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Meninas pela mudança
As amigas Aïcha, Antoinette, Rachel e Blandine são embaixadoras dos direitos da criança. Todas elas também fazem parte de um grupo ao qual as crianças da aldeia podem recorrer se sentirem que seus direitos foram violados. Quando as amigas ouvem crianças que foram maltratadas, elas se reúnem com a liderança da aldeia ou da escola, para, juntos, tentar encontrar uma solução que seja boa para a criança.
“Aqui, o destino das meninas da minha idade é determinado pela tradição. Você deve se casar cedo, se não frequentar a escola. Para nossos pais, o mais importante não é a escola, mas encontrar um marido para a filha o mais rápido possível. Eu não tenho direito de falar, e eles deci- dem o que fazer, se não, sou espancada. Eu queria ser médica para ajudar crianças, mas também quero ser advogada e defender os direitos de meninas, meninos e mulheres, porque muitas vezes passado, mas esse ano vou dar tudo para conseguir, porque quero ser professora, como a nossa diretora.
Viagem perigosa
Temos parentes aqui no Senegal e no país vizinho, Guiné. Quando eu tinha nove anos, fomos, como sempre, para a Guiné nas férias de verão. Eu não fazia ideia do não são ouvidos e todos são obrigados a fazer o que os homens decidem”. Aîcha, 16, embaixadora dos direitos da criança, Senegal que me aguardava naquele ano. Quando chegamos à aldeia, encontrei várias meninas da minha idade.
No dia seguinte, houve uma festa com tam-tam e dança na aldeia. Minha tia me levou para uma cabana, onde as três mulheres estavam esperando. Elas são chamadas de mulheres circuncidadoras.
– Não grite, porque senão as outras vão rir de você por ter sido a única que gritou, uma delas me disse, ao tapar minha boca.
Acho que é pela honra dos pais, para que encontrem um marido para a fi lha, e é por isso que somos submetidas à mutilação genital feminina (MGF). Se não tiver sido cortada, você não pode cozinhar em festas e cerimônias, é considerada uma vergonha para sua família e
Deve haver mudança
“As meninas da nossa aldeia fazem todo o trabalho doméstico. Elas cozinham, apanham lenha, debulham painço, milho e amendoim, lavam roupa e louça no rio. Elas buscam água no poço e cultivam. As meninas trabalham mais que os meninos. Deve haver uma mudança. Ajudo minhas irmãs lavando as panelas e pegando água do poço em latas de 20 litros. Eu não desejaria ser uma menina. Muitas delas são levadas para uma aldeia na Guiné para a mutilação genital, e sofrem muito com isso. Eu apoio todas as mudanças que significam que os direitos das meninas sejam respeitados e que elas tenham as mesmas chances na escola que nós, meninos, e tenham mais tempo livre do que têm agora”.
El Hadji, 12, da mesma aldeia que Djiba, no Senegal não é respeitada. Em nossa aldeia, a maioria das meninas da minha idade são cortadas. Mas não acho nada normal fazer isso conosco, meninas. Algumas raparigas ficam doentes quando voltam para casa. Muitas têm dificuldade para andar e sentar. Às vezes, as meninas morrem. Somos levadas para a Guiné, porque no Senegal os pais podem ser presos pela polícia se for descoberto que expuseram suas fi lhas à mutilação genital.
Direito de falar livremente Acredito que nossos pais devem conhecer os direitos da criança, para que possamos acabar com a MGF e resolver outras questões. Por exemplo, que nós, crianças, temos o direito de dizer o que pensamos e de ser ouvidas. Aqui, nenhum adulto escuta as crianças, e principalmente nós, meninas, não temos direito de falar. Quero que meus pais entendam que tenho o direito de falar livremente. Se os adultos não permitem que nós, crianças, digamos o que pensamos, então nós, crianças, apenas seguimos as decisões dos adultos como uma ovelha cega chocada.
Quero continuar estudando, para poder ajudar meninas e mulheres a viver melhor e participar das decisões. Uma menina não deve ser forçada a se casar com um homem que ela mesma não escolheu para ser seu marido.”
Djiba, 13, embaixadora dos direitos da criança, Senegal
Descobrimos os direitos da criança
“Eu estava no quinto ano quando recebemos a revista O Globo na nossa escola. Foi então que descobrimos os direitos da criança e entendemos que vários dos nossos direitos são violados. A pior forma de abuso contra meninas é a mutilação genital feminina. Fizemos uma peça teatral no nosso clube dos direitos da criança do WCP, mostrando como a mutilação genital feminina é ruim para as meninas e sua saúde. Apresentamos a peça para nossos pais.
Nós, que somos embaixadores dos direitos da criança, temos um grupo que recebe sinais de alerta das crianças. Elas podem nos contar sobre violações de seus direitos. Depois, abordamos a questão com a administração da aldeia. A atitude de nossos pais começou a mudar, e continuaremos lutando até que todas as formas de violação dos direitos da criança finalmente acabem”.
Pierre, 14, embaixador dos direitos da criança da mesma aldeia de Aîcha, Senegal