Mente corpo e vida #9

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O budismo encara todo sofrimento como algo ruim? De acordo com o Venerável Mestre Hsing Yün no livreto “O QUE É BUDISMO?” (Escrituras Editora, São Paulo, 2010, disponível no Templo Zu Lai), a existência do sofrimento e suas causas foi objeto de preocupação do jovem príncipe Sidarta, que ao extingui-lo em si mesmo aos 36 anos, torna-se o venerado Buda Shakyamuni. Buda, há 2.500 anos auxiliava os seres com ensinamentos e práticas que visavam reduzir, evita e extinguir as aflições humanas. O livreto citado aponta o conceito de “As Quatro Nobres Verdades”, as quais são destinadas a explicar as origens do sofrimento e o modo de cessá-lo, contudo, também fica claro na explanação do autor, que existem sofrimentos inerentes à vida, ou seja, o Buda ensina a escapar da rede de aflições causadas pela ignorância humana, mas também auxilia os seres a lidarem com os sofrimentos inevitáveis. É disto que que se trata o presente artigo. Você “sofre” para educar a mente e o corpo, sejam nas artes, na ciência e etc. “Sofre” para aprender a andar, nadar

e pedalar. Sofre para educar os hábitos. Para se libertar do corpo fraco. Do orgulho ou do medo. Sofre para superar pensamentos e condições desfavoráveis. O sofrimento, quando surgido, deve ser vivido, e enfrentando, mas não causado em vão. Ele traz lições que devem ser examinadas. O sofrimento não deve ser imposto aos outros ou adotado para si sem um “ganho” que o torne necessário. Realmente, em algumas situações específicas ele deriva da resistência teimosa aos fatos da vida-aqueles que não podem ser modificados. Neste caso ele é provocado pela ignorância e orgulho, assim, há uma “ resistência” desnecessária e até prejudicial. Em outros casos os sofrimentos são produtos da ingenuidade e ignorância. Contudo, há fatos que podem e devem ser modificados e fugir do custo para moldar seu corpo, sua mente e sua vida, é abdicar das oportunidades de desenvolvimento em todos os campos da existência. Aqui, de

“A dor, é apenas a fraqueza abandonando seu corpo”

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forma alguma, devemos aceitar os fatos e nem nos sujeitarmos a eles, “ acatar os fatos como eles são” não deve ser algo absoluto. O sofrimento, em sua acepção natural, faz parte da vida, como a dor e o prazer, perdas e ganhos, o lado A e o lado B de uma moeda, ou as faces clara e escura da lua e, nesse caso, deve ser entendido e aceito e não temido e repudiado.


EXPEDIENTE Redator e Editor Geral Aristides dos Santos Dias Produtor audiovisual (11) 99263-9229 Aristides dos Santos Dias ari992639229@gmail.com

Ivan Lin Medicina Ocidental e Medicina Tradicional Chinesa Vanessa Mantuani Ioga e Meditação Daiane Pacheco Psicologia Mitiko Sugiyama Saúde e bem-estar

Célia Rossi Fisioterapia e Pilates Pablo Bertelli Fisioterapia e Ortopedia Editoração / WA Editoração Ltda. CNPJ: 01.785.719/0001-48 Impressão / Editora Sumaúma Ltda. CNPJ: 04.489.601/0001-60

Agradecimentos ao amigo Marcos Rossi, sem o qual este projeto não seria viável, ao amigo Edson Hong, pelo apoio e aconselhamentos e aos amigos Plínio Protázzio, Mitiko Sugiyama e Rui Lupatini pelo incentivo.

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Mariana

A MINA DOS OLHOS DA COROA PORTUGUESA, A MAIOR PRODUTORA DE OURO DO BRASIL COLONIAL

DO REDATOR FOTOS: GNU FREE DOCUMENTATION LICENSE/ AUTORES IDENTIFICADOS NAS MESMAS

Entre os 27 estados brasileiros, Minas Gerais tem a segunda maior população do pais ( 20.730 milhões, IBGE, 2014) e é o estado com maior número de municípios do Brasil, são 853 ao todo. Mariana, com 58.802 habitantes (IBGE, 2015), seria apenas mais uma cidadezinha do interior não fosse o fato de ter sido a primeira vila e capital do estado e estar na região em que a Coroa Portuguesa mais extraiu ouro, nos idos do século XVII. É exatamente por esta razão que um antigo vilarejo, encravado entre as montanhas, em pleno interior de Minas Gerais, tornou-se centro das atenções de toda Europa: para a corte portuguesa, a

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sede da Capitania das Minas deveria ser a localidade na qual mais ouro fosse achado e extraído… Hoje em dia, a riqueza que durante séculos foi extraída do solo mineiro responde, sem dúvidas, por boa parte da riqueza do continente europeu, pois Minas Gerais foi a maior fonte de renda de todas as colônias portuguesas pelo mundo, financiando o luxo, seu comércio e barganhas políticas com outros impérios e povos europeus, fazendo escoar a riqueza por toda Europa. Com isso, o Brasil cumpriu seu triste carma, financiando o Velho Mundo em sua ânsia de riqueza e glórias.


PEDACINHOS DO BRASIL COLONIAL

Luíz Rizo

Lenado Ciuffo

... a riqueza que durante séculos foi extraída do solo mineiro responde, sem dúvidas, por boa parte da riqueza do continente europeu...

Localizada a 90 Km de Belo Horizonte e a 12 km de Ouro Preto, na agora agonizante Bacia do Rio Doce, Mariana e quase todas as cidades da região possuem bens consideradas patrimônio histórico-cultural do Brasil ou da Humanidade, são áreas que conservam casarões, capelas e igrejas do período colonial. A antiga arquitetura portuguesa e europeia é vista em todas as ruas e esquinas e ao redor os paredões naturais, as imponentes montanhas do Parque Ecológico do Pico de Itacolomi- este com altitude de 1.772 metros. O verde no entorno das cidades ainda resistem. São das poucas regiões brasileiras que ainda preservam a história. É difícil localizar algum imóvel com traços modernos. O ar interiorano também desafia o tempo e segue com os costumes tradicionais do interior mineiro, da hospitalidade à culinária, do trem de ferro ao jeito de falar. Na região, Mariana se destaca com índices de desenvolvimento invejáveis: o índice de analfabetismo é um dos menores do país beirando apenas a 0,8% da população. Até este ano, o município vinha apresentando um crescimento na sua economia, a mineração responde por isso. Era a cidadezinha mais próspera da região, até o dia da tragédia. Esta é uma razão pela qual a prefeitura e a população da cidade querem que a Samarco/Vale continue na região, apesar do rompimento das duas barragens. Em Mariana contam-se 34 bairros, 10 distritos e 2 subdistritos, dentre eles, o extinto subdistrito de Bento Gonçalves, 600 habitantes, distante 35 Km do centro da cidade, agora apenas parte do passado…

Renan Cândido

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Rapahel Gustavo

A origem do nome e a sina de Mariana Em função de seu inestimável valor para o colonizador português, que a vila recebeu este nome. O rei Dom João V, não contente em cobrir sua esposa com pedras preciosas, homenageia a rainha dando o seu nome, Maria Ana, à região das mais valiosas minas da capitania, de onde os desejáveis minérios pareciam brotar miraculosamente do solo. Dai surgiu o nome Mariana. De toda colônia, com esta homenagem, o rei deixou claro o que tinha maior valor para a família real no Brasil: as minas no coração da capitania com as terras mais valiosas do império. A região de Mariana, como coração de Minas Gerais, foi a área que mais golpes de enxadas e pá sofreu por parte de aventureiros europeus. Contudo, os golpes no coração de Minas Gerais nunca cessaram, mesmo com a independência do Brasil. Agora as retroescavadeiras estão no lugar das enxadas e gigantescos caminhões substituem as pás. Ninguém se queixa do desenvolvimento, desde que seja sustentável, contudo, a Vale mostrou

