP) www.lunos.com.br

Projeto Juventude, Educação e Comunicação Alternativa Maceió (AL)

União da Juventude Socialista – Rio Branco (AC) ujsacre.blogspot.com


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? a v i t e f e o ã s Inclu

icadas e is diversif a m s a Exame m form sil existe or. Com o ri ra e B p ar o u s n o ensin e particip tualmente ante pod resso no d g in tu da s o e e o ra pa por m io Enem, práticas do o País Médio, o to o e in ma d s u n s a E a do r-se públic Nacional candidata rsidades e m iv é n b u m , ra ta Todos o isu) e vos pa ade para ificada (S sos seleti n id s U e rs c e o ã ro iv ç p n de sileiros ma U e Sele dantes bra Sistema d elo Progra p tu o s l n e ia o ra rc ã a a ç p as p inscri tegral ou es que o de bols dificuldad estudos in um milhã s u a e , c e re d a fe d bolsa de o o médio. nsali 005, pagar me s do ensin e desde 2 o e u d q íd a s i, n -s to U n m e é Pro s rec coisas mo is tre joven e outras nda. Mes n s e re ia a p m e ix ó c a c e b , de ito, tação perman dar é dire e, alimen o estudo capa Estu transport e e , d s envolvem m ro a e v p g li é ca z d om porta Gastos c bolsa não ica. Na re a m d ê d o a ã s c s a a once rte da vid penas a c o. fazem pa em que a s o s a ao estud c a fere o direito d io gem sobre você con íc rc a reporta no exe m le u ão p s re o s r fe e ti n õ a co criaç garan você aind s nossas a o ã e u iç q d e r a e atéri Nesta sível diz com a m de. É pos nclusões o c Criativida s a u e s s do is? Tire perde, tu individua , nada se a ri c e d ra a itu ! “Nad a”. Boa le transform

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Quem somos A

Viração é um uma organização não governamental (ONG), de educomunicação, sem fins lucrativos, criada em março de 2003. Recebe apoio institucional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), do Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo e da ANDI - Comunicação e Direitos. Além de produzir a revista, oferece cursos e oficinas em comunicação popular feita para jovens, por jovens e com jovens em escolas, grupos e comunidades em todo o Brasil. Para a produção da revista impressa e eletrônica (www.viracao.org),contamos com a participação dos conselhos editoriais jovens de 22 Estados, que reúnem representantes de escolas públicas e particulares, projetos e movimentos sociais. Entre os prêmios conquistados nesses oito anos, estão Prêmio Don Mario Pasini Comunicatore, em Roma (Itália), o Prêmio Cidadania Mundial, concedido pela Comunidade Bahá'í. E mais: no ranking da Andi, a Viração é a primeira entre as revistas voltadas para jovens. Participe você também desse projeto. Veja, ao lado, nossos contatos nos Estados. Paulo Pereira Lima Diretor Executivo da Viração – MTB 27.300

Conteúdo

Copie sem moderação! Você pode: • Copiar e distribuir • Criar obras derivadas Basta dar o crédito para a Vira!

Apoio Institucional

Asso

ciazione Jangada

Conheça os Virajovens em 22 Estados brasileiros e no Distrito Federal Belém (PA) - pa@viracao.org Belo Horizonte (MG) - mg@viracao.org Boa Vista (RR) - rr@viracao.org Boituva (SP) - sp@viracao.org Brasília (DF) - df@viracao.org Campinas (SP) - sp@viracao.org Campo Grande (MS) - ms@viracao.org Curitiba (PR) - pr@viracao.org Fortaleza (CE) - ce@viracao.org Goiânia (GO) - go@viracao.org João Pessoa (PB) - pb@viracao.org Lagarto (SE) – se@viracao.org Lavras (MG) - mg@viracao.org Lima Duarte (MG) - mg@viracao.org Maceió (AL) - al@viracao.org Manaus (AM) - am@viracao.org Natal (RN) - rn@viracao.org Pinheiros (ES) - es@viracao.org Porto Velho (RO) - ro@viracao.org Recife (ES) - es@viracao.org Rio Branco (AC) - ac@viracao.org Rio de Janeiro (RJ) - rj@viracao.org Sabará (MG) - mg@viracao.org Salvador (BA) - ba@viracao.org S. Gabriel da Cachoeira (AM) - am@viracao.org São Luís (MA) - ma@viracao.org São Mateus (ES) - es@viracao.org São Paulo (SP) - sp@viracao.org Serra do Navio (AP) - ap@viracao.org Teresina (PI) - pi@viracao.org Vitória (ES) – es@viracao.org

Quem faz a Vira Emilae Senna, do Virajovem Salvador (BA)

Amanda Campos, do Virajovem Salvador (BA), fotografa o local onde aconteceu o 7º Fórum de Educação Ambiental, realizado entre os dias 28 e 31 de março, na capital da Bahia.

Revista Viração • Ano 10 • Edição 84 03


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Ocupando espaços

10 Impulso criativo

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Jovens adeptos das chamadas tribos urbanas são desrespeitados por adotarem um visual que foge dos padrões sociais

e Transmissão onlinniõe s e formações à distância

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Saiba como promover reu as redes sociais utilizando uma webcam e

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Manda Vê . . . . . . . . . . . . . 06 Imagens que Viram. . . . . . 18 PCU (Plataforma dos Centros Urbanos) . 24 No Escurinho . . . . . . . . . . 30 Que Figura . . . . . . . . . . . . 31 Sexo e Saúde . . . . . . . . . . 32 Rango da Terrinha . . . . . . 33 Parada Social . . . . . . . . . . 34 Rap Dez . . . . . . . . . . . . . . 35

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Amazônia e Hip Hop

Virajovens de Belém entrevistam o arte-educador responsável por articular uma rede do movimento Hip Hop nas regiões Norte e Nordeste

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Cada um na sua

Sempre na Vira

Projeto propõe a integração de plataformas da internet para facilitar a colaboração no desenvolvimento de soluções para as cidades

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O mundo inspira o ser humano a recriar novas linguagens e maneiras de comunicar o que vive e o que sente

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Conexão necessária

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Juventude de Fortaleza participa de processos coletivos de decisão para a melhoria de suas comunidades

Realidade dos Bolsistas

O ProUni é o sonho de muitos estudantes. Mas, mesmo com o benefício, grande parte ainda enfrenta dificuldades para arcar com gastos extras que a bolsa de estudos não cobre.

Opinião Confira o que pensa Iara Petricovsky, do Comitê Facilitador da Sociedade Civil Brasileira, sobre os processos oficiais da Rio+20

Educação Ambiental

7º Fórum Brasileiro de Educação Ambiental, que aconteceu em Salvador (BA), discute Rio+20 e sociedades sustentáveis

Cultura sustentável

Jovens da periferia de Curitiba enxergam na reciclagem uma possibilidade de fazer instrumentos musicais e inovar em manifestações culturais

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Sensibilização lúdica

Projeto de São Vicente (SP) conscientiz a a juventude da cidade sobre a importância da participação cidad ã por meio do voto

RG VÁLIDO EM TODO TERRITÓRIO NACIONAL Revista Viração - ISSN 2236-6806 Conselho Editorial Eugênio Bucci, Ismar de Oliveira, Izabel Leão, Immaculada Lopez, João Pedro Baresi, Mara Luquet e Valdênia Paulino

Conselho Fiscal Everaldo Oliveira, Renata Rosa e Rodrigo Bandeira

Conselho Pedagógico Alexsandro Santos, Aparecida Jurado, Isabel Santos, Leandro Nonato e Vera Lion

Presidente Juliana Rocha Barroso

Vice-Presidente Cristina Paloschi Uchôa

Primeiro-Secretário Eduardo Peterle Nascimento

Direção Executiva Paulo Lima e Lilian Romão

Equipe Ana Paula Marques, Bruno Ferreira, Carla Renieri, Elisangela Nunes, Eric Silva, Evelyn Araripe, Gisella Hiche, Gutierrez de Jesus Silva, Ingrid Evangelista, Ionara Silva, Julia Dávila, Manuela Ribeiro, Mariana Matos, Mariana Rosário, Rafael Stemberg, Sonia Regina e Vânia Correia

Administração/Assinaturas Douglas Ramos e Norma Cinara Lemos

Mobilizadores da Vira Acre (Leonardo Nora), Alagoas (Jhonathan Pino), Amapá (Camilo de Almeida Mota), Amazonas (Cláudia Ferraz e Délio Alves), Bahia (Everton Nova), Ceará (Alcindo Costa e Rones Maciel), Distrito Federal (Danuse Queiroz e Pedro Couto),

Espírito Santo (Jéssica Delcarro e Leandra Barros), Goiás (Érika Pereira e Sheila Manço), Maranhão (Sidnei Costa), Mato Grosso do Sul (Fernanda Pereira), Minas Gerais (Emília Merlini, Reynaldo Gosmão, Silmara Aparecida dos Santos e Pablo Abranches), Pará (Alex Pamplona), Paraíba (Niedja Ribeiro), Paraná (Juliana Cordeiro e Vinícius Gallon), Pernambuco (Edneusa Lopes), Piauí (Anderson Ramos da Luz), Rio de Janeiro (Gizele Martins), Rio Grande do Norte (Alessandro Muniz), Rondônia (Luciano Henrique da Costa), Roraima (Graciele Oliveira dos Santos) e São Paulo (Gutierrez de Jesus Silva e Tamires Ribeiro).

Colaboradores Antônio Martins, Fernanda Forato, Heloísa Sato, Márcio Baraldi, Natália Forcat, Novaes, Rogério Zé e Sérgio Rizzo.

Projeto Gráfico Ana Paula Marques e Cristina Sayuri

Jornalista Responsável Paulo Pereira Lima – MTb 27.300

Divulgação Equipe Viração

E-mail Redação e Assinatura redacao@viracao.org assinatura@viracao.org

Preço da assinatura anual Assinatura Nova Renovação De colaboração Exterior

R$ 65,00 R$ 55,00 R$ 80,00 US$ 103,00


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A Vira pela igualdade. Diga lá. Todas e todos Mudança, Atitude e Ousadia jovem.

Fale com a gente!

Diga lá Via Facebook

Via Facebook Saudações, meu povo querido! Estou aqui para pedir uma informação: como eu faço para receber em casa a Revista Viração? Desde já agradeço!

1ª Educobertura das Conferências Estaduais do Direito da Criança e do Adolescente! Pará arrebentando com a Vira! Thaís Chita

Manoel Edvanio Melo Gestão de Projetos da Associação Comunitária Fortaleza (CE)

Oi, Manoel! Entre em contato com a redação da revista pelo e-mail assinatura@viracao.org ou pelo telefone (11) 3237-4091. Nossa assinatura anual para 12 edições custa 65 reais. Um abraço!

