Revista Siderurgia Brasil

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A REVISTA DE NEGÓCIOS DO AÇO

GRIPS EDITORA – ANO 23 – Nº 158 – JULHO DE 2022

O AGRONEGÓCIO BRASILEIRO COMEMORA BONS RESULTADOS

INVESTIMENTOS INTERNACIONAIS NO AGRO BRASILEIRO TÉCNICO: PROCESSO SIMPLIFICA DECAPAGEM EM BOBINAS DE AÇO


Liderar o mercado é também inspirar suas melhores práticas.

A ArcelorMittal é mais uma vez pioneira no Brasil ao receber a Health Product Declaration. A declaração HPD: Health Product Declaration, que se refere a produtos voltados para a construção civil dos segmentos de Aços Longos e Planos da ArcelorMittal e também da Belgo Bekaert Arames, relata o potencial de impacto do conteúdo químico desses produtos às pessoas e ao meio ambiente. É mais uma iniciativa que reforça nossos valores quanto à Sustentabilidade e Segurança. Além disso, reforça também nosso propósito de criar aços inteligentes para as pessoas e o planeta.

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Saiba mais e conheça os produtos que receberam a declaração.

As HPDs englobam os produtos da ArcelorMittal que contenham ingredientes de liga metálica de acordo com o HPDC (Health Product Declaration Collaborative).


ÍNDICE

EDITORIAL

Brasil: o celeiro do mundo

OPORTUNIDADES

Investidores interessados no agronegócio brasileiro

FUTURO

A Tecnologia do Metaverso e a influência no Agronegócio

ESTATÍSTICAS

ANUNCIANTES

4 8 20 26 38 42 46 50 54

MERCADO

Agronegócio comemora bons resultados

PLANEJAMENTO

Vencendo as dores do crescimento

TÉCNICO

Otimização no processamento de laminação a quente para produtos de aço direcionados a decapagem

VITRINE

Siderurgia Brasil 158 - Julho - 2022

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EDITORIAL

BRASIL: O CELEIR DO MUNDO

A

o longo dos anos, essa afirmação aí em cima no título vem sendo feita não só por políticos em época de eleição, mas por fontes dignas do mais alto crédito, como é o caso do Prof. Ciro Antônio Rosolem, titular da Faculdade de Ciências Agronômicas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCA/UNESP) e Top 100 Agriculture & Forestry Scientists 2022 do AD Scientific Index Ranking Latin America, a lista que reúne os pesquisadores mais influentes do continente, que gentilmente aceitou nosso convite de entrevista para esta edição da revista Siderurgia Brasil, na qual enfatizamos, com todas as cores, a pujança do agronegócio brasileiro. Não é segredo para ninguém que o agro brasileiro vem se destacando nos últimos anos como a atividade econômica que mais cresce no país, deixando para trás as demais – como indústria, comércio e os serviços em geral -, inclusive na participação no PIB. E o setor também se destaca quando falamos de Balança Comercial, pois ele também tem sido o responsável direto pelo sucesso de nossas exportações, cravando seu protagonismo em pelo menos seis ou sete categorias de produtos, campeões absolutos no fornecimento para o mundo todo. Por conta disso, em março deste ano, a Embrapa publicou o estudo com título autoexpli-

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Siderurgia Brasil 158 - Julho - 2022

cativo: “O Agro Brasileiro Alimenta 800 Milhões de Pessoas”, assinado pelos pesquisadores Elísio Contini e Adalberto Aragão, no qual se comprova cientificamente o papel e a importância dele no quesito segurança alimentar do planeta. Recentemente, Jair Bolsonaro, o presidente da República, ampliou essa cifra em pronunciamento realizado em uma viagem internacional, afirmando que o Brasil já alimenta mais de 1 bilhão de pessoas nos quatro cantos da Terra. Falando especificamente da siderurgia, das 36 milhões de toneladas de aço produzidas pelo Brasil em 2021, estima-se que mais de 10% tenham sido direcionados para a atividade do agronegócio, sem contar as outras milhares de toneladas utilizadas na produção de veículos especiais, tratores, implementos de grande porte e por aí vai. Por todas essas razões, dedicamos esta edição exclusiva à discussão sobre o tema, na qual incluímos, além da entrevista citada acima, outra matéria, também exclusiva, a partir das informações colhidas junto à divisão de Agronegócios da ABIMAQ e mais algumas fontes, falando sobre a evolução do mercado de máquinas, equipamentos e implementos agrícolas, e sobre as expectativas e projeções do setor no curto e médio prazos. Além de tudo isso, em nossas páginas, você ainda vai encontrar matérias abordando as perspectivas advindas da conexão do agro brasileiro


Foto: Divulgação

RO

EXPEDIENTE

Ano 23 – nº 158 – Julho de 2022

HENRIQUE ISLIKER PATRIA EDITOR RESPONSÁVEL

com o metaverso, terminologia utilizada para indicar um tipo de mundo virtual que tenta replicar a realidade por meio de dispositivos digitais, uma tendência tecnológica inovadora que, definitivamente, veio para ficar. E ainda nesta edição também, apresentamos um panorama de como andam as programações de investimentos no setor agrícola, bem como uma bem cuidada seção de “Novidades”, com tudo aquilo que nossos leitores precisam saber para ficarem bem informados. Complementarmente, sem abandonar nossa vocação siderúrgica, ao lado de todas as outras já tradicionais seções de nossa revista, trazemos para você um artigo exclusivo sobre como reduzir os tempos no processo de decapagem de aços, aumentando, assim, a produtividade. Novamente agradecemos pelo seu prestígio dedicado e pela sua interlocução constante em nossos veículos. A sua presença nos incentiva cada dia mais a nos esmerarmos na elaboração de matérias, reportagens informativas e interpretativas, sempre exclusivas e com muito conteúdo. Continuamos contando com suas sugestões, comentários e críticas, pois, com eles, você nos ajuda a melhorar sempre e cada vez mais. Boa leitura!

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Henrique Patria henrique@grips.com.br Siderurgia Brasil 158 - Julho - 2022

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Siderurgia Brasil 158 - Julho - 2022

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Foto: Divulgação New Holland

MERCADO

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AGRONEGÓCIO CO BO

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OMEMORA ONS RESULTADOS Agronegócio brasileiro comemora o anúncio do Plano Safra 2022/2023. Mas o setor de máquinas, equipamentos e implementos agrícolas se preocupa com os altos juros dos financiamentos e se os recursos dele serão suficientes para enfrentar os desafios que vêm por aí. MARCUS FREDIANI

E

mbora os resultados do 1º Semestre ainda estejam sendo tabulados, os números do 1TM 2022 divulgados em abril pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ) cravaram um sinótico de evolução bastante interessante para o setor de máquinas, equipamentos e implementos agrícolas. Batendo em 9% no período, eles ultrapassaram os 5% previstos para o ano, pela entidade. Siderurgia Brasil 158 - Julho - 2022

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MERCADO

tem a ver com o fato de o agronegócio não ter parado em nenhum momento durante a pandemia. “A rentabilidade dos agricultores foi excepcional em 2020 e 2021, em 2022 apesar de ser menor ainda é bem acima da média de anos considerados normais. Além da rentabilidade, houve um grande aumento de área nos últimos quatro anos. Historicamente rentabilidades altas redundam em maior procura por máquinas potencializado pelo aumento expressivo de área plantada. De janeiro a maio/22 as vendas de máquinas agrícolas dos associados da ABIMAQ cresceram 11,5%”, antecipando o balanço positivo, ainda que parcial, dos resultados do 1º Se-

Foto: ABIMAQ

A superação da expectativa de janeiro a março, confirmou o viés de alta do setor, o que, na prática, está fazendo com que os números para 2022 sejam reajustados para cima. E um dos destaques na divulgação de abril, foram os números das exportações que, em março, cresceram 5,2% em relação a fevereiro. No acumulado do ano, os embarques de máquinas agrícolas apresentaram um aumento de 29,5%. Já as importações tiveram queda de 3,9% em março, e aumento de 29,5% no acumulado do 1TM. Segundo Pedro Estevão Bastos, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA), da ABIMAQ, um dos motivos do bom desempenho do setor

