Responsabilidade Social Corporativa
A Sustentabilidade na Indústria de Petróleo, Gás e Energia Renovável: Desafios e Oportunidades
Responsabilidade Socioambiental
no setor de Petróleo, Gás e Biocombustíveis
E
sta publicação tem como objetivo principal disseminar informações úteis a todas as empresas do setor de petróleo, gás e biocombustíveis que estejam interessadas nas práticas de responsabilidade socioambiental e em sustentabilidade, sejam elas pequenas, médias ou grandes. A idéia é dar continuidade à tarefa iniciada no Seminário Anual de Responsabilidade Social Corporativa, – realizado no dia 29 de novembro de 2007, pelo Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), no Rio de Janeiro –, de promover o diálogo interdisciplinar sobre os desafios da sustentabilidade deste setor no Brasil. Procuramos reunir aqui matérias sobre temas ligados à responsabilidade socioambiental que estão atualmente em discussão no Brasil e no mundo; as principais tendências; entrevistas com especialistas em responsabilidade socioambiental no setor de petróleo, gás e biocombustíveis; exemplos de pessoas e empresas que estão desenvolvendo projetos inovadores; opinião de estudiosos, professores, teóricos e pesquisadores; dicas e sugestões para boas práticas de responsabilidade socioambiental nas empresas. Também procuramos reunir diferentes ferramentas que podem ajudar as empresas do setor a alcançar sustentabilidade: normatização, certificação, balanço social, pactos sociais, indicadores setoriais, entre outras. As alterações climáticas estão determinando urgência na mudança de postura do mundo corporativo, especialmente por parte das empresas de setores estratégicos da
economia, como é o caso do setor energético como um todo. O papel da comunicação é decisivo nesse processo. Sem ela para promover a integração entre empresas e seus stakeholders, não haverá sustentabilidade. A comunicação também é responsável pela mudança de mentalidade que se faz necessária no mundo empresarial e em toda a sociedade. Em um cenário onde a economia adquire outro formato para dar conta das transformações que as novas tecnologias sociais estão provocando, iniciativas como as do IBP – com a realização do Seminário Anual de Responsabilidade Social Corporativa e com esta publicação – contribuem para manter viva a discussão sobre temas estratégicos, que determinarão o futuro das empresas diante de uma realidade cada vez mais moldada em valores como a ética, a transparência, o respeito ao meio ambiente e ao ser humano. Mehane Albuquerque Ribeiro 1
Índice Um novo caminho .............................................................................................................................. 3 IBP realiza no Rio primeira edição do Seminário Anual de Responsabilidade Social Corporativa ................................................................. 6 Comissão de Responsabilidade Social do IBP ................................................................................. 11 RSE no setor de petróleo e gás está ganhando força ....................................................................... 12 Indicadores Ethos de RSE para o setor de petróleo e gás ................................................................ 13 Brasil precisa investir urgente em energia limpa ............................................................................ 14 Empresa que tem gestão socioambiental responsável diminui seus riscos financeiros ....................................................................................................... 17 Compêndio reúne ferramentas de responsabilidade socioambiental utilizadas por 33 países .......................................................................................... 19 Sustentabilidade é lucro líquido e certo ........................................................................................... 21 Excesso de propaganda socioambiental causa desconfiança ......................................................... 23 Educar gestores brasileiros para a sustentabilidade é o grande desafio ......................................... 25 As empresas precisam valorizar mais o indivíduo .......................................................................... 27 Compromisso com a verdade gera credibilidade ............................................................................. 30 Consumidores preferem empresas transparentes .......................................................................... 31 Abordagem multi-stakeholder dá o tom da norma internacional de responsabilidade social ......................................................................... 32 Sustentabilidade para pequenas e médias empresas ..................................................................... 35
Expediente IBP – Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis João Carlos França de Luca, presidente José Jorge de Moraes Junior, José Luiz Antonio Barnewitz Loro Orlandi, Michel Hartveld, Stephen Whyte, William Zattar, diretores Álvaro Alves Teixeira, secretário executivo Coordenação da Comissão de Responsabilidade Social Corporativa – 2007 Nara Borges, Shell Brasil (coordenadora); Márcia Cauduro, TBG (vice-coordenadora); Luiz Fernando Rodrigues, Chevron Brasil (vice-coordenador) www.ibp.org.br
A Sustentabilidade na Indústria de Petróleo, Gás e Energia Renovável: Desafios e Oportunidades Lia Medeiros, coordenação editorial Mehane Albuquerque Ribeiro, edição e texto Laércio Lourenço, programação visual Benício Biz Editores Associados, produção gráfica Zit Gráfica e Editora, ctp e impressão IBP, distribuição 2
Um Novo Caminho Lia Medeiros*
O Brasil descobre o Brasil “Nunca subestime a habilidade de um pequeno grupo de pessoas. Elas podem mudar o mundo.” (Margareth Mead) A cada dia mais, os olhos do mundo estão voltados para os problemas de natureza econômica social e ambiental que afetam de forma preocupante as condições de vida em nosso planeta. O Brasil hoje é um dos países do bloco em desenvolvimento que mais está atento à busca de soluções para essas questões. E isso já se reflete no mundo corporativo. As empresas já entenderam que precisam olhar o problema de frente, sob o risco de perder espaço, negócios e, mais uma vez, o trem da história. A palavra de ordem é sustentabilidade e o Brasil tem condições plenas não só de acompanhar esse movimento, que já é irreversível, mas, principalmente, de dar bons exemplos para o mundo. Temos todos os requisitos, inclusive em problemas, para criarmos soluções inovadoras para as questões urgentes que nos afligem. Temos, acima de tudo (e ainda), a nossa terra, o nosso clima, a nossa biodiversidade e, principalmente, os homens que estão na linha de frente das pesquisas, gerando conhecimento. Só falta mesmo a vontade política de por em prática, através de um planejamento estratégico, os investimentos que existem (e não são poucos), na direção certa, para promover as mudanças de base tão necessárias para o nosso crescimento e contribuição efetiva para melhorias no planeta. Nada se faz sozinho ou isoladamente. Acreditamos que através da união de sociedade civil, governo, instituições públicas e privadas, empresas, academia – todos juntos como numa ciranda do bem, ensinando, aprendendo, compartilhando, criando e gerando soluções práticas e possíveis –, poderemos mudar o que não nos convém . Inovar e investir em tecnologias sociais tem sido o trabalho de muitas empresas e instituições de pesquisa brasileiras, abrindo espaço para novas oportunidades de negócios no campo da educação, do design, da arquitetura, das artes, da informação, da geração de energia e tantos outros. E na integração dessas áreas, co-criando com as comunidades locais, respeitando as diversidades sob todas as suas formas, tão enriquecedoras para o crescimento de qualquer empreendimento, estaremos produzindo ações verdadeiramente sustentáveis.
O mundo descobre o Brasil O mundo sempre admirou a alegria do nosso povo, o nosso “jeitinho “ brasileiro. Um “jeitinho” que nada tem a ver com falta de ética ou de profissionalismo, mas sim com as características inatas do nosso povo, da nossa cultura e nossa raça: a alegria, o otimismo e a perseverança. Atributos tão peculiares à cultura brasileira como esses, podem ser um grande diferencial para o país e uma enorme vantagem competitiva no mundo dos negócios. Assistimos na Europa e nos Estados Unidos produtos brasileiros sendo disputados e valorizados na moda, na indústria alimentícia, na propaganda, no esporte, no cinema e nas artes em geral. E através destas peculiaridades, do respeito e da valorização a elas, é que poderemos alterar definitivamente a nossa imagem tão somente ligada à violência e à sensualidade, para uma visão bem mais construtiva, que fortaleça verdadeiramente as nossas relações de negócios com o mundo. 3
As lições aprendidas em casa Acredito que o movimento de responsabilidade social que assistimos hoje em nosso setor não deve ser entendido como uma ação isolada de uma ou outra empresa mais afetada pela opinião pública ou que esteja sujeita aos olhares atentos da mídia. Mas, sim, como resultado de um esforço conjunto de todas as empresas do setor e que mais visivelmente vem ocorrendo há (pelo menos) dez anos no Brasil. Nessa época, com a criação da Lei do Petróleo permitindo a entrada de empresas estrangeiras no país, tivemos várias lições para aprender e muito o que ensinar também. A história da responsabilidade social no setor de petróleo e gás no Brasil se confunde com a história da própria Petrobras, que há cerca de 50 anos investe de formas variadas em projetos sociais. No início, esses projetos se resumiam a ações isoladas e não necessariamente tinham alguma integração entre si ou com objetivos específicos da empresa. Mas em 2001, a Petrobras entendeu a importância de integrar suas ações de responsabilidade social e lançou o Programa Petrobras Social. Dessa forma, a empresa passou a pensar mais integradamente as suas ações e evoluiu da ação social para um conceito mais amplo, que a partir dessa época começou a assumir seus contornos no País: a sustentabilidade. Com isso, a Petrobras passou a ter um envolvimento maior nas ações que patrocina, pois o programa traz uma importante inovação que é estar alinhado à sua missão e aos seus valores. Começa aí uma visão de mudança de paradigma, na velocidade com que se esperava os resultados desses investimentos, que agora virão a longo prazo, pois o foco é privilegiar a diversidade cultural, a promoção da solidariedade, do ‘compartilhar para diminuir diferenças’, usando fortemente a comunicação para ganhar voz e resultados positivos junto às comunidades atendidas pelo programa. O Congresso Mundial de Petróleo, realizado no Brasil em 2002, abriu as portas para a criação da Comissão de Responsabilidade Social Corporativa do IBP. Era evidente a demanda da indústria de petróleo e gás pela criação de um fórum comum e permanente, onde seus representantes pudessem promover o intercâmbio de informações ligadas a esta temática, que já começava a ser voz entre alguns (poucos ainda) em nosso mercado. Um dos passos decisivos para a consolidação da nossa atenção e integração ao tema foi a elaboração, em parceria com o Instituto Ethos, dos Indicadores de Responsabilidade Social do Setor de Petróleo e Gás. Através dos indicadores, o setor já pode identificar quais as questões e as áreas que necessitam de um trabalho mais direcionado e eficaz. Assim, começamos a nossa jornada setorial rumo à sustentabilidade!
Tomando consciência “Ninguém se conscientiza separadamente dos demais. A consciência se constitui como consciência do mundo.” (Ernani Maria Fiori, prefácio do livro Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire) Todo processo de mudança começa na conscientização. Primeiro, de um indivíduo. Depois, se estende a um grupo e chega até uma nação. 4
A internacionalização das empresas, muito peculiar em nosso setor, promove uma rica possibilidade de aprendizado, de troca de conhecimento e nos dá a oportunidade de exercitarmos a importância da valorização das culturas locais. É, sem dúvida, uma via de duas mãos, pois da mesma forma que as empresas brasileiras estão caminhando para o mundo, as empresas estrangeiras também chegam até nós. É fundamental para o sucesso dessas relações o exercício contínuo do aprendizado de uns com os outros. Os nichos de especialização no desenvolvimento de produtos e serviços são uma resposta clara do crescimento da valorização da ‘cultura do um a um’, do humanismo chegando ao mundo dos negócios, virando fator importante nos processos internos das empresas, promovendo transformação, incentivando a inovação, tão importante para o desenvolvimento social. A criação de nichos, ou produtos e serviços especializados é uma resposta ao gosto e a vontade de quem compra, de quem paga e quer escolher como vai equipar a sua empresa, que tipo de alimentação vai consumir e oferecer aos seus funcionários, como vai tratar a informação gerada sobre o seu negócio, escolher de forma justa e adequada os seus fornecedores. Enfim: é cada vez maior a necessidade da liberdade de escolha e do que convém ou não a si próprio ou ao seu negócio. Isso está fazendo a diferença nas relações comerciais e nos ensina que, quanto mais aprendermos, nos informarmos e trocarmos com o outro (indivíduo/empresa), mais sucesso teremos em nossos empreendimentos sustentáveis. Um dos grandes desafios do processo de conscientização é tratar a informação de forma a torná-la clara, transparente e confiável. Isso favorece o aprendizado e facilita as mudanças que certamente precisaremos promover para alcançarmos a sustentabilidade.
