BEM-VIVER
' FORUM INTERNACIONAL PARA O BEM-VIVER ' PELA AGÊNCIA JOVEM DE NOTICIAS FÓRUM INTERNACIONAL EM GRENOBLE
UMA MUDANÇA DE ESCALA
Pela primera vez em Europa
Pessoalmente, o que significa para você o “Bem-Viver”
UMA SOCIEDADE SUSTENTÁVEL Novas alternativas para os indicadores econômicos
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EM COLABORAÇÃO COM:
PROGETO GRÁFICO:
'INDICE 04
EDITORIAL
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METHOD GUNDIDZA: A NECESSIDADE DE RECUPERAR A BONITA DANÇA DA VIDA
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EU E O FÓRUM INTERNACIONAL DO BEM-VIVER
PESSOALMENTE, O QUE SIGNIFICA PARA VOCÊ O “BEM-VIVER”?
SYLVIE BUKHARI-DE PONTUAL: O PRIMEIRO FÓRUM INTERNACIONAL DO BEM-VIVER NA EUROPA
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PATRICK VIVERET: COMO PODEMOS NOS TRANSFORMAR EM UMA SOCIEDADE DO BEM-VIVER
FOTOGRAFIAS DO BEM-VIVER
DASHO KARMA URA: BUTÃO E SUA FELICIDADE INTERNA BRUTA
ASIER ANSORENA: MAIOR INDEPENDÊNCIA ECONÔMICA E SOBERANIA
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PABLO SOLÓN: A DESCOLONIZAÇÃO PARA UMA VISÃO DO BEM-VIVER
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NOSSA VEZ DE FALAR
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EDITORIAL Como escrever sobre 0 Bem-Viver Pela primeira vez na Europa, o Fórum Internacional para o BemViver foi realizado de 6 a 8 de junho de 2018 em Grenoble (França), com o apoio da Universidade de Grenoble-Alpes, FAIR (Forum pour d’Autres Indicateurs de Richesses), CCFD-Terre Solidaire, município de Grenoble e Grenoble-Alpes Métropole. O principal objetivo do Fórum era promover e compartilhar experiências diversas baseadas no Bem-Viver da sociedade e não no crescimento econômico. O evento reuniu cerca de 75 oficinas, das quais participaram 1000 pessoas. Os participantes eram principalmente pesquisadores, representantes eleitos, funcionários do governo local, organizações da sociedade civil e cidadãos comprometidos vindos de 25 países. O intenso Fórum de três dias teve cobertura da Agência Jovem de Notícias, uma equipe de 12 jovens repórteres vindos da África do Sul, Argentina, Vietnã, Brasil, Romênia, Itália e França. Iniciativa internacional da associação Viração Educomunicação, a Agência Jovem de Notícias produziu artigos, entrevistas, vídeos e fotos com um espírito inovador e criativo. Estes produtos são publicados online no site www.agenciajovem.org. Este e-book é um produto extra criado pela Agência Jovem de Notícias resumindo os melhores momentos do Fórum. Aqui está a lista completa dos membros da Agência de Notícias que participaram do Fórum Internacional para o Bem-Viver:
PARTICIPANTES
EDUCADORES
Dominic Brown Paulo Lima Fabio Trapani Giulia De Paoli Florencia Pistan Diego Chitarrini Kim Pham Margaux Deygas Pauline Meary Chabbrey Natália Aquino Phuong Nguyen Ngoc Tram Nguyen EDUCATORS Oliana Quidoz Paul Sopon Paula Bonfatti Sizwe Nyuka Thao Nguyen
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' Eu e o Forum Internacional para o Bem-viver POR OLIANA QUIDOZ Traduzido por Daniele Savietto
Quase três anos depois, em novembro de 2015, tive a oportunidade única de participar da Conferência Nacional de Felicidade Bruta (GNH), realizada em Paro, no Butão. Eu viajei para lá com quinze amigos da Bélgica, França e Colômbia. A qualidade dos encontros humanos que fizemos no Butão, a simplicidade com que fomos recebidos, o brilho da visão que se espalhou por todo o país tiveram um grande efeito sobre mim. Quando voltamos, estávamos convencidos de que o desafio de organizar um evento internacional sobre essas questões na Europa, e mais particularmente em nossa cidade natal dinâmica de Grenoble, valeria a pena! Depois de dois anos trabalhando com esse grupo em indicadores alternativos de riqueza e bem-estar, voei para diferentes áreas da vida, mas não pude perder o projeto inspirador de longo prazo, então me juntei à equipe da Agência Jovem de Notícias ... Reunindo mais de mil pessoas durante três dias, explorando aspectos tão diversos como agroecologia, organização comunitária e saúde, cultura e até as múltiplas dimensões do sentimento pessoal do Bem-Viver e satisfação na vida. Pessoalmente, o Fórum de junho de 2018 foi o tempo para se reconectar com amigos do Butão, Tailândia, entre outros (havia 25 delegações estrangeiras!), E também para colher idéias de perspectivas profundas exibidas por participantes da América do Sul e África... Na verdade, foi também a primeira vez que ouvi falar de grupos sul-africanos que descrevem a sua própria visão do Bem-Viver (através do conceito de Jangano) e as suas palavras vieram diretamente ao meu coração, por causa da sua honestidade e forma clara, brilhante e iluminada para falar sobre os valores da comunidade.
O sorriso do amigo sul-africano Method Gundidza é uma das primeiras imagens que me vêm à mente quando penso nestes três dias tão cheios... Além disso, este novo formato do fórum participativo, organizado em mais de setenta e cinco oficinas, também foi muito diferente da conferência mais formal do Butão: até mesmo nos permitindo acrescentar temas informais e momentos que não foram planejados com antecedência, como a oficina feminista que também trouxe muito amor e esperança para minha compreensão pessoal do novo mundo para criar juntos. Agora, quase quatro meses após do evento, os projetos e o desejo de contribuir vêm à minha mente todos os dias, energizando minha vida diária e me ajudando a manter a energia positiva, mesmo nos momentos mais difíceis. Embora não possamos ver essa mudança social completa em nossas vidas, acredito que é bom tentar e desfrutar construindo uma memória coletiva desses movimentos sociais de bom coração e outras energias em jogo nas políticas públicas e no ambiente universitário também, e escrever e contar aos mais jovens nossas próprias histórias sobre o mundo com o qual estamos tratando de nos relacionar. Isto é, espalhar um desejo intergeracional de viver em um planeta vivo enquanto desenvolvemos nossa capacidade de cuidar do próximo e de nós mesmos, através de nossas paixões pessoais e nosso gosto por compartilhar.
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Pessoalmente, o que o Bem-viver significa para você? Uma pergunta muito simples foi feita pela Agência Jovem de Notícias para cada protagonista deste e-book no Fórum Internacional para o Bem-Viver: “Pessoalmente, o que o Bem-Viver significa para você?”. A variedade de respostas recebidas revelou a profundidade do conceito do Bem-Viver.
Pessoalmente, o que chamo de Bem-viver é a arte de viver no momento certo. Ou seja, é a arte de estar totalmente presente na vida. É o fato de dizer que não posso viver tudo, não posso fazer tudo, mas as coisas que vivo, vou viver intensamente. Portanto, neste momento, não estou buscando a felicidade no sentido de uma felicidade efêmera ou um golpe de sorte, ou um capital que alguém estaria tentando conquistar, mas também com medo de perder. Nós estamos vivendo no tempo errado, da mesma forma, se nos impedirmos de sofrer quando perdemos alguém amado, por exemplo. É realmente uma arte de plena presença para a vida, a meu ver, e a esse respeito, viver no momento certo é, no final, o sinônimo exato de Bem-viver.
