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O ESTADO DE S. PAULO
TERÇA-FEIRA, 10 DE MAIO DE 2011 Nº 2334
Espírito andaluz
Turista Profissional indica dez roteiros coloridos
Flamenco, tapas e herança árabe em Málaga e na romântica Ronda
Pág. 6
Págs. 13 e 14
SXC.HU
Lua de mel GLS
http://www.estadão.com.br
Peru
Revelada por Hiram Bingham há 100 anos, Machu Picchu continua a ser o destino de sonhos para muita gente que deseja conhecer de perto o ícone da civilização inca
SERGIO NEVES/AE
Pedra sobre pedra
Inconfundível. É possível chegar à cidadela com todo o luxo ou de mochila, a pé ou de trem. Seja qual for a escolha, a experiência é sempre memorável
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V8 Viagem
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O ESTADO DE S. PAULO
TERÇA-FEIRA, 10 DE MAIO DE 2011
Peru
O ESTADO DE S. PAULO
TERÇA-FEIRA, 10 DE MAIO DE 2011
Machu Picchu em 360˚ Intihuatana Relógio solar ou “lugar onde se amarra o sol”, está situado no ponto mais alto da cidade e encabeça o setor sagrado. Delicadamente esculpida, a peça se alinha aos pontos cardeais e era utilizada para registrar a passagem do tempo, além de auxiliar na agricultura
Fábio Vendrame MACHU PICCHU
O paciente e cuidadoso trabalho de seus ancestrais está imortalizadonaspedras.Orgulhosodissoecomsemelhantededicação, Lorencio Montesinos ajuda a conservar Machu Picchu,obra-primaincarevelada ao mundo há um século. A cidade esculpida nos Andes às portas da Amazônia peruana festeja seu centenário de descobrimento científico renovada graças ao empenho de seus herdeiros. Montesinos, de 51 anos, dedica quase dez horas por dia a raspar fungos e musgos das paredes de granito. Faz parte de uma equipe de 60 homens responsáveispela manutenção dosítio arqueológico.“Aindahá muitosturistasquecausam problemas,fazem barulho e deixam sujeira”, conta ele, natural de Águas Calientes, atual Machupicchu Pueblo,opovoadoquehabita a região desde sempre. “Muitos pensam que estão na Disney... Não tem nada a ver”, diz. “Reclamam que não há lixeiras, mas se não tem é por uma razão muito simples: é proibido ingressar em Machu Picchu com lixo.” Apenasum sinaldecomo as coisas por ali estão
mudando. Machu Picchu está diferente, sim. Fruto da engenharia megalítica inca, a ancestral cidade de pedra comemora no dia 24 de julho o centenário de seu descobrimento científico com novas regras de visitação. As mudanças são notórias. Acesso restrito a um número limitado de turistas e fiscalização rigorosa fazem parte das diretrizesadotadaspelogovernoperuano para garantir a longevidade domaisespetacularsítioarqueológico da América do Sul, uma das maravilhas da humanidade. Trata-se de um amplo trabalho coordenado pelo arqueólogo Fernando Astete, diretor do Parque Arqueológico Nacional de Machu Picchu há dez anos. “Nosso objetivo é evitar a concentraçãodegenteduranteavisita,diminuindo os impactos eriscos que a sobrecarga de pessoas acarreta”, diz Astete, principal responsável pela mudança de perfil no turismo local. A transformação foi deflagrada assim que ele assumiu o controle da exploração turística na cidadela,antesnasmãosdeagênciaseoperadoras.A primeira atitude foi fixar em 2,5 mil o núme-
ro de pessoas que ingressam a Machu Picchu por dia. Isso acarretou em aumentar o preço do ingressoe,assim,operfildosvisitantes também mudou. Se antes a maioria era composta por mochileiros de orçamento apertado, agora há gente de todas as idades – e, necessariamente, com os bolsos mais cheios. Contudo, é bom ressaltar, Astete é o tipo de cara que acha absurda a ideia de um teleférico ligando Águas Calientes ao sítio arqueológico,conformefoi cogitado – e levado a sério por uns e outros – tempo atrás. Para ele, defensor da pesquisa atrelada à conservação, a estrada que rasga amontanhaemzigue-zague,efacilita muito o acesso dos visitantes, já foi mais que suficiente. Nãohá,portanto,amenorpossibilidade de que Machu Picchu setransformenumaXcaret,legado maia na Península de Yucatán convertidoemum complexo
estadão.com.br
Percorra a foto de Machu Picchu em 360˚ acessando a edição do Estadão no iPad. Saiba como em:
A enigmática cidadela inca completa o centenário de descoberta arqueológica com novas e rígidas regras de visitação. Tudo para garantir a preservação deste Patrimônio da Humanidade
Blog. Veja galeria de fotos do sítio arqueológico blogs.estadao.com.br/olhar-sobre-o-mundo
estadão.com.br/celular/ipad
turísticodemassa– bem-sucedido, diga-se. Os viajantes que cultuam a cidadela inca agradecem. Mas as mudanças continuam em curso. Uma década atrás era permitido, por exemplo, caminhar pela praça principal. O gramadocentralvivialotadodegente, que ali se deitava, fazia piqueniques ou simplesmente dava um tempo observando o entorno. Isso também acabou. “Estabelecemos um circuito fechado, de maneira que os turistas percorrem os principais pontos em cerca de duas horas”, diz Astete. Enquantoisso,Montesinossegue cuidando de cada detalhe da cidade de pedra. “Temos muita satisfaçãoem mostraro quenossos antepassados fizeram, mas, por favor, respeitem as regras!” VIAGEM A CONVITE DA PROMPERÚ