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Pedro Estevão Bastos, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA), da ABIMAQ Siderurgia Brasil 158 - Julho - 2022

mestre de 2022. Apenas a título de registro, no ano passado, as vendas de máquinas agrícolas tiveram um incremento de 41% sobre 2020, resultado esse que havia cravado um crescimento de 17% sobre 2019. Complementarmente, em termos de resultados e expectativas, dois indicativos também atestam o bom momento vivido atualmente pelo setor. Realizada em abril, em Ribeirão Preto/SP, a feira Agrishow 2022 fechou um total de R$ 11,2 bilhões em negócios, superando de longe, em 286,2%, o volume registrado em sua última edição presencial, promovida antes desta, em 2019. E, após cinco dias de programação, a AgroBrasília 2022 chegou ao seu final, no dia 21 de maio, com recorde de R$ 4,6 bilhões em negócios.


potencial para fazer o produtor comprar no-

Mas, claro, algumas situações continuam a embaçar as lentes das expectativas do setor. E uma delas deriva exatamente da performance extraordinária citada por Bastos. Explica-se: com o produtor capitalizado em função do aumento da rentabilidade, a indústria entregou muitas máquinas nos últimos três anos, o que faz com que não haja tanto espaço para ela crescer neste ano, talvez mesmo com a perspectiva de continuidade de aumento da área plantada, o que, eventualmente, teria

vas máquinas para a nova safra. Mas é aí que a coisa pega. Mesmo com a carteira de pedidos em alta, e com a expectativa de que ela continue assim, o problema da cadeia de suprimentos eletrônicos, iniciado na escassez de fabricação, continua a complicar a vida da indústria de máquinas e equipamentos agrícolas. E ele se estende ainda à falta de navios e contêineres no mundo, que ainda não foi resolvida “E a perspectiva não é de que isso ocorra neste ano”, afirma o presidente da CSMIA, da ABIMAQ. Foto: AGRISHOW

ESPAÇO PARA CRESCER?

Feira Agrishow 2022, realizada em abril, em Ribeirão Preto/SP Siderurgia Brasil 158 - Julho - 2022

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MERCADO sabe, podem não ser as soluções mais adequadas, viáveis e, porque não dizer, totalmente factíveis. “Não houve avanços significativos na solução desses problemas. Acredito que a principal solução seria a abertura de novas fábricas. Porém, a instalação dessas novas unidades de produção demora anos”, pontua. E não é só isso: a falta dos microcomponentes também vem impactando a manutenção das máquinas já em uso pelos produtores. De acordo com Pedro Estevão Bastos, da ABIMAQ, aquelas que fazem uso de microchips mais antigos são as mais prejudicadas, em função da demora da entrega das peças de reposição. Daí, no campo das hipóteses, aparente-

Seja como for, quando o assunto é tecnologia embarcada, no estágio atual, a indústria brasileira de máquinas, equipamentos e implementos agrícolas não deixa nada a dever aos grandes fabricantes internacionais. E o mesmo se aplica às inovações: “Sempre há espaço para ela, mas estamos bem posicionados quando comparados a outros países, nossas máquinas são ou iguais ou mais tecnificadas que as concorrentes estrangeiras”, sublinha Bastos. Foto: Sistema FAEP-SENAR-PR

mente só existem duas saídas para a indústria brasileira do setor: tentar aumentar o estoque dos componentes importados, ou substituí-los por peças nacionais, opções essas que, se

TECNOLOGIA E TENDÊNCIAS

Ágide Meneguette, presidente do Sistema FAEP-SENAR-PR

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Siderurgia Brasil 158 - Julho - 2022


Mas, na prática, é a velocidade da reposição desses equipamentos que ainda preocupa. Segundo relatou o presidente da CSMIA/ ABIMAQ, em entrevista concedida à Imprensa, em fevereiro deste ano, embora exista uma renovação natural do parque de máquinas comuns, a última demanda forte, na qual se observou um boom de vendas já tem quase dez anos. E elas estão ficando velhas. “Uma máquina comprada há dez anos não

tem a tecnologia embarcada que as máquinas novas, estando totalmente defasada. Nesse aspecto, o atraso em relação à tecnologia é bem maior. A tecnologia está caminhando a passos largos e o produtor não acompanha. Por exemplo, máquinas que têm computadores de bordo e são conectadas à internet recebem novidades a cada seis meses, assim como celulares, em que é possível agregar outras funções na parte eletrônica dos equi-

Siderurgia Brasil 158 - Julho - 2022

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Foto: ABIMAQ

MERCADO

João Carlos Marchesan, presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ

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pamentos. Obviamente, algumas máquinas não possibilitam essa atualização. Hoje, a Agricultura se elevou a automatização para outros patamares, com a adoção da Internet das Coisas, da Inteligência Artificial e do Big Data”, explicou na ocasião, acrescentando que o tamanho das máquinas também ficou maior, o que, em certas regiões do país, permite que as atividades agrícolas sejam realizadas em áreas gigantes, em meio a curtas janelas operacionais, por meio do uso de sistemas de análises que permitem rápidas e mais acertadas tomadas de decisões. Assim, com a expansão da digitalização no campo, é natural que mais ferramentas surjam para gerar mais ganhos operacionais e, por tabela, uma gestão agroeconômica e financeira ainda mais eficaz. E isso leva a uma conclusão irrecorrível: com máquinas mais inteligentes e capazes de tomar decisões, a necessidade de a capacitação da mão de obra – não só a dos operadores, como também a dos agrônomos e dos administradores e proprietários rurais – também tenderá a se tornar cada vez mais essencial. Simultaneamente, outra tendência marcante que já se manifesta, e deverá marcar cada vez mais no futuro do agronegócio, é da Siderurgia Brasil 158 - Julho - 2022

sustentabilidade, na seara da governança ambiental, social e corporativa, plasmadas pela intensificação dos processos de implementação das práticas de ESG, sigla do inglês Environmental, Social and Corporate Governance. “A sustentabilidade é uma agenda sem volta no agro, junto com a governança e as ações sociais. A indústria brasileira de máquinas, equipamentos e implementos agrícolas está atenta e muito bem preparada para atender às demandas desse novo paradigma. Atualmente, a tecnologia embarcada e os controles das operações e do meio ambiente via softwares já fazem grande diferença na gestão/governança, das propriedades, bem como em soluções que visam à economia de insumos e ao conforto e segurança para operadores, todas norteadas pelo conceito da ESG”, destaca Bastos

PLANO SAFRA 2022/2023 E, da mesma forma que as ações de governança no agro brasileiro se encontram linkadas de forma indissolúvel ao movimento de sua expansão digital, é mais do que legítimo inferir que a via rumo ao futuro tem que passar obrigatoriamente pela atualização e modernização do setor, o que torna óbvia a necessi-


Alardeado pelo Planalto como o “maior da história”, o volume de recursos foi, sem dúvi-

Foto: MAPA

dade de ampliação dos investimentos para o atingimento de metas superlativas. Nesse sentido, na tentativa de fazer a sua parte, no dia 29 de junho o governo federal lançou o Plano Safra 2022/2023, que vai disponibilizar um total de R$ 340,88 bilhões em financiamentos para apoiar a produção agropecuária nacional até junho do próximo ano. O valor, segundo o Ministério da Agricultura, representa aumento de 36% em relação ao Plano Safra anterior, que disponibilizou R$ 251 bilhões a produtores rurais.

da, comemorado pelo setor, notadamente em função de algumas benesses interessantes direcionadas ao crédito. Por exemplo, o novo Plano Safra também aumentou, de 50% para 70%, a possibilidade de uso dos recursos das Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), que são títulos de renda fixa emitidos pelos bancos para financiar atividades agropecuárias. Em linha com a proposta, os recursos para os pequenos produtores rurais, por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf ), subiram 36%. Já para os médios produtores, houve um aumento de 28% em relação à safra passada, no âmbito do Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp). Além disso, o Plano Safra 2022/2023 também destinará recursos significativos para vol-