PATRICK VIVERET
Para mim, o Bem-viver é a felicidade, o que significa o tipo de força que fazemos coletivamente como um grupo. Eu acredito que somos melhores junto com nossos pares do que sozinhos. SYLVIE BUKHARI-DE PONTUAL
Minha compreensão de Bem-viver são pessoas saudáveis em termos de seus próprios corpos, vivendo em um ambiente saudável no qual não há poluição da água e do ar, há um número suficiente de outros amigos não humanos disponíveis a interagir com os animais, árvores, insetos, montanhas e rios. Esta é uma comunidade muito maior e mais grandiosa que a dos humanos. Bem-viver é quando humanos são capazes de interagir com outros seres não-humanos, mas também quando eles interagem entre si cantando, dançando em cerimônias que celebram a vida, trabalhando juntos em diferentes assuntos, e conversando. Comer comida que as pessoas gostam e lhes dá saúde e felicidade, conversando com elas culturalmente, socialmente e economicamente.
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METHOD GUNDIDZA
Depois que todas as outras condições forem satisfeitas, o Bem-viver pode ser criado por uma combinação de bom sono, paz emocional, meditação e algum exercício todos os dias. Isso irá criar Bem-viver em nível pessoal. Há também uma ideia de longo prazo sobre o Bem-viver. Você deve ter educação, saúde, renda, uma boa família, um bom ambiente... Você sabe, vá para a Nova Zelândia, vá para os Estados Unidos para trabalhar, vá para Japão para morrer, “seja livre” etc. Esta é uma ideia de Bem-viver no longo prazo. Mas o Bem-viver também é gerado a cada momento, de modo que a melhor escala e o melhor período para observar o Bem-viver também são as vinte e quatro horas do dia. Então, se eu não durmo esta noite, se eu não fizer nenhum exercício físico e ficar sem me mover por um dia inteiro, ou se eu me permitir ficar emocionalmente perturbado por me expor a essa experiência, amanhã eu não terei Bemviver. É preciso cuidar-se hora a hora, dia a dia.
ASIER ANSORENA
DASHO KARMA URA
Eu acho que o Bem-Viver se realiza não apenas fornecendo oportunidades econômicas para o a maioria das pessoas vulneráveis - como estamos fazendo através do nosso banco comunitário Banco Palmas no Brasil. Mais importante que uma linha de microcrédito é promover a inclusão social, construir habilidades, proporcionando tempo para lazer e encontros. O Bem-Viver também leva em consideração fatores psicológicos: é olhar para dentro antes de olhar para fora, é viver com paz interior.
O conceito de "Vivir Bien", que pode ser traduzido como Bem-viver, é uma cosmovisão, é um modo de vida das comunidades indígenas vindas da região andina da América do Sul. Essa cosmovisão tem elementos diferentes. Um elemento é o holístico, que diz que tudo está interconectado, não apenas a vida e a natureza humanas, mas tudo o que está no cosmos ou sob o solo, e que não há espaço sem tempo. Essa visão também sugere que o tempo não funciona de maneira linear, mas como uma espiral. Portanto, para essa visão, o conceito de progresso, de ir sempre para algum lugar mais avançado que o passado, não é realmente verdadeiro. Então, em qualquer coisa no futuro, há algo do passado. Há sempre complementaridade entre diferentes aspectos. Por exemplo, você não pode ter felicidade sem tristeza, então pensar apenas em felicidade é uma ilusão, pura felicidade não existe, só pode existir de forma complementar, com a tristeza em oposição, e nós podemos seguir na mesma linha com muitos outros aspectos da vida e da existência. A coisa mais importante para os seres humanos é saber como equilibrar este todo que tem elementos diferentes e contraditórios. Assim, o propósito não é crescer para sempre ou progredir para sempre, mas como você equilibra esses diferentes elementos sem excluí-los, mas buscando criar complementaridade entre eles a fim de produzir um todo. Porque não há nada mais importante do que o todo, a totalidade, e uma totalidade que está em equilíbrio.
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PABLO SOLÓN
Sylvie Bukhari-de Pontual O primeiro Fórum Internacional para o Bem-Viver na Europa POR KIM CUONG PHAM Traduzido por Fernanda Favaro
Sylvie Bukhari-de Pontual é professora de direito, advogada e ativista francesa pelos direitos humanos. É a primeira mulher presidente do CCFD-Terre Solidaire, comitê católico francês comprometido com o combate à fome e com a promoção do desenvolvimento em escala mundial. Juntamente com um consórcio de associações, a CCFD-Terre Solidaire organizou o Fórum Internacional para o Bem-Viver.
Quais são suas impressões sobre esse evento que ocorre pela primeira vez em Grenoble? Eu considero extraordinário. Antes de tudo, este é um projeto de longo prazo. Nós, os organizadores, sabemos da importância de transformar o mundo. Também entendemos que só podemos transformá-lo se vivermos e trabalharmos juntos. Graças ao apoio de diferentes associações, pudemos compartilhar nossos pontos de vista, nossas experiências na vida real e organizar um fórum para trazê-las para a sociedade. Ao acompanhar o fórum desde seu início até hoje, percebo que todos os co-organizadores têm suas próprias forças e fraquezas. Quando trabalhamos juntos, compensamos a falta de força um do outro para criar um grupo forte e unido. Todos nós trabalhamos com alegria, somos felizes e gostaríamos de fazer todos ao nosso redor felizes. Para mim, é exatamente esse o caminho para transformar o mundo. Se você está feliz com os outros, você pode fazer todos felizes, e isso muda o mundo. É muito importante espalhar este espírito.
SYLVIE BUKHARI-DE PONTUAL exatamente com o que estamos trabalhando, então concordamos em atuar nisso. Havia apenas algumas pessoas. Então, olhamos em volta para ver se havia alguém que também estivesse interessado nesse assunto. E sim, havia pessoas interessadas. Contatamos o prefeito da cidade, a metrópole e a universidade para explicar o projeto e pedir cooperação. Passo a passo, o projeto começou. E hoje, aqui estamos nós em um fórum internacional com mil pessoas. Eu acredito e sei que amanhã haverá duas, três, quatro mil pessoas e assim por diante. Se todos fizerem o mesmo em todos os lugares, podemos dizer que haverá um novo mundo em 50 ou 60 anos. Todos nós podemos acreditar nisso.
Como você vê o CCFD-Terre Solidaire e o conceito de BemViver nos próximos 5 anos?
Qual é a sua visão de como ajudar as pessoas a entender o significado de Bem-Viver no futuro?
