Trabalho de Conclusão de Curso - Arquitetura e Urbanismo I UFES 2018 I Vivian Monteiro

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE ARTES DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

EXPLORANDO A FRONTEIRA LUGAR DE ENCONTRO DA DIVERSIDADE

Vivian Monteiro Malta Orientador: Prof. Dr. Homero Marconi Penteado

VITÓRIA I 2018

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VIVIAN MONTEIRO MALTA

EXPLORANDO A FRONTEIRA LUGAR DE ENCONTRO DA DIVERSIDADE

Projeto de graduação apresentado ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Espírito Santo, como exigência para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Prof. Dr. Homero Marconi Penteado. Coorientador: Prof. Dr. Jarryer Andrade De Martino.

Comissão examinadora: Homero Marconi Penteado ______________________________________________________________________ Jarryer Andrade De Martino ______________________________________________________________________

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Aprovado com nota final: __________

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AGRADECIMENTOS Desejo com esse trabalho expressar valores de como penso que a arquitetura pode ser usada para melhorar a vida das pessoas. Agradeço a Deus, pelo seu infinito amor, pela inspiração como criador de todas as coisas, pela paz e sabedoria que Ele nos dá durante os processos da vida. Agradeço à minha mãe, Zenaide Monteiro, pela dedicação e amor recebidos e por ela ser uma mulher forte que me incentiva a sonhar e perseverar. Ao meu orientador nesse trabalho, Homero Penteado, pelo conhecimento e ensinamentos compartilhados e por ser uma inspiração profissional. Ao Jarryer De Martino pelas orientações e apoio. Às minhas irmãs, Amanda e Monique, por dividirem comigo a vida. Aos meus tios, Edith e Stelio, por todo o apoio que recebi ao longo da minha vida. Aos meus amigos pelo incentivo, confiança e carinho. A todos que se fizeram presentes nesses anos de formação, que muito me ensinaram e contribuiram para que esse trabalho fosse realizado.

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INTRODUÇÃO

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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

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INVENTÁRIO

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O PROJETO

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CONCLUSÃO

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INTRODUÇÃO O meio urbano tem crescido e as cidades tem se tornado cada vez mais habitadas por pessoas de diferentes contextos socioeconômicos, culturais e religiosos. Pessoas com opiniões diferentes sobre a política, educação e a vida. Essas diferenças tem o potencial de ser algo enriquecedor para gerar cidades criativas, diversas, cheias de oportunidades e vitalidade. No entanto, não é isso que temos visto: a realidade da maioria das cidades é de crescente desigualdade social, intolerância em vários âmbitos e divisão de suas estruturas em locais habitados por grupos de semelhantes. A desigualdade social, a história de formação territorial, desigualdade de planejamento urbano e desigualdade quanto ao acesso a estruturas da cidade podem criar divisões dentro do território urbano. Essas divisões podem ser entendidas como fronteiras, limites entre áreas com contextos socioeconômicos diferentes, ou bairros em que um tem planejamento formal e o outro informal ou, até mesmo, um rio ou canal pode ser uma fronteira natural que divide regiões da cidade. As fronteiras podem ser prejudiciais às cidades quando, além da divisão territorial, elas evidenciam a separação social entre os moradores urbanos em grupos que se delimitam ao convívio entre seus semelhantes e acabam se tornando ignorantes em relação aos outros habitantes da cidade. Acredita-se que uma forma de melhorar o convívio entre os moradores urbanos é através da criação de espaços públicos de qualidade, que estimulem a vida pública urbana e se preocupe com seus usuários. Esses espaços são ruas, praças, parques e equipamentos públicos ou até mesmo privados, mas que tenham caráter público e podem ser planejados em lugares de fronteiras na cidade, com o objetivo de servir a mais de uma região e ser, possivelmente, um conector entre elas. Parques, mercados, instituições em locais de

fronteira entre comunidades é uma forma de aumentar a diversidade social do lugar público (KNAPP, 2017). Os arquitetos e urbanistas, como planejadores de espaços e cidades, devem se preocupar com o projeto de áreas públicas que considerem seus usuários e tenham o objetivo de ser um lugar de encontro e convívio de grupos sociais diferentes. A cidade de Vitória – ES é formada por diversos bairros e diferentes Regiões Administrativas e enfrenta problemas de desigualdade social e da divisão de suas estruturas em locais habitados por grupos de semelhantes. Isso pode ser visto em dados socioeconômicos disponibilizados pela Prefeitura, que mostram que habitantes de uma região da cidade tem renda médias quase 5 vezes maior do que a renda média de habitantes que residem em regiões vizinhas. A desigualdade econômica na cidade de Vitória faz com que, por vezes, os limites entre bairros sejam também fronteiras sociais. Regiões que estão geograficamente perto, mas socialmente distantes. Isso se torna ainda pior quando evidentemente existe uma alienação com relação à existência do outro. Moradores de determinadas áreas tendem a frequentar os mesmo lugares, colégios, bares, áreas de lazer, de acordo com seus poderes aquisitivos, e acabam convivendo com pessoas de histórico e contexto semelhantes. Pessoas de contextos diferentes podem até conviver, mas normalmente essa convivência se dá em ambientes de trabalho, onde existe algum tipo de hierarquia, em empresas ou prestação de serviços domésticos. O problema evidenciado é a existência de fronteiras entre regiões de poder aquisitivo diferentes e falta de lugares públicos em Vitória que sejam frequentados por pessoas de contextos socioeconômicos distintos e que 15


aproveitem atividades de lazer juntas. A fim de desenvolver o projeto de um espaço público em Vitória, que tem o objetivo de ser um lugar de convívio para pessoas contextos socioeconômicos, um local considerado uma fronteira foi escolhido. É uma área da cidade em que um lado é habitado por pessoas de poder aquisitivo mais alto e o outro lado por pessoas de poder aquisitivo mais baixo. É a fronteira entre quatro Regiões Administrativas que serão caracterizadas ao longo desse trabalho. É importante se preocupar com a diversidade de quem usa o espaço público para que esses espaços representem as comunidades que servem e funcionem como um fórum cívico. A integração econômica entre pessoas de diferentes cenários socioeconômicos e a convivência com pessoas que vêm de lugares e contextos diferentes aumentam a empatia entre os grupos sociais e ajudam a construir uma sociedade mais tolerante, além de poder gerar novas ideias e oportunidades econômicas em uma sociedade mais democrática (GEHL INSTITUTE, 2015). O trabalho do Instituto Gehl e do Project for Public Spaces (PPS) auxiliaram o desenvolvimento desse trabalho e suas missões serviram como inspiração. O Instituto Gehl foi fundado para desenvolver o trabalho do arquiteto Jan Gehl e tem duas principais atividades: estudar a vida pública e agir como plataforma para uma mudança sistêmica. Estão comprometidos em colocar a vida pública como prioridade no planejamento de todas as cidades e sua missão é “transformar o modo como as cidades são formadas fazendo com que a vida pública seja o motivador internacional de projetos, políticas e governanças” (GEHL INSTITUTE, s.d., Tradução da autora). O PPS foi fundado em 1975 para expandir o trabalho de William H. Whyte, autor de The Social Life of Small Urban Spaces. É uma “organização sem fins lucrativos dedicada a ajudar as pessoas a criarem e manterem espaços públicos que construam comunidades fortes” (PROJECT

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FOR PUBLIC SPACES, s.d., Tradução da autora).


OBJETIVOS

METODOLOGIA

O objetivo desse trabalho é a exploração de uma área de fronteira na cidade de Vitória – ES para a criação de um espaço público que tem a intenção de ser um local para interação entre pessoas de diferentes contextos para que haja troca de conhecimento entre elas. O intuito de projetar uma área que visa a interação social entre pessoas de contextos diferentes se justifica pela convicção de que esse convívio é fundamental para a construção de uma sociedade mais inclusiva e tolerante, onde a oportunidade de crescimento está disponível para todos (GEHL INSTITUTE, 2016). Através de uma metodologia de trabalho que conta com revisão bibliográfica e estudo de precedentes objetiva-se a produção de um projeto preliminar de arquitetura em um terreno que é caracterizado pela situação de fronteira entre regiões da cidade que divergem em poder socioeconômico e que tem pouco convívio entre seus moradores.

Como método foi adotado revisão bibliográfica, pesquisa e leitura de artigos em sites e revistas que discorram ou se relacionem ao tema do trabalho. Essa revisão bibliográfica serviu para a fundamentação teórica e produção do trabalho escrito. Para a produção do projeto, o método adotado foi o de análise de dados disponibilizados pela Prefeitura de Vitória, reconhecimento do local de intervenção, inventário e análise da área, definição do conceito e do partido arquitetônico, definição do programa e das áreas, estudo de precedentes projetuais e desenvolvimento do estudo preliminar levando em consideração a revisão bibliográfica feita e o que foi aprendido durante o processo do trabalho. Como o objetivo do trabalho é a criação de uma área pública que sirva como conector entre comunidades vizinhas, os projetos considerados no estudo de precedente são de área públicas como parques, bibliotecas e centros comunitários ou culturais, por serem instituições cívicas com o potencial de nutrir e dar identidade a comunidades.

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CONCEITUANDO FRONTEIRA, LUGAR E DIVERSIDADE

FRONTEIRA Fronteira pode ser definida como limite, extremidade de um país ou região do lado onde confina com outro. Separação, linha que demarca ou distingue uma coisa de outra (FERREIRA, 1988). De acordo com JACOBS (1961, p. 262, Tradução da autora): [...] Uma fronteira – o perímetro de um uso territorial único de grandes proporções ou expandido – forma o limite de uma área “comum” da cidade. As fronteiras são quase sempre vistas como passivas, ou pura e simplesmente como limites [...]. De acordo com LYNCH (1960, p. 64):

Nesse trabalho, o significado de fronteira foi adotado no seu sentido literal, como limite e demarcação de um território, por se tratar de uma fronteira real entre quatro bairros: Andorinhas, Santa Luiza, Goiabeiras e Pontal de Camburi, localizados na cidade de Vitória/ ES. Também foi considerado o sentido figurado de fronteira, onde mais do que uma barreira física existe uma fronteira invisível, que distingue e separa os bairros e seus respectivos moradores. Na imagem adiante (Figura 1), o terreno destacado é o lugar de fronteira que existe no limite entre os bairros de Andorinhas, Santa Luiza, Goiabeiras e Pontal de Camburi.

[...] os limites são elementos lineares não usados ou entendidos como vias pelo observador. São fronteiras entre duas fases, quebras de continuidades lineares: praia, margem de rios, lados, etc.; cortes de ferrovias, espaços em construção, muros e paredes. São referências laterais, mais que eixos coordenados. Esses limites podem ser barreiras, mais ou menos penetráveis, que separam uma região da outra, mas também podem ser costuras, linhas ao longo das quais duas regiões se relacionam e se encontram [...].

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Figura 1: Imagem aérea da área de fronteira. Fonte Base: Google Earth

O Canal da Passagem é uma barreira natural que separa os bairros de Andorinhas e Santa Luiza dos bairros de Pontal de Camburi e Goiabeiras.

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A Ponte da Passagem (Figura 2), inaugurada em 2009, demarca e ressalta a fronteira entre os bairros de Santa Luiza e Andorinhas por possuir uma grande escala comparada às construções ao redor e à distância entre as margens do canal.

Figura 2: Foto da Ponte da Passagem. Fonte: Fabrício Silva, 2013.

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LUGAR

DIVERSIDADE

Lugar pode ser definido como espaço ocupado; espaço próprio para determinado fim; ponto de observação; localidade (FERREIRA, 1988).

Diversidade é diferença, dessemelhança, multiplicidade, pluralidade (FERREIRA, 1988). A diversidade a que se refere esse trabalho é a diversidade de pessoas da cidade de Vitória. Pessoas de diferentes gêneros, idades, crenças políticas e religiosas e origem social. Mais especificamente, considera-se a diversidade dos moradores que habitam os bairros de Andorinhas, Santa Luiza, Goiabeiras e Pontal de Camburi, com o objetivo de criar um lugar público conector que atenda a pluralidade de seus possíveis usuários.

Segundo Tuan (1977, Tradução da autora): [...] Frequentemente o significado entre lugar e espaço se confundem. Porém ‘espaço’ é mais abstrato do que ‘lugar’. O que começa como espaço indiferente se torna um lugar à medida que o conhecemos melhor e damos a ele algum valor [...]. [...] As ideias de ‘espaço’ e ‘lugar’ exigem um ao outro para definição. Da segurança e estabilidade de um lugar, estamos conscientes da liberdade, abertura e ameaça do espaço, e vice-versa. Além disso, se pensarmos no espaço como o que permite o movimento, então o lugar é a pausa; cada pausa em movimento torna possível que uma localização seja transformada em um lugar [...]. Tuan (1977) define bem o significado de lugar quando diz que é o espaço onde é agregado algum valor. Dentre os objetivos desse trabalho está a prioridade de transformar a fronteira entre os bairros de Andorinhas, Santa Luiza, Goiabeiras e Pontal de Camburi, que hoje é apenas um espaço ainda pouco utilizado, em um lugar, com valor agregado para as comunidades vizinhas e que sirva como local de encontro de seus moradores.