Anúncio do Plano Safra 2022-2023 Siderurgia Brasil 158 - Julho - 2022

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MERCADO

tados à sustentabilidade, dentro da agenda do Programa ABC, que financia a recuperação de áreas e de pastagens degradadas, a implantação de sistemas de integração lavoura-pecuária-florestas, e a adoção de práticas conservacionistas de uso, manejo e proteção dos recursos naturais. Também foi criado o ABC+ Bioeconomia, mecanismo que prevê investimentos em sistemas de exploração extrativista não madeireira, de produtos da sociobiodiversidade e ecologicamente sustentáveis. Outras novidades anunciadas pelo governo foram o financiamento de remineralizadores de solo (pó de rocha), que tem o potencial de reduzir a dependência dos fertilizantes importados – algo muito bem visto em função dos atuais impactos da continuidade da Guerra da Ucrânia –, bem como recursos de perto de R$ 2 bilhões para o Programa Proirriga, que contempla o financiamento de todos os itens inerentes aos sistemas de irrigação, inclusive infraestrutura elétrica, reserva de água e equipamentos para monitoramento da umidade no solo. Complementarmente, entre os financiamentos previstos, está também a majoração das linhas de crédito relacionadas ao Inovagro – que terá R$ 3,51 bilhões em recursos para

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o incentivo à inovação tecnológica e para investimentos necessários para a adoção de boas práticas agropecuárias e de gestão da propriedade –, e os sistemas de conectividade no campo, softwares e licenças para gestão, monitoramento ou automação das atividades produtivas, além de sistemas para geração e distribuição de energia produzida a partir de fontes renováveis, e, ainda, daquelas que contemplam o Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), que financiará investimentos necessários para a ampliação e construção de novos armazéns.

JUROS ALTOS Porém – e sempre há um “porém” –, embora tido como “histórico” em termos de disponibilização de recursos, o anúncio do Plano Safra 2022/2023 também gerou muitas dúvidas e questionamentos, principalmente quando se fala em juros. Isso porque, com a tendência da elevação da Selic, que vem sendo registrada nos últimos meses, também ocorreu no Plano Agrícola e Pecuário (PAP), com elevação nos valores praticados – algumas linhas terão taxas acima dos dois dígitos. Segundo nota técnica emitida no dia 1º de julho pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o PAP 2022/2023, divulgado pelo governo federal no mesmo dia do anúncio do Plano Safra 2022/2023, foi construído em meio a uma série de adversidades econômicas, políticas e climáticas, que trouxeram grandes dificuldades ao setor. E, no rol destas, a constante elevação na taxa de juros


surge como um dos principais e atuais desafios para a evolução do agro brasileiro. Embora mantendo avaliação positiva sobre o volume de recursos disponibilizados pelo governo federal, uma das vozes que atenta para a questão dos juros altos, é a de Ágide Meneguette, presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR (Federação da Agricultura do Estado

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s

do Paraná e Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Paraná): “Produtividade se constrói com planejamento e previsibilidade. Se o setor agropecuário sabe o quanto terá à disposição para contratar crédito e fazer o seguro rural, pode se dedicar ao seu trabalho de alimentar o mundo. O Plano Safra 2022/2023 realmente superou nossas expectativas, com

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MERCADO

a previsão de valores mais robustos do que aqueles disponibilizados nos anos anteriores. Porém, o que chamou nossa atenção foi o aumento nas taxas de juros das linhas de financiamento para o produtor. Na verdade, nós já o esperávamos, mas não imaginávamos que ele ultrapassaria os dois dígitos, como no caso dos programas Moderfrota, Procamp Agro, Moderagro e Inovagro”, sublinha.

E O DINHEIRO, VAI DAR? Além disso, para alguns setores a preocupação é que o valor não será suficiente para atender a demanda, como é o caso das máquinas, equipamentos e implementos agrícolas. Essa é a avaliação de João Carlos Marchesan, presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ. “Temos que levar em conta que 50% das máquinas agrícolas no Brasil estão defasadas, envelhecidas e precisam ser renovadas. No ano passado, foi destinado um valor de R$ 8 bilhões Moderfrota, dos quais foram efetivamente liberados R$ 7,5 bilhões. E esse recurso acabou rapidamente: entrou em vigor em 1º julho e terminou em outubro”, explica. Ainda segundo o executivo, devido ao fato de que o agronegócio brasileiro vinha em si-

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tuação de preços altos e custos controlados no plano safra anterior, o agricultor acabou tomando recursos por outras fontes, tais como bancos particulares, que tinham taxas não iguais ao Moderfrota, mas semelhantes, o que, entretanto, não é o que acontece hoje: neste Plano Safra, o valor de financiamentos de R$ 10 bilhões destinados ao programa está sendo disponibilizado com taxa de 12,5% ao ano, que é alta, mas é menor na comparação com a dos bancos particulares, que atualmente gira em torno de 15% e 18% de juros ao ano para investimento em máquinas agrícolas. “Além disso, esse valor de R$ 10 bilhões em função dos custos que se elevaram pela inflação, não será suficiente e estimamos que ele não chega ao mês de setembro, mesmo porque a implementação do Plano Safra está atrasada. Foi anunciado no finalzinho de junho, e até agora ainda não foram aprovados os recursos para a equalização das diferenças de taxas de todo plano, que é R$ 320 bilhões. E isso já vem impactando negativamente no agronegócio como um todo, porque os agricultores precisam comprar fertilizantes, sementes e precisam realizar investimentos. Assim, os recursos são muito poucos”, finaliza Marchesan.


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Foto: Divulgação New Holland

OPORTUNIDADES

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INVESTIDORES I AGRON

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INTERESSADOS NO NEGÓCIO BRASILEIRO Entre fundos de investimentos e grandes empresas, existem mais de 1600 investidores em 63 países interessados em avaliar uma potencial oferta de aquisição no setor. HENRIQUE PATRIA

C

onsultoria especializada em planejamento com resultados e estratégias empresariais, utilizando ferramentas avançadas de gestão, divulga estudo inédito, apontando que exis-

tem no momento mais de 1000 interessados internacionais em investir no agronegócio brasileiro. No estudo foram 334 companhias mapeadas com potencial para serem vendidas ou receberem aportes, com destaque para o setor de fertilizantes especiais e soluções biológicas. Em 2021, o mercado de fertilizantes e defensivos agrícolas cresceu cerca de 80% em relação ao ano Siderurgia Brasil 158 - Julho - 2022

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OPORTUNIDADES

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de 2020. Notou-se um aumento de 14% no

vulgados pelo Governo. Essa lacuna no

volume vendido, o que evidencia uma ten-

fornecimento representa, portanto, uma

dência de maior emprego pelos agriculto-

oportunidade para o país, visto que au-

res desse tipo de mercadoria. Também foi

menta o potencial de produção in loco.

observado um surpreendente aumento de

Diante desse cenário, a Hand, empresa fo-

62% no preço dos produtos vendidos, o

cada em operações de fusões e aquisições

qual se atribui ao maior custo das matérias-

analisou a configuração atual do agronegó-

-primas decorrente de um desalinhamento

cio brasileiro e verificou que, entre fundos

na cadeia de suprimentos global, conforme

de investimentos e grandes empresas, exis-

aponta o Sindicato Nacional da Indústria

tem mais de 1600 investidores em 63 paí-

de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg).

ses interessados em avaliar uma potencial

A invasão russa na Ucrânia desencadeou

oferta de aquisição no setor. A Hand ainda

uma corrida por produtores de fertilizan-

realizou uma análise de 56 transações --

tes na América Latina. A Rússia, até então,

venda de empresas -- no agronegócio bra-

era o maior exportador de fertilizantes do

sileiro que ocorreram nos últimos três anos.

mundo, com vendas de 7,6 bilhões de dó-

“O interesse por empresas produtoras de

lares em 2020, segundo o Observatório

fertilizantes e defensivos, com destaque

Econômico da Competitividade (OEC), va-

aos fertilizantes especiais e soluções bio-

lor que representava mais de 12% da oferta

lógicas e orgânicas chama a atenção, vis-

global. O fornecimento russo, todavia, foi

to que 34% das empresas vendidas anali-

praticamente paralisado diante das san-

sadas na amostra eram deste segmento”,

ções internacionais oriundas do conflito,

afirma José Venâncio, sócio da Hand.