* Lia Medeiros é publicitária e integrante da Comissão de Responsabilidade Social Corporativa do IBP.
Momento de mudança ...Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas / Da força da grana que ergue e destrói coisas belas / Da feia fumaça que sobe apagando as estrelas / Eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços / Tuas oficinas de florestas teus deuses da chuva... (Sampa – Caetano Veloso) Dados da ExpoManagement 2007, evento organizado pela HSM, mostram que 1,1 mil gestores procuraram saber como suas empresas podem se tornar mais humanas. O momento grave exige mudanças nos modelos de gestão das organizações, a quebra de paradigmas é fundamental para a implantação de novos valores e fator chave para o alcance da sutentabilidade empresarial. A comunicação planejada é peça fundamental para o aprendizado e disseminação dessa nova cultura / visão. Ela chega nas empresas como uma chuva, daquelas fininhas, levinhas, gostosas, que lava os conceitos cristalizados que não nos interessam mais e abre espaço para incorporarmos os novos. Ela age de forma igualitária, democrática e natural, deixando o “solo” preparado para o que desejarmos semear. 5
IBP realiza no Rio primeira edição do
Seminário Anual de Responsabilidade Social Corporativa
A
Responsabilidade Social Corporativa “É uma forma de conduzir os negócios da empresa de modo que a torna parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social. A empresa socialmente responsável é a que possui a capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes e incorporá-los ao planejamento de suas atividades, buscando atender às demandas de todos, e não apenas dos acionistas ou proprietários”. (Instituto Ethos)
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Responsabilidade Social Empresarial do Sistema Firjan e o Conselho do qual é presidente. Nara Borges, da Shell Brasil e coordenadora da Comissão de Responsabilidade Social Corporativa do IBP, destacou a importância da realização do seminário para o setor, justamente no momento em que o mundo discute não só o uso de novas matrizes energéticas para combater o aquecimento global, mas a adoção da gestão socioambiental responsável como estratégia de empresas nos diferentes setores da economia. O coordenador de responsabilidade social do IBP, Carlos Victal, mestre-de-cerimônias do evento, ressaltou o compromisso assumido por parte das corporações do setor petrolífero com a gestão socioambiental responsável e, em seguida, apresentou os temas do seminário.
IBP: meio século de trabalho pelo desenvolvimento do setor COM 50 ANOS DE ATUAÇÃO, o Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP) é uma organização privada de fins não econômicos que conta hoje com 229 empresas associadas e tem o foco voltado para a promoção do desenvolvimento do setor nacional de petróleo e gás, visando a uma indústria competitiva, sustentável, ética e socialmente responsável. Ao longo desse tempo, o IBP construiu reconhecida credibilidade junto à sociedade e ao Governo, não apenas por seu singular conhecimento técnico, mas também por fomentar as discussões de grandes temas afins para a constante estruturação do perfil do setor. A partir de 2003, o IBP passou por uma profunda reestruturação para garantir maior sintonia de suas atividades e produtos com o setor, sendo estes o resultado do trabalho desenvolvido por 42 comissões, subcomissões
Foto: Divulgação
Foto: Stock.xchng
primeira edição do Seminário Anual de Responsabilidade Social Corporativa foi realizada com sucesso pelo Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), no dia 29 de novembro de 2007, no Centro de Convenções da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro). Cerca de 120 participantes – entre profissionais de empresas do setor, representantes de instituições e estudantes –, estiveram presentes, assistiram a palestras, painéis e fizeram perguntas. Na abertura, o presidente do Conselho Empresarial de Responsabilidade Social do Sistema Firjan, Luiz Chor, falou do impacto positivo das práticas de responsabilidade social nas indústrias do setor no Estado do Rio e aproveitou para frisar que a Firjan está envolvida com essas mesmas práticas desde 2000, quando foram criados o Núcleo de
e comissões ad-hoc, nas quais participam voluntariamente mais de 950 profissionais, entre executivos e especialistas da indústria, instituições científicas e acadêmicas, órgãos do Governo e associações congêneres. (www.ibp.org.br)
Foto: Ailton Santos
Palestras e painéis
PALESTRA 1
André Trigueiro (Globonews) “O mundo é refém dos combustíveis fósseis. As empresas do setor no Brasil estão investindo pouco em fontes de energia limpa. Investir em novas fontes de energia é questão de segurança nacional”. Página 14
A primeira palestra do Seminário Anual de Responsabilidade Social Corporativa 2007, ficou a cargo de André Trigueiro – apresentador do Jornal das Dez e editor do programa Cidades e Soluções –, ambos da Globonews. Preocupado com os relatórios sobre o clima divulgados pelos cientistas, André, que é jornalista especializado em meio ambiente, deu ênfase às questões ligadas ao aquecimento global, como o controle de emissões de gases-estufa; o compromisso das nações signatárias com as metas do Tratado de Kyoto; o desmatamento e as queimadas na Amazônia; a neutralização do carbono; o papel das grandes empresas na gestão ambiental responsável e a urgência de maiores investimentos em fontes de energia limpa. (Leia mais na página 14)
PALESTRA 2
Indicadores de responsabilidade social do setor de petróleo e gás “Nosso grande desafio será mobilizar mais empre-
sas para preencher os questionários e gerar, assim, um comprometimento maior com a prática da responsabilidade social no setor de petróleo e gás”
Em sua palestra, o relações públicas Renato Moya, do Instituto Ethos, traçou uma radiografia do setor a partir de indicadores econômicos gerais, para, em seguida, apresentar os dados dos Indicadores Ethos de RSE – ferramenta de aprendizado e avaliação da gestão no que se refere à incorporação de práticas de responsabilidade social empresarial ao planejamento estratégico, ao monitoramento e desempenho – nas empresas de petróleo, gás e biocombustíveis. No caso deste setor, os indicadores apontam para um aumento na prática de gestões sustentáveis nas empresas, mas ainda há muito trabalho pela frente, na opinião de Renato. Ele ressaltou que em 2005 apenas quatro empresas preencheram o questionário de avaliação. Já em 2006, o número subiu para 31, sendo que 15 eram unidades de uma mesma companhia. 7
PALESTRA 3
Imagem e reputação das empresas – a visão da mídia “Acabou o tempo do ‘falar que é’. Agora é preciso ‘ser’. Não adianta uma empresa investir milhões em publicidade, se os próprios funcionários falarem mal dela”. A publicitária Nádia Rebouças falou sobre o papel da comunicação como aliada da responsabilidade social, sobre a urgência de as empresas utilizarem uma comunicação transparente e correta para interagir com seus públicos interno e externo e sobre a comunicação como instrumento estratégico de gestão. Nádia fez questão de mostrar a diferença entre informação e comunicação. Esta última servindo de ferramenta indispensável na gestão dos impactos sociais e ambientais. Segundo ela, as empresas precisam mudar de postura, deixar de seguir regras para adotar valores e princípios. E a mudança começa dentro de cada um. Para Nádia, hoje já não é mais possível “construir” uma imagem: “a empresa é ou não é”. Imagem, aliás, é um conceito ultrapassado. Agora o que vale é a “reputação”, conquistada através da ética, da responsabilidade social e ambiental.
PAINEL 1
Boas Práticas e Índices de Governança Corporativa “Qualquer empresa, mesmo pequena, pode e deve praticar governança com sustentabilidade”. O administrador Roberto Gonzalez, diretor de estratégia de sustentabilidade do The Media Group, explicou que a governança é um dos pilares da responsabilidade social e falou de sustentabilidade nas empresas. Gonzalez apresentou uma lista de contribuições para as boas práticas (certificações, acordos e tratados, entre eles), falou dos índices que medem o desempenho das empresas nesse quesito e disse que hoje se discute muito se a governança estaria acima da sustentabilidade. Na sua opinião, isso realmente não faz diferença. O que importa é que todas as empresas precisam ter transparência, ética, eqüidade e responsabilidade social.
“O Banco Real ganhou a concorrência porque já tinha uma política de risco socioambiental implementada”. Silvia Chicarino, especialista em risco socioambiental do Banco Real, apresentou a política de risco socioambiental implementada pelo banco e explicou como é feita a análise de crédito para empresas que atuam em 22 ramos de negócios que oferecem riscos socioambientais (entre eles, os setores de combustíveis e de geração de energia). Falou, também, sobre os “Princípios do Equador” – instrumento voluntário criado por instituições financeiras de vários países, que prevê a adoção de princípios gerais de gestão socioambiental para financiamento de projetos – do qual o Real participa. Silvia contou que o banco é gestor do Fundo InfraBrasil, criado pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) para investimento em projetos de infraestrutura de médio porte, como energia, saneamento e transporte, entre outros. 8
PAINEL 2
A sustentabilidade na cadeia de valor “O Instituto Ethos relaciona 29 critérios mínimos para que uma empresa possa ser considerada responsável social e ambientalmente”. Patrícia Sogayar, do Instituto Ethos e Projeto Tear, abriu sua palestra falando sobre a cadeia das atividades que adicionam valor a um produto ou serviço, desde sua produção até o consumidor. Ela explicou que quando a sustentabilidade entra na cadeia de valor, gera benefícios para os negócios envolvidos e para toda a sociedade. Patrícia falou, também, sobre o Projeto Tear, que atua junto a pequenas e médias empresas (PMEs) de sete setores da economia – construção civil, petróleo, energia elétrica, mineração, siderurgia e varejo – analisando o negócio sob a ótica da sustentabilidade e implementando ferramentas para que elas possam incorporar os princípios do desenvolvimento sustentável em sua gestão. Patrícia apresentou o caso da empresa Hidropartes, Mangueiras e Conexões Hidráulicas, de Macaé, estado do Rio, que melhorou seu desempenho no mercado a partir da gestão socialmente responsável. A partir do Tear, o programa de alfabetização para adultos mantido pela Hidropartes passou a receber apoio de mais três empresas participantes, Jevin, K-Lund e Globomar. Ela destacou que hoje essas empresas estão formando uma rede de reciclagem de óleo comestível e compras solidárias.
“É importante que todos conheçam a lista suja para que deixem de contratar serviços ou de consumir produtos das empresas que cometem abusos”. Andréa Bolzon, do Projeto de Combate ao Tráfico de Pessoas da Organização Internacional do Trabalho (OIT) começou falando sobre a atuação da OIT na erradicação do trabalho escravo e infantil no Brasil. Falou, também, sobre trabalho forçado, tráfico de pessoas, trabalho degradante, privação de liberdade, servidão por dívida e outras formas de exploração. Ela contou que, além do Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo, o Ministério do Trabalho e Emprego mantém em seu site (www.mte.gov.br) um cadastro de empregadores previsto na Portaria n°. 540/ 2004, que contém infratores flagrados explorando trabalhadores na condição análoga à de escravos. Segundo ela, são várias as causas do trabalho degradante continuar existindo no País: impunidade, vulnerabilidade do trabalhador (analfabetismo, desnutrição, pobreza), fatores geográficos e ausência do estado.