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com fatos, que suas barragens estavam insustentáveis. Duas outras barragens, Germano e Santarém, estão sob os mesmos riscos, mas a de Germano é o pior pesadelo, pois é muito maior do que as barragens destruídas. Não apenas um vilarejo foi soterrado na lama, mas também parte da história de dezenas de famílias, a água de milhares de pessoas, inclusive remanescentes indígenas, além de parte de sua fauna e flora extintas. Mariana sofreu com os duros golpes de enxadas e pás, escavadeiras, lamas e indiferença e desprezo por parte da mídia brasileira e, infelizmente, de parcela significativa da população, que não só desconhece o importante passado de Mariana, mas também as suas dores no presente. Contudo, as sequelas desse golpe serão sentidas até no Oceano Atlântico, pois as autoridades capixabas já avisaram que a lama, chegando na foz do Rio Doce, atinge o mar, ameaçando santuários ecológicos em parte do litoral do Espírito Santo, de praias ao alto mar, a fauna e a flora estarão sob ameaça.


OS METAIS PESADOS E OS SISTEMAS VIVOS

Com o vazamento das barragens da Samarco, além de lama, há suspeita de que o Rio Doce pode estar contaminado por metais pesados, o que isso significa? Pesquisa • Mitiko Sugiyama

Metais Pesados e Organismo vivo

Evandro Rodney

Vinícius Secchin

Qualquer metal tóxico pode ser chamado de metal pesado, independentemente da sua massa atômica ou densidade. Os organismos vivos requerem quantidades variáveis de metais pesados. Ferro, cobalto, cobre, manganês, molibdénio, zinco e são necessárias por seres humanos. Todos os metais são tóxicos em concentrações mais elevadas. Os níveis excessivos podem ser prejudiciais para o organismo. Outros metais pesados como o mercúrio, o plutónio, e chumbo são metais tóxicos que não têm conhecido efeito benéfico sobre os organismos, e sua acumulação ao longo do tempo nos corpos dos animais pode causar doenças graves. Certos elementos que são normalmente tóxicos são para determinados organismos ou sob certas condições, benéfica. Exemplos incluem vanádio, tungstênio, e até mesmo cádmio. Os metais pesados perturbam as funções metabólicas de duas maneiras: 1. Eles acumulam e assim interrompem a função de órgãos vitais e das glândulas, tais como o coração, cérebro, rins, ossos, fígado, etc. 2. Eles deslocam os minerais nutricionais vitais do seu local original, dificultando sua função biológica. É, no entanto, impossível viver em um ambiente livre de metais pesados. Existem muitas maneiras pelas quais estas toxinas podem ser introduzidas no organismo, como o consumo de alimentos, bebidas, a exposição da pele, e o ar inalado.

Metais pesados / Metaloides Qualquer espécie de metal (ou metaloide) pode ser considerado como um “contaminante” se ocorrer onde é indesejável, ou em uma forma ou concentração que cause um efeito ambiental prejudicial ou humano. Metais / metaloides incluem chumbo (Pb), cádmio (Cd), mercúrio (Hg), arsénio (As), crómio (Cr), cobre (Cu), selé-

nio (Se), níquel (Ni), prata (Ag), e zinco (Zn). Outros contaminantes metálicos menos comuns incluem o alumínio (Al), césio (Cs), cobalto (Co), manganês (Mn), molibdénio (Mo), estrôncio (Sr), e urânio (U).

Metais pesados e Poluição Ambiental Os metais pesados são o principal grupo de contaminantes inorgânicos e uma considerável área grande de terras contaminado com eles devido à utilização de lamas ou de compostagem municipal , pesticidas, fertilizantes e emissões de resíduos urbanos incinerados, exsudato, resíduos de minas metálicas e indústrias de fundição. Independentemente da origem dos metais no solo, níveis excessivos de muitos metais pode resultar na degradação da qualidade do solo, redução do rendimento das culturas , e má qualidade dos produtos agrícolas, o que representa riscos significativos para a saúde humana, animal e saúde do ecossistema. Portanto, torna-se essencial remover os metais acumulados.

Metais Pesados contaminação de hortaliças Contaminação por metais pesados de produtos hortícolas não pode ser subestimado pois se tratam de importantes componentes da dieta humana. Os vegetais são ricas fontes de vitaminas, minerais e fibras, e também têm efeitos antioxidantes benéficos. No entanto, a ingestão de vegetais contaminados com metais pesados pode representar um risco para a saúde humana. Contaminação por metais pesados dos alimentos é um dos aspectos mais importantes de garantia de qualidade dos alimentos. Os metais pesados são não biodegradáveis e persistentes contaminantes do ambiente, que podem ser depositados sobre as superfícies e, em seguida absorvidas pelos tecidos dos vegetais.

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SINTOMAS DA INTOXICAÇÃO POR ALGUNS TIPOS DE METAIS PESADOS CHUMBO • A doença causada pela intoxicação por chumbo é denominada Saturnismo e afeta milhões de pessoas em todo o mundo, além de outras espécies como as aves. A absorção de chumbo pode induzir à redução do desenvolvimento cognitivo e do desempenho intelectual das crianças e aumentar a pressão sanguínea e as doenças cardiovasculares nos adultos. MERCÚRIO • Causa danos ao fígado, rins e sistema nervoso central (SNC). ALUMÍNIO • Tem sido associada à constipação intestinal, cólicas abdominais, anorexia, náuseas, fadiga, alterações do metabolismo do cálcio (raquitismo), alterações neurológicas com graves danos ao tecido cerebral. Na infância pode causar hiperatividade e distúrbios do aprendizado. Inúmeros estudos consideram que o alumínio tem um papel extremamente importante no agravamento do mal de Alzheimer (demência precoce). MANGANÊS • Doses excessivas podem causar anemia ferropriva e deficiência de cobre, além de interferirem na utilização da Tiamina (vitamina B1) e aumentarem a necessidade de vitamina C. A inalação é uma das vias de intoxicação. No Chile, conhece-se um quadro denominado de “Loucura Mangânica”, caracterizado por sinais e sintomas psiquiátricos: mania, agressividade, insônia, alucinações, quadro neurológico muito parecido com o do Parkinson. Os sintomas dos danos provocados pelo manganês no sistema nervoso central (SNC) podem ser divididos em três estágios: 1º / subclínico (astenia (fraqueza), distúrbios do sono, dores musculares, excitabilidade mental e movimentos desajeitados); 2º / início da fase clínica (transtorno da marcha, dificuldade na fala, reflexos exagerados e tremor); 3º / clínico (psicose maníaco-depressiva e a clássica síndrome que lembra o Parkinsonismo). Além dos efeitos neurotóxicos, há maior incidência de bronquite aguda, asma brônquica e pneumonia. FERRO • Elemento indispensável ao organismo que não pode ultrapassar certos valores no sangue, como a ferritina (máximo 80). Além de causar depósitos no fígado, o excesso de ferro facilita a entrada no organismo dos bacilos da tuberculose e da lepra, assim como dos vírus da malária, do dengue e da febre amarela. Grande ativador de radicais livres, o ferro descalcifica os ossos, causando osteoporose, cálculos renais e infartos. Fonte • Heavy metals and living systems: An overview -Reena Singh, Neetu Gautam, Anurag Mishra, and Rajiv Gupta- Indian J Pharmacol. 2011 May-Jun; 43(3): 246–253. • Venâncio e Batista, 2003; Martin and Griswold, 2009 • Traduzido e revisado por Mitiko SugiyamaGerente da ARGOSLAB (www.argoslab.com.br)/ resumido e adaptado pela redação.