contexto que impactou de forma signifi-

O estudo contou com o conhecimen-

cativa o suprimento no território brasileiro.

to setorial de Thomas Britze, atual conse-

O Brasil importou 80,9% das 40,5 milhões

lheiro da Hand na cadeira de agronegócio

de toneladas de fertilizantes que usou

e executivo com 38 anos de carreira no

em 2021, e 20% dessas importações vie-

mercado. De nacionalidade alemã, Tho-

ram da Rússia, de acordo com dados di-

mas, desembarcou no Brasil há 16 anos

Siderurgia Brasil 158 - Julho - 2022


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OPORTUNIDADES Além disso, nota-se que o mercado está aquecido para fusões e aquisições. A TTR (Transacional Track Record) estima que o volume de fusões e aquisições de maneira geral cresceu 19% no primeiro trimestre de 2022 com relação a 2021 totalizando 569 operações, que somam R$ 63,9 bilhões. Assim, Thomas finaliza “Este dado evidencia a para liderar a atividade de agronegócio

relevância e o dinamismo do mercado do-

da Bayer no país e ainda acumulou posi-

méstico brasileiro. Mesmo em um cenário

ções como CEO de outras multinacionais

macroeconômico desfavorável e com ajus-

do agronegócio, como a Amvac e a Helm.

tes de preço no mundo todo, são diversas

Segundo Thomas, são diversas as opor-

as oportunidades de consolidação em di-

tunidades no mercado interno brasileiro.

ferentes segmentos da economia brasilei-

“Através do Hand Data, ferramenta que

ra, sendo o setor do agronegócio um dos

desenvolvemos para identificação de em-

destaques.

presas e investidores, já mapeamos 334

A Hand é uma assessoria independente

companhias com potencial para serem

e especializada na venda, compra e gestão

vendidas ou receber aporte de um fun-

de empresas. https://www.handgc.com.br

mentes, alimentos para animais e especial-

Artigo completo: https://www.sucesso-

mente em fertilizantes especiais, soluções

nocampo.com.br/estudo-mapeia-mais-

biológicas e orgânicas, devido as altas mar-

-de-1000-investidores-interessados-no-a-

gens e o crescimento deste nicho”, destaca.

gronegocio-brasileiro/

Foto: Depositphotos

do de investimento, nas categorias de se-

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PLANEJAMENTO

Foto: Divulgação New Holland

VENCENDO A

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AS DORES DO CRESCIMENTO “Crescer dói”, como já diziam as nossas avós. Mas, esse é, sem dúvida, um processo irrecorrível pelo qual o agronegócio brasileiro precisa continuar passando para, efetivamente, consolidar sua posição de destaque e de protagonismo entre as nações do planeta. MARCUS FREDIANI

A

pesar dos grandes desafios de natureza interna e externa, o agronegócio brasileiro cresce cada vez mais. E na equação tangível desse desenvolvimento, a retirada das “pedras atrapalhadoras” que ainda insistem em permanecer sobre o gigantesco terreno fértil do nosso país-continente, embora lenta e gradual, tem sido uma constante. E se esse processo de evolução, como qualquer outro processo de crescimento, implica dores impostas pelo rompimento dos tecidos antigos para dar lugar àqueles formados pelas novas células, é bastante natural que seja Siderurgia Brasil 158 - Julho - 2022

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Foto: Divulgação

PLANEJAMENTO

assim. Mas, sim, existem formas de acelerar essa gênese, por meio de ações inteligentes, muitas das quais com potencial de serem ativadas pelo simples uso do bom senso, tanto de quem governa quanto de quem, efetivamente, trabalha duro para produzir a riqueza agrícola no Brasil. Essa é, exatamente, parte da mensagem e da verdadeira aula que Ciro Antônio Rosolem, professor titular da Faculdade de Ciências Agronômicas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCA/UNESP), membro do International Plant Nutrition Council e do Conselho Científico do Agro Sustentável (CCAS), entrega, como um verdadeiro presente, aos leitores da revista Siderurgia Brasil nesta entrevista exclusiva. Vale muito a pena ler e refletir sobre as palavras do mestre, que foi incluído e ganhou lugar de destaque na lista recentemente divulgada do AD Scientific Index Ranking Latin America Top 100 Agriculture & Forestry Scientists 2022 – como o nome já diz, o “Top 100” dos cientistas das áreas agrícola e florestal na América Latina –, da qual fazem parte os pesquisadores mais influentes e produtivos dessas áreas na atualidade do continente.

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Siderurgia Brasil: Prof. Ciro, sabemos que a tecnologia vem avançando em muitas frentes no agronegócio. Quais fatores vêm contribuindo nesse sentido? Prof. Ciro Antônio Rosolem: Veja bem, essa é uma bola de cristal, porque o problema é falar em âmbito de Brasil, um território imenso no qual temos diversas situações. Então, se a gente pensar, em máquinas grandes e cada vez maiores, destinadas a fazendas enormes e grandes companhias, o crescimento do uso das soluções da tecnologia é bastante significativo, como vem sendo observado em algumas culturas no estado de São Paulo, e na cultura do algodão em Mato Grosso, também. E isso é uma vertente: daqui há uma década, talvez, o produtor trabalhar sem ter algum suporte da internet e da Internet das Coisas (IoT ). Tanto é assim, que eu estou organizando um congresso sobre um canal de plantas, que vai acontecer agora em agosto, no qual uma das palestras vai ser exatamente sobre a Agricultura 4.0. Sem dúvida ela vem proporcionando muitos benefícios à nova proposta do agronegócio brasileiro.


Verdade. Principalmente quando se fala no desenvolvimento de instrumentos para medir as coisas na agricultura, como se a planta está crescendo, se a umidade do solo é adequada, sem falar nos drones e na tecnologia dos satélites. Tudo isso vem evoluindo muito rápido. Mas o que falta agora? Falta desenvolver os parâmetros do chão, da planta e do solo para fazer a correlação com o que os instrumentos conseguem ler. Isso tem muito que desenvolver ainda. Creio que vamos acabar chegando lá, mas vai demorar um pouco ainda. O pessoal até faz e vende esse tipo de serviço, mas acontece que os parâmetros iniciais não são bons, as correlações não são boas. Como assim? Bem, até se consegue fazer alguma coisa nesse sentido, quando, por exemplo, um trator atola e por aí vai. Mas esse é apenas um lado. O outro, é qualidade de mão de obra. Você vai hoje nas fazendas grandes, e encontra lá um trator de R$ 1 milhão-R$ 1,2 milhão, mas se você entrega a máquina na mão de uma pessoa não totalmente habilitada, a coisa não vai dar certo. OK, você pode me dizer, “Ah, mas aí a solução é pegar um profissional com

formação superior”, só que esse profissional não existe atualmente na quantidade necessária. Então, o que acontece? A automatização e a robotização dos tratores, por exemplo, está acontecendo de monte. Hoje, eu não conheço uma das grandes fazendas que não trabalha pelo menos com GPS, com georreferência, ferramenta que permite que alguém em uma sala de controle consiga ver onde o trator está, recurso que vem sendo utilizado pelos grandes produtores. E ainda estamos vivendo com o problema da limitação de sinal. O velho problema do 5G, não é mesmo? Olha, acho bom o 5G vem melhorando a questão do sinal, e ainda deve crescer muito, porque isso vai passar a compensar cada vez mais a compra de um trator grande. E acredito que o desenvolvimento da tecnologia, soluções como essa vão ficar muito baratas e, a partir do momento que você estiver no meio do campo e tiver o 5G disponível, todo mundo vai querer ter. Então, com a tecnologia ficando mais barata, creio que essa realidade vai começar a ser transplantada para as máquinas e produtores menores, até porque esse tipo de acesso já vem sendo efetivamente pasSiderurgia Brasil 158 - Julho - 2022

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sado dos grandes para os médios agricultores. E se já tem muita gente trabalhando assim, uma hora isso também vai chegar ao pequeno produtor. Isso, sem falar que já existem muitos e muitos jovens, filhos e netos daquilo que poderíamos chamar de “patriarcas” da agricultura, entrando no agronegócio. Sim, essa é outra vertente bem nítida, a da sucessão natural no campo. Veja o meu caso: meus avós chegaram ao Brasil para substituir o trabalho escravo. Meu pai conseguiu fazer o 1º e 2º ano do que hoje se chama “Ensino Fundamental”, e, primeiro foi um sitiante do interior de São Paulo, depois foi para o interior do Paraná abrir as fronteiras agrícolas na região de Londrina na década de 1960. E, hoje, eu e meus irmãos somos formados em faculdades, digamos, formando uma 2ª geração, que está um pouco melhor. E, agora, quem está assumindo é a 3ª geração, muito mais culta, antenada e familiarizada com a digitalização e utilização dos recursos da tecnologia no campo. Então, trata-se de uma evolução natural e gradativa, como citei aí atrás, o que é muito bom.