PAINEL 3
Tendências de Responsabilidade Social no Processo uma política de transparência que torna o de Licenciamento Ambiental “Temos processo de licenciamento mais fácil porque os órgãos sabem como nós trabalhamos”. Marcus Vinícius Ayres, gerente geral de SMS Corporativo da Transpetro (subsidiária da Petrobras), fez primeiramente uma apresentação da empresa, que opera uma frota de 55 navios-petroleiros, uma rede de dez mil quilômetros de malha dutoviária e três mil quilômetros de gasodutos. Ele contou que o Sistema Petrobras aderiu ao Pacto Global em 2003, assumindo o compromisso de lutar pela efetivação dos direitos humanos, trabalhistas, respeito ao meio ambiente e combate à corrupção. Ayres também explicou que entre as condicionantes da Licença de Operação, está a exigência de implantação de programas de educação ambiental e de comunicação social para os trabalhadores e comunidades localizadas na área de influência direta dos empreendimentos. Assim surgiram as 15 diretrizes corporativas de segurança, meio ambiente e saúde da Petrobras e o Programa de Responsabilidade Social e Ambiental nas faixas e dutos e terminais da Transpetro – programas de âmbito nacional que têm o objetivo de impactar o público interno e as populações que vivem no entorno das faixas de dutos e terminais administradas pela empresa. 9
Seminário Anual de
Responsabilidade Social Corporativa A Sustentabilidade na Indústria de Petróleo, Gás e Energia Renovável: Desafios e Oportunidades
Programa Abertura Luiz Chor (Firjan) Nara Borges (Shell Brasil) Carlos Victal (IBP)
Palestra 3: Imagem e reputação das empresas – a visão da mídia Palestrante: Nádia Rebouças (Rebouças & Associados) Moderadora: Lia Medeiros (TN Petróleo)
Palestra 1 André Trigueiro (Globonews) Palestra 2: Indicadores de responsabilidade social do setor do Petróleo e gás Palestrante: Renato Moya (Instituto Ethos) Moderadora: Márcia Cauduro (TBG) Painel 1: Boas Práticas e Índices de Governança Corporativa Palestrantes: Silvia Chicarino (ABN AMRO) e Roberto de Souza Gonzales (The Media Group) Moderador: Luís Fernando Rodrigues (Chevron Brasil Petróleo)
Realização
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Patrocínio Master
Painel 2: A sustentabilidade na cadeia de valor Palestrantes: Patrícia de Cayres Sogayar (Instituto Ethos / Projeto TEAR) e Andréa Bolzon (OIT) Moderadora: Alyne Castro (Petrobras) Painel 3: Tendências de Responsabilidade Social no Processo de Licenciamento Ambiental Palestrante: Marcus Vinícius de Carvalho Mesquita Ayres (Transpetro) Moderador: Márcio Schiavo – Comunicarte
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Foto Replan: Claudio Piza
Comissão de Responsabilidade Social do IBP
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Comissão de Responsabilidade Social Corporativa do IBP foi fundada em 2002, a partir do debate em torno desse assunto no Congresso Mundial de Petróleo, realizado no mesmo ano no Brasil. Na época, foi constatada no setor de petróleo e gás, a necessidade de criação de um fórum comum e permanente, onde seus representantes pudessem promover debates, assim como o intercâmbio de informações. Desde o início foi identificada a urgência de difundir o conceito de responsabilidade social entre as companhias do setor e as empresas da cadeia produtiva. Nesse sentido, foram realizadas reuniões abertas ao público e palestras didáticas sobre o tema. E foi criada em 2004, a primeira turma do Curso sobre Gestão da Responsabilidade Social.
Com a crescente demanda por discussões mais profundas, o IBP, em parceria com a Petrobras, organizou a terceira edição do Simpósio sobre Responsabilidade Social nas Américas, promovido pela Associación Regional de Empresas de Petroleo y Gás Natural em Latinoamerica y el Caribe (Arpel). Em parceria com o Instituto Ethos, a Comissão do IBP elaborou os Indicadores de Responsabilidade Social do Setor de Petróleo e Gás, que devem ser aplicados de forma complementar aos Indicadores Gerais do Instituto. Através dos indicadores, o setor já pode identificar quais questões e áreas precisam de um trabalho mais direcionado e eficaz. Para falar com a Comissão de RSC do IBP, envie um e-mail para responsabilidadesocial@ibp.org.br ou acesse o site www.ibp.org.br e clique em “comissões”.
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Nara Borges
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Foto: Banco de Imagens Petrobras
RSE no setor de petróleo e gás está ganhando força
movimento de RSE no setor de petróleo e gás vem ganhando força, na opinião da coordenadora da Comissão de Responsabilidade Social Corporativa do IBP, Nara Borges, chefe de assuntos externos na área de E&P da Shell Brasil. Ela diz que hoje o conceito está mais difundido e existe muita informação disponível. Mas, apesar disso, algumas empresas não entendem o papel da RSE ou não a consideram importante. Para ela, o grande desafio do setor de petróleo e gás, a exemplo do que ocorre em outros setores da economia, é mudar a mentalidade daqueles empresários que ainda não adotaram práticas de RSE como ferramenta de gestão e que ainda não entenderam que atuar com transparência, respeito ao meio ambiente e responsabilidade social gera bons resultados financeiros. Essa tem sido a principal tarefa da Comissão de Responsabilidade Social Corporativa do IBP. Desde o seu surgimento, há cinco anos, a comissão – que é composta por profissionais de diferentes áreas do setor de petróleo e gás – tem alcançado conquistas importantes, como a parceria com o Instituto 12
Ethos na elaboração dos indicadores setoriais de RSE e, mais recentemente, a realização do Seminário Anual de Responsabilidade Social Corporativa, em novembro de 2007. “O setor é estratégico para a economia do país e, ao mesmo tempo, causa grandes impactos sociais e ambientais. Então precisa ter muita transparência, ética, respeito ao ser humano e ao meio ambiente”, defende. Nara diz que a RSE está crescendo no setor e que as grandes organizações estão influenciando positivamente as outras empresas com as quais se relacionam (fornecedores, clientes, etc.). Ela cita o exemplo da Shell Brasil, que é signatária do Pacto Empresarial pela Integridade e contra a Corrupção, iniciativa do Ethos, e do Pacto Global da Organização das Nações Unidas. “As grandes empresas assumiram a liderança no movimento. As pequenas e médias estão, aos poucos, orientando suas ações nesse sentido, influenciadas pelas maiores. O setor está caminhando bem, mas é preciso fazer mais e melhor”, avalia. Em relação às pequenas e médias, ela destaca o trabalho que o Projeto Tear, do Instituto Ethos, vem desenvolvendo junto ao setor de petróleo e gás, fornecendo ferramentas de gestão e orientação para que as empresas adotem novas posturas, sem as quais dificilmente sobreviverão em um mercado que segue, cada vez mais, as tendências globais. “Primeiro veio a preocupação com a qualidade. Depois, com a preservação do meio ambiente. Agora o mundo corporativo está preocupado com a responsabilidade socioambiental. Estamos trabalhando para que o setor como um todo se torne cada vez mais responsável, para que o ser humano seja valorizado”, afirma ela.
Indicadores Ethos de RSE para o setor de petróleo e gás Pactos Sociais no OS INDICADORES ETHOS DE RSE para o Setor de Petróleo e Gás foram lançados em 2004 e elaborados a partir de uma parceria entre o Instituto Ethos e o Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), que contribuiu com seus amplos conhecimentos. O processo de trabalho durou cerca de um ano e contou com a participação de 27 empresas e entidades do ramo, que discutiram os temas mais relevantes à luz dos dilemas do setor e trocaram informações. Os indicadores setoriais são uma extensão dos indicadores gerais do Instituto Ethos, porém, elaborados com base nas especificidades de cada setor, com o intuito de apontar resultados (complementares) mais detalhados. A partir dos dados apurados em questionários, que são tratados de forma confidencial, empresas de pequeno, médio ou grande porte que buscam uma gestão socialmente responsável, podem obter um diagnóstico de seu desempenho e avaliar oportunidades dentro da área em que atuam. Dentre os benefícios que uma empresa pode obter destacam-se o aprendizado; a mudança do
Temas abordados • Ciclo de vida das instalações • Ciclo de vida dos produtos • Comunidade • Conflitos com trabalhadores • Eliminação de efluentes • Licenciamentos • Mudanças climáticas • Normas e auditorias ambientais • Passivos ambientais • Plano de emergência ambiental • Prevenção de acidentes • Resíduos sólidos • Saúde e segurança • Seleção e desenvolvimento de fornecedores • Tecnologias limpas • Utilização de água
Resultados De acordo com os resultados apresentados pelo Instituto Ethos durante o Seminário Anual
Setor de Petróleo e Gás
O setor conta com oito empresas e duas entidades setoriais signatárias do “Pacto da Erradicação do Trabalho Escravo”. O setor conta com apenas uma empresa signatária do “Pacto Contra a Corrupção”. A Petrobras foi a primeira empresa que propôs a seus fornecedores o preenchimento dos Indicadores Ethos de RSE. (Fonte: Instituto Ethos) discurso para a ação concreta; a integração aos processos de gestão; melhoria do gerenciamento dos impactos sociais e ambientais; melhoria na imagem institucional e na reputação; e transparência perante a sociedade. Saiba mais sobre os Indicadores Ethos de RSE no site: www.ethos.org.br/docs/ conceitos_praticas/indicadores/default.asp de Responsabilidade Social Corporativa do IBP, houve um aumento considerável de empresas que preencheram os questionários entre 2005 e 2006. O desafio agora é mobilizar o restante do setor.
Participação das empresas • Em 2005 apenas quatro empresas preencheram o questionário • Em 2006, 31 empresas preencheram, mas 15 delas eram unidades de uma mesma companhia
Próximos desafios • Mobilizar efetivamente o setor para o preenchimento dos Indicadores • Questionário focado na exploração e produção • Promover a revisão do conteúdo contemplando questões referentes às empresas de gás, distribuição e refino de combustíveis. 13
André Trigueiro
Brasil precisa investir urgente em energia limpa Por Mehane Albuquerque Ribeiro
Foto: Stock.xchng
início ficou um pouco intrigado com a escolha de seu nome, já que não esconde suas críticas à indústria do petróleo, que considera a principal responsável pelo aquecimento global. Mas logo entendeu o objetivo da iniciativa e aceitou o convite. Na entrevista que segue abaixo, André Trigueiro fala sobre suas convicções, sobre a preocupação com os rumos do planeta, sobre a grande responsabilidade das empresas de petróleo e gás nesse contexto e as medidas urgentes que o setor precisa tomar para evitar uma possível catástrofe climática.