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Domínio público


Buraco fundo Mar fechado Lama e desabamento Fogo acidental Fogo intencional Águas turbulentas Ventos violentos Todos fogem Poucos escapam Bombeiros salvam Tiro recebido Grito sofrido Gemido baixo Bombeiros salvam Salvam Bebês e bêbados Homem e mulher Galinha, cabrito Cavalo, boi Gato, cão

Bombeiros salvam calados Andam entre gemidos Recolhem feridos Salvam os vivos Mas não são valorizados Neste país de heróis fajutos Artistas famosos Atletas talentosos Terra de políticos astutos Me rendo ao Corpo de Bombeiros Socorrido Consolado Resgatado Medicado.. Infeliz é o brasileiro que Sofrendo na calamidade ou na penúria Não percebe que todo bom fardado PM ou bombeiro É herói de verdade!

PM e Corpo de Bombeiros, cheios de homens de honra, corajosos e esforçados, sempre caminhando entre escombros e limpando a sujeira que a sociedade e as autoridades fazem. MENTECORPO&VIDA l 9


SEM STRESS

Ribeirão Bonito tem refúgio para quem quer contato com a “Mãe Natureza” O interior de São Paulo reserva surpresas para quem mora na capital ou em grandes cidades: a cidade de Ribeirão Bonito-SP, com 125 anos e 12.831 habitantes (IBGE, 2014), localizada no coração do estado de São Paulo (imediações de São Carlos, Araraquara e Brotas), é um exemplo de localidade pacata, de fácil acesso e cercada de verde. Um excelente refúgio para férias, folgas ou para escapar do estresse. Estive lá para conhecer o Ecolhousing Hotel Serra da Cachoeira, um paraíso ecológico…

O local Fui recebido no local pela simpática Rúbia Brenda, atendente, e a empreendedora Cinthia Pessa, que pratica yoga e vegetarianismo e iniciou este empreendimento objetivando criar um espaço para pessoas que buscam o silêncio, a meditação e um contato mais íntimo com a “mãe natureza”. As dependências do estabelecimento contam com 14 acomodações para turistas (há opções para solteiros, casais e grupos), um espaçoso refeitório, áreas para

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leitura e relaxamento, tudo em estilo rústico, além de dependências para práticas de yoga, meditação, dança, etc., piscina com água da montanha, uma linda cachoeira, trechos do Ribeirão das Pedras, um dos veios d´ água do “Aquífero Guarani”- as mais fartas e puras reservas de água do país. O Hotel Fazenda é cercado por mata nativa e áreas de proteção ambiental, que inclui árvores raras e antigas.

Vegetarianismo Quanto à alimentação, são servidas três refeições por dia: café da manhã, almoço com sobremesa e jantar. À tarde, há um chá ou café com biscoitos. Entre os alimentos servidos, todos orgânicos, estão legumes e verduras plantados nas imediações do próprio estabelecimento. A alimentação é vegetariana, as bebidas servidas não são alcoólicas. É possível passeios individuais ou em grupos, ou reservar o local para encontros, palestras e práticas de cunho espiritual, ambiental ou empresarial (desde que observadas as regras).


O Hotel Fazenda é cercado por mata nativa e áreas de proteção ambiental, que inclui árvores raras e antigas

VIVENDO EM MEIO À NATUREZA Cinthia Pessa, responsável pelo Ecolhousing Hotel Serra da Cachoeira, me disse que possui um projeto, em andamento, de criação de ecovilas nas proximidades do seu estabelecimento, em terras herdadas da família. O processo de regularização da documentação do projeto está avançado e está na fase de captação de interessados em morar em meio à natureza em estilo de vida mais simples e autossustentável. Ela deixa o telefone (016) 997583080 e seu perfil no Facebook para agendamento de conversas sobre o assunto.

COMO CHEGAR O acesso é pelo trevo de Ribeirão Bonito, em estrada de chão (cascalhada e em excelentes condições de manutenção), estando há 7 km do trevo de acesso à cidade. Uma dica simples, e óbvia, é colocar no seu GPS “Ribeirão Bonito-SP”. Neste trevo, o motorista deve manobrar indo pela indicação “Retorno”, sentido São Carlos, vai passar por baixo do viaduto, fazer “meia rotatória” e entrar no acesso de terra, indicado com uma placa “Brotas por terra”. O percusso vai levar cerca de 4 km, (sempre em frente) em uma estrada cascalhada em bom

estado de conservação até ver, em uma bifurcação, a placa indicando o acesso ao hotel. Para facilitar, eu recomendo antes disso, ao chegar ao trevo, que o motorista ligue para o hotel, pois depois que se ingressa na estrada, em meio à mata, haverá instabilidade no sinal de celular.Para saber mais sobre o hotel ou projeto de ecovilas, o telefone é (016) 99758-3080 e site < www.serradacachoeira. com.br >. Obs. Até o fechamento desta matéria, o site estava em manutenção.

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93 ANOS DE PURA GENIALIDADE, ARTE E DISPOSIÇÃO Fotos / Reprodução TV Integração

Gercy de Oliveira do Carmo

De lavrador a artesão: com a enxada ou serrote nas mãos, um homem que virou lição de vida...

Por Aristides dos Santos

Redator/ editor

Você deve estar maravilhado com estas fotos e se perguntar: que fábrica ou marcenaria produziu estas peças? No entanto estas maravilhas são obras de um só homem. Este é o fruto do suor, da criatividade e das surpreendentes habilidades de Gercy de Oliveira Carmo, conhecido como “Sr. Gercy”, que apesar de estar próximo dos 94 anos de idade, ainda trabalha com a disposição de um jovem, desfrutando de memória e concentração invejáveis. Ele trabalha há, pelo menos, 35 anos em sua casa, no centro da cidade de São João Nepomuceno-MG, produzindo estas obras primas a partir de todo tipo de madeira, empregando sua intuição, disposição, criatividade e suas ferramentas, que ganham vida ao serem movimentadas por suas habilidosas mãos. Eu o entrevistei quando ele completou 90 anos- o que já era um feito-, mas agora, vendo as reportagens no jornal “ A Voz de São João” (foto em pé, de autoria de Thaís Magalhães, foi publicada originalmente no jornal) e na TV Integração/ Rede Globo (imagens de Rodrigo Alves, de onde extraí os frames) tive a vontade de compartilhar com os leitores desta revista, a conversa que nós tivemos. Na época, estive lá com o radialista Írio Henriques e cheguei a postar um vídeo amador no Facebook- na época isto ainda não era uma febre. Sr. Gercy acorda bem cedo, em geral antes do “raiar