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E como você avalia o nível de preparação em termos de preparação técnica dessa 3ª geração? Os jovens que a compõem, sem dúvida algumas, estão muito preparados para enfrentar os desafios atuais e aqueles do futuro. E isso vai além da preparação técnica: eles têm uma cabeça diferente, voltada para a inovação. São muito mais permeáveis à tecnologia, e a conhecem muito bem porque foram criados dentro dela. E embora seja muito difícil colocar isso em uma escala de tempo, porque o acesso a algumas coisas no campo da tecnologia continue muito caro – além de ainda existirem várias barreiras e restrições impostas aos nossos produtos no exterior –, não tem jeito: os outros países não têm onde produzir, e isso será feito no Brasil. E ponto final. Então, na sua opinião, aquela velha premissa de que o Brasil é o “celeiro do mundo” é verdadeira? Sim. E isso advém de algumas constatações muito simples. Basta você ver o que acontece nos outros países nos quais ainda existem áreas grandes para o plantio, como é o caso do Sudão, na África, onde


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PLANEJAMENTO

Foto: Divulgação New Holland

alguns grupos empresariais, inclusive brasileiros, plantaram algodão e obtiveram bons resultados em termos de produtividade por lá, em função dos baixos custos de produção, mas, na hora de colher, devido aos conflitos constantes e à insegurança política, podem enfrentar problemas com as lideranças locais, que podem até reivindicar a propriedade do negócio. Aqui na América do Sul, dizem também

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que existem 20 milhões de hectares na Colômbia, com planaltos muito bons de cultivo, assim como acontece com a Venezuela, mas, em sã consciência, alguém vai produzir lá? Não vai. Pelo menos por alguns bons anos. Então, a coisa toda vai acontecer aqui no Brasil. Mesmo com essa história recorrente de que nosso país vai acabar e vai acabar “virando” Venezuela ou Argentina, isso não vai acontecer. Outra


coisa, derivada da questão ambiental, que é muita séria e tudo mais, mas o Brasil começou a trabalhar positivamente com ela. Então, vai passar, tudo isso também vai ser bem equacionado. Mas, objetivamente, o que é preciso para melhorar a nossa produtividade? Não tem muito segredo aí: temos que fazer uso de todos os recursos que temos disponíveis para eficientizar a performance no campo dos agricultores que hoje têm produtividade baixa por hectare, principalmente daqueles que cultivam soja, milho e algodão, sem mexer na área plantada e da necessidade de fazer pasto virar lavoura. E isso não só pela intensificação do uso da tecnologia, mas também pela melhoria da assistência técnica e do financiamento. Fazendo isso apenas, a gente consegue, por baixo, aumentar a nossa produtividade entre 25% e 30% Os recursos de R$ 340,88 bilhões do Plano Safra 2022/2023, recentemente anunciados pelo governo federal, serão suficientes para fazer isso: Olha, se você perguntar isso para qualquer agricultor, ele vai dizer que é pouco. E é mesmo. Não fiz essa conta, mas, se você

pegar o que nós termos de agricultura, juntando soja, milho e algodão à cana-de açúcar, café e outras culturas, seriam necessários pelo menos R$ 400 bilhões para se fazer isso. Então, o fato é esse: os recursos não serão suficientes para financiar tudo. Mas você julga que é o governo que precisa mesmo financiar tudo? Acho que não, até porque muita gente hoje, os grandes produtores, por exemplo, tomam empréstimos internacionais. E outra coisa, e os menores fazem aquela “troca verde”, por meio de contratos com as companhias de commodities, que têm acesso ao financiamento estrangeiro, e fornecem todos os recursos para o agricultor produzir, e que serão pagos por ele só na hora que entregar as colheitas lá na frente. Mas aí, qual é o problema este ano? É que o financiamento internacional também ficou caro. E o mesmo acontece com os juros dos empréstimos financiados por meio do Plano Safra, que são muito altos, E aí, é lógico, o produtor vai chiar. Mas, na prática, poderia ser diferente? Eu acho difícil. Na situação atual em que o país se encontra, como é que o governo e os bancos vão se dispor a conceder fiSiderurgia Brasil 158 - Julho - 2022

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PLANEJAMENTO

nanciamentos com taxas inferiores a 10%, 12% ao ano? É complicado, lembrando ainda que, salvo algumas situações particulares, a agricultura no mundo é subsidiada, entendeu? Nós ainda estamos conseguindo brigar, para, talvez no futuro, conseguirmos subsídios mais equilibrados. Emprestar dinheiro e tirar juros é algo que, hoje, o Brasil não tem condição de fazer. Então, estamos vivendo uma situação que não é estrutural, mas, conjuntural. Mas, acredito que, mais um ou dois anos, isso também vai passar, vai voltar ao normal, e aí a gente vai conseguir andar. Outra coisa que está acontecendo muito é que os pequenos agricultores, que ficam fora do mercado, estão arrendando suas terras para os maiores, que utilizam máquinas melhores e mais eficientes para produzir, renovando suas frotas a cada três, quatro ou cinco anos, o que os pequenos não conseguiriam fazer. Particularmente, eu não acho isso ruim, porque se os pequenos estão ganhando mais arrendando, por que eles têm que ficar lá enfrentando todos esses problemas? Tendo tudo isso em tela, como você analisa as críticas do setor industrial, cuja atividade vem, ano a ano, per-

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dendo participação no PIB brasileiro, em contraste com o que acontece com o agronegócio, afirmando que é ruim o país viver apenas da exportação de commodities? Bem, embora eu não possa garantir ou provar o que vou falar, mas que, enfim, é a minha leitura sobre esse tema, acredito que a agricultura é um dos setores que, ao longo dos anos, vêm se mantendo mais ativo no desenvolvimento de suas ações. E uma das consequências disso é que ela está muito bem, obrigado! E, outra coisa, é que a indústria brasileira não investe tanto quanto deveria em pesquisa tecnológica. Só a título de exemplo, se você pegar as universidades norte-americanas, mais 50% do que é investido em pesquisa nela vêm da indústria, enquanto, aqui no Brasil, essa cifra não chega a 10%. Então, mesmo que por diversas razões até compreensíveis para que isso aconteça, fato é que a indústria brasileira, por um bom tempo, até por motivos políticos e de “padrinhagem” e coisas do tipo, ficou muito acomodada. E eu vou dar um exemplo clássico, que foi a proibição de importação de computadores. Quanto tempo isso ficou proibido? Entendeu?


Um protecionismo paralisante... Pois é. E que segurou o desenvolvimento da indústria, até que as coisas começassem, por força, a se abrir e promover crescimento. Hoje, por exemplo, as melhores máquinas da John Deere estão e são produzidas no Brasil. Por quê? Porque aqui existe uma demanda real, que viabilizou o investimento da empresa em fazer isso por aqui. E fatos como esse levam muitas vezes as pessoas a reclamar que, em nosso país, não temos muitas patentes por “culpa” da área acadêmica, o que não é verdade. Temos poucas patentes porque as universidades não têm dinheiro para investir em pesquisa tecnológica. E, às vezes, você precisa montar uma planta-piloto para viabilizar esses estudos. E isso, além de ser caro, nem sempre dá certo. E aí você tem que jogar tudo fora dentro do processo natural de pesquisa. Mas houve momentos, digamos, “melhores” ao longo dessa história? Não. Nós nunca trabalhamos com muito dinheiro. E, o que é pior, esses recursos diminuíram. E este ano, de certa maneira, está particularmente difícil para a área acadêmica, entretanto, com um viés positivo.

