Vomi tรณrio 10 Entrevistas Podcast
2ª edição 2020 ...é sempre tempo de palavras de sabedoria
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Essa edição, reeditada no meio da pandemia, em 2020 é diferente das outras vomitórios. Aqui, a proposta é uma troca de ideia cara a cara, disposto a ouvir. São duas entrevistas feitas em 2018 e disponíveis no soundcloud.c soundcloud.c om/vomicast om/vomicast
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Bernardo Du Panozzo (do buzz music feed): O que te faz tá nesse corre? Qual teu propósito na música? BNegão: Vários. É o que eu gosto de fazer, é meu lugar pra tá, nãotem outra. Tempo bom ou tempo ruim. Não tem outra, enfim,não tem essa. Não dependo disso pra fazer a parada, sacou?E graças a deus sempre, a maioria das vezes, foi tempo bommesmo em tempo de tempo ruim, sacou. É... mas por causadisso, porque eu acho que qualquer pessoa quando encontrao que veio fazer nesse planeta aqui, que tem que, tipo, dentroda missão, sacou, a parada acontece. Tipo aquele lanceclássico do caminhe e o caminho aparecerá. Sacou? Aparada é assim. Mesmo que toca... quando eu comecei não tinha nada nada nada nada. Tipo assim, zero perspectiva de acontecer qualquer coisa que não fosse se fuder. Mas
eu
simplesmente
não
levei
isso
em
consideração, eu fui fazendo, fui caminhando e a parada acontecendo.
A partir da analogia que eu uso classicamente que é...
que eu vi no filme e achei foda a parada, que é tipo, enfim, lendas né, mas que tem tudo a ver a metáfora da parada. Pra quem tá ligado em cultura pop, e tal. Última Cruzada. Quando o cara tem que cruzar um desfiladeiro que não tem nada ali, o maluco tem que levar fé, acreditar e dar o primeiro passo, sacou? Não tem nada, só tem o abismo pra cair ali, sacou? Ou dá ou não dá. Os nazistas tão vindo atrás e o cara tem que chegar ali, e o cara chega e POW. Enfim, quem vê o filme veja [risada].
D: Cara, tuas
letras vêm contendo uma mensagem, além de social,
uma
parada
meio
espiritual...
B: Meio não, completamente. Meio se você olhar com um olho só...
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Com tantas possibilidades na verdade, não que tá boa, mas com tantas possibilidades, ferramentas à mão.
D: Isso,
isso mesmo. Ao mesmo tempo que tu liga o jornal e tem muitas notícias assim, dizendo que tá tudo muito ruim. Qual tua visão de humanidade, tu é mais otimista ou pessimista? B: Cara, eu não fico, na realidade, nesse fla-flu. Minha parada é a seguinte, tipo, acho que a gente veio pra cá, pra esse planeta pra evoluir sacou? Enfim, cada um tem a sua missão, tem que achar a sua missão. Várias vezes a pessoa gasta uma encarnação inteira e não acha a parada porque nem procura, sacou? Enfim, acho que é isso, não é ah, não sei o que, parada de religião, é parada básica básica, é o básico, é o chão sacou? Não é nada de 'oh, diferente' sacou? É que a gente tá tão atrás, isso acaba causando um monte de coisas desnecessárias que não precisava, sacou?
De depressões, e por aí...
