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O grande mal do nazi-fascismo

O nazi-fascismo deixou feridas difíceis de cicatrizar até nossos dias. Sua ação desumana mais conhecida foram os campos de concentração construídos entre 1933 e 1945 que eram lugares de exploração do trabalho dos adversários do regime, mas gozaram de negra fama por prender, torturar e executar milhões de judeus durante o Holocausto, na Segunda Guerra Mundial. Os campos de concentração eram organizados para aproveitarem do trabalho dos judeus que conseguiam trabalhar, matando velhos e crianças, e por manter os trabalhadores em situações desumanas, mal alimentados, mal vestidos, sujos, vítimas de maus-tratos e todo tipo de abuso inclusive transformados em cobaias para pesquisas médicas.

Os nazistas iniciaram a Segunda Guerra Mundial para expandir a Alemanha. O argumento desenvolvido ao longo da década de 1930 foi a justificativa nacionalista da necessidade de mais espaço vital. O estopim para o conflito deu-se com a invasão da Polônia realizada em setembro de 1939. A Segunda Guerra Mundial ficou marcada pelos horrores do Holocausto e pela brutalidade do maior conflito da história humana. Portanto, quando olhamos para o rastro de destruição e brutalidade imaginamos que esse foi o grande mal do nazismo.

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De fato não se pode pensar em maior mal quando se tem em vista famílias destruídas, nações arruinadas, patrimônio arrasado. No entanto há um mal que considero maior, a destruição de almas simplórias e pouco críticas. É claro que temos uma elite muito preparada e consciente do que queria e de como alcançar seus objetivos. Sabiam que precisavam triturar o Estado de Direito e o fizeram usando a força dos fanáticos, os famosos camisas negras. Na Itália, os camisas negras eram grupos paramilitares que apoiavam Mussolini, formando uma milícia voluntária para a segurança nacional e defesa do líder, organizados à parte das forças legais e das forças de segurança, mas que mais tarde tornaram-se uma organização militar regular daquele país. O mesmo ocorreu na Alemanha nazista. Em ambos os países, os líderes (o Duce ou Führer em alemão, isto é, o condutor, guia, líder ou chefe, mito na versão tupiniquim) foram eleitos, mas uma vez no poder cuidaram de desmoralizar a democracia, acusando seus líderes de corruptos e fracos. Esse é o passo inicial fundamental para o nazi-fascismo, desmoralizar os líderes democratas, acusando-os de fracos, incompetentes e corruptos. Hitler e Mussolini cuidaram de tutelar e desmoralizar os políticos e assumir o controle do judiciário, perseguiram e destruíram os juízes que não se submeteram ao golpe que perpetraram contra a democracia. Contra ela tramaram e a destruíram com um discurso simulado.

Como forma de explicar os problemas nacionais, os nazifascistas atribuíram-no à ameaça do comunismo que, na sua versão stalinista, era tão totalitário e nefasto quanto o nazi-fascismo. Como o comunismo tinha um discurso materialista, a estratégia nazifascista foi se aproximar do tradicionalismo religioso, propondo a defesa de valores caros ao ocidente: Deus, pátria e família. (Não é coincidência a retomada do bordão integralista). No entanto, nunca se tratou de fé legítima, de patriotismo sadio e de defesa do amor como força criadora da família. Temos uma religiosidade autoritária impondo um cristianis- mo deturpado, um nacionalismo doentio e um modelo de família tradicional, homofóbico, preconceituoso e machista. Tratava-se de uma forma empobrecida de lidar com as transformações do mundo que vinha com a independência financeira da mulher, e com a luta das minorais por espaço. A massa se ajustou fácil ao discurso nazifascista e calou as minorias de excelência (intelectuais, cientistas e artistas).

Embora a brutalidade e as ações práticas do nazi-fascismo tenham sido terríveis e visíveis, considero que o mal maior do sistema foi ter usado pessoas comuns, antes ocupadas com suas rotinas e em cuidar da família, como instrumento de um plano político doentio e brutal. Assim, destruindo minorais excelentes, perseguindo intelectuais, artistas e religiosos autênticos, desmoralizando os políticos e a democracia, queimando livros, tutelando as universidades, destruindo o livre pensamento com mentiras (hoje chamadas Fake News ), controlando a produção artística, impondo teorias falsas (superioridade ariana), rejeitando a ciência no que contrariava a ideologia nazifascista, propagando o discurso antirracional (hoje chamado de terraplanista), perseguindo os judeus e adversários do regime, impondo um capitalismo selvagem e tutelado pelo Estado, impondo um falso discurso religioso, esse sistema destruiu a alma ocidental que foi alimentada com séculos de história e que culminou no Estado de Direito e na Democracia enquanto regime político. Tornou a democracia com excelência em democracia de massas.

PROFESSOR DA UFSJ E DO UNIPTAN

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