Eu acredito firmemente que esse conceito irá longe. Quando olhamos para trás, anos atrás, o projeto começou com uma pessoa, uma parceira do CCFD-Terre Solidaire. Quando ela veio aqui pela primeira vez, nos perguntou, como parte do grande grupo do CCFD-Terre Solidaire: "Por que vocês não trabalham em todos os campos de indicadores econômicos?". Nós consideramos que essa ideia estava fortemente ligada ao desenvolvimento social e à luta contra a fome, que é
Hoje em dia, com todas as novas tecnologias e meios de comunicação de massa, as notícias se espalham muito rapidamente para que isso possa acontecer mais cedo do que pensamos. Mas em vez de aproveitar as mídias sociais que multiplicam as coisas muito rapidamente, ainda estou convencida de que precisamos de tempo para realmente transformar o mundo a partir do "chão", de acordo com a
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maneira como o mundo funciona. As coisas ao redor do mundo não mudam rapidamente. Quando você olha para a natureza, você vê a grama. A grama está crescendo dia a dia, não tão rapidamente, e somos como a grama. Como elementos da natureza, precisamos de tempo para sermos transformados. Você tem planos ou está trabalhando com outras pessoas para tornar esse conceito popular na França? Uma das especialidades do CCFD-Terre Solidaire é conectar pessoas. Procuramos fazer com que as pessoas se aproximem, convivam, façam coisas juntas, trabalhem juntas. Aqui na França, local e nacionalmente, temos desenvolvido as atividades do CCFD-Terre Solidaire há cerca de 60 anos. Criamos esse tipo de conexão entre nossos parceiros em muitos países e dentro do nosso grupo na França. Achamos que o mais importante é criar vínculos e conexões não entre pessoas que estejam na mesma situação que nós, mas entre pessoas das quais estamos longe, que estão em circunstâncias diferentes.
“Nós, os organizadores, sabemos da importância de transformar o mundo. Também entendemos que só podemos transformá-lo se vivermos e trabalharmos juntos.”
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PATRICK VIVERET "Como podemos nos transformar em uma sociedade do Bem-Viver?" POR OLIANA QUIDOZ Traduzido por Leila Lima e Lucas de Andrade Lindolfo
Patrick Viveret é filósofo francês, magistrado do Tribunal de Auditoria francês e ativista social, empenhado na promoção da solidariedade e de novas formas de participação política e relações de poder. Ele é o co-fundador de iniciativas sociais como os Dialogues en Humanité e o SOL Project.
Considerando que o modelo de desenvolvimento precisa ser mudado, sobre quais bases filosóficas precisamos refundá-lo? Começo com o grande filósofo que considerou essas questões, me refiro a Spinoza, o qual enfatizou que o grande problema é a alternativa entre, de um lado, a alegria e, de outro lado, o medo, que está no núcleo do que ele costumava chamar de “paixões tristes”. Portanto, cultivar a energia da alegria é para mim o elemento essencial, porque no final temos um sistema - como é o caso hoje do capitalismo de mercado e de outros regimes, o despotismo, o fundamentalismo religioso - que quando analisamos profundamente o que o impulsiona, vemos que é o medo direto e o entretenimento em relação a esse medo, como já explicava Blaise Pascal. Por exemplo, entretenimento em relação ao medo da morte, doença, envelhecimento, etc. Todo o sistema capitalista é profundamente um sistema de entretenimento. Então, o que se tem que fazer é construir, ao contrário, um tipo de movimento no qual a energia fundamental seja a alegria. Isso não significa que esse movimento renuncie à raiva, indignação, resistência, etc. Mas essa resistência em si mesma será uma resistência criativa e não uma rebelião desesperada, porque é impulsionada pela energia da alegria.
PATRICK VIVERET dos direitos humanos em geral e entre os direitos humanos, os direitos das mulheres, que são absolutamente fundamentais. Então, também temos momentos que vêm mais pela tradição de grupo: sublinhando a importância dos povos nativos, a importância dentro da cosmovisão do "Bemviver", das relações com a Mãe Terra, etc. O grande problema é assumir um movimento de pêndulo, e supor que devemos renunciar à modernidade e nos voltarmos para o lado da tradição, o que de fato poderia ser uma tentação... Ao contrário, é preciso iniciar um diálogo aberto e exigente, que nos permita levar o melhor da então chamada tradição assim como na modernidade e, ao mesmo tempo, determinar aspectos obscuros. Por exemplo, dentro dos aspectos positivos da modernidade estão a liberdade de consciência, emancipação, individuação, que é algo totalmente diferente do individualismo. Mas, ao mesmo tempo, o lado obscuro é o processo de 'coisificação', transformando a natureza em uma coisa, transformando os vivos em uma coisa e, no final, transformando os seres humanos em coisas através do merchandising. Portanto, precisamos manter o melhor, a emancipação, a liberdade e assim por diante, e ao mesmo tempo ser crítico do pior.
Entre tudo o que foi discutido aqui, que diferenças e que similaridades você vê nas muitas maneiras de representar uma alternativa desejável de compreensão global do mundo? Primeiramente, algo que eu acho muito interessante, é que claramente há um ponto de encontro entre dois grandes movimentos históricos que agora estabelecem um verdadeiro diálogo civilizatório. Há movimentos advindos da modernidade, portanto, das lógicas da emancipação,
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“Então, o grande problema é administrar, através desse diálogo aberto e exigente, uma aliança do melhor da liberdade e da emancipação com o melhor da criação de vínculos, e estar em uma resistência criativa para enfrentar o que há de pior.”
O mesmo vale para as culturas das sociedades tradicionais. Poderíamos dizer que o melhor é criar vínculos: com a natureza, com os outros laços sociais - e vínculos espirituais - a questão do sentido da vida. Esses são os três pontos que a modernidade não mais considera. No entanto, há também um ponto cego dentro das sociedades tradicionais, e é a dependência! Porque o laço social pode evoluir para o controle social, e seu significado também se tornando identitário e exclusivo, pode levar à exclusão ou à guerra. Até mesmo a conexão com a natureza pode levar a uma forma de ecologia misantrópica. Então, o grande problema é administrar, através desse diálogo aberto e exigente, uma aliança do melhor da liberdade e da emancipação com o melhor dos vínculos, e estar em uma resistência criativa em oposição ao que temos de pior. A ideia é bem expressa por um amigo indiano que muitas vezes está presente nos Diálogos na Humanidade: "Coca-cola e decisão", significando por um lado ok, eu abro meus mercados, mas em troca você pára de me incomodar com os direitos das mulheres. Então, na minha opinião, esse é o grande negócio que está em jogo agora, e é uma oportunidade através deste Fórum Internacional para o Bem-viver porque, de fato, o Bem-viver nos obriga a considerar a questão dos critérios necessários para identificar o que é claro e o que é sombrio dentro desses grandes movimentos históricos.
