Editoria de Tecnologia - Correio Braziliense [ Vitor Sales ]

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Tecnologia Inovação

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12 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Aplicativos para fazer o bem

Cresce o desenvolvimento de programas para smartphones que geram impactos sociais positivos. Propostas vão de doações para instituições de caridade a plataformas que facilitam a comunicação entre surdos e ouvintes

verdade que o celular se tornou símbolo de individualismo, por ser um incentivador de selfies e perfis autopromocionais em redes sociais. Mas há muita gente hoje que busca torná-lo uma ferramenta que incentiva o olhar para o próximo. Aplicativos para smartphones que, além de oferecer um serviço ao usuário, buscam gerar impactos sociais positivos são uma tendência tecnológica crescente, que não passa despercebida por programadores da cidade. É o caso de três alunos da Universidade de Brasília (UnB) que criaram um jeito fácil de transformar proprietários de telefones em doadores para instituições que desenvolvem trabalhos sociais. Tudo acontece por meio do app Ribon, palavra que, em inglês, significa laço.“Funciona de uma maneira bem simples: toda vez que um usuário com o aplicativo desbloquear a tela, ele receberá a proposta de visualizar um anúncio. Se ele aceitar, o clique gerará uma receita, que é repassada mais tarde para ONGs”, explica Carlos Menezes, um dos inventores do programa e estudante do curso de computação. “Os custos das doações são pagos pelas empresas anunciantes”, completa. O Ribon foi criado em maio deste ano e, atualmente, o grupo de desenvolvedores prepara uma fase inicial de testes. “Fizemos muitas pesquisas de campo e conversamos com possíveis usuários antes de pôr a mão na massa. Em breve, testaremos com algumas pessoas, que nos darão mais sugestões de mudanças”, conta Menezes. “É necessário perceber oportunidades e correr atrás. Nós descobrimos, em nossas pesquisas, que as pessoas desbloqueiam o celular de 100 a 140 vezes por dia. Ao mesmo tempo, 60% dos brasileiros dizem que gostariam de doar, mas alegam não ter dinheiro. Então, unimos o útil ao agradável”, resume o estudante, que construiu o projeto com o designer Rafael Rodeiro e o engenheiro de produção João Moares.

Helilo Montferre/CB/D.A Press

a voz há 16 anos. A partir de uma antiga fita de VHS, eles captaram algumas palavras ditas por ela e inseriram esses áudios no banco de dados do programa. Ao digitar as palavras no aparelho, o timbre de voz é usado para vocalizá-las. “Fomos para rua falar com os possíveis usuários e vimos os caminhos que poderíamos percorrer. Antes de tudo, é necessário identificar um problema, algo incômodo, e, então, construir uma solução”, explica Marcelo Valença de Almeida, integrante da equipe. Para Alexandre Loureiro, coordenador do curso de pós-graduação em aplicativos móveis do Centro Universitário IESB, o sucesso de iniciativas como essas está na facilidade de acesso às novas ferramentas de programação. “Plataformas de desenvolvimento de aplicativos estão cada vez mais popularizadas, possibilitando novas aplicações e mais desenvolvedores”, analisa.

É

Comunicação

que continua se comunicando com a própria voz. O grupo idealizador, que conta com duas fisioterapeutas, uma fonoaudióloga, um médico especializado em medicina da família e urgências e um desenvolvedor, usou como ponto de partida o caso de uma paciente que perdeu

Com essa tendência em alta, alguns programas já ultrapassaram a fase de concepção e testes e se tornaram ferramentas bastante difundidas. Um exemplo é o Hand Talk, tradutor da língua brasileira de sinais que ajuda a comunicação entre surdos e ouvintes. O app conta com a ajuda do Hugo, um intérprete virtual que traduz texto e voz para a Libras, que também é ensinada, por meio de uma série de vídeos, na sessão educativa Hugo Ensina. Com aproximadamente 1 milhão de downloads, o aplicativo é gratuito e está disponível para tablets e smartphones nos sistemas Android (na Play Store) e iOS (na App Store). Graças a uma parceria com o Ministério da Educação, o Hand Talk está presente em milhares de tablets da rede pública de ensino, auxiliando na educação de alunos surdos por todo o Brasil. Tudo começou em 2008, quando o publicitário Ronaldo Tenório, hoje CEO da empresa, concebeu um projeto de faculdade que buscava aliar duas paixões: tecnologia e comunicação. A ideia ficou guardada por quatro anos, até que saiu do papel em 2012, quando ele se juntou a dois amigos, o analista de sistemas Carlos Wanderlan e o arquiteto especialista em 3D Thadeu Luz, para colocar o projeto em prática. “Eles se saíram campeões em um desafio de startups, e assim nasceu o Hand Talk e seu simpático intérprete virtual, o Hugo”, conta Mariana Pezarini, analista de comunicação e marketing da iniciativa.