Perdeu alguma edição da Vira? Não esquenta! Agora você pode acessar, de graça, as edições anteriores da revista na internet: www.issuu.com/viracao

A Viração está acompanhando as coberturas educomunicativas da etapa preparatória da 9ª Conferência dos Direitos da Criança e do Adolescente com adolescentes e jovens de 16 Estados do Brasil. Estaremos presentes também na etapa nacional, que acontece em Brasília (DF), entre os dias 11 e 14 de julho.

Ops! Erramos! Creditamos Alisson Rodrigues, do Virajovem São Paulo (SP), como autor da foto da seção Quem Faz a Vira da última edição. Mas a autoria é de Gutierrez de Jesus Silva, da Redação. E na linha fina da seção No Escurinho, também da última edição (nº83), escrevermos de forma errada a palavra roteirista. Pedimos desculpas pelos erros!

Mande seus comentários sobre a Vira, dizendo o que achou de nossas reportagens e seções. Suas sugestões são bem-vindas! Escreva para Rua Augusta, 1239 - Conj. 11 - Consolação - 01305-100 - São Paulo (SP) ou para o e-mail: redacao@viracao.org Aguardamos sua colaboração!

Parceiros de Conteúdo

A Viração Educomunicação não utiliza mais o perfil no Twitter @viracao. Apropriaram-se da nossa senha para divulgar ações e ideias que não são da organização. Convidamos a todos para seguir o nosso novo perfil @viracao_oficial.

Siga a Vira no Twitter: @viracao_oficial. E também confira a página e o perfil da Viração Educomunicação no Facebok.

Ponto G Para garantir a igualdade entre os gêneros na linguagem da Vira, onde se lê “o jovem” ou “os jovens”, leia-se também “a jovem” ou “as jovens”, assim como outros substantivos com variação de masculino e feminino.


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Manda Vê Jéssica Delcarro, do Virajovem São Mateus (ES)*; Juliana Cordeiro, do Virajovem Curitiba (PR)*; Eric Silva e Bruno Ferreira da Redação

Há alguns anos, ter dinheiro era necessário para conseguir fazer faculdade, uma vez que o acesso à universidade pública sempre foi concorrido e difícil, o que fazia com que muitos estudantes recém-formados no ensino médio desistissem de concorrer a vagas no ensino superior. Desde 2005, no entanto, o Programa Universidade Para Todos, o ProUni, oferece bolsas para estudantes de baixa renda vindos de escolas públicas. Além disso, o Sistema de Seleção Unificado (Sisu) seleciona alunos para cursos em universidades públicas de todo o País a partir da nota no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). No entanto, muitos ainda encontram dificuldade para entrar na faculdade, até mesmo porque os candidatos ao ProUni e às universidades públicas passam por um processo de escolha, no qual são aprovados apenas os que obtiverem melhores notas. Por isso, perguntamos:

Jovens de baixa renda estão tendo mais acesso à universidade? Íngrid Franca, 18 anos, Pinheiros (ES) “Sim, cada vez mais o governo está criando programas para facilitar a melhoria dos estudos, ProUni, Fies, Nossa bolsa. Mas nas universidades federais a maioria das pessoas são de alta renda, acho que nesse sentido faltam melhorias.”

Jackson Oliveira de Santana, 20 anos, Colatina (ES) “Eu creio que sim, estão tendo mais acesso, estão entrando cada vez mais nas federais. Mas a grande maioria que entra é gente com uma renda melhor. Hoje com cotas pra negros, estudantes de escolas públicas certamente já têm uma vantagem a mais do que os de classe média que estudaram em escolas particulares.”

06 Revista Viração • Ano 10 • Edição 84

Messias Dídimo Andrade, 18 anos, Foz do Iguaçu (PR) “Em minha visão sim, porém não por programas do governo ou bolsas, mas porque tem mais acesso ao crédito para a faculdade ou investem todo o seu salário no ensino.” *Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados do País e no Distrito Federal (es@viracao.org e pr@viracao.org)


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Heverton Campos Martins, 22 anos, Montanha - (ES) “Sim. Na maioria das vezes os jovens de baixa renda estudaram em escolas públicas e tiveram um ensino marcado pela deficiência do investimento da educação. Para garantir a inserção desta camada nas universidades, o governo criou o ProUni e Sisu. Sem esses programas federais nunca ingressariam no ensino superior.”

Márcio Pestana, 24 anos, Rio de Janeiro (RJ)

Jéssica Braga, 20 anos, Mimoso do Sul (ES)

“Acredito que sim, por meio dos programas como ProUni, os jovens de baixa renda têm a oportunidade de ingressar na universidade.” Kleber Costa, 25 anos, Almirante Tamandaré (PR)

“Sim, principalmente pelo Fies onde o estudante primeiro estuda e paga a universidade somente quando se formar. Estão fazendo muito isso aqui.”

“Acho que é claro que hoje em dia muitas pessoas, não só jovens, estão tendo mais acesso a uma universidade, através de programas governamentais como o ProUni e até mesmo pelo financiamento do Fies. Digamos que são oportunidades, formas de acessos que antes não tinham.”

Priscila Plesley, 20 anos, Nova Era (MG) “Acho que nem tanto assim, porque se o jovem de baixa renda não puder fazer um cursinho preparatório para o Enem, as chances dele acabam sendo baixas também. O ensino da rede pública não prepara os estudantes de baixa renda para um vestibular. Nas particulares, através de bolsas, talvez eles estejam mesmo tendo mais acesso.”

Universidade e Democracia – Experiências alternativas para a ampliação do acesso à Universidade pública brasileira (Maria do Carmo de Lacerda Peixoto) Editora UFMG O livro reúne artigos de pesquisadores e alunos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) sobre o processo democratização das universidades. Para os autores, um dos principais componentes da crise da universidade é justamente seu caráter antidemocrático, seja no plano do acesso de estudantes, professores e demais profissionais, seja no plano da produção e divulgação de conhecimentos, seja, ainda, em sua cisão com a sociedade de forma geral.

Universidades públicas são a primeira opção para quem deseja ingressar no ensino superior. Como em outros países, no Brasil, o número de candidatos às cadeiras das universidades é bem superior ao número de vagas ofertadas, assim como é maioria o número de estudantes vindos de escolas particulares que conseguem ficar com essas vagas. Na tentativa de igualar direitos entre todos, o governo federal iniciou um processo de política afirmativa, no qual as universidades públicas designam uma cota para grupos específicos. A primeira a instalar esta política foi a Universidade de Brasília, em 2004, que destinou 20% de suas vagas para estudantes negros com a implementação de cotas raciais.

Faz Parte


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Divulgação

se apropriam Em Fortaleza, crianças, adolescentes e jovens vida na cidade dos espaços de participação para melhoria de

Rones Maciel, do Virajovem Fortaleza (CE)*

N

ão é de hoje que a juventude busca e cria maneiras de demarcar espaço e garantir seus direitos. A atuação, pouco vista ou não mostrada pelos grandes meios de comunicação, acontece por meio de grupos de jovens, fóruns, conferências e até assembleias, nas quais são deliberadas as prioridades e o que é importante para a convivência e melhoria social. Em Fortaleza, por exemplo, crianças, adolescentes e adultos são convidados a participar do processo de participação coletiva nas decisões das melhorias de vida para a cidade. Por meio do Orçamento Participativo (OP), pode-se escolher a construção de uma quadra poliesportiva, reforma do posto de saúde ou ampliação da escola do bairro. Essa participação ocorre de forma democrática, por meio das verbas destinadas a cada uma das sete regiões do município. O jovem Antônio Ferreira dos Santos, de 23 anos, morador do Grande Bom Jardim, considerado o bairro mais populoso da capital cearense, acredita Jovens durante o que para mudar a credenciamento de espaço realidade, é preciso se de participação em Fortaleza apropriar desses espaços de participação para reivindicar seus direitos. “É preciso que a sociedade e o poder público deem mais oportunidade a nós, jovens. E é por meio desses projetos que muitos têm saído do mundo das drogas, por exemplo. É preciso oportunidade.” Assim como o Antônio, outros jovens das diversas partes de Fortaleza estão atuando e buscando maneiras de mudar as realidades que demandam o acesso ao lazer, geração de renda, educação e cultura. Weberton Ribeiro Batista, o Papito, tem 27 e é morador da Sabiaguaba, bairro de preservação ambiental de grande extensão, situado no extremo-leste do litoral de Fortaleza.

08 Revista Viração • Ano 10 • Edição 84

Crianças e adolescentes comemoram a aprovação de demanda no OPCA

Ele vê no esporte um viés de participação que faz com que a juventude mostre que pode contribuir com o desenvolvimento Jovens se apropriam de espaços de lazer na cidade local. “Eu atuo aqui no meu bairro buscando formas de contribuir com a formação social, ambiental e cultural. A minha participação aqui é buscar o grande sonho da minha comunidade que é uma praça, através do Orçamento Participativo.”

De olho Desde 2005, a Rede Orçamento e Participação Ativa (OPA) é uma articulação que integra adolescentes de Fortaleza na luta pela efetivação dos direitos do público infanto-juvenil. Com ela, adolescentes e jovens realizam o monitoramento do orçamento público e das políticas destinadas à infância, acompanhando a execução orçamentária e promovendo manifestações e outras formas de pressão para garantir o direito à participação e a aplicação dos recursos destinados às políticas sociais e à infância. Se na sua comunidade não existem programas ou ações de incentivo e valorização da juventude, procure a secretaria ou órgãos de juventude do seu município e mobilize-se para a construção de um País mais democrático e participativo. V


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Mídias Livres

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Falando a mesma lingua! Projeto propõe a criação de um vocabulário comum entre plataformas de webcidadania no Brasil

Luciano Frontelle, do Virajovem Boituva (SP)*

E

xistem várias plataformas na internet que foram criadas com a intenção de facilitar a vida de quem sonha em causar transformação social onde vive. Mas e se todas elas fossem conectadas e, com um único perfil, você tivesse acesso a todas? É justamente isso que o projeto Vocabulário Comum para a Participação Social propõe. Ele está em fase de construção, de forma distribuída e colaborativa, coordenado pela equipe do Cidade Democrática em parceria com o movimento Transparência Hacker e Porto Alegre CC, contando com o apoio da Fundação AVINA. Segundo Henrique Parra, do Cidade Democrática, o processo existe desde 2010, na Conferência das Cidades Inovadoras, em Curitiba. “Foi quando começamos a fortalecer a interlocução com outros projetos e iniciativas que usam mídias digitais para a promoção da causa pública e da cidadania.” conta Henrique. Depois disso, durante o 1º Seminário Nacional de Participação Social, vários dos principais projetos de webcidadania auto-gestionaram uma mesa sobre o tema, impulsionando o projeto. A criação de um Vocabulário Comum serve para viabilizar o compartilhamento e reutilização de conhecimento de um domínio. “O que queremos é possibilitar a integração entre as diversas plataformas que já existem, bem como estabelecer uma referência para as que forem criadas”, afirma Henrique. O que se espera como produto natural é a criação de um Ecossistema de Webcidadania o que garantirá, ainda segundo Henrique, que o processo de participação social

no Brasil seja ampliado. “Porque assim o cidadão não organizado vai recuperar a sua capacidade de influenciar a política pública”, conclui.