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do sol” e cedinho, após o café matinal, começa a produzir objetos diversos a partir de sua imaginação. Ele, de posse da matéria prima, que é obtida em fazendas, apara e reduz troncos e galhos em tábuas, usando serrotes, para fazer blocos e peças diminutas, recorre às serras, talhadeiras e limas, produzindo pacientemente os encaixes. Depois disso, ele ajunta tudo aos golpes de marreta ou martelo, em caso de pregos, ou gira pacientemente suas chaves de fenda, parafusando, adicionando cola nas partes mais frágeis e sensíveis. Tudo é montado como um grande quebra-cabeça. Alguns destes móveis chegariam a possuir 70 mil peças, formando verdadeiros mosaicos ou desenhos complexos de “mandalas”, esta arte recebe o nome de “marchetaria”, ele diz. Perguntado se recorre a algum papel para esboços, se faz rascunhos ou se monta maquetes com modelos de revistas, com rapidez e olhos arregalados ele enfatiza “eu nunca rascunhei nada e nunca comprei revista para aprender ou copiar qualquer coisa, nem tive aulas, simplesmente Deus me deu um dom e eu só faço bom uso dele”. Desde a década de 80, sua casa tem sido frequentada por jornalistas, curiosos, artesãos, e até arquitetos e engenheiros, atraídos pelas suas concepções que, embora revelem evidente estilo rústico, revelam paradoxalmente complexidade, sensibilidade e sutileza em seus traços e


Thaís Magalhães

contornos. Dentre os tipos de peças produzidas, ele diz que pode montar em sua oficina, que funciona na varanda e nos primeiros cômodos de sua casa (onde mora com parte da família), cerca de 130 tipos diferentes de artefatos, entre mesas, cadeiras, camas, armários e guarda-roupas, além de brinquedos e até replicas perfeitas de ferramentas em madeira. Sobre os móveis, a família revela que ele nunca vendeu nada, embora tenha recebido turistas brasileiros e até do exterior com propostas de compra e recusou todas, nem quis saber o quanto eles estavam dispostos a oferecer pelas “obras de arte”, esculpidas e entalhadas com rara maestria. Quanto aos brinquedos em madeira, embora conserve parte do que fez (deu a maior parte), não mais os produz, pois não apreciando a ideia de vendê-los, percebeu que seria incapaz de doar para todos que pedissem e eram centenas de pedidos, assim por não ser querer ver ansiedade e tristeza nos olhos das crianças, decidiu há alguns anos, infelizmente, encerrar a produção das miniaturas, como charretes, bois, carros, caminhões, etc.

DE HOMEM DO CAMPO A MARCHETEIRO NA CIDADE Gercy de Oliveira do Carmo nasceu no povoado da Braúna em 28 de janeiro de 1922, prestes a completar 94 anos, relembra a todos que morou quase toda vida na roça e trabalhou duro na lavoura e que somente aos 60 anos de idade, aproximadamente, descobriu seu dom: o talento de criar a partir de suas mãos, encantando e surpreendendo aos olhares dos curiosos e das pessoas apaixonadas por artesanato. Vindo de uma família pobre, que tirava o sustento do plantio e colheita, possui 12 irmãos, casou e teve 7 filhos, 10 netos e 9 bisnetos. Todos os familiares revelam um brilho nos olhos e se orgulham quando falam dele, apesar do seu jeito simples e direto, que pode desconcertar e assustar os desavisados. Impressionado com sua clareza mental e disposição física, indaguei da família se ele sente dores, como dores na coluna ou nas articulações, ou se faz uso de medicação para tratamento de alguma doença, como hipertensão, diabetes e etc., ele mesmo tomou a frente e respondeu que não se recorda de ter sentido dor de cabeça na vida e que nunca fez uso de qualquer medi-

cação, pois nunca adoeceu. Perguntei também se há ou não um segredo ou fórmula para a saúde e a longevidade, ele sentenciou “eu uso meu tempo para trabalhar e não para reclamar, amo o que faço, e quem ama o que faz dificilmente adoece!”. Pelo que se vê Sr. Gercy, apesar da vida na roça e da idade avançada, está muito bem informado sobre os avanços da tecnologia e os males da vida moderna, quando fiz a última pergunta, relativa aos jovens dos dias de hoje, ele desabafou: “tenho pena dos pais no mundo de hoje, a evolução pode destruir a humanidade, os filhos não se aconselham mais com os pais e recorrem à internet e aos amigos de finais de semana. Os jovens não sabem o que é paz interior, pois foram aprisionados pela parafernália eletrônica e pelos maus hábitos, surgidos de uma liberdade sem limites que a sociedade nos dias de hoje oferece.” Parabéns novamente ao Sr. Gercy, em 2012, na revista “Visão Geral” fizemos uma homenagem pelos 90, esta revista, que está na última edição de 2015, de antemão, já o parabeniza pelos 94 anos a serem comemorados em janeiro.

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É OBRIGADO A SER

vegetariano

PARA PRATICAR O BUDISMO?

Liberdade de escolha O budismo é uma oferta das respostas dadas por Buda Shakyamuni ao povo e aos discípulos na Índia, há 2.500 anos. Nada no budismo é imposto. Logo, a renúncia ao consumo de carne não é item obrigatório, aliás é preciso alertar que o Buda não impôs, mas propôs ensinamentos e reflexões de impacto mental e existencial, visando melhorar a existência das pessoas. Assim, o vegetarianismo é opção pessoal, fruto do uso do livre-arbítrio das pessoas. A opção pelo vegetarianismo, fora do budismo, se justifica, até como preocupação com a saúde, eximindo a dieta de proteínas animais, o vegetariano estaria deixando de consumir toxinas. No contexto budista, há a alegação da compaixão e, extensivamente, a generosidade com todas as formas de vida, humanas ou não. A decisão, por parte dos budistas- a maioria opta pela cessação do consumo de carne e derivados- está embasada no primeiro item dos “Cinco Preceitos” , “ Não Matar”, que é, apressadamente associada, unicamente, ao homicídio (vide Capítulo 3 da obra “BUDISMO SIGNIFICADOS PROFUNDOS”, páginas 45 e 46). Os seres sencientes (animados) são dotados de sistema nervoso e sentidos, logo eles “sentem” e sendo capazes de sentir, possuem consciência da própria vida. São capazes de sentir raiva e tristeza, ou de reações de apreço e fúria, como é evidente em mamíferos- as vítimas preferidas para consumo de carne nas refeições humanas. Um dos empecilhos à realização da iluminação (ex-

tinção da ignorância e das aflições), alvo do budismo, e uma das causas do estado de penúria da humanidade é a crueldade contra todas as formas de vida. No budismo, dizemos que a nossa generosidade deve ser abrangente, incluindo todos os seres vivos e o meio ambiente. Se ficar focada apenas em seres humanos, será uma virtude parcial com benefícios parciais e, ainda, nos deixa expostos aos demais males provindos dos outros reinos da natureza. Embora o vegetarianismo seja- e deve ser mesmo- um ato pessoal, devemos considerar que a elevação da humanidade a melhores níveis existenciais, onde a civilização venha viver dias melhores, se prende também à melhoria nas relações humanas com os seres vivos, principalmente aqueles submetidos aos maus tratos e abatimento. Por outra, quem adota o vegetarianismo não tem licença para cometer outros tipos de abuso, como se apenas isso fosse suficiente para sua “espiritualização”, mas é certo que está construindo um “modo de vida” que o candidata a saúde mental, física e existencial. Nós humanos, com direitos desrespeitados e submetidos a um mundo no qual, eventualmente, a própria vida humana perde valor, temos muito o que refletir como isso se relaciona com modo que os povos tratam, há séculos, os animais. Em resumo, eles também sentem o abuso que sofrem, os mesmos sentimentos que padecemos, quando somos abusados, a diferença é que não podem fazer discursos em sua própria defesa.