e nego... pô, fica na merda e não consegue sair do lugar. Porque às vezes não procurou seu caminho, sacou. E todo mundo tem um caminho. Todo mundo tem uma parada, tem um porquê. Na verdade tem que achar. A gente tem que achar, ter coragem de procurar, de perguntar, de ficar sozinho com a gente mesmo pra poder; porque a gente só vai saber disso se ouvindo, sacou? E prestando atenção nos sinais. Então, dentro disso a minha perspectiva básica é a seguinte: a gente tem que ser uma coisa diferente, sacou, não pode achar que o mundo tá uma merda e fazer a mesma coisa que faz o mundo ser uma merda, sacou. O que que faz o mundo ser merda: basicamente, as pessoas não terem senso decoletividade, não terem senso de irmandade, não entenderem que é tudo uma coisa só, que você ferrando aqui ferra ali, faz efeito dominó de merda que vai [blergh] cagando tudo;
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sem contar que se você faz as coisas importantes serem feitas,
isso faz um efeito dominó, ou ciclo virtuoso. A
gente tá preso em vários ciclos viciosos – a humanidade classicamente – e a gente, sacou, todo mundo. No dia a dia a gente tem escolhas pra fazer de qualquer coisa meu irmão, escolha escolha escolha escolha. Se a gente conseguir escolher melhor do que pior na maioria das vezes, a gente anda mais sacou, a onda é essa.
Então a tua visão é positiva? B:É,
na
verdade
eusou,
tipo
assim...
normalmente quando a galera fala que é realista,tipo nego fala 'aê sou realista', é pessimista [risos]. Mas eu meconsidero realista por isso; eu acredito que a gente tem muita coisaainda, e me dói essa parada de ver tanta gente com potencial fodasendodesperdiçado,cê encontrar nego na rua, pedindo grana, em presídio e o caralho...vários lugares. Ou a pessoa que não consegue... não achou o queveio fazer nesse planeta, e fica mal em casa... pô, depressiva. Apessoa que tem talentos mil, mas que não tem uma oportunidade depegar um ensino, uma parada que, de repente o cara seja mais foda queo cara que já tá formado que nem tem a parada pro cara, e o caratem aptidão natural, mas não teve acesso àquilo ali. Isso é triste,sacou?
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Porque pra mim a coisa do ser humano é...
tipo se pudesse botar uma bomba ali [tchhh] de
fumaça pra melhorar tudo, a primeira coisa ia ser essa: quetodas as pessoas exerçam seus potenciais positivos. Não potencial negativo que se não já tá demais [risos]. Mas tem queser o potencial positivo sacou, aí o mundo seria naturalmente umlugar menos pior e depois melhor [risos]. Guilherme Maffei (editor da Vomitório) :Tu chegou a ver o filme PanteraNegra? Poderia falarum
pouco
sobre
a
questão
da
representatividade do povo negroacontecendo port oda a parte? filme
achei
B: Então, tá rolando. Esse importante
por
isso,
pelarepresentatividade da parada, sacou? Mas eu não achei 'ó que filmeque vai mudar minha vida' sacou. Eu esperava que fosse, porque eugosto do personagem desde sempre, eusou leitor de quadrinhos desde os anos 80,tenho coleções em casa.
Tipo coleção de tudo, da Marvel, DC, a porra toda,
graphic novel, animal, mage, tenho tudo isso. Chicletecom banana, a porra toda. Angelí, um monte de coisa. Então eu gostoda parada, sacou? E o final [do filme pantera negra] achei meiodecepcionante a parada. O cara junta com a ONU, sacou? Pô, a ONU éuma parada bizarra sacou? AONU é uma parada bizarra. Edaí eu falo tipo, beleza, o final é americano, a ONU é americana. Negovailá, fode o país, ae chega e manda ajuda humanitária, a mesmagalera que quebrou todo mundo, matou geral, 'ah, vai aí agora, umagalera aí pra...', isso não é ajuda humanitária. Ajuda humanitária é você não matar as pessoas, saca? Não fazer a porrada guerra desnecessária por petróleo ,não sei o que o caralho a quatro, sacou? Então eu não acredito na ONU,com todas as paradas, eu acho que é um braço que faz carinhoenquanto o outro morde, sacou. Um que morde, outro que assopra. Aíeu tô fora desse jogo aí.
