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Idioma ameaçado

O cree é um dos idiomas indígenas do Canadá que continuam desaparecendo.

Por sete gerações, as crianças nas áreas de idioma cree foram separadas de seus pais quando eram pequenas. Elas eram forçadas a viver em internatos, onde sofriam punções se falassem o cree. Quando voltavam para casa, por um curto período no verão, haviam esquecido o idioma e não conseguiam falar com suas famílias. Ano após ano, restavam cada vez menos pessoas que falavam cree.

Este rapaz do Povo Cree foi fotografado há mais de cem anos, quandomuito mais pessoas falavam o idioma Cree.

Incidente terrível

Quando tinha quatorze anos, Shannen teve que deixar sua família e se mudar a 60 milhas de distância, para a escola secundária mais próxima. Sua irmã mais velha, Serena, que fi zera o ensino médio alguns anos antes, já morava na cidade. Shannen teve que trabalhar duro para acompanhar os outros alunos. Eles não tinham ido à escola de barracas em ruínas, e estavam bem adiantados em muitas disciplinas. Porém, Shannen nunca perdeu um dia de aula.

Nos fins de semana e feriados, ela, Serena e outras crianças continuaram a falar em grandes reuniões e a pedir ajuda. Elas contavam sobre os ratos, o frio e a falta de livros escolares. O barulho aumentava constantemente, e Shannen começou a acreditar que seus sonhos se realizariam. Então, algo terrível aconteceu.

Às vezes, as placas de rua estão em vários idiomas, como aqui, em Cree, inglês e francês.

As crianças na pequena cidade de Moosonee querem que o sonho de Shannen se torne realidade para todas as crianças das Primeiras Nações.

Após um ano do ensino médio, Shannon estava em um micro-ônibus que colidiu com um grande camião. Ela morreu com apenas quinze anos. Crianças em todo o Canadá ficaram arrasadas, mas determinadas a lutar. Elas não deixariam os sonhos de Shannen morrerem. Com a ajuda de Cindy Blackstock e da sua organização, e do membro do parlamento Charlie Angus, uma nova campanha foi lançada. Esta foi nomeada “o sonho de Shannen” para homenagear sua memória. A família de Shannen, assim como seus amigos e a pequena cidade onde ela cresceu apoiaram a campanha das crianças.

Para a ONU

Quase dois anos após a morte de Shannen, seis crianças das Primeiras Nações viajaram para o Comitê dos Direitos da Criança da ONU em Genebra, Suíça. Uma delas era amiga de infância de Shannen, Chelsea, de 16 anos, da Primeira Nação Attawapiskat. Cindy Blackstock também estava na viagem. Ela pressionou para que as próprias crianças pudessem falar sobre seus difíceis anos escolares em Attawapiskat e sobre as violações de seus direitos. No edifício da ONU, as crianças puderam conversar com um grupo de especialistas, que as ouviram atentamente. Todas elas estavam tristes por Shannen não poder estar presente, mas felizes porque os especialistas em direitos da criança as levaram a sério.

Não muito tempo depois, uma moção para realizar o “sonho de Shannen” foi aprovada por políticos na Câmara dos Comuns do Canadá. Foi criada uma lei que garantiria o direito a uma boa educação também para as crianças das Primeiras Nações. Após a votação, o sucesso foi comemorado com a família de Shannen, que viajou à capital para fazer parte do momento histórico. Seu pai, Andrew, fez um discurso. Ele começou no idioma cree e depois mudou para o inglês.

– Shannen foi um presente especial, é uma honra ter sido o pai dela, disse Andrew. Sempre pensei que eu era seu professor, mas ela me ensinou muito, e estendeu a mão às pessoas. Quando os jovens falam, isso é poderoso, porque eles são muito inocentes e fortes.

Uma nova escola

No mesmo dia em que Shannen concluiria o ensino médio, começou a construção de uma nova escola em Attawapiskat. Ela foi inaugu- rada dois anos depois. Acima da entrada, está escrito em letras bem grandes: O SONHO DE SHANNEN. As crianças no Canadá continuam escrevendo cartas ao governo, porque ainda há muitos estudantes das Primeiras Nações que precisam de escolas melhores. Embora a lei baseada no sonho de Shannen exista, ela demora a dar a todas as crianças a educação que merecem. c

Educação para todos?

No Canadá, a educação das crianças é paga pelas províncias. Contudo, as escolas para crianças das Primeiras Nações nas reservas são pagas pelo Governo do Canadá. As reservas são áreas de terra que os governos canadenses há muito tempo forçaram os povos das Primeiras Nações a ocupar, porque os colonizadores queriam as melhoras terra para si. Hoje, muitas crianças das Primeiras Nações no Canadá vivem em reservas, e apenas 4 em cada 10 concluem o ensino médio. O problema é que o governo dá muito menos dinheiro às escolas das reservas do que as províncias dão a escolas para outras crianças. É por isso que muitas escolas das Primeiras Nações carecem de coisas como livros e computadores.

Acima da entrada da nova escola em Attawapiskat está escrito: O Sonho de Shannen!

Shannen costumava dizer: ”A educação é importante, pois no futuro você terá uma vida melhor. Porque, sem educação, você não teria emprego nem iria a lugar nenhum.”

A água da torneira em Attawapiskat contém vestígios de produtos químicos, por isso eles buscam água numa estação de água potável.

O primo de Shannen, Jules, arrecadou dinheiro para uma estátua de bronze de Shannen.

Mensagem de Shannen

Nunca desista! Levante-se, pegue seus livros e prossiga em seus mocassins (mocassins usados pelo povo das Primeiras Nações)!

As crianças jogam hóquei em Attawapiskat.

Nome espiritual

Quando Shannen morreu, de acordo com a cultura cree, ela foi juntar-se com os espíritos de seus ancestrais. Ela também recebeu um nome espiritual especial, Wawahtay Eskwo, que significa Mulher da Aurora Boreal.

Narrativa pela dança

Theland aprendeu a dança do arco com mestres de dança mais antigos que mostraram como usar grandes arcos para criar formas de tudo, desde animais até a natureza e, assim, contar histórias. Antigamente, os arcos eram feitos de salgueiro, mas Theland renovou a dança com seus arcos de luzes fosforescentes.

– Ainda tenho muito a aprender, mas já sei o suficiente para ensinar a dança para crianças menores. É uma forma de retribuir!

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