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A VIDA NA CIDADE

No planejamento das cidades, é importante pensar na recuperação da vida nos espaços públicos e enxergar esses espaços como locais de encontro e possíveis conectores na cidade. A vida é imprevisível, complexa e muitas vezes subjetiva, é impossível pré-programar atividades públicas em cada detalhe, mas alguns autoresI e institutosII têm trabalhado para, através de estudos, sugerir o que funciona e o que não funciona nos espaços públicos e, assim, ajudar a qualificar um projeto. A vida social nos espaços públicos contribui fundamentalmente para a qualidade de vida dos indivíduos da sociedade como um todo e arquitetos tem a responsabilidade moral de criar lugares físicos que facilitem o engajamento cívico e a interação da comunidade (WHYTE, 1980). No início dos anos 1960, autores III começaram a criticar os novos bairros que estavam sendo construídos e o rápido crescimento urbano. Foi quando surgiu termos como “cidades-dormitório” e “empobrecimento cultural”, a vitalidade das ruas estava sendo substituída por automóveis. A cidade estava sendo planejada em larga escala e setorizadas, com processos racionalizados e especializados (GEHL; SVARRE, 2013). As cidades medievais tinham um crescimento orgânico, cresciam de acordo com a necessidade, a vida na cidade e o espaço público caminhavam juntos. Diferente

disso, no modernismo, com o processo de industrialização, as cidades passaram a ser planejadas em larga escala e a forma de se locomover mudou significativamente com o uso do automóvel. Essa mudança de planejamento, construção e locomoção nas cidades criou uma nova situação, a vida entre os edifícios estava esquecida e os espaços públicos pareciam inativos. Foi quando pessoas surgiram para dizer que algo estava errado na forma como as cidades estavam sendo planejadas. Os críticos publicaram obras entre 1960 e 1980 que são até hoje consideradas fundamentais para o estudo da vida na cidade, como The Death and Life of Great American Cities, J.Jacobs; Life Between Buildings, J.Gehl; The Social Life of Small Urban Spaces, W.H.Whyte. A conclusão deles é de que a vida havia sido esquecida no processo de planejamento moderno e teria que ser repensada desde o início. (GEHL; SVARRE, 2013) Desde então, a sociedade mudou e como solução para retomar a vida nos espaços públicos da cidade, não se espera que se recrie cidades pré-modernas, mas que se desenvolva técnicas e métodos contemporâneos que possam ser aplicados (GEHL STUDIO SF, 2015). O Instituto Gehl e o Projects for Public Spaces (PPS), por exemplo, tem se dedicado ao desenvolvimento de tais ferramentas.

I Autores como: W. H. White, The Social Life of Small Urban Spaces; C.C. Marcus e C. Francis, People Places: Design Guidelines for Urban Spaces; J.Gehl, Life Between Buildings. II Gehl Institute e Project for Public Spaces. III J. Jacobs; William H. Whyte; C. Alexander; J. Gehl.

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Uma imagem (Figura 3) no livro New City Life, de Gehl (2006) resume a história da vida urbana de 1880 até 2005. Antes, no início do século XX, muitas atividades ocorriam no espaço público por serem imprescindíveis. Mas com as mudanças ocorridas durante o século XX, o surgimento do automóvel e

Figura 3: Desenvolvimento da Vida Urbana de 1880 a 2005. Fonte: New City Life; Gehl, Gemzøe, Kirknæs & Søndergaard. The Danish Architectural Press, 2006.

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novas formas de transportar mercadorias e fazer compras ou se comunicar, o espaço urbano, gradualmente, se transformou em um lugar usado principalmente para atividades recreativas. Nesse cenário, a qualidade do espaço público tornou-se fundamental.

No início do século XXI, na arquitetura e planejamento urbano, começou-se a se julgar óbvio que considerar a vida na cidade era fundamental. As cidades se tornaram mais globais com o avanço da tecnologia, urbanistas e políticos queriam melhorar as condições dos habitantes urbanos para terem vantagem na competição entre as cidades. Tornou-se um objetivo planejar cidades atraentes para novos residentes, trabalhadores, investidores e até turistas.


O ESPAÇO PÚBLICO E A VIDA NA CIDADE “A vida é arte do encontro embora haja tanto desencontro pela vida” dizia o poeta Vinicius De Moraes, que resumidamente caracterizou as relações humanas em sua essência. Diante disso, os espaços públicos são o centro da vida urbana, eles são o local de encontro, onde os habitantes conhecem outros que vivem no mesmo bairro ou cidade. Essa interação pode ser estimulante e ter um impacto profundo na compreensão das pessoas sobre seu contexto de vida. Nesse contexto, o espaço público é entendido como o conjunto de ruas, becos, praças e parques. A vida na cidade é entendida no sentido amplo, como tudo que acontece no espaço público, na ida e volta do trabalho ou da escola, nas varandas voltadas para a rua, as pessoas paradas no ponto de ônibus, sentadas em uma praça, caminhando, pedalando. São as atividades diárias que as pessoas naturalmente participam quando estão do lado de fora do ambiente privado de sua casa, trabalho e carro. O essencial é a interrelação entre vida e espaço. Para o Instituto Gehl, a vida pública deve ser acessível a pessoas de todas as origens, contribuindo para cidade mais justa, equitativa e vibrante. Todo mundo tem um direito a vida pública (GEHL INSTITUTE, 2017). Os motivos para estar no espaço público vão além da necessidade de ir de um ponto ao outro. Existem necessidades sociais do comportamento humano, independente de gênero, raça, crença, que justificam o investimento em criar espaços públicos que vão além da funcionalidade de locomoção. As pessoas sentem necessidade de ter reconhecimento social e caminhar é uma das formas de satisfazer a necessidade de ver e ser visto. Existe também a necessidade de passividade, que consiste em encontrar lugares ativos da cidade que garantem condições para as pessoas permanecerem passivas, como por exemplo sentadas em um banco observando

o movimento ao redor. Essas necessidades sociais vão além da necessidade física humana de luz, ar e movimento (GEHL; SVARRE, 2013). As instituições cívicas como parques, bibliotecas, teatros, centros comunitários e prefeituras, são fundamentos de uma sociedade civil e democrática. Esses lugares têm o potencial de nutrir e dar identidade a comunidades, por suscitar um senso de orgulho nos moradores e promover frequente contato entre os cidadãos que passam a ser seus usuários. Quando estas instituições estão localizadas em lugares de fácil acesso por pedestres e trânsito elas podem encorajar uma população mais diversificada a usá-las. Outro potencial das instituições cívicas é o de apoio a economias locais, incentivando o empreendedorismo local dispondo de lugares onde pode haver mercados de agricultores, festivais, feiras e outras atividades. O espaço público é capaz de ancorar comunidades, reunindo-as fisicamente e simbolicamente, fornecendo recursos e lugares para comunicação aberta, por exemplo, parques podem atuar junto com bibliotecas para criar lugares de aprendizagem ativa, com atividades educativas, recreação, lazer e convívio e, dessa forma, servir como conectores e criadores de uma comunidade (NIKITIN, 2009).

CIDADE CIVILIZADA? Alguns bairros têm condomínios residenciais com boas áreas de lazer, mas que só são acessíveis aos moradores do condomínio. Alguns outros bairros carecem de áreas de lazer, quando muitos de seus residentes não podem pagar o alto preço de condomínios e, às vezes, vivem em bairros não bem planejados, com ruas sem calçamento e pouca disponibilidade de espaço público ou pouca qualidade dos mesmos. Hester (2006) questiona se é possível chamar de civilizada uma cidade em que as pessoas estão trancadas do lado de dentro

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ou trancadas do lado de fora, alienadas em relação umas às outras. Quando a interação entre as pessoas é reduzida aos grupos de semelhantes, elas acabam se tornando ignorantes umas às outras, os grupos se dividem cada vez mais e a cidade fica segregada. Um planejamento ruim para a cidade é aquele que nos divide uns dos outros, enfraquece o nosso senso de comunidade, destrói nossos ambientes naturais e falha em inspirar o nosso espírito (HESTER, 2006). Deve-se questionar se uma sociedade dividida, em que a disponibilidade de espaços de lazer de qualidade está somente para os que podem pagar por ela e em que grupos sociais estão cada vez mais divididos pode ser chamada de uma cidade civilizada. O quanto essa situação não contribui para criar uma cidade segregada, insegura e, portanto, pouco interessante e pouco viva? Recuperar a interação entre as pessoas e a vida na cidade é, sem dúvida, uma importante dimensão do planejamento.

DIVERSIDADE NO ESPAÇO PÚBLICO “O que mais atrai as pessoas, ao que parece, são outras pessoas” (WHYTE, 1980). O direito à cidade pode ser definido como o direito de criar, participar, ser representado, é o direito de se ver refletido no lugar em que se vive. Esse direito é entendido intuitivamente, mesmo quando as pessoas vivem em lugares onde ele foi restringido. Os grafites em paredes das cidades, protestos em praças públicas e outros atos de desobediência civil muitas vezes demonstram a reivindicação pelo direito à cidade. Atos que mostram que as pessoas querem se envolver nas decisões que afetam suas comunidades e querem se sentir representadas nos espaços públicos da cidade. Quando nos sentimos conectados a um

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espaço, é mais provável que experimentemos a conexão com os outros dentro desse espaço (PROJECT FOR PUBLIC SPACES, 2015). Para que as pessoas se sintam representadas é necessário haver diversidade de pessoas construindo e usufruindo do espaço público. Elas leem a sua cidade pelas reflexões das suas comunidades e do que veem no espaço público, portanto os parques, praças, ruas, são uma ferramenta para mudar a cultura local. Criar lugares mais diversos é importante, mas isso é um objetivo, não uma ferramenta. Para alcançar a diversidade é preciso desenvolver mecanismos que façam as pessoas de várias origens se sentirem bem-vindas nos lugares (KNAPP, 2017). A importância da diversidade de pessoas no espaço público vai além da representatividade. EstudosI sugerem que a exposição a pessoas que são diferentes de si mesmo, incluindo diferenças sociais, de raça, gênero e religião, aumenta a tolerância e empatia em relação aos outros. Os benefícios também podem ser vistos no âmbito econômico, no contato entre diferentes grupos sociais. Em seu artigo The Strength of Wake Ties: A Network Theory Revisited, Granovetter (1983) observa que os chamados “Laços Fracos” (relacionamento superficial entre as pessoas) são fundamentais para a disseminação da inovação, por serem redes constituídas de indivíduos com experiências e formações diversas. Esses laços podem aumentar as oportunidades de emprego e possibilitar novos pontos de vista para trabalhadores. Sob condições apropriadas, o contato interpessoal é um meio eficaz em reduzir o preconceito entre os grupos. A imagem abaixo (Figura 4) exemplifica quais os contatos que podem acontecer no espaço público:

I Estudos: Raciais entre atletas, Brown, K.T., 2003; de Gênero e Preferência Sexual, Herek, G.M., 1996; Preferência Religiosa, Savelkoul, Scheepers, Novotny, J., 2011; Sociais, Chetty, R., 2014, 2015.


Figura 4: Interação Social no Espaço Público. Fonte: Gehl Institute - The Public Life Diversity Toolkit, 2016 p.8.

Portanto, a diversidade no espaço público é importante para, entre outros aspectos, fazer com que as pessoas se sintam representadas em suas próprias cidades e para que, ao terem contato com pessoas de grupos sociais diferentes, mesmo que superficialmente, passem a ter mais empatia e tolerância.

EXPLORANDO A FRONTEIRA Em seu livro The Death and Life of Great American Cities, Jacobs (1961) dedica um capítulo para falar sobre “A Maldição das Zonas de Fronteira Desertas”. A autora cita a linha do trem como exemplo clássico de barreira física, mas que também era uma fronteira

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social com territórios “do lado de lá da linha do trem”. As fronteiras tendem a formar vazios em suas redondezas, tornam-se lugares sem uso, sem usuários, e começam a se deteriorar. Nas cidades atuais as pontes, viadutos, canais podem funcionar como barreias e reproduzir cenários semelhantes aos que Jacobs relatou. A situação de fronteira é grave porque “a mistura constante e literal de pessoas, que se fazem presentes por finalidades diferentes, é o único meio de preservar a segurança nas ruas. É o único meio de cultivar a diversidade derivada. É o único meio de estimular a formação de distritos em vez de bairros ou lugares ermos fracionados, fechados e estagnados” (JACOBS, 1961, p. 264, Tradução da autora). As fronteiras separam as vizinhanças da cidade “comum” que se encontram a seu lado. Nesse aspecto, atuam de modo contrário aos parques de pequeno porte. Os parques de pequeno porte, quando atraentes, podem funcionar como conectores das vizinhanças ao seu redor e agregar os moradores próximos. Em resumo, deve-se procurar usos adequados à zona de fronteira. Lynch (1960, apud JACOBS, 1961, p. 267, Tradução da autora) disse que “Uma linha divisória pode ser mais do que simplesmente uma barreira dominante, se for possível ver ou mover-se através dela – se ela estiver inter-relacionada em certa profundidade com as regiões de ambos os lados - torna-se então uma costura, não uma barreira, uma linha de permuta ao longo da qual duas áreas se alinhavam”. Em 8 Lessons to Promote Diversity in Public Places, o PPS fala sobre oito lições para promover a diversidade nos espaços públicos. A lição de número 6 sugere exatamente que se localize espaços públicos em áreas onde eles podem servir várias comunidades. Parques, mercados, instituições em locais de fronteira entre diferentes comunidades é uma forma comprovada de aumentar a diversidade social do lugar público (KNAPP, 2017). Claro

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que, junto com a localização, os parques e áreas públicas precisam ter bons acessos e conexões e precisam ter uma variedade de programa que represente os moradores que estão ao seu redor. O Instituto Jan Gehl corrobora que a capacidade de um lugar para atrair variedade de usuários pode ser informada pela demografia dos bairros que o cercam. Observando as características das comunidades vizinhas, pode-se formular hipóteses sobre a variedade de pessoas que provavelmente usará o local proposto (GEHL INSTITUTE, 2016).