A opção pelo vegetarianismo e produtos orgânicos tem aumentado no Brasil e no mundo 14 l MENTECORPO&VIDA


NOVOS TEMPOS Banhos menos demorados, providências urgentes em vazamentos de chuveiros, torneiras e tubulações: o uso criterioso da água e o rigor no controle do consumo vieram para ficar

O pesquisador do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espacial), Gilvan Sampaio, declarou à imprensa que, nas próximas décadas, os verões tendem a ser cada vez menos chuvosos. A declaração do cientista confirma as suspeitas da comunidade cientifica internacional acerca do aquecimento global. De acordo com Gilvan o “setor energético deve estar preparado para lidar com as mudanças climáticas”. No Brasil, a população pode se preparar para duas mudanças drásticas de hábitos, embasadas no alerta do pesquisador: 1 • Reduzir o consumo água ao máximo, combatendo o esbanjamento, vazamentos e desperdício.

A falta de chuvas em pleno verão se tornará cada vez mais frequente no Brasil nos próximos anos (...). A razão é o aumento da temperatura em todo o globo terrestre, o que tende a potencializar a intensidade dos eventos climáticos no futuro. A falta de chuvas, aliada ao consumo elevado de energia, contribuiu para reduzir significativamente o nível dos reservatórios das hidrelétricas. Os reservatórios do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, o maior e mais importante do País, operam com 35,5% da capacidade, menor nível desde 2001. GILVAN SAMPAIO

PESQUISADOR DO INPE (INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS)

2 • Reduzir o consumo de energia elétrica, cuja fonte principal são as hidrelétricas- que ficam na dependência direta do volume e do fluxo das águas- cujo consumo aumenta sensivelmente com uso de ar condicionado de sul ao norte do país. O brasileiro precisará conviver, além da escassez de água, com tarifas altas na conta de energia, que tenderá a fica mais cara no fim de ano para frear o consumo e custear a produção de energia através de outros meios, como termelétricas e eletronucleares. Apesar da estiagem atípica, as chuvas tenderão ser raras e vindo, virão em forma de fortes temporais, esporádicos, produzindo calamidades em áreas vulneráveis.

opinião OPINIÃO

Os governos assistiram, omissos, vazamentos da ordem de 30% a 40% das águas tratadas pelas tubulações destinadas ao abastecimento público. Tem sido assim ao longo das décadas. Também assistem ao aumento da demanda da energia elétrica em todos os estados, sem investir decentemente no setor. O consumo de energia tem sido maior e quase desenfreado no verão, desencadeado pelas recentes ondas de calor, como as descritas em 2014. Cada ano está mais quente que o anterior e as demandas por água e energia maiores. Parcela da população também não ajuda, além de nada cobrar dos governantes neste sentido, contribui para tornar nossas águas cada vez mais minguadas e imundas, sejam pelo consumo abusivo ou pela destruição do potencial hídrico, lançando lixo, esgoto e praticando desmatamentos irresponsáveis em tornos de nascentes e em margens de rios. Povo e governo enquanto evocam intervenção divina, pouco fazem para proteger ou reabilitar as matas, rios e nascentes.

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Organização atualiza a lista de produtos cancerígenos

OMS ASSOCIA ALIMENTOS PROCESSADOS À INCIDÊNCIA DE CÂNCER Após a Revolução Industrial no século XIX, o ser humano inovou sua capacidade produtiva, produzindo mais quantidade e maior diversidade de produtos em curto espaço de tempo. Contudo, esta agilidade tem trazido uma série de efeitos colaterais nocivos, desde a infestação do ar e das águas com poluentes, cada vez mais volumosos, até o comprometimento da qualidade dos alimentos, cada vez mais impregnados de substâncias corrosivas, usadas para incrementar sabores, aromas e coloração, ampliando também a vida útil dos mesmos. Surge, a partir da Revolução Industrial, o conceito de alimentos industrializados, como embutidos, bebidas e enlatados recebem ADITIVOS. Além de gosto, cor e aroma artificiais, recebem conservantes- todas provenientes substâncias 16 l MENTECORPO&VIDA

ácidas. Sempre se soube os riscos que alimentos processados ou industrializados podem acarretar para o organismo, mas o assunto nunca foi levado a sério ao ponto de merecer uma advertência clara e objetiva da Organização Mundial de Saúde- OMS. A alimentação é um dos itens que mais se artificializou ao longo das últimas décadas. Boa parte da humanidade negligencia o fato de que os hábitos de cada um são arquitetos do nosso corpo. Dos ossos à pele, passando pelas vísceras, circulação sanguínea e sistema nervoso, o corpo pode sofrer deterioração no todo ou um processo de desmanche em uma de suas partes. Órgãos como fígado, coração, estômago, rins e bexiga, por exemplo, podem ser danificados, ao ponto de al-


Consumidores mais conscientes evitam, sempre que podem, enlatados, embutidos e bane sucos artificiais e refrigerantes da rotina, pois, embora sejam catalogados como “alimentos”, estes produtos principalmente os fabricados artificialmente - não são, de forma alguma, alimentos.

guns deles adoecerem irreversivelmente e colapsarem. Em meio às certezas médicas, como os fatos do diabetes, hipertensão arterial, infarto e outras doenças poderem ser evitadas, a partir da revisão de hábitos- dentre eles os alimentares- muito se tem debatido na literatura médica sobre que tipos de alimentos poderiam estar

NO ALVO Organização mundial da Saúde declara salsicha, presunto, linguiça e bacon como cancerígenos

associados ao surgimento ou agravamento de tumores cancerígenos. No dia 26 de outubro de 2015, a Organização Mundial de Saúde surpreendeu o mundo ao declarar, clara e objetivamente, que alimentos como salsichas, bacons, presuntos e linguiças, entre outros, são sim ELEMENTOS CANCERIGÊNOS e desde então estão listados dentre os vilões da saúde pública mundial e, ao lado do cigarro, passaram a ser associados cientificamente à tumores. O churrasco, mesmo realizado com outros tipos de carne, entra nesta lista devido ao alcatrão liberado pela fumaça do carvão. A notícia, embora tenha surpreendido aos consumidores, não nos surpreende, mas há outros produtos processados e industrializados, não citados, contendo elevada dose de corrosivos e, por extensão, seriam igualmente ofensivos à saúde humana. O que falta é uma clara posição da comunidade científica a respeito deles. Consumidores mais conscientes evitam, sempre que podem, enlatados, embutidos e bane sucos artificiais e refrigerantes da rotina, pois, embora sejam catalogados como “alimentos”, estes produtos- principalmente os fabricados artificialmente- não são, de forma alguma, alimentos. Sabor, cores, aroma são manipulados quimicamente e com esse processamento ficam atrativos aos sentidos. Saturados de aditivos, mas

destituídos de nutrientes ou com baixa dosagem dos mesmos, quando absorvidos pelo aparelho digestivo sua atuação implica risco de corrosão da estrutura fisiológica, gerando ou agravando doenças. Ninguém precisa ser médico para saber que o corpo humano, submetido à alimentos industrializados, absorve corantes, aromatizantes e conservantes. Está exposto a microdoses de venenos. O corpo humano pode neutralizá-los quando o consumo é eventual, porém o problema é que eles fazem parte da rotina de vida de quase toda população, isto tudo sem falar do consumo de alimentos transgênicos, cujos riscos à saúde humana em longo prazo não foram, ao nosso ver, suficientemente estudados. O futuro nos dirá ao que vieram. Análise do artigo de James Gallagher , Editor de Saúde da BBC News • http://www. bbc.com/portuguese/noticias/2015/10/151026_carne_cancer_oms_fn.shtml