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"A gente tem que ser uma coisa diferente,nĂŁo pode achar que o mundo tĂĄ uma merda e fazer a mesma coisa que faz o mundo ser uma merda, sacou. "
Hoje Vem Pra Cá (Deixa de Confusão) Hoje Vem Pra Cá (Deixa de Confusão) Single Single Banda BandaTeTo TeTo disponível no Youtube e Spotify disponível no Youtube e Spotify Capa por: Capa por: @vomitoriozzine @vomitoriozzine @kewingrando @kewingrando @clarakoppe @clarakoppe
Bob e Nego Boy
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Guilherme Maffei: Tu tem uma tatuagem do Pantera Negra né? Que o boi (Kewin Grando, batera da Teto e o cara que fez a maioria das minhas tattoos) fez. Vcs viram o filme? Que vcs acharam?
Bob William (compositor e
baixista da Teto): Cara eu achei um filme legal, mas eu acredito que o filme falha em vários momentos, porque tem uma construção em cima do
personagem
principal
(T'Challa).
E
eu
particularmente torci mais pro cara que era pra ser o vilão da história, o outro maluco que tenta virar o pantera negra (o Killmonger). A discussão do filme é que um tem uma ideia mais radical , que é expandir e levar todas as coisas que as pessoas negras no mundo não tem acesso e o outro que é preservar a coisa ali, restrito. Mas eu acho que acima de tudo o filme faz aquela analogia de como os europeus chegaram na africa e roubaram as coisas, e no filme tem o que seria a África se eles não tivessem zoado tanto;
Só que ao mesmo tempo,
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como é um filme da Marvel, é um filme da
Disney né, tem aquela forma americana. Por exemplo, tem aquela questão das mulheres do filme que de alguma forma a Marvel vendeu que elas tem autonomia no filme, mas em nenhum momento elas rompem com aquela coisa “Nós precisamos
de
um
Rei”,
essa
coisa
mais
abrangentes. Eles só mantém elas ali submissas, elas ficam ali às ordens do rei, apesar de confrontar os outros grupos.
Negoboy
(compositor e vocalista da TeTo): É uma forma de romantizar a luta, tanto étnica quanto no gênero, que não tinham uma figura independente, com poder de decisão, não tinha representatividade, era ainda o contexto do rei. São várias analogias no meio desse filme. Eu vi que em alguns momentos que o cara que era branco que tava chegando lá no contexto (o cara da CIA), esse cara foi visto como ah o cara ba. Eles quiseram mostrar que tinha esse lance de relações interétnicas,
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mas na verdade é uma forma de romancear o que acontece na realidade.
G: O cara se mete nos assuntos importantes dos caras e fica por isso.
N: É, e aí tem o outro
cara que ele vem de uma criação, ele seria o que ficou na marginalidade, pas sou os piores venenos na criação dele e tal. Colocaram aquele lance: um cara que era negro traiu o lance e matou o outro cara negro, entendeu? É uma coisa que hoje em dia por exemplo, no Brasil a gente tem uma confusão étnica, a gente não tem consciência étnica e de classe, a gente não aprendeu essas coisa ainda. E daí fica mais difí cil a gente se ver no outro, se enxergar no ser humano, ver que o cara tá passando um perrengue. E quando a gente romantiza esse contexto e foge da luta de classes, essa realidade, porque o cara pode não falar disso, mas não vai abolir, por exemplo, o pobre e o rico.
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No Brasil rola muito dessa confusão.
Nos EUA é uma organização mais segregada. Porque lá se formaram comunidades mais segregadas, tipo o Brooklyn, o Bronx, enfim, a questão da Chinatown, que se formavam por etnias. Aqui no Brasil não, aqui teve a abolição da escravidão mas depois disso já se tinham imigrantes
europeus
que
ganharam
terras.
Acabou sendo não sendo uma luta de classes, mas também uma confusão de classes, de quem foi espoliado, e hoje quem mora nas periferias é o jovem negro. Então é uma coisa que a gente trata bastante nos nossos sons. A parte da história que não é contada.
B: Uma coisa
desse filme é: tem esses 2 personagens centrais que são antagônicos; um é mais passivo, no caso o
principal
que
busca
aquela
coisa
da
conciliação, de um jeito mais pacífico, enquanto o primo dele (o tio dele é morto) tem uma atitude mais radical até por uma via mais direta, buscando uma via violenta inclusive pra superar o inimigo.