Prepare-se para um lugar sagrado MACHU PICCHU
Machu Picchu foi esculpida sobreprecipícios,emousadodesafio de engenharia e temerária reverência à natureza. Fica entre vales, cercada por nevados e montanhastutelares,asmaisimportantes, os deuses do pedaço. Puraconexãocomasforçasnaturais.Assimosincasafizeramporque rendiam tributos à vida. Poisbem. Conscientizarosturistas de que entrar em um sítio arqueológico significa estar em um lugar sagrado é outro desafio da equipe coordenada por Fernando Astete, arqueólogo responsávelpelo local.“Fazersilêncioemanterrespeitosãopremis-
Setor urbano
sasbásicas”,orienta.Fumartambém está proibido. Fiscais monitoram tudo e estão autorizados a repreender os mal-educados. Não é apenas de turistas desavisados que Machu Picchu tem sido preservada. A cidade foi construída nas saias da monta-
nha que lhe empresta o nome e fica sobre duas falhas geológicas. Mais do que terremotos, no entanto,aschuvastorrenciaisrepresentama maiorameaçaao local. Isso porque a cidadela perdeu parte do sistema de drenagem original da época incaica. Scannersdeúltimageraçãoestão sendo usados para mapear cada muro. A minuciosa leitura em 3D tem por fim identificar as partes mais danificadas e, posteriormente, restaurá-las. Todo o trabalho é feito em parceria com a Unesco, afinal, trata-se de um
Terraços Parte deles servia como área agrícola. Sua função maior, contudo, é dar suporte à cidade e prevenir a erosão do solo por meio de um engenhoso sistema de drenagem. Por isso, ocupam o entorno de toda a montanha
Aqui ficam as residências mais simples, usadas pelo povo. As casas eram originalmente cobertas com telhados de palha. Perto estão as ‘colcas’, locais onde eram armazenados os bens de consumo
Viagem V9
Patrimônio da Humanidade. Machu Picchu resistiu intacta por cinco séculos, apenas coberta pela vegetação. Seu inevitável apelo enigmático resulta do fato de que ninguém sabe ao certo quando começou, como e por que foi abandonada. Mas isso tambémcomeçaaserconfrontado. “A investigação arqueológica continua com tudo”, afirma um Astete orgulhoso. As teorias mais aceitas atualmente dizem queMachu Picchufoiumimportante centro político, religioso e administrativo, responsável por controlar um vasto território. “A cidade é uma réplica de Cuzco e começou a ser erguida nadécada de1440,sob o governo de Pachacútec (considerado o maior dos incas).” Em seu auge chegouaabrigaraté 1mil residentes fixos. Está anexada ao Vale Sagrado, a coluna vertebral do Império Inca. “Apesar disso, não era autossuficiente, dependiadaproduçãovindade outroscentros para se abastecer.” Eis aí o mais provável motivo de seu declínio. /F.V.
● Pedreira
Ali são mostradas as técnicas para cortar, esculpir e polir as pedras sobrepostas sem uso de argamassa
O que levar Na trilha Botas de caminhada, meias antitranspirantes, repelente, protetor solar e chapéu são itens indispensáveis Na mochila Frutas, barras de cereal e de chocolate, garrafinhas de água e sacos plásticos para acondicionar o lixo
● Riqueza
372 tipos de orquídeas, 425 de aves, 200 de borboletas e 17 de mamíferos compõem flora e fauna local
O que trazer Artigos de lã Gorros, luvas, cachecóis e ‘chompas’ (casacos) com motivos andinos Souvenirs Peças artesanais de cerâmica e bijuterias em ouro e prata são itens cobiçados Chicha morada Bebida feita à base de milho
FOTOS SERGIO NEVES/AE
Condor
Templo do Sol
Até 2013, novos tours abertos ao público ● Novos circuitos serão abertos
em breve em Machu Picchu, promete a direção do Parque Arqueológico Nacional. Trajetos que levam aos terraços agrícolas e ao fundo do vale estão sendo restaurados e farão parte das opções de passeio. Atualmente, além da visita convencional, há quatro roteiros em funcionamen-
A pedra no solo representa o corpo da ave, cuja missão, na visão andina, é conduzir os mortos ao céu e fazer a conexão entre deuses e mortais. As paredes laterais formam as asas do condor, animal sagrado para os incas
Única construção circular, está orientada para os solstícios de inverno e de verão e fica integrada ao complexo que inclui a principal fonte de água, as três paredes de culto ao vento e o templo dedicado à Pachamama (mãe terra)
to: as caminhadas até a Ponte Inca e a Porta do Sol e as exigentes subidas aos topos das montanhas de Huaynapicchu, que emoldura a cidade, e de Machupicchu, na qual está assentado o sítio histórico. Detalhe: só há lixeiras e banheiros fora da cidadela. Quem quiser levar algo para comer deve carregar os restos na mochila. Outra coisa: o posto de venda de água mineral que ficava dentro do parque foi desativado. Assim, garanta a bebida antes de começar a visita. Duas garrafinhas são suficientes. / F.V.