Processo colaborativo Desde o ano passado o Cidade Democrática abre o seu código para que qualquer um possa ter acesso. Esse foi mais um passo no caminho da colaboração, o que impulsionou a aproximação com o Transparência Hacker e o Porto Alegre CC, que hoje compõem o espaço onde a proposta está sendo desenvolvida. A plataforma que hospeda o trabalho é brasileira e aberta (software-livre), com isso a equipe quer abrir toda a base de conhecimento e, com a comunidade de participantes, construir o conteúdo e a forma deste vocabulário, ajustando também as ações e etapas do projeto. O espaço é aberto à participação e uma articulação está sendo feita para envolver o movimento de Cidades Sustentáveis e outras 30 iniciativas e projetos que serão convidadas a participar, construindo e validando cada etapa prevista. V

Para visualizar e contribuir com o projeto de construção do Vocabulário Comum, basta acessar http://corais.org/vocabulariodaparticipacao

*Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados do País e no Distrito Federal (sp@viracao.org)

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“Nada se cria, nada se perde, ” tudo se transforma! eto criativo

a? Entenda como surge o nosso ímp

A criatividade é individual ou coletiv

Alessandro Muniz e Carolina Cunha Lima, do Virajovem Natal (RN)*

Pra manter ou mudar (Móveis Coloniais de Acaju) Tudo que eu queria dizer Alguém disse antes de mim Tudo que eu queria enxergar Já foi visto por alguém (...) Tudo que eu queria fazer Alguém fez antes de mim Tudo que eu queria inventar Foi criado por alguém (...) Tudo que irá existir Tem uma porção de mim Tudo que parece ser eu É um bocado de alguém (...) Nada do que eu sou me diz o que sei Nada do que eu sei de fato é meu (...) Tudo que eu sei me diz do que sou Tudo que eu sou também será seu... (...) Agora reinvento E refaço a roda, fogo, vento E retomo o dia, sono, beijo E repenso o que já li Redescubro um livro, som, silêncio, Foguete, beija-flor no céu, Carrossel, da boca um dente Estrela cadente...

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A

música Pra Manter ou Mudar, da banda brasiliense Móveis Coloniais de Acaju, exemplifica a criatividade coletiva, a relação de conexão entre todas as pessoas que permite, através da sociedade, que se crie, invente, revolucione as ideias, a arte, a cultura, o modo de vida de cada um e de todo o coletivo. O músico potiguar Pedras Leão, de 23 anos, comenta que “a arte surgiu da comunicação, da expressão, da necessidade de você deixar na sua caverna que você matou um boi grande para quando a outra tribo chegar poder ver. Os tambores foram construídos a partir de tronco de árvore com couro, que ao serem batidos avisavam ao outro povo que iriam entrar em guerra. Então, há uma comunicação social e foi algo construído coletivamente. É difícil pensar que quem inventou a roda foi um cara, quem inventou o tambor foi um cara sozinho... Alguém pode ter batido em um pau, outro veio e colocou o couro e outro começou a bater em cima do couro”. O artista e ex-ministro da cultura Gilberto Gil, no documentário Rip! A Remix Manifesto (2008), afirma que “o compartilhamento é a própria natureza da criação. Não há criação isolada, ninguém é um criador sozinho, ninguém cria nada no vácuo. Tudo vem de algo que foi criado antes. É uma reação em cadeia”. “Quando eu crio, estou inspirado em tudo que eu vejo, tudo que eu ando, estou aqui conversando com você e de repente eu vejo um desenho na

Copiando, colando, recriando Na história das artes o famoso e atual “ctrl c / ctrl v” (atalho do teclado do computador para “copiar e colar”) sempre foi fundamental. Artistas de diferentes períodos se “inspiravam” em seus anteriores para criar suas obras, tomando algum aspecto considerado interessante do outro e aplicar no seu. O Renascimento trouxe para os séculos 16 e 17 os valores que eram afirmados durante a antiguidade clássica, na Grécia e Roma Antigas. Com o passar do tempo, outros estilos foram surgindo e os anteriores foram se transformando. A Arte Moderna, no final do século 19 e boa parte do 20, passou a valorizar elementos culturais presentes em cada sociedade e deu início a uma busca por outras formas de beleza. O Impressionismo, Cubismo e Dadaísmo, por exemplo, que nada tinham de belo para os padrões da época, passaram a servir de inspiração estética para outros movimentos que vieram depois. O texto Plágio Utópico, Hipertextualidade e Produção Cultural Eletrônica, do coletivo Critical Art Ensemble, trata da criação recombinante, ou seja, criar recombinando tudo o que existe, as referências culturais, sociais, artísticas, filosóficas, infinitas. Aponta que “numa sociedade dominada por uma explosão de ‘conhecimentos’, explorar as possibilidades de significado naquilo que já existe é mais premente do que acrescentar informações redundantes”. Como imaginar o mundo sem esse grande “crtl c / ctrl v”? Como poderiam todos esses movimentos artísticos, inovações tecnológicas e genialidades humanas ter partido do nada ou de algo isolado, sem se “inspirar” no que a humanidade já fizera e estava fazendo? Talvez a realidade mundial fosse mais pobre de conteúdo e de criatividade. Porém, tudo isso é impossível, pois “ninguém é uma ilha”. Quando alguém assiste a um filme ou escuta uma música, formam-se ideias, que podem ser inseridas naquilo que está sendo criado. Uma conversa em um elevador pode resultar em um grande livro. Uma sirene de ambulância pode tornar-se um remix musical. Onde estaria a criatividade e a diversidade se não existisse o coletivo e o infinito e incessante compartilhamento? E, se a criatividade é coletiva e para se criar é imprescindível ser e estar na sociedade, como privatizar os benefícios da criatividade humana? Por que o que todos ajudaram a fazer só será usufruído por poucos?

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sua camiseta e esse desenho me inspira outro. Já aconteceu de eu olhar uma imagem na internet, em tamanho reduzido e ver uma coisa, mas quando ampliada, aparenta diferente do que eu a percebi. Então eu posso fazer aquilo que eu enxerguei, a impressão que eu tive”, relata o artista plástico e professor do Departamento de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Marcos Andruchak. Pedras Leão afirma que seu processo criativo é completamente experimental e completa que, segundo o alemão Hans-Joachim Koellreutter (1915-2005), músico e professor no Rio de Janeiro, “a experimentação e a intuição vêm da vivência, a intuição vai conectando as vivências. Você tem que vivenciar, experimentar, entrar e tentar, senão você não vai saber o que vai acontecer”. Afinal, algo se cria sozinho, seja um trabalho artístico, intelectual, científico, inventivo? É possível criar “sem o outro”? A ideia de criação coletiva está intimamente relacionada com a “memória coletiva”, termo utilizado no artigo Memória e Memória Coletiva, da educadora Zilda Kessel, (disponível na biblioteca do www.museudapessoa.net). “A rememoração individual se faz na tessitura das memórias dos diferentes grupos com que nos relacionamos. Ela está impregnada das memórias dos que nos cercam, de maneira que, ainda que não estejamos em presença destes, o nosso lembrar e as maneiras como percebemos e vemos o que nos cerca se constituem a partir desse emaranhado de experiências, que percebemos qual uma amálgama, uma unidade que parece ser só nossa”, afirma Zilda.

Estamos impregnados “do outro”, dos outros, das sociedades que percorremos, que transitamos, que habitamos, que concordamos ou discordamos, da história de nosso povo, dos povos que nos fizeram, dos quais fazemos parte, da ancestralidade e da tradição e também da negação de tudo isso na tentativa de algo novo. E a criação é a forma de expressar essas relações. E a canção O Tudo é uma coisa só, da banda Teatro Mágico, encerra: Poeta, ouvidor, desenhista, músico, malabarista... Comediante, o que for Todo mundo procura um lugar pra poder compartilhar... Da dor e da alegria.

V

O texto Plágio Utópico, Hipertextualidade e Produção Cultural Eletrônica, do coletivo Critical Art Ensemble, está disponível em: www.eulalia.kit.net/textos/cae.pdf e foi publicado no livro Distúrbio Eletrônico (2001), editora Conrad. Ilu

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Vídeo do Projeto Everything is a Remix (Tudo é um Remix), disponível em http://vimeo.com/32677841 e no site www.everythingisaremix.info.

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*Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados do País e no Distrito Federal (rn@viracao.org)

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^ Amaz o nIa

Hip hop

Arquivo pessoal

over debates Educador utiliza a cultura Hip Hop para prom zônica sobre a situação social da juventude ama José Ronaldo Junior, Carlos Augusto Gouvêa de Oliveira, Uriel Nobre da Costa, Lidia Santos, Aline Kelly, Amanda Campos Santos, Maiara C. Ramos, Alan Dílson da Silva Nunes, Priscila Alves Magno, Mailson Carlos e Alex Pamplona, do Virajovem Belém (PA)*

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O movimento Hip Hop ganha cada vez mais força e na Amazônia não é diferente. No Pará, o arteeducador Michel Sarmento, conhecido como Preto Michel, de 35 anos, é militante do movimento. Dedica-se ao grafite, escreve sobre a realidade da periferia do seu Estado em prosa e verso. Em conversa com os adolescentes e jovens do conselho virajovem Belém (PA), conta sua história, do despertar de sua consciência social ao final da adolescência até as ações em rede que promove nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil. Preto Michel é prova viva da superação das dificuldades enfrentadas por crianças, adolescentes e jovens de todas as comunidades empobrecidas do Brasil. “Criamos nossas próprias grifes, nossos próprios programas de rádio para tocarmos

Linha do Tempo Preto Michel conhece o movimento negro e Hip Hop e neles começa a militar na cidade de Belém

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É convidado a mobilizar adolescentes e jovens para os projetos da Associação Paraense de Apoio das Comunidades Carentes (APACC), facilitando oficinas de grafite como arte-educador

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nossas músicas, temos nossas próprias revistas, fazemos nossas próprias festas, hoje temos uma identidade, somos jovens organizados nas periferias. Esse foi e é um grande impacto em nossas vidas”, afirma Preto Michel, na entrevista que você confere a seguir, na íntegra.