ANDRÉ TRIGUEIRO respira meio ambiente. O assunto está presente em praticamente tudo o que o jornalista faz, inclusive nas atitudes mais simples da vida cotidiana: a opção por um carro de motor flex – que ele evita lavar com freqüência para não desperdiçar água – o tipo de combustível (só usa álcool, que polui menos), a preferência por móveis de madeira certificada e produtos com selo verde, e até compensação pelas emissões de CO2 durante a gravação dos programas que apresenta e edita, através do plantio de árvores para neutralizar carbono. Convidado pelo IBP para falar sobre o tema no Seminário Anual de Responsabilidade Social Corporativa, ele confessa que no 14
Mehane Albuquerque Ribeiro – Como você avalia a situação do mundo, diante da possibilidade de um colapso ambiental cada vez mais real? André Trigueiro – A situação é grave. O mundo perdeu a noção do perigo. Se os relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) estiverem corretos – e eu não tenho motivos para duvidar da credibilidade dessas informações que denunciam o crescimento exponencial da emissão de CO2, principalmente pela queima progressiva de petróleo, carvão e gás – nós estamos numa rota suicida. Há um senso de urgência na tomada de medidas e as mudanças necessárias estão acontecendo de forma muito lenta. Se a Idade da Pedra não acabou por falta de pedras, a Idade do Petróleo não vai acabar por falta desse combustível, mas por conta de uma catástrofe. Há o risco de se alcançar um ponto de não-retorno, de bagunçar o coreto climático de tal sorte, que daqui a pouco não importará o quanto de recursos e de tecnologia poderá ser usado para mudar a situação, pois será tarde demais. Essa é uma especificidade da nossa
era. Em nenhum outro momento na história da humanidade nós fomos instigados, enquanto espécie, a fazer tantas escolhas determinantes para a nossa sobrevivência, em um intervalo de tempo tão curto. Portanto, ou você assume seu papel histórico nesse momento e diz: “preciso definir dentro do meu planejamento estratégico uma agressividade maior na busca de soluções efetivas e imediatas”; ou fica esperando para ver o que acontece. Qual a importância de ações como a realização desse seminário para o setor? Precisa haver uma reengenharia, uma revisão urgente do planejamento estratégico de forma que haja mais investimentos na direção do que não seja combustível fóssil. O petróleo não pode ser a única matriz energética do Brasil, até por uma questão de segurança nacional. Essa é a contribuição que o seminário pode trazer: mostrar para os empresários do setor que investir em outras fontes de energia pode ser interessante também do ponto de vista financeiro, antecipando tendência. Na sua opinião, o que o setor precisa fazer? Está no colo do setor energético e das companhias de energia que têm no petróleo seu principal business, a enorme responsabilidade de uma migração dos investimentos que deveriam ser mais fortemente canalizados para outras fontes de energia. Mas não me parece que na cultura do setor de petróleo, dos tomadores de decisão, dos oleocratas, exista esse (entre aspas) desprendimento. As empresas do petróleo precisam fazer além, assumir efetivamente o compromisso de mudar de postura. Se você tem pela frente o aquecimento global, não pode ter dúvida na hora de definir seu planejamento estratégico. As empresas já perceberam que é melhor se definir estatutariamente como companhias de energia, do que como companhias de petróleo. Esse é um sintoma de que o petróleo vai continuar sendo o principal business... Petróleo dá muito dinheiro e é difícil abrir mão. Só que o setor hoje tem só duas opções: ou reinvestir em outras fontes de energia e em inovação tecnológica, que vão dar retorno lá na frente, ou continuar fazendo sísmica, investindo pra
descobrir novos lençóis, investindo no que dá maior lucro em menor tempo. As ações empreendidas pelo setor para compensar os impactos ambientais têm sido suficientes? Com certeza não. Quando enchemos o taque de gasolina, não estamos pagando por litro o verdadeiro custo socioambiental. Esse custo não foi internalizado. Trata-se de um problema de mercado e o mercado está se corrigindo. A possibilidade de onerar o combustível fóssil e de sobretaxar carbono é uma tendência que deverá se confirmar nos próximos anos. O segundo ponto é que, em alguns casos, não adianta neutralizar carbono. Se você tem uma companhia de petróleo e resolve plantar árvores, isso atenua impacto, mas não resolve efetivamente o problema. Você diz: “estou plantando uma floresta, cuidando do mico-leão-dourado, da ararinha azul, etc.” Mas a origem do problema permanece.
“As empresas do petróleo precisam fazer além, assumir efetivamente o compromisso de mudar de postura. Se você tem pela frente o aquecimento global, não pode ter dúvida na hora de definir seu planejamen-
Mas existem empresas realizando trabalhos significativos em termos de preservação ambiental... São projetos que fazem alguma diferença em termos de biodiversidade, mas quando o assunto é aquecimento global, eu acho que as companhias de energia poderiam e deveriam estar fazendo muito mais. Plantar árvores não é uma mudança matricial. Investir em projetos socioambientais que ajudam a pontuar para entrar no índice Dow Jones de Sustentabilidade não é mudança matricial. Mudança matricial é: o principal business, aquele que dá lucro, o que dá maior retorno, que é o petróleo, não pode continuar a ser o único filão de negócios no curto e médio prazo.
to estratégico”.
Vc acha que o setor está empenhado em efetivar essa mudança? Eu sinto que quem está ligado ao setor, por natureza, tem uma certa resistência, um 15
tipo de aversão a esse discurso e acha que tudo não passa de exagero, que todo mundo está errado. O aquecimento global seria uma fatalidade divina: o sol é que está aquecendo e mudando a terra e nós não temos nada a ver com isso. Mas quando a gente conversa com as pessoas ligadas ao IPCC, começa a apurar as metodologias utilizadas e vê o resultado dos relatórios dos cientistas, não resta dúvida: o CO2 é o elemento que detona a desestabilização do clima. A indústria do petróleo tem tudo a ver com o aquecimento global e isso é irrefutável. Desde que o Protocolo de Kyoto foi ratificado, as emissões só fizeram aumentar. Nas projeções do OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), da Agência Internacional de Energia (IEA), do departamento de planejamento energético da Coppe (UFRJ), todas as curvas são ascendentes em termos de demanda de combustíveis fósseis. Uma coisa horrorosa! Até 2030 esse setor ainda vai estar bombando. Logo, o freio de arrumação tem que ser à altura. As empresas não fazem mais do que obrigação de ir além do que a legislação determina.
Precisam fazer mais e melhor, precisam fazer diferente, inovar, criar algo que ninguém está fazendo... A responsabilidade social é enorme quando se opta por ignorar relatórios sérios e com credibilidade como é o caso do IPCC. Está na hora de definir o planejamento estratégico para o futuro. Ou você é literalmente cúmplice do problema ou você trabalha na direção contrária. Não tem meio termo. É que nem gravidez. Não existe meia gravidez.
Carreira premiada
série "A nova energia do mundo" (2005), recebeu o Prêmio Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia 2005, oferecido pela Eletrobrás e pela Petrobras. Pelo programa Cidades e Soluções (também da Globo News), do qual é editor-chefe, recebeu o prêmio Ethos de Jornalismo na categoria mídia eletrônica - TV (2007), o 3º Prêmio ABCR de Jornalismo, e o Prêmio Especial do Júri categoria Mídia (2007) na 3ª Edição do Prêmio CEBDS (2007). Foi agraciado com o Prêmio Comunique-se na categoria Jornalista de Sustentabilidade (2007). Cobriu pela mesma emissora de tevê a cabo as Olimpíadas de Sidney (2000), as Copas do Mundo na Coréia do Sul e no Japão (2002) e na Alemanha (2006), e as eleições para a presidência dos Estados Unidos (2004). É comentarista da Rádio CBN, onde apresenta aos sábados e domingos o quadro Mundo Sustentável. Presidiu o Júri da VI e da VII edições do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental de Goiás.
ANDRÉ TRIGUEIRO É JORNALISTA pós-graduado em Gestão Ambiental pela COPPE/ UFRJ, professor e criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC/RJ, autor do livro Mundo Sustentável – Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em transformação (Editora Globo, 2005), coordenador editorial e um dos autores do livro Meio Ambiente no século XXI, (Editora Sextante, 2003). Também é repórter e apresentador do Jornal das Dez, da Globo News, desde 1996, além de roteirista, editor e apresentador de programas ligados à temática socioambiental. Pela série "Água: o desafio do século 21" (2003), recebeu o Prêmio Imprensa Embratel de Televisão e o Prêmio Ethos - Responsabilidade Social, na categoria Televisão. Pela série "Kyoto: O protocolo da Vida" (2005) recebeu o título hours concours no Segundo Prêmio CEBDS de "Desenvolvimento Sustentável". Pela
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Qual o conselho que você daria para o setor? Mude o foco e trate de investir rápido em fontes de energia limpa. Vários países já estão fazendo isso. Outro dia, o Marcos Losekan, repórter da TV Globo, fez uma matéria extraordinária em Sevilha, na Espanha, mostrando a maior usina solar do planeta, que gera energia para mais de 170 mil pessoas. Um grande exemplo que o Brasil e o mundo deveriam seguir. Esse é o único caminho: investir pesado em fontes de energia renovável. Do contrário, presenciaremos um desastre sem precedentes.
Carlos Victal
“DIFUNDIR OS CONCEITOS, PRÁTICAS e ferramentas de responsabilidade social que levem as empresas do setor a utilizá-las na sua gestão estratégica”. Esse é o papel principal da Comissão de Responsabilidade Social Corporativa do IBP, de acordo com Carlos Victal, coordenador de responsabilidade social da instituição. Ele explica que a idéia de realizar o Seminário Anual de Responsabilidade Social Corporativa surgiu justamente para a disseminação do tema, assim como das últimas tendências da RSE no país e no mundo, junto às empresas de petróleo e gás que atuam no Brasil. “A gestão da responsabilidade social é o caminho para a sustentabilidade das empresas de qualquer ramo da economia e envolve vários fatores e temas de interesse geral: aquecimento global, voluntariado, comunidades, governança, sociedade e governo, entre outros. O seminário anual é uma forma de divulgar o conceito, as ferramentas e os indicadores. Queremos mostrar ao setor que, se a empresa tem uma gestão socioambiental responsável, seu risco financeiro diminui”, afirma. Segundo Victal, uma empresa ética e transparente, que investe em projetos sociais, é sustentável porque pensa no futuro. Embora o retorno financeiro dos investimentos na área socioambiental surja a médio e longo prazo, o ganho imediato vem em forma de reconhecimento de toda a sociedade: a empresa passa a ser considerada sustentável, de longa duração, e isso gera credibilidade.
Foto: Beatriz Cardoso
Empresa que tem gestão socioambiental responsável diminui seus riscos financeiros
“As empresas de petróleo que atuam no Brasil fazem um trabalho de excelência nessa área. E não estou falando apenas da Petrobras, que é um caso à parte. Todas têm uma determinação muito forte. Da mesma forma, as empresas estrangeiras que chegam ao Brasil para trabalhar no setor, demonstram uma enorme preocupação com a forma com que vão atuar no país. Isso significa que a responsabilidade socioambiental está incorporada a elas, independentemente de onde elas estiverem”, comenta. De acordo com Victal, é importante que as empresas detectem as áreas que merecem maior atenção na hora de empregar recursos para projetos socioambientais. No caso do setor petrolífero, em alguns segmentos o público interno merece maior atenção. Em outros, como é o caso da distribuição de combustível, a cadeia de fornecedores 17
Foto: Divulgação
Uma empresa ética e transparente, que investe em projetos sociais, é sustentável porque pensa no futuro. desempenha um papel importante e merece ser observada com cuidado. “Infelizmente ainda existem os casos de condições de trabalho degradantes ou mesmo de trabalho escravo nas frentes de plantio da cana. Portanto, é imprescindível que as empresas que compram o álcool se certifiquem que estão adquirindo um produto livre de exploração dos trabalhadores. Também é importante que as empresas do setor ajudem a combater esses crimes, assinando o Pacto de Erradicação do Trabalho Escravo”, ressalta. Na opinião de Carlos Victal, o consumidor desempenha um papel de máxima importância nesse processo.
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“O consumidor está muito bem informado, mais exigente e atento para os produtos e empresas que respeitam o meio ambiente e que investem no social. Embora não disponha de meios para auditar uma empresa, o consumidor está preocupado em saber como ela trata seus funcionários, se está em dia com as obrigações fiscais e se é idônea”, diz. Mas como saber se uma empresa é correta? “Basta estar por dentro das pesquisas, ler os balanços sociais e ambientais que as empresas publicam e que, em geral, são auditados por instituições sérias, que fiscalizam a veracidade dos dados divulgados. O relatório do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), por exemplo, é muito simplificado e, ao mesmo tempo, completo. O Ibase está o tempo todo verificando as empresas que respondem aos questionários. Caso alguma delas esteja fazendo coisa errada, certamente o instituto impedirá a publicação do relatório”, explica o coordenador de responsabilidade social do IBP.