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Panorâmica É preciso disposição para subir ao topo da montanha, mas o visual compensa. Leva mais de 2 horas – e deve ser feito com um guia
Controverso, Bingham ainda causa polêmica ● Figura controversa, Hiram Bin-
gham (1875-1956) suscita atualmente mais polêmica do que admiração. Ligado à Universidade Yale, nos EUA, o professor americano anunciou ao mundo a descoberta arqueológica de Machu Picchu em 24 de julho de 1911. O feito, contudo, rende debates acalorados no meio acadêmico pe-
ruano. Bingham era historiador e seguia os caminhos do libertador Simón Bolívar quando se deparou com vestígios da civilização inca. Para seus críticos, ele sabia o que estava procurando, embora vendesse a imagem de aventureiro e descobridor. Mas todos reconhecem o mérito do americano em apresentar Machu Picchu ao mundo, embora a cidade inca sempre tenha sido conhecida dos locais. Documentos mostram que as terras pertenceram ao latifundiário Agustín Lizárraga, que deixou inscrições no local./ F.V.
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V12 Viagem
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O ESTADO DE S. PAULO
TERÇA-FEIRA, 10 DE MAIO DE 2011
Peru
‘Umbigo do mundo’ mescla indícios do esplendor de sua época áurea a serviços turísticos para todos os gostos e bolsos. Com direito a boa gastronomia, passeios históricos e até aventura FOTOS SERGIO NEVES/AE
Todos os caminhos partem e levam à antiga capital Cuzco Fábio Vendrame / CUZCO
Todos os caminhos incas levam a Cuzco, e a antiga e eterna capital sagrada leva a todos os cantos daquele que foi o único império das Américas. A atual Praça de Armas, histórica Haukaypata, é o marco zero da civilização que se ergueu sobre os Andes, se esparramou pela costa do Pacífico e avançou Floresta Amazônica adentro. Hoje, o “umbigo do mundo” (tradução de Cuzco em quéchua) mantém indícios de seu esplendor e serve de base paraos viajantesexploraremo Vale Sagrado e, claro, Machu Picchu. A 3.400 metros de altitude, Cuzco contabiliza mais de 400 mil habitantes e dispõe de diversosserviçosturísticos.Háhospedagem e restaurantes para todos os gostos e bolsos, além de agências com os mais variados tours, de visitas à rica herança incaica a atividadesradicais:raftingnoRio Urubamba, trekkings puxados, mountain bike e outras opções. Dentre elas, a mais esquizofrênica, de longe, é o bungee jumping emquequemsejoganu nãopaga. Ocupada por turistas do mundotodo,Cuzcotambémsedestacaporumanoitedasmaisbadaladas. Redutos tradicionais, como o Mama África, e modernosos, como o Incabar, reúnem gente disposta a varar a madrugada. A noitadarolasoltaaoredordaPraça de Armas, ponto de referência estratégico para conseguir encontrar o caminho do hotel. Mas é de dia que Cuzco encantaquemavisita.Projetadaeerigida sob o governo de Pachacútec, o maior dentre os poderosos incas, a cidade tinha originalmente a forma de um puma, animal cultuado nos Andes, de acordo com a visão de cosmos que norteou todas as ações dos povos pré-hispânicos. Era delimitada pelos Rios Sapi e Tullumayo. Na parte mais alta está Sacsayhuaman, território sagrado interpretadopelosespanhóiscomo fortaleza militar por causa das imensas muralhas megalíticas, as maiores do mundo andi-
no, que a cercam. Tratava-se, na realidade,deumimponentecentro de culto religioso e devoção a 3,6 mil metros de altitude. Em Sacsayhuaman celebra-se atualmente o Inti Raymi, ou Festa do Sol, a grande comunhão do povo inca. A encenação ocorre durante o solstício de inverno, em 24 de junho, e reúne milhares de curiosos, um grande orgulho para os cusqueños – e fonte de renda garantida para a cidade. No entanto, a obra-prima de Qosqo, grafia original em quéchua deCuzco,éoQoricancha.Alificava o Templo do Sol, cujas paredes estavam recobertas por lâminas deouroedeprata,eofereciaáreas de culto às deidades do Tahuantinsuyo, o nome autêntico do Império Inca, entre eles Wiracocha (divindade suprema), Inti (Sol), Quilla (Lua), Chaska (Vênus), Jacumama(Água),Illapa(Trovão) e outros. Funcionava também como centro de peregrinação e abrigava sarcófagos incas, cujas múmias de governantes e entes das castas nobres eram recobertas por ouro, joias e adornos, além de utensíliosde usodiário.Depois dachegada dos espanhóis, em1532,oQoricacancha foi pilhado e destruído. Sobre seus alicerces ergueu-se o Convento de São Domingos. O mesmo ocorreu na atualPraçadeArmas,aHaukaypataincaica:ondehojeestão a Catedral e a Igreja da Companhia de Jesus também funcionavam templos incas. Pertinho dali, na Rua Hatum Rumiyoc, encontra-se a pedra de 12 ângulos,umdossímbolosdeCuzco. O bloco compunha o muro da residência de Inca Roca, onde hoje é o Palácio do Arcebispo. Essa estreita via de pedras ancestrais conduz a um belo passeio pelos bairros mais autênticos, como San Blas. Deixe-se levar.