Arquivo pessoal

Como você iniciou sua trajetória política? No ano de 1997, eu já tinha 20 anos e tinha passado toda minha adolescência e começo da juventude entre brigas, com gangues de rua, pichação e prisões. Foi então que decidi escutar meus pais e, principalmente minha irmã Michele, que me convidou para participar da Igreja Católica. Comecei a militar na Pastoral da Juventude (PJ), em especial no Movimento Jovem Santo Antonio do Tapanã (MOJOSAT). Com meus amigos da comunidade comecei a trabalhar pela evangelização dos jovens, mas por problemas com o novo pároco saí da Pastoral da Juventude e também do grupo de jovens e fiquei na militância da PJ até o ano de 2005. Você acredita que o Hip Hop contribui na politização da juventude? Sim, porque a cultura Hip Hop trabalha com quatro ou mais linguagens artísticas, que dialogam direto com crianças, adolescentes e jovens da periferia. Geralmente introduzimos em nossas atividades temas importantes, com o objetivo de resgatar a autoestima desses jovens. Com o Rap, grafite nos muros, performances e danças, procuramos debater o dia a dia deles. Aqui na Amazônia sempre debatemos as questões ambientais. Isso tudo ajuda os jovens a debaterem, dialogarem com outros atores, o que faz da cultura Hip Hop um movimento de jovens diferenciado. O que é a Rede Hip Hop da Floresta? Em 2005, junto com outros parceiros, ajudei a criar uma rede de movimentos Hip Hop na Região Norte e em encontro na cidade de Macapá fortalecemos o Movimento Hip Hop da Floresta (MHF), totalmente ambientalista que tinha a proposta de unificar as ações em defesa da Amazônia já realizadas pontualmente com os movimentos nas capitais da Região Norte. A partir daí comecei a viajar por toda a Região para ajudar e articular a rede do MHF. Comecei a viajar, participando e divulgando a rede em outras cidades do Brasil, e em toda a Região Nordeste. Qual o impacto do Hip Hop na vida das pessoas?

Ajuda a criar uma rede de movimentos Hip Hop na Região Norte e ajuda a fortalecer o Movimento Hip Hop da Floresta (MHF), em defesa da Amazônia

2005

Ajudar a todos os envolvidos a melhorar suas condições de vida. Promover atos e eventos culturais nas comunidades da Amazônia nos ajuda a conhecer nossa própria história como seres amazônicos e a lutar para a preservação da nossa floresta. Os jovens da cultura Hip Hop aprenderam a sobreviver sem apoio de ninguém. Criamos nossas próprias grifes, nossos próprios programas de rádio para tocarmos nossas músicas, temos nossas próprias revistas, fazemos nossas próprias festas, hoje temos uma identidade, somos jovens organizados nas periferias. Esse foi e é um grande impacto em nossas vidas. Como iniciou o seu trabalho na área de produção de literária? Foi em 2006, quando comecei a ministrar oficina de fanzines, e um projeto com crianças e adolescentes pelo governo do Estado. Depois disso comecei a ministrar oficinas de produções literárias como: poesias, contos e crônicas em outro projeto do Ministério da Cultura. Então comecei a produzir minhas coisas, tipo o zine de literatura marginal O Lado Preto da Poesia, que eu trabalho minhas poesias e outras de amigos meus aqui de Belém e de outros Estados, e também juntos com outros escritores de literatura marginal criamos o selo literário Lado B que lançaremos em maio. Produzo também contos periféricos para distribuir em eventos e em outras ações culturais aqui em Belém. Qual o maior desafio da juventude hoje? A juventude periférica precisa redescobrir o seu mundo. A periferia sempre foi linda, com problemas complicados, mas não impossíveis de resolver. A juventude precisa também saber sobre suas histórias, a luta de seus ancestrais. Precisam entender que nosso País não pode viver só do capital. Ser individualista nos faz ter uma juventude só preocupada com seu net ou notebook, iphone e as outras coisas que a deixa alienada. V

“A juventude periférica precisa redescobrir o seu mundo. A periferia sempre foi linda, com problemas complicados, mas não impossíveis de resolver. A juventude precisa entender que nosso País não pode viver só do capital.” Preto Michel *Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados do País e no Distrito Federal (pa@viracao.org)

Começa a produzir contos, poesias e crônicas e no ano seguinte, seu conto O Assovio da Matintaperera é publicado no 4º volume da coletânea literária Pelas Periferias do Brasil

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Fora do padrao rsas Jovens adeptos de estilos e tribos urbanas dive ainda são vítimas de preconceito e hostilidade

Mariana Pailley Pacheco, do Virajovem Lima Duarte (MG)*

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taku, emo, funkeiro, surfista, rockeiro seja qual for a tribo há sempre alguma característica que torna diferente o visual de seus representantes: cabelos, roupas, acessórios, entre outros componentes. O corpo e a aparência costumam demonstrar a personalidade da pessoa, mas não é só quem faz parte de uma tribo que pode ter um visual que foge do padrão. Geralmente esses estilos sofrem influência de outras pessoas ou grupos. Os jovens de cabelo comprido, da década de 1970, foram influenciados pela banda The Beatles. Quando esses estilos nascem, muitas vezes, eles são criticados, mas com o tempo acabam virando até parte do padrão. Assim, o que é normal hoje provavelmente foi visto com outros olhos em determinada região ou momento histórico. A matéria sobre Plus Size da edição 81 da Viração mostra que, no passado, as mulheres gordinhas eram consideradas as mais bonitas. A pessoa que segue um estilo diferente pode encontrar seguidores e fazer parte de um grupo onde ela é aceita, mas, muitas vezes, sofre repúdio e discriminação da maioria da sociedade. “Todas as sociedades funcionam dentro de um padrão normal. O que foge da norma é sempre considerado desviante. Isso faz parte da estrutura de todas as sociedades e, de certa forma, é necessário para o funcionamento e organização delas mesmas”, explica a psicóloga Rita de Cássia Almeida. Navegando pela internet, é possível perceber que quem tem um estilo diferente é, em alguns casos, taxado de “ridículo”, “anormal”, “sem ter o que fazer”, “drogado”, “sem dignidade” e “com menos direitos sociais”. O pior de tudo é que, para ser diferente, até mesmo em casa, há resistências. Os próprios pais ou responsáveis alteram a forma de tratar os filhos e, muitas vezes, os discriminam.

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Arquivo pe

Rita explica que “ao mesmo tempo em que as sociedades buscam um padrão, também é normal que alguns busquem afirmar suas diferenças. Fazer coisas fora do padrão é uma forma de impor sua subjetividade, sua personalidade, uma forma de se dizer que não é igual a todos”. Ela acrescenta que “os jovens são mais impetuosos em sua necessidade de serem diferentes dos adultos”. Imaculada Conceição da Silva, professora aposentada, conta que, na sua época, eram vistos com maus olhos os homens que tinham cabelos compridos. Mônica Pacheco, também aposentada, lembra que na sua juventude havia discriminação contra pessoas com cabelos black power; contra as garotas que usavam calças de cintura baixa (elas eram chamadas pejorativamente de “cocotas”); e que não se aceitavam os hippies. Ela disse que essas pessoas, por serem diferentes das demais, eram agredidas e até assassinadas. Katlyn Melo, pernambucana de 18 anos, afirma que Cabelos coloridos fizeram jovem – por ter cabelo enfrentar preconceito e piadas colorido – teve que enfrentar sua família, a sociedade e a si mesma. “Muitos me criticavam e demorou para se acostumarem. Como benefício, lutei contra a minha timidez e pelo que eu gostava. Colorir o cabelo parece simples, mas é complicado lidar com uma sociedade ainda preconceituosa. Não mudei apenas o cabelo, mudei o conceito de muita coisa também”, explica ela. Para Rita, “as sociedades modernas e democráticas têm procurado, pela evolução de suas leis e normas sociais, acolher as diversidades próprias de cada indivíduo. Baseada nos princípios da liberdade e igualdade, as pessoas têm lutado pelo

direito de manifestar suas diferenças, e as leis estão prontas a lhes garantir esse direito”. Para ela, “infelizmente, algumas pessoas ainda veem estas manifestações diferentes como uma ameaça aos seus costumes ou uma ameaça moral, o que leva a gerar conflitos, que podem ter como consequências agressões verbais ou físicas”. Mas até que ponto vale a pena investir num estilo diferente? Rita explica que “o fato de uma sociedade valorizar ou reforçar determinado padrão, não impede que ela aceite e acolha aquilo que é desviante, especialmente quando esse desvio não incorre em nenhuma ameaça social”. Para a psicóloga, as sociedades evoluídas devem aprender não só a conviver com as diferenças, mas a acolhê-las também. Essas diferenças não podem ser vistas como ameaça, mas compreendidas como manifestações do estilo de cada pessoa. Para ela, ao tentar modificar os padrões, a humanidade tem evoluído nas artes, na política, na filosofia, na ciência e na cultura. Assim, apesar de várias pessoas ainda não aceitarem as diferenças, visuais ou da personalidade, é importante que os cidadãos possam se apresentar do modo como se sentem bem. Anderson Moura, professor de matemática, de 22 anos, diz que acha interessante as diversas tribos que existem e diz que “o que vale é o que se tem dentro, o de fora pra mim não faz diferença!” Acreditamos que é assim que um dia as pessoas irão pensar se todos continuarem se mostrando como realmente são e como se sentem bem. Afinal de contas, o que seria de um mundo em que as pessoas fossem todas iguais? Pense nisso e – sem prejudicar os outros – não julgue, não descrimine e sim busque fazer o que te faz feliz! V

Depoimento da autora da matéria É também nas escolas que os jovens sofrem preconceito por conta de seu estilo. Algumas proíbem que os alunos tenham determinados estilos, e em outros casos, professores e funcionários fazem chacota dos alunos. Isso já aconteceu comigo várias vezes. Eu tinha cabelo azul e, agora, tenho cabelo cor de rosa. Já ouvi muita piadinha de professor, tal como: “seu cabelo é cabelo de velha”, “está parecendo mais com uma espiga de milho com aqueles cabelinhos queimados”, dentre outros comentários nada carinhosos.

*Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados do País e no Distrito Federal (mg@viracao.org)

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IMAGENS QUE VIRAM

Com spray se faz

mobilização Texto: Jéssica Delcarro, do Virajovem São Mateus (ES)* Fotos: arquivo pessoal de Vinícius Gomes

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riado em 2009 o Movimento Sama Jovem é a união de diversos grupos de artistas independentes ligados à cultura, educação, esporte, lazer e arte promovendo participação juvenil. O movimento faz parte do projeto Graffiticidade com Break por meio do Sama CalibriBreak. Atualmente conta com 15 grupos artístico-culturais associados que trabalham com jovens de baixa renda do município de São Mateus (ES). O Sama Jovem é um movimento aberto e democrático que procura fortalecer a juventude com ações comunitárias. Esta edição do Imagens que Viram apresenta o trabalho do grafiteiro Vinicius Gomes, um dos criadores do projeto. V

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Confira o site do Movimento Sama Jovem: www.vix.com/samajovem/sm

*Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados do PaĂ­s e no Distrito Federal (es@viracao.org)


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Capa

Estudar é direito smo beneficiados com a bolsa de Conheça histórias de jovens que, me ade dades para permanecerem na faculd estudos do ProUni, enfrentam dificul Gizele Martins, Danielle Andrade, Maisa Ferreira, Thayanna Cunha e Douglas Baptista, do Virajovem Rio de Janeiro (RJ)*; Amanda Campos e Emilae Senna, do Virajovem Salvador (BA)*; Mariana Rosário e Bruno Ferreira, da Redação

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azer faculdade não é privilégio, como muitos pensam! A aquisição de conhecimento é um direito humano. Por isso, o acesso à universidade não deveria ser restrito. Todos os que sentem vontade de cursar uma faculdade podem fazê-lo, na teoria, mas na prática, as coisas não funcionam como deveriam. Ainda são muitos os estudantes excluídos do ensino superior e o principal motivo não é a falta de grana. Mas, se estudar é um direito, dificuldades financeiras não deveriam justificar a impossibilidade de estudar. Muitas vezes, para realizar o sonho de obter um diploma, estudantes oriundos de escolas públicas sentem a necessidade de começar cedo a trabalhar para terem condições de pagar as mensalidades da faculdade particular. Por outro lado, a maior parte de jovens que estudaram em colégios particulares encontra menos dificuldades em ingressar numa universidade pública, pois os que pagam para estudar são preparados para os vestibulares mais concorridos do País desde o primeiro ano do ensino médio, o que não ocorre com grande parte dos estudantes da rede pública. Para contornar essa realidade, em 2004, o governo federal lançou o Programa Universidade Para Todos, o ProUni, que concede bolsas no ensino superior para estudantes que concluíram o ensino médio em escolas públicas ou que foram bolsistas de colégios particulares. Por conta desta iniciativa, um milhão de estudantes brasileiros com renda familiar de até três salários mínimos conseguiram entrar em universidades particulares de todo o País. O programa conseguiu fazer com que muitos jovens conseguissem realizar o grande sonho de passar e concluir um curso universitário. Sessenta e sete por cento desses estudantes cursaram a faculdade com bolsas integrais, segundo o site do ProUni.

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Histórias Mesmo com o benefício da bolsa, jovens estudantes do ensino superior conciliam uma jornada de trabalho cansativa com os estudos, como forma de viabilizar os gastos com material, transporte e alimentação. A estudante de Administração Mayra Queiroz, de 19 anos, diz que trabalhar e estudar exige muito. Desgastada, encontra dificuldades para descansar e fazer seus trabalhos acadêmicos. "Eu vou para o trabalho e fico até às 17h, depois vou direto para a faculdade e saio às 23h. Quando chego em casa à 0h, preciso arrumar as coisas. Quando consigo dormir já é madrugada, e no outro dia tem que fazer tudo de novo. É bem complicado" conta. Ex-bolsistas, hoje formados, entendem o programa como uma ótima iniciativa, capaz de promover mudança social, viabilizando o direito ao estudo. Débora Silva, de 24 anos, moradora de Nova Iguaçu (RJ) é formada em Marketing pela UniverCidade. Na instituição particular teve a oportunidade de estudar graças ao benefício da bolsa cedida pelo governo. "Este é um projeto super válido porque deu a oportunidade para muita gente fazer faculdade, principalmente, aqueles que não tinham nenhuma perspectiva com relação a isso. Digo isso pelo fato da universidade pública ser muito concorrida e as particulares serem muito caras", diz Débora. A pedagoga Girlane da Costa, que já foi bolsista pelo programa, afirma que já sofreu preconceito dentro de uma universidade por ser pobre. “Já sofri preconceito sim. No início, eu também tinha vergonha em dizer que era bolsista, mas depois passou”, afirma. Para o estudante de jornalismo e prounista Flavio Santos, de 28 anos, o maior problema é a comprovação


Fotos: Fernanda Forato

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da renda todos os semestres, mas reconhece o quanto o programa é importante. "Todos os anos tenho que comprovar renda, não adianta somente fazer a prova, tem que passar por uma avaliação financeira. Mas acredito muito no ProUni". Outra ex-bolsista, a jornalista Glaucia Marinho, de 27 anos, afirma que havia um pouco de segregação dentro da universidade. “Não sofri nenhum tipo de preconceito, mas era segregado sim. Bolsistas andavam só com bolsistas, não havia uma política de integração destes estudantes”, disse a jornalista. Estudo de casos Na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), um acompanhamento dos estudantes beneficiados com a bolsa do ProUni é realizado desde 2005, o primeiro ano letivo em que o programa entrou em vigor. A pesquisa foi realizada com um grupo de 58 estudantes bolsistas do ProUni dos cursos de Pedagogia, Ciências Sociais, Direito, Fonoaudiologia e Psicologia da universidade particular. Com esse levantamento, constatou-se que muitos beneficiados com o Programa desistem dos estudos por outros fatores, como cultural e financeiro. De acordo com Leda Maria de Oliveira Rodrigues, professora da Faculdade de Educação e responsável pela pesquisa, mais de

um terço dos 58 casos analisados enfrentou dificuldades para se manter na faculdade. Parte desses estudantes foi reprovada no decorrer do curso, desistiu ou optou por alongar sua permanência na universidade. Por isso, ela acredita que a simples oferta da bolsa não é suficiente. “Para os alunos pagantes, alongar o tempo de estudo pode ser bom. De livre e espontânea vontade, fazem um curso fora do País, por exemplo. Além disso, todos os alunos do ProUni são filhos de pais de baixa escolaridade e, por isso, não recebem capital cultural. Com isso, a qualidade do diploma acaba sendo diferente e na hora de exercer a profissão haverá um diferencial”, analisa a professora, que acredita que o governo está descomprometido com a educação básica. Outro aspecto da pesquisa destacado pela professora é a média de idade predominante entre os bolsistas. Pelo levantamento, constatou-se que os bolsistas beneficiados com o ProUni em média entram na universidade aos 23 anos. “Considerando que geralmente os estudantes do ensino superior iniciam na faculdade aos 18 anos, há cinco anos de diferença. São alunos mais velhos, o que demonstra que tiveram uma escolaridade com rupturas e interferências”.

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Capa Além da bolsa Os beneficiados com a bolsa do ProUni ficam isentos de pagar a mensalidade, mas estudar envolve custos que a isenção da mensalidade não é capaz de cobrir. Um bolsista do ProUni da Bahia, que não quis se identificar, disse que já teve que passar um semestre inteiro indo para a faculdade a pé, pois se fosse de ônibus, não teria como frequentar as aulas, pois o máximo que a sua família conseguia ajudar dava apenas para uma passagem por dia. Ele também relata que percebia situação semelhante com outros colegas bolsistas que enfrentam dificuldades financeiras para tirar cópias, comprar livros e fazer um lanche. "Esses estudantes, como todas as pessoas, têm necessidades em relação à saúde, alimentação, lazer, moradia, para falar só do básico. Os cursos, em geral, duram quatro anos e não é nada fácil se manter com carências durante todo esse tempo. As demandas dos estudantes vão muito além da escola", afirma Cilene Canôas, professora da Faculdade Paulista de Serviço Social. Jacqueline Pitanguy, diretora da instituição Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação (Cepia), acredita que o surgimento do ProUni ajudou o Brasil a caminhar para uma mudança de padrão de mobilização social. "A universidade pública sempre foi restrita. Foi necessário fazer um programa especial para ampliar o acesso à universidade. E a realidade é que a massa da população não chegava na universidade pública", afirma.

Ela comenta, no entanto, sobre os problemas enfrentados pelos mais pobres dentro de uma universidade: passagem cara, livros caros, a dificuldade de conciliar trabalho e estudos, isso sem falar no preconceito. “Temos agora uma diversidade social maior. Antes era como um castelo frequentado só pela corte, em que todos se reconheciam como iguais. E, de repente, naquele castelo, entram várias outras pessoas que não faziam parte daquela corte. E o que está tendo agora é um tipo de reação, que por um lado existe na rejeição”, afirmou a diretora. Para a professora Leda Maria de Oliveira Soares, o ProUni promove a democratização da vaga, mas não do conhecimento. “Infelizmente, há uma falsa democratização, mas o problema não está no ProUni e sim na educação de base, que não é de qualidade. Os alunos são prejudicados por isso, são diferenciados não pela sala de aula, mas pelo conjunto de conhecimento que os colegas têm por serem de uma classe social diferente”. Em cima da hora Alguns estudantes do ProUni acabam chegando na faculdade com as turmas já formadas e depois do início das aulas, tendo que acompanhar um processo em andamento. Por vezes perdem as primeiras aulas do curso, o que pode, inclusive, dificultar o entrosamento com os outros estudantes. "Confesso que o começo foi bem difícil, porque os alunos bolsistas demoram muito para começar as aulas. Eu, por exemplo, comecei só em março, porque meus documentos tinham que ser aprovados e até a faculdade resolver toda a burocracia necessária perdi aula, o que me atrapalhou muito, porque muitas disciplinas já estavam bem avançadas. Peguei DP (dependência) em uma matéria por não conseguir acompanhar o ritmo", diz Mayra Queiroz, de 19 anos, estudante bolsista de Administração. A documentação avalia se o aluno realmente não tem condições de custear a sua mensalidade, porém a lista de aprovados do ProUni, por vezes, sai depois do inicio das aulas, e até a análise dos documentos o tempo de espera é muito grande, o que se torna mais uma preocupação para o calouro na universidade. "Sinceramente a pior parte é a pressão de manter as notas elevadas. Muitos dizem que qualquer coisinha a bolsa já era", comenta Caroline Leonardo, de 18 anos, estudante de Jornalismo. O critério de avaliação dos alunos bolsistas, assim como a reapresentação de documentos cabe a cada universidade definir. Esse rigor é necessário para que não haja fraude, mas também é necessária rapidez no processo, para não prejudicar o estudante. Já no Sistema de Seleção Unificado (Sisu), que seleciona alunos para as universidades públicas federais brasileiras, há prazos mais condizentes com o inicio das aulas dessas universidades. Geralmente apenas os selecionados da lista de espera começam a estudar depois do início das aulas.