Como assim? Bem, vou explicar com um exemplo do que aconteceu recentemente conosco. Em junho de 2022, abrimos um processo seletivo com 14 vagas para pós-graduação aqui na UNESP, e só apareceram sete candidatos. Apesar da baixa procura, isso é bom, porque, sob um determinado ponto de vista, isso significa que o mercado está absorvendo um maior número de profissionais, e que só estavam indo para a pós-graduação um pequeno número de alunos que – com exceções honrosas, é lógico – não estavam conseguindo colocação no mercado, e que vieram atraídos pelo sistema de bolsa da CAPES e do CNPq, embora muitos deles não tivessem o perfil de pesquisa. Então, são duas coisas diferentes. Conheço muitos colegas do interior que têm projetos grandes com empresas, e estas pagam bolsas de doutorado para os profissionais desenvolverem pesquisas, o que nunca conseguimos fazer integralmente aqui na UNESP. Assim, com essas empresas investindo R$ 200 mil, ou 250 mil em cada projeto, esses profissionais nunca mais voltam aqui. Então, por que a gente vai reclamar? Hoje em dia, o tema da sustentabilidade e da preservação do meio amSiderurgia Brasil 158 - Julho - 2022

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PLANEJAMENTO

biente está muito em voga. E, de forma incisiva, muitas correntes vêm se levantando, em várias frentes, contra o relaxamento da atual legislação brasileira sobre a questão agrícola. Como você avalia essa dinâmica? Eu faço parte aqui em São Paulo de uma organização chamada Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), que tem por objetivo discutir temas relacionados à sustentabilidade da agricultura e se posicionar, de maneira clara, sobre o assunto. Por meio dele, o que a gente quer é colocar um pouco de verdade nessas coisas negativas que se falam por aí na Imprensa e até em livros escolares sobre a conexão entre a agricultura e a defesa do meio ambiente, notadamente no que diz respeito à utilização de defensivos agrícolas. Faz 30 anos que essa ideologia que mais desinforma do que informa vem sendo incutida nos alunos das escolas. E, hoje, aqueles alunos são professores. Ou seja, eles continuam a ensinar a seus alunos essas ideias imprecisas e ultrapassadas. Exatamente. E é contra essa ideia que vem sendo passada de que os grandes proprietários que fazem uso dos defen-

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sivos são bandidos que nós estamos brigando no CCAS, tentando levar informações verdadeiras e esclarecimentos à população. Só que, embora o Conselho seja muito bem estruturado, contando com especialistas nas mais variadas áreas de abordagem sobre esse e outros temas relacionados à sustentabilidade e ao meio ambiente, pontos que, sob a visão da imagem e da tecnologia, a indústria brasileira ficou muito acomodada. Ficamos muito atrasados nessas discussões, cujo desenvolvimento, por meio da apresentação de argumentos técnicos perfeitamente sintonizados com o nível das exigências legislativas e fitossanitárias, poderia ser amplamente comprovado. Mas o pior nessa história é que o CCAS está com muita dificuldade de financiamento para continuar vivo, uma vez que não vamos conseguir fazer isso com os recursos que dispomos atualmente. Em suma, poderíamos jogar luz e contribuir muito com o esclarecimento dessas questões relacionadas à sustentabilidade ambiental, embora eu acredite que o grande entrave que obstaculiza o amplo e pleno desenvolvimento do agronegócio no Brasil continue sendo o da insegurança jurídica. Mas isso, como sabemos, é outra história.


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FUTURO

A TECNOLOGIA DO E A INFLUÊNCIA Foto: Shutterstock

Já foi oferecido em um recente evento a possibilidade para que os interessados embarcassem em um trator 100% digital, com todas as possibilidades de uma situação real e suas movimentações.

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DANIEL GOETTENAUER*

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METAVERSO NO AGRONEGÓCIO

D

entre os assuntos mais presentes no setor da tecnologia e que carregam as maiores expectativas dos próximos anos sobre sua aplicação, está o metaverso. Esta tecnologia que, inicialmente foi algo mais atrativo para usuários de redes sociais e gamers, hoje mostra um potencial de recriar o mundo físico em um ambiente digital, possibilitando a simulação de situações reais. De fato, é até difícil prever como as atividades comerciais funcionarão, dado o grande leque de inovação que o metaverso irá nos fornecer. O poder que essa nova tecnologia oferece é uma tradução do contato físico em um ambiente que podemos chamar de “phygital”. A possibilidade de participar de reuniões, treinamentos, conhecimento e monitoramento de produtos sem sair de casa é o que definirá a permanência do metaverso nos setores comerciais, dentre eles, o agronegócio que é um dos mais aderentes às

inovações para melhorar sua produtividade, reduzir os desperdícios e otimizar a gestão. Já existem ambientes “phygitais” voltados para o agro, com o intuito de simular uma experiência real com o maquinário. No evento Show Rural Digital de 2022, um dos maiores do segmento no país, foi apresentado um exemplo desta tecnologia com Pulverizadores. Desenvolvido pela Basf Brasil, o mundo virtual oferecia aos agricultores a possibilidade de embarcar em um trator 100% digital, porém com todas as possibilidades de uma situação real e suas movimentações. Parecido com isso, também há uma iniciativa chamada Farming Simulator 22, que permite ao gamer uma experiência lúcida do que é viver em uma lavoura de criação, possibilitando atividades como o manuseio de tratores, plantio, colheita e planejamentos relacionados ao clima, se tornando uma imersão real no cotidiano da agropecuária.

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Foto: Divulgação

FUTURO

Daniel Goettenauer, é especialista em Inovação do Manaus Tech Hub, iniciativa do Sidia Instituto de Ciência e Tecnologia com o propósito de contribuir com o ecossistema de inovação da região.

A popularização desta tecnologia de-

virtuais se mostraram mais úteis do que

pende muito de como os setores empre-

imaginávamos há uma década, e com o

sariais receberão a novidade. A tendência

confinamento as novas tecnologias de in-

é que, ao perceber que processos como as

teração virtual se confirmaram como uma

vendas, compras, aluguéis, testes e simu-

tendência que chegou para ficar e evoluir.

lações são mais estratégicos, ágeis e lucra-

Vale lembrar que com o auxílio de outras

tivos dentro do metaverso, a tecnologia se

tecnologias chegarão em peso, como o

instale em nossos cotidianos de uma vez

5G, a interação virtual passará cada vez

por todas, possibilitando a oferta de pro-

mais por otimizações e aperfeiçoamentos.

dutos e serviços para os consumidores em

Portanto, vale a pena nos mantermos por

um ambiente totalmente novo.

dentro das novidades que este novo me-

Sabemos que nos últimos anos, durante a pandemia da Covid-19, os espaços

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taverso deve criar, principalmente no setor de agronegócio. Fique de olho.


Siderurgia Siderurgia Brasil Brasil 157 158 -- Junho Julho - 2022

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TÉCNICO

OTIMIZAÇÃO NO PRO LAMINAÇÃO A QUEN DE AÇO DIRECIONAD O processo permite eliminar os processos de bobinamento e estocagem temporária passando o produto diretamente para as linhas de decapagem através de um Cooling System (sistema de resfriamento) em linha contínua e fracionada. EDILBER TO C ARVALHAIS BR AG A*

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OCESSAMENTO DE NTE PARA PRODUTOS DOS A DECAPAGEM 1. PROCESSO ATUAL –

Resumo do Processo: Partindo da laminação a quente, a chapa chega ao processo de bobinamento e posteriormente é estocada por até 72 horas para sua temperatura cair a cerca de 60 °C, ao ponto de se dar continuidade ao processo de decapagem das bobinas. 1.2. Algumas vantagens: 1.2.1. As bobinas são unidades bem definidas para os clientes e/ou processos seguintes; 1.2.2. Propiciam acompanhamento logístico por unidade/cliente; 1.2.3. São relativamente fáceis de estocar e transportar internamente; 1.2.4. Favorecem manutenções setoriais das linhas de produção. 1.3. Algumas desvantagens: 1.3.1. Suscetíveis a sofrerem defeito ao ser processado o seu bobinamento, gerando transtornos operacionais e/ou reprocesso do produto; 1.3.2. Necessitam de espaço (pátios) 1.1.