As sociedades civis em todo o mundo também tentam repensar o sistema democrático. Você diz que o principal problema é restaurar a função ética e política dos indicadores (para que não precisemos de indicadores muito sofisticados, apenas oportunidades para debater). Mas como podemos coletivamente garantir a possibilidade de nos sentirmos completamente livres para expressar todos os conflitos e as questões? Em primeiro lugar, é muito importante inscrever no centro do próprio processo democrático a questão desses espaços de debate e inscrever, portanto, o apelo à qualidade no processo democrático. Hoje, temos uma forma de democracia que é insatisfatória porque é delegativa e não participativa, é competitiva e quantitativa. Ela se dá, basicamente, através das eleições, consideramos que a pessoa que venceu a competição recebeu um cheque em branco por x anos. Este processo, em primeiro lugar, é simplificado e binário... Além disso, é preciso considerar o caso de quem faz algum tipo de denúncia, cuja importância hoje é muito óbvia para garantir o processo democrático. Quando pensamos em termos quantitativos na maioria dos casos, os eleitos representam apenas uma pequena minoria. Assim, precisamos introduzir preocupações de qualidade: por exemplo, a questão do discernimento e a questão da sabedoria que é muito antiga. Esta diz que uma coisa muito importante para alcançar o discernimento é o surgimento de uma qualidade superior de consciência. Dentro de nossa rede internacional de Diálogos na Humanidade chamamos isso de “mutação qualitativa da democracia”. E precisamos reintroduzir espaços dentro das estruturas democráticas onde o critério determinante é a qualidade da consciência e a qualidade da sabedoria. E fazemos isso não para eliminar todos os outros critérios, mas para garantir uma articulação entre o melhor da democracia real - o sufrágio universal e a melhor qualidade democrática estruturada em torno do apelo ao discernimento. A partir daqui, obviamente, deliberação e avaliação tornam-se determinantes. Assim como para uma pessoa o grande desvio ético (como fazer escolhas para a própria vida que são escolhas complexas, porque as situações são pouco simples)
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e a qualidade do discernimento na escala política (deliberação, avaliação) também exigem participação. No entanto, não é uma forma de participação que conduza a pessoa a paixões coletivas ou a movimentos malhumorados, porque isso também pode criar formas regressivas. É participação, mas para favorecer uma maior qualidade de consciência. Ao tentar transformar a violência em conflito, o que dizer da parte emocional dos mal-entendidos? O que podemos fazer para garantir que os participantes se sintam inteiramente livres para expressar todos os conflitos? Uma das ferramentas que já experimentamos em redes de cidadãos é chamada de construção de desacordos. Isso funciona a partir da hipótese de que aquilo que é tóxico não é o desacordo, mas o malentendido. O problema é que em algum momento parte do grupo sente que não foi ouvida e por isso tem a sensação de ser desprezada, ou mesmo humilhada. Isso é o que produz, depois, metástases perigosas. Em um exercício de construção de desacordos, como vimos que a maioria dos mal-entendidos vêm da esfera emocional e não da intelectual, começamos com a movimentação de técnicas de debates. Pegamos palavras-chave de um debate e pedimos ao grupo para se posicionar em um jogo de quatro arestas: se alguém se sente bem com a palavra, ele vai para uma borda; se alguém se sente mal, ele vai para a frente; se em dúvida ele vai para a terceira borda; se neutra ou indiferente, à última... E, para começar, a idéia é simplesmente ouvir uns aos outros sobre as razões de seus sentimentos.
E assim, aqui, veremos o grupo começando a se mover, tanto no sentido literal quanto no figurado. Veremos que uma parte importante do mal-entendido, porque ouvimos uns aos outros, vai se transformar em divergências potenciais, em acordos que vamos construir. Assim, o grupo vai se sentir pronto para liderar com ações comuns sobre o que eles achavam que eram desentendimentos, mas na verdade eram apenas malentendidos. Por exemplo, durante um desentendimento sobre casamento para todos na França, obtivemos que as pessoas que se opunham a ele - e suspeitas de homofobia pelo outro grupo - declararam-se prontas para liderar uma campanha comum contra a homofobia. Assim, essa dinâmica não só permitirá que o debate avance em desacordos agora verdadeiramente identificados, mas também permitirá que atores que à primeira vista eram identificados como pertencentes a lados diferentes, ajam todos juntos, sejam muito mais fortes e se multipliquem.
“Uma das ferramentas que já experimentamos em redes de cidadãos é chamada de construção de desentendimentos. Isso funciona a partir da hipótese de que o que é tóxico não éo desacordo, mas o mal-entendido, no sentido forte da palavra.” Concretamente, há três períodos de tempo: primeiro, o grupo sai dos mal-entendidos, com um importante trabalho sobre inteligência emocional; depois a parte interativa: chegamos a um acordo sobre os termos do debate. Na terceira parte, a assembleia participativa, é muito importante porque os debatedores são muito profundos em suas contradições para poder fazer aquele exercício: pedimos à assembleia participativa: "O que há, dentro da posição que você não compartilha, que parece particularmente aceitável e importante considerar?" Não mudar a mente, não buscar compromisso! Aqui eu acho que isso é um ponto forte. Por exemplo, em um debate sobre a energia nuclear civil, o pessoal pró-nuclear foi levado a dizer: nós reconhecemos a questão dos riscos acidentais e que a questão do lixo nuclear é importante; Ao contrário do prónuclear dos anos 70, depois de Chernobyl, depois de Fukushima, não podemos mais considerar que a questão dos riscos acidentais seja um risco estatístico puramente teórico. Não podemos continuar dizendo que, com relação ao lixo, tudo bem. Isso não muda a mente de alguém, porque por outras razões fundamentais eles se mantiveram a favor da energia nuclear civil. E quando nos voltamos para o lado antinuclear, eles acabaram
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dizendo que "mesmo que um governo declarasse a saída da produção de energia nuclear, estamos cientes de que haverá todo um período de transição que provavelmente durará várias décadas. E durante esse período de tempo, sabemos que também estaremos encarregados dessas questões de riscos e lixo atômico ". Esse é apenas um exemplo entre outros sobre o que uma mutação qualitativa poderia possibilitar. E também é verdade quando se busca maneiras de transformar a violência em conflito ou maneiras de transformar inimigos em adversários. Vocês não acham que ouvir uns aos outros leva muito mais tempo do que a maioria das pessoas está disposta a dar, devido a nossa concepção de tempo? É muito importante identificar a questão do vício em velocidade como uma das principais doenças de nossas sociedades e entender que lidar com o tempo é, ao contrário, uma das estratégias mais poderosas de resistência criativa e emancipação antecipatória. Isso pode ajudar a parar de confundir as poucas emergências reais com a precipitação. Pelo contrário, começamos a considerar verdadeiras emergências apenas quando estamos em uma situação calma, de sangue frio, não quando estamos fugindo delas... Assim como se quisermos aprender a dirigir no gelo, é essencial não sentir estressado quando se aproxima do perigo! Da mesma forma que o movimento operário liderou uma luta contra as taxas infernais dentro das fábricas, hoje em dia tem que ser - como um objeto de resistência criativa - uma luta contra as cadências infernais das sociedades de fluxos tensos. É por isso que todos os movimentos "slowtype" apareceram: primeiramente o “slow food” em reação ao “fast food”, e depois “slow cities” na Itália... e há também uma parte inteira do movimento que considera o “slow love”, porque os relacionamentos também estão sujeitos a essa lógica de desempenho, excitação, etc. E isso é, de fato, o núcleo do “Viver-bem”. A arte de viver no tempo certo é por