DUAS OBRAS The Social Life of Small Urban Spaces (WHYTE, 1980) e People Places: Design Guidelines for Urban Open Spaces (MARCUS E FRANCIS, 1990) foram especialmente usados nesse trabalho por serem livros que, baseados em estudos e observações sociais, oferecem recomendações do que pode funcionar para criar um espaço público ativo, inclusivo e múltiplo. “THE SOCIAL LIFE OF SMALL URBAN SPACES” (WHYTE, 1980) Esse livro é o estudo de William H. Whyte sobre praças e pequenos espaços públicos urbanos. Whyte se concentrou em observar como as pessoas utilizavam os espaços na cidade, para tentar descobrir porque alguns lugares funcionavam para atrair pessoas e outros não. Por fim, o autor identificou alguns critérios que demonstraram estar presentes nos espaços públicos bem sucedidos. São eles: • Disponibilidade e variedade de assentos - fixos, móveis, com encosto, sem encosto, em degraus, em canteiros; • Disponibilidade de lugares ao sol ou sob a sombra (dependendo do clima) e vento; • Presença de árvores e vegetação em


geral - pela sua beleza e contribuição climática; • Utilização de água - fontes, cascatas, espelhos d’agua – com permissão de contato dos usuários com a água; • Alimentação - carrinhos de rua, cafés, lugares para comer – “Comida atrai pessoas, que atraem mais pessoas” (WHYTE 1980, p.52); • Conexão com a rua - estabelecer uma boa conexão entre a rua e o espaço público criado, evitando grades ao redor ou grandes diferenças de nível entre a rua e o mesmo; • Triangulação – o que Whyte definiu como processo pelo qual alguns estímulos externos fornecem uma ligação entre as pessoas e faz com que estranhos conversem com outros estranhos como se eles se conhecessem. O estímulo pode ser desde um artista de rua, uma escultura, arte pública, ou o mau tempo, um acidente na rua; ou uma manifestação.

“PEOPLE PLACES: DESIGN GUIDELINES FOR URBAN OPEN SPACES” (MARCUS E FRANCIS, 1990) Esse livro possui princípios e recomendações que podem ser usados em praças, parques de bairro, mini parques, campus universitário, entre outros espaços públicos. As autoras reuniram o trabalho de arquitetos, urbanistas e sociólogos sobre o comportamento social de vários grupos de pessoas para gerar conselhos práticos na criação de espaços públicos. No capítulo sobre praças urbanas, muitas recomendações se assemelham as de William Whyte, como proporcionar variedade de assentos, utilizar água no espaço público, preocupar-se com o microclima providenciando sombra ou sol onde necessário, entre outros. As autoras afirmam a necessidade de projetar espaços com diversidade de usos e atividades para atrair pessoas de diferentes contextos, um exemplo específico da necessidade de projetar espaços com diferentes características é o estudo apresentado de que homens tendem

a escolher estar em lugares de exibição e maior interação social, enquanto mulheres tendem a preferir espaços um pouco mais reservados, protegidos e tranquilos (p. 22). Outra recomendação relevante é que, para projetos de áreas de maior extensão, sugere-se criar subespaços para proporcionar diferentes experiências para os usuários e promover usos mais dinâmicos. Em outro capítulo, são feitas recomendações de projeto específicas para parques de vizinhança. As autoras afirmam que existem duas razões principais para ir a um parque, são elas: o desejo de ter um contato com a natureza e a necessidade de ter contato com pessoas (MARCUS E FRANCIS, 1990, p.71). Essas razões sugerem elementos para ao projetar um parque providenciar caminhos a beira de áreas naturais, ter bancos voltados para áreas verdes e lugares com atividades menos intensas, mais relaxantes e próximas de um jardim, afim de corresponder o desejo de contato com a natureza. Com relação à interação social, as autoras sugerem, entre outras, que parques de vizinhança devem oferecer lugares convidativos para pessoas que vão em grupo ou sozinhas. Ressaltam também a importância de considerar, o que elas chamam de “necessidades especiais de grupos de usuários” (p. 74), que são recomendações para atender as necessidade de grupos como idosos, crianças e adolescentes no projeto de um espaço público que almeja ser inclusivo e usado por todos os moradores de uma comunidade. As diretrizes de projeto são baseadas em análises dos grupos sociais e suas preferências espaciais, como por exemplo, adolescentes tendem a andar em grupo e preferem estar em áreas de maior movimento em um parque, enquanto idosos costumam ir sozinhos e buscam lugares seguros, mas que possam observar outras pessoas.

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A área de intervenção foi escolhida de acordo com uma observação de potencial encontro de bairros com índices socioeconômicos diferentes, sendo empiricamente vistos como uma espécie de fronteira. Posteriormente, com o inventário da área, essas observações puderam ser afirmadas com bases em dados.

LOCALIZAÇÃO A área de intervenção fica localizado nos bairros de Andorinhas e Santa Luiza, em Vitória, Espírito Santo, Brasil. Destacado em vermelho na figura 5.

Figura 5: Área de Intervenção. Fonte Base: Google Earth

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BREVE HISTÓRICO Em 1970, grandes projetos industriais voltados para o comércio exterior foram implantados em Vitória. Ocorreu uma grande migração de pessoas de estados vizinhos e do interior para a capital, influenciando sobremaneira na ocupação desordenada de lugares na cidade. O valor da terra urbanizada era inacessível à grande parte da população, que passou a ocupar áreas sem infraestrutura como encostas de morros e manguezais. Essas áreas de ocupação informal não eram consideradas pela legislação urbanística. Essa situação dividiu a cidade em duas partes: a formal, com infraestrutura, legislação, fiscalização, pagadora de tributos, e a informal, onde os próprios ocupantes estabeleciam as regras. Na década de 1980, a ideia de que os assentamentos seriam provisórios começou a mudar e as áreas de ocupação informal começaram a ser vistas como parte da cidade e necessitadas de investimento público.

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O bairro de Andorinhas é, em grande parte, resultado de aterros informais e ocupações por construções do tipo palafitas. O bairro começou a ser habitado em 1960 com construções à beira do mangue e posteriormente foi formalizado como bairro, em 1975. A figura 6 mostra a região em que hoje é o bairro de Andorinhas, no canto inferior esquerdo, nos anos de 1970, ainda no início da ocupação do bairro. Na imagem é possível ver a área do mangue e o terreno de estudo ocupado pela vegetação e por algumas construções. O bairro recebeu esse nome por causa de uma pedra às margens do mangue, onde pousavam muitas andorinhas que compunham a paisagem do local (PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA, 2017). Desde então, a região se desenvolveu, foi urbanizada; bairros de Goiabeiras, Pontal de Camburi e Santa Luiza se desenvolveram também através de aterros e construções, mas de caráter mais formal do que o desenvolvimento de Andorinhas.


Figura 6: Foto de Andorinhas, Santa Luiza, Jardim da Penha e Goiabeiras em 1970. Fonte: Fotos Antigas ES.

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PLANO DIRETOR URBANO O Plano Diretor Urbano (PDU) de Vitória (Lei 6.705/2006) apresenta em seu texto diretrizes, conceitos e instrumentos jurídicos preconizados pelo Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001), estabelecendo no artigo 67 que o zoneamento é o instrumento regulador do

uso e ocupação do solo para cada zona em que se subdivide o território do município. Na figura 7, reconhece-se que a área de intervenção é composta pelas seguintes zonas, de acordo com o PDU:

Figura 7: Zonas de acordo com o PDU. 38


• Zonas Especial de Interesse Social (ZEIS2/14): Áreas públicas ou particulares com assentamentos irregulares ou clandestinos ocupados por população de baixa renda, com atendimento parcial das demandas por infraestrutura, serviços urbanos e equipamentos comunitários. • Zonas de Proteção Ambiental (ZPA3): Áreas com atributos ambientais relevantes, destinadas à recuperação e conservação dos recursos naturais e paisagísticos, cujo uso e ocupação do solo devem ser controlados de forma a assegurar a qualidade ambiental, podendo ser utilizadas para fins de pesquisa científica, monitoramento e educação ambiental, recreação, realização de eventos culturais e esportivos e atividades de apoio ao turismo. • Zonas de Ocupação Restrita (ZOR/06): Áreas com restrições no incremento da ocupação urbana impostas pelo sistema viário local caracterizado por vias sem saída ou com grande declividade, e pela localização em ilha costeira e nas áreas do entorno do Canal da Passagem.

urbanos e equipamentos comunitários na zona que pertence o bairro de andorinhas (ZEIS2/14), assim como a indicação de usos ambientais, recreativos, esportivos e de apoio ao turismo para a ZPA3 e de atividades de lazer para a área do canal da passagem. Embora o PDU classifique essas zonas como diferentes, algumas indicações de uso podem ser agrupadas para criar um projeto nessa fronteira que atenda às necessidades das três zonas, como por exemplo um espaço público, que tenha áreas de lazer e equipamentos comunitários.

A área do canal da passagem é considerada, segundo o PDU, como área especial de intervenção urbana, aquelas que, por suas características específicas, demandem políticas de intervenção diferenciadas. Os objetivos para a área são: garantir o acesso físico e visual e a vivência da orla marítima; estimular atividades turísticas e de lazer; e garantir a possibilidade de navegação para embarcações de pequeno porte (PDU - Artigo 118). O PDU foi observado para entender como a prefeitura caracteriza essa área e quais as pretensões existentes. Nota-se que a própria prefeitura divide o terreno em duas zonas diferentes (ZPA3 e ZOR/06), e o bairro de andorinhas pertence ainda a uma terceira zona (ZEIS2/14), o que reafirma a fronteira entre os bairros. No entanto, alguns pontos do PDU são interessantes, como a afirmação da demanda por infraestrutura, serviços

DADOS SOCIOECONÔMICOS

DADOS DO IBGE 2010 Foram disponibilizados e analisados dados socioeconômicos; do quantitativo de equipamentos públicos; dados de idade e gênero e dados de raça ou cor dos bairros de Andorinhas, Santa Luiza, Goiabeiras e Pontal de Camburi, segundo fontes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) 2010.

A cidade de Vitória, segundo informações do site da Prefeitura, está dividida em 9 Regiões Administrativas (RA). O terreno objeto de análise desse trabalho está localizado em dois bairros de RA diferentes. São eles: Andorinhas, pertencente a Região Administrativa 4 (Maruípe) e Santa Luiza, pertencente a Região Administrativa 5 (Praia do Canto). Além do mais, faz fronteira com os bairros de Goiabeiras, RA 6 (Goiabeiras) e Pontal de Camburi, RA 9 (Jardim da Penha). Esses quatro bairros, que pertencem a diferentes Regiões Administrativas fronteiras entre si, possuem diferentes características socioeconômicas, como visto na Figura 8, que apresenta um comparativo da renda média por bairro:

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Figura 8: Comparativo Socioeconômico. Fonte: Imagem autoral com base em informações do IBGE 2010, Vitória em Dados e Instituto Jones dos Santos Neves.

Segundo dados do IBGE 2010, fornecidos no site da Prefeitura de Vitória, o bairro de Andorinhas possui renda média de R$ 1.673,92; enquanto Santa Luiza tem renda média de R$ 6.544,56; seguido por Pontal de Camburi com renda de R$ 4.256,50 e Goiabeiras com renda de R$ 2.678,21. No que diz respeito às Regiões Administrativas as quais pertencem, o terreno no bairro de Andorinhas pertence a RA de terceira menor renda média da cidade e Santa Luiza pertence a RA de maior renda. O comparativo de renda entre os bairros é importante para comprovar que há desigualdade

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socioeconômica entre eles. Santa Luiza tem rendimento médio quase quatro vezes maior que o rendimento médio de Andorinhas. Os dados demonstram o potencial dessa área de fronteira ser um espaço público usado por pessoas de diferentes rendas. Os benefícios dessa interação social, por mais superficial que seja, são fundamentais para a disseminação da inovação, por formarem redes de indivíduos com experiências e formações diversas e podem aumentar as oportunidades de emprego e possibilitar novos pontos de vista para trabalhadores (GRANOVETTER, 1983).