PESQUISAS ASSOCIAM O CÂNCER AOS HÁBITOS DE ALIMENTAÇÃO O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que, no Brasil, serão totalizados 32.600 novos casos de câncer colorretal ao longo deste ano. 15.070 acometerão homens e 17.530, mulheres. Esse tipo de câncer é o segundo mais frequente em homens e mulheres na região Sudeste. Entre os homens, o tumor colorretal fica atrás apenas do câncer de próstata e entre as mulheres, do tumor de mama. Fonte: Jornal O Globo

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CÂNCER DE PELE Por Andressa Hornung do Hospital Maternidade São Luiz- SP

A radiação ultravioleta é o principal responsável pelo desenvolvimento do câncer de pele e a maioria dos casos esta associada à exposição excessiva ao sol. Como a incidência dos raios ultravioletas está cada vez mais intensa, as pessoas de todos os fotótipos devem se proteger quando expostas à luz solar. Pele clara, sardas, cabelos claros ou ruivos e olhos claros exigem maiores cuidados, pois estão mais propensos ao câncer de pele. Aqueles que possuem antecedentes familiares com histórico da doença também devem ter atenção redobrada. O sol que pode provocar o câncer de pele é cumulativo, ou seja, aquele que você tomou desde criança e não apenas no último verão. A radiação ultravioleta penetra profundamente na pele, sendo capaz de provocar alterações que vão desde o bronzeamento até o surgimento de pintas, sardas, manchas e rugas. A pele leva de 48 a 72 horas para produzir e liberar a melanina, pigmento que dá a cor à pele, portanto, ficar muito tempo exposto ao sol, não irá acelerar este processo. A exposição solar em excesso também pode cau-

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COM A NOTÍCIA DE QUE OS VERÕES ESTARÃO CADA VEZ MAIS QUENTES E SECOS É BOM CUIDAR DA PELE... sar tumores na pele, que podem ser benignos (não cancerosos) ou cancerosos. A doença é provocada pelo crescimento anormal e descontrolado das células que compõem a pele. INSOLAÇÃO Quando nos expomos ao sol e a altas temperaturas, corremos o risco de desenvolver um episódio de insolação. A insolação ocorre como consequência da desidratação extrema e o organismo fica incapacitado de controlar sua temperatura. A transpiração é o principal mecanismo de perda de calor do corpo humano. Durante a insolação, a temperatura central aumenta e a pessoa para de suar. A perda da capacidade de resfriar o corpo indica o primeiro sinal de alerta. Simultaneamente, ocorre alteração da consciência e do comportamento, a pessoa pode ficar sonolenta e confusa. A insolação é resultado do aumento da temperatura e não necessariamente da exposição solar, portanto o uso de protetor solar não impede seu aparecimento.


Alimentos transgênicos, você comeria?

O mundo tem debatido a produção e o consumo de produtos geneticamente modificados, os chamados transgênicos. Para se ter uma ideia de como os países mais desenvolvidos do mundo encaram a produção de alimentos geneticamente modificados, basta dizer que já em 2008, a Romênia, principal produtora de milho da União Europeia, anunciava que estava banindo do próprio país o milho geneticamente modificado, o MON810. Esse é o primeiro ponto, o segundo é que esse era o único grão transgênico cultivado na Europa. O maior produtor de milho da Europa desistiu, há cerca de 7 anos, de oferecer ao seu próprio povo um produto geneticamente modificado. Com a decisão, a Romênia se tornou o oitavo país da União Europeia a banir o milho transgênico. França, Hungria, Itália, Áustria, Grécia, Suíça e Polônia já haviam decidido, no fim da década passada, que seus povos não consumiriam produtos desta natureza. No campo animal, a China, onde não há tradição de defesa do consumidor, já se fez testes com as primeiras vacas transgênicas, resistentes à tuberculose. Futuramente, os animais serão destinados a produção de elite. No EUA, o único caso de destaque é o do salmão modificado, que fica com tamanho de adulto em um ano (pelo ciclo natural de vida levaria três) foi autorizado, depois de 25 anos de pesquisa, sem a etiqueta “transgênico”, o que tem motivado protestos de consumidores e ativistas antitransgênicos, que lutaram contra a autorização e que agora querem o rótulo, contudo, na Europa o mesmo não pode ser introduzido e vendido. Na Europa, onde as leis são mais rígidas na defesa do consumidor, os países ainda debatem a questão e tendem a seguir proibindo alguns produtos e analisar a possibilidade de liberar outros, mas com a etiqueta “transgênico” em suas embalagens, demonstrando grande preocupação com a segurança alimentar e respeito ao direito de informação e liberdade de escolha

do consumidor. Alimentos transgênicos, como comeria? Se você respondeu “não” à pergunta, logo no título, está completamente enganado. Você come, e come sem saber... O governo brasileiro fez o caminho inverso dos países mais sensíveis a segurança alimentar, não só autoriza a produção e a venda, mas também decidiu, sem se deter nas consequências futuras de sua decisão, enfiar goela a baixo do brasileiro os transgênicos. E ainda fez pior, o Congresso Nacional roubou dos brasileiros o direito de saber o que é ou não de origem transgênica nas prateleiras dos supermercados, roubando também sua liberdade de escolha. O projeto, de autoria do deputado federal Luiz Carlos Heinze (PP/RS), que tornaria dispensável essa informação teve 320 votos a favor e 135 votos contrários e, assim, desde abril, o Brasil não apenas fez o oposto da Europa, ao permitir precocemente a produção e o consumo, mas também colocou uma venda nos olhos dos brasileiros que passaram a consumir produtos geneticamente modificados sem se dar conta. De acordo com o Instituto de Defesa do Consumidor, os principais produtos, contendo grãos transgênicos são: óleos de soja, bolachas, biscoitos, margarinas, enlatados e papinhas de bebês, dentre outros, as marcas que usam o não estes grãos não são diferenciados. Quais as implicações disso? Pelas contas da Organização Mundial de Saúde, a população brasileira já é a maior consumidora de substâncias agrotóxicas do mundo. Produtos com mudanças genéticas suportam maior carga de pesticidas e para proteger a safra das perdas provenientes da ação de parasitas, insetos e microrganismos os produtores não estão economizando em agrotóxicos. Se estes alimentos têm ou não a capacidade de produzir anomalias no DNA humano só saberemos daqui algumas gerações. MENTECORPO&VIDA l 19


DEFESA E PROTEÇÃO DOS ANIMAIS População e polícia começam a advogar causa dos animais submetidos a abusos e maus tratos Amanda Matoso D’Ottavio

Veterinária e ativista

Edição ARISTIDES DOS SANTOS

DENÚNCIA É importante denunciar os casos de maus trator presenciados a esses animais, chamando a polícia e citando o Art. 32 da da Lei Federal de Crimes Ambientais 9.605/98. A denúncia é essencial para poder salvar as vidas desses animais, como no caso da égua Esfolada no Rio Grande de Sul, no início de mês de novembro, resgatada pela polícia militar após uma denúncia, caída de exaustão, prenha e com diversas feridas e lesões pelo corpo. O carroceiro foi autuado em flagrante e responderá por maus tratos. A égua foi encaminhada para uma chácara, que já recebeu diversas espécies de animais, todos vítimas de maus tratos.