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Outras políticas públicas para o ensino

O que são as Cotas? Ao contrário do que muitos pensam as cotas não são uma forma de privilegiar, mas sim de promover igualdade para as pessoas que não estão nessa condição. As cotas para negros, por exemplo, é uma reparação histórica dos séculos de escravidão que têm consequências sociais até hoje na sociedade. Hoje a igualdade de direitos é prevista em leis, mas para que seja efetivada é preciso que hajam políticas públicas que ajudem alguns setores sociais a alcançarem esse patamar de igualdade com outros segmentos. E a cota é uma dessas políticas, destinadas também a indígenas e a pessoas com deficiência e de baixa renda. O que é o Fies? O Fundo de Financiamento Estudantil, mais conhecido como Fies, é uma realização do Ministério da Educação. Tem como objetivo financiar os estudos de pessoas matriculadas em instituições de ensino superior privadas. Mais informações sobre o programa: http://sisfiesportal.mec.gov.br.

Tente você também! Para concorrer a uma bolsa pelo ProUni é necessário prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Em 2011, o critério para o estudante se candidatar ao programa era atingir no mínimo 400 pontos na média das cinco notas do exame (Ciências da Natureza e suas Tecnologias; Ciências Humanas e suas Tecnologias; Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; Matemática e suas Tecnologias e Redação), além de ter pontuado na Redação. De acordo com o site do ProUni, o programa oferece bolsas integrais e meia bolsa para estudantes que tenham renda familiar, por pessoa, de até três salários mínimos e satisfaça uma das condições abaixo: • Ter cursado o ensino médio completo em escola da rede pública; • Ter cursado o ensino médio completo em instituição privada, na condição de bolsista integral da respectiva instituição; • Ter cursado todo o ensino médio parcialmente em escola da rede pública e parcialmente em instituição privada, na condição de bolsista integral na instituição privada; • Ser pessoa com deficiência; • Ser professor da rede pública de ensino, no efetivo exercício do magistério da educação básica, integrando o quadro de pessoal permanente de instituição pública e concorrer a bolsas exclusivamente nos cursos de licenciatura, normal superior ou pedagogia. Nesses casos não é exigida a comprovação de renda.

Para saber mais sobre o ProUni, acesse: http://siteprouni.mec.gov.br/

Revista Viração • Ano 10 • Edição 84 23


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Uma câmera na mão e várias ideias na cabeça os para Adolescentes da PCU aprendem a produzir víde apresentar os trabalhos dos três anos do projeto Rafael Stemberg e Gutierrez de Jesus Silva, da Redação

24 Revista Viração • Ano 10 • Edição 84

Quando finalizado, o documentário será apresentado durante o evento de encerramento da PCU, em maio, com a participação de representantes das comunidades participantes e convidados. “Eles estão conseguindo se apropriar de outros espaços, então isso é muito bom”, finaliza Jefferson. V

Rafael Stemberg

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alvez não exista frase melhor, como a que dá o título a esta matéria (uma paráfrase do cineasta brasileiro Glauber Rocha), para explicar a experiência de uma das atividades realizadas pelos jovens participantes da Plataforma dos Centros Urbanos (PCU): a oficina de audiovisual. Iniciada há dois meses, adolescentes e jovens têm a oportunidade de conferir de perto como se produz um filme. A ideia surgiu durante reunião da Viração com o Cieds, duas organizações parceiras do UNICEF em São Paulo, que atuam junto à PCU. No encontro, foi levada uma proposta dos jovens, que comentaram ter o desejo de produzirem um vídeo com um resumo dos três anos de projeto. “Não havia recurso no começo, mas como era algo que gosto de fazer, acabei ficando com isso na cabeça e buscando formas de viabilizar a ideia. Foi quando o Cieds conseguiu um recurso e a Viração topou fazer a mobilização e ceder o espaço”, conta Jefferson Santos, educador do Cieds que facilita as oficinas. A produção, com cerca de cinco minutos, trará depoimentos de alguns participantes sobre os trabalhos realizados em suas comunidades, além de pequenas dramaturgias que contarão um pouco do cotidiano dos jovens. “Tem sido muito legal! Os jovens se envolveram bastante. A gente teve um trabalho de compartilhamento. O mais legal é que todas as ideias partiram dos jovens, a criação, o roteiro, e este era o propósito: para falar da PCU com a integração dos próprios participantes da PCU”, diz Novaes, educomunicador da Viração, que também facilita as oficinas. Lucas Ruiz, de 19 anos, diz que apesar de todas as dificuldades de produção, como casar agenda de todos os participantes, a oportunidade é boa para se aprofundar numa área na qual sempre teve interesse. Além disso, acredita que por meio do audiovisual, a mensagem da PCU poderá atingir outras pessoas. “É bom ver o pessoal se mobilizando para produzir o documentário. E o mais legal é que o vídeo é uma forma de comunicação rápida que atinge muito mais gente”, conta o jovem, que estuda também Teatro. Já a jovem Linderlane Pereira, de 17 anos, brinca que a oficina serviu para saber que não é o que ela deseja. “Sempre tive curiosidade de saber como funciona a produção de um documentário e vi que é muito trabalhosa, principalmente a parte técnica, daí acabo gostando mais da área de História (curso que pretende fazer)”. A adolescente também comenta ter valido muito a pena participar da iniciativa, já que “conhecimento nunca é demais”.

Jefferson e Gutierrez durante produção do documentário sobre as atividades da PCU

Plataforma dos Centros Urbanos A Plataforma dos Centros Urbanos (PCU) é uma iniciativa do Fundo das Nações Unidades para a Infância (UNICEF) voltada para a garantia dos direitos de crianças e adolescentes. O objetivo é reduzir as iniquidades garantindo que as crianças e adolescentes, de regiões periféricas das cidades, possam crescer e se desenvolver integralmente como previsto no ECA. A iniciativa é desenvolvida em ciclos com duração de quatro anos (2008 a 2011) e está sendo implementada inicialmente nas cidades de São Paulo e Itaquaquecetuba (SP) e Rio de Janeiro (RJ). A Viração Educomuncação é parceira técnica do UNICEF nessa ação, atuando diretamente na formação de adolescentes que, por meio da comunicação, mobilizam as comunidades em torno de seus direitos.


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Como se faz

Transmissão Online Formações e reuniões podem ser feitas à distância, até mesmo pelas redes sociais, com transmissão online Alessandro Muniz

Alessandro Muniz e Carolina Cunha Lima, do Virajovem Natal (RN)*

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ocê não está mais limitado ao lugar em que mora, nem às pessoas que vê na rua, escola, universidade ou trabalho. Não está mais limitado pelo espaço, pela diferença de culturas, pela possibilidade de estar presente. Agora você pode participar Streaming em português significa “fluxo de mídia”. de algo que acontece a muitos Já em “tecnologês”, é uma quilômetros de você, tudo graças à maneira de permitir que internet, que nos permite transmitir informações sejam enviadas ao vivo, via streaming, em tempo por meios de pacotes de real, o que quisermos, de uma dados, que chegam aos reunião, uma palestra, um evento, computadores através apresentação cultural, tudo. V da internet.

Plenária da Ocupação da Câmara Municipal de Natal, em junho de 2011, sendo exibida ao vivo pela twittcam pra centenas de pessoas

Passo a passo No Facebook há a opção “Iniciar chamada por vídeo com alguém” na janela de chat com um amigo, exatamente como no MSN Messenger. “É melhor se comunicar através do vídeo. Ele aproxima quem está do outro lado”, afirma a estudante Emy Gallant. Na Twittcam é possível realizar uma transmissão para muitas pessoas com um link. No site twitcam.livestream.com, você se conecta com seu usuário e clica em Broadcast Live (transmitir ao vivo!). É super fácil compartilhar o link de sua transmissão. A ocupação da Câmara Municipal de Natal, pelo Movimento #ForaMicarla, transmitiu via twittcam muitas das atividades da ocupação. O Skype (www.skype.com) é um programa que permite realizar chamadas telefônicas do computador (pagando) e chamadas de áudio e vídeo para outros computadores (gratuito). Basta instalar o Skype, criar um usuário e começar a adicionar os seus amigos. No site www.ustream.tv, realizando um cadastro gratuito, você pode criar canais (channels), nos quais você transmite o que você quiser. A rede de comunicação alternativa Articulação Vira Nordeste (AVN) criou o canal www.ustream.tv/channel/intercambioavn para transmitir várias viagens que fará pelo Nordeste conhecendo iniciativas de Comunicação e Educação Alternativas.

*Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal (rn@viracao.org)

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o ã i in p O

Iara Pietricovsky, colaboradora da Vira*

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á estou neste processo de acompanhamento das conferências da ONU desde a Rio 92. Há vinte anos, vivíamos um momento importante. Estávamos inaugurando uma nova década na luta por direitos. Havia muita excitação no ar, grande ilusão e excesso de esperança. Estávamos estabelecendo princípios e convenções que estruturaram um marco jurídico internacional da maior relevância para aqueles que acreditam nos direitos humanos. O chamado Ciclo Social das Nações Unidas foi feito com muita luta política e se apresenta hoje como a melhor parte desta cultura ocidental, fragmentada e assolada por um modo de produção que constrói e destrói coisas belas. Bem, acredito que hoje, destrói muito mais do que constrói. O drama civilizatório é que alguma dessas coisas belas nunca mais retornaram. Estamos perdendo biodiversidade, fauna, flora. Também estamos perdendo na luta contra a mudança climática e, tão terrível quanto, estamos em sério risco de perder também todo este marco jurídico internacional e nacional afirmado durante as conferências da ONU. Chego em Nova Iorque neste março de 2012 e vou direto para nosso QG, que é o Café Viena das Nações Unidas, depois de passar por uma burocracia de crachás e raio X. A cena é um pouco deprimente. Estamos todos e todas por lá, faces conhecidas, cabelos grisalhos e alguns com clara expressão de desânimo. Outros, mais jovens, mais animados, querendo conhecer o processo. O Café Viena tem cadeiras e mesas que as ONGs ocupam, cada uma fazendo seu próprio centro de operações. No passado, éramos mais rebeldes, pelo menos assim me parecia. Hoje, é evidente um acomodamento à burocracia. O sistema agradece. ONGs e movimentos comportados é muito bom. Claro que não se pode generalizar e nem olhar para isso de forma destrutiva, mas acredito que precisaríamos chacoalhar este processo.

Se existe um papel que me parece importante para a estratégia dentro e fora da Cúpula dos Povos, é poder chacoalhar, constranger os processos oficiais por dentro e por fora. Não podemos ficar alheios ao que está passando nos debates internos. Estamos correndo sério risco de perder todas as conquistas do campo dos direitos e ver o marco jurídico internacional ser destruído para poder adequar uma outra visão mais conservadora, desumana, predatória sobre os recursos naturais e sobre os que são, na visão destes, menos humanos, ou seja: mulheres, pobres, negros, indígenas, homossexuais, deficientes e quem mais lute por afirmação dos direitos. Sem ilusão, mas com esperança de que possamos de fato marcar a diferença neste contexto de risco, perda de direitos e de dificuldade para compor uma força política para se confrontar com esta lógica instalada, burocratizada, elitizada de debater e fazer política. Temos que inaugurar uma nova era, de afirmação dos direitos e mais que isso, implementação efetiva. Caso contrário, a perda da ilusão se seguirá a uma perda de esperança. Aí sim, estaremos com um grande problema nas mãos.