QUANTITATIVO DE EQUIPAMENTOS PÚBLICOS Outro dado com fonte do IBGE 2010 que foi considerado, foi o de quantitativo de equipamentos públicos por Região Administrativa (RA). No que diz respeito a equipamentos públicos de assistência social, cidadania, educação,

lazer e saúde, a RA 4 (bairro de Andorinhas) tem 54 equipamentos, enquanto a RA 6 (bairro de Goiabeiras) tem 25, a RA 5 (bairro de Santa Luiza) tem 17 e a RA 9 (bairro de Pontal de Camburi) tem 16. Visto na Figura 9.

Figura 9: Quantitativo de Equipamentos públicos. Fonte: Imagem autoral com base em informações do IBGE 2010, Vitória em Dados e Instituto Jones do Santos Neves. 41


O comparativo entre regiões demonstra que a RA 4 possui maior número de unidades de equipamentos públicos que as RAs 6, 5 e 9. Se analisarmos apenas esses números, a RA 4 está melhor servida do que as demais RAs. No entanto, o que foi notado é que embora as RAs 5 e 9 tenham menor número de equipamentos públicos, a suas rendas médias (R$ 6.544,56 e R$ 4.256,50, respectivamente) permitem que grande parte de seus moradores utilizem-se de benefícios e equipamentos privados com maior facilidade, o que provavelmente supre as necessidades dessas regiões por áreas de lazer e convívio.

Possivelmente os moradores dessas comunidades, apesar de morarem próximos uns dos outros, frequentam diferentes lugares de lazer e convívio, de acordo com sua renda.

DADOS DE IDADE E GÊNERO A Tabela 1 demonstra o número total de habitantes de cada bairro e os agrupamentos por idade e gênero. Os bairros têm, de maneira geral, moradores de diferentes idades e uma distribuição de gênero equilibrada.

Tabela 1: População Residente por Sexo e Grupo de Idade. Fonte: IBGE 2010 e Vitória em Dados.

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Goiabeiras é o bairro mais populoso da área analisada, com 2.633 habitantes, seguido por Andorinhas, 2.031 habitantes; Santa Luiza, 1.245 habitantes e, por último, Pontal de Camburi com 889 habitantes. Todos os bairros demonstram ter equilíbrio no comparativo do número de homens e mulheres residentes, tendo uma porcentagem de 48% de homens e 52% de mulheres no total de todos os bairros. Esse dado indica a possibilidade de ter um espaço público com equilíbrio de usuários de ambos os gêneros. Mozingo (1984, apud MARCUS; FRANCIS, 1990, p. 22) ao comparar os usos de homens e mulheres em praças de São Francisco, concluiu que mulheres tendem a buscar lugares protegidos, onde tenham a sensação de conforto, alívio, segurança e

relaxamento, enquanto homens tendem a buscar áreas de exibição, interação social e de maior movimento de pessoas. Portanto, para atrair público dos diferentes gêneros, é importante ter um projeto com áreas que permitam os diferentes tipos de experiência buscadas.

O gráfico abaixo (Figura 10) foi produzido sobre os dados disponibilizados pela Prefeitura de Vitória. No gráfico os grupos de idade dos bairros de Goiabeiras, Andorinhas, Santa Luiza e Pontal de Camburi, foram reunidos para gerar a porcentagem que cada grupo de idade representa no total de habitantes dos quatro bairros.

Figura 10: Gráfico da Porcentagem dos Grupos de Idade dos Bairros de Goiabeiras, Andorinhas, Santa Luiza e Pontal de Camburi. Fonte: autoral, baseado nos dados da Prefeitura de Vitória e IBGE 2010.

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Os dados demonstram que o grupo de 0 a 14 anos representam 18% dos moradores, os de 15 a 24 anos representam 19%, os de 25 a 64 anos representam 55% e os de mais de 65 anos representam 8% do total de moradores dos bairros de Goiabeiras, Andorinhas, Santa Luiza e Pontal de Camburi. Essas informações ressaltam o potencial da área de projeto de ser um local de encontro para usuários de diferentes idades. Embora o número percentual do grupo de 25 a 64 anos represente mais da metade do total, o que poderia indicar predominância de uso do espaço por esse grupo, algumas considerações podem ser feitas. Uma consideração é que o grupo de 25 a 64 anos é abrangente, dentro desse grupo tem jovens abaixo dos 30 anos, adultos de 40 a 50 anos e pessoas que podem ser consideradas idosas, com mais de 60 anos, ou seja, dentro desse grupo existe a possibilidade de que algumas pessoas usem equipamentos voltados para o público jovem e outras para o de idosos. O grupo de 0 a 14 anos também representa um grupo abrangente em termos de usuários. Marcus e Francis (1990) sugerem, por exemplo, que parques tenham áreas para crianças de 1 a 5 anos e para crianças de 6 a 12 anos.

Essas considerações são feitas porque os dados disponibilizados pela Prefeitura de Vitória são para fins diversos, portanto não são tão específicos quanto a divisão de grupos por faixa etária, mas podem servir para esse trabalho como uma forma de comprovar, de maneira geral, que os quatro bairros tem moradores de diferentes idades que poderiam usar um espaço público que tivesse variedade de programa baseada em atender crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos. Como o objetivo desse trabalho é explorar a diversidade de pessoas, diversidade social, de gênero e idade, um programa com diversidade de equipamentos, direcionado para diferentes grupos de idade, se justifica para ter uma área usada por todos.

DADOS DE COR E RAÇA Outro dado que foi considerado é o do número de pessoas de diferentes cores ou raças que vivem em cada bairro (Tabela 2). De modo geral, a maioria dos moradores é de brancos ou pardos, mas também tem negros, amarelos e indígenas.

Tabela 2: População Residente Segundo Cor ou Raça. Fonte: IBGE 2010 e Vitória em Dados.

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O dado foi considerado para analisar a capacidade da área pública de ter pessoas de diferentes cores e raças. A Figura 11, traz um gráfico produzido sobre os dados disponibilizados pela Prefeitura de Vitória. No gráfico a população de brancos,

negros, amarelos, pardos e indígenas dos bairros de Goiabeiras, Andorinhas, Santa Luiza e Pontal de Camburi, foram reunidos para gerar a porcentagem que cada cor ou raça representa no total de habitantes dos quatro bairros.

Figura 11: Gráfico da Porcentagem da População dos Bairros de Goiabeiras, Andorinhas, Santa Luiza e Pontal de Camburi segundo Cor ou Raça. Fonte: autoral, baseado nos dados da Prefeitura de Vitória e IBGE 2010.

Os dados demonstram que a maioria da população é de pardos, que representam 45%; seguido por brancos, 43%; negros, 10% e amarelos e indígenas com aproximadamente 1% cada. Embora a maioria seja de pardos, e isso possa indicar uma pequena variedade de cores, é importante ressaltar que o manual do IBGE define o significado atribuído ao termo “pardo” como pessoas com uma mistura de cores de pele, seja essa miscigenação mulata (descendentes de brancos e negros), cabocla (descendentes de brancos e ameríndios), cafuza (descendentes de negros e indígenas) ou mestiça. Portanto, o termo “pardo” é abrangente, podendo haver variação de cores de pele e origens raciais dentro dos 45% que

ele representa no total de moradores dos bairros. Ter pessoas de diferentes cores e raças usando um espaço é importante para que semelhantes se sintam representados o que pode aumentar o sentimento de pertencimento ao lugar em que vivem. Além disso, estudosI sugerem que esse convívio é importante porque a exposição a pessoas que são diferentes de si mesmo, incluindo diferenças sociais, de raça, gênero e religião, aumenta a tolerância e empatia em relação aos outros.

I Estudos: Raciais entre atletas, Brown, K.T., 2003; de Gênero e Preferência Sexual, Herek, G.M., 1996; Preferência Religiosa, Savelkoul, Scheepers, Novotny, J., 2011; Sociais, Chetty, R., 2014, 2015.

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A análise de dados do IBGE 2012 foi importante para conhecer o perfil dos moradores dos bairros de Andorinhas, Santa Luiza, Pontal de Camburi e Goiabeiras e confirmar a sua diversidade. Vale ressaltar que os dados de cor, gênero e idade, quando comparados, apresentam número semelhantes, mas o dado socioeconômico demonstra a maior discrepância na comparação entre os bairros. Esses dados podem indicar que, por exemplo, duas pessoas de mesma cor ou raça do bairro de Santa Luiza e Andorinhas, tem esse ponto semelhante, mas têm contextos socioeconômicos diferentes e a interação entre elas pode por um lado trazer o sentimento de pertencimento ao local e por outro explorar a diversidade social.

RELATÓRIO DE VISITA Buscando compreender os bairros de Andorinhas, Santa Luiza, Goiabeiras e Pontal de Camburi, algumas visitas foram feitas nas áreas próximas ao terreno de estudo. Durantes as visitas foi observado que: • Goiabeiras: a área do bairro que está próxima do terreno de estudo pertence à Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), portanto é diariamente usada por universitários e servidores que residem ou não próximos ao terreno. Tem um público basicamente de jovens e adultos. • Pontal de Camburi: é um bairro pequeno, de uso basicamente residencial. Tem um Centro de Convivência da Terceira Idade, da Prefeitura de Vitória, frequentado por idosos, e algumas academias de crossfit e pilates, frequentados por jovens, adultos e idosos. • Santa Luiza: nas áreas próximas ao terreno, os usos são em grande parte de comércios, edifícios empresariais e hotéis, mais adiante começam os usos residenciais.

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Frequentadores dessa área são pessoas que trabalham nos comércios e edifícios, além dos residentes de Santa Luiza. • Andorinhas: o bairro tem um líder comunitário e vice-líder. Portanto, foi feita uma visita guiada por eles, onde foi possível conversar com alguns moradores e ouvir deles os desejos e necessidade para a região. Abaixo o relato da visita. “No dia 17 de outubro de 2017, por volta das 16h aconteceu a visita ao bairro de Andorinhas. No terreno de estudo estava acontecendo uma feira livre (Figura 12). Eles disseram que a área até então era usada por moradores de rua e usuários de drogas, mas que eles estavam tentando reverter isso e que a intenção era de que além da feira o terreno fosse usado para uma praça e área de lazer da comunidade. Durante o passeio, eles falaram de como o bairro foi fruto de invasão e que por isso não tinha planejamento, mas que gostavam de morar lá. Enquanto andavam cumprimentavam os moradores que costumam ficar com suas casas abertas e usam bastante o espaço das ruas, principalmente nesse horário em que muitos estão chegando do trabalho e da escola. A maioria dos moradores trabalha em outros bairros, porque o comércio de Andorinhas é menor, de caráter local. Além das residências e instituições, o comércio é majoritariamente de poucas padarias, vendas, farmácia e alguns bares, ou seja, nada que produz muitos empregos no próprio bairro. O campo de futebol (Figura 13) é largamente usado pelos moradores e esse ano está sediando a “Copa da Paz”, evento para incentivar e melhorar o convívio com as comunidades vizinhas, como o bairro de Santa Martha, mas não inclui os bairros de Santa Luiza, Goiabeiras e Pontal de Camburi. Enquanto andávamos, um dos líderes falou sobre a relação do bairro com a polícia. Relatou que os moradores respeitam, mas evitam contato para que os traficantes locais não assumam que alguém está passando qualquer tipo de informação para os policiais.


Ele disse também que já houve disputas entre os traficantes da região, mas que não é recorrente. Outros moradores falaram sobre o bairro e a maioria dos comentários foi de elogios em

relação ao senso comunitário que existe lá. Os líderes falaram de planos para melhorar a segurança, ter mais espaços públicos e uma área que pudesse ser usada para cursos profissionalizantes que ainda estava a definir.”

Figura 12: Foto da feira de alimentos organizada pela Prefeitura de Vitória e apoiada pelos moradores de Andorinhas.

Figura 13: Foto do campo de futebol no fim de tarde de um dia de semana, segundo relatos é um lugar bastante usado pelos moradores para campeonatos e lazer da comunidade.

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MAPA DE USO DO SOLO O mapa de uso do solo, à direita, foi feito a partir de um recorte que mostra a distância caminhável (300m) até o terreno de estudo. O mapa demonstra e confirma informações observadas durantes as visitas aos bairros. A UFES pertence ao bairro de Goiabeiras e está próxima ao terreno, os bairros de Santa Luiza e Andorinhas tem uso majoritariamente residencial e as áreas próximas ao terreno, pertencentes a Santa Luiza, tem uso principalmente comercial. No mapa é possível notar a pouca disponibilidade de espaços públicos de lazer para atender os quatro bairros. A variedade quanto ao uso do solo pode contribuir para que um espaço público implantado na região seja usado em diferentes horas do dia, por moradores, trabalhadores, universitários e servidores, ou visitantes. O terreno (Figura 14 - terreno) é margeado pelo Canal da Passagem, e as ruas que o delimitam são: locais – vias do bairro que servem predominantemente as necessidades de circulação dos moradores; arterial municipal – via de ligação intramunicipal que funciona na coleta e distribuição dos fluxos de veículos que circulam pelos centros com maior concentração de atividades do Município de Vitória e arterial metropolitana – via de ligação intermunicipal que funciona na coleta e distribuição dos fluxos de veículos que circulam pelos centros metropolitanos com maior concentração de atividades.