Marco zero. Na Praça de Armas, o atual endereço da catedral já abrigou um templo inca
Tecelãs de Chincheros preservam arte ancestral CHINCHEROS
Pertodocéu,quaseacimadasnuvens,Chincherosconservaintacta a tradição têxtil andina. Lá, a 3.762 metros de altitude, encontra-seoquehádemelhoremartigosdelã.Emais:vocêtemaoportunidadedeacompanhar passo a passoaconfecção de gorros,agasalhos, cachecóis, tapetes e toalhas de mesa, desde a raspagem do couro de lhamas, alpacas, vicunhas e ovelhas até o processo de coloração e fiação das peças. Evangelina Kusiwaman Cusicuna lidera a comunidade de 15 mulheres da Textileria Urpi. Elas trabalham cerca de seis horas por dia na confecção dos produtos e levam até um mês dedicando-se a uma única peça. As mulheres de Chincheros preservam a ancestral tradição de tosar, lavar a lã com saqtana (planta chamada de ‘xampu inca’), trabalhá-la com a pusca (tear), ajustá-la e arrematá-la com o ruki (ferramenta obtida de um osso de lhama). Para tingir as peças, apenas recursos naturais: insetos, folhas, flores, frutos, tubérculos. Fixam as cores cozinhando os fios com sal, pedras vulcânicas e limão. Meia hora de fervura basta. Simples. De quebra, Evangelina ensina os incautos a identificar a qualidade das peças. Um aprendizado valioso, tendo em vista que o apelo dos artigos de lã vai acompanhá-lo por toda parte.
Vale Sagrado revela vilas e cenários alucinantes VALE SAGRADO
Picos nevados. Povoados ancestrais.Terrasférteis.Furiososcursos d’água. Herança arqueológicasemigual.Paisagensalucinantes nas alturas dos Andes escondem, protegem e revelam aquele que para sempre será reconhecido como o Vale Sagrado dos incas.Umaexperiênciaenriquecedora para qualquer viajante. São muitas as opções. A mais de 3.700 metros de altitude e a cerca de 50 quilômetros de Cuzco, por exemplo, esconde-se o acanhado povoado de Maras. Ao redor,apaisagemédominadapelo onipresente nevado Chicon. Há extração de sal, que brota das montanhas, em mais de 3 mil po-
ços explorados no inverno, época seca. É um visual assustador. Ainda mais impressionante, Moray parece coisa de alienígenas. Estudos recentes indicam quealifoiuma espéciedelaboratórioagrícola emqueos incasexperimentaram diferentes cultivos. Os terraços formam galerias concêntricas de até 45 metros de profundidade. Ali reproduziam-se os microclimas andinos nos andares escavados conforme o recorte natural do vale. NosAndesperuanoscultivamse 45 variedades de milho, dos quais 14 ocorrem no Vale Sagrado, incluindo o choclo, o maior de todos, presença constante nas mesas. Há ainda 14 tipos de milho e 300 de batatas. /F.V.
Arco-Íris. A bandeira colorida,
Legados. Artesãs operam seus teares como antigamente; terraços de Moray, no Vale Sagrado (acima)
hoje associada à comunidade gay,énaverdadeopavilhãohistórico dos povos andinos. Por isso, tremula por todos os cantos, especialmente em Cuzco. Apreciadores contumazes da natureza, os incas também cultuavam o arco-íris. Em Chincheros, aliás, havia um templo dedicado ao fenômeno natural, transformado depois da chegada dos espanhóis na Igreja de Monserrat. /F.V.