Compêndio para a sustentabilidade
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ançado no fim do ano passado pelo Instituto AntaKarana, o Compêndio para a Sustentabilidade – Ferramentas de Gestão de Responsabilidade Socioambiental: Uma contribuição para o Desenvolvimento Sustentável, organizado por Anne Louette (coordenadora do Instituto), é uma compilação de diferentes ferramentas de responsabilidade socioambiental usadas em 33 países. A publicação tem patrocínio da Petrobras, Comgas, AES Tietê. O objetivo do compêndio, segundo a autora, é contribuir para que a adoção de práticas de RSE seja incorporada à cultura e aos sistemas de gestão de pequenas, médias e grandes organizações de diferentes setores da sociedade (esferas pública, privada e organizações não-governamentais). Além de reunir iniciativas já conhecidas do mercado brasileiro, como GRI (Global Reporting Initiative, da Holanda) e TNS (The Natural Step, da Suécia), entre outras, o levantamento revela, também, a diversidade e a convergência entre as várias ferramentas desenvolvidas por centros de pesquisa e organizações ainda pouco divulgadas no Brasil, como VMS (Values Management System, da Alemanha); IMS (Integrated Management Systems, da Áustria); e (Vastuun Askeleita, da Finlândia), que servem de parâmetro para reflexão e análise de como essa discussão está globalizada. O compêndio contou, ainda, com o apoio institucional de diversas organizações comprometidas com a disseminação da gestão socialmente responsável para a sustentabilidade. São elas: CEBDS (Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Susten-
Foto: Divulgação
Compêndio reúne ferramentas de responsabilidade socioambiental utilizadas por 33 países
tável); FDC (Fundação Dom Cabral), Núcleo AG de Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa; Fides (Fundação Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social); Gife (Grupo de Institutos Fundações e Empresas); GVCes (Centro de Estudo em Sustentabilidade da FGV); Instituto Akatu pelo Consumo Consciente; Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social; e WHH (Willis Harman House). De acordo com Anne Louette, as ferramentas apresentadas atendem às necessidades das organizações em diversas etapas de gestão, contribuindo para processos de aprendizagem, auto-avaliação, prestação de contas e incorporação de princípios de responsabilidade socioambiental. A autora apresenta uma visão estratégica de responsabilidade socioambiental como um 19
Foto: Stock.xchng
Além de reunir iniciativas já conhecidas do mercado brasileiro, o levantamento revela a diversidade e a convergência entre as várias ferramentas desenvolvidas por centros de pesquisa e organizações ainda pouco divulgadas no Brasil. dos elementos de base para garantir a evolução das atividades humanas, chamando a atenção para os valores. “É imprescindível que os gestores cultivem valores, mudando em si próprio e na equipe a forma de pensar, ser, decidir, agir, conduzir e reagir diante de suas atividades”, ressalta. Dentre as ferramentas, Louette destacou a importância da The Natural Step – TNS, da Suécia, atualmente presente em 12 países. “É uma das mais abrangentes no resgate da condição humana e para conservação planetária”, defende. “É um livro de consultas, mas que leva à reflexão necessária”, disse a presidente 20
executiva do Instituto AntaKarana, Simone Ramounoulou. Para ela, o conceito de sustentabilidade é muito mais amplo e profundo. Abrange aspectos do saber, compreensão dos processos socioambientais, culturais, organizacionais, além de conhecimentos científicos para unificar e embasar estes vários segmentos. “Muitas das ferramentas são usadas hoje de forma aleatória. O livro ajuda a entender melhor os processos”, finaliza Ramounoulou. A publicação está disponível para download (em pdf) no endereço: www.institutoatkwhh.org.br/compendio
Negócio promissor
Sustentabilidade é lucro líquido e certo
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ustentabilidade hoje, além de ser um negócio altamente promissor para as empresas, é um artigo de extrema necessidade para o mercado e para a sociedade. Cada vez mais, os consumidores valorizam a transparência, a postura ética das organizações e aderem ao chamado consumo consciente, optando por produtos ambientalmente responsáveis e socialmente corretos. À medida que as práticas de responsabilidade socioambiental se fortaleceram no Brasil, a sustentabilidade perde seu caráter informal para ser incorporada às estratégias de gestão. As empresas passaram a almejá-la não apenas para evitar perdas de recursos naturais, de eficiência, de reputação ou de mercado, mas, principalmente, para obter lucros. O surgimento de novos componentes na gestão estratégica das empresas desenhou um novo formato de economia. Antes as empresas baseavam suas ações na exaustão de recursos, na exploração intensiva da mãode-obra e na geração de resíduos ambientais. Os melhores gestores eram aqueles que levavam esse modelo ao extremo para maximizar lucros. Quando a sustentabilidade entra em cena, as ações passam a se caracterizar pelo uso racional de recursos, pela produção de mais com menos, pela reciclagem do lixo e neutralização de resíduos, pelo uso de energia limpa, pelo consumo consciente, pela postura ética, pela necessidade de assumir a responsabilidade pelo que se produz (antes, durante e depois) e pelos impactos causados ao meio ambiente e à sociedade. Os gestores da era da sustentabilidade, por sua vez,
ainda estão aprendendo a adotar práticas de responsabilidade socioambiental para obter lucros. Para Cláudio Boechat, pesquisador e professor da Fundação Dom Cabral, uma das escolas de negócios mais prestigiadas do País, falta capacitação. “É preciso formar gestores capazes de lidar com essa nova realidade. Mas também é necessário que existam escolas capazes de oferecer formação em responsabilidade socioambiental para esse público. Hoje no Brasil existem instituições que possuem cursos de excelência nessa área, como é o caso da Fundação Dom Cabral, mas é preciso ampliar a oferta de cursos de qualidade”, afirma. A avaliação de James Watson, editor sênior da revista inglesa Economist Intelligence Unit – que empreendeu uma ampla pesquisa sobre sustentabilidade com executivos de vários países europeus –, reforça a opinião de Boechat. Segundo Watson, ainda existe uma lacuna entre o que as companhias dizem alcançar, em termos da gestão do impacto social e ambiental que exercem, e o grau de envolvimento de seus executivos nestas atividades. “As companhias precisam conceber estratégias que levem seus empregados a um maior envolvimento com a sustentabilidade como parte de atividades cotidianas", diz em entrevista para o site InfoMoney. A pesquisa mostrou que poucas empresas sabem obter vantagens comerciais com programas de sustentabilidade. Um terço dos entrevistados (33%) implementa esforços pela sustentabilidade apenas em mercados onde acreditam no impacto positivo e no 21
Inovação e ousadia
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Foto: divulgação Toyota
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xemplos de empresas que buscam sustentabilidade e obtêm bons resultados econômicos são citados com freqüência na mídia. A General Eletric (GE) é o mais conhecido. A empresa, que já foi considerada inimiga número um dos ambientalistas, deu uma guinada estratégica, criou a GE Ecomagination e passou a investir em tecnologias limpas. Os negócios com energia eólica cresceram quatro vezes, então, desde 2001. Em apenas dois anos a GE Ecomagination faturou US$ 12 bilhões e tem pedidos em carteira que chegam a US$ 50 bilhões. Até 2010, espera multiplicar por dois os investimentos em tecnologia de energia limpa e também as receitas advindas de produtos ecoeficientes, como turbinas movidas a gás natural. De 2003 até hoje a empresa já comercializou com a China mais de U$ 1 milhão em turbinas menos poluidoras. A Toyota é outro caso famoso. Em 1995, antecipando-se ao aumento do preço da gasolina, criou a tecnologia do motor híbrido. Com o crescente interesse do público por carros menos poluentes, seu modelo Prius virou fenômeno mundial de vendas. A meta da empresa é comercializar um milhão de veículos híbridos (89% menos emissão de carbono) até 2010. Organizacões que investem em práticas de sustentabilidade são sempre inovadoras. E inovação é outro fator que contribui para o aumento da lucratividade. A Danone se associou ao Grameen Bank, do empreendedor social Muhammad Yunus – Prêmio Nobel da Paz pelo desenvolvimento de sistemas de micro-crédito – para implantar em Bangladesh 50 fábricas de iogurte de baixo custo, com o intuito de ajudar crianças subnutridas. O projeto foi implantado em associação com as comunidades locais. No Brasil, produtos como o papel Reciclato da Suzano, a linha Ekos da Natura e os carros flex; os fundos éticos das instituição bancárias; prédios sustentáveis como o da agência do Banco Real em Nova Granja, São Paulo; e o surgimento de mais empresas de reciclagem reforçam a tendência.
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sucesso junto aos clientes. A pesquisa apontou, ainda, que 31% reconhecem que os esforços de sustentabilidade de suas companhias estão mais centrados na publicidade do que em mudanças reais.
Bens empresariais intangíveis Na cultura da sustentabilidade o intangível desempenha um papel de grande importância, enquanto fator de geração de lucro. Ética, transparência, credibilidade, reputação, honestidade e confiança são bens de cotação alta no mercado das ações responsáveis e se traduzem em ganhos financeiros. Prova disso é a valorização de ações de empresas listadas em bolsas como a Dow Jones Sustainability (DJS), que apresentaram um aumento anual de até 5% em relação às outras. A explicação é simples: empresas com menores riscos, melhor governança e mais transparência, são as preferidas dos investidores. Na literatura sobre o tema há vários estudos que comprovam o peso dos bens intangíveis para a sustentabilidade de uma empresa. O canadense Bob Willard, diretor da The Natural Step, BSc pela McGill University e PhD pela Universidade de Toronto, pesquisou o assunto e descobriu que ao adotar uma postura responsável em relação ao meio ambiente e à sociedade, uma companhia pode aumentar o lucro em até 38% e a produtividade em até 8%. O resultado está em dois livros, sendo que o primeiro, The sustainability advantages – seven business caso benefits of a Triple Bottom Line, de 2002, inédito em portugues, tornou-se um best-seller corporativo. Bob Willard também descobriu que no Canadá, onde a pesquisa foi realizada, quando os funcionários estão felizes e orgulhosos da empresa na qual trabalham, os ganhos de produtividade podem chegar até 10%. O livro The Business Case for Corporate Citizenship, de Arthur D. Little, publicado em 2002, informa que em 1981 o valor das companhias relacionado a bens intangíveis era de 17% e em 1998 teve uma alta impressionante, disparando para 71%.
Marketing de ocasião Por Mehane Albuquerque Ribeiro
SUSTENTABILIDADE SE TORNOU palavra da moda no universo empresarial brasileiro. Se antes a qualidade ocupava o papel principal na construção de marcas de grandes empresas no Brasil, agora é a vez de as grandes corporações brasileiras adotarem a sustentabilidade em seus planos de ação e, principalmente, em seus discursos. O resultado disso são anúncios e mais anúncios – em jornais, revistas, no rádio, na tevê e na internet – que evidenciam a preocupação das empresas com o social e com o meio ambiente em proporções nunca vistas. É tanta publicidade e tanto dinheiro gasto na compra de espaços na mídia para alardear o compromisso das empresas com os problemas socioambientais, que talvez fosse possível resolver boa parte dos mesmos problemas investindo esse montante na busca de soluções. O fato é que as empresas acreditam no sucesso garantido da fórmula: uma propaganda bem feita, com belas imagens, enfocando um tema que preocupa e mobiliza a sociedade, servindo para demonstrar ou para criar a impressão de que são responsáveis. Mesmo que não sejam. E a ética empresarial, nesse caso, onde fica? O educador e filósofo Mário Sérgio Cortella, em entrevista no site do Instituto Ethos, diz o seguinte: “A ética empresarial passa por um momento que mistura um pouco de oportunismo com necessidade e urgência. Esse oportunismo surge quando se percebe que uma parcela da sociedade entende a ética como um valor agregado importante para os negócios. Muitas empresas entraram ‘surfando’ nessa nova onda. A pequena ética é a etiqueta. E algumas empresas têm ética apenas como etiqueta, que é a capacidade de ser diplomático, uma coisa de fachada”.