V

*Iara Pietricovsky é do INESC e faz parte do Comitê Facilitador da Sociedade Civil Brasileira (CFSC) para a Rio+20.

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Diálogos sobre educação e meio ambiente 7º Fórum Brasileiro de Educação Ambiental discute importância da Rio+20 e das Sociedades Sustentáveis Amanda Campos e Emilae Senna, do Virajovem Salvador (BA)*

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EDUCOM EM LEI AMBIENTAL

erca de três mil pessoas reuniram-se entre os dias 28 e 31 de Um momento marcante do Fórum foi o lançamento, no dia março de 2012 no Centro de Convenções da Bahia para 29 de março, da Política Estadual de Educação Ambiental da participarem do 7º Fórum Brasileiro de Educação Ambiental Bahia, prevista na lei 12.056/11, que aborda em um capítulo (7º FBEA), um evento organizado pela Rede de Educação Ambiental sobre educomunicação. Confira alguns trechos: da Bahia junto com a Rede Brasileira de Educação Ambiental (REBEA). O Fórum é o mais importante acontecimento sobre CAPÍTULO VI Educação Ambiental do País, que teve como tema desta edição DA EDUCOMUNICAÇÃO SOCIOAMBIENTAL Educação Ambiental Rumo à Rio+20 e às Sociedades Sustentáveis. As atividades foram elaboradas nas temáticas ambiental, Art. 21 cultural, social, A Educomunicação Socioambiental é a inter-relação da econômica e visão de comunicação e da educação com a utilização de práticas mundo, em minicursos, comprometidas com a ética da sustentabilidade, através da mesas redondas, paineis, construção participativa, da democratização dos meios e encontros paralelos, processos de comunicação e informação, da articulação entre rodas de conversa, setores e saberes, e da difusão do conhecimento, promovendo atividades culturais, o pleno desenvolvimento da cidadania. oficinas, jornadas Art. 22 temáticas, trilha da vida, Rio+20 e sociedades São objetivos da Educomunicação Socioambiental: vídeos no Ecocine, sustentáveis foram os temas I - promover a produção interativa e a divulgação ampla de poesias, artes, danças e a discutidos durante o Fórum programas setoriais e campanhas educativas socioambientais produção de documentos inclusivas; essenciais para o avanço no campo socioambiental, além dos II - apoiar e fortalecer as redes de educação e estandes onde era possível encontrar peças para comprar ou comunicação ambiental de forma participativa e democrática; grupos ou organizações fazendo divulgação de projetos e ações. III - promover a formação em educomunicação O 7º FBEA proporcionou espaços para que novos militantes socioambiental como parte do programa de formação de ingressem nas discussões sobre Educação Ambiental e educadores ambientais; fortaleceu a reflexão crítica de quem já atua na área. Redes e coletivos tiveram um momento para fazerem o seu encontro presencial, do qual outras pessoas interessadas também poderiam participar e interagir. Os acordos, pautas e políticas sobre Educação Ambiental debatidas durante os quatro dias de encontro serão levadas à Os conteúdos produzidos pelos adolescentes e jovens Rio+20 para que cada vez mais jovens tenham acesso a participantes da cobertura podem ser acessados no blog: informações sobre formas de proteger o planeta. V www.coberturaeducomviifbea.blogspot.com.br *Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados do País e no Distrito Federal (ba@viracao.org)

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faz_cultura_84:Layout 1 26/4/2012 16:46 Page 1

Faz Cultura Juliana Cordeiro, do Virajovem Curitiba (PR)*

RECICLANDO SONS Materiais recicláveis viram instrumentos para crianças e adolescentes da periferia de Curitiba Se sustentabilidade é algo que vira e mexe a sociedade discute, principalmente com a realização da Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), a ação de pessoas para a preservação do meio ambiente não pode ficar fora do debate. Na comunidade do Parolin, periferia de Curitiba, um grupo de sete jovens vem transformando materiais recicláveis em instrumentos de percussão. É o projeto Ginga Bate Lata, que produz sons com latas, litros de refrigerante e outros materiais domésticos que estariam jogados no lixo. Os ritmos são baseados na cultura africana e torna possível o acesso à cultura para moradores da periferia. “O que eles pensavam que era lixo, virou instrumento musical”, relata Adilto José de Paula, um dos idealizadores do projeto. V

A comunidade do Parolin é uma região afastada, com falta de políticas públicas. Quando o Ginga Bate Lata iniciou o seu trabalho em 2009, conseguiu diminuir os danos causados por lixos jogados nos bueiros. “Visando misturar a música e a percussão, a gente viu que poderia resgatar jovens com a reciclagem, um resgate social que vai impactar diretamente na vivência deles”, conta Joel Almeida, responsável por coordenar o projeto.

As ações culturais do Grupo Ginga Total, acontecem com mais de 50 crianças e adolescentes. Eles aprendem a elaborar instrumentos com os materiais recicláveis, dança afro pop, e o ensinamento sobre algumas tradições culturais dos negros.

“A gente compara muito a periferia com os quilombos de antigamente, porque hoje ela é o refúgio da classe social um pouco mais baixa, então dentro da comunidade trabalhamos esta dança afro e os instrumentos de percussão como forma de resgatar os nossos antepassados, que também iam se refugiar dentro dos quilombos “, afirma Joel.

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Os instrumentos de percussão, como tambores, triângulo, chocalhos, têm um único som e são executados com a utilização da mão ou de baquetas. O projeto Ginga Bate Lata faz parte do trabalho do Grupo de Dança Afro Pop Ginga Total, que faz um trabalho de pesquisa sobre danças africanas e depois as misturas com danças populares. Nas apresentações culturais, o grupo mistura os instrumentos de percussão junto com a dança, proporcionando um resgate da cultura dos negros.

Para saber mais acesse sobre o Projeto Ginga Bate Lata acesse:. http://gtafropop.arteblog.com.br/ tag/Ginga+Bate+Lata/


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E eu com isso?!

Participação

Cidadã

a participação Iniciativa em São Vicente (SP) demonstra que actos positivos tem que ser consciente para poder causar imp

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cada dois anos a população brasileira é convocada para participar do processo democrático de decidir quem serão nossos representantes. Estamos em um desses anos e é possível identificar que além de simplesmente votar, tem muita coisa que pode ser feita a fim de influenciar os momentos de decisão, especialmente dentro das cidades. Em uma delas, São Vicente, localizada no litoral do Estado de São Paulo, o projeto Vota Juventude sensibiliza jovens sobre a importância da participação cidadã por meio de charges animadas. Falar sobre política não é algo que é recebido com muita animação, mas os organizadores do projeto encontraram um jeito de driblar essa barreira corriqueira. Por meio de charges e uma linguagem mais próxima da realidade do jovem, o projeto vai até as escolas públicas de ensino médio para fazer um bate-papo provocador com os estudantes. Segundo Danilo Otto, diretor de juventude em São Vicente, esse momento serve para situar o jovem dentro de uma sociedade que possui dependências em comum, como educação, trabalho e saúde. “Nós demonstramos que a falta da garantia desses direitos causa problemas como desigualdade social e violência e os provocamos no sentido de que as soluções não virão por meio de um milagre, mas do trabalho em conjunto deles”, comenta Otto. Os grêmios estudantis são citados como exemplos dessa união dentro da escola e os conselhos de direitos, como o de juventude, os espaços para participar na cidade. A conversa serve também para convidar o jovem de 16 anos a tirar o título de eleitor e, graças à parceria com a Justiça Eleitoral, no dia seguinte ao bate-papo, é feito pré-cadastro e a entrega do título na própria escola até um dia depois do cadastramento. “O título é um grande instrumento de transformação, já que é a nossa forma de exercer o poder”, afirma Danilo, que conclui: “só votar não resolve, tem que votar e cobrar o governo, participar das ações”. A ação, que é realizada pela segunda vez e agora é lei na cidade, é promovida pela prefeitura de São Vicente por meio da Diretoria de Juventude, em parceria com a Diretoria Regional de Ensino, a Ordem de Advogados e Brasil, Justiça Eleitoral e o Conselho de Juventude Municipal. Abrange 22 escolas, chegando a 14 mil estudantes durante o período de um mês de projeto. Em sua primeira edição mais de 1.500 títulos foram retirados. Para esse ano a previsão é de manter o mesmo número. V

*Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados do País e no Distrito Federal (sp@viracao.org)

Carolina Merin

Luciano Frontelle, do Virajovem Boituva (SP)*

Jovens fazem o cadastramento e recebem o título na própria escola

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No Escurinho

Produções cinematográficas abordam a infância em meio à complexidade de contextos políticos

Fotos: Divulgação

Mentiras de família Sérgio Rizzo, crítico de cinema*

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m O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (2006), dirigido por Cao Hamburger (o mesmo do recém-lançado Xingu), um menino é deixado aos cuidados do avô em São Paulo, às vésperas da Copa do Mundo de futebol de 1970. Seus pais precisaram se esconder das forças de repressão do regime militar, mas ele não tem ideia do que está acontecendo com o País. História semelhante, que adota o ponto de vista infantil para reconstituir um cotidiano sob a ditadura, é a do argentino Kamchatka (2002), de Marcelo Piñeyro, com Ricardo Darín (O Segredo dos Seus Olhos, Abutres) e Cecilia Roth (Tudo Sobre Minha Mãe, Ninho Vazio) no papel de um casal que omite dos filhos a razão da família agir de determinada maneira depois do golpe de 1976. Anterior a ambos, o drama iugoslavo Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios (1985) – só agora lançado em DVD no Brasil – é um exemplo admirável nessa mesma linha, ao combinar um pano de fundo sociopolítico com uma trama intimista em torno dos mistérios do mundo, segundo o olhar de uma criança. Sucesso internacional, o filme valeu ao diretor sérvio Emir Kusturica a sua primeira Palma de Ouro de melhor filme no Festival de Cannes (a segunda viria, dez anos depois, por Underground - Mentiras de Guerra, outro polêmico mergulho na história iugoslava) e ajudou a pavimentar uma carreira em que cinema e política se encontram quase o tempo todo (e até mesmo em um documentário como Maradona por Kusturica). Em 1948, o marechal croata Josip Broz Tito, líder comunista da Iugoslávia, resistiu à tentativa da União Soviética em fazer do país um estado-satélite e rompeu com Moscou. A manobra criou problemas para os integrantes de facções comunistas iugoslavas identificadas com os soviéticos, como um dos personagens de Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios, que é preso. A família precisa se virar sozinha na sua ausência, tomando cuidado para não se envolver em novos problemas políticos, e o seu filho menor acredita na versão fantasiosa que lhe contam para explicar por onde anda o pai. A partir desses elementos, Kusturica cria uma fábula sobre o fim da inocência – de uma criança, e também de uma sociedade. V

Capa do DVD do drama iugoslavo Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios, de Emir Kusturica

* www.sergiorizzo.com.br

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Que Figura!