SERGIO NEVES/AE
Vale a Viagem Cuzco, o “umbigo do mundo” andino, leva os viajantes a um contato bastante autêntico com a cultura inca. Entre as novas atrações destacam-se a exposição do tesouro tirado há quase um século de Machu Picchu e o Planetário. Veja essas e outras dicas:
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Tesouro A Casa Concha, em Cuzco, vai abrigar o legado inca (foto) extraído de Machu Picchu entre 1911 e 1915 e finalmente devolvido este ano pela Universidade Yale
Gastronomia Cuzco oferece restaurantes de primeira, a exemplo do Chicha, do renomado chef peruano Gastón Acurio, que fica no 2º andar do número 261 na Plaza Regocijo
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Alto-astral No Planetário de Cuzco (www.planetariumcusco.com), o professor Erwin Salazar ensina os preceitos básicos da cosmovisão andina e sua relação com as estrelas
Desconto Ainda em Cuzco, antes de seguir para o Vale Sagrado, adquira o boleto turístico (126 novo sóis; R$ 71), que dá direito a visitar 15 lugares de interesse na região
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Fina estampa Artigos feitos de lã de ovelha são mais baratos e os de vicunha, mais caros e raros. Os de alpaca também são bastante valorizados no mercado
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Autêntico Compartilhe um legítimo almoço andino em Chincheros. Agendar com Walter Quispe, líder da comunidade, via telefone (51-084-306027 ou 909928)
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JULIO MESQUITA 1891 - 1927
RUY MESQUITA Diretor
Terça-feira 10 DE MAIO DE 2011 R$ 3,00*
ANO 132. Nº 42938 EDIÇÃO DE 23H15
Metrópole Como novo. Palácio Guanabara volta à cor de 1908. Pág. C10
estadão.com.br
Caderno2 É hora de Cannes Maior evento de cinema do mundo começa amanhã
WILTON JUNIOR/AE
Torcida. Pedro Almodóvar está na disputa
Exposição Obra de Charles Landseer está no IMS. Pág. D9
SERGIO PEREZ/REUTERS
CLAYTON DE SOUZA/AE
Governo quer abater dívida rural de quem reflorestar Proposta pode reduzir débitos em até 70% e visa a facilitar votação da reforma do Código Florestal Em nova tentativa de acordo para votar a reforma do Código Florestal, o governo acenou ontem à noite com abatimento substancial da dívida agrícola para os produtores rurais que recuperarem áreas de preservação permanente em margens de rios e encostas, informa Marta Salomon. Projeções do governo mostram que a dívida dos produtores, estimada em R$ 80 bilhões, poderia ser reduzida em até 70%pelomecanismoproposto.Oestímulo financeiro seria calculado com base em redução de emissões de gases deefeitoestufa.Acadatoneladadecar-
Fusão de Sadia com Perdigão corre risco
IZABELLA TEIXEIRA MINISTRA DO MEIO AMBIENTE
“O acordo não fere o compromisso de reduzir emissões de carbono e acolhe questões do agronegócio”
bono “poupada” com o replantio de áreas, o produtor ganharia cerca de R$ 17. Estima-se que cada hectare replantado represente o corte de 90 toneladas de carbono. A votação da reforma do Código Florestal está para ser retomada hoje na Câmara. VIDA / PÁG. A16
Os pontos críticos
Levantamento do Estado com base em dados da Companhia de Engenharia de Tráfego aponta os quatro cruzamentos mais perigosos de São Paulo para os pedestres: Avenidas Brigadeiro Luís Antônio com Paulista; Ipiranga com São João (foto); Estado com Mercúrio e Estado com Santos Dumont. METRÓPOLE / PÁG. C5
Secretário de Kassab tem 6 condenações
Ministra terá de devolver verba de diárias
A procuradoria-geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica(Cade)emitiuparecerqueameaça afusãoSadia-Perdigão.Oórgãorecomenda restrições ou a reprovação do negócio, relata Raquel Landim. Há a possibilidade de incluir a venda de uma das duas marcas. Os conselheiros votarão o caso. ECONOMIA / PÁG. B1
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), nomeou para a Secretaria de Participação e Parceria Uebe Rezeck (PMDB), réu em 93 ações em 14 anos. Ex-prefeito de Barretos, ele tem seis condenações judiciais, uma delasconfirmadaemsegundainstância. Rezeck afirma que recorreu de todas as decisões. METRÓPOLE / PÁG. C1
A Controladoria-Geral da União (CGU), órgão de controle do governo federal,pediuqueaministraAnadeHollanda (Cultura) devolva as diárias recebidas por dias não trabalhados no Rio, onde tem imóvel. O caso foi revelado pelo Estado. A assessoria do Ministério da Cultura informou que o pedido será acatado. NACIONAL / PÁG. A7
D. Raymundo é eleito para CNBB
Prefeitos fazem marcha por verbas
Paquistão nega ter ajudado Bin Laden
O arcebispo de Aparecida, d. Raymundo Damasceno, será o novo presidente da Conferência Nacional dosBisposdoBrasil (CNBB). Substituirá d. Geraldo Lyrio. VIDA / PÁG. A17
Viagem
DESTINO CENTENÁRIO SERGIO NEVES/AE
Cidadela. Vista de Machu Picchu, no Vale do Rio Urubamba: história
R
evelada há 100 anos por um historiador americano, Machu Picchu, no Peru, continua a ser o destino de quem deseja
conhecer de perto a história da civilização inca. Para preservar esse patrimônio, o governo peruano impôs regras mais rígidas à visitação.
