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Feminismo Comunitário
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Feminismo Comunitário Julieta Paredes “las muj eres somos la mitad de todo”
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Essa corrente de feminismo se define como um movimento sócio político, sendo ao mesmo tempo teoria social e ferramenta de luta contra o patriarcado. Centra-se em um significado de comunidade que provem de uma visão de mundo não colonial que resgata a cosmovisão dos povos originários da América.
O movimento se originou na Bolívia, a partir da experiência do coletivo Mujeres Creando, do qual a autora e ativista aymara boliviana Julieta Parede fez parte. Em seu livro Hilando filo desde El Feminismo Comunitário (2010), ela explica que a comunidade se constitui de duas partes diferentes (homem-mulher) que por sua vez constituem identidades autônomas, que ao mesmo tempo tem uma identidade comum.
“A negação de uma das partes atenta também contra a existência da outra. Submeter à mulher a identidade do homem, ou vive e versa, é cercear a metade do potencial da comunidade, sociedade ou humanidade. Ao submeter à mulher, se submete a comunidade porque a mulher é a metade da comunidade e ao submeter uma parte da comunidade os homens se submetem a si mesmos, porque eles também são comunidade.” (PAR EDES, 2010)
“Ao dizer que a comunidade tem duas partes fundantes, queremos dizer que a partir do reconhecimento da alteridade inicial a comunidade mostra toda sua extensão, diferenças e diversidades, é dizer que o par mulher-homem inicia a leitura das diferenças e diversidades na humanidade, inclusive as diferenças e diversidade de não reconhecer-se homem e não reconhecer-se mulher.”
A autora problematiza o uso da ideia de gênero, amplamente utilizada por organizações feministas ocidentais na busca de melhoria nas condições de vida das mulheres. Ela afirma que “não haverá equidade de gênero entendida como igualdade, porque o gênero masculino se constrói a
partir do gênero feminino, por isso que a luta consiste na superação do gênero como injusta realidade histórica.” Para ela transcender o gênero como construção histórica e cultural é fundamental para começar e criar maneiras outras maneiras de socializar @s wawas (palavra aymara para bebê) acarretando em uma prática feminista que não reconheça masculino ou feminino e implodindo as relações de poder construídas pelo gênero considerando o uso desse conceito para problematizar a opressão do patriarcado contrarrevolucionária. (PAREDES 2010) A prática social e política das comunidades, nacionalidades, povos, organizações e movimentos sociais e a representação das comunidades continuam em poder dos } O corpo: deve ser entendido como uma unidade energética, sensível, espiritual e sensorial que permita que as mulheres amem seus corpos para relacionar-se com o universo que as rodeia e significar-se livremente para além do racismo, machismo e classismo que codificam e categorizam a existência do corpo da mulher. O espaço: entendido como “o campo vital para que o corpo se desenvolva”. Pode ser a rua, a terra, a casa a escola o bairro... onde se dê a vida comunitária. O temp o: se concebe como “a vida que corre graças ao movimento da natureza e dos atos conscientes” e que é percebida como o tempo. A narrativa temporal do patriarcado não reconhece percepção das mulheres do movimento da natureza e seus atos conscientes. Um exemplo desse não reconhecimento pode ser o trabalho doméstico que o patriarcado não entende como trabalho. O movimento: “O movimento nos permite construir um corpo social, um corpo comum que homens, refletindo patriarcalização quer viver e viver bem”. e colonização das comunidades A Memória: é vista como o caminho já percorainda em curso. Para transformar rido pelas antecessoras, as avós, as mães, das as condições materiais da subordiraízes das quais procedemos” nação e exploração das mulheres a autora apresenta o marco conceituO mapa mental na próxima página explica a relaal que vem sendo utilizado pelo Feção entre esses conceitos. minismo Comunitário para analisar Para Paredes, esse marco conceitual é fundameno contexto social e também como tal como estratégia de resistência para as indígenas estratégia de transformação da rede todo território Abya Yala, que são frequentemente alidade. Os conceitos e categorias tratadas pelo estado neoliberal como estatística de utilizados estão relacionados a cinpobreza, reforçando uma narrativa de dependência, co aspectos da vida das mulheres subalternidade. A epistemologia proposta é construque se relacionam entre si: ída por mulheres de diferentes organizações sociais
› › c o r p o › › e s p a ç o › › t e m p o › › m o v i m e n t o › › m e m ó r i a espaço produzir nos diferentes espaços
cuidar, curar e desfrutar o corpo
construir movimento
temp o para
memória e produção de conhecimento
corpo › › c o r p o › › e s p a ç o › › t e m p o › › m o v i m e n t o › › m e m ó r i a
mapa mental
memória › › c o r p o › › e s p a ç o › › t e m p o › › m o v i m e n t o › › m e m ó r i a movimento › › c o r p o › › e s p a ç o › › t e m p o › › m o v i m e n t o › › m e m ó r i a
populares, que constroem coletivamente outro referencial a partir de sua experiência e revindicações específicas, criando assim sua própria narrativa e soluções para sua realidade. A narrativa das mulheres dos povos Abya Yala se contrapõe ao feminismo hegemônico, institucionalizado por políticas públicas ou ONGS que desconsideram a identidade das mulheres indígenas. Paredes e o coletivo Mujeres Creando integraram um grupo de trabalho para o desenvolvimento de políticas públicas para o governo de Evo Morales, Presidente do Estado Plurinacional da Bolívia com a intenção de repensar a institucionalização das políticas para mulheres e semear dentro do aparato estatal outra abordagem sobre as necessidades das mulheres a partir da perspectiva indígena. Outro questionamento importante do Feminismo comunitário é o reconhecimento de que o patriarcado não de seu no território apenas durante o processo de colonização. Segundo Paredes, a antropologia e arqueologia feminista contribuem para a compreensão
Livro em PDF: Hilando fino desde el Feminismo Comunitário: https://sjlatinoamerica.files.wordpress. com/2013/06/paredes-julietahilando-fino-desde-el-feminismocomunitario.pdf Vídeo Julieta Paredes Femismo Comunitária: https://www.youtube.com/ watch?v=NrivDMl1qDU Vídeo (longo): Feminismo Comunitário: Aula Pública com Julieta Paredes: https://www.youtube.com/ watch?v=FqD5uD_lHh8 Etnocentrismo e colonialidade nos Feminismos Latino Americanos: Cumplicidade e consolidação das Hegemonias Feministas no espaço transnacional, de Yuderkys Espinosa Miñoso: http:// www.decolonialtranslation.com/ espanol/Etnocentrismo%20y%20 colonialidad%20en%20los%20 feminismos%20latinoameri....pdf A antropologia feminista hoje: algumas ênfases chave, de Maria Patrícia Castañeda Salgado: http:// www.revistas.unam.mx/index.php/ rmcpys/article/viewFile/42526/38713
de que os povos Abya Yala também mantinham relações sociais não igualitárias entre homens e mulheres. Critica a perspectiva indigenista idílica que apresenta as populações do Abya Yala como puras e livres de conflitos sociais, reforçando assim uma imagem de indígena produzida pelo imaginário europeu. Ressalta que colonização interferiu no processo de transformação social desse território, impondo o sistema patriarcal branco e europeu e “tapando” as desigualdades já praticadas pelas sociedades indígenas. Ao encontro das práticas patriarcais coloniais e ancestrais a autora chama de “Entroncamento Patriarcal”. ■