excelência uma arte da qualidade da presença no tempo. E isso vem tanto da transformação pessoal quanto da transformação social. É por isso que é importante ajudar uns aos outros a esse respeito, por exemplo, dentro de um movimento que poderíamos chamar de "let’s cooperate to slow down". Porque muitas vezes é muito difícil desacelerar sozinho, mas se formos coletivamente organizados é tudo mais simples. Na rede do Archipel des Jours Heureux (arquipélago dos cidadãos da Happy Days) também iniciamos um processo de doação do tempo. Damos um ao outro datas, mas cancelamos logo antes, e como não tivemos tempo de programar outra coisa, é uma doação de tempo. E a única coisa que perguntamos é que, se naquela ocasião você descobriu alguma coisa, viu um filme, leu um livro, etc. E se por acaso se sentir particularmente apaixonado por isso e disposto a compartilhar, também pode nos fazer esse presente. Uma última questão a propósito da estruturação da sociedade civil mundial. Eu li que, por ocasião do próximo Fórum Social Mundial, você gostaria de criar um "Conselho de segurança da humanidade". Você pode falar mais para nós sobre esse ideal e as formas de isso acontecer? É de fato um projeto que discutimos durante o último Fórum Social Mundial em Salvador, na Bahia, que faz parte de um projeto global de cidadania mundial. A idéia é dizer que vamos parar de fazer esse presente para o capitalismo, mas acima de tudo para as grandes máfias, para a economia do crime que é hoje a verdadeira realidade da governança mundial. Vamos deixar de lhes deixar esse dom da globalização. E comece a se mover em direção ao que Edouard Glissant chamou de mundialidade. Por exemplo, para os próximos Diálogos na Humanidade, um dos principais focos é o nosso País Terra, para dizer que o nosso povo é a Humanidade. Isso não nos impede de pertencer a várias pessoas, mas ao mesmo tempo somos todos membros,
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todas as pessoas da Terra, onde o solo e a natureza também precisam ser preservados. Assim, oferecemos o lançamento deste grande movimento para o surgimento da cidadania mundial, com abordagens como o Conselho da Sabedoria para introduzir a sabedoria em todos esses debates - e um Conselho de Segurança da Humanidade. Perguntar: "A humanidade está ameaçada?" A resposta é, infelizmente, sim. "O Conselho de Segurança das Nações Unidas cuida disso?" Infelizmente, não. Então, vamos iniciar com o que Cornelius Castoriadis chama de procedimentos instituintes: "O que aconteceria se fossemos criar condições para um atual Conselho de Segurança, por exemplo, em tópicos como energia nuclear militar, usando o fato de que existe um tratado para a abolição das armas nucleares assinado por 122 países membros das Nações Unidas?". Então, esta é uma oportunidade incrível, enquanto os países nucleares estão fazendo tudo o que está em seu poder para evitálo. Depois, também estamos dispostos a organizar uma grande aliança entre as sociedades civis e autoridades morais e espirituais sobre esses temas. E queremos aproveitar ao máximo a semana de consciências que será realizada na UNESCO durante o mês de março de 2019, para lançar a ideia de que esta semana deve ser um momento para uma maior consciência mundial. Durante tal evento, a questão da criação dos Conselhos de Sabedoria e do Conselho de Segurança da Humanidade será trazida para o debate público. Neste momento, nós também começamos a trocar com autoridades espirituais, nós temos uma audição com o Papa Francisco com um feedback extremamente positivo. É claro que vamos conhecer outras autoridades morais, mas não é insignificante ver que ideias como esta estão começando a avançar.
Method Gundidza A necessidade de restaurar a beleza da dança da vida POR DOMINIC BROWN AND SIZWE NYUKA Traduzido por Felipe Cagnani Lima Rodrigues
Method Gundidza é ativista do Zimbábue. Ele trabalha com paixão para proteger e resgatar as sementes tradicionais, as práticas agrícolas tradicionais, o conhecimento indígena e os lugares naturais sagrados de seu país natal. Com a Associação Earthlore ele aconselha e ajuda as comunidades agrícolas e mulheres a conquistar a soberania alimentar.
Como você concebe a relação entre as pessoas e a natureza? A saúde dos ecossistemas naturais não pode ser separada do Bem-Viver do ser humano porque a concepção é de que a criatura humana é uma grande parte do ecossistema natural, isso quando o ecossistema em que eles vivem é saudável, assegurando a saúde dessas pessoas. Então o ser humano é uma parte desse grande sistema e por implicação eles são mais felizes e mais humanos quando estão em um ambiente natural. Por exemplo, ao fundo existem sons de passarinho e frequentemente quando nós vamos a um ambiente natural sentimos que temos que ativar mais dos nossos sentidos de ouvir, sentir, ver e cheirar. Cada parte do ser humano é ativada quando nós estamos em um ambiente que é mais natural. Sendo assim, a conexão entre humanos e a natureza é primordial.
METHOD GUNDIDZA Isso pode ser aplicado no contexto globalizado com a atual visão capitalista de trabalho?
Você usa o conceito Jangano. O que significa e qual a relação com o Bem-Viver? Como eu disse, nós (Associação Earthlore) estamos trabalhando na África do Sul e Zimbábue e o conceito Jangano vem do contexto zimbabuano. No contexto sul-africano o conceito Ilima (tradução sul-africana para Jangano) é quando as pessoas vêm e trabalham juntas em diferentes aspectos agrícolas. Por exemplo, quando as pessoas estão arando, limpando, carpindo, colhendo; todos os aspectos do ciclo agrícola. As pessoas vêm juntas, trabalham, cantam e dançam e celebram de diferentes maneiras, e isso torna o trabalho mais brilhante e interessante, mas também ajuda a conectar as pessoas a elas mesmas como comunidade. Também os conecta com seus cultivos e sementes e eu acho que isso é algo que os conecta mais com relação a eles mesmos.
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Quando olhamos para conceitos como Ilima, por outro lado conhecido como Jangano em Zimbábue, em uma aldeia global, isto entra em contradição com o que vemos frequentemente no mundo onde existe a concentração de propriedades e poder nas mãos de poucos. Nós vemos o poder e o controle que vêm com pequenas riquezas individuais. Este é um sistema que faz prosperar a maneira como as pessoas separam-se e dividem-se em unidades que não conseguem trabalhar juntas. Então, se diferentes lares se dividem em pequenas unidades, eles se tornam vulneráveis e perdem o seu poder de fazer coisas a eles mesmos, não apenas como famílias, mas também trabalhando e contando com o suporte da comunidade, que é exatamente o conceito de Ilima, o conceito de Jangano. Então o conceito é exatamente o oposto do capitalismo, porque Jangano é quando o poder se encontra dentro do contexto local e eu acho que é sobre isso que o Fórum Internacional para o Bem-Viver trata.
É sobre explorar caminhos em que nós tiramos o poder de poucos e transferimos para a maioria, e não deixar as decisões serem tomadas por poucas pessoas que não são parte daquela localidade. Essas comunidades locais, uma aqui e outra ali, tem a capacidade de tomar as decisões locais juntas, trabalhar coletivamente nas coisas que importam para essa comunidade. Isso tem potencial para se expandir em um País, mas sem perder a essência que é de que o controle e o poder precisam vir de baixo mais do que vir de cima. O que você pensa da agroecologia como componente do Bem-Viver? E que formas de propriedades deveriam assumir? A agroecologia está produzindo comida em harmonia com a natureza e aqui nós estamos falando de controle de doença. Controlando as pragas, naturalmente, significa que, se queremos nos livrar dos pulgões no jardim não precisamos de veneno para matá-los, precisamos de uma família de vespas. Então, nós precisamos de um ecossistema vibrante e diversificado que tenha vespas, pulgões, abelhas e que eles interajam na linda dança da vida com as pessoas produzindo comida agroecologicamente. O dono da agroecologia é a comunidade porque agroecologia é a comunidade de humanos e não humanos interagindo para produzir comida não só para o homem mas também para todos os seres vivos, como abelhas, vespas, pulgões, minhocas, búfalos (animais), solo e o ar. Naturalmente, a agroecologia não possui dono, é uma comunidade. O Bem-Viver é quando existe uma interação entre diferentes elementos da vida e você pode aproveitar a maneira como o passarinho voa e o passarinho também está voando, observando as pessoas e certamente questionando: “O que estas pessoas estão fazendo?”. E essa é a dança da vida, quando diferentes elementos se misturam e interagem, e se maravilham uns com os outros na diversão ou na felicidade, o que quer que seja, é assim que eu defino Bem-Viver. E agroecologia é um bom resumo do que o Bem-Viver é; e espaços são criados para que todos participem da dança da vida.