Talento a partir dos dedos

ta do mundo

Guiomar Novaes consagrou-se internacionalmente como a melhor pianis

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onhecida pelas suas interpretações das obras de Chopin e Schumann (dois compositores de música clássica), a pianista brasileira Guiomar Novaes construiu sólida carreira no exterior, em especial nos Estados Unidos. Ela nasceu em São João da Boa Vista (SP), em 28 de fevereiro de 1894, e morreu no dia 7 de março 1979, na capital paulista. Ainda aos quatro anos demonstrou interesse pelo piano ao acompanhar as aulas de suas irmãs. Foi aluna de Luigi Chiaffarelli, um mestre italiano, responsável pelo seu desenvolvimento artístico e pela fama internacional que ela e outros pianistas conseguiram. Guiomar foi vizinha do escritor Monteiro Lobato, que idealizou a obra O Sítio do Picapau Amarelo. Inspirado na então aprendiz de pianista, o escritor cria a famosa personagem Narizinho, a menina do nariz arrebitado. Apresentou-se em público pela primeira vez em 1902, quando tinha oito anos de idade. Aos 15, foi para Paris para dar continuidade aos estudos. Na ocasião, apresentou-se para a Princesa Isabel. De volta ao Brasil, em 1913, a pianista permanece por dois anos no País. O mundo vivia a Segunda Guerra Mundial, o que inviabilizou que assumisse compromissos no exterior. Apresentou-se nos teatros municipais de São Paulo e Rio de Janeiro e, em 1915, retoma sua agenda internacional, iniciando uma turnê pelos Estados Unidos, onde foi aclamada pela crítica.

Guiomar perde a mãe em 1919 e no ano seguinte oficializa seu noivado com o namorado Octávio Pinto, arquiteto e compositor, com quem se casa e tem dois filhos. Em 1922, ano da Semana de Arte Moderna, inclui em seus recitais as obras de Villa-Lobos, tornando-se uma assídua divulgadora do seu trabalho. Em 1938, a pianista recebe novamente um grande reconhecimento internacional. Quando toca para o então presidente estadunidense Franklin Roosevelt, é considerada pela crítica da nação norteamericana a melhor pianista do mundo. Em 1950, morre o marido e maior incentivador da carreira da pianista. Abalada, chegou a cogitar deixar os palcos, mas o amor pela música a fortaleceu para dar continuidade às apresentações. Superada a crise causada pela viuvez, é convidada pela rainha Elizabeth II, em 1967, para inaugurar o Queen Elizabeth Hall, em Londres, tamanho era o seu prestígio. Aos 85 anos, a saúde de Guiomar passa a ficar frágil. Sofre um derrame cerebral, seguido de um infarto do miocárdio, que levou à sua morte em março de 1979. O fato foi manchete em diversos jornais do exterior. Seu corpo está enterrado no Cemitério da Consolação, em São Paulo. V

“”Eu sempre toco uma peca de maneira diferente, pois descubro alguma coisa nova e me surpreendo. Arte e a coisa mais sutil que existe, nem sempre conseguimos compreend^e la.”

Guiomar Novaes

*Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados do País e no Distrito Federal (sp@viracao.org)


sexo_e_saude_84:Layout 1 26/4/2012 15:56 Page 1

Sexo e Saúde

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masturbação pode representar o início da descoberta da sexualidade de meninos e meninas. O esclarecimento sobre esse e outros assuntos é fundamental para que adolescentes e jovens conheçam seu corpo, e na hora da relação sexual propriamente dita não enfrentem as consequências do sexo praticado sem proteção. Por isso, os virajovens de São Gabriel da Cachoeira (AM) levaram algumas questões elaboradas por adolescentes da Associação BemVindo para o enfermeiro-sanitarista Hernane Santos Jr, da Secretaria Municipal de Saúde da cidade. Confira as respostas! V

Cláudia Maria Ferraz, do Virajovem São Gabriel da Cachoeira (AM)*

Natália Forcat

Para os meninos e meninas, faz bem a masturbação? A masturbação é de suma importância para ambos os sexos, por proporcionar um melhor reconhecimento do corpo, das reações químicas e físicas ocorridas durante o ato. O reconhecimento do corpo é bom para o crescimento da vida sexual e não tem contra indicação. Como as meninas percebem que estão grávidas? Quais os sintomas? O ato de se tocar ou mesmo de auto avaliar-se, proporciona às meninas melhor percepção das mudanças ocorridas no corpo, levando a descoberta muito mais precoce de uma gravidez. Os primeiros sintomas de uma gravidez são: ausência da menstruação, náuseas, sonolência etc. É possível engravidar sem penetração? Sim, é possível engravidar sem penetração, porém é muito mais difícil. O mais importante é se proteger usando camisinha para evitar além da gravidez, as DSTs/aids – doenças sexualmente transmissíveis. O diafragma pode evitar gravidez? Sim, é um método anticonceptivo usado para evitar gravidez, porém não evita DST, por isso ele é mais utilizado para casais estáveis. E não é um método de primeira escolha pela saúde pública brasileira como anticonceptivo.

Mande suas dúvidas sobre Sexo e Saúde, que a galera da Vira vai buscar as respostas para você! O e-mail é redacao@viracao.org

*Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados do País e no Distrito Federal (am@viracao.org)

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Rango da terrinha

é Pirão conhecido como Cabeça-de-galo popular nos Estados do Nordeste brasileiro Niedjha Ribeiro, do Virajovem João Pessoa (PB)*

C

abeça-de-galo é um prato típico da culinária de João Pessoa (PB). Ninguém sabe do porquê do nome do prato, também não há registros precisos sobre sua origem, mas acredita-se que é uma contribuição dos escravos do período colonial da história brasileira. Seus ingredientes são de fácil aquisição em feiras populares. O cabeça-de-galo tem suas variações de acordo com o Estado em que é feito. Está presente em praticamente todas as regiões brasileiras, mas principalmente nos estados da região nordestina. Essa iguaria é um pirão ralo de ovo e farinha de mandioca, considerado pelo meio popular, um restaurador de energias após as bebedeiras ou um dia de trabalho intenso. Na capital paraibana, o prato é também conhecido como caldo da caridade ou simplesmente sopa de cabeça-de-galo. V

Ingredientes

Modo de preparo Coloque a água para ferver com uma colher de sopa de azeite (ou óleo de soja) em uma panela, de preferência refratária, e aguarde levantar fervura. Depois, adicione três cubos de caldo de galinha, três tomates grandes picados, duas cebolas grandes picadas, duas colheres de sopa de cebolinha picada, um pimentão verde grande picado, pimenta-do-reino a gosto e duas colheres de chá de colorau e mexa devagar, deixando cozinhar por três minutos. Em seguida, quebre os cinco ovos grandes, que devem permanecer inteiros, adicionando-os individualmente ao caldo, sem mexer. Deixe cozinhar por mais dois minutos. Adicione, com uma das mãos, a farinha de mandioca, soltando-a devagar e mexendo o caldo por cerca de cinco minutos até que a mistura atinja a consistência de um mingau fino. Sirva quente.

*Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados do País e no Distrito Federal (pb@viracao.org)

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Fotos: Ana Márcia - Blog Conversas e Temperos

1 litro e meio de água; 1 colher (sopa) de azeite (ou de óleo de soja); 3 cubos de caldo de galinha; 3 tomates grandes picados; 2 cebolas grandes picadas; 2 colheres (sopa) de cebolinha picada; 1 pimentão verde grande picado; Pimenta-do-reino a gosto; 2 colheres (chá) de colorau para dar cor ou extrato de tomate; 5 ovos grandes inteiros; 150 g de farinha de mandioca (o suficiente para dar ponto de mingau fino); 1 xícara de coentro fresco picado.

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, Programa de qualificação profissional, do Pará transforma jovens em agentes de mudança

Breno Mendes e Dayana Souza, do Virajovem Belém (PA)*

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juventude não se contenta com pouco. Sempre se movimenta em busca de sonhos, perspectivas e desejos que, muitas vezes, são potencializados em alguma ação. Exatamente por compreender esse comportamento, o Programa Juventude, Participação e Autonomia (JPA), do Instituto Universidade Popular (Unipop), lançou em 2011, o Projeto Amazônia: Juventude Urbana Fazendo sua Opção pela Vida. “Contamos com parcerias locais de instituições, organizações e empresas nos três municípios em que o projeto está sendo implementado, que são Marabá, Santarém e Belém. O projeto tem o patrocínio do Programa Petrobras, Desenvolvimento e Cidadania”, enfatiza Dayana Souza, coordenadora pedagógica. A iniciativa vai ao encontro de um dos principais anseios dos jovens, principalmente na faixa etária de 18 a 25 anos, que é a inserção no mercado de trabalho. Para atender a esta demanda, a equipe do projeto desenvolveu processos formativos de qualificação social e profissional com os jovens, com o intuito de transformá-los em agentes da mudança, exercitando a cidadania e contribuindo para a efetivação de políticas públicas. E claro, foi necessário muito esforço para concretizar tudo isso. “A ação está de parabéns, principalmente pela coragem em colocar em prática um projeto de tamanha responsabilidade, já que a juventude é bastante esquecida

hoje, principalmente a que está na periferia e meninas como eu que têm filho pra cuidar e não têm tempo nem oportunidade para se qualificar para o mundo do trabalho”, diz Rita de Kassia, de 26 anos. “Analisamos dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos do Pará (DIEESE/PA) e constatamos que as pessoas entre 18 e 29 anos de idade estão, em sua maioria, sendo inseridos no mercado de trabalho pelo comércio. Por isso, o projeto optou por ofertar uma formação em promotor de vendas”, ressaltou Selli Rosa, coordenadora do projeto. O projeto também vem rendendo outros frutos positivos. O mais destacado é a realização da campanha Que Cidade Queremos para Viver?, que dá visibilidade às necessidades da juventude no acesso aos espaços e serviços públicos com qualidade necessária e digna e busca fortalecer ações de pressão sobre o poder público para garantir políticas voltadas pelo direito à cidade. V Divulgação

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Parada Social

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Jovens participam de processo de qualificação profissional

*Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados do País e no Distrito Federal (pa@viracao.org)


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