Figura 14: Diagrama de Uso do Solo e Função das Vias.

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Como forma de análise do mapa de uso do solo e das informações coletadas durante as visitas à área de estudo, o seguinte diagrama

(Figura 15) foi produzido com os pontos negativos, positivos e potencialidades:

Figura 15: Pontos Positivos, Negativos e Potencialidades da Área de Estudo.

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DIAGRAMA DO TERRENO Foi produzido um diagrama do terreno (Figura 16) com o mapeamento dos seguintes dados: uso do solo das construções vizinhas; função das vias que delimitam o terreno, bem como caminhos exclusivos de pedestres; vento dominante; insolação; zona de ruídos; área de conflito entre carros e pedestres; eixos visuais; presença e localização de embarcações; principais acessos ao terreno; caminho informal de pedestres dentro do terreno e usos anteriores (antiga área de comércio apara lojas e posto de gasolina) - Recomenda-se ser feita a descontaminação do solo da área que abrigou um posto de gasolina. Embora o posto não exista mais, a descontaminação do solo nunca foi feita e é necessária para a segurança e saúde de usuários do local.

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Figura 16: Diagrama do terreno de estudo. 52


Figura 17: Vista 1, do Canal da Passagem com o morro Mestre Álvaro ao fundo, sentido Noroeste.

Figura 18: Vista 2, da ponte de pedestres, Canal da Passagem ao fundo e residências de Pontal de Caburi, sentido Leste.

Figura 19: Vista 3, do Canal da Passagem e edifícios de Santa Luiza ao fundo, sentido Sudeste.

Figura 20: Vista 4, de cima da rocha existente, vista da Av. Nossa Sra. Da Penha e seus prédios. Morro do Convento da Penha ao fundo, sentido Sul,

Figura 21: Vista 5, de cima da rocha existente. Visão do terreno, da Ponte e do Canal da Passagem, dos bairros de Goiabeiras (esquerda) e Pontal de Camburi (direita) e do Mestre Álvaro ao fundo. Sentido Norte.

Figura 22: Vista 6, de cima da rocha existente, vista do bairro de Andorinhas com edificações de gabarito médio de três pavimentos. Sentido Oeste.

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As Figuras 23, 24 e 25 mostram as ruas e avenidas que delimitam o terreno.

Figura 23: foto da Av. Nossa Sra. da Penha e Rua Doná Maria Rosa. Nota-se quanto espaço está disoponível para os carros e a dificuldade do pedestre atravessar de um lado para o outro. Também nota-se a falta de arborização que produza sombra nas calçadas.

Figura 24: foto da Rua Argeu Pereira. Nota-se a indadequação da calçada e falta de arborização

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Figura 25: foto da Rua Dep. Clério Vieira Falcão. Notase a falta de calçamento ou inadequação da calçada e falta de arborização.


O diagrama abaixo (Figura 26) apresenta pontos negativos, positivos e potencialidades baseados nas observações feitas no terreno. Esse diagrama tem o objetivo de ser mais

específico do que o anterior (Figura 15) feito sobre a região para ajudar no desenvolvimento do projeto juntamente com o que foi aprendido em toda a etapa do inventário.

Figura 26: Pontos Positivos, Negativos e Potencialidades do Terreno. 55


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CONCEITO Explorar a fronteira é enxergar nela a oportunidade de construir um lugar de encontro e interação da diversidade para o crescimento social, empático e intelectual de uma região. “Que a barreira se torne um ponto de convergência.”

Figura 27: Imagem do conceito do projeto.

PROGRAMA DE NECESSIDADES O programa de necessidades foi proposto considerando a etapa do inventário e o conceito do trabalho anteriormente descrito, que é de projetar um lugar de inclusão e convívio das comunidades próximas e seus diversos moradores. Portanto, foi indicado o projeto de um parque, contendo duas edificações principais, uma biblioteca pública e uma residência estudantil. O parque e a biblioteca foram desenvolvidos a nível de estudo preliminar e a residência foi apenas proposta. O parque foi planejado para atender à necessidade da área por espaços livres públicos, pela consideração do pedido dos moradores de Andorinhas por uma área de lazer para a comunidade local e pelo potencial que parques tem de nutrir e dar identidade

a comunidades por promoverem frequente contato entre cidadãos que passam a ser seus usuários. Além disso, a implantação do parque nesse terreno atende ao conceito porque parques em locais de fronteira entre diferentes comunidades é uma forma comprovada de aumentar a diversidade social do lugar público (KNAPP, 2017). A biblioteca foi proposta pensando na necessidade dos moradores por áreas que permitam atividades de estudos, para melhorar o acesso dos mesmos aos livros e ao conhecimento. Também foi levado em consideração o papel atual de bibliotecas como lugar para as pessoas, sendo assim mais um atrativo para os moradores.

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[...] As bibliotecas estão em transição. Até então vista como um ponto de divulgação do conhecimento e introspecção silenciosa, elas estão se tornando lugares para encontrar pessoas, socializar, estudar, sair e se conectar. Historicamente, vimos a mudança de valor cívico da biblioteca de um lugar para as coisas, para, agora, um lugar para as pessoas. A sua natureza única é que mantém os usuários de uma instituição de serviço público, ao mesmo tempo em que adere a crescente propensão das pessoas que buscam ambientes para realizar atividades entre pesquisa, socialização, busca de conhecimento e diversão [...] (NBBJ - ARCHDAILY, 2017, Tradução da autora). A terceira atividade proposta, a residência estudantil, teve como justificativa a proximidade do terreno com a UFES. Universitários que beneficiados pelo programa de auxílio moradia da PROAECI (Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Cidadania) trocariam o benefício pela moradia no dormitório estudantil. A oportunidade de trazer universitários para residirem nessa área é importante porque serviria de grande incentivo para a interação desse público com moradores dos bairros de Andorinhas e Santa Luiza. A residência também garante mais pessoas utilizando o parque, indo de um lugar para o outro, usando a biblioteca, atravessando a ponte de pedestres para ir para a aula e outros fluxos que poderiam ser criados a partir dessa proposta. Como validação da proposta de desenvolver um parque contendo uma biblioteca e uma moradia estudantil para explorar a fronteira e se tornar um local de encontro, também foi levado em consideração o que foi visto no trabalho de institutos como o PPS (Project for Public Spaces), que diz que “o espaço público é capaz de ancorar comunidades, reunindoas fisicamente e simbolicamente, fornecendo recursos e lugares para comunicação aberta, por exemplo, parques podem atuar junto com bibliotecas para criar lugares de aprendizagem

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ativa, com atividades educativas, recreação, lazer e convívio e, dessa forma, servir como conectores e criadores de uma comunidade” (NIKITIN, 2009). Com o programa de um parque que abriga uma biblioteca e uma residência estudantil, foi feita a subdivisão dessas edificações em programas próprios.

PARQUE O parque é um grande conector, ocupa o terreno todo para proporcionar áreas de uso comum para moradores das regiões vizinhas. Portanto, considerou-se que “para ter diversidade de usuários é preciso ter diversidade de usos e atividades” (JACOBS, 1961). O programa do parque foi desenvolvido, principalmente, a partir de referências coletadas nos livros The Social Life of Samll Urban Spaces (Whyte, 1980) e People Places: Design Guidelines for Urban Open Spaces (Marcus e Francis, 1990), além de artigos e literatura do Instituto Gehl e Project for Public Spaces. São elementos do programa do parque: • Alimentação; • Variedade de assentos: bancos fixos, com ou sem encosto, cadeiras e mesas móveis; • Água, fonte; • Vegetação; • Sombra; • Parquinho para crianças de 1 a 5 anos; • Parquinho para crianças de 6 a 12 anos; • Quadra poliesportiva; • Skate parque; • Academia popular; • Área para idosos com mesas de jogos de tabuleiro; • Gramado multiuso; • Área que possibilite feiras semanais (uma atividade da comunidade de Andorinhas que já existe); • Banheiros públicos;


• •

Wi-fi aberto e livros online; Píer para chegada e saída de barcos.

Algumas atividades do programa, como o parquinho para crianças; uma área de academia popular e mesas de jogos de tabuleiro para idosos; e a área esportiva da quadra e skate parque para adolescentes e jovens, foram propostas para atender as necessidades de grupos especiais porque entende-se que esses grupos costumam ser negligenciados nos projetos de áreas públicas (Marcus e Francis, 1990, p. 74) e o objetivo do trabalho é proporcioanr um lugar inclusivo.

BIBLIOTECA O programa foi desenvolvido, principalmente, com base no projeto de uma biblioteca pública em Ohio, EUA (Figura 28) do escritório de arquitetura NBBJ e outras bibliotecas que tem a função de ser um lugar social para comunidades vizinhas. A Northside Library é, segundo o escritório que desenvolveu o projeto, uma biblioteca para pessoas socializarem e se divertirem ao mesmo tempo em que buscam conhecimento. Para isso possui um programa diversificado e áreas para permanência e estar, além da área de acervo da biblioteca (ARCHDAILY, 2017).

Figura 28: Northside Library - NBBJ. Fonte: Archdily, 2017.

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As Figuras 29 e 30 são as plantas do primeiro e segundo andar, respectivamente. O programa serviu como base para esse trabalho porque conta com diversidade de espaços para estudar e socializar, como áreas para crianças, jovens, lounges e áreas de computadores, salas para reuniões e uma área de ajuda com o dever de casa.

Além disso, foi observado que o edifício explora a relação dos usuários com o exterior (Figura 31 e 32), ao proporcionar áreas de estudo e conversa voltadas para o lado de fora do edifício.

Figura 29: Planta do primeiro andar da Northside Library. Fonte: Archdaily, 2017.

Figura 30: Planta do segundo andar da Northside Library. Fonte: Archdaily, 2017. 62


Figura 31: Área de leitura e Acervo da Northside Library. Fonte: Archdaily, 2017.

A relação do edifício e de seus usuários com o exterior foi observada porque a biblioteca do projeto proposto se localiza dentro do parque e pretende-se criar uma relação entre os dois, para que os usuários da biblioteca vejam os usuários do parque e vice-versa. Com os estudos feitos sobre a área de intervenção, o conceito estabelecido e o estudo do projeto da Northside Library, o programa da biblioteca foi definido. O programa é composto por:

Figura 32: Vista externa da área de leitura da Northside Library. Fonte: Archdaily, 2017.

• • • • • • • • • •

Recepção; Banheiros feminino e masculino; Lobby; Acervo; Mesas para estudo; Lounge de leitura/ espaço flexível; Área infantil; Área de leitura silenciosa; Área de computadores; 2 salas flexíveis para as comunidades

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(para reuniões, aulas, cursos ou outras atividades); • Área de funcionários.

MORADIA ESTUDANTIL Atualmente 591 estudantes do campus da UFES de Goiabeiras são beneficiados com bolsa de auxílio moradia (PROAECI, 2017). Propõe-se que no terreno seja construída uma residência estudantil para abrigar 222 estudantes que, em troca do benefício da moradia, disponibilizariam algumas horas semanais para atividades com as comunidades vizinhas. As atividades seriam como auxílio ao dever de casa, cursos preparatórios de ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), auxílio com estudos básicos, entre outros, que aconteceriam nas estruturas da biblioteca, parte do projeto. Dessa forma, o contato entre os universitários e os moradores locais seria incentivado, gerando troca de experiência entre eles. A intenção é de que não houvesse moradia para todos os 591 ou mais estudantes beneficiados pela bolsa de auxílio, para que um projeto semelhante pudesse ser aplicado em outros terrenos próximos à universidade. O programa contém: • Lobby de entrada; • Recepção; • Dormitórios; • Lavanderia de uso comum; • Área de uso comum/ estudo – para a necessidade de estudar de madrugada; • Circulação; • 1 ou 2 unidades de comércio no térreo.

