TADJIQUISTテグ RE V IS TA DE V IAGENS PRODUZIDA POR EDSON WALKER
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O Tadjiquistão é mais um daqueles lugares do mundo que é sinônimo de aventura. Aqui não tem moleza, mas tem muita beleza em troca do seu desconforto. Sempre achei essa uma troca justa, e não deixou de ser, nesse país ainda tão desconhecido por nós. O povo tadjique é descendente dos persas e sua língua ainda é muito parecida com a falada no Irã. Eles já foram, muito tempo atrás, seguidores de Zoroastro e do islã, que chegou mais tarde e acabou misturando-se com elementos animistas da sua cultura original. Aqui você vai se encantar com a natureza e o estilo de vida dos moradores das vilas instaladas há milênios nos vales e encostas das magníficas montanhas sempre presentes em todas as paisagens do país. Tem lagos de águas cristalinas, geleiras, picos nevados, gêiseres, águas termais, latrinas e estradas esburacadas. Boa leitura e boa viagem.
edição, diagramação fotos e textos edson walker revisão ortográfica tânia ottoni outubro 2013
guardi達o da fronteira
pamirs tadjiquist達o
sol em pelĂcula
pamirs tadjiquist達o
montanhas atravĂŠs da janela
pamirs tadjiquist達o
Por que será que todo mundo me pergunta se eu já assisti ao filme “Na Natureza Selvagem”? Claro que sim, não é? Não tem como não se identificar com ele, pois todos nós temos algo do personagem principal incomodando em nossos corações. Quando o filme foi lançado, eu havia até lido o livro, que achei meio que abandonado numa feira do livro de Santa Maria. Ontem, um ciclista espanhol me perguntou o que eu achava da frase no final: “A felicidade só é verdadeira quando compartilhada.” Não sei ainda bem como explicar, mas de certa forma, não consigo concordar com isso. A felicidade verdadeira é, por si mesma, completa. Não precisa ser compartilhada. Ela é compartilhada naturalmente e não precisa que postemos um comentário no Facebook dizendo o quanto estamos felizes. Quando compartilhada, ela se torna, muitas vezes, apenas uma representação. A verdadeira felicidade para mim é quando fechamos os olhos e respiramos fundo. Mas, toda semana tento compartilhar com meus leitores um pouco dessa felicidade que sinto ao conhecer coisas novas, afinal, esse é o meu trabalho. O conhecimento é também fonte de felicidade e viajar é um constante aprendizado. Para quem sentiu falta da coluna na semana passada e já está esperando histórias de cadeias e policiais corruptos, lamento decepcioná-los, pois o motivo do meu desaparecimento desta vez é muito melhor.
amigos de estrada A história começa na segunda-feira da semana passada, ainda no Quirguistão, quando deixei a cidade de Osh em direção à fronteira do Tadjiquistão. Foi a última vez em que vi internet, além de algumas vãs promessas escritas em placas de estabeleci-
mentos nas vilas da famosa estrada “Pamir Highway” que atravessa as montanhas do Tadjiquistão. Essa é uma das regiões mais belas, mas também, mais remotas do mundo. Por aqui até tem estrada mas não tem muita gente que as usa além de turistas que passam em bicicletas, motos ou carros alugados. Tem também, é claro, as histórias dos traficantes que a usam para transportar as drogas produzidas no Afeganistão. Não existe nenhuma opção de transporte público. As estradas são abandonadas e o terreno é extremamente difícil por causa das altas montanhas, dos rios e desertos. Meu visto do Quirguistão iria vencer naquele 11 de setembro e eu estava a 25 km da fronteira. Na minha frente, um vale plano com uma imperiosa cadeia de montanhas cobertas por neve que marca a fronteira do Quirguistão com o Tadjiquistão. Na pousada onde fiquei no dia anterior, conheci dois americanos que, pelo gosto por aventura, aceitaram o desafio de ir caminhando junto comigo até a fronteira. Iríamos conversando e pedindo carona para os raros carros que passavam por aquela estrada. O dia amanheceu ensolarado e as montanhas à nossa frente serviam como estímulo para a aventura. Depois de ter andado uns 15 km, nossas mochilas começaram a pesar. Aliado à falta de oxigênio na alti
pamirs tadjiquistão
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tude de 3.000 m acima do mar, já dávamos alguns sinais de cansaço, quando parou finalmente um carro para nós. De dentro dele saiu uma simpática suíça que estava indo para a fronteira buscar seu marido e um cliente que havia passado mal nas altas montanhas do Tadjiquistão, por onde andavam de moto. Cruzamos assim sem maiores problemas a fronteira, mas logo estávamos novamente a pé. Os poucos carros que passavam estavam completamente cheios e decidimos continuar caminhando até o posto de fronteira do Tadjiquistão, que fica a cerca de 20 km de onde estávamos. Começamos assim a entrar por um vale imenso sem qualquer habitante, já que essa é uma região que não pertence a nenhum país. “No man’s land” ou, terra de ninguém. A estrada começava a subir mais ainda, o ar começava a ficar cada vez mais rarefeito, e as nossas paradas cada vez mais demoradas. Mas ainda havia esperança em nossos corações e as paisagens ao nosso redor faziam valer todo o esforço. Depois de mais 10 km, finalmente nossa sorte mudou novamente, quando um carro parou e dentro dele havia ainda três lugares. Negociamos o preço com o motorista e com o italiano Sandro, além do americano Max, que haviam contratado
entardecer na vila de karakol o carro para fazer o transporte até a cidade de Murghab, distante cerca de 100 km dali. O carro era confortável e as novas companhias muito simpáticas. Depois de cruzar o posto da fronteira, constituído de alguns pequenos edifícios e contêineres de carga usados como escritórios, seguimos por uma região totalmente desértica.