“E essa é a dança da vida, quando diferentes elementos se misturam e interagem, e se maravilham uns com os outros na diversão ou na felicidade, o que quer que seja, é assim que eu defino Bem-Viver. E agroecologia é um bom resumo do que é o Bem-Viver.” 15
Como você vê a transição para um mundo diferente? Quais são as forças que podem trazer mudanças? Uma coisa que eu vou dizer é que o poder não cede o poder. Os que detém o poder nunca irá doá-lo e os que não têm o poder são os que o pedem. Eles irão exigir e farão o que for preciso para tomá-lo de volta. Então, o que eu quero dizer é que seria ingênuo esperar que as potências mundiais dessem o poder para as localidades. Uma escritora chamada Margareth Wheatley escreve sobre como os sistemas mudam. Ela escreve sobre como quando você acende um fogo lá e você acende outro fogo ali e, à medida que esse fogo cresce, você terá uma mudança sistêmica. Então o trabalho que fazemos com as comunidades com as quais atuamos é muito local e talvez específico do Zimbábue e da África do Sul, mas o que eu sei é que existem incêndios semelhantes em outros lugares e eu tenho amigos que fazem trabalhos semelhantes no Benin, Uganda, Quênia, Etiópia. E agora estamos aqui nesta Conferência e estamos ouvindo ainda mais exemplos sobre o trabalho semelhante acontecendo na Ásia e, talvez, algumas iniciativas estão começando a acontecer na Europa. Estes são os fogos de que eu estou falando, estão iluminando lugares diferentes e, como incêndios, crescem. Prevejo que é assim que o mundo vai mudar da perspectiva puramente capitalista, onde os poucos possuem e controlam, para uma mais social, com uma economia em que os meios de produção e o poder são mantidos pela comunidade. Vejo que a coalizão e convergência de todas essas iniciativas é o que eu definiria como mudança sistêmica.
Imagens do Bem-Viver
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~ Como uma preocupaçao global, as mulheres de todo o mundo precisam se unir e levantar ' suas proprias vozes a fim de encontrar coletivamente novas formas de proteger o Bem-Viver.
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Dasho Karma Ura Butão e sua Felicidade Interna Bruta POR FABIO TRAPANI AND QUYET PHAM Traduzido por Fernanda Favaro
Dasho Karma Ura trabalhou por 12 anos para o Ministério do Planejamento antes de se tornar Diretor do Centro de Estudos do Butão (Center for Bhutan Studies - CBS) desde sua criação em 1999. O CBS é um instituto de pesquisa interdisciplinar em ciências sociais que atua com atividades sociais, culturais, econômicas e bem-estar político no Butão. A organização estuda o indicador butanês Felicidade Interna Bruta (Gross National Happiness – GNH) e produz relatórios de análise.
Quais são os impactos diretos e indiretos da Felicidade Interna Bruta na sociedade butanesa? O impacto direto está na mídia, na política do governo e no sistema educacional. Em todos esses três, há muita discussão sobre a Felicidade Nacional Bruta, mas o impacto real tem que ser sentido na melhoria e na experiência das pessoas comuns, e esse é o efeito indireto real.
DASHO KARMA URA Vale a pena. Governos e sociedades gastaram bilhões em outros métodos, e este, comparativamente falando, é tão minúsculo, contando uns com os outros para obter a compreensão do povo, então vale a pena. Fazemos perguntas sobre vários aspectos da vida, incluindo como você gasta suas vinte e quatro horas. Por exemplo, dinheiro, como você o gasta em vinte e quatro horas; como seu dia é em termos de qualidade e quantidade, a partir da maneira como você usa mil e quatrocentos e quarenta e quatro minutos que você tem a cada vinte e quatro horas... Estou apenas dando um exemplo, mas você pode ter uma compreensão detalhada sobre como as pessoas se sentem em relação às suas vidas, e essa é a base de um governo. Os governos precisam saber como você está se sentindo internamente, como seu humor está mudando ao longo do dia, como está sua condição de saúde, que tipos de ativos você tem, qual é o seu impacto e interação com o meio ambiente, em que atividades culturais você está envolvido em sua vida. Todas essas coisas são a base sobre a qual as decisões do governo devem ser construídas, não apenas nas bases das atividades industriais e dos comportamentos empresariais. Este é apenas um aspecto da vida das
Qual é a sua opinião pessoal sobre este fórum, especialmente sobre o formato, as oficinas e a metodologia participativa? As oficinas são muito ricas e grandiosas com a participação internacional. O método aqui é muito sobre discussões, é o estilo francês, acredito (risos). A escolha de uma universidade também é preferível porque todas as instalações estão lá. Mas o principal é que é um bom lugar para o desenvolvimento de redes, redes de pessoas compartilhando suas ideias. Essas duas coisas são as principais em qualquer conferência: nos tornar conhecidos uns aos outros e aproveitar ideias. Como você descreveria o progresso e as mudanças do indicador GNH desde que começou a trabalhar nele? No processo de pesquisas, conduzido para gerar dados para o indicador, entendemos as pessoas cada vez mais, então um benefício para a pesquisa e os pesquisadores é aprofundar a compreensão da vida das pessoas. Não é possível fazê-lo com qualquer outro método, para entender a população como um todo, exceto por meio desse tipo de questionário intensivo e diversificado do indicador GNH.
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pessoas. Assim, os governos devem ter interesse em financiar esse tipo de pesquisa e depois serem influenciados positivamente por seu resultado para tomar decisões sobre o gasto público. Como o governo cobra impostos de você e os gasta, ele deve consultar esse banco de dados e essas descobertas, e é por isso que o GNH é muito útil. Como a experiência butanesa pode ajudar a transformar a sociedade global? Em termos de conservação ecológica, o Butão está à frente dos outros, e isso vem do cuidado com a vida selvagem, o cuidado com as florestas, em parte porque a população do Butão é muito pequena, mas também existe uma ética voltada para a conservação. Que eles possam olhar para o Butão como algum tipo de inspiração. A outra coisa sobre os butaneses e o Butão é que pode ser um lugar para obter ideias sobre estilo de vida. É um estilo de vida de baixo consumo e um estilo de vida sem estresse. Mas talvez muitos outros países estejam avançados em outros aspectos.
“Em termos de conservação ecológica, o Butão está à frente dos outros países. Isso vem do cuidado com a vida selvagem e com as florestas. Em parte porque a população do Butão é pequena, mas também porque nosso País tem uma ética muito orientada para preservação.”
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Asier Ansorena Maior independência e soberania POR NATALIA AQUINO
Asier Ansorena é economista brasileiro e coordenador do Banco Palmas, banco comunitário que emite a moeda social do Conjunto Palmeiras, bairro de baixa renda da cidade de Fortaleza. Luta para criar um sistema econômico global que funcione de acordo com os princípios de solidariedade e justiça.