criar o algoritmo que adquire a imagem da cada camada, o grupo do Georgia Tech desenvolveu o que interpreta as imagens distorcidas. “É um pouco assustador, porque muitos sites na internet têm certificações baseadas em letras distorcidas para garantir que é mesmo uma pessoa que está acessando a página, e esse algoritmo consegue burlar várias delas”, acrescenta Heshmat. O sistema usa radiação terahertz (raios T), ondas intermediárias entre as micro-ondas e a luz infravermelha. Em comparação com os raios X, que também podem penetrar superfícies, essa radiação tem a vantagem de ser absorvida de forma diferente por cada tipo de material. Assim, o papel em branco e a tinta impres-

sa nele geram assinaturas de absorção diferentes, permitindo que um programa as interprete e informe o que está escrito. A máquina também se aproveita da ínfima quantidade de ar entre cada folha para reconhecer em qual página está impressa cada imagem colhida. Esse ar faz com que cada página reflita em momentos diferentes os raios T, que vão sendo sucessivamente captados pelos sensores da nova câmera. Apesar de felizes com o resultado, os pesquisadores sabem que o sistema precisa passar por vários aprimoramentos, podendo reconhecer não apenas uma, mas milhares de letras em cada página, além de gerar imagens nítidas muito além das atuais nove folhas.

Marcelo Almeida e Fernando Henrique Uzelli criaram um aplicativo que reproduz, a partir de gravações antigas, a voz de quem perdeu a fala Jhonatan Vieira/Esp. CB/D.A Press

Plataformas de desenvolvimento de aplicativos estão cada vez mais popularizadas, possibilitando novas aplicações e mais desenvolvedores” Alexandre Loureiro, coordenador do curso de pós-graduação em aplicativos móveis do Centro Universitário IESB

Voltar a falar Iniciativas como o Ribon não param de surgir. Em julho deste ano, por exemplo, investidores, profissionais e empreendedores se reuniram em São Paulo para o 2º Startup Weekend Health, que selecionou ideias de startups voltadas para a área de saúde. O evento, que teve apoio do Google Foundation e da farmacêutica Janssen, reuniu 120 participantes envolvidos em 13 projetos,

Estudantes da UnB, Carlos, Rafael e João bolaram uma forma de estimular doações a ONGs que receberam retorno de investidores e empresários da área. “O evento funciona como uma gincana que promove empreendedorismo. A gente começa na sexta e tem até a tarde de domingo para desenvolver um projeto e fazer essa ideia virar uma empresa”, explica Fernando

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Henrique de Paula Uzelli, médico e um dos autores do aplicativo que saiu vencedor do encontro, o Minha Voz. O programa transforma em áudio palavras digitadas no celular, uma função muito útil para quem perdeu a voz por conta de cirurgias ou algum tipo de doença.

O grande diferencial do novo app para outros semelhantes já existentes no mercado é permitir que a voz original do usuário seja usada nas mensagens, eliminando sons eletrônicos pré-programados. Os inventores acham que, assim, contribuem para a elevação da autoestima do usuário,

Barmak Heshmat/Divulgação

Uma câmera que lê livros fechados sistema com uma pilha de papéis, cada um deles com apenas uma letra impressa. O invento foi capaz de identificar corretamente os caracteres das nove primeiras páginas. “O Metropolitan Museum em Nova York já demonstrou interesse em uma tecnologia assim, porque eles gostariam, por exemplo, de analisar o interior de livros antigos nos quais eles não querem nem encostar”, conta, em um comunicado, Barmak Heshmat, um dos autores do trabalho.

O equipamento usa raios T para penetrar e interpretar as páginas Na verdade, dizem os cientistas, o equipamento deverá ser útil para analisar qualquer

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Um grupo de pesquisadores dos Institutos de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e da Geórgia (Georgia Tech), ambos nos Estados Unidos, trabalha em uma câmera que será capaz de ler livros sem precisar abri-los. Na edição mais recente da revista especializada Nature Communications, os envolvidos no projeto apresentam um protótipo da máquina, que, apesar de ainda estar em estágio inicial, já é capaz de enxergar por entre as folhas. Os pesquisadores testaram o

tipo de material organizado em camadas. Enquanto a equipe do MIT ficou responsável por


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