THOMAS FRIEDMAN O fim do Oriente Médio a granel As rebeliões estão acabando com o “Oriente Médio a granel” e prenunciando a era do “varejo”. Todos terão de pagar mais pela estabilidade.
JOSÉ PAULO KUPFER Nuvem de gafanhotos Uma nuvem de gafanhotos passou pelos mercados financeiros globais, derrubando as commodities. Restou a sensação de que há nova bolha.
DORA KRAMER Apropriação indébita Quando compactua com truques para arrumar suas finanças partidárias, a oposição perde autonomia para fiscalizar os governistas.
VISÃO GLOBAL / PÁG. A14
ECONOMIA / PÁG. B5
NACIONAL / PÁG. A6
INTERNACIONAL / PÁG. A10
Cerca de 4 mil prefeitos estarão hoje em Brasília para pressionar a presidente Dilma Rousseff e o Congresso por verbas. Os pedidos alcançam R$ 27,9 bilhões. NACIONAL / PÁG. A4
Tempo na capital 22˚ Máx. Céu nublado e 15˚ Mín. chuvisco HOJE: 74 PÁGINAS * VER TABELA NA PÁGINA A3
ESTADO SOB CENSURA HÁ 648 DIAS. PÁG. A8
São Paulo acerta fim das sacolas plásticas VIDA / PÁG. A16
NOTAS & INFORMAÇÕES
Representatividade subvertida A criação dos Estados de Carajás e Tapajós é financeira e institucionalmente prejudicial ao País. PÁG. A3
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O ESTADO DE S. PAULO
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SERGIO NEVES/AE
URUBAMBA
A viagem a bordo do Hiram Bingham,tremdeluxodaOrient-Express, é a maneira mais charmosa e confortável de chegar a Águas Calientes, pitoresco povoado encravado em meio às montanhas e ponto de apoio para alcançar Machu Picchu. Recebidosnoembarquecomumbrinde de espumante, os passageiros ganham tratamento VIP durantetodo o trajeto,deaproximadamente duas horas de duração. Em seus poucos e espaçosos vagões os turistas desfrutam de um serviço completo, com degustação gourmet de pratos peruanos e bebidas à vontade. E o queéaindamaisvantajoso:oembarquepode serfeito na porta do Hotel Río Sagrado, unidade cinco-estrelas adquirida pela rede Orient-Express há dois anos. Há uma semana, o hotel Tambo del Inka, igualmente situado no ValeSagrado,passouaoferecer serviço similar aos hóspedes. Com a barra libre (open bar), os passageiros mais animados bebem à vontade piscos, uísques, cervejas, mates de coca. Músicos se encarregam de fazer todo mundo dançar no estilo que é possível dentro de um trem em movimento. De um jeito ou de outro, todos acabam entrando na roda. Divertidíssimo! Muitos casais em lua de mel costumam estar a bordo, desfrutando de um trajeto para lá de romântico. Mas a maioria do público é formada por famílias. Além da opção luxo, há outras maisemconta,tantoparaos mochileiros de vocação como para quem não abre mão da equação conforto mais serviço de primeira. Na composição Backpacker, petiscos, lanches e bebidas são cobrados à parte. Já o Vistadome inclui tais facilidades na passa-
ADRIANA MOREIRA/AE
UPGRADE DUPLO
Viagem V11
gem. Em ambos os casos, o embarque é feito na Estação de Poroy, a 20 minutos de Cuzco. A viagem ferroviária reserva vistas espetaculares e até mesmo dramáticas em consequência dos vales e despenhadeiros quecercamostrilhos.Nessequesito, pouco importa a categoria detrememquesejafeita.Ascomposições serpenteiam pelo Vale Sagrado, às margens do estrondoso Rio Urubamba. Uma das paradas se dá em Ollantaytambo, antiga cidade inca fortificadaeestrategicamentelocalizada para proteger os acessos a Cuzco. Além de guardar belas construções, como um centro cerimonial de culto à água, Ollanta também exibe terraços
cultiváveis em que agricultores ainda trabalham hoje em dia. MaisadianteapareceLaFortaleza, um complexo outrora dedicadoàsdivindadesincaicas.Nessa altura também é possível avistar,bemaofundo dovale,asrampas pelas quais os blocos de pedra eram transportados rumo a diferentes pontos da região. Alguns quilômetros à frente está Corihuaynachina, ponto de saída para a trilha inca completa, de quatro dias, cuja entrada está nofamosokm 88. Dali,osmochileiros cruzam a ponte para dar início ao périplo até Machu Picchu.Nokm104estáChachabamba, onde começa o caminho mais leve, de dois dias, pelas ruínas de Wiñaywayna.