para estocagem temporária; 1.3.3. Suscetíveis a sofrerem defeitos de manuseio durante o período de estocagem que geram perdas de material e/ou danos aos equipamentos da linha de decapagem; 1.3.4. Necessitam de gastos com administração e movimentação de estoque temporário; 1.3.5. Favorecem erros operacionais no momento da continuidade do processo; 1.3.6. Propiciam defeitos e/ou quebra de equipamentos no seu retorno ao processo, ao entrar na linha de decapagem; 1.3.7. Necessitam de interrupção do seu processamento por 48 a 72 horas, aguardando resfriamento. 1.4. Ponto(s) Crítico(s) do Processo: 1.4.1. De forma geral, após o bobinamento da chapa a uma temperatura média de 650 °C, o produto é transportado por walking beams (vigas transportadoras) e estocados em pátios, com utilização de pontes rolantes, onde aguardam Siderurgia Brasil 158 - Julho - 2022

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TÉCNICO

seu resfriamento até próximo de 60 °C. Durante a estocagem temporária o produto fica a sob risco de sofrer danos com sua eventual movimentação nos pátios, devido à rotatividade do estoque, gerando neste caso, danos à linha de decapagem e comprometendo a qualidade do produto final.

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Além disso, nessa fase, ocorre custo excedente no processo devido à necessidade de mão de obra operacional e de manutenção, peças de reposição para equipamentos, etc. 2. PROCESSO PROPOSTO – 2.1. Síntese do Processo: Eliminar os processos de bobinamento e estocagem temporária passando o produto (chapa) diretamente para a(s) linha(s) de decapagem, reduzindo assim o tempo de processo de 48 a 72 horas para menos de 6 horas 2.2. Objetivo: Eliminar os processos de bobinamento e estocagem temporária de bobinas tornando o processo mais dinâmico. 2.3. Engenharia do Projeto: Construir um Cooling System (sistema de resfriamento)


em linha contínua e fracionada de chapas laminadas a quente para reduzir a temperatura na sua entrada de 600 °C em média, para 60 °C na sua saída, sem prejudicar a qualidade e função aplicativa do produto final, utilizando-se de ventilação mecânica e água (opcionalmente no início do Cooling System) em linha de rolos reta ou com agrupamento vertical e/ou sobreposição de mesas de rolos, com menor tensão possível na opção contínua. (ver fig. 01) 2.4. Desafios do Projeto: 2.4.1. Resfriar o material no menor tempo possível sem alterar a característica do produto. 2.4.1.1. Sugestões em anexo. 2.4.2. Acumular material suficiente para que o processo seguinte (decapagem) reverta paradas ocasionais por falha de equipamento não parando o processo anterior. 2.4.2.1. Sugestões em anexo. 2.4.3. Mudar a direção do material para o caso da impossibilidade de linha reta; 2.4.3.1. Sugestões em anexo. 2.4.4. Efetuar manutenções setoriais (Laminação, Cooling System e Decapagem). 2.4.4.1. Sugestões em anexo. 2.4.5. Elaboração de PCP integrado.

2.5.

Benefícios: 2.5.1. Menor tempo de processamento dos pedidos. 2.5.2. Eliminação de defeitos gerados no bobinamento; 2.5.3. Lucro com a eliminação de reprocesso para cura de defeitos de bobinamento; 2.5.4. Redução de espaço útil com eliminação de pátios de estocagem temporária; 2.5.5. Lucro com a redução do custo operacional de administração, mão de obra, equipamentos e manutenção para o estoque temporário; 2.5.6. Lucro com a eliminação de perdas geradas por defeitos de manuseio do estoque temporário; 2.5.7. Simplificação e facilidade do controle da qualidade.

Edilberto Carvalhais Braga * Especialista em controle de processos em produtos siderúrgicos em pátios de estocagem e programação de simplificação e otimização de procedimentos. Email: edcb50@gmail.com Siderurgia Brasil 158 - Julho - 2022

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E S TAT Í S T I C A S

INDÚSTRIA AUTOMOTIVA EM RECUPERAÇÃO Segundo a Anfavea, entidade que reúne as montadoras de veículos no Brasil, os resultados negativos do primeiro trimestre, influenciaram diretamente no resultado do semestre terminado em junho. Mesmo que os últimos meses mostraram recuperação do setor, não foram suficientes para compensar a queda, que foi ocasionada principalmente pela necessidade de paradas das fábricas em função do desequilíbrio mundial

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que ainda existe na cadeia de suprimentos notadamente na área de microchips. Neste primeiro semestre a queda acumulada na produção de autoveículos foi de 5% com um total de 1.149 em 2021, contra 1.092 em 2022. Os caminhões tiveram um comportamento parecido com queda de 3,9%, com 74,7 mil em 2021 contra 71,8 mil em 2022 e o produto que inverteu totalmente a cur-


va foram os ônibus com crescimento de 28,1% para 10,3 mil em 2021 contra 13,3 mil em 2022. Mas a recuperação está acontecendo e pelo segundo mês consecutivo a atividade superou a marca dos 200 mil veículos entregues em um mês. Em junho, a produção chegou a 203,6 mil unidades. No segundo trimestre, houve crescimento de 20% em relação ao primeiro. “A crise global dos semicondutores vem se prolongando mais do que esperávamos em janeiro, em função de novos fatores como a guerra na Ucrânia e os lockdowns na China causados pela nova onda de covid, que afetam o fornecimento de insumos e a logística global”, explicou o Presidente da ANFAVEA, Márcio de Lima Leite. Com este novo desenho, as projeções de crescimento no ano passaram a para 4,1%, com 2,34 milhões de veículos, na linha de carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus, a serem montados até o final do ano. A projeção inicial da Anfavea era terminar 2022 com crescimento de 9,4% sobre a produção de 2021. No quesito de vendas de veículos no Brasil, a previsão permanece quase inalterada

com queda de apenas 1%. Caso se confirme tal projeção, o ano vai fechar com 2,14 milhões veículos vendidos. O ponto fora da curva e que vem deixando a entidade entusiasmada diz respeito às exportações. Segundo presidente, o Brasil já se firmou como um grande produtor mundial de veículos e principalmente na América Latina nossos produtos fazem muito sucesso. Mesmo com os problemas por que passa a Argentina, ou demais países como Chile, Colômbia e Peru, vem garantido nosso sucesso. Diante disso as novas projeções, mostram crescimento de 22,2%, chegando a 460 mil veículos. A previsão inicial era de alta de somente 3,6% dos embarques a mercados internacionais. Finalizando Marcio alertou para as possibilidades de surpresas favoráveis nos resultados, com o desenvolvimento da retomada do fluxo de fornecimento dos insumos, principalmente os semicondutores. “Historicamente o segundo semestre sempre é bem melhor do que o primeiro e espero estarmos vendo chegar ao fim a crise do abastecimento”. Fonte: Anfavea Siderurgia Brasil 158 - Julho - 2022

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E S TAT Í S T I C A S

OS BONS RESULTADOS NO SEGMENTO DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS Segundo informações divulgadas pela ABIMAQ, no final do mês de junho, as duas feiras promovidas pela entidade respectivamente a Agrishow, no final de abril, e FEIMEC, no início de maio serviram para dar um excelente empurrão na atividade e hoje já se fala que o setor retomou de vez o “viés” de crescimento e os resultados esperados para este ano certamente devem ser melhores daqueles que os projetados no início do período. No mês de maio o setor mostrou crescimento nas receitas liquidas de vendas em relação ao mês anterior de 13,2% e se considerarmos a relação com o mesmo mês do ano passado o crescimento foi de 3,6%. Com isso o segmento

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reduziu a queda acumulada para -4,1%, contra -6,1% em abril, e após os resultados mais recentes, revisou as projeções de desempenho da receita que passaram a considerar maior crescimento no mercado doméstico (+5,8%, contra 3% na estimativa de anterior). Analisando por segmento no período houve forte crescimento da receita de máquinas para uso industrial. Houve também crescimento nas vendas de máquinas para fins agrícolas e construção civil. Outro resultado muito comemorado diz respeito as exportações da entidade que mostraram números que podem ser considerados excelentes, pois continuando a curva ascendente


observada desde o início do ano, mesmo com uma paridade cambial inferior ao mesmo período em 2021 (Câmbio nominal de 2022 R$ 4,97 e R$ 5,46 em 2021) o setor exportou US$ 1,087 bilhão em máquinas e equipamentos. Um ótimo crescimento em valor 21% acima do registrado em abril de 2022, e 33,4% acima do patamar de maio de 2021 (US$ 815 milhões). No acumulado de 2022 (jan. / mai.), o setor já acumulou alta de 31,7% nas suas vendas para o mercado externo. Nas exportações, as expectativas de desempenho em 2022 foram mantidas bem conservadoras (+15%). O nível de ocupação da indústria também voltou a apresentar crescimento. O número ficou 0,6% acima do registrado em abril, atingindo ocupação de 77,4% das instalações. Apesar disto, o nível médio observado nos cinco meses do ano, foi de 78,1%, 1,2% abaixo do nível no mesmo período de 2021 (jan. – mai.).