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Excesso de propaganda socioambiental causa desconfiança
E o público, por sua vez, como reage a esse marketing exagerado? Com desconfiança. Não foi à toa que uma pesquisa do Ibope constatou recentemente que 46% dos brasileiros não acreditam nas boas intenções das empresas que alardeiam seus feitos com excesso de propaganda. Mesmo que a embalagem seja espetacularmente produzida para impressionar, o consumidor está mais interessado no conteúdo, na consistência das informações. Isso quer dizer que, ao invés de fotos de belas cenas ou paisagens, o público quer a verdade dos fatos, dados que possam comprovar o real grau de comprometimento das empresas com aquilo que apregoam e realizam. “Há empresas, por exemplo, que investem pesado na publicação de balanços sociais de grande impacto visual, com fotos lindíssimas, mas cujos resultados apresentados não têm a menor consistência”, assinala Nádia Rebouças, da Rebouças & Associados. “A sobrevivência dessas empre23
Foto: Stock.xchng
Não foi à toa que uma pesquisa do Ibope constatou recentemente que 46% dos brasileiros não acreditam nas boas intenções das empresas que alardeiam seus feitos com excesso de propaganda. 24
sas está seriamente comprometida a médio e longo prazo”, garante. No fim das contas, o feitiço acaba virando contra o feiticeiro e o que fica é a idéia de que as empresas poderiam fazer bem mais do que fazem e que estão envolvidas com as questões socioambientais apenas para tirar proveito da situação. É claro que existem empresas sérias que realizam trabalhos importantes no campo socioambiental. E é natural que queiram dar uma satisfação para a sociedade, mostrando o que estão fazendo através da publicidade ou com a publicação de balanço social. Mas também é fato que o consumidor não é bobo e que num campo imenso de intenções duvidosas, ele já sabe separar o joio do trigo. Sabe identificar, pelo tipo de mensagem que lhe é passada e pelo conteúdo, o que é maquiagem e o que é fato concreto. Mesmo que tudo isso esteja misturado dentro de um conceito tão amplo, e até certo ponto nebuloso para a maioria, como a sustentabilidade. “É preciso ressaltar que há uma grande parcela de empresas inteligentes e honestas que, além de se preocupar com a manutenção de seus negócios, cuidam da multiplicidade do conjunto da vida. Ou seja, cuidam para que suas atividades não interfiram na capacidade de sustentar a vida nas suas múltiplas faces. Em outras palavras, algumas empresas têm a ética como horizonte da sua perenidade. O grande compositor Ari Barroso escreveu uma frase que serve perfeitamente para essas empresas que têm
a ética como cosmética: ‘Creia, toda quimera se esfuma, como a brancura da espuma que se desmancha na areia’. Ou seja, aquilo que é mera fachada, uma hora vai desabar”, observa Cortella. O pior disso tudo é que existem empresas que acreditam que sustentabilidade é realmente (e apenas) uma questão de marketing. E não enxergam os verdadeiros benefícios que ela pode trazer se for um objetivo a ser atingido, através da incorporação de práticas de responsabilidade socioambiental aos sistemas de gestão estratégica. “Investir em sustentabilidade, e não em propaganda, é que gera lucro, ao mesmo tempo em que diminui riscos. Nesse caso, a publicidade só deve ser feita com critério e transparência, sem excessos de gastos e sem tentar enganar o espectador”, avalia Carlos Victal, coordenador de responsabilidade social do IBP. Uma comunicação bem planejada, voltada para os diferentes públicos que estão envolvidos no processo produtivo é o que realmente dá resultado. No mundo corporativo de hoje, quem acredita que ainda é possível construir uma imagem através de artifícios voláteis como o marketing de ocasião, pode se preparar para perder mercado e ganhar descrédito. “O conceito de construção de imagem é ultrapassado. Hoje a empresa é o que é. Não adianta gastar fortunas com propaganda e tratar mal seus empregados ou fingir que ignora a prática de trabalho degradante entre seus fornecedores”, afirma Nádia Rebouças. Muito mais importante e duradouro, segundo ela, é fortalecer a reputação. E uma boa reputação é determinada a partir da relação que a empresa trava com os stakeholders, de acordo com a publicitária Lia Medeiros, da Comissão de Responsabilidade Social do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP). “Uma comunicação responsável e bem planejada, capaz de disseminar informação de forma eficiente e com transparência; e de promover a interação entre os diferentes públicos com os quais a empresa se relaciona, é a base para a sustentabilidade”, garante.
Fundação Dom Cabral – FDC Por Mehane Albuquerque Ribeiro
Educar gestores brasileiros para a sustentabilidade é o grande desafio
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pesquisador e professor Cláudio Boechat, da Fundação Dom Cabral (FDC), de Minas Gerais – segunda melhor escola de negócios do País e única a figurar entre as 20 melhores do mundo no ranking do jornal inglês Financial Times – é um dos integrantes da força-tarefa da ONU, composta por pessoas de diferentes países, cuja missão é influenciar a educação executiva para a sustentabilidade e incentivar as empresas a se alinharem aos princípios básicos do Global Compact: respeito aos direitos humanos, ao direito do trabalho, preservação ambiental e combate à corrupção e ao suborno. No Brasil, Cláudio Boechat vem realizando um amplo trabalho nesse sentido, que será apresentado ao Global Compact e à ONU em julho, em Genebra. Ele conta que a FDC faz parte da organização do Comitê Brasileiro do Global Compact, que trabalha para fortalecer e facilitar o intercâmbio entre as instituições e empresas brasileiras signatárias. A convite da EFMD (European Foundation for Management Development), e em parceria com a Petrobras, participa, ainda, de um grupo de estudos que pretende traduzir os princípios do Global Compact para o segmento acadêmico, facilitando sua compreensão, prática e inserção nos currículos das escolas de negócios. “Em 2003 e 2004 fizemos um trabalho junto à Petrobras para conceber formas de influenciar a educação executiva nas escolas e nas empresas. A convicção é de que não
adianta você mudar a escola, se você não muda a empresa. Por exemplo: às vezes a empresa manda um gerente fazer um curso na FDC, ele aprende várias coisas sobre direitos humanos, mas ao levar para a empresa, isso não é valorizado. Ele pode até mesmo ser mandado embora por ficar insistindo no assunto. Então, você tem que empreender ações que associem as mudanças nas práticas educacionais das empresas à mudança do currículo nas escolas”, diz. Este trabalho junto a Petrobras, depois de um ano, foi encaminhado à ONU e à EFMD, para que dessem continuidade. Nesse sentido, a FDC assumiu alguns projetos e um deles é a criação de uma rede brasileira de escolas-empresas para influenciar a educação executiva. “Nós propusemos ao Comitê Brasileiro do Pacto Global a criação da rede, da qual fazem parte empresas e escolas brasileiras vinculadas a esse trabalho internacional, mas com iniciativas voltadas para o País. A rede começou a funcionar no início desse ano e já tivemos algumas reuniões, em que participaram empresas importantes como a Natura, o Banco Real, o Banco do Brasil, o Laboratório Aché e escolas como a Universidade Federal Fluminense, a Fundação Getúlio Vargas e a FDC, todas signatárias do Pacto Global. Uma das ações é o mapeamento do que está acontecendo nas escolas e empresas no 25
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Brasil. Criamos uma ferramenta que vamos usar para avaliar um grupo de empresas que se dispuseram a participar do levantamento e, ao final do ano, em setembro ou outubro, apresentaremos os resultados. Assim, estamos fazendo um esforço nacional, vinculado a uma iniciativa internacional e, ao mesmo tempo, estamos participando da iniciativa específica da ONU”, explica. Em relação à capacitação profissional, Cláudio conta que a FDC mantém um curso de gestão responsável para a sustentabilidade, voltado para a formação de gerentes, que dura cerca de cinco meses e que é parte presencial, parte virtual. A idéia não é formar especialistas em responsabilidade social, mas tornar gerentes atuantes em RSE, sejam eles de qualquer área ou especialidade. “Nossa visão é de que precisamos trabalhar para que todo o ambiente educacional seja coerente com os valores da sustentabilidade. Não adianta uma escola ter aulas de segurança do trabalho, enquanto um funcionário limpa a janela sem cinto de segurança”, observa. Ele diz que a responsabilidade social no Brasil evoluiu muito e que em vários aspectos somos referência mundial, graças ao trabalho de organizações como o Instituto Ethos e o Cebeds (Conselho Empresarial Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável), entre outras. Em contrapartida, aspectos negativos como a corrupção colocam o País em posição desfavorável no cenário internacional e demonstram que as empresas brasileiras ainda têm um longo caminho a percorrer. “No ranking de ‘competitividade responsável’ da Accountability (instituição inglesa 26
que avaliou o modo como 180 países estimulam – ou não – práticas responsáveis de suas empresas), o Brasil ficou em 56º lugar e posicionou-se no quarto grupo, o dos complyers ou cumpridores, juntamente com Venezuela, Argentina, Honduras, El Salvador, Uruguai e Índia, entre outros. Na realidade, o Brasil pratica a competitividade responsável não porque isso seja cobrado pela sociedade, mas porque existem muitas empresas aqui que são multinacionais e trouxeram essas práticas com elas, ou porque o País exporta muito e precisa cumprir requisitos de certificação internacional”, avalia. Cláudio conta que ao elaborar a pesquisa “Desafios para a sustentabilidade e planejamento estratégico das empresas no Brasil”, feita em parceria com Roberta Paro, para a FDC, a dupla visitou as organizações mais avançadas do País para saber quais temas são considerados desafiadores e descobriu que os dois assuntos que mais preocupam essas mesmas empresas são energia e governança. “Traçamos um retrato de como as empresas de vanguarda estão incorporando esses desafios em seu planejamento estratégico e chegamos a um grau de incorporação da ordem de 53,5%. Em relação à governança, por exemplo, 80% das empresas avaliadas estão trabalhando para mudar de postura, deixando de privilegiar os acionistas e trazendo os stakeholders para dentro do processo”, afirma. Segundo ele, os grandes temas do País são os menos incorporados. Ou seja: as questões de grande vulto, que têm um peso grande para a melhoria das condições de vida da população brasileira, são as que menos atraem a atenção das empresas. São elas: saúde pública, tráfico de drogas e violência, oferta e condições de moradia, pandemia e produção de alimentos. O projeto faz parte do Observatório da Gestão Responsável para a Sustentabilidade no Brasil que, além de realizar leituras periódicas dos desafios da sustentabilidade e do posicionamento estratégico das empresas em relação a esses mesmos desafios, aborda indicadores para a gestão empresarial, práticas gerenciais que promovam a sustentabilidade, além de relatórios socioambientais.