Aproximadamente 2h30 depois,odesembarque é feito em Águas Calientes, pequeno núcleo que concentra pousadas, hotéis,bareserestaurantes, além de seus banhos nas termas vulcânicas. De lá toma-se o ônibus que costuraamontanhaemzigue-zague, rumo a Machu Picchu. Se tiver tempo, durma uma noite em Águas Calientes e siga para a cidadela no dia seguinte – quanto mais cedo, melhor. E volte paracasacom lembrançasinesquecíveis. / FÁBIO VENDRAME
Nos trilhos. Composição segue curso do Rio Urubamba
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Mal de altitude: na chegada a Cuzco (a 3.400 metros de altitude), para prevenir os efeitos do ar rarefeito, o antídoto natural é a folha de coca, consumida mascada e em infusões. Também há pílulas específicas para combater o soroche (mal de altitude)
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Peru
O ESTADO DE S. PAULO
TERÇA-FEIRA, 10 DE MAIO DE 2011
Depois de quatro dias de caminhada e 42 quilômetros entre montanhas que chegam a 4 mil metros de altitude, surge a recompensa: a cobiçada Porta do Sol
A chegada à Porta do Sol é pura emoção. Dali avista-se pela primeira vez Machu Picchu. Difícil conter as lágrimas. Elas brotam sem que você se dê conta. Diante de olhos marejados uma viagem de sonhos converte-se em realidade e se materializa bem ali a sua frente, numa cidade de pedra. Recompensa para quem encara os 42 quilômetros de sobe e desce em zigue-zague nos Andes. Caminho que costura montanhas a altitudes que ultrapassam os 4 mil metros. Fazer a Trilha Inca é o tipo de experiência que costumamos classificar de conquista pessoal. O trajeto completo dura quatro dias, com saída do quilômetro 88 da ferrovia que liga Cuzco aÁguasCalientes.Aopçãoéfazêlo na metade disso, em dois dias, a partir do km 104. Seja qual for a escolha, é preciso agendar com antecedência, com agências e operadores credenciados. As novas regras impostas pela
direção do Parque Arqueológico Nacional de Machu Picchu estipulam um limite no número de andarilhos,eaesperapodealcançar até seis meses. Apenas 500 pessoas, entre turistas, carregadores, guias e cozinheiros, podem ingressar na trilha ao mesmo tempo. Postos de controle e orientação pontuam todo o percurso. O custo médio é de US$ 350 por pessoa, valor que inclui camping e alimentação. Razoável preparo físico e, sobretudo, disposição mental ajudam no caminho. O trajeto que se convencionou chamar de Trilha Inca faz parte do Qhapaq Ñan, extensa rede de caminhos que entrelaçava todo o Império Inca,algoemtorno de40 milquilômetros –contempla os territórios hoje ocupados por Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Chile e Argentina (leia mais abaixo). Tambéméfundamentalcarregarna mochila apenasaquilo que vocêvairealmenteprecisar.Apesardeatrilhapermaneceracessível o ano todo, a melhor época
parafazê-laénoinverno,quando não chove na região. Por isso, um bom casaco é importante. Mas saiba que será usado apenas ao anoitecer.Dedia,vocêestaráempenhado em vencer o irregular calçamento do percurso. No primeiro dia de trilha, são sete horas de pernada até alcançar a área de camping situada em Huayllabamba. O tempo todo acompanhado por visuais espetaculares, com sequências de montanhas e o Rio Urubamba tronando forte no fundo do vale. O segundo dia é bem mais puxado, exige esforços e fôlego extras para cumprir seus 16 quilômetros. Você há de superar o ponto mais elevado da trilha, o Warmi Wañusca, a 4,2 mil metrossobreoníveldomar.Ajornada termina em Pacaymayo. Depoisdapauleira do diaanterior, o terceiro é até suave. São
apenasmais11quilômetrosdecaminhada,eamaiorpartedotrajeto é plana, com poucas subidas e muitas descidas. Visita-se os sítiosarqueológicosdePhuyupatamarca, Intipata e Wiñaywayna – umaperitivo paraMachuPicchu. O pernoite ocorre no acampamento-base, com direito a confraternização entre os viajantes. É quando gente do mundo inteiro se reúne e relata suas experiênciasaté ali, apoucashoras de atingir o grande objetivo. A saída do quarto dia é bem cedinho, antes de o sol nascer. Atéporqueaideia échegarà Porta do Sol (Intipunku, na língua incaica), a antiga entrada da área de acesso restrita a Machu Picchu, antes da aurora. Somente assim os viajantes acompanham a cidade ser paulatinamente ilu-
ADRIANA MOREIRA/AE
MACHU PICCHU
Estradas. Rede de caminhos chegava a 40 mil quilômetros e entrelaçava todo o império
SERGIO NEVES/AE
A emoção de alcançar a cidadela pela Trilha Inca