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AVALIAÇÃO DA PAISAGEM PARA PLANEJAMENTO E PROJETO Como forma de análise e possível distribuição do programa no terreno, foi utilizado o método de Avaliação da Paisagem para Planejamento e Projeto (BROWN, 2002). Esse método propõe a análise do terreno e divisão do mesmo em unidades de paisagem. As unidades são definidas por áreas que tem aspectos em comum e, portanto, formam uma unidade, e áreas que se distinguem e formam outras unidades. A partir da divisão em unidades de paisagem, o autor propõe que seja feita uma tabela com as mesmas e os possíveis programas que aconteceriam no local. Assim, cada unidade é classificada em “Capaz” de suportar aquele programa e “Adequada/Apropriada” para suportá-lo. Brown (2002) também sugere que seja usada uma escala classificatória de baixa, média e alta capacidade de adequação para desenvolvimento do programa na unidade de paisagem. A capacidade está relacionada às condições e disposição física de uma unidade suportar um programa. A adequação está relacionada às condições físicas, mas também socioculturais de qual unidade é mais propensa para determinada atividade, o quão apta a unidade é para o desenvolvimento de um programa. Sendo assim, foi feita a divisão do terreno nas seguintes unidades de paisagem (Figura 33):


Figura 33: Diagrama de Unidades de Paisagem. 65


• Unidade 1: Área de contato com o canal; tranquila; com poucos ruídos; acidentada; em elevação em relação ao canal; terreno de aterro sanitário; coberta por grama; voltada para oeste e norte. • Unidade 2: Área de contato próximo ao bairro de Andorinhas; delimitada por uma rua local de baixo fluxo de veículos; tranquila; em contato com área rochosa; acidentada; elevada em relação à rua; terreno de aterro sanitário; coberta por grama; voltada para oeste e norte. • Unidade 3: Área embaixo da ponte da passagem; terreno de aterro sanitário; úmida; geralmente com poças de água e com pouca insolação. • Unidade 4: Área de influência e de costura; na Região Administrativa 5; caminho secundário de acesso ao terreno; área plana; terreno de aterro de material inerte; antigo posto de gasolina (necessita de descontaminação do solo); entre a ponte da passagem e a ponte de pedestre; contato para o canal; delimitada pela Avenida Reta da Penha de alto fluxo de veículos; alto ruído; próxima ao bairro de Santa Luiza. • Unidade 5: Área inclinada e rochosa; atinge o ponto mais alto do terreno; cobertura superficial de terra e grama com presença de pedras.

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• Unidade 6: Área onde passa a linha de transmissão elétrica aérea, a unidade 6 é constituída pela área de proteção e segurança, segundo a norma (CELG PAR, 2010) passa por áreas inclinadas, rochosas e planas. • Unidade 7: Área inclinada; terreno de aterro sanitário; com a presença de algumas pedras e cobertura de grama; próxima ao bairro de Andorinhas; área tranquila; delimitada por rua local de baixo fluxo de veículos; voltada para oeste e sul. • Unidade 8: Área plana, terreno de aterro sanitário, pavimentada; próxima ao bairro de Andorinhas; área tranquila; delimitada por rua local de baixo fluxo de veículos; voltada para oeste e sul. • Unidade 9: Área plana; terreno de aterro sanitário; pavimentada; com alto ruído; delimitada pela Rua Doná Maria Rosa de alto fluxo de veículos e uma via local; contato com a área rochosa; voltada para leste e sul.

A tabela ao lado (Tabela 3) foi produzida de forma a classificar as unidades em capaz e adequada para receber os elementos do programa proposto. Tendo a seguinte classificação: Capacidade: 1 – baixa, 2 – média, 3 – alta. Adequação: 1 – baixa, 2 – média, 3 – alta.


Tabela 3: Tabela de capacidade e adequabilidade de usos nas unidades de paisagem.

PARTIDO O objetivo do partido é promover a espacialização do programa definido em função da análise da área e promover a aplicação prática do conceito condutor do projeto. A distribuição do programa no terreno foi definida em função das características locais observadas e em decorrência dos estudos apresentados nos capítulos anteriores. Diversos usos estão interligados no projeto com a função de atrair variedade de usuários, como por exemplo, uma área destinada a esportes que pode atrair um grupo de pessoas que querem praticar uma atividade física; uma área calma, próxima ao canal, para pessoas sozinhas ou acompanhadas descansarem ou relaxarem; o parquinho destinado à crianças

que costumam estar acompanhadas dos pais ou cuidadores. A residência estudantil proposta trará moradores jovens que possivelmente serão usuários do parque e da biblioteca e passarão a fazer parte da comunidade local, a biblioteca também pode atrair pessoas que querem tanto socializar, quanto estudar. Esses são alguns exemplos de como o programa foi desenvolvido para atender a diversidade de usuários, diferentes faixas etárias, moradores locais ou visitantes. A figura 34 apresenta o partido do projeto. Para a setorização do programa e criação de subespaços, a principal literatura usada foi a do livro People Places: Design Guidelines for Urban Open Spaces (Marcus e Francis, 1990).

67


Figura 34: Diagrama de Partido. 68


O projeto propõe a criação de uma área unificada, que o parque sirva como um conector entre os bairros vizinhos e os equipamentos propostos. Foi proposto o redesenho da margem do terreno, que até então parecia ser aleatório, para uma margem com desenho coerente que reforce a unidade do projeto (Figura 34 – nova margem). Atualmente, o terreno possui barreiras relevantes que foram tratadas de forma especial para não segregarem os espaços. A rocha foi, a princípio, vista como uma possível barreira, porém por ser natural ela foi usada como forma de setorizar áreas com programas para diferentes idades, ao mesmo tempo em que funciona como mais um subespaço no parque, onde as pessoas podem subir para ir de um ponto ao outro ou para apreciar a paisagem ao redor. A Ponte da Passagem foi compreendida como uma barreira física marcante. A ponte ressalta a fronteira entre os bairros de Andorinhas e Santa Luiza, embora seja, ao mesmo tempo, o que os conecta aos bairros de Goiabeiras e Pontal de Camburi. Houve o cuidado em trabalhar na área de modo a evidenciar a conexão, para isso foi proposto o uso de vegetação nas áreas ao redor da ponte para suavizar a barreira do ponto de vista do observador que estiver no parque e como forma de reforçar o caminho de pedestres debaixo da ponte, conectando os bairros de Andorinhas e Santa Luiza (Figura 34 - vegetação). Outra barreira identificada, está situada no início da Ponte da Passagem, quando as Rua Doná Maria Rosa e a Avenida Nossa Sra. da Penha convergem na ponte. Essa área tem fluxo intenso de carros, como foi visto no inventário, e esse grande fluxo de automóveis acaba sendo uma barreira para a travessia de pedestres. A Rua e a Avenida são de função arterial municipal e arterial metropolitana, respectivamente, portanto têm importância no fluxo de carros da cidade. Como forma de amenizar essa barreira, conectar um lado do terreno ao outro e trazer maior conforto para

o pedestre na travessia, sem obstruir o fluxo de carros da cidade, foi proposto uma parada de pedestres entre a Rua Doná Maria Rosa e a Av. Nossa Sra. da Penha (Figura 34 – parada de pedestre). A implantação de árvores foi proposta para, além da sombra e conforto térmico que as árvores proporcionam, marcar eixos e criar uma unidade visual para a área, reforçando a conexão nos pontos de fronteira. Dois eixos principais foram formados, um no sentido OesteLeste, perpendicular à ponte, evidenciando a conexão entre o bairro de Andorinhas e Santa Luiza; outro eixo foi proposto no sentido SulNorte, paralelo à Ponte da Passagem e que reforça a conexão do terreno com o Canal da Passagem e direciona a visão do observador para o outro lado do canal (Figura 34 – vegetação e conexão). A linha de transmissão elétrica (LT) é aérea, não chega a formar uma barreira física, mas funcionou como um limitante com relação aos usos que poderiam ocorrer embaixo dela e de sua área de proteção. Segundo a norma não são permitidas construções fixas ou áreas de uso contínuo, portanto para a faixa de segurança da LT foram propostas atividades que são descontínuas e o uso de vegetação baixa e média como forma de impedir a permanência das pessoas embaixo da LT, ao mesmo tempo que a vegetação cria unidade das áreas de proteção com as outras áreas do parque. As ruas locais que delimitam o parque também foram redesenhadas. Foram propostas novas calçadas, com arborização e elevação das vias para o mesmo nível do piso do parque (Figuras 35 e 36). Essas medidas foram adotadas para que as ruas conectassem visualmente o parque com os bairros e para proporcionar mais segurança para os pedestres. Os sentidos de fluxos de automóveis das ruas foram mantidos.

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Figura 35: Perfil viário proposto para a Rua Dep. Clério Vieira Falcão.

MALHA ORTOGONAL E LINHAS GUIAS DO PROJETO

Figura 36: Perfil viário proposto para a Rua Argeu Pereira.

70

Para desenvolver o projeto baseado no diagrama de partido, foi utilizado o método estudado no livro From Concept to Form in Landscape Design, de Reid (2007). Reid sugere que se sobreponha o diagrama de partido, as condições do terreno que foram analisadas e uma malha regular. Para esse projeto, foi escolhida a malha ortogonal, de 1m x 1m (Figura 37). O uso da malha ajudou na composição do projeto, para que progredisse do diagrama abstrato e assumisse forma, além de ajudar na compreensão da dimensão do terreno durante o desenvolvimento do projeto. Arcos, circunferências e linhas guias também foram usados na composição.


Figura 37: Posicionamento da malha 1mx1m no terreno de estudo e marcação das linhas guias do projeto.

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PROPOSTA Nessa etapa as determinações do partido foram desenvolvidas de forma a criar os espaços desejados. Para o estudo projetual foram consideradas todas as etapas anteriores, as condicionantes do local e o conceito do projeto.

IMPLANTAÇÃO A implantação do projeto acontece na margem sul do Canal da Passagem (Figura 38). Foram criados espaços específicos visando a diversidade de usos para alcançar diversidade de usuários. Na imagem de implantação, nota-se com clareza o redesenho da margem do terreno exposto no partido.

Figura 38: Implantação do projeto na região.

72


73


PARQUE O parque (Figura 39) é um conector que contém duas edificações principais, a biblioteca e a moradia estudantil. Além das edificações, foram desenvolvidos dez subespaços que estão ligados entre si através do uso de uma mesma linguagem arquitetônica e da malha regular. São eles: 1. Praça do café e da feira; 2. Área esportiva com a quadra poliesportiva, arquibancada e skate parque; 3. Academia popular e área de mesas e cadeiras fixas; 4. Praça dos estudantes; 5. Gramado multiuso; 6. Jardins pluviais; 7. A rocha; 8. Área infantil, com parquinho para crianças de 1 a 5 anos e outro para crianças de 6 a 12 anos; 9. Praça do encontro dos limites entre Andorinhas e Santa Luiza; 10. Praça da biblioteca e biblioteca. No projeto foi proposto a implantação de cerca de 100 árvores, no parque e nas ruas adjacentes, para que os ambientes sejam sombreados e os usuários se sintam mais confortáveis para permanecer no local. A vegetação também foi usada para conectar os subespaços e para marcar eixos visuais. Foram sugeridas três espécies de árvores para serem implantadas, são elas: • Caesalpinia peltophoroides. Nome popular: Sibipiruna. • Caesalpinia ferrea. Nome popular: Pau-ferro. • Chorisia speciosa. Nome popular: Paineira. São árvores brasileiras, normalmente usadas em meios urbanos, a Sibipiruna pode ter de 8 a 16 metros de altura, o Pau-ferro de 20 a 30 metros e a Paineira tem de 15 a 30 metros de altura (LORENZI, 1992).

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Figura 40: Sibipiruna. Fonte: Árvores Brasileiras, vol. 1, p. 148 - representação usada no projeto.

Figura 41: Pau-ferro. Fonte: Árvores Brasileiras, vol.1, p. 147 - representação usada no projeto.

Figura 42: Paineira. Fonte: Árvores Brasileiras, vol. 1, p 61 - representação usada no projeto.

Os caminhos do parque são integrados aos ambientes para criar maior fluidez no movimento de pessoas. Há diferenciação de piso em algumas áreas, como por exemplo na orla do canal que tem a intenção de ser um caminho de passeio para apreciar a vista e a proximidade com a água.


0

10

20

50m

F’

10 9 F

8

E

A

D

E’

7 6

5

C

C’

2

3 B

B’

4 D’

1

A’

Figura 39: Planta do parque.

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PRAÇA DO CAFÉ E DA FEIRA

IO. LÉR

A cobertura faz referência a uma cobertura (Figura 44), que também é uma escultura, da artista Teresita Fernández, instalada no Madison Square Park, em Nova York. A construção tem aparência leve, com chapas de aço desenhadas e perfuradas de forma a se assemelharem a sombras produzidas pelas árvores. As chapas estão presas a uma estrutura também de aço.

EP. C

Para a Praça do café e da feira foi proposta a implantação de bancos fixos e árvores que demarcam o seu perímetro, produzem sombra e marcam eixos visuais de conexão. Como é uma área de grande fluxo de pessoas, foi projetado um café com sanitários, uma cobertura e mobiliário móvel.

A intenção da praça é proporcionar um espaço agradável para o dia-a-dia, mas que também seja funcional para os dias de feira.

R. D

A Praça do café e da feira (Figura 43) foi localizada na área sudoeste do parque porque é a área de maior movimento de pessoas no dia-a-dia. A praça faz conexão entre a Rua Doná Maria Rosa, que tem grande fluxo de automóveis, e a Rua Dep. Clério Vieira Falcão, que é uma rua local e de menor fluxo. A feira da comunidade de Andorinhas já acontecia nesse espaço e esse foi mais um motivo para mantê-la nesse lugar.