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Dentro do que o filme acaba criando esse debate, ele acaba tomando uma decisão: que ideologia eu vo tá passando ali pro
espectador no final. Eles pegam assim, a minha impressão pelo menos, eles acabam trabalhando muito aquela questão que o personagem que busca a via pacífica se dá bem no final. E isso acaba me passando que tudo que acontece no mundo em relação à essas minorias(ou maiorias) negras, acaba me soando que essas pessoas tem que aceitar as coisas de maneira pacífica, e deixar que o estado ou as institiuições resolvam isso aí de cima pra baixo. E as pessoas tem qe aceitar caladas de braços cruzados e esperar que alguém lá em cima faça isso. E o outro personagem que é taxado de vilão tem essa visão do fazer mesmo. Isso aí é até uma discussão que leva horas e horas de discussão..
"É bem Malcolm X e Luther King.."
B: É, exatamente. São duas coisas antagônicas. Mas em si o filme é legal, só que eles acabaram vendendo uma coisa que ele não é. Mais um produto pra vender (risos) e conseguiram. G: E aproveitando essa coisa toda, queria que vcs falassem o que vcs quisessem sobre ser negro em Caxias, uma cidade meio…N: Então, vou te dizer que esse ano, 2018, dia 26 de Abril eu fiz 26 anos, ta ligado. Desde os meus 13 anos eu levo atraque na rua o tempo todo. Tipo, o cara sai no rolê e é só parar na frente de qualquer lugar, pode ser na BR, na UCS, pode ser no centro, pode ser na quebrada, qualquer lugar, o cara é constantemente abordado. E tem colegas nossos que tem a mesma idade que nós e nunca levaram atraque na vida, ou caras que falam dos atraques que levaram, essas batidas policiais e tal, e eles me falam tipo uns 6 na vida… isso eu já levei num dia tá ligado!
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Sinistro o corre.
Isso vai além da repressão policial, claro, a gente entendendo os órgãos, as autoridades, num contexto de proteger e servir a quem. Tipo, tu é parte da comunidade, ou tu tem menos direitos que os outros? Tu paga imposto como qualquer
outro, uma porrada de coisa, qualquer coisa que tu compra é imposto. Tu tá dando essa grana pro estado, vai pra união depois volta pro estado, e daí quando tem essa política de construir presídio e não investir numa escola, fica bem claro qual o projeto de sociedade dos caras, certo? Quem é que eles querem que ocupe aquele presídio não é um cara rico que tenha posses, dificilmente ele vai ser preso na verdade. Agora se ele for pobre, e se for negro pior ainda. Ae o cara faz aquela escala de preconceito social e étnico… é uma porrada de preconceito que o cara enfrenta. Te falam também que tu pode trabalhar em qualquer lugar, e até tu ir na fila da empresa, com um currículo bom e experiência, e os caras te sacar.
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Seja pelo lugar que tu mora,
ou as vezes por quem tu é, a tua origem étnica… o que não é justo alguém te rotular pela tua aparência, tendo a etnia que tu tiver. Mas é uma coisa que a gente ve como um reflexo do passado. Quase 400 anos de escravidão, se projetou num novo tipo de escravidão. Uma analogia
com
passado
a
empregada
também
doméstica:
havia
no
trabalhadoras
domésticas, mas eram mulheres negras, e não recebiam
salário.
Hoje
a
maioria
das
empregadas é composta também por mulheres negras. A representatividade na televisão, que nem uma rede Globo da vida, é justamente um ex-escravo, ou na verdade um descendente de ex-escravo,
uma
pessoa
com
ascendência
africana, e o cara vê ali que tá representado ainda como tal. Não se teve ainda um respaldo.
E o cara vê como que certas coisas são. Caxias do Sul também não foge à regra né, é uma cidade que teve um histórico de uma gazeta fascista, na segunda guerra…
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"TransmissĂŁo "TransmissĂŁo Clandestina" Clandestina"
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