minada pelos primeiros raios de sol. Dali em diante, apenas mais uma hora de caminhada antes de entrar na cidadela. Alternativa. Menos procurada,
a Trilha do Salkantay é uma opção à sempre concorrida Trilha Inca. São 50 quilômetros de percurso, entre o povoado de Mollepata e o vale do Rio Vilnacota, em Águas Calientes. Os aventureiros partem de 3.800 metros de altitudeechegama4.650metros, em um caminho onde se observa
atransiçãoentreoclimasecodos Andes e o início da Amazônia. Diversas empresas operam o trajeto, que, ao contrário da Trilha Inca, não tem limite de visitantes. Além do acampamento tradicional,hátambémo conforto dos lodges. O pacote com guias e refeições, cinco noites nos lodges e mais uma em Águas Calientes custa US$ 2.850 por pessoa na alta temporada. Informações: www.mountainlodgesofperu.com./ FÁBIO VENDRAME; COLABOROU ADRIANA MOREIRA
PASSO A PASSO Passagem Runkurakay
Warmi Wañusca
4.200 METROS
Huayllabamba Floresta 3 MIL METROS
3.800 METROS
Pacamayo
3.600 METROS
Sayacmarca
3.600 METROS
Floresta
Phuyupatamarca 3.600 METROS
Machu Picchu
Floresta Floresta
Começo da trilha 2.720 METROS
2.700 METROS
2.400 METROS
Porta do Sol
2.700 METROS
Floresta
Llactapata
Dia 1 - 7 horas
Wiñaywayna
Dia 2 - 8 horas
Dia 3 - 7 horas
Dia 4 - 2 horas
INFOGRÁFICO/AE
Entrevista
Felipe Varela Especialista em cultura andina e nos caminhos incas
‘É preciso ouvir os povos nativos’ Conhecido como “El Chaski” (‘O Mensageiro’, em quéchua), Felipe Varela é especialista em culturas ancestrais andinas e um intrépido aventureiro peruano. Há 15 anos vem percorrendo o Qhapaq Ñan, rede de caminhos que interligava o Império Inca. Recentemente, Varela conduziu um documentário sobre a civilização inca para o History Channel. A seguir, os principais trechos da entrevista:
ARQUIVO PESSOAL
● Que caminhos incas estão
abertos ao turismo?
● Por que decidiu trabalhar com os caminhos pré-hispânicos?
Depois de muita pesquisa, decidi percorrer a vasta rede de caminhos a pé, vendo de perto tudo o que nossos ancestrais aprenderam com o conhecimento do território, de sua geografia e dos recursos disponíveis. Os povos andinos desde sempre cruzaram as cordilheiras nevadas, dos pampas do altiplano até a costa ou a selva. Essas mesmas rotas de intercâmbio se mantiveram e foram sendo aperfeiçoadas por culturas como as de caral, moche, wari e outras. Delas os incas herdaram tudo isso e, em menos de 100 anos, conseguiram articular mais de 5 milhões de quilômetros quadrados por meio de caminhos interligados.
sua construção, mas também pelo funcionamento: há depósitos de alimentos, canais de drenagem, pontos de apoio, pousadas, centros administrativos e de manufatura, zonas de produção e de cultivo agrícolas... Além disso, a planificação e a logística desses caminhos são incríveis. Seu calçamento adaptado a diferentes altitudes permite cruzar uma região com neve e chegar a uma área bastante quente dentro de um vale, diante de paisagens diferentes.
Chaski. 15 anos na estrada ● O que é exatamente o Qhapaq Ñan? Quantos quilômetros tem?
Bom, a tradução é “caminho supremo” e o impressionante dos trajetos é que sua tecnologia transpassou o tempo e ainda segue funcionando, articulando povos que seguem a intercambiar seus produtos. Durante seu esplendor deve ter alcançado mais de 40 mil quilômetros. ● Quais são os atrativos?
Definitivamente, o povo, suas tradições e os costumes que ainda guardam. Depois, o desenho dos caminhos não apenas por
O principal deles é mesmo a Trilha Inca. Mas tem um modelo de desenvolvimento que não beneficia as comunidades locais. Apenas operadoras e empresas do ramo obtêm lucros. A proposta pela qual trabalho defende uma modalidade de turismo comunitário que pode e deve ser administrada pelos líderes locais, com visão e organização próprias. Enfim, que haja envolvimento dos verdadeiros donos do território por onde passam os caminhos. ● O governo tem investido nisso? Há projetos de desenvolvimento e conservação das rotas incas?
Sim, existe interesse dos seis países que fizeram parte do Império Inca (Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Chile e Argentina), mas apenas de maneira simbólica. Há instituições que parecem ‘descobrir a pólvora’ a cada vez que veem os caminhos e alucinam com o turismo, mas ninguém consulta os moradores... Não os veem porque só querem ver o dinheiro que podem ganhar com o turismo./ F.V.