No lado esquerdo, uma imensa cerca de arame farpado marcando a fronteira com a China. A altitude aumentava e já estávamos a 4000 metros de altitude quando chegamos à vila de Karakol, às margens de um imenso e belíssimo lago. Ficamos naquela noite numa hospedaria e quase ninguém conseguiu dormir direito por causa da falta de oxigênio no ar. Eu acordava várias vezes com a sensação de que não havia oxigênio suficiente para respirar. A viagem seguiu por mais cinco dias depois que chegamos a Murghab. Alugamos ali outro carro com motorista e passamos a viajar por essa região tão remota da Ásia Central. Dormíamos em hospedarias que serviam janta e café da manhã. Banheiros, em apenas raras exceções, eram as tradicionais latrinas malcheirosas que me faziam sempre lembrar a Mongólia. Banho apenas em fontes de águas termais que encontrávamos no caminho. Nas estradas víamos pastores com seus rebanhos de ovelhas. Nos vales onde é possível cultivar, moradores colhiam trigo e aveia que estocavam no telhado de suas casas, já se preparando para o inverno. Passamos também pelo longo vale de Wakan, que faz fronteira com o Afeganistão. Região belíssima também, com várias
karakol pamirs tadjiquistão vilas nas margens do rio. Em algumas regiões o rio estreitava-se e era possível até atirar pedras que alcançavam facilmente o famoso país vizinho.
fronteira chinesa
karakol pamirs tadjiquist達o
fronteira com a china
karakol pamirs tadjiquist達o
museu a 4000m de altura
karakol pamirs tadjiquist達o
lago karakol: 4000m acima do nĂvel do mar
karakol pamirs tadjiquist達o
abandonado na beira do lago
karakol pamirs tadjiquist達o karakol pamirs tadjiquist達o
paradas obrigat贸rias para fotografia
pamirs tadjiquist達o
pastores da regi達o
pamirs tadjiquist達o
a vida em outro ritmo
pamirs tadjiquist達o
hist贸rias refletidas
pamirs tadjiquist達o
paisagens disformes
pamirs tadjiquist達o
“tira uma foto tio?”
murghab pamirs tadjiquist達o
onde o oriente mistura-se com a pĂŠrsia
murghab pamirs tadjiquist達o
loja de roupas em mercado pĂşblico
murghab pamirs tadjiquist達o
loja em mercado pĂşblico
murghab pamirs tadjiquist達o
casas de murghab
murghab pamirs tadjiquist達o
danรงa das sombras ao entardecer
murghab pamirs tadjiquist達o
portĂľes perto do cĂŠu
murghab pamirs tadjiquist達o
portĂľes perto do cĂŠu
murghab pamirs tadjiquist達o
a pose tadjique
murghab pamirs tadjiquist達o
mesquita
murghab pamirs tadjiquist達o
heranรงas persas
pamirs tadjiquist達o
estas montanhas como o horizonte do mundo
o
murghab pamirs tadjiquist達o
e a vida passa devagar
murghab pamirs tadjiquist達o
e a vida pas sa devagar
murghab pa mirs tadjiqu ist達o
murghab pamirs tadjiquist達o
nosso motorista meio mafioso
pamirs tadjiquist達o
vale de murghab
murghab pamirs tadjiquist達o
pinturas naturais
pamirs tadjiquist達o
lagos cristalinos
pamirs tadjiquist達o
a palheta de cores tadjique
pamirs tadjiquist達o
gĂŞiser ativo
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e se pudĂŠssemos escolher as cores?