Mulheres exigem, índios imploram, homossexuais reivindicam direitos. Grupos de todo tipo apresentam sua pauta de demandas, mas, infelizmente, os animais não possuem voz, eles mesmos não podem fazer discursos reivindicando tratamento digno e respeitoso. Essa causa quem advoga são os defensores dos animais. 20 l MENTECORPO&VIDA

Não há uma estatística oficial, contudo, uma rápida pesquisa pelo Google aponta para numerosas reportagens da imprensa sobre a rotina cruel a qual animais de carga são submetidos. Ainda é grande o número de animais que morrem em decorrência do trabalho excessivo em veículos com tração animal. O uso de tração animal é geralmente utilizado por pessoas de baixa renda como uma alternativa econômica a um veículo motorizado, colocando esses animais expostos a todo o tipo de perigos e sofrimentos. As espécies mais visadas para esse fim são os equinos, muares e asininos. A grande maioria deles passa a vida trabalhando com carga excessiva, acima de suas capacidades, por longos períodos sem descanso, alimento ou sequer água. São açoitados em regiões corporais excessivamente sensíveis a dor enquanto suas necessidades básicas, quase sempre, não são supridas. Estes animais são privados também de socorro, em caso de doenças e acidentes, e de acompanhamento veterinário. Quase sempre não recebem tratamento digno e respeitoso. Além desta lista de abusos, muitos proprietários, quando não estão fazendo uso do animal, o utilizam como fonte de renda, locando-os a terceiros e assim forçando o animal trabalhar durante o dia e, às vezes à noite. Em diversas cidades já é ilegal o uso de tração animal em carroças e afins. Em São Paulo, por exemplo, é proibida a tração animal em todo o perímetro urbano do município, segundo a Lei Municipal Nº 11.887, de 21 de setembro de 1995. Porém, a legislação é completamente ineficaz para coibir essa prática tão dolorosa e extenuante aos animais por não haver um órgão fiscalizador designado para esse fim. Existe a lei, mas a fiscalização e a punição existem, mas são raras. Vítimas do descaso, exaustão, doenças e abandono ou sacrifício na velhice, os animais são abandonados em vias públicas ou largados em terrenos baldios, esperando uma morte lenta e dolorosa. Em vida, a maioria trafega em vias públicas, contrariando as leis de trânsito e as normas de segurança, correndo riscos de acidentes e atropelamentos, guiados por todo o tipo de pessoa, inclusive menores de idade. Nesses casos, cabe ao cidadão cobrar do Detran essa fiscalização.


GESTANTES EXPOSTAS À PICADA DO “MOSQUITO DA DENGUE” PODEM TER FILHO COM MICROCEFALIA Casos, cada vez mais numerosos da doença, alarmam autoridades devido a proliferação do aedes aegypti no país Não bastassem a evolução (adaptação às águas sujas e clima frio) e o fortalecimentos das asas, o mosquito aedes aegypti também se diversificou na capacidade de perturbar a saúde dos seres humanos e já está sendo acusado de provocar um outro mal, além da dengue, febre chikungunya e zika , sem falar da malária, devidamente controlada. Desde novembro de 2015, o inseto passou a ser acusado como responsável de algo muito mais grave. Nas centenas de casos de bebês que nasceram com microcefalia no país, todas as gestantes foram diagnosticadas como portadoras do zika vírus e as crianças também. Em português bem claro, foram picadas pelo “mosquito da dengue”. Considerando a adaptação e a proliferação do mosquito, praticamente fora de controle, o Brasil já declarou estar lidando com o risco de uma epidemia, o que para este redator é muito grave, pois o resultado

dos estudos médicos potencializa qualquer mulher brasileira, durante a gestação, vulnerável a picada do aedes aegypti, como sujeita ao zika vírus- primo do vírus da dengue, igualmente transmitidos pelo inseto- podendo ter um filho portador de microcefalia. A criança afetada pela infecção nasce com cérebro menor do que o normal e em 90% dos casos, o desenvolvimento mental e físico da criança ficam comprometidos. Nos primeiros dias deste ano, o país contabilizava 3.174 casos suspeitos de microcefalia. Os primeiros 478 casos foram registrados em Pernambuco, mas a doença não está mais circunscrita ao nordeste, já temos os primeiros casos na região sudeste e o surto pode sair do controle, devido a grande dificuldade de controlar a infestação do aedes aegypti no país. Os cientistas declaram que o vírus, absorvido pela gestante via picada, atravessou a placenta e provocou infecção no cérebros da crianças.

ORIENTAÇÕES DO MINISTÉRIO DA SAÚDE PARA AS GRÁVIDAS • Proteger-se das picadas de insetos, evitando horários e lugares com presença de mosquitos e, sempre que possível, utilizar roupas que protejam o corpo. Consultar o médico sobre o uso de repelentes e verificar atentamente no rótulo a concentração do produto e definição da frequência do uso para gestantes. Além disso, telas de proteção, mosquiteiros e ar-condicionado também são medidas de proteção. • Atualizar as vacinas de acordo com o calendário vacinal do programa nacional de imunização do Ministério da Saúde

Mais um motivo, talvez o mais grave deles, para os brasileiros não darem trégua ao combate dos criadourosMENTECORPO&VIDA l 21 do inseto.


PERDOAR O IMPERDOÁVEL

Você é capaz? Por Masataka Ota Vereador em São Paulo

No dia 30 de agosto de 2015, completaram-se 18 anos desde o cruel assassinato de meu filho Ives, com dois tiros no rosto. Perdoei seus algozes, os sequestradores, e ainda passei pela situação de receber um convite para ir à cerimônia de colação de grau deles, hoje advogados inscritos nos quadros da OAB. Daí surge a pergunta que me fizeram outro dia: você perdoou? O que é perdoar? Perdoar é esquecer? Não, jamais. Explico: perdoar é algo muito maior: é livrar-se do peso de carregar consigo algo que o consome dia-adia, mais do que aquilo que lhe infligiram como o pior dos males. Você não sabe e não entende o porquê, apenas sente que se livrou de uma tonelada nas costas. Talvez seja uma das mais poderosas experiências, única e intransferível, que um ser humano possa vivenciar. Na outra mão, alimentar-se do sentimento de vingança é, na verdade, deixar de viver a vida; melhor, é amarrá-la na existência do outro, objeto de sua vingança. Passei por isso e vi inúmeros outros homens e mulheres descreverem o mesmo sentimento. Perdi alguns anos de vida, e quase minha família, até chegar à conclusão de que estava prestes a me tornar o maior colecionador de perdas. Nós, brasileiros, somos um povo carente de heróis. Escolhemos um, de acordo com o momento e a conveniência. Somos movidos por ímpetos oportunistas. Passa a onda, passa o lampejo de mudar. Troca-se o herói e pronto! Retornam o conformismo e o oportunismo de transferir para outros a responsabilidade de mudar nosso amanhã. Esta aí, o porquê de sermos o eterno país do futuro. Tenho para mim que perdoar é um exercício de inteligência, da capacidade de se adaptar, de ser resiliente, enfim, de tocar a vida. Nunca disse que esqueci o que aconteceu comigo. Seria mentira. E, sinceramente, acredito que nós, brasileiros, já temos vivido muitas por tempo demais. Chegou a hora de perdoarmos o imperdoável e assumirmos a responsabilidade pela nossa história. Chega de viver de ilusão e dor. 22 l MENTECORPO&VIDA

Keiko Ota, agora como deputada federal e Masataka, como vereador, após a perda do filho, lutando para melhorar as leis do país

NOTA DO EDITOR DA REVISTA Este é “Caso Ives Ota”, como ficou conhecido. Trata-se do sequestro de um menino de oito anos e que foi morto, depois de reconhecer um dos criminosos, que era policial e fazia a segurança de uma loja da família na cidade de São Paulo- que trouxe para o país o conceito de lojas de variedades em preços populares, as famosas “ lojas de 1,99”. O fato se deu em 29 de agosto de 1997 e chocou o país.