O que uma moeda social? Depende do contexto de onde você for olhar. Existem muitos modelos diferentes em países como Quênia, França ou Japão, conhecidas também como moeda local, circulante local ou moeda complementar. O importante de cada moeda é que uma comunidade local defina quais são os princípios, para que serve, como a gente utiliza, qual mecanismo de investimento. Questões que são importantes para a soberania de cada população. A moeda local do Banco Palmas foi criada no conjunto Palmeiras, que é onde funciona o Banco Palmas. É uma moeda que se cria para contribuir na organização das economias locais, e essa organização significa a dinamização de redes de produtores e consumidores locais. Quando se desenvolve essa rede de produção e consumo local a gente cria uma economia diferenciada, solidária, sustentável. A moeda é uma das ferramentas importantes não só em termos práticos e operacionais, porque possibilita o consumo local, senão em termos pedagógicos de soberania e simbólicos, pois é uma ferramenta de poder local.
ASIER ANSORENA econômica no país. Os primeiros anos foram de resistência e o Banco Palmas enfrentou dois processos . O último no ano de 2003 quando, enfrentando a acusação do Banco Central de crime contra o Estado brasileiro, a gente obtém sentença favorável em que o juiz, em outras palavras, afirma que o Banco Palmas existe porque o Banco Central não está cumprindo com o seu mandato, que é trabalhar pela inclusão financeira dos brasileiros. Há 20 anos, perto de 70% dos brasileiros não tinham acesso ao sistema financeiro. Foi em primeiro lugar uma luta de resistência, pois o Conjunto Palmeiras existe há 45 anos. Então o banco é mais um símbolo de resistência desse movimento. Depois, durante o governo Lula, cria-se a Secretaria Nacional de Economia Solidária, que permite e facilita a implementação de bancos comunitários em outras regiões do Brasil. Através desse programa foi possível chegar ao número atual de 113 bancos comunitários no país. Primeiro, um momento de resistência enfrentando o sistema financeiro e depois, com o apoio para a criação dos bancos comunitários. Essa é a nossa visão para o fortalecimento da sociedade civil, com maior independência e soberania nas questões econômicas.
Em sua fala na mesa de encerramento do Fórum você afirmou que até alguns anos atrás a circulação de uma moeda paralela à moeda oficial era ilegal. Como e quando isso mudou e qual o papel do Banco Palmas nessa mudança? O Banco Palmas nasceu no ano de 1998. Durante os primeiros 4 ou 5 anos fomos ignorados pelo sistema econômico. Quando esse grupo soube do Banco Palmas, não gostou da proposta certamente, pois esse sistema quer manter esse monopólio de criação do dinheiro e da visão
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Qual o impacto mensurável nas comunidades locais que possuem moedas sociais? Como isso se relaciona ao conceito de Bem-Viver? Há questões mensuráveis e outras que não. Explico um caso: Em 2010, o Banco Palmas iniciou uma linha de microcrédito exclusivo para mulheres beneficiárias do Bolsa-Família (o projeto ELAS). Existem outros modelos como este no mundo, mas o brasileiro é o maior dele, onde algo em torno de 13 milhões de mulheres brasileiras recebem ajuda para apoiar suas famílias. Perto de 30% das famílias brasileiras são beneficiárias do programa. Nossa linha de microcrédito produtivo foi criada para pensar como essas mulheres poderiam começar diferentes atividades para geração de renda, ou com pequenos empreendimentos ou com pequenas atividades que elas pudessem realizar dentro de casa para gerar renda complementar. Isso porque é importante gerar riqueza local, que é uma das principais funções de bancos comunitários como o Banco Palmas. Após 3 meses de funcionamento do programa, fizemos uma sondagem com 100 mulheres beneficiadas pelo crédito e umas das coisas mais fortes que percebemos foi que, num bairro como o conjunto Palmeiras na periferia de Fortaleza, uma cidade de praia, metade dessas mulheres nunca tinha ido à praia. Pense no grau de isolamento dessas mulheres que nasceram ou que vivem há mais de 20, 30, 40 anos naquele local, mulheres de 50 anos de idade que nunca tinham ido à praia. Percebemos que mais importante do que uma linha de microcrédito era levar essas mulheres para a praia. Isso é Bem-Viver na veia. Explica isso pro Banco Mundial, ou pro Banco Interamericano de Desenvolvimento. Eu tentei, várias vezes. Mas eles olham e ficam se perguntando sem conseguir entender se compreenderam certo. Te tacham de comunista, anarquista, antissistema, porque você diz que é mais importante levar à praia do que o microcrédito. Obviamente o
microcrédito é importante mas, nesse contexto de isolamento percebemos que precisávamos de um olhar muito mais holístico. Então, essa é a nossa contribuição para o Bem-Viver. Um banco convencional nunca faria isso. Mas um banco comunitário que pensou o microcrédito e o usa para investimentos em produção e geração de riquezas locais, utiliza a moeda social, vê que pode intervir nessa condição pela proximidade com o território, percebendo que o desafio e as dimensões da pobreza são muito amplas.
“Nossa linha de microcrédito produtivo foi criada para pensar em como essas mulheres poderiam iniciar diferentes atividades para gerar renda.” Um banco comunitário tem essa capacidade, um banco convencional nunca vai fazer isso. Primeiro porque vão acreditar que são operações de muito risco, portanto, não valem a pena, e acham que alguma política paternalista ou assistencialista é o único jeito. Um banco comunitário, onde é a própria comunidade que trabalha nele, muda completamente um projeto que tinha começado com o microcrédito e acabou virando uma coisa muito maior. Temos um exemplo com a moeda digital na cidade de Maricá, no estado do Rio de Janeiro: vencemos um edital da prefeitura para distribuir um benefício que a prefeitura de Maricá oferece com os royalties do petróleo, que é a bolsa-mumbuca. Basicamente um bolsa-família local, porém distribuído pela nossa plataforma de banco comunitário
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digital, o e-dinheiro. Ele se transforma em moeda local gerenciada pelo banco comunitário local, que possui a plataforma, e depois esse dinheiro é consumido apenas naquele território. Já temos 5 meses de experiência lá, com mais de 5 mil usuários cadastrados na plataforma, acessando seu benefício e também moradores da região consumindo no local. Com isso, tem-se gerado mais de R$ 1.500.000,00 de compras locais utilizando nossa plataforma de banco comunitário digital. E a diferença de fazer essa compra com a nossa plataforma ou com uma Visa ou Mastercard é que essas empresas vão cobrar, em média, 6% de taxa dos comerciantes para receberem as compras com esses cartões. Com o modelo do banco comunitário digital do Banco Palmas, os comerciantes pagam 2% ao invés de 6% e esses 2% são reinvestidos naquele território. Esses são alguns dos exemplos que têm maior impacto. Sem falar que se essas mesmas compras tivessem sido feitas no sistema tradicional com taxas a 6%, isso representaria R$ 90.000,00 saindo do território para nunca mais voltar. O lucro que a Visa ou a Mastercard obtém dessas operações vai pros grandes centros financeiros da sede da instituição em São Paulo, ou nos Estados Unidos e nunca volta para o território que produziu aquela riqueza. Esse é o diferencial da moeda social e do banco comunitário, que a riqueza que você gera no território, a maior parte dela circula e é distribuída na região. Questões como o Bem-Viver ajudam a trabalhar melhor essa multi-dimensão de uma situação de desigualdade ou de pobreza.