R. A

RGE

UP

ERE

IRA

Figura 44: Cobertura da artista Teresita Fernández. Fonte: Madison Square Park.org.

76

1

5

10

20m


Figura 43: Planta da Praça do Café e da Feira.

R. D

ONÁ

MAR

IA R

OSA

CAFÉ

77


ÁREA ESPORTIVA E DE IDOSOS

RIO V . FAL P. CL É R. DE

A área da quadra está a 1 metro do piso da praça e tem arquibancadas ao redor que tanto podem ser utilizadas para assistir aos jogos quanto para acessar a rocha (Figura 46). Ao lado da quadra, o skate parque foi proposto com equipamentos para diferentes manobras. Na quadra e na área de skate também foram localizados bicicletários.

CÃO

Na área esportiva (Figura 45) foi proposto uma quadra poliesportiva, um skate parque e uma academia popular. A quadra e o skate parque procura atrair principalmente o público jovem. Foi localizada próxima a rua de maior fluxo porque os jovens, principalmente adolescentes, costumam andar em grupo e tendem a preferir lugares movimentados, além disso os ruídos produzidos pelo jogos e skates podem se unir ao ruído dos automóveis e permitir que outras áreas do parque sejam mais silenciosas (MARCUS e FRANCIS, 1990, p. 80).

A academia popular e mesas para jogos de tabuleiro pretendem agradar principalmente o público de idosos (Figura 47). Foi localizada próxima a rua local (R. Dep. Clério V. Falcão), por ser tranquila e de baixo fluxo de automóveis, porém próxima a área de fluxo de pessoas e voltada para as residências do bairro. Os idosos costumam ir sozinhos aos parques e procuram um pouco de privacidade, mas gostam de observar o movimento de pessoas (MARCUS e FRANCIS, 1990, p. 75). A mudança de paginação do piso da praça para a área de esportes e a demarcação do semicírculo setorizam esse subespaço.

78 1

5

10


Figura 45: Planta da Ă rea Esportiva e de idosos.

LT

79 20m


Esse corte passa pela quadra e pela Praça do café e da feira. A quadra está a 1 metro do piso da praça e tem arquibancadas ao redor que foram esculpidas na rocha. À direita, a cobertura do café com mobiliário móvel e a relação da praça com a Rua Argeu Pereira.

ARQUIBANCADA NA ROCHA

QUADRA POLIESPORTIVA

Figura 46: Corte AA’. 1

80

5

10

20m


DEGRAUS

COBERTURA DO CAFÉ E MOBILIÁRIO MÓVEL

R. ARGEU PEREIRA

81


O corte BB’ passa pelo skate parque e a academia popular, localizados próxima da Rua Deputado Clério Falcão.

R. DEP. CLÉRIO V. FALCÃO Figura 47: Corte BB’. 1

82

5

10

20m


ACADEMIA POPULAR

SKATE PARQUE

QUADRA POLIESPORTIVA

83


Figura 48: Perspectiva 1 - Vista da Praça do café e da feira em um dia de feira. Nota-se o eixo criado pelas árvores, conectando visualmente um lado ao outro. À direita a quadra e arquibancada.

84


85


PRAÇA DOS ESTUDANTES A Praça dos estudantes (Figura 49) acontece na área ao redor do prédio de moradia estudantil. A implantação do edifício é sugerida próxima a avenida de maior movimento e próximo a outra edificação que tem grande escala, como forma de se encaixar na paisagem existente. Foi proposto um comércio no térreo do edifício, podendo ser um bar, restaurante ou lanchonete, com áreas de convívio ao redor.

Nessa área foi trabalhado, principalmente, o entorno do edifício da moradia estudantil, para que esse ficasse bem inserido no parque. A Praça dos estudantes é uma das entradas do parque, vindo da Av. Nossa Sra. da Penha ou da ponte de pedestres. Foi localizado um ponto de aluguel de bicicletas da Prefeitura de Vitória (Figura 50) para facilitar o acesso de ciclistas e estimular o uso de bicicletas.

Figura 50: Ponto de aluguel de bicicletas da Prefeitura de Vitória (Bike Vitória). Fonte: site da PMV.

86

A vegetação foi usada para criar amplitude ao local, sendo usada na divisa do parque com o prédio vizinho e na parede da ponte de pedestres para suavizar as barreiras. Árvores foram implantadas para sombrear os lugares de permanência e passagem. Um café, bar ou restaurante é proposto para funcionar em uma área do térreo da moradia estudantil, juntamente com banheiros públicos. Na margem do Canal da Passagem foi utilizado cadeiras do tipo espreguiçadeiras que permitem que as pessoas se sentem para banhos de sol ou apreciar a paisagem. Uma fonte foi proposta em uma área da parede do edifício de moradia, para que seu som abafe os ruídos de carros e para remeter ao Canal da Passagem que está logo adiante.


Figura 49: Planta da Praça dos Estudantes.

PONTE DE PEDESTRES

FONTE

COMÉRCIO

MORADIA ESTUDANTIL ALTURA: 23m

RA.

.S AV. N E DA P 5

NHA

1

IAL

ERC

10

20m

COM CIO 1m Í F I ED RA: 5 ALTU

87


Figura 51: Perspectiva 2 - Vista da Praça dos estudantes, uma das entradas do parque. Nota-se os eixos de conexão visual criados pelas árvores, o comércio no térreo da moradia estudantil e à o ponto de aluguel de bicicletas.

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89


GRAMADO MULTIUSO

JARDINS PLUVIAIS

O gramado (Figura 52 e 53) foi localizado na margem leste, próximo ao canal, em uma área tranquila do parque e que recebe o sol da manhã. A intenção é de ele seja usado para atividades contemplativas, ou práticas como yoga, meditação e banhos de sol.

Jardins pluviais (Figura 52, 53, 54) foram propostos entre as pontes da Passagem e de pedestres para recolherem a água da chuva que escoar das pontes e trata-la de forma natural antes de voltar ao canal. A vegetação capaz de filtrar impurezas da água de forma natural fica plantada nos jardins que também funcionam como uma espécie de reservatório. A água pluvial escoa da ponte, é direcionada para um dos reservatórios, é filtrada pelas plantas e escoa para outro reservatório, assim por diante até retornar ao canal mais limpa. A proposta adotada funciona como uma demonstração prática e informativa, para as pessoas, de como as plantas podem ajudar no tratamento das águas pluviais (TAVARES, 2009) Além de facilitar o escoamento da água para os jardins, a localização de implantação foi escolhida para concentrar o fluxo de pessoas na rota da margem leste do parque e para criar uma área verde que suavize as pontes.

À esquerda, na parede da ponte de pedestres e no seu perímetro, foi proposto um jardim com canteiros que servem como bancos. Essa é uma forma de deixar o ambiente do parque mais natural e atenuar a demarcação da ponte . Nessa região do parque se localiza o elevador e a escada que facilitam o acesso ao parque das pessoas que estiverem na ponte de pedestres e vice-versa. Uma escultura foi proposta como forma de criar o que William H. Whyte definiu de triangulação - Triangulação é o processo pelo qual alguns estímulos externos fornecem uma ligação entre as pessoas e faz com que estranhos conversem com outros estranhos como se eles se conhecessem. O estímulo pode ser desde um artista de rua, uma escultura ou o mau tempo, um acidente na rua, uma manifestação (WHYTE, 1980) - como a área será de fluxo de pessoas, subindo e descendo escadas, caminhando pelas margens do canal, vindo ou indo de um lado ao outro do parque, pensa-se que a escultura pode ser o estímulo externo para as pessoas que passarem por ali.

90


PONTE DE PE

JARDINS PLUVIAIS

DESTRES

Figura 52: Planta da รกrea do gramado multiuso.

GRAMADO MULTIUSO

91 1

5

10

20m


ESPREGUIÇADEIRAS

1

Figura 53: Corte CC’. 92 5

10

GRAMADO MULTIUSO

20m


Esse corte mostra as relações criadas como, de quem caminha na ponte e vê pessoas no gramado e os jardins nos perímetro da Ponte de Pedestres. Também foram propostos locais de permanência na margem do Canal.

PONTE DE PEDESTRE

JARDIM

PONTE DA PASSAGEM

JARDINS PLUVIAIS 93


BANCO

Figura 54: Corte DD’. 1

94

5

10

20m


Os Jardins pluviais servem para recolher a água da chuva que escoar das pontes e tratála de forma natural antes de voltar ao canal. A vegetação capaz de filtrar impurezas da água fica plantada nos jardins que também funcionam como uma espécie de reservatório. A proposta adotada é uma demonstração prática e informativa de como as plantas podem ajudar no tratamento das águas pluviais.

JARDINS PLUVIAIS

95


ÁREA INFANTIL A área infantil (Figura 55 e 59), com um parquinho para crianças de 1 a 5 anos e outro para crianças de 6 a 12 anos, foi localizada próxima a rua local Deputado Clério V. Falcão, de baixo fluxo e próxima das residências e olhares dos vizinhos. Na primeira área, para crianças menores, os brinquedos são convencionais, balanço, escorregador, caixa de areia e casinha. Na segunda área, os brinquedos propostos foram, principalmente, inspirados no projeto do Blaxland Riverside Park, em Sydney (Figura 56). Esses brinquedos são caracterizados por desafiarem as crianças a pular, se equilibrar, balançar, escalar, se esconder, procurar, de maneira geral, explorar a imaginação. C. Cooper Marcus e C. Francis (1990, p. 78) ressaltam a necessidade que crianças de 6 a 12 anos tem por espaços que pareçam desafiadores. Portanto, essa foi a intenção para a área com: balanço, uma trajetória de altos e baixos nos círculos, espaço para correr, um equipamento do tipo Wallholla (Figura 57), grandes escorregadores posicionados na pedra e acessíveis através de uma parede de escalada, uma rede de escalada e estar e área de areia. Uma fonte interativa, inspirada na fonte do Director Park, em Portland (Figura 58), conecta a primeira área a segunda, sendo o principal lugar compartilhado pelas crianças de todas as idades. O contato com a água tende a agradar adultos e crianças, principalmente em dias quentes. Os parquinhos tem fechamento circular e a borda serve de banco para os pais sentarem e cuidarem das crianças enquanto elas brincam. A área das crianças está numa zona mais tranquila do parque e propositalmente separada da área dos jovens para evitar que as crianças ocupem o parquinho juntamente com a quadra o tempo todo

Figura 56: Blaxland Riverside Park. Fonte: LAM.

Figura 57: Wallholla.

Figura 58: Fonte do Director Park. Fonte: LAM. 96


R. DEP . CLÉR

IO V. F ALCÃO

Figura 55: Planta da área infantil.

1 A 5 ANOS

FONTE

6 A 12 ANOS

97 1

5

10

20m


ROCHA

REDE

FONTE INTERATIVA

Figura 59: Corte EE’. 1

98

5

10

20m


Corte EE’ passa pela área do parquinho e demonstra sua relação com a rocha, uma rede de escalada e a fonte interativa. O fechamento do parquinho funciona como banco para os cuidadores observarem as crianças em um local sombreado, nesse corte fica evidente a relação criada entre o parque e a rua local.

FECHAMENTO DO PARQUINHO - BANCO

R. DEP. CLÉRIO V. FALCÃO

99


PRAÇA DO ENCONTRO Essa é a área do encontro (Figura 60), o real encontro dos limites entre Andorinhas e Santa Luiza. Para o ponto de encontro, na área embaixo da ponte, no vão que existe entre uma pista e outra, foi sugerida a instalação da escultura Tulipes do artista Jeff Koons (Figura 61). A escultura é de flores coloridas feita em material espelhado e carregam significado para esse projeto. As flores simbolizam a união, as cores a diversidade e o material reflexivo é para que as pessoas se enxerguem nesse lugar.

Figura 61: Escultura Tulipes do artista Jeff Koons.

Na área de instalação da escultura, e onde já existia um caminho informal de pedestres, jardins foram projetados próximos à estrutura da ponte para trazer a sensação de amplitude para os que caminharem por ali (Figura 62). Do outro lado da estrutura da ponte, próximo à água, foi proposta a opção do caminho à beira do Canal da Passagem e degraus para permanência no local, voltados para a vista do Mestre Álvaro.

100


EP ED PO

NT

L

IA

UV PL

ED

IM

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TR

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PASS A

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Figura 60: Planta da Praรงa do encontro.

101 1

5

10

20m


PONTE DA PASSAGEM

JARDIM

ESCULTURA

JARDIM

Figura 62: Corte FF’. 1

102

5

10

20m

DEGRAUS


O corte FF’ mostra a escultura Tulipes, anteriormente citada e os jardins projetados próximos à estrutura da ponte para trazer a sensação de amplitude para os que caminharem pelo local. Na área próxima à água, há um caminho à beira do Canal da Passagem e degraus para permanência no local, voltados para a vista do Mestre Álvaro. Ao fundo, a biblioteca, próximo elemento do projeto a ser apresentado.