Responsabilidade Social Empresarial – RSE Por Mehane Albuquerque Ribeiro
As empresas precisam valorizar mais o indivíduo
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futurista Rosa Alegria, consultora de Responsabilidade Social Empresarial (RSE), instrutora do UniEthos e diretora de conteúdo do portal Mercado Ético, considera que o movimento de RSE no Brasil evoluiu bastante nos últimos anos, mas acha que hoje ele está estagnado. Isso ocorreu, segundo ela, porque as empresas não valorizam seus funcionários como indivíduos na sua totalidade. Rosa afirma que enquanto as pessoas forem infelizes e insatisfeitas no trabalho, todo o esforço feito para o desenvolvimento desse conceito no País até hoje, terá sido em vão. Em entrevista para o site do Instituto Ethos, Rosa falou sobre o assunto. Aqui, ela aprofunda a questão da felicidade nas empresas, cita números e pesquisas que comprovam que pessoas felizes produzem melhor, sugere a criação de índices de felicidade e critérios de satisfação, fala da crise de confiança entre empresas e funcionários e aponta soluções para melhorar a relação entre ambos. “O Brasil tem destaque no movimento de RSE no mundo todo, tem o maior número de empresas que participam do Pacto Global, mas, infelizmente, em termos de gestão interna de pessoas, ainda está na era jurássica”, avalia. Ela diz que houve avanços significativos, mas o Brasil continua seguindo modelos importados e replicando ações de outros países, ao invés de ousar e investir em inovação. “Tudo fica muito no discurso, no jornalzinho. As premiações, por exemplo, são
importantes, mas não são retratos reais das boas práticas”, critica. Para Rosa, falta coerência entre o que as empresas dizem e o que fazem. E coerência, na sua opinião, é fundamental para que o movimento de RSE possa avançar no País. Segundo ela, mesmo as empresas que adotam uma gestão responsável, não dão a atenção devida à questão do indivíduo e continuam investindo no modelo de produzir mais com menos. “Se isso não mudar, o movimento da RSE não vai chegar onde deveria. Uma vez perguntei ao John Elkington, fundador da SustainAbility e criador do conceito de triple bottom line, se ele não havia pensado num quarto bottom line, que dissesse respeito ao indivíduo”, conta. A idéia do quarto bottom line, esclarece, é do professor Evandro Vieira Ouriques, 27
Uma mulher de futuro
F
ormada em letras, Rosa Alegria começou a carreira como jornalista e assesso ra de imprensa. Foi diretora de comunicação e marketing da Avon, uma das maiores empresas de cosméticos do Brasil, e na sua passagem pela empresa criou a área de responsabilidade social, com projetos ligados à saúde e ao bem-estar da mulher. Interessada em ampliar seus horizontes no campo do conhecimento, se desligou da empresa e viajou para os Estados Unidos, onde ingressou numa nova carreira, a de estudos do futuro, que busca entender, interpretar e preparar as pessoas para as mudanças que ocorrerão no mundo. Tornou-se mestra pela Universidade de Houston, no Texas, e hoje é vice-presidente do Núcleo de Estudos do Futuro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Hoje, além do trabalho na PUC-SP, Rosa engajou-se em diversas iniciativas como o Projeto Millennium, do Conselho Americano da Universidade das Nações Unidas, e o Movimento Mídia da Paz, entre outras. coordenador do Núcleo de Estudos Transdisciplinares de Comunicação e Consciência, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mas na visão de Rosa, serve para demonstrar como o universo corporativo deixa o ser humano em segundo plano. E qual seria a solução? Trabalhar valores que hoje não estão sendo pautados, afirma ela. As avaliações de desempenho utilizadas pelas empresas, na sua opinião, adotam métodos antiquados e só levam em conta quesitos ligados à eficiência: o funcionário precisa ser competitivo, criativo, empreendedor e ter iniciativa, entre outras “qualidades”. “Ninguém quer saber se ele é amoroso, solidário ou sensível. Se ele tem capacidade de gerar amizade, de tornar o dia das outras pessoas melhor, se tem o dom de inspirar seus companheiros de trabalho ou de apaziguar conflitos. Na verdade, as empresas medem o valor do indivíduo por aquilo que ele faz, e não pelo que ele é. As práti28
cas de mensuração são tecnocráticas e falta equilibrar o compasso entre o técnico e o humano. Falta despertar para o componente vivo. As empresas não percebem o quanto poderiam ganhar se inovassem nessas avaliações de desempenho, enriquecendo-as com outros aspectos que não fossem apenas os industriais. Faltam índices de felicidade interna, indicadores de satisfação”, diagnostica. O primeiro passo, de acordo com Rosa, é estudar com profundidade a complexidade do ser humano dentro da empresa. O segundo, é perguntar às pessoas se elas realmente acreditam no que fazem, se o que elas fazem nas empresas tem algum sentido em suas vidas e se foram motivadas ou inspiradas a fazer o que as empresas lhes determinam. Ela explica que é a mente que nos faz tomar determinadas atitudes. Logo, é preciso trabalhá-la. O movimento de RSE no País, diz, opera no nível da instrumentação, e não da consciência. E o que mais lhe incomoda é a incapacidade dos gestores em lidar com o sutil. “Sou muito crítica nesse ponto. Acredito que as empresas quando entram para o movimento de RSE pensam, em primeiro lugar, que aquilo vai ser bom para o marketing delas. E isso não muda a situação. Além do crescimento financeiro e do lucro, é preciso contemplar a integração do ser humano e levar em conta a felicidade das pessoas. Nunca vi tanta gente infeliz e insatisfeita como vejo agora. O ambiente nas empresas é esquizofrênico. As pessoas vivem estressadas, nervosas. Cada vez é maior o número de pessoas que sofrem de depressão, que se drogam e que até se suicidam por se sentirem pressionadas, frustradas por não alcançar resultados. E ninguém se dá conta disso. Ninguém no mundo empresarial percebeu ainda que pessoas felizes produzem mais. Esse é um dado que passa completamente desapercebido”, afirma. Ela cita o trabalho de outplacement da Lens & Minarelli Consultoria, feito no ano passado, em que foi avaliado o principal sentimento dos executivos quando são demitidos de seus cargos: alívio. Cita, também, a pesquisa feita por Betânia Tanure, da Fundação Dom Cabral, sobre felicidade
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nas empresas, em que 84% dos executivos se declararam infelizes. Da mesma forma, faz menção ao trabalho do professor Eduardo Gianetti, da Fundação Getúlio Vargas, que propõe a inclusão da felicidade na mensuração do desempenho das nações. Nesse caso, as mais desenvolvidas não seriam as que produzem mais, e sim as mais felizes. “Existe um ambiente insustentável dentro das empresas, que não enxergam que o mais importante não é a ponta do iceberg, mas o que está por baixo. A ponta é a realidade, mas o que não pode ser visto, o intangível, é totalmente ignorado por elas. E o mais grave é que o setor empresarial corre o sério risco de perder seu sistema vivo de inteligência, além da confiança entre as pessoas”, aponta. Rosa ressalta que os funcionários confiam cada vez menos em seus empregadores. Isso foi comprovado por uma pesquisa feita pela Edelman, empresa internacional de relações públicas com escritório no Brasil. A pesquisa tem o objetivo de medir a confiança das pessoas em relação à empresa onde trabalham. O chamado barômetro da confiança desenvolvido pela Edelman forneceu dados muito interessantes. Segundo ela, funcionários de várias empresas foram indagados se confiavam mais nas informações vindas de cima, da direção da empresa, ou em notícias informais veiculadas nos corredores pelos companheiros de trabalho. Em 2003, 22% confiavam na comunicação informal. Em 2006, esse
“O homem precisa sonhar com o futuro que deseja para o mundo. Hoje, a pessoa que fala em sonhos é considerada ingênua.” número subiu para estarrecedores 68%. Isso quer dizer que existe uma crise de confiança, que se reflete diretamente na relação que a empresa trava com seus públicos interno e externo. Para Rosa, o ser humano está perdendo a capacidade de sonhar e isso é algo muito grave, na medida em que o homem precisa exercitar a imaginação para construir um mundo melhor. “O homem precisa sonhar com o futuro que deseja para o mundo. Hoje, a pessoa que fala em sonhos é considerada ingênua”, revela. Talvez por isso, ela tenha optado por uma profissão pouco conhecida e, até certo ponto, enigmática: a de futurista. “Meu trabalho é antecipar as mudanças, fazer as empresas enxergarem adiante e buscarem soluções tanto do ponto de vista de mercado quanto em relação à sustentabilidade. A idéia é que as organizações se antecipem no tempo e minimizem seus impactos negativos no meio ambiente e na sociedade. Mas eu não advinho coisas e nem possuo o dom de fazer previsões”, esclarece. 29
Balanço Social
Compromisso com a verdade gera credibilidade A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL (RSE) começou a ganhar força no Brasil a partir dos anos 90, período em que aumentou a atuação das organizações nãogovernamentais, em conseqüência da deficiência do Estado em suprir as demandas da população de baixa renda. Ao mesmo tempo, as empresas incorporaram no discurso e na prática, ações voltadas para a justiça social. A partir daí, conceitos como “ética” e “transparência” foram se tornando importantes no universo corporativo, na mesma proporção em que a sociedade passou a cobrar das empresas uma atuação mais responsável e clara. Nesse novo contexto, mostrar os resultados se tornou estratégia. Mais do que uma simples “prestação de contas”, o balanço social é uma forma de demonstrar a performance na área socioambiental e vem se tornando comum nos diversos setores da economia brasileira, já que as empresas por aqui estão cada vez mais interessadas em divulgar seus casos de boa prática empresarial. Se antes as grandes corporações apresentavam relatórios apenas a seus acionistas – há meio século, os números eram escondidos a sete chaves, como estratégia para enfrentar a concorrência – agora as empresas publicam voluntariamente seus resultados, o detalhamento objetivo de seus projetos e ações; e os divulgam a todos os públicos com os quais se relacionam: interno, externo, clientes, fornecedores, consumidores, sindicatos, etc. Há empresas que usam o balanço social como peça de marketing e apresentam relatórios de grande impacto visual, porém com dados sem consistência. Há outras que omitem ou maquiam falhas de conduta e resultados. As empresas sérias, porém, estão preocupadas com a reputação e sabem da importância de apresentar um relatório socioambiental claro, objetivo, transparente, comprometido com a 30
verdade e disponível ao público através de todos os meios possíveis, incluindo-se aí a Internet. A grande vantagem de ser transparente é a credibilidade. A empresa transparente está sempre empenhada em melhorar e, por isso mesmo, admite suas falhas com maturidade e assume publicamente o compromisso de mudar de atitude quando erra. O balanço social surge, nesse caso, como a peça-chave para que as empresas conquistem confiança junto a seus públicos e se torna um importante marco referencial na história da responsabilidade social no Brasil.
Modelos mais utilizados de relatórios socioambientais GRI – O Global Reporting Initiative (GRI) é um dos modelos de prestação de contas em ações sócio-ambientais mais completos que existem. É amplamente utilizado por empresas multinacionais e tem o apoio das Nações Unidas. Recentemente, o GRI completou a comissão permanente que atualiza suas recomendações. (www.globalreporting.org) IBASE – O Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE) foi pioneiro na discussão de relatórios corporativos com enfoque social no Brasil. As principais características do modelo são a simplicidade e o caráter voluntário. (www.balancosocial.org.br)
Relatórios considerados exemplares no setor de petróleo e gás Petrobras – A Petrobras foi uma das primeiras empresas brasileiras a divulgar seu Balanço Social. Pela dimensão da empresa, e pelo teor das atividades desempenhadas por ela, seus relatórios englobam interessantes pontos temáticos. (www.petrobras.com.br) Shell – Depois de críticas nos anos 80 pela baixa performance em assuntos sociais, a Shell revolucionou sua estratégia e tornou-se exemplo em produção socioambiental. People, Planet and Profits é um interessante material informativo. (www.shell.com)
Certificação Socioambiental
Consumidores preferem empresas transparentes
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om o objetivo de estimular a Responsabilidade Social Empresarial (RSE), vários instrumentos de certificação foram criados nos últimos anos. Não é difícil compreender por que os selos e certificados ganharam tanta importância no universo corporativo de hoje: em um mundo cada vez mais competitivo, empresas enxergam vantagens comparativas em adquirir certificações que atestem sua boa prática empresarial. Da mesma forma, a procura dos consumidores por produtos e serviços socialmente corretos, faz com que empresas adotem processos de reformulação interna e novas posturas para se adequar às regras impostas pelas entidades certificadoras. Entre algumas das certificações mais almejadas pelas empresas brasileiras, estão as seguintes:
ISO 14000 Uma das certificações criadas pela International Organization for Standardization (ISO). A ISO 14000 dá destaque às ações ambientais da empresa merecedora da certificação. (www.iso.org)
AA1000 O AA1000 foi criado em 1996 pelo Institute of Social and Ethical Accountability. De cunho social, enfoca principalmente a relação da empresa com seus diversos parceiros, ou stakeholders. Uma de suas principais características é o cárater evolutivo já que se trata de uma avaliação anual. (www.accountability.org.uk)
SA8000 Selo Empresa Amiga da Criança Criado pela Fundação Abrinq para empresas que não utilizem mão-de-obra infantil e contribuam para a melhoria das condições de vida de crianças e adolescentes. (www.fundabrinq.org.br)
A “Social Accountability 8000” é uma das normas internacionais mais conhecidas. Criada em 1997 pelo Council on Economic Priorities Accreditation Agency (CEPAA), o SA8000 enfoca, primordialmente, relações trabalhistas e visa a assegurar que não existam ações anti-sociais ao longo da cadeia produtiva, como trabalho infantil, trabalho escravo ou discriminação. (www.sa8000.org) 31
ISO 26000
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Abordagem multi-stakeholder dá o tom da norma internacional de responsabilidade social
NBR 16001, criada pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) com a ajuda de várias entidades, foi lançada no final de 2004, não é obrigatória e estabelece requisitos mínimos para um sistema de gestão de responsabilidade social no país. A qualidade do trabalho garantiu ao Brasil a possibilidade de coordenar a criação de uma norma internacional de responsabilidade social, a ISO 26000, que será publicada em 2010. A ISO 26000, conhecida como a ‘ISO do futuro’, será uma auto-regulação nãocertificável. No início, pensava-se em criar 32
uma norma internacional para responsabilidade social empresarial. Mas, em seguida, decidiu-se que ela não se limitaria às empresas, devendo ter abrangência maior e servir de suporte para qualquer organização, pública ou privada, de qualquer porte, em qualquer país. “Trata-se de uma ferramenta importante para que as empresas alinhem seus posicionamentos no que diz respeito à prática da responsabilidade social. Nesta norma não haverá auditoria. A empresa se declara seguidora dos preceitos contidos na regulamentação e a utiliza como parâmetro para sua atuação", explica Maurício Mirra, sociólogo, coordenador do Escritório de projetos e planejamento estratégico do Instituto Ethos. “Ficou definido que a ISO 26000 será apenas orientadora, e não certificadora, porque entendemos que seria bem mais importante orientar milhões do que certificar milhares", diz Eduardo Campos de São Thiago, co-secretário do grupo de trabalho de elaboração da norma e assessor de Relações Internacionais da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A ABNT, no Brasil, e o Instituto Sueco de Normalização (SIS) há dois anos são parceiros na tarefa de orquestrar os trabalhos da equipe de discussões criada pela International Organization for Standardization (ISO), que conta com 355 especialistas, representantes de 72 países e de 35 organizações internacionais. O grupo é coordenado por dois brasileiros (Jorge Cajazeira, gerente da Suzano Papel e Celulose, é o chefe da equipe) e dois suecos. A decisão de ter representantes de um país desenvolvido e de outro em desenvolvimento na coordenação
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teve o objetivo de considerar as duas realidades no processo e de obter consenso. Pela primeira vez na elaboração de uma norma ISO, em vez de apenas experts, participam profissionais da indústria, governos, trabalhadores, consumidores e ONGs, entre outros setores, num processo classificado como ‘abordagem multi-stakeholder’, que atende a diferentes públicos interessados no assunto. A abordagem multi-stakeholder é feita de forma igualitária: todos têm os mesmos direitos e a mesma voz. Nesse aspecto, a precupação constante da coordenação dos trabalhos é com a participação das mulheres, que cresceu de 33%, em 2005, para 38%. Outra inovação é que, pela primeira vez na história da ISO, há um número maior de países em desenvolvimento (57%) do que desenvolvidos trabalhando na elaboração de uma norma.