“Questões como o Bem-Viver ajudam a trabalhar melhor essa dimensão múltipla de uma situação de desigualdade ou de pobreza.”
Pablo Solon I
A DESCOLONIZAÇÃO PARA UMA VISÃO DO BEM-VIVER POR FABIO TRAPANI, DOMINIC BROWN AND SIZWE NYUKA Traduzido por Fernanda Favaro
Pablo Solón foi Embaixador Boliviano nas Nações Unidas entre 2009 e 2011. É ativista social e ambiental. Tem trabalhado na promoção da adoção, pela Assembleia Geral das Nações Unidas, de várias resoluções, incluindo o reconhecimento do Direito Humano à Água e a declaração do Dia Internacional da Mãe Terra. Além disso, Solón tem sido responsável pelas negociações climáticas da ONU na Bolívia como Diretor Executivo do Foco no Sul Global em Bangkok (2012-2015).
Como você concebe a relação entre os seres humanos e a natureza e a relação entre seres humanos a partir da concepção de Bem-Viver? O conceito de natureza foi criado para separar a natureza dos seres humanos. Nós humanos somos parte da natureza, e quando começamos a falar sobre a natureza, começamos a nos distinguir como diferentes dela. Portanto, temos que nos reconectar com a natureza porque somos parte da mesma, e tudo muda se você assume essa perspectiva porque você deixa de ter uma perspectiva antropocêntrica. Para o Bem-Viver, é precisamente esse o caso, ou seja, você não encontrará um conceito de natureza separado da vida humana. Então, quando falamos sobre a mãe Terra, não estamos nos referindo apenas à natureza, mas nos referimos a tudo.
PABLO SOLÓN
com sua própria cabeça e mente; você tem que analisar e ver com seus próprios olhos, porque somente se você tiver essa habilidade, você será capaz de encontrar novas maneiras de equilibrar os diferentes elementos do todo.
A partir da sua experiência, quais são os riscos da integração do Bem-Viver na política de Estado?
Durante a conferência, você disse que temos que aceitar que somos colonizados na maneira como pensamos. Você pode elaborar um pouco mais essa ideia?
Na minha opinião, o Bem-Viver é principalmente uma cosmovisão que vem das bases, ou seja, não pode ser construída por uma abordagem de cima para baixo, tem que emergir das comunidades locais, dos movimentos sociais. O papel do Estado deve ser facilitar o processo e não tentar controlá-lo, nem usá-lo ou direcioná-lo. O papel do Estado é aceitar que o Estado não é tudo, e que mais importante do que ele é a sociedade autoorganizada.
Temos que descolonizar, o que significa nos livrarmos do processo de colonização em que todos estamos. O processo de colonização não é apenas um problema de ter alguma superpotência nos colonizando. Em nosso tempo, esse processo é baseado em muitos valores e crenças que repetimos sem pensar e analisar profundamente. Então, descolonizar significa que você tem que começar a pensar
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“O papel do Estado é aceitar que ele não é tudo. O mais importante é que o Estado é a sociedade autoorganizada”. Então, eu estou supondo que isto tem que ser dialético porque não podemos simplesmente esperar que o Estado desista do poder? Não. Será a pressão, a mobilização e as iniciativas dos movimentos de base que tomarão espaços e poder do Estado. Porque, na realidade, quanto mais poder a sociedade tem, menos poder tem o Estado. É claro que o Estado tentará se defender e reagirá, quer esteja sob o controle de forças de direita ou de esquerda, e é por isso que temos uma abordagem diferente da questão do Estado.
Durante sua intervenção, você disse que o desenvolvimento é a antítese do Bem-Viver. É possível ter desenvolvimento sem crescimento? Em outro mundo, o desenvolvimento pode ser um componente do BemViver? O conceito de desenvolvimento vem originalmente da compreensão do progresso, de avançar ou caminhar para frente. Mas na visão do Bem-Viver, nem sempre avançamos, e nada avança sempre. Pensar no desenvolvimento como sempre avançando é uma ilusão para essa visão. Portanto, ela não está na estrutura do desenvolvimento, porque é uma maneira muito diferente de ver a vida. Para o Bem-Viver, o mais importante é um equilíbrio dinâmico, não o desenvolvimento. Em equilíbrio dinâmico, algumas partes terão que crescer enquanto outras partes terão que diminuir, haverá algum tipo de desenvolvimento em algumas áreas e subdesenvolvimento em outras áreas para que se alcance um equilíbrio no todo. O Bem-Viver pode ser alcançado na atual sociedade globalizada? As comunidades indígenas praticaram o Bem-Viver por séculos, mesmo antes do capitalismo, mas se a questão é se ele pode florescer e se expandir dentro do atual sistema capitalista, a resposta é não, não pode, não é possível. Ele entrará em contradição com o sistema capitalista porque o sistema capitalista precisa de crescimento. Se não houver crescimento econômico, se o capital não puder se expandir, se não puder ter lucro, o capitalismo não existirá. Quem quer o crescimento econômico sem fim? É o capital. Temos o Bem-Estar, por outro lado, dizendo o contrário, então em algum momento haverá um confronto entre o Bem-Viver e o capitalismo. Então, esse modo de vida pode ser realizado no mundo globalizado, que é dominado pelo capitalismo em todos os lugares? Não. Você pode tê-lo em algumas comunidades e experiências locais, mas mesmo em nível nacional é muito complicado porque todas as nações fazem parte desse mundo globalizado.
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Na sua palestra, você foi positivo sobre o conceito de Bem-Viver, mas ao mesmo tempo menciona pontos fracos e limitações. Você poderia por favor explicar melhor isso? O Bem-Viver não é a resposta para tudo, é uma visão que tem alguns pontos fortes e fracos. Uma das fraquezas é que não sabe lidar com o patriarcado e não podemos imaginar um novo tipo de sociedade se não desmantelarmos o patriarcado. Além disso, é uma visão que ainda não teorizou muito sobre a questão do Estado, o que estou dizendo vem da minha experiência no governo boliviano com Evo Morales. Nós não tínhamos essa perspectiva antes. O Bem-Viver tem essas fraquezas e, portanto, precisa ser complementado por outras visões, como o commons, o ecofeminismo, o decrescimento e a desglobalização. Apenas complementando-o com essas outras visões, poderemos desenvolver alternativas sistêmicas reais à nossa situação.
Nossa vez de falar
Durante o Fórum Internacional do Bem-Viver, nós, como Agência Jovem de Notícias, tratamos de interagir com os participantes de uma maneira nova e criativa. Pedimos que dessem sua contribuição pessoal em uma atividade incomum: uma performance fotográfica. Munidos de canetas e um balãozinho, eles deixaram suas respostas a duas perguntas: Se você pudesse mudar o mundo, o que faria? O que é Bem-Viver para mim?
Aqui você pode ver algumas respostas muito pessoais e desafiadoras. Depois que os participantes deixaram seu recado, tiramos fotos e imprimimos as fotos. Apresentamos as imagens no local da conferência e, no final do evento, distribuímos as fotos como um pequeno presente e como lembrança do encontro internacional.
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