bulunkul pamirs tadjiquist達o
paisagens de solid達o
bulunkul pamirs tadjiquist達o
o Ăşltimo raio de sol
bulunkul pamirs tadjiquist達o
solidão em longa exposição
bulunkul pamirs tadjiquist達o
vontade de mudar a forma das nuvens
bulunkul pamirs tadjiquist達o
espelhos
bulunkul pamirs tadjiquist達o
montanhas do afeganist達o
Nenhuma semana é igual à outra e cada viagem é sempre cheia de novos desafios. As primeiras duas semanas aqui no Tadjiquistão foram das mais completas e intensas. Daquelas com que todo viajante sonha, mas que cansam o corpo e a mente. Tanta coisa nova! Tanto tema para fotografia! Tantas histórias, sorrisos, “hellos” e “goodbyes”! Cheguei de viagem com meus amigos à capital Dushanbe na madrugada da última sexta-feira. O caminho foi longo, sinuoso e empoeirado. O carro quebrou no caminho, no final da tarde. Enquanto um mecânico visivelmente embriagado tentava estancar o vazamento de óleo do motor, aproveitamos para jogar “frisbee” com as crianças tímidas do local. Em troca da nossa parceria, recebemos caquis maduros colhidos diretamente das árvores ao redor. Não reclamo mais quando acontece algum imprevisto desses, pois são sempre momentos assim que guardam muitas histórias para ficar sempre na memória. “Eu fico feliz quando as coisas terminam bem”, diz meu colega de viagem americano. Realmente, como tudo na vida, uma hora ou outra voltamos a experimentar o conforto. Enquanto um dos nossos colegas se irritava com a possibilidade de termos que passar
A estrada só piorava e era quase impossível tirar um cochilo encostando a cabeça em qualquer lugar. Às 3 da madrugada, chegamos, mas não conseguimos encontrar um hotel aberto no centro da cidade e resolvemos ficar mesmo no “Hotel Jardins”, afinal os parques das cidades estão sempre com suas portas abertas para viajantes que chegam em má hora. Dormimos no gramado por algumas horas e quando o dia amanheceu procuramos refúgio num café que estava abrindo naquele momento. Depois de recuperar as energias com um péssimo café solúvel, pegamos um táxi até o aparentemente único albergue da cidade. O taxista, meio perdido pelas pequenas ruas daquela região, pediu informação ao passageiro de um carro que parou ao nosso lado e nos mandou estacionar. De dentro dele saíram quatro oficiais da polícia de imigração vestidos à paisana e cheirando a perfume barato. Foram logo mostrando suas credenciais e pedindo nossos passaportes. A situação tinha tudo para acabar em encrenca, mas aparentemente só estavam averiguando se estávamos com os vistos em dia. Nos liberaram logo em seguida e fomos finalmente para o albergue onde tiraríamos a poeira do corpo e descansaríamos em confortáveis camas pelo resto da manhã.
vale wakan tadjiquistão
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a noite naquela oficina à beira da estrada, aproveitávamos o espetáculo da lua cheia saindo por trás da cadeia de montanhas. Uma das luas mais lindas que já vi. Para passar o tempo, improvisamos uma mesa de jogos e o carteado nos distraiu e divertiu até que mecânico, ainda bêbado, nos veio avisar feliz que o carro estava pronto para os 250 km restantes até a capital.
Dushanbe é uma capital muito bonita, nos moldes da maioria das cidades da antiga União Soviética. Passei os últimos dias descansando e planejando os próximos passos dessa viagem. Um terrível cansaço abateuse sobre mim, e me vi sem energias para continuar com o complicado processo para aquisição do visto para o Uzbequistão. Foi um daqueles cansaços emocionais que já senti em outras viagens, afinal estou há quase sete meses na estrada. Uma espécie de depressão que, pela minha experiência, só se cura com algumas semanas de rotina. Algo difícil de conseguir por aqui, pois já estou cansado da Ásia Central. Tudo muito legal, mas com o tempo acaba cansando e lá se vai todo o interesse. Por esse motivo resolvi pular uma parte do roteiro original e ir direto para a Geórgia e organizar o restante da viagem depois de alguns dias de descanso. Aquele país já é de certa forma a minha segunda casa. Cada vez que volto para lá me sinto mais à vontade e faço novos amigos. Meu voo sai daqui na sexta-feira da semana que vem. É sempre difícil abandonar nossos planos, mas para mim o mais importante ao viajar é sentir-me bem pelos lugares que visito. Não faz sentido viajar apenas para finalizar um roteiro pré-determinado.