Progressos, novidades e próximos passos Com vinte resoluções aprovadas, o Grupo de Trabalho de Responsabilidade Social da ISO (WG SR) decidiu em sua 5ª plenária,
realizada em Viena, na Áustria, nos dias 5 a 9 de novembro de 2007, que é tempo de avançar um pouco mais. Será elaborada a quarta minuta do documento (WD.4), com a recomendação de que se atinja o estágio de Committee Draft (CD) na próxima reunião. Sob a liderança compartilhada entre a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e o Instituto Sueco de Normalização (SIS), a participação de cerca de 400 especialistas de todo mundo foi recorde em reuniões do WG SR, confirmando o crescente interesse que esta norma vem despertando. A plenária na capital austríaca ficou marcada, também, pela forte presença de países em desenvolvimento, que ultrapassou a dos países desenvolvidos. “O número quase dobrou em relação ao da primeira reunião em Salvador, em maio de 2005, quando iniciamos os trabalhos de elaboração da futura ISO 26000”, comenta Eduardo Campos de São Thiago. Este é um fato incomum nos demais comitês técnicos da ISO e, uma vez mais, demonstra o elevado grau de expectativa e interesse mundial em relação a esta norma. Ela se beneficia da contribuição de todos 33
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aqueles que têm interesse sério em responsabilidade social. “De forma inovadora, esta contribuição está sendo alcançada pela participação equilibrada de seis categorias de stakeholders representadas em delegações nacionais – consumidores; governo; indústria; ONGs; trabalho; serviços, suporte pesquisa e outros –, além de organizações internacionais relevantes”, destaca Eduardo São Thiago. A plenária foi iniciada sob a expectativa de ter que lidar, em um tempo relativamente escasso, com os 7.225 comentários recebidos em relação ao terceiro projeto de trabalho (WD.3) da ISO 26000, circulado previamente. O grande número de contribuições, de acordo com o co-secretário, gerou por um lado certo grau de apreensão, mas por outro, evidenciou notável engajamento e compromisso por parte dos especialistas que participam do desenvolvimento da norma. O engajamento refletiu-se naturalmente nos trabalhos. Resultados importantes foram alcançados, entre os quais se destacam: • O documento avançou e foi tomada a decisão de discutir um quarto projeto de trabalho (WD.4) após a reunião de Viena, com a recomendação expressa em resolução de ter como meta avançar para o estágio seguinte (Committee Draft – CD) na próxima plenária, marcada para setembro de 2008 em Santiago, no Chile. Com isso, espera-se que a ISO 26000 seja publicada em 2010. No atual estágio do trabalho (WD), o objetivo consiste em continuar construindo consenso 34
entre os especialistas. Já na fase de CD, o objetivo será a obtenção de consenso entre os organismos nacionais de normalização e as organizações internacionais participantes. • Estabelecimento de uma Força-Tarefa de Redação (IDTF) para revisar o texto da ISO 26000 de forma integrada, com base nos comentários recebidos. A 5ª reunião foi a última em que o texto da norma foi preparado e discutido em partes separadas. A partir de agora, o texto será trabalhado de forma integral, segundo cronograma de trabalho detalhado que foi estabelecido na plenária da Áustria para a preparação do WD.4. Mais uma vez, os especialistas brasileiros tiveram atuação destacada em Viena, seja defendendo com convicção as posições da delegação, seja assumindo responsabilidades nos diferentes grupos que se formaram. A reunião foi organizada pelo Instituto de Normalização da Áustria (ON), sob a supervisão do co-secretário do WG SR. Contou com o suporte do governo e da Agência de Desenvolvimento Austríaca (ADA), juntamente com o Pacto Global das Nações Unidas e com a Organização para o Desenvolvimento Industrial das Nações Unidas (Onudi). Os participantes foram oficialmente recebidos por: Walter Barfuss, presidente do Instituto de Normalização da Áustria (ON); Dmitri Piskounov, diretor da Onudi e Hans Winkler, secretário de Estado do Ministério Austríaco para Assuntos Europeus e Internacionais. Eduardo São Thiago observa que, em paralelo ao desenvolvimento da norma, a ISO e o WG SR têm sido ativos no que se refere à ampliação de representação e da conscientização. “Inúmeros workshops regionais para aumentar conscientização em relação à importância da futura ISO 26000 foram organizados em diferentes partes do mundo ao longo de 2007”, informa. Esses eventos têm a participação ativa do co-secretário e do chair, Jorge Cajazeira, que são as partes brasileiras na liderança compartilhada com a Suécia do Grupo de Trabalho da ISO de Responsabilidade Social. Além de Santiago, que abrigará a 6ª reunião do WG SR em setembro de 2008, sob a organização do Instituto de Normalização do Chile (INN), está prevista uma reunião em Copenhague, na Dinamarca, ainda sem data marcada.
Projeto Tear
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riado pelo Instituto Ethos, em parceria com o Fundo Multilateral de Investimento (Fumin), do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Programa Tear – Tecendo Redes Sustentáveis – tem como principais objetivos aumentar a competitividade e a sustentabilidade das pequenas e médias empresas (PMEs) e ampliar suas oportunidades de mercado, contribuindo assim para o desenvolvimento do País. A realização desses objetivos se dá pela adoção de medidas de responsabilidade social empresarial (RSE) em PMEs que atuam na cadeia de valor de empresas estratégicas em sete setores da economia: açúcar e álcool; construção civil; energia elétrica; mineração; petróleo e gás; siderurgia e varejo. Em cada um desses sete setores foi identificada, pelo menos, uma grande empresa que pudesse servir como âncora. E a cada segmento coube selecionar 15 PMEs de sua cadeia de valor com as quais as empresas âncora se comprometeram a trabalhar para ampliar sua gestão socialmente responsável. As empresas âncora são: Petrobras, Vale, Camargo Corrêa, Cyrela Brazil Realty, KPMG Brasil e ArcelorMittal Brasil. O grupo se reúne periodicamente para trocar experiências e receber orientação através de um consultor do projeto. “O que a pequena empresa faz, a grande também faz”, diz Paulo Itacarambi, diretor do Instituto Ethos. Segundo ele, o projeto de responsabilidade social em uma empresa é amplo e deve ser elaborado individualmente. As idéias implicam em: melhorias na governança para que a organização seja mais transparente; fortalecimento da ética; ações para aperfei-
Foto: Steferson Faria, Banco de Imagens Petrobras
Sustentabilidade para pequenas e médias empresas
No caso do setor de petróleo e gás, a empresa âncora é a Petrobras. E o IBP é a entidade setorial que atua em parceria. çoar a relação com os funcionários e melhorar a produtividade; aprimorar a relação com os clientes; transferência de tecnologia; impacto positivo no meio ambiente e no relacionamento com a comunidade onde está instalada; entre outros aspectos. Como instrumento de avaliação e monitoramento dos progressos obtidos, as empresas participantes respondem aos Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial e preenchem a Matriz Brasileira de Evidências de Sustentabilidade, desenvolvida em parceria pelo SustainAbility, pela International Finance Corporation (IFC) e pelo Instituto Ethos. 35
Foto: Ailton Santos
Além das empresas-âncora, o programa conta com parceiros (setoriais, regionais e nacionais) que têm o papel de replicar a experiência para outras empresas e cadeias de valor ligadas ao mesmo setor ou a outros setores, induzindo a adoção da iniciativa por mais empresas e tornando o conhecimento disponível a todos os interessados. Chamados de agentes de indução ou indutores de comportamento, são instituições e entidades empresariais que podem influenciar o comportamento das empresas em seu setor e contribuir para criar um ambiente favorável à incorporação da RSE pelas empresas brasileiras.
Petróleo & Gás No caso do setor de petróleo e gás, a empresa âncora é a Petrobras. E o IBP é a entidade setorial que atua em parceria. Como exemplo de pequena empresa que participa do Projeto Tear, a Hidropartes Mangueiras e Conexões Hidráulicas, sediada em Macaé e que presta serviços para a Petrobras, implementou um programa de alfabetização de adultos, além de coleta seletiva do lixo e de óleo comestível; e de um programa de reciclagem de papel. 36
A responsável por todas as mudanças ocorridas na empresa foi Mariana Macedo, filha do dono, que conseguiu driblar a resistência do pai, hoje feliz com os resultados: “O programa de alfabetização de adultos teve um impacto tão positivo para a empresa e para a comunidade, que até mesmo algumas concorrentes nossas estão colaborando”, conta. Que o diga dona Maria do Carmo da Silva, de 67 anos (foto), que compareceu ao Seminário Anual de Responsabilidade Social Corporativa do IBP especialmente para ler uma carta de agradecimento à empresa e ao Projeto Tear, mostrando, assim, que aprendeu bem a lição de casa no curso de alfabetização para adultos promovido pela Hidropartes. As inovações de Mariana na empresa não param por aí. No final do ano passado ela criou um banco de microcrédito para os funcionários. Com a economia que conseguiu fazer ao usar tecnologias novas, propostas pelos empregados para otimizar o trabalho de todos, foi possível arrecadar R$ 2 mil e em novembro o banco já possuía quatro clientes. Prova de que é possível fazer mais e melhor, basta querer. Um exemplo que outras PMEs do setor de petróleo e gás devem seguir.
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