A carteira de pedidos, medida em número de semanas para atendimento, apresentou leve queda em relação ao mês abr./22 (-1,9%), e também na comparação com mai./21 (-6%). No ano, a carteira de pedidos encolheu 1,1%, mas se manteve ao nível de quase 12 semanas, ou 3 meses, de atividades, mesma carteira de 2021, o que os especialistas consideram um bom desempenho. Com relação ao nível de empregos historicamente em maio foi registrado o segundo maior mês de contratações na história recente do setor de máquinas e equipamentos, com mais de 392 mil pessoas empregadas. Fonte: Assessoria de Imprensa - Abimaq.

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AGRONEGÓCIO: EXPORTAÇÕES DE US$ 15,71 BILHÕES EM JUNHO Com elevação do índice de preços em 28,5% comparado ao mesmo mês do ano anterior, as exportações brasileiras do setor agropecuário atingiram o valor recorde da série em junho de 2022: US$ 15,71 bilhões (+31,2%). Também houve expansão de 2,1% no volume embarcado. No primeiro semestre de 2022, as exportações brasileiras do agronegócio somaram US$ 79,32 bilhões (+29,4%), valor recorde para o período. A expansão ocorreu devido à alta dos preços (+27,7%), enquanto o quantum exportado subiu menos (+1,3%). O agronegócio representou 48,3% das exportações totais brasileiras nos seis primeiros meses de 2022. Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA

VBP EM 2022 ESTÁ ESTIMADO EM R$ 1,241 TRILHÃO O Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) de 2022, com base nas informações de junho, atinge R$ 1,241 trilhão, 1,6% acima do obtido em 2021. As lavouras, com faturamento de R$ 875,50 bilhões, foram as principais responsáveis pelo crescimento do VBP, e apresentaram crescimento real de 5,2%. Sua participação no VBP é de 70%, e a pecuária 30%. Fonte: IMPRENSA MAPA redacao.acs@agricultura.gov.br

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PRODUÇÃO BRASILEIRA DE GRÃOS DEVE ULTRAPASSAR 270 MILHÕES DE TONELADAS A estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é que a safra 2021/2022 ultrapasse 270 milhões de toneladas, com destaque para os estados do Mato Grosso do Sul, Piauí e Bahia. Em entrevista concedida pelo Ministro da Agricultura Marcos Montes, ele afirmou que : “Um dos destaques é o milho. A estimativa de colheita total desse grão está estimada em, aproximadamente, 115 milhões de toneladas, podendo ser um pouco mais. Esse volume estimado é 32% superior ao ciclo passado. Caso as previsões se confirmem, será a maior produção de milho de colheita da segunda safra de toda a nossa série histórica. Fonte: Secretaria Especial de Comunicação Social imprensa.secom@mcom.gov.br

RECORDE DE CRÉDITO RURAL O total das contratações de crédito rural na safra 2021/22 superaram em R$ 42,19 bilhões o que foi inicialmente disponibilizado em junho/2021 (R$ 251,2 bilhões), se situando em R$ 293,41 bilhões, um aumento de 19% em relação à safra anterior. O desempenho favorável ocorreu apesar de as operações de crédito rural com recursos equalizáveis terem permanecido suspensas durante quatro meses, exceto para o custeio no âmbito do Pronaf. Os números fazem parte do Balanço de Desempenho do Crédito Rural, divulgado no início do mês pela Secretaria de Política Agrícola (SPA) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Fonte: IMPRENSA MAPA redacao.acs@agricultura.gov.br Siderurgia Brasil 158 - Julho - 2022

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MERCEDES PRODUZIRÁ ÔNIBUS ELÉTRICOS A empresa está prevendo crescimento da demanda para os próximos anos e com base nestes estudos fez investimentos recentes de mais de R$ 100 milhões e passará a produzir, já este ano, em sua unidade de São Bernardo do Campo -SP, veículos movidos exclusivamente a energia elétrica. O novo veículo foi batizado de EO500U e terá suas primeiras unidades entregues no início de 2023, com autonomia para 250 quilômetros e capacidade para 84 passageiros. Esta autonomia poderá ser ampliada para até cerca de 300 quilômetros, se dois packs de bateria adicionais e opcionais forem acrescentados aos quatro que já virão com o veículo. As baterias poderão ser recarregadas em 2,5 e 3 horas e os novos veículos virão equipados com dois motores no total de 340 cavalos de força. Fonte: Assessoria Mercedes Benz

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IMPLEMENTOS RODOVIÁRIOS EM ALTA

O total de emplacamentos de implementos rodoviários em junho superou a média mensal do primeiro semestre. No mês foram entregues 13.133 unidades, contra a média de 12.500 produtos. “Estamos há dois meses consecutivos registrando volume de emplacamentos acima da média do período o que pode indicar a formação de uma curva positiva de crescimento “, explica José Carlos Spricigo, presidente da ANFIR-Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários. O mercado de implementos rodoviários em 2022 deverá ser de 165 mil unidades. O resultado deverá ficar próximo ao obtido em 2021, quando foram vendidos 163 mil implementos rodoviários. Na distribuição por segmento, a ANFIR estima que poderão ser 80 mil Pesados e 85 mil Leves. Fonte: Anfir

CONGRESSO AÇO BRASIL 2022 O Instituto Aço Brasil realizará nos dias 23 e 24 de agosto o Congresso Aço Brasil 2022, que tem como objetivo reunir os principais stakeholders da indústria do aço para debater as perspectivas e a importância do setor para a economia brasileira. Este ano a programação de painéis ocorre de forma presencial, no Hotel Unique em São Paulo, e on-line pelo link disponibilizado após a inscrição. Na abertura do evento, às 9h do dia 23/08, haverá a cerimônia de posse do Presidente do Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil. https://congressoacobrasil.org.br Siderurgia Brasil 158 - Julho - 2022

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ENERGIA SOLAR COM FORTES INVESTIMENTOS Foto: Divulgação

Para 2022, a expectativa é que o investimento em energia solar fature cerca de US$ 2,4 trilhões, número que corresponde a um aumento de 8% no setor, de acordo com dados levantados pela Agência Internacional de Energia (ou International Energy Agency, IEA, em inglês). O rápido crescimento de empresas que atuam neste segmento endossa as pesquisas, como o caso da Energy Brasil, que em menos de quatro anos alcançou o patamar de maior rede de franquias de energia solar do país. Energy Brasil é a maior rede de franquias de energia solar do Brasil e está presente em todos os estados, atualmente com mais de 450 franquias. https://energybrasilsolar.com.br/novo

ANUNCIANTES DESTA EDIÇÃO Empresa Arcelormittal Brasil S.A. Congresso Aço Brasil Divimec Tecnologia Industrial Ltda. Grips Marketing e Negócios Ltda. Intermach 2022 JLM Negócios e Soluções Ltda. Mercosistem Larzinho Casa Jesus, Amor e Caridade Mercante Tubos e Aços Ltda. Metalurgia 2023 Red Bud Industries Tec Tor Indústria e Comércio Ltda. Tetraferro Ltda.

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