lua cheia inesperada
Na semana passada visitei lugares lindíssimos nas montanhas do país. Conhecemos fortes construídos há mais de dois mil anos por seguidores de Zoroastro e também tumbas de missionários muçulmanos xiitas vindos do Irã. Suas tumbas são decoradas com bizarros chifres de carneiros; uma amostra de como as novas religiões que avançaram pela Ásia acabaram, sempre, por se miscigenar com os antigos cultos xamânicos ou animistas das populações que viviam nessas áreas. Sem dúvida, a história da Ásia Central é muito interessante. Visitamos também algumas fontes de águas termais, bastante apreciadas pelos habitantes locais. Quando já estávamos confortáveis dentro da água quente de uma dessas piscinas naturais, percebemos com certo desconforto que vários dos outros homens ao nosso redor estavam lá para tratar problemas de pele. Manchas vermelhas tomavam conta de grande parte de seus corpos e eu olhava com espanto para os meus amigos. Felizmente não era nada infeccioso, já que até agora nada de estranho apareceu na minha pele. O lugar era muito bonito, mas realmente acabou não sendo muito confortável a sensação de estar boiando numa água que podia estar infectada com bactérias capazes de deixar nossa pele parecida com um morango.
vale wakan tadjiquistão
posição de espera asiática
vale wakan tadjiquist達o
estrelas do deserto
vale wakan tadjiquist達o
desequilĂbrio
vale wakan tadjiquist達o
montanhas do afeganist達o ao fundo
vale wakan tadjiquist達o
pequeno pastor
vale wakan tadjiquist達o
entrada do museu de antigo astr贸logo
vale wakan tadjiquist達o
mausolĂŠu de antigo missionĂĄrio iraniano
vale wakan tadjiquist達o
cidadelas do tempo de zoroastro
vale wakan tadjiquist達o
ĂŠpoca da colheita
vale wakan tadjiquist達o
as curiosas estampas tadjiques
iskeshim vale wakan tadjiquist達o
escola com eleg창ncia
iskeshim vale wakan tadjiquist達o
uma tarde de bordado
kul-i-lal tadjiquist達o
esculturas naturais
garm-chashma tadjiquist達o
retrato em pousada
garm-chashma tadjiquist達o
Semana tranquila aqui na capital do Tadjiquistão, Dushanbe. Tempo para conhecer novos viajantes, descobrir a agenda cultural da cidade e refletir sobre esses cinco anos de viagens pelo mundo. Rotina é muito bom de vez em quando, mas estou quase pronto para continuar a viagem. No albergue, observo os novos viajantes que entram e saem todos os dias. Uns também cansados e outros ainda animados com os desafios em seus roteiros. Algumas de suas atitudes me fazem pensar novamente numa das lições que aprendi viajando: alguns problemas, nós resolvemos mudando apenas a nossa posição, sem precisar mudar a dos outros. É mais rápido, fácil e, para quem acredita em carma, purifica-o. Talvez uma história acontecida na Índia sirva como exemplo. Cheguei cedo à sala onde aconteceria um “satsang”, ou seja, uma palestra com um guru hindu. Pessoas chegavam, em silêncio. Alguns músicos afinavam seus instrumentos. O clima era de paz e amizade. Sobre o carpete colorido, pessoas sentavam em cima de almofadas e relaxavam esperando o guru chegar. À minha frente, senta-se uma senhora ocidental com todos seus apetrechos de yoga e vestida segundo a moda indiana. Alguns minutos depois, à sua frente, senta-se um jovem de ombros largos que cobrem toda a visão da senhora que havia se posicio-
outras viagens nado para poder enxergar o guru na cadeira destinada a ele. Sinto logo o seu desconforto. Ela não resiste. Provavelmente pensa que não é justo, pois chegou antes que o jovem. Cutuca seu ombro e pede a ele que se sente mais ao lado. Ele, meio incomo-
dado já que, claro, não tinha a intenção de atrapalhar ninguém, muda sua almofada de lugar. E ela pôde, assim, relaxar novamente. Conseguiu defender sua individualidade. O ego prevalece. Eu via a cena de uma posição mais ampla. Ao lado da senhora havia espaços disponíveis. Se ela mudasse sua almofada para a direita ou esquerda poderia continuar vendo o guru sem problemas. Se assim fizesse, não causaria qualquer mal-estar ao jovem e teria resolvido o seu problema. E eu teria assistido e me sentiria bem por ter presenciado uma cena de generosidade e de compaixão com o próximo. Mas o que a cena causou em mim foi algo diferente: uma sensação de desânimo diante de um comportamento tão primitivo do ser humano. Quando passamos a prestar mais atenção em como resolvemos pequenos problemas no nosso dia a dia, começamos a melhorar. Evitamos reagir instintivamente atiçados pelo nosso ego. Muitas vezes é possível resolver essas situações com generosidade e carinho. É difícil agir assim no começo, mas, aos poucos, aprendemos a deixar nossos interesses pessoais de lado pelo bem estar dos que estão à nossa volta. Ações movidas por amor causam reações de amor que melhoram o dia de tudo ao redor. Já sabemos disso há muito tempo, basta apenas aprender a controlar aquele primeiro impulso de agressão e agir com o coração.