CANAL DA PASSAGEM 103


BIBLIOTECA A Biblioteca pública é uma âncora desse projeto. A intenção é de que ela funcione junto com o parque para atender as comunidades vizinhas - “Se o modelo antigo de biblioteca era a “sala de leitura” voltada para dentro, a nova é mais como uma “varanda da frente” da comunidade.” (NIKITIN; JACKSON, 2009) Como já foi dito anteriormente, a biblioteca pretende suprir a necessidade dos moradores por áreas que tenham infraestrutura para estudo, acesso a livros e computadores, mas a biblioteca também tem a função de ser um local social, de encontro, conexão, troca de conhecimento e diversão. Por estar inserido no parque, houve a preocupação de que o edifício dialogasse com as atividades propostas ao redor, assim como as as paisagens. Ao lado, na Figura 63, apresenta-se um diagrama de análise do local de implantação da biblioteca. Esse diagrama foi produzido especificamente para a biblioteca, como forma de complemento à análise do terreno, mas agora com as informações do projeto do parque. Foram analisados principalmente a insolação, locais de permanência ao redor do edifício, possíveis vistas para serem valorizadas e fluxos de pessoas. Diante da análise, alguns pontos foram determinantes para desenvolver a arquitetura do prédio. São eles: • Explorar a vista norte, do canal e do Mestre Álvaro, e a vista sul, do parque e da Av. Nossa Sra. da Penha; • Projetar um edifício que não funcionasse como barreira física ou visual para os usuários do parque transitarem da margem do canal para o interior do parque ou apreciarem a vista; • Usar uma arquitetura discreta e integrada ao parque

104


Figura 63: Diagrama de análise da área de implantação da biblioteca.

105


O edifício foi implantado em uma área tranquila do parque, às margens do Canal da Passagem. A praça da biblioteca (Figura 64) foi trabalhada em conjunto com o edifício. O largo em frente à biblioteca foi criado com a intenção de que seja um espaço multiuso, podendo ser utilizado para apresentações culturais das comunidades, artistas de rua, carrinhos de venda ambulante, entre outros. O lugar também funciona com mais uma forma de qualificar a rota pré-existente informal de pedestres. Foi proposto um térreo livre com pé direito duplo, que permite o fluxo de pessoas e a vista das pessoas que estão no parque para o canal. O térreo livre também funciona como um espaço coberto que pode ser usado para interação social como um lugar de permanência protegido das variações climáticas e para outras atividades como cinema ao ar livre, apresentações, reuniões, entre outros. No térreo foi proposto um café ou cantina com mibiliário móvel, sanitários públicos e as escadas e elevadores de acesso à biblioteca. A escada principal se desteca da edificação, marcando a entrada do edifício e podendo ser usada como “degraus arquibancada” para assistir possíveis apresentações no palco adiante.

106


Figura 64: Praça da biblioteca e térreo do edifício.

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G’

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1

5

10

20m

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107


A distribuição do programa, definido anteriormente, se deu em um andar principal e uma área de mezanino. Nesses pavimentos a setorização dos espaços é feita principalmente pelos mobiliários e algumas divisórias, mas tentou-se ao máximo usar a planta livre para criar ambientes fluidos. O andar principal da biblioteca (Figura 65) está elevado e tem parte em balanço sobre o canal. Essas medidas foram adotadas tanto para ter o térreo livre quanto para valorizar a vista do Canal da Passagem e do parque do ponto de vista dos usuários da biblioteca. A intenção é de que nos ambientes de convívio da biblioteca os usuários consigam ver e ser vistos pelas pessoas que estão no parque. Os ambientes que compõem o andar principal são: 1. Acesso ao lobby pela escada principal ou elevadores. 2. Recepção para check-in e check-out com armários. 3. Banheiros acessíveis. 4. Os computadores disponíveis estão concentrados nessa área, com estações de trabalho e outras opções para trabalhar apreciando a vista sul do parque. 5. Área de estudo, com mesas para trabalhos em grupos ou leitura e estudo individuais voltada para o parque. 6. Acervo centralizado. 7. Local de permanência e leitura mais descontraído, com almofadas e tapete. 8. Outras opções de mesas e cadeiras para estudo e permanência, com a vista para o Canal da Passagem e o Mestre Álvaro. 9. Área infantil, sob o mezanino, aproveitando o pé direito normal para ter uma escala mais próxima das crianças. O espaço dispões de acervo com livros próprios, área de computadores para as crianças, mesas e cadeiras infantis, almofadas e sofá para as crianças e os pais ou responsáveis. O objetivo de posicionar a área infantil nessa região foi

108

também por ser próxima da recepção, caso as crianças precisem de ajuda dos funcionários, e para que a área, embora parte do andar principal, ficasse um pouco mais reservada em relação as outras por causa de ruídos.


Figura 65: Planta do andar principal da biblioteca.

H’

9

8

G

1

7

2 3 6 4 5

G’

1

H

109 1

5

10

20m


O mezanino (Figura 66) é composto por: 10. Acesso. 11. Banheiros acessíveis. 12. Lounge de leitura e convívio. Ponto de vista para o andar principal da biblioteca e para o lado de fora desde o Canal da Passagem, até a Ponte da Passagem e o parque. 13. Salas multiuso para a comunidade. Podem ser fechadas para ter aula ou reunião, mas também podem ser abertas caso tenha alguma exposição ou encontro que demande o espaço. Foram usadas portas do tipo camarão para proporcionar a flexibilidade de uso. 14. Área de leitura silenciosa: espaço reservado para necessidade de estudos sem interação e conversa. 15. Administração e área de funcionários.

110


Figura 66: Planta do mezanino.

H’

14 13 G

10

11 12

15 13 G’

H

111 1

5

10

20m


Na cobertura do edifício, foi proposto um terraço (Figura 67) que é acessado através do elevador ou escada de incêndio (16). Para essa espaço, foi proposta uma cobertura (17) semelhante à usada na praça do café e da feira, de maneira a criar conexão arquitetônica entre os espaços. Bancos foram colocados para incentivar a permanência e direcionar o olhar do observador para as paisagens. A vegetação em vasos foi proposta para dar a sensação de que o terraço é uma extensão do parque.

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Figura 67: Planta do terraço.

H’

16

G

17

G’

H

113 1

5

10

20m


TERRAÇO

LOUNGE MEZANINO

RECEPÇÃO

ACCESSO A ESCADA INCÊNDIO

CAFÉ

Figura 68: Corte GG’ - Biblioteca. 1

114

5

10

20m


O Corte GG’ passa pelo edifício da biblioteca. Nota-se o pé direito duplo do térreo e do andar principal, o mezanino e o terraço. A vista do Canal da Passagem e do mangue que foram mantidas graças a elevação do edifício.

ACERVO

115


TERRAÇO

ESTUDO

ACERVO

ESCADA PRINCIPAL

CAFÉ

Figura 69: Corte HH’ - Biblioteca. 1 116

5

10

20m


Nesse corte, nota-se o balanço do edifício sobre o canal, a escada principal destacada e a relação da biblioteca com o parque. Nessa imagem, fica mais uma vez evidente a continuidade visual e de fluxo permitida graças ao térreo livre.

ESTUDO

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A Fachada Norte (Figura 70) é voltada para o Canal da Passagem, tem a vista do canal, do mangue e do Mestre Álvaro. O vidro foi o material escolhido para a fachada, por ser um material transparente e, assim, permitir que os usuários da biblioteca tenham diferentes pontos de vista, tanto das paisagens, quanto das pessoas que estiveram no parque. Como formar de revestimento e sombreamento, foi proposto o uso de chapa metálica perfurada (Figura 71). As chapas funcionam como um envelope ao redor do edifício que produz sombreamento, mas permite a vista para o exterior, dependendo da insolação elas ocupam maior área da fachada. A proposta é de que as fachadas sejam ventiladas para contribuir com o conforto térmico dentro do edifício, portanto as chapas estão destacadas da fachada.

Figura 71: Exemplo de chapa metálica destacada da fachada.

Para sombrear a fachada Norte, que recebe insolação por muitas horas do dia, a área protegida pela chapa metálica aumenta à medida que vai para o lado Oeste. Na perfuração da chapa foi projetado um desenho formado a partir furos que formam a imagem de andorinhas voando. Essa é uma sútil referência figurativa ao bairro em que a biblioteca se insere e ao poder que o conhecimento tem de “dar asas” e “fazer voar”. A chapa perfurada ultrapassa o corpo principal da biblioteca e reveste o guarda-corpo do terraço, reforçando a unidade do edifício. Figura 70: Fachada Norte. 118 1

5

10


119 20m


A Fachada Sul (Figura 72) está voltada para o parque. Essa não recebe luz solar diretamente, portanto a chapa metálica foi usada apenas para revestir o guarda-corpo do terraço e dar continuidade ao envelopamento do edifício. Na fachada Sul está localizada a escada principal de acesso ao edifício. que tem dimensão larga para permitir que as pessoas parem em seus degraus e até se sentem para observar o que estiver acontecendo ao seu redor. Na mesma direção da escada foi colocado um palco que pode ser usado para apresentações enquanto a escada funciona como local para assistir ao show (Figura 64).

Figura 72: Fachada Sul. 120

1

5

10


ESCADA PRINCIPAL

20m

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A Fachada Leste (Figura 73) está voltada para o sol da manhã e tem a vista para a ponte da passagem. Seu revestimento é semelhante ao da fachada Sul, em vidro com as chapas metálicas apenas para revestir o guarda-corpo do terraço. Esse fechamento foi escolhido porque no andar principal, o acervo ocupa boa parte da fachada Leste, mas no mezanino a vista está livre para o Canal da Passagem que continua do outro lado da ponte.

ESCADA PRINCIPAL Figura 73: Fachada Leste. 122

1

5

10


CAFÉ

20m

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A Fachada Oeste (Figura 74) recebe o intenso sol da tarde, portanto é a fachada que mais precisa de proteção e por isso foi quase completamente coberta pelas chapas metálicas perfuradas. As aberturas foram pensadas para, por exemplo, na área infantil do ponto de vista da criança a paisagem está livre ao mesmo tempo em que o ambiente está sombreado. No mezanino as áreas voltadas para essa fachada são a sala dos funcionários e a de leitura silenciosa, atividades que tendem a ser mais introspectivas. Porém vale ressaltar que as chapas perfuradas não impedem a vista para o exterior. Na fachada Oeste também está o bloco de escada de incêndio e elevador. Para o elevador foi proposto fechamento em vidro e na escada de incêndio foi sugerido o uso de Trespa.

Figura 74: Fachada Oes 124

1

5


BLOCO ESCADA E ELEVADOR

ESCADA PRINCIPAL

ste. 10

20m

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Figura 75: Perspectiva 3 - Vista da praça da biblioteca, da escada de acesso ao edifício e do edifício da biblioteca. Nota-se o sombreamento proporcionado pelas árvores e o eixo de conexão que direciona o olhar do observador para o Mestre Álvaro ao fundo. À direita está a área infantil e a Ponte da Passagem.

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Essa foi a proposta para o terreno identificado como uma รกrea de fronteira entre os bairros de Andorinhas, Santa Luiza, Pontal de Camburi e Goiabeiras, mas com potencial de ser um lugar de encontro para a diversidade pessoas. 127


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Esse trabalho se propôs a explorar uma área de fronteira na cidade de Vitória – ES para a criação de um espaço público que tem a intenção de ser um local para interação entre pessoas de contextos socioeconômicos, faixa etária, gênero, entre outros aspectos, diferentes para que haja troca de conhecimento entre elas. A fundamentação teórica, os estudos sobre a vida na cidade, no espaço público e a importância de incentivar a interação entre as pessoas foi importante por ter sido, além de inspirador, fonte de diretrizes e recomendações que puderam ser aplicadas no projeto. Após o inventário e análise de uma área que se confirmou ser uma fronteira, foi proposto o conceito do projeto que desejava explorar a fronteira, elemento que, a princípio, separa como potencial lugar conector e promissor para alcançar diversidade de usuários. Foi então desenvolvido um projeto de nível preliminar para a criação de em um espaço público que visa atender e conectar as comunidades de Andorinhas, Santa Luiza, Goiabeiras e Pontal de Camburi sendo um lugar com diferentes opções de atividades e usos e que considera seus possíveis usuários. Acredita-se que as medidas adotadas nesse projeto amenizaram barreias físicas, propuseram áreas que podem ser utilizadas por variedade de pessoas de diferentes idades e grupos sociais, e que foi criado uma costura para essa fronteira. Todas essas medidas foram adotadas com a esperança de que, mais do que uma conexão espacial, esse lugar crie oportunidades de encontro entre pessoas de diferentes contextos para que essa interação rompa fronteiras invisíveis e crie uma cidade mais empática e tolerante, onde pessoas diferentes convivem no espaço público. Espera-se que esse projeto sirva como inspiração para uma proposta de intervenção na área e para outros estudos e projetos que explorem fronteiras como forma de criar um espaço público vivo e inclusivo.

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