Carta de despedida de 2015 Por Cecilia Lodi

Não sabia como começar a minha carta anual de felicitações. Todos os anos escrevo dizendo um pouco do que vi, aprendi e senti. Percebi ao longo do tempo que aquilo que era importante para mim, ajudava em alguma coisa àqueles que me são queridos. Mas neste ano as primeiras linhas estão sendo muito difíceis. Este foi um ano para lá de intenso. 2015 foi um ano de fechamento de ciclos. Um ano de revelações, um ano de experiências intensas, na mente, na alma e no coração. Descobri, neste ano, que nada na vida é desprezível. Que cada experiência, cada conhecimento adquirido em nossas vidas compõe o que somos e, principalmente, é importante para o que viemos, aqui, fazer. Cada encontro, cada objeto, cada fase, me trouxeram até aqui. Em alguns momentos me vi lembrando de uma fábula contada para mim na infância, me vi usando meus não tão agradáveis momentos passados para ajudar alguém no futuro. Neste ano vi as armadilhas do ego capturarem suas presas. Vi a insensatez levar, como um tufão, escolhas de uma vida. Vi o desespero, o abandono, a fraqueza e a fragilidade (não são a mesma coisa, se você pensa que é). Vi Deus nos convidar todos os dias a professar aquilo que acreditamos e vi, muitas vezes, eu e mais tantos fracassarem nesta tentativa. Vi algumas pessoas envelhecerem e se tornarem pessoas maravilhosas e vi pessoas maravilhosas se encolhendo na amargura. Vi pessoas desistindo de outras. Vi pessoas descobrindo a si e ao próximo. Vi escolhas. Vi muitas escolhas. Terríveis escolhas. Foi um ano onde não havia espaço para lágrimas. Mas mesmo assim assisti a muitas, inclusive as minhas. Este foi um ano que ficará tatuado no coração de cada um de nós. 2015 foi um ano para determinados. Aqueles que foram forjados em uma têmpera resistente. Muitos caíram e deverão buscar novas estradas. Outros, baixaram suas velas, amarraram o que valia a pena ao mastro e seguem, bravos, para este futuro incerto. 2015 foi um ano para se separar o supérfluo do que é real. Foi um ano para dissolver ilusões. O ano começou sinalizando que enfrentaríamos uma tormenta, mas não conhecíamos a profundidade da experiência. O Brasil passava por uma faxina que foi mostrando que alguns cômodos mereciam uma reforma completa. As paredes do país não precisavam apenas de uma tinta nova. Era o momento de se avaliar se as fundações resistiriam ao futuro. Assistimos os castelos da impunidade desabarem assim como os castelos dos modelos econômicos, da resistência passiva à pobreza, ao sofrimento e a injustiça. Milhares de pessoas, no mundo, chegaram ao fundo e não tem mais nada a perder. Momentos muito parecidos aos que precederam a primeira e segunda guerra. Novas ondas migratórias mudarão as relações e fabricarão nossas regras de convivência, trabalho, distribuição, da vida enfim.

O Brasil sofreu um estupro político, mas sobreviveu. Esta é uma terra grande demais para oportunidades mesquinhas. Nossa viagem se alongou um pouco mais pela espoliação dos piratas, mas seguimos. Em março, o ano me presenteou com a visitação a um teatro que resistiu a milênios de dissabores. A viagem à Turquia mostrou que tudo pode mudar em um segundo. Usufrui de lugares paradisíacos, desfrutei das várias verdades do mundo. Aquele país maravilhoso já não é mais seguro. Uma das pessoas que me acompanhou não está mais entre nós. A realidade nos presenteia com sua acidez. Outro dia, num documentário qualquer, ouvi um astronauta dizer que há vida em outros planetas, mas que a distância é inalcançável. Ao admirarmos as imagens, percebo que não faz sentido para mim buscar beleza maior que esta, de nosso planeta. Ainda, acredito que a beleza do mundo está dentro de nós. São os nossos olhos que fazem a cachoeira, os corais da Austrália, a neve do Tibet, as cerejeiras do Japão. Se dentro de nós não existe a beleza, não enxergaremos nada além. 2016 será um ano talvez mais difícil que este. A segunda pedra no rim sempre dói mais que a primeira pois agora sabemos o que está por vir. Apenas nosso trabalho, nosso amor e nossa fé nos amparará. E no fundo, isto é o que nos enobrece como seres humanos. São os tempos difíceis que nos fazem revelar o nosso melhor. Encontro pessoas que trazem olhares apreensivos pelo futuro, outros que olham com ceticismo, outros ainda que não percebem que o mundo está em delicado momento. Cada um absorve o mundo por sua própria luneta. 2016 nos chama para a batalha. Será uma batalha de resistência física, emocional e principalmente moral. Nossos credos serão testados, nosso altruísmo também. Será testada também a nossa capacidade de oferecer nossa mão, tão ferida, para ajudar a outros. Só existirá escapatória àqueles que perceberem que, sendo interligados, não existe outro caminho senão o da cooperação. As sementes que plantamos no passado já brotaram há muito tempo. São elas que nos alimentarão nos dias que virão. Nosso futuro nos aguarda. É um livro recém comprado para colorir. Não daríamos valor ao dia se não houvesse a escuridão. Somos predestinados a ter nossa força e nosso caráter testados de tempos em tempos, mas iremos sobreviver, se soubermos tomar nossas decisões.Para o ano de 2016 devemos abandonar o que é só aparência e vaidade. Este tempo está terminado. As máscaras estão caindo em todos nós. Devemos nos dedicar de corpo e alma ao que é realmente importante. É tempo de aprender a criar o real. Atender, de fato, as necessidades das pessoas e não aos desejos. Acredito que os anos vindouros serão transformadores. Cada vez mais percebemos que não há sentido de trocar nossas vidas por coisas. Quanto custou esta bolsa? Cinquenta, cem, mil horas de trabalho? Estamos percebendo que o real não é necessariamente o concreto. Estamos descobrindo que é um abraço dado na hora certa, uma lágrima partilhada, é um riso provocado pela amizade, a cumplicidade do verdadeiro amor. Chega enfim a hora dos meus desejos. Na carta do ano passado desejei que este ano valesse a pena. Ele valeu. Na dificuldade encontramos riqueza, encontramos verdade. Valeu. Para este ano desejo a você Fé. Fé que brota do carinho. Fé que acende nossos corações e supera nossas mágoas. Fé que define nossa força, nossa capacidade de nos erguer no meio da tempestade. Fé que nos dá a serenidade e a sensação que tudo isto passará. Desejo também que, no momento de uma encruzilhada qualquer, você escolha sempre o caminho do amor. Nada mais é necessário. Amor ao outro, ao seus pais, àqueles com que partilha sua vida, àqueles que lhe deram as oportunidades e àqueles que lhe deram as lições. Todo o resto são apenas coisas, pedaços de carbono sem valor. Que em 2016 a cortina das ilusões esfarele-se ainda mais e que o horizonte se revele numa energia que te tira, com vontade, da cama, de manhã. Que faça você olhar para seu lado e perceba a real matéria das suas relações. Que te inspire para o futuro e lhe forneça as ferramentas para construí-lo. Simples assim.Eu, como sempre, estarei lá para o que precisar. O seu sucesso é a minha realização. Cada um que conheci já faz parte da composição de cada uma das minhas células. Minha energia. Um grande ano para você e para todos os seus. Que a viagem seja, no mínimo interessante para cada um de nós. E que venha a Austrália.

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