Port Murhabazi Namegebe

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Por que Murhabazi é NoMeado?

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Murhabazi Namegabe é nomeado ao Prêmio das Crianças do Mundo 2011 por sua longa e perigosa luta de mais de 20 anos em prol das crianças da República Democrática do Congo, país devastado pela guerra. Desde 1989, Murhabazi, através de sua organização BVES, libertou mais de 4.000 soldados-criança e mais de 4.500 meninas abusadas sexualmente por grupos armados, e cuidaram de 4.600 crianças refugiadas abandonadas. Seus 35 lares e escolas oferecem comida, roupas, um lar, cuidados médicos, terapia, oportunidade de ir à escola, segurança e amor a crianças que estão entre as mais vulneráveis do mundo. A maioria das crianças é reunida às suas famílias. Graças a Murhabazi, 60.000 já passaram pelos diferentes centros do BVES e conquistaram uma vida melhor. Murhabazi e o BVES representam as crianças da República Democrática do Congo ao exigirem constantemente que o governo, todos os grupos armados, organizações e todos os demais membros da sociedade cuidem das crianças do país. Muitos são contra a luta de Murhabazi. Ele já foi preso, espancado e recebe ameaças de morte constantes. Sete de seus companheiros de trabalho já foram mortos.

NOME ADO • Páginas 106–125

Murhabazi Namegabe “Você vai morrer esta noite. Faça sua última refeição!” Murhabazi leu a curta mensagem em seu celular. Ele estava no meio de uma reunião importante da ONU sobre crianças forçadas a se tornarem soldados na República Democrática do Congo. Olhou cuidadosamente à sua volta. Teria alguém ali enviado aquela ameaça de morte? A luta de Murhabazi pelas dezenas de milhares de crianças exploradas e torturadas na guerra da República Democrática do Congo lhe rendeu muitos inimigos. “Aqui, a luta pelos direitos da criança é uma questão de vida ou morte. E eu estou preparado para morrer nesta luta, todos os dias”, diz Murhabazi Namegabe.

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urhabazi nem era nascido quando enfrentou sua primeira ameaça de morte. Em 1964, a guerra sangrenta assolava Bukavu, na região oriental da República Democrática do Congo, e sua mãe, Julienne, grávida, fugiu correndo pelas ruas estreitas para escapar da guerra. Ela só notou o posto de controle dos soldados quando já era tarde demais. Um dos soldados apontou o cano do rifle contra sua barriga, mas justo quando ele ia atirar, um dos líderes gritou: “Não a mate!Deixe-a ir!” Duas semanas depois,

Julienne deu à luz seu filho. Ela o chamou de Murhabazi, que no idioma Mashi significa tanto ‘aquele que nasceu na guerra’, como ‘aquele que ajuda os outros’. “Minha mãe sempre diz que nós sobrevivemos, porque havia uma razão para eu nascer. E que eu estava predestinado a dedicar minha vida para proteger os mais vulneráveis”. Todos devem ter comida!

Murhabazi cresceu em um dos bairros mais pobres de Bukavu. Porém, como seu pai tinha emprego, a família sem-

pre teve o que comer e as crianças podiam ir à escola. Depois que faziam o dever de casa, eles podiam brincar com os amigos. Logo no primeiro ano da escola, Murhabazi percebeu que nem todos tinham a mesma sorte que a dele. “Muitos dos meus amigos estavam sempre com fome, e não tinham condições de ir à escola. Eu achava aquilo injusto. Todos os dias, crianças famintas se amontoavam em frente à nossa casa na hora das refeições. Minha mãe colocava pequenos punhados de comida diretamente em

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