dushanbe tadjiquistão
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Na tarde de sábado, resolvi conhecer melhor a cena cultural da cidade. Era dia de balé no belíssimo teatro Ayni Ópera e Balé. Que espécie de teatro encontrar em um país como o Tadjiquistão? Confesso que fiquei surpreso ao entrar num dos melhores teatros da minha vida. Depois de várias fotos da decoração, dos lustres e altos-relevos, sentei na primeira fila, perto da orquestra que já afinava seus instrumentos. A música começa afinadíssima. Clássica com influência árabe. Abre-se a cortina e começa o espetáculo. Um senhor de barba longa e hirsuta caminha lentamente em direção a uma sepultura tocando “dombra” (instrumento de duas cordas típico da Ásia Central). Ele canta uma música triste e as luzes se apagam. Na cena seguinte, aos poucos, o espectador começa a entender a história daquele triste personagem do início. No palco, agora, um sultão sentado em seu trono e diversos membros de sua corte prestando-lhe homenagens. Aparece um príncipe malvado, uma princesa e, claro, um rival elegante que rouba o coração da princesa. Possuído por ciúmes, o príncipe malvado desembainha sua adaga e trava uma luta mortal, em passos de balé, com seu rival. A princesa, tentando proteger seu amado, abraça-o e recebe o traiçoeiro golpe em suas costas. Morre lentamente
balé na capital em seus braços, enquanto as cortinas se fecham. Na cena final, volta o cenário da sepultura e a música de lamento do homem que passou sua vida inteira atormentandose por causa de seu triste destino.
dushanbe tadjiquist達o
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A agenda cultural do final de semana estava agitada, na cidade. Domingo era dia de show de música típica tadjique. No cartaz à entrada do cinema onde iria acontecer o evento, um simpático senhor de barbas longas e uns 80 anos de idade segura a dombra sentado num gramado. A sala do cinema estava lotada. O palco ricamente enfeitado. Câmeras da TV local já estavam posicionadas. No palco, entra o apresentador, provavelmente descendente de russos. Daquele tipo que se acha engraçado e simpático. Faz piadas em tadjique, mas algumas delas recebem em troca apenas silêncio da plateia. O público começa a se animar. Batem palmas e finalmente entra “Bobô”, o simpático senhor que, pela agi-
concerto de música tadjique
tação do público, já é famoso na cidade. Entram também os outros quatro componentes da banda, com seus instrumentos de percussão. O apresentador tenta tomar conta do show e fica fazendo piadas com o dono do espetáculo. O público se diverte e aplaude constantemente. Quando começa a cantar, olho apenas para meus amigos ao lado, todos com aquela cara de: “Hummm... vai ser um show difícil de aguentar até o final”. A voz do senhor já não afina mais. Depois da primeira música, o apresentador aparece novamente no palco com um bule de chá e oferece uma xícara a Bobô. Mais alguns minutos de conversa e piadas que não entendemos, e o espetáculo segue. Parece que está tocando a mesma música. As seguintes são também todas iguais para nós. Difícil manter-se acordado. Olho para meus amigos e eles me dizem: “Estamos saindo”. Falta de educação nossa, mas não conseguimos aguentar por mais tempo. Saímos e sentimos lá fora aquele alívio dos ruídos da cidade. Fomos para o bar, afinal era domingo. No caminho encontramos, na vitrine de uma companhia de celulares, um cartaz de publicidade. “Olhem, é o Bobô ali na foto!!!” Mal podia acreditar. Era ele mesmo ali esbanjando alegria e simpatia segurando um celular em sua mão direita.
dushanbe tadjiquistão
garoto na plateia
dushanbe tadjiquist達o
orquestra do balĂŠ
dushanbe tadjiquist達o
lustre do teatro
dushanbe tadjiquist達o
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