O calçadão flip

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EDITORIAL l DESPEDIDA Começo nossa conversa fazendo uma revelação: tenho pouco tempo de vida. Prefiro falar agora a ficar enrolando até o final. Ninguém além do meu médico sabia disso até agora. Até minha família vai saber depois de ler aqui. Vou falar para vocês como descobri... Meses atrás tive um problema na perna esquerda, diagnosticado por um médico local como Trombose. Desde então fiz alguns exames e procurei um especialista em Juiz de Fora. Ao apresentar o resultado dos exames, o médico me deu uma notícia que me tirou o chão. Disse, em outras palavras, que tenho pouco tempo. Uma notícia que faz qualquer sujeito refletir sobre a própria história. Segurei a emoção e pensei o que já vivi até então, pensei principalmente na minha família e também nos amigos. O que eu poderia ter feito de bom ao longo dos meus 42 anos. Não sou como aquelas pessoas que têm preguiça de pensar, que, quando perguntamos sobre algum assunto, ela logo responde, por reflexo condicionado, que não sabe, que não tem ou que não viu, mas na verdade nem escutou direito o que foi perguntado. Até para ver um filme gosto de silêncio para entender cada palavra, acredito que ampliamos nosso conhecimento desta forma. E, sendo tão detalhista, pensei bastante sobre toda a informação que acabara de ser repassada. Decidi manter sigilo e continuar trabalhando. Estou muito feliz escrevendo esta revelação e também ficarei feliz ao entregar os jornais aos meus leitores. Sei que alguns nem me conhecem, outros muitos só vão ler depois e nem se lembrarão de quem entregou o jornal. Mas estas palavras vão se multiplicar e farão muita gente valorizar este presente de Deus, a vida. Tenho certeza no meu coração que não estou fazendo sensacionalismo com o que escrevo aqui, e também não estou

muito preocupado com opiniões adversas, pois nem Jesus agradou a todos. Resolvi abrir o jogo, pois em breve será notório. Todos vão perceber as mudanças no meu corpo, minha pele, cabelo, voz, muita coisa vai mudar. Procuro ensinar aos meus filhos o valor da emoção, a qual é importante para termos empatia diante dos outros seres da Terra, pra isso não repreendo quando vêem um filme e choram, mostro sempre exemplos na internet, televisão, livros, jornais e vida real. Dou o exemplo também, não seguro minhas emoções pra mostrar força ou um falso equilíbrio robótico. Talvez por isso o Lula seja querido por uma grande parte da população e a Dilma tem grande dificuldade de aceitação. Emoção é um dos maiores ingredientes do carisma. O que dá sustentação e equilíbrio real são os aprendizados básicos. Todos, homens e mulheres, pobres e ricos, todos têm que aprender coisas básicas. Quem nunca viu empresários bem sucedidos perdendo o controle, desmoronando e pondo tudo a perder? Quem nunca viu um intelectual, angustiado, achando que a vida está totalmente sem comando? Em comum ambos podem ter construído uma reserva de conhecimento nivelada por cima, advogados, médicos, engenheiros, com seus mestrados e doutorados, mas não conseguem fritar um ovo, pregar um botão, não sabem bater um prego, lavar o banheiro, varrer a casa, arrumar uma gaveta ou lavar as próprias roupas. Em contrapartida conhecemos pessoas sem muito estudo, que têm um autocontrole de fazer inveja aos melhores jogadores de poker. A explicação está no fato de todos os seres humanos possuírem uma formação de aprendizagem evolutiva, ou seja, partimos do básico ao complexo. Sendo assim, os indivíduos que aprendem o básico se sentem

completos, prontos para uma próxima etapa, sem lacunas de informação. Já os diplomados que não sabem fazer coisas simples, do dia a dia, se sentem incompletos, e o espaço vazio pode ser preenchido por insegurança, desespero e até depressão. O inconsciente não compreende como uma pessoa que adquire um conhecimento tão específico e peculiar, não consegue realizar atividades tão simples. Tudo isso passa despercebido por conta das nossas funções diárias e habituais, no entanto se acumulam como vapor numa panela de pressão, até que surge um problema corriqueiro de ordem particular pelo caminho e a tampa explode. O gigante do conhecimento desmorona, pois se acha incapaz para resolver problemas banais. A solução se encontraria no espaço comum que Deus criou para nivelar a raça humana, o conhecimento básico de sobrevivência. Lá encontramos a superação do medo, o qual é necessário para a autopreservação da espécie. Se cientistas descobrissem uma forma de acabar com o medo, em poucos meses estaríamos extintos. Pra quem ver um ato de coragem parece que para o corajoso foi tão fácil como entrar num chuveiro frio no inverno sem dar pulinho. O medo é um dos sentimentos mais importantes para a humanidade, tão formidável que alguns dos melhores velejadores do mundo não sabem nadar. Melhor sermos cúmplices do destino do que sermos coniventes com o acaso. Sou extremamente otimista e sempre vou acreditar que os cientistas descobrirão uma forma de prolongar a vida de toda a raça humana, inclusive a minha. Quem está lendo esse texto e me conhece, peço que não fique triste, sou um cara feliz e grato a Deus por tudo e sei que Ele sabe o que está CONTINUA